Lista 1 - Filosofia e Sociologia

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LISTA:
01
Professor(a): Gilberto
3ª série
Ensino Médio
Turma: A ( )
Aluno(a):
Segmento temático:
FILOSOFIA
ANTIGA
DIA:
MÊS: 02
2017
O nascimento da filosofia: mito e razão
Fonte: www.meusestudos.com/... /12/12/2008
Embora de um modo ou de outro o ser humano sempre tenha exercido seus dons filosóficos, a filosofia
ocidental como um campo de conhecimento coeso e estabelecido, surge na Grécia antiga com a figura de Tales de
Mileto, que foi o primeiro a buscar uma explicação para os fenômenos da natureza usando a razão e não os mitos,
como era de costume.
A filosofia ocidental perdura há mais de 2.500 anos, tendo sido a mãe de quase todas as ciências. Psicologia,
Antropologia, História, Física, Astronomia, Matemática, Biologia e praticamente qualquer outra derivam direta ou
indiretamente da filosofia. Entretanto as "filhas" ciências se ocupam de objetos de estudo específicos, e a "mãe" se
ocupa do todo, da totalidade do real.
Nada escapa à investigação filosófica. A amplitude de seu objeto de estudo é tão vasta, que foge a
compreensão de muitas pessoas, que chegam a pensar ser a filosofia uma atividade inútil. Além disso seu significado
também é muito distorcido no conhecimento popular, que muitas vezes a reduz a qualquer conjunto simplório de
idéias específicas, as "filosofias de vida", ou basicamente a um exercício poético.
Entretanto como sendo praticamente o ponto de partida de todo o conhecimento humano organizado, a
filosofia estudou tudo o que pôde, estimulando e produzindo os mais vastos campos do saber, mas diferente da
ciência, a filosofia não é empírica, ou seja, não faz experiências. Mesmo por que geralmente seus objetos de estudo
não são acessíveis ao empirismo.
A razão e a intuição são as principais ferramentas da filosofia, que tem como fundamento a contemplação, o
deslumbramento pela realidade, a vontade de conhecer, e como método primordial a rigorosidade do raciocínio e da
linguagem, para atingir a estruturação do pensamento e a organização do saber.
A palavra “filosofia”
A palavra filosofia é originalmente grega e é composta por outras duas: philos, que significa amor/amizade e
sophia, que significa sabedoria; portanto, filosofia é amor pela sabedoria ou amizade pelo saber. Não um amor de
quem já possui ou detém aquilo que ama, mas de quem ainda procura a sabedoria, que busca alcançar a verdade.
A tradição nos apresenta o filósofo grego Pitágoras de Samos (Século VI-V a.C.) como o “inventor” do termo
filosofia. Segundo o autor do famoso teorema matemático, a sabedoria plena só é possível aos deuses, mas aos
homens devem desejá-la, tornando-se filósofos, amante do saber.
A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e
vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê-la. Ter esses olhos é ser filósofo!
Pitágoras: O criador do termo filosofia
Fonte: http://www.mundoeducacao.com.br/filosofia/origem-filosofia.htm
O Nascimento da filosofia
Aristóteles afirmava que a filosofia tinha a sua origem no espanto, na estranheza e perplexidade que os
homens sentem diante dos enigmas do universo e da vida. É o espanto que os leva a formularem perguntas e os
conduz à procura das respectivas soluções. Com efeito, o espanto torna o evidente em algo incompreensível, o vulgar
extraordinário.
Os historiadores da filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do século VII e início do
século VI a.C., nas colônias da Ásia Menor, na cidade de Mileto. Apesar da segurança desses dados, existe um
problema que, durante séculos, vem ocupando os historiadores da filosofia: o de saber se a filosofia – que é um fato
especificamente grego – nasceu por si mesma ou dependeu de contribuições da sabedoria oriental (egípcios, assírios,
persas, babilônios, caldeus) e da sabedoria de civilizações que antecederam à grega (Minos, Tirento, Micenas).
Durante muito tempo, considerou-se que a filosofia nascera por transformações que os gregos impuseram
aos conhecimentos da sabedoria oriental. No entanto, nem todos aceitaram essa tese, chamada “orientalista”, e
muitos, sobretudo no século XIX da nossa era, passaram a falar na filosofia como sendo o “milagre grego”. Com a
palavra “milagre”, queriam dizer queriam dizer que a filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem
que nada anterior a preparasse, ressaltando a excepcionalidade intelectual do povo grego.
Retirados os exageros das duas teses acima, percebe-se que, embora a filosofia tenha dívidas com a
sabedoria dos orientais, não se pode negar as profundas mudanças que os gregos operaram naquilo que receberam
dos orientais. De fato, tais mudanças foram tão profundas, que até parecia terem criado sua própria cultura a partir
de si mesmos.
Mito e Filosofia
O homem grego foi, por séculos, educado pelo mito. A palavra mito vem do grego mythos, que significa
contar, narrar algo a alguém. O mito é uma narração fabulosa de origem popular e não refletida, dotada de forte
sentido simbólico e pedagógico, que tem por finalidade, por um lado, a explicação do mundo, da realidade que nos
circunscreve. Por outro lado, o mito também serve para fixar normas de conduta, valores e sentimentos coletivos.
Admirado e amedrontado diante dos fenômenos naturais ou sociais que o cercam (o dia e a noite, a chuva, o
terremoto, a origem do cosmos, a morte, o amor, as diferenças étnicas, as línguas, a hierarquia social etc.), o homem
recorre aos mitos – primeira tentativa de situar-se no mundo – como fonte de explicação para o que vê. Forças
sobrenaturais são invocadas, deuses revestem-se de formas humanas (antropomorfismo) e se materializam nos mitos
criados para desvendar o inefável.
Em suma, o mito é desprovido daquilo que os gregos chamam de logos, isto é, de razão ou racionalidade;
trata-se de uma história religiosa revelada com autoridade supostamente indiscutível. O passado é descrito como as
tradições que não admitem nenhuma crítica: “É assim porque foi dito que é assim”.
