Artigo 10 - Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço

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Artigo Original
Evolução dos angiossarcomas da cabeça e pescoço
Terence Pires de Farias1
Marcus Vinicius Menegasse Câmara2
Fernando Luiz Dias3
Pedro Collares Maia Filho2
Leonardo Guimarães Rangel2
Bernardo Cacciari Peryassu2
Rodrigo Maia da Costa2
Head and neck angiosarcomas evolution
RESUMO
Introdução: Os angiossarcomas são tumores raros e agressivos
da cabeça e pescoço. Surgem freqüentemente no couro cabeludo
de homens idosos e em estádio avançado. Objetivo: Descrever as
variáveis epidemiológicas dos casos de angiossarcoma, tratados
no INCA, bem como os fatores preditivos com na evolução da
doença. Métodos: Análise retrospectiva dos prontuários dos
pacientes portadores de angiossarcoma tratados no INCA entre
janeiro de 1996 e janeiro de 2006. Foram comparadas variáveis
epidemiológicas desses tumores com os outros sarcomas de
partes moles de cabeça e pescoço (SCP) e análise de fatores
prognósticos daqueles. Resultados: Os angiossarcomas
corresponderam a 21,1% (23 casos) dos SCP. Acometeram
indivíduos com mais de 65 anos em 69,6%, homens em 61%,
originaram-se no couro cabeludo em 73,9% e estadio avançado
em 66,6%. A recidiva regional foi mais freqüente que os outros SCP
(p= 0,03). Fatores de mau prognóstico foram o estadio avançado
(p= 0,02), invasão de pele (p= 0,0003) e músculo (p=0,0002). A
cirurgia foi o fator que aumentou a sobrevida global (p= 0,003).
Essa foi de 14,6%. Conclusão: O angiossarcoma foi o subtipo
histológico mais comum dos SCP. Acometeu mais freqüentemente
os homens e idosos e com uma péssima sobrevida global. Os
principais fatores preditivos de um desfecho ruim são: estádio
avançado à apresentação, invasão de pele e músculo. A cirurgia
mostrou-se fundamental no aumento da sobrevida desses
pacientes.
ABSTRACT
Introduction: Angiossarcomas are rare aggressive tumors of head
and neck. They appear frequently in the scalp of old men and in
advanced stage. Objective: To describe the epidemiologic
characteristics of the cases of angiosarcoma treated in INCA as
well as the predictive factors that had impact in the evolution of the
illness. Methods: Retrospective analysis of patients data records
with angiosarcoma treated in the INCA between January, 1996 and
January, 2006. The angiosarcoma epidemiologic characteristics
had being compared with the others head and neck soft tissue
sarcomas (HNS) and the angiosarcoma prognostic factors have
being studied. Results: Angiossarcomas corresponded 21.1% (23
cases) of the HNS. They occurred in patients older than 65 years in
69.6%, men in 61%, originated in scalp in 73.9% and presented at
advanced stage in 66.6%. The regional recurrence were more
frequent than other HNS (p=0.03). The poor prognostic factors
were the advanced stage (p=0.02), skin (p=0.0003) and muscle
invasion (p=0.0002). The surgery was the factor that increased the
overall survival (OS). The OS was 14.6%. Conclusion:
Angiossarcoma was the most common histological subtype of the
HNS occurring more frequently in older men and had poor
prognosis. The main predictive factors of a bad outcome are: the
advanced stage in the presentation, the invasion of skin and
muscle. The surgery had an important role in increasing the survival
of those patients.
Key words: Angiosarcoma. Head and Neck Neoplasms. Sarcoma.
Descritores: Angiossarcoma. Neoplasias de Cabeça e Pescoço.
Sarcoma.
INTRODUÇÃO
Os sarcomas de partes moles correspondem a menos que 1%
das neoplasias malignas, dos quais 5 a 15% ocorrem na
cabeça e pescoço1. Os angiossarcomas representam 0,1% de
todas as neoplasias desse sítio2. De um terço a metade de
todos os casos de angiossarcomas cutâneos incide na cabeça
e pescoço2,3. Os subsítios mais comuns são couro cabeludo e
metade superior da face4-6. Grandes revisões demonstraram
que os angiossarcomas acometem mais comumente homens,
caucasianos e em torno da sétima ou oitava décadas de vida3-8.
