PARA ALÉM DA EAD: A COMUNICAÇÃO AFETIVA E EFETIVA Gisele do Rocio Cordeiro1 - UNINTER Daíne Cavalcanti da Silva 2 - UNINTER Luís Fernando Lopes3 – UNINTER Thereza Cristina de Souza Lima 4 - UNINTER Izabel Cristina de Araujo 5 - UNINTER Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo O presente artigo apresenta uma reflexão sobre o papel do professor-tutor e sua ação educativa, tendo, também, a proposição de sua posição como mediador da aprendizagem individual e grupal. Outrossim, estabelece uma discussão sobre o processo de comunicação e afetividade na mediação estabelecida entre professor-tutor e alunos de cursos de licenciaturas na educação a distância (EAD). Considera que um dos aspectos tidos como relevante na EAD refere-se à qualidade da comunicação estabelecida em ambiente virtual, envolvendo alunos e professores, tendo como apoio as tecnologias da informação e comunicação. Neste sentido, preocupa-nos a relação sobre a afetividade, a motivação dos alunos em ambientes virtuais, a elaboração de materiais dialógicos, bem como o papel do professor-tutor no processo de comunicação e aproximação com os alunos. Portanto, com base em uma breve pesquisa bibliográfica sobre o papel do professor-tutor e nas experiências em EAD, é discutido o processo de comunicação e afetividade na mediação entre professor-tutor e aluno. Longe de efetuar análises de todas as formas de interação e meios de estreitar laços de afetividade entre professor-tutor e alunos nos cursos em EAD, com foco nas licenciaturas, este estudo busca um repensar sobre a interação com esses alunos e o sentimento de pertencimento, 1 Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Coordenadora do Curso de Licenciatura em Pedagogia do Centro Universitário Internacional Uninter. E-mail: [email protected] 2 Especialista em Língua Portuguesa e Literatura Brasileira pela UNIPAN – Universidade Pan-Americana de Ensino; Especialista em Pedagogia Empresarial e Educação Corporativa – Centro Universitário Internacional Uninter. Tutora ead do Curso de Letras – Habilitação em Língua Portuguesa e Respectivas Literaturas do Centro Universitário Internacional Uninter. Discente do Programa de Pós-Graduação Stricto Senso em Educação da Universidade Federal do Paraná - UFPR E-mail: [email protected] 3 Mestre e doutorando em Educação pela UTP. Professor do Centro Universitário UNINTER. Coordenador doS cursos de Licenciatura Em Filosofia e Sociologia do Centro Universitário Internacional Uninter. Email: [email protected] 4 Mestre e doutora em Linguística Aplicada (UNESP). Coordenadora do curso de licenciatura em Letras do Centro Universitário Internacional Uninter. E-mail: [email protected] 5 Pós-doutorado em Linguística Aplicada, ênfase em Linguagens e Tecnologias, pela Unicamp (2014-2015). Doutora em Educação, pelo Laboratório de Inovação Tecnológica Aplicada na Educação, área de Ciências Sociais na Educação, pela Faculdade de Educação da Unicamp (2013). Professora da pós-graduação Stricto sensu do Centro Universitário Internacional Uninter. ISSN 2176-1396 23082 contribuindo para a reflexão sobre a relevância da interação e afetividade na formação de professores em ambientes virtuais. Como resultado final, pondera-se que toda comunicação e interação em ambiente virtual, especialmente, em se tratando de cursos para formação de professores, deve ser pautada na interação e ter como fundamento a afetividade. Palavras-chave: Educação a distância. Professor-tutor. Comunicação. Introdução Ao analisarmos o papel do professor-tutor e os desafios enfrentados na comunicação em ambiente virtual, uma das características da educação a distância (EAD), se faz necessário apresentarmos a abordagem que consideramos pertinente para se pensar nessa relação de comunicação. Corroboramos com Araujo (2013) que a abordagem de comunicação na qual devemos nos inspirar está em Freire (1980) no aspecto de comunicação dialógica e colaborativa. Entendemos assim, que o ato comunicativo e as trocas comunicacionais não se apresentam como imposição de um para o outro, ou