No século VII a.C., na Jônia, região dominada pelos gregos, o comércio se intensificava, gerando riquezas que
favoreceram importantes progressos materiais e culturais. Nesse ambiente de grandes transformações no modo de
vida urbano, surgiram questões para as quais as explicações mitológicas soavam cada vez mais insuficientes. Foi
nesse cenário que surgiram os filósofo pré-socráticos, assim chamados porque antecederam Sócrates, o primeiro dos
três grandes filósofos da Grécia antiga.
Os pré-socráticos são também conhecidos como filósofos da natureza, e essa primeira fase do pensamento
grego é chamada naturalista (ou período cosmológico), já que a investigação filosófica é dirigida para o mundo
exterior, para a natureza, onde se acreditava ser possível encontrar o princípio de todas as coisas, isto é, aquilo que
está em todos os seres existentes, que é comum a tudo. Segundo os filósofos dessa época, esse princípio ( arché) ou
ser (ver o texto complementar) seria a chave para conhecer e explicar tudo o que existe no universo.
O período cosmológico confunde-se com os primeiros passos da filosofia no Ocidente e se origina na
necessidade intuída pelo homem de explicar de maneira racional – e, portanto, não mítica – a ordem do mundo e/ ou
da natureza (physis, para os gregos). A cosmologia é, então, uma filosofia da natureza; daí os primeiros filósofos
serem chamados de “físicos” – isto é, só diz respeito ao homem na medida em que ele é parte de um universo natural
que o engloba e determina.
Os filósofos pré-socráticos – Heráclito e Parmênides
Heráclito de Éfeso
Heráclito. Detalhe da Escola de Atenas, de Rafael.
O Ser como movimento ou devir
Nascido em Éfeso, na Jônia, Heráclito (540?-480? a.C.) é considerado por numerosos autores da história da
filosofia o mais importante dos pré-socráticos, apesar de ter sido conhecido como o “obscuro”, por apresentar seu
pensamento por meio de aforismos, com um estilo propositadamente enigmático. Sua idéia mestra é o devir eterno, a
transformação incessante, pela qual as coisas se constroem e se dissolvem em outras. Assim, a idéia absolutamente
original trazida por Heráclito é a de que o mundo não é um lugar estático, mas um fluxo, uma mudança permanente
de todas as coisas, um constante vir-a-ser. Para Heráclito, nada permanece o mesmo, nem por um instante. O que é
hoje, amanhã não mais será. São frases dele: “O Sol é novo a cada dia” e “Nos mesmos rios entramos e não
entramos, somos e não somos”.
Tudo flui, tudo passa, tudo se move sem cessar. A vida se transforma em morte, a morte em vida; o
úmido seca, o seco umedece; a noite torna-se dia, o dia torna-se noite; a vigília cede ao sono, o sono cede à vigília; o
jovem torna-se velho, o velho se faz criança. O mundo é um perpétuo renascer e morrer, rejuvenescer e envelhecer.
Nada permanece idêntico a si mesmo. Assim, para Heráclito, a essência verdadeira está na transformação, na
mudança ou devir.
Céu e água, por Maurits C. Escher
Além disso, tudo tem o seu ser, mas também o não-ser, o seu oposto. Assim, tudo no universo está em
permanente guerra contra o seu contrário. Os seres vivos morreriam porque já trariam em si a morte, como que
oculta. Conhecer qualquer coisa só é possível porque existe o seu contrário; sabemos o que é a alegria porque
experimentamos a tristeza, e vice-versa. O mesmo, segundo Heráclito aconteceria com as qualidades de tudo o que
existe, sempre aos pares. Por exemplo, a guerra e a paz, o quente e o frio, o amor e o ódio.
Heráclito concebia o universo e todos os seus fenômenos como uma unidade. Entretanto, a afirmação
de que tudo é Um assume em sua concepção um caráter completamente novo: a unidade só existe enquanto
processo; a unidade, não vista como algo que permanece na imutabilidade, só permanece enquanto movimento de
transformações contínuas. Havia no mundo uma lei, uma racionalidade – o que Heráclito chama de Logos – que
dirigia seu movimento, constituindo a sua unidade. Para Heráclito, como já foi dito, tudo flui ( panta rei); mas não se
trata de um fluxo caótico e desarmonioso, pelo contrário, a guerra e a luta das forças antagônicas é harmonia no
mais alto grau, isto é, a unidade do mundo decorre da tensão gerada pelos opostos. Para Heráclito, enfim, o princípio
ou ser nada mais é que o vir-a-ser.
Parmênides de Eléia
Fonte: www.educ.fc.ul.pt/.../images/Parmenides.jpg/24/11/2008
O Ser é e o não-ser não é
Entre os pensadores eleatas, Parmênides (515?-450? a.C.) é o mais ilustre: ele, ao investigar a physis (a
natureza) e a arché (o princípio de todas as coisas), praticamente deu início às reflexões sobre a lógica e a ontologia
(estudo do ser).
Através dos sentidos, os homens percebem os mais diversos fenômenos naturais, constatam mudanças nas
pessoas e nos seres vivos em geral; em resumo, testemunham um mundo que está em constante transformação.
Segundo Parmênides, entretanto, o que é percebido pelos sentidos não permite que o homem conheça realmente a
verdade, o Ser universal. Por exemplo, ainda que um broto de árvore se transforme em uma frondosa árvore, ele
continua sendo uma árvore; sua essência não muda.
Segundo esse filósofo, o ser é e o não-ser não é. Em outras palavras, o não-ser simplesmente não existe; é
inconcebível mesmo para o pensamento, pois, se pudesse ser pensado, existiria pelo menos como idéia. Por outro
lado, Parmênides afirma que o Ser é imutável e eterno, porque, se sofresse uma transformação qualquer, teria de
deixar de ser (isto é, tornar-se não-ser) para tornar-se outra coisa (isto é, de não-ser, tornar-se ser). Mas isso seria
impossível, pois nada pode surgir do não-ser.