Apesar de o fator etiológico do angiossarcoma ser
desconhecido, a exposição solar foi proposta como fator de
risco devido à baixa incidência desse tumor nos indivíduos
melanocíticos10. Entretanto, alguns autores discordam dessa
idéia porque os indivíduos afetados apresentam baixa
incidência de carcinomas de pele7. História de trauma também
foi associada ao diagnóstico de angiossarcoma8, contudo, essa
1) Mestre em Oncologia – INCA/MS/RJ. Titular da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Coordenador da Residência Médica de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no INCA/MS/RJ.
Professor em Cirurgia de Cabeça e Pescoço pela Pontifícia Universidade Católica PUC, Rio de Janeiro, RJ.
2) Médico Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do INCA – MS – RJ.
3) Doutor em Medicina pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Chefe da Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço no INCA/MS/RJ.
Professor Coordenador do Curso de Pós-graduação em Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Pontifícia Universidade Católica PUC, Rio de Janeiro, RJ.
Instituição: Seção de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Instituto Nacional de Câncer INCA/MS/RJ e Curso de Pós-Graduação em Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Correspondência: Terence Farias, Rua Ministro Arthur Ribeiro 98/503 – Rio de Janeiro, RJ. E-mail: [email protected]
Recebido em: 07/10/2007; aceito para publicação em: 28/02/2008; publicado on-line em: 15/05/2008.
Conflito de interesse: nenhum. Fonte de fomento: nenhuma.
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Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 37, nº 2, p. 104 - 108, abril / maio / junho 2008
relação pode ser meramente casual3,5. O fator de risco para
angiossarcoma de cabeça e pescoço mais comumente
demonstrado é a história de irradiação prévia6,7,9. Fatores de
risco para desenvolvimento em outros subsítios, como
exposição ao vinyl, piotórax, óxido de thorium e a presença de
linfedema, não foram claramente implicados a lesões de
cabeça e pescoço10.
O paciente com angiossarcoma de cabeça e pescoço pode
apresentar-se com alopecia, rinofima rosácea, mancha
avermelhada assintomática, nódulos ou placas violáceos,
edema crônico, celulite ou ulceração cutânea, que é a
apresentação mais comum na série de Lydiatt et al.7. Doença
multifocal, clinicamente óbvia ou não, também é uma
apresentação desse tumor, relatada até em 32,1%6.
Metástases cervicais geralmente são incomuns no exame
inicial, assim como metástases à distância, apesar de um terço
dos pacientes desenvolvê-las e frequentemente são para o
pulmão7.
O diagnóstico histopatológico do angiossarcoma é difícil,
mesmo para patologistas experientes, tanto pela sua raridade,
quanto por sua histologia complexa3. Pode ser agrupado
macroscopicamente em nodular, ulcerativo ou macular.
Histologicamente, os tumores contêm uma proliferação de
canais vasculares ramificados e anastomóticos que dissecam
estruturas vizinhas. As células podem ser alongadas,
epitelióides ou poligonais e o tumor classificado em baixo ou
alto grau dependendo da sua celularidade, pleomorfismo e
atividade mitótica11. Necrose é um achado comum11.
Marcadores imunoistoquímicos úteis ao diagnóstico são
antígeno fator VIII, Ulex europaeus, laminina, CD 31 e CD 343,11.
O tratamento ideal para o angiossarcoma em cabeça e
pescoço ainda não foi completamente estabelecido. Para
doença avançada, historicamente é defendida a excisão
radical. Somente cirurgia ou radioterapia associada ou não à
quimioterapia apresentam resultados similares. Reportou-se
que apenas 2 de 19 pacientes (10,5%) que receberam uma
única modalidade de tratamento estavam sem evidência de
doença no momento de sua revisão e todos os 19
apresentaram falência do controle local6.
O controle cirúrgico freqüentemente é pobre, devido à
multifocalidade do angiossarcoma e à ausência de correlação
clínica com as margens patológicas. Em uma pequena série,
observou-se bom controle local com a cirurgia de Mohs
associada à biópsia por punch para mapeamento tumoral,
seguida de radioterapia externa12.
A falência da radioterapia no controle local pode ser atribuída à
subestimação da extensão periférica da doença. Alguns
autores advogam irradiação total do couro cabeludo4,6. Os
cirurgiões do Centro de Câncer MD Anderson, em Houston,
reportaram o uso de ressecção cirúrgica limitada, seguida por
radioterapia em campo alargado para doença focal e
ressecção radical mais radioterapia associada ou não à
quimioterapia para doença avançada4. Apesar dos pobres
resultados gerais, eles observaram diferença estatisticamente
significativa na taxa de controle loco-regional em cinco anos
quando a ressecção macroscópica do tumor foi possível antes
do tratamento com radioterapia (40 vs. 24%)4. Além do mais,
muitos autores advogam a radioterapia pós-operatória a
despeito das margens cirúrgicas negativas4,6.
