UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA VANESSA ANGÉLICA BALESTRIN O RÁDIO NA ESCOLA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PARTICIPATIVA: Um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental Joaçaba 2014 VANESSA ANGÉLICA BALESTRIN O RÁDIO NA ESCOLA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PARTICIPATIVA: Um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação, linha de Processos Educativos em Educação, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, SC, para a obtenção do título de Mestre em Educação. Orientadora: Monica Piccione Gomes Rios Joaçaba 2014 VANESSA ANGÉLICA BALESTRIN O RÁDIO NA ESCOLA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PARTICIPATIVA: Um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação, linha de Processos Educativos em Educação, da Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, SC, para a obtenção do título de Mestre em Educação. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________________ Professora Dra. Maria Teresa Ceron Trevisol (Orientadora) Universidade do Oeste de Santa Catarina ___________________________________________________________________________ Professora Dra. Mônica Piccione Gomes Rios (Examinadora) PUC Campinas ___________________________________________________________________________ Professor Dr. Paulino Eidt (Examinador) Universidade do Oeste de Santa Catarina Escolas onde as crianças estão sentindo prazer em ir, prazer em estudar, prazer em construir a cultura elaborada. Essa escola não será abandonada pelas crianças. Porque ninguém larga, ninguém abandona o que é seu e o que gosta. (Moacir Gadotti) RESUMO A presente dissertação refere-se a um estudo sobre o uso do rádio no ensino fundamental. O objetivo geral da pesquisa é investigar tal uso para a construção da cidadania participativa. A investigação foi desenvolvida mediante abordagem qualitativa, e as técnicas utilizados para a produção de material empírico foram a entrevista semiestruturada e o grupo focal, tendo como sujeitos educandos e educadores de uma escola pública. O rádio surgiu no Brasil com fins puramente educativos, porém, com o passar do tempo, distanciou-se desta característica. A comunicação e a educação possuem uma forte ligação, uma vez que comunicar é um meio de compartilhar conhecimentos até que se torne um bem comum. O cotejamento da base teórica com os dados obtidos na pesquisa empírica permite concluir que a inclusão do educando na elaboração de programas de rádio contribui com o desenvolvimento da criatividade, criticidade, comunicação, expressão e produção de texto dos educandos. Esse diferencial indica que o rádio dialoga com as disciplinas do currículo escolar, o que, potencialmente, favorece a aprendizagem, tendo o aluno como co-partícipe. Nessa perspectiva, o uso do rádio implica a formação do cidadão participativo, assumindo-se como sujeito social que intervém no mundo. A pesquisa aponta para a necessidade de se definir políticas públicas que otimizem o uso do rádio nas escolas, com vistas à construção da cidadania participativa. Palavras-chave: Cidadania Participativa. Políticas Públicas Educação. Rádio. ABSTRACT This master thesis presents a study about the use of radio in elementary school. The main goal of the research is to investigate such use for the construction of participatory citizenship. The research was developed through a qualitative approach, where the instruments used were interviews and focus group researched the school implemented. The comparison between the theoretical basis of the data obtained in empirical research supports the conclusion that the inclusion of the student in the preparation of radio programs shows that radio is a resource that in addition to stimulating creativity, search the critical relationship of learners in their own learning. The radio also contributes to the development of students with emphasis on the processes of communication, expression and text production, this aspect shows that radio is related with the subjects of the school curriculum, which potentially favors learning.The radio is a motivating factor for the production of students, implying participation and thereafter formation of participative citizen, showing up as a social agent able to search new knowledge. According to the information, we recognize the potential of the project on the construction of participatory citizenship. Keywords: Citizenship. Education. Radio. 5 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Esquema 1 – Processo de Comunicação............................................................................ 13 Esquema 2 – Processo de Comunicação............................................................................ 13 Esquema 3 – Processo de Comunicação............................................................................ 13 Quadro 1 – Perfil das professoras e da gestora escolar ................................................... 20 Esquema 4 – Processo de Análise de informações ............................................................ 22 Imagem 1 – Guglielmo Marconi ...................................................................................... 25 Imagem 2 – O jesuíta brasileiro Padre Roberto Landell de Moura ................................. 26 Imagem 3 – Técnicas de relaxamento .............................................................................. 30 Imagem 4 – Roquette-Pinto com os pequenos índios Parecis ......................................... 34 Imagem 5 – Exemplo de história em quadrinhos ............................................................. 35 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .......................................................... 16 1.1.1 Entrevista Semiestruturada................................................................................ 18 1.1.2 Grupo Focal ......................................................................................................... 20 1.1.3 Lócus da Pesquisa................................................................................................ 21 1.1.4 Análise dos Dados ................................................................................................ 22 2 EDUCAÇÃO E RÁDIO ESCOLAR.................................................................. 24 2.1 CARACTERÍSTICAS E POTENCIALIDADES DO RÁDIO ............................. 27 2.2 HISTÓRICO DA RADIODIFUSÃO EDUCATIVA BRASILEIRA ................... 34 2.3 O RÁDIO NO PROCESSO EDUCATIVO .......................................................... 35 2.4 FORMAS DE LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO ............................................... 38 2.4.1 A Televisão e a Educação .................................................................................... 41 2.4.2 O Desenho Animado e a Educação .................................................................... 41 2.4.3 O Teatro e a Educação ........................................................................................ 42 2.4.4 A Informática e a Educação ............................................................................... 44 2.4.5 História em Quadrinhos e a Educação .............................................................. 45 3 O USO DO RÁDIO NA ESCOLA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA 47 3.1 A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PARTICIPATIVA .................................. 49 3.2 CONSTRUINDO CIDADANIA NO RÁDIO ...................................................... 54 3.3 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E CONQUISTA DA CIDADANIA ........... 56 4 RÁDIO NO ESPAÇO ESCOLAR ..................................................................... 61 4.1 O PROJETO RÁDIO NA ESCOLA SOB A VISÃO DAS PROFESSORAS E DA GESTORA ESCOLAR................................................................................... 61 4.2 O PROJETO RÁDIO NA ESCOLA SOB A VISÃO DOS ALUNOS ................. 72 4.3 ENTRELAÇANDO A VISÃO DAS PROFESSORAS, DOS ALUNOS E DA GESTORA ESCOLAR ........................................................................................ 79 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 81 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 84 APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido ............................. 94 APÊNDICE B – Entrevista Gestora ...................................................................... 95 APÊNDICE C – Entrevista Professoras ................................................................ 97 APÊNDICE D – Grupo Focal ............................................................................... 99 APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em Caso de Participação de Menor (Utilizado quando o sujeito da pesquisa for menor de 12 anos)............................................................................................................. 102 APÊNDICE F – Declaração da Instituição coparticipante .................................... 103 11 1 INTRODUÇÃO Um fator fundamental para o progresso humano é a cidadania participativa, fazer-se sujeito da própria história, o que implica sentimento de pertença da vida de uma comunidade. Esta construção depende de fatores educacionais e organizacionais, que fazem parte do processo de formação do cidadão. No que se refere à educação escolar, as tendências pedagógicas predominantes na escola podem contribuir para a formação de um cidadão passivo ou participativo. A educação “bancária” (FREIRE, 2002), que tem o professor como centro dos processos de ensino e aprendizagem, assumindo a função de transmissor do conhecimento, contribui para a formação do cidadão passivo, posto que para o aluno cabe, meramente, reproduzir o conhecimento. À medida que o professor oportuniza a construção e reconstrução do conhecimento, tendo o aluno como partícipe dos processos de ensino e aprendizagem, contribui para a formação do cidadão participativo. O processo de participação necessita, assim, ser desenvolvido na escola, pois como afirma Freire (2002), é participando que se aprende a participar. A construção e reconstrução do projeto político pedagógico (PPP) da escola constitui o espaço mais significativo, pois implica o envolvimento de toda a comunidade escolar que, por meio de uma gestão democrática, participa de uma forma efetiva desse processo. Existem, porém, outros espaços e ferramentas no contexto escolar que propiciam participação. Entre os meios propiciadores destaca-se o rádio para a construção e produção do conhecimento, tendo o aluno como participante ativo. O rádio é um meio de comunicação popular, diante disso despertou-nos o interesse de investigar as contribuições dos processos de radiodifusão como espaço midiático educativo. O papel que os meios de comunicação estão desempenhando na educação é cada dia mais importante, e de acordo com Sancho (1998, p. 257): A comunicação é dos pilares nos quais, teoricamente, se apóia a nossa Reforma Educativa, ou seja, a utilização de uma medida de desenvolvimento curricular que ofereça aos professores uma ampla gama de materiais curriculares que o ajudem a passar do Projeto Curricular Base, para a elaboração progressiva de projetos curriculares para escola e dos programas de ciclo. Nesse sentido, diante do quadro de giz, livros-texto e algum outro recurso visual como os slides, eram os únicos meios usados pelo professor, atualmente os meios de que dispõe são muito mais variados e flexíveis. 12 Os novos meios utilizados em sala de aula vão desde computadores até as rádios escolares. Estas transcendências, segundo Sancho (1998), levam a prestar cada vez mais atenção à seleção e à avaliação dos meios existentes para refletir sobre a sua adequação aos objetivos que, planejadamente, perseguimos, às características dos estudantes e, finalmente, ao projeto curricular. De acordo com Meditsch (2005, p. 32), a radiodifusão surgiu com a perspectiva de um sistema de comunicação sem fio que seria: [...] eficiente no esclarecimento das massas, particularmente em países nãocivilizados e nas regiões pouco acessíveis e também que agregaria valor a segurança geral, conforto e comodidade, além da manutenção de relações pacíficas. Um dispositivo barato e simples, que poderia ser carregado no bolso, instalado em qualquer ponto do mar ou da terra para receber as notícias mundiais ou mensagens especiais quando necessárias. A popularização deste veículo de comunicação ganhou, no entanto, novos significados, inclusive relacionados ao conhecimento. Entendemos que o rádio não se limita a um aparelho de distribuição e sim implica aparelho de comunicação. Meditsch (2005, p. 42) coloca que “O rádio seria o mais fabuloso meio de canalização. Isto é, seria se não somente fosse capaz de emitir, como também de receber”, ou seja, que o meio seja usado para não apenas ser ouvido e sim pôr-se em comunicação com ele. A produção e a ampliação de conhecimentos necessitam da presença dos meios de comunicação, sob suas variadas formas. De acordo com Mendonça (1974), comunicação vem do latim communis (comum) e comunicar é um processo de compartilhar experiências até que se tornem um bem comum. As experiências são compartilhadas de inúmeras maneiras, gestos, olhares, sinais, símbolos, palavra escrita e falada, são todas formas de comunicação. Com esse conceito de comunicação, realiza-se troca de saberes entre as sociedades. Conforme Mendonça (1974, p. 3): Não importa se de indivíduo para indivíduo (como uma simples conversa), se de comunicação a grupo (em uma sala de aula) ou comunicação de massa (como um programa em televisão aberta); estas formas de comunicação obedecem, sempre, a um mesmo processo. Este processo exige três elementos mínimos indispensáveis: a fonte, a mensagem e o destino. A partir das considerações de Mendonça (1974), podemos verificar que o processo comunicativo inicia-se em um ponto e termina em outro, conforme Esquema 1: 13 Esquema 1 – Processo de Comunicação Fonte: Mendonça (1974). No processo de comunicação de Mendonça (1974) temos a fonte, o autor da mensagem, ou seja, alguém que emite a mensagem. A mensagem, onde temos as informações que queremos transmitir, e o destino, que é para quem se destina a mensagem. O autor coloca que também estamos, constantemente, recebendo e transmitindo informações e explica que (MENDONÇA, 1974, p. 4) “é a grande cadeira sem fim da comunicação.” O Esquema 2 mostra como esse processo ocorre: Esquema 2 – Processo de Comunicação Fonte: Mendonça (1974). Ou seja, agora não temos mais um modelo de comunicação que começa em um ponto e termina em outro, existe uma continuação de informações, onde entendemos que acontece o compartilhamento de conhecimentos. Substituindo algumas palavras, de acordo com o autor, teremos: Esquema 3 – Processo de Comunicação Fonte: Mendonça (1974). 14 O conceito de comunicação formulado por Mendonça (1974) aponta atenção. Nota-se, claramente, por seu intermédio, que são necessárias respostas (transmissão recepção), em geral, nas salas de aula, a comunicação acontece em somente um sentido (transmissão recepção), ou seja, professor aluno. Livros de textos e quadro de giz são os materiais mais usados em sala de aula. Os livros, quadros de giz e aulas expositivas, têm, na palavra, sua forma básica de comunicação. A palavra é, sem dúvida, um meio de expressão valioso, mas a linguagem, escrita ou oral, é constituída de símbolos que por intermédio da evolução chegou-se a uma estrutura que nem sempre é fácil entender. Mendonça (1974, p. 5) coloca: São inúmeras as situações de sala de aula em que a falta de compreensão exata do que está sendo ouvido, lido ou escrito gera a formação de conceitos errôneos, leva a uma imagem distorcida de situações e, em conseqüência, a uma aprendizagem falsa. É preciso lembrar, ainda que há fatores biológicos, psicológicos, sociológicos e econômicos que podem facilitar, ou, ao contrário, dificultar o processo da comunicação, formando verdadeiras barreiras que se antepõem a aprendizagem. É preciso pensar e superar essas barreiras citadas pelo autor, e essa tarefa é do professor. Quando o uso de novos materiais torna-se imprescindível, é o momento para reflexões sobre uma nova ferramenta, como o rádio. O rádio na escola, parte da ideia que informações, ideias e experiências são trocadas e compartilhadas sendo um meio que não suplementa ou enriquece, apenas, outras modalidades de aprendizagem, sendo um meio de comunicação pelo qual se pode aprender. Assim, justifica-se o uso do rádio nos processos de ensino e aprendizagem. Não se pode negar que, na contemporaneidade, o tempo de circulação é diferente, ou seja, há uma rapidez de circulação de informações. Em acordo com Agamben (2009, p. 72) sobre o contemporâneo: O contemporâneo não é apenas aquele que, percebendo o escuro do presente, nele aprende a resoluta luz; é também aquele que, dividindo e interpolando o tempo, está a altura de transformá-lo e de colocá-lo em relação com outros tempos, de nele ler de modo inédito a história, de “citá-lo” segundo a necessidade que não provém de maneira nenhuma do seu arbítrio, mas de uma exigência à qual ele não pode responder. É como se aquela invisível luz, que é escuro do presente, projetasse a sua sombra sobre o passado, e este, tocado por esse facho de sombra, adquirisse a capacidade de responder as trevas do agora. As considerações de Agamben (2009) sobre o que é o contemporâneo mostram o sujeito como aquele que provém do seu tempo e, diante disso, seria capaz de perceber e aprender ao seu tempo e esse não poderia se esquivar desse. Por meio dos meios de comunicação, como o rádio, é possível que existam alterações nas relações sociais, ou seja, uma forma de reconfiguração dos espaços e tempos. Um encurtamento das distâncias, e isso 15 interfere no tempo de recepção de mensagens. De acordo com Silverstone (2005, p. 25), “Estudar a mídia é estudar esses movimentos no espaço e no tempo e suas inter-relações e também, como consequência, descobrir-se pouco convencido pelos profetas de uma nova era e por sua uniformidade e seus benefícios.” A acessibilidade do rádio é interessante, quando abordamos a questão do capital cultural, pois notamos que tanto a camada social alta quanto a baixa têm acesso ao rádio. Prado (1958) coloca que é o sistema de distribuição de mensagens mais extenso, ágil e barato. Assim, pressupõe-se que no processo de curso das mensagens radiofônicas haja um “intercâmbio” de bens culturais e, com isso, práticas escolares focadas na radiodifusão podem trazer novas possibilidades para a construção de sentidos que também perpassam pelas questões educacionais, midiáticas, culturais e cotidianas que viabilizem o melhor entendimento e amplitude da cidadania, do direito de ter direitos. Pensando sobre a influência da radiodifusão em relação às crianças, o foco de pesquisa que tem como título: O rádio na escola e a construção da cidadania participativa, um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental, está imerso em um contexto histórico social caracterizado por uma visão adultocêntrica do mundo, pela qual o adulto pouco escuta ou participa das construções de sentidos das crianças. Vincula-se esse possível desprezo das produções culturais das crianças à hegemonia de uma cultura ainda baseada na escrita. Nesse contexto, as falas ou vozes podem expressar parte dos conhecimentos e saberes, mas com pouco prestígio no mundo dos adultos. Cabe utilizar o rádio como um meio para a construção de uma sociedade onde exista espaço para que todos tenham o meio para produção do discurso. Meditsch (2005, p. 42) afirma: A tarefa da radiodifusão, como tudo, não se esgota ao transmitir informações, isto é, converter os informes dos governantes em respostas às perguntas dos governantes. A radiodifusão tem que tornar possível o intercâmbio. Apenas ela pode organizar, em conjunto, as falas entre os ramos do comércio e os consumidores sobre a normalização dos artigos de consumo, os debates sobre altas de preço do pão, as disputas municipais. Assim, utilizar somente língua oral e escrita na escola não é o suficiente. É preciso incorporar ao currículo o uso das linguagens tecnológicas, entre as quais se encontra a do rádio. De acordo com Sancho (2006, p. 19), “A principal dificuldade para transformar os contextos de ensino com a incorporação de tecnologias diversificadas de informação e comunicação parece se encontrar no fato de um ensino dominante centrado no professor.” Observa-se que o aluno se encontra na condição de observador, estando os processos de ensino e aprendizagem ainda muito centrados no professor que ensina e no aluno que aprende. 16 Rádio e Educação são áreas que têm despertado o meu interesse há cerca de oito anos, desde o ingresso como acadêmica no Curso de Graduação em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda, da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), Campus de Joaçaba. Esse interesse vem se consolidando com o passar dos anos por meio de uma especialização finalizada na área. Além disso, a atividade profissional que exerço envolve essas fascinantes áreas em que agora tenho a possibilidade de aprofundar conhecimentos. Editora na Rádio Unoesc FM por três anos e Professora da Instituição na habilitação Publicidade e Propaganda, as disciplinas que leciono estão focadas na linguagem radiofônica. Nesta caminhada, surgiram vários questionamentos e, nesta perspectiva, definimos como problema de pesquisa, como o uso do rádio, por meio do Projeto Rádio na Escola, pode contribuir para a construção da cidadania participativa? Nessa direção mencionamos as seguintes questões de pesquisa: a) Qual a relação entre educação e rádio? b) Qual o uso do rádio na escola para a construção da cidadania participativa? c) Como a gestora escolar, as professoras e os alunos avaliam o uso do rádio na escola pesquisada, por meio do Projeto Rádio na Escola? O objetivo geral da pesquisa é investigar como o uso do rádio na escola pode contribuir para a construção da cidadania participativa. Como objetivos específicos, definimos: a) Reconhecer a relação entre educação e rádio; b) Identificar o uso do rádio na construção da cidadania participativa; c) Analisar a percepção da gestora escolar, das professoras e dos alunos da escola pesquisada. As questões desta pesquisa se valem da importância da alternância entre a reflexão teórica e a análise empírica. Essa alternância pode resultar em pensar caminhos para construção de práticas educativas que tenham o aluno como protagonista e como partícipe dos processos de ensino e aprendizagem, por meio do Projeto Rádio na Escola, desenvolvido na escola pesquisada, conforme apresentado no item que segue. A relevância deste estudo reside na necessidade de contribuir para a reflexão sobre as possibilidades que o uso do rádio na escola oferece no que se refere aos processos de ensino e aprendizagem e à formação do cidadão participativo. 1.1 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O ser humano necessita conhecer o mundo que o cerca e, para fazê-lo, ao longo do tempo vem desenvolvendo, de acordo com Gil (1999, p. 19), “sistemas mais ou menos elaborados que lhe permitem conhecer a natureza das coisas e o comportamento das pessoas.” 17 A abordagem de investigação da pesquisa em questão é caracterizada como pesquisa qualitativa. Richardson (1999, p. 90) explica que a pesquisa de abordagem qualitativa “pode ser caracterizada como a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas quantitativas de características ou comportamentos.” Para a compreensão detalhada dos significados e características dos entrevistados o autor chama a atenção para a escolha adequada do local da pesquisa e também a familiaridade do pesquisador com os membros dos grupos. Richardson (1999, p. 95), comenta: “[...] são aspectos fundamentais da pesquisa qualitativa.” Cabe, assim, ao pesquisador, participar e compreender o convívio pesquisado e, de forma responsável, elaborar a pesquisa. Dessa forma, assumiu-se a perspectiva de descrever e compreender como ocorre o uso do rádio na escola e como o Projeto Rádio na Escola pode contribuir para a construção da cidadania participativa, de acordo com o contexto e com os sujeitos participantes deste estudo e suas representações. Para Richardson (1999), o pesquisador tem tudo para aprender da experiência das pessoas que entrevista, mas precisa ficar alerta para que a teoria social crítica não tenha nenhum papel de emancipação delas. Richardson (1999, p. 102) traz questões sobre o objetivo principal da pesquisa qualitativa: O objetivo fundamental da pesquisa qualitativa não reside na produção de opiniões representativas e objetivamente mensuráveis de um grupo; está no aprofundamento da compreensão de um fenômeno social e por meio de entrevistas em profundidade e análises qualitativas da consciência articulada dos atores envolvidos no fenômeno. Desse ponto de vista, a pesquisa permite fazer uma análise mais crítica de como funciona o ambiente pesquisado. Conforme Gil (1999), não existe um modelo exato ou um método certo de pesquisa, para o pesquisador não existe uma verdade absoluta, já que para ele não existe um conhecimento absoluto ou definitivo. Utilizar a escola, na pesquisa qualitativa, oportuniza o conhecimento do pesquisador na realidade da escola, permitindo analisar a situação vivida em relação ao problema pesquisado. Os pesquisadores qualitativos podem se apoiar em diversas técnicas de coletas de informações, de acordo com Richardson (1999, p. 96), “[...] incluindo a observação participante e não participante, grupos de discussão e entrevista em profundidade.” As técnicas de coletas de dados utilizadas foram: entrevista semiestruturada, tendo como sujeitos a gestora escolar e as professoras do 3º e 4º anos; e grupo focal, realizado com os alunos dos respectivos anos. 18 A pesquisa foi realizada em uma escola urbana da rede pública municipal de Joaçaba, SC, situada no bairro Frei Bruno. De acordo com a coordenação da escola pesquisada, a escola possui 310 alunos matriculados (referência 2014) do pré-escolar ao 8º anos. A escolha desta escola aconteceu em razão de ser a única escola municipal do município de Joaçaba a possuir uma rádio e por ter um Projeto de Rádio na Escola implantando ainda no ano de 2008. Já a opção pelo terceiro e quartos anos ocorreu em virtude de que a participação dos alunos no Projeto Rádio na Escola inicia a partir do terceiro e quarto ano escolar. Conforme a coordenação da escola, o Projeto Rádio na Escola abrange o terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo, oitavo e nono ano escolar. A nossa escolha pelos terceiro e quarto ano é justamente na intenção de acompanhar a introdução do meio rádio na vida dos estudantes e, assim, compreender possíveis contribuições na construção da cidadania participativa desses alunos, como também analisar a percepção, estímulos e vivências desses alunos ao iniciarem no projeto. O plano “Projeto Rádio na Escola” desenvolvido pela escola pesquisada não possui uma estrutura documental formada, diante disso, não poderá ser analisado. Os estudos foram desenvolvidos entre os meses de maio a setembro de 2012. Ao iniciar a pesquisa na escola, apresentou-se à direção escolar e aos professores, os objetivos da pesquisa e a importância da participação dos professores que integram o Projeto Rádio na Escola, destacando os princípios da ética e garantindo-lhes o sigilo das informações e esclarecendo sobre a necessidade de assinar os Termos de Autorização de Acesso à escola e de Consentimento Livre e Esclarecido, autorizando a pesquisa e a publicação posterior dos dados observados, conforme Apêndice A. 1.1.1 Entrevista Semiestruturada A entrevista é entendida como técnica para que o pesquisador formule perguntas, com o objetivo de colher dados que interessam a pesquisa. De acordo com Gil (1999, p. 115): “A entrevista é, portanto, uma forma de integração social. Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação.” A técnica da entrevista é muito utilizada entre os pesquisadores, e sua intensa utilização na pesquisa social deve-se a vários fatores que Gil (1999, p. 118) considera: a) a entrevista possibilita a obtenção de dados referentes aos mais diversos aspectos da vida social. 19 b) a entrevista é uma técnica muito eficiente para a obtenção de dados em profundidade acerca do comportamento humano. c) os dados obtidos são suscetíveis de classificação e de quantificação. Dessa forma, as entrevistas permitem dialogar na voz do pesquisador e do entrevistado. Gil (1999) alerta para algumas desvantagens que podem ocorrer: a falta de motivação do entrevistado, a inadequada compreensão do significado das perguntas, o fornecimento de falsas respostas e a incapacidade do entrevistado para responder adequadamente. São fatores que podem interferir na qualidade da entrevista, mas em razão da flexibilidade da técnica, essas dificuldades podem ser superadas. Gil (1999, p. 119) explica sobre os níveis de estruturação das entrevistas: Podem ser definidos diferentes tipos de entrevistas, em função de seu nível de estruturação. As entrevistas mais estruturadas são aquelas que predeterminam em maior grau as respostas a serem obtidas, ao passo que as menos estruturadas são desenvolvidas de forma mais espontânea, sem que estejam sujeitas a um modelo preestabelecido de interrogação. Em concordância com o autor, utilizou-se das entrevistas não totalmente estruturadas, onde não existiu uma ordem severa de questões a serem seguidas. Richardson (1999, p. 208) explica que “a entrevista não estruturada procura saber que, como e por que algo ocorre, em lugar de determinar a freqüência de certas ocorrências, nas quais o pesquisador acredita”, deixando assim o entrevistado ter liberdade de fala. A finalidade do pesquisador neste caso é criar confiança no entrevistado, para que ele forneça informações relevantes para a pesquisa. Richardson (1999, p. 215) alerta para a formulação das perguntas: “A formulação das perguntas é um aspecto crucial da entrevista. Deve-se evitar fazer perguntas que dirijam as respostas do entrevistado ao que o entrevistador considera desejável.” Outro ponto importante é a transcrição das entrevistas, o momento para análise do material é importantíssimo, onde exige a máxima concentração do pesquisador. De acordo com Richardson (1999, p. 218): Transcrever é um trabalho cansativo e tedioso, mas enormemente útil. Permite estudar cada entrevista e fazer uma análise preliminar dos resultados alcançados. Em vista da importância da transcrição, o pesquisador deve calcular que nessa fase demorará, pelo menos, duas vezes o tempo dedicado à realização da entrevista. Cada entrevista proporciona riquíssimo material de análise. Com isso, o pesquisador deve passar um tempo considerável fazendo análise. Com esses dados, compreendemos a importância de criar um ambiente de amizade, confiança e franqueza entre entrevista e entrevistador. 20 Para a entrevista semiestruturada formulamos dois roteiros com perguntas principais, dessa forma, os roteiros das entrevistas foram compostos por 7 (sete) perguntas para a gestora escolar e 4 (quatro) perguntas para as professoras. Os sujeitos envolvidos na pesquisa foram duas professoras, sendo uma do 3º ano e outra do 4º ano, conforme citado, e a gestora escolar. O convite para participar da pesquisa foi feito às professoras que atuaram no Projeto na Rádio na Escola. A partir da aceitação da proposta de pesquisa, tanto da escola quanto das professoras, iniciamos a pesquisa de acordo com os dias e horários que possibilitassem a participação das três envolvidas na pesquisa. Para proteger e identidade das entrevistadas e manter sigilo sobre as informações foram designadas nesta pesquisa como P1, a professora do terceiro ano; P2, a professora do quarto ano e Ge a gestora escolar. O perfil das participantes pode ser visualizado no Quadro 1. Quadro 1 – Perfil das professoras e da gestora escolar Entrevistados P1 Efetiva Situação profissional Pedagogia Formação Acadêmica Tempo de atuação no Magistério Fonte: o autor. 3 anos P2 Efetivo Pedagogia 5 anos Ge Efetiva Pedagogia–Habilitação Administração Escolar 16 anos 1.1.2 Grupo Focal Em investigações qualitativas, as entrevistas podem ser utilizadas de duas formas. De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 134), “[...] podem constituir a estratégia dominante para a recolha de dados ou podem ser utilizadas em conjunto com a observação participante.” O grupo focal se caracteriza como uma técnica de coleta de dados em que a entrevista se assemelha, muitas vezes, a uma conversa entre amigos. Para Bogdan e Biklen (1994), o pesquisador precisa determinar momentos para se encontrar com os sujeitos da pesquisa e grande parte do trabalho de pesquisa envolve a construção de uma relação: investigador e sujeito passarem a conhecer-se e o investigador pôr o sujeito à vontade. Ferreira (2009, p. 82) considera que para realizar o grupo focal, o pesquisador necessita: [...] preparar um roteiro de questões pertinentes ao tema a ser trabalhado no debate, a fim de que não se desvincule do tema em questão. A técnica do grupo focal ocupa uma posição intermediária entre a observação participante e as entrevistas com profundidade. Pode ser caracterizado, também, como um recurso para compreender o processo de construção das percepções, atitudes e representações sociais de grupos humanos. 21 Dessa forma, os alunos que participaram do grupo focal pertencem às turmas dos referidos professores, dispostos da seguinte forma: a) terceiro ano do Ensino Fundamental, no período vespertino, com 12 alunos; b) quarto ano do Ensino Fundamental, no período vespertino, com 20 alunos. Cada professor foi convidado a indicar para realização do grupo focal cinco alunos de cada turma, matriculados nos 3º e 4º ano da escola pesquisa, sendo assim, para a escolha dos alunos as professoras realizaram sorteio em sala de aula. O grupo focal foi realizado na própria escola, conforme os horários de aula, após a assinatura do Termo de Consentimento (Apêndice A). Os alunos foram nomeados por A1, A2, A3, A4, A5 e B1, B2, B3, B4, B5 correspondendo “A” ao terceiro ano e “B” ao quarto ano. O roteiro de questões do grupo focal foi constituído de 3 (três) rodadas (Apêndice D). 1.1.3 Lócus da Pesquisa A escola pesquisada está localizada no município de Joaçaba, estado de Santa Catarina, na região sul do Brasil. Joaçaba é uma cidade localizada, no interior de Santa Catarina, sua população de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de 27.500 habitantes. De acordo com o IBGE (2013): Iniciou o desbravamento das terras do oeste catarinense no século XVII, pelos bandeirantes que demandavam o Rio Grande do Sul e, já no século seguinte, se tem notícia de que as percorriam a bandeira de Zacarias Dias Côrtes e ainda o Sargentomor José de Andrade Pereira. A forma como se processou a ocupação do território pelos paulistas de Guarapuava, de um lado, e de Lages, de outro, determinou a disputa da região pelas Províncias de São Paulo e depois do Paraná e Santa Catarina. A questão perdura até 1916, após a Guerra do Contestado, a intervenção do Presidente Wenceslau Braz Pereira Gomes põe termo ao dissídio. O estado do Paraná perde o território que constituía os distritos de Passo do Carneiro e nessa área novamente incorporada o estado de Santa Catarina e cria os municípios de Mafra, Porto União, Cruzeiro (atual Joaçaba) e Chapecó, pela Lei Estadual nº 1.147, de 25 agosto de 1917. IBGE (2013) ainda dispõe que, em 1919, o distrito de Limeira, criado em dois de janeiro, pela Lei Estadual n. 1.948, de 8 de março de 1926, é elevado à categoria de vila e passando à sede do município, com a denominação de Cruzeiro. Em 1928 muda a denominação do município para Cruzeiro do Sul, até que a Lei n. 941, de 31 de dezembro de 1943 atribui a denominação atual. Em 1943, a legislação federal proibiu a duplicidade de topônimos para cidades e vilas brasileiras, o município passou a denominar-se Juaçaba, palavra que de acordo com o site, em Tupi-guarani quer dizer “encruzilhada” ou “cruzeiro” 22 para alguns e “cruz dos índios” para outros. Logo, a câmara de vereadores modificou o nome para Joaçaba (JOAÇABA, 2014). Por meio de informações repassadas pela Secretária da Educação de Joaçaba, o município conta com 13 escolas municipais. A escola pesquisada foi fundada em 1959, de acordo com a coordenação da escola, com a cooperação da Prefeitura Municipal de Joaçaba e pelos representantes do Rotary Clube de Joaçaba. Segundo informação da coordenação escolar, a escola foi criada com a finalidade de proporcionar ensino primário para as numerosas crianças que viviam no município. Quando a escola foi fundada oferecia turno único para 25 alunos de 1ª série a 4ª série. Em 1960, a escola já tinha em média 70 alunos, surgindo a necessidade de ampliação para mais salas de aula. A escola desenvolveu-se gradualmente, realizando em 1988 a primeira eleição para a direção da escola. A escola atende alunos de pré a 9ª série, atualmente frequentam a escola 430 alunos. Em 1988 foi criada oficialmente a Associação de Pais e Professores (APP) da escola, sendo registrada em cartório em 02 de abril de 1998, composta por pais e professores que contribuem nos eventos promovidos pela escola, com o objetivo de melhorar a qualidade dos espaços de estudo, recreação, lazer e da comunidade. A pesquisa foi realizada em uma escola urbana da rede pública municipal de Joaçaba, SC, situada no bairro Frei Bruno. De acordo com a coordenação da escola pesquisada, a escola possui 310 alunos matriculados (referência 2014) do pré-escolar ao 8º anos e oferece ensino em tempo integral. 1.1.4 Análise dos Dados A análise de dados foi realizada seguindo um modelo proposto por Richardson (1999, p. 98): Esquema 4 – Processo de Análise de informações Fonte: (Richardson 1999). O autor explica que é preciso estabelecer categorias para que as respostas e documentos sejam adequadamente analisados, e que de acordo com Gil (1999, p. 169) “[...] torna-se necessário, organizar as informações.” O autor ainda lembra que, na análise dos 23 dados, alguns pesquisadores, movidos pela vontade de aprovação de suas hipóteses, buscam escolher informações que mostrem ser mais adequados que outros. E, diante disso, na análise devem ser indicadas as bases que fundamentam as inferências obtidas, bem como o valor da generalização dos resultados para o universo considerado. A análise de dados foi realizada a partir das entrevistas e grupo focal, buscando estabelecer uma relação entre a teoria e os dados obtidos. Para atender aos objetivos propostos da presente dissertação, o texto foi organizado em cinco seções. A primeira seção trata da introdução do tema, das questões da pesquisa, dos objetivos e dos procedimentos metodológicos. A segunda seção apresenta a discussão teórica dividida em três subseções referentes às características e potencialidades do rádio; ao histórico da radiodifusão educativa brasileira; e à importância do rádio no processo educativo. Na terceira seção aborda-se sobre cidadania e educação com ênfase na contribuição do rádio para a construção da cidadania participativa. Na quarta seção apresenta-se a discussão dos dados coletados na pesquisa. As análises foram realizadas relacionando os dados coletados à fundamentação teórica apresentada na pesquisa. Na quinta seção são apresentadas as considerações finais do estudo, apontando as principais limitações e algumas sugestões para futuras investigações. 24 2 EDUCAÇÃO E RÁDIO ESCOLAR Nesta seção são realizadas reflexões relativas à educação e ao rádio, por intermédio de autores, como Balsebre (2004), Marchand (1997), Mcleish (2001), entre outros. Identificamos a trajetória do rádio, mostrando como esse meio que revolucionou o mundo, alterou hábitos e aproximou as pessoas, diminuindo assim as distâncias. Abordamos, também, o campo de estudo das características e potencialidades do rádio, sugestões de técnicas e exercícios para serem utilizados com os educandos. O rádio é um meio de comunicação baseado na difusão da informação sonora por meio de ondas eletromagnéticas. De acordo com Cyro (2005), além da radiodifusão, as ondas eletromagnéticas são usadas nas transmissões de telefone, da televisão, de radar, nos sistemas de navegação e nas telecomunicações. A invenção do rádio, enquanto tecnologia de comunicação, não pode ser considerada obra de um único pesquisador. De acordo com Consani (2007), na década de 1880, as transmissões por meio de fios, como a telegrafia1 e a telefonia, estavam bastante conhecidas no mundo. Sua utilização se generalizava, com isso vários cientistas da época formularam teorias sobre a telegrafia sem fios, entre eles Joseph Henry, Edouard Branly, Oliver Lodge e Nikola Tesla. Segundo Tavares (1999), em 1899 Marquês Guglielmo Marconi2 utilizou uma antena muito avançada na época, à qual deu o nome de Detetor, conseguindo enviar três sinais do telégrafo “S.O.S”, realizando a primeira transmissão. Marconi provou, assim, a possibilidade de transmitir sinais pelo telégrafo sem fio. Tavares (1999, p. 21) explica que: Marconi de experiência em experiência, notadamente na Inglaterra, no dia 12 de dezembro de 1901 conseguiu transmitir por radiotelegrafia sinais. É esse foi um dos marcos da radiotelegrafia. Com isso, Marconi embarcou com seus aparelhos no rebocador Flying Hunters para acompanhar os barcos em competições. As experiências de Marconi serviram para chamar atenção de todos para as prováveis possibilidades do telégrafo sem fio. Com isso, a radiodifusão começava a aparecer. 1 Sistema de telecomunicação que, por um código de sinais ou por outros meios apropriados, permite a transmissão de mensagens escritas. 2 Marquês Guglielmo Marconi foi um físico e inventor italiano. 25 Imagem 1 – Guglielmo Marconi Fonte: Tavares (1999). As emissoras de rádio desenvolveram-se de fato após a Primeira Guerra Mundial. Cyro (2005) afirma que durante o conflito, as transmissões das ondas eletromagnéticas ficaram sob o controle do governo dos países de guerra. O autor (CYRO, 2005, p. 192) ainda explica que esse atraso na implantação da radiodifusão para o grande público, no entanto, é compensado pelos avanços tecnológicos no período, “Em apenas uma década, a radiodifusão espalha-se por todo o mundo.” Em 1919 é criada a primeira grande empresa norte-americana de telecomunicação, a Rádio Corporation Of America (RCA). Segundo Calabre (2002, p. 08): Nos Estados Unidos, o sucesso do rádio foi imediato, produzindo uma verdadeira explosão do setor. Em outubro de 1921 foram registradas 12 novas emissoras; em novembro mais de 9, em dezembro outras 9, em janeiro de 1922 mais 26 novas emissoras. Em 1924 os Estados Unidos já contavam com 530 emissoras de rádio em funcionamento. As empresas norte-americanas de equipamentos e aparelhos de rádio logo iniciaram o processo de expansão para outros países, mas em nenhum outro lugar foram registrados índices de crescimento de setor similares aos dos Estados Unidos. Já as primeiras experiências no Brasil, de acordo com Tavares (1999), realizaram-se em 1892, portanto, três anos antes do surgimento do físico italiano Marconi, no interior de São Paulo. Foi em Campinas que o Padre Roberto Landell de Moura (Imagem 1), utilizando uma válvula amplificadora, de sua invenção e fabricação, com três eletrodos, transmitiu e recebeu a palavra humana através do espaço. Tavares (1999) conta ainda que, a experiência do Padre foi repetida dois anos depois, em 1894, na Capital de São Paulo. A nova e 26 sensacional demonstração foi feita do alto da Avenida Paulista para o alto de Santana, numa distância aproximada de oito quilômetros em linha reta. Imagem 2 – O jesuíta brasileiro Padre Roberto Landell de Moura Fonte: Tavares (1999). O rádio no Brasil possuía um ideal, para Calabre (2002, p. 23) o ideal era “[...] veículo de comunicação privado, subordinado às regras do mercado econômico, mas, ao mesmo tempo, controlado pelo Estado.” A autora explica que o estado é responsável pela liberação da concessão para abrir uma emissora e também responsável pela cassação das mesmas, isso caso exista algum desrespeito às leis do código de comunicação em vigência. Calabre (2002, p. 12) explica que: Os primeiros anos de vida do rádio no país estiveram repletos de dificuldades, refletidas num constante surgimento e desaparecimento de inúmeras emissoras. A fórmula utilizada, então, para criação de uma nova emissora era a de formação de uma rádio-sociedade, que previa em seus estatutos a existência de associados com obrigação de colaborar com uma determinada quantia mensal. A verba arrecadada dessa forma era a principal, senão a única, fonte de renda das emissoras. Muitas pessoas se associavam, mas poucas se mantinham pagando regularmente as mensalidades. Eram tempos difíceis para as rádios-sociedades. Para execução da programação musical, elas contavam com empréstimos de discos de seus ouvintes e associados (que, em troca, recebiam agradecimentos no ar) e com a apresentação ao vivo de artistas, sem nenhum tipo de remuneração financeira. As emissoras buscavam recursos para superar as dificuldades enfrentadas. De acordo com a autora, as dificuldades eram grandes, como a falta de aparelhos receptores, que até então eram importados e caros. Havia, também, a falta de dinheiro, e também de ouvintes, e até mesmo a venda de aparelhos de rádio. Um problema para as emissoras, segundo Calabre (2002), era a falta de regulamentação sobre a veiculação de publicidade. O Decreto-Lei n. 27 16.657 (BRASIL, 1924) determinava que “O Governo reserva para si o direito de permitir a difusão rádio-telephonica de anúncios e reclames comerciais.” De acordo com Calabre (2002) o fato não impedia que as emissoras, mesmo não produzindo intervalos comerciais por anunciantes específicos, tivessem seus programas patrocinados. Entretanto, as dificuldades de se conseguir os patrocínios eram grandes. Predominava um sentimento de descrédito quanto à eficácia do rádio como veículo capaz de estimular o crescimento do consumo e de atrair novos clientes. Calabre (2002, p. 14) explica: A própria prática de anunciar os produtos ainda não era largamente utilizada pela indústria e pelo comércio na década de 1920; o rádio, naquele momento um veiculo novo, despertava ainda mais desconfiança dos possíveis anunciantes, acostumados, no máximo, a veicular suas mensagens comerciais através da imprensa e de painéis. O investimento no rádio, na década de 1920, era uma área arriscada, por conta do investimento caro e pouco retorno. Segundo Calabre (2002) foi um tempo de instabilidade, com as revoltas tenentistas, as constantes declaração de Estado de Sítio; nesse contexto, o rádio poderia vir a se tornar um perigoso veículo de comunicação, de divulgação dos acontecimentos e de propaganda contra o poder estabelecido. De acordo com Calabre (2002, p. 16): Para evitar qualquer risco, o governo limitou, desde o decreto nº 16.657 (05/11/1924), as sociedades civis a transmitirem uma programação com fins educativos, científicos e artísticos de benefício público, ficando expressamente proibida a programação de notícias internas de caráter político sem a prévia permissão do governo. A programação das emissoras era conforme o gosto da elite, apesar disso, as emissoras tentavam ser mais populares. Na época utilizavam alto-falantes em lugares públicos para atrair as pessoas, assim conseguiam reunir um grande número de ouvintes. 2.1 CARACTERÍSTICAS E POTENCIALIDADES DO RÁDIO A ideia de se trabalhar com mídias em sala de aula é, quase sempre, pensada do ponto de vista da “recepção”, isto é, de trabalhar sobre aquilo que já é produzido pelos meios, não que essa estratégia não seja válida, mas a concepção defendida aqui prioriza o ato de produzir comunicação, com base no rádio, nos espaços educativos. O rádio possui características, como a instantaneidade, a simultaneidade e a rapidez. Outra característica deste meio, citada por Prado (1985, p. 18), é “[...] a capacidade de o rádio ser entendido por um público muito diversificado, por não existir um conhecimento 28 especializado para a decodificação e a recepção.” Outra característica pouco positiva também deve ser citada, como a falta de percepção visual entre o emissor e o receptor, porém este ponto negativo origina uma característica positiva, que é a capacidade de sugestão que exerce sobre o ouvinte, que tem de criar mentalmente a imagem visual transmitida pela imagem acústica. Como consequência de todas essas características surgem uma série de “fatores de eficácia” da mensagem radiofônica, conforme coloca Prado (1985, p. 19): A clareza é a primeira delas e tem duas facetas: a técnica e a enunciativa. A técnica determina uma transmissão adequada, sem ruídos no processo e com uma combinação adequada dos recursos expressivos do veículo. A clareza enunciativa tem, por sua vez, dois aspectos: o da redação e da locução. A locução deve ser responsabilidade da mesma pessoa que elabora os textos, rompendo assim com a expressão fria, impessoal, de máquina falante. Prado (1985) afirma que esta arrogância clássica contribui para estabelecer uma barreira entre emissor e receptor, situando aquele em um lugar inaceitável para o ouvinte, que vê assim aumentadas as dificuldades de interação que por si mesmas tem o rádio na sua estrutura atual. Prado (1985, p.20) explica “Os textos não são lidos, devem ser ditos. Se o aluno da rádio escola, for ler os textos que ele mesmo elabora, deve sentar-se ante o microfone com a atitude de quem vai explicar algo a um público heterogêneo, deve concentrar-se no que está dizendo.” Ainda sobre a locução dos textos, Prado (1985) aponta quatro variáveis importantes: a vocalização, a entonação, o ritmo e a atitude. A vocalização, de acordo com o autor (PRADO, 1985, p. 22): Facilita a compreensão de um texto. Habitualmente, quando falamos, não nos esforçamos em pronunciar todas as sílabas ou em atribuir a cada letra o seu som exato. Isto não é uma dificuldade na comunicação interpessoal, que conta com outros recursos expressivos da linguagem não-verbal. Em troca, no rádio carecemos destes apoios e é por isso que uma boa vocalização adquire uma relevância vital. O ideal é abrir bem os lábios, como uma gesticulação exagerada, é um recurso que facilita a produção de sons definidos. Já a entonação radiofônica, citada por Prado (1985), diz respeito à entonação da leitura, que somente se vê quando aparece um sinal de pontuação, em especial as vírgulas e pontos finais. Nota-se, aqui, oportunidade de trabalhar os sinais de pontuação na rádio escola, como recurso de exercício prático. Prado (1985, p. 23) sugere: A leitura de um texto dramatizando-o até as lágrimas, inicialmente, e do riso às gargalhadas, logo em seguida. Tanto em um caso como em outro, este exercício não implica ler normalmente uma frase, parar e rir ou chorar, e sim expressar-se rindo ou chorando. 29 Prado (1985, p. 24) atenta para a questão do ritmo: “este tem papel importante, dado que ele depende em grande parte que o ouvinte o ouça e passe de um estado a outro”, ou seja, deve-se desenvolver uma combinação de ritmos nas leituras: “lê-se um texto primeiro com a máxima a lentidão” e, com isso, o aluno soletra de uma forma constante e não pronunciando normalmente as palavras ou sílabas e deixando um espaço entre cada uma delas e depois “lêse o texto rapidamente”. Diante disso, o aluno vai compreender a questão do ritmo na leitura. Quanto à atitude, ela vai depender do tema usado. Prado (1985, p. 24) coloca: Uma atitude demasiada seca ou demasiada alegre vai levar a uma reação negativa com respeito à eficácia da mensagem. A primeira prova um distanciamento entre a fonte e o receptor, e a segunda tira a credibilidade. A tendência deve ser a de expressar-se amigavelmente, mas sem uma afabilidade excessiva e fictícia, que causaria efeitos contrários aos desejados. Esses quatro pontos da locução devem ser aplicados ao mesmo texto na ordem que foram escritos, efetuando uma gravação antes e depois de realizados, com o intuito de constatar avanços. Com base em Consani (2007) nos itens que seguem, sugerimos um conjunto de temas vinculados à prática diária de uma rádio escola e que podem representar, neste âmbito, uma fonte de vivências significativas. Para o autor “[...] deve-se estudar os fundamentos científicos do áudio para verificar se todos os fatores relacionados à saúde vocal e auditiva estão sendo considerados pelos membros da comunidade escolar” (CONSANI, 2007, p. 38), ou seja, por intermédio dos fundamentos do áudio pode-se estudar o aparelho auditivo, órgãos formadores e seu funcionamento: pavilhão auditivo, ouvido interno, nervo ótico, processo da audição e também a física do som: altura, intensidade, duração, timbre e onda sonora. Para desenvolver os temas, Consani (2007, p. 39) recomenda: “Desenvolver propostas paralelas afins, tais como coral e grupo de teatro, organizar palestras com especialistas (fonoaudiólogos) sobre a saúde vocal e auditiva.” O uso do rádio exige controle emocional. Nosso sistema nervoso fica em estado de alerta pelo simples fato de estarmos sendo vistos, ouvidos e observados. O relaxamento e controle emocional são características que devem ser trabalhadas na rádio escola. Cyro (2005, p. 98) explica que “O relaxamento não é importante apenas para atingir um bem-estar físico e emocional no momento da fala, mas também para combater os efeitos do estresse”, sendo que o relaxamento é importante quando se trabalha em uma rádio e para eliminar a tensão desenvolveu tipos de relaxamento. A seguir são apresentados exercícios que visam o relaxar os alunos antes de utilizarem a rádio escolar. 