possibilidade do uso das novas tecnologias

Propaganda
POSSIBILIDADE DO USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS: UMA PROPOSTA DE
REORGANIZAÇÃO TECNO-DIDÁTICO-METODOLÓGICA DISCIPLINAR
Nadia Sanzovo – Professora - UTFPR/Brasil; Doutoranda no Programa de Pós-Graduação
Ciências da Educação na UTAD/Portugal– [email protected]
Joaquim José Jacinto Escola – Orientador. Programa de Pós-Graduação da Ciência da
Educação – UTAD/Portugal – [email protected]
Resumo: Este texto tem por finalidade apresentar a abordagem didático-metodológica que
embasa a prática de reorganização (redesenho) de disciplinas ditas “hard” da Coleção
“Laboratório Virtual e Modelo Multiplicador por grupo: perspectivas para o desenvolvimento
de competências formativas”, (Sanzovo; Escola, 2016), por meio da Flipped classroom (sala
invertida) com o uso de Tecnologias Educativas, organização de e-book (Bornatto; Sanzovo,
2016.) e da Metodologia Colaborativa (Fragelli, 2015) no contexto do ensino superior, nos
períodos iniciais, de modo a permitir a professores e estudantes serem co-sujeitos (Not, 1987)
do processo ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Reorganização didático-metodológica; Flipped Classroom. Metodologia
Colaborativa. Uso das TIC.
1 AS NOVAS TECNOLOGIAS E SUAS POSSIBILIDADES PARA O ENSINO
Em um trabalho realizado por Cabero (2000) ele sinaliza as seguintes características
gerais para as tecnologias em tempos da sociedade da informação e da comunicação: (i)
Imaterialidade; (ii) Penetração em todos os setores – cultural, econômico, educativo,
industriais etc.; (iii) Interconexão; (iv) Interatividade; (v) Instantaneidade; (vi) Criação de novas
linguagens expressivas; (vii) Ruptura da linearidade expressiva; (viii) Elevados parâmetros de
qualidade de imagens e som; (ix) Potenciação de audiência segmentária e diferenciada; (x)
Digitalização; (xi) Tendência para a automatização; (xii) Diversidade; (xiii) Inovação.
A imaterialidade, em sentido de que a matéria prima em torno da qual se desenvolve
sua atividade é a informação e informação em muitos códigos e formas – visuais, auditivas,
audiovisuais, textuais de dados, estacionários ou em movimento ou em combinação.
Embora as novas tecnologias tendam a se apresentar de forma independente,
oferecem grandes possibilidades para combinar-se e ampliar suas possibilidades individuais –
em interconexão, ou interconectividade – como ocorre quando se une a televisão via satélite
e a cabo ou quando incluem em multimídia uma direção web e um computador conectado à
internet. Essas conexões permitem chegar a uma construção de novas realidades expressivas
e comunicativas, como ocorre na combinação de imagem, áudio e texto para a construção de
plataformas multimídias.
A interatividade ocorre diferentemente dos medios tradicionais, no sentido de o
emissor se mover em direção ao receptor, o qual determinará tanto o tempo como a
modalidade de uso. Dessa forma, o receptor desempenhará um papel importante na
construção da sua mensagem bem como no papel de transmissor das mensagens.
A instantaneidade é outra das características das novas tecnologias, pois permite
romper barreiras da espacialidade, possibilitando colocar em contato direto e de forma
imediata com as pessoas, bancos de dados, etc. Converte o problema da transmissão ou
recepção à margem de posições sociais ou ideológicas, de forma eminentemente técnica, isto
é, da potencialidade tecnológica dos medios utilizados. Os serviços de videoconferência, por
exemplo, os chats, favorecem que os usuários distantes em espaço possam trocar ao mesmo
tempo mensagens e opiniões de forma interativa.
Outra característica marcante das novas tecnologias são seus elevados parâmetros
de imagem e áudios, entendidos exclusivamente na qualidade da informação (elementos
cromáticos, número de cores definidas e representadas, tonalidade, representação
harmônicos, etc.) como quanto à fidelidade com que podem transferir-se de um ponto a
outro, e como também de evitar falhas de interrupção na transferência das mensagens e dos
ruídos comunicativos. Essas qualidades têm sido, sem dúvida, alcançados, de um lado, graças à
digitalização dos sinais visuais, auditivos ou de dados; por outro lado, pela melhoria que se
tem realizado em hardware de transferência.
Se até recentemente a influência das novas tecnologias da informação e
comunicação se centrava fundamentalmente em setores militares, bancários e de
transferência de comunicação de massa, em pouco tempo seus impactos alcançaram todos os
setores da sociedade, desde o ensino à medicina, ao mundo das artes e da pesquisa. Como
assinala Negroponte (1995), a informação já não se ocupa dos computadores, mas da vida
mesmo.
Associado às novas tecnologias está o surgimento de novos códigos e linguagem, que
permitem novas realidades expressivas, como é o caso das multimídias e hipermídias. Essas
linguagens repercutem diretamente na necessidade de adquirir novos domínios alfabéticos,
que vão mais além da formação das capacidades da lectoescrita, potencializando a
alfabetização informática e multimídia. Essa alfabetização talvez não suponha a aprendizagem
de novas habilidades específicas, sobretudo no caso de linguagem multimídia, porém de novas
formas de organizar e combinar códigos e linguagens e dar-lhes significados diferentes à
organização de códigos e linguagem. Ao mesmo tempo as mensagens tendem a se organizar
não de forma linear, mas de maneira hipertextual, no que trará uma série de consequências
significativas como a desconstrução do discurso, a transferência do peso da comunicação do
autor do texto, o desafio de passar da distribuição da informação à gestão da informação e a
construção do significado de forma diferente em função da navegação hipertextual pelo
receptor.
A amplitude dos medios tecnológicos e a especialização progressiva de seus
conteúdos permitem apontar outra das suas características que se reflete na diferenciação e
segmentação de suas audiências de maneira que se tende também à especialização dos
programas e medios em função das características e demandas dos receptores – o que
repercutirá, de um lado, na realização de programas à imagem e semelhança da audiência
conseguida, como são os casos típicos dos canais de músicas da televisão e, por outro lado, a
uma progressiva tematização de canais e oferta televisiva, assim como os canais pagos
individualmente pela utilização desses serviços.
Também se pode dizer que se está rompendo com o conceito de cultura de massa e
de sua superação pela fragmentação das audiências e a criação de comunidades virtuais de
comunicação, organizadas e orientadas em função dos interesses e atitudes dos que delas
participam – o que também pode levar o risco de criação, de um lado, de uma sociedade de
acesso aos medios de comunicação especializada e, de outro, dos generalistas com uma forte
predisposição à vulgarização e banalização em segundos.
O avanço tecnológico tem sido tal que em pouco tempo se conta com tecnologias que,
com menor volume e custo que seus antecessores, realizam operações não somente mais
confiáveis senão impensáveis com as antigas.
Contudo, esse grau de rapidez inovadora, quando se reflete no meio educativo,
embora oferte a vantagem de poder contar com uma tecnologia razoável para a realização de
atividades não imaginadas até pouco tempo, também introduzem o problema de pouca
capacidade que a instituição educativa tem para absorver as tecnologias de maneira que
muitas delas, quando incorporadas na sociedade em geral, são rejeitadas como ocorreu com o
vídeo interativo, por exemplo.
Escola (2008), por conseguinte, alerta que a “busca e o acesso à informação, a posse e
o desenvolvimento de competências no domínio das tecnologias da informação e da
comunicação, a alfabetização informacional e audiovisual, constituem desafios fundamentais
das sociedades desenvolvidas, pós-industriais e pós-modernas”.
Se nesse contexto educativo as novas tecnologias estão colocando à disposição uma
verdadeira eclosão de informação, tanto de forma quantitativa quanto de forma qualitativa, é
verdade também que há uma quantidade de ruídos, o que leva, por conseguinte, a poder
discernir entre se ter mais informações ou se estar mais informado, ou por outro lado, o
problema não é mais localizar a informação, mas selecionar ou avaliar criticamente a
informação.
Na análise de Cabero (2007), a característica da diversidade se refere a que não
existe uma única tecnologia disponível senão pelo contrário, há uma variedade delas, que
podem desempenhar diferentes funções que giram no entorno das características elencadas.
Essa diversidade também é importante porque contempla desde a flexibilidade que introduz o
software e que, ao modificá-lo, incorpora novas possibilidades e desenvolvimento de
hardware.
Realizados esses comentários, aborda-se a questão das possibilidades que as novas
tecnologias oferecem à informação, como grandes recursos, e como consequência ao contexto
educativo, como:

Ampliação da oferta informativa;

Criação de ambientes mais flexíveis para a aprendizagem;

Eliminação de barreiras espaço-temporalidade entre professor e estudantes;

Incremento das modalidades comunicativas;

Potencialização das modalidades dos cenários e ambientes interativos;

Favorecimento tanto da aprendizagem independente e da autoaprendizagem como
colaborativa e em grupo;

Ruptura dos clássicos ambientes formativos, limitados a instituições escolares, ou sala
de aula;

