RELATÓRIO TÉCNICO CONSOLIDADO DE CLIMA PARA O ESTADO DE MATO GROSSO VOL.1/2 Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas NÍVEL COMPILATÓRIO DSEE-CL-RT-002 RELATÓRIO TÉCNICO CONSOLIDADO DE CLIMA PARA O ESTADO DE MATO GROSSO VOL. 2/2 Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas NÍVEL COMPILATÓRIO DSEE-CL-RT-002 PLANO DA OBRA PROJETO DE DESENVOLVIMENTO AGROAMBIENTAL DO ESTADO DE MATO GROSSO - PRODEAGRO ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO: DIAGNÓSTICO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO DO ESTADO DE MATO GROSSO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA FORMULAÇÃO DA 2ª APROXIMAÇÃO Parte 1: Consolidação de Dados Secundários Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas Parte 3: Integração Temática Parte 4: Consolidação das Unidades Governo do Estado de Mato Grosso Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral (SEPLAN) Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) PROJETO DE DESENVOLVIMENTO AGROAMBIENTAL DO ESTADO DE MATO GROSSO - PRODEAGRO ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO: DIAGNÓSTICO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO DO ESTADO DE MATO GROSSO E ASSISTÊNCIA TÉCNICA NA FORMULAÇÃO DA 2ª APROXIMAÇÃO RELATÓRIO TÉCNICO CONSOLIDADO DE CLIMA PARA O ESTADO DE MATO GROSSO VOL. 2/2 Parte 2: Sistematização das Informações Temáticas NÍVEL COMPILATÓRIO MÁRIO VITAL DOS SANTOS CUIABÁ JULHO, 2000 CNEC - Engenharia S.A. GOVERNADOR DO ESTADO DE MATO GROSSO Dante Martins de Oliveira VICE-GOVERNADOR José Rogério Salles SECRETÁRIO DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇÃO GERAL Guilherme Frederico de Moura Müller SUB SECRETÁRIO João José de Amorim GERENTE ESTADUAL DO PRODEAGRO Mário Ney de Oliveira Teixeira COORDENADORA DO ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO Márcia Silva Pereira Rivera MONITOR TÉCNICO DO ZONEAMENTO SÓCIO-ECONÔMICO-ECOLÓGICO Wagner de Oliveira Filippetti ADMINISTRADOR TÉCNICO DO PNUD Arnaldo Alves Souza Neto EQUIPE TÉCNICA DE ACOMPANHAMENTO E SUPERVISÃO DA SEPLAN Coordenadora do Módulo Físico MARIA LUCIDALVA COSTA MOREIRA (Engª Agrônoma) LUIZ GONZAