III Encontro da ANPPAS 23 a 26 de maio de 2006 Brasília-DF Participação Social e Educação Ambiental: em Busca da Emancipação Cidadã. Ana B. C. Bezerra - CDS/UnB Ana Lúcia Laurenti - CDS/UnB Cláudia V. Dansa - CDS/UnB Ednéa Sanches - CDS/UnB Licídio de C. B. F. Júnior - CDS/UnB Patrícia Queiroz Aucélio - CDS/UnB Priscila Pires - CDS/UnB Simone Portugal - CDS/UnB Thaís Marra - CDS/UnB Neste artigo apresentamos uma produção coletiva, apropriando-nos de alguns conceitos para orientar a análise e a reflexão sobre a Participação Social e a Educação Ambiental. O primeiro, oferecido por Isabel Carvalho como “sujeito ecológico”, é o da construção do sujeito e do conhecimento nas relações intersubjetivas e com o ambiente. Outra importante contribuição vem da “subjetividade” defendida por Bader Sawaia, como ação de mesma substância da “participação”. Essa participação (que envolve um “sujeito interessante e interessado”), também é levantada por Castoriadis, sobre o questionamento e curiosidade desse sujeito (que faz perguntas e se questiona). Retomamos o conceito de “subjetividade”, agora como abordado por González Rey, sob a ótica individual e social. Também lembramos o debate sobre “subjetividade e objetividade” proposto por Hernandez como uma reação paradigmática. Outro destaque é dado ao conceito de “territorialização” defendido por Heidegger, quando da reflexão de oposição entre o ser e o ter para o capitalismo, salientando a necessidade de participação política cidadã. O conceito proposto por Euclides Mance de “redes solidárias” fundamenta as práticas de organização social e coletiva, na busca da sustentabilidade e da emancipação cidadã desejada. 1 Introdução. Este artigo apresenta as reflexões e idéias de estudantes da pós-graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável-CDS, da Universidade de Brasília, escritas a partir da construção do sujeito ecológico. Nos debates em sala de aula, discentes e docentes das disciplinas Metodologias em Educação Ambiental e Políticas Públicas em Educação Ambiental, definiram coletivamente alguns eixos norteadores. Para este artigo, foram considerados como ponto de partida e como orientadores das reflexões e das leituras que as subsidiaram, os seguintes: a construção do sujeito e do conhecimento que resulta das relações intersubjetivas e com o ambiente; o sujeito ecológico visto como um desdobramento do sujeito político, cuja essência é a participação social e a superação de modos de subjetividade dominantes; a Educação Ambiental como instigante de um debate ético-político para superar a separação entre subjetividade e objetividade; a Educação Ambiental vista como instrumento que permite a organização de espaços formativos onde a sociedade civil constitui sujeitos políticos para o diálogo com o Estado, na busca de um novo senso comum emancipatório. 1. Experiências com Educação Ambiental As experiências abaixo relacionam conhecimento, participação social, transformação do sujeito e da própria subjetividade. Por vários caminhos, buscam resgatar a complexidade do humano, a partir de diferentes tentativas de inserção dos sujeitos em processos de (re)construção do conhecimento sobre si mesmo, o Outro, a sociedade e a natureza, que possibilitem uma releitura de sua realidade a partir de novos olhares e encontrem outras perspectivas de organização, viabilizando opções para uma vida com qualidade sócioambiental e em direção à sustentabilidade. 1- Cooperativa Educacional com projeto de Educação Ambiental. Experiência de trabalho em uma escola no Gama/DF resultante de uma associação de cooperados-educadores, projeto educacional que nasce da vida, norteado por um Projeto-Político-Pedagógico-Pastoral que tem entendido como processo permanente de reflexão e discussão dos problemas oriundos no ambiente educativo. (Ana B. C. Bezerra, geógrafa, educadora na Secretaria de Educação/DF) 2- Resgate cultural e de identidade. Num processo de dialogação, reflexão, levantamento e vivências para resgate cultural e de identidade de comunidades de assentamentos da reforma 2 agrária associados na criação de uma Escola Família Agrícola em Padre Bernardo/GO. (Ana Lúcia Laurenti, pedagoga, colaboradora do Núcleo de Estudos Agrários-NEAGRI/UnB) 3- Curso Técnico em Agropecuária e Desenvolvimento Sustentável para jovens assentados da Reforma Agrária. Trabalho que articula um curso técnico e a formação de Rede Territorial com assentamentos da Reforma Agrária vinculados a SR 28 do INCRA para ações de produção, organização social e conservação ambiental em comunidades de assentamentos de reforma agrária. (Cláudia V. Dansa, pedagoga, doutoranda em educação ambiental) 4- Formação de Educadores Ambientais pela Escola da Natureza. A Escola definiu, em seu projeto político-pedagógico, algumas ações que colocadas em prática vêm traduzindo-se num trabalho de mobilização em torno de uma rede solidária. (Ednéa Sanches, artista plástica, professora da Secretaria de Estado de Educação/DF) 5- Vivência pessoal. A formação do eu “sujeito ecológico” foi baseada nos momentos em que era convidado a refletir sobre nós seres-humanos e nossa relação com o outro (meio ou semelhante). Nesses momentos praticávamos educação ambiental... pensávamos em conjunto, refletíamos em conjunto, sonhávamos em conjunto, como um só corpo, um só coração. (Licídio de C. B. F. Júnior, mestrando em desenvolvimento sustentável-UNB/CDS) 6- Educação e saúde com comunidades de assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Tendo como perspectiva a aplicação da socionomia (psicodrama, axiodrama, sociodrama) como metodologia de atuação junto a estes grupos de modo a possibilitar uma maior interação dos mesmos entre si e, a partir de uma identificação com o seu meio (de uma forma crítica e construtiva), construir coletivamente conhecimentos no campo da promoção à saúde. E, tendo como um dos objetivos potencializar a autonomia do indivíduo no sentido de efetivar ações de promoção à saúde. (Patrícia Queiroz Aucélio, mestre em Nutrição pela UNICAMP, especialista em Saúde Publica) 7- Projeto de Educação Ambiental em propriedades rurais. O trabalho realizado numa chácara com atividades de horta ecológica, resíduos sólidos, viveiro do cerrado e plantas medicinais. População alvo da atividade envolveu alunos desde o pré-escolar até graduandos de diversos cursos. (Priscila Pires, química e especialista em Gestão Ambiental, professora da SEE/DF). 