PDF - Revista Brasileira de Anestesiologia

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S98
63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
não pôde ser mensurada devido à incisão vesical no IO. O despertar
ocorreu sem intercorrências e o paciente foi encaminhado à sala de
recuperação pós-anestésica com Aldrete 9, sem queixas.
Discussão: Na cirurgia robótica, as alterações respiratórias e hemodinâmicas decorrentes da posição de Trendelenburg e do pneumoperitônio são os principais desafios encontrados pelo anestesiologista. O controle hemodinâmico é manejado com o uso de inotrópicos,
otimizando o débito cardíaco, e de restrição hídrica, objetivando
redução do edema cerebral, periorbitário e em via aérea. O bloqueio neuromuscular profundo mostra-se fundamental, melhorando
a mecânica ventilatória e prevenindo possíveis lesões secundárias à
movimentação do paciente. Associado a isso, o uso racional de opoides, tanto no intra quanto no pós-operatório, é outro fator aliado à
técnica cirúrgica, permitindo, assim, recuperação acelerada.
Referência:
1. Oksara M, Akbulutb Z, Ocala H, Balbayb MD, Kanbaka O. Prostatectomia robótica: análise anestesiológica de cirurgias
urológicas robóticas: estudo prospectivo. Rev Bras Anestesiol.2014;64:307-13.
XXI) Anestesia para Procedimentos
Urológicos
63-234 ANESTESIA PARA CIRURGIA NÃO OBSTÉTRICA EM
GESTANTE TRANSPLANTADA HEPÁTICA: RELATO DE CASO
63-233 ANESTESIA MULTIMODAL PARA RESSECÇÃO
ROBÓTICA DE PARAGANGLIOMA PERIPROSTÁTICO:
RELATO DE CASO
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Hospital São Rafael,
Salvador, BA, Brasil
Lais Martins Nogueira, Natália Matos Ronchi*,
Marcela Almada do Carmo, Priscilla Duarte Pimentel,
Ana Cristina Pinho Mendes Pereira, Thiago Augusto Lourenço
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA),
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Introdução: A cirurgia robótica consiste em técnica minimamente
invasiva que agrega grandes vantagens em procedimentos oncológicos. A maior precisão na preservação de estruturas anatômicas
e a recuperação acelerada são benefícios observados. Contudo, o
manejo intraoperatório (IO) submete os pacientes a situações não
fisiológicas por um tempo cirúrgico longo, cenário que exige atenção na escolha da técnica anestésica, visando a manter o equilíbrio
hemodinâmico e respiratório, prejudicado pela posição de cefalodeclive acentuado e pneumoperitônio.
Relato de caso: Paciente de 31 anos, ASA I, 189 cm, 120 kg, foi submetido a ressecção robótica de paraganglioma periprostático não
produtor de catecolaminas. Após admissão em sala operatória, foi
monitorizado e submetido a venóclise, sendo iniciada infusão venosa contínua (IVC) de dexmedetomidina 1µg/kg por 10 minutos, e de
solução fisiológica acrescida de 3g de sulfato de magnésio, 400 mg
de lidocaína, 10 mg de dexametasona e 40 mg de parecoxibe, administrada em 30 minutos. Seguiu-se indução anestésica com 200 mg
de lidocaína, 40 mg de esmolol, 200 mg de propofol e 100 mg de rocurônio, com posterior videolaringoscospia e intubação orotraqueal. O paciente foi devidamente posicionado, contido à mesa cirúrgica e instituiu-se a posição de Trendelemburg. Para a manutenção da
anestesia, foram utilizados sevoflurano 0,7 CAM e infusões venosas
contínuas de dexmedetomidina 0,25 µg/kg/h, lidocaína 1 mg/kg/h
e rocurônio 0,3 mg/kg/h, que foram interrompidas 30 minutos antes
do término da cirurgia, quando foram administados 4 g de dipirona,
4 mg de ondansetrona e 400 mg de sugamadex, após resultado do
TOF = 1. Como droga vasoativa, foi utilizada adrenalina em IVC,
quando necessária. Foram infundidos 1.100 mL de solução fisiológica e 500 mL de Voluven® 6% durante todo o procedimento (180
minutos). Houve perda sanguínea estimada em 1,5 litro, e a diurese
Camila Tábata Cardoso Teles*, Rodrigo Leal Alves,
Antônio Jorge Barreto Pereira, Emanuel da Silva Biscarde,
Diogo Medeiros Bahia, Roberta Teixeira Leite
Introdução: Nas últimas décadas, houve aumento da sobrevida póstransplante hepático, levando ao aumento da taxa de mulheres em
idade fértil pós-transplantadas. Gravidez pós-transplante de fígado
é de alto risco, e mudanças fisiológicas acarretam particularidades
anestésicas e cirúrgicas. A incidência de cirurgias não obstétricas
durante a gestação varia de 0,75 a 2%. O objetivo anestésico é a
segurança materno-fetal por meio da manutenção da estabilidade
hemodinâmica.