seja, de A para B, mas se apresentam como uma maneira de interação entre os envolvidos no processo de aprendizagem. Freire (1980, p. 65) reforça a importância da comunicação e sua relação com o conhecimento ao ponderar que: “... o mundo social e humano, não existiria como tal se não fosse um mundo de comunicabilidade fora da qual é impossível dar-se o conhecimento humano”. Desta maneira, entendemos que o enfoque dialógico numa perspectiva de Freire (1980), apresenta-se como uma expressão da interação entre os pares envolvidos no processo de aprendizagem, mediados pela ação do professor-tutor, dentre outros aspectos. As práticas comunicativas em ambiente virtual de aprendizagem devem ser permeadas pelos conceitos encontrados em Araujo (2013) e que envolvem aspectos sobre dialogicidade, cultura e comunicação inspirados nos trabalhos de Freire (1980, 1983, 1996, 2000), Freire e Guimarães (2003), dentre outros. Portanto, entendemos que a discussão que apresentamos da relação entre professortutor, comunicação e afetividade em EAD, perpassa pelo entendimento proposto por Freire (1980, p. 69) no qual: “... a educação é comunicação, é diálogo, não é transferência de saber, mas um encontro de interlocutores que buscam a significação dos significados”. Neste sentido, apresentamos em seguida a discussão do referencial teórico, buscando ampliar a possibilidade do diálogo sobre a comunicação afetiva em EAD, tendo por foco o papel do professor-tutor como mediador do conhecimento e como elo entre instituições de ensino e alunos. 23083 Referencial teórico A educação a distância (EAD) tem ganhado espaço ao longo dos anos, principalmente, após a publicação do decreto 5622/05 de 19 de dezembro de 2005 que regulamentou o artigo 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96. Segundo o Censo da Educação Superior de 2012, o número de matrículas em cursos a distância no ano de 2009 era de 838.125, já em 2012, esse número passou para 1.113.850, correspondendo a um aumento de 32,9% no período. O aumento no número de matrículas e também de cursos, faz com que as instituições de ensino superior busquem, cada vez mais, aprimorar a qualidade do ensino. Principalmente na educação a distância, a qualidade de ensino não se resume a bons professores frente às disciplinas. Na EAD, a qualidade também está atrelada à comunicação com os alunos. Uma vez que professor, aluno e professor-tutor não compartilham do mesmo espaço físico, faz-se necessária a comunicação baseada nas tecnologias da informação. O uso de tais tecnologias na educação foi abordado já no decreto 5.622/05, que assim define a EAD: Art. 1o Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos. O tempo e lugares diversos não deve, de forma alguma, impedir a fluência na comunicação. Para a organização do estudo dividiremos a comunicação em síncrona, aquela que acontece simultaneamente pelos participantes da comunicação e a assíncrona, aquela que se dá em tempos diferentes para cada um dos comunicadores. Na educação a distância, a comunicação síncrona acontece dentro dos ambientes virtuais de aprendizagem por meio de chat previamente agendados, em que alunos e professores conversam como em qualquer bate-papo. Esses chats buscam esclarecer dúvidas de conteúdo, com professores da disciplina e também dúvidas administrativas ou de utilização dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem - AVAs. Ainda no ambiente virtual tem-se a Rádio Web, recurso em que o aluno pode mandar mensagens ao professor via chat que irá receber e responder como uma rádio. Ainda de maneira síncrona, a maioria das instituições que ofertam EaD disponibilizam também um telefone de ligação gratuita, visto que tais cursos abrangem, na grande maioria das vezes, todo o território nacional. 