Oferta de novas possibilidades para a orientação e tutoria dos estudantes;

Facilitação de uma formação permanente.
Uma das possiblidades que oferecem as TIC (Tecnologias da Informação e da
Comunicação) é a criação de ambientes de aprendizagem que coloca à disposição dos
estudantes uma amplitude de informação com rapidez de atualização. Toma-se como exemplo
o progressivo aumento de hospedagem de páginas na web ou o incremento de revistas
virtuais.
De toda a forma, nesse aspecto da informação não deve cair em dois erros: (i)
realizar um paralelismo entre informação e conhecimento; (ii) crer que ter acesso a mais
informação significa estar mais informado. Em relação ao primeiro dos problemas, aponta que
o simples fato de estar exposto à informação não significa a generalização ou a aquisição de
conhecimento significativo, para isto é necessário sua incorporação dentro de uma ação
perfectiva da sua estrutura e organização e da participação ativa e construtiva do sujeito.
Enquanto ao segundo, leva-se a fazer uma reflexão em diferentes aspectos como: até
recentemente a instituição educativa cumpria uma clara função de armazenamento da
informação – o que também é uma notável limitação para os setores menos favorecidos como
as rurais e as das periferias das cidades, por exemplo. Na atualidade, no entanto, as novas
tecnologias permitem que o estudante, independentemente do lugar de onde se encontra,
pode acessar a grandes bases e fontes informativas.
Tais possibilidades de acesso à informação também engendra novo problema para
os objetivos que devem abarcar o processo educativo, já que o problema da educação não
será a localização e busca da informação, senão mais da sua seleção, interpretação e avaliação.
E, por último, que a informação vai estar deslocada do indivíduo e de seu contexto imediato e
o poder já não vai estar em se obter a informação, porém em buscar, avaliar e usar.
De toda forma, não se deve esquecer que nem todos os lugares/sítios da internet
têm a informação aberta e disponível para qualquer pessoa. As possibilidades que essas
tecnologias oferecem para a interação com a informação não são somente quantitativas como
também qualitativas no que diz respeito à utilização tanto da informação textual como
também de outros tipos de códigos desde os sonoros aos visuais. Ademais, a estrutura
sintática e semiótica organizativas da informação, que está à disposição do usuário, vai desde
o tipo sequencial linear aos que possuem formato hipertexto e hipermedia.
Os comentários que Cabero (2007) faz levam a indicar que os ambientes para a
formação sejam caracterizados por diferentes tipos: estar baseados em recursos, ser
multimídia e apresentar uma estrutura não linear. Tais características são de grande ajuda
para apresentar de formas diferentes os conteúdos, para criar ambientes para a simulação de
fenômenos abstratos e complexos por sua capacidade para armazenar e identificar variáveis
intervenientes em uma situação ou para realização de fenômenos que possam correr certo
risco ou dificuldades para os estudantes.
A incorporação das TIC nas instituições educativas vai permitir novas formas de
acessar, gerar e transmitir informações e conhecimentos – o que possibilitará abrir portas para
poder flexibilizar, transformar, trocar, estender... Em fim, buscar novas perspectivas em uma
série de variáveis e dimensões o ato educativo, de forma concreta, permitindo a flexibilização
em diferentes aspectos como:

Temporal e espacial para interação e recepção da informação;

Diferentes ferramentas de comunicação;

Interação com diferentes tipos de códigos e sistemas simbólicos;

Escolha de itinerário formativo;

Uso de estratégias e técnicas para a formação;

Convergência tecnológica;

Acesso a informações e a diferentes fontes;

