Colégio CEC Cianorte Professor: Douglas Blanco APOSTILA DE FILOSOFIA 3º ANO 1 ► Para se conseguir o conhecimento correto da natureza e descobrir os FRANCIS BACON E A TEORIA DOS ÍDOLOS meios de torna-lo eficaz seria necessário ao investigador libertar-se ► Francis Bacon foi um político, filósofo e ensaísta inglês. Desde daquilo que Bacon chama "Ídolos" ou engodos que levam a noções cedo, sua educação orientou-o para a vida política, na qual exerceu falsas. posições elevadas. Como filósofo, destacou-se com uma obra onde São 4 os Ídolos a serem combatidos a ciência era exaltada como benéfica para o homem. Em suas ► 1. Ídolos da Tribo. investigações, se ocupou especialmente com a metodologia ► 2. Ídolos da Caverna. científica e com o empirismo. É muitas vezes chamado de fundador ► 3. Ídolos do Foro (ou do mercado). da ciência moderna. Sua principal obra filosófica é o Novum ► 4. Ídolos do Teatro. Organum. 1. Ídolos da Tribo. Estudar os erros para evitá-los São vícios inerentes à própria natureza humana, tal como o hábito de ► É possível evitar os erros de raciocínio inventando um método para acreditar cegamente nos sentidos. isso? Os sentidos levam à percepção do universo de modo mais simples do ► O engano muitas vezes é decorrência da presença, no intelecto que ele é na verdade. humano, de uma série de ídolos. Também o vício de reduzir o complexo ao mais simples segundo ► Ídolos – crenças inconscientes, suposições, prejulgamentos e uma visão que se restringe àquilo que é favorável, que é conveniente. preconceitos que condicionam a aquisição do novo saber. 2. Ídolos da Caverna. ► Uma tendência típica da mente humana é a de generalizar, formulando leis com poucos exemplos. ► São erros devidos à pessoa, não à natureza humana. Trata-se de ► Atribuir um peso excessivo às preferências pessoais. diferenças individuais de habilidade e capacidade. Alguns espíritos ► Usar termos confusos ou que não representam o objeto de estudo. tem condições para assinalar as diferenças, outros, as semelhanças: ► Essas noções falsas obstruem o intelecto sem que o sujeito se dê outros indivíduos se detêm em detalhes, outros olham mais o conta. 2 ► Indução – processo cognitivo que, a partir do exame de um certo conjunto, a totalidade; ambos tendem ao erro, embora de maneiras opostos . número de casos, chega a formulação de uma lei geral, cujo alcance ► Resultam da própria educação e da pressão dos costumes. se estende para além dos casos considerados. ► A Indução de Francis Bacon afirma que o cientista deve observar e 3. Ídolos do Foro (ou do mercado). descrever fatos empíricos, organizar e transpor em uma linguagem matemática. A partir dai, salta-se das sensações particulares aos ► São erros implicados na ambigüidade das palavras; a linguagem é axiomas mais gerais e descobre axiomas intermediários, dando-se responsável. Uma mesma palavra tem sentidos diferentes para os pouca ênfase à elaboração de hipóteses. interlocutores e isso pode levar a uma aparente concordância entre ► O termo axioma significa algo que é considerado ajustado ou as pessoas . adequado, ou que tem um significado evidente. ► Nem sempre as palavras representam realmente o objeto. ► Decorrem do mau uso que fazemos da linguagem. FILOSOFIA MEDIEVAL 4. Ídolos do Teatro. SANTO AGOSTINHO (354 – 430) ► Tem suas causas nos sistemas filosóficos e em regras falseadas de demonstração. ► Os sistemas filosóficos careciam de demonstração, eram pura Influenciou a elaboração e consolidação da filosofia cristã na Idade contemplação do que ―poderia‖ ser verdade. Média, até a redescoberta do pensamento de Aristóteles no séc. XIII. ► Esses sistemas são puras invenções, como peças de teatro. Aproximou a filosofia de Platão e o cristianismo. Três aspectos fundamentais de sua filosofia: Indução 1. Sua formulação das relações entre teologia e filosofia, entre razão e fé ► Bacon afirma que devemos demolir os ídolos, para poder construir o conhecimento verdadeiro através da Indução. 3 Defende que a filosofia antiga consiste em uma preparação da pela linguagem. → Possibilidade de conhecer supõe algo prévio, que torna alma, útil para a compreensão da verdade revelada. inteligível a própria linguagem → Posição inatista: conhecimento não pode A sabedoria do mundo é limitada, sendo necessário primeiro ser derivado da apreensão sensível ou da experiência concreta, necessitando acreditar para depois compreender de um elemento prévio que sirva de ponto de partida para o próprio A verdadeira e legítima ciência é a teologia, que prepara a alma processo de conhecer → Não aceita doutrina platônica da anamnese para a salvação. (reminiscência), desenvolvendo teoria da interioridade e da iluminação → teoria da iluminação: não compreendemos consultando a voz de quem fala mas ―a verdade que dentro de nós preside a própria mente, incitados talvez 2. Sua teoria do conhecimento com ênfase na questão da subjetividade e da interioridade pelas palavras a consultá-la‖. Essa verdade, que é consultada, é Cristo (luz Como pode a mente humana, mutável e falível, atingir uma verdade interior de verdade), que habita no homem interior. → A interioridade é eterna com certeza infalível? → Teoria da iluminação divina, elaborada dotada de capacidade de entender a verdade pela iluminação divina. A com base na teoria platônica da reminiscência. Veja-se: mente humana possui uma centelha do intelecto divino, já que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Platão → A virtude não pode ser ensinada. Ou já a trazemos conosco, ou 3. Sua teoria da história elaborada em ―Cidade de Deus‖ nenhum mestre será capaz de introduzi-la em nossa alma, uma vez que é uma característica da própria natureza humana. Função do filósofo → História da humanidade → processo sucessivo de alianças e rupturas despertar virtude adormecida na alma de todos os indivíduos. entre o homem e seu criador → história tem um sentido, uma direção, Santo Agostinho → Indagações iniciais: o que é ensinar e aprender e qual com um ponto inicial e um ponto final, que é o retorno à situação o papel da linguagem e da comunicação no processo de ensino e de originária (primeiro homem (adão) expulso do paraíso ao juízo final, aprendizagem. → Dada a convencionalidade do signo lingüístico, este não redenção, volta do homem a Deus) → rompe com concepção grega pode ter qualquer valor cognitivo mais profundo; não é através das antiga de tempo, um tempo cíclico, sem início nem fim palavras que conhecemos, logo, não podemos transmitir conhecimento 4 passar do tempo, a sua doutrina a ser considerada a doutrina oficial da igreja. O DESENVOLVIMENTO DA ESCOLÁSTICA As ―cinco vias‖ da prova da existência de Deus: Santo Agostinho é considerado o primeiro dos pensadores medievais. Após sua morte e até os séculos XI-XII é extremamente reduzida a produção filosófica e cultural em geral no mundo europeu Cinco vias da demonstração da existência de Deus ocidental. Primeira via – Argumento do movimento: só algo que existe em ato Outro autor notável na mediação entre a filosofia antiga e a filosofia cristã medieval é Boécio (470-525). pode atualizar uma potência. Não se pode admitir uma regressão ao Fragmentação política, cultural e lingüística do mundo europeu. infinito. Deus é o primeiro motor. Segunda via – Nada pode ser a causa eficiente1 de si próprio, pois Início de estabilização no século IX, com a formação do Sacro Império nesse caso seria anterior a si próprio. Não se pode admitir uma regressão ao Romano Germânico infinito. Deus é a primeira causa eficiente. O termo escolástica designa, de modo genérico, todos aqueles que Terceira via – Argumento cosmológico (toma por base as noções pertencem a uma escola ou que se vinculam a uma determinada escola de aristotélicas de necessidade e contingência): constatamos a contingência na pensamento ou de ensino. natureza, mas nem todas as coisas podem ser contingentes, senão seria possível que não houvesse nada. Mas aquilo que não existe só pode começar a existir a partir do que já existe antes. É preciso assim que algo do SÃO TOMÁS DE AQUINO (1224-1274) que existe seja necessário. E Deus é o primeiro ser, origem de toda Mundo europeu dos sécs. XI-XII → centros urbanos.Séc. XIII → necessidade. surgimento das universidades e das ordens religiosas Compatibilizou o aristotelismo e o cristianismo. No início foi ―condenado‖, passando, ao 1 Causa eficiente – consiste na fonte primária da mudança, o agente da transformação da coisa. Responde à questão: por que x é x?, ou o que fez com que x visse a ser x? (sobre as outras três dimensões da causalidade para Aristóteles, ler pág. 73) 5 Quarta via – Toma como ponto de partida os graus existentes nas esse entendimento ansiado por nós, essa explicação se dá de várias formas. coisas. Todas as coisas que têm um predicado, ou qualidade, em um grau As duas principais formas dos homens adquirirem conhecimento são maior ou menor, se caracterizam por um termo comparativo, portanto através do senso comum e através da ciência. Primeiramente vamos pressupõe como parâmetro o máximo. Deus é o ser perfeito, isto é, aquele conhecer o conhecimento do senso comum, depois o conhecimento que tem o máximo de perfeição (entendida como o máximo de realização científico ou ciência. de atributos ou qualidades) Quinta via – Argumento teleológico: deve haver um propósito ou SENSO COMUM finalidade na natureza, caso contrário o universo não tenderia para o ―O sol é menor que a Terra. Quem duvidará disso se, diariamente, mesmo fim ou resultado. A causa inteligente dessa determinação é Deus. Novidade do pensamento de São Tomás de Aquino → vemos um pequeno círculo avermelhado percorrer o céu, indo de leste a Demonstração da existência de Deus a partir da razão natural → oeste? O sol se move em torno da Terra, que permanece imóvel. Quem revaloração do mundo natural como objeto de conhecimento → Vai contra duvidará disso se diariamente vemos o sol nascer, percorrer o céu e se pôr? as seguintes concepções anteriores: A aurora não é o seu começo e o crepúsculo o seu fim?(...) Cada gênero ou 1- Pode-se conhecer Deus diretamente e através de uma evidência, espécie de animais já surgiu tal como o conhecemos. Alguém poderia sem passar pelo mundo sensível; imaginar um peixe tornar-se um réptil ou um pássaro? Em religião, como a 2- Só se pode conhecer Deus pela fé; judaica, a cristã ou a islâmica, os livros sagrados não ensinam que a 3- Só se pode falar de Deus se já se sabe quem ele é. divindade criou de uma só vez todos os animais, num só dia?(...) Certezas como essas formam nossa vida e o senso comum de nossa sociedade , A CIÊNCIA transmitido de geração em geração, e, muitas vezes, ao se transformar em crença religiosa, torna-se uma doutrina inquestionável.‖ (MARILENA Os seres humanos, desde os tempos mais remotos, procuram CHAUÍ, p. 216, 2004) conhecer o mundo em que vivem, entender os fenômenos que ocorrem ao Os três exemplos dados pela filósofa Marilena Chauí no trecho seu redor e, assim, explicá-los. Esse conhecimento buscado pelo homem, acima demonstram o conhecimento do senso comum. 6 O senso comum é o conhecimento adquirido pelo ser humano Antes de mais nada, a ciência 'desconfia' da veracidade de nossas certezas, através da vivência, da experiência diária, observando as atitudes dos mais de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de velhos e seguindo os seus ensinamentos, pela tradição. É um conhecimento curiosidade. Por isso, onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude que obtemos de forma espontânea, sem buscá-lo, pois o dia a dia leva-nos científica vê 'problemas' e 'obstáculos', aparências que precisam ser a esse conhecimento. Mas, se observarmos com atenção cada uma das explicadas e, em certos casos, afastadas.‖(MARILENA CHAUÍ, p. 216- afirmações dos exemplos de conhecimento do senso comum dados pela 217, 2004) filósofa - ―o sol é menor que a Terra‖, ―o sol se move em torno da Terra, De acordo com Marilena Chauí, a astronomia, que é uma ciência, que permanece imóvel‖, ―cada gênero ou espécie de animais já surgiu tal foi capaz de mostrar-nos a verdade sobre a relação de tamanho e como o conhecemos‖ - vamos perceber que não são verdadeiras. E como movimento entre o sol e a Terra. Do mesmo modo, a biologia, que também sabemos que são falsas? O conhecimento que temos de que aquelas é uma ciência, provou que as espécies e gêneros de animais formaram-se afirmações são falsas nos foi fornecido pela ciência. Então, vamos lentamente e não, como se pensava, de uma única vez. Para a filósofa, a conhecer melhor o conhecimento científico. ciência questiona, duvida das certezas que temos pelo senso comum e busca explicá-las com veracidade. A ciência busca a verdade. Para entendermos CIÊNCIA melhor como a ciência é capaz de alcançar o conhecimento verdadeiro, vamos analisar como se dá o trabalho científico. ―A astronomia demonstra que o sol é muitas vezes maior que a Terra e, desde Copérnico, que é a Terra que se move em torno do sol.