23084 A comunicação assíncrona, que se dá pelo AVA, pode acontecer nos fóruns de discussão, que podem ser voltados para discussão de cunho conteudista, proposta pelo professor, podem conter dúvidas frequentes e podem ser abertos para discussão por tópicos, criados por alunos. Além do ambiente virtual de aprendizagem, os e-mails são meios comuns na comunicação da EAD. Seja de maneira síncrona ou assíncrona a comunicação é feita por sujeitos e independentemente do meio utilizado, a comunicação deve ser eficiente, pois um sistema tecnológico não é composto apenas de máquinas, processos produtivos, dispositivos e dos meios de transporte, comunicação e informação que os interconectam, mas também de pessoas e organizações, apresentando uma rica conexão com a economia, com a política e com a cultura. (STAUDENMAIER apud LIMA FILHO; QUELUZ, 2005, p.7) As pessoas que compõem a comunicação na educação são várias, ou seja, trata-se de uma equipe multidisciplinar; porém, restringe-se esta pesquisa ao professor-tutor e alunos. No que tange à comunicação entre os sujeitos da educação, comenta-se sobre a afetividade, a motivação dos alunos nos ambientes virtuais, na elaboração de materiais dialógicos. O professor-tutor no processo de comunicação e aproximação Neste “novo contexto” o profissional da área de educação tem que se adequar para enfrentar o desafio frente à EAD, criando novas referências, produzindo conhecimentos a serviço do novo modelo de ensino/aprendizagem. A possibilidade de criar novas dinâmicas na EAD propõe um novo eixo para o ensino/aprendizagem possibilitando a descoberta e a produção de conhecimento com o uso de novas tecnologias. Busca-se então, utilizar-se das tecnologias para se aproximar dos alunos de forma afetiva. Os ambientes de aprendizagem com o uso das tecnologias da informação apresentam a articulação entre reflexões e ações em um processo permanente de construção e desconstrução do modelo de aprendizagem, em que o professor e o aluno produzem o conhecimento associando o domínio da tecnologia com a prática pedagógica. De acordo com Martins (2010, p. 16): 23085 o professor que associa as tecnologias de informação aos métodos ativos de aprendizagem desenvolve habilidades relacionadas ao domínio da tecnologia e articula esse domínio com a prática pedagógica e com as teorias educacionais, possibilitando ao aluno a reflexão sobre a sua própria prática, ampliando as possibilidades pedagógicas das tecnologias da informação (TI). O que percebemos é que existe uma nova cultura acadêmica do docente e do discente, e mais, um novo modelo e conceito de tutor. O professor-tutor comporta-se como um profissional da área acadêmica da EAD que vem participando de todo este processo de mudanças, com a sua atuação e intervenção influenciando novas posturas em um novo modelo de atuação em vários níveis do ensino/aprendizagem. O professor, ao desempenhar o papel de orientador acadêmico (tutor), realiza sua ação educativa como mediador, incentivador e investigador do conhecimento, da própria prática e da aprendizagem individual e grupal. Ao mesmo tempo em que desempenha seu papel, o professor coloca-se como parceiro dos alunos, respeitando os diferentes estilos de trabalho, a coautoria e os caminhos adotados em seu processo evolutivo. Os alunos constroem o conhecimento por meio da exploração, navegação, comunicação, troca, representação, organização/reorganização, transformação, elaboração/reelaboração, criação e recriação do processo de aprendizagem. Ao- falarmos em educação há de se falar também em cultura, uma vez que, aproximarse de um aluno, manter uma relação afetiva ente os pares que formam a educação, só é possível quando há um reconhecer, e esse papel, de conhecer cabe ao professor-tutor. Embora ao tentar definir cultura corra-se o risco de restringi-la, vale ressaltar que falar de educação, ensino, aprendizagem é também falar de cultura. Forquin (1993, p.10) aborda o tema de forma apropriada quer se tome a palavra “educação” no sentido amplo, de formação e socialização do indivíduo, quer se restrinja unicamente ao domínio escolar, é necessário reconhecer que, se toda a educação é sempre educação de alguém por alguém, ela supõe sempre também, necessariamente a comunicação, a transmissão, a aquisição de alguma coisa: conhecimentos, competências