Ao afirmar que o que é, é e não pode não-ser, Parmênides afirmava um ser já completo, nada mais a ele se
poderia acrescentar nem retirar; não sujeito a nenhuma mudança. O Ser imutável era o limite do real e do possível de
ser pensado, não havia a possibilidade de pensar qualquer coisa como não existindo, não havia a possibilidade de
pensar o “não-ser” e de, portanto, o “não-ser, ser”.
O Ser, para Parmênides, deve ser incriado (ingênito) e indestrutível; não pode ter-se originado do nada nem
de qualquer outra coisa, pois é absurdo que algo dê origem àquilo que já é. O que é, nunca veio a ser (nunca esteve
no devir), pois se veio a ser, um dia não era e, se não era, nunca poderia vir a ser. O Ser não se move, pois, se se
movesse, iria para o não-ser, o que é absurdo! O ser é, em suma, objeto de pensamento, pois “pensar é ser”.
Em seus poemas, Parmênides estabelece uma distinção, duas vias do conhecimento: a via da verdade
(aletheia) e a via da opinião (doxa). A via da opinião ou da aparência, baseada nas informações recebidas pelos
sentidos, podia fornecer conhecimento sobre o mundo sensível, mas, exatamente por captá-lo como múltiplo, instável
e transitório, era insuficiente e enganadora para apreender a essência desse mundo, o seu verdadeiro Ser. Este só
seria apreendido pela vida da verdade que, desprezando e recusando as informações fornecidas pelos sentidos,
fundava-se no uso da razão. Ser, pensar e dizer seriam a mesma coisa. Não-ser, perceber, opinar teriam o significado
oposto, nada representando perante o pensamento. Para Parmênides, os sentidos nos oferecem uma visão
enganadora do mundo, diferentemente da razão. A razão humana seria o verdadeiro caminho de conhecimento, e
não os sentidos.
Cap. 3 – Sócrates e Platão
Sócrates
Sócrates no leito de morte, Jacques-Louis David,
1787
O método socrático
Tudo o que sabemos sobre a vida e o pensamento de Sócrates (470?-399 a.C.) é proveniente dos
comentários dos filósofos que seguiram suas idéias, pois ele não deixou nenhum escrito. A figura de Sócrates era,
com freqüência, associada à dos sofistas; contudo, o filósofo não vendia os seus ensinamentos – até porque afirmava
não possuir nenhum: “Só sei que nada sei”, dizia Sócrates – e, ao contrário daqueles, buscava antes de tudo, a
verdade e não a aparência do saber. Mas, o que propunha Sócrates?
Propunha que, antes de querer persuadir os outros, cada um deveria, primeiro e antes de tudo, conhecer-se a
si mesmo. A expressão “conhece-te a ti mesmo”, que estava gravada no pórtico do templo do deus Apolo, patrono
grego da sabedoria, tornou-se a divisa de Sócrates.
Sócrates fazia perguntas sobre as idéias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam e que julgavam
conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados, surpresos, percebendo que não sabiam
responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e idéias.
A filosofia socrática era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos eram
constituídos, de modo geral, por dois momentos: a ironia e a maiêutica. No início do diálogo, Sócrates convida seu
interlocutor a filosofar sobre determinado assunto, a buscar a verdade acerca daquilo sobre o que falam. Geralmente,
o filósofo começa com uma pergunta do tipo: “O que é a justiça?”; é óbvio, caso o assunto fosse do diálogo fosse
“justiça” e assim por diante. Ao receber as primeiras respostas, Sócrates passa a analisá-las para ver se ali encontra
um conceito (definição) da coisa procurada. Aqui, ao perceber que é uma definição, inicia-se, então a ironia
(refutação), que visa demonstrar àquela pessoa que o que ela pensava saber sobre determinado assunto é, na
verdade, aparência de saber, opiniões subjetivas, e não a definição buscada.
Na ironia, Sócrates atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores: com habilidade de
raciocínio, procurava evidenciar as contradições das afirmações e os novos problemas que surgiam como
conseqüência de determinada resposta. Seu objetivo inicial era demolir o orgulho, a arrogância e a presunção do
saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. A ironia socrática tinha um caráter
purificador, na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde
antes só julgavam possuir certezas e verdades. Nesta fase do diálogo, a intenção fundamental de Sócrates não era
propriamente dito destruir o conteúdo das respostas dadas pelos interlocutores, mas fazê-los tomar consciência
profunda de suas próprias respostas, das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes
repletas de conceitos vagos e imprecisos.
Após ter reconhecido, o interlocutor estava apto para o segundo momento do diálogo: a maiêutica. Maiêutica
é um termo de origem grega que significa “a arte de trazer à luz”, ou ainda “a arte de parturejar”. Sócrates dizia-se
um parteiro de idéias e evocava a imagem de sua mãe – que era parteira – para, numa linguagem metafórica,
explicar seu papel de filósofo. Na qualidade de filho de uma parteira, Sócrates, perito em partos, assiste ao parto dos
espíritos, dos pensamentos que eles – os espíritos dos interlocutores – contêm sem o saber.
Sócrates, por meio de perguntas, destrói o saber constituído para reconstruí-lo na procura da definição do
conceito. Esse processo aparece bem ilustrado nos diálogos de Platão, e é bom lembrar que, no final do diálogo, nem
sempre Sócrates tem a resposta: ele também se põe em busca do conceito e às vezes as discussões não chegam a
conclusões definitivas ou não têm uma resposta precisa. Daí a razão pela qual alguns dos diálogos de Sócrates
possuem um caráter aporético, insolúvel (aporia).
Texto complementar
Os sofistas
No século V a.C., Atenas vivia o auge de um regime de governo no qual os homens livres decidiam os
interesses comuns a todos os cidadãos. Em outras palavras, eles determinavam, em discussões públicas, como a
cidade devia ser administrada. Era considerado cidadão o homem que possuísse alguma propriedade (uma casa, pelo
menos), que tivesse escravos, e que não fosse estrangeiro. Ou seja, nem todos participavam das decisões públicas;
as mulheres, por exemplo, eram excluídas. Esse regime de governo era a democracia ateniense que, embora não
garantisse os mesmos direitos para todas as pessoas, representou uma importante mudança no modo de ver o
mundo, pois tinha como fundamento a idéia de que o homem tem soberania sobre seu destino.