30 Imagem 3 – Técnicas de relaxamento A D B E C F Fonte: Cyro (2005, p. 99-100). Legenda: A – Circular os ombros para frente e para trás B – Elevar os ombros e soltá-los relaxando C – Massagem nos ombros com as mãos D – Massagem na nuca E – Inclinar a cabeça para frente e para trás F – Elevar os braços, unindo as mãos sobre a cabeça e estirando o corpo. 31 Além das técnicas de locução observadas, o rádio precisa ser eficiente em termos de som, pois o meio não tem imagem. Segundo Carl, Messere e O'Donnell (2010, p. 271), “[...] isto não é necessariamente uma desvantagem.” O certo é que toda imaginação do ouvinte é manipulada para a mensagem pelo uso de música e de técnicas dramáticas. Carl, Messere e O'Donnell (2010, p. 269) resumiram isso da seguinte forma: O rádio é um veículo ideal para estimular tanto a imaginação quanto a mente. Qual mídia seria melhor para demonstrar ótimos aromas do perfume, de loção de barba, da sopa de vegetais para o almoço ou o cheiro de peru e presunto assando – não há como converter esses maravilhosos aromas para uma foto ou filme, mas a visualização mental pode ser impressionante. O melhor do rádio acontece na mente. O texto deve ser simples e direto, ter boa qualidade técnica e criar uma mensagem que tenha começo, meio e fim. O meio radiofônico tem o poder de transformar pensamentos, palavras e ações em imagens na mente do ouvinte. Para isso usa a técnica de dramatização. Segundo Balsebre (2004, p. 123): Como o tamanho e o alcance das imagens são limitados apenas pelas mentes que as elaboram e interpretam o meio, na sua relação com a peça, é inigualável. Uma história pode oferecer a estrutura para a compreensão – ou pelo menos para interpretação – dos eventos da vida. Em geral funciona como um espelho em que podemos ver a nós mesmos – nossas ações, motivos e defeitos. Por meio do rádio é possível fazer programas de rádio com recursos que já foram mencionados anteriormente, como também através da mente dos ouvintes. Carl, Messere e O'Donnell (2010, p. 248) apontam três princípios gerais para se fazer um programa para rádio. - Lembre-se que você está escrevendo para os ouvidos, não para os olhos. Use verbos ativos sempre que for possível. Sentenças longas e construções intrincadas não têm lugar no rádio. - Lembre-se que o texto precisa ser lido. É necessário praticar para escrever num ritmo que possa ser lido facilmente por outra pessoa. Tome cuidado em especial com o uso de vírgulas e pontos, o uso incorreto pode fazer que o texto seja praticamente ilegível. - Preste muita atenção no formato técnico. Cada emissora tem uma forma padrão de escrever os textos. Enfim, não adianta escrever um texto com a palavra “veja” ou então “pegue isso”, pois os ouvintes não estão vendo para saber do que se trata. Segundo Prado e Barbeiro (1989, p. 45), “[...] a peça radiofônica trata de conflitos e soluções, relacionamentos e sentimentos que motivam as pessoas, que conduzem os eventos e são por eles conduzidas.” A história tem de ser imaginável e compreensível, os personagens também e, ao final, deve apresentar alguma 32 lógica, por mais incomum e original que seja, para que o ouvinte não se sinta enganado nem fique decepcionado. O rádio pode fornecer praticamente qualquer cenário, sendo, por exemplo, uma família no antigo Egito, uma viagem espacial, uma casa de campo, entre outros, porém, segundo Mcleisg (2001, p. 182), “[...] é importante fazer uma boa pesquisa de época e lugar para manter a credibilidade perante aqueles ouvintes que conhecem a situação específica da história.” Mcleisg (2001, p. 182) afirma que três perguntas devem ser respondidas para que uma peça de rádio chame a atenção do ouvinte: “Quem é o herói? O que ele quer? Porque eu deveria me importar?” São essas perguntas que vão estabelecer uma ligação com o ouvinte. Conforme explica Mcleisg (2001, p. 182), é importante fazer um prévio esboço de cada personagem, sabendo dados como: Idade, sexo, onde vivem e como falam, estatura, peso, cor e aparência geral, valores sociais, senso de status, crenças, o carro que dirigem, as roupas que usam, quanto dinheiro eles têm, as ligações de família, amigos e inimigos, as piadas que fazem ou não? São confiáveis? São perspicazes? Humores, orientações, preferências e aversões. Compreende-se que ao criar o texto deve-se imaginar como será cada personagem, o que gosta de fazer, como fala, quais são os objetivos dele, etc. Mcleisg (2001, p. 182) argumenta que além de criar os personagens e imaginar suas características é “[...] fundamental pensar que algumas frases que são desnecessárias na televisão são extremamente necessárias no rádio”, ou seja, frases como “cuidado, ele vai jogar a bola”, na televisão ou no teatro o público pode ver que isso pode acontecer e no rádio não. Os personagens de rádio não somente dizem o que estão fazendo, mas revelam seus pensamentos íntimos em voz alta. São recursos próprios do rádio que devem ser usados para que o resultado pareça fiel à realidade. Segundo Mcleisg (2001, p. 183), “[...] toda pessoa ‘presente’ deve ter uma fala ou ser mencionada, de modo que possa ser incluída na imagem mental do ouvinte.” No rádio os sons devem ser refinados e simplificados até chegar àquele mínimo que realmente transmite a mensagem, por exemplo, chuva, as conversas em uma festa, barulho do trânsito ou os sons de uma batalha. O que se deve ter cuidado é no exagero de efeitos sonoros. Embora no mundo real os sons que se ouvem sejam muitos, nesse aspecto, a peça radiofônica proporciona não o que é real, mas o inelegível. É possível gravar sons genuínos que, separados de sua realidade visual, não transmitem coisa nenhuma. 33 O som de um carro parando provoca pouco impacto, no entanto, talvez seja necessário para transmitir a dramaticidade do momento decisivo da peça. Mcleisg (2001, p. 188) fornece exemplo de alguns sons que logo se tornam identificáveis: “passagem de tempo – o tiquetaque do relógio. A bordo de um navio – ranger de cordas. De manhã cedo – galo cantando. Ao ar livre, rural – pássaros cantando.” Esses sons são reconhecidos como efeitos sonoros. Prado e Barbeiro (1989, p. 32) explicam que “[...] efeito sonoro é qualquer elemento sonoro que não seja música ou fala.” Segundo Carl, Messere e O'Donnell (2010, p. 241), efeitos sonoros podem vir de: Acervos especiais de efeitos sonoros, CDs ou arquivos de áudio que a emissora compra e adquire os direitos de usar. Esses acervos sonoros estão geralmente em CDs, embora também existam disponíveis em pacotes de programas. Efeitos sonoros gravados pelo produtor. Esta prática soa mais simples do que realmente é. O antigo truque de rádio de fazer barulho com o celofane para simular o som de chamas geralmente tem exatamente o efeito esperado. Uma porta batendo, outro exemplo, nem sempre soará como uma porta batendo. Com certos posicionamentos de microfone e certos tipos de porta, ela pode soar um tiro. Entretanto, independentemente de como um efeito sonoro é produzido, seu uso apropriado pode adicionar conteúdo à mensagem. O uso inapropriado pode fazer com que pareça amador e fora de propósito. Mcleisg (2001, p. 188) afirma que: “[...] há algumas razões para se usar efeitos sonoros, quando é necessário economizar tempo e palavras.” Para Carl, Messere e O'Donnell (2010, p. 242), “[...] efeitos sonoros são uma excelente ferramenta de produção, mas se mal empregados são impróprios e podem depor contra a mensagem”, isto é, devem-se usar efeitos quando for natural, racional e servir a um propósito. Além dos efeitos sonoros existem ainda a velocidade e o ritmo que, conforme Mcleisg (2001), são o que afetarão diretamente a mensagem. Carl, Messere e O'Donnell (2010, p. 243) explicam que “[...] esses elementos são uns dos mais importantes de todo o aspecto de produção de rádio.” Diante disso, é importante ter em mente que o ritmo cria um efeito e precisa reforçar a mensagem. O ritmo e a velocidade têm a ver com a qualidade vocal e, o que geralmente acontece é que o locutor acaba tendo uma respiração imprópria, a qual pode não ser ouvida no dia a dia, mas em um microfone certamente é percebida. A solução para isso é aprender técnicas de respiração – guardar bastante ar, em vez de tentar falar até que todo ar tenha terminado. 34 2.2 HISTÓRICO DA RADIODIFUSÃO EDUCATIVA BRASILEIRA O rádio no Brasil foi lançado por um grupo de estudiosos, “um grupo que via no veículo a possibilidade de elevar o nível cultural do país.” (CALABRE, 2002, p. 21). A autora explica que quem constituiu o rádio no Brasil e fez as primeiras experiências foi Edgard Roquette-Pinto (Imagem 4). Compreendemos que eram dois grandes intelectuais da época que acreditavam na nova tecnologia e, segundo Calabre (2002, p. 21), “[...] ambos viam no rádio a saída para o que denominavam os males culturais do país.” O autor explica que os intelectuais iam até as emissoras para fazer palestras, entrevistas e estavam sempre em busca do aperfeiçoamento da cultura no Brasil. Imagem 4 – Roquette-Pinto com os pequenos índios Parecis Fonte: Silva (1999). Com o passar dos anos o rádio foi ficando popular e assim começou a sofrer críticas da sociedade, visto que surgiam várias emissoras comerciais, afastando-se de um veículo com fins puramente educativo. Calabre (2002, p. 24) explica que em 1933, César Ladeira3 se pronunciava dizendo que o rádio deveria divertir os ouvintes e que “querer mantê-lo como um veículo meramente educativo era um grande equívoco”, ainda, afirmava que um modelo de rádio ideal seria o meio para o entretenimento. 3 Cesar Ladeira foi um radialista brasileiro. Criador de nomes artísticos com os quais alguns cantores passaram a ser identificados: "A Pequena Notável" para Carmen Miranda, "O Cantor que Dispensa Adjetivos" para Carlos Galhardo, "O Caboclinho Querido" para Sílvio Caldas e "A Garota Grau Dez" para Emilinha Borba. 35 Diante disso, Calabre (2002, p. 25) resume a década de 1930 como sendo uma década em que o rádio “despertou sentimentos que variavam do fascínio à rejeição.” A autora coloca que as camadas populares tinham curiosidade de adquirir aparelhos de rádio, mas, de acordo com o autor, “as famílias que ainda não podiam ter seus próprios rádios, lançavam mão de uma prática que se tornou muito corriqueira: a de ser um ‘rádio-vizinho’ ou seja, as famílias compartilhavam o rádio para acompanhar as novidades, notícias e toda forma de informação.” Com isso, entende-se que as emissoras de rádio podem ter se afastado do seu modo educativo em busca de novos ouvintes. Calabre (2002) diz que os programas eram em forma de concursos com distribuição de brindes e quanto mais crescia o número de emissoras, mais exigentes ficavam os ouvintes. Diante dos novos ouvintes e da modernidade que chegava, a publicidade também chegou ao rádio, com os anúncios, trazendo novos hábitos de consumo, sendo assim, o rádio se tornou o preferido pelas empresas para lançar suas novas marcas e produtos. O rádio tinha a capacidade de informar rapidamente, antecipando-se ao jornal impresso na divulgação dos acontecimentos; as noticias irradiadas durante boa parte do dia e à noite somente seriam lidas no jornal do dia seguinte. Além disso, enquanto aguardavam as notícias de guerra, os ouvintes se divertiam com os programas humorísticos, se emocionavam com os dramas radiofonizados e cantarolavam os últimos lançamentos musicais interpretados por seus cantores prediletos. (CALABRE, 2002, p. 30). A grande caixa de madeira falante que representava o rádio hoje não existe mais, mas o rádio marcou a sociedade brasileira, criando moda, inventando práticas cotidianas e transformando-se em parte do dia a dia da maioria das pessoas. Diante dos fatos que marcaram a trajetória do rádio no Brasil, partimos agora para a compreensão do rádio no espaço escolar. 2.3 O RÁDIO NO PROCESSO EDUCATIVO Os progressos na tecnologia da educação vêm acontecendo em vários campos, como através da internet e da televisão, porém, o rádio continua presente, pois ao longo da sua historia foi se adaptando às mudanças, prova disso são as rádios escolas on-line. De acordo com Netto (1976, p. 15), a tecnologia da educação contribui para: Tornar o processo de ensino-aprendizagem mais visível; Aumentar a especialização de trabalho no pessoal docente; Aperfeiçoar os conceitos de medida e avaliação de aspectos do sistema educacional; Objetivar os alvos da instrução e esclarecer as intenções desta; Modificar os fatores de produção de ensino, de sorte e obter, por um lado menos trabalho, e por outro, mais materiais e equipamentos de ensino. 36 Essas vantagens citadas pelo autor, naturalmente, não existem nos sistemas convencionais de educação. O objetivo é que com o uso do meio rádio em sala de aula, o aluno preste mais atenção a determinados estímulos do ambiente que o cerca, perceba-os, compreenda seu significado, decodifique a mensagem. Netto (1976, p. 17) afirma que “O grau maior ou menor de estruturação planejada dos estímulos (objetos, palavras...) geralmente afeta a qualidade da aprendizagem.” Diante dos estímulos citados pelo autor espera-se que o educando responda, ou seja, que de alguma forma se manifeste. Isto nem sempre ocorre na aprendizagem em sala de aula: o professor ao expor a matéria em classe, e o livro didático, ao apresentar a matéria ao aluno, não informam ao aluno qual é o desempenho que este deve exibir durante e após sua exposição aos estímulos. (NETTO, 1976, p. 18). Por meio do rádio é possível observar a reação do aluno, fazê-lo recordar-se de coisas anteriormente aprendidas e que devem ser relacionadas com os novos estímulos. Uma importante contribuição do rádio no processo educativo é o feedback, que de acordo com Netto (1976, p. 18): O feedback proporcionado pelo conhecimento do resultado é útil não somente para a fixação da resposta específica a que se refere, como também para o que chamamos de motivação do aprendiz. Um confronto da própria resposta com a resposta correta, um simples aceno da cabeça do professor (sim ou não) ou um display visual que possibilita um controle preciso de uma resposta motora, são meios eficazes de reforço do comportamento que está sendo aprendido. O meio rádio possibilita o feedback e a troca de informações entre o educando e o educador, ou seja, acontece uma troca de informações onde o rádio se torna um meio do qual os conteúdos do currículo escolar serão abordados. Em uma concepção de educação transformadora, o uso do rádio no cotidiano escolar e a inclusão no currículo escolar podem contribuir para a formação do cidadão participativo. Os veículos de comunicação estão crescendo e a sua presença é constante no cotidiano escolar e familiar dos alunos. Esta realidade anuncia um alerta importante para que os meios de comunicação não se tornem instrumentos de manipulação de massa. Sobre comunicação de massa, Netto (1976, p. 130) explica que: Os processos individuais de formação de opinião são, pois, reforçados pela observação que o indivíduo faz de seu ambiente social. Assumimos que as concepções sobre quê opiniões são dominantes no ambiente, ou que opiniões passarão a ser dominantes no ambiente, são influenciadas pelos meios de comunicação de massa. Admitimos ainda que este processo é tanto mais pronunciado quanto mais pessoas são atingidas e quanto mais essas opiniões são públicas. 37 Com o uso do rádio na sala de aula, é possível uma análise crítica sobre os meios de comunicação de massa, utilizando o rádio como recurso para realização de uma leitura crítica de programas comerciais de rádio. Reconhecemos o propósito histórico inicial do rádio, onde se buscou um instrumento de integração educativo. O momento atual não somente consente que a escola produza programas de rádio, como também nos obriga a dar fala e espaço aos alunos e os educadores. Meditsch (2005, p. 49), explica que: O rádio precisa ir além de simplesmente retransmitir um fato ou veicular uma notícia radiofônica que esteja limitada a um sintético e duro relato de acontecimentos. Realmente, se ficar restrito a esse tipo de comunicação, o rádio não dará conta do papel social reservado a este tipo de comunicação. Concordando com o autor, entendemos que é preciso informar com ética por meio do rádio, buscando o debate de ideias, compreendendo que ele hoje possui mais recursos e potenciais com as novas tecnologias. Diante disso, é necessário caminhar para cumprir sua verdadeira função: a possibilidade de ser meio de expressão, defendendo que o “ouvinte” também fale e que se relacione. Nessa perspectiva, é necessário oportunizar aos alunos o aprofundamento do que seja a comunicação democrática e usar o rádio na escola como uma ferramenta de difusão, com o qual é possível desenvolver a criticidade, com vistas à cidadania participativa. Meditsch (2005, p. 55) coloca sobre uma comunicação democrática: Uma comunicação democrática significa que a sociedade, na sua pluralidade, na sua diversidade, realmente se expressa pelas ondas do rádio, pelo rádio analógico ou digital, pelo rádio na internet, pelo rádio transmitido via celular. Iniciar uma luta por uma legislação nova, que defenda os interesses reais da cidadania brasileira. A inclusão do educando na elaboração de programas de rádio, mostra que o rádio é um meio que além de estimulante para a criatividade, busca a relação crítica do educando no seu próprio aprendizado. Mendonça (1974, p. 100), elaborou formas de utilizar os recursos do rádio na sala de aula: Na preparação para a leitura – reproduzir palavras com sons semelhantes (sílabas iniciais ou finais); Na leitura em geral – melhorando o tom de voz, desenvolvendo a capacidade de ler oralmente, ajudando os alunos com o problema da lentidão ou de ritmo; No ensino da gramática – formas verbais, por exemplo, dentro de frases, são melhores ensinadas através do som do que da escrita, assim como o emprego correto de pronomes, advérbios; No desenvolvimento da expressão criadora – histórias, poesias e pequenas peças com diversas finalidades são gravadas para uso posterior. Observamos por meio das considerações do autor que o uso do rádio nos processos de ensino e aprendizagem implica atividades que contribuem para o desenvolvimento da 38 concentração, para a capacidade de observação, permite estabelecer relações, possibilitam o aumento do vocabulário dos alunos e também estimula a participação em outras atividades. Diante disso, entende-se que o rádio é um meio que pode fornecer espaço para alunos e professores atuar nos processos de construção e na reconstrução do conhecimento, em um mundo em constantes transformações. O uso do rádio na escola, enquanto instituição formal de educação, no entanto, necessita estar articulado a uma proposta pedagógica que, de fato, tenha como horizonte a emancipação. Tal articulação se faz necessária a fim de que a inserção do rádio na escola contribua para os processos de ensino e aprendizagem em uma perspectiva crítica e não dogmática. Se à escola cabe a formação de cidadãos participativos, os recursos utilizados nos processos educativos necessitam clareza de todos os envolvidos na escola, estando assim expresso no projeto político pedagógico (PPP). A simples inserção do rádio na escola desvinculado do PPP pode vir a constituir uma armadilha ideológica. 2.4 FORMAS DE LINGUAGENS NA EDUCAÇÃO No decorrer do presente trabalho, compreendemos que comunicação é um processo de troca de informações e essa troca de informações é possível por intermédio da linguagem. Para Vanoye (1993, p. 29), a linguagem: [...] é um sistema de signos socializado. Socializado remete claramente à função de comunicação da linguagem. A expressão “sistema de signos” é empregada para definir a linguagem como um conjunto cujos elementos se determinam em suas inter-relações, ou seja, um conjunto no qual nada significa por si, mas tudo significa em função dos outros elementos. A linguagem, para Junqueira (2006), dentro do contexto escolar acontece na forma verbal, em que o professor introduz conversas, leituras, histórias, e na forma não verbais na organização espacial da sala de aula, com pintura, desenhos, modelagem, recorte e colagem, jogos simbólicos, situações e atividades para avaliar e estimular a autoestima, a autonomia e a cooperação das e entre as crianças, entre outras formas. Junqueira (2006, p. 18) explica: Articulados pelo olhar gerador de sentido do professor, estes fragmentos conteúdos, estas partes-conteúdos, revelados pelas produções das crianças em diferentes linguagens, vão perdendo o caráter de fragmentaridade e dispersão e compondo uma rede de inter-relações de sentido para e sobre os dois sujeitos desta relação de (re) leitura e (re) escrita – de produção – de si e do outro. 39 É nesta direção que o educador é capaz de perceber uma rede de inter-relações do que faz sentido para os educandos, são essas diferentes linguagens e diferentes inter-relações que vão desencadear a própria linguagem da criança. Segundo Terra (2009, p. 19), a linguagem é uma “forma ou processo de interação.” Portanto, para o autor, a linguagem é considerada como ato de realizar ações e é pela linguagem que podemos interagir com os outros. Pensando nos tipos de linguagens nas práticas pedagógicas, notamos que, ao longo do tempo, a escola ficou reservada ao uso da linguagem verbal. De acordo com Terra (2009, p. 20) “linguagem verbal é aquela cujos sinais utilizados para atos de comunicação, são palavras. A palavra verbal provém do latim verbale, que, por sua vez, provém de verbu, que significa palavra”, contudo, precisamos ficar atentos com a evolução da tecnologia, onde existe a necessidade de o educador trabalhar com outro tipo de linguagem, como a linguagem não verbal. Terra (2009, p. 20) explica linguagem não verbal: Quando tem por base qualquer outro tipo de sinal, como cores, gestos, desenhos, sinais sonoros, etc. Os sinais utilizados para comunicação por pessoas que não têm ou perderam a capacidade de fala são um exemplo de linguagem não-verbal. Da mesma forma, o conjunto dos sinais de trânsito, utilizados para orientar os motoristas, e as bandeiras que orientam os pilotos em corridas de automóveis constituem um tipo de linguagem não-verbal. Diante disso, o educador pode utilizar outros tipos de linguagens dentro da sala de aula, como: a linguagem da televisão, do cinema, do teatro, da publicidade, da charge, das tirinhas, entre outras. Para Reverbel (1997), pensadores e educadores vêm há muito tempo percorrendo múltiplos caminhos no ensaio de encontrar aquele que realmente coloque a arte a serviço da educação. Reverbel (1997, p. 12) continua: Na Grécia, no século V a.C, a educação grega valorizava o teatro, a música, a dança e a literatura. Platão considerava o jogo fundamental na educação. Dizia que mesmo as crianças de tenra idade deviam participar de todas as formas de jogo adequado ao seu nível de desenvolvimento, pois sem essa atmosfera lúdica, elas jamais seriam adultos educados e bons cidadãos. Com o passar dos anos, novas ideias foram surgindo, somando-se à ideia de grandes pensadores e cientistas e às experiências de educandos, em sala de aula. A escola é o palco ideal para trabalhar os meios de expressões das crianças, como: o gesto, riso, choro. É na escola que a criança aprende a conviver com os outros, onde começar ter sua primeira imagem da sociedade. Para Reverbel (1997, p. 24): 40 A criança aprende atuando, motivo pelo qual é preciso que o professor lhe ofereça oportunidades de atuação. O clima adequado para a criança atuar deve oferecer ampla liberdade e respeito, levando em consideração principalmente o nível de desenvolvimento em que a criança se encontra. Não se devem atribuir notas ou conceitos à sua produção, pois cada aluno cria na medida de suas possibilidades. Sabemos que a sociedade evoluiu em suas formas de organização, tanto na produção de bens, na forma de comerciar esses bens e também nas formas de ensinar e de aprender. Tanto os educadores quanto os educandos procuram formas de aprender mais. De acordo com Moran (2003, p. 11), “temos a sensação de que muitas aulas convencionais estão ultrapassadas.” Ensinar e aprender são provocação que enfrentamos em todas as épocas, mas em especial atualmente na era da informação e do conhecimento. Para Moran (2003, p. 13): Educamos de verdade quando aprendemos com cada coisa, pessoa ou ideia que vemos, ouvimos, sentimos, tocamos, experimentamos, lemos, compartilhamos e sonhamos; quando aprendemos em todos os espaços em que vivemos – na família, na escola, no trabalho, no lazer etc. Ensinar/educar é participar de um processo, em parte, previsível – o que esperamos de cada criança no fim de cada etapa – e, em parte, aleatório, imprevisível. Cada educador precisa encontrar sua forma mais adequada de integrar novas formas de ensinar. Vigotski (2003, p. 86) considera que para isso é importante entender como o educando percebe o mundo exterior: Como a criança pequena percebe o mundo exterior? Os psicólogos pesquisadores têm sido capazes de apresentar boas suposições sobre quais processos podem ser encarados como característicos de uma percepção primitiva que a criança tem do mundo exterior. O que quer que percebamos do mundo é percebido de maneira estruturada, isto é, como um padrão de estímulos. Nós reagimos e nos adaptamos a esses estímulos externos e, na realidade, todo o nosso comportamento equivale essencialmente a alguma acomodação mais ou menos adequada às diversas estruturas do mundo exterior. Para Vanoye (1993, p. 29), a questão da diversidade de linguagens na educação está estreitamente ligada com a língua: As línguas são casos particulares de um fenômeno geral, a linguagem, que é estudada pela lingüística geral. Ainda que não exista a linguagem verbal universal, a lingüística geral esforça-se no sentido de isolar e estudar as características comuns constitutivas das diferentes línguas (por exemplo, a estruturação fônica, a economia da língua, etc.). A educação escolar precisa compreender e incorporar novas linguagens, aprender usar seus códigos e dominar as suas possibilidades, diante disso, sugerimos outras linguagens no ambiente escolar. 