original / originals O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná The patients’ knowledge about the aftermath of a bariatric surgery in a city in Southwestern Paraná Resumo O presente trabalho teve como objetivo verificar o conhecimento sobre os benefícios, riscos e cuidados pós-operatórios dos pacientes submetidos a cirurgia bariátrica que residem no município de Realeza, Paraná. Assim, foi realizado um estudo de base populacional qualitativo e de campo com abordagem descritiva, no qual dez pacientes que haviam se submetido a cirurgia bariátrica responderam a um questionário que investigou seu conhecimento sobre os benefícios, riscos e cuidados pós-operatórios desta cirurgia. O questionário contemplou questões objetivas e discursivas. Os pacientes entrevistados foram questionados sobre o conhecimento que possuíam sobre os riscos da cirurgia bariátrica no pós-operatório (questão 8), seus benefícios (questão 9) e as dificuldades que tiverem nesse período com a readaptação alimentar (questão 10). As respostas dos pacientes foram transcritas, constituindo categorias e produzindo, assim, os resultados do trabalho. Observaram-se divergências nas respostas. Alguns entrevistados possuíam informações sobre os riscos imediatos que a cirurgia bariátrica poderia ocasionar. No entanto, a maioria deles não tinha conhecimento das doenças e síndromes que esse processo pode promover no longo prazo. Quanto aos benefícios, os entrevistados destacam os estéticos, a qualidade de vida e a melhora da autoestima. Sobre as dificuldades na readaptação alimentar, relatam a ingestão de apenas líquidos nos primeiros quarenta dias e a dificuldade de acostumarem-se a comer pouco, pois os excessos geram vômitos e diarreia. Outros pacientes relataram não conseguir se alimentar com determinados tipos de alimentos, mesmo depois de anos. E, de forma contrária, há os que disseram não ter tido dificuldades com a readaptação alimentar. De modo geral, os pacientes relatam que os benefícios superam as adversidades e não se arrependem de terem realizado a cirurgia bariátrica. Palavras-chave: cirurgia bariátrica, riscos, benefícios pósoperatório. Elizandra Pivotti Universidade Paranaense – Unipar Ronaldo de Almeida Pereira Universidade Paranaense – Unipar Sáude em Revista Abstract The objective of this work was to study bariatric surgery patients living in the city of Realeza (state of Parana, Brazil), and check their knowledge of the surgery’s benefits, risks, and post-operative care. Thus, a population-based qualitative and field study was conducted with a descriptive approach. Ten patients who had undergone bariatric sur- O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná 3 Tathiany Resende de Moura et al. gery answered a questionnaire investigating their knowledge about the surgery’s benefits, risks and post-operative care. The questionnaire included objective and discursive questions. The interviewed patients were asked about the knowledge they had about the risks of bariatric surgery in the postoperative period (question 8), the benefits (question 9) and the difficulties they had in adjusting to new food habits (question 10). The patients’ responses were transcribed and categorized, leading to the study’s results. We observed differences in the responses. Some respondents were aware of the immediate risks that bariatric surgery might cause. However, most of them had no knowledge of the diseases and syndromes that this process can promote in the long term. As to the benefits, the interviewees highlight the aesthetic, the quality of life, and the improvement of self-esteem. On the difficulties in changing food habits, they reported the ingestion of liquids only within the first 45 days and the difficulty in getting used to eating small portions, because large ones caused vomiting and diarrhea. Other patients reported not being able to eat certain types of food, even after years. And, conversely, there are those who said they had no difficulties in changing food habits. In general, patients report that the benefits outweigh the adversities and they do not regret having done bariatric surgery. Keywords: bariatric surgery, risks, post-surgery benefits. Introdução A obesidade é considerada uma doença crônica. Em alguns casos, as mudanças alimentares e a