No mesmo período deu-se o auge da produção de um gênero de teatro conhecido como tragédia. Esse
gênero dramático tematizava acontecimentos terríveis, muitas vezes míticos, e tinha a intenção de mostrar as
conseqüências de atos imorais e passionais dos homens. A tragédia também era uma reflexão sobre o conflito entre a
liberdade individual e o destino, tema que incomodava os cidadãos da democracia: afinal de contas, até que ponto
eles teriam poder sobre suas vidas? Como exemplo, temos a história de Édipo Rei, escrita por Sófocles (497?-406
a.C.); baseada num mito, narra como Édipo veio inadvertidamente a assassinar seu pai e se casar com sua mãe,
Jocasta, e as punições que o destino reservou para ele, sua família e sua cidade por causa desses crimes.
As propostas que os cidadãos atenienses defendiam publicamente eram feitas por meio de discursos
proferidos na ágora. Para obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter argumentos sólidos
e persuasivos: falar bem e de modo convincente era considerado, portanto, um dom muito valioso. Por isso, havia
cidadãos que procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar, a fim de melhor convencer os outros. A
necessidade de se expressar bem, juntamente com a importância que foi dada ao indivíduo, naquele período
concebido como o senhor de seu destino, favoreceu o surgimento de um grupo de filósofos chamados sofistas, que
dominavam a arte da oratória, isto é, o uso habilidoso da palavra. Esses filósofos eram originários de diferentes
cidades e viajavam pelas póleis governadas da mesma forma democrática, especialmente Atenas, onde discursavam
em público e ensinavam sua arte em troca de pagamento.
Os sofistas, entretanto, não foram somente professores, mas também estabeleceram uma corrente de
pensamento própria. Sua preocupação filosófica se voltava para o homem e a vida em sociedade; as questões que
ocuparam os pré-socráticos, dirigidas para a natureza e a essência do universo, foram colocadas em segundo plano.
Alguns pensadores sofistas foram Górgias (483?-376 a.C.), Hípias (século V a.C.) e Protágoras (485?-410?
a.C.), a quem se atribui uma famosa frase: "O homem é a medida de todas as coisas".
Para os sofistas, tudo devia ser avaliado segundo os interesses do homem e de acordo com a forma como
este vê a realidade social. Isso significava que, segundo essa corrente de pensamento, as regras morais, as posições
políticas e os relacionamentos sociais deveriam ser guiados conforme a conveniência individual. Para esse fim,
qualquer pessoa poderia se valer de um discurso convincente, mesmo que falso ou sem conteúdo. Os sofistas
usavam, de fato, complicados jogos de palavras, trocadilhos, raciocínios sem lógica, todos os recursos do discurso
para demonstrar a "verdade" daquilo que se pretendia alcançar. Esse tipo de argumento ganhou o nome de sofisma.
Segundo a sofística, o que importava para o ser humano era obter prazer com a satisfação de seus instintos,
de seus desejos individuais. Assim, até mesmo dominar outros cidadãos seria justificado, se isso gerasse alguma
vantagem pessoal.
Em resumo, a sofística destruía os fundamentos de todo conhecimento, já que tudo seria relativo e os valores
seriam subjetivos, assim como impedia o estabelecimento de um conjunto de normas de comportamento que
garantissem os mesmos direitos para todos os cidadãos da pólís.
Foi nesse contexto que surgiu um pensador cuja doutrina se opunha profundamente à sofística: Sócrates.
Platão
Detalhe de Platão, n'A Escola de Atenas, obra do renascentista Rafael.
A teoria das idéias
Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é a sua teoria das idéias – o termo “idéia” vem do
grego eidos, que significa forma – que procura explicar como se desenvolve, ou deveria se desenvolver – o
conhecimento humano. Vejamos, então, sua teoria do conhecimento.
Para Platão, o processo do conhecimento se desenvolve por meio de uma passagem progressiva do mundo
sensível – da realidade material, corpórea – para o mundo inteligível – lá onde as coisas são, isto é, onde tudo está
enquanto essência imutável, imóvel, pura perfeição. Com efeito, a realidade sensível (dos sentidos), da qual,
obviamente, fazemos parte, não nos oferece a possibilidade do verdadeiro conhecimento, uma vez que a matéria de
que as coisas sensíveis foram feitas tornam tais coisas imperfeitas, mutáveis, corruptíveis e contingentes. O mundo
material é contraditório e, por isto, dele só nos chegam as aparências das coisas e sobre eles temos tão-somente
opiniões, nunca conhecimento.
fonte: filosofartecultura.blogspot.com/20/11/2008
O mundo sensível não constitui a verdadeira realidade: é um pálido reflexo de uma realidade superior, de um
mundo supra-físico. O mundo sensível, que desliza entre o Ser e o não-ser, só tem realidade na medida em que
participa do mundo inteligível ou das idéias. As coisas materiais que nos rodeiam são como sombras das idéias, isto é,
simulacros das suas formas primordiais e modelos eternos que habitam o supra-físico. Esses modelos eternos,
segundo Platão, são incorpóreos e imutáveis. Embora Platão os chame também de “idéias”, eles não existem na
mente humana, ao contrário, existem fora do sujeito e fora dos objetos, num plano que o filósofo denomina
“Hiperurânio”; um plano metafísico ao qual se tem acesso apenas pelo pensamento. Quando vemos uma mesa, por
exemplo, ela pode mudar de cor, envelhecer, se estragar; contudo, a essência da mesa permanece sempre a mesma,
em qualquer época ou lugar é sempre a “idéia” de mesa. Sobre a essência de mesa se faz conhecimento, mas, sobre
a mesa material, tudo o que temos é mera opinião ( doxa) e aparência. Assim, todo o nosso esforço deve ser
concentrado na tentativa de acessarmos o mundo das idéias para transcendermos esse mundo de devir, vir-a-ser
(como demonstrou o filósofo Heráclito).