(...) O TRABALHO CIENTÍFICO A biologia demonstra que os gêneros e as espécies de animais se formam lentamente, no curso de milhões de anos, a partir de modificações de ―A ciência é uma forma sistematicamente organizada do micro-organismos extremamente simples.(...) Ao que parece, há uma pensamento.‖(GILLES- GASTON GRANGER in MARILENA CHAUÍ, p. grande diferença entre nossas certezas cotidianas (senso comum) e o 219, 2004) conhecimento científico (ciência). Como e por que ela existe?(...) O que Para o filósofo francês Gilles-Gaston Granger, o pensamento distingue a atitude científica da atitude costumeira ou do senso comum? científico é produzido de maneira sistemática e organizada. Assim, o 7 trabalho de produção do conhecimento científico apresenta algumas que, na verdade, a doença é causada por uma bactéria que se desenvolve em características próprias. São elas: água impura. • Sujeito - O pesquisador, o cientista, a pessoa que procura o Concluindo, a doença não se espalhou por falta de feijão, mas por conhecimento através da ciência. que a água, imprópria para o consumo, que foi utilizada pela população, era Objeto – O que será estudado, o assunto pesquisado pelo cientista. um excelente ambiente para as bactérias que causavam a doença. • Método – A forma pela qual o cientista conseguirá o A opinião dos moradores da comunidade representa o conhecimento conhecimento sobre o objeto proposto. do senso comum, baseado na observação superficial do caso. Já a Dessa forma, o sujeito determina um objeto, estabelece as dúvidas descoberta dos biólogos, que representa o conhecimento científico, ao que ele tem sobre esse objeto, aplica um método no seu trabalho de aplicar um método no estudo do caso, mostrou a verdade sobre as doenças. pesquisa para, só então, alcançar as respostas para as dúvidas que ele tinha sobre o objeto. Por exemplo, a biologia, enquanto ciência, dispõe do CIÊNCIA ANTIGA E CIÊNCIA MODERNA trabalho científico para obter conhecimento. Vamos imaginar que uma determinada doença está afetando a população de uma pequena A Ciência Antiga, desenvolvida pelos gregos, possui uma comunidade isolada no interior do Brasil. característica mais teórica. A intenção dos antigos gregos era conhecer a As pessoas da cidade acreditam que esta doença é causada pela natureza, mas sem interferir nela. Por se distanciar da ação sobre o falta de feijão na alimentação dos habitantes, pois uma enchente devastou conhecimento produzido, a Ciência Antiga mostra-se como uma ciência as plantações. Então, um grupo de biólogos (sujeitos) resolve fazer um teorética. A Ciência Moderna, desenvolvida a partir do século XVII, busca, estudo científico sobre o caso. Eles, então, tem um objeto de estudo: a além do conhecimento teórico da natureza, aplicar esses conhecimentos na doença que afeta a população de pequena comunidade. prática para dominá-la. De acordo com Francis Bacon, ―saber é poder‖, ou então Descartes, ―a ciência deve tornar-nos senhores da natureza‖. Para conhecer as verdadeiras causas da doença em questão, os biólogos vão aplicar métodos. Digamos que eles recolham amostras de sangue e façam a análise desse material em um laboratório. Analisar o sangue coletado no laboratório é o método utilizado. Elas então concluem 8 MUDANÇAS CIENTÍFICAS THOMAS KUNH E A IDEIA DE REVOLUÇÃO A história nos mostra que humanidade evolui ao longo do tempo, Revoluções científicas Já o filósofo Thomas Kuhn, defende que a que mudanças ocorrem no processo histórico. Do mesmo modo, a ciência história da ciência é feita de descontinuidades e rupturas radicais. Esses como uma produção dos seres humanos também passa por mudanças e momentos de ruptura radical é chamado de revolução científica. ―O campo evoluções. Vamos analisar aqui duas ideias diferentes sobre a mudança na científico é criado quando métodos, tecnologias, formas de observação e ciência. experimentação, conceitos e demonstrações formam um todo sistemático, Rupturas epistemológicas Para o filósofo Gaston Bachelard, o uma teoria que permite o conhecimento de inúmeros fenômenos. cientista trabalha utilizando as teorias, os métodos e as tecnologias que A teoria se torna um modelo de conhecimento ou um paradigma dispõe. Porém, quando ele observa que essas teorias, métodos e científico. O paradigma se torna o campo no qual uma ciência trabalha tecnologias não o levam às respostas esperadas ele está diante de um normalmente, sem crises. Kuhn usa a expressão ciência normal para referir- obstáculo epistemológico. se ao trabalho científico no interior de um paradigma estabelecido. Nesse momento é necessário que o cientista negue as teorias, os Em tempos normais, um cientista, diante de um fato ou de um métodos e as tecnologias existentes, realizando a ruptura epistemológica. fenômeno ainda não estudado, o explica usando o modelo ou o paradigma Ao romper com o modelo que existe, uma nova concepção científica surge, científico existente. Em contraposição à ciência normal, ocorre a revolução com novas teorias, métodos e tecnologias, incorporando nessa nova forma científica. Uma revolução científica ocorre quando o cientista descobre que de pensar a ciência conhecimentos anteriores ou afastando-os. Há uma o paradigma disponível não consegue explicar um fenômeno ou um fato descontinuidade nas mudanças científicas, que pode-se dar pela total novo, sendo necessário produzir outro paradigma, até então inexistente e reorganização da ciência, porém sem mudá-la, conhecida como cuja necessidade não era sentida pelos investigadores. descontinuidade externa. Outra descontinuidade nas mudanças científicas Numa revolução científica, não só novos fenômenos são incorpora o conhecimento anterior e é chamada de descontinuidade descobertos e conhecimentos antigos são abandonados, mas há uma interna. mudança profunda na maneira de o cientista ver o mundo, como se passasse a trabalhar num mundo completamente diferente.‖ (MARILENA CHAUÍ, 9 p. 224, 2004) técnica é um conjunto de práticas e receitas elaboradas a partir da Para Kuhn, quando os paradigmas existentes são incapazes de observação e experimentação. Já a tecnologia, é um saber teórico que se aplica praticamente, ―um explicar os objetos estudados, é necessário criar um novo paradigma. objeto é tecnológico quando sua construção pressupõe um saber científico e quando seu uso interfere nos resultados das pesquisas científicas‖. CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS (MARILENA CHAUÍ, p. 222, 2004) Ou seja, a técnica pode ser um De acordo com o tipo de objeto estudado, tipo de método produto do senso comum e a tecnologia um produto da ciência. empregado, tipo de resultado obtido, a ciência apresenta muitas variações. Desde o século XVII, o homem passou a aplicar a ciência na Hoje, as ciências são assim divididas: natureza para dominá-la, era a Ciência Moderna. A partir desse momento, a • Ciências matemáticas ou lógicomatemáticas – aritmética, ciência passou a produzir cada vez mais tecnologia em todos os campos e geometria, algebra, lógica, trigonometria. história mostra que o homem usa tudo o que inventa ou descobre, por pior • Ciências naturais – física, química, biologia, geologia. que seja. O grande e terrível exemplo são o da descoberta da maravilhosa • Ciências humanas ou sociais – psicologia, sociologia, energia do átomo, que levou a construção da bomba atômica. antropologia, geografia humana, economia, linguística, psicanálise, arqueologia, história. • Ciências aplicadas – direito, engenharia, medicina, arquitetura, ÉTICA E CIÊNCIA informática. Cada uma das ciências ainda se subdivide em ramos específicos. Por exemplo, a biologia subdividese em botânica, zoologia, Os seres humanos, ao longo do tempo, para melhor se relacionar fisiologia, genética, etc. com os semelhantes, criam valores. Os valores são padrões de comportamento considerados corretos, são formas pelas quais agimos CIÊNCIA E TECNOLOGIA seguindo aquilo que é colocado como certo. O conjunto desses valores é conhecido como moral. A moral orienta os seres humanos a agir, a realizar Primeiramente, é preciso diferenciar técnica de tecnologia. A ações consideradas corretas. 10 Quando seguimos esses valores morais, temos virtudes. Se não as questões éticas) e considera a responsabilidade moral dos cientistas em seguimos esses valores morais, temos vícios. A ética é o ramo da filosofia suas pesquisas e práticas. Entre os temas abordados, sobressaem-se o que estuda a moral. Assim, a ciência, muitas vezes, coloca em xeque a aborto, a eutanásia, os transgênicos, a fertilização in vitro, a clonagem e os moral, a virtude. As tecnologias produzidas pela ciência leva à questão: testes com animais. A bioética é um campo de estudo propício ao embate esses produtos da tecnologia levam em conta os valores morais da de grupos de interesses distintos como indústrias farmacêuticas, humanidade? Para refletirmos sobre isso vamos utilizar o exemplo da laboratórios de biotecnologia, organizações ambientalistas, associações de biologia, das tecnologias que ela criou e os confrontos éticos que foram consumidores e entidades de classe. gerados. A problemática bioética é numerosa e complexa, envolvendo fortes reflexos imprimidos na opinião pública sobretudo pelos meios de BIOÉTICA comunicação de massa. Alguns exemplos dos temas alarmados: Estas são as principais tecnologias biológicas que geraram conflitos O termo "Bioética" surgiu na década de 1970 e tinha por objetivo e discussões sobre a ética: deslocar a discussão acerca dos novos problemas impostos pelo • Clonagem – a Clonagem é o processo natural ou artificial em que desenvolvimento tecnológico, de um viés mais tecnicista para um caminho são produzidas cópias fiéis de outro indivíduo (homem, animais, etc.), ou mais pautado pelo humanismo, superando a dicotomia entre os fatos seja, a clonagem é o processo que formará um clone. O processo de explicáveis pela ciência e os valores estudáveis pela ética. clonagem natural ocorre em alguns seres, como as bactérias e outros Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas organismos unicelulares que realizam sua reprodução pelo método da bios (vida) + ethos (relativo à ética). Segundo Diniz & Guilhem,"…por ser bipartição. No caso dos humanos, os clones naturais são os gêmeos a bioética um campo disciplinar compromissado com o conflito moral na univitelinos. No processo de clonagem artificial existem várias técnicas de área da saúde e da doença dos seres humanos e dos animais não-humanos, clonagem, uma delas permite clonar um animal a partir de óvulos não seus temas dizem respeito a situações de vida que nunca deixaram de estar fecundados originando indivíduos geneticamente idênticas. em pauta na história da humanidade…" A palavra clone (do grego klon, significa ―broto‖) é utilizada para A bioética, portanto, tem forte ligação com a filosofia (pois discute designar um conjunto de indivíduos que deram origem a outros por 11 reprodução assexuada. poderá vir a ser possível inverter o processo do envelhecimento A Clonagem é oprocesso natural ou artificial em que são devido à aprendizagem que nos é fornecida através do processo de produzidas cópias fiéis de outro indivíduo (homem, animais, etc.), ou seja, clonagem; a clonagem é o processo que formará um clone. A tecnologia humana da clonagem podia ser usada para O processo de clonagem natural ocorre em alguns seres, como as inverter os ataques cardíacos. Os cientistas afirmam que bactérias e outros organismos unicelulares que realizam sua reprodução conseguirão tratar vítimas de ataques cardíacos através da pelo método da bipartição, além disso, o tatu também produz um clone clonagem das suas células saudáveis do coração, e injetando-as nas através da poliembrionia. No caso dos humanos, os clones naturais são os áreas do coração que foram danificadas. gêmeos univitelinos, ou seja, são seres que compartilham do mesmo material genético (DNA), sendo originado da divisão do