41 2.4.1 A Televisão e a Educação A principal característica da televisão é combinar imagens estáticas e dinâmicas, imagens ao vivo e gravadas. A televisão no ambiente escolar é vista como um “descanso” para os alunos, isso significa que modifica a postura e as expectativas em relação ao seu uso. Essa é uma característica positiva que deve ser observada pelos educadores. Para Moran (2003, p. 37), a televisão: Parte do concreto, do visível, do imediato, do próximo, daquilo que toca todos os sentidos. Mexe com o corpo, com a pele, está ao nosso alcance através dos recortes visuais, do close, do som estéreo envolvente. Pela TV, experienciamos sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos. A televisão explora o ver, o visualizar, o ter diante de nós as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais (próximo – distante, alto-baixo, direita-esquerda). Desenvolve um ver com múltiplos recortes da realidade, através dos planos, e muitos ritmos visuais. Um ver que está situado no presente, mas que o interliga não linearmente com o passado e com o futuro. A televisão está ligada com a linguagem, linguagens que interagem superpostas, interligadas, somadas. São as linguagens visuais, faladas, musicais e escritas. Diante disso, a televisão possui também a característica da sedução e da informação. Moran (2003, p. 39) aponta propostas de utilização da televisão na educação escolar: Televisão Sensibilização: um vídeo que desperte a curiosidade e a motivação para novos assuntos. Isso pode facilitar o desejo de pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto e a matéria. Televisão como ilustração: a televisão ajuda a mostrar o que se fala em sala de aula, a compor cenários desconhecidos dos alunos. Televisão como simulação: a televisão pode simular experiências de química que seriam perigosas em laboratório ou que exigiriam muito tempo e recurso. Ou ainda apresentar o crescimento acelerado de uma planta, de uma árvore. A televisão apresenta uma conexão entre mostrar e demonstrar. Para Moran (2003) mostrar é igual a demonstrar, a provar, a comprovar. A força da imagem é tão evidente que se torna difícil não fazer essa associação comprobatória, se a imagem me impressiona, é verdadeira. Também é muito comum a lógica de generalizar a partir de uma situação concreta. 2.4.2 O Desenho Animado e a Educação Os contos de fadas no mundo infantil são importantes para o imaginário da criança. O conto de fadas trabalha com o mágico, o lindo, o poético, o criar e inventar e reinventar. Para 42 Silva (2001, p. 115), “a criança vê o desenho animado e recebe estímulos sensoriais através das imagens e essa experiência lhe permite organizar a sua percepção das coisas e do mundo.” Entendemos que o desenho é uma preparação para a pedagogia da imagem, ela não é recebida, mas ativamente compreendida, a criança que desenha e aprende a ver. Silva (2001, p. 115) considera que “O conto de fadas é a cartilha onde a criança aprende a ler sua mente na linguagem das imagens. A Criança precisa se expor a essa linguagem se deseja dominar sua alma.” Por meio das palavras e das imagens, a criança constrói seu modo particular de viver e enfrentar os fatos preenchidos com suas experiências vividas. De acordo com Silva (2001, p. 129): Desenvolver um trabalho com imagens, com a linguagem dos desenhos, é estar em constante busca interativa com a sociedade em que vivemos. É ter consciência de que a comunicação não se esgota no verbal, e que a cada dia temos os nossos sentidos estimulados para captar novos códigos e novas mensagens. Precisamos considerar a riqueza receptiva para que possamos enriquecer o ensino. Deve haver um momento em sala de aula que o professor ao utilizar o desenho animado, incentive a participação do aluno, fazendo com que ele expresse suas impressões e saiba acolher de forma positiva as impressões dos colegas, para, num trabalho conjunto, chegarem a uma leitura ampla e rica do material visto por eles. Compreendemos que mesmo usados de forma lúdica, os desenhos animados podem e devem ser aproveitados como meio de apoio no desenvolvimento do educando e também na sua relação com o mundo. 2.4.3 O Teatro e a Educação A importância de compreender os processos de comunicação, fator primordial no ensino aprendizagem, é fundamental em sua complexidade de elementos e situações, como um processo vivo, ativo e em constante mutação. Se aceitarmos o conceito de processo, veremos os acontecimentos e as relações como dinâmicos, em evolução, sempre em mudanças contínuos. Quando chamamos algo de processo, queremos dizer também que não tem um começo, um fim, uma sequência fixa de eventos. Não é uma coisa estática, parada. É móvel. Os ingredientes do processo agem uns sobre os outros; cada um influencia todos os demais. (BERLO, 2002, p. 23). Compreende-se que a comunicação age como um processo em movimento, onde os elementos de comunicação estão sempre se transformando no meio em que estão inseridos. Assim, a comunicação está diretamente ligada com mutação e evolução, num certo dinamismo entre os elementos que agem neste processo. 43 Nesse sentido, busca-se fundamentar a importância de aplicação de técnicas criativas que proponha uma interação maior entre educadores e educando, para que se compreendam dentro deste processo comunicacional e criem um ambiente que lhes possibilite romper com os paradigmas da educação tradicional. Assim, veremos o questionamento de Haetinger (1998, p. 12): As técnicas de jogos criativos adaptados ao ensino levam professores e alunos a compreender e aceitar formas e padrões de comportamento pessoal e social; ter autoconfiança e sentir-se seguro em quaisquer situações; resolver situações novas, aplicando conhecimentos e habilidades já adquiridas e analisar e avaliar seu comportamento como indivíduo de um grupo, quer recebendo aprovação quer reprovação. A partir da necessidade de uma inter-relação mais dinâmica, pode-se constatar a importância do teatro na educação, pois o jogo dramático busca projetar o espontâneo e a iniciativa de cada aluno. E são nestas atitudes impulsivas e instintivas, proporcionadas pelo jogo teatral, que se manifesta e amadurece toda a personalidade de cada indivíduo, onde se mostra o verdadeiro, como esclarece Dewey (1900, p. 143): A principal raiz de toda a atividade educacional está nas atitudes instintivas e impulsivas da criança e não na apresentação e aplicação de material exterior, seja através de ideias de outros ou por meio dos sentidos; portanto, as atividades espontâneas da criança, como jogos, mímica [...] são passíveis de serem usados para fins educacionais, ou ainda, constituem o fundamento dos métodos educacionais. Assim, no momento em que se percebe a vasta abrangência da improvisação e do jogo na formação do indivíduo, resta uma única dúvida: por que algo tão simples de ser elaborado, tão prazeroso e tão importante para o ser humano é tão esquecido e pouco utilizado? Esta é uma questão para a qual ainda se tem resposta. Courtney (1976, p. 42) defende estes propósitos: A fonte primária de toda atividade educativa está nas atitudes e atividades instintivas e impulsivas da criança, e não na apresentação e aplicação de material externo, seja através de ideias de outros ou através dos sentidos; e, consequentemente, inúmeras atividades espontâneas das crianças, jogos, brincadeiras, mímicas. São passíveis de uso educacional, e não apenas isso, são as pedras fundamentais dos métodos educacionais. O professor deve, pois, reconhecer seus alunos criativos e contribuir, mediante sua ação educativa, para que todos desenvolvam a criatividade. Sabe-se, no entanto, que criatividade e liberdade são inseparáveis em sala de aula. Reverbel (1989) explica que, infelizmente, a maioria das escolas mantém, ainda, um ensino tradicional responsável pela limitação da criatividade do aluno. Para tanto, esta arte imaginativa deve ser recebida 44 naturalmente, sem bloqueios e sem restrições. E isso é que os professores deverão lembrar sempre: de que entre a criatividade e a arte existe uma relação profunda. 2.4.4 A Informática e a Educação O computador está cada vez mais poderoso em recursos, como a velocidade, programas e comunicação. Com ele podemos pesquisar, simular situações, testar conhecimentos, descobrir coisas, produzir novos textos, novas avaliações e novas experiências. Para Moran (2003), é importante conhecer os alunos e descobrir suas competências antes de colocar em ação um plano de ensino ligado à informática. O professor que possuir uma visão pedagógica inovadora pode utilizar algumas ferramentas simples da internet para integrar seu plano de atividades com a informática. Moran (2003, p. 46) destaca: Lista eletrônica/Fórum: Em relação à internet, devemos procurar fazer com que os alunos dominem as ferramentas da WEB, que aprendam a navegar e que todos tenham seu endereço eletrônico (email). Com os emails de todos é interessante criar uma lista interna de cada turma. Aulas/Pesquisas: Podemos transformar uma parte da aula em processos contínuos de informação, comunicação e pesquisa, por meio dos quais vamos construindo o conhecimento e equilibrando o individual e o grupal, entre o professor-coordenadorfacilitador e os alunos-participantes ativos. O papel do professor é de gerenciador do processo de aprendizagem, é o coordenador de todo o andamento, do ritmo adequado, o gestor das diferenças e das convergências. Vale ressaltar que a utilização do computador exige grande atenção do professor, pois é possível navegar na internet, utilizar jogos, entre outras coisas e ante tantas possibilidades, o uso do computador pode se tornar mais sedutor para outros fins que não estejam no plano de atividades. Para Moran (2003, p. 53), o computador facilita a motivação dos alunos pela novidade e possibilidades inesgotáveis que oferece. O autor coloca que computador ajuda a: Desenvolver a intuição, a flexibilidade mental, a adaptação a ritmos diferentes. A intuição porque as informações vão sendo descobertas por acerto e erro, por conexões “escondidas”. As conexões não são lineares, vão linkando-se por hipertextos, textos interconectados, mas ocultos, com inúmeras possibilidades diferentes de navegação. Desenvolve a flexibilidade, porque a maior parte das sequências são imprevisíveis, abertas. Ajuda na adaptação a ritmos diferentes: a internet permite a pesquisa individual, em que cada aluno trabalhe no seu próprio ritmo, e a pesquisa em grupo, em que se desenvolve a aprendizagem colaborativa. É por intermédio do computador que os educandos podem desenvolver novas formas de comunicação, em especial, na escrita, escrevendo de forma mais aberta e aproximando texto e imagem. 45 2.4.5 História em Quadrinhos e a Educação A relação entre linguagem, palavras e as imagens nas histórias em quadrinhos são bastante amplas. Para Vanoye (1993), a história em quadrinhos envolve uma técnica narrativa: trata-se de contar uma estória. Inicialmente, o texto da narrativa era o mais importante e era colocado (e às vezes ainda o é) sob o desenho, constituindo-se este apenas em ilustração de narrativa. Algumas formas de introduzir as histórias em quadrinhos na sala de aula podem ser: Apresentar as tirinhas como motivação antes de discutir o assunto proposto; Ratificar a informação dada, utilizando a tirinha como exemplo; pedir aos alunos que criem seus próprios quadrinhos; distribuir os alunos em pequenos grupos, após a discussão do conteúdo, e pedir que identifiquem o(s) conceito(s) exposto(s) nas “tirinhas”, promovendo uma discussão participativa; criar exercícios e problemas a partir de histórias em quadrinhos;dar aos alunos “quadrinhos” com distorções conceituais, e solicitar a eles (divididos em grupos ou não) que encontrem e corrijam as distorções. (EDUHQ, 2004). A história em quadrinhos comunica uma mensagem narrativa através da imagem e do texto. Vanoye (1993) explica que a história em quadrinhos constitui-se um verdadeiro código específico, o qual funciona com os seguintes elementos: disposição de balões, o contorno de balões, apêndice, caracteres e símbolos. Observe o exemplo de como se pode utilizar a história em quadrinhos no ambiente escolar: Imagem 5 – Exemplo de história em quadrinhos Fonte: Eduhq (2004). 46 Compreendemos que a educação escolar necessita compreender e incorporar novas linguagens, desvendar seus códigos, dominar suas possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. Para Moran (2003) é preciso educar para uso democrático, mais progressista e participativo de linguagens, que facilitem a evolução dos indivíduos. 47 3 O USO DO RÁDIO NA ESCOLA E A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA Segundo Dallari (2004, p. 17), a palavra cidadania nasceu na Roma antiga e indica “[...] a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tinha ou podia exercer.” Vieira (1999, p. 22) explica que “a cidadania tem assumido historicamente várias formas em função dos diferentes contextos culturais, o conceito de cidadania, enquanto direito a ter direito, tem se prestado a diversas interpretações.” Em consonância com o autor, entendemos que ser cidadão é ter direito à liberdade, à igualdade, ter direitos. Pensar cidadania é pensar em um conceito histórico, o que significa que seu sentido varia no tempo e no espaço. Dallari (2004, p. 17) comenta que: A sociedade romana fazia discriminação e separava as pessoas em classes sociais. Havia, em primeiro lugar, os romanos e os estrangeiros, mas os romanos não eram considerados todos iguais, existindo várias categorias. Em relação à liberdade das pessoas era feita a diferenciação entre livres e escravos, mas entre os que eram livres também não havia igualdade, fazendo-se distinção entre os patrícios – membros das famílias mais importantes que tinham participado da fundação de Roma e por isso considerados nobres – e os plebeus – pessoas comuns que não tinham direito de ocupar todos os cargos políticos. O autor explica ainda que com o passar do tempo se criaram algumas categorias e, assim, alguns plebeus conseguiram um título mais próximo dos patrícios e tinham acesso aos cargos mais importantes. No Brasil, a Constituição Brasileira de 1988 assegura aos brasileiros a cidadania e que de acordo com Dallari (2004, p. 24) “[...] são direitos já tradicionalmente reconhecidos, como o direito de votar para escolher representantes no Legislativo e no Executivo e o direito de se candidatar a cargos.” Precisamos instigar em nosso educando o lado cidadão ativo, crítico, ou seja, participativo. Conforme Freire (2011, p. 67): A capacidade de ser participativo, de aprender, não apenas nos adaptar, mas sobretudo para transformar a realidade, para nela intervir, recriando-a, fala de nossa educabilidade a um nível distinto do nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo das plantas. A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de ensinar, sugere ou, mais do que isso, implica a nossa habilidade de apreender a substantividade do objeto aprendido. Nessa perspectiva, qual o papel do educador? Freire (2011) enfatiza que o educador precisa contribuir para o desenvolvimento da consciência crítica do educando e sua criatividade. Coloca, ainda, que para isso ser realizado precisamos de educadores e educandos cada vez mais inquietos, curiosos, investigadores, livres. O educador que não respeita a curiosidade do educando, para Freire (2011, p. 59) “[...] que manda que ele se ponha em seu 48 lugar” afoga a liberdade do educando. Sobre a liberdade do educando, Freire (2011, p. 103) incita à reflexão de que: A liberdade amadurece no confronto com outras liberdades, na defesa de seus direitos, em face da autoridade dos pais, do professor, do Estado. É claro que nem sempre a liberdade do adolescente faz a melhor decisão com relação a seu amanhã. É indispensável que os pais tomem parte das discussões com os filhos em torno desse amanhã. Não podem nem devem omitir-se, mas precisam saber e assumir que o futuro é de seus filhos e não seu. É preferível, para mim, reforçar o direito que têm a liberdade de decidir, mesmo correndo o risco de não acertar, a seguir a decisão dos pais. É decidindo que se aprende a decidir. O autor deixa claro que a liberdade é necessária, sendo por meio da liberdade que o educando vai fazer escolhas e aprender a ter decisões. A liberdade está vinculada aos direitos dos cidadãos. Para Pinsky (2003, p. 9): Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: ter direitos civis. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho justo, à saúde, a uma velhice tranqüila. Covre (1994, p. 124) enfoca o papel dos meios de comunicação, implicando alerta aos educadores que se propõem contribuir com a formação do cidadão participativo: Observa-se uma pessoa diante da televisão. É passada a ela uma grande carga de informações, tantos eventos e problemas que ocorrem – supurando que lhe venha sentimentos, opiniões, possíveis soluções para os problemas, com quem vai debatêlas se está diante da máquina? Se ela não retiver essas ideias e sentimentos para debater em espaço público, ou se ela não é afeita a isso e nem tem acesso a este espaço, acaba em nada esse possível processo. Está ali ela, a pessoa, e a máquina. Entendemos que não existe um “diálogo possível” no caso da televisão, como citada pela autora (COVRE, 1994), porém, um diálogo é possível com uma rádio escolar, a partir da rádio escolar o educando vai receber as informações e pode ter reações, deixando de ter uma atitude passiva frente ao meio, e deixando de ser um cidadão passivo. Sawaia (1994, p. 153) destaca que “[...] cidadania não é um modelo absoluto de felicidade, liberdade e necessidade, expurgado de todos os elementos particulares em nome da igualdade”, ou seja, a cidadania é coletiva e também individual, mas sempre em prol do bem comum, para isso precisamos de espaços onde conseguimos livremente discutir, escolher e planejar o que queremos. Para Nossela, Arroyo e Buffa (1998, p. 12): 49 Ainda que seja possível caracterizar os tempos modernos a partir da construção de um novo saber, com novos fins, novos métodos, novos conceitos e novas categorias, a partir da elaboração de outra religião, ou ainda a partir da formação dos Estados nacionais, o fundamental, isto é, o que permite compreender todas essas transformações, é que os homens começam a produzir de outra forma sua vida material. Essa nova forma de produção da vida material engendra, por sua vez, novas formas de relações sociais entre os homens. É nesse sentido que o rádio pode contribuir para a construção da cidadania, um espaço novo de saber, com métodos, conceitos e estratégias para desenvolver novas formas de relações sociais entre os educandos e educadores. Nesse sentido, Nossela, Arroyo e Buffa (1998, p. 12) fazem uma reflexão sobre o uso somente do livro didático nas escolas: O livro didático será, pois, o grande recurso para a educação padronizada que se propõe. O livro didático surge visceralmente ligado à educação que a burguesia emergente propõe para difundir sua visão do mundo. E, com o livro didático, ficam dados, desde já, os limites epistemológicos da escola para todos. Entendemos que para educar para a cidadania, precisamos muito mais do que somente recursos, como o livro didático, superando a escola “bancária”, como aponta Freire (1981), na qual os alunos recebem informações, memorizam e repetem. Logo, para os professores o que resta é, de acordo com Freire (1981, p. 71), “receber depósitos, guardá-los e arquivá-los.” Freire (2011, p. 68) chama nossa atenção para a construção do nosso ambiente e para a participação nessa construção, onde explica que mulheres e homens são os únicos seres capazes de apreender. Por isso, somos os únicos em que aprender é uma aventura criadora, muito mais rica de que meramente repetir a lição dada; “aprender para nós é construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz sem abertura ao risco e a aventura do espírito.” Entendemos que essa prática educativa necessita de educandos e educadores aprendendo e ensinando juntos, e isso envolve o uso de meios e técnicas, como, por exemplo, o rádio, foco dessa pesquisa. 3.1 A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA PARTICIPATIVA Construir uma cidadania participativa requer, antes de tudo, compreender que não se tem encontrado um conceito que a defina em sua extensão, mas em seus termos dissociados, tal como registrado por Alhert (2006, p. 680), de que a cidadania implica “Uma luta ferrenha dos seres humanos para serem mais seres humanos; significa a luta pela busca da liberdade, da construção diária da liberdade no encontro com o outro, no embate pelos espaços que 50 permitam a vivência plena da dignidade humana.” Em sua composição, encampa um conjunto de direitos fundamentais para a existência plena da vida humana: direitos civis; direitos sociais e direitos políticos. Com respeito à participação, trata-se de “Uma forma de exercer direitos políticos e sociais garantidos pela Constituição”, e, especialmente, quanto à participação política, esta é realizada mediante ações coletivas ou individuais, com conotação de apoio ou de pressão, direcionadas a selecionar governos e a influenciar as decisões tomadas por eles. “É a participação ativa dos cidadãos nos processos políticos, sociais e comunitários e tem como objetivo influenciar as decisões que contemplem os interesses coletivos e o exercício da cidadania.” (GROSSELLI; MEZZAROBA, 2011, p. 7131). No que se refere à cidadania participativa, pode ser explicada como a junção entre a capacidade de direitos civis, sociais e políticos e a participação política nos atos do Estado. Isto comporta, no entanto, um quadro dinâmico que apenas se expressa por processos educativos, seja esta educação efetivada na esfera da educação formal e também da não formal e informal. Essas formas de educação são consideradas essenciais e esclarecedoras quando direcionadas às metodologias e aos processos destinados à construção da luta cultural e educativa, desejando construir uma roupagem social evidente para que as pessoas saiam do silêncio (LUCIO-VELLEGAS, 2012, p. 14-15). Com esta vinculação, a cidadania exige a participação dos seus membros no cumprimento de seus deveres, a fim de que seus próprios direitos se efetivem, indicando aos indivíduos a busca e a construção coletiva dos direitos, situando-se a condição: a cidadania existe e é real para aquele que a executa cotidianamente na busca de seus direitos, à medida que cumpre com os deveres competentes. Tais deveres incluem, entre outros, os seguintes: exercício da responsabilidade com a coletividade; cumprimento de regras e de normas de convivência, produção, gestão e consumo estabelecidos pela coletividade; busca efetiva de participação na política para controlar seus governos eleitos dentro de princípios democráticos (AHLERT, 2006, p. 681). Complementam Grosselli e Mezzaroba (2011, p. 7136), que: Para a realização da cidadania, o princípio democrático torna indispensável a participação popular nas tomadas de decisão. A cidadania, no Estado democrático de direito, efetivada, oferece aos cidadãos, como iguais condições de existência, o gozo atual de direitos e a obrigação do cumprimento de deveres, que, resumidamente, podem ser assim apresentados: exercício de direitos fundamentais e participação; e, os deveres de colaboração e solidariedade. 