Portanto, o conhecimento verdadeiro deve, para Platão, ultrapassar a esfera das impressões sensoriais
(mundo sensível) e penetrar na esfera racional do mundo das idéias. Ora, de acordo com Platão, a dialética é, por
excelência, o conhecimento verdadeiro, o método filosófico que pode nos levar, num processo ascendente, da
realidade sensível – da crença e da opinião – para o plano supra-físico – das idéias e essências. A dialética promove
uma espécie de separação da alma inteligível com o corpo físico, fazendo com que a alma capte, num plano superior,
as coisas totais e perfeitas: a bondade em si, a coragem em si, a sabedoria em si, entre outros. Vale ressaltar que
para estar apto a fazer a dialética, o indivíduo deve obedecer a uma fortíssima preparação que vai, em estágios,
escolhendo aqueles que tem o espírito mais preparado para encontrar as formas ideais. Deste modo, não são todos
que possuem a natureza adequada à dialética; ela está reservada aos que Platão chama de aristoi: os melhores.
A teoria da Reminiscência
Platão supõe que os homens já teriam vivido como puro espírito quando contemplaram o mundo das idéias.
Mas tudo esquecem quando se degradam ao se tornarem prisioneiros do corpo, que é considerado o “túmulo da
alma”. Pela teoria da reminiscência, Platão explica como os sentidos se constituem apenas na ocasião para despertar
nas almas as lembranças adormecidas. Em outras palavras, conhecer é lembrar. No diálogo Menon, Platão descreve
como um escravo, ao examinar figuras sensíveis que lhe são oferecidas, é induzido a “lembrar-se” das idéias e
descobre uma verdade geométrica.
Política: a função do filósofo
Para compreender o aspecto político da teoria platônica das idéias, é necessário fazer uma analogia com o
mito da caverna, segundo o qual os homens viviam, desde a infância, acorrentados no interior de uma caverna,
aonde só conheciam sombras do real. O prisioneiro que se libertou das correntes (isto é, o filósofo), ao sair da
caverna e contemplar a verdadeira realidade e ter passado da opinião ( doxa) à ciência (episteme), deve retornar ao
meio dos homens para orientá-los.
Eis assim a dimensão política do mito da caverna, surgida da pergunta: como influenciar os homens que não
vêem? Cabe ao sábio ensinar e governar. Trata-se da necessidade da ação política, da transformação dos homens e
da sociedade, desde que essa ação seja dirigida pelo modelo ideal contemplado. Portanto, para que o Estado seja
bem governado, é preciso que “os filósofos se tornem reis, ou que os reis se tornem filósofos”.
Platão propõe um modelo aristocrático de poder. No entanto, não se trata de uma aristocracia da riqueza,
mas da inteligência, em que o poder é confiado aos melhores, ou seja, é uma sofocracia (governo dos sábios).
Texto complementar
Mito da caverna.
Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/seminario/platao/images/caverna4.jpg
O mito da caverna de Platão*
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da caverna
há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa.
Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados
sem poder mover a cabeça nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter
visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas
apenas as sombras dos outros e de si mesmos por que estão no escuro e imobilizados.
Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz
com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna.
Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e
animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches. Os prisioneiros
julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as
próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um
instrumento com o qual quebra os grilhões. De inicio, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na
direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro
instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de
dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz
externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a
incredulidade e o deslumbramento.
Ao permanecer no exterior o prisioneiro, aos poucos se habitua a luz e começa a ver o mundo. Encanta-se,
tem a felicidade de ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira
apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais
regressar a ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil
decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem
também.
Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciálo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a
sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos
demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade?
*Fonte: giulianofilosofo.blogspot.com/2007/08/o-mito-da-caverna-de-plato.html
Aristóteles
Aristóteles. Detalhe da Escola de Atenas de Rafael
A metafísica aristotélica
Aristóteles (384-322 a.C.) Nasceu em Estagira, na península macedônica da Calcídica (por isso é também
chamado de o Estagirita). Era filho de Nicômano, amigo e médico pessoal do rei Amintas 2 o, pai de Filipe e avô de
Alexandre, O Grande. Aos 16 ou 17 anos, Aristóteles mudou-se para Atenas, então o centro intelectual e artístico da
Grécia, e estudou na Academia de Platão até a morte do mestre, no ano 347 a.C.
Aristóteles retoma a problemática do conhecimento e se preocupa em definir a ciência como conhecimento
verdadeiro, conhecimento pelas causas, capaz de superar os enganos da opinião e de compreender a natureza do
devir. Mas ao analisar a oposição entre o mundo sensível e o inteligível segundo a tradição de Heráclito, Parmênides e
Platão, Aristóteles recusa as soluções apresentadas e critica pormenorizadamente o mundo “separado” das idéias
platônicas.
A teoria aristotélica se baseia em três distinções fundamentais, que passamos a descrever simplificadamente:
substância-essência-acidente; ato-potência; forma-matéria, que por sua vez desembocam na teoria das quatro
causas. Todos esses conceitos são desenvolvidos na sua Metafísica ou Filosofia Primeira.
Aristóteles “traz as idéias do céu à terra”: rejeita o mundo das idéias de Platão, fundindo o mundo sensível e o
inteligível no conceito de substância, enquanto “aquilo que é em si mesmo”, ou enquanto suporte dos atributos.
Ora, quando dizemos algo de uma substância, podemos nos referir a atributos que lhe convêm de tal forma
que, se lhe faltassem, a substância não seria o que é. Designamos esses atributos de essência propriamente dita, e
chamamos de acidente o atributo que a substância pode ter ou não, sem deixar de ser o que é. Então, a substância
individual “este homem” tem como características essenciais os atributos pelos quais este homem é homem
(Aristóteles diria, a essência do homem é a racionalidade) e outros, acidentais (como ser gordo, velho ou belo),
atributos esses que não mudam o ser do homem em si.
No entanto, o problema das transformações dos seres ainda não se resolve com os conceitos de essência e
acidente, e por isso Aristóteles recorre às noções de forma e matéria. Matéria é o princípio indeterminado de que o
mundo físico é composto, é “aquilo de que é feito algo”, o que não coincide exatamente com o que nós entendemos
por matéria, na física, por se caracterizar pela indeterminação. Forma é “aquilo que faz com que uma coisa seja o que
é”.
