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Interbio v.1 n.1 2007
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ÍNDICES HEMATOLÓGICOS EM PACIENTE HEMODIALISADOS TRATADOS
COM ERITROPOETINA
HEMATOLOGICAL INDEXES IN HAEMODIALYSIS PATIENT TREATED WITH
ERYTHOPOIETIN
OLIVEIRA, Andréa Martinez de1; SCHMITZ, Wanderlei Onofre2
Resumo
A anemia é uma diminuição da concentração de hemoglobina encontrada no interior das hemácias que reflete em
uma deficiência do suprimento de oxigênio para os tecidos do organismo. A anemia na insuficiência renal
crônica pode ser causada: pela produção renal insuficiente de eritropoetina (EPO), redução do tempo de meia
vida das hemácias e hemólise. Estes dados interferem diretamente na qualidade de vida destes pacientes. Foram
analisados dados de 70 pacientes portadores de insuficiência renal, sendo 31.43% (n= 22) do sexo feminino e
68.57% (n= 48) do sexo masculino submetidos ao tratamento hemodialítico na Clinica do Rim da Cidade de
Dourados - MS. Todos os pacientes faziam uso de eritropoetina como tratamento complementar a diálise. A
hemoglobina dos 70 pacientes analisados variou de 10.09 a 11,96 g/dL, utilizando doses médias de eritropoetina
de 6.738 UI/Kg/semana. Mesmo pacientes submetidos à diálise por mais de 6 anos, com o uso da eritropoetina,
apresentaram valores de hemoglobina de 10,98 g/dL. Embora a anemia seja considerada uma sintomatologia
comum na insuficiência renal crônica, os resultados obtidos demonstraram que a utilização da eritropoetina em
pacientes renais ajuda a manter os níveis de hemoglobina, melhorando a qualidade de vida destes pacientes.
Palavras-chave: insuficiência renal crônica, eritropoetina, hemodiálise.
Abstract
The anemia is a decrease of hemoglobin concentration found inside the erythrocytes that reflects a deficiency of
oxygen supply for the organism tissue. The chronic kidney insufficiency can be caused: for insufficient kidney
production of erythropoietin (EPO), reduction of erythrocytes life time and hemolysis. These facts interfere
directly in the life quality of these patients. Information of 70 patient studied with kidney insufficiency were
analyzed, being 31.43% (n = 22) female and 68.57% (n = 48) male submitted to hemodialysis treatment in the
Clinic of Kidney city of Dourados - MS. All patients use erythropoietin as complement of dialysis treatment. The
hemoglobin of 70 analyzed patients varied from 10.09 to 11,96 g/dL, using a regular erythropoietin doses of
6.738 UI/Kg/week. Even patients submitted to dialysis for more than 6 years, with the use of erythropoietin,
presented hemoglobin values of 10,98 g/dL. Although the anemia is considered a common symptomatologic in
the chronic kidney insufficiency, the results obtained demonstrated that erythropoietin use in kidney patient it
helps to maintain the hemoglobin levels, improving the life quality of these patients.
Key-Words: chronic kidney insufficiency, erythropoietin, hemodialysis.
1
Biomédica formada no Centro Universitário da Grande Dourados-Unigran/MS.
Prof. Msc. em Patologia Experimental pela Universidade Estadual de Londrina-PR. Professor de Patologia no
Centro Universitário da Grande Dourados – Unigran/MS. E-mail- [email protected].
2
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
Introdução
A insuficiência renal crônica (IRC) é
definida como uma perda progressiva e
irreversível da função renal, onde os rins
não conseguem mais manter a filtração
normal do sangue do paciente. No Brasil a
prevalência de pacientes mantidos em
diálises dobrou nos últimos oitos anos,
passando de 24.000 pacientes em 1994 para
58.000 em 2004. É comum os pacientes com
lesão
renal
apresentarem
doenças
hematológicas associadas, em especial a
anemia crônica. Esta anemia esta
relacionada com a carência nutricional dos
pacientes renais e a diminuição da
eritropoetina pelos rins (RAMÃO JUNIOR,
2005).
O diagnóstico laboratorial da anemia
apresentado pelos pacientes renais crônicos
é fundamental para embasar o tratamento
clínico destes pacientes (PETTIT, 2001;
GARCIA, 2003). A produção renal
insuficiente de eritropoetina (EPO) leva a
uma anemia que reflete diretamente na
redução da sobrevida e qualidade de vida
dos pacientes (LUNO, 2005; ABENSUR,
2000). Para o paciente poder ser
considerado anêmico ele deve apresentar
concentrações de hemoglobina inferiores a
11g/dL em mulheres e 12g/dL em homens
(PATCHETT, 2003).