Relato de caso: F.M.G., 40 anos, G1P0A0, idade gestacional de 19
semanas, ASA III, hipertensa, diabética, obesidade grau III, hipotireoidismo, transplantada de fígado há 3 anos por cirrose hepática
criptogênica MELD 18 e em uso regular de tracolimus, Myfortic®,
metildopa, levotiroxina, insulina lantus e regular. Exames da admissão: Hb 9,1 g/dL, plaquetas 223.000/mm³, leucograma 7.100 mm³
(sem desvio), Cr 1,5 mg/dL, RNI 1,1, TP 85%, BT 0,6 U/L, TGP 92
U/L, FA 72 U/L, gama-GT 157 U/L. Realizou ureterolitotripsia rígida
e colocação de duplo J à esquerda por ureterolitíase obstrutiva.
Monitorizada com cardioscopia (FC 67 = bpm), oximetria de pulso
(SpO2 99%) e pressão arterial não invasiva (PA = 174 × 96 mmHg).
Administrados 02 mg de midazolam endovenoso, fenilefrina 0,5-1
mcg/kg/min e iniciada hidratação com 500 mL de Ringer lactato.
Realizada raquianestesia, punção mediana entre L3-L4 e injeção de
10 mg de bupivacaína pesada 0,5%. Paciente permaneceu com hemodinâmica estável e uso de vasopressor durante o intraoperatório.
Procedimento sem intercorrências.
Discussão: Insuficiência hepática causa irregularidade menstrual e
infertilidade que podem ser restauradas dentro de 3-10 meses após
o transplante hepático. Gestação em paciente pós-transplantada é
de alto risco, devido ao aumento da incidência de complicações
obstétricas, os efeitos da imunossupressão e sequelas da insuficiência hepática. É necessário realizar avaliação pré-anestésica, que
inclui verificar o estado cardiopulmonar, a função do enxerto e os
efeitos adversos das medicações imunossupressoras. Antes da raquianestesia, deve-se avaliar a contagem de plaquetas e o perfil da
coagulação, os quais podem estar alterados pela terapia imunossupressora e esplenomegalia persistente, além de excluir infecções
no local da punção ou sepse. Uso de vasopressor e hidratação são
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63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
aconselhados, pois o enxerto hepático desnervado é sensível à hipotensão. A decisão de utilizar a monitorização fetal é individualizada.
É importante a manutenção da hemostasia no ambiente intrauterino
com adequação da oxigenação materna e fluxo sanguíneo útero-placentário, evitando a asfixia fetal.
Referências:
1. Agarwal A, Jha A, Baidya DK E, et al. Anesthetic considerations
in parturients with liver transplant. J Obstet Anaesth Crtit Care.
2014;4:4-11.
2. Mhureachtaigh RN, O´Gorman DA. Anesthesia in pregnant patients for nonobstetric surgery. J Clin Anesth. 2006;18:60-6.
63-235 AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA INFILTRAÇÃO LOCAL
DE BUPIVACAÍNA NA ANALGESIA NO PÓS-OPERATÓRIO
IMEDIATO DE NEFROLITOTOMIA PERCUTÂNEA
Karine Gusso Ponce, Daniel Disconzi Rios,
Jorge Hamilton Soares Garcia, Rodrigo Lopes Nunes,
Marcos Vinicius Andrade Moresco, Rodrigo de Marchi Teixeira*
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Hospital Governador
Celso Ramos da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Santa
Catarina, Florianópolis, SC, Brasil
Justificativa e objetivos: A nefrolitotomia percutânea (NLP) é uma
cirurgia realizada para a remoção de cálculos renais em diversos
centros médicos no mundo. O controle de dor pós-operatória nesta
cirurgia tem sido amplamente estudado em variadas modalidades.
A infiltração com anestésico local é uma das ferramentas que tem
sido avaliada, apresentando resultados conflitantes. O objetivo primário do estudo foi avaliar a possível redução da dor pós-operatória imediata em pacientes submetidos a NLP com infiltração com
bupivacaína, em comparação ao grupo controle (sem infiltração).