Flexibilização do papel e da figura do professor.
Nessa perspectiva, possivelmente um dos efeitos mais significativos das TIC em
situação de ensino-aprendizagem seja a possibilidade que oferecem de flexibilizar o tempo e o
espaço em que se desenvolve a ação educativa, isto é, o tempo no qual o estudante faz a
formação, bem como o espaço onde ele a realiza.
Geralmente se está acostumado a uma formação onde claramente se encontra
determinado desde o princípio o espaço, lugar onde se vai estudar e interagir com a
informação, isto é, a sala aula e, quando deve recebê-la, em uma proposta anual, ou
semestral, em uma jornada contínua ou partida e com possibilidade de realizar atividades
específicas fora ou anexas à jornada escolar. Com o uso das TIC e, mais concretamente aquelas
que se geram ao redor de uma temática, tanto em sua concepção “online” como “off-line”,
propicia ao estudante uma escolha verdadeira enquanto onde e quando estudar, já que se
pode introduzir diferentes caminhos e diferentes materiais, alguns dos quais se encontram
fora do espaço formal de formação. E, em consequência, favorece-se que os estudantes
possam seguir seu próprio progresso individual de acordo com sua própria velocidade e de
acordo com suas próprias circunstâncias (Cabero, 2000).
Já a diversidade de ferramentas de comunicação que as TIC colocam à disposição do
professor e do estudante para comunicar-se tanto de forma individual como coletiva
repercutirá em flexibilização também do ato educativo em uma dupla direção, ou seja, de um
lado, a possibilidade para comunicar-se em tempos diferentes daquele do presencial e, por
outro, em termos de amplitude que essas ferramentas possibilitam.
A utilização de novas ferramentas de comunicação, tanto síncronas quanto
assíncronas, leva a novas estruturas comunicativas, já que está demonstrado que a
participação das pessoas não tem nem a mesma carga sintática nem semântica e está
condicionada pela ferramenta de comunicação utilizada e implicará ao mesmo tempo a
necessidade de adquirir novas aprendizagens e habilidades para desenvolvê-las (Cabero,
2003).
Por outra parte, é importante não perder de vista que essas novas ferramentas
comunicativas não somente implicam novas estéticas de comunicação nem exclusivamente
uma mudança na modalidade e ferramenta, senão que mais importante são as novas
possibilidades para a comunicação e a interação didática, o que vai desde uma comunicação
mais fluida com os companheiros até novas modalidades de participação como a da
aprendizagem colaborativa.
Não se pode tampouco esquecer, contudo, que aqui se apontam possibilidades para
posteriormente estender esta reflexão sobre a questão de que a comunicação não se limita a
um só código, o verbal auditivo, mas que se estende a outros domínios como aos icônicos
sonoros e visuais, podendo ser também estáticos ou dinâmicos.
E, por último, a mudança no modelo de comunicação em relação aos modelos
unidirecionais de comunicação, onde há um emissor – normalmente o professor ou material
didático, que envia ou manda a informação –, e um receptor, normalmente o estudante, que
processa e em função de sua semelhança com a apresentada e recebe a qualificação
acadêmica. Em contraposição a esses modelos unidirecionais, modelos mais dinâmicos
propiciam que o receptor se converta em emissor de mensagens, tanto para receptores
individuais como coletivos, ou seja, é importante levar em consideração, sobretudo, a
utilização de ferramentas de comunicação telemática que funcionam em contextos
multiculturais e para que o ato comunicativo se realize deve existir um campo comum
(sociológico, cultural e interpretativo) entre o emissor e o receptor.
Sem dúvida, uma das grandes características das denominadas novas tecnologia da
informação e comunicação reside em sua capacidade de oferecer multimedia, onde se utiliza
uma diversidade de símbolos, códigos, tanto de forma individual como conjunta (coletiva) para
elaboração das mensagens: imagens estáticas, imagens em movimento, imagens
tridimensionais, sonoras etc., possibilitando a flexibilização de superar o trabalho exclusivo de
códigos verbais e passar para outros audiovisuais e multimedia com repercussões que outras
tecnologias jamais haviam alcançado no passado.
Assim, conforme colocado por Salomon (1979 e 1983), citado por Cabero (2001) a
exposição a diferentes "linguagens" ou sistemas de símbolos da mídia pode afetar o domínio
das competências e capacidades cognitivas específicas. Esta hipótese baseia-se no pressuposto
de que existe algum isomorfismo entre modos internos de que os sistemas de símbolos
comunicacionais externos, a representação e sistemas de símbolos da cultura, podem ser
internalizados para se transformar em "ferramentas mentais”. Esses possíveis "mecanismos
psicológicos” possibilitam ativar e reforçar habilidades que podem ser responsáveis por tais
efeitos cognitivos. Essa discussão tem sido trazida à luz por diferentes teorias, isto é, de que as
pessoas apresentam atitudes ou habilidades diferentes diante dos distintos media de forma
que o grau de interação e esforço mental que se estabelece vai depender também das atitudes
que se têm em relação a eles, as quais são condicionadas por seus sistemas simbólicos.
O uso educativo da televisão, cinema e media relacionados tem aumentado
significativamente nos últimos anos, no entanto a compreensão fundamental de como os
media comunicam informações e quais fins de instrução que melhor servem cresceu muito
pouco. Com base na pesquisa em semiótica, cognição e desenvolvimento cognitivo,
psicolinguística, e de comunicação de massa, o autor oferece uma série de proposições sobre
os tipos específicos de processos mentais exigidos e as habilidades mentais específicas
reforçadas por diferentes sistemas de símbolos. Por conseguinte, a possibilidade de oferecer
ao usuário diferentes códigos é possibilitar codificar/decodificar a realidade, aumentando a
capacidade que o sujeito tem de sentir-se mais confortável com o código concreto com o qual
deseja interagir, aumentando, dessa forma, também o esforço mental que investe no
processamento da informação e, por consequência, do rendimento e da aprendizagem que
obterá com a interação com os media.
Isso leva a sinalizar que, embora não se possa estabelecer uma relação direta entre
um ensino de qualidade e a utilização dos media, o que se pode afirmar é que o ensino que
mobiliza diferentes media, isto é, diferentes sistemas simbólicos têm características potenciais
de converter-se em ensino de qualidade.
Por outro lado, conforme se aponta desde a teoria das inteligências múltiplas
(Gardner, 1994) existem diferentes tipos de inteligências: musical, cinético-corporal, lógicomatemático, linguístico, especial, interpessoal e intrapessoal que, sem dúvida, interagem
melhor com uns tipos de códigos simbólicos do que com outros. Daí também a importância da
flexibilização na utilização dos diferentes códigos por parte do sujeito – o que dará
possibilidade de abrir novas linhas de investigação no terreno dos media para buscar se há
relações entre as inteligências e os estilos (modos) de aprendizagem e os sistemas símbolos
dos media e sua arquitetura.
Diretamente ligado ao que está se tratando, a flexibilização que as tecnologias
oferecem/dispõem possibilita ao estudante poder selecionar ou escolher a sua rota de
aprendizagem, não somente no que trata do tipo de código como também da elaboração e
estruturação do seu discurso narrativo – isto como consequência direta da possibilidade que
oferece a narrativa hipertextual e hipermedia que está presente nos media. Essa
hipertextualidade poderá resolver alguns dos problemas mais comuns com que se deparam os
contextos formativos e que são demasiado estáticos e lineares em sua utilização. Em certa
medida se pode permitir transmudar desde uma estandardização dos produtos e ofertas
educacionais para a liberdade de criação dos itinerários formativos, de sua diversificação e
personalização.
A possibilidade de escolha de rota de aprendizagem carrega também riscos,
referindo-se a que se uma pessoa não possui suficiente formação, não tem planejados seus
objetivos que deseja alcançar, possivelmente chegue a desorientar-se cognitivamente ou sofra
desbordamendo (extravasamento) cognitivo por causa da grande quantidade de informação
com a qual vai se deparar. Esse problema pode ser resolvido mediante a reflexão, localizando
as conexões hipertextuais que se justificam a partir de um ponto de vista conceitual e que por
si mesma permite conectar conceitualmente a informação ao sujeito, ou pela incorporação de
ajudas, aportes para que o estudante saiba em que lugar, sítio formativo se encontra, a que
elementos já tem recorrido e quais lhe faltam por recorrer(Cabero e Gisbert, 2005).
Ao contrário do que se poderia esperar com a aplicação das TIC no ensino, sua
utilização pode implicar a mobilização de uma série de estratégias e metodologias docentes
que favoreçam um ensino ativo, participativo e construtivo. Como apontado por Cabero
(2005), não basta fazer download de arquivos, independentemente de sua formatação com a
realização de atividades teleformativas. Essas atividades implicam também a aplicação de
estratégias e metodologias concretas de formação, virtualização e estruturação específica dos
conteúdos, o planejamento de atividades com apoio de monitorias virtuais ou presenciais.
Assim, com o objetivo de entender como se caracterizam os novos cenários
formativos, é preciso entender que o e-learning como modalidade de ensino-aprendizagem,
através da rede, se configura como espaço que facilita a interação tanto entre professoresalunos como entre alunos-alunos, conforme mostram Mclsaac e Gunawardena (1995), citados
por Osorio (2009) que apontam quatro tipos de interação:
a) Estudante-professor:
proporciona
motivação,
retroalimentação,
diálogo,
orientação personalizada, etc.;
b) Estudante-conteúdo: acesso aos conteúdos instrucionais, à matéria de estudo;
c) Estudante-estudante: intercâmbio de informação, ideias, motivação, ajuda não
hierarquizada;
d) Estudante-interface comunicativa: toda a comunicação entre os participantes do
processo formativo e o acesso destes à informação relevante se realiza por meio
de algum tipo de interface (geralmente vários), sejam material impresso, telefone,
redes informáticas ou videoconferência via satélite. O uso das distintas interfaces
vem determinado por diversas variáveis (custo de oportunidades, eficácia,
disponibilidade, etc.)
E de acordo com essa configuração, podem-se apresentar, baseando-se em Cabero e
Gisbert (2005) citados por Osório, os elementos mais significativos conforme ilustrado na
