O método socrático - Colégio Passionista Santa Maria

FILOSOFIA
Maria Lúcia
de Arruda Aranha
DVD do aluno
BIBLIOTECA DO ESTUDANTE • Leitura complementar
PARTE 2
UNIDADE 4 Filosofia grega antiga
Capítulo 14 A filosofia no período clássico
BIBLIOTECA DO ESTUDANTE
14.3
Leitura complementar
O método socrático
Sócrates afirmava nada saber e, por reconhecer sua ignorância, foi considerado o mais sábio pelo
Oráculo de Delfos. O método empregado por Sócrates irritava seus interlocutores, pois eram desmascarados em sua ignorância. O texto de Bernard Piettre expõe como o método socrático, partindo do não
saber, alcançava o conhecimento verdadeiro, acessível a qualquer um que fosse conduzido corretamente.
A ignorância é o ponto de partida
“
Extrair da alma essa sabedoria divina, tal era a missão que Sócrates acreditava ter-lhe
sido dada por Deus. Do mesmo modo que sua mãe, sábia mulher, trazia seres à luz – costumava gracejar –, ele trazia almas à luz. Daí o nome maiêutica [...] dado ao método socrático.
Em que consiste esse método? Sócrates, ao interrogar seus interlocutores, simulava
desconhecer o assunto. Além disso, interrompia os longos e brilhantes desenvolvimentos e
exigia, em face da ignorância e da falta de sutileza que demonstravam, explicações precisas
e rigorosas sobre o tema em debate. Assim, pouco a pouco, à força de insistentes perguntas, aparentemente fúteis, Sócrates revelava ao seu interlocutor as suas contradições e as
imprecisões de sua linguagem, deixando-o embaraçado. No entanto, se seu contraditor
chegasse a duvidar de suas afirmações, se admitisse a sua ignorância, ou no caso de se
tratar de um jovem sem preconceito e sem vaidade, mas pleno de zelo na busca da verdade, Sócrates o conduzia – desempenhando sempre o papel do ignorante que interroga
e jamais o de mestre que fornece as respostas – a descobrir por ele mesmo a verdade, da
qual dizia estar rico o seu espírito.
Era a afirmação de uma verdade superior ou de uma sabedoria divina, a ponto de se
impor sobre os homens. A sabedoria socrática se contrapõe ao ceticismo e ao subjetivismo
dos sofistas, para os quais só existe uma verdade, a que prevalece sobre as demais. Sem
dúvida, Sócrates afirmava nada saber, mas o saber que cada um pode extrair de sua alma
não é devido a si mesmo, porém aos deuses.
Estamos, portanto, longe do ceticismo religioso ou do ‘agnosticismo’ dos sofistas. Os
preceitos que Sócrates tinha como seus, como ‘conhece-te a ti mesmo’ ou ‘nada em demasia’,
eram os que podiam ser lidos em inscrições existentes no templo de Delfos. ‘Conhece-te
a ti mesmo’ significa: conhece teus limites, mas também a sabedoria que existe em ti. E
‘nada em demasia’: afasta a desmesura da ânsia de poder e dos egoísmos, os quais, longe
de serem naturais, opõem-se à ordem divina da natureza.
O método de ensino oral de Sócrates, relativamente difícil de ser reconstituído, teve uma
influência considerável no pensamento de Platão. O encontro entre Sócrates e Platão deve
ter ocorrido aproximadamente no ano 408 a.C., quando Platão tinha vinte anos. Ele logo
sentiu por Sócrates, como outros jovens de seu meio, uma grande admiração. Sócrates, em
que pese sua aparência negligente e os traços pouco atraentes, exercia estranha sedução
sobre todos aqueles que se lhe acercavam. Platão permaneceu junto a Sócrates por dez
anos, até 399 a.C., quando Sócrates foi condenado à morte.
”
PIETTRE, Bernard. Platão. São Paulo: Ática, 1989. p. 15-16.
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