prática de atividades físicas já não são suficientes para controlar a doença. Nestas situações, apenas uma intervenção médica mais efetiva, como a cirurgia bariátrica (cirurgia para redução do tamanho do estômago), pode resolver o problema. As pessoas nessa situação normalmente apresentam índice de massa corporal (IMC1*) com valores superiores a 40 kg/m².1 A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a obesidade uma epidemia que afeta mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo. Nos Estados Unidos, 60% dos homens e 51% das mulheres têm sobrepeso ou obesidade, sendo 30% com IMC maior que 30 e 5% mórbidos (IMC > 40).2 Segundo pesquisa realizada pela Vigitel Brasil,3 cerca de 48% da população brasileira está acima do peso (IMC > 25kg/m2) e cerca de 15% são é obesa (IMC > 30kg/m2). Significativos avanços têm sido alcançados no tratamento farmacológico da obesi 1 4 Índice de massa corporal: IMC = (massa)/(altura)2, sendo a massa em quilogramas e a altura em metros. dade mórbida, no entanto, a cirurgia bariátrica é considerada mais eficaz para esses pacientes e é capaz de resolver boa parte das comorbidades causadas pela obesidade. Nos últimos anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) estabeleceu critérios, indicações e financiamentos para cirurgias bariátricas em centros credenciados (Resolução 1.766/2005). Os principais critérios estabelecidos para indicação de cirurgia bariátrica são: IMC > 40 kg/m2 ou com IMC ≥ 35 kg/m2 quando associado a outras comorbidades; idade igual ou superior a 18 anos e histórico de obesidade superior a cinco anos. No entanto, além de enquadrar-se nesses critérios, o paciente não deve possuir doenças endócrinas específicas, transtorno mental (alcoolismo, dependência química), ou condições físico-clínicas que contraindiquem cirurgias de grande porte (cirrose, cardiopatia, pneumopatia, insuficiência renal crônica e outras).1 A cirurgia bariátrica pode ser realizada por meio de uma entre quatro opções de técnica cirúrgica. Atualmente são empregadas a redução e derivação gástrica em Y de Roux, bandagem gástrica vertical, bandagem gástrica ajustável por via laparoscópica e switch duodenal. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 14, n. 37, p. 3-13, maio-ago. 2014 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira Em razão do aumento na indicação de cirurgia bariátrica, tornou-se um desafio oferecer o suporte intensivo que esses pacientes necessitam. Neste cenário, conhecer as particularidades fisiopatológicas desses pacientes torna-se condição indispensável para seu manuseio clínico. Assim, o objetivo desta pesquisa foi verificar o conhecimento que os pacientes submetidos a cirurgia bariátrica, moradores de Realeza, Paraná, têm sobre os riscos e benefícios desse procedimento no período pós-operatório e como ocorreu a reeducação alimentar. Material e métodos O presente estudo é uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva, enquadrado em uma pesquisa bibliográfica e de campo, para um melhor embasamento teórico. Esta foi realizada por meio da aplicação de um questionário que investigou o conhecimento sobre os riscos e benefícios pós-cirúrgicos em pacientes que realizaram cirurgia bariátrica. As entrevistas foram efetuadas na residência de cada paciente, entre os meses de julho e setembro de 2013. As informações da residência dos pacientes foram adquiridas na unidade básica de saúde, no município de Realeza, Paraná. A cidade de Realeza fica localizada na região sudoeste do Paraná, apresenta uma área territorial de 353 km² e está a uma distância de 600 km da capital, Curitiba. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população do município no ano de 2010 era de 16.338 habitantes. No período 2000-2010, a taxa de crescimento populacional estimada em Re- Sáude em Revista aleza foi de 1,9%, com um índice de desenvolvimento humano municipal (IDH-M) de 0,783 no ano 2000, colocando o município na 56ª posição no estado do Paraná. A expectativa de vida era de 71,45 anos, o índice de alfabetização era de 89% e a taxa de pobreza era de 24,5% em 2011. Neste mesmo ano, a renda média per capita era de aproximadamente 241,70 reais. A presente pesquisa iniciou-se com um contato com o secretário de saúde do município de Realeza, quando se obteve a autorização