R Relato de Caso Alves MM et al. Efeito da suplementação com glutamina sobre o estado nutricional e ingestão alimentar em paciente com linfoma não Hodgkin em quimioterapia Effect of glutamine supplementation on nutritional status and dietary intake in patients with nonHodgkin lymphoma undergoing chemotherapy Malaine Morais Alves1 Nayanne Duarte Madeira Carvalho2 Ana Paula Perillo Ferreira Carvalho3 Marta Isabel Valente Augusto Moraes Campos Nunes Andrade4 Unitermos: Estado Nutricional. Glutamina. Ingestão de Alimentos. Linfoma. Quimioterapia. Keywords: Nutritional Status. Glutamine. Eating. Lymphoma. Drug Therapy. Endereço para correspondência: Malaine Morais Alves Rua 15, n° 352/102 – Centro – Goiânia, GO, Brasil – CEP: 74030-030 E-mail: [email protected] Submissão: 8 de março de 2014 Aceito para publicação: 13 de agosto de 2014 1. 2. 3. 4. RESUMO Introdução: O tratamento quimioterápico para câncer leva a inúmeros sintomas, entre os quais a redução da ingestão alimentar e, consequentemente, a desnutrição proteico-calórica, bem como a requerimentos de substâncias condicionalmente essenciais, como a glutamina. Objetivo: O objetivo do trabalho foi verificar o efeito da suplementação oral de L-glutamina sobre o consumo alimentar e o estado nutricional de um paciente com linfoma de células T periférico em quimioterapia. Relato do caso: Paciente com linfoma de células T periférico. Intervenção com a suplementação de L-glutamina oral 0,3g/kg/dia durante 30 dias. Foram avaliados no período pré e no pós-intervenção: consumo alimentar por meio de recordatório alimentar de três dias não consecutivos, ocorrência de sintomas gastrointestinais, antropometria, exames bioquímicos e Avaliação Subjetiva Global Produzida Pelo Próprio Paciente.O paciente obteve benefícios nos parâmetros nutricionais e hematológicos, como manutenção do estado anabólico e a não ocorrência de citopenias importantes. Conclusão: Observou-se que a suplementação com L-glutamina parece exercer um efeito protetor na hematotoxicidade e na sintomatologia desencadeada no trato gastrointestinal, podendo, dessa forma, contribuir para a manutenção do consumo alimentar adequado e, consequentemente, no estado nutricional. ABSTRACT Introduction: Chemotherapy treatment for cancer leads to numerous symptoms, including reduction of food intake and consequently protein-energy malnutrition, as well as the increased requirements of conditionally essential substances, such as glutamine. Objective: The aim of the study was to report a case of a patient with T-cell lymphoma in chemotherapy and glutamine supplementation. Case Report: Description case of a patient with 47 years old with peripheral T-cell lymphoma. Intervention oral supplementation with L-glutamine, 0.3 g/kg/ day for 30 days. Were assessed pre and post intervention: food consumption by food recall three non-consecutive days, the occurrence of gastrointestinal symptoms, anthropometry, biochemical tests and Patientgenerated Subjective Global Assessment. The patient had benefits in nutritional and haematological parameters such as maintenance of anabolic state and the non-occurrence of relevant cytopenias. Conclusion: It was found that supplementation with L-glutamine seems to exert a protective effect in the blood toxicity and triggered symptoms in the gastrointestinal tract. Thus, contributing to the maintenance of adequate food consumption and, consequently, in the nutritional status. Graduação pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM); Pós-graduação latu sensu pela Universidade Federal de Goiás (UFG). Mestranda do Programa de Pós-graduação strictu sensu em Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil. Graduação pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO); Especialização em Nutrição Clínica pela Universidade Gama Filho (UGF), Pós-graduação latu sensu pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil. Graduação pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Especialização em atividade física pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), Mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB), Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG),Goiânia, GO, Brasil. Graduação