8- Educação Ambiental na Escola Classe 106N em Brasília/DF. Inserção da Educação Ambiental no Projeto Político Pedagógico Escolar, estimulando professores, estudantes e a comunidade como um todo, a participarem ativamente na gestão das escolas públicas. (Simone Portugal, formada em Educação Artística-Música, professora do Ensino Fundamental e arte-educadora ambiental). 3 9- Projeto de Educação Ambiental na escola, no qual o corpo docente, direção e demais funcionários, foram convidados a participar do planejamento do projeto com o intuito de desenvolver ações de intervenções por meio de eixos temáticos transversalizados, promovendo a interdisciplinaridade. (Thaís Marra, geógrafa, Mestranda em Gestão Ambiental /Ed. Ambiental na UnB/CDS (Centro de Desenvolvimento Sustentável), professora da SEE/DF.) 2. A Construção do Sujeito e do Conhecimento nas Relações Intersubjetivas e com o Ambiente As experiências citadas apresentaram diferentes resultados com relação à participação dos sujeitos que, às vezes se envolvem de maneira profunda, às vezes participam de forma omissa ou mesmo se ausentam do processo. Algumas foram estimuladas pelo poder público, outras por atores como professores, agricultores, etc. A maior parte proporcionou, intencionalmente ou não, a construção de redes envolvendo educadores, educandos e outros parceiros. O conhecimento, processado em cada um dos sujeitos envolvidos, permitiu desencadear mobilizações coletivas e solidárias, portanto afetivas. Assim, o conhecimento não se tornou massificado e homogêneo, aceitando a diversidade e proporcionando o exercício da superação de conflitos e da conciliação, tornando-se um elemento integrador e complementar nas ações coletivas, o que fez com que as experiências convergissem para a noção de rede. Tentou-se, em todos os casos, privilegiar o reconhecimento/fortalecimento do indivíduo - interessante e interessado - como partícipe do grupo ou de vários grupos, colaborando com suas qualidades e habilidades para a intenção coletiva, em resgate ao sujeito citado por Castoriadis, “o sujeito é essencialmente aquele que faz perguntas e se questiona”. As experiências também favoreceram espaços onde os sujeitos puderam se expressar livremente, falando de seus sentimentos e/ou expressando corporalmente suas sensações. Como afirma Sawaia, o ser da participação é imanente à sociedade, não há participação sem subjetividade, nem subjetividade sem participação; ambas são fenômenos da mesma substância, e para mudar a qualidade da participação, é preciso mudar a ontologia da subjetividade. Partindo do pressuposto que a participação é uma necessidade do sujeito, necessidade esta inspirada pela busca da felicidade e liberdade, não deve estar atrelada a obrigação, como observa a autora. Deve haver um despertar dos sujeitos para o fato de que as experiências pessoais por mais simples que sejam são importantes para construção de um 4 conhecimento coletivo. Trazendo para o contexto da formação de redes solidárias, um dos princípios, como précondição da existência da rede, seria a participação voluntária. As pessoas participam da rede quando querem, sem imposição, sem obrigação. Entretanto, é necessário compartilhar de um projeto que tenha um caráter coletivo. Para acreditar e investir neste projeto é preciso despertar no participante o sentido de pertencimento, que pode fluir naturalmente, quando esse mesmo participante se reconhece como elemento indispensável no processo. Ferreira recorre a Inojosa para apresentar o conceito de rede: “rede é parceria e redes são tecidos sociais que se formam a partir do estabelecimento de relações entre entes independentes, mobilizados por uma questão ou objetivos comuns que, de alguma forma, concorram para os objetivos específicos de cada ente”. Esta definição, segundo a própria autora, privilegia, entre outras coisas, a relação entre as pessoas e os objetivos compartilhados. Para que os processos avancem são necessários escuta e ação sensíveis para que o Outro possa ser internalizado e seus ritmos reconhecidos, caso contrário não é possível estabelecer uma relação onde possa ocorrer o encontro dos diferentes saberes de forma respeitosa e construtiva. O intersubjetivo, ao invés de construir a transformação, acaba cristalizando o já estabelecido. É preciso abrir mão do controle para que o poder circule entre o grupo e este possa construir/se, constituir/se, consolidar/se, preservando a autonomia, a diferença, possibilitando a instalação de uma verdadeira rede. A rede é entendida como um espaço de relacionamentos onde se constroem diferentes saberes com diferentes propósitos interligados, onde os sujeitos individuais e coletivos, ao construírem o saber constroem, também, a si mesmos, uns aos outros e ao coletivo substituindo as