Figura 1.
Figura 1 – Tipos de interação no e-learning
Fonte: Cabero e Gisbert (2005) citados por Osório (2009)
Conforme já apontado, embora a tecnologia esteja presente em todos os aspectos
da vida contemporânea, ainda não é explorada no ambiente formativo como deveria, mesmo
com todo o potencial que oferece, principalmente no sentido de ampliar a absorção de um
conteúdo e alcançar a melhor maneira de apresentá-lo para conquistar os objetivos almejados
por cada estudante.
A partir dessa percepção, e com o objetivo de respeitar as limitações e avanços de
cada um dos discentes, as instituições de ensino começam a trazer as tecnologias para seus
contextos pedagógicos, a fim de adaptar suas missões à contemporaneidade.
Nesse aspecto, há de se considerar também que utilizar as TIC para realizar as
mesmas coisas como se faz com as tecnologias tradicionais ocorre-se em grande erro. As novas
tecnologias permitem realizar coisas completamente diferentes e há aí um critério para a sua
incorporação, ou seja, não pode ser exclusivamente o fato de que permitem fazer as coisas de
forma mais rápida, automática e confiável. Conforme assinala Barberá (2001), o desafio não se
encontra tanto em desenvolver os cursos tradicionais em formato hipermedia, mas em ser
capaz de adotar novas perspectivas de concepção de procedimentos de ensino-aprendizagem
para a construção do conhecimento.
Em relação ao primeiro fator, diferentes estudos (Paulsen, 1995; Perez, 2001 apud
Cabero, 2003) têm mostrado que a diversidade de técnicas e estratégias que se podem
mobilizar – desde a utilização para o trabalho individual dos estudantes com materiais de
estudo, estratégias para recuperação de informação, trabalhos com recursos da rede,
contratos de aprendizagem, trabalhos autônomos com materiais interativos –, até as que se
relacionam ao ensino em grupo, centradas na apresentação da informação – exposição
didática, perguntas em grupos, simpósios, mesa redonda ou painel –, e aquelas postas em
ação para aprendizagem colaborativa – estudos de casos, trabalhos em parceria – dupla,
pequenos grupos de discussão, grupos de investigação...
A mobilização de estratégias é cada vez mais importante já que em um mundo
repleto de informações e de uma informação que se transforma em curto espaço de tempo, o
mais importante que ensiná-la é como fazê-lo, que mecanismos utilizar para motivar e
despertar o interesse dos estudantes.
Porém, aderir à tecnologia na educação é um processo que exige planejamento e
estruturação. A simples compra de computadores, tablets e smartphones não permitirá a
plena utilização dos recursos, pois, para isso, é necessária a instalação de uma rede adequada,
que comporte o fluxo de acessos e de transmissão de dados. Sem isso, todos os objetivos
esperados com a aquisição podem não ser alcançados, e o que seria uma ferramenta para
dinamizar as rotinas e inovar os processos se torna um empecilho ao cumprimento do
cronograma escolar. Isso sem contar que há um desestímulo e consequente descrença nas
ferramentas tecnológicas quando não é possível alinhar a expectativa de sua utilização a seu
funcionamento de fato.
E para que esse erro não ocorra, é necessário averiguar previamente tudo o que é
essencial para evitar problemas durante a utilização dos recursos tecnológicos. Toda a
infraestrutura para suporte aos aparelhos e sistemas deve ser pensada de acordo com o
número esperado de acessos, a capacidade de suporte a conteúdos em formatos distintos
(vídeos, músicas, fotos, textos etc.) e a segurança em relação a vírus e outros tipos de ataques
cibernéticos.
2 A SALA INVERTIDA – “THE FLIPPED CLASSROOM”
O advento da internet modificou a forma como as pessoas fazem quase todas as
coisas. No entanto, o ensino parece quase invisível ou alheio a essa revolução. Os manuais
mudaram muito pouco, os programas também. E a forma de ensinar – com professores a
“narrar” matéria e os alunos a tomar notas – também pouco reflete a revolução tecnológica no
contexto atual das sociedades. As consequências, como já apontado, são inevitáveis e têm-se
traduzidas num afastamento dos estudantes, num desinteresse generalizado.
Aqui e ali, por força dessa situação, têm incipientemente surgido propostas inovadoras
que integram as novas tecnologias no programa e no método de ensino. No contexto das
metodologias ditas ativas, uma das correntes propõe a inversão total dos papéis dos atores –
professor e estudantes, conforme também já apontara Cabero (2003) e elenca a chamada aula
“invertida”, do inglês “Flipped classroom”, como possibilidade metodológico-pedagógica.
O método consiste em: (i) fornecer os conteúdos com antecedência de forma que os
estudantes possam se preparar antes de ir para a sala de aula; (ii) motivar os estudantes a
serem protagonistas de sua própria aprendizagem; (iii) mobilizar aulas participativas, com
discussões e aplicações práticas. Como vantagens, os defensores apontam uma adequação ao
ritmo individual, já que as aulas em vídeo permitem andar parar e andar para trás. Permitem
também a comunicação com colegas e professores, aumentando a motivação; já os que se
opõem apontam para uma grande dependência da tecnologia e um reforçar do tempo de ecrã.
Assim, baseando-se nas reflexões que se têm produzido sobre a educação a distância –
EAD – a questão da organização da sequência de atividades de ensino-aprendizagem vem
ocupando a pauta de muitas dessas pesquisas e têm apontado que o ponto de partida tem
sido sempre o ensino presencial. Schneider e outros (2013) apontam que, nessa modalidade, é
essencial para a constante melhoria dos cursos oferecidos se pensar e buscar uma organização
curricular específica e não apenas a transposição do modelo da escola tradicional, centrada na
aula expositiva.
Assim, o contrário, pois, também pode ser possível, isto é, se pensar um currículo
misto, ou utilizar-se do expediente da modalidade EAD, no caso do “Flipped Classroom” no
ensino regular e presencial, o que poderá conciliar as positividades de ambas as modalidades,
porém, superando a tendência de superposição dos modelos, pensando os elementos a serem
mantidos – interação professor X aluno X colegas, atividades em grupo, feedback instantâneos,
obrigatoriedade de presença em atividades entre outros e aqueles que precisam ser
aprimorados com uso de tecnologias da informação e comunicação, materiais pedagógicos
dialógicos, uso de vídeo aulas, uso de redes sociais como facebook, twitter, blogs e outras
possibilidades de relacionamento e interação virtuais.
A ideia do “Flipped classroom” surgiu em escolas do ensino médio norte-americanas,
quando os professores Jonathan Bergamann e Aaron Sams (2012) utilizaram estratégias
diferenciadas para atender alunos que precisavam se ausentar por longo período das aulas
regulares para os jogos (muitos eram atletas). Esses professores passaram a gravar suas aulas e
postá-las para que mesmo longe da sala de aula, os alunos pudessem acompanhar a turma
regular. Os alunos assistiam aos vídeos e quando regressavam levavam suas dúvidas ou
contribuições para os momentos de discussão e aplicação, em contrapartida a aulas magnas e
teóricas.
A partir dessa experiência, os professores ampliaram essa possibilidade para todos os
demais alunos, invertendo, dessa forma, a lógica das aulas: os alunos assistiam aos vídeos, cujo
objetivo e papel eram levar o conteúdo teórico das disciplinas, apresentando os conceitos,
autores e diferentes proposições a respeito do tema de estudo. Com o apoio de vários
materiais os alunos estudavam e em seguida se reuniam com os professores não mais em
aulas expositivas, mas sim para aplicação dos conteúdos explorados em vídeo e estudados
previamente.
Segundo Schneider e outros (2013), o aporte teórico de Bergaman e Sam (2012) se
encontra em Bloom (1956), psicólogo norte-americano que, em 1956 escreveu a Taxonomia
dos objetivos educacionais, descrevendo-os do mais simples ao mais complexo, de modo a
permitir o planejamento do ensino, isto é, se os objetivos fossem claramente determinados,
seria mais fácil escolher as estratégias apropriadas de ensino-aprendizagem. Bloom (1956)
determinou três campos de objetivos: (i) cognitivos – aprendizagem intelectual; (ii) afetivos –
aspectos ligados aos valores; (iii) psicomotores – execução de tarefas usando o organismo
muscular. Outro aspecto contemplado por Bloom é o que se refere a diferentes estilos de
aprendizagem que, quando respeitados pelas estratégias, favoreceriam o desenvolvimento
mais amplo do potencial de cada aprendiz. Bloom também classificou os objetivos no domínio
cognitivo, o mais aprofundado na sua obra, em seis níveis e defendeu que cada nível utiliza as
capacidades adquiridas no nível ou níveis anterior(es), conforme mostra a Figura 2.
Figura 2 – Taxonomia de Bloom Revisada
Fonte: Schneider e outros (2013)
Apesar de críticas feitas a essa proposta, segundo Schneider e outros (2013), não se
pode negar que ao se planejar um curso superior é preciso decidir e definir os objetivos de
aprendizagem, estruturando de forma consciente o processo educacional de modo a
oportunizar a que o estudante viabilize a formação esperada e aí entra o papel do Plano de
Ensino, bem estruturado e determinando o que o estudante precisa dominar ao final do
período em curso – é o acordo da relação didático-metodológico entre professor e aluno.
E nesse sentido, Schneider e outros (2013) propõem, no EAD, não a Taxonomia
Bloomiana na sua perspectiva original, no aporte de Bergaman e Sams, mas sim a sua inversão
– daí o nome: Sala de Aula Invertida, conforme mostra a Figura 3.
Figura 3 – O Flipped Classroom ou Sala Invertida
Fonte: Schneider e outros (2013)
Assim, se para Bloom (1956) o ensino deveria começar pelas habilidades de
pensamento inferior e paulatinamente avançar, na proposta de Bergaman e Sams (2012), o
processo deve ser invertido, ou seja, o estudante em atividade de auto estudo, com base em
livros e materiais em hipertextos e hiperlinks, vídeos e outros recursos mediáticos, dedicar-seá à aquisição de seu próprio conhecimento, dedicando tempo necessário a atividades de
acordo com suas características particulares de aprendizagem e o professor em etapas
subsequentes, estimula o aluno à pesquisa e à interação com os colegas com o uso de
ferramentas da informação, principalmente no ambiente virtual de aprendizagem.
Sob esta perspectiva, os estudantes, nos encontros presenciais se dedicarão a ações de
criar, avaliar – habilidades superiores de pensamento. Por conseguinte, esses encontros
devem ser o foco dos encontros entre professores e alunos, deixando as habilidades básicas