óvulo fecundado. Casos de infertilidade. Com a clonagem, os casais inférteis poderiam ter filhos. No processo de clonagem artificial existem várias técnicas de clonagem, A Cirurgia Plástica, reconstrutiva e estética. Devido à uma delas permite clonar um animal a partir de óvulos não fecundados, clonagem humana e à sua tecnologia, os problemas, que, por vezes, sendo este processo conhecido desde o século XIX, estes processos eram ocorrem depois de algumas cirurgias de implantes mamários ou de praticados pelos horticultores que obtinham clones de orquídeas, que outros procedimentos estéticos deixam de existir. As vítimas dos através de tecidos de uma planta matriz, originava dezenas de novas acidentes terríveis que deformam o rosto (por exemplo), devem plantas geneticamente idênticas. assim conseguir voltar a ter as suas características, sendo reparadas e de maneira mais segura. Os membros para amputados também Benefícios poderão vir a ser regenerados. Ao longo da evolução do tempo, foram vários os benefícios que os para a Síndrome de Down poderão evitar esse risco através da cientistas acreditam que a clonagem humana tem. Aqui estão algumas das clonagem; suas ideias sobre o assunto: Casos de Síndrome de Down. As mulheres com risco elevado O rejuvenescimento. Pesquisadores sugerem que um dia, Problemas no fígado e nos rins. Poderá ser possível clonar fígados humanos para transplante dos mesmos; 12 Malefícios organismo original. • Eutanásia – é a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo A possibilidade de comprometer a individualidade; incurável de maneira controlada e assistida por um especialista. A eutanásia Envelhecimento precoce; representa atualmente uma complicada questão de bioética, pois enquanto o Grande número de anomalias; Estado (governo) tem como princípio a proteção da vida dos seus cidadãos, Lesões hepáticas, tumores, baixa imunidade; existem aqueles que devido ao seu estado precário de saúde desejam dar um Os clones poderão ser alvo de discriminação por parte da fim ao seu sofrimento antecipando a morte. É a prática pela qual se abrevia a vida de um enfermo incurável de sociedade; Os clones poderão estar sujeitos a problemas psicológicos maneira controlada e assistida por um especialista. A eutanásia representa desconhecidos, com impacto na família e na sociedade. atualmente uma complicada questão de bioética e biodireito pois enquanto o Estado tem como princípio a proteção da vida dos seus cidadãos, existem aqueles que, devido ao seu estado precário de saúde, desejam dar um fim ao • Células-tronco – as células-tronco, também conhecidas como seu sofrimento antecipando a morte. células-mãe, são células que possuem a capacidade de se dividir dando origem a células de outros tecidos do corpo como ossos, nervos, músculos, Independentemente da forma de Eutanásia praticada, seja ela sangue. Existem dois tipos de células-tronco: Embirionárias, encontradas legalizada ou não (tanto em Portugal como no Brasil esta prática é no cordão umbilical, são capazes de se multiplicar de forma rápida, dando considerada como ilegal), é considerada como um assunto controverso, origem a todas as variedades de tecidos diferenciados; Adultas, existindo sempre prós e contras – teorias eventualmente mutáveis com o encontradas na medula, multiplicam-se lentamente e geram menos tempo e a evolução da sociedade, tendo sempre em conta o valor de uma variedades de tecidos. vida humana. • Transgênicos – são organismos que, mediante técnicas de Em primeiro lugar, é importante ressaltar que a eutanásia pode ser engenharia genética, contêm material genético de outros organismos. A dividida em dois grupos: a "eutanásia ativa" e a "eutanásia passiva". geração de transgênicos visa a obtenção de Embora existam duas "classificações" possíveis, a eutanásia em si consiste organismos com características novas ou melhoradas relativamente ao no ato de facultar a morte sem sofrimento a um indivíduo cujo estado de 13 doença é cronico e, portanto, incurável, normalmente associado a um de ser ator e agente digno até ao fim. imenso sofrimento físico e psíquico. São raciocínios que participam na defesa da autonomia absoluta de A "eutanásia ativa" conta com o traçado de ações que têm por cada ser individual, na alegação do direito à autodeterminação, direito à objetivo pôr término à vida, na medida em que é planejada e negociada escolha pela sua vida e pelo momento da morte. Uma defesa que assume o entre o doente e o profissional que vai executar o ato. interesse individual acima do da sociedade que, nas suas leis e códigos, visa A "eutanásia passiva" por sua vez, não provoca deliberadamente a proteger a vida. A eutanásia não defende a morte, mas a escolha pela morte, no entanto, com o passar do tempo, conjuntamente com a mesma por parte de quem a concebe como melhor opção ou a única. interrupção de todos e quaisquer cuidados médicos, farmacológicos ou Quando uma pessoa passa a ser prisioneira do seu corpo, outros, o doente acaba por falecer. São cessadas todas e quaisquer ações dependente na satisfação das necessidades mais básicas; o medo de ficar só, que tenham por fim prolongar a vida. Não há por isso um ato que provoque de ser um "fardo", a revolta e a vontade de dizer "Não" ao novo estatuto, a morte (tal como na eutanásia ativa), mas também não há nenhum que a levam-no a pedir o direito a morrer com dignidade. Obviamente, o pedido impeça (como na distanásia). deverá ser ponderado antes de operacionalizado, o que não significa a Etimologicamente, distanásia é o oposto de eutanásia. A distanásia desvalorização que tantas vezes conduz esses homens e mulheres a lutarem defende que devem ser utilizadas todas as possibilidades para prolongar a pela sua dignidade anos e anos na procura do não prolongamento de um vida de um ser humano, ainda que a cura não seja uma possibilidade e o processo de deterioramento ou não evolução. Além do mais, em um país sofrimento se torne demasiadamente penoso. como o Brasil, onde o acesso à saúde pública não é satisfatório, a prática da eutanásia é muitas vezes encarada como um modo de proporcionar a Argumentos a favor doentes de casos emergenciais uma vaga nos departamentos de saúde. Para quem argumenta a favor da eutanásia, acredita-se que esta seja Argumentos contra um caminho para evitar a dor e o sofrimento de pessoas em fase terminal ou sem qualidade de vida, um caminho consciente que reflete uma escolha Muitos são os argumentos contra a eutanásia, desde os religiosos, informada, o término de uma vida em que, quem morre não perde o poder éticos até os políticos e sociais. Do ponto de vista religioso a eutanásia é 14 tida como uma usurpação do direito à vida humana, devendo ser um Segundo Enerst Fischer, a preocupação com a beleza sempre exclusivo reservado ao Criador, ou seja, só Deus pode tirar a vida de acompanhou o ser humano: as esculturas gregas, por exemplo, imitavam as alguém. Da perspectiva da ética médica, segundo o qual considera a vida formas ―perfeitas‖ do ser humano, a valorização da força física da como um dom sagrado, sobre a qual o médico não pode ser juiz da vida ou virilidade e da proporcionalidade, que resultam o equilíbrio; da morte de alguém, a eutanásia é considerada homicídio. Cabe assim ao médico, cumprindo seu juramento, assistir o paciente, fornecendo-lhe todo Idade Antiga Sócrates (470aC – 399aC) associou o Belo ao útil – estética e qualquer meio necessário à sua subsistência. funcional e utilitária; Platão (427aC – 348aC) não se preocupou com a Beleza que se Estética Filosófica encontra nas coisas, mas com o Belo em si. Os objetos só são Belos na Antes de inciarmos nosso estudo sobre a estética filosófica, vamos nos medida em que participam da ideia de Beleza, que é perfeita, imutável, perguntar sobre o que sabemos a respeito dela. Então, anote no seu caderno atemporal e suprassensível. ● as respostas que vierem à sua mente sobre as seguintes questões: 1. Para você, o que é a Beleza? 2. O que faz um objeto ser belo ou não ser? 3. Como funciona o julgamento de gosto? parte da ideia de níveis de Beleza até chegar à perfeição; ● os objetos imitam o ideal de beleza; Para Platão, toda arte é imitação da natureza, que é imitação das Respondida essas questões, vamos debatê-las com nossos colegas ideias presentes no mundo suprassensível. Assim, a pintura imita as de sala de aula. O professor irá intermediar a discussão. realidades visíveis e a tragédia e a poesia imitam as ações dos homens. Toda arte distancia-se da verdade, engana as crianças e os homens sem cultura, fazendo-os crer que a realidade verdadeira é aquela representada. Concepção de Beleza na História Vamos conhecer as concepções de beleza durante a história. Nem Aristóteles (384-322 a.C) diz que o belo está no mundo real, sempre houve um mesmo entendimento do que é beleza. Vejamos: associado ao conceito de Bom. O que é bom é belo. 15 As artes são boas pois reforçam os laços da comunidade (função São Tomás de Aquino identificou a beleza com o Bem. As coisas moral e social); é, sobretudo, conhecimento, expressão de uma forma ideal, belas possuem três características ou condições fundamentais: presente na mente do artista, e não vinculada com a emotividade. Segundo ● Integridade ou perfeição (o inacabado ou fragmentário é feio); ele, está presente na arte o componente intelectual, a necessidade do ● a proporção ou harmonia (a congruência das partes); conhecimento, do raciocínio e, portanto, de normas. A arte expressa a ● a claridade ou luminosidade. Como em Santo Agostinho, a beleza visão que o homem tem das coisas, é uma recriação. O que confere a perfeita identifica-se com Deus. beleza a uma obra é a sua proporção, simetria, ordem, isto é, uma justa medida. 3. Idade Moderna - Renascimento Os filósofos relacionam a ideia de Belo à ordem, harmonia e proporção. No Renascimento (séculos XV só em Itália, e XVI em toda a 2. Idade Média o corpo humano é associado ao mundo material, aos valores Europa), os artistas adquirem a dimensão de verdadeiros criadores. Os terrenos e desprezados em relação aos valores espirituais. O corpo é visto gênios têm o poder de criar obras únicas, irrepetíveis. Começa a como o oposto da busca divina, é símbolo do pecado e do erro; desenvolver-se uma concepção elitista da obra da obra de arte: a verdadeira A arte medieval não valoriza a simetria no corpo humano. As arte é aquela que foi criada unicamente para o nosso deleite estético, e não figuras humanas têm formas retilíneas e triangulares, apontando para as possui qualquer utilidade. alturas (céu). Entre os séculos XVI e XVIII continuaram a predominar as estéticas Durante a Idade Média, o cristianismo difundiu uma nova de inspiração aristotélica. Procura-se definir as regras para atingir a concepção da beleza, tendo como fundamento a identificação de Deus com perfeição na arte. As academias que se difundem a partir do século XVII, a beleza, o bem e a verdade. velam pelo seu estudo e aplicação. Santo Agostinho concebeu a beleza como todo harmonioso, isto é, Paralelamente começam a adquirir crescente importância ideias com unidade, número, igualdade, proporção e ordem. A beleza do mundo estéticas que afirmam a subjetividade do belo. A questão é reduzida a um não é mais do que o reflexo da suprema beleza de Deus, onde tudo emana. problema de gosto (sensitivo, não normativo). A partir da beleza das coisas podemos chegar à beleza suprema (a Deus). 