Avanços definitivos na terapia sistêmica foram lentos de
desenvolvereem-se. Devido à baixa incidência de metástases
cervicais, o tratamento eletivo dos linfonodos cervicais não é
recomendado7. Paclitaxel como agente único parece ser útil
para angiossarcomas de couro cabeludo e face13. Radioterapia
radical combinada à imunoterapia com interleucina- 2
recombinante (rIL-2) foi recomendada para lesões nodulares
menores que 5cm, em parte porque a administração de altas
doses de rIL-2 pode suprimir o desenvolvimento de metástases
à distancia8. O consenso atual é a utilização de um tratamento
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combinado, incluindo excisão da doença com margens
negativas, se possível, mais radioterapia associada ou não à
quimioterapia10.
Existe uma correlação clara entre o prognóstico e o tamanho ou
estágio de um angiossarcoma2,5,6. Sangramento, dor e lesões
maiores que 5cm são preditores de um desfecho ruim2,7. Todos
os pacientes de uma série cujo tumor era cirurgicamente
irressecável e/ou maiores que 10cm faleceram pela doença7.
Os resultados da maioria das séries indicaram que nem o
padrão clínico do tumor nem o seu grau foram preditivos de
recorrência local ou sobrevida5,7. No entanto, um estudo indicou
que a sobrevida em longo prazo pode estar positivamente
relacionada com a morfologia nodular, enquanto a
apresentação endofítica foi uniformemente fatal em dois anos8.
Doença recidivada também confere prognóstico sombrio6,8.
Apresentamos a experiência do Instituto Nacional de Câncer
(INCA) no manejo e evolução dos pacientes portadores de
angiossarcoma de cabeça e pescoço matriculados de janeiro
de 1996 a janeiro de 2006. O objetivo é descrever as variáveis
epidemiológicas dos casos de angiossarcoma, bem como os
fatores preditivos com impacto na evolução da doença.
MÉTODOS
Foi realizado um estudo retrospectivo uni-institucional, através
da análise dos prontuários de pacientes matriculados no INCA
entre janeiro de 1996 e janeiro de 2006, com diagnóstico
histopatológico de angiossarcoma de cabeça e pescoço,
confirmado pelo setor de Patologia da instituição por análise
imunoistoquímica. Os prontuários foram analisados para coleta
dos seguintes dados: idade do paciente, grau histológico,
tratamentos empregados e evolução da doença. Comparamos
os casos de angiossarcomas com os outros sarcomas de partes
moles em cabeça e pescoço não angiossarcoma, a saber,
sarcoma alveolar, epitelióide, fibrossarcoma, lipossarcoma,
sinoviossarcoma, dermatofibrossarcoma, leiomiossarcoma,
rabdomiossarcoma alveolar, rabdomiossarcoma embrionário,
neurofibrossarcoma, schwanoma maligno, fibrohistiocitoma,
sarcoma sem outras especificações (SOE) e rabdomiossarcoma SOE tratados no mesmo período de tempo.
A análise estatística dos dados foi feita com o programa SPSS
10.0. Para análise univariada, utilizou-se o teste de x2,
considerando p significativo quando menor que 0,05. Foram
utilizados o teste de Kaplan-Meier para o cálculo da sobrevida
global e o teste Log Rank para o estudo das diferenças entre as
curvas de sobrevida. O protocolo de pesquisa descrito foi
avaliado e aprovado pelo Comitê de Ética do INCA.
RESULTADOS
Foi analisado um total de 148 prontuários de pacientes
portadores de sarcomas de partes moles em cabeça e pescoço
(SCP). Desses, 109 eram adultos e 23 casos de
angiossarcoma, o que representou 21,1% dos SCP em adultos.
Em nossa casuística, nenhum paciente menor que 18 anos de
idade era portador de angiossarcoma (p = 0,002), portanto,
quando um paciente menor de 18 anos é acometido por um
SCP, é muito pouco provável que se trate de um caso de
angiossarcoma. A idade média dos pacientes acometidos por
essa neoplasia foi de 67 anos (33 a 85anos – gráfico1). Dos
pacientes portadores desse tumor, 16 (69,6%) tinham mais que
65 anos contra 20 (23,3%) dos outros SCP. Essa diferença foi
altamente significativa (p < 0,0001), confirmando a maior
incidência do angiossarcoma na população idosa (tabela 2).