relações hierárquicas e de dominação por um olhar mais sistêmico e cooperativo. Quando os indivíduos participantes não têm uma visão sistêmica dos processos, ou mesmo familiaridade com o exercício de autoconhecimento, ou, por alguma razão estão mais centrados na potência de padecer que na de ação, não ocorrem a escuta sensível e o cuidado consigo mesmo e com o Outro, e os processos têm mais dificuldades de avançar. Mance destaca que a subjetividade engloba todas a peculiaridades imanentes à condição de seu sujeito envolvendo as capacidades sensoriais, afetivas, imaginativas e racionais da pessoa. E ainda, que o desafio da educação popular é desenvolver procedimentos pedagógicos que atinjam o ser humano em todas as dimensões de sua subjetividade para que ele se reconheça em potencialidade e qualidade e se transforme em sujeito de sua história pessoal e da história coletiva de seu povo. A trajetória para abrir espaço para a construção da 5 subjetividade ecológica em detrimento da subjetividade capitalista é o grande desafio das redes que estão sendo construídas. A construção do conhecimento pode ser vista como uma emergência dos relacionamentos intersubjetivos que retroagem sobre os sujeitos individuais e coletivos que, por sua vez, alimentam as redes construindo novos conhecimentos. Um dos grandes entraves a esta construção, além dos aspectos da própria subjetividade discutidos acima, é o fato das instituições terem a estrutura administrativa e burocrática configurada dentro de um outro padrão que não é o de rede. Todas as experiências relatadas tiveram de lidar com este tipo de dificuldade o que aponta para a necessidade de agir sobre a mudança, também, dentro desta perspectiva. Outro aspecto importante para analisar a construção desse eixo de reflexão é entender como a reconstrução dos valores e das ações é, essencialmente, reconstrução de símbolos coletivos, que se construíram dentro de uma lógica dominante, mas que se materializam dentro da subjetividade de cada um, sendo, em última instância, reconstrução do indivíduo e de seus valores. Um trabalho de rede é, antes de tudo, a construção de um imaginário comum aos participantes. Nas experiências tratadas, um imaginário contra-ideológico, o que não é algo fácil. Parte dos conflitos e das desistências que temos, talvez, apontem para a dificuldade de inserir certos desejos dentro de contextos que se tornam muito rígidos, mesmo quando a intenção é boa. Ter habilidade de, rapidamente, reprogramar-se diante de novas situações e estabelecer uma nova interação com o momento e com o processo; considerar as relações de poder existentes, que vai desde o poder público a igrejas, associações, e outros grupos de interesses; ter sensibilidade de ler nas entrelinhas, de perceber olhares, presenças e ausências; decifrar o desejo do Outro e reconciliá-lo, de forma adequada com a rede e com o ambiente, é um grande desafio e um dos pontos mais importantes do papel desse mediador/provocador/coordenador, que articula construção do conhecimento e constituição do sujeito. Como escreveu Moreno, psiquiatra e criador do psicodrama: “Um encontro entre dois: olho no olho, cara a cara. E quando estiveres próximo tomarei teus olhos e os colocarei no lugar dos meus, e tu tomarás meus olhos e os colocarás no lugar dos teus, então te olharei com teus olhos e tu me olharás com os meus. Assim nosso silêncio se serve até das coisas mais comuns e nosso encontro é meta livre: o lugar indeterminado, em um momento indefinido, a palavra ilimitada para o homem não cerceado". O poema de Moreno desvenda 6 essa coisa fascinante que é olhar pelo olho do Outro para construir algo comum e além. Um de nossos maiores desafios nos trabalhos coletivos é esse "decifrar o desejo do outro", lembrando que, justamente por ser um "decifrar", nem sempre condiz com o real. A busca do desenvolvimento e despertar da potência de ação de cada participante, tal qual nos fala Bader Sawaia, capaz de passar "da passividade à atividade, da heteronomia passiva à autonomia corporal", é um ponto que devemos ter sempre em mente quando pensamos na construção de sujeitos e do conhecimento. Sawaia também considera que "a razão não é a força capaz de dominar a paixão - só uma paixão mais forte domina outra fraca. Paixão é a capacidade de ser afetado pelo o outro e a compaixão, de ser afetado pela paixão do outro". A compaixão é o ato mais humano que sentimos pelo Outro. Faz parte da nossa essência humana, limite da nossa racionalidade. Esse ato, essencialmente humano, não pode ser esquecido na construção das relações intersubjetivas. Às vezes, a vaidade e o desejo, que são elementos subjetivos, nos permeiam tão fortemente que enfraquecem essas relações e nos fazem deixar de olhar pelo o olho do Outro. 3. O Sujeito Ecológico Como Sujeito Político - Essência da Participação Social As inúmeras indagações que a atual e plural crise de paradigma científico traz, giram em torno da subjetividade. Após um período marcado por uma busca obsessiva de excluí-la, ela ressurge agora não apenas como dimensão reconhecida, mas também como uma necessidade. A subjetividade guarda muito mais proximidade com as noções dos sistemas complexos do que com noções monolíticas de objeto. Para Hernandez as subjetividades individual e social são construídas na inter-relação do ser humano com seus contextos social e natural, no marco de sua atividade cotidiana, sendo então um produto histórico–cultural. Toda a construção, condensada na produção cultural, constitui o conjunto de práticas, tradições, crenças, valores, sentimentos, estereótipos, representações, que