16 a) A romântica, que proclama um valor supremo para a arte (F. 4. Idade Contemporânea Na segunda metade do século XVIII, a sociedade europeia Schiller, Schlegel, Schelling, etc). Exalta o poder dos artistas, os atravessa uma profunda convulsão. O começo da revolução industrial, a quais através das suas obras revelam a forma suprema do espírito guerra da Independência Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789) humano, o Absoluto. criaram um clima propício ao aparecimento de novas ideias. O principal b) A realista, que defende o envolvimento da arte nos combates movimento artístico deste período, foi o neoclássico que toma como fonte sociais. As obras de arte assumem muitas vezes, um conteúdo de inspiração a antiga Grécia e Roma. A arte neoclássica será utilizada de político manifesto. forma propagandística durante a Revolução Francesa e no Império 4.2 Rupturas napoleônico. O século XX foi a todos os níveis um século de rupturas. No É neste contexto que surge Imanuel Kant, o principal criador da estética domínio das práticas artísticas, ocorrem importantes mudanças no contemporânea. Para este filósofo, os nossos juízos estéticos têm um entendimento da própria arte, em resultado de uma multiplicidade de fundamento subjetivo, dado que não se podem apoiar em conceitos fatores, nomeadamente: determinados. O critério de beleza que neles se exprimem é o do prazer a ) A integração no domínio da arte de novas manifestações criativas. Umas desinteressado que suscita a nossa adesão. Apesar de subjetivo, o juízo já existiam mas estavam desvalorizadas, outras são relativamente recentes. estético, aspira à universalidade. Esta integração permitiu esbater as fronteiras entre a arte erudita e a arte 4.1 Novos Conceitos para grandes massas. Entre as primeiras destacam-se as artes decorativas, a Ao longo do século XIX a arte atravessa profundas mudanças. O art naif, a arte dos povos primitivos atuais, o artesanato urbano e rural. academismo é posto em causa; artistas como Courbet, Monet, Manet, Entre as segundas destacam-se a fotografia, o cinema, o design, a moda, a Cézanne ou Van Gogh abrem uma ruptura com as suas normas e rádio, os programas televisivos, etc. Todas estas artes são hoje colocadas convenções, preparando desta maneira o terreno para a emergência da arte em pé de igualdade com as artes consagradas, como a pintura, escultura moderna. Surge então múltiplas correntes estéticas, sendo de destacar as etc., denominadas também por "Belas Artes". seguintes: b ) Os movimentos artísticos que desde finais do século XIX tem aparecido, em todo o mundo, tem revelado uma mesma atitude 17 desconstrutiva em relação a todas as categorias estéticas. Todos os Visões idealista e empirista conceitos são contestados, e todas as fronteiras entre as artes são postas em causa. A arte foi des-sacralizada, perdeu a sua carga mítica e iniciática de Para os filósofos idealistas - cuja tradição começa na antiguidade que se revestiu em épocas anteriores, tornando-se frequentemente um mero com o filósofo grego Platão - a beleza é algo que existe em si, é objetiva. produto de consumo. Quase tudo pode ser considerado como arte basta De acordo com a teoria platônica, a Beleza seria uma forma ideal que para tanto que seja "consagrado" por um artista. subsistiria por si mesma, como um modelo, no mundo das ideias. E o que c ) No domínio teórico aparecem inúmeras as teorias que defendem novos percebemos no mundo sensível e achamos bonito só pode ser considerado critérios para apreciação da arte. No panorama das teorias estéticas belo porque se assemelharia a ideia de beleza que trazemos guardada em predominam as concepções relativistas. Podemos destacar três correntes nossa alma. fundamentais: Para os materialistas - empiristas, como o filósofo escocês David - As estéticas normativas concebem a beleza fundamentada em princípios Hume (1711 - 17760), a beleza não está propriamente nos objetos (não é inalteráveis. Entre elas sobressaí a estética fenomenológica de Edmund algo puramente objetivo), mas depende do gosto individual, da maneira Husserl. como cada pessoa vê e valoriza o objeto - ou seja, o juízo do que é ou não - As estéticas marxistas e neomarxistas marcadas por uma orientação belo é subjetivo. Esse gosto estético seria, em grande parte, desenvolvido nitidamente sociológica. O realismo continuou a ser a expressão que sob a influência da cultura em que se vive. melhor se adéqua às ideias defendidas por esta corrente. A arte nos países socialistas, por exemplo, cumpria através de imagens realistas uma Visão de Kant importante função: antecipar a "realidade" da sociedade socialista, transformando-a numa utopia concreta. Tentando superar esse impasse, Immanuel Kant buscou mostrar que, - A estética informativa que deriva das teorias matemáticas da informação. embora o juízo estético sobre as coisas seja uma capacidade subjetiva, Esta estética procura constituir um sistema de avaliação dos conteúdos pessoal, há aspectos universais na perspectiva estética dos indivíduos. Ou inovadores presentes numa obra de arte. seja, nossa estrutura sensível (os órgãos dos sentidos) e nossa imaginação são as condições que tornam possível a percepção estética, mas essas 18 condições são comuns a todos os seres humanos e, nesse sentido, pode humana, o filósofo alemão Georg W. Friedrich Hegel (1770 - 1831) haver certa universalidade nas avaliações estéticas. Vejamos como o trabalhou a questão da beleza em uma perspectiva histórica. filósofo justifica isso. Para ele, o relativo consenso acerca dos quais são as coisas belas, No entanto, Kant também diz que ―belo é o que apraz mostra apenas que o entendimento do que é belo depende do momento universalmente sem conceito‖. Isso significa que é impossível conceituar, histórico e do desenvolvimento cultural. Esses dois fatores determinariam de definir racionalmente, o belo, pois, quando se julga objetos certa visão de mundo, a partir da qual algumas coisas seriam consideradas simplesmente segundo conceitos, toda a representação da beleza é perdida. belas e outras não. Mas, quando dizemos que algo é belo, pretendemos que esse juízo esteja Hegel procurou demonstrar essa tese analisando a história da arte, afirmando algo que realmente pertence ao objeto, ou seja, não dizemos da antiguidade até seu tempo, e demonstrando que a noção de belo variava ―isto é belo para mim‖, mas sim ―isto é belo‖, esperando que os demais conforme a época e o lugar. concordem com esse julgamento: portanto, esse julgamento pretende ser Por isso, em Hegel, a beleza artística não diz respeito apenas à voz universal, pois contém uma expectativa de aquilo que julgamos belo sensação de prazer que determinada obra possa proporcionar, mas à seja, de fato, belo. capacidade que ela tem de sintetizar um dado conteúdo cultural de um Essa expectativa tornar-se possível, para Kant, devido ao determinado momento histórico. fundamento do juízo do gosto, que seria a vinculação universal entre o Em outras palavras, a arte não é apenas fruição: tem como função belo e o sentimento de prazer. E, como determinados objetos despertam mostrar, de modo sensível, a evolução espiritual dos seres humanos ao em grande quantidade de pessoas o mesmo sentimento de prazer, é longo da história. Se uma obra consegue isso, ela é bela, de acordo com possível supor a existência de certa universalidade nos juízos estéticos. Hegel. Mesmo a representação de algo feio pode ser belo, e o será quanto mais conseguir comunicar às pessoas o sentido de mostrar ―aquele feio‖. Essa concepção hegeliana implica também a ideia de que a Visão de Hegel percepção da beleza depende do alargamento da capacidade de recepção do Diferentemente de Kant, que em sua reflexão levou em indivíduo, ou seja, de sua capacidade de ver, ouvir, sentir. Em outras consideração apenas as condições da própria estrutura da sensibilidade palavras, a capacidade estética, que é subjetiva, seria formada a partir das 19 relações objetivas da vivência social de cada um. Portanto, para Hegel, ● expressão do sentimento humano - a arte é sempre a manifestação tanto a definição do que é beleza quanto a capacidade individual de (expressão) dos sentidos humanos. Esses sentimentos podem revelar percebê-la são construções histórico-sociais. emoções diante daquilo que amamos ou revolta em face dos problemas que atingem uma sociedade. Sentimentos de alegria, esperança., alegria ou decepção diante da vida. A função primordial ARTE, O QUE É? da arte seria ―objetivar os sentimentos de modo que possamos A arte pode ter várias definições. Entre elas encontra-se a de contemplá-lo e entendê-lo. É a formulação da chamada ‗experiência Susanne K. Langer (1895-1985), filósofa estadunidense, para quem a arte interior‘, da ‗vida interior‘, que é impossível atingir pelo pode ser entendida como a prática de criar formas perceptíveis pensamento discursivo‖ (Langer, Ensaios filosóficos). expressivas do sentimento humano. Analisemos, então, o conteúdo essencial dos termos dessa definição. ● prática de criar - a arte é o produto do fazer humano. Deve FENÔMENO SOCIAL combinar habilidade desenvolvida no trabalho (prática) com a imaginação (criatividade); ● Há estudiosos que veem na obra de arte uma manifestação pura e formas perceptíveis - a arte concretiza-se em formas capazes de simples da sensibilidade individual do artista. Outros a encaram com uma serem percebidas por nossa mente. Essas formas podem ser atividade plenamente lúdica, gratuita,livre de quaisquer preocupações estáticas (uma obra arquitetônica, uma escultura) ou dinâmicas utilitárias ou condicionamentos exteriores à sua própria criação. (uma música, uma dança). Qualquer que seja sua forma de Não é preciso negar totalmente a validade de cada uma dessas expressão, cada obra de arte é sempre um todo perceptível, com concepções para reconhecer na atividade artística outra característica identidade própria. A palavra perceptível não se refere às formas importante: o fato de que a arte é um fenômeno social. Isso significa que é captadas apenas pelos sentidos exteriores, mas também pela impossível situar uma obra de arte sem estabelecer um vínculo entre ela e imaginação; determinada sociedade. A arte é fenômeno social porque: 20 ● o artista é um ser social - como ser social, o artista reflete na obra de arte sua maneira própria de sentir o mundo em que vive, as Tudo indica que o termo indústria cultural foi empregado pela alegrias e as angústias, os problemas e as esperanças de seu primeira vez no livro Dialektik der Aufklãrung, que Horkheimer e eu momento histórico; publicamos em 1947, em Amsterdã. Em nossos esboços tratava-se do a obra de arte é percebida socialmente pelo público - por mais problema da cultura de massa. Abandonamos essa última expressão para íntima e subjetiva que seja a experiência do artista em sua obra, substituí-la por "indústria cultural", a fim de excluir de antemão a esta será sempre percebida de alguma maneira pelas pessoas. A interpretação que agrada aos advogados da coisa; estes pretendem, com obra de arte será, então, um elemento social de comunicação da efeito, que se trata de algo como uma cultura surgindo espontaneamente das mensagem de seu criador. próprias massas, em suma, da forma contemporânea da arte popular. Ora, Como fenômeno social, a arte possui,portanto, relações com a dessa arte a indústria cultural se distingue radicalmente. Ao juntar sociedade. Essas relações não são estáticas e imutáveis; ao contrário, são elementos de há muito correntes, ela atribui-lhes uma nova qualidade. Em dinâmicas, modificando-se conforme o contexto histórico. E envolvem três todos os seus ramos fazem-se, mais ou menos segundo um plano, produtos elementos fundamentais: a obra de arte, seu autor e o público. Forma-se adaptados ao consumo das massas e que em grande medida determinam em torno desses três elementos os vínculos entre arte e sociedade ―num esse consumo. Os diversos ramos assemelham-se por sua estrutura, ou pelo vasto sistema solidário de influências recíprocas‖ (CANDIDO, literatura e menos ajustam-se uns aos outros. Eles somam-se quase sem lacuna para sociedade). constituir um sistema. Isso, graças tanto aos meios atuais da técnica, quanto ● No que diz respeito ao artista, as relações de sua arte com a à concentração econômica e administrativa. A indústria cultural é a sociedade pode ser de paz e harmonia, de fuga e ilusão, de protestos e integração deliberada, a partir do alto, de seus consumidores. Ela força a revolta. Quanto à sociedade - considerando principalmente os órgãos de união dos domínios, separados há milênios, da arte superior e da arte estado - , seu relacionamento com determinada arte pode ser de ajuda ou inferior. Com o prejuízo de ambos. A arte superior se vê frustrada de sua de censura e limitação á atividade criadora. seriedade pela especulação sobre o efeito; a Inferior perde, através de sua domesticação civilizadora, o elemento de natureza resistente e rude, que lhe era inerente enquanto o controle social não era total. Na medida em que A INDÚSTRIA CULTURAL 21 nesse processo a indústria cultural inegavelmente especula sobre o estado indústria cultural é o primado imediato e confesso do efeito, que por sua de consciência e inconsciência de milhões de pessoas às quais ela se dirige, vez é precisamente calculado em seus produtos mais típicos. A autonomia as massas não são, então, o fator primeiro, mas um elemento secundário, das obras de arte, que, é verdade, quase