Os secundários foram avaliar o impacto na ocorrência de náuseas e
vômitos e no tempo de permanência na sala de recuperação pós-anestésica (SRPA).
Método: Foi realizado ensaio clínico randomizado, duplo-cego,
comparando dois grupos: controle (GC) versus intervenção (GB). O
GC recebeu a anestesia padrão; o intervenção, a anestesia padrão
somada à infiltração com bupivacaína, conforme o protocolo do estudo. Foi estabelecida como anestesia padrão a anestesia geral com
sevoflurano e remifentanil, associados a morfina, dexametasona,
dipirona e ondansetrona. O manejo de dor na SRPA foi realizado
com morfina sob demanda. Foram usados os testes de KolmogorovSmirnov, qui-quadrado, teste t, teste U de Mann-Whitney e ANOVA,
conforme adequação da variável analisada.
Resultado: Foi incluído um total de 30 pacientes no estudo, sendo
15 em cada grupo. Não houve diferença entre as variáveis comparadas entre os grupos no estudo. As características demográficas entre
os grupos foram equivalentes. Com relação aos desfechos avaliados,
também não foram observadas diferenças entre GC e GB em todos
os quesitos estudados: Escala analógica visual (EAV) de dor na SRPA
(admissão p = 0,36; alta p = 0,35), EAV de náuseas (p = 0,22), episódios de vômitos (p = 0,48), consumo de morfina na SRPA (p = 0,45),
tempo para o primeiro requerimento de morfina na SRPA (p = 0,59)
e tempo de permanência na SRPA (p = 0,57).
Conclusão: Devido ao baixo consumo de opioides na SRPA, além
da baixa incidência de náuseas e vômitos, não foi possível identificar diferença entre os grupos estudados. Com base nos resultados
encontrados, observou-se que a infiltração local do trajeto cirúrgico com bupivacaína em nefrolitotomias percutâneas não configura
alternativa eficaz no controle de dor pós-operatória na busca de
benefícios clínicos nos pacientes submetidos à referida cirurgia.
Referências:
1. Moosanejad N, Firouzian A, Hashemi SA, et al. Comparison of
totally tubeless percutaneous nephrolithotomy and standard
percutaneous nephrolithotomy for kidney stones: a randomized,
clinical trial. Braz J Med Biol Res. 2016;49:e4878.
S99
2. Parikh GP, Shah VR, Vora KS, et al. Ultrasound guided peritubal
infiltration of 0.25% Bupivacaine versus 0.25% Ropivacaine for
postoperative pain relief after percutaneous nephrolithotomy:
A prospective double blind randomized study. Indian J Anaesth.
2014;58:293-7.
63-236 CONTROLE DO SÓDIO INTRAOPERATÓRIO EM RTUP
LONGA: RELATO DE CASO
Fred Assunção, Bruno Anhesini Benetti, Giovanni Nista Piccolo*,
Alex Jody Messias Fukusato, Bruna Machado Gonçalves,
Henrique Teruo Okawa
Hospital Geral de Pirajussara, Taboão da Serra, SP, Brasil
Introdução: A hipertrofia prostática benigna e o câncer de próstata atingem em sua maioria pacientes acima de 70 anos com comorbidades cardiovasculares, respiratórias e metabólicas, geralmente
em uso de anticoagulantes, aspirina, alfa e beta bloqueadores,
e vasodilatadores. A ressecção transuretral de próstata (RTUP) é
o procedimento de escolha em glândulas < 60g, realizada com
ressectoscópio e alças especiais, preservando sua cápsula. Utiliza solução de irrigação que precisa ser o mais próximo da ideal
(isotônica, inerte eletricamente, transparente, estéril e de baixo
custo), para evitar complicações como hipervolemia, edema agudo de pulmão, falência renal, perfuração da bexiga, hemólise e
hiponatremia.
Relato de caso: Paciente masculino, 85 anos, 80 kg. AP: HAS, em
uso de captopril e HCTZ. PA 137 × 86, FC 68, T 36,4, Sp 98%. Exames:
Hb 10,5, Ht 28,1, Na 139, K 3,4, Ur 91,4, Cr 2,59. Monitorização
com eletrocardioscópio, oximetria de pulso, PANI. Venóclise em MSD
com j18. Realizada raquianestesia com agulha Quincke 25G, L3L4,
infusão de 12,5 mg de bupivacaína hiperbárica e bloqueio em T10,
sem sedação. Utilizados 26 L da solução de irrigação sorbitol 2,7%
+ manitol 0,54%. Irrigação a 80 cm do paciente. Estável hemodinamicamente. Cirurgia sem complicações. Duração: 165 min. Na+
pós-op: 137.