formam o substrato da subjetividade social, na qual a formação do senso comum cotidiano dos sujeitos sociais expressa os graus de auto-repressão ou autonomia social. Para o autor, é possível inferir que a postura de construção da subjetividade alternativa à dominação autoritária seria aquela da construção de autonomia, compreendida no sentido da possibilidade real de participar da formulação e do controle das decisões e desfrutar de modo igualitário, de todas as oportunidades e bens sociais. A subjetividade é uma construção histórico-cultural. Todo o processo é vivenciado 7 primeiro como externo em relação aos outros, para depois se internalizar a partir da construção própria, de sentido e de cada indivíduo social. Para Boff “o projeto humano, está pautado na construção de um sujeito eco-político, que participa, que questiona tudo o que ameaça a vida”. Segundo González Rey, "imaginar que o sujeito é constituído subjetivamente é a única maneira de representarmos, na integridade de sua ação específica, a multiplicidade de sentidos subjetivos que o definem como sujeito social e pessoal". Afirma ainda, que “o sujeito é a expressão da reflexibilidade da consciência crítica”. O sujeito crítico, ou sujeito ecológico, na perspectiva de Isabel Carvalho, é aquele, que incorpora, em seu perfil, “postura ética de crítica à ordem social vigente que se caracteriza pela produtividade material baseada na exploração ilimitada dos bens ambientais, bem como na manutenção da desigualdade e da exclusão social e ambiental”. O sujeito ecológico “fomenta esperanças de viver melhor, de felicidade, de justiça e bem-estar” (Carvalho, 2004); é político na medida em que se envolve, participa e interfere nos destinos e decisões que afetam seu campo de existência individual e coletivo. O cidadão crítico e consciente é ainda aquele capaz de intervir no processo de transformação social, exercendo sua própria responsabilidade ambiental, lutando para ampliar os espaços de atuação coletivos junto à esfera pública no sentido de garantir as mudanças sócioambientais. Guattari e Rolnik falam que o que caracteriza os novos movimentos sociais não é somente uma resistência contra o processo geral de serialização da subjetividade, mas também a tentativa de produzir modos de subjetivação originais e singulares. Boff nos diz que "o desafio a cada sujeito ético-ecológico é fazer a revolução molecular”. Segundo o autor, a revolução molecular cria mutações na subjetividade consciente e inconsciente dos indivíduos e dos grupos sociais, a partir de contestações do sistema, do questionamento da vida cotidiana, de rádios livres, como também de reações de recusa ao trabalho na sua forma atual. Tal revolução se dá ainda em sua relação com o consumo, com a produção, com o lazer, com os meios de comunicação, com a cultura, entre outros. Os processos de singularização podem ser sentidos pelo calor nas relações, por determinada maneira de desejar, por uma vontade de amar, de viver, ou seja, pela multiplicidade dessas vontades. Entretanto, ocorrem tentativas de singularização que fracassam, pois existe uma imensa potencialidade de resistência, a qual não só está presente nos imperialismos dominantes, mas há uma insistente reencarnação destes modelos em nós mesmos. É preciso inserir processos 8 de reapropriação da subjetividade e estes somente se efetivarão, quando eles criarem seus próprios modos de referência, suas próprias cartografias, conforme referem Guattari e Rolnik (1986). Através da afirmação de cada um, da vivência e articulação com outros processos de singularização e da resistência da manipulação da subjetividade coletiva é que se tem um alcance do sujeito político. Diante deste contexto, naturalmente perceberemos o desabrochar do sujeito político com desdobramentos para o sujeito ecológico. É preciso avaliar se existe real intenção dos sujeitos em participar no sentido de vivenciar, articular, se auto-afirmar, criticar, se autocriticar, tomando parte das decisões ou se querem apenas ser ou estar informados, tornando-se seres apáticos e acreditando que estão participando. As crenças familiares, sociais e culturais constituem modelos de formação de subjetividade e que são, sobretudo, traços agregados pelo sujeito ecológico. A formação desse sujeito dependerá da maneira que ele compreende os valores e crenças que o constituem e como ele se expressa diante das características pessoais e coletivas. O sujeito ecológico, enquanto gestor social deve ser responsável por adotar procedimentos e instrumentos legais para enfrentar a crise sócio-ambiental, bem como mediar conflitos e planejar ações (Carvalho, 2004). O desejo de estar com os iguais como uma forma de comparação social, permite que o sujeito se defina como único e semelhante, mas quando não é estabelecida uma mínima territorialidade (o sujeito define o que é dele e o que é do Outro) a coesão no grupo se torna mais difícil. Ao atuar nos espaços sociais, o confronto com a diversidade pode constituir-se um alimento para a consciência crítica (tensão vital) do sujeito e, conseqüentemente, levá -lo ao engajamento político nas decisões de interesse público. Essa interação social pode favorecer o surgimento de novos espaços para práticas sociais, imbuídas de novas crenças e valores. Nas experiências vividas pode-se perceber que nem sempre essa relação Eu-Outro, objetivo-subjetivo estava refletida com a necessária profundidade. Conflitos de idéias podiam gerar reações de desgaste emocional dentro do grupo enquanto preconceitos, dificuldade de compreensão dos sentidos e significados também acabavam por funcionar como bloqueios para o avanço das experiências em determinados momentos. 