Capítulo 17 - O processo terapêutico: encerramento A importância da fase de término da psicoterapia e o impacto que seu manejo pode causar nos resultados finais do tratamento no é muitas vezes reconhe cida nem valorizada. Há diferentes tipos de término. Pode ocorrer tanto com a terapia bem sucedida quanto com a que não o foi. Pode ser opção do paciente, do terapeu ou de ambos, mas pode ser também forçada por circunstâncias externas da vida paciente ou do terapeuta. A finalização pode ter sido estabelecida desde início do tratamento (quando o tratamento é planejado para determinado número de contatos; em casos de interferência de crise; quando o paciente, ou o te peuta, dispõe somente de período limitado para o tratamento), mas pode ocorrer também de maneira indeterminada e depender da natureza e do resultado processo terapêutico. A forma de tratamento influirá no tipo de término e o manejo dessa fase deverá ser compatível com a forma e a estratégia da terapia preendida. Dinâmica do término A dinâmica da fase de término e das reações do paciente para com ela variáveis e dependem da natureza do trata- mento, bem como da natureza da sonalidade, problemas e experiências anteriores do paciente. No entanto, as 288 ções podem ser classificadas como relacionadas com fatores conscientes da realidade e com fatores neuróticos da situação total. Realisticamente, o paciente pode ter uma reação ao grau de melhora ocorrido, manifestando prazer e satisfação quando o progresso foi significativo; desapontamento e insatisfação quando a melhora foi limitada ou não ocorreu. No último caso, o paciente pode ter uma variedade de reações, manifestando desencorajamento ou depressão, por ter de aceitar em si próprio a presença continuada de sintomas neuróticos ou incapacitantes ou reconhecimento de suas próprias limitações. Mesmo em casos onde houve melhora significativa, pode haver preocupações parcialmente realísticas sobre a possibilidade do retorno dos sintomas após o término do tratamento. Outro fator realístico pode ser uma reação à perda do terapeuta, que foi, de algum modo, uma pessoa real na vida do paciente. Isso é especialmente provável se o tratamento foi significativo e eficaz, em cujo caso o terapeuta e sua arte terão desempenhado importante papel, e pode haver sentimentos de gratidão, assim como de pesar por se deixar de ver uma figura importante. De muitas maneiras, a relação entre terapeuta e paciente em psicoterapia é única, trazendo consigo um número de satisfações realísticas que o paciente pode encontrar dificuldade em abandonar. Além disso, ainda que o paciente em psicoterapia possa ter feito ajustamento e adaptação afetivos e amadurecidos, não deixará de experimentar incertezas parcialmente realísticas quanto a trabalhar por si mesmo, assim como ansiedade sobre o futuro que lhe estará reservado. Em acréscimo, podem ocorrer reações no paciente por não mais ter de suportar gastos e inconveniências em termos de tempo e dinheiro implicados na continuação da terapia. Pode também, haver reações em termos de incrementada independência, após o término, como antecipação realística de oportunidades futuras. No entanto, a fase final implica uma quantidade de reações de base neurótica ou inconsciente que devem ser clara- mente compreendidas a fim de que se obtenha resultado terapêutico ótimo. O principal desses fatores é a natureza da relaçâo de transferência e a maneira pela qual foi tratada durante o processo terapêutico. Quanto maior o grau de envolvimento transferencial e a compreensão consciente do mesmo pelo paciente, mais intensos serão os componentes neuróticos da reação ao término. Para esses pacientes, o término do tratamento e a separação do objeto altamente catexizado (o terapeuta), implica frustração de seus persistentes desejos transferenciais neuróticos. Tal frustração tende a provocar um conflito entre o desejo de saúde, maturidade, independência e satisfações de vida realísticas do paciente, opondose ao seu contínuo desejo de dependência, gratificação de desejos neuróticos infantis e, conseqüentemente, a continuação da enfermidade e 289 da incapacidade como meio de manter os laços com dito objeto da transferência. Essa frustração final tende a provocar desapontamento e dor no paciente e, em resposta, pode estimular mais ainda o desenvolvimento e a intensificação de reações transferenciais negativas. Estas reações podem, de fato, atingir um auge de intensidade maior que o ocorrido no início do tratamento. Anteriormente à fase de término, os pacientes freqüentemente mantém a fantasia de, sendo um bom paciente, obter finalmente o amor do terapeuta. A situação de término destrói esta esperança e,conseqüentemente, há menos razão para a continuada supressão de sentimentos de transferência negativos. Além disso, o fim do tratamento pode implicar, para o paciente, experiência de perda de objeto importante e signi- ficativo em sua vida. Isso é muito provável em pacientes que tenham suportado perdas precoces de figuras-chaves em suas vidas, de modo que a finalização freqüentemente representará a reexperimentação dos afetos e conflitos da experiência anterior. Tal perda, com o conhecimento de que o término significa o fim do relacionamento e, com freqüência, experimentada inconscientemente pelo paciente como a morte de um objeto amado, sendo acompanhada, portanto, de tristeza e aflição. Durante a fase final, os pacientes tentarão evitar a frustração, aflição, transferência negativa e necessidade de elaborar o luto de várias maneiras. Alguns pacientes buscarão terminar imediatamente, ao invés de experimentar ou expressar tais conflitos. Outros tentarão manter defesas tais como repressão, negação, deslocamento, formação reativa, etc., para precaver-se contra os mesmos. Freqüentemente, os pacientes manifestam uma recorrência de sintomas ou compor- tamento regressivo como meio de expressar o sentimento de não