o ensino da língua espanhola na perspectiva dos gêneros textuais

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O ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA NA PERSPECTIVA DOS
GÊNEROS TEXTUAIS
QUADROS, Daiane Franciele Morais1 - UEPG
Grupo de Trabalho - Formação de Professores e Profissionalização Docente
Agência Financiadora: CAPES/PIBID
Resumo
Pretendemos, neste estudo ainda em andamento, abordar a formação de professores para o
trabalho com a teoria dos gêneros textuais no ensino de língua espanhola em um projeto
PIBID. O subprojeto PIBID Espanhol da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), no
Paraná, utiliza, como um de seus eixos de fundamentação, a teoria dos gêneros textuais
(MARCUSCHI, 2008; DCE-PR, 2008; BAKHTIN, 2003). Como apontam trabalhos recentes
de Hila (2009), há falta de conhecimento por parte de docentes em formação a respeito das
fundamentações teóricas sobre a teoria dos gêneros textuais; além disso, há dificuldade de
educadores no discernimento e na reflexão sobre práticas de leitura a partir dessa teoria.
Visando superar essas limitações no processo formativo de docentes na área de línguas,
utilizando como metodologia de ensino a teoria dos gêneros textuais, o grupo PIBID Espanhol
UEPG desenvolveu discussões teóricas sobre essa teoria e, com a participação de todo o
grupo, elaborou unidades didáticas (UD) que contemplam os fundamentos teóricos discutidos
e estudados. Os bolsistas (doze graduandos e uma professora de espanhol da rede pública)
participaram do processo de construção das UDs e, no total, foram produzidas catorze
unidades. O livro produzido contempla o trabalho com diversos gêneros textuais buscando
promover uma percepção crítica dos textos por alunos do ensino médio. Os resultados são o
desenvolvimento da formação docente (inicial e continuada) através da oportunidade de
aproximar a teoria e a prática pela busca de ensino de línguas de qualidade na escola pública
com a contribuição da teoria dos gêneros textuais.
Palavras- chave: Formação de professores de espanhol. Gêneros Textuais. Livro didático.
Introdução
O presente artigo tem como objetivo apresentar o desenvolvimento de um trabalho,
ainda em andamento, que incide nos processos formativos de docentes de línguas, mais
1
Graduanda do 3º ano do Curso de Licenciatura em Letras Português/Espanhol na Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG). E-mail: [email protected].
13564
especificamente para se trabalhar com a teoria os gêneros textuais no ensino de espanhol
através de um projeto do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID).
O PIBID é um programa da CAPES da Diretoria da Educação Básica Presencial, o
qual tem como proposta a valorização de futuros docentes durante o processo de formação,
com o objetivo de aperfeiçoar o processo formativo de professores para a educação básica e,
consequentemente, melhorar a qualidade da educação pública no país.
O projeto PIBID Espanhol da UEPG tem como um de seus objetivos principais o
desenvolvimento de um trabalho embasado na teoria dos gêneros textuais para o ensino de
língua espanhola. E é exatamente a relação dessa teoria com a prática docente que
abordaremos nesse estudo.
Assim, será apresentado o referencial teórico discutido no grupo, essencialmente a
teoria dos gêneros textuais, o processo formativo de professores (inicial e continuado)
desenvolvido no projeto para aproximar teoria e prática e a recepção dos alunos na escola em
que PIBID Espanhol UEPG para as ações do projeto que derivaram desse processo formativo.
Desenvolvimento
Segundo Marcuschi (2008), os estudos desenvolvidos sobre os gêneros textuais são
mais antigos do que imaginamos, pois se observarmos sistematicamente a história, o estudo
dos gêneros iniciou-se com Platão na Grécia antiga e firmou-se com Aristóteles, quando este
mesmo elaborou uma teoria mais sistemática sobre os gêneros textuais e o discurso.