para sua realização, esclarecendo os responsáveis sobre sua natureza e modo de condução. O presente projeto foi encaminhado à comissão de ética em pesquisa da Universidade Paranaense, de acordo com a resolução nº196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Após o consentimento livre e esclarecido, os entrevistados foram orientados a assinar o questionário sócio-demográfico, dando ciência de que foram orientados quanto à publicação de suas declarações. A população estudada era constituída por pessoas de ambos os sexos, com idades acima de 18 anos, que realizaram o procedimento de cirurgia bariátrica entre os anos de 2008 e 2013, e receberam encaminhamento médico na Unidade Básica de Saúde (UBS) no município de Realeza. Assim, dez pessoas que realizaram esse procedimento cirúrgico aceitaram livremente responder o questionário. Como instrumento de coleta de dados, utilizou-se um questionário composto por questões fechadas, que buscaram apontar o perfil socioeconômico dos pacientes que se submeteram à redução de estomago e questões discursivas (norteadoras) que buscaram verificar a orientação recebida O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná 5 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira pelos pacientes antes da cirurgia, o conhecimento quanto aos riscos e benefícios, o tipo de procedimento realizado e as mudanças que ocorreram em sua vida após a realização da cirurgia. Os dados do estudo foram coletados pela própria pesquisadora e apresentados em um contexto qualitativo. Os discursos e respostas dos participantes foram transcritos, permitindo uma leitura mais fluente, buscando itens de significação e impressões. Os dados socioeconômicos (idade, profissão, grau de instrução, renda familiar, estado civil, gênero, raça, escolaridade) foram tabulados e agrupados para melhor entendimento. Já as questões descritivas foram agrupadas de acordo com respostas similares, formando categorias, sendo as respostas transcritas do modo como o paciente relatou, para melhor análise do conhecimento do paciente e dificuldades que apresentaram no período pós-operatório. A identidade do paciente foi mantida em sigilo; assim, utilizou-se apenas a letra E (entrevistado) e um número indicando o paciente 1, 2, 3 e assim sucessivamente. Todas as informações foram obtidas de forma sigilosa e a confidencialidade dos dados foi resguardada. Resultados Em relação às características socioeconômicas e demográficas dos entrevistados, observa-se a predominância do sexo feminino, que corresponde a 90% do total. Sendo que 50% dos entrevistados relataram serem casados. Constata-se que a realização da cirurgia bariátrica prevaleceu em pacientes com faixa etária de 18 a 30 anos, sendo 90% de raça branca e 10% de raça parda. 6 Quanto à escolaridade, verifica-se que 70% dos entrevistados ingressaram no ensino superior, sendo que 50% do total já possuía ensino superior completo. Cerca de 40% dos entrevistados disseram possuir renda familiar mensal superior a três salários mínimos; outros 40% relataram renda familiar superior a cinco salários mínimos. Observa-se que a maioria dos entrevistados realizava alguma atividade profissional, sendo que 90% deles estavam empregados e apenas 10% estavam afastados por motivos de saúde. Profissões como técnico administrativo e vendedor prevaleceram entre os entrevistados, sendo que também foram citadas as profissões de professor, gerente financeiro, do lar e estudante. Esses dados estão representados na Tabela 1. Conhecimento dos pacientes sobre os riscos da cirurgia bariátrica no pós-operatório Ao perguntar sobre o conhecimento que possuíam sobre os riscos da cirurgia bariátrica no pós-operatório (questão 8), foram encontradas, nas respostas, três categorias: a primeira e mais citada refere-se aos riscos imediatos do pós-operatório, sem conhecimento de doenças e síndromes no longo prazo, o que é possível observar nos seguintes relatos: Sabia que se a gente não se cuidar pode abrir o estômago. (E. 1). Antes da operação, meu maior medo era com o momento cirúrgico, como anestesia, corte e dor. Mas no pós-operatório, todavia, o único risco que eu conhecia era sobre a cirurgia abrir, fazer hérnia, ou mesmo não emagrecer; não fazia ideia das doenças que ela poderia causar. (E. 2). Sabia dos riscos que