estarem prontos para terminar ou de expressar o desejo de começar novamente a terapia. Alguns pacientes podem trazer novos problemas como forma de prolongar o contato terapêutico. Outros podem tentar deslocar esses conflitos em actingout, fora do tratamento. Às vezes, há busca de objeto substituto para tomar o lugar do terapeuta e proporcionar a esperada gratificação dos esforços neu- róticos. Isso também pode ocorrer na fantasia de continuar, de alguma forma, o contato com o terapeuta, freqüentemente em bases sociais. Outra reação pode ser depreciar a terapia e seus resultados como maneira de reafirmar a si próprio que não está perdedo nada de valor. Durante essa fase, pode haver repetições muito exatas de reações e padrões de comportamento em resposta a separações de objetos-chaves na vida primeva do paciente. De maneira geral, quanto mais profundo tenha sido o envolvimento transferencial no decorrer do tratamento, ante- riormente ao estabelecimento de data para o término, mais intensa será a reação. Em algumas ocasiões, o estabe-lecimento de uma data de término pode estimular desejos transferenciais latentes que foram defendidos com êxito anteriormente. 290 Esses conflitos dinâmicos atuam em todos os pacientes que experimentam reações transferenciais significativas, tenham sido ou não conscientemente er pretadas. Em alguns casos, são totalmente inconscientes, enquanto que em outros, os derivativos desses conflitos podem ser conscientes para o paciente. ferentemente à forma de terapia, quanto mais o paciente estiver emocionalmente envolvido com o terapeuta, mais intensos serão os conflitos do término. Ao contrário, quanto mais o paciente tenha evitado ou minimizado um investimento emocional no terapeuta, menos conscientes e intensas sero as reações à fase final. O término do tratamento mal sucedido A terapia pode ser mal sucedida ou de sucesso apenas parcial, por uma variedade de razões. Estas podem incluir fatores internos do paciente ou sua situação total; ou fatores internos do terapeuta e sua capacidade particular; ou uma combinação particular de paciente e terapeuta que, por razões específicas de transferência, são incapazes de trabalhar juntos de modo eficaz. Em tal eventualidade, o paciente ou o terapeuta, ou ambos, podem considerar o acordo terapêu tico. A — PELO PACIENTE Quando a decisão do paciente, de interromper o tratamento, resulta de apreciaçáo realística da situação corrente, geralmente ele trará a questão para ser discutida e a decisão será tomada de maneira objetiva. Os prós e contras da decisão serão conscientemente considerados por razoável período antes do final. Com freqüência, porém, tal decisão é influenciada de modo significativo por fatores transferenciais presentes na relação terapêutica. Estes podem ser o resultado da frustração da transferência, a recusa do paciente em tolerá-la ou a fantasia de encontrar numa relacão com outra pessoa a gratificaco procurada. Algumas vezes, pode representar o desejo de o paciente utilizar o término como ameaça ao terapeuta, em tentativa de manipular ou controlar a situação terapêutica. Outras vezes, pode ser defesa contra a intensificação de desejos transferenciais e, de maneira análoga a uma reação fóbica, pode representar dinamicamente o desejo de evitar a situação na qual são estimulados derivativos de impulsos inconscientes. Em tais casos, o próprio término é, muitas vezes, impulsivo e súbito o paciente pode simplesmente deixar de comparecer às sessões ou pode avisar durante uma sessão que não retornará. A natureza da decisão final e a relutância do 291 paciente em discuti-la francamente com o terapeuta, bem como o acompanhamento de incerteza neurótica, afeto intenso ou ansiedade, tudo pode indicar a existência de componentes inconscientes. O terapeuta deve aceitar e reconhecer o direito do paciente de interromper o acordo terapêutico a qualquer momento e, na reação contratransferencial ao término, deve estar preparado para o fato de alguns de seus casos terminarem deste modo. No entanto, uma decisão impulsiva e neuroticamente determinada a esse respeito não será do melhor interesse do paciente, sendo importante que o terapeuta o estimule a discutir o fato. Se isso puder ser feito, o terapeuta estará, muitas vezes, em posição de auxiliálo a reconhecer alguns dos componentes, em cujo caso o paciente pode optar pela continuação do tratamento. No entanto, nas situações em que este se recusa a discutir a questão ou não mantém os compromissos subseqüentes, ao terapeuta resta apenas aceitar sua decisão, podendo, porém, indicar, diretamente ou por carta, seu desejo de discutir mais adiante o caso, se o paciente decidir fazê-lo. Em tal situação, o terapeuta deve ter em mente, também, a possibilidade de um conflito entre a manutenção do sigilo e sua obrigação implícita para com os parentes responsáveis pelo paciente. Se este é psicótico ou seriamente pertur- bado, ou se há significativo risco de suicídio ou possibilidade de grave comportamento autodestrutivo, a obrigação do terapeuta será, geralmente, informar a família sobre o final do tratamento, para que possam ser tomadas outras providências. Se o tratamento foi, desde o início, orientado para que o terapeuta tivesse contato somente com o paciente ou se não houver probabilidade de surgir qualquer dessas graves circunstâncias, o terapeuta deve inclinar-se a manter sigilo sobre a decisão do paciente. B — PELO TERAPEUTA Às vezes o terapeuta pode tomar a decisão de interromper ou finalizar a terapia, ainda que o paciente não concorde. O tratamento pode terminar num beco sem saída, isto é, numa situação em que o progresso parece haver estacionado por longo período, ocorrendo muito poucas alterações. Neste caso convém sugerir uma interrupção no tratamento por seis meses ou um ano. Isto dá ao paciente oportunidade de ver como atua sozinho, de testar sua motivação e progresso, avaliar a intensidade de seus sintomas e perturbações remanescentes. Se o paciente retorna, então, ao tratamento, estará motivado a fazer mais do que continuar simplesmente e de modo indefinido na atual paralisação. 