O autor acrescenta que Aristóteles defendeu em sua teoria a hipótese de que o falante e
o ouvinte são elementos constituintes do discurso. Sendo assim, os gêneros textuais fazem
parte do discurso, pois se sabe que para algo ser considerado “texto” ele deve apresentar um
significado e transmitir uma mensagem ao interlocutor. Marcuschi (2008, p. 78) afirma que
“sabemos que os textos são desenhados para interlocutores definidos e para situações nas
quais supomos que os textos devem estar inseridos”.
Marcuschi (2008), por fim, define gênero textual como resultado da união de
composição funcional, objetivos enunciativos e estilo, sendo que o produto final, o texto,
pode ser oral e escrito e ambos relativamente estáveis:
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Gênero textual refere os textos materializados em situações comunicativas
recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária
e que apresentam padrões sociocomunicativos característicos definidos por
composições funcionais, objetivos enunciativos e estilos concretamente realizados
na integração de forças históricas sociais institucionais e técnicas. [...] Como tal, os
gêneros são formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e
socialmente situadas. (MARCUSCHI, 2008, p. 155)
É fundamental a inserção dos gêneros textuais no ensino de línguas, inclusive no
ensino de língua espanhola, pois no mundo contemporâneo, há uma infinidade de gêneros
textuais. Nessa perspectiva, o foco do processo de ensino-aprendizagem seria desenvolver no
aluno as destrezas para o domínio da escrita, oralidade e leitura para visar o uso consciente da
língua, assim como enfatiza o autor:
O falante deve saber flexionar os verbos e usar os tempos e os modos verbais para
obter os efeitos desejados; deve saber usar os artigos e os pronomes para não
confundir seu ouvinte [...]. Mas ele não precisa justificar com algum argumento
porque faz isso ou aquilo nessas escolhas. O falante de uma língua deve fazer-se
entender e não explicar o que está fazendo com a língua. (MARCUSCHI, 2008, p.
57)
As Diretrizes Curriculares para o Ensino de Línguas Estrangeiras do Paraná (DCE-PR)
(2008) enfatizam a importância de ensinar e aprender línguas, buscando o reconhecimento e a
apropriação crítica da língua alvo:
Ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e
maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça
no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, independentemente do grau
de proficiência do atingido. (DCE-PR, 2008, p. 55)
Por esta razão, o ensino de Língua Estrangeira Moderna seria uma contribuição para a
formação de cidadãos críticos e transformadores através dos estudos de textos, também
proporcionando a pesquisa e a reflexão, formando alunos com a habilidade e a destreza de
reconhecer e discernir as características específicas de cada gênero textual presentes em nosso
cotidiano.
Hila define que o surgimento do PCN auxiliou na sistematização dos estudos dos
gêneros, desde as aulas de língua materna:
Desde o surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), os
gêneros textuais são prescritos como objetos de ensino (embora isso seja
questionável) para as aulas de Língua Materna, o que, de uma forma ou outra, traz
implicações para reorganizações curriculares. (HILA, 2009, p. 158-159)
13566
E consta o esclarecimento nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) de Língua
Estrangeira dos terceiros e quartos ciclos do ensino fundamental (BRASIL, 1998 , p. 45),
sobre “'a utilização em sala de aula de tipos de textos diferentes, além de contribuir para o
aumento do conhecimento intertextual do aluno, pode mostrar claramente que os textos são
usados para propósitos diferentes na sociedade”'. Nessa visão a língua deveria ser abordada a
partir de sua real função, ou seja, como prática social.
Baseados nesta teoria, o PIBID de Espanhol da UEPG procura integrar a teoria dos
gêneros textuais com a prática no Ensino de Língua Espanhola, pois o objetivo deste trabalho
com os gêneros e sua aplicação no ensino de espanhol, é proposta de um ensino de línguas
trabalhado de uma forma mais consciente, que induza os alunos a refletirem criticamente
sobre a língua como um fenômeno histórico-social.