Todo ser é constituído de matéria e forma, princípios indissociáveis. Enquanto a forma é o princípio inteligível, a
essência comum aos indivíduos da mesma espécie, pela qual todos são o que são, a matéria é pura passividade,
contendo a forma em potência. Numa estátua, por exemplo, a matéria (que nesse caso é a matéria segunda, pois já
tem alguma determinação) é o mármore; a forma é a idéia que o escultor realiza na estátua. É através da noção de
matéria e forma que se explica o devir. Todo ser tende a tornar atual a forma que tem em si como potência. Assim, a
semente, quando enterrada, tende a se desenvolver e se transformar no carvalho que era em potência.
Percebe-se aí o recurso aos dois outros conceitos, de ato e potência, que explicam como dois seres diferentes
podem entrar em relação, agindo um sobre o outro. O conceito de potência não deve ser confundido com força, mas
sim com a ausência de perfeição em um ser capaz de vir a possui-la. Pois uma potência é a capacidade de tornar-se
alguma coisa e, para tal, é preciso que sofra a ação de outro ser já em ato. A semente que contém o carvalho em
potência foi gerada por um carvalho em ato. Potência é, portanto, o que está contido numa matéria e pode vir a
existir, se for atualizado por alguma causa; por exemplo, a criança é um adulto em potência. O ato, por sua vez, é a
atualidade de uma matéria, isto é, sua forma num dado instante do tempo; o ato é a forma que atualizou uma
potência contida numa matéria. Por exemplo, a árvore é o ato da semente. Potência e matéria são idênticos, assim
como forma e ato são idênticos. A matéria ou potência é uma realidade passiva que precisa do ato e da forma, isto é,
da atividade que cria os seres determinados.
fonte: fatosefotosdacaatinga.blogspot.com
Processo de germinação: a semente está em potência para se tornar uma planta, que é o ato da semente.
O movimento é, pois, a passagem da potência para o ato. O movimento é “o ato de um ser em potência
enquanto tal”, é a potência se atualizando. Tais considerações levam à distinção dos diversos tipos de movimento e
às causas do movimento ou teoria das quatro causas: as mudanças derivam da causa material, da causa formal, da
causa eficiente e da causa final.
A causa material (ou matéria) é “aquilo de que é feita” uma coisa; por exemplo, a matéria dos animais são a
carne e os ossos; a matéria da esfera é o bronze, da taça é o ouro, da casa são os tijolos e cimento, e assim por
diante.
A causa eficiente (ou motora) é aquilo que promove a mudança e o movimento das coisas; por exemplo, os
pais são causa eficiente dos filhos, a vontade é a causa eficiente de várias ações do homem, e assim por diante.
A causa formal é, como dissemos, a forma ou essência das coisas, a configuração dada a determinada matéria
pela ação da causa eficiente. A Causa formal torna a coisa cognoscível.
A causa final ou teleológica constitui o fim ou objetivo das coisas e das ações; ela constitui aquilo em vista de
que ou em função de que cada coisa é ou advém; e isso, diz Aristóteles, é o bem de cada coisa.
Mesmo ainda considerando o postulado parmenídeo de que o ser é idêntico ao pensar, Aristóteles pôde superar
Parmênides e Platão ao usar os conceitos acima expostos, pelos quais se compreende a imutabilidade e a mudança, o
acidental e o essencial, o individual e o universal. Se conhecer é lidar com conceitos universais, é também aplicar
esses conceitos a cada coisa individual. Com isso, nem é preciso justificar a imobilidade do ser, nem criar o mundo
das essências imutáveis.
Lógica
O silogismo categórico
Aristóteles elaborou uma teoria do raciocínio como inferência. Segundo Marilena Chauí, Inferir é tirar uma
proposição como conclusão de uma ou de várias outras proposições que a antecedem e são sua explicação ou sua
causa. O silogismo é um tipo de inferência ou raciocínio que, segundo Aristóteles, apresenta três características
principais:
1.
é mediato, pois exige um percurso de pensamento e de linguagem para que se possa chegar a uma
conclusão;
2.
é dedutivo, pois parte de certas afirmações gerais e verdadeiras para chegar a outras (particulares) também
verdadeiras e que dependem necessariamente das primeiras;
3.
é necessário, pois é dedutivo (as conseqüências a que se chega na conclusão resultam necessariamente da
verdade do ponto de partida). Por ser necessário, Aristóteles designou o silogismo com o nome de ostensivo, pois
ostenta ou mostra claramente a relação necessária e verdadeira entre o ponto de partida e a conclusão. O exemplo
mais famoso do silogismo ostensivo é:
Todos os homens são mortais.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Um silogismo é constituído por três proposições. A primeira é chamada de premissa maior, a segunda, de
premissa menor e a terceira, de conclusão, inferida das premissas pela mediação de um termo chamado termo
médio.
O silogismo, para chegar a uma conclusão verdadeira, deve obedecer a um conjunto complexo de regras.
Dessas regras, apresentaremos as mais importantes, tomando como referência o silogismo clássico que oferecemos
acima:

a premissa maior deve conter o termo maior (no caso, “mortais”) e o termo médio (no caso, “homens”);

a premissa menor deve conter o termo menor (no caso, “Sócrates”) e o termo médio (no caso, “homem”);

a conclusão deve conter o maior e o menor e jamais deve conter o termo médio (no caso, deve conter
“Sócrates” e “mortal” e jamais deve conter “homem”). Sendo função do médio ligar os extremos (os termos maior e
menor), deve estar nas premissas, mas nunca na conclusão.
A idéia geral da dedução ou inferência silogística é:
A é verdade de B.
B é verdade de C.
Logo, A é verdade de C.