nunca existiu de forma pura e que um elemento de cálculo; acessório da maquinaria. O consumidor não é rei, sempre foi marcada por conexões de efeito, vê-se no limite abolida pela como a indústria cultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria cultural. Com ou sem a vontade consciente de seus promotores. indústria, mas seu objeto. O termo mass media, que se introduziu para Estes são tanto órgãos de execução como também os detentores de poder. designar a indústria cultural, desvia, desde logo, a ênfase para aquilo que é Do ponto de vista econômico, eles estavam à procura de novas inofensivo. Não se trata nem das massas em primeiro lugar, nem das possibilidades de aplicação de capital em países mais desenvolvidos. As técnicas de comunicação como tais, mas do espírito que lhes é insuflado, a antigas possibilidades tornam-se cada vez mais precárias devido a esse saber, a voz de seu senhor. A indústria cultural abusa da consideração com mesmo processo de concentração, que por seu turno só torna possível a relação às massas para reiterar, firmar e reforçar a mentalidade destas, que indústria cultural enquanto instituição poderosa. A cultura que, de acordo ela toma como dada a priori, e imutável. É excluído tudo pelo que essa com seu próprio sentido, não somente obedecia aos homens, mas também atitude poderia ser transformada. As massas não são a medida mas a sempre protestava contra a condição esclerosada na qual eles vivem, e nisso ideologia da indústria cultural, ainda que esta última não possa existir sem lhes fazia honra; essa cultura, por sua assimilação total aos homens, torna- a elas se adaptar. se integrada a essa condição esclerosada; assim, ela avilta os homens ainda As mercadorias culturais da indústria se orientam, como disseram uma vez. As produções do espírito no estilo da indústria cultural não são Brecht e Suhrkamp há já trinta anos, segundo o princípio de sua mais também mercadorias, mas o são integralmente. Esse deslocamento é comercialização e não segundo seu próprio conteúdo e sua figuração tão grande que suscita fenômenos inteiramente novos. Afinal, a indústria adequada. Toda a práxis da indústria cultural transfere, sem mais, a cultural não é mais obrigada a visar por toda parte aos interesses de lucro motivação do lucro às criações espirituais. A partir do momento em que dos quais partiu. Esses objetivaram-se na ideologia da indústria cultural e às essas mercadorias asseguram a vida de seus produtores no mercado, elas já vezes se emanciparam da coação de vender as mercadorias culturais que, de estão contaminadas por essa motivação. Mas eles não almejavam o lucro qualquer maneira, devem ser absorvidas. A indústria cultural se transforma senão de forma mediata, através de seu caráter autônomo. O que é novo na em public relations, a saber, a fabricação de um simples good-will, sem 22 relação com os produtores ou objetos de venda particulares. Vai-se entrada, nem taxa de uso. Só a conta de luz. Não precisamos sair de casa, procurar o cliente para lhe vender um consentimento total e não-crítico, enfrentar a condução, o trânsito, a fila. Basta ligar o aparelho, ficar à faz-se reclame para o mundo, assim como cada produto da indústria vontade, podendo até fazer outra coisa, enquanto assistimos à TV. cultural é seu próprio reclame. Como ela conseguiu conquistar todo esse espaço? ADORNO, Theodor W. "Indústria cultural". In COHN, Gabriel. Comunicação e indústria cultural. São Paulo, Na-cionat/Edusp, 1971. p. TV como meio de comunicação de massa 287-288. Há inúmeras discussões sobre se a televisão é um bem ou um mal. A televisão — Mãe, o jantar já está pronto? Tô com muita fome. De um lado, coloca-se o seu caráter de democratização da cultura, uma vez — Ah, só depois que acabar a novela. que é acessível a todos, indistintamente. De outro, discute-se a sua função — Joãozinho, você já deu a comida do cachorro? alienadora e de formação da opinião pública, e manipuladora, por se - Ih!, esqueci. No próximo intervalo eu dou. aproveitar da natureza emocional, intuitiva e irreflexiva da comunicação — Você viu a maldade que a Mercedes fez com a mãe? É ruim, por mesmo. Merece perder o marido. imagens. Nas palavras de Umberto Eco, filósofo italiano contemporâneo, temos: — Tá falando da vizinha? "Lembremos que uma educação através da imagem tem sido típica — Não! A Mercedes da novela. de toda sociedade absolutista e paternalista: do Antigo Egito à Idade Média. Entre os meios de comunicação de massa, o que tem maior público A imagem é o resumo visível e indiscutível de uma série de conclusões a é a televisão. Se olharmos o panorama das cidades de qualquer tamanho, que se chegou através da elaboração cultural; e a elaboração cultural que se no centro ou na periferia, veremos uma quantidade impressionante de vale da palavra transmitida por escrito é apanágio da elite dirigente, ao antenas nos telhados. passo que a imagem final é construída para a massa submetida. Nesse Em preto-e-branco ou em cores, ela é presença obrigatória em sentido, têm razão os maniqueus: há na comunicação pela imagem algo de todos os lares. Representa informação e diversão gratuitas. Gratuitas? radicalmente limitativo, de insuperavelmente reacionário. E, no entanto, Depois de comprado o aparelho, assim parece. Não precisamos pagar não se pode rejeitar a riqueza de impressões e descobertas que, em toda a 23 história da civilização, os discursos por imagens deram aos homens." compram o espaço publicitário. Ou seja, do poder político e econômico do (Apocalípticos e integrados, p. 363.) país. Na verdade, tanto um aspecto quanto outro estão presentes. A TV, Linguagem da TV como meio de comunicação, não é boa nem má, apesar de, por ser parte da indústria cultural, vir marcada pela ideologia da classe dominante. O que caracteriza o veículo TV e estrutura sua linguagem Os problemas, no entanto, começam a se agravar a partir do específica, distinguindo-o do cinema, é a possibilidade de transmissão momento em que o meio passa a ser usado. É sua utilização, portanto, que direta, no momento em que as coisas acontecem. Essa é a força da deve ser analisada, utilização que se dá em uma determinada sociedade, televisão: sua atualidade, a instantaneidade entre o acontecimento e sua historicamente situada e composta por sujeitos com características apresentação. específicas. Essa característica leva os espectadores a confundir realidade e Para tanto, precisamos levantar os elementos que compõem a representação, fazendo-os acreditar que a TV é um veículo "transparente", linguagem televisiva e seu uso na sociedade brasileira. objetivo e não-deformador da realidade. Antes de mais nada, vamos lembrar que, no Brasil: Ora, é preciso que nos lembremos de que cada imagem que aparece • o canal de televisão é concessão do Estado, que pode ser suspensa no vídeo é fruto de uma escolha em termos de enquadramento (quais os a qualquer momento. Assim, só têm canal de TV os grupos que interessam elementos que vão ser mostrados e quais os que vão ser deixados de lado; ao Estado, que não farão oposição contínua e que não defenderão um tipo quais os que aparecerão em primeiro plano, portanto maiores e mais diferente de ideologia; visíveis, quais em último plano, e assim por diante); de seqüência (qual a • a TV é um empreendimento comercial privado e, como tal, visa o cena que vem em primeiro, segundo, terceiro... até o último lugar); de texto lucro; ou música que acompanhará a imagem. Quem escolhe as imagens que vão • a TV é sustentada pelos anunciantes, que, antes de gastarem sua ao ar é o diretor do programa. Assim, é ele que elabora a interpretação dos verba de publicidade, verificam o índice de audiência de cada programa. fatos. Como resultado, o que aparece em nosso aparelho de TV já não é a Portanto, o conteúdo da programação sofre vários tipos de realidade, mas um relato, uma representação dessa realidade, segundo o influência e de "censura"; do Estado e dos grupos econômicos que ponto de vista do diretor do programa. 24 Esta primeira característica da linguagem da TV dá origem a toda mundo que aparece de modo fragmentário, impedindo que os uma estética televisiva; o naturalismo. Todos os outros programas que não telespectadores, que somos todos nós, tenhamos a visão do todo, que possa- são transmitidos ao vivo imitam essas transmissões. Os cenários mos atribuir um sentido global ao mundo e que encontremos o nosso lugar cuidadosamente preparados no estúdio dão a impressão da saia de visitas específico de ação. da casa de alguém, da cozinha, do jardim, da praça, da escola, da redação E, finalmente, a linguagem televisiva caracteriza-se por assumir a do jornal, e assim por diante. forma de espetáculo. Uma segunda característica da linguagem televisiva é sua. O que é espetáculo? É tudo o que chama a atenção, atrai e prende o fragmentação. Toda programação é estruturada aos pedaços, os chamados olhar. blocos, separados pela apresentação da propaganda. Assim, enquanto A televisão, trabalhando sobre a forma de apresentação de seus texto, teremos sempre rupturas, e o espectador deve aprender a fazer as programas, transforma qualquer conteúdo em espetáculo de grande eficácia ligações entre um bloco e outro. visual. Como terceira característica, apontamos o ritmo acelerado da É só pensarmos na transmissão pela TV da Guerra do Golfo, no linguagem televisiva, que está ligado à primeira característica, a início de 1991, para compreendermos como funciona a linguagem da instantaneidade da representação. O tempo da TV é o tempo moderno, da televisão. indústria, da eficiência, da metrópole. Esta característica tem, como Foi a primeira transmissão direta de uma guerra. Ela veio parar conseqüência, a superficialidade com que os assuntos são tratados na TV. dentro de nossas casas. No entanto, o conteúdo "guerra", inevitavelmente Para ser entendido de maneira rápida, o conteúdo deve ser diluído, ligado a morte, destruição, dor, sofrimento, foi esvaziado e ficamos com o reduzido a sua forma mais estereotipada ou massificada. Assim, os espetáculo "limpo" de preparações otimistas, com soldados bem- acontecimentos são retirados do desenrolar histórico, onde encontramos alimentados, bem-vestidos e suas máquinas mortíferas bem cuidadas, frutos suas raízes e suas causas, e são apresentados como se fossem fatos da mais desenvolvida tecnologia. As próprias cenas de bombardeio foram isolados, sem nenhuma análise que os explique. vistas através de aparelhos: viu-se indistintamente o alvo sendo E, outra vez, aparece a fragmentação. Agora, não mais como enquadrado, a bomba atingindo-o com perfeição. As implicações da des- recurso de linguagem, mas como recurso ideológico. É a própria visão de truição, no entanto, jamais foram levadas adiante. Os poucos feridos que vi25 mos foram apresentados em cenas rápidas, sem grandes explicações. Quem todas as classes sociais, a todas as idades, a todos os níveis de cultura, dos eram? Onde moravam? O que pensavam da guerra? Quais suas necessida- analfabetos aos intelectuais. des ou desejos? O que aconteceu com eles depois? Sobreviveram? Ficaram Ligar a TV é um hábito estabelecido dentro do nosso cotidiano. Podemos assisti-la sozinhos ou com a família e/ou amigos, em sala clara, enquanto a vida continua ao nosso redor e interfere no modo de nos relacionarmos com a TV. Como o próprio texto televisivo é entrecortado por anúncios, ele nos dá a pausa para o café, o lanche, o copo d'água, o telefonema, o dedo de conversa. Mesmo durante o programa que nos interessa, podemos estar, também, fazendo outra coisa, com um olho cá, outro lá. Essas condições da recepção da programação televisiva ajudam a fisicamente deficientes? Não saberemos jamais. A estrutura do espetáculo, "naturalizá-la", isto é, a fazer com que passemos a considerar natural tudo o que prende nossa atenção, neutraliza todos os conteúdos, pois os trata que é apresentado pela TV, uma vez que está dentro do nosso mundo como se tudo tivesse o mesmo valor. No caso da Guerra do Golfo, as cenas habitual. E, assim como aceitamos o nosso cotidiano, aceitamos o que é de guerra foram apresentadas, alternadamente, com as cenas dos desfiles oferecido pela TV, passivamente, sem maiores discussões ou críticas. de carnaval, no Sambódromo. Tudo igual, com a mesma ênfase. Na Por que não desligamos o aparelho quando o programa não agrada? verdade, tudo se passa no mundo da fantasia. Tanto faz que seja o Por que temos o hábito