toda e qualquer cirurgia tem no pós-operatório. (E. 3). SAÚDE REV., Piracicaba, v. 14, n. 37, p. 3-13, maio-ago. 2014 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira Tabela 1: Dados socioeconômicos dos entrevistados que realizaram cirurgia bariátrica residentes no município de Realeza – Paraná Variável Nº Porcentagem (%) Feminino 9 90 Masculino 1 10 18 a 30 4 40 31 a 40 2 20 41 a 50 2 20 51 a 60 2 20 Fundamental completo e médio incompleto 2 20 Médio completo 1 10 Superior incompleto 2 20 Superior completo 5 50 Solteiro (a) 4 40 Casado (a) 5 50 União estável 1 10 Do lar 1 10 Desempregado ou afastado por motivo de doença 1 10 Estudante 1 10 Gerente financeiro 1 10 Professor 1 10 Técnico administrativo 3 30 Vendedor 2 20 Até um salário mínimo 1 10 Maior que 3 salários mínimos 4 40 Maior que 5 salários mínimos 4 40 Maior que 10 salários mínimos 1 10 Gênero (n=10) Faixa Etária (n=10) Escolaridade (n=10) Estado Civil (n=10) Profissão (n=10) Renda Familiar mensal Sáude em Revista O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná 7 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira A segunda categoria observada refere-se a alterações metabólicas. É uma cirurgia de alto risco. Pode [provocar] simples vômitos como levar à morte. (E. 5). Conhecia uma pessoa que havia feito bariátrica e havia me assustado muito sobre o procedimento. Então soube bastante sobre possíveis fatores no pós-operatório, tais como queda de cabelo, não aceitação de alguns alimentos e cicatrização alta. (E. 4). Autoestima. Acho este o benefício mais importante. (E. 8). Ouvi falar que poderia perder cabelo e que poderia vomitar bastante. (E. 2). Os benefícios são vários, como melhora da autoestima; a gente se sente mais bonita. Hoje gosto de me arrumar. (E. 2). Tinha conhecimento das adversidades que viriam, como diarreias e vômitos. (E. 6). Já, como terceira categoria, observaram-se relatos sobre possíveis riscos patológicos. Sabia que teria que ter cuidado para não ter anemia. Graças a Deus, não tive, e nem outros problemas. (E. 7). Sabia que, além de dar problemas na cirurgia, poderia ter anemia. (E. 1). Isso confirma que os entrevistados tinham conhecimento dos riscos imediatos da cirurgia bariátrica, mas desconheciam os riscos que ela poderia causar no longo prazo, como várias síndromes e doenças. Conhecimento dos pacientes submetidos a cirurgia bariátrica sobre os benefícios no pós-operatório Ao serem questionados sobre o conhecimento dos benefícios que a cirurgia bariátrica poderia oferecer no período pós-operatório (questão 9), constataram-se quatro categorias: a primeira foi relatada por todos os entrevistados e está relacionada à autoestima, bem-estar e qualidade de vida. 8 Eu me sinto mais leve, com mais disposição, com astral ótimo! Hoje sou outra pessoa, com força de vontade para fazer tudo; gosto de me arrumar e ficar bonita, coisa que eu não fazia antes da cirurgia. (E. 7). Com a perda de peso a gente se sente mais feliz e disposta a continuar com muita força de vontade. (E. 9). Sabia que haveria dificuldades, mas teria benefícios, como a melhoria da qualidade de vida (saúde, disposição, humor) entre outros. (E. 4). Como segunda categoria, grande parte dos entrevistados relatou melhora da saúde: Sabia que diminuiriam os problemas com pressão alta, diabetes; ficaria melhor para andar e respirar. (E. 1). A saúde melhorou, e muito! (E. 10). Antes eu estava sempre sufocada, dormia muito mal, tinha a pressão arterial alterada, tinha problemas sérios com minha menstruação. Depois da operação, tudo melhorou. (E. 3). Além da alegria, tem as melhorias de saúde, que são as mais importantes. (E. 9). A terceira categoria refere-se a benefícios estéticos, que também foram relatados pela maioria dos entrevistados, sendo que vários deles citaram quantos quilos já haviam perdido. Os benefícios são imensos, principalmente a perda de peso. (E. 9). SAÚDE REV., Piracicaba, v. 14, n. 37, p. 3-13, maio-ago. 2014 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira Já eliminei 47 kg. (E. 3). Os benefícios são gratificantes para uma pessoa que perdeu 40 kg. (E. 8). Perdi 45 kg. A cirurgia só beneficiou minha vida. (E. 2). Em virtude dos benefícios do emagrecimento, melhora da autoestima e da saúde, alguns entrevistados citaram melhor aceitação e inclusão