A importância da dosagem do colesterol em qualquer idade O colesterol é uma molécula de grande importância presente em todas as células animais e em alimentos de origem animal. Seu papel tem sido associado à incidência de infarto agudo do miocárdio (IAM) e de acidente vascular cerebral (AVC), tornando-o o grande vilão, embora não somente o único, das doenças cardiovasculares. Fisiologia do Colesterol Cerca de 7% do colesterol corpóreo circula no plasma predominantemente na forma de LDL (lipoproteína de baixa densidade), conhecido como o mau colesterol. O nível de colesterol plasmático é controlado pela relação entre sua síntese e sua degradação, sendo o fígado o órgão de metabolismo principal nesse controle. O nível de LDL deve ser mantido em concentração inferior a 100 mg/dl. A lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL) é liberada pelo fígado na corrente sanguínea. As partículas de VLDL são ricas em triglicerídeos, ainda que contenham menor quantidade de ésteres de colesterol. Quando a partícula de VLDL alcança os capilares do tecido adiposo, ela é clivada pela lipoproteína lípase, num processo de extração dos triglicerídeos. A lipoproteína de alta densidade (HDL) é conhecida como bom colesterol e seu nível deve ser considerado na relação com o colesterol total em até 5,5 vezes. Outras formas de lipoproteínas dosadas no laboratório são as apolipoproteínas (B100 e E). A dosagem do colesterol Hoje em dia na prática clínica e laboratorial é solicitado o perfil lipídico do paciente, incluindo a dosagem do colesterol total e frações (HDL, LDL e VLDL), triglicerídeos e em alguns casos também apoliproteínas. Mesmo na infância devem ser avaliados os níveis das chamadas gorduras plasmáticas, para afastar a possibilidade de hipercolestrolemia congênita, por vezes silenciosa. Trata-se de uma doença autossômica dominante que cursa com o aumento de colesterol sérico, principalmente devido ao LDL. Trata-se da doença mendeliana mais frequente atualmente. Heterozigotos com um gene mutante apresentam desde o nascimento uma elevada taxa de colesterol (2 a 3 vezes o normal). Nos homozigotos, que possuem uma "dupla dose de genes alterados", as alterações são ainda mais graves, possuindo elevações do colesterol sérico que podem alcançar valores superiores a 5-6 vezes do normal. Um infarto agudo do miocárdio pode apresentar-se antes dos 20 anos de idade, mostrando graves alterações do equilíbrio hemodinâmico. Manifestações Clínicas A hipercolesterolemia familial é uma das condições que provocam o fenótipo da hiperlipoproteinemia tipo II. Os níveis séricos de colesterol LDL ficam entre 250-450mg/dL nos heterozigotos e acima dos 500mg/dL nos homozigotos, com correlação positiva em relação à idade. Nas hipercolesterolemias que acometem indivíduos em sua forma homozigótica, podemos observar lesões ateroscleróticas aórticas em idades precoces. Estas placas acumulam-se em locais não usuais como na porção ascendente do vaso bem como ao redor do óstio coronário. As supravalvulares aórticas são encontradas em 41% dos pacientes. estenoses Diagnóstico O diagnóstico deverá ser realizado com base nos achados clínicos, já decorrentes do excesso plasmático de colesterol como a presença dos xantomas, xantelasmas ou mesmo doenças ateroscleróticas. Pede-se um perfil lipídico ao paciente dosando-se colesterol total, triglicerídios, HDL e LDL. Avaliações com biologia molecular confirmam o diagnóstico de hipercolesterolemia familial por apresentar mutações no gene que codifica o receptor de LDL. Fenótipo Lipídico Níveis Plasmáticos de Lipídios (mg/dL) Lipoproteína Elevada Hipercolesterolemia Familial Isolada Heterozigotos: Colesterol Total = 275-500. LDL Hipercolesterolemia Familial Isolada Heterozigotos: Colesterol Total = > 500. LDL Deficiência Familial de Apo B100 Heterozigotos: Colesterol Total = 275-500. LDL Hipercolesterolemia Poligênica Colesterol Total: 250-350. LDL Tratamento Três classes de agentes antilipêmicos são recomendadas como primeira linha para hipercolesterolimia: (1) Inibidores da HMG-CoA redutase; (2) Niacina e (3) Resinas de ligação de ácidos biliares. Os derivados de ácido fíbrico constituem a segunda linha de tratamento da hipercolesterolemia e são mais eficazes nas reduções de triglicerídios. Os principais fármacos utilizados na hipercolesterolemia são: 1. Inibidores da HMG-CoA redutase: Lovastatina, Pravastatina, Sinvastatina, Atorvastatina e Fluvastatina. 2. Ácido Nicotínico: niacina. 3. Resinas quelante de Ácidos Biliares: Colestiramina e Colestipol. Prognóstico Os pacientes hipercolesterolêmicos devem fazer alterações em sua dieta, praticar exercícios físicos. Como prevenção secundária o paciente deve ser acompanhado por uma equipe multidisciplinar realizando lipidogramas (perfil lipídico) de rotina, ter como alvo um LDL < 100mg/dL com alteração da dieta e terapia farmacológica.