de ligar sempre em um só canal, em vez de procurar carnaval, a guerra, o terremoto, a enchente, a novela ou o programa de programas mais interessantes em outros? auditório. Talvez a tensão criada pelo trabalho fragmentado, pelas dificuldades TV e público de vida e de realização pessoal leve-nos a sermos telespectadores passivos, que se entregam àquilo que o grupo produtor da programação de TV quer Como já dissemos no início, entre os meios de comunicação de nos dar. massa, a TV é o que tem público mais vasto e indiferenciado: é acessível a 26 Se pensarmos, em termos de Brasil, no número de analfabetos, no importantes poderes existentes na sociedade, uma vez que ele é número de alfabetizados que saíram da escola após poucos anos, sem fundamental para a organização e administração do Estado. terminá-la, nos que trabalham desde os doze ou catorze anos, na pobreza Quando observamos apressadamente o Estado - na sua forma crescente que obriga a trabalhar cada vez mais e ter cada vez menos tempo constituída como aí está - nos escapa o fato de que ele é resultado de livre, a questão da recepção passiva e, com ela, a questão da alienação — inúmeras mudanças internas provocadas pelas lutas políticas que buscam se como fuga da própria realidade que parece insuportável através do afirmar hegemonicamente. Estas lutas são formadas a partir da disputa dos espetáculo superficial e atraente oferecido pela telinha — são perfeitamen- poderes. te explicáveis. Os modelos de governo ou formas de governar procuraram se Nessa perspectiva, portanto, a discussão não deve girar em torno de afirmar neste jogo. As reivindicações da sociedade desenvolvem uma devermos ou não assistir televisão, nem se esta é um bem ou um mal, pois lógica de necessidades ou demandas a serem atendidas pelo Estado e a arte ela é uma realidade do nosso mundo. de governar apresentase como um conjunto de habilidades e compreensões O que devemos discutir é como assistir televisão de uma forma acerca deste processo de conhecimento ou saber sobre a sociedade e suas mais crítica, percebendo os valores que estão sendo propostos, discutindo reivindicações. Isto pode ser traduzido como disputa de poder. Este poder é com outras pessoas, na própria escola, por que eles são propostos e se uma governamentalidade, ou seja, um processo que se constitui servem para nós, para nossa realidade. historicamente, somando administração, organização e saberes. Constrói-se um governo a partir do entendimento das questões que envolvem uma população e a utilização de recursos técnicos para suas ações. Para o autor, Microfisica do Poder - Governamentalidade: Governo e Poder - a segurança é um tema importante no sentido de conduzir rumo à formação Foucault de um governo. Para Foucault, o poder é o que estrutura a sociedade e a mantém A preocupação em governar, tendo como referência os indivíduos, hierarquicamente organizada. É o conjunto de poderes menores se apóia-se em um tripé: segurança, população e governo constituído. Porém, exercendo continuamente no seu interior, quase imperceptível, que dá à ao longo da história os governos se voltaram para problemáticas diferentes sociedade sua organização. Neste sentido, o poder do Estado é um dos 27 a cada época da existência do Estado, evoluindo na superação dos se desenvolver uma série considerável de tratados que se apresentam não problemas e gerando um Estado cada vez mais complexo. mais como conselhos aos príncipes (...) mas como arte de governar‖. Deste modo, o governo é aquele que pode arrebanhar e conduzir seus súditos ao bem viver na A Forma de Governar Medieval sociedade ou garantir a convivência. Introduz-se a ideia de coletividade. Se fizermos uma retrospectiva histórica, compreenderemos melhor O governo foca sua preocupação nos seus problemas internos e a reflexão de Foucault a cerca do problema: a forma de governo. humanos. Com o Renascimento Cultural a concepção antropocêntrica Primeiro devemos compreender a seguinte proposição: governar e suplanta a teocêntrica. exercer poder seguem a mesma orientação. Deste modo, na Idade Média a Portanto, a sociedade moderna, desenvolverá também uma ideia questão do poder estava voltada para Deus e seus pressupostos moderna de homem e de governo. A arte de governar encontra-se voltada, teocêntricos. Isto de certa forma alimentava a preocupação do Governo, também, para o aspecto terreno das relações que os homens estabelecem. uma vez que necessitava da cultura teocêntrica para manter seu poder como Poder outorgado por Deus, ou seja, na Idade Média o poder terreno A Mentalidade Moderna dos reis se originava do poder divino. Diz Foucault: Certamente, na Idade Média ou na Antiguidade grecoromana, sempre existiram tratados que se apresentavam como conselhos ao príncipe quanto ao modo de se comportar, de exercer o poder, de ser aceito e respeitado pelos súditos; conselhos para amar e obedecer a Deus, introduzir na cidade dos homens a lei de Deus, etc. (FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. [Organização e tradução de Robert Machado]. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979, pág. 277). Nesse sentido, convém compreender a concepção de homem ocidental produzida pelo Cristianismo, a partir do renascimento cultural. Segundo a historiadora de mentalidades Agnes Heller, no texto intitulado: ―Homem do Renascimento‖ 3 , na introdução: Terá Havido um Ideal Renascentista do Homem?, nos dá a ideia de que o renascimento cultural A partir do século XVI surge a concepção de ―bom governo‖ ou produziu um ideal de homem para a modernidade. Este ideal encontra-se ―bem governar‖, ou seja, a ideia de política aparece associada a uma arte fundado na concepção de um homem dinâmico, isto é, a idéia de um de governar, uma técnica ou um conjunto de procedimentos e compreensão homem capaz de conduzir-se no mundo com referenciais que combinam sobre a sociedade. ―A partir do século XVI até o final do século XVIII, vê- dinamismo e eticidade cristã. Em outras palavras, um homem que pudesse 28 mediar a hipocrisia absoluta (proposta pela filosofia política de Maquiavel) Clausewitz, da relação entre política e estratégia e da importância política, e a ingenuidade absoluta (proposta pela filosofia política platônica), manifestada por exemplo pelo Congresso de Viena, em 1815, que se sabendo que tanto o ingênuo quanto o hipócrita estão condenados ao atribuiu ao cálculo das relações de força considerado como princípio de fracasso, deveria, portanto, este homem constituir-se de modo astuto para inteligibilidade e de racionalização das relações internacionais; finalmente, perceber diante de si a hipocrisia humana e ao mesmo tempo não deixar-se no contexto da unificação territorial da Itália e da Alemanha, na medida em levar ingenuamente, tendo a possibilidade de fazer suas escolhas com que Maquiavel foi um dos que procuraram definir em que condição a referência a um bem e capaz de ir além das fronteiras geográficas e unificação territorial da Itália poderia ser realizada. estabelecer relações políticas em projeções mundiais. Isto em decorrência Apesar de ser uma obra moderna O Príncipe, de Maquiavel, da complexidade vivida pela fase moderna, bem como o desenvolvimento encontrou fortes oposições a sua proposição política. Esta oposição diz econômico, da ciência e as extensões territoriais e os aumentos respeito, prioritariamente, ao princípio de governabilidade que o mesmo dá populacionais no âmbito do Estado Moderno. ao monarca. O governo nesta proposta se constituiria a partir dos seguintes Consequentemente gerou-se dois problemas: de um lado, grandes aspectos: um governo imposto pela força ou dominação de principados Estados a serem administrados somados à aquisição de uma corrida mais fracos; constituindo-se assim um governo exterior, estrangeiro e política colonialista; e de outro, processos diversos de organização do estranho ao povo dominado; a Monarquia hereditária concebe um Estado para atender esta demanda que se torna cada vez mais complexa. governante doado e não escolhido por qualidade dos seus súditos e Outra referência importante na ideia de constituição de governo, na transcende o povoado uma vez que não há um pertencimento natural aos fase moderna, assenta-se sobre as orientações de Maquiavel, uma vez que, súditos e é um governo conquistado por alianças, sendo estranho à separado por um período na história, os objetivos do Estado e as organização interna do povoado. reivindicações por poder se constituem em aspectos semelhantes e Este conjunto de fatores torna o domínio do Príncipe fragilizado, amparam-se nas orientações dadas por Maquiavel ao príncipe: O que se uma vez que não estabelece relações mais estreitas com seus dominados. deu no contexto preciso da Revolução Francesa e de Napoleão, quando se Não se tem uma relação essencial que torna possível uma unidade colocou a questão de como e em que condições se pode manter a soberania administrativa. de um soberano sobre um Estado; no contexto do aparecimento, com aparentemente como inimigo, uma vez que a relação entre eles não é 29 Não há confiança. Todos podem se apresentar natural e nem garantida pela lei. ―(...) Na medida em que é uma relação de é resultante de uma política mais cientifica e reflexiva que apresenta o exterioridade, ela é frágil e estará sempre ameaçada, exteriormente pelos governante como mais uma parte deste poder que se organiza no interior do inimigos do príncipe que querem conquistar ou reconquistar seu Estado ou da Sociedade. Por isso, a arte representa uma técnica de governar principado e internamente, pois não há razão a priori, imediata, para que os súditos aceitem o governo do príncipe‖. A Arte de Governar: o Exercício do Poder pelo Saber Desse modo, a unidade encontra-se comprometida. O domínio externo não garantiu uma unidade interna e sim uma ameaça, uma O poder, como manifestação múltipla, está entrelaçado na oposição. Em outras palavras, o poder gera sempre o seu contrário: o sociedade, sendo a possibilidade dela se estruturar hierarquizada e contra-poder. Cabe ao Príncipe nessas condições ficar sempre atento e ordenadamente. Ele permite que a sociedade se organize e por meio da vigilante para não lhe escapar o poder. linguagem pulverize o poder desde sua base até o seu ápice. ―(...) No fundo em qualquer sociedade, existem relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que estas relações de poder não podem se dissociar, se estabelecer nem funcionar sem uma produção, uma acumulação, uma circulação e um funcionamento do discurso‖ . FOUCAULT, Microfísica do Poder, 1979, pág. 179. Desenvolver habilidades para garantir a duração de seu reinado e conservar-se no poder. Entretanto, a oposição em relação a esta concepção de Maquiavel surge no sentido de diferenciar, para a reflexão moderna de Estado e poder, a habilidade de conservar o poder com a arte de governar. ―O Príncipe de Maquiavel é essencialmente um tratado da habilidade do Deste modo, o poder se encontra diluído em todas as esferas sociais, príncipe em conservar seu principado e é isto que a literatura anti na família, nas instituições do estado, nas instituições religiosas e Maquiavel quer substituir por uma arte de governar. Ser hábil em educativas, econômicas, nas práticas culturais e, enfim, disseminada em conservar seu principado não é de modo algum possuir a arte de governar‖. toda a extensão do corpo social. Desse modo, a arte de governar surge diante de uma necessidade de Por isso, possuir a arte de governar está para além de ter uma compreender melhor a política como reflexão da ação e da organização dos habilidade. É necessário que a ―continuidade ascendente no sentido em que homens em sociedade. Assim, devemos compreender que não existe mais aquele que quer poder governar o Estado deve primeiro saber governar, sua apenas um poder central exercido pelo Príncipe, e, sim múltiplos poderes família, seus bens, seu patrimônio. É esta espécie de linha ascendente que onde o governante não é mais o detentor exclusivo dele. A arte de governar caracterizará a pedagogia do príncipe‖7 . Esta continuidade leva-nos a 30 compreender que a arte de governar converge no sentido de que em todas assegurando assim o funcionamento da sociedade como um todo da relação as esferas sociais constitui-se um governo diferente. Por exemplo, o pai de de poder. Conseqüentemente, governar é pactuar. É governar e saber que família exerce o governo de sua casa; o padre o governo