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Gráfico – Distribuição etária dos casos de angiossarcomas tratados
no INCA.
Essa neoplasia foi mais prevalente nos homens. Quatorze dos
23 casos de angiossarcoma eram do gênero masculino
(relação homem:mulher = 1,5). O sítio primário mais incidente
foi o couro cabeludo com 73,9%. Houve um caso em seio
maxilar, um em cavidade oral, um em órbita, dois em nariz e um
em mandíbula (gráfico 2).
A presença de alto grau histológico não diferiu entre os
angiossarcomas e os outros SCP (66,7 x 42,5% com p= 0,11;
tabela 2), todavia, estádio avançado (III e IV) à admissão
mostrou uma tendência a ser mais freqüente nos
angiossarcoma em relação aos outros SCP (66,7 x 40,8% com
p= 0,07; tabela 2).
Observamos diferença estatisticamente significante (p= 0,03)
dos angiossarcomas progredirem para metástase linfonodal
(42,9%) frente aos outros SCP (16,3%), assim como a recidiva
regional dos angiossarcomas foi maior (14,3 x 2,7% com p=
0,03; tabela 2). A recidiva geral dos angiossarcomas em nossa
série foi de 38,1%, 14,3% de recidiva local e 14,3% de recidiva à
distância (tabela 2), não havendo diferença com as taxas de
recidiva dos outros SCP.
Ao analisar o tratamento efetuado, podemos observar que a
cirurgia associada à radioterapia foi o mais empregado tanto
para os angiossarcomas (47,1%) quanto para os outros SCP
(47,1%) e não houve diferença significante (p= 0,89) quanto à
modalidade de tratamento empregado (tabela 2).
A sobrevida global dos pacientes portadores de angiossarcoma
de cabeça e pescoço foi de 14,6% (média, 23 meses). A análise
dos fatores prognósticos dos angiossarcomas, está
discriminada na tabela 3.
Tabela 2. Dados epidemiológicos dos angiossarcomas de cabeça e
pescoço comparados aos outros SCP tratados no INCA.
Gráfico 2 – Distribuição por sítio primário dos angiossarcomas tratados
no INCA.
Com relação ao TNM inicial desses pacientes, T1 e T2
representaram respectivamente 26,3 e 73,7%. Quanto ao
estadiamento dos linfonodos regionais, 88,9% eram N0
enquanto 11,1% eram N1. Nenhum caso apresentava
metástases à distância na avaliação inicial. Quanto ao estádio
clínico, 26,7% estádio I, 6,7% estádio 2, 53,3% estádio III e
13,3% estádio IV (tabela 1). Estádio clínico avançado (III e IV)
foi observado em 10 pacientes (66,6%). Logo, o perfil
epidemiológico dos portadores de angiossarcomas tratados no
INCA foi de um paciente idoso com angiossarcoma
acometendo o couro cabeludo e em estádio avançado.
Tabela 1 – TNM e estádio clínico dos angiossarcomas de cabeça e
pescoço tratados no INCA.
SCP: sarcomas de cabeça e pescoço; N+: linfonodo clinicamente
positivo; M+: Metástase clínica; pN+: Metástase linfonodal positiva no
exame histopatológico; SG: Sobrevida Global; NE: Não estudado; RXT:
Radioterapia; QT: Quimioterapia.
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Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 37, nº 2, p. 104 - 108, abril / maio / junho 2008
Tabela 3 – Fatores preditivos da sobrevida global e sobrevida livre de
doença em pacientes com angiossarcoma de cabeça e pescoço
tratados no INCA.
cirurgia no manejo desse tumor. No entanto, quando se
compara o tipo de tratamento efetuado, não se observa
diferença estatisticamente significante desses índices entre os
pacientes que foram submetidos ao tratamento cirúrgico
exclusivo, cirurgia mais radioterapia adjuvante e quimioterapia
mais radioterapia, sendo que a segunda modalidade de
tratamento foi a mais freqüentemente utilizada em nosso
serviço (47,1% – tabela 2). O esvaziamento cervical quando
realizado não foi um fator significativo no aumento da SG e SLD
– tabela 3.