292 É importante o terapeuta aceitar o fato de que sempre haverá alguns pacientes com os quais ele falhe ou cujo progres- so terapêutico será interrompido. Em tais casos, talvez não seja interessante para o paciente continuar trabalhando de maneira indefinida. O terapeuta deve considerar a possibilidade de enviá-lo a outro colega para tentar determinar a natureza do processo que bloqueia o tratamento. Outra possibilidade é encaminhá-lo a novo terapeuta que possa abordar o problema de uma perspectiva diferente ou com quem as reações de transferência ou contratransferência sejam diferentes o bastante para permitir utilização terapêutica mais eficaz. Indicação para encaminhar a novo terapeuta é, também, o caso em que o tratamento foi, inicialmente, instituído a nível de apoio imediato e ativo com a estratégia de estabilização, alívio do sintoma e redução da ansiedade. No entanto, ao avaliar-se a situação, após estabilizado o processo regressivo agudo, com freqüência é revelado ter o paciente potencial para psicoterapia mais intensiva, dirigida ao insíght, objetivando mudança mais básica e duradoura. Nesta situação, muitas vezes o terapeuta original, em virtude de suas amplas interações com o paciente durante a fase de apoio, está tão envolvido em uma relação de realidade que será extremamente difícil retornar à forma de neutra- lidade exigida para o desenvolvimento da transferência no tratamento dirigido ao insight. Outro fator, às vezes, pode ser ocorrência de reação contratransferencial não resolvida, que só o terapeuta estará em posição de reconhecer e pela qual compreende sua incapacidade para auxiliar efetivamente o paciente. Em todas estas situações é importante que o terapeuta discuta o problema com o paciente, direta e abertamente, avisando-o da interrupção ou finalização com suficiente antecedência, para que possa preparar-se e tomar as providências que se façam necessárias. Se o término for imposto subitamente e contra a vontade do paciente, este terá dificuldade em estabelecer futuras e eficazes relações terapêuticas, uma vez que poderá prever repetição de súbita finalização e, conseqüentemente, relutar em investir emocionalmente em nova relação. Muitas vezes, terapeuta e paciente decidem mutuamente que o tratamento não foi bem sucedido. Em tal caso deve haver discussão razoável e objetiva antes de serem introduzidas quaisquer mudanças no acordo terapêutico, o que permite a ambos considerarem as razões do fracasso terapêutico e avaliarem se é aconselhável a transferência para outro terapeuta ou se é melhor o paciente interromper inteiramente o tratamento. Pode ser conveniente o terapeuta oferecer sua ajuda para providenciar tratamento subseqüente. Contudo, havendo importantes fatores de transferência negativa no fracasso da terapia presente, estes podem ser, às vezes, deslocados para o próximo terapeuta, caso seja escolhido pelo atual. 293 C — POR RAZÕES EXTERNAS Noutras ocasiões, o tratamento pode terminar antes de sua conclusão satisfatória, devido a fatores não relacionados à interação e situações terapêuticas imediatas. Estes implicam deslocamentos geográficos, por parte do paciente ou do terapeuta, que impeçam a continuação do tratamento, enfermidade física intercorrente e prolongada, incapacidade do paciente para manter o acordo financeiro, etc. Muitas vezes, esses fatores não terapêuticos podem ser previstos e devem ser levados em consideração desde o início, ao se fixarem os objetivos do tratamento. Por exemplo, se o paciente sabe que estará deixando a comunidade seis meses depois de iniciar a terapia, pode ser mais aconselhável não começar tratamento intensivo dirigido ao insight, reconhecendo ser improvável que obtenha sucesso no relativamente curto espaço de tempo disponível. O mesmo acontece quando limitações financeiras são aparentes desde o início. A forma mais comum desse tipo de término forçado é aquela que ocorre em instituições ou em programas de estágio, nos quais a conclusão destes ou a alteração no compromisso do terapeuta com a instituição torna impossível a continuação do tratamento. Tais términos envolverão todas as forças dinâmicas previamente mencionadas, mas acrescidas de outro fator importante na relação de transferência. Este é o caso de decisão unilateral pelo objeto de transferência, sem considerar seu efeito ou impacto no paciente, o que vem recriar a natureza arbitrária de algumas relações parentais. Tal circunstância acrescentará componentes realísticos e transferenciais às reações do paciente, devendo o terapeuta estar alerta para as várias maneiras derivativas e encobertas pelas quais essas respostas podem ser manifestadas. Se forem ou não interpretadas ou trabalhadas, isto dependerá da natureza do contato e da experiência terapêutica. Quando esses fatores não forem antecipados e ocorrerem inesperadamente, é importante que o terapeuta fique atento à possibilidade de o paciente utilizar um acontecimento ou decisão aparentemente orientado para a realidade como deslocamento de transferência. Por exemplo, a época de decidir um deslocamento geográfico pode ser determinada por forças inconscientes dentro do paciente. No entanto, quando tais fatores forçam a interrupção do acordo terapêutico, é importante terapeuta e paciente discutirem a questão com antecedência e o terapeuta deve tentar auxiliar o paciente a tomar quaisquer providências necessárias para a continuação do tratamento. O término do tratamento bem sucedido Quando surge a questão do término no decorrer de uma relação terapêutica bem sucedida, seu significado e as táticas de controle dependerão da estratégia terapêutica global. Estratégia em terapia dirigida ao “insight” No tratamento dirigido ao