social. Hoje frequento assiduamente a academia e outros lugares; minha mobilidade e movimentação mudaram totalmente. (E. 3). Me sinto mais aceita na sociedade, pois antes eu sentia uma certa rejeição por ser gorda. Hoje, depois da perda de peso, não tenho mais vergonha de sair de casa. (E. 2). Principais dificuldades que os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica apresentaram no pós-operatório com a adaptação alimentar Sobre as principais dificuldades enfrentadas com a adaptação alimentar no período pós-operatório, destacaram-se três categorias. A primeira, relatada por grande parte dos pacientes, foi a restrição alimentar, que, com a ingestão de certos alimentos, causa diarreia e vômito. A alimentação com doces, gorduras e frituras resulta em diarreia e vômitos. (E. 6). Não tomo bebidas alcoólicas nem refrigerantes. Os médicos me proibiram. (E. 3). Minha única dificuldade foi com a ingestão de doces. Demorei um ano para começar a ingerir. (E. 5). Comer arroz e batata frita foi a maior dificuldade. (E. 10). Sáude em Revista Por outro lado, como segunda categoria, vários pacientes relataram não ter tido nenhuma dificuldade com a adaptação alimentar no período pós-operatório: Para mim foi tranquilo. Não senti impulso e nem vontade exagerada de comer. Estava muito consciente. Apenas quando o processo de emagrecimento parou e voltei à rotina de trabalho, a ansiedade começou a bater. Aí precisei controlar a cabeça no lugar e seguir uma dieta balanceada. (E. 9) Particularmente não tive dificuldades de adaptação no pós-operatório. Sempre consegui comer os alimentos que tentei sem passar mal, nem ter refluxo. (E. 4) Não tive dificuldades. Como de tudo! (E. 8) Não tive dificuldade alguma com a adaptação alimentar. O que me prejudicou um pouco foi aprender a mastigar bem e devagar os alimentos. (E. 7) A terceira categoria refere-se à dificuldade de ingerir apenas líquido nos primeiros 40 dias após a cirurgia: Os primeiros quarenta dias são os mais complicados! (E. 10). Foi difícil passar os primeiros quarenta dias de dieta líquida e comer apenas o que cabia no meu estômago. (E. 2). A alimentação inicial é apenas líquida. Com o decorrer dos dias, não conseguia tomar alguns líquidos, como água de coco; até hoje sinto enjoo. (E. 3). Discussão É sabido que o aumento da obesidade tem relação direta com o sedentarismo, disponibilidade de alimentos processados, O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná 9 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira erros alimentares e ritmo desenfreado da vida atual. O peso excessivo pode ainda causar problemas psicológicos, frustrações, infelicidade, que favorecem o desenvolvimento ou agravamento de doenças lesivas.4 No presente estudo, constata-se que os índices de obesidade estão aumentando ano a ano, sendo que, em muitos casos, o processo cirúrgico é a única alternativa que promove perda efetiva de peso. Segundo Cordás et al.,5 significativos avanços têm ocorrido nos processos cirúrgicos que visam ao emagrecimento, sendo que a mortalidade operatória em cirurgias bariátricas está abaixo de 0,5% em centros especializados. Segundo os relatos dos pacientes, normalmente as pessoas obesas enfrentam problemas de saúde, dificuldades de locomoção e aceitação social. Nesse sentido, a cirurgia bariátrica vem para promover a perda de peso, melhorar a saúde e qualidade de vida desses pacientes. Constatou-se no presente trabalho que os entrevistados tinham pouco conhecimento sobre os riscos que a cirurgia bariátrica poderia promover no período pós-operatório, sendo conhecidos apenas os efeitos colaterais imediatos (rompimento da cirurgia, infecção, perda de cabelo e dores), metabólicos (vômitos e diarreia) e doenças patológicas, como anemia. Esses relatos estão em conformidade com os dados apresentados no trabalho de Cordás et al.,5 que destacam, dentre os efeitos colaterais mais comuns das técnicas de restrição gástrica, a intolerância a alimentos sólidos, vômitos, síndrome do empachamento (dumping syndrome), obstipação e queda de cabelo. 