Um dos principais tratamentos para o
paciente renal é a diálise sendo a
hemodiálise a mais comum. Infelizmente a
hemodiálise mesmo sendo importante para a
manutenção da vida do paciente, pode
apresentar conseqüências graves como a
hemólise dos eritrócitos durante o processo
de diálise, contribuindo para a anemia deste
paciente
(CARVALHO,
1999;
VERRASTRO, 2002).
A lesão renal leva a diminuição da
produção da eritropoetina, que é um
hormônio produzido pelos rins, sua função é
estimular a produção de hemácias no
organismo e sua falta leva a instalação da
anemia crônica no paciente. Tratamentos
com eritropoetina recombinante humana
(rHuEPO) podem ser uma das melhores
6
formas de manutenção dos níveis de
hemoglobina dos pacientes renais (PECES,
2003).
Portanto o objetivo deste trabalho é
avaliar os índices hematólogicos dos
pacientes portadores de insuficiência renal
crônica, submetidos a hemodiálises na
clínica do Rim da cidade de Dourados, que
fazem uso de eritropoetina.
Insuficiência Renal Crônica
O termo insuficiência renal crônica
(IRC) é utilizado para descrever uma
disfunção renal, através da avaliação da sua
taxa de filtração glomerular ou clearance de
creatinina. Na IRC a função renal tende a
declinar lentamente até a perda total do rim.
As manifestações clínicas desta doença
envolvem: problemas cardíacos, endócrinos,
hematológicos, neurológicos, distúrbios
eletrolíticos e alterações do equilíbrio ácidobásico. Na IRC, o tratamento tem como
objetivo minimizar os efeitos de uma
condição potencialmente fatal que se não
controlada pode levar o paciente a morte
(YURI, 2000; RIYUZO, 2003).
A IRC é a maior causa de morte entre
os pacientes diabéticos (30 a 35%), outro
grupo que apresenta alta incidência de IRC,
são os pacientes portadores de hipertensão
arterial, com idade entre 61 a 68 anos
(SMELTZER, 1998; MOREIRA, 2004;
RAMÃO JUNIOR, 2005).
Com o agravamento das lesões renais,
os rins deixam de eliminar metabólicos
tóxicos e não consegue regular o balanço de
água e sódio, provocando uma retenção de
líquidos e o aparecimento de hipertensão
arterial, além de edema de pulmão,
disfunções hormonais e anemia. Se não
tratada a IRC pode levar a conseqüências
graves e mortais. Nos pacientes com função
renal inferior a 50%, é comum observarmos
associada a este quadro, a anemia crônica
decorrente da diminuição da produção de
eritropoetina pelas células renais. É a
eritropoetina que atua estimulando a
eritropoese na medula óssea (RIELLA,
1996; VERRASTRO, 2002).
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
A anemia crônica em pacientes com
IRC é resultado da depleção de eritropoetina
(EPO), uma glicoproteína que estimula as
células
progenitoras
eritróide
na
diferenciação de normoblasto para aumentar
a massa de eritrócitos em resposta a uma
hipóxia tecidual, a EPO é produzida pelas
células renais (BRANTZ, 1994; MOREIRA,
2004).
Este tipo de anemia é de intensidade
leve à moderada (hemoglobina entre 9 e 12
g/dL), raramente os valores da hemoglobina
são inferior a 8 g/dL e o hematócrito varia
entre 23% e 40%. As hemácias são
normocrômicas e normocítica, embora em
50% dos casos possam ser hipocrômicas e
em 20% microcíticas. Na extensão do
sangue periférico podem se observar várias
alterações morfológicas dos eritrócitos:
anisocitose
(presença
de
diferentes
tamanhos de eritrócitos) e poiquilocitose
(alterações no formato dos eritrócitos), além
da presença de reticulócitos em número
elevado. Já a ferritina, proteína responsável
por estocar o ferro no organismo pode
apresentar valores elevados, sem com isso
indicar uma reserva de ferro no organismo.
Isso pode acontecer, por que a ferritina é
uma proteína de fase aguda, que tem seus
valores
aumentados
em
processos
inflamatórios e com isso seu aumento não
expressaria o verdadeiro valor do estoque de
ferro no organismo (BARRIOS, 2002).