51 E, se a cidadania participativa passa pela educação, de acordo com Gadotti (1992), a escola que não possui autonomia não possui capacidade de educar para a real liberdade, afinal educar significa contribuir para o educando buscar respostas e novas formas de ler o mundo que o cerca. Gadotti (1992, p. 45) explica que: A autonomia na escola pode ser vista nas seguintes perspectivas: 1 – como autonomia filosófica que se refere à capacidade de estabelecer valores que são transformados em fins e objetos; 2 – como autonomia política, entendida como autonomia frente à política educacional; 3 – como autonomia administrativa na forma de operacionalizar objetivos político-filosóficos; 4 – como autonomia pedagógica que se refere a sua capacidade de definir o currículo da escola e finalmente como 5 – como autonomia didática em relação às atividades de ensinoaprendizagem. A busca pela autonomia na escola vai depender de cada escola, conforme Gadotti (1992), “[...] a eficácia dessa luta depende muito da ousadia de casa escola em experimentar o novo e não apenas pensá-lo.” O autor ainda diz ainda que para isso acontecer é preciso caminhar para a capacidade de se autogovernar. O autogovernar que Gadotti (1992) comenta já era debatido em toda a história do pensamento pedagógico: No diálogo entre Sócrates e Menón acerca da questão se a virtude podia ser ensinada, numa praça de Atenas, o mestre Sócrates insiste que o escravo Menón deve procurar, nele mesmo, a resposta. Educar significa, então, capacitar, potencializar, para que o educando seja capaz de buscar a resposta do que pergunta, significa formar para a autonomia. A escola, no ideal de Sócrates, deveria instituirse toda ela em torno da autonomia. Seu método: o diálogo. O discípulo é quem deve descobrir a verdade. Portanto, a educação é auto educação. (GADOTTI, 1992, p. 9). O educador atual necessita ser coerente e, de acordo com Freire (2011), precisa ser competente, que goste da vida, tenha esperança em um mundo melhor e que respeite as diferenças. Um educador e uma escola onde o currículo é uma construção e essa construção deve ser aberta para perguntas, respostas e curiosidade dos alunos. Não é possível, segundo as pontuações de Lucio-Villegas (2012, p. 16), deixar que a educação se torne uma mercantilização da própria pessoa, quando a aprendizagem individualiza-se, torna-se um motivo de concorrência e não de cooperação. Corre-se este risco, porque ao novo cidadão solicitam que faça parte de um trabalho constante “de treino, formação e reformação, desenvolvimento e reforço das ferramentas, melhorando as suas credenciais e preparando-se para uma vida de incessante procura de emprego: a vida torna-se numa capitalização constante do Eu.” 52 Há necessidade de perguntar sobre o tipo de educação, em que lugar, com qual organizador educativo, definindo-se um processo norteador que encaminhe à cidadania e à participação. Neste contexto, é preciso pensar o currículo. De acordo com Pacheco (2005, p. 40) currículo: Define-se como um projeto, cujo processo de construção e desenvolvimento é interativo e abarca várias dimensões, implicando unidade, continuidade e interdependência entre o que se decide em nível de plano normativo, ou oficial, e em nível de plano real, ou do processo de ensino-aprendizagem. Mais ainda, o currículo é uma prática pedagógica que resulta da interação e confluência de várias estruturas (políticas/ administrativas, econômicas culturais, sociais, escolares [...]) na base das quais existem interesses concretos e responsabilidades compartilhadas. Um currículo bem construído faz do aluno mais preparado para vida e para a convivência. Com efeito, torna o aluno capaz de aceitar as diferenças dos indivíduos e ainda contribuir para o desenvolvimento social. Diante disso, teremos uma escola cidadã, a qual, para Gadotti (1992, p. 56) “[...] cultiva a curiosidade, a paixão pelo estudo, o gosto dela leitura e pela produção de textos, escritos ou não.” Na fala de Gadotti (1992) percebemos que quando o autor coloca “textos escritos ou não” ele abre espaço para outros meios de desenvolver essas competências, que não sejam por meio da escrita, neste caso através do rádio. Lembram Ramos e Faria (2014, p. 7) que: Em projetos espalhados pelo Brasil, o rádio vem-se convertendo num recurso tecnológico capaz de resgatar e valorizar a voz dos membros das comunidades, independentemente das condições sociais, econômicas e culturais dos sujeitos (professores, jovens aprendizes, agentes culturais etc.) envolvidos nos processos de formação. Além de uma escola que cultive curiosidade e outros itens citados anteriormente, Gadotti (1992) coloca ainda que a escola cidadã é uma escola disciplinada, aberta para o mundo. O autor lembra que essas transformações na escola não vão gerar conflitos, pois acontecem lentamente, em pequenas ações, com a ajuda de todos os envolvidos na escola. Gadotti (1992, p. 57) reflete “que forças poderão construir essa escola cidadã?” e responde “[...] uma transformação da educação em nosso país precisa juntar, antes de mais nada, as forças que até agora lutaram por uma educação para todos, democrática e de boa qualidade.” Esta luta, evidentemente, inclui a educação e a política, a exemplo da afirmação de Ferreira (1993, p. 5): “A prática educativa sempre traz em si uma filosofia política, tenha o educador consciência disso ou não.” 53 Explicitada esta compreensão por Freire (2000, p. 58), ele acrescenta que “Como não é possível separar política de educação, o ato político é pedagógico e o pedagógico é político [...]” Por ser assim, na política mesmo deve ser buscado o direito de cada um e de todos, pela educação. A qualidade na educação de que Gadotti (1992) fala se refere a projetos que a própria escola pode desenvolver, projetos que envolvam a comunidade e todas as escolas. Segundo o autor, somente as escolas conhecem de perto a comunidade e seus projetos podem dar respostas concretas a problemas de cada uma delas. Essa nova escola já está sendo construída na resistência concreta de muitos educadores, pais, alunos e funcionários. Escolas onde as crianças estão sentindo prazer em ir, prazer em estudar, prazer em construir a cultura elaborada. Essa escola não será abandonada pelas crianças. Porque ninguém larga, ninguém abandona o que é seu e o que gosta. (GADOTTI, 1992, p. 69). A escola cidadã, aberta para o mundo deve ser movida pela curiosidade. Freire (2011, p. 83) explica que se a curiosidade for “domesticada” vamos ter uma “memorização mecânica do perfil deste ou daquele objeto, mas não o aprendizado real ou o conhecimento cabal do objeto”, já que a construção do conhecimento deste objeto depende da curiosidade e da capacidade crítica. Só vamos aprimorar a curiosidade e a capacidade crítica estimulando a pergunta, a reflexão no lugar da passividade. O importante, para Freire (2011, p. 83): É que o professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa é que professor e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. Nesse sentido, o educador que conseguir chamar a atenção do educando para o interesse, para a curiosidade mediante alguma técnica pedagógica, conseguirá despertar a curiosidade em sala de aula. A curiosidade move a imaginação, as emoções. Freire (2011, p. 85) considera: [...] um ruído, por exemplo, pode provocar minha curiosidade. Observo o espaço onde parece que está verificando. Aguço o ouvido. Procuro comprar com outro ruído cuja razão de ser já conheço. Investigo melhor o espaço. Admito hipóteses várias em torno da possível origem do ruído. Isso vai despertar a capacidade de curiosidade, vai fazer o aluno mover-se, agitar-se. Para Freire (2003), o professor que estiver comprometido com o ato de ensinar, também estará comprometido com o ato de ensinar a pensar certo. 54 Pensar certo tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação, quanto o respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando. Implica o compromisso do educador com a consciência crítica do educando, cuja promoção da ingenuidade não se faz automaticamente. (FREIRE, 2003, p. 30). O autor salienta “[...] quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo”, ou seja, uma das condições de pensar certo é não estar exageradamente certos de nossas certezas. Em concordância com o autor, entendemos que a capacidade criadora do educando implica o exercício da curiosidade. Para Freire (1997, p. 98), o exercício da curiosidade requer “imaginação, a intuição, as emoções, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilização do objeto ou do achado de sua razão de ser”, o educador que permitir que o educando seja cada vez mais criativo no seu aprendizado vai desenvolver a sua “curiosidade epistemológica”: Não é a curiosidade espontânea que viabiliza a tomada de distância epistemológica. Essa tarefa cabe à curiosidade epistemológica superando a curiosidade ingênua, ela se faz mais metodicamente rigorosa. Essa rigorosidade metódica é que faz a passagem do conhecimento do senso comum para o do conhecimento científico. Não é o conhecimento científico que é rigoroso. A rigorosidade se acha no método de aproximação do objeto. A rigorosidade nos possibilita maior ou menor exatidão no conhecimento produzido ou no achado de nossa busca epistemológica. (FREIRE, 2003, p. 78). Instigar o educando a fazer perguntas, a refletir criticamente sobre as suas próprias perguntas contribui para a apropriação de novos saberes. 3.2 CONSTRUINDO CIDADANIA NO RÁDIO Na sociedade contemporânea, a evolução dos meios de comunicação de massa aliada ao desenvolvimento tecnológico tem trazido mudanças significativas no contexto cultural, tendo como “resultado a melhoria de condições sociais, ampliação de oportunidades de assimilação do conhecimento por meio de diferentes mídias incluindo o rádio.” (MONTEIRO, 2010, p. 2). Quando se fala do Brasil e das políticas públicas educacionais, em relação à cidadania, participação comunitária e formação de autonomia, Cortelazzo (2005, p. 221) lembra que uma área muito grande do país ainda vive na era do rádio, caracterizada como a tecnologia da comunicação, sendo que “[...] a sociedade civil assume e cria a rádio comunitária que é gerida pela comunidade.” 55 As rádios comunitárias são apresentadas por Berti (2009, p. 180) em suas características fundamentais: Uma característica fundamental das rádios comunitárias, no seu aspecto políticoorganizativo, é que atuam no âmbito da sociedade civil como ponto de convergência de várias organizações privadas: sindicatos, organizações não-governamentais, movimentos de bairro, religiosos, feministas, sem-terra, sem-teto, entidades ambientais e do movimento negro, associações de profissionais liberais e outros. As emissoras aglutinam e dão visibilidade midiática aos segmentos pulsantes na rede de organizações que compõem a sociedade civil, onde o bloco de poder dominante processa a hegemônica e, ao mesmo tempo, sofre as pressões da força contrahegemônica. (BERTI, 2009, p. 180). Freire (1981, p. 69) salienta que na “ação de desenvolvimento humano a tecnologia deve ser vista como a expressão natural do processo criador no qual os seres humanos se engajam; em sua utilização, a tecnologia é necessária e, portanto, devem ser evitados os desvios míticos”, mas realizar uma ação cultural em oposição às classes dominantes, sobrepondo os limites para a libertação que se encontram na realidade opressora da mesma e ao silêncio que as classes dominadas vivem. Observando os problemas relacionados ao processo educacional, educadores têm buscado alternativas que auxiliem para a eficiência da educação, “visualizando na mídia rádio uma possibilidade para privilegiar o desenvolvimento pedagógico no processo de construção do conhecimento com base nas informações e no estímulo à criatividade e à comunicação dos alunos.” (MONTEIRO, 2010, p. 3). Sobre o serviço de radiodifusão sonora em frequência modulada com fins exclusivamente educativos, o Ministério das Comunicações assim define: A radiodifusão educativa destina-se à transmissão de programas educativo-culturais, que, além de atuar em conjunto com os sistemas de ensino, visa à educação básica e superior, à educação permanente e à formação para o trabalho, além de abranger as atividades de divulgação educacional, cultural, pedagógica e de orientação profissional. (BRASIL, 2014, p. 1). A Portaria n. 420, de 14 de setembro de 2011 (BRASIL, 2011) dispõe sobre o procedimento para outorga dos serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens, com fins exclusivamente educativos. Previamente à sua publicação, o Estado havia concedido “671 (seiscentas e setenta e uma) outorgas, das quais 468 (quatrocentas e sessenta e oito) delas destinadas à execução do serviço de radiodifusão sonora em frequência modulada com fins exclusivamente educativos (FME), em 384 (trezentos e oitenta e quatro)” municípios que possuem serviço outorgado de FME (BRASIL, 2014, p. 1). 56 No cenário internacional é registrada a eficiência educativa do rádio, comprovada por experiências bem-sucedidas em diversos países latinos americanos, que incluem Cuba, Guatemala, Costa Rica, Honduras, Equador, Bolívia e República Dominicana, entre outros. Nestes países são promovidos a integração e o desenvolvimento das comunidades na sociedade civil, tendo como base a alfabetização popular pelo rádio. Assim: Esses países utilizam o rádio como ferramenta de comunicação, gerando a integração das pessoas na sociedade, e desenvolvem, assim, uma promoção humana que possibilita uma criação de ser humano mais integral, motivando as pessoas para um desenvolvimento comunitário de modo concreto. (BURINI; MOURA, 2010, p. 6-7). Duas possibilidades de definições para a comunicação e educação são citadas por Deliberador e Lopes (2011, p. 88): a primeira é sobre as práticas de transmissão de conhecimento; já a educação é vista como as práticas dialógicas e libertadoras. Com isto, a visão de mídia educação aparece sob a forma de um viés tecnicista quanto aos meios de informação e a segunda apresenta “A geração de interlocutores e uma formação crítica através da mídia, tornando-a meios de comunicação.” Analisando Freire (1981, p. 55), sendo os seres humanos os seres da práxis, ao transformar o mundo com seu trabalho, também se transformam com a sua criação, pois “se expressar é próprio do ser humano.” Assim, referente à educação, quanto à educação, independente do nível, sendo maior o estímulo também assim será o desenvolvimento da necessidade de educar-se e de expressar-se igualmente e, para tanto, são enfatizados o papel e a disponibilização das rádios comunitárias, como “[...] um espaço de expressão das classes populares, em sua maioria, alijadas dos meios de comunicação de massa.” (LAHNI, 2008, p. 35). 3.3 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA E CONQUISTA DA CIDADANIA Compreendemos no decorrer deste trabalho que cidadania é convivência, ser cidadão é com-viver. Para que a convivência seja interessante, não basta fazer parte de uma comunidade ou cidade em que se vive, é preciso tornar-se parte das escolhas que envolvem a vida comum e ter uma vida digna. Para Silva (2003), a cidadania está ligada com a democracia, pois a democracia é um sistema de participação de cidadãos na vida política do país, e esta participação pode ocorrer na forma de eleições, plebiscitos e referendos. 57 A democracia participativa tem sua definição registrada por Bonavides (2001, p. 33): A democracia participativa é direito constitucional progressivo e vanguardeiro. É direito que veio para repolitizar a legitimidade e reconduzi-la às suas nascentes históricas, ou seja, àquele período em que foi bandeira de liberdade dos povos. Em sua ação, a democracia participativa combate a “conspiração desagregadora do neoliberalismo”, buscando a formatação de ideias dedicadas à organização de um povo que sustente uma barreira à penetração de diferentes ideologias: ideologia colonialista; ideologia de submissão e fatalismo, comandado por autores que assinalam uma tese derrotista da impossibilidade de manter ativo o conceito de soberania (BONAVIDES, 2001, p. 34). Conforme Adorno (1995, p. 141), “Uma democracia não deve apenas funcionar, mas sobretudo trabalhar o seu conceito, e para isso exige pessoas emancipadas. Só é possível imaginar a verdadeira democracia como uma sociedade de emancipados [...]” Afirmando que “Não há teoria constitucional de democracia participativa que não seja, ao mesmo passo, uma teoria material da Constituição”, Bonavides (2001, p. 25) a afirma como uma teoria sujeita a controles para os limites jurídicos de eficácia e aplicabilidade combinado de duas frentes: uma delas consiste da autoridade e a judicatura dos tribunais constitucionais; a outra se refere à autoridade da cidadania popular e soberana que se exercita em termos de decisão. Se, contudo, um indivíduo não se sente preparado para a democracia, a exemplo do que dispôs Adorno (1995, p. 36), de que ouvia frequentemente de alemães: “A estranha afirmativa de que eles ainda não estão maduros para a democracia”, em sua explicitação, por um lado, tais sentimentos revelam ingenuidade e imaturidade política demonstrada com franqueza, enquanto que, de outro lado, esses sujeitos sentem-se como políticos aos quais compete a determinação de seu destino e da organização da sociedade. Não o fazem, contudo, porque se deparam com barreiras impostas pelas condições vigentes e na impossibilidade de rompê-las, quedam-se diante da ideologia dominante num círculo vicioso impressionante: A ideologia dominante hoje em dia define que, quanto mais as pessoas estiverem submetidas a contextos objetivos em relação aos quais são impotentes, ou acreditam ser impotentes, tanto mais elas tornarão subjetiva esta impotência. Conforme o ditado de que tudo depende unicamente das pessoas, atribuem às pessoas tudo o que depende das condições objetivas, de tal modo que as condições existentes permanecem intocadas. Na linguagem da filosofia poderíamos dizer que na estranheza do povo em relação à democracia se reflete a alienação da sociedade em relação a si mesma. (ADORNO, 1995, p. 36). 58 Referente a esta afirmação, Habermas (1999, p. 448) já havia referido que o controle do comportamento passa tendencialmente à instância da consciência dos indivíduos socializados para os planejadores como instâncias de organizações. Adiante, essa tese foi corrigida por D. Riesman, que interpreta como uma forma de vida dirigida de dentro a uma forma de vida dirigida de fora: Assim como tudo na vida de hoje, cada vez mais tende a ser submetido a uma racionalização e planejamento, de modo que a vida de cada indivíduo, incluindo os seus desejos mais íntimos que antes constituiam sua esfera privada, tem de ter em conta os imperativos da racionalização e planejamento: a auto conservaçao do indivíduo pressupoe a sua acomodação às exigências de manutenção do sistema [...] Antes a realidade se contrapunha ao ideal desenvolvido por um indivíduo o qual se supunha autônomo, e acabava confrontada com este ideal; a realidade teve que ser configurada em consânancia com ele. (HABERMAS, 1999, p. 449). Este é um tipo de ideologia que se comprometeu a aceitar uma ideia de progresso e que, sem querer, facilita levar a realidade à concepção de real, de modo que a acomodação se converte em critério de todo tipo de comportamento subjetivo pensável. Ainda referente à democracia, para Silva (2003, p. 112) podemos classificar os regimes democráticos em três espécies: a) Democracia Direta: em que o povo exerce o poder diretamente, sem representantes; b) Democracia Indireta ou Representativa: o povo elege seus representantes e estes, por sua vez, exercem o poder em nome do povo; c) Democracia Semidireta ou Participativa: é essencialmente Indireta, mas com alguns atributos da Democracia Direta. E, se a democracia se define como o exercício do poder pelo povo, convém citar Mill (2005, p. 9) e o seu conceito de utilitarismo, confirmando que “Uma parte importante da filosofia moral resulta do problema de saber como devemos viver.” Neste contexto, o indivíduo utilitarista enfrenta este problema afirmando que o homem deve perseguir a felicidade, não somente a sua própria, mas aquela felicidade de todos cujo bem-estar poderá ser afetado pela conduta individual de cada um, de modo que os interesses do agente não se sobrepõem de maneira nenhuma aos demais interesses manifestos por quaisquer outros indivíduos, sejam eles quem forem, destacando uma estrita igualdade na consideração dos interesses, como um padrão último da moralidade voltada à promoção imparcial da felicidade (MILL, 2005). Bonavides (2004, p. 514) comenta sobre o pluralismo, citando Peter Häberle (1978), em sua explicação de que: 59 O pluralismo se torna um grande denominador comum, no qual o Estado da Constituição livre do Ocidente encontra seu tipo: uma teoria democrática da Constituição é em si e por si pluralista num duplo sentido: sua teoria da Constituição combina com uma teoria científica e social do pluralismo e permanece como tal contrário ao antipluralismo de toda espécie. Como teoria de um “tipo” de Constituição, abre espaço a muitas variedades de Constituições diferentes. Chega-se pela comparação constitucional a estabelecer e fomentar uma competição entre os membros da “família” das Constituições do pluralismo. Seu princípio imanente de democracia e direito fundamental chama-se pluralismo. Diante disso, entendemos que a democracia está ligada a valores, como a liberdade e a igualdade. Contemporaneamente, Bonavides (1993, p. 13) apresenta o direito à democracia como um direito fundamental de quarta geração, consequentemente, ao direito à informação e do direito ao pluralismo. Previamente a esses direitos de quarta geração, estão presentes no contexto da cidadania os direitos fundamentais de primeira geração: direitos civis e políticos, os chamados direitos da liberdade ou direitos individuais, cuja finalidade é titular ao indivíduo em face do Estado; os direitos de segunda geração: vinculados ao princípio da igualdade, englobando os direitos sociais, culturais e econômicos, e, ainda, os direitos coletivos introduzidos no constitucionalismo das distintas formas de Estado social; e os direitos de terceira geração: denominados como direitos da fraternidade, que vão além da proteção dos interesses de um indivíduo, um grupo ou um determinado Estado, mas incluem temas referentes ao gênero humano mesmo, como o desenvolvimento, paz, meio ambiente, comunicação e patrimônio comum da humanidade. Para Adorno (1995, p. 33): É razoável supor que a democracia tenha raízes mais profundas do que após a Primeira Guerra Mundial: pela politização das massas e contrariamente à sua própria intenção, o nacional-socialismo anti-feudal e estritamente burguês num certo sentido até mesmo se adiantou à democracia. Tanto a casta dos "Junkers" como o movimento operário radical desapareceram; pela primeira vez produziu-se algo próximo a uma situação burguesa homogênea. Porém o atraso na introdução da democracia na Alemanha, que não coincidiu com o liberalismo econômico pleno, além do fato de ser pelas mãos dos vencedores que se acabaria introduzindo a democracia, dificilmente deixaria de afetar as relações desta para com o povo. Ainda, de acordo com Adorno (1995, p. 34): A democracia não se estabeleceu a ponto de constar da experiência das pessoas como se fosse um assunto próprio delas, de modo que elas compreendessem a si mesmas como sendo sujeitos dos processos políticos. Ela é apreendida como sendo um sistema entre outros, como se num cardápio escolhêssemos entre comunismo, democracia, fascismo ou monarquia; ela não é apreendida como identificando-se ao próprio povo, como expressão de sua emancipação. Ela é avaliada conforme o sucesso ou o insucesso, de que participam também os interesses individuais, mas não como sendo a unidade entre os interesses individuais e o interesse geral; e, de 60 fato, a delegação parlamentar da vontade popular torna esta muitas vezes uma questão difícil nos modernos Estados de massa. Para Heerdt (2005, p. 22), a conquista da cidadania pode ser avaliada por alguns critérios: Na área econômica e social: distribuição de renda, salários justos e menos desiguais, terra, moradia, trabalho, educação, saúde. Na área política: participação das organizações civis e populares; sindicatos conselhos, associações, acompanhamento do orçamento e funções públicas [...] Na área da cultura: respeito à raça, sexto, tradições [...] sem criar divisões ou isolamentos. Desenvolver a cultura da solidariedade, onde ajuda mútua seja a marca registrada. Diante disso, compreendemos que ao exercer a cidadania, faz-se também a democracia e a política, que pode ser entendida como a arte e a virtude de promover o bem comum. Para que isso aconteça é necessário começar instigar a cidadania participativa e a democracia no ambiente escolar, fazendo os alunos crescerem como pessoas, amadurecerem suas relações e se comprometendo com a sociedade. 61 4 RÁDIO NO ESPAÇO ESCOLAR Nesta seção apresento as análises das entrevistas realizadas com as duas professoras dos 3º (terceiro) e 4º (quarto) anos e a gestora escolar, e a análise do grupo focal realizada com os alunos, sendo cinco estudantes de cada ano. Um meio de comunicação popular e de fácil acesso, o rádio, muitas vezes, é o único meio a levar conhecimento, notícias e entretenimento para a sociedade. Possuidor de características que despertam a curiosidade através dos efeitos sonoros, especialmente das crianças, o rádio foi o meio de comunicação motivador desta pesquisa, considerando o seu uso na escola. Os sujeitos pesquisados, a fim de preservar as identidades, foram identificados por meio de letras, acompanhadas de índices numéricos, no caso das professoras e alunos, conforme segue: gestora escolar – G; professora do 3º ano – P1; professora do 4º ano – P2; alunos do 3º ano – A1 e do 4º ano B2, sendo numerados de 1 a 5. 4.1 O PROJETO RÁDIO NA ESCOLA SOB A VISÃO DAS PROFESSORAS E DA GESTORA ESCOLAR Conceder voz aos professores e à gestora escolar permitiu-nos intensificar a reflexão sobre a importância do uso do rádio na escola, à luz dos autores, e reconhecer como ocorreu o processo de implantação do Projeto Rádio na Escola, considerando a escola pesquisada, e quais foram os fatores motivadores para a sua implantação. Pudemos constatar que o Projeto contribui para os processos de ensino e aprendizagem, para a formação dos alunos/cidadãos e para a melhoria da qualidade da educação, por meio da sua articulação com o currículo escolar. O Projeto Rádio na Escola, segundo a gestora escolar, teve início em 2008, com o apoio da Secretaria Municipal da Educação de Joaçaba (SC), tendo como propósito a implantação de uma emissora interna de rádio no ambiente escolar, com o objetivo de: Através da escola, produzir conhecimento, além de mostrar como é o processo da informação através dos meios de comunicação, isso faz com eles sintam-se motivados a utilizar a escola para produção de cultura e de informação e assim podem aprimorar a criticidade e também a cidadania. (Ge). 