na paróquia e de deve ter um retorno e subordinar-se a uma vontade maior, a vontade dos seus seguidores e o professor governa na sala de aula seus alunos. Assim, outros. É compreender que ninguém exerce o poder sozinho. eles exercem poder e por isso governam. Isto não implica, no entanto, que Está implícito nesta relação, que o poder de governar é baseado no sejam esferas autônomas e independentes dentro do Estado ou da consenso e outorgado pelo outro. Não há poder de governar incondicionado Sociedade. ou transcendente. O poder de governar é fruto das relações empíricas que Ao mesmo tempo em que governam, são também governados na os homens estabelecem. ―Para ser bom soberano, é preciso que tenha uma sua interação com outros membros da sociedade. Um necessita do outro finalidade: ‗o bem comum e a salvação de todos‘. (...) Só lhe será conferida assim como, no corpo humano os membros agem em conexão com o autoridade soberana para que ele se sirva dela para obter e manter a cérebro. utilidade pública‖. É, também, um processo pedagógico que instrumentaliza toda a A finalidade do poder para o governo é a de aproximar-se de sociedade para esta relação de poder. Para governar é necessário primeiro objetivos e interesses que se definem com a ampliação da vontade comum aprender a governar a própria vida. É um processo determinado que pretende defender. Em suma, o poder é um pacto, um acordo que - não internamente na relação que a sociedade estabelece com seus indivíduos, se restringe aqui a jurisdição, justiça ou lei - o soberano deve ter um isto é, na relação privada da família por exemplo. propósito coletivo mais amplo, que englobe a população. Depois se estende para outras esferas maiores e públicas. ―Quando A arte de governar exige, nesta direção, que se vá para além das leis. o Estado é bem governado, os pais de família sabem como governar suas ―Na perspectiva do governo, a lei não é certamente o instrumento principal, famílias, seus bens, seu patrimônio e por sua vez os indivíduos se (...) quando, economistas e fisiocratas dos séculos XVII e XVIII, explicam comportam como devem‖ . Este conjunto de relações e trocas faz surgir que não é certamente através da lei que se pode atingir os fins de governo‖. uma pedagogia política para imprimir um bom governo. Entre o governo e Assim, é necessário para bem governar, ter virtudes como: a paciência, a o povo, governo e família é que surge a necessidade de se aprender a sabedoria e a diligência. Este conjunto de virtus como capacidade ou governar as diferentes habilidades existentes na esfera do Estado, potência moral do homem que dará equilíbrio ao governante. A paciência é 31 necessária para que a força dê lugar à diplomacia, isto é, nem sempre é sua fatalidade não à sua intensidade visível; a certeza de ser punido é que necessário utilizar armas ou força mesmo possuindo-as. deve desviar o home do crime e não mais o abominável teatro; a mecânica O conhecimento é fundamental para dar noção ou consciência exemplar da punição muda as engrenagens. daquilo que rodeia o governo, seu real poder. ―O conhecimento das coisas, Por isso, Foucault afirma que, por essa razão, a justiça não mais dos objetivos que deve procurar atingir e da disposição para atingi-los; é assume publicamente a parte de violência que está ligada a seu exercício. O este conhecimento que constituirá a sabedoria do soberano‖. saber foi sendo deslocado para os especialistas. Ou seja, quem passou a ter o poder eram os especialistas. De acordo com o autor, a execução da pena vai se tornando um VIGIAR E PUNIR (FOUCAULT, Michel) setor autônomo, em que um mecanismo administrativo desonera a justiça, Michel Foucault apresenta em seu livro um resgate histórico sobre que se livra desse secreto mal-estar por um enterramento burocrático da pena. Sendo que, o essencial da pena era: corrigir, reeducar e ‗curar‘. as penas aplicadas aos autores de crimes. Ou seja, temos aqui um registro da evolução histórica da legislação penal e dos métodos já foram adotados Em relação ao suplício, era o espetáculo presente nas condenações pelo poder público na repressão da delinqüência. medievais. Na modernidade, essa forma de condenação desapareceu e, Na primeira parte do livro, temos o papel do corpo dos condenados junto com ela, o domínio sobre o corpo. Para Foucault, o estilo penal e a ostentação dos suplícios em praça pública. Foucault afirma que, no moderno está no âmbito da consciência abstrata. início, as penas eram aplicadas ao corpo, sendo que a punição era visível O desaparecimento do espetáculo da punição física ocorreu no no corpo. Exemplo disso são os atos de punição em praça pública, para início do século XIX. No lugar do espetáculo, surge a ‗sobriedade todos verem como o criminoso era castigado e punido por seus crimes. punitiva‘. Essa afirmação deve ser bem entendida, segundo Foucault. Porém, com o tempo, o conhecimento/saber foi sendo deslocado. Houve atrasos no cancelamento dos suplícios. Houve uma mudança quanto à forma de aplicação das penas. Segundo De acordo com o autor, as condições que possibilitavam estabelecer Foucault (p. 13), a punição vai se tornando a parte mais velada do processo um julgamento como verdade eram: determinar seu autor; aplicar-lhe uma penal, provocando várias conseqüências: deixa o campo da percepção sanção legal. Ou seja, conhecimento da infração, conhecimento do quase diária e entra no da consciência abstrata; sua eficácia é atribuída à 32 responsável, conhecimento da lei. Essas eram as três condições que chama de micropoderes, que se encontram espalhados até se chegar a uma permitiam estabelecer um julgamento como verdade bem fundada. sentença. Nesse sentido, o saber dá o poder de dizer quem era o criminoso. Todo o aparato desenvolvido em torno da aplicação das penas Como afirma Foucault, ―analisar o investimento político do corpo e prolongou as decisões judiciárias muito além da sentença, ou seja, ―levou a microfísica do poder supõe tratar do corpo político como conjunto dos os juízes a julgar coisas bem diversas do que crimes‘. E o poder de julgar elementos materiais e técnicas que servem de armas, de reforço, de vias de foi transferido de instâncias. Houve um deslocamento, uma requalificação comunicação e de pontos de apoio para as relações de poder e de saber que pelo saber, o que gerou um novo poder de julgar e, conseqüentemente, investem os corpos humanos e os submetem, fazendo deles objetos de poder de punir. saber‖. Segundo o autor, é necessário investigar a mudança dos métodos Para Foucault, as práticas penais devem ser consideradas mais como punitivos do corpo nas relações de poder do objeto. Essas relações revelam um capítulo da anatomia política do que como uma conseqüência das um poder imediato sobre o corpo, historicamente estudado no campo teorias jurídicas. Ele propõe fazer a história dos investimentos políticos do patológico. Porém, de acordo com Foucault, o corpo também está corpo. diretamente mergulhado num campo político. De acordo com o autor, o cerimonial judiciário deve trazer à luz a O autor lembra ainda que, nesse contexto, a definição de infrações verdade do crime. Ou seja, os processos penais correm em segredo mantém os mecanismos punitivos e suas funções. A tecnologia da política absoluto; só os especialistas podem conhecer. Porém, o autor lembra que o do corpo é difusa; situa-se no campo da ―microfísica do poder‖; ou seja, se funcionamento do interrogatório é um suplício de verdade. posta em jogo pelos aparelhos e instituições. Essa microfísica supõe que o Numa visão geral, percebemos que Michel Foucault chama a poder não é concebido como uma propriedade, mas como uma estratégia. atenção do leitor para a forma como o poder de decidir sobre o castigo a ser As relações de poder aprofundam-se dentro da sociedade (microfísica) e adotado na punição dos delinqüentes exige uma reflexão. A compreensão não nas superestruturas. Há uma relação poder/saber que determinada as de que a punição era corrigir, reeducar e ―curar‘ continua bem presente no formas e os campos possíveis do conhecimento. Direito Penal moderno. Por isso, para Michel Foucault, nos dias atuais um Assim, quem passou a ter poder sobre o corpo do condenado, quem juiz nunca julga sozinho. Até se chegar a um veredicto, há todo um poderia dar o laudo, era o especialista. A esses poderes, Michel Foucault 33 procedimento de julgamento que passa por laudos de vários especialistas: de dominá-la, ou seja, a confusão do conhecimento com a dominação, do médico, do psicólogo, do psiquiatra, dentre outros. exploração e poder. Dessa maneira, a razão torna-se um instrumento de uma ciência que, deixando de ser acesso a conhecimentos verdadeiros, torna-se é meio de dominação e poder: da Natureza e dos próprios seres INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE HABERMAS humanos. Dessa maneira torna-se necessária uma razão que não seja AÇÃO COMUNICATIVA instrumento de dominação, mas de democracia: a razão comunicativa. A A Ação Comunicativa é uma das principais teorias desenvolvidas razão comunicativa, além de compreender a esfera instrumental de por Jürgen Habermas. Introduzida pela primeira vez na obra Teoria da conhecimentos objetivos, alcança a esfera da interação entre sujeitos, Ação Comunicativa, publicada em 1981, pode ser delimitada, em termos marcada por simbolismo e subjetivismo, experiências pessoais e a gerais, como a teoria da sociedade moderna fundamentada por métodos da contextualização dialógica de agentes lingüísticos. sociologia, filosofia social e filosofia da linguagem. Rompe-se, assim, com um diálogo baseado em conhecimentos Ora, para Habermas a linguagem serve como garantia da instrumentais resultantes da relação entre um sujeito cognocente e um democracia, uma vez que a própria democracia pressupõe a compreensão objeto cognoscível, a partir do qual o consenso, se possível, é de interesses mútuos e o alcance de um consenso. desprovido do caráter democrático. Por outro lado trava-se um diálogo Contudo, para que a linguagem assuma este papel democrático, entre sujeitos capazes de compartilhar, pela linguagem, de um universo no pensamento habermasiano é necessário que a comunicação seja clara. simbólico comum e interagir, buscando construir um conhecimento Para Habermas, a distorção de palavras e de sua compreensão impede uma crítico pautado por argumentação submetida a critérios de validade, sem, comunicação efetiva, o consenso e, portanto, a prática efetiva da contudo, ser orientada por rígidos domínios científicos. democracia. Nesse contexto, Habermas crê que a comunicação só é eficiente, O uso correto das palavras, entretanto, só ocorreria quando fosse ou seja, não distorcida, quando quatro critérios são seguidos: abandonado o uso exclusivo da razão instrumental – ou iluminista – a a) razão utilizada pelo sujeito cognocente ao conhecer a natureza com o fim uso de regras semânticas inteligíveis (uso de regras semânticas compreensíveis para o receptor); 34 b) ser verdadeiro o conteúdo dito; respeito ao sistema de regras para a interpretação das leis (ou normas em c) justificação do emissor por direitos sociais ou normas geral). A princípio pode-se dizer que a ação comunicativa é a expressão da invocadas pelo uso do idioma (ou seja, o emissor possui RAZÃO COMUNICATIVA – fonte do Direito, que para Habermas autoridade nos argumentos utilizados); proporciona as inter-relações entre os fatos (formas de vida) e as normas d) emissor que utiliza –se de sinceridade, sem procurar estabelecidas para os mesmos; ele ainda acredita que a correlação enganar seu receptor. VALIDADE-EFICÁCIA representa a condição essencial para o direito pois Os critérios de Habermas, contudo, são criticados em muitos além de manter a inter-relação, citada, de forma descentralizada de aspectos. Entre eles critica-se o segundo critério, questionando-se a condições, ela também sustenta a imposição do Direito definição de verdade: ―ora, como definir o que é verdadeiro básica deste). Todavia, a ação comunicativa cumpre seu papel de guardiã universalmente?