Para melhorar a qualidade de vida dos
pacientes com doença renal crônica faz-se o
emprego de EPO, mas ainda não estão
definidos os níveis de hematócrito para
iniciar o tratamento com EPO (PATCHETT,
2003). Abensur (2004), sugere o tratamento
com Eritropoetina Recombinante Humana
(rHuEPO) quando o hematócrito for menor
que 32%, associando sempre este valor ao
estado clínico geral do paciente, mas para se
fazer o uso da rHuEPO é necessário que o
paciente tenha uma reserva de ferro.
Mas é muito difícil manter as reservas
de ferro em pacientes em hemodiálise com
apenas suplementação de ferro por via oral.
A demanda por ferro tende a aumentar
muito durante o tratamento com rHuEPO,
7
levando a maior pressão sobre as reservas já
depletadas. Após a suplementação com
rHuEPO, há aumento no ritmo da
eritropoese levando um fenômeno chamado
“deficiência funcional de ferro”, que pode
ser notado clinicamente por uma baixa
saturação de transferrina apesar de uma
concentração sérica de ferritina normal ou
elevada (RATZ et al., 1996).
A concentração de ferritina sérica e o
índice de saturação de transferrina (TSAT)
são os testes mais utilizados nos pacientes
em diálise para avaliação do metabolismo
do ferro e fornecer uma estimativa dos
níveis de ferro no organismo. Os resultados
devem ser utilizados para interpretar a
resposta à terapia com rHuEPO. Em geral,
os pacientes em diálise necessitam de
suplementação de ferro via endovenosa para
complementar suas reservas devido a baixa
absorção do ferro por via oral
(MUNHEEKIN, 2002).
A rHuEPO pode ser utilizada por via
intravenosa, em dose inicial de 75
UI/Kg/semana, que são administradas após
cada sessão de hemodiálise. As doses
podem ser aumentadas mensalmente em 25
UI/Kg/semana até o paciente atingir um
hematócrito de 30%. Deve-se administrar
ferro intravenoso quando a saturação da
transferrina estiver abaixo de 20%, pois isso
indica que a suplementação oral não está
sendo bem absorvida para a manutenção da
taxa de proliferação celular (CARVALHO
et al., 1999).
O uso da rHuEPO pode eliminar a
necessidade de transfusões sanguíneas em
pacientes renais, pois diminuem a queda do
hematócrito destes pacientes e com isso
diminui os riscos de uma sensibilização
imunológica, infecção ou sobrecarga de
ferro decorrentes de transfusões sangüíneas.
Com o tratamento pode se restabelecer o
hematócrito ao normal, em pacientes
anêmicos em estágio final da doença renal
(ESCHBACH, 1987).
A rHuEPO traz grandes benefícios na
qualidade de vida de pacientes com anemia
e insuficiência renal, estabelecendo uma
linha divisória clara na melhora da
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
qualidade de vida, atividade funcional dos
órgãos, estado de saúde, vida sexual, bem
estar, satisfação de vida e felicidade. Tudo
indica que uma melhora significativa nos
parâmetros hematológicos dos pacientes em
tratamento hemodialítico que utilizam
rHuEPO, leva a um aumento da qualidade
de vida e diminuição dos índices de
mortalidade (EVANS, 1990). A qualidade
de vida de pacientes em diálise com uso de
rHuEPO estão relacionada a uma
hemoglobina entorno de 11g/dL e um
hematócrito na faixa dos 35% (WALLS,
1995).
Em casos de respostas ineficientes ou
resistência ao tratamento com rHuEPO, os
níveis de vitamina B12 e de ácido fólico
devem ser investigados. A avaliação para
causas de resistência não é conclusiva, devese considerar uma consulta hematológica e
biópsia de medula óssea como último passo
no processo para afastar a doença
hematológica
inesperada
(ABENSUR,
2004).