4. Debate Ético-Político Para Superar a Separação Entre Subjetividade e Objetividade 9 Pensando nas idéias de Heidegger, o capitalismo pode ser percebido sob um certo ângulo, como uma rede de pessoas muito ansiosas, necessitadas de se comparar para sentiremse com identidade e pertença e com grande dificuldade de se territorializar, de morar. Jovchelovitch em sua pesquisa que aborda a representação social sobre espaço público, junto a vários grupos focais, identificou que “o reconhecimento da alteridade interna está subjacente à representação de uma natureza humana desunida, individualista e egoísta. (...) A indiferença evoca um ser indiferenciado, a desunião fala da impossibilidade de ser um e o individualismo expressa a forma extrema de ser um”. Esse caminho demarca claramente as diferenças, que se concretizam na separação geográfica de territórios e lugares sociais, com o uso de muros e grades. A diversidade cultural, nesse contexto, é vista como uma separação irreversível em relação ao Outro. Essa segregação ou apartheid pode ser real, reforçando preconceitos, ou simbólico, como forma de alienação. Ao disporem da crença em si mesmos, de sua autonomia, os sujeitos sociais caem no fatalismo, desligam-se do que acontece a sua volta, sentem-se impotentes e, assim, conformados, legitimam o (abuso do) poder e aumentam o individualismo egoísta. Podemos citar a rede como um exemplo estimulador das inter-relações, dentro de uma perspectiva de pertencimento a um grupo. A rede sugere vínculos, conexões, formas de organização e ações definidas na interação entre os indivíduos. Ela é também um espaço onde é possível achar um Outro que possa nos ajudar, nos motivar; um espaço cultural e histórico que é simultaneamente espaço de pertença e de produção de subjetividades. Mas para que esse possa ser um espaço de facilitação e de crescimento é preciso lidar com a ansiedade excessiva dos sujeitos e com a dificuldade que muitos têm de se envolver profundamente com aquilo que fazem. As redes sociais, particularmente aquelas de caráter informal, não-institucional, possuem uma organização caracterizada fundamentalmente pela sua horizontalidade, pela participação voluntária, pela autonomia e diversidade. Esse padrão de rede, com base nas relações descentralizadas e horizontais, opõe-se às redes tradicionais cujas relações centralizadas se pautam em hierarquias rígidas. No capitalismo o ser é confundido com o ter e o Outro é uma referência a ser superada; deve-se ter sempre mais do que o outro, portanto, a capacidade de tirar, de explorar, de dominar, de iludir ou de parasitar, tornam-se as características que constroem a identidade. Como o Estado não tem demonstrado capacidade de resolver todas as demandas da sociedade civil, cada vez mais crescentes e complexas, gera uma crise que faz emergir vários movimentos sociais. 10 Segundo Ferreira, o fenômeno das redes expressa a necessidade da população mundial de se posicionar frente à exclusão do trabalho e dos direitos aos bens, e frente aos poderes centralizados. Portanto, as redes alternativas, ou seja, as autênticas, que se propõem a mudar o paradigma vigente, apresentam-se como uma nova possibilidade de enfrentamento e de transformação do atual modelo político e social que é alimentado e reforçado pelas falsas redes, também denominadas pirâmides disfarçadas. Dentre estas, poderíamos citar as redes capitalistas ou empresariais que visam a competitividade e o lucro e promovem a exclusão social, impedindo, segundo Corrêa, as redes alternativas de buscarem as mudanças sociais. A autora Rose Marie Inojosa, em seu texto “Redes de compromisso Social”, reflete sobre o surgimento das redes de compromisso social na sociedade como forma de abordar as questões sociais complexas sobre as quais os projetos e ações do Estado não obtiveram êxito, e como alternativa para a gestão de políticas sociais. A Educação Ambiental nesse contexto exerce um papel de fundamental importância, pois põe em evidência a necessidade de se colocar em prática a formação do sujeito, não somente para buscar o seu ideal imaginário ecológico, como também vislumbrar um mundo transformado, instigando um debate ético e político para superar a separação ente subjetividade e objetividade. 5. Organização da Sociedade Civil Para o Diálogo Com o Estado A administração dos problemas sócio-ambientais tem exigido cada vez mais a gestão participativa de políticas públicas, compartilhadas em parcerias entre o Estado com outros atores sociais (sociedade civil organizada, comunidades, classe empresarial, entre outros). Não é possível pensar em projetos sociais progressistas, de mudança, sem a participação de sujeitos críticos que exercitem seu pensamento e, a partir da confrontação, gerem novos sentidos que contribuam para modificações nos espaços da subjetividade social dentro dos quais atuam (González Rey, 2003). O atual quadro político brasileiro configura-se em um Estado composto de partidos e de sujeitos políticos não individuais, singulares, mas em forma de grupos de interesses. E isso se reflete na complexa dinâmica interna do governo, composta de variados e conflitantes grupos de interesses. Inserir efetivamente na agenda pública uma demanda social, principalmente se esta advir de uma parcela da população menos favorecida (politicamente), torna-se tarefa difícil, uma vez que esta classe não possui o privilégio da representatividade dentro dos interesses que permeiam o aparelho estatal. 