Para desenvolver tal processo de ensino-aprendizagem, no entanto, foi necessário
promover uma formação pedagógica (inicial e continuada) de professores de espanhol.
Coordenado por duas professoras da área de estágio da UEPG, o grupo PIBID Espanhol tem
doze bolsistas de graduação e uma professora supervisora (professora de espanhol da rede
estadual paranaense). O trabalho inicial com esses sujeitos ocorreu a partir do estudo da
fundamentação teórica, realizado com a leitura e debate da teoria dos gêneros textuais a partir
dos seguintes teóricos e de um documento estadual: Bakhtin (2003), Hila (2009), Marcuschi
(2008) e das Diretrizes Curriculares de Língua Estrangeira (PARANÁ, 2008).
Em seguida, as coordenadoras e supervisora do projeto elaboraram um guia para
orientar a elaboração de unidades didáticas (UD), considerando as discussões teóricas
previamente realizadas pelo grupo. Cada UD seria composta por sete seções; cada integrante
do projeto elaborou uma unidade, o que totalizou a construção de catorze unidades didáticas,
as quais foram divididas em dois volumes e o primeiro foi publicado no 2º semestre de 2012.
A primeira atitude tomada para as UD foi a escolha do tema e, depois, a eleição dos
gêneros textuais que seriam mais apropriados à temática. Em algumas reuniões, os bolsistas
compartilhavam suas ideias para que não houvesse repetições de textos e de assuntos a serem
tratados, buscando um resultado inovador e criativo.
Cada unidade está dividida nas seguintes partes: seção 1 (conteúdos e objetivos que
visam trabalhar as quatro habilidades), seção 2 (despertar discussão inicial da temática através
de uma incentivação), seção 3, “El texto en nuestras vidas” (trabalho com gêneros textuais
específicos, combinado com atividades de compreensão que contemplem os conceitos da
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perspectiva dos gêneros textuais: temática, função, suporte, esfera discursiva, interlocutores,
tipo textual e características do gênero - anexos 2 e 3), seção 4 “La lengua en su uso”
(trabalho do aspecto gramática com o método indutivo, sendo que o aspecto gramatical
deveria estar relacionado ao gênero textual principal estudado na UD), seção 5 “Creando”
(produção escrita com base no gênero textual principal estudado na UD), seção 6
“Recreando” (após a correção da produção escrita pela professora, o aluno poderá realizar
uma reflexão dos componentes do gênero e, se necessário, reescrever o texto) e a seção 7
“Mis huellas de aprendizaje” (composta por atividades criativas para revisar assuntos tratados
no decorrer da UD).
A segunda etapa foi a elaboração das UD pelos bolsistas e professoras supervisoras, e
após o término da primeira versão das UD, passamos para a terceira etapa, que foi a revisão
das UD por coordenação e supervisão do projeto para corrigir e organizar seguindo as
orientações e comentários propostos. Ao final dessa fase, foi proposto um prazo para entrega
da segunda versão da UD à coordenação do projeto.
Na terceira etapa, as UD receberam mais algumas revisões de estrutura e de língua
espanhola; essa etapa foi desenvolvida pelas professoras coordenadoras, supervisoras e um
bolsista. E quando terminaram as revisões das UD, elas foram encaminhadas para um
designer gráfico que desenvolveu um projeto gráfico e diagramação específicos para o
projeto.
TEMA
GÊNERO
Turismo
Moda
Beleza
Mulher
História de vida
Meio ambiente
Ritmos musicais
Profissões
Folheto turístico
Artigo de revista sobre moda
Notícia
Cartaz de concurso
Biografia
História em quadrinhos
Sinopse
Charge
Estereótipos
Esportes
Arte
Festas folclóricas
Juventude
Hábitos alimentares
Artigo de internet
Verbete de dicionário
Poema
Artigo de internet
Fórum de discussão de internet
Pirâmide de alimentação
ASPECTO
GRAMATICAL
Verbos no infinitivo
Adjetivos
Verbos: pretérito perfeito
Números
Verbos: pretérito perfeito
Tempos verbais
Substantivos e adjetivos
Feminino/masculino
Singular/Plural
Verbos: presente
Classe palavras
Imperativo
Paragrafação
Linguagem formal e coloquial
Causa e consequência
Figura 1 – Síntese das unidades didáticas produzidas por equipe PIBID Espanhol UEPG
Após a publicação do primeiro volume do livro, o grupo PIBID se voltou para a
elaboração de planos de aula, utilizando as UD e a aplicação dessas unidades em sala de aula.