insight, o objetivo estratégico de máximo auto- desenvolvimento e funcionamento psicológico independente, exige resolução da relação de transferência como passo final no processo terapêutico e isso ocorre em grande parte na fase de finalização. Seguidamente a fantasia de gratificação final persiste na transferência até a época em que o término é anunciado e planejado. Dinamicamente a finalização do tratamento pode ter o significado inconsciente, para o paciente, de frustração final dos desejos de transferência. A dinâmica dos conflitos do término já foi descrita anteriormente. Por todas essas razões, o paciente que se aproxima da finalização de uma psicoterapia dirigida ao insight satisfatória está sendo convidado a renunciar a objeto extre- mamente significativo e a uma relação de objeto. Esta experiência de perda do objeto pode ser acompanhada por tristeza, dor e raiva, pela rejeição sentida. Em situação não terapêutica de perda de objeto importante, o indivíduo deve passar pelo processo de dor e luto em grau cuja variação depende do significado do objeto. A previsão é de voltar a inclinação e a capacidade para investir em novos objetos após a elaboração e resolução do luto. Na situação comum de perda, a ausência de dor e luto é, muitas vezes, indicação de sua repressão, podendo persistir indefinidamente ou servir como fonte de subseqüente perturbação neurótica. O paciente que, na fase final da psicoterapia está experimentando tristeza ou dor pela perda do terapeuta deve passar, igualmente, pelo processo de elaboração do luto para poder resolver essa perda. Quanto mais o paciente experimente e elabore, de modo consciente tristeza, depressão cólera e desespero pela perda, maior será a possibilidade de seu trabalho de elaboração resolver a relação de transferência. Quanto mais evite a experiência de dor, mais provável será que não resolva e persista a situação transferencial, fracassando assim em alcançar o benefício total de uma terapia dirigida ao insight, com possibilidade de futura perturbação neurótica. Quanto mais intensa tenha sido a reação de transferência no decorrer da terapia e quanto maior o grau de regressão a serviço do ego, mais intensa será a experiência de perda e dor e, portanto, a necessidade de elaboração. 295 Quanto mais o paciente tenha evitado durante o tratamento o desenvolvimento de urna relação transferencial, quanto mais desajustada ou debilitada, menos intensa será a experiência de perda e aflição que a acompanham. No entanto, como já foi descrito, a resolução dos conflitos também será menos significativa e menos eficaz. Portanto, na fase final do tratamento, a estratégia de seu manejo requer que o terapeuta dê ao paciente oportunidade de elaborar a reação de dor e luto, qualquer que seja a intensidade com que tenham sido experimentados. A estratégia na terapia de apoio De acordo com o plano global do tratamento de apoio, a estratégia durante a fase final pede contínua tentativa de redução do conflito e stress e, ainda, se evite a mobilização da transferência negativa. Para esse fim, no encerramento da terapia de apoio enfatiza-se a contínua harmonia positiva e se tenta manter um estado de transferência positiva. Sentimentos de ansiedade, rejeição, tristeza ou cólera, estando conscientes para o paciente, devem ser por este ventilados, como já foi descrito para outros fenômenos durante o tratamento de apoio. No entanto, nenhuma tentativa é feita para desfazer resistências contra tais reações, se elas permanecem reprimidas e inconscientes. Enfatiza-se uma relação continuada, ainda que reduzido o nível de intensidade, como já foi descrito, não se fazendo tentativa alguma para resolver os componentes transferenciais. Pelo contrário, tais componentes residuais so usados para prolongar os reforços e identificações anteriormente descritos. Portanto, ao invés de enfatizar o término da relação, o terapeuta inclina-se a acentuar seu continuado interesse e disponibilidade se o paciente assim necessitar. No tratamento de apoio, alguns pacientes talvez jamais alcancem posição de finalizar formalmente a terapia e uma relação terapêutica continuada pode ser essencial para apoio e manutenção de seu equilíbrio. O terapeuta pode, entretanto, permitir a outro tipo de paciente o uso da interrupção ou término do contato terapêutico como defesa contra maior envolvimento ou compreensão da transferência. O término também pode, às vezes, servir à necessidade defensiva de formação-reativa contra a dependência. Indicações para o término O critério geral para finalizar o tratamento é o cumprimento dos objetivos fixados no início da terapia. Outro critério pode ser o cumprimento parcial do 296 objetivo estabelecido, se bem com o reconhecimento do terapeuta de, por uma ou outra razão, não ter sido exeqüível o alcance total do objetivo previamente estabelecido, devendo aceitar-se benefícios mais limitados. Se possível, o encerramento do tratamento não deve coincidir, temporalmente, com outras situações de crise ou mudança importante na vida do paciente. O final do tratamento pode representar, consciente ou inconscientemente, uma perda e stress para o paciente. Se o término for sobreposto a outros stresses importantes da vida do paciente, pode precipitar novo desiquilíbrio neurótico. Além disso, se o paciente enfrenta mudanças em sua vida, como casamento, divórcio, mudança de emprego, morte de uma pessoa querida ou nascimento de uma criança, etc., talvez necessite continuar a relação terapêutica para apoiá-lo e auxiliá-lo, pelo menos durante o período imediato de adaptação. A — TERAPIA DIRIGIDA AO “INSIGHT” Na terapia dirigida ao ínsight, algumas das indicações específicas para o término implicam a evidência de mudança estrutural significativa da personalidade. A definição de tal mudança estrutural é questão complexa, implica alteração nos impulsos e derivativos em direção à primazia genital, com