crenças, hábitos, valores que constituem o que se chama de “conteúdo da educação”. Devido ao fato de que este conteúdo parece irredutível ao que há de particular e de contingente na experiência subjetiva ou intersubjetiva imediata, constituindo, antes, a moldura, o suporte e a forma de toda experiência individual possível, devido, então, a que este conteúdo que se transmite na educação é sempre alguma coisa que nos precede, nos ultrapassa e nos institui enquanto sujeitos humanos pode-se perfeitamente dar-lhe o nome de cultura. As afirmações de Forquin (1993) reiteram as indicações para ensino que levam em consideração o contexto em que a educação se desenvolve. Sendo assim, é preciso buscar o entendimento sobre a realidade e interesse dos alunos na sociedade contemporânea. 23086 Assim, ao perceber todo o contexto histórico no qual estamos inseridos, começamos a entender as mudanças necessárias na sociedade, da educação para o mundo contemporâneo, como por exemplo, o desenvolvimento da ação educativa dos professores-tutores, como docentes e como sujeitos participativos da aprendizagem e na EAD essa mudança é pautada na capacidade de aprender e ainda na capacidade de criar relações humanas com a tecnologia, operando, atuando e mediando em redes e ambientes virtuais de aprendizagem. Essa abordagem pedagógica diferenciada é que compõe perfil do professor-tutor na EAD. Um professor-tutor como mediador que, na concepção de Masetto (2006, p.166), “significa a atitude e o comportamento do professor que se coloca como um facilitador, incentivador ou motivador da aprendizagem, que ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos”. Esse processo de mediação, de interação professor e aluno é um ponto chave na EAD. Por meio dessa interação o aluno precisa identificar-se com a instituição, precisa viver a vida acadêmica, os processos acadêmicos, o processo de interação. Essa conectividade entre professor e aluno é fundamental na EAD. O pensar em como conversar com o aluno, como chegar ao aluno, desde o planejamento do material didático, que precisa ser dialógico, escrito em uma linguagem acadêmica, mas ao mesmo tempo acessível, que faça provocações ao aluno. É importante ressaltar que o processo de interação não está só na troca de e-mail entre professor tutor e aluno, está em todos os canais que utilizados, Santos (2012, p. 117), o aluno precisa ser visto pelo professor como um ser interativo e ativo no seu processo de crescimento e desenvolvimento, enquanto o professor é o seu mediador, facilitador. Para que haja um excelente aprendizado, é necessário que o aluno não seja forçado a fazer nada, mas que aja por si só, por seus próprios esforços, pois na relação precisa existir respeito mútuo. O professor-tutor aprendeu a fazer seu processo de docência na EAD. Se comunica muito por e-mail, escreve, grava áudio e vídeo, cria formas de se aproximar cada vez mais do aluno. Ao mesmo tempo, o aluno precisa fazer o exercício da educação a distância, precisa acessar, participar, vivenciar o processo de comunicação que a EAD tem. Metodologia Trata-se de uma pesquisa bibliográfica e com base na bibliografia levantada elaborouse um referencial teórico para alcançar os objetivos propostos. Em outras palavras, pautando- 23087 se nas bibliografias disponíveis sobre o professor-tutor e na experiência vivenciada pelos pesquisadores na Educação a Distância, é que se desenvolveu reflexões sobre o processo de comunicação e afetividade na mediação entre professor tutor e aluno da educação a distância. Assim, foram elaborados os referenciais teóricos e os resultados e discussões deste trabalho. Resultados e Discussões A ligação entre instituição e aluno tem como elo o professor-tutor. Ele é o mediador do processo ensino-aprendizagem e cabe a ele proporcionar a comunicação efetiva e constante, de modo a aproximar todos os participantes desse processo. Existe um grande esforço em utilizar-se das novas tecnologias para aproximar o aluno cada vez mais do seu curso, do seu coordenador e do seu tutor on line. Desse modo, dado