Discussão: A rápida absorção de volume de solução está relacionada à síndrome da ressecção transuretral da próstata (SRTUP)
caracterizada pela translocação de volume intravascular e efeitos
dos solutos plasmáticos. A absorção destes solutos se dá pela entrada através dos seios venosos prostáticos abertos e acumulados
no espaço periprostático e retroperitoneal. Sua velocidade de absorção é 20 mL/min, podendo alcançar 200 mL/min. O volume
de irrigação absorvido pode ser calculado pela fórmula: ([Na+]
pré-op/[Na+]pós-op) × LEC – LEC*1. A hiponatremia causada pela
RTUP é relativa e a queda do nível sérico de sódio costuma ser de
3 a 10, sendo essa queda relacionada principalmente com a velocidade de absorção da solução da irrigação. Fatores relacionados
à SRTUP: tamanho da glândula, pressão hidrostática da solução de
irrigação (altura ideal do suporte de 60 cm) e a distensão excessiva da bexiga. O tempo de cirurgia ainda não foi correlacionado
com a síndrome, exceto quando > 150 min. A hiponatremia aguda
causa alterações neurológicas e cardiovasculares, como confusão
mental, agitação, bradicardia, alargamento de QRS e elevações
do ST, extrassístoles e inversão de onda T, podendo levar o paciente a PCR. As principais medidas para se evitar a SRTUP são a habilidade do cirurgião em preservar a cápsula prostática, atenção
com o Na sérico e controle da pressão hidrostática. Se Na < 120,
a cirurgia deve ser interrompida rapidamente. O relato mostra
a normalidade do sódio pós-operatório após cirurgia longa com
provável absorção sistêmica de 233 a 350 mL.
Referência:
1. Henderson DJ, Middleton RG. Coma from hyponatremia following
transurethral resection of prostate. Urology. 1980;15:267-71.
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S100
63-237 DESAFIOS DA ANESTESIA GERAL PARA
PROCEDIMENTO DE CURTA DURAÇÃO EM PACIENTE COM
ESTÔMAGO CHEIO E SÍNDROME URÊMICA
Felícia Benevides Praxedes*, Cátia Sousa Govêia,
Gabriel Magalhães Nunes Guimarães,
Rodolfo Carvalho Soeiro Machado, Victor Cabral Ribeiro,
Helga Bezerra Gomes da Silva
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Centro de
Anestesiologia, Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, Brasil
Introdução: Um dos desafios da anestesia geral em pacientes com
estômago cheio para procedimentos de curta duração é a escolha
dos anestésicos e suas doses. A dificuldade é ainda maior na presença
de insuficiência renal, devido ao retardo na eliminação de fármacos,
especialmente bloqueadores neuromusculares (BNM). Neste caso,
discute-se algumas abordagens e as consequências destas decisões.
Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 44 anos, 40 kg, CEC de
colo uterino IIIB, restrita ao leito por dor crônica, em quimioterapia
paliativa. Solicitou-se anestesia para implante de cateter duplo J
bilateral, em caráter de urgência. Apresentava-se em síndrome urêmica por IRA pós-renal, com desorientação, mioclonias, náuseas e
vômitos. K = 5,6, Na = 124, Cr = 6,8, Ur = 117, Hb = 8,4, Ht = 26,3%,
INR = 1,44. PAM = 129 mmHg, FC = 101bpm, SpO2 = 98%. Indução da
anestesia com fentanil e propofol, sem uso de BNM, sob manobra de
Sellick. Intubação sem dificuldades. Devido à má adaptação à ventilação mecânica em SIMV, administrou-se atracúrio para ventilação
controlada. A operação durou 120 minutos e a anestesia foi mantida
com sevoflurano. Implantado duplo J bilateral sem intercorrências.
Realizada descurarização e a extubação ocorreu cerca de 15 min
após o término do procedimento, com paciente acordada, PAM = 86
mmHg, FC = 78 bpm, SpO = 99%.