relativo decréscimo na importância dos derivativos de impulsos pré-fálicos. Implica também modificação das funções do superego, com diminuição dos preceitos morais primitivos autoritários e um aumento nas decisões pessoais conscientes do paciente no que diz respeito ao seu próprio sistema de valores morais. Deverá haver, também, uma extensão das funções conscientes do ego, com redução da necessidade de defesas inconscientes, resoIuçâo parcial dos conflitos e incremento no controle consciente de conflitos residuais. Também deve haver evidência de desenvolvimento, em algum grau, de compreensão e insight pessoal da natureza e manifestações derivadas dos conflitos, assim como algum grau de conhecimento de suas origens. Todos esses pontos devem ser valorados em relação aos objetivos originalmente estabelecidos para cada paciente em particular, até onde se tenha chegado em sua abordagem. Outro critério é a melhora significativa ou eliminação dos sintomas apresentados ou, pelo menos, evidência de ter havido progresso na capacidade do paciente em tolerar aqueles sintomas ou conflitos que permaneceram. Outros critérios implicam melhora na capacidade do paciente para estabelecer relações objetais maduras e trabalhar em qualquer forma ou campo que tenha escolhido. Finalmente, deve haver evidência de o paciente haver desenvolvido alguma capacidade para reconhecer e explorar seus conflitos por si próprio e, deste modo, levar adiante o processo terapêutico sem ajuda. Uma vez que o stress e conflito são 297 onipresentes ao longo da vida humana, o critério para o término não é sua completa eliminação, mas a progressiva capacidade do indivíduo em identificá-los e a eles adaptar-se. Em outras palavras, o tratamento dirigido ao insight deve preparar o paciente para executar, ele próprio, um pouco do trabalho terapêutico após o encerramento do tratamento formal. Em algum caso específico, esses critérios não serão encontrados no mesmo grau e, às vezes, o encerramento é indicado mesmo se um ou mais deles ainda não foram completados. Como foi mencionado acima, a ênfase nesta relação está no quanto se aproximou o paciente dos objetivos inicialmente fixados. Também há ocasiões em que o término é indicado, apesar do fracasso parcial em atingir os objetivos pré-fixados. B — TERAPIA DE APOIO Os principais critérios para o término da terapia de apoio so o estado dos sintomas do paciente, a estabilidade do equilíbrio dinâmico e a inversão da regressão ativa, assim como um progresso na capacidade defensiva do ego do paciente. Esses critérios devem ser avaliados ainda que em antagonismo com o conhecimento da importância da continuidade da transferência ou da relação terapêutica para que seja mantida a remissão ocorrida. Em outras palavras, nas situações em que é exigida a manutenção de contínua relação terapêutica para atingir e manter os objetivos de apoio estabelecidos, o término no ocorre jamais e o terapeuta pode continuar vendo indefinidamente o paciente. Em outras situações, se o paciente pode manter a melhora sintomática, sem necessidade de relação de tratamento continuada, o término pode ocorrer de maneira definitiva. O conceito de cura de transferência foi elaborado no capítulo XII; se ocorrer tal melhora transferencial, esta, por si mesma, pode ser indicação para considerar e planejar o término. A estratégia aqui é tentar reduzir a intensidade dessa resposta, de modo a poder alcançar um plano de transferência positiva relativamente diluída, bem como harmonia, confiança e satisfação conscientes. Se o paciente desenvolver relação muito intensa, os desejos inconscientes de transferência serão igualmente intensificados e podem, então, tornarse conscientes para o paciente. A essa altura, sua frustração pode conduzir a uma resposta transferencial negativa, com perda da redução sintomática previamente adquirida. Em outras palavras, para evitar a mobilização de transferência negativa, a época de considerar a redução da freqüência e intensidade da relação terapêutica é aquela em que começa a melhora sintomática, parecendo estar bem estabelecida como um processo contínuo. 298 Táticas na terapia dirigida ao “insight” A fase final do tratamento dirigido ao insight começa após o paciente ou o terapeuta levantarem pela primeira vez a questão de sua ocorrência. Inicial- mente, isto pode ser feito de modo experimental e a discussão pode ser indefinida enquanto se examinam as possíveis reações a esse acontecimento. Com freqüência é o terapeuta quem deve iniciar, uma vez que o paciente pode relutar, caso sinta-se, agora, à vontade, em virtude das resistências transferenciais descritas anteriormente. Eventualmente, paciente e terapeuta devem chegar a um acordo e marcar data definitiva para o término. Ao fixar essa data, é importante que o terapeuta considere a necessidade estratégica de conceder ao paciente tempo suficiente para desenvolver e experimentar suas reações ao término e, finalmente, elaborá-las e resolvê-las de modo terapeuticamente eficaz. O terapeuta deve antecipar a intensidade provável das reações ao término; como foi mencionado antes, estas tendem a ser proporcionais à intensidade da relação de transferência previamente estabelecida. Para certos pacientes, algumas semanas serão suficientes, enquanto que outros necessitarão de alguns meses ou mais. Se o paciente sofreu separações significativas de objetos-chaves nos seus primeiros anos, na relação de transferência durante o término, provavelmente, haverá maior intensificação do conflito ante a separação do terapeuta. Freqüentemente, durante a fase final, a reação transferencial pode implicar a repetição exata dos conflitos e afetos ocorridos em resposta à perda do objeto primitivo. Durante a fase final, a mobilizaçâo do conflito relativo à separação e perda do objeto, a transferência negativa e as incertezas sobre o futuro e a independência serão acompanhadas pela intensificação