para as atividades orientadas de estudos individuais, para serem realizados autonomamente,
com os vídeos e o material de apoio – os auxiliares do aluno nesse processo.
Por esse método é muito mais que gravar os conteúdos em vídeo, isto é, para
Bergaman e Sams, “The Flipped Classroom” tem um enfoque integral que combina a instrução
direta com métodos construtivistas, o incremento de compromisso e a implicação dos
estudantes com o conteúdo do curso, melhorando sua compreensão conceitual. Trata-se, pois,
de um enfoque integral que, quando aplicado com êxito, apoiará todas as fases de um ciclo de
aprendizagem. A Figura 4 ilustra a comparação entre a sala de aula tradicional e a sala de aula
invertida – Flipped Classroom.
Figura 4 – Diferença entre a sala de aula tradicional e a sala de aula invertida – Flipped Classroom
Fonte: Canfranc (2015)
Dessa forma, segundo Canfranc (2015), o estudante se converte em protagonista de
sua própria aprendizagem e adquire responsabilidade na criação de seus próprios conteúdos e
materiais de estudo. Mesmo assim, essa concepção implica o trabalho colaborativo em equipe
como ferramenta para aquisição do conhecimento. O autor menciona que os criadores –
Bergamann e Sams (2012) – definem quatro pilares do método FLIP (sigla):
1) Flexible Enviroment – contexto flexível: os professores reorganizam os espaços de
aprendizagem para acomodá-los a um determinado assunto ou unidade de conteúdo
para apoiar o trabalho de grupo ou aprendizagem individual.
2) Learning Culture – cultura da aprendizagem: frente ao modelo clássico em que o
professor é a fonte de informação, na sala de aula invertida a instrução recai sobre o
próprio aluno e o tempo de classe se dedica a aprofundar os conhecimentos e a
enriquecer as oportunidades de aprendizagem;
3) Intentional Content – conteúdo dirigido: os professores selecionam o que querem
ensinar e se convertem em curadores/mediadores dos conteúdos e materiais que os
alunos devem estudar por si mesmos.
4) Profissional Educator – Facilitador profissional: o novo papel do professor é
fundamental na aula invertida para seguir e acompanhar o progresso dos alunos,
realimentando-os e avaliando-os.
Apesar de ser essa metodologia e não a tecnologia a pedra angular do conceito Flipped
Classroom, as TIC jogam um papel ativo no desenvolvimento de uma estratégia educativa
desse tipo: as redes sociais são profundamente utilizadas para compartilhar conhecimentos e
experiências, como Twitter, Google, Facebook, que são bons exemplos disto. Igualmente são
fundamentais as ferramentas para criar conteúdos próprios, como são as apresentações, os
formulários, arquivos de áudio, vídeos ou informes.
Nesse sentido entram também os OAs (Objetos de Aprendizagem), definidos como “a
menor estrutura instrucional independentemente que contém um Objetivo, uma Atividade de
Aprendizagem e uma Avaliação”, segundo L’Allier (1997 apud Cechinel, 2008), citado por
Colombo e outros (2014). Assim, um AO consiste em um componente digital, base de curso,
unidade ou lição que pode ser reutilizado para criar outras estruturas instrucionais únicas.
Algumas das principais características que os OAs podem apresentar para estimular a
sua utilização e disseminação são descritas por Logmire (2000 apud Cechinel, 2008), citado por
Colombo e outros (2014):
a) Flexibilização – pode ser reutilizado, isto é, não necessita ser reescrito para cada
novo contexto;
b) Personalização – facilita a personalização de conteúdos, isto é, recombinação de
materiais;
c) Interoperabilidade – permite a definição de especificações de design, de
desenvolvimento e de apresentação baseadas em necessidades da organização e
mantém a capacidade de operar em conjunto com outros sistemas de
aprendizagem e contextos;
d) Aumento de significância do conhecimento – com a reutilização de um OA várias
vezes e em diferentes situações, seu conteúdo é consolidado naturalmente à
medida que o tempo passa.
Assim, de acordo com Tarouco (2004), citado por Colombo e outros (2014), os OAs são
materiais educacionais com objetivos pedagógicos que servem para apoiar o processo de
ensino-aprendizagem, ou seja, para Tarouco, o termo objeto educacional (learning object)
geralmente aplica-se a materiais educacionais projetados e construídos em pequenos
conjuntos com vistas a maximizar as situações de aprendizagem onde o recurso pode ser
utilizado. A ideia básica é a de que os objetos constituem blocos com os quais será construído
o contexto da aprendizagem.
Na modalidade b-learning, com a utilização da Fipped Classroom, destaca-se a
importância da colaboração, dos estudos dirigidos, da interação entre alunos, professores,
colegas e conteúdos de aprendizagem em ambiente dinâmico e estimulante. Nesse modelo
destaca-se também a importância do professor como mediador da aprendizagem, não mais
como mero transmissor, narrador de informações, mas como elemento que identifica
possibilidades que media a aprendizagem, que resolve problemas, que estimula o aluno ao
auto estudo e aprendizagem colaborativa.
As TIC, por sua vez, representam outro aspecto importante do modelo, porque
permitem associar perfeitamente os modelos, presencial e a distância – EAD, permitindo
extrair o que há de melhor nos dois modelos de modo a conduzir o aluno a um aprendizado
enriquecido com atividades práticas que permeiam todos os conhecimentos teóricos
mostrados nas aulas expositivas.
Muitas são as vantagens, segundo seus apoiadores, que estão presentes nessa
modalidade metodológica, dentre as quais se destacam:
a) Os estudantes recebem feedback imediato porque os docentes dispõem de mais
tempo para apoiar nos conceitos mais difíceis;
b) O nível de frustração é menor, pois o estudante que antes deixava tarefas sem
acabar devido à complexidade e/ou falta de pré-requisitos, nessa possibilidade
conta com a ajuda do professor ( e dos colegas) para realizar as tarefas;
c) Os professores podem explicar com mais detalhes partes mais difíceis;
d) Aqueles estudantes que não dispõem da ajuda/apoio familiar para seus estudos
recebem de seus professores.
Enfim, o “Flipped Classroom” pode possibilitar ao estudante um papel muito
mais ativo em seu processo de aprendizagem e uma maior responsabilidade em sua formação,
ou seja, pode ser uma metodologia, conforme apregoa Canfranc (2015), para construir o
cidadão do século XXI.
3 A APRENDIZAGEM COLABORATIVA
Em diferentes trabalhos (Cabero e Hernandes, 1995; Cabero e Marquez, 1997 e 1999),
conforme aponta García-Valcárcel (2003), tem-se insistido nas possibilidades educativas que
tem o uso dos media pelos alunos como: contextualização dos media e dos materiais de
ensino, passar de meros reprodutores/receptores a produtores de media e à compreensão de
seu processo, aprendizagem das linguagens e características técnicas das tecnologias...,
sinalizando que sua verdadeira potencialidade educativa não se encontra no produto
propriamente dito, mas em todas as atividades que são realizadas no processo.
De outro lado, não se deve esquecer a significação ou significância que a aprendizagem
colaborativa está adquirindo com as tecnologias nos últimos tempos. A aprendizagem
colaborativa tem recebido diversas conceituações, como se pode observar em Owens (1989),
citado por García-Valcárcel (2003) nos seguintes termos: “[...] el intercambio y cooperación
social entre grupos de estudientes para el propósito de facilitar la toma de decisiones y//o la
solución de problemas. La colaboración entre aprendices les permite compartir hipótesis,
enmendar sus pensamentos y trabalhar mediante sus discrepâncias cognitivas”.
Sob esta perspectiva, considera-se que a função da educação é mostrar aos estudantes
como devem chagar a construir os conhecimentos em colaboração com o restante dos seus
companheiros.
O conceito básico gira em torno da organização por parte do docente de pequenos
grupos em contextos instrucionais formalizados nos quais os estudantes discutem os tópicos e
chegam a aprender no intercâmbio de opiniões, a admissão das propostas de outros membros
do grupo, e a modificação de suas abordagens prévias, formuladas por si próprios, ou por
outros companheiros do grupo.
Nesse sentido, Not (1987:88) citando J. Maritain (1962), diz entender claramente que
“el nino espera ellos aquello de lo que él tiene necesidad; saber ser guiado positivamente y
aprende lo que ignora”. Tais são, com efeito, as verdadeiras necessidades dos estudantes. Se o
docente não se apresenta como sujeito diante dos alunos, nunca será admitido na dignidade
de co-sujeito por eles, porém somente intervém quando as iniciativas do estudante ou sua
atividade se bloqueiam por uma necessidade não satisfeita, ou falta da informação. Assim,
somente o estatuto de co-sujeitos, reconhecido por seu companheiro (estudanteprofessor/professor-estudante), é susceptível de assegurar a indispensável relação dialética
entre a aprendizagem e o ensino.
De toda forma, também não se pode iludir de que todo grupo de trabalho entre
estudantes seja uma opção colaborativa, como assinala Johnson e Johnson (1987), citados por
García-Valcárcel (2003): já que existe uma série de diferenças entre estas e aquelas: (i) a
aprendizagem em grupos cooperativos se encontra baseada em uma forte relação de
interdependência dos diferentes membros que a conformam de maneira que o alcance final
das metas diz respeito a todos os membros; (ii) há uma clara responsabilidade individual de
cada membro do grupo para o alcance da meta final; (iii) a formação dos grupos no trabalho
colaborativo é heterogênea em habilidades, característica dos membros em oposição à
aprendizagem tradicional de grupos que são mais ou menos homogêneos; (iv) flexibilização
dos papéis no processo de comunicação, cuja responsabilidade de cada estudante é
compartilhada; (v) a aprendizagem de grupos cooperativos se centra em tender para as boas
relações dos seus membros; (vi) na aprendizagem cooperativa os estudantes necessitam ter
destrezas para trabalhar de forma colaborativa – as habilidades para comunicar são
diretamente aprendidas, diferentemente na aprendizagem tradicional que são natas; (vii) os
professores observam e intervêm no trabalho em grupos colaborativos enquanto que, ao
contrário, nos trabalhos tradicionais de grupo, os professores ignoram o funcionamento dos
grupos; (ix) na aprendizagem colaborativa, o professor estrutura o funcionamento de como
devem trabalhar efetivamente.
Em linhas gerias, pode-se considerar como um grupo pequeno de pessoas formado
pelo docente, mediático ou humano, para que a interação alcance uma série de objetivos
direta ou indiretamente, planejado ou não planejado, que sem querer limitar, pode-se
especificar nos seguinte:

Aquisição dos objetivos previstos;

Domínio dos conteúdos sobre os quais se interacionam;

Desenvolvimento
e
aperfeiçoamento
de
estratégias
e
técnicas
de
comunicação, de intercâmbio e aceitação de ideias;

Os resultados alcançados não supõem a mera soma de trabalhos isolados e
individuais realizados por diferentes membros do grupo, mas das suas
negociações e coesão;

Desenvolvimento socioafetivo de seus integrantes.
As vantagens que se têm atribuído à aprendizagem colaborativa são diversas e vão
desde a transformação das atitudes dos estudantes frente aos conteúdos trabalhados até ao
aumento do rendimento, assim como o aumento das habilidades sociais em seus
participantes, conforme apontam Cabero e Márquez (1997).
Ultimamente, principalmente com o avanço das novas tecnologias, a aprendizagem
colaborativa, por meio de redes, está a adquirir uma dimensão de extraordinária importância.
Assim, a meta de aprendizado “aprender a aprender” passou a ser um dos objetivos
centrais para educação do século XXI. Com a aceleração e a universalização das tecnologias e
das mudanças sociais implicadas, um dos grandes desafios que surgem é como preparar as
pessoas para atuar em um futuro ambiente sociotécnico, não apenas muito diferente do que
existiu durante seus anos de aprendizado formal, mas também e, sobretudo, em constante e
acelerada mudança.
Conforme a Lei de Moore (1965 apud Pallazo e Ulbricht, 2015), que aponta o que vem
sendo observado nos últimos 50 anos: a tecnologia duplica a capacidade de conhecimento
(pelo menor custo) em um período de aproximadamente dois anos, hoje a estimativa já é de
18 meses. Por conseguinte, pode-se assumir que o condicionamento a essa realidade já está
incorporado ao modus vivendi da sociedade contemporânea. A questão que surge então é
como empregar na educação e na produção os recursos tecnológicos cada vez mais disponíveis
para dotar os estudantes de competências e habilidades de fundo, que os permitam lidar com
cenários variados e talvez imprevistos da realidade que irão enfrentar no futuro.
Uma considerável parte disto se traduz na capacidade de orientação e comunicação na
virtualidade. Algumas delas são: encontrar e selecionar fontes de informação útil; entender
questões complexas; solucionar problemas; comunicar-se, colaborar, trocar arquivos e
informações; usar serviços e aplicativos coletivos de produtividade e lazer.
A comunicação online e móvel, por exemplo, pode ser muito mais explorada nos seus
aspectos educacionais, tendo em vista seu grande potencial pedagógico. Não se trata
simplesmente de uma questão tecnológica; o que se busca, em grande parte, é estabelecer
cenários pedagógicos que estimulem e exercitem o seu uso de forma positiva e proativa, tanto
do ponto de vista do estudante quanto da coletividade.
Para diversos autores clássicos e contemporâneos, elencados por García-Valcárcel
(2003), como Teilhard de Chardin (1982), Vygotsky (1984), Levy (2007) e Castells (2002),
dentre outros, a educação se beneficia dos relacionamentos interpessoais, da interação com a
realidade, da afetividade e da troca de experiências. Isto pode ser obtido hoje em muito maior
escala do que há apenas dez anos, graças a ambientes virtuais de informação, comunicação e
compartilhamento de conteúdos como o facebook, google, twitter, youtube, skipe, slide share
e muitos outros.
No entanto, embora todas essas ferramentas possam ser – e até tem sido –
empregadas em educação colaborativa, não há por enquanto propostas concretas da
integração, organização que permitem o seu uso pleno como pano de fundo em ambientes
educacionais. Em geral, as redes sociais são empregadas meramente como ferramentas
auxiliares de comunicação, em acoplamento fraco com as metas educacionais e cognitivas
assumidas por determinado coletivo ou grupo.
Cria-se, geralmente, o grupo da “turma” no facebbok ou no google, sem uma
finalidade clara ou orientação pedagógica específica. Assim como aponta Lovink (2012), tem-se
uma rede “sem causa”, cujo produto é meramente uma interação desorganizada e errante
entre os participantes. Em parte essa condição pode talvez ser explicada pelo fato de que se
trata de tecnologias muito recentes e de grande impacto, que reverberam intensamente na
sociedade sem estarem ainda plenamente pensadas e compreendidas em todo o seu alcance.
Essa evolução se dá gradativamente, porém já se pode observar que, por exemplo, a
distância e a rigidez hierárquica entre professor e aluno já diminuíram bastante nos últimos
anos e devem continuar sendo reduzidas pelas redes sociais, que constituem um canal
adicional para as relações. Adicionalmente os laços sociais entre os envolvidos em processos
educacionais ou cognitivos (turmas de alunos, participantes em conferência, grupos de
pesquisa, etc.) tendem a aumentar e se fortalecer, na medida em que há cada vez mais o
compartilhamento de informações e a comunicação móvel digital entre elas, tornando-se
rotineiro.
É importante salientar também que, em virtude da própria evolução da sociedade, a
carga de conhecimento necessária ao bom desempenho em qualquer nível educacional e
profissional se torna cada vez maior e mais complexa. Como a capacidade de aprendizagem e
memorização dos estudantes é limitada por diversos fatores, cumpre buscar cada vez mais a
qualidade (e não a quantidade) do conhecimento transmitido, adquirido.
Nessa direção é fácil perceber que no universo virtual a imensa variedade de opções
ao alcance de todos torna única cada experiência individual. Ao filtrar, selecionar e detalhar as
informações de seu interesse, os estudantes vão criando uma perspectiva própria e original da
realidade, que pode ser muito enriquecedora e reciprocamente enriquecer outras visões ao
estabelecer um diálogo colaborativamente exploratório sobre um mesmo tema.
Também Campos e outros (2003), citados por Pallazo e Ulbricht (2015), consideram a
aprendizagem colaborativa como uma proposta pedagógica na qual os estudantes ajudam-se
mutuamente no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o
professor, com o objetivo de adquirir conhecimento sobre um dado objeto. Embora utilizem
diferentes maneiras para conceituar aprendizagem colaborativa, fica evidente que é por meio
da construção em conjunto e com a ajuda entre membros do grupo que se busca atingir algo
ou adquirir novos conhecimentos, cuja base da aprendizagem colaborativa está na interação e
troca de experiências diferentes entre os estudantes.
Torres (2004) propõe doze princípios considerados essenciais em sistemas de
aprendizagem colaborativa:
1) Participação ativa do estudante no processo de aprendizagem;
2) Mediação da aprendizagem feita por professores e tutores;
3) Construção coletiva do conhecimento, que emerge da troca entre pares, das
atividades práticas dos estudantes, de suas reflexões, de seus debates e
questionamentos;
4) Interatividade entre os diversos atores que atuam no processo;
5) Estímulo aos processos de expressão e comunicação;
6) Flexibilização dos papéis no processo das comunicações e das relações a fim de
permitir a construção coletiva do saber;
7) Sistematização do planejamento, do desenvolvimento e da avaliação das
atividades;
8) Aceitação das diversidades e diferenças entre os estudantes;
9) Desenvolvimento da autonomia do estudante no processo ensino-aprendizagem;
10) Valorização da liberdade com responsabilidade;
11) Comprometimento com a autoria;
12) Priorização do processo sobre o produto.
Esses princípios estabelecem um referencial que precisa hoje ser mais bem discutido,
sob a visão dos autores, e entendido, uma vez que são múltiplas as estratégias possíveis para
que cada uma dessas características seja alcançada.
A evolução tecnológica introduz continuamente novas alternativas no ambiente
educacional que podem ser empregadas com tais finalidades. Observa-se que há, sim,
tecnologias e ferramentas capazes de ser adequadamente integradas, de impulsionar a
realização de tais princípios. O que ocorre, todavia, é que essa integração ocorre apenas em
uma escala reduzida, empregando pouco do potencial disponível.
Stahl e outros (2004), citados por Pallazo e Ulbrich (2015), observam que a pesquisa
em Sistemas de Aprendizagem Colaborativa (SAC) deve atender a diversos objetivos e
apresenta múltiplas restrições. A comunidade de pesquisa precisa incluir participantes com
formação diversa, reunindo habilitações em diversas áreas científicas e tecnológica. Essa
diversidade inclui paradigmas de pesquisa diferentes, visões taxonômicas contrastantes de
conceito, vocabulário técnico e métodos de análise variados. Uma ampla revisão da pesquisa
em SAC inteligentes e/ou adaptativos foi apresentado por Magnisalis e outros (2011), citados
Pallazo e Ulbrich (2015), por onde os autores abordam também ambientes de CSDL (Computer
Supported Collaborative Learning) e
propõem métricas para a avaliação de suas
características. Todos esses estudos apontam para um cenário de aprendizagem colaborativa
que pode ser sintetizado em cinco ações-chave, conforme ilustrado na Figura 5.
Como se pode observar, a avaliação do aprendizado se dá por meio de respostas a
questões e desafios propostos com algum objetivo educacional a um grupo de estudantes
colaboradores. Esse processo leva à criação coletiva e ao surgimento de oportunidades
pedagógicas que não ocorreriam no nível individual. A inovação que surge da aplicação do