Quanto à recidiva do angiossarcoma, notamos pela tabela 3
que a recidiva local e à distância não interferiram na SG, mas a
recidiva regional, como era de se esperar, teve um importante
impacto na diminuição da SLD (p = 0,001 – tabela 3).
DISCUSSÃO
Apesar de a maioria dos nossos casos de angiossarcomas
serem pacientes idosos, a idade maior de 65 anos não foi um
fator que influenciou negativamente na SG e SLD (p= 0,75, Log
Rank = 1,1 – tabela 3). Também não houve diferença desses
indicadores entre os gêneros (tabela 3).
Estádio clínico avançado no momento do diagnóstico (p= 0,02,
Log Rank = 5,3) foi um fator de mal prognóstico, assim como
invasão de pele e músculo (p = 0,0003; Log Rank = 13,15 e p=
0,0002; LK= 13,16 respectivamente – tabela 3). Esse
comportamento já era previsto, uma vez que dois terços dos
pacientes foram admitidos para o tratamento em nossa
instituição com a doença em estádio avançado (tabela 2) e, em
73,9% dos casos, o sítio primário foi o couro cabeludo (gráfico
3), logo, um tumor que se originou na pele desse local.
O diagnóstico histopatológico de angiossarcoma de alto grau
foi uma variável com uma tendência estatística (p= 0,05; Log
Rank = 3,63 – tabela 3) de impacto negativo na SG. Entretanto,
essa variável influencia no estadiamento do tumor e, como
visto, o estádio clínico avançado influencia negativamente a
SG.
Quando se analisa o fator realização ou não de cirurgia,
observa-se que os pacientes que foram operados tiveram
maior SG (p= 0,003; Log Rank = 8,4 – tabela 3) quando
comparados com os que não foram operados. Além do mais, as
margens cirúrgicas quando livres, apesar de não influenciarem
na SG (p= 0,37) foram de fator melhora da SLD (p= 0,04; Log
Rank = 4,1 – tabela 3). Esses dados mostram o papel central da
Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 37, nº 2, p. 104 - 108, abril / maio / junho 2008
A casuística do INCA foi de 148 casos de sarcomas de partes
moles de cabeça e pescoço foi levantada em um período de 10
anos. Trata-se de uma das mais numerosas nesse espaço de
tempo, quando comparado com a literatura15. Conforme
citado15, Wanebo relatou 214 casos em oito anos, Dudhat 72 em
14 anos e Le Vay 52 em oito anos. Relatos com número de
casos maiores que 100 como os de Weber, Farhood e Tran,
foram levantados em períodos maiores como 22, 45 e 43 anos,
respectivamente15. Em nossa série, levando-se em conta a
população maior de 18 anos, o angiossarcoma foi o tipo
histológico mais comum (21,1%), seguindo a tendência de
outras séries, como a de Sturgis e Potter1, do MD Anderson,
onde foi o segundo tipo histológico mais comum em 11,2%. Na
casuística de Bentz et al., do Memorial Sloan-Kettering,
também foi o segundo mais comum com 16,14 % dos SCP15.
Não tivemos nenhum caso de angiossarcoma de cabeça e
pescoço em pacientes menores de 18 anos. Quando
comparamos com os outros SCP estudados, constatamos uma
diferença estatisticamente significativa (p= 0,002) entre os
angiossarcomas e outros SCP quanto à incidência em
indivíduos menores de 18 anos. Patel et al.14 também não
descreve incidência de angiossarcoma de cabeça e pescoço
em paciente pediátrico nem menores que 40 anos. Assim como
Bentz et al.15, em nossa série a idade do paciente não foi um
fator prognóstico.
Observamos uma maior incidência em pacientes masculinos,
assim como em outros relatos1,3-8,14. Não foi observada influência
do gênero no prognóstico dos pacientes tratados em nossa
instituição, diferente de McIntosh e Narayan, que referiram pior
SG nos pacientes femininos de sua série16. Não pudemos
analisar a incidência pela etnia, pois nossa população é
grandemente miscigenada e não obtivemos esse dado com
precisão.
O sítio primário mais comumente observado foi o couro
cabeludo em 73,9 %, como classicamente descrito pela
literatura1-16. Na casuística do MD Anderson, é descrito uma
incidência de 85,5% nesse sítio, 4,4% no trato sino-nasal, 7,7 %
no pescoço e parótida e 2,4 % no trato aéreo digestivo alto,
orelha e base de crânio. O alto grau histológico e a
apresentação clínica em estádio avançado também foram
fatores comuns às outras casuísticas publicadas sobre esse
assunto1,4-6,14. Conforme descrito1,14, observamos que o alto grau
histológico não foi um fator de mau prognóstico. Isso se deve ao
fato de a maioria dos angiossarcomas serem de alto grau.