Mas o tratamento com rHuEPO
apresentaram certas complicações que
devem ser acompanhadas, como: episódios
de hipertensão e coagulação na fístula
(WINEARLS, 1986). O agravamento ou
surgimento de quadro hipertensivo ocorre
em cerca de 23% dos pacientes (variando de
20% a 40%), eles também podem apresentar
crises convulsivas, trombose de via de
acesso vascular para hemodiálise, outros
fenômenos trombolíticos, diminuição da
eficiência da diálise, sintomas de gripe e
olhos avermelhados. Diversas explicações
surgiram para explicar estes fenômenos
dentre elas o aumento da viscosidade
sangüínea devido à diminuição da
vasodilatação, uma maior ligação do óxido
nítrico com a hemoglobina e a ação da
rHuEPO no efeito vasoconstritor direto. O
tempo de sangramento diminui com a
correção da anemia, empregando-se
rHuEPO, seja pelo aumento da massa
eritrocitária ou pela elevação transitória no
número de plaquetas. Foi verificada melhora
da reatividade e da adesão plaquetária com o
emprego da rHuEPO, provavelmente devido
8
ao aumento da atividade plasmática do fator
de Von Willebrand ou pela interferência da
eritropoetina na concentração de cálcio
intracelular das plaquetas (CARVALHO,
1999; ABENSUR, 2000).
Material e Métodos
Grupo de estudo
O grupo de estudo é composto por 70
pacientes portadores de insuficiência renal
crônica que fazem uso regular de
eritropoetina e que realizaram hemodiálise
na Clínica do Rim da cidade de DouradosMS no período de abril a agosto de 2005.
Material utilizado
O material analisado foi amostras de
sangue obtidas através de punção venosa,
coletando aproximadamente 3ml de sangue
total em tubos de vidro 13 x 75 mm
contendo anticoagulante EDTA e tubo sem
anti-coagulante para separação do soro
humano. Nas amostras de sangue avaliou-se
o Hemograma Completo (ABX Micros 60) e
parâmetros bioquímicos (ferro, ferritina e
eritropoetina).
Análise estatística
Os dados descritos foram representados
pela média e erro padrão da média ou média
e desvio padrão da média. Foi utilizada a
Análise de Variância (ANOVA) e Teste de
Tukey, sendo os resultados considerados
estatisticamente
significativos
quando
p<0,05. Os gráficos apresentados utilizaram
os programas de análise estatística
computadorizada STATISTICA 6.0 (STAT
SOFT) e programa gerador de gráficos
ORIGIN 7.0.
Resultados e Discussão
Dos pacientes estudados (n=70), 31,4%
são do sexo feminino (n= 22) e 68,6% são
do sexo masculino (n= 48). A faixa etária
variou de 22 a 83 anos, com uma idade
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
média de 51 anos. O tempo de duração da
sessão de hemodiálises era de 4 horas,
durante três vezes por semana e apenas 2
pacientes
semana.
9
realizavam
duas
sessão
por
Tabela 1 - Parâmetros Hematológicos dos Pacientes Hemodiálisados
TEMPO DE
HEMÁCIA
HEMOGLOBINA
HEMATÓCRITO
HEMODIÁLISE
(mm3)
(g/dL)
(%)
(16)
1 ANO
3,82±0,14
10,94±0,37
33,41±1,20
2 ANOS(14)
3,38±0,24
10,09±0,69
30,50±2,24
4,11±0,14
11,96±0,27
35,32±0,94
3 ANOS(08)
3,70±0,12
11,17±0,39
33,11±1,17
4 ANOS(09)
5 ANOS(14)
3,70±0,16
10,38±0,43
30,39±1,56
3,80±0,22
10,98±0,61
31,31±2,29
6 ANOS(09)
A tabela apresenta análise hematológica dos pacientes submetidos a hemodiálises. RDW=
amplitude dos eritrócitos. ( ) = número de pacientes por grupo; médias ± erro-padrão.
A tabela 1, mostra os parâmetro
hematológica dos pacientes submetidos a
hemodiálise, divididos em grupos de acordo
com o tempo de hemodiálise. Na tabela
observa-se que a eritropoetina foi eficaz em
corrigir a anemia associada à insuficiência
renal crônica. De acordo com a conduta
clínica indicada pela National Kidney
Foundation (NKF) os valores do
hematócrito para estes pacientes devem
ficaram entre 30 e 37%, os valores
encontrados nos pacientes oscilaram entre
30,39±1,56 a 35,32±0,94, portanto os
valores dos pacientes então dentro dos
valores
esperados.
Segundo
esta
organização, os valores de hematócritos
mais elevados trariam uma melhoria em
RDW
(%)
15,43±0,28
15,26±0,17
15,01±0,33
14,97±0,72
15,37±0,32
15,53±0,50
distribuição de
vários parâmetros fisiológicos como o uso
do oxigênio, função cardíaca e qualidade de
vida.