Discussão: Neste caso, a primeira decisão foi a escolha entre usar
ou não um bloqueador neuromuscular. Devido ao estômago cheio,
para intubação em sequência rápida, a escolha inicial seria succinilcolina ou rocurônio. A primeira foi contraindicada pela hipercalemia
e o segundo, pela demora na eliminação, por se tratar de paciente
com IRA e procedimento de curta duração. A decisão por não usar
BNM não resultou em complicações durante a intubação. Todavia,
não usar BNM torna a intubação mais difícil, o que, em situação de
estômago cheio, pode comprometer a segurança do paciente. Se
não for considerada a curta duração do procedimento como fator
limitante, pode-se manter o foco em decisões conservadoras e usar
BNM adespolarizantes para a intubação em sequência rápida. Por
outro lado, ignorar a duração do procedimento pode levar a maior
probabilidade de necessidade de UTI no pós-operatório ou retardo
no despertar. A disponibilidade de uso de sugamadex mudaria o processo de decisão do anestesiologista, por permitir unir segurança
e recuperação rápida para esta combinação de fatores. A doença
renal aguda é um importante fator para atenção do anestesiologista. É possível diminuir a morbidade e a mortalidade quando se
compreende os aspectos relacionados a esta doença.
Referências:
1. de Souza CM, Tardelli MA, Tedesco H, et al. Efficacy and safety
of sugammadex in the reversal of deep neuromuscular blockade
induced by rocuronium in patients with end-stage renal disease:
a comparative prospective clinical trial. Eur J Anaesthesiol.
2015;32:681-6.
2. El-Orbany M, Connolly LA. Rapid sequence induction and intubation: current controversy. Anesth Analg. 2010;110:1318-25.
63-238 INTOXICAÇÃO POR SORBITOL EM RTU DE BEXIGA
Annelyse de Abreu Peixoto*, Gustavo Henrique de Abreu Caetano,
Paulo César de Abreu Sales, Aparecida Helena Horta Perdigão,
Reinaldo Guimarães, Tito Augusto Guimarães Peixoto
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Hospital Universitário São
José – Faculdade de Ciências Médicas, Belo Horizonte, MG, Brasil
63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
Introdução: O sorbitol é utilizado para procedimentos cirúrgicos endoscópicos. Problemas de diluição foram identificados, como degradação hepática dos produtos de sorbitol (lactato), e foram citados
como real ou potencial toxinas de absorção intravascular.
Relato de caso: V.V., 66 anos, M, HAS, DMID-2, IRC não dialítica, foi
submetido a RTU de bexiga sob raquianestesia (cloridrato de bupivacaina hiperbárica 10 mg), utilizando solução de sorbital 3% dois frascos (litros) perioperatório para irrigação. Evoluiu no pós-operatório
imediato (sala de recuperação) com bradicardia (FC = 30 bpm), crise
hipertensiva (PA = 230 × 130 mmHg) e rebaixamento sensório, episódios de descerebração, concomitante com instabilidade pressórica,
pupilas mióticas. Paciente encaminhado ao CTI após IOT em VM, solicitados novos exames laboratoriais e tomografia computadorizada
de crânio, sem alterações significativas. Manteve-se sem sedação e
sem uso de aminas, com estabilidade hemodinâmica evoluindo com
despertar; sendo assim, realizada extubação sem intercorrências.
Discussão: Uma complicação potencial de tal irrigação é a absorção sistêmica do fluido para a medida que os sintomas evidentes
são produzidos: hipervolemia causa hiponatremia, hipocalemia e
hipo-osmolaridade e sintomas como náuseas, vômitos e confusão
mental. A absorção maciça pode mesmo conduzir a edema cerebral,
herniação cerebral e morte. Sintomas no pós-operatórios foram categorizados como circulatório ou neurológico, além dos sintomas
circulatórios, que incluíram dor no peito, bradicardia e hipotensão.
Incluíram também náuseas, vômitos, confusão mental, perturbação
visual e uma diminuição na pontuação de Coma de Glasgow. Danos
cerebrais têm sido comumente relacionados com a magnitude de
hiponatremia e a rapidez de diminuição do nível sérico de sódio. No
presente caso, devido às alterações apresentadas no pós-operatório
do paciente, não visualizamos alteração significativa nos exames
laboratoriais e na tomografia computadorizada de crânio. Mas foi
evidente seu rebaixamento sensório com retorno espontâneo gradativo dos seus sinais de alerta. Analisando os artigos apresentados é notado que nem todos os casos apresentaram alterações de
exames confirmatórios da intoxicação por sorbitol. Mas deixamos
claro que é possível que ocorra complicações ao uso da solução com
finalidade de irrigação perioperatória. E mesmo que ocorram tais
complicações, a solução de sorbitol ainda é primeira escolha para
cirurgias urológicas, desde que a utilizemos com cautela.