62 O objetivo do Projeto Rádio na Escola, enunciado pela gestora escolar, remete-nos a Pinsy (1998, p. 95), quando questiona “E qual seria o objetivo da escola senão formar cidadãos?” E, nessa direção, acrescentamos ao questionamento do autor: que cidadãos formar? Com vistas a que projeto societário? Pensar a função social da escola na contemporaneidade implica considerar a formação de cidadãos participativos que atuem como construtores da história, em prol da transformação e da justiça social. Em que pese os valores da sociedade muito mais centrados no ter do que no ser, cabe à escola caminhar na contramão da reprodução das injustiças sociais. Nessa direção, o objetivo do Projeto Rádio na Escola converge para a construção da cidadania participativa, tendo em vista que o contexto escolar, realidade em que estão inseridos e o desenvolvimento da criticidade são considerados pelo Projeto. Para Freire (2002), o ato de ensinar necessita estar vinculado ao desenvolvimento da criticidade, o que implica o professor não reduzir o ensino à transferência de conhecimentos. O autor enfatiza, porém, que “A necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode ou não deve ser feita à distância de uma rigorosa formação ética ao lado sempre da estética.” (FREIRE, 2002, p. 36). O Projeto Rádio na Escola, à medida que contribui para os alunos protagonizarem a produção e a comunicação da informação, confere ao ato educativo compromisso ético e estético e proporciona que as diferenças individuais sejam valorizadas. Em acordo com a gestora escolar, além do Projeto Rádio na Escola contribuir para desenvolver as habilidades de comunicação e expressão, há, ainda, objetivos específicos que lhes são atinentes, a saber: O primeiro foi a criação de uma rádio dentro da escola, onde pretendemos mostrar os estudantes sobre a ideia do que são os meios de comunicação. Em segundo lugar é mostrar como podem produzir informações em geral para a escola toda. Queremos também que eles aprendam a usar a mesa de som, microfones e ainda vão conseguir produzir tudo que vai ser veiculado na rádio escolar (Ge). Fica explicitado na voz da gestora que o uso do rádio na escola pesquisada contribui para o desenvolvimento dos alunos com ênfase nos processos de comunicação, expressão e produção de texto. Esse diferencial indica que o Projeto dialoga com as disciplinas do currículo escolar, o que, potencialmente, favorece a aprendizagem. A articulação do Projeto com o desenvolvimento curricular é expresso pela gestora escolar: 63 É interessante, pois os professores e os alunos ficam mais animados quando vão estudar, por exemplo, a história do Brasil através do rádio, escrevem textos, música e livros para falar no rádio. (Ge) Percebe-se que, segundo a gestora escolar, o uso do rádio constitui fator de motivação para a produção dos alunos, o que implica participação e, consequentemente, formação do cidadão participativo. Conforme Boruchovitch e Bzuneck (2002, p. 11): Em sala de aula, os efeitos imediatos da motivação do aluno consistem em ele envolver-se ativamente nas tarefas pertinentes ao processo de aprendizagem. Tal envolvimento consiste na aplicação de esforço no processo de aprender e com a persistência exigida por cada tarefa. Os alunos desmotivados estudam muito pouco ou nada e, consequentemente, aprendem muito pouco. Em última instância, aí se configura uma situação educacional que impede a formação de indivíduos mais competentes para exercerem a cidadania e realizarem-se como pessoas, além de se capacitarem a aprender pela vida afora. A escola do século XXI tem se mostrado desinteressante para os alunos em geral considerando, principalmente, a sua estrutura que permanece por décadas e séculos, não acompanhando o desenvolvimento tecnológico da sociedade. O texto que segue, intitulado A volta de um personagem do século XVIII ao Brasil, de autor desconhecido, ajuda-nos a ilustrar essa realidade: Em pleno século XXI, o senhor Teixeira, um grande professor do século XVIII, voltou ao Brasil e, chegando a sua cidade, ficou abismado com o que viu: as casas eram altíssimas e cheias de janelas, as ruas eram pretas e passavam umas sobre as outras, com uma infinidade de máquinas andando em velocidade. O povo falava muitas palavras que o professor Teixeira não conhecia (Poluição, telefone, avião, metrô, televisão [...]). As roupas deixavam o professor Teixeira ruborizado. Tudo havia mudado. Muito surpreso e preocupado, o professor visitou a cidade inteira e, cada vez menos, compreendia o que estava acontecendo. Resolveu, então, visitar uma Igreja, mas que susto levou. O padre rezava a missa, não em latim, mas em português e de costas para o altar. O órgão estava parado e um grupo de cabeludos tocava nas guitarras uma música estranha, em vez de canto gregoriano. O desespero do professor aumentava [...] Tudo havia mudado completamente e o professor Teixeira desanimava cada vez mais, até que resolveu visitar uma escola. Foi uma ideia sensacional porque quando chegou, sentiu o que procurava: tudo continuava da mesma forma como ele havia deixado: as carteiras uma atrás da outra, o professor falando, falando [...] e os alunos escutando, escutando [...] O texto nos provoca a refletir sobre a necessidade de a escola ser ressignificada, no intuito de atender às necessidades e aos interesses das crianças e dos alunos na contemporaneidade. De acordo com a Agência de Notícias dos Direitos na Infância (ANDI) (2003, p. 73): 64 O aluno é um ser ativo, curioso, imaginativo, criativo. Por isso, é essencial que no ambiente escolar sejam desenvolvidas atividades para que ele interaja no mundo social, físico e lógico. Nesse processo, o aluno vive a partir da motivação, da oportunidade do movimento, do ambiente relacional, funcional, do jogo, do vencendo desafios propostos em relação à leitura do mundo que o cerca. Exercitar riscos, rabiscos e desenhos são etapas importantes. Assim os professores não devem se basear em métodos somente tradicionais de ensino. Para desenvolvimento pessoal e social, esse aluno precisa ter acesso ao conhecimento do mundo, o que, se dá por meio da inclusão de novas tecnologias no currículo escolar. Ainda que o rádio não se inclua nas novas tecnologias, o Projeto Rádio na Escola pode ser articulado ao uso dessas. De todo modo, frente aos objetivos do Projeto e a sua articulação com o currículo escolar entendemos, a partir da voz da gestora escolar e dos professores que o Projeto em questão reflete uma inovação educacional que contribui na melhoria dos processos de ensino e aprendizagem. Conforme Messina (2001, p. 226), [...] podem-se identificar dois componentes que distinguem a inovação: a) a alteração de sentido a respeito da prática corrente e b) o caráter intencional, sistemático e planejado, em oposição às mudanças espontâneas. Também enfatiza-se que atualmente a inovação é algo aberto, capaz de adotar múltiplas formas e significados, associados com o contexto no qual se insere. Nessa perspectiva, os professores ao reconhecerem a articulação do projeto com o currículo escolar, ainda que não se refiram à inovação, permitem-nos perceber indícios inovadores no uso do rádio na escola. Tentamos fazer as aulas com a rádio. Sabemos que há muito tempo as escolas estão tentando reinventar a forma de educar. Acho que juntar o rádio e outros meios significa mudar o currículo. Trazer notícias para sala de aula e fazer uma leitura do que está acontecendo na sociedade. E também trazer novas linguagens, como a publicitária. (P1) Sabemos que a modernidade chegou, e trazer o rádio para a escola é uma vontade imposta até pelos alunos. (P2) Nas falas das professoras é possível constatar que a inserção do rádio na escola implica uma nova pedagogia, sendo preciso perceber o rádio como parte do ensino, sabemos que a mídia está cada vez mais notável. (P1) Segundo Gadotti (2010, p. 56): Com as tecnologias é possível organizar um movimento global de renovação cultural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. A escola deve servir de bússola para navegar nesse mar do conhecimento, superando a visão utilitarista 65 de só oferecer informações “úteis” para a competitividade, para obter resultados. Ou seja: uma nova escola. Não nos moldes atuais, mas uma escola que rompa com os paradigmas atuais em vista de muito mais. Ainda que o autor se refira às novas tecnologias, o Projeto Rádio na Escola vem ao encontro da superação da visão utilitarista da escola, uma vez que os alunos atuam como partícipes e protagonista do processo de produção, comunicação e expressão do que é veiculado pela rádio. Um aspecto apontado por P1 é a importância do uso do rádio na escola articulado ao currículo escolar implicar o envolvimento da comunidade escolar, sendo esse fundamental para a construção da cidadania participativa. Os alunos estudam com várias atividades que acabam envolvendo todos, pai, mãe, irmão, diretora, professores e os funcionários. (P1) O envolvimento da comunidade escolar constitui fator a ser destacado como um diferencial que reflete um dos maiores desafios da gestão escolar na contemporaneidade, que se refere à articulação da escola/família/comunidade. A gestora escolar também enfatizou que a participação é significativa, ao descrever como são realizados os programas. A rádio faz várias atividades, como alguns programas ao vivo, quem escolhe os temas desenvolvidos são os próprios alunos e os professores, os pais e algumas autoridades também estão sempre próximos. Alguns alunos que são bons em música acabam apresentando suas músicas ao vivo. Pedimos aos professores para tentar adequar as matérias ao rádio, trabalhar português, matemática, história, geografia [...] todas as matérias. Os professores e os alunos aceitam muito bem o Projeto e adoram participar. (Ge) Observa-se que há um princípio de ludicidade presente no Projeto, havendo espaço para as crianças, os adolescentes e os adultos, tanto da escola quanto da comunidade se envolverem com as atividades. Reitera-se que as diferenças individuais são valorizadas, já que se evidencia o reconhecimento de talentos específicos no grupo, a exemplo da música. P1 adverte, porém, que incluir o rádio no currículo escolar depende da escola, mas é cada vez mais uma exigência social. Na verdade, os meios de comunicação existem e precisamos mostrar para os alunos que eles existem por vários motivos, além de vender produtos, sem falar que é uma necessidade dos tempos atuais. 66 A fala de P1 remete à necessidade de se definir políticas públicas que favoreçam a incorporação do rádio e das tecnologias de informação e comunicação (TIC) na escola, de modo que o seu uso pedagógico contribua para a utilização das mídias que supere os fins meramente de entretenimento e/ou antiéticos. Conforme afirma Casali (2001, p. 120-121): Há necessidade de ética porque há outro ser humano. Mas o outro, para a ética, não é apenas o outro imediato, próximo, com quem convivo, ou quem casualmente deparo. O outro está presente também no futuro (temporalidade) e está presente em qualquer lugar, mesmo que remoto (espacialidade). A dimensão ética, ressaltada pelo autor, implica a formação do cidadão em que a escola tem papel fundamental a desempenhar. É importante haver compromisso com o desenvolvimento de práticas pedagógicas e curriculares que priorizem a formação de um cidadão ético e participativo, o que significa aprendizado de todos os envolvidos no processo educativo. Nessa direção, a gestora escolar expressou que: O Projeto Rádio na Escola faz com que todos na escola consigam deixar uma rádio funcionando dentro da escola, sabemos que isso ajuda a desenvolver várias habilidades, como a habilidade oral, ajuda também no entendimento sobre como os meios de comunicação produzem as mensagens e assim vamos inserindo na escola a educomunicação. A prática da educomunicação, citada pela gestora escolar, remete a Consani (2007 p. 13), que coloca que: O termo vem sendo utilizado, há algum tempo, por estudiosos da comunicação. Mais do que uma questão semântica, é o reconhecimento de que ocorrem, em todos os espaços educativos, que apontam para a transformação do paradigma educacional tal qual o conhecemos até hoje, a educomunicação propõe a construção de escossistemas comunicativos abertos, dialógicos e criativos, nos espaços educativos, quebrando a hierarquia na distribuição do saber, justamente pelo reconhecimento de que todas as pessoas envolvidas no fluxo da informação são produtoras de cultura, independente de sua função operacional no ambiente escolar. Com a educomunicativas podemos construir um currículo com mais flexibilidade e também uma construção interdisciplinar. As falas das professoras pesquisadas e da gestora escolar demonstram que o Projeto Rádio na Escola repercute nos processos de ensino e aprendizagem não somente no que se refere às habilidades que contribui para desenvolver – com ênfase na comunicação, expressão e produção de textos –, como também na metodologia e nos relacionamentos e posturas que se estabelecem em relação à apropriação do saber, conforme ilustra a fala da gestora escolar. 67 A importância do Rádio na Escola é muito grande. Em grupo eles acabam aprendendo mais, trocando ideias, conhecimentos. As professoras dizem que eles estão mais organizados e motivados, sem falar que a questão da leitura e escrita melhorou muito. (Ge) Nesse sentido, P1 afirmou: Na escola conseguimos ver as ações e reações. Com o rádio na escola essas ações e reações se tornaram mais manifestas, existe um feedback. As perspectivas apontadas pela gestora escolar e pela professora P1, no que se refere ao trabalho em grupo e ao processo de feedback dinâmico e contínuo, respectivamente, remonta à questão metodológica que constitui o cerne do processo de construção e reconstrução do conhecimento, em que professores e alunos são partícipes dos processos de ensino e aprendizagem, contribuindo para o desenvolvimento da autonomia. Vygotsky (1984) discorre sobre a autonomia dos sujeitos em processo de educação e destaca nesse processo a necessidade de mediação. Por mediação se entende, de acordo com Oliveira (2001, p. 26), “o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento.” Os elementos mediadores são classificados por Vygotsky (1984, p. 29) em dois tipos: os instrumentos e os signos. Sobre os instrumentos, tem-se que: O instrumento é um elemento interposto entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho, ampliando as possibilidades de transformação da natureza [...] Ele carrega consigo, portanto, a função para a qual foi criado e o modo de utilização desenvolvido durante a história do trabalho coletivo. É, pois, um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo [...] São elementos externos aos indivíduos, voltados para fora dele [...], que ajudam nas ações concretas. Já os signos, de acordo com Vygotsky (1984), são marcas ou símbolos que auxiliam as pessoas em qualquer trabalho que exija recordação ou a atenção. Em outras palavras, constituem-se como maneiras para fazer com que os indivíduos resolvam determinado problema psicológico. Segundo Oliveira (2001, p. 37), por exemplo, lembrar-se de algo, relatar alguma situação, comparar objetos ou cenas, entre outros, são atividades psicológicas que se realizam mais facilmente com o uso de signos. Os signos são “orientados para dentro do indivíduo; dirigem-se ao controle de ações psicológicas [...] são ferramentas que auxiliam nos processos psicológicos e não nas ações concretas, como os instrumentos.” 68 Diante disso, mostra-se a importância de se atribuir ao planejamento do professor espaços que contemplem momentos de interação entre os alunos e entre alunos e professor para que troquem saberes entre si, conforme P1 demonstrou ocorrer. O aluno está neste ambiente de produções e produto e eu como professora não me sinto um indivíduo superior, como detentor do saber, mas como um igual, onde o relacionamento ente nós concretiza o processo de ensinar e aprender. (P1) Essas trocas possibilitam que os alunos se ajudem uns aos outros e essa postura permite considerar que a cidadania está baseada nas relações entre indivíduos e meio cultural, sempre ligadas pela linguagem que se transforma em um poderoso instrumento de promoção crítica. Nesse sentido, entendemos que essa troca de saberes entre os alunos pode gerar avanços significativos em seu desenvolvimento, gerando aprendizagens capazes de emancipar pelo trabalho de significar, elaborar, reelaborar e refletir sobre os conteúdos culturais, o que evidencia a possibilidade do uso do rádio na escola vir a corroborar para esse processo. Ao reconhecer que o Projeto Rádio na Escola incide nos processos de ensino e aprendizagem, P2 expressou: Notei que meus alunos através do Projeto estão aprendendo quando escrevem os textos, por exemplo, ensinando quando leem os textos produzidos na rádio e pesquisando, pois eles precisam fazer pesquisa, ter conhecimento do que vão falar na rádio. Com isso, eles buscam novos conhecimentos, novas coisas. Notei neles uma capacidade de refletir criticamente o aprendido. Essa constatação de P2 remete aos objetivos da educação e traz à tona elementos fundantes que implicam a construção do conhecimento e desenvolvimento da criticidade. A Pedagogia da Autonomia, apresentada e discutida no livro de Freire (2002), articula diversos elementos necessários aos saberes pedagógicos e, entre eles, encontram-se a pesquisa, a curiosidade epistemológica, a criticidade permeadas pelo reconhecimento da condição ontológica do ser de estar sendo no mundo, fruto do seu inacabamento. O Projeto Rádio na Escola ao contribuir para a curiosidade e incitar a pesquisa tem um papel significativo nos processos de ensino e aprendizagem, considerando que pode contribuir para o desenvolvimento da curiosidade epistemológica que, segundo Freire (2002, p. 78), 69 Não é a curiosidade espontânea que viabiliza a tomada de distância epistemológica. Essa tarefa cabe à curiosidade epistemológica – superando curiosidade ingênua, ela se faz mais metodicamente rigorosa. Essa rigorosidade metódica é que faz a passagem do conhecimento do senso comum para o do conhecimento científico. Não é o conhecimento científico que é rigoroso. A rigorosidade se acha no método de aproximação do objeto. A rigorosidade nos possibilita maior ou menor exatidão no conhecimento produzido ou no achado de nossa busca epistemológica. Assim, a interação referida pela professora P1 tem potencial para promover o diálogo que, enquanto essência da educação libertadora, é fundamental para o desenvolvimento da curiosidade epistemológica. Além da contribuição do Projeto para os processos de ensino e aprendizagem, a gestora escolar e as professoras também reconheceram que contribuiu para a melhoria da Educação, o que em acordo com as pesquisadas, ressalta a sua importância. O Projeto Rádio na Escola colabora para aumentar a cultura e a informação dos estudantes para muito além do currículo, com linguagem simples, e ao mesmo tempo eficaz como é a do rádio, e que ajuda no ambiente escolar. (Ge) Eu confio que com o Projeto Rádio na Escola vamos melhorar a questão da educação, estamos fazendo um trabalho que é muito maior que só dar avaliações escritas, estamos integrando eles, explorando ideias novas, problemas que vão surgindo, desenvolvendo capacidade neles. É uma grande responsabilidade para os professores, mas estamos fazendo isso para uma grande transformação na educação. (P2) As expressões da gestora escolar e da professora P2 refletem o compromisso com uma concepção de educação transformadora que articule o currículo escolar à realidade, superando qualquer indício de educação bancária. Pelo contrário, a proposta de apresentação de problemas que desencadeia o pensar e se opõe às formas mecânicas de aprendizado, por meio do uso do rádio, aponta para a qualidade social da educação que supõe acesso, permanência e sucesso escolar, compromisso esse destacado por P2. Conforme Gadotti (1992, p. 69), A questão essencial da escola refere-se a sua qualidade. E a qualidade está diretamente relacionada com pequenos projetos das próprias escolas que são muito mais eficazes na conquista dessa qualidade do que grandes projetos, mas anônimos, distantes do dia-a-dia das escolas, isso porque, só as escolas conhecem de perto a comunidade e seus projetos podem dar respostas concretas a problemas de cada uma delas, assim sendo, podem respeitar as peculiaridades éticas e culturais de cada região e se os projetos têm menos gastos com burocracia. 70 P1, porém, chama a atenção para a importância da competência humana do professor nesse processo. O ideal é que o professor seja humano, para que assim consiga apreciar seus alunos no momento que esteja ensinando e aprendendo. A motivação é importante para cada um desses alunos, pois sabemos que um bom resultado só vai ser possível se o professor conseguir estimular o aluno para algo novo, discutir, perguntar, ampliar sua visão. A motivação é um dos componentes indispensáveis para qualquer relação humana. Para Piletti (1999, p. 133), “[...] é decisivo que tanto alunos quanto os professores compreendam as razões pelas quais são solicitados a desenvolver suas atividades, sejam estas didáticas ou não.” É desta forma que se tornam conscientes do que estão fazendo e o motivo de estarem realizando aquela atividade. Ainda, o autor considera que a motivação é entendida e baseada no “diálogo franco e aberto, a imposição de atividades e obrigações a serem cumpridas cegamente, sem o entendimento de suas razões, além de deseducar, estimula a resistência e a revolta.” Dando sequência às indagações, perguntamos para a gestora escolar quais foram os fatores motivadores para implantar um estúdio de rádio na escola, perante o seu entendimento ela explica que: É uma chance dos alunos estarem próximos dos meios de comunicação e ainda usarem esses meios de forma divertida. A Prefeitura ajudou muito, e a ideia é usar o rádio como um meio pedagógico, para desenvolver coma dicção. É uma forma de mostrar para toda a cidade o que a escola está fazendo. (Ge) A resposta da gestora demonstra que a prefeitura municipal apoia o projeto rádio na escola, isso demonstra a direta participação política na escola. A cidadania exige participação de todos em busca de uma construção coletiva dos direitos, por meio do projeto notamos o comprometimento da prefeitura municipal e da escola para com a coletividade e a busca efetiva do exercício da cidadania. Fantin (2008, p. 153) explica: Essa perspectiva de mídia-educação implica a adoção de uma postura crítica e criadora de capacidades comunicativas, expressivas e relacionais para avaliar ética e esteticamente o que está sendo oferecido pelas mídias, para interagir significativamente com suas produções para produzir mídias e também para educar para a cidadania. 71 Sobre a articulação do projeto com o desenvolvimento curricular, a gestora coloca que: É interessante, pois os professores e os alunos ficam mais animados quando vão estudar, por exemplo, a história do Brasil através do rádio, escrevem textos, música e livros para falar no rádio. (Ge) Nessa direção, podemos entender o currículo numa dimensão política da educação, ou seja, como um instrumento de escolarização, que reflete as relações escola/sociedade e interesses individuais/de grupo e interesses políticos/ideológicos. De acordo com Moran (1996), a comunicação e a educação estão ligadas e quanto maior for a interação, melhor é o resultado no ambiente e nas práticas educativas. As novas gerações são leitoras da comunicação áudio-visual ainda no estado intrauterino. A mãe, quando está grávida, senta em frente à televisão, se emociona, passa para o feto aquelas impressões. Tudo vira história, as novas gerações são formadas nisso desde que abrem os olhos para o mundo. Já estão compreendendo aquilo que a televisão está mostrando, que o cinema está exibindo. Trazem isso para dentro da sala de aula, esse conhecimento, essa leitura. São todos pós-graduados em linguagem áudio-visual, quando entram analfabetos na escola. (FRANCO, 1996, p. 108-113). Sobre as perspectivas de continuidade desse projeto para os próximos anos, a gestora responde: É interessante, pois estamos juntando professores, pai, alunos e colaboradores e isso tudo aconteceu por conta do Projeto Rádio na Escola, acreditamos que por esse motivo vamos ter o apoio de todos para o projeto continuar. (Ge) Fica evidente o interesse da gestora em que o projeto apresente continuidade. Entendemos que na visão das professoras e da gestora escolar o rádio contribui para a construção da cidadania participativa, mas não é o único responsável, ou seja, o projeto rádio na escola enriquece o ato pedagógico e favorece a construção da cidadania, mas depende também de um currículo bem estruturado e de apoio dos pais, da prefeitura e demais membros da sociedade. 72 4.2 O PROJETO RÁDIO NA ESCOLA SOB A VISÃO DOS ALUNOS Os educandos são a razão do Projeto Rádio na Escola existir, dar voz a eles é uma oportunidade de compreender suas percepções sobre o projeto. Nesse sentido, esta análise pretende contribuir para a caminhada educativa do Projeto Rádio na Escola, sugerindo reflexões focadas em uma educação que promova a cidadania. Ao iniciarem sua participação no grupo focal, foi solicitado que respondessem o que acharam da rádio que foi implantada na escola e o que os motivou a participarem. Para Freire (1998, p. 77), “Quando tentamos um adentramento no diálogo como fenômeno humano, se nos revela algo que já poderemos dizer ser ele mesmo: a palavra” e são de palavras verdadeiras que os homens transformam o mundo. Para A1: Acho a rádio bem legal, sinto mais vontade de vir para o colégio quando sei que vamos usar a rádio. Eu participo, quero aprender a escrever uma história para quando crescer escrever livros. Observamos que A1 é motivado em estar na escola pelo fato de existir o Projeto Rádio na Escola e, diante disso, o educando consegue desenvolver com maior probabilidade seu potencial de aprendiz. De acordo com Santana (2004, p. 93), “[...] isso acontece quando a relação com o outro provém de um ambiente sadio”, quando o ambiente não é sadio, existe maior probabilidade de existir no ambiente escolar agressividade, sentimento de fracasso e também a incapacidade de aprender, entendemos que a junção de todos esses fatores negativos gera no futuro baixa autoestima no educando. Nesse sentido, acreditamos no espaço escolar como importante meio na recuperação da história de vida das crianças e adolescentes, onde a escola se torna um elo entre família, alunos e sociedade. Para Santana (2004, p. 49): O ambiente que não é facilitador, seja no âmbito familiar ou escolar, mutila a parte afetiva e raciona do sujeito, privando a autoria de pensamento, consequentemente, comprometendo o desenvolvimento das estruturas mentais, propiciando o desenvolvimento da agressividade destrutiva existente no sujeito. Para A5, a motivação surgiu da necessidade em se comunicar melhor com a sociedade: Adoro a rádio. Eu gosto muito de participar porque eu tenho muita dificuldade de falar com as pessoas, sou muito tímida, e com o projeto Rádio na Escola eu estou melhorando muito. 