10 Todavia, os riscos e complicações dependem de vários fatores, inclusive da idade, do grau de obesidade do paciente e do procedimento utilizado. Dentre as principais complicações incluem-se a trombose venosa e a embolia pulmonar (coágulo de sangue no pulmão), infarto do miocárdio (coração), fístula (vazamento do conteúdo do estômago ou intestino para a cavidade do abdômen ou pele), infecção, sangramento, hérnia, distúrbios nutricionais, metabólicos e alterações psicológicas.6 De acordo com relatos, diarreias e vômitos são frequentes após a cirurgia bariátrica, no entanto esses sintomas devem ser evitados e devidamente tratados. São sintomas preocupantes, visto que, com o crescente uso das cirurgias bariátricas no tratamento da obesidade, começam a ser descritos casos de evolução pós-cirúrgica para anorexia nervosa e bulimia nervosa.5 Para que risco cirúrgico seja aceitável, Geloneze e Pareja2 orientam que os pacientes tenham conhecimento das complicações e efeitos colaterais e saibam dos cuidados pós-operatórios. Sobre as dificuldades com a readaptação alimentar, alguns pacientes relataram dificuldades com relação à restrição alimentar e à dieta líquida nos primeiros dias do pós-operatório. No entanto, quase a metade dos pacientes relatou não ter tido quaisquer dificuldades, visto que tinham sido orientados por nutricionistas, enfermeiros e psicólogos antes da operação, fato que demonstra a importância de uma equipe multidisciplinar qualificada para orientação dos pacientes, evitando complicações, efeitos colaterais e maiores dificuldades com a alimentação no pós-operatório. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 14, n. 37, p. 3-13, maio-ago. 2014 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira Segundo Petroianu et al.,1 a cirurgia bariátrica, além de ser realizada em centros especializados, deve ter indicação e preparo pré-operatório multiprofissional (cirurgia, clínico, endocrinologista, nutricionista, psicólogo ou psiquiatra, enfermeiros especializados, assistente social) e seguir protocolos rígidos previamente estabelecidos por consenso entre a equipe e aprovados pelo financiador (SUS, plano de saúde etc.). Com o amparo de diferentes profissionais, o paciente tem maiores chances de sucesso nesse tipo de processo cirúrgico, visto que, com informações adequadas, ele pode preparar-se antecipadamente caso ocorram efeitos colaterais ou sintomas indesejados no pós-operatório. Por outro, lado Geloneze e Pareja2 relatam muitos benefícios, como a prevenção, melhora e reversão do diabetes (DM2) em mais de 70% dos casos em que se realizaram alguma das diversas modalidades cirúrgicas bariátricas. No presente estudo, os pacientes entrevistados também afirmaram que os benefícios são imensos e superam as adversidades, indo desde benefícios estéticos (emagrecimento) até a melhora da saúde, qualidade de vida e aceitação pela sociedade. Os procedimentos disabsortivos são mais eficazes que os restritivos na redução do peso e na melhora da sensibilidade à insulina, mas as complicações crônicas, em especial a desnutrição, são também mais freqüentes. A gastroplastia vertical com derivação jejuno-ileal é conhecida como mista com predominância do componente restritivo sobre o disabsortivo. Nesta modalidade, a reversão do DM2 deve-se a um aumento da sensibilidade à insulina associado a uma melhora da função de célula beta. A reversão da Síndrome Metabólica (SM) e de suas manifestações Sáude em Revista pós-cirurgia bariátrica associa-se à redução da mortalidade cardiovascular e, assim, nos casos graves de obesidade, a SM pode ser considerada uma condição cirúrgica.2 Dentre os benefícios, a maioria dos entrevistados relatou melhora da autoestima, fato de extrema importância para melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Muitos obesos acabam desenvolvendo depressão com o passar do tempo, em virtude da baixa autoestima, problemas de saúde e isolamento social. De acordo com estudo realizado por Costa et al.,7 avaliando 252 prontuários de pacientes submetidos a avaliação na consulta de enfermagem no Programa de Cirurgia Bariátrica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (NHU/UFMS), entre fevereiro de 2004 e fevereiro de 2007, realizada no ambulatório de clínica cirúrgica, 92 pacientes (36,51%) relataram depressão, sendo 79 do sexo feminino (39,30%) e 13 do masculino (26,00%). Muitos obesos não buscam ajuda de médicos, psicólogos, enfermeiros ou nutricionistas pela carência do sistema público ou ainda por acreditarem que a obesidade não é uma