Referência:
1. Inman RD, Hussain Z, Elves AW, Hallworth MJ, Jones PW, Coppinger SW. A comparison of 1.5% glycine and 2.7% sorbitol-0.5% mannitol irrigants during transurethral prostate resection. J Urol.
2001;166:2216-20.
63-239 PERFURAÇÃO DE COLO VESICAL DURANTE
CIRURGIA TRANSURETRAL E EXTRAVASAMENTO DE
SORBITOL PARA CAVIDADE ABDOMINAL: RELATO DE CASO
José Carlos Ferreira de Carvalho Junior*,
Estêvão Luiz Carvalho Braga, Américo Salgueiro Autran Neto,
Paulo Alipio Germano Filho, Armin Guttman, Helena Sabóia
Hospital Federal de Bonsucesso, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Introdução: A perfuração vesical pode causar extravasamento de
líquido na cavidade peritoneal com irritação diafragmática, dor no
ombro e redução do retorno da solução de irrigação. Alguns destes
sintomas podem ser mascarados em pacientes com bloqueio espinhal. O sorbitol é utilizado para irrigação da bexiga em procedimentos endoscópicos, em função da excelente visibilidade que proporciona. Intoxicação hídrica e distúrbios hidroeletrolíticos podem
estar associados à sua administração.
Relato de caso: R.D., 65 anos, hipertenso, com cirurgia proposta de
dilatação de estenose de colo vesical via transuretral; passado cirúrgico de prostatectomia radical. Submetido a raquianestesia com
bloqueio sensitivo em T8. Foi colocado em posição de litotomia sem
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63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
variações significativas de pressão arterial e frequência cardíaca,
iniciada irrigação vesical com sorbitol. Transcorridos cerca de 40
minutos de cirurgia, evoluiu com desorientação, bradicardia (45 batimentos por minuto) e distensão abdominal sem dor concomitante.
Comprovada perfuração do colo vesical pelo ressectoscópio com
extravasamento contabilizado de 2.000 mL de líquido para cavidade
abdominal. Cirurgia foi interrompida e paciente encaminhado para
unidade de terapia intensiva para monitorização e tratamento de
distúrbios hidroeletrolíticos (hipocalcemia e hipocalemia). Evoluiu
com melhora clínica e laboratorial, tendo alta para enfermaria dois
dias após o procedimento.
Discussão: O diagnóstico clínico da perfuração vesical é mais
evidente em pacientes conscientes e sob anestesia regional com
bloqueio sensitivo inferior a T9. Na suspeita de perfuração, o procedimento cirúrgico deve ser encerrado o mais rápido possível.
Vazamentos intraperitoneais podem causar instabilidade hemodinâmica e, dependendo da gravidade do caso, pode ser necessária a drenagem do líquido extravasado e exploração cirúrgica.
Em pacientes que cursam com desorientação, agitação e delírio
no decorrer de cirurgias com irrigação vesical contínua, o diagnóstico diferencial com hiponatremia dilucional deve ser sempre
aventado.
Referência:
1. Althunayan AM, Elkoushy MA, Elhilali MM, Andonian S. Adverse events resulting from lasers used in urology. J Endourol.
2014;28256260.
63-240 SÍNDROME DA INTOXICAÇÃO HÍDRICA EM
RESSECÇÃO TRANSURETRAL DE PRÓSTATA: RELATO DE
CASO
Fernanda Vilaça Moura*, Bruno Mendes Carmona,
João Hermínio Pessoa dos Santos,
Artur Abel Tavares Fernandes Cavaco,
Carla Vanessa da Silva Alcântara Lima, Amanda Amaral Targino
Centro de Ensino e Treinamento (CET) do Serviço de Anestesia do
Hospital Ophir Loyola, Belém, PA, Brasil
Introdução: A hiperplasia prostática benigna (HPB) é uma doença
benigna frequente em homens entre 50 e 70 anos. A ressecção
transuretral (RTU) de próstata é a técnica operatória mais empregada atualmente para o tratamento da HPB. Entre as complicações deste procedimento, destaca-se a síndrome da intoxicação
hídrica.