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Durante o 2º semestre de 2012, o uso do livro nas escolas públicas em que o projeto atua,
possibilitou colher dados.
Considerações finais
Hila (2009) aponta que um dos problemas da inserção dos gêneros textuais na sala de
aula é a falta de capacitação dos professores na formação inicial e continuada para a temática.
Também ressalta que em alguns casos o texto é pretexto para o ensino da gramática:
Se pensarmos na inserção dos gêneros textuais na sala de aula, a situação é ainda
lacunar no que concerne ao trabalho do professor. Trabalhos recentes como os de
Lopes-Rossi e Bortoni-Ricardo (2008), Koerner (2008), Brandão (2008), Hila
(2007) evidenciam o desconhecimento de professores em formação e em serviço a
respeito das bases teóricas acerca dos gêneros textuais, o que explica, em parte, a
dificuldade de esses professores repensarem a aula de leitura, para além do uso do
texto como pretexto para a gramática. (HILA, 2009, p. 152)
Na discussão e ampliação dos elementos dos gêneros textuais e na elaboração das UD
pelo projeto PIBID Espanhol, foi possível ter a oportunidade de inserir diferentes textos na
sala de aula, transformando teoria em prática. Essa perspectiva nos ofereceu a oportunidade
de promover uma proposta de ensino inovadora, diferente do que os alunos já vinham
vivenciando na escola desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio.
Na aplicação do projeto, nota-se que os alunos estão respondendo bem a nossas
expectativas, pois eles demonstram interesse e, a cada dia, estão mais interessados e curiosos
com questões relacionadas à Língua Espanhola, pois para eles é tudo muito novo e
interessante o fato de, na sala de aula, terem contato com os conteúdos apresentados com os
gêneros textuais.
E isso é um resultado muito positivo, pois, desta forma, demonstra que a maioria dos
alunos já estão atingindo o objetivo do livro que é: ler, escrever e falar em espanhol,
conhecendo as variedades linguísticas desta língua que apresentadas a eles, e é importante que
eles aprendam a destacar que, assim como a língua Portuguesa ou qualquer outra língua, o
espanhol também não apresenta uniformidade e homogeneidade, ou seja, apenas uma forma
de se comunicar e interagir.
Tendo em vista o desenvolvimento das ações executadas no projeto PIBID Espanhol
UEPG, foi possível constatar que é possível levar qualidade ao ensino público, principalmente
na área do ensino da Língua Espanhola através de uma proposta inovadora que seriam aulas
mais reflexivas, onde a língua é estudada como prática social, e dentro da perspectiva dos
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gêneros textuais onde é apresentada aos alunos a noção das dimensões de um texto. Trabalhar
nesta perspectiva, no entanto, somente foi possível com um investimento na relação teoria e
prática tanto na formação inicial quanto na continuada.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BRASIL. Secretaria Estadual de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: Língua estrangeira. Brasília:
MEC/SEF, 1998.
HILA, Claúdia Valéria Doná. Ressignificando a aula de leitura a partir dos gêneros textuais.
In: NASCIMENTO, Elvira Lopes (Org.). Gêneros textuais: da didática das línguas aos
objetos de ensino. São Carlos: Editora Claraluz, 2009, p. 151-194.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica. Língua Estrangeira Moderna.
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Curitiba, 2008.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São
Paulo: Parábola Editorial, 2008.
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