doença, e, quando buscam ajuda, em muitos casos a única alternativa são os procedimentos cirúrgicos digestivos. Nesse sentido, é de fundamental importância que o SUS estimule a prevenção da obesidade e tratamentos que visem ao emagrecimento por meio de dietas balanceadas e atividades físicas. Dessa forma, salienta-se o papel dos profissionais de enfermagem na orientação para prevenção e tratamento da obesidade. Nos casos em que a cirurgia bariátrica é necessária, em virtude do grande número de O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná 11 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira complicações e efeitos colaterais possíveis, os enfermeiros devem estar capacitados a orientar sobre os riscos, benefícios e dificuldades que esse paciente possa enfrentar no pós-operatório, de modo que a decisão de realizar o procedimento cirúrgico seja segura e com objetivos traçados. Conclusão De modo geral, observa-se que a maioria dos pacientes entrevistados possui conhecimento apenas dos riscos imediatos da cirurgia bariátrica, desconhecendo doenças e síndromes que podem ser comuns em pacientes que realizaram esse procedimento cirúrgico. Por outro lado, observa-se, no presente estudo, que os benefícios são muito significativos e estão interligados. A maior parte dos entrevistados relatou saber que poderia melhorar a qualidade de vida, a autoestima e ter benefícios estéticos com a perda de peso, o que, por consequência, traria benefícios à saúde, sendo que vários pacientes relataram o controle e a prevenção de diabetes, hipertensão, colesterol, dores na cabeça e no corpo. Além disso, essa perda de peso promoveu nos pacientes maior disposição para cuidados com o corpo e inclusão social, haja vista melhor aceitação pela sociedade que, segundo os pacientes, ainda tem preconceito contra pessoas obesas. Sobre as dificuldades que os pacientes tiverem no pós-operatório com a readaptação alimentar, cerca da metade cita ter tido problemas com a restrição de alguns alimentos (carnes, arroz, frituras, bebidas alcoólicas e refrigerantes), que, ao serem ingeridos, provocaram diarreia e vômitos. Ainda outros pacientes relataram a dificuldade de ingerir apenas líquidos durante os primeiros dias pós-cirurgia. Por outro lado, quatro pacientes disseram não ter tido nenhuma dificuldade no período pós-operatório, pois já tinham conhecimento das mudanças necessárias e estavam decididos a emagrecer. Portanto, mudaram a rotina diária, ingerindo porções menores de alimento mais vezes ao dia. Contudo, mesmo não sendo elaborada uma questão específica sobre o nível de satisfação dos entrevistados após a realização da cirurgia bariátrica, verifica-se que a maioria fez questão de afirmar que os benefícios superam as dificuldades, que não se arrependem de ter passado pelo procedimento cirúrgico e, inclusive, recomendam-no para quem estiver em situação semelhante à que eles já estiveram. Referências 1. Petroianu A, Miranda ME, Oliveira RG. Cirurgia. Belo Horizonte: Black Book; 2008. (Série Black Book). 2. Geloneze B, Pareja JC. Cirurgia bariátrica cura a síndrome metabólica? Arq Bras Endocrinol Metab. 2006; 50(2). 3. Vigitel Brasil. Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico. 2011 [citado 1 out. 2013]. Disponível em: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/ arquivos/pdf/2012/Abr/10/vigitel_100412.pdf. 12 SAÚDE REV., Piracicaba, v. 14, n. 37, p. 3-13, maio-ago. 2014 Elizandra Pivotti; Ronaldo de Almeida Pereira 4. Santos CRS, Guimarães TD. Qualidade de vida dos pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica. s.d. [citado 5 ago. 2013]. Disponível em: http://www.faculdadeobjetivo.com.br/arquivos/ QualidadeDeVida.pdf. 5. Cordás TA, Lopes Filho AP, Segal A. Transtorno alimentar e cirurgia bariátrica: relato de caso. Arq Bras Endocrinol Metab. 2004; 48(4): 564-71. 6. Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva. Orientação para pacientes com obesidade mórbida. São Paulo: Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva; s.d. 7. Costa ACC, Ivo ML, Cantero WB, Tognini JRF. Obesidade em pacientes candidatos a cirurgia bariátrica. Acta Paul Enferm. 2009; 22(1): 55-59. Sáude em Revista O conhecimento dos pacientes acerca das condições pós-operatórias da cirurgia bariátrica em um município no sudoeste do Paraná 13