da ansiedade. Essa mobilização de conflito e ansiedade pode resultar em série de tentativas de defesa ou integração e pode manifestar-se por uma variedade de resistências às tarefas terapêuticas impostas pela fase final. Uma importante fonte de resistência é o desejo de evitar a tristeza e a dor, fugindo de elaborar o luto na relação terapêutica. Os pacientes podem desejar terminar imediatamente, racionalizando de várias maneiras. Tal plano, contudo, representa, em geral, o desejo de evitar a experiência de dor e a mobilização do conflito. O paciente pode tentar negar a importância e o significado da relação, desprezando desse modo a idéia de que o término represente algum tipo de perda significativa. Outra manifestação freqüente de resistência é a tentativa de encontrar objeto substituto que ocupe o lugar do terapeuta, permitindo ao paciente afastar o impacto da perda, bem como perpetuar os desejos transferenciais regressivos. Isso pode implicar, por exemplo, procurar outro terapeuta ou médico, enamorar-se ou utilizar o cônjuge ou um amigo como terapeuta. 299 Outras manifestações de resistência podem ser expressões de preocupação a respeito da enfermidade ter sido ou não resolvida ou quanto à sua capacidade para arranjar-se sozinho ou, ainda, a verbalização de sentimentos de desapontamento, de que pouco ou nada de significativo foi conseguido por intermédio da terapia. Isso constitui, muitas vezes, tentativa de demonstrar que a perda no é importante e assim evitar a experiência de dor. O paciente pode tentar, de diferentes maneiras, fazer o terapeuta sentir-se culpado pelo encerramento e, talvez, tentar adiar sua ocorrência, o que implica, às vezes, repetição de sintomas, geralmente os mesmos que o fizeram procurar, pela primeira vez, a terapia. O significado latente é o desejo de no terminar e sim “começar de novo” ou fazer o terapeuta sentir que o término é prematuro e ser essencial o paciente continuar em tratamento ativo. Pode, também, representar manifestação indireta de hostilidade e agressão contra o terapeuta e uma maneira de dizer: “Você no fez nada para me ajudar”. Algumas vezes, a hostilidade contra o término pode ser diretamente expressa e outras a cólera pode deslocar-se da transferência para outros objetos do meio ambiente. Em outras palavras, uma ampla variedade de reações pode ocorrer ante a perspectiva de terminar o tratamento. essencial que o terapeuta reconheça estas manifestações como relacionadas com a transferência e que o seu papel é o de interpretá-las reiteradamente, à luz das dinâmicas do término, assim como tentar auxiliar o paciente a completar conscientemente a incumbência da separação e do término. Durante essa fase é também importante o terapeuta não se deixar manipular, adiando repetidamente ou cancelando a data final, devendo manter a atitude terapêutica e auxiliar o paciente a resolver os conflitos mobilizados pelo término. Quando a relação transferencial for significativamente afetiva e regressiva, é aconselhável manter a constância da atividade terapêutica, assim como a freqüência básica e a duração das sessões até o encerramento da terapia. Dessa maneira, pode haver a manutenção ótima de relação de transferência para mobilização do conflito e, finalmente, para sua resolução. Em experiências menos intensivas de tratamento ou nas situações em que a relação de transferência não se desenvolveu na mesma amplitude, quando então a capacidade do ego do paciente é mais limitada, pode ser aconselhável reduzir gradualmente a freqüência das entrevistas durante as fases finais do término, para minimizar a intensidade da perda e para auxiliar o paciente a resolver e aceitar progressivamente a frustração da transferência. Tal renúncia gradual ao objeto pode fazer com que a fase final provoque menos tenso e menos ansiedade. Outro aspecto da tarefa terapêutica durante o término é interpretar reiteradamente a ansiedade do paciente a respeito da emancipação e do desenvolvimento da independência e da auto-realização, assim como sua oscilação e conflito 300 entre progresso e regressão. Através de suas interpretações e intervenções, o terapeuta intenta auxiliar o paciente a progredir e, evitando a gratificação de desejos transferenciais regressivos durante a fase final, ajuda a promover o nível de adaptação final do paciente e sua saúde, assim como desestimula a reressão aos sintomas e à enfermidade. Em outras palavras, na terapia dirigida ao insight, quando chega a época do “pássaro voar por si mesmo”, é essencial que o terapeuta insista, gentil mas firmemente, para que o paciente faça os esforços necessários a fim de sustentar- se e, então, voar sozinho. Como acontece geralmente na natureza, isto às vezes significa “empurrar o pássaro do ninho”, embora ficando por perto para o caso de necessitar de ajuda. Às vezes o terapeuta deve aceitar a possibilidade de não se haverem resolvido completamente algumas das queixas ou sintomas neuróticos do paciente quando do encerramento. No entanto, se do tratamento resultou mudança estrutural significativa, melhoras sintomáticas importantes poderão ocorrer após o seu encerramento. Táticas de terapia de apoio As táticas no controle do término em psicoterapia de apoio partem da estratégia anteriormente esboçada. Uma vez que a estratégia seja manter a repressão da transferência negativa e evitar que o término seja experimentado como perda significativa, as táticas têm em mira permitir ao paciente que mantenha suas resistências inconscientes. O terapeuta enfatiza o término como uma interpretação da relação e um sinal de progresso, devendo reforçá-lo mediante gratificação inconsciente apropriada. As intervenções permitem ao paciente manter relação terapêutica não resolvida e continuada, baseada em harmonia consciente positiva, incluindo os componentes transferenciais positivos inconscientes. A intensidade da relação presente, necessária