73 Corroborando com essa questão, Reverbel (1997, p. 19) explica a importância dos educandos aprenderem a conviver uns com os outros: É principalmente na escola que a criança aprende a conviver com os outros, delineando-se nesse momento sua primeira imagem da sociedade. É na sala de aula que podem acontecer as primeiras descobertas de si mesmo, do outro e do mundo, pois aí o aluno incorpora-se ao grupo social, ao mesmo tempo que se diferencia dele. A comunicação é considerada um dos fatores do desenvolvimento mental. De acordo com Vigotsky (1991, p. 12), “[...] através do processo de comunicação com os outros membros (coletivo), constrói-se um modo de ser socialista que depois se interiorizará como ideologia consciente”, sempre em busca da coletividade, com o educando e o educador. Dessa forma, todos tomam consciência da insuficiente clareza e precisão dos seus conceitos, e ainda, de acordo com o autor, “das contradições que eles determinam, do fato de que frequentemente são inadequados para interpretar novos aspectos da realidade”, mas para que isso ocorra a comunicação verbal/oral deve ser adequada ao nível do desenvolvimento de cada educando. Para B1 a motivação está em apresentar para família os textos desenvolvidos na rádio escolar: Muito legal a rádio da escola, só que acho que a professora poderia dar mais tempo para gente usar ela. Gosto de participar com meus amigos e fico feliz quando mostro os textos para minha mãe e o meu pai. A escola é uma extensão do lar dos educandos e a participação dos pais contribui para a motivação dos alunos em permanecer no ambiente escolar. O que se pode notar, num âmbito geral, é que durante as aulas de rádio os educandos estão adquirindo saberes e competências por meio das produções radiofônicas. Indagados sobre como a participação de cada um no Projeto contribuiu para a aprendizagem e se algum deles identificou alguma mudança no comportamento, A1 relatou: Participando da rádio eu aprendi a escrever melhor, fazemos pesquisa e agora eu estou escrevendo muito melhor. Agora eu consigo tirar nota alta na prova de português e a minha mãe me ajuda a escolher as músicas para tocar na rádio. Aprendi a falar diante do público, ser menos tímida. Em referência a essa resposta, é possível notar que a partir do Projeto Rádio na Escola os educandos se tornaram mais cuidadosos com o que estão ouvindo e também como estão se 74 comunicando e, diante disso, temos educandos mais envolvidos e motivados. Para Freire (1997, p. 80), “Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de que professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria.” Para A2: Ficou mais fácil de ler e escrever. Agora eu tenho menos vergonha de falar com as pessoas e apresento meus trabalhos sem medo para o professor e meus amigos. Claramente se observa na fala de A2 que o Projeto trouxe para a escola um ambiente positivo nas relações com os professores e colegas. Este envolvimento é capaz de transformar a forma como essas crianças veem a realidade, deixando de serem vozes passivas e tornandose crianças ativas, criativas e pensantes. B1 explica que suas notas estão melhores e fez mais amigos: Consegui fazer mais amigos e agora a gente participa junto das atividades com todos. Minhas notas estão melhores. O que B1 descreveu nos faz observar que cada um deles pode ter um estímulo diferente. Reverbel (1997, p. 41) explica: A partir de um bom estímulo, os alunos começam a congregar seus esforços na criação de uma atividade global, na qual tomam parte voluntária e coletivamente. Nem sempre a reação dos alunos é homogênea em face do estímulo, o que é natural, pois o interesse por determinados temas não exclui as preferências individuais. Por esse motivo, é necessário recorrer a atividades de sensibilização. Para Boruchovitch e Bzuneck (2002, p. 9), a motivação ou o motivo, é aquilo que move uma pessoa ou que a coloca em ação: Uma primeira ideia sugestiva sobre motivação, normalmente aplicável a qualquer tipo de atividade humana, é fornecida pela própria origem etimológica da palavra, que vem do verbo latino movere, cujo tempo supino notum e o substantivo motivum, do latim tardio, deram origem ao nosso termo semanticamente aproximado, que é motivo. Assim, o Projeto tem potencial para contribuir com os processos de ensino e aprendizagem, tendo em vista a motivação intrínseca que desencadeia. É notória a motivação do educando quando diz que agora “participa das atividades com todos”, isso nos remete ao pensamento de Morin (2003, p. 62): 75 A educação deve contribuir para a autoformação da pessoa (ensinar a assumir a condição humana, ensinar a viver) e ensinar como se tornar cidadão. Um cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação à sua pátria. O que supõe nele o enraizamento de sua identidade nacional. É nesta direção que entendemos a escola como um espaço transformador, despertando no educando a necessidade de reconhecer a si mesmo e o outro. Entendemos que muitas vezes os educandos já possuem esta capacidade, porém um pouco confusa, é neste sentido que a escola oferece um espaço como o projeto Rádio na Escola, com a intenção de elucidar temas, como: democracia, solidariedade e responsabilidade. As relações entre educador e educandos são importantes pontos a serem abordados, onde compreendem todo o processo de aprender, conhecer, ensinar, entender, procurar, duvidar, questionar, saber, autoridade, liberdade. Todas essas questão se acham envolvidas com o ato de estudar. Para Freire (1989, p. 50): O ato de estudar, de caráter social e não apenas individual, se dá aí também, independentemente de estarem seus sujeitos conscientes disto ou não. No fundo, o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo, é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas sabem que sabem.É necessário salientar também que esta curiosidade séria em face do objeto ou do fato em observação, ao exigir de nós a compreensão do objeto, que não deve ser só descrito em sua aparência, nos leva à procura da razão de ser do objeto ou do fato. No relato de B2 notamos claramente que o ato de estudar, que neste caso envolve o Projeto Rádio na Escola, desperta a vontade de evoluir, despertar para o mundo: Consigo ler melhor, escrever melhor e falar melhor em público. Notamos, ainda, o educando demonstrando a necessidade de olhar suas fraquezas, apontando vontade em buscar, junto com o projeto e dentro dele próprio, os caminhos para o progresso. Freire (1997, p. 19) dispõe: Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observando a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos. Outro aspecto a ser considerado é a construção da autoestima. O projeto Rádio na Escola possibilitou que B2 se sentisse melhor em apresentações em público, isso mostrou além da construção da autoestima, a construção de um sujeito social e cidadão partícipe. 76 Eu notei que com o rádio eu aprendo sem pressão. Aprendo brincando. Melhorei em matérias que antes eu não gostava de estudar, agora faço os textos para a rádio e estudo com esses textos. Eu ficava nervosa nas provas, agora eu me lembro das músicas e dos textos que produzimos e acabo ficando menos nervosa na hora da prova. (A3) Para o educando A3 descobrir-se capaz de melhorar e capaz de descobrir outros métodos de estudo é exitoso, presente em sua fala, o seu reconhecimento em aprender “sem pressão”, assumindo-se como sujeito social, capaz de buscar novos saberes. O rádio, na conjunção escolar, mostra-se como uma porta plausível e, ao mesmo tempo, prazerosa de se estabelecer vínculos entre os conteúdos da sala de aula e da leitura crítica do mundo. Para Antunes (2005, p. 34), a confiança do educando está diretamente ligada com a liberdade: A liberdade nasce na confiança. Ninguém se sente livre quando cercado pela insegurança, quando tem medo de suas ações e impõe limites aos seus desejos. Ensinar uma criança a ser livre e a saber usar bem a liberdade implica trabalhar sua auto-estima e entre as muitas maneiras de agir assim. A verdadeira aula de liberdade que esses educandos presenciam com o Projeto Rádio na Escola é que a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro, e é nesse sentido que os educandos aprendem a importância de serem livres, não para fazerem tudo que querem no momento em que querem, mas, conforme Antunes (2005, p. 32), para “acomodar nosso querer aos limites e ao direito dos outros.” Observa-se que o Projeto se utiliza de uma maneira autêntica de promover a liberdade, induzindo as crianças a aprenderem positivamente a seu respeito, incentivando-as a falar de si mesmas de forma carinhosa e alegre. Agora eu tenho um caderno de anotações e escrevo lá todas as coisas legais para a gente falar na rádio. Estou procurando mais notícias e tentando escrever tudo no meu caderno para mostrar para meus amigos e para a professora. (B5) Os hábitos que adquirimos, sejam bons ou maus, podem ser características aprendidas, como no caso de B5 – o hábito de ler, de acordo com Antunes (2005, p. 46): Quando se afirma que este ou aquele hábito é produto de aprendizagem não se está insinuando que essa aprendizagem seja sempre intencional. A criança não se transforma no adolescente ou no adulto que será sem passar por “escolas”, mas as “escolas” que forjam os hábitos são muitas: a família e seus exemplos são uma magnífica escola, as amizades que se conquistam são uma escola, a própria escola é 77 outra escola, como o são também a televisão, o cinema, o pátio, a rua e toda modificabilidade de entornos que acompanham o nosso crescer. Compreende-se que por mais que desejamos que os educandos gostem muito da leitura, é fundamental o uso de estímulos, como no caso do Projeto Rádio na Escola, onde pais e professores se envolvem na firmeza do projeto, assim mesmo com gostos diferentes vamos ter crianças que crescem com paixão pela leitura. Como observamos nas colocações de Antunes (2005), o qual afirma que a palavra para desenvolver no educando o gosto pela leitura é a intencionalidade. B4 afirma o gosto pela leitura: Eu estou lendo mais. Consigo ler um livro por semana. Gostar ou não de ler não é uma questão biológica, mas um hábito que no caso do educando B4 se conquistou juntamente com os professores e pais, como, por exemplo, quando estes mostram, com paciência e ternura, a diferença entre livros e jornais, notícias e informações, mensagens e pensamentos. A última pergunta da rodada abordou sobre possíveis sugestões para o projeto rádio na escola, nesse sentido procuramos compreender como o projeto pode ter melhorias, para A1: Acho que poderíamos ter mais tempo para as notícias e entrevistas. Observando a fala de A1, sugerimos uma atividade interessante que o educador pode desenvolver: por cinco minutos os educandos ficam com uma venda nos olhos, nesse período o educador coloca uma notícia no rádio e solicita que eles busquem identificar o sentido do que estão ouvindo, depois sem as vendas cada um explica com suas palavras as suas sensações e o que compreenderam da notícia abordada. Além de atender ao pedido de A1, o objetivo é deixar a criatividade de cada um expandir, não sendo manipulados pelos olhos dos outros. Para Rossini (2010, p. 61), o mundo será dos que conseguem dar asas à sua imaginação e para a autora a criatividade humana nos mostra que as pessoas criativas, independentemente da atividade que exercem, apresentam alguns traços comuns em suas personalidades, vejamos: Flexibilidade para encarar situações sendo mais capazes de tolerar conflitos, tensões, dúvidas e incertezas. Independência ou autonomia para encontrar respostas a desafios, demonstrando habilidade de se governar por si mesmo. Persistência em suas atividades, não se importando com o emprego do esforço intenso, vigoroso para conseguir o que querem. Tentam métodos diferentes. Sensibilidade para manifestar 78 suas ideias sempre acompanhadas de toques de humor e espontaneidade. Iniciativa na tomada de decisões ou em busca de respostas. Autoconfiança que favorece a busca de respostas independente dos riscos que se possa correr. Compreende-se que esses traços apontados por Rossini são instigados pela segurança e pela liberdade. O projeto rádio na escola aponta traços de criatividade, como: idealizar um projeto que envolve criação de músicas, entrevistas, poesias, notícias são ações que demonstram o pensamento criativo do projeto. Rossini (2010, p. 48) acrescenta: Um dos pilares básicos da Educação é o fazer. O educador que poliniza mentes e almas é um provocador, ou seja, ele provoca ação. Sabe que conhecimento só é conhecimento quando se transforma em ação. Se você faz um curso e guarda todas as anotações ou apostilas que recebeu, só terá informações. É preciso praticar as informações para que elas se transformem em conhecimento. Não basta ter ideias maravilhosas se não forem acompanhadas de ação. Um projeto regularmente bom, mas posto em execução, tem muito mais valor do que um projeto excelente guardado em uma gaveta. Para B1 o projeto rádio na escola é surpreendente, apontando que gostaria de ter mais aulas na rádio, conforme coloca: Queria produzir textos para a rádio em todas as nossas matérias escolares. Os alunos demonstram que podem viajar para dentro de si mesmos elaborando os textos para a rádio, aprenderam a perguntar quando possuem dúvidas, aprendem não apenas a questionar o mundo de fora, mas também a fazer perguntas sobre eles mesmos. Para Cury (2003, p. 129): Uma ferramenta espetacular para transformar o solo árido de sala de aula em um canteiro de flores é a exposição dialogada, executada pela arte da pergunta. Na exposição interrogada, o professor questiona o conhecimento sem perguntar, na exposição dialogada ele faz inúmeras perguntas aos alunos. As duas técnicas se complementam. A arte de fazer perguntas, de deixar o educando livre para expor suas ideias e angústia, é capaz de transformar uma sala de aula, transformando o local de aprendizagem em um ambiente agradável e inteligente. Nas respostas de A2 e A5 o tempo para utilizar a rádio escolar é insuficiente: Ter mais tempo para usar a rádio. (A2) Temos pouco tempo para usar a rádio, uma ideia seria ter mais tempo. (A5) 79 Diante das colocações dos educandos a rádio é uma espécie de escape. Envolvemos essas respostas supradispostas, com a ideia de que as notícias diárias no mundo são muito serias e frias para o mundo deles, ou seja, esses educandos são cercados de notícias de delitos, desgraças, mortes, fraudes, e é na rádio escolar que eles encontram um escape, a oportunidade de viver com mais suavidade, alegria, aprendem a rir das tolices. O papel do professor é importante nesse sentido, para Cury (2003, p. 57) “Bons professores falam com a voz, professores fascinantes falam com os olhos. Bons professores são didáticos, professores fascinantes vão além. Possuem sensibilidade para falar ao coração dos seus alunos.” Cury (2003) coloca que educar não é informar ou treinar, mas proporcionar uma experiência para a vida, portanto, observamos que o projeto oportunizou um ambiente rico em atividades voltadas para a formação do cidadão, vivenciando dessa forma a cidadania. É nesse ambiente que o projeto está tornando as crianças mais tolerantes, solidárias, respeitosas e compreensivas. De acordo com Candau (1999, p. 112): Educar para a cidadania exige educar para a ação político-social e esta, para ser eficaz, não pode ser reduzida ao âmbito individual. Educar para a cidadania é educar para a democracia que dê provas de sua credibilidade de intervenção na questão social e cultural. É incorporar a preocupação ética em todas as dimensões da vida pessoal e social. A cidadania participativa se mostra presente no projeto rádio na escola, onde os alunos estão convivendo com suas diferenças, respeitando uns aos outros, sem preconceitos, sentindo-se livres para expor suas ideias. 4.3 ENTRELAÇANDO A VISÃO DAS PROFESSORAS, DOS ALUNOS E DA GESTORA ESCOLAR Os resultados desta pesquisa apontam que a construção da cidadania participativa depende de fatores educacionais e organizacionais. Segundo a entrevista realizada com a gestora escolar, a principal motivação para a implantação do projeto rádio na escola foi o apoio da Secretaria Municipal da Educação de Joaçaba (SC), já na visão dos professores a principal motivação é a inclusão de novas linguagens no currículo escolar. Os educandos se dizem motivados com o projeto, pois a escola se tornou um espaço transformador, alegre e de aproximação com os professores, com a sociedade e com os colegas. 80 Entendemos que o projeto é motivador, e a motivação é fator decisivo na cidadania participativa, funcionando como uma válvula para professores, educandos e gestores escolares se sentirem parte da construção da cidadania participativa. Sobre o processo de participação no projeto, notamos que as respostas dos entrevistados são unânimes, todos os envolvidos dizem que a participação no projeto é importante em busca de uma articulação com o currículo escolar. Os educandos apontam vantagens na elaboração de textos para aulas de português, história e outras disciplinas. Os professores identificam melhorias nas avaliações escritas e no desenvolvimento da capacidade crítica dos alunos. Para a gestora escolar, a participação de todos apontou melhorias no desenvolvimento e na participação das atividades escolares. Diante disso, notamos que a participação de todos os envolvidos no projeto é fundamental, uma vez que constitui caminho para a construção de uma sociedade democrática. Sobre a repercussão do projeto nos processos de ensino e aprendizagem, a gestora escolar diz que o projeto ajuda no desenvolvimento de diversas habilidades para os educandos, além disso, propiciou um intercâmbio de informações entre eles. Para as professoras, os processos de ensino e aprendizagem se desenvolvem pela organização e planejamento das ações com o projeto, como, por exemplo, na união de pesquisa/escrita e na locação/motivação. A visão sobre o projeto rádio na escola da gestora escolar e das professoras é muito semelhante, sendo que acreditam que ele contribuiu para uma pedagogia mais humana, mais participativa e mais dinâmica no cotidiano escolar. A visão dos educandos é favorável ao projeto, gostam da rádio que foi implantada e acreditam que evoluíram sobre o nível crítico de passar e receber informações, o que se confirma nas falas das professoras e da gestora escolar. Quanto a possíveis melhorias, a maioria dos educandos solicita mais tempo e espaço para as atividades, o que demonstra que gostam da rádio e, por este motivo, gostariam de mais horas no local. Quanto a isto, a gestora escolar diz que pretende elaborar junto com as professoras mais atividades e que se for possível, pretende manter o Projeto. Diante disso, entendemos que o Projeto rádio na escola é apreciado favoravelmente pela gestora, professores e educandos; na visão dos participantes da pesquisa, ele contribui para o progresso humano, para a construção da cidadania participativa e para a construção das histórias de cada um dos envolvidos, o que desencadeia a vontade de participação na comunidade. Esses são elementos que são desenvolvidos por fatores educacionais e organizacionais e fazem parte do processo de formação de cidadão. 81 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo deste trabalho procurou-se investigar o uso do rádio na escola para a construção da cidadania participativa. O rádio surgiu no Brasil com fins puramente educativos, porém, com o passar do tempo, distanciou-se desta característica. Com a popularização do rádio o meio ganhou novos significados e o propósito inicialmente concebido acabou se distanciando, tornando-se o rádio, assim, comercial. A pesquisa apontou que as emissoras faziam a programação conforme o gosto da elite e vendiam os espaços publicitários para arrecadar dinheiro. Entendemos que a popularização deste veículo de comunicação ganhou novos significados e que o meio pode ser utilizado para produção de conhecimento; o rádio não se limita a um aparelho de distribuição e sim a um aparelho de comunicação. A comunicação e a educação possuem uma forte ligação, uma vez que comunicar é um meio de compartilhar conhecimentos até que se torne um bem comum. No rádio, na escola e na comunicação é possível compartilhar conhecimentos de inúmeras formas, por intermédio de gestos, sinais, palavra escrita e palavra falada e é dessa forma que ideias e experiências são trocadas e compartilhadas. Nesta perspectiva, o objetivo geral da pesquisa foi investigar como o uso do rádio na escola pode contribuir para a construção da cidadania participativa. A investigação foi desenvolvida mediante abordagem qualitativa, tendo como técnicas utilizadas entrevistas e grupo focal, aplicados à gestora escolar, professores e educandos, respectivamente, em uma escola do município de Joaçaba, Santa Catarina. A pesquisa apontou que a relação entre educação e rádio é antiga, nasceu quando o rádio foi lançado no Brasil por um grupo de estudiosos que viam no Brasil e no rádio a possibilidade de elevar o nível de cultura. O objetivo de utilizar o rádio em ambiente escolar é despertar mais atenção a estímulos do ambiente que o cerca, percebendo e compreendendo mensagens. Com uma rádio inserida dentro do currículo escolar, é possível observar a reação do aluno, fazê-lo recordar-se de coisas anteriormente aprendidas e que devem ser relacionadas com os novos estímulos. Contudo, é importante mencionar que a utilização do rádio na escola aponta a preocupação e a ligação de vários componentes para o bom andamento de uma rádio escolar. A locução é um item relevante, é indicado que o educando produza o texto e ele mesmo faça a locução posteriormente, isso bloqueia uma expressão fria e impessoal, diante disso os textos não vão ser “lidos” e sim “ditos”. A pronúncia de palavras da forma correta é outro fator importante, abrir bem os lábios e fazer uma gesticulação exagerada é um recurso usado pelos professores para que os sons 82 sejam bem definidos. A entonação também é ressaltada, já que devem aparecer todos os sinais de pontuação, em especial, vírgulas e pontos finais. Isso implica não ler somente um texto escolar, e sim interpretá-lo e entendê-lo. É importante frisar que a escola pode, se possuir a oportunidade, contatar uma fonoaudióloga para verificar o aparelho auditivo, órgãos formadores e o funcionamento do ouvido dos educandos. O controle emocional do educando é outro ponto relevante apontando pela pesquisa. O uso do rádio exige um controle emocional dos educandos, o sistema nervoso fica em estado de alerta pelo simples fato de estarem sendo ouvidos e observados. Diante disso, o relaxamento e controle emocional são características que devem ser trabalhadas na rádio escola. A utilização do rádio em sala de aula aponta para uma visão e uma análise mais crítica dos educandos sobre os meios de comunicação de massa, isso direciona ao propósito histórico inicial do rádio, onde se buscou um instrumento de integração educativo. O uso do rádio na escola contribui para a formação de um cidadão participativo, mais crítico, mais curioso e mais livre. No rádio é possível debater soluções, possíveis problemas e novas descobertas, e seu uso na escola promove diálogo, assim, o educando vai receber as informações e pode ter reações, deixando de ter uma atitude passiva frente ao meio, e deixando de ser um cidadão passivo. O uso do rádio em sala de aula possibilita, ainda, que o aluno preste mais atenção a determinados estímulos do ambiente que o cerca, percebendo-os, compreendendo seus significados e decodificando mensagens. O rádio possibilita, também, o feedback e a troca de informações entre o educando e o educador, apontando para uma concepção de educação transformadora, na qual o uso do rádio no cotidiano escolar e a sua inclusão no currículo escolar podem contribuir para a formação do cidadão participativo. Por meio das análises das entrevistas realizadas com as duas professoras dos 3º (terceiro) e 4º (quarto) anos, observou-se que elas prezam pelo envolvimento da comunidade escolar, o que constitui fator a ser destacado como um diferencial que reflete um dos maiores desafios da gestão escolar na contemporaneidade: a articulação da escola/família/comunidade, o que aponta alunos envolvidos no ambiente sociocultural, relacionando-se com os colegas, professores, autoridades e políticos. Na percepção da gestora escolar, o Projeto Rádio na Escola repercute nos processos de ensino e aprendizagem não somente no que se refere às habilidades que contribui para desenvolver, com ênfase na comunicação, expressão e produção de textos, como também na metodologia e nos relacionamentos e posturas que se estabelecem em relação à apropriação do saber. 83 Outro aspecto importante é o desenvolvimento da análise crítica dos educandos com os meios de comunicação de massa, onde o projeto busca o propósito inicial do rádio – a sua utilização como um instrumento educativo. Neste momento, observa-se que a escola utiliza o meio para dar voz, fala e espaço aos educandos. O estudo apontou a importância de outras linguagens dentro do contexto escolar, como o uso do teatro, da informática, das histórias em quadrinhos, entre outras, o que se mostra importante para futuras investigações acadêmico/cinetíficas. É importante destacar o quão foram significativos os depoimentos dos pesquisados clarificando a diferença entre o rádio comercial e o rádio educacional. Uma rádio educativa voltada para o desenvolvimento da criatividade, da busca pelo conhecimento, da construção do pensamento articulado e do desenvolvimento afetivo entre educandos e educadores, apresenta potencial transformador. É nesse sentido que compreendemos que o rádio contribui para a construção da cidadania participativa, pois esse apresenta-se como um espaço novo de saber, com conceitos e estratégias que desenvolvem as relações sociais dos educandos. Compreendemos, assim, que a construção da cidadania está ligada à convivência, com o “viver” de uma sociedade. O Projeto rádio na escola apontou grandes benefícios para a construção da cidadania; mediante a troca de informações o educando e o educador utilizam o rádio como meio para abordar os conteúdos do currículo escolar e da sociedade. Contudo, percebe-se que esse é ainda um campo pouco explorado, pouco discutido pelos teóricos; dessa forma, vê-se como relevante outras pesquisas que possam contribuir para a área do rádio e da educação e que sejam definidas políticas públicas em educação para a inserção do uso do rádio nas escolas, com vistas à construção da cidadania participativa. 84 REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Educação e emancipação. Tradução Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. AHLERT, Alvori. Cidadania participativa: um referencial da educação física para uma educação cidadã. Estudos, v. 33, n. 9-10, p. 677-695, set./out. 2006. ALMEIDA, Cristóvão Domingos de; GUINDANI, Joel Felipe. O discurso sobre educação e cidadania nas rádios comunitárias catarinenses. Revistas Percursos, v. 11, n. 01, p. 94-97, jan./jul. 2010. ANDRADE, Lílian. Educomunicação e Pedagogia de Projetos. Universidade de São Paulo. Departamento de Comunicação e Artes. São Paulo: 2009. 