e Mestrado em Nutrição e Saúde pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, GO, Brasil. Rev Bras Nutr Clin 2014; 29 (3): 270-4 270 Efeito da suplementação com glutamina sobre o estado nutricional e ingestão alimentar em paciente com linfoma não Hodgkin em quimioterapia INTRODUÇÃO RELATO DO CASO Os linfomas são transformações neoplásicas de células linfoides normais que residem predominantemente em tecidos linfoides1. Os linfomas não Hodgkin (LNH) representam um grupo heterogêneo de doenças, entre as quais o Linfoma de células T periférico representa de 15% a 20% dos casos em adultos nos Estados Unidos, aparecendo mais comumente em homens por volta dos 60 anos2. Segundo a Estimativa de Incidência de Câncer no Brasil3, em 2012/2013, os LNH alcançariam cinco casos novos a cada 100 mil homens e quatro a cada 100 mil mulheres.Sua incidência parece estar associada a imunodeficiências congênitas, transplantes de órgãos, doenças autoimunes e o vírus HIV2. Dentre os sinais e sintomas mais frequentes descritos em pacientes em tratamento do câncer, com quimioterapia e radioterapia, estão anorexia, náuseas, vômitos, mucosites, xerostomia, disgeusia, diarreia e aversões alimentares4. No paciente com LNH, essas situações associadas ao aumento das necessidades energéticas condicionadas pelo grau de malignidade e a ocorrência de infecções graves levam à depleção progressiva do estado nutricional5-7. Em situações hipermetabólicas, como o câncer, a glutamina tem sido utilizada por contribuir com a manutenção da integridade da mucosa, a melhora da imunocompetência, a inibição da proliferação celular, o aumento das taxas de apoptose e o aumento da síntese de glutationa4,8,9. Além disso, a glutamina pode modular a ativação de proteínas de estresse (heatschockproteins- HSPs), que estão relacionadas à resposta antiapoptótica celular. Estas contribuem para o aumento da capacidade da célula em sobreviver à exposição a agentes estressores, como o câncer. Uma revisão narrativa de Kuhn et al.9 mostra a utilização da glutamina livre em diversos tipos de câncer por via oral entre 8 e 30 g/dia ou entre 0,35 e 0,65 g/kg/dia, entre 4 e 30 dias (1994 – 2007), com resultados positivos na tolerância ao tratamento e diminuição da gravidade e duração de alguns sintomas do trato gastrointestinal (TGI), como a mucosite. Um ensaio clínico de Topkan et al.10 com 104 pacientes mediu a sobrevida de pacientes com câncer de pulmão suplementados com glutamina oral (10g/8 em 8 horas) e encontrou que pacientes suplementados tiveram menor número de pausas não planejadas no tratamento e menor incidência de perda de peso. Por esse motivo, a literatura atual relata que a utilização de glutamina em pacientes com câncer parece auxiliar na sintomatologia ao tratamento, contribuindo para a melhora do consumo alimentar e do estado nutricional. O objetivo do trabalho foi verificar o efeito da suplementação oral de L-glutamina sobre o consumo alimentar e o estado nutricional de um paciente com linfoma de células T periférico em quimioterapia. Paciente do sexo masculino, 47 anos, portador de hipertensão arterial sistêmica há cinco anos, em tratamento medicamentoso. Foi internado para investigação diagnóstica em outubro de 2013 no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) com linfonodomegalias cervicais, perda de peso involuntária de 6 kg no último mês (porcentagem de perda de peso recente de 7,14% - significativa) e sudorese noturna. Durante a internação, foi diagnosticado com Linfoma de Células T Periférico e iniciada quimioterapia. O protocolo quimioterápico utilizado foi o CHOEP, totalizando cinco ciclos2. Esse protocolo utiliza a administração de ciclofosfamida 750 mg/m2, hidroxildaunorrubicina, 50 mg/m2, vincristina (Oncovin®) 1,4 mg/m2, ciclo etoposídeo 100 mg/m2 e prednisona 100 mg. Tais medicações estão associadas com a ocorrência de alterações do trato gastrointestinal, como constipação, diarreia, mucosite, náuseas e vômitos2. A intervenção com L-glutamina começou após oito dias do início do