para que o paciente mantenha o apoio oferecido pelo terapeuta, varia grandemente e é uma função dos diferentes fatores que contribuem para suas perturbações. Para alguns, é suficiente saber que o terapeuta estará disponível, se algum dia dele precisarem novamente e, desse modo, muitos pacientes podem ser apoiados por longos períodos apenas com visitas ocasionais ou grupos de visitas em épocas de stress agudo ou crise. Outra maneira tática de manter a relação é pedir ao paciente que envie um cartão (no Natal, por exemplo) ao terapeuta, deixando-o saber como está passando. A outros pacientes, que podem precisar de um pouco mais de reforço na relação, pode-se pedir que telefonem ao terapeuta após determinado período de tempo (seis meses ou um ano, por exemplo), com a indicação de que se seguirá uma entrevista. Se desejar um 301 pouco mais forte a intensidade da relação, o terapeuta pode marcar um encontro específico, mesmo que seja dentro de seis meses, uma vez que o conhecimento da entrevista pode, freqüentemente, sustentar a relação terapêutica. Outros pacientes talvez necessitem de entrevista regular, ainda que infreqüente (uma vez a cada três meses, por exemplo), como estímulo a uma relação de harmonia e transferência inconsciente continuadas, porém não tão intensas que possam ameaçar as defesas do paciente. Por exemplo, uma jovem com grave perturbação esquizo-afetiva, foi recebida em sessões semanais durante o pri- meiro ano de tratamento e teve melhora sintomática significativa. As sessões foram espaçadas gradualmente e redu- zidas a encontros regulares de meia hora uma vez a cada três meses, sendo a duração total do tratamento de 9 anos. Durante esse período, ela foi capaz de casarse, fazer amigos pela primeira vez, tomar firme decisão de não ter filhos, encontrar novos interesses e atividades, continuando sua remissão sintomática e comporta- mental. A harmonia foi solidamente positiva e, embora a paciente tivesse ansiedade e sintomas exacerbados de vez em quando, era capaz de esperar sua entrevista regular para discuti-los. O tratamento somente terminou porque o terapeuta deixou a cidade e a paciente sofreu reação de dor significativa, mas normal, quando de sua partida. Quando um paciente é atendido em clínica ou instituição, pode-se fazer a tentativa de deslocar a transferência, do terapeuta, que pode nâo estar permanentemente disponível, para a própria instituição, enfatizando-se que a clínica ou o hospital sempre estará interessada no seu bem-estar. Por exemplo, uma mulher esquizofrênica crônica era recebida para entrevista de 15 minutos cada 3 meses, por internos que faziam serviço rotativo na clínica a cada 6 meses. Ela devia passar de um interno para outro e, enquanto manteve tal contato, continuou a morar em casa. Se um dos internos considerava não estar realizando nada em benefício da paciente e sugeria que deixasse de comparecer inteiramente, reaparecia psicose, quase que imediatamente, exigindo internamento hospitalar para restabelecer-se. Enquanto fosse recebida com essa freqüência por alguém na clínica, a paciente podia manter-se fora da situação hospitalar. Como foi mencionado anteriormente, o paciente tratado em terapia de apoio pode ter também, conscientemente, reações confusas ou negativas à sugestão de término ou redução da freqüência das sessões. Quando essas reações já são conscientes para o paciente, é essencial a intervenção do terapeuta, de maneira a permitir sua manifestação, mas sem elaboração e desenvolvimento dos componentes inconscientes de tais reações. Outra manobra tática durante o término, na terapia de apoio, é apontar ao paciente que os sintomas podem reaparecer de vez em quando e que no pode 302 esperar livrar-se deles por completo. Enfatiza-se, no entanto, a probabilidade de o paciente tolerar eficazmente tais sintomas. Se o paciente já foi prevenido a respeito do reaparecimento de um sintoma, não será colhido de surpresa e, portanto, não terá comprometido sua harmonia e confiança no terapeuta. também provável que tal antecipação venha a auxiliar o paciente a controlar a intensidade do sintoma se este reaparecer. Se o terapeuta insinuou que a doença está completamente curada e se ocorrer reaparecimento de Sintoma, o paciente pode perder a confiança e experimentar crescente preocupação de que todos os seus distúrbios esto retornando. Contato após o término Nos meses imediatamente posteriores ao término, o paciente pode procurar novamente o terapeuta, pedindo para recomeçar o tratamento. Se a terapia anterior foi de apoio e o terapeuta afirmou que estaria disponível quando necessário, é essencial que receba o paciente o mais rápido possível, ainda que lhe seja inconveniente. A imediata disponibilidade do terapeuta em ocasiões de necessidade ou crise é um aspecto extremamente importante da transferência continuada e permite ao paciente manter a sensação de continuidade e segurança que tal relação proporciona. Permite, também,ao paciente fazer uso imediato e breve da relaço, sendo às vezes recebido somente para umas poucas sessões. Uma vez cessada a crise imediata, o paciente pode interromper, novamente, seu tratamento. Se houver dificuldade ou longa demora para reassumir contato ativo com o terapeuta, o paciente pode relutar em nova interrupção do tratamento, com receio de ter, outra vez, problemas ao retornar em outra ocasião. Muitos pacientes podem pôr à prova o terapeuta e sua promessa de vê-los novamente, se necessário. Assim, se houver longa protelaçâo, este terá fracassado na prova. Além disso, se o paciente verbaliza necessidade ou desejo de ver o terapeuta novamente e é frustrado, existe forte possibilidade de que a harmonia e a transferência, anteriormente positivas, tornem-se mais ambivalentes ou negativas e os benefícios obtidos do tratamento poderão ser colocados em risco. No tratamento dirigido ao insight, no entanto, o terapeuta deverá ser mais cauteloso se o paciente pedir para retornar à terapia. Sua posição deverá ser de disponibilidade para reavaijar a situação presente, porém qualquer deciso de reassumjr contatos terapêuticos regulares deverá esperar pelo resultado da avaliação. O terapeuta deve estar atento à possibilidade de uma reação ao encerramento. O pedido do paciente para prosseguir com a terapia pode representar manifestação de desejos transferenciais regressivos e, também, suas reações iniciais às inevitáveis frustrações da vida adulta e independente. 