11 Bursztyn e Bursztyn (2000) citam fatores que influenciam a participação pública, dificultando um maior envolvimento dos sujeitos: a pobreza da população (participação exige dedicação de tempo, que poderia ser utilizado em atividades geradoras de renda); a distância (que torna a comunicação mais difícil e dispendiosa); o analfabetismo (que pode impedir um envolvimento representativo); e os laços familiares, práticas culturais, normas de comportamento e sistema legal de certos grupos (que podem entrar em choque e inviabilizar a participação). Além desses fatores, as conclusões da pesquisa de Jovchelovitch, nos alertam para situações de confronto de poderes e conflitos de interesses dentro de um mesmo grupo quando a imagem do poderoso se sobrepõe no imaginário popular. Uma boa apresentação pessoal, uma boa retórica, auxiliados pela ilusão disseminada pelos meios de comunicação, principalmente a televisão, podem fazer com que a arrogância e a onipotência dos poderosos reforce a impotência do sujeito comum. Podem fazer crer que o interesse dos poderosos é a vontade e dos sem-poder, que recebendo pequenos agrados mantêm-se nos estado de contínua dependência. O sentimento coletivo de impotência somado ao estado de dependência (atendimento mínimo das necessidades básicas de vida como benevolência pessoal), favorecem regimes políticos autoritários e a manutenção ou o aumento das diferenças sociais. Se a imagem dos poderosos se estabelece como modelo de vida, se há incorporação desse modelo na representação social, ele é que passa a ditar as regras, a estabelecer padrões de comportamento que reforçam o imobilismo social, desmotivando a continuidade da participação e desarticulando o estabelecimento de grupos de representantes mais legítimos. Portanto, é necessário que instituições, como organizações não governamentais (ONGs), universidades, instituições de pesquisa, prefeituras, e a sociedade civil organizada, tenham consciência de seu papel, tornando-se verdadeiras ferramentas a fim de promover a participação social e auxiliar no amadurecimento político dos indivíduos. Apesar da motivação para uma sociedade participativa ser inviabilizada muitas vezes, por depender do grau de limitação que é inerente a cada um, é salutar afirmar que o processo de participação da sociedade civil brasileira tem ocorrido desde os anos 80, contribuindo, de alguma forma, no processo decisório para a construção de políticas públicas. Bursztyn e Bursztyn (2000), citam várias instâncias se formaram, especialmente na área ambiental: CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), FNMA (Fundo Nacional do Meio Ambiente), PPG-7 (Programa piloto para proteção das Florestas Tropicais do Brasil), Agenda 21 brasileira, audiências públicas de apresentação de estudo de impacto ambiental, entre outras. Além dessas, outras, mais descentralizadas como: Conselhos Municipais de 12 Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS), Conselhos de Educação e Saúde, orçamentos participativos, que são implementados em nível comunitário e local. Segundo Rua (1998), as políticas públicas surgem, na Constituição de Federal de 1988, como um mecanismo direto da sociedade para lutar pela sua cidadania e também de tomar parte nas decisões do governo. Isso se dá no espaço chamado de organização social. Como exemplo dessas ações vindas de políticas públicas sociais, pode-se citar a Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria, criada em 1992, por Herbet de Souza, o "Betinho". A participação social organizada é de grande relevância, pois permite a abertura de espaços para o necessário debate sobre a reforma do Estado. As políticas públicas devem surgir da sociedade e não podem ser impostas de forma verticalizada pelo Estado. Para contrapor essa verticalização, as redes podem se constituir em espaços formativos de diálogo entre Estado, instituições e sociedade. Geralmente, o nascimento de uma política pública ocorre de um processo consecutivo de ações, permeado por relações entre atores sociais e governamentais. A existência inicial de um problema na sociedade e a conseqüente inserção desse problema na agenda pública, a partir de pressões sociais para o enfrentamento do mesmo. Em seguida, tem-se a formulação de medidas que visam a sua resolução e a legitimação ou não, a implantação dessas medidas, seus impactos e uma posterior avaliação. As políticas públicas têm como uma de suas origens a demanda (necessidade) apresentada por atores sociais que interagem no sistema político. Esses atores são coletivos (classes, grupos, corporações etc) que têm: a) identidade própria; b) reconhecimento social; c) capacidade de intervenção e modificação do contexto em que se inserem. Têm alguma coisa em jogo no tocante a uma questão e possuem algum tipo de recurso e poder, podendo vir a ganhar ou perder. Têm capacidade de ação organizada e se materializam por intermédio de organizações, associações, comunidades e outras que atuam socialmente. A responsabilidade pelas políticas públicas recai sobre qualquer cidadão interessado na solução de um problema, quando esta depender, direta ou indiretamente, do poder público. Entretanto, Rua (1998) adverte: para que atinjam seus objetivos é necessário que as políticas públicas estejam bem formuladas, pois atores diversos tentarão modificar sua direção em função de seus interesses. Formular uma política pública compreende dotar de uma concepção legítima do problema, conjunto de definições e de proposições (incluindo recursos, no mais das vezes) para solucionar o problema, assim como, implica na escolha das medidas a serem adotadas. Significa planejar ações de longo