Discurso proferido pelo Deputado ARNALDO JARDIM (PPS/SP), em sessão no dia /08/2011. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, O efeito “manada” que precipitou a fuga de capitais para a compra de títulos norte-americanos; a queda de braço entre o Governo Obama e os Republicanos para ampliar o déficit dos EUA; a crise na zona do Euro motivada pela dificuldade de países como a Grécia, Irlanda, Espanha, Itália e Portugal, de honrarem seus compromissos. Todas estas questões têm como pano de fundo a incapacidade do atual sistema capitalista de fazer com que o mundo volte a crescer com sustentabilidade, após a crise financeira global (2007/08), gerando empregos e renda para todos. Pacotes ortodoxos As manifestações e protestos violentos que eclodem no continente europeu são uma resposta de repúdio da sociedade contra o remédio da moda no enfrentamento de crises. Reduzem-se benefícios sociais em detrimento de pacotes de austeridade ultrapassados e de privatizações, medidas que adotadas tendem a tornar os países mais pobres e vulneráveis. Basta observarmos os exemplos de fracassos no Leste Asiático, na América Latina e, mais recentemente na Irlanda, Letônia e Grécia. Poucos aprenderam Reconheço que estava entre os otimistas que pregavam: “toda crise gera oportunidades”. Achei que poderíamos ter aprendido lições importantes com os efeitos devastadores da crise financeira que abalaram o mercado de capitais, em 2008. Acreditei que pudéssemos iniciar uma nova fase do capitalismo, deixando o lado “selvagem” e privilegiando uma maior igualdade, uma regulamentação mais forte e um melhor equilíbrio entre mercado e governo. Quatro anos se passaram e serviram para mostrar que o lobby do setor financeiro continua ditando as regras no tabuleiro global. É preocupante constatar que investidores do mercado especulativo, que movimentam bilhões nas bolsas de todo o mundo, tem influenciado mais as políticas fiscal e monetária do que os líderes mundiais. Alguns destes líderes, inclusive, encontram-se acossados por uma conjuntura político/eleitoral conturbada. Como é o caso do Presidente Obama, que se viu obrigado a se submeter à pressão da ala mais radial do Partido Republicano, o Tea Party, para aprovar o aumento do déficit da economia norte-americana e poder honrar com seus compromissos. É misturar uma questão doméstica com a saúde financeira do mundo. Afinal, imaginem o impacto global de um calote dos EUA... No fim, a impressão que ficou da crise de 2008 foi de que as nações se preocuparam em proteger o setor financeiro, criador da desgraça (da qual eles mesmos foram coadjuvantes), e foram incapazes de restabelecer a confiança necessária para reaquecer a economia global. Em suma, premiaram a especulação em detrimento da produção, da geração de empregos e renda. Precisamos crescer No Brasil, na época da crise global, aprovamos em plenário todas as medidas de desoneração tributária e de incentivo à economia apresentadas pelo Governo Lula, mesmo sendo um deputado da oposição. Houve embates, principalmente com relação às contrapartidas, no sentido de garantirmos um crescimento sustentável da economia como um todo e não, simplesmente, aprovarmos um conjunto de pacotes pontuais que beneficiassem alguns. A crise passou, graças ao consumo interno e as nossas exportações, mas não foi uma “marolinha” como alguns canhestramente chegaram a argumentar. Todavia, questões de fundo em relação a nossa política econômica, infelizmente, não avançaram como deveriam, tais como: o aumento galopante do custeio da máquina pública, a valorização excessiva do real, os juros estratosféricos, a falta de investimentos em infraestrutura, além da ausência de reformas estruturais e estruturantes. Como sair da crise Não existe uma formula mágica, sejam elas sugestões “neoclássicas” e “keynesianas”. O que precisamos é fazer com que o mundo, como um todo, volte a crescer. Crescimento econômico restaura a confiança de países quanto ao pagamento de suas dívidas, causando uma queda nos juros e deixando espaço para medidas fiscais para aumentar os investimentos e fomentar o próprio crescimento. Este crescimento alimenta a arrecadação de impostos e reduz a necessidade de gastos sociais, como o seguro-desemprego. E a confiança gerada por este ciclo virtuoso tende a promover ainda mais o crescimento econômico. Para tanto é necessário outro tipo de governança global, regras claras para coibir a especulação e ações efetivas para que o mercado não se sobreponha a produção. E o Brasil precisa estar preparado para futuras turbulências, fazer a sua lição de casa e repensar o atual modelo econômico, pois a cartilha que atualmente vigora no mercado global tem se mostrado incapaz de evitar que o mundo entre numa espiral recessiva. Deputado Arnaldo Jardim PPS/SP