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São Paulo: Martins Fontes, 2003. 94 APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa: RÁDIO NA ESCOLA: Um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental A JUSTIFICATIVA, OS OBJETIVOS E OS PROCEDIMENTOS: O motivo que nos leva a propor este estudo é uma investigação sobre o uso do rádio na escola para a construção da cidadania participativa, a pesquisa se justifica pelo motivo de compreeender a influência da radiodifusão em relação às crianças.O objetivo desse projeto é fazer uma investigação sobre o uso do rádio na escola para a construção da cidadania participativa.O(os) procedimento(s) de coleta de dados será da seguinte forma realização de entrevistas com os professores das turmas, grupo focal com os alunos. Os grupos focais e as entrevistas serão realizadas em horário e local agendados com os professores e alunos, conforme preferências. DESCONFORTOS, RISCOS E BENEFÍCIOS: A sua participação neste estudo não gerar qualquer tipo de desconforto ou riscos, o beneficio que se pode obter é de compreender a influência da radiodifusão em crianças. FORMA DE ACOMPANHAMENTO E ASSISTÊNCIA: As entrevistas serão realizadas em horário e local agendados com os professores e os alunos, conforme suas preferências. Ocorrerão de forma oral e as respostas serão transcritas. GARANTIA DE ESCLARECIMENTO, LIBERDADE DE RECUSA E GARANTIA DE SIGILO: Você poderá solicitar esclarecimento sobre a pesquisa em qualquer etapa do estudo. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento ou interromper a participação na pesquisa a qualquer momento, seja por motivo de constrangimento e ou outros motivos. A sua participação é voluntária e a recusa em participar não irá acarretar qualquer penalidade ou perda de benefícios. O(s) pesquisador(es) irá(ão) tratar a sua identidade com padrões profissionais de sigilo. Os resultados serão enviados para você e permanecerão confidenciais. Seu nome ou o material que indique a sua participação não será liberado sem a sua permissão. Você não será identificado(a) em nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. Este consentimento está impresso e assinado em duas vias, uma cópia será fornecida a você e a outra ficará com o pesquisador(es) responsável(eis). CUSTOS DA PARTICIPAÇÃO, RESSARCIMENTO E INDENIZAÇÃO: A participação no estudo, não acarretará custos para você e não será disponibilizada nenhuma compensação financeira. No caso de você sofrer algum dano decorrente dessa pesquisa você devera recorrer ao Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unoesc e Hust, Rua Getúlio Vargas, nº 2125, Bairro Flor da Serra, 89600-000, Joaçaba – SC, fone 49 3551 2012. DECLARAÇÃO DO SUJEITO PARTICIPANTE OU DO RESPONSÁVEL PELO SUJEITO PARTICIPANTE: Eu, .................................................fui informado (a) dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informações e ou retirar meu consentimento. Os responsáveis pela pesquisa acima, certificaram-me de que todos os meus dados serão confidenciais. Em caso de dúvidas poderei chamar o estudante Vanessa Angélica Balestrin, rua Castro Alves, 660, Centro, Herval d Oeste, 89610 000,fone 49 3554 0371 ou ainda entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Unoesc e Hust, Rua Getúlio Vargas, nº 2125, Bairro Flôr da Serra, 89600-000- Joaçaba – SC, Fone: 49-3551-2012. Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas. Assinatura do sujeito pesquisado ou impressão dactiloscópica. Assinatura: Nome legível: Endereço: RG. Fone: Data _______/______/______ ................................................................................ Assinatura do(a) pesquisador(a) responsável Data _______/______/______ 95 APÊNDICE B – Entrevista Gestora 1 – Quando iniciou e como se deu o processo de implantação do estúdio de rádio nessa escola? Sujeito Resposta Ideia Central Categoria O projeto Rádio na Escola é desenvolvido pela própria O projeto existe Emissora de G1 escola e conta com o apoio da Secretaria Municipal da com o apoio da Rádio Educação da cidade de Joaçaba. O projeto é para os Secretaria Produção do alunos da escola, visando implantar uma emissora interna Municipal da conhecimento. de rádio dentro do ambiente escolar. O projeto Rádio na Educação. Estimular Escola iniciou-se no ano de 2008. Preparar os alunos Aprimorar O processo de implantação se deu com o objetivo de para a produção Habilidades. implantar um projeto de Rádio na Escola para através da de conhecimento escola produzir conhecimento, além de mostrar como é o a partir da processo da informação através dos meios de realidade da comunicação. Isso faz com eles sintam-se motivados a escola. Aprimorar utilizar a escola para produção de cultura e de informação as habilidades de e assim possam aprimorar a criticidade e também a comunicação e cidadania. expressão O projeto visou também alguns objetivos específicos. O primeiro foi a criação de uma rádio dentro da escola, onde pretendemos mostrar os estudantes sobre a ideia do que são os meios de comunicação. Em segundo lugar é mostrar como podem produzir informações em geral para a escola toda. Queremos também que eles aprendam a usar a mesa de som, microfones e ainda vão conseguir produzir tudo que vai ser veiculado na rádio escolar. 1 – Quais foram os fatores motivadores para a implantação do estúdio de rádio? Sujeito Resposta Ideia Central É uma chance dos alunos estarem próximos dos meios de Conhecer os G1 comunicação e ainda usarem esses meios de forma meios de divertida. A Prefeitura ajudou muito, e a ideia é usar o comunicação. rádio como um meio pedagógico, para desenvolver coma dicção. É uma forma de mostrar para toda a cidade o que a escola está fazendo. 3- Como se dá o processo de participação dos professores e alunos nesse projeto? Sujeito Resposta Ideia Central A rádio faz várias atividades, como alguns programas ao Os professores e G1 vivo, quem escolhe os temas desenvolvidos são os os alunos aceitam próprios alunos e os professores, os pais e algumas muito bem o autoridades também estão sempre próximos. Alguns projeto e adoram alunos que são bons em música acabam apresentando participar. suas músicas ao vivo. Pedimos aos professores para tentar adequar as matérias ao rádio, trabalhar português, matemática, história, geografia... todas as matérias. Os professores e os alunos aceitam muito bem o Projeto e adoram participar. 4– Como se dá a articulação entre o Projeto e o desenvolvimento curricular? Sujeito Resposta Ideia Central É interessante, pois os professores e os alunos ficam mais Animação G1 animados quando vão estudar, por exemplo, a história do Brasil através do rádio, escrevem textos, música e livros para falar no rádio. Categoria Desenvolver a dicção - Informação Categoria Aprovação por parte de alunos e professores. Categoria Motivação 96 5 – Em sua opinião de que forma esse projeto contribuiu para a formação dos alunos? Sujeito Resposta Ideia Central Categoria O Projeto Rádio na Escola faz com que todos na escola Aprendizado Oralidade G1 consigam deixar uma rádio funcionando dentro da escola, dos alunos Educomunicação sabemos que isso ajuda a desenvolver várias habilidades, como a habilidade oral, ajuda também no entendimento sobre como os meios de comunicação produzem as mensagens e assim vamos inserindo na escola a educomunicação. 6 – De que forma o uso do rádio nessa escola contribuiu para a melhoria de qualidade da educação? Sujeito Resposta Ideia Central Categoria O Projeto Rádio na Escola colabora para aumentar a Integrar alunos, Currículo G1 cultura e a informação dos estudantes para muito além socializar Cultura do currículo, com linguagem simples, e ao mesmo conhecimentos, Socialização Organização tempo eficaz como é a do rádio, e que ajuda no onde eles ambiente escolar. A importância do Rádio na Escola é aprendem a muito grande. Em grupo eles acabam aprendendo mais, trabalhar em trocando ideias, conhecimentos. As professoras dizem grupo. Os alunos que eles estão mais organizados e motivados, sem falar estão mais que a questão da leitura e escrita melhorou muito. organizados. 7 – Quais as perspectivas de continuidade desse projeto para os próximos anos? Sujeito Resposta Ideia Central É interessante, pois estamos juntando professores, pai, O projeto deve G1 alunos e colaboradores e isso tudo aconteceu por conta continuar. do Projeto Rádio na Escola, acreditamos que por esse motivo vamos ter o apoio de todos para o projeto continuar. Categoria Integração 97 APÊNDICE C – Entrevista Professoras RODADA 1 a) Como você avalia o desenvolvimento do “Projeto Rádio na Escola” ? Sujeito Resposta Ideia Central O Rádio na Escola beneficia todos, é pelo O projeto faz com que crianças e P1 projeto que mostramos todos os jovens se tornem cidadãos mais acontecimentos da escola. Já para os alunos o conscientes e críticos, podendo se projeto se mostra interessante, já que a tornar indivíduos muito mais maioria melhorou a escrita e também a atuantes e participativos na linguagem oral. sociedade em que vivem, pois Sabemos da importância de formar cidadãos descobriram, por meio da comprometidos e conscientes, isso faz com comunicação e da educação, como que nossos alunos sejam mais participativos e expressar suas opiniões e pontos de também com que vejam novas formas de vista, como argumentar sobre comunicação e também de educação. Eles determinado assunto e que, para aprendem varias coisas, o mais legal é que que isso aconteça, é preciso estão usando o rádio para mostrar suas ideias, informar-se, conhecer os assuntos e e eles sabem que para mostrar ideias, eles discutir sobre eles, ouvindo precisam de informação, conhecer mais as também a opinião de outras coisas... O projeto é um sucesso. Os meninos pessoas. que o digam. Já produziram muito material didático e de lazer. O projeto Rádio na Escola é um projeto para A educação é o processo que P2 os alunos terem mais contato com os meios de permite a formação do saber e das comunicação. É uma ligação da escola e do habilidades através de uma rádio, pode ser que alguns desses alunos proposta pedagógica tanto de queiram se tornar profissionais da crianças e jovens quanto de comunicação. adultos. RODADA 2 a) Como o “Projeto Rádio na Escola” se articula com o currículo escolar? Sujeito Resposta Ideia Central A questão do rádio é muito legal, porque se utiliza Os alunos aprendem P1 não de um método pedagógico, mas de um dentro da escola com veículo de comunicação que dá visibilidade ao atividades que atendem às processo na escola como um todo e insere os necessidades alunos na compreensão da mídia por meio do extracurriculares e que fazer radiofônico. Os alunos estudam com várias envolvem toda a atividades que acabam envolvendo todos, pai, comunidade escolar, pais, mãe, irmão, diretora, professores e os professores, diretores, funcionários. coordenação pedagógica e Tentamos fazer as aulas com a rádio. Sabemos funcionários. que há muito tempo as escolas estão tentando reinventar a forma de educar. Acho que juntar o rádio e outros meios significa mudar o currículo. Trazer notícias para sala de aula e fazer uma leitura do que está acontecendo na sociedade. E também trazer novas linguagens, como a publicitária. Sabemos que a modernidade chegou, e trazer o Com o rádio o professor P2 rádio para a escola é uma vontade imposta até atua como facilitador da pelos alunos. aprendizagem, e o aluno como o principal responsável pela construção do conhecimento. Categoria Importante Positivo Sucesso Liderança Aproximação escola com o rádio - Formação do saber - Cidadania Categoria Currículo - Sociedade - Facilitador da Aprendizagem 98 RODADA 3 a) Qual a repercussão do Projeto nos processos de ensino e aprendizagem? Sujeito Resposta Ideia Central Na escola conseguimos ver as ações e O aluno está neste ambiente de P1 reações. Com o rádio na escola essas produções e produto e eu como ações e reações se tornaram mais professora não me sinto um indivíduo manifestas, existe um feedback. superior, como detentor do saber, mas como um igual, onde o relacionamento entre nós concretiza o processo de ensinar-aprender. Notei que meus alunos através do Processo de ensino-aprendizagem causa P2 projeto estão aprendendo quando a formação de novos conhecimentos e escrevem os textos, por exemplo, traz a ideia de seres humanos como ensinando quando leem os textos indivíduos inacabados e passíveis de produzidos na rádio e pesquisando, uma curiosidade crescente, notei neles pois eles precisam fazer pesquisa, ter uma capacidade de refletir criticamente conhecimento do que vão falar na o aprendido. rádio. Notei que meus alunos através do Projeto estão aprendendo quando escrevem os textos, por exemplo, ensinando quando leem os textos produzidos na rádio e pesquisando, pois eles precisam fazer pesquisa, ter conhecimento do que vão falar na rádio. Com isso, eles buscam novos conhecimentos, novas coisas. Notei neles uma capacidade de refletir criticamente o aprendido. RODADA 4 A) De que forma esse projeto contribui para a melhoria da qualidade na educação? Sujeito Resposta Ideia Central Considero o uso dos meios de comunicação A motivação é imprescindível para o P1 válido. O professor pode enriquecer muito desenvolvimento do indivíduo, pois suas aulas. bons resultados de aprendizagem só O ideal é que o professor seja humano, para serão possíveis à medida que o que assim consiga apreciar seus alunos no professor proporcionar um ambiente momento que esteja ensinando e aprendendo. de trabalho que estimule o aluno a A motivação é importante para cada um criar, comparar, discutir, rever, desses alunos, pois sabemos que um bom perguntar e ampliar ideias. resultado só vai ser possível se o professor conseguir estimular o aluno para algo novo, discutir, perguntar, ampliar sua visão. Eu confio que com o Projeto Rádio na Escola Dar mais evidência a projetos como P2 vamos melhorar a questão da educação, esse. Amplia as competências. estamos fazendo um trabalho que é muito maior que só dar avaliações escritas, estamos integrando eles, explorando ideias novas, problemas que vão surgindo, desenvolvendo capacidade neles. É uma grande responsabilidade para os professores, mas estamos fazendo isso para uma grande transformação na educação. Categoria Ambiente de produção Relacionamento - Conhecimento - Curiosidade - Capacidade critica - Lado Humano Categoria - Criatividade -Competência Humana - Motivação - Criar - Discutir - Ampliar ideais -Desenvolve competência - Ética Compromisso 99 APÊNDICE D – Grupo Focal Roteiro Alunos A) O que você acha da rádio que foi implantada na sua escola? O que te motivou a participar da rádio? B) Quais as mudanças que você identifica na sua postura? Em que a sua participação no Projeto contribuiu para a sua aprendizagem? C) Quais as suas sugestões para a melhoria do projeto rádio na escola? A – O que você acha da rádio que foi implantada na sua escola? O que te motivou a participar da rádio? Sujeito Resposta Ideia Central Categoria Acho a rádio bem legal, sinto mais vontade de vir Gosta do rádio e é um - Ferramenta que A1 para o colégio quando sei que vamos usar a rádio. motivo para continuar desperta motivação Eu participo, quero aprender a escrever uma estudando. Despertou o história para quando crescer escrever livros. interesse em escrever livros Eu gosto da rádio, gostei da ideia de ter uma Gosta do rádio e participa - Participação nas A2 rádio no colégio. Participo com meus colegas. porque os colegas também aulas participam A rádio é muito legal, colorida e os professores Gosta da rádio e gosta do - Profissão para o A3 são queridos. Depois que a rádio chegou na modo como os professores futuro - Pesquisa escola eu fiquei mais feliz e agora eu quero ser ensinam através do rádio. radialista quando crescer. Participo sempre, o professor passa as atividades e pesquisamos sobre os assuntos junto com os colegas. Acho a rádio muito boa. Fazemos pesquisas, Gosta da rádio e aprendeu - Pesquisa A4 conversamos e brincamos quando estamos na a fazer pesquisa. - Liberdade para rádio. aprender Adoro a rádio. Eu gosto muito de participar Adora a rádio e gosta de - Desenvolvimento A5 porque eu tenho muita dificuldade de falar com participar por conseguir da oralidade. as pessoas, sou muito tímida, e com o projeto trabalhar a dificuldade de Rádio na Escola eu estou melhorando muito. falar em público. Muito legal a rádio da escola, só que acho que a Gosta da rádio e leva os - Produção Textual B1 professora poderia dar mais tempo para gente conteúdos para fora da usar ela. Gosto de participar com meus amigos e escola fico feliz quando mostro os textos para minha mãe e o meu pai. Colocar uma rádio na escola foi uma ideia muito Gosta da rádio e participa - Desenvolvimento B2 legal da escola, eu gosto muito. Eu participo para aprender a se da oralidade e porque a professora disse que eu ia aprender a comunicar melhor e escrita falar melhor e escrever melhor. escrever melhor. Gosto da rádio, acho que poderia ser um pouco Gosta da rádio e gostaria - Ambiente lúdico B3 maior, ter mais espaço. Participo porque gosto de mais espaço. Participa das músicas, textos e brincadeiras. porque gosta das músicas, textos e brincadeiras. Acho divertida a rádio. Participo porque é mais Gosta da rádio e participar - Integração dos B4 legal aprender na rádio do que dentro da sala de por conseguir integrar sala ambientes aula. e rádio. (sala/rádio) - Ambiente Lúdico Gosto da rádio, lá temos música e eu gosto de Gosta da rádio e participa -Compartilhar B5 música. A prof. explicou como a gente ia e para compartilhar o produção. trabalhar na rádio e eu entendi que vamos conhecimento. conseguir mostrar na rádio o que fazemos dentro da sala de aula. 100 B) Em que a sua participação no Projeto contribuiu para a sua aprendizagem? Quais as mudanças que você identifica na sua postura? Sujeito A1 A2 A3 A4 A5 B1 B2 Resposta Participando da rádio eu aprendi a escrever melhor, fazemos pesquisa e agora eu estou escrevendo muito melhor. Agora eu consigo tirar nota alta na prova de português e a minha mãe me ajuda a escolher as músicas para tocar na rádio. Aprendi a falar diante do público, ser menos tímida. Ficou mais fácil de ler e escrever. Agora eu tenho menos vergonha de falar com as pessoas e apresento meus trabalhos sem medo para o professor e meus amigos. Eu notei que com o rádio eu aprendo sem pressão. Aprendo brincando. Melhorei em matérias que antes eu não gostava de estudar, agora faço os textos para a rádio e estudo com esses textos. Eu ficava nervosa nas provas, agora eu me lembro das músicas e dos textos que produzimos e acabo ficando menos nervosa na hora da prova. Eu tenho mais facilidade de leitura. Eu aprendo com a rádio, fica mais fácil de entender a matéria. Agora eu consigo ler mais rápido. Consegui fazer mais amigos e agora a gente participa junto das atividades com todos. Minhas notas estão melhores. Consigo ler melhor, escrever melhor e falar melhor em público. B3 Eu estou interpretando melhor os textos e na hora de resolver as questões nas provas estou acertando mais questões. B4 Eu estou lendo mais. Consigo ler um livro por semana. Agora eu tenho um caderno de anotações e escrevo lá todas as coisas legais para a gente falar na rádio. Estou procurando mais notícias e tentando escrever tudo no meu caderno para mostrar para meus amigos e para a professora. B5 Ideia Central Desenvolveu a pratica da escrita, melhorou as notas e menos inibição. Aprendeu a escrever e ler melhor. Falar em público. Aprende de uma forma descontraída. Aumentou as notas. Categoria - Desenvolvimento da escrita. - Pesquisa. - Busca do conhecimento. - Melhora do rendimento escolar. - Notas melhores - Desenvolvimento da Oralidade. - Troca de saberes entre os alunos - Desenvolvimento da Oralidade. - Troca de saberes entre os alunos Está lendo melhor. Compreensão do conteúdo estudado. -Desenvolveu a leitura. - Desenvolvimento da Oralidade, entonação. Notas melhores e descoberta da cooperação. Ler melhor, escrever melhor, falar em público. Interpretação de textos, melhorou na resolução das provas Ler melhor. Descoberta da Cooperação Elaboração de um caderno de anotação. Escreve melhor. - Desenvolvimento da Oralidade, entonação e escrita. - Interpretação de texto. - Senso crítico. Habito da leitura. Incentivo à leitura. - Amplia o dinamismo na busca do conhecimento. - Hábito da leitura. - Incentivo à leitura. C - Quais as suas sugestões para a melhoria do projeto rádio na escola? Sujeito A1 A2 Resposta Acho que poderíamos ter mais tempo para as notícias e entrevistas Ter mais tempo para usar a rádio A3 Mais espaço, uma sala maior A4 Criar um programa “repórter por um dia” Temos pouco tempo para usar a rádio, uma ideia seria ter mais tempo. A5 Ideia Central Mais tempo para elaboração das atividades Mais tempo para atividades dentro da rádio Um espaço maior para a rádio escolar Quadros novos para a rádio Pouco tempo para uso da rádio na escola Categoria Entrevistas Noticias Um espaço de aprendizagem maior. Um espaço de aprendizagem maior. Elaboração de novas atividades. Organização do tempo. 101 B1 B2 B3 B4 B5 Queria produzir textos para a rádio em todas as nossas matérias escolares. Mais tempo e espaço para a rádio A prof. poderia convidar pessoas de rádios da cidade para participar com a gente. Ter mais tempo para usar a rádio. Um espaço maior para a rádio. Produção de atividades para rádio em todas as matérias. Integração maior com o Currículo. Pouco tempo para uso da rádio e pouco espaço. Convidar profissionais da comunicação Um espaço de aprendizagem maior. Participação da Sociedade. Pouco tempo para uso da rádio Um espaço maior para a rádio escolar Mais tempo para rádio Um espaço de aprendizagem maior. 102 APÊNDICE E – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido em Caso de Participação de Menor (Utilizado quando o sujeito da pesquisa for menor de 12 anos) TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (no caso do responsável) O menor __________________________________________, sob sua responsabilidade, está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa “RÁDIO NA ESCOLA: Um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental”. Neste estudo, pretendemos fazer uma investigação sobre o uso do rádio na escola para a construção da cidadania participativa. O motivo que nos leva a estudar esse assunto é compreender a influência da radiodifusão em relação às crianças. Para este estudo adotaremos o(s) seguinte(s) procedimento(s): realização de entrevistas com os professores das turmas, grupo focal com os alunos. Os grupos focais e as entrevistas serão realizadas em horário e local agendados com os professores e alunos, conforme preferências. Para participar deste estudo, o menor sob sua responsabilidade não terá nenhum custo, nem receberá qualquer vantagem financeira. Ele será esclarecido(a) em qualquer aspecto que desejar e estará livre para participar ou recusar-se a participar. Você, como responsável pelo menor, poderá retirar seu consentimento ou interromper a participação dele a qualquer momento. A participação dele é voluntária e a recusa em participar não acarretará qualquer penalidade ou modificação na forma em que é atendido(a) pelo pesquisador que irá tratar a identidade do menor com padrões profissionais de sigilo. O menor não será identificado em nenhuma publicação. Este estudo apresenta risco mínimo, isto é, o mesmo risco existente em atividades rotineiras como conversar, tomar banho, ler, etc. Apesar disso, o menor tem assegurado o direito a ressarcimento ou indenização no caso de quaisquer danos eventualmente produzidos pela pesquisa. Os resultados estarão à sua disposição quando finalizada. O nome ou o material que indique a participação do menor não será liberado sem a sua permissão. Os dados e instrumentos utilizados na pesquisa ficarão arquivados com o pesquisador responsável por um período de 5 anos, e após esse tempo serão destruídos. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelo pesquisador responsável, e a outra será fornecida a você. Eu, _________________________________________, portador(a) do documento de Identidade ____________________, responsável pelo menor ____________________________________, fui informado(a) dos objetivos do presente estudo de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a qualquer momento poderei solicitar novas informações junto ao pesquisador responsável listado abaixo ou com o acadêmico....................................., telefone.............................ou ainda com o Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Unoesc/Hust, telefone: (49) 3551-2012. Tenho ciência que posso modificar a decisão do menor sob minha responsabilidade participar do estudo, se assim o desejar. Recebi uma cópia deste termo de consentimento livre e esclarecido e me foi dada a oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas. Assinatura do responsável ou impressão dactiloscópica. Assinatura: Nome: Endereço: RG. Fone: Data _______/______/______ ................................................................................ Assinatura do(a) pesquisador(a) responsável Data _______/______/______ Impressão dactiloscópica 103 APÊNDICE F – Declaração da Instituição coparticipante Eu. XXXXXXX, portador da cédula de identidade nº XXXXXXX declaro estar ciente da pesquisa intitulada “RÁDIO NA ESCOLA: Um estudo de caso sobre a utilização do Rádio no Ensino Fundamental” de responsabilidade da pesquisadora Vanessa Angélica Balestrin. Declaro conhecer e cumprir com as Resoluções Éticas Brasileiras, em especial a Resolução CNS 196/96. Esta instituição está ciente de suas corresponsabilidades como instituição coparticipante do presente projeto de pesquisa, e de seu compromisso no resguardo da segurança e bem-estar dos sujeitos de pesquisa nela recrutados, dispondo de infraestrutura necessária para a garantia de tal segurança e bem-estar. A pesquisa será realizada na Escola Municipal XXXXXXXX, localizada no Bairro XXXXXX, Rua XXXXXXXXXXX, em Joaçaba-SC Por ser verdade, firmo a presente. Joaçaba, XX de XXXX de XXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX Diretora da Unidade Escolar