prazo e antecipar necessidades, atingindo as causas dos problemas e estabelecendo soluções. Significa avaliar os resultados das ações 13 desenvolvidas e reformular o percurso. Para se obter resultados eficientes nessa interação, no que diz respeito à elaboração e implementação de políticas públicas, são necessários, priorizar os seguintes aspectos: Estabelecer relação fundamentada nos princípios da rede – cooperação e organização horizontal; Mobilizar todos os atores sociais, favorecendo a participação coletiva em projetos que levem em consideração as especificidades de cada comunidade, com respeito à diversidade; Criar formas de participação eqüitativa, para que grupos em início de organização não sejam cooptados e/ou excluídos por grupos já instituídos, pois aqueles podem ser representações mais legítimas do que estes; Criar canais de acesso da sociedade às organizações públicas, aproximando o cidadão dos processos de formulação e avaliação das políticas, visando a garantia da continuidade das ações, apesar das transições de governos; Possibilitar o acesso e uso de tecnologias de informação que promovam a politização dos indivíduos, através de um melhor conhecimento dos direitos sociais e das formas de assegurálos, para que estes estejam em condições de fazer uso da cidadania. Uma vez formulada, apresentada e inserida na agenda de governo, ela ainda consiste apenas em um conjunto mais ou menos vago de intenções expressas em documentos diversos. Só se transforma em realidade quando sai do papel, e isso ocorre quando é implantada. Marcel Bursztyn (2001) ao falar da crise do Estado (fiscal, de legitimidade, de identidade, de condições de governabilidade) alerta para os riscos de descontinuidade e para a falta de efetividade das políticas públicas que poderiam inviabilizar as estratégias de Desenvolvimento Sustentável. A causa desta crise estaria no avanço do neoliberalismo, cuja ideologia propõe a desestatização e a redução da função reguladora pública. Os efeitos dessa política neoliberal contribuíram para a fragilidade das estruturas de governo. Por outro lado, permitiram a flexibilidade do poder público quanto à participação dos setores organizados da sociedade nas decisões públicas. A substituição de um governo por outro é um momento político, onde interesses individuais sobrepõem-se aos interesses da coletividade. Assim, o engajamento das populações em projetos voltados para os interesses da sociedade civil estaria comprometido. Neste sentido, vale citar Silva “como é corrente na tradição política do país, a mudança de plataforma política dificilmente aproveita as idéias e práticas de gestões anteriores que possibilitam o desenvolvimento e recursos”. As formas colegiadas de decisão e gestão, como acredita Bursztyn, são excelentes instrumentos de garantia da continuidade das políticas públicas. Apesar de reconhecer que a democracia participativa pode ser considerada um avanço, a sociedade civil ainda se faz 14 representar apenas por alguns seguimentos mais organizados. Isto aponta para a necessidade de mecanismos de participação coletivos mais representativos. Sobre essa questão, Araújo afirma que: “mesmo reconhecendo que a participação popular pode ter limites dependentes da conjuntura política e econômica, acreditamos que só a organização da sociedade civil como força de pressão social poderá garantir a continuidade das políticas públicas e o uso adequado e transparente dos recursos”. Conclusão Nas experiências profissionais e/ou pessoais dos autores deste artigo, ficou evidenciada a tentativa de fortalecer ações que privilegiassem o empoderamento da população alvo, quer seja na busca de dar voz às suas demandas pessoais e coletivas, quer seja na perspectiva de levar os indivíduos a se identificarem como pertencentes a um grupo e obterem informações que favorecessem sua atuação de um modo mais efetivo, objetivando as transformações locais necessárias. As estratégias de trabalho utilizadas contemplaram a subjetividade dos indivíduos, valorizando o conjunto de interpretações e símbolos que se formam nos espaços subjetivos individuais e coletivos. Contribuíram, também, para a identificação dos espaços de participação social e de formação de um sujeito crítico. Podemos observar que a educação ambiental, proposta por autores como Isabel Carvalho, se revela um instrumento de facilitação da inserção dos indivíduos como participantes dos processos de elaboração das políticas públicas, formação crítica de educadores ambientais capazes de contribuir para a construção da sustentabilidade sócio-ambiental. A Educação Ambiental tem o papel de dar voz à indignação popular, e trazer à tona as representações sociais, discuti-las, avaliar seus impactos, reelaborando a compreensão das relações intersubjetivas em favor de uma transformação que viabilize a gestão e o controle social. A promoção do autoconhecimento e do respeito à vida são essenciais para as relações intersubjetivas. Se há relações entre sujeitos e entre sujeito e natureza, há construção do sujeito e do conhecimento perante as relações intersubjetivas e com o meio ambiente. Outra estratégia foi a de propor um trabalho de organização em rede, envolvendo os vários atores entre si e com as instituições, um desafio para esses dois mundos: o instituído e o instituinte, buscando superar conflitos de interesses, valorizando a diversidade e o diálogo 15 permanente. Nesse sentido, abrir espaços dentro desse mundo constituído é possibilitar a transformação das pessoas e do seu meio. Vale ressaltar que a gestão participativa possibilita a inserção da sociedade