Relato de caso: Sexo masculino, 75 anos, tabagista e etilista, sem
comorbidades, ASA P2, com diagnóstico de HPB (próstata de 90
g), submetido a RTU de próstata. Na admissão no centro cirúrgico
apresentava PA 125 × 85 mmHg, FC 67 bpm e SatO2 96%. Recebeu
hidratação venosa com solução fisiológica 0,9% 120 mL/h, O2 3 L/
min sob cateter nasal, fentanil 50 mcg e midazolam 2 mg. Submetido a raquianestesia com punção ao nível de L2-L3 com agulha
Quincke 26 G, bupivacaína hiperbárica 20 mg e morfina 0,1 mg,
com bloqueio sensitivo em T4, mantido em posição de litotomia. O
líquido de irrigação utilizado foi o sorbitol 27 mg/mL + manitol 5,4
mg/mL, com frasco 60 cm acima da mesa cirúrgica. Após 80 min
de ressecção houve diminuição abrupta e progressiva da saturação
periférica de O2, bradicardia e alteração do nível de consciência.
Foi administrada atropina 1 mg EV com interrupção da cirurgia e
intubação orotraqueal. Coletada gasometria arterial que revelou
sódio de 126mg/dL; após estabilização clínica do paciente, foi
encaminhado ao CTI estável hemodinamicamente, recebendo alta
após 3 dias.
Discussão: Esta síndrome apresenta-se no intra e no pós-operatório
com cefaleia, agitação, confusão, hipotermia, cianose, dispneia,
arritmias, hemólise, hipotensão ou crises convulsivas. As manifestações são decorrentes de sobrecarga hídrica, hiponatremia, per-
S101
furação da bexiga e toxicidade por solutos. A absorção do líquido
de irrigação parece ser dependente da duração da ressecção, bem
como da altura (pressão) do líquido de irrigação e da solução de
irrigação utilizada.
Conclusão: Acredita-se que a evolução do quadro se deva ao tempo
prolongado de procedimento cirúrgico, complicações consideradas
evitáveis.
Referências:
1. Gonçalves TAM. Anestesia para urologia. In: Cangiani LM, Slutitel
A, Potério GMB et al. Tratado de anestesiologia SAESP. 7ed. São
Paulo, Atheneu, 2011.
2. Basile Filho A. Intoxicação hidríca na ressecção transuretral da
próstata. Algorítimo terapêutico. J Brasil Urol. 1999.
63-241 SÍNDROME DE RESSECÇÃO TRANSURETRAL DA
PRÓSTATA (SRTUP): RELATO DE CASO
Larissa Roberta Corso*, Sara Rolim Daga,
Marcos Cardoso Costa, Diego Boniatti Rigotti
Hospital Regional do Oeste (HRO), Chapecó, SC, Brasil
Introdução: A RTUP consiste na ressecção dos lobos da próstata
através de um cistoscópio em alça capaz de cortar e coagular por
meio de energia elétrica. Para melhor visualização dos tecidos dissecados, torna-se necessária irrigação contínua com líquidos hipotônicos, podendo ocorrer absorção intravascular do líquido pelo plexo
venoso da próstata. A absorção excessiva deste líquido pode gerar
sobrecarga hídrica e, consequentemente, alterar a osmolaridade
sanguínea devido a hiponatremia dilucional, resultando em graves
complicações cardiovasculares, respiratórias e do sistema nervoso central (SNC), chamada de síndrome de ressecção transuretral
(SRTU).
Relato de caso: Paciente de 74 anos, masculino, IMC 23,39, ASA II,
ex-tabagista, em uso regular de doxazosina e finasterida (devido
HPB), fluoxetina e sinvastatina. Negava alergias e intercorrências
anestésicas anteriores. Relatou história de arritmia (ECG com bradicardia sinusal, BAV 1º grau, AIRV). Demais exames pré-operatórios
sem alterações. Cirurgia programada: RTU próstata. Técnica anestésica: raquianestesia com bupivacaína pesada 0,5% 15 mg, nível
de bloqueio em T8-T10. Decorridos 40 minutos do início da cirurgia,
paciente começou a ficar inquieto e queixar-se de tontura e obscurecimento da visão; nesse momento, o cirurgião é avisado para abreviar o procedimento, sendo iniciado o processo de coagulação, que
demorou mais 20 minutos, com paciente relatando piora progressiva
do quadro visual e hipertensão, com demais sinais normais. Foram
coletados exames, administrada furosemida 20 mg endovenosa e,
ao término do procedimento (total de 1 hora), paciente foi encaminhado para a sala de recuperação pós-anestésica (SRPA). Os exames
mostraram sódio 118 mmol/L, hemoglobina 13,9, hematócrito 42,4%,
ureia 29,2, creatinina 1,1 e glicemia de 115,7, sendo prontamente
iniciado tratamento para hiponatremia com solução salina a 3%, respeitando o aumento do sódio em 10 mEq/24 horas, e furosemida.