A ética de Aristóteles - as virtudes
Para Aristóteles, a ética é uma ciência da práxis humana, isto é, um saber que tem por objeto a ação. O
fundamento da ética é o mesmo da metafísica, que afirma a tese segundo a qual todo ser tende necessariamente à
realização de sua natureza, à atualização plena de sua potência: e nisto está o seu fim, o seu bem, a sua felicidade,
e, por conseguinte, a sua lei. Logo, o fim último do ser humano é a felicidade (eudaimonia), cuja realização supõe a
prática das virtudes morais, conseqüentemente, da razão.
No entanto, as virtudes morais não são mera atividade racional. Elas implicam, por natureza, um elemento
sentimental, afetivo, passional (o desejo), que deve ser governado pela razão. Esta, apesar de dominar ou governar
o desejo ou as paixões, não as aniquila ou destrói, como queria o ascetismo platônico. A virtude ética atua no sentido
de educar o desejo, direcionando-o racionalmente, equilibrando-o. A virtude ética não é, pois, razão pura, mas uma
aplicação da razão no sentido de aperfeiçoar a ação humana.
De fato, Aristóteles define a virtude como sendo “uma disposição de caráter para agir de um modo deliberado,
consistindo numa medida relativa a nós, racionalmente determinada e tal como seria determinada pelo homem
prudente”. Esta “medida relativa a nós” corresponde exatamente à noção de justo-meio ou meio termo, ou seja, ao
equilíbrio e harmonia, que somente o homem prudente pode alcançar. Agir virtuosamente é atingir o meio termo ou
equilíbrio, ou seja, evitar a falta e o excesso nas ações.
Fonte: ferrao.org/uploaded_images/balance.jpg/13/12/2008
Na Ética a Nicômaco, Aristóteles fornece uma relação de vícios e de virtudes, tendo como critério a noção de
meio termo: por exemplo, a coragem é o meio-termo (virtude) entre a covardia (extremo da falta de coragem) e a
temeridade (excesso de coragem); a transparência é o meio-termo entre a mentira (extremo da falta de
transparência) e a franqueza (excesso de transparência).
Para Aristóteles, a educação ética (do caráter) consiste em nos fazer adquirir o hábito da virtude. O desejo é
uma inclinação natural, uma propensão interna do nosso ser, do nosso caráter. A ética se refere ao estudo do caráter
do homem para determinar como pode torná-lo virtuoso.
Cada caráter, índole ou temperamento possui desejos diferentes, pois para cada um deles os objetos de prazer
e dor são diferentes. Em todos eles, o vício é sempre excesso ou falta entre dois pontos extremos e opostos:
temeridade é excesso de coragem, covardia é falta de coragem.
Portanto, a virtude é a medida entre os extremos contrários, a moderação entre dois extremos, ou seja, o justo
meio. Moderar é pesar, ponderar e deliberar. A ética, nesse sentido, é a ciência prática da moderação, é um saber
prático que tem como virtude central a prudência (phronesis). O homem prudente é capaz de identificar, em cada
ação, o seu justo meio. A ação virtuosa, nesse sentido, aperfeiçoa a natureza humana e, por extensão, a vida em
comunidade, uma vez que, segundo Aristóteles, o homem é um “animal político”. Sem a prática das virtudes, a vida
social se inviabiliza e, por isso, o homem não realiza sua função ou finalidade: a felicidade.
Exercícios
1. No poema Teogonia, as Musas aparecem ao poeta Hesíodo e dizem-lhe o seguinte:
“sabemos dizer muitas mentiras semelhantes aos fatos e sabemos, se queremos, dar a ouvir verdades”
Com base neste trecho é correto afirmar:
I. A Filosofia assemelha-se ao mito por entender que a verdade baseia-se na autoridade de quem a diz.
II. No mito, há espaço para contradições e incoerências, pois a verdade nele se estabelece em um plano diverso
daquele em que atua a racionalidade humana.
III.
O mito entende que a verdade é, por um lado, uma conformidade com alguns princípios lógicos e, por outro,
a verdade deve ser dita em conformidade com o real.
IV. A crença e a confiança no mito provêm da autoridade religiosa do poeta que o narra.
a) I e III são corretas.
b) II e III são corretas.
c) II e IV são corretas.
d) III e IV são corretas.
2. Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático, compreendia que
I. o ser é vir-a-ser.
II. o vir-a-ser é a luta entre os contrários.
III.
a luta entre os contrários é o princípio de todas as coisas.
IV. da luta entre os contrários origina-se o não-ser.
Assinale
a) se apenas I, II e III estiverem corretas.
b) se apenas I, III e IV estiverem corretas.
c) se apenas II, III e IV estiverem corretas.
d) se apenas I, II e IV estiverem corretas.
3. O poema Sobre a Natureza Parmênides afirma: "os únicos caminhos de inquérito que são a pensar: o primeiro que
é e portanto que não é não ser, de Persuasão é caminho (pois à verdade acompanha); o outro, que não é e portanto
que é preciso não ser, este então, eu te digo, é atalho de todo incrível; pois nem conhecerias o que não é nem o
dirias."
Pode-se daí inferir que:
a) apenas o ser pode ser dito e pensado.
b) o não ser de algum modo é.
c) o ser e o pensar são distintos.
d) o ser é conhecido pelos sentidos.
4. Sócrates é tradicionalmente considerado como um marco divisório da filosofia grega. Os filósofos que o
antecederam são chamados pré-socráticos. Seu método, que parte do pressuposto "só sei que nada sei", é a
maiêutica que tem como objetivo:
I. "dar luz a idéias novas, buscando o conceito".
II. partir da ironia, reconhecendo a ignorância até chegar ao conhecimento.
III.
encontrar as contradições das idéias para concluir pela impossibilidade de qualquer conhecimento.
IV. "trazer as idéias do céu à terra".
Assinale
a) se apenas I e II estiverem corretas.
b) se apenas I e III estiverem corretas.
c) se apenas II, III e IV estiverem corretas.
d) se apenas III e IV estiverem corretas.
5. O “O mito da caverna” (livro, A república, Platão) tem como pressuposto a teoria das idéias. Considera-se então
que seja
I. uma metáfora do conhecimento: o movimento de saída e a contemplação da luz significam o processo de
aquisição do conhecimento, o qual se inicia com a opinião indo até o entendimento (idéias).