processo pode ser fermentada a partir da evolução da comunidade na prática estabelecida – o
que está de acordo com a teoria da cognição situada (Lave e Wenger, 1991 apud Pallazo e
Ulbricht, 2015). O desafio é então especificar, planejar e criar o ambiente e as condições
necessárias para essa realização.
Avaliar
Inovar
Colaborar
Comunicar
Educar
Figura 5 – Ações-chaves em aprendizagem colaborativa
Fonte: Adaptado de Magnisous et al (2011) por Pallazo e Ulbrich (2015)
3.1 O Ambiente Colaborativo
A rede pode ser configurada para adotar diversas estratégias de evolução.
Uma das mais intuitivas pode ser o desenvolvimento colaborativo estruturado, que
atribui a diferentes equipes de participantes a pesquisa ou aprendizagem de diferentes
conceitos, relacionamentos e estruturas de regras que, conjuntamente, irão
caracterizar cada versão do objeto conhecimento. Cada equipe tem suas próprias
metas e checkpoints estabelecidos até a entrega definitiva (delivering) dos
componentes a ela atribuídos.
Em uma determinada etapa do processo, todos os componentes são integrados
e uma versão completa se torna disponível para a publicação na Web. Durante o
desenvolvimento, somente os membros de cada equipe podem editar os componentes
sob sua responsabilidade. Entretanto, todos os participantes devem periodicamente
examinar os componentes em desenvolvimento pelas demais equipes e comentá-los,
inclusive sugerindo alterações com o intuito de alcançar um melhor resultado. Essa
estratégia a ser entendida, após a publicação da primeira versão na Web, a opinião e
contribuição externa, possibilita a democratização da construção coletiva do
conhecimento.
A Rede Social Temática (RST), na perspectiva de Pallazo e Ulbricht (2015) pode
apresentar caráter permanente ou temporário, dependendo do tema e dos objetivos
definidos em relação a ela. A rede de um grupo de pesquisa, por exemplo, pode ser
pensada como entidade permanente onde os participantes podem ser substituídos ao
longo do tempo. O tema pode evoluir e se diferenciar ou especializar, mas a estrutura
permanece, por outro lado, uma RST associada a um projeto tem um prazo de duração
pré-estabelecido e sua conclusão deve ocorrer naturalmente em um determinado
tempo previsto. A sua extinção precisa ser planejada e definida a priori, garantindo a
cada participante a posse e a privacidade de suas informações pessoais.
Em RST, de muitas formas, todos os participantes podem se relacionar também
socialmente e compartilhar não somente conhecimento e trabalho colaborativo, mas
também afinidades, amizades, afeto. A rede é um ambiente virtual onde laços sociais
entre os participantes podem ser estabelecidos e consolidados.
Em RST, todos são amigos de todos. Isto significa ao mesmo tempo uma forte
coesão entre os participantes e um isolamento autorregulado em relação ao restante
do mundo. A identidade do grupo é reforçada assim com seus objetivos e metas
comuns, tornando-o uma unidade de trabalho intelectual e autônoma e diferenciada.
Esses vínculos não precisam necessariamente ser extintos em caso de conclusão do
trabalho da rede ou da saída de participantes, sendo perfeitamente possível sua
continuidade em outras plataformas sociais.
Após a publicação do produto, segue um período de autoavaliação, durante o
qual a pesquisa é suspensa e todos se dedicam, individualmente, a considerar o
trabalho desenvolvido. Nessa fase colhem-se as impressões que cada participante tem
do material organizado. Essas manifestações podem ser capturadas objetivamente
(escala de qualidade em diferentes dimensões de avaliação) e qualitativamente, como
críticas construtivas e sugestões para o aperfeiçoamento e a continuidade dos
trabalhos. Numa terceira etapa, a equipe coordenadora se reúne para sintetizar as
ideias reunidas em uma versão, digamos “alfa-zero” do objeto em desenvolvimento.
Essas três etapas se repetem uma ou mais vezes, até que haja uma versão adequada
para a publicação online, no próprio portal do projeto na Web, onde se abrirá espaço
para comentários da comunidade acadêmica e do público em geral, alimentando todas
as possíveis novas ideias, futuras etapas do projeto. O ciclo completo do processo, que
pode ser empregado na construção colaborativa de qualquer objeto de conhecimento
em RST, pode ser observado na Figura 6.
Publicação Interna
dos Resultados
Pesquisa Colaborativa
em Equipe
Início
Plano de
Desenvolvimento
da RST
Avaliação e Discussão e
Feedback interna
SÍNTESE
Publicação Externa
(Open data) da RST
Avaliação, Discussão e
Feedback Externo
Figura 6 – Ciclo do Processo de Desenvolvimento do Projeto RST
Fonte: Pallazo e Ulbrich (2015)
4 PROPOSTA DE METODOLOGIA COLABORATIVA
A utilização de tecnologia de informação e comunicação possibilita desenvolver
mecanismos que auxiliam no ensino e aprendizagem em ambientes universitários,
como é o caso desta apresentação de uma alternativa metodológica, na modalidade
de metodologia colaborativa, com apoio do Laboratório Virtual, propondo um modelo
de intersecção e interação utilizando as tecnologias de informação e comunicação,
para criar serviços que dão suporte ao ensino e à pesquisa.
Esse modelo inclui tanto a seleção e organização dos conteúdos, como,
também, processos de interação e comunicação que favoreçam a criação de
comunidades aprendentes. Nesse sentido, espera-se construir e desenhar formas para
possibilitar também a formação continuada de professores, principalmente em área de
grande impacto na manutenção sistêmica da reprovação e evasão nos cursos ditos
hard –, por meio de um Modelo Multiplicador por Grupo, contribuindo na criação de
uma nova distribuição de espaço, relação de tempo entre o trabalho do professor com
o aluno e na construção da virtualização no sentido da ampliação do conhecimento e
da informação.
A utilização de tecnologia de informação e comunicação que desenvolve
mecanismos que auxiliam no ensino e aprendizagem em ambientes universitários, que,
a exemplo do que está especificado na Declaração de Bologna, pode gerar mudanças
no sistema de ensino superior, com suporte informacional, como os Centros de
Recursos para el Aprendizaje y la Investigación – CRAI – (Bursztyn, 2005).
O Laboratório Virtual propõe um modelo de intersecção e interação utilizando
as tecnologias de informação e comunicação, para criar serviços que dão suporte ao
ensino e à pesquisa, mas mais do que o aporte do recurso tecnológico é a possibilidade
de desenvolver uma cultura da autonomia no estudante, posto que a cultura da aula
narrativa continua muito forte e arraigada nos nossos sistemas formativos – é preciso,
pois, aprender a aprender, desaprender e reaprender na atual sociedade da
informação, quando os conteúdos mudam tão rapidamente também..
Essa perspectiva se contrapõe ao modelo, chamado clássico, de ensino que
continua a persistir sem questionamento por grande parte de professores, alunos e
pela própria sociedade em geral em que o professor ensina, básica e
fundamentalmente, dizendo aos estudantes o que se supõe que devem saber. É o que
Don Finkel (2008) denomina “dar aula narrando”, contrapondo o modelo de “dar aula
de boca fechada”, que estimula a busca de maneiras alternativas de ensinar.
Ao se questionar tal modelo, baseado muitas vezes em um livro texto, em que
o professor (uma forma de narrar) escreve no quadro de giz (ou hoje no slide do
Datashow ou congêneres) aquilo que o aluno deve copiar em seu caderno, estudar,
memorizar e depois reproduzir nas avaliações constitui-se um meio ineficaz para
estimular a compreensão e o pior, desestimula o estudante que não vê atendido seu
projeto de formação em meio a esse mundo tecnológico no qual está imerso.
Assim, entende-se que boa docência, no entanto, é aquela que cria
circunstâncias que conduzem à aprendizagem relevante e duradoura. Nesse sentido a
primazia deve ser a da aprendizagem, não a do ensino, ou que se interconectam, posto
que aprender é o fim e o ensino o meio.
Nessa perspectiva, ao contrário desse modelo “dar aula narrando”, cujo
pressuposto é “transmitir informação desde a cabeça do professor até o caderno do
aluno, para que este transfira a informação do caderno para a sua cabeça para passar
em exames” (Moreira, 2010), objetivo inadequado de educar, deve-se buscar
aprendizagens relevantes, de longa duração, que alternem para sempre a apreciação
do mundo, aprofundando-a, ampliando-a, agudizando-a (Don Finkel, 2008).
Atualmente, diversas pesquisas na área educacional estão voltadas para os
métodos de aprendizagem ativa, tais como jogos educativos (Serious Games), PBL
(Problem, Project-Based Learning), Aprendizagem entre Pares (Peer Instruction),
Pense-Par-Compartilhe (Think-Pair-Share), dentre outros que estão em contraste com
a recepção passiva de informações.
Segundo Fragelli (2015), existem vários fatores que influenciam no baixo índice
de concluintes nos cursos de Engenharia tais como a falta de conceitos prévios
suficientes para uma aprendizagem significativa, a pouca relação entre o que é
ensinado e o mercado de trabalho, e a insistência no modelo tradicional de ensino e
aprendizagem que, por diversas vezes, se mostra ineficiente. Também um aspecto
muito importante e pouco explorado está relacionado à forma de avaliação da
aprendizagem utilizada, principalmente concernente ao nervosismo e à ansiedade que
provoca em alguns estudantes.