civil na condução dos processos decisórios, em parceria com o poder institucionalizado. Quanto maior for o espaço das instâncias representativas, o qual signifique a participação de vários segmentos organizados da sociedade, junto ao poder público, maior possibilidade de se trabalhar no sentido de transformar realidades, com a definição de políticas públicas mais adequadas às necessidades da sociedade. Na perspectiva das Políticas Públicas, a Educação Ambiental pode ser vista como um instrumento que permite a organização de espaços formativos onde a Sociedade Civil constitui sujeitos políticos para o diálogo com o Estado, na busca de um novo senso comum emancipatório. Um dos desafios é o de formular políticas e ações educativas, críticas e inovadoras, em dois níveis da Educação - formal e não-formal, reforçando-a como ato político voltado para a transformação social. Essa transformação deve passar, inclusive, por dentro das Instituições, permitindo que sejam revistos processos excessivamente burocráticos que dificultam a execução de projetos e de políticas públicas. Considerando a educação como uma prática que trabalha com subjetividades e, nessa condição, agenciadora de uma inserção dos indivíduos numa narrativa espaço-temporal determinada, podemos dizer que é a partir do enfrentamento desses desafios políticos que se processam tanto a emergência de práticas educativas ambientais do tipo emancipatórias, quanto 'privatizantes', isto é, aquelas que remetem os indivíduos para 'dentro de si' e para fora da história e da política. A sutil transformação que decorre de processos e ações de Educação Ambiental, é muito bem ilustrada com as palavras de Vershelst, que diz: “o verdadeiro desenvolvimento não pode ser fotografado, pois ele acontece, antes de tudo, no coração e no espírito das pessoas”. Se realmente trabalharmos as questões sócio-ambientais de forma participativa e mobilizadora, fortalecendo as relações intersubjetivas e com o meio ambiente, os sujeitos poderão vislumbrar novas formas de atuar na transformação de sua realidade, incorporando-as à sua prática cotidiana. Uma experiência positiva pode ser reproduzida integralmente ou com adaptações, ampliando os resultados de ações locais, o que pode constituir uma revolução molecular, como destacada por Leonardo Boff, somando-se, de fato, a outras ações na busca da sustentabilidade desejada. Bibliografia 16 ARAÚJO, Maria José. Participação e Cidadania. Brasília, 2001. BARBIER, René. A escuta sensível na abordagem transversal. In: BARBOSA, Joaquim Gonçalves (coord). Multirreferencialidade nas ciências e na educação. SP: Editora UFSCar, 1998. BOFF, Leonardo. Ética da Vida. 2. ed. Brasília: Letraviva, 2000. BURSZTYN, Marcel (org). A Difícil Sustentabilidade: política energética e conflitos ambientais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001. BURSZTYN, Maria Augusta Almeida e BURSZTYN, Marcel. Integração do meio ambiente e desenvolvimento no processo decisório. Brasília, 29 de março de 2000. CARVALHO, Isabel de Moura. Educação Ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. CARVALHO, Vilson Sérgio. Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário. RJ: Wak Editora, 2002. CASTORIADIS, C. Para si e subjetividade. in: PENA-VEJA e NASCIMENTO (orgs.). O pensar Complexo. RJ: Garamond, 1999. FERREIRA, Raquel Corrêa. Redes na Contramão do Capitalismo – redes e rizomas. 2002. GONÇALVES, Camilla Salles; WOLFF, José Roberto; ALMEIDA, Wilson Castelo de. Lições de Psicodrama. São Paulo: Agora, 1988. GONZÁLEZ REY, Fernando Luis. Sujeito e subjetividade: uma aproximação históricocultural. São Paulo: Thomson, 2003. GOULART DUARTE, Laura Maria & THEODORO S.H. Dilemas do Cerrado: entre o ecologicamente (in)correto e o socialmente (in)justo. Rio de Janeiro: Garamond, 2002. GUATTARI, Félix e ROLNIK, Suely. Micropolítica – Cartografias do Desejo. RJ: Vozes, 1986. HERNANDEZ O D’Angelo. Subjetividade e complexidade: processos de construção e transformação individual e social. In: GONZÁLEZ REY, Fernando. Subjetividade, complexidade e pesquisa em psicologia. São Paulo: Thomson Pioneira, 2005. INOJOSA, Rose Marie. Redes de Compromisso Social in: Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro: FGV, 33 (5), set/outubro 1999: 115-141. JOVCHELOVITCH, Sandra. Representações sociais e esfera pública – a construção simbólica dos espaços públicos no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2000. LITTLE, P. E. (Org). Políticas ambientais no Brasil: análises, instrumentos e experiências. Instituto Internacional de Educação do Brasil. São Paulo: Editora Peirópolis, 2003. MANCE, E. Subjetividade, imaginários e utopias. Curitiba, 1994. MORENO, J L. Psicodrama, Ed Cultrix, São Paulo, 1978. MORIN, Edgar. Os Sete Saberes necessários à Educação do Futuro. SP: Cortez, DF: Unesco, 2000. RUA, Maria das Graças. As políticas públicas e a juventude dos anos 90. In: Comissão Nacional de População e Desenvolvimento. Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília: CNPD/UNESCO, 1998. SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente - Contra o desperdício da experiência. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2005. SAWAIA, Bader B. Participação social e subjetividade. In: SPOSATI et all. Ambientalismo e participação na contemporaneidade. SP: EDUC, 2001. SILVA, Cleide Bezerra. Lixo, Desperdício que é Luxo: Novas Perspectivas para o Aproveitamento do Lixo in: DUARTE, L. M. & THEODORO S.H. (orgs.) Dilemas do Cerrado: entre o ecologicamente (in)correto e o socialmente (in)justo. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.