Violência: uma visão contemporânea Pedro Arruda Junior Advogado Criminalista e Professor do Curso de Direito do Centro de Estudos Superiores Aprendiz (Barbacena/MG); Sirlene Aliane Professora de Metodologia e Sociologia Geral no Centro de Estudos Superiores Aprendiz (Barbacena/MG). [email protected] O fenômeno da violência emergiu potencialmente como um problema para os indivíduos e sociedades desde o último século, sendo um dos maiores obstáculos enfrentados pela América Latina nas últimas décadas e está relacionado, em grande proporção, às políticas públicas. A violência se concretiza através da opressão dos grupos, do abuso de poder e da tirania. Concretiza-se quando determinada pessoa é coagida a fazer ou deixar de fazer algo pré estipulado pelo agente. Existem várias maneiras de exprimir a opressão, como por exemplo: guerras, conflitos étnicos e perseguições religiosas. Antes do surgimento do Estado não existia organização. Quando o ente estatal e seus membros se corrompem, também se observa um grave problema, pois os cidadãos rebelam-se e a violência instala-se. No momento em que a violência generalizada instala-se na sociedade, o código moral se desintegra. Segundo Hobbes, é a total ausência do pacto social, que seria um acordo político e social de todos os homens para uma boa vivência cotidiana. Desde os tempos coloniais, a violência já era um fator presente nos Estados latino-americanos, estando demarcada também em outras épocas como o coronelismo e nas oligarquias. Como pode se ver, este problema social é um fenômeno histórico fortemente demarcado na história e, somados a um Estado autoritário, contribuiu para a crescente e descontrolada violência que atinge o Brasil desde os tempos mais antigos. Diversos fatores colaboram para o aumento da violência, como o desenvolvimento dos grandes centros, os quais atraem pessoas de diversas localidades na esperança de empregos melhores (o que nem sempre ocorre), causando uma superlotação e, assim, contribui para o crescimento descontrolado da população. Infelizmente nem sempre há emprego para todos, o que de fato faz com que estas pessoas ingressem no caminho das drogas; outras para o banditismo; outras para a mendicância. Um outro aspecto que influencia o crescimento da marginalidade é a segurança pública precária, o regime prisional deficitário (considerando que o regime ressocializador não cumpre sua função), assim como as diversas desproporcionalidades na legislação penal, a qual em determinados momentos beneficia o réu de forma contundente e em outros instantes impõe sanções completamente desproporcionais frente as condutas praticadas pelo criminoso. Desde o período republicano brasileiro, os policiais são formados com uma visão mais coercitiva do que preventiva. A solução não se encontra somente na modernização dos armamentos, mas também na formação filosófica e intelectual dos agentes pautada em valores democráticos de prevenção às várias ações do crime organizado no país. Apesar de toda esta crítica, imperioso destacar que existem várias unidades policiais, em cidades brasileiras, que o cenário é bem distinto, vez que existem projetos sociais de aproximação da corporação policial à sociedade. Um dos projetos a se destacar é o PROERD, que é ministrado nas escolas de todo o país por um policial devidamente qualificado, que trabalha com a prevenção das bebidas e drogas entre os pré-adolescentes e adolescentes. A violência urbana não pode ser reduzida à criminalidade, nem seus agentes podem ser confundidos exclusivamente com assaltantes e marginais. Abarca também o que alguns estudiosos chamam de “violência branca”, que pode ser resumida por uma série de pequenos crimes praticados diária e subterraneamente, por uma sociedade injusta e discriminatória contra o cidadão. São crimes, que não são punidos, trazendo à população um sentimento de impunidade que reverte em uma revolta conjuntural em todos os ambientes, onde circula o ser humano. O descrédito da população perante a justiça ou o constrangimento de expor pequenas tragédias do cotidiano ao julgamento dos vizinhos, freqüentemente, calam as denúncias. O silêncio das vítimas, por sua vez, aumenta a impunidade, assim como afasta a possibilidade de resolução dos problemas, alimentando o círculo vicioso do desrespeito aos mais elementares direitos do ser humano: o direito à vida com qualidade. No entanto muitas vezes os crimes não são combatidos porque as leis não beneficiam a punição dos bandidos, deixando os policiais a mercê da impunidade. Uma sociedade violenta, que oferece muito pouco a seus indivíduos e cobra caro pelo simples espaço da sobrevivência, segregando alguns e privilegiando outros, produz imensas riquezas à custa do esforço de muitos e distribui injustamente em benefício de poucos, e os demais sobrevivem às condições miseráveis. Somente quem pertence à elite ou é protegida pela mesma, usufrui proteção, defesa e conforto material, sendo que os outros vivem na miséria. As ações violentas são um problema que está presente em todos os ambientes sociais. Na maioria das vezes, o drama das cidades grandes e pequenas não é produzido exclusivamente pelo medo do inimigo que vem da rua. O sentimento de temor e insegurança é contraditório, generalizado e alimentado pela engrenagem alucinante, que isola as pessoas, enfraquece os laços do homem com a comunidade e fragmenta o ser humano. “Nunca se desenvolveu no Brasil a consciência do bem público, pelo fato de estarmos sempre, ao longo da nossa história, sob o império do interesse particular ou familiar” (VIANNA apud RODRIGUEZ, 1997, p. 146). O poder público, especialmente no Brasil, tem se mostrado impotente frente a esta calamidade social. As causas da violência são associadas, em parte, a problemas sociais como miséria, fome e desemprego. Entretanto, nem todos os tipos de criminalidade derivam das condições econômicas. Pode-se constatar pela grande quantidade dos crimes praticados por indivíduos da classe social média-alta. Além disso, um Estado ineficiente e sem projetos de políticas públicas de segurança, contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, o que, eventualmente, possa ser a principal causa da violência. A solução para a questão da violência no Brasil está longe de encontrar um desfecho e envolve os mais diversos ramos sociais, não só a segurança pública e um judiciário eficiente, mas também necessita uma melhoria no sistema educacional, habitacional, maiores oportunidades de emprego, dentre outros fatores. Requer principalmente uma grande mudança nas políticas públicas de enfrentamento e solução de conflitos sociais. Bibliografia VÉLEZ Rodríguez, Ricardo. (Apresentação de Antônio Paim). Oliveira Vianna e o papel modernizador do Estado brasileiro. Londrina: UEL, 1997. VIANNA, Francisco José de Oliveira. Populações Meridionais do Brasil e Instituições Políticas Brasileiras. 1ª edição num único volume. Brasília: Câmara dos Deputados, 1983. Biblioteca do Pensamento Político Republicano.