Paciente apresentou melhora progressiva da visão e permaneceu na
SRPA até a normalização do sódio. Revisando o caso observou-se que
foram utilizados 60 litros de solução de glicina 1,5%, a altura do líquido de irrigação estava acima do preconizado. No primeiro dia de
pós-operatório apresentava-se assintomático, com exames normais.
Discussão: A SRTU pode ocorrer no intra ou pós-operatório. Denotase a importância do reconhecimento e manejo rápido desta síndrome devido aos distúrbios eletrolíticos que podem advir, produzindo
toxicidade sistêmica, graves repercussões hemodinâmicas e risco de
edema cerebral. Soma-se a isso a toxicidade direta do SNC pela
glicina, que resulta em cegueira transitória e serve como um sinal
indireto da hiperabsorção hídrica. Dessa forma, deve-se atentar a
um controle cuidadoso dos líquidos empregados, sedação leve e monitorização clínica.
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S102
Referência:
1. Gonçalves TAM. Anestesia para urologia. In: Cangiani LM, Slulitel
A, Potério GMB, et al. Tratado de anestesiologia SAESP. 7ed. São
Paulo, Atheneu, 2011;2040-3.
63-242 SÍNDROME DO HOMEM RÍGIDO: RELATO DE CASO
Diego O. Campos*, Bruno Duarte, Rafaella Pellicciotti,
Alexandre Casanova, Antonedson França
Rede D’Or Hospital São Luiz, Jabaquara, SP, Brasil
Introdução: Stiff-Person S yndrome ( ou s índrome d o h omem rígido)
é uma doença rara, mais prevalente em mulheres, com maior ocorrência entre a terceira e sétima décadas de vida. Caracterizada por
rigidez e espasmos da musculatura axial, a doença leva a prejuízo da
marcha e deformidades ósseas, com grande impacto nas atividades
diárias. No geral, 60% dos casos apresentam anticorpo anti-GAD no
LCR, impedindo a transformação do ácido glutâmico em GABA, culminando em redução da atividade inibitória central e em interneurônios
espinhais. Trata-se de um paciente suscetível a crises/surtos paroxísticos de contração/rigidez muscular, culminando em deformidades da
coluna e prejuízo da deambulação. Tais crises podem ser deflagradas
por ruídos, movimentos súbitos, estresse emocional e tato.
Relato de caso: Paciente feminina, 62 anos, com prévio diagnóstico
de síndrome do homem rígido, apresenta cisto renal complexo à
esquerda, identificado durante investigação diagnóstica da doença
de base. Em uso prévio de rivotril, gabapentina, baclofeno (antiespástico de ação medular), puranT4, miosan, prednisosa, azotioprina
(imunossupressor). Após parecer da urologia, foi proposta nefrectomia parcial à esquerda. Planejamento anestésico: anestesia peridural + geral. Monitorização: cardioscopia, oximetria de pulso, capnografia, PAI (J20), BIS, TOF, termômetro esôfágico, sonda vesical de
demora. Acessos vasculares: VJID, periféricos (J 20 e 16). IOT: após
indução anestésica: fentanil 300 mcg, propofol TCI, rocurônio 50 mg
realizada em posição olfativa, Cormack-Lehane I. Manutenção da
anestesia realizada com propofol TCI e remifentanil. Prevenção de
trombose com meias elásticas e compressor pneumático. Utilizada
manta térmica e aquecedor de fluídos. TOF 0 durante todo o procedimento. Ausência de sangramento ativo. Hidratação: Plasma-Lyte
2.000 mL. Diurese: 600 mL. Duração do procedimento: 3 h. Revertido relaxamento muscular com sugamadex 4 mg/kg (TOF: 100%).
Extubação e transporte para UTI sem intercorrências.
Discussão: O paciente com Stiff-Person S yndrome i mpõe desafio
anestésico. A literatura não evidencia diretrizes específicas para
abordagem desse paciente. A estratégia anestésica escolhida foi
baseada na interpretação de outros relatos de caso. Tentamos identificar a influência dos fármacos usados para tratamento da doença,
bem como intercorrências anestésicas. Os relatos sugerem que o
uso de baclofeno e a associação com anestesia inalatória apresentaram potencial para desfechos desfavoráveis (p. ex.: fraqueza muscular na extubação). Portanto, consideramos o bloqueio peridural
com anestesia venosa total a melhor alternativa para o quadro.
63º Congresso Brasileiro de Anestesiologia
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