Baseados na NKF, a relação ideal para
hemoglobina seria entre 9 a 12 g/dL para
pacientes que recebem rHuEPO e realizam
hemodiálises. De acordo com o estudo,
verificou-se valores de hemoglobina entre
10,09±0,69 a 11,96±0,27 g/dL. Os pacientes
analisados apresentaram uma hemoglobina
dentro dos parâmetros indicados pela NKF,
garantindo assim a qualidade de vida destes
pacientes. O tempo de diálise aparentemente
não influencia no hematócrito e nos valores
de hemoglobina.
Tabela 2 - Análises Bioquímicas dos Pacientes Hemodiálisados
TEMPO DE
HEMODIÁLISE
1 ANO (16)
2 ANOS(14)
3 ANOS(08)
4 ANOS(09)
5 ANOS(14)
6 ANOS(09)
FERRO
(µg/dL)
118,1±17,3
095,7±13,4
103,7±15,3
095,8±12,7
106,6±06,4
141,6±15,6
FERRITINA
(ng/mL)
673,7±129,5
773,6±231,0
385,2±126,3
537,5±060,8
666,5±088,1
575,7±136,0
rHuEPO
UI/Kg/sem.
7.500± 0735
7.303±1.008
5.375±1.266
5.555± 0783
7.692± 0956
7.000±1.509
Análise Bioquímica do Ferro Sérico, Ferritina e Eritropoetina dos Pacientes Submetidos a
Hemodiálises. ( ) = número de pacientes por grupo; médias ± erro-padrão.
A tabela 2 apresenta análise bioquímica
do ferro sérico, ferritina e eritropoetina dos
pacientes submetidos a hemodiálises,
segundo o manual de condutas clínicas
utilizados para tratamento de anemia em
insuficiência renal crônica, pacientes que
apresentam ferro sérico inferior a 100
mg/dL, têm uma deficiência de ferro no
organismo, dos pacientes avaliados os
grupos 2 e 4 anos, apresentam médias
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
HEMOGLOBINA (g/dL)
15
12
9
6
3
0
1
2
3
4
5
6
ferro endovenoso nestes pacientes se não
houver uma resposta ao tratamento com a
rHuEPO e não apenas aumento a dose de
rHuEPO. Pois pacientes com ferro
endovenoso muito baixo não respondem
satisfatoriamente ao tratamento.
DOSE DE rHuEPO (UI/Kg/SEMANA)
inferiores a 100 mg/dL, mas na verdade
dentro deste grupo apenas 8,57% destes
pacientes apresentam resultados inferiores
devendo
ter
um
acompanhamento
constantemente para adequação.
Essa deficiência pode se agravar
quando houver necessidade maior de ferro
para sustentar a síntese de hemoglobina.
Apesar dos pacientes apresentarem uma
ferritina sérica normal ou elevada. Entre os
pacientes estudados, cerca de 16%
apresentaram índice de saturação de
transferrina maior que 50% e ferritina
superior a 800 ng/mL, indicando a
suspensão do ferro endovenoso e avaliação
do ferro a cada três meses (resultados não
demonstrados).
Na figura 1, temos a concentração de
hemoglobina dosada nos pacientes, pode-se
constatar através do gráfico que apesar do
tempo de hemodiálise a concentração da
hemoglobina se manteve relativamente
constante e próximo ao patamar indicado
pela KDF.
10
10000
8000
6000
4000
2000
0
1
2
3
4
5
6
TEMPO DE HEMODIÁLISE (ANOS)
Figura 2 - Doses de Eritropoetina Recombinante
Humana (rHuEPO) dos pacientes submetidos a
hemodiálise. Médias ± erro-padrão.
A ferritina é o ferro estocado no
organismo, sendo considerado um marcador
do estoque de ferro do paciente. Nos
pacientes analisados a ferritina variou muito
entre os grupos de pacientes (figura 3). Seu
valor de referência é de 300 a 800 ng/mL,
mas valores acima de 1000 ng/mL de
ferritina são considerados valores elevados e
normalmente relacionados com processos
inflamatórios, que são relativamente comuns
nos pacientes como insuficiência renal,
estando associadas aos problema clínico da
insuficiência renal.
TEMPO DE HEMODIÁLISE (ANOS)
1200
As doses média de rHuEPO que os
pacientes receberam (figura 2) apresentaram
oscilações em sua concentração, levando a
um estimulo na produção de hemácias
nestes pacientes. Um problema clínico para
a manutenção da hemoglobina com o
tratamento com rHuEPO, é a deficiência do
estoque de ferro apresentado por alguns
pacientes renais por tanto é recomendado
avaliar a concentração de ferro e aplicar
1000
FERRITINA (ng/dL)
Figura 1 - Níveis de Concentração de Hemoglobina
dos Pacientes Submetidos a Hemodiálise. Médias ±
erro-padrão.