protocolo. Esta advém de um estudo matriz, um ensaio clínico randomizado cego, que visa avaliar o efeito da suplementação com glutamina em duas dosagens diferentes sobre o consumo alimentar e o estado nutricional de pacientes onco-hematológicos. O procedimento foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HC-UFG. Parecer 292.125. Consistiu na suplementação com L-glutamina livre durante 30 dias consecutivos em uma dose de 0,3 g/kg/dia, escolhida por estar entre as menores doses de glutamina utilizada em estudos semelhantes9. A glutamina utilizada foi doada pelo fabricante (Nuteral® Indústria de Formulações Nutricionais Ltda). Considerou-se para cálculo da glutamina (78 kg) o mesmo peso aferido para calcular a dose de quimioterapia, que totalizou 23,4 g/dia. O suplemento foi pesado em balança analítica (Modelo AY220 - precisão de 0,0001 g), separado em sacos plásticos selados e foi orientada a administração por via oral três vezes ao dia, nos períodos da manhã, tarde e noite, dissolvida em 100 mL de água, em temperatura ambiente, imediatamente após a diluição10,11. O uso adequado da glutamina foi monitorado semanalmente por telefone e nos atendimentos no ambulatório de quimioterapia. A avaliação do estado nutricional foi realizada antes e após a intervenção por meio da antropometria, como peso, altura e Índice de Massa Corporal (IMC). A composição corporal foi avaliada pela triplicata da Circunferência do Braço (CB) e da Prega Cutânea do Tríceps (PCT), medida com adipômetro Lange® e cálculo da Circunferência Muscular do Braço (CMB) e do percentual de adequação dessas três medidas (CB, PCT e CMB). A Avaliação Subjetiva Global Produzida Pelo Próprio Paciente (ASG-PPP) validada por Rev Bras Nutr Clin 2014; 29 (3): 270-4 271 Alves MM et al. Gonzalez et al.12 também foi utilizada como instrumento para critério diagnóstico nutricional e de investigação quanto à presença de sintomatologia que pudesse contribuir para a diminuição do consumo alimentar13. Tabela 1 – Evolução antropométrica e bioquímica do paciente antes e após aintervenção com L-glutamina, Goiânia, 2014. Antes da intervenção Após a intervenção Foram colhidos três recordatórios alimentares de 24 horas, sendo um deles de final de semana, antes e após a intervenção, a fim de avaliar o consumo alimentar, como descrito por Fisberg et al.14. Para análise do cálculo da média de ingestão alimentar, utilizou-se o software AVANUTRI versão 4.0. O perfil bioquímico antes e após a intervenção foi investigado por meio de hemograma completo, proteinograma total, creatinina sérica e proteína C reativa (PCR). Considerou-se os valores de referência utilizados no HC-UFG, sendo, eritrócitos 3,1-4,5 tera/L, hemoglobina 14-18 g/dL, hematócrito 41-50%, Volume Corpuscular Médio (VCM) 80-98 fl, Hemoglobina Corpuscular Média (HCM) 27-33 pg, Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média (CHCM), Variação de Distribuição das Hemácias (Red Cell Distribution Width - RDW) 11,614,6%, Leucócitos totais 4000-11000 mm3,neutrófilos 1600-7700 mm3, plaquetas 150000-400000 contagens/ µL; proteínas totais 6,0-8,0 g/dL, albumina 5-5,5 g/dL, creatinina 0,7-1,3 mg/dL, PCR < 0,5 mg/dL. A evolução antropométrica do paciente, descrita na Tabela 1, aponta para um estado nutricional prévio de sobrepeso, o que foi confirmado pela ASG-PPP, por meio da qual o paciente foi classificado como anabólico ou sem risco nutricional (ASG-A). Após a suplementação nutricional, observa-se que houve ganho de peso (3,3 kg) na ausência de ganho de gordura, sendo observada pela PCT. Além disso, o paciente permaneceu como bem nutrido ou anabólico pela ASG-PPP (ASG-A) e houve aumento da massa muscular quando verificado o ganho da CMB. Na Tabela 1, também são apresentados os dados bioquímicos antes e após a intervenção. Observa-se aumento nos níveis de albumina e ausência de infecções. Houve 76,9 80,2 IMC (kg/m2) 28,94 30,18 CB (cm) 32,6 33,9 % adequação CB 100 103,96 PCT (mm) 17,7 17,7 % adequação PCT 147,5 147,5 CMB (cm) 27,04 28,34 % adequação CMB 96,22 100,86 Eritrócitos (tera/L) 4,28 3,89 Hemoglobina (g/dL) 12,5 12 37 36,6 VCM (fl) 86,4 94,1 HCM (pg) 