303 Se houver consentimento imediato em reassumir a terapia regular, talvez esteja havendo favorecimento dessa re- gressão, o que poderá ser interpretado pelo paciente como indicação de que o terapeuta acredita ser ele ainda imaturo e incapaz de lidar com seus próprios problemas. Muitas vezes, após a avaliação, é mais conveniente sugerir que o paciente continue com seus esforços para atuar independentemente e consolidar os benefícios terapêuticos anteriores, pelo menos por alguns meses. Durante esse intervalo, com freqüência um paciente pode fazer progresso significativo na consolidação de seu conhecimento dos novos padrões de adaptação e integração desenvolvidos. Outrossim, se contar com esse intervalo para lutar com seus problemas residuais, a motivação se tornará mais clara e transparente, caso haja eventual necessidade de reassumir terapia regular. Se, por outro lado, recomeçar imediatamente o tratamento e sua ansiedade ou sintoma diminuírem com o retorno ao objeto de transferência, será difícil avaliar sua motivação, que, talvez, se dirija mais para o alívio imediato dos sintomas do que à compreensão e entendimento básicos. Se o paciente dispôs de um intervalo de seis ou nove meses, durante os quais persistiram os sintomas e a dificuldade, talvez sua motivação esteja mais fortalecida para elaborar os conflitos básicos de maneira definitiva. Freqüentemente, em tal situação, o paciente aproveita mais ao retornar à terapia, já que, por experiência própria,ficou demonstrada a inconstância das melhoras baseadas, principalmente, na relação transferencial. Neste caso, a posição do terapeuta é análoga à do pai cujo filho, adulto, deixou recentemente o lar para estabelecer-se por conta própria. Se este, ao enfrentar as inevitáveis frustrações e dificuldades da vida independente e adulta, imediatamente desiste e quer retornar à casa paterna, será para o seu próprio bem que o pai não lhe permita. Este pode encorajá-lo a voltar e enfrentar os problemas, sabedor da preocupação de seus pais por seu bem-estar, porém reconhecendo que deve se tornar independente e amadurecer. Contratransferência O terapeuta deve estar alerta à possibilidade de respostas contratransferenciais influenciarem suas decisões e inter- venções acerca dos problemas do término, podendo dificultar a exploração e o manejo eficaz dos problemas especiais envolvidos. O terapeuta deve renunciar aos laços que o unem ao paciente e dispor- se a conhecer e resolver quaisquer sentimentos que tenha a esse respeito. Deve ser capaz de tolerar os vários fenômenos transferenciais descritos anteriormente, sem permitir que o paciente fuja à dor e à elaboração do luto. Tais reações contratransferencjais, como uma ligação excessiva ao paciente, medo de provocar304 lhe frustração, excesso de ambiço terapêutica ou superidentificação com o paciente, podem levar o terapeuta a prolongar a relação terapêutica, tendo dificuldade em estabelecer e levar a cabo um término efetivo. Provavelmente, o efeito mais comum da contratransferência esteja na criação de pontos cegos, de modo que o terapeuta não reconheça as reações de termino do paciente. Muitos terapeutas esquivam-se inteiramente do problema, deixando que o tratamento se termine gradualmente, sem fase final definida ou então pelo aviso ou permissão de rápido término, sem tempo de explorar as reações do paciente. Nos casos de término forçado pelo terapeuta, os problemas são freqüentemente evitados pela transferência automática do paciente a outro terapeuta. Fatores contratransferenciais opostos aos já citados podem, também, forçar um término prematuro. Implicam pouca ambição terapêutica, desejos inconscientes de provar que a terapia eficaz pode ser breve, antipatia pelo paciente, relutância em envolver-se em relação de longa duração, sentimento de a terapia de apoio continuada não ter valor, etc. Como acontece geralmente com a contra- transferência, tais reações não reconhecidas pelo terapeuta tendem a provocar efeito adverso no resultado final do tratamento. Resumo O término da psicoterapia é, de muitas maneiras, dinamicamente semelhante ao estágio de desenvolvimento normal do final da adolescência. O adolescente está muito implicado em problemas de dependência e independência, personalidade e identidade e os conflitos entre os desafios do mundo real, à sua frente, quando comparados com as satisfações regressivas da infância já deixada para trás. Este é estágio de desenvolvimento pelo qual deve passar o indivíduo normal para adquirir completa maturidade adulta. À medida que esses conflitos e problemas adolescentes deixam de ser resolvidos durante o desenvolvimento, o indivíduo pode sofrer perturbação e inibição posteriores do ótimo de atuação, continuação de conflitos ou fixações pertencentes a épocas anteriores. Assim, o paciente em psicoterapia também precisa passar por essa fase de término e, em qualquer grau possível, manifestar e resolver os conflitos que são ocasionados, a fim de, em seu nível de ajustamento, poder alcançar o grau de maturidade e desenvolvimento do qual seja capaz. É dever do terapeuta (análogo ao dever do bom pai), auxiliar o paciente a conviver com os vários conflitos e ansiedades envolvidos no término e, apesar do desejo do paciente de evitar o desconforto ou a dor que produzem, ajudá-lo a passar por esse estágio de desenvolvimento e, daí, para o mundo além. 305