800
600
400
200
0
1
2
3
4
5
6
TEMPO DE HEMODIÁLISE (ANOS)
Figura 3 - Níveis de Ferritina Dosados no Soro dos
Pacientes Submetidos a Hemodiálise. Médias ± erropadrão.
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
A concentração de ferritina nem
sempre vai refletir o ferro estocado pelo
paciente, isto é causado pelo fato de que a
ferritina que é uma proteína na fase aguda,
pode aumentar em caso de inflamação aguda
ou crônica, por isso a dosagem de ferro
(figura 4) é imprescindível para avaliar
corretamente os níveis de ferro dos
pacientes.
Nos pacientes analisados os grupos de
2 e 4 anos de hemodiálise apresentaram as
menores concentrações de hemoglobina e as
menores concentrações de ferro, mesmo que
a concentração de ferritina destes pacientes
não tenha sido as menores nestes grupos.
Por isso os níveis de ferro se mantêm mais
fiéis a concentração de hemoglobina que os
níveis de ferritina, pois não aumentam por
causa de processos inflamatórios como a
ferritina. Nestes casos o aumento da dose de
eritropoetina pode levar os pacientes a
depleção de seus estoques de ferro,
agravando o estado geral d paciente.
Ao iniciar o tratamento com rHuEPO,
com o objetivo de atingir o hematócrito e
hemoglobina preconizada para os pacientes
com IRC, há necessidade de monitorizar a
concentração de ferro e ferritina de cada
paciente para otimizar a dose de rHuEPO. Já
que não é possível prever com precisão a
fração de pacientes que responderá
adequadamente a dose de rHuEPO.
180
FERRO SÉRICO (µg/dL)
150
120
90
60
30
0
1
2
3
4
5
6
TEMPO DE HEMODIÁLISE (ANOS)
Figura 4 - Níveis de Ferro Sérico Dosados no Soro
dos Pacientes Submetidos a Hemodiálise. Médias ±
erro-padrão.
Na dosagem de ferro sérico
observamos a deficiência funcional de ferro
11
em alguns grupos (2 a 4 anos) que pode
estar associada com as perdas de ferro sérico
através da hemodiálises e pela má absorção
de ferro por via oral, que não conseguem
manter elevados os níveis de ferro sérico,
indicando para estes pacientes o uso de ferro
via endovenosa, para sanar esta deficiência e
permitir a ação da rHuEPO na produção de
hemácias.
Os dados demonstram que quanto mais
baixo o ferro sérico, maior a probabilidade
de o pacientes ser deficiente em ferro,
mesmo com a concentração de ferritina
normal ou elevada, pois esta sofre ação de
outros fatores, portanto a rHuEPO só será
capaz de induzir a produção de hemácias se
houver ferro disponível, caso contrário a o
tratamento será relativamente ineficaz.
Prevenir a anemia e seus efeitos
colaterais é fundamental para diminuir os
índices de mortalidade nos pacientes
portadores de insuficiência renal crônica que
realizam a hemodiálises.
Conclusões
Embora a anemia seja considerada uma
sintomatologia comum na insuficiência
renal crônica, os resultados obtidos
demonstraram que a presença de um estoque
de ferro na forma de ferritina e níveis
normais de ferro sérico são fatores
importantes para manter uma constante
maturação eritrocitária, reduzindo as queda
do número de hemácias e a concentração de
hemoglobina destas hemácias. A sobrevida
dos pacientes em diálise tem um aumento
significativa a medida que o hematócrito e a
hemoglobina atinjam valores maiores ou
iguais a 30% e 9 mg/dL respectivamente.
Por isso o uso da eritropoetina para
estimular a produção de hemácias e melhora
a qualidade de vida desses pacientes
mantendo níveis mais altos de hemoglobina
e hematócrito, deve ser parte fundamental
do tratamento destes pacientes assim como o
acompanhamento dos níveis de ferro sérico
e ferritina, para assegurar a qualidade do
tratamento a proporcionar uma melhora na
OLIVEIRA; SCHMITZ.
Interbio v.1 n.1 2007
função cardíaca, muscular, sexual
qualidade de vida destes pacientes.
e
12
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