A metodologia dos Trezentos (Frageli, 2015) consiste, pois, em promover ao
máximo a colaboração entre os estudantes, despertando o olhar para as dificuldades
de aprendizagem do outro. Nesse sentido, para que essa colaboração seja estimulada,
são formados grupos de estudo. Os estudantes realizam uma prova e, com base no
resultado dessa avaliação, os grupos são formados pelo professor e contêm,
obrigatoriamente, alguns estudantes que tiveram bom rendimento e alguns
estudantes que tiveram rendimento considerado insatisfatório.
O objetivo dos grupos é o de dar apoio para os estudantes com baixo
rendimento, oferecendo uma nova oportunidade de avaliação. Sendo assim, um
estudante que tirou nota inferior a 4,5 (que pode ser outro valor) poderá realizar a
prova novamente desde que realize algumas atividades com o grupo formado pelo
professor.
As atividades geralmente são as seguintes: (a) dois encontros presenciais com
os integrantes do grupo com, pelo menos, duas horas de duração; (b) entrega de uma
lista de exercícios desenvolvida pelo professor; e, (c) resolução de uma prova
desenvolvida pelo líder do grupo. d) suporte do Laboratório Virtual, com o conteúdo
organizado e disponibilizado por meio de aulas gravadas.
O líder do grupo é o estudante com a maior nota do grupo. Os estudantes com
rendimento insatisfatório que completarem todas as atividades propostas poderão
realizar uma nova prova e ficarão com a melhor das duas notas que, quase na
totalidade dos casos, é aquela obtida na segunda avaliação. Os estudantes com bom
rendimento não podem refazer a prova, contudo, melhoram a própria nota
considerando duas dimensões: (a) o nível de ajuda oferecido aos estudantes do grupo;
e, (b) a melhora no rendimento dos estudantes ajudados. A tabela 1 exibe a correlação
entre essas duas dimensões e o acréscimo na nota dos ajudantes com a maior nota do
grupo.
Tabela 1 – Aumento da nota do aluno ajudante segundo o nível de ajuda oferecido e
a melhora no rendimento do aluno ajudado
Melhora do estudante ajudado
Melhora de 0 a 1
Melhora maior que 1 para uma nota
final inferior a 4,0
Melhora maior que 1 para uma nota
inferior superior a 4,0
Melhora para uma nota final igual
ou superior a 6,5
Fonte: Fragelli (2015)
1
0,00
0,00
Nível de ajuda
2
3
0,25
0,25
0,25
0,25
4
0,50
0,50
5
0,50
0,50
0,00
0,25
0,50
0,75
1,00
0,00
0,25
0,50
1,00
1,50
Para medir o nível de ajuda oferecido por um determinado estudante, é
aplicado um questionário ao próprio estudante em que ele distribui os alunos
ajudados do seu grupo de acordo com uma escala de Likert de cinco pontos variando
de 1 (ajudei nada) a 5 (ajudei muito).
Outra escala de Likert é aplicada aos estudantes ajudados em que devem
distribuir os estudantes do seu grupo que o ajudaram na melhora do seu rendimento.
A escala também possui cinco pontos e varia de 1 (ajudou nada) a 5 (ajudou muito). O
nível de ajuda final atribuído a um ajudante é medido com base na média entre essas
duas escalas arredondando-se o resultado para cima (p.ex. 4,5 arredonda-se para 5).
Como geralmente há mais de um estudante com baixo rendimento em um
grupo, é feita essa correlação entre o nível de ajuda e a melhora no desempenho para
todos esses estudantes ajudados, contudo, somente o maior valor no acréscimo da
nota do aluno ajudante é considerado. Após a realização de cada prova, novos grupos
são formados e novas atividades são formuladas. Desse modo, um grupo dificilmente
volta a se repetir e há a possibilidade de um estudante que tinha sido ajudado em
alguma prova se torne ajudante.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta proposta de desenho tecno-didático-metodológico disciplinar, aliando
Objeto de Aprendizagem (e-book), metodologia colaborativa e uso dos recursos
tecnológicos - TIC, possibilita aos estudantes aprenderem melhor, seja pela
característica humanista da proposta em que há uma colaboração para a
aprendizagem, fazendo com que ele veja o outro e se coloque no lugar dele (Roger,
1973), ou pela percepção de aprender significativamente o conteúdo e, por outro lado,
reestrutura o fazer pedagógico do professor.
Nesse sentido, é necessário que os educadores e outros desvelem, clareiem e
compreendam o relacionamento entre ensino acadêmico, as relações sociais mais
amplas, no contexto da Sociedade da Informação e da Comunicação, que o informam,
bem como as necessidades e competências historicamente construídas que os
estudantes trazem para o ensino superior – o foco desta coleção.
Também é
necessário desvelar como a cultura escolar dominante está implicada nas práticas
hegemônicas que muitas vezes silenciam os grupos subordinados de estudantes, bem
como incapacitam e desautorizam aqueles que lhes ensinam.
O aprendiz, em qualquer nível de escolaridade, deve perceber, pois, que o
conhecimento em processo de assimilação só terá importância para quem queira
aprender (Novack apud Moreira, 2010), isto é, se o aprendiz vir o conteúdo como
significativo, predispor-se-á a aprender.
Referências
Bergamann, J.; Sams, A. (2012). Flip your Classroom. Copublished by ASCD and ISTE
Bloom, B. S. (1956). Taxonomy of educational objectives. New York: David Mckay,. 262
p. (v. 1)/
Bursztyn, M. (2005). A instituição da interdisciplinaridade e a universidade brasileira. LIINC em
revista. v.1,n.1, mar, 2005. Disponível em <www.ibict.br/liinc/viewissue.php>.
Acesso em: 01 ago. 2009.
Canfranc, P. R. (2015). Flipped Classroom: clases invertidas para el aprendizaje del
siglo XXI. Disponível em:
http://blogthinkbig.com/flipped-classroom-clases-invertidas-para-elaprendizaje-del-siglo-xxi/>. Acesso em: 27 mai 2016.
Cabero, J. y Márquez, D. (1997). Colaborando y Aprendiendo. La utilización del video
en la enseñanza de la geografía. Sevilla: Kronos. Mimeografiado.
Cabero, J. (2000) Las nuevas tecnologias de la información y la comunicación:
apotaciones a la enseñanza. In: Cabero, J. (ed.). Nuevas tecnologias aplicadas
a la educación. Barcelona, Paidós.
Cabero, J. (2003). Mitos de la Sociedad de la información: sus imapctos em la
educación. In: Aguiar, N, V. e otros (Coords.): Cultura y Educación em la
Sociedad de la información. La Coruña, Netbiblo.
Cabero, J. y Gisbert, M. (2005): La formación en Internet. Guía para el diseño de
materiales didácticos, Sevilla, Eduforma.
Cabero, J. (Coordenador) (2007). Nuevas tecnologías aplicadas a la Educación .
Editorial McGraw Hill, 2006 primeira impressão..
Colombo, C. da S.; Stahl, N. S. P.; Duncan, C. P. F. R. Schröetter S. M. ( 2014). O modelo sala de
aula invertida aplicado em uma disciplina do curso técnico em informática. Encontro
Regional de Educação Tecnológica do Espírito Santo/ Brasil, No Campus Serra do IFES,
2014. Disponível em:
<http://ocs.ifes.edu.br/index.php/sepinfe/ENRETESI/paper/viewFile/1412/431>
Acesso em: 27 maio 2016
.
Don Finkel. (2008) Dar classe com la boca cerrada. Universitat de Valencia. Servei
Publicaciones.
Escola, J. (2008). Ensinar a ver: Educação para a cidadania na Telepolis. Texto
apresentado no III Colóquio de Educação “Educação e Comunicação Social:
Caminhos de Cidadania”, realizado na Universidade dos Açores em 28 de
março de 2008.
Fragelli, R. (2015). Trezentos: aprendizagem ativa e colaborativa como uma alternativa
ao problema da ansiedade em provas. Revista Eletrônica Gestão & Saúde. Vol.
6 (Supl. 2). Abril, 2015 p.860-72.
García-Valcárcel, A. (2003) Tecnología educativa – Implicaciones educativas del
desarrollo tecnológico. In: Casanova, M. Antonia (Dirección)l . Colección Aula
Abierta. Editorial La Muralla, S.A, Imprime Ibérica Grafic, S.A. (Madrid).
Gardner, Howard. (1994). Estruturas da mente: a Teoria das Múltiplas Inteligências.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em inglês com o
título: The frams of the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983.
Livink, G. (2012) Networks without a cause: a critique of Social Media. Polity Press,
London.
Moreira, M.A. (2010) Aprendizagem significativa crítica. Versão revisada e estendida
de conferência proferida no III Encontro Internacional sobre Aprendizagem
Significativa, Lisboa (Peniche), 11 a 15 de setembro de 2000. Publicada nas
Atas desse Encontro, pp. 33-45, com o título original de Aprendizagem
significativa subversiva.Publicada também em Indivisa, Boletín de Estúdios e
Investigación, nº 6, pp. 83-101, 2005, com o título Aprendizaje Significativo
Crítico.1ª edição, em formato de livro, 2005; 2ª edição 2010.
Negroponte, N. (1995). El mundo digital. Barcelona, Burguera.
Not, L. (1987). El Estatuto del co-sujeto em las situaciones pedagógicas. Universidad-le-Mirail.
Educar, 11 (1987), 79-93.
Osorio, D. Benito. (2009) Las estratégias de aprendizaje en el entorno e-learning. In: IV
Jornada de Innovación Pedagógica del Proyecto ADA-Madrid. Desarrollo de
competências a través de la red, 10 de marzo de 2009.
Pallazo, L.A.M.; Ulbricht, V. R. (2015) Educação Colaborativa em Redes Sociais
Temáticas. In: Busarello, R. I.; Bieging, P.; Ulbricht, V. (Organizadores). São
Paulo: Pimenta Cultural, 2015, 410p.
Rogers C.R. (1973) Liberdade para aprender. 2. ed. Belo Horizonte (MG), Interlivros.
Schneider, Elton Ivan; Suhr I. R. F.; Rolon ,V. E. K.; Almeida, Cláudia Mara de. (2013). Sala de
Aula Invertida em EAD: uma proposta de Blended Learning. Revista Intersaberes|
vol. 8, n.16, p.68-81| jul. – dez. 2013| ISSN 1809–7286.
Torres, J. (1994). El currículo oculto. Madrid: Morata.
Download