Assim como relatado2,5,6, constatamos a importância do estádio
clínico avançado como fator de prognóstico ruim (p= 0,02).
Em nossa casuística, a modalidade de tratamento mais
efetuada foi a cirurgia associada à radioterapia adjuvante
(47,1%), seguida a cirurgia isolada (35,3%). Brandon et al.
relataram tratamento com cirurgia isolada em 42% e cirurgia
associada à radioterapia em 27%. Demonstramos que a
cirurgia é um fator de impacto positivo na SG (p= 0,003). A
cirurgia foi referida como pilar central no tratamento dessa
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neoplasia, mas sem especificação do grau de evidência dessa
informação1,14.Tendo em vista esses dados e a natureza
infiltrativa, multicêntrica e recidivante do angiossarcoma,
mantemos a recomendação de Strugis e Potter e Patel et al. de
que o tratamento ideal é a cirurgia associada à radioterapia,
onde os primeiros relataram SG de 43% e os outros, melhora
do controle local e SG com essa modalidade. Em nosso estudo,
não demonstramos diferença de melhora da SG e SLD entre o
tratamento cirúrgico versus cirurgia associada à radioterapia
(tabela 3). Salientamos a importância da ressecção com
margens livres na SLD (p= 0,04). Embora se tenha
demonstrado aumento de SG com a ressecção completa14, em
nossa série não observamos isso (p= 0,37).
Em nossa casuística, houve progressão do angiossarcoma
para metástase cervical significativamente mais freqüente que
os outros SCP (42,9 x 16,3%, p = 0,03; tabela 2), assim como
apresentaram recidiva regional maior (14,3 x 2,7% p = 0,03;
tabela 2). Referiu-se presença de metástase cervical em 10%1
e 10 a 15%14. Em nossa série, observamos que 11% dos
angiossarcomas apresentaram linfonodos positivos à
admissão. Contudo, não observamos impacto na SG quando
os linfonodos estão patologicamente positivos quando
ressecados (p = 0,31; tabela 3) nem quando progrediram para
positivos. O esvaziamento cervical, quando realizado, não
trouxe benefício na SG (p = 0,13) e, aparentemente, quando
não realizado, foi um fator com uma tendência estatística (p =
0,06) de melhora da SLD. Esse achado, aparentemente
contraditório, pode ser devido ao fato de que o esvaziamento
cervical não foi realizado nos pacientes cujo angiossarcoma foi
primário de outro subsítio que não o couro cabeludo e esses
pacientes, em geral, apresentaram sobrevida maior que os
primeiros, em concordância com Patel et al. que reportaram
menor agressividade do angiossarcoma quando incidindo nos
sítios da face comparado ao que incide no couro cabeludo14.
Também levamos em consideração o fato de que o paciente
que é submetido ao esvaziamento cervical ou é o paciente com
metástase regional ou é aquele submetido a acesso para
reconstrução microcirúrgica, portanto apresenta estádio
avançado ou pela metástase ou pelo tamanho do tumor cuja
ressecção foi reconstruída com retalho livre. Essas razões
explicam a pior evolução dos pacientes submetidos ao
esvaziamento cervical em comparação aos que não foram
submetidos a esse procedimento. Portanto, mantemos a
indicação da dissecção do pescoço quando esse for
clinicamente positivo1,7,14.
Constatamos que a invasão cutânea e invasão muscular foram
fatores fortemente associados a um prognóstico ruim nos
angiossarcomas de cabeça e pescoço (p= 0,0003 e 0,0002,
respectivamente). Não encontramos relato semelhante nos
trabalhos publicados sobre esse assunto, especificamente no
caso desse tipo histológico.
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CONCLUSÃO
Os angiossarcomas são tumores raros e agressivos, incidem
mais freqüentemente em homens, idosos e no couro cabeludo.
Foi o subtipo histológico de sarcoma de partes moles em
cabeça e pescoço mais freqüente e com sobrevida global
14,6%. Os principais fatores preditivos de um prognóstico ruim
são: o estádio avançado na apresentação, a invasão de pele e
músculo. A cirurgia mostrou-se fundamental no aumento da
sobrevida desses pacientes.
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Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v. 37, nº 2, p. 104 - 108, abril / maio / junho 2008
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