II. Um simples e mero relato da libertação das correntes que prendiam os homens no interior da caverna.
III.
uma forma de Platão representar a importância e a superioridade do filósofo, como aquele que chega ao
conhecimento e tem a missão de transmiti-lo aos outros.
IV. uma história que simboliza a vida do homem das cavernas.
Assinale a correta:
a) I e II são interpretações possíveis.
b) II e IV são interpretações possíveis.
c) I e IV são interpretações possíveis.
d) I e III são interpretações possíveis.
(As próximas questões foram extraídos dos últimos vestibulares da UFU)
6. No pórtico da Academia de Platão, havia a seguinte frase: “não entre quem não souber geometria”. Essa frase
reflete sua concepção de conhecimento: quanto menos dependemos da realidade empírica, mais puro e verdadeiro é
o conhecimento tal como vemos descrito em sua Alegoria da Caverna. “A ideia de círculo, por exemplo, preexiste a
toda a realização imperfeita do círculo na areia ou na tábula recoberta de cera. Se traço um círculo na areia, a ideia
que guia a minha mão é a do círculo perfeito. Isso não impede que essa ideia também esteja presente no círculo
imperfeito que eu tracei. É assim que aparece a ideia ou a forma. ”JEANNIÈRE, Abel. Platão. Tradução de Lucy
Magalhães. Rio de Janeiro:Zahar, 1995. 170 p.
Com base nas informações acima, assinale a alternativa que interpreta corretamente o pensamento de Platão.
A) A Alegoria da Caverna demonstra, claramente, que o verdadeiro conhecimento não deriva do “mundo inteligível”,
mas do “mundo sensível”.
B) Todo conhecimento verdadeiro começa pela percepção, pois somente pelos sentidos podemos conhecer as coisas
tais quais são.
C) Quando traçamos um círculo imperfeito, isto demonstra que as ideias do “mundo inteligível” não são perfeitas, tal
qual o “mundo sensível”.
D) As ideias são as verdadeiras causas e princípio de identificação dos seres; o “mundo inteligível” é onde se obtêm
os conhecimentos verdadeiros.
7. “Segundo Aristóteles, tudo tende a passar da potência ao ato; tudo se move de uma para outra condição. Essa
passagem se daria pela ação de forças que se originam de diferentes motores, isto é, coisas ou seres que
promoveriam esta mudança. No entanto, se todo o Universo sofre transformações, o estagirita afirmava que deveria
haver um primeiro motor [...]”.
CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ed. Ática, 2006, p. 58.
Com base em seus conhecimentos e no texto acima, assinale a alternativa que contenha duas características do
primeiro motor.
A) O primeiro motor é imóvel, caso contrário, alguma causa deveria movê-lo e ele não seria mais o primeiro motor; é
imutável, porque é ato puro.
B) O primeiro motor é imóvel, mas não imutável, pois pode ocorrer de se transformar algum dia, como tudo no
Universo.
C) O primeiro motor é imutável, mas não imóvel, pois do seu movimento ele gera os demais movimentos do Universo.
D) O primeiro motor não é imóvel, nem imutável, pois isto seria um absurdo teórico. Para Aristóteles, o primeiro
motor é móvel e mutável, como tudo.
8. Conforme o Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano, Platão emprega a palavra silogismo para definir o
raciocínio em geral. Aristóteles, por sua vez, o define como o tipo perfeito de raciocínio dedutivo, “um discurso em
que, postas algumas coisas, outras se seguem necessariamente.” Considere que a premissa “Todo atleta treina”,
sentença universal e afirmativa, é a premissa maior de um silogismo, cuja conclusão é: “Logo, Maria treina”.
(ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi e Ivone C. Benedetti. São Paulo: Martins Fontes, 2003.)
De acordo com tal definição, assinale a alternativa que indica, corretamente, a premissa menor:
A) Maria não é atleta.
B) Maria não treina.
C) Maria é atleta.
D) Maria é atleta, mas não treina.
9. A relação entre mito e filosofia é objeto de polêmica entre muitos estudiosos ainda hoje. Para alguns, a filosofia
nasceu da ruptura com o pensamento mítico (teoria do “milagre grego”); para outros, houve uma continuidade entre
mito e filosofia, ou seja, de alguma forma os mitos continuaram presentes – seja como forma, seja como conteúdo –
no pensamento filosófico. A partir destas informações, assinale a alternativa que NÃO contenha um exemplo de
pensamento mítico no pensamento filosófico.
A) Parmênides afirma: “Em primeiro lugar, criou (a divindade do nascimento ou do amor) entre todos os deuses, a
Eros...”
B) Platão propõe algumas teses como a teoria da reminiscência e a transmigração das almas.
C) Heráclito afirma: “As almas aspiram o aroma do Hades”.
D) Aristóteles divide a ciência em três ramos: o teorético, o prático e o poético.
10. Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles se refere a Sócrates nos seguintes termos: Sócrates
ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas
questões, tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições. Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução de
Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002.
Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, assinale a alternativa correta.
A) O método utilizado por Sócrates consistia em um exercício dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do
erro e do preconceito − com o prévio reconhecimento da própria ignorância
−, e levá-lo a formular conceitos de validade universal (definições).
B) Sócrates era, na verdade, um filósofo da natureza. Para ele, a investigação filosófica é a busca pela “Arché”, pelo
princípio supremo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico aos utilizados pelos filósofos que o
antecederam (Pré-socráticos).
C) O método socrático era empregado simplesmente para ridicularizar os homens, colocando-os diante da própria
ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis para o homem; por isso, para ele, as definições são
sempre relativas e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o Homem é a medida de todas as coisas”.
D) Sócrates desejava melhorar os seus concidadãos por meio da investigação filosófica. Para ele, isso implica não
buscar “o que é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. Por isso, diz o filósofo, o fundamento da vida moral é, em
última instância, o egoísmo, ou seja, o que é o bem para o indivíduo num dado momento de sua existência.
Gabarito:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
C
A
A
A
D
D
A
C
D
A
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