‖ da integridade social, que para o pensador é a base de toda tensão da Entretanto, apesar das críticas, a Teoria da Ação Comunicativa (característica correlação já mencionada. propõe um retorno ao diálogo construtivo, capaz de alcançar um Por outro lado temos no Direito um estudo, denominado conhecimento mais profundo do que o alcançado pela relação entre o hermenêutica jurídica, cujo objeto consiste em estudar a sistematização dos ―sujeito cognocente o objeto cognoscível‖ por ser resultado da relação, em processos que devem ser utilizados para que se realize uma interpretação última análise, entre dois sujeitos cognocentes. Dessa maneira, a prática da adequada e correta sobre um fato concreto. Entretanto, vale lembrar que Ação Comunicativa não se limita apenas à busca do consenso da interpretação e hermenêutica são coisas distintas, visto que a primeira, é a democracia, mas também é instrumento para pedagogia, filosofia e muitos aplicação da segunda (analogia a técnica empregada pela metodologia). A outros campos da ação humana. interpretação é única, isto é, exceto quando usada para fins didáticos, na prática ela não pode ser fracionada; possui como objeto de estudo as palavras, frases, proposições e enunciados. As palavras expressam o sentido HERMENÊUTICA JURÍDICA das normas jurídicas e garantem, para Habermas, a democracia; podem ser Falar em ação comunicativa de Habermas no Direito é pensar ou analisadas sob dois aspectos: ONOMASIOLÓGICO (sentido corrente da mesmo associar à hermenêutica jurídica, parte da ciência jurídica que diz palavra), SEMASIOLÓGICO (significado normativo). A união de palavras 35 em torno de um verbo dá origem às frases que em conseqüência produz as Direito está na crença do destinatário de que a norma a que se sujeita é proposições e depois os enunciados. Os conceitos sobre estes, o próprio também criada por ele, e que sua eficácia depende de uma interpretação do Habermas fornece; a proposição consiste em uma unidade lingüística, magistrado, coerente com cada situação real e concreta. No entanto, na enquanto que o enunciado é a proposição situada, ou seja, é a unidade de verdade, o intérprete (magistrados e afins) guia-se pelas próprias avaliações discurso ou fala. do sistema interpretado, a fim de tornar enfraquecida as tensões sociais na A partir desses conceitos, a interpretação é aplicada nos diversos medida em que neutraliza a pressão exercida pelos problemas de problemas de ordem sintática, semântica e pragmática. distribuição de poder, de recursos e de benefícios escassos. Os problemas de ordem sintática, em que dizem respeito às ANÁLISE DA OBRA “DIREITO E MORAL” conexões das palavras, são interpretados de forma: GRAMATICAL (questões léxicas), LÓGICA (problemas lógicos) e SISTEMÁTICA (compatibilidade no todo estrutural). Quando os problemas originam dos Primeiramente gostaria de ressaltar o fato da obra de Habermas ser significados das palavras, temos a semântica, cuja interpretação é feita por extremamente densa e complexa, assim não sei se poderíamos chamar este meio; HISTÓRICO (precedentes normativos) e SOCIOLÓGICO (contexto texto de análise; o mais apropriado seria primeira impressão. Afinal, um social). Por fim, temos os problemas de ordem pragmática em que para desenvolver um estudo da obra aqui mencionada seria necessário caracterizam-se pelo não entendimento em uma relação de comunicação compreender profundamente o trabalho do filósofo e o trabalho dos entre o emissor e o receptor; para isso utiliza-se as interpretações estudiosos por ele citados. Assim escrevemos, como estudantes do primeiro TELEOLÓGICAS (situação das leis) e AXIOLÓGICA (postulam os fins). período, a primeira impressão sobre o livro ―Direito e Moral‖ de Jürgen Apresentados alguns conceitos, passamos então para uma possível Habermas. relação e explicação entre o pensamento do filósofo e a ciência jurídica. O livro é dividido em dois segmentos principais, o primeiro Como já foi dito anteriormente, a linguagem, especialmente a escrita, fazendo uma critica a pontos de vista de Max Weber no que toca o direito e garante a democracia aos povos, contudo, ela também justifica a presença a moral, tendo como título ―Como é possível a legitimidade através da de um Direito imposto por uma autoridade sobre uma pessoa, cidade ou legalidade‖; e o segundo mostrando se o desmoronamento do direito nação. Partindo desse pensamento Habermas coloca que a validade desse 36 puramente racional resulta em um estado jurídico com maior agilidade poder, deixando de lado a razão. Por fim temos a sucessão de legisladores, diante da sociedade, sendo o título ―Para a idéia do estado jurídico‖. que tentam embutir seus próprios padrões morais na lei. Para encerrar esse O primeiro grande segmento é sub dividido em três partes. Na segmento do texto o autor ainda menciona a axiologia das Constituições primeira parte Habermas comenta a visão de Max Weber sobre a Federais existentes como uma prova de padrões morais presentes na lei. racionalidade do direito. Segundo Weber a racionalidade só existe devido O último texto deste segmento mostra como nossa sociedade ao caráter formal que está incutido no direito, ou seja só pode existir a aceita a legitimidade só através da legalidade, sendo assim é preciso razão em decorrência da obediência aos procedimentos jurídicos. Dessa fundamentar esta legalidade. Já foram utilizados fundamentos como a forma moral e direito são dois campos separados, sendo a moral subjetiva metafísica e a religião, mas atualmente estes não são mais aceitos. Assim se e o direito objetivamente racional. Assim a interferência da moral no buscou a razão como fundamento para nossa legalidade. Mas se de acordo direito acabaria por retirar a racionalidade do mesmo. Mas Habermas nos com Max Weber a inserção da moral no direito retira sua razão e por sua mostra que o próprio ato de seguir os procedimentos jurídicos já implica na vez sua legalidade, podemos questionar o fato de a razão estar baseada na mistura entre moral e direito, afinal o direito é constituído de normas moral; afinal não retiramos os padrões morais sociais do limbo. estabelecidas por um legislador e este possui uma moral que acaba sendo A segunda parte do livro também é dividida em três partes. A incorporada a lei. Sendo assim a teoria de Weber onde a legitimidade só primeira delas mostra como o sistema jurídico não esta preso aos conceitos pode ser alcançada pela legalidade puramente raciona perde força. gerais da teoria de sistema. Isso acontece porque o direito tem uma Com a segunda parte são abordados alguns fenômenos não necessidade peculiar, que não ocorre na maioria dos sistemas, a de se previstos por Weber. Dessa forma temos o direito reflexivo, onde os adaptar constantemente e rapidamente às mudanças que se desenrolam na juristas refletem sobre as leis e fazendo isso acabam recorrendo a preceitos sociedade como um todo. Afinal a norma jurídica tem lacunas que devem morais para explica-las. Podemos falar ainda da marginalização dos ser preenchidas para manter a sociedade controlada e regulada. litígios, pois as partes envolvidas podem fazer contratos aproveitando Nesta próxima parte o autor busca mostrar o entrelaçamento do brexas na lei e acabam tornando o processo bastante subjetivo. Os direito e da moral com a política. Ou seja, expor que o direito não se coloca imperativos funcionais, onde a criação de condições para um estado a serviço da política, pois se a política controlasse o direito a legitimidade regulador acabam por pender para as preferências geradas pelo dinheiro e daquela seria comprometida pois este não teria poder para dar 37 credibilidade, sendo o direito incorporado à política. E a seguir vemos que ALBERONI, Francesco. L'amicizia. Milão, Garzanti, 1990. (Tradução o contrario também é impensável, pois a idéia de que o direito pudesse brasileira: A amizade. Rio de Janeiro, Rocco, 1989.) criar suas próprias estruturas normativas pela razão também lesaria a ______. L'innamoramento. Milão, Garzanti, 1990. (Tradução brasileira: legitimidade da norma jurídica. Enamoramento e amor. Rio de Janeiro, Rocco, 1986.) Por fim Habermas mostra o porque da transformação do direito AYALA, Marcos, AYALA, Maria Ignez N. Cultura popular no Brasil. São racional em estado jurídico. Uma sociedade como à atual não pode se Paulo, Ática, 1987. prender as estruturas formais presentes no direito racionalista. Os BATISTA, Francisco de P. . Clássicos do Direito Brasileiro: hermenêutica mercados pedem uma maior agilidade por parte do ordenamento jurídico, jurídica. São Paulo: Saraiva. assim se abre espaço para o direito subjetivo criar as condições necessárias BOBBIO, Norberto. Qual socialismo? — debate sobre uma alternativa. para tal agilidade. Os contratos privados ganham uma maior autonomia Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1983. para preencher as lacunas da legislação e dessa maneira a moral ganha um ______. Estado, governo, sociedade — por uma teoria geral da política. grande espaço no direito pois os contratos privados são subjetivos e a Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1987. subjetividade é uma das manifestações mais claras da moral. O futuro da democracia — uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1986. CHATELET, François e outros. História das idéias políticas. Rio de REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1985. CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2001. _____. O que é ideologia, Col. Primeiros Passos. São Paulo, Brasiliense, ANDRADE, Christiano José de. Hermenêutica jurídica no Brasil. São 1980. Paulo: Revista dos tribunais, 1991. CHEVALLIER, Jean-Jacques. História do pensamento político. Rio de ADORNO, Theodor. Comunicação e indústria cultural. São Paulo, Janeiro, Zahar, 1982. Nacional/Edusp, 1971. CHIPP, Herchel B. Teorias da arte moderna. São Paulo, Martins Fontes, 1988. 38 COELHO NETTO, José Teixeira. O que é indústria cultural, Col. HAUSER, Primeiros Passos. São Paulo, Brasiliense, 1980. Fontes/Presença, s.d. COHN, Gabriel (org.). Comunicação e indústria cultural. São Paulo. HESSEN, Johannes. Teoria do conhecimento. Coimbra, Armênio Amado Nacional/Edusp, 1971. Ed., 1968. ECO, Umberto. Apocalípticos e integrados. São Paulo, Perspectiva, 1970. JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro, ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Lisboa, Livros do Brasil, s.d. Imago, 1975. FARIA, Ana Lúcia G. de. Ideologia do livro didático. São Paulo, Cortez, KNELLER, George F. A ciência como atividade humana. São Paulo/Rio de 1984. Janeiro, Edusp/Zahar, 1980. FERRAZ JÚNIOR, Tercio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: LIMA, Fernando B., PRIOLLT, Gabriel e MACHADO, Arlindo. Televisão técnica, decisão, dominação. 2.ed. São Paulo: Atlas,1994. e vídeo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1985. FRANÇA, R. Limongi. Elementos da hermenêutica e aplicação do MARTINS, Maria Helena P. ECA: Retrato em branco e preto (música e Direito. São Paulo: Saraiva, 1984. cinema). Tese de Doutoramento. ECA/USP, 1988. GUIRALDELLI, Paulo Jr. Habermas and Davidson: Illuminating Human MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e aplicação do Direito.16. ed. Rio Communication. de Janeiro: Forense, 1997. Disponível em: Arnold. Teorias da arte. São Paulo/Lisboa, Martins http://www.filosofia.pro.br/habermas_and_davidson.htm. Acesso em 22 de MERQUIOR, José Guilherme. O liberalismo — antigo e moderno. Rio de Abril de 2015. Janeiro, Nova Fronteira, 1991. GUIRALDELLI, Paulo Jr. Rorty e Habermas entre gatos, cães e teologia OSBORNE, Harold. Estética e teoria da arte. São Paulo, Cultrix, 1974. . Disponível em: PAREYSON, Luigi. Os problemas da estética. São Paulo, Martins Fontes, http://www.filosofia.pro.br/rorty_e_habermas_entre_gatos.htm. Acesso em 1989. 22 de Abril. de 2015. PEIRCE, Charles S. Semiótica. São Paulo, Perspectiva, 1977. GUSDORF, Georges. Mito e metafísica. São Paulo, Convívio, 1979. PEREIRA, Carlos Alberto M. e MIRANDA, Ricardo. Televisão. O nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo, Brasiliense, 1983. 39 RICOEUR, Paul. Interpretação e ideologia. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1977. ROUANET, Sérgio P. As razões do lluminismo. São Paulo, Companhia das Letras, 1987. SALMON, Wesley. Lógica. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 1987. SÁNCHEZ VÁSQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1970. SCHAFF, Adam. Introdução à semântica. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1968. VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. São Paulo, Difusão Européia do Livro/Edusp, 1973. VIEIRA PINTO, Álvaro. Ciência e existência. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1969. WEFFORT, Francisco C. (org.). Os clássicos da política. São Paulo, Ática, 1989. 2 v.- 40