29,2 30,8 CHCM (g/dL) 33,8 32,8 17,4 17,1 Leucócitos totais (mm ) 1400 2700 Neutrófilos (mm ) 1078 2376 Linfócitos (mm ) 196 162 207 000 186 000 Proteínas totais (g/dL) 5,9 6,3 Albumina (g/dL) 2,9 4,0 Creatinina (mg/dL) 1,0 1,0 PCR (mg/dL) 0,6 0,4 Hematócrito (%) RDW (%) 3 3 3 Em relação às medicações, foi perguntado sobre o uso de estimulantes de apetite, antieméticos, procinéticos, laxantes e/ou opioides. Além disso, considerou-se hematotoxicidade como a presença de anemia, leucócitos totais < 2500 mm3, plaquetas < 80 000/µL, febre, infecção e hospitalizações após 15 dias do início do protocolo15. O paciente foi esclarecido sobre a pesquisa e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Recebeu orientação nutricional no momento da alta hospitalar e a cada infusão de quimioterapia que acontecia semanalmente. A orientação recomendava uma dieta individualizada normocalórica (30 kcal/kg/dia) e hiperproteíca (1,3g/kg/dia) fracionada em seis refeições, além de destacar a importância do seguimento/adesão à utilização da L-glutamina. Peso (kg) Plaquetas (contagem/µL) CB - Circunferência do Braço; PCT - Prega Cutânea do Tríceps; CMB - Circunferência Muscular do Braço; VCM - Volume Corpuscular Médio; HCM - Hemoglobina Corpuscular Média; CHCM - Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média RDW -Red Cell Distribuition Width (Variação de Distribuição das Hemácias); PCR - Proteína C Reativa; Percentual de adequação calculado com base em: Frisancho, 199016; Blackbourn & Thornton, 197917. melhora da neutropenia presente após a primeira infusão de quimioterápicos e antes do início do uso da glutamina e as mudanças no perfil hematológico mostram hematotoxicidade reduzida. O paciente não necessitou de internações, antibioticoterapia, transfusões nem de suporte com Fator Estimulador de Colônias de Granulócitos; manteve PCR aceitável e ausência de febre. A oferta energética e a distribuição de macronutrientes permaneceram adequadas antes e após a suplementação; sendo que antes o paciente encontrava-se internado. A quantidade de fibras foi adequada antes e após a intervenção (Tabela 2). Antes da suplementação, o paciente realizou um ciclo de quimioterapia, sendo observado como sintomatologia náuseas e xerostomia. Após a intervenção, o paciente Rev Bras Nutr Clin 2014; 29 (3): 270-4 272 Efeito da suplementação com glutamina sobre o estado nutricional e ingestão alimentar em paciente com linfoma não Hodgkin em quimioterapia apresentou sintomas como náuseas, xerostomia, disgeusia, anorexia, vômitos, dor abdominal e diarreia com três evacuações líquidas diárias por dois dias. Todos os sintomas foram classificados como de Grau 1, segundo National Cancer Institute Common Toxicity Criteria Adverse Events (CTCAE versão 4.0)19. O paciente não utilizou estimulantes de apetite, procinéticos ou opioides. Os antieméticos foram utilizados apenas imediatamente antes da infusão da quimioterapia (Tabela 3). Tabela 2 – Avaliação da ingestão alimentar antes e após a intervenção com L-glutamina, Goiânia, 2014. Antes da Após a Recomendações de energia, intervenção intervenmacronutrientes e fibras ção Antes Após Valor Energético 2208,3 1967,8 1922–2307* 2005–2406* Total(kcal/dia) (28,71 kcal/ (24,52 kcal/ (25-30 kcal/kg/ (25-30 kcal/kg/ kg/dia) kg/dia) dia) dia) Proteína (%) 17,4 21,6 (1,24 g/kg/ (1,3g/kg/ dia) dia) 10% a 35%** (1,1 a 1,5 g/kg/dia)* Carboidrato (%) 61,3 46,1 45% a 65%** Lipídeo (%) 21,3 32,3 20% a 35%** Fibras (g/dia) 22,2 29,5 20 – 30*** *INCA, 2009 (manutenção de peso com estresse moderado)7; ** DRI – AMDR, 200218; *** SBC, 200518. DISCUSSÃO O ganho de peso do paciente pode ter sido influenciado pela corticoterapia, sendo que um ganho superior a 5 kg é esperado no paciente submetido ao CHOEP15. O ganho se relaciona mais à redistribuição de gordura para o abdome e nesse paciente a reserva de gordura foi avaliada apenas pela PCT, que se manteve inalterada20. Os corticoides promovem redistribuição de gordura corporal, acúmulo de líquidos (edema) e perda de massa muscular. O paciente teve aumento da CMB. Considerandose que o transporte de glutamina pela membrana depende de sódio e, que nesse processo ocorre, concomitantemente, a absorção de água e a liberação de potássio, há aumento no estado e no volume celular8.O uso do corticoide pode estar associado à manutenção da ingestão alimentar como apontado por Campos et al.20, possibilitando a manutenção de um estado anabólico19. O aumento de volume celular, embora ainda controverso, pode elevar a disponibilidade de substratos para os diversos sistemas envolvidos no processo de recuperação e reparação tecidual, o que é considerado como um sinal anabólico4; assim como a variação positiva na albumina plasmática, sem aumento da PCR, o que faz da albumina, mesmo sendo um parâmetro bioquímico de meia-vida longa, adequada como critério de avaliação nutricional13. Wohrer et al.15 avaliaram a toxicidade do CHOEP em pacientes com LNH agressivos, como o apresentado pelo paciente, e observaram que geralmente estes apresentam Tabela 3 – Sintomatologia do trato gastrointestinal antes e após a intervenção com L-glutamina, Goiânia, 2014. Antes da intervenção Após a intervenção CTCAE (Grau 1) Anorexia Ausente Presente Perda de apetite sem alteração nos hábitos alimentares Náuseas Presente Presente Perda de apetite, sem alteração nos hábitos alimentares Vômitos Ausente Presente 1-2 episódios separados por 5 minutos em 24 horas Xerostomia Presente Presente Redução do fluxo salivar com saliva seca e grossa, mas sem alterações na dieta Disgeusia Ausente Presente Alteração do paladar assintomática ou leve Odinofagia Ausente Ausente Dor ao deglutir assintomática ou leve Disfagia Ausente Ausente Dificuldade para deglutir, mas capaz de ingerir dieta normal Mucosite Ausente Ausente Inflamação da mucosa oral assintomática ou leve Plenitude pós-prandial Ausente Ausente Desconforto abdominal sem alteração da ingestão ou funcionamento intestinal Constipação Ausente Ausente Evacuações irregulares ou pouco frequentes com uso ocasional de laxantes ou enema e modificação da dieta Diarreia Ausente Presente < 4 evacuações líquidas ao longo do dia Dor abdominal Ausente Presente Dor leve Rev Bras Nutr Clin 2014; 29 (3): 270-4 273 Alves MM et al. diarreia por um período entre cinco e oito dias após cada ciclo de quimioterapia. O paciente estudado não apresentou diarreia no período compreendido entre o primeiro ciclo e a intervenção, mas se queixou de diarreia após, contudo esta era de grau 1 e já haviam sido infundidos cinco ciclos de quimioterapia. Portanto, a glutamina pode ter exercido um efeito protetor sobre a mucosa, diminuindo, assim, a limitação das atividades enzimáticas e, consequentemente, manutenção da absorção de nutrientes4,7. A oferta de glutamina pode estar associada com a melhora dos parâmetros imunológicos, contrapondo os resultados terapêuticos relatados em relação ao CHOEP, de uma hematotoxicidade acentuada, aumentando os intervalos entre as sessões de quimioterapia, o que não ocorreu no paciente estudado15. Pacientes submetidos à quimioterapia têm redução da efetividade do tratamento quando são necessários intervalos maiores entre as sessões em virtude de infecções10. CONCLUSÃO A desnutrição piora ou prolonga a imunossupressão e aumenta o risco de complicações infecciosas e, consequentemente, de óbito. A maioria dos pacientes tratados com CHOEP não é candidata ao transplante devido à desnutrição crônica. Além disso, apenas cerca de 50% dos pacientes tratados com CHOEP são capazes de suportar a quimioterapia15. Portanto, a suplementação com L-glutamina parece exercer um efeito protetor na hematotoxicidade e sintomatologia desencadeada no trato gastrointestinal. Dessa forma, podendo contribuir para a manutenção do consumo alimentar adequado e, consequentemente, no estado nutricional. REFERÊNCIAS 1.Lunning MA, Horwitz S. Treatment of peripheral T-cell lymphoma: are we data driven or driving the data? Curr Treat Options Oncol. 2013;14(2):212-23. 2.Scheinberg P, Alencar A, eds. MOC-HEMATO – Manual de Oncologia Clínica do Brasil – Hematologia e Transplante. Centro Oncológico Antônio Ermírio de Moraes. São Paulo: Dendrix; 2013. 3.Facina T. 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