o fato da tecnologia ser base para a educação a distância, faz-se necessária a constante atualização dos meios de comunicação, ou seja, da forma como mediar e interagir. Para Postman (1994, p. 1) “toda tecnologia tanto é um fardo como uma benção; não só uma coisa ou outra, mas sim isto e aquilo.” A partir de tal informação, pode-se inferir que a tecnologia dependerá do uso que se faz dela. Garcia-Vera (2000) apud Brito e Purificação (2011) aponta as dimensões que devem ser incluídas na formação de professores e afirma que os artefatos tecnológicos não são neutros, pois dependem das decisões de quem os utiliza. Se a tecnologia não é neutra e depende da forma como é utilizada, ao falarmos em tecnologias educacionais temos o professor como importante personagem para mediar esse uso. Dessa forma, pensar o ensino contextualizado com a realidade dos alunos tem sido um desafio na educação a distância, por isso, a busca por atividades que vão além da troca de mensagens eletrônicas é constante nos cursos a distância. Vale ressaltar que, quando falamos em comunicação na Ead, ela não se restringe a uma via em que se tem professor-tutor – aluno. Para que ocorra de forma eficiente, ela deve proporcionar a comunicação professor-tutor – alunos, alunos – professor-tutor, alunos-alunos. Esse processo de comunicação é defendido por Lévy (1999, p. 63) o ciberespaço torna disponível um dispositivo comunicacional original, já que ele permite que comunidades constituam de forma progressiva e de maneira cooperativa um contexto comum (dispositivo todos-todos) 23088 A partir da ideia de que a tecnologia não é neutra, que o professor é mediador de conteúdos, que a realidade dos alunos deve ser levada em consideração e a comunicação deve proporcionar a interação entre todos os autores do ensino-aprendizagem, novas práticas que estimulem interações além do estudo individual são urgentes. A comunicação além dos ambientes virtuais de aprendizagem tem sido recorrente devido ao grande uso da internet e redes sociais no dia a dia do brasileiro. Uma pesquisa divulgada pelo governo brasileiro aponta que cerca de 48% dos brasileiros usam internet regularmente; dentre os internautas, 92% estão conectados por meio de redes sociais. A mesma pesquisa mostra que o uso de aparelhos celulares para acessar a internet chega a 66%. A partir de tais dados, as instituições de ensino passaram a entender que a comunicação apenas via AVA já não era suficiente, as redes sociais, as mensagens de textos via celular e outras práticas passaram a ser utilizadas nos cursos a distância. O fato de buscar novas formas de aproximação, não demonstra uma falha nos ambientes virtuais, que têm toda uma estrutura para conteúdos, comunicações síncronas e assíncronas, porém, o que se busca é a aproximação do aluno, uma afetividade que estabeleça uma confiança no professor-tutor que, por sua vez, passa a ter outros recursos para comunicar, dialogar. Podemos perceber que os diversos elementos que compõem a maioria das redes virtuais (perfis, páginas de recados, comunidades, jogos, compartilhamento de fotos, vídeos, músicas, etc.) permitem com que seus usuários interajam entre si, compartilhem opiniões, gostos, vontades; a forma como são tratados diversos temas, a apresentação visual, os links que podem remeter a outras páginas, etc., fazem com que as redes sociais virtuais em sua maioria apresentem uma dinâmica de funcionamento que leva os usuários a terem interesse em acompanhar o que há de novo, participar, ou seja, torna-se importante ser um membro, contribuir com conteúdo e informações e assim interagir, fazer-se presente neste meio. (ARAÚJO, 2010, p. 7) O professor-tutor nas redes sociais continua com o seu papel de mediador, porém, nesse local ele também é um usuário, mas um usuário provocativo, que não apenas deixa a sua opinião, mas que busca a opinião dos seus alunos e promove uma discussão. As instituições de ensino, de um modo geral, têm criado páginas nas redes sociais, na maioria das vezes, por curso ou áreas afins. O objetivo de tais páginas é, usualmente, a aproximação e o sentimento de pertencimento a um grupo, no caso, grupo formado por professores e alunos. 23089 Diante de todos os pressupostos teóricos acerca da importância da afetividade, percebe-se que ela é essencial não só na relação professor-aluno, mas também como uma estratégia nas instituições de ensino superior em suas práticas pedagógicas. Um professor afetivo faz toda a diferença na sala de aula em todas as modalidades de ensino, pois através da afetividade o aluno poderá ser motivado a construir o seu conhecimento. (SANTOS, 2012, p. 117) O “estar junto em um mesmo espaço”, ainda que virtual, mas diferente do ambiente virtual de aprendizagem, pode estabelecer uma relação de confiança, afeto, que facilita o processo de ensino-aprendizagem, uma vez que, a educação não é mais vista como o modelo de educação bancária, relatada por Paulo Freire (1983).6 Cita-se a educação bancária dado o fato de que cada vez mais o aluno assume um papel ativo no processo de ensino-aprendizagem e, ao tratarmos da educação a distância, a autonomia e pró-atividade no estudo são algumas das premissas. Vale novamente ressaltar o papel mediador do professor-tutor, que, além de instigar a busca pelo conhecimento científico assumiu o papel de “ser norte” para muitos alunos. Nos cursos de licenciatura, a afetividade e a relação professores-tutor e aluno deve ser efetiva a tal ponto que proporcione ao aluno não apenas o sentimento de pertencimento àquele curso. Os alunos de licenciatura, como futuros docentes, precisam compreender e sentir a afetividade de modo que possam reconfigurá-la e levá-la consigo em sua vida profissional, momento que continuarão a fazer parte do processo de ensino-aprendizagem, mas, dessa vez, como os mediadores do conhecimento. Tal afirmação tem por base o Parecer 2/2015 do Conselho Nacional de Educação que reafirma o papel do professor da educação básica, destacando-se aqui, a dimensão afetiva: IV - às dinâmicas pedagógicas que contribuam para o exercício profissional e o desenvolvimento do profissional do magistério por meio de visão ampla do processo formativo, seus diferentes ritmos, tempos e espaços, em face das dimensões psicossociais, histórico-culturais, afetivas, relacionais e interativas que permeiam a ação pedagógica, possibilitando as condições para o exercício do pensamento crítico, a resolução de problemas, o trabalho coletivo e interdisciplinar, a criatividade, a inovação, a liderança e a autonomia; (2015, p. 45) Diante de tais habilidades a serem desenvolvidas pelos alunos de licenciatura, volta-se ao papel do professor-tutor que, ao instigar as participação e autonomia dos alunos da EaD não está apenas trazendo resultados momentâneos tal como proporcionar discussões e criar vínculos entre professor-tutor e alunos, alunos-alunos, todos-todos, como já citado por Lévy 6 A concepção da educação bancária relatada por Freire (1983, p. 66), contempla um ensino que o professor detém o conhecimento e o transmite para o aluno, que por sua vez, não tem participação ativa na construção do conhecimento. 23090 (1999). Ele está formando novos profissionais que entenderão o processo de ensinoaprendizagem não como via única, professor para aluno, mas também, aluno professor, aluno para aluno e para sociedade; enfim, é conhecimento compartilhado, já que não cabe ao professor a detenção de todo conhecimento. Considerações Finais Longe de traçar todas as formas de interação e meios de estreitar laços de afetividade entre professor-tutor e aluno nos cursos de educação a distância, mais especificamente, os de licenciatura, este estudo buscou um repensar de ações que visem à aproximação dos alunos, ao sentimento de pertencimento, que, juntos, propiciarão a formação de bons profissionais, da área de ciências humanas, e, como tal, devem ter uma relação baseada na afetividade. Dentre as discussões e estudos aqui realizados, percebe-se a necessidade do reinventar-se diariamente, uma vez que a sociedade está em constante mudança, ou seja, no universo das tecnologias, a comunicação que era efetiva há 5 anos pode estar obsoleta. Tais mudanças devem ser acompanhadas pelas instituições de ensino e, principalmente, pelo professor-tutor que é a ligação entre instituição e discentes. O professor-tutor em seu papel de mediador, não pode e nem deve ser o sujeito passivo. Sua tutoria deve ser ativa e preventiva, não se restringindo ao ambiente virtual de aprendizagem, permeando todos os campos possíveis de atuação. A presença desse profissional deve ser sentida pelo aluno em todos os momentos de estudo, pois a afetividade está, sobretudo, concentrada nas entrelinhas do material que tem uma linguagem dialógica e que contempla a realidade dos alunos e atende às expectativas de tais discentes. É importante ressaltar que a mediação, a intervenção pedagógica e o processo de afetividade só podem ser efetivos quando há conhecimento entre as partes. O professor-tutor, antes de qualquer ação, precisa conhecer quem é o aluno que está no fórum de discussão, na rede social, utilizando os canais de 0800 ou participando dos chats interativos. Esse conhecimento deve ser o mais amplo possível, indo da faixa etária e da situação socioeconômica à formação na educação básica e hábitos como de leituras e uso de tecnologias. O docente tutor, nas suas atribuições deve ser completo, ter uma visão ampla da educação a distância, do aluno que está em qualquer parte do país, das diretrizes que norteiam a formação desse profissional e, principalmente, compreender que o processo de ensinoaprendizagem é efetivo quando tem a participação de todos os atores. Ele precisa estar ciente, 23091 ainda, de que em uma licenciatura formam-se profissionais que formarão vários outros, e que a distância estabelecida entre professor-tutor e aluno deve ser apenas física, sendo a afetividade a base de toda comunicação e interação. REFERÊNCIAS ARAUJO, I. C. Desenvolvimento de uma proposta didático-pedagógica para ambiente virtual de aprendizagem assistida por computador. (Tese) Doutorado. Faculdade de Educação, Unicamp, 2013. BRASIL. MEC. Decreto Nº 5622, de 19 de Dezembro de 2005. Brasília, 2005. BRASIL. MEC. Parecer CNE/ CP 2/2015, de 09 de Junho de 2015. Brasília, 2015.Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=17625&I temid= Acesso em 11 ago. 2015. BRASIL. Secretária de Comunicação Social da Presidência da Republica. Cerca de 48% dos brasileiros usam internet regularmente. Brasília, 2014. Disponível em: http://www.brasil.gov.br/governo/2014/12/cerca-de-48-dos-brasileiros-usam-internetregularmente. Acesso em 11 ago. 2015. BRITO, Glaucia da S.; PURIFICAÇÃO, Ivonélia da. Educação e novas tecnologias: um (re)pensar. Curitiba: IBPEX, 2011. FORQUIN, Jean-Claude. Escola e Cultura: As bases sociais e epistemológicas do conhecimento escolar. Trad. Guaciara Lopes Louro. Porto Alegre RS: Artes Médicas, 1993. FREIRE, P. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 2005. ______. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983. ______. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. ______. Pedagogia da autonomia... São Paulo: Paz e Terra, 1996. ______. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000. FREIRE, P.; GUIMARAES, S. Sobre educação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003. (Diálogos). LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LIMA FILHO, D., QUELUZ, G. L. A tecnologia e a educação tecnológica: elementos para uma sistematização conceitual. Educação e Tecnologia, Belo Horizonte, v.10, n.1, p.19-28, 23092 2005. Disponível em: <http://files.dirppg.ct.utfpr.edu.br/ppgte/selecao/2013/bibliografia/LimaFilhoeQueluz.pdf>. Acesso em 30 ago. 2014 MARTINS, Onilza Borges. Formação do orientador acadêmico (tutor): teoria e prática. UNINTER, 2010. MASETTO, M. T. Mediação Pedagógica e o uso da tecnologia. 10 ed. In: MORAN, J., BEHRENS, M. A., MASETTO, M. T. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2006. POSTMAN. Neil. O julgamento de Thamus. In: Postman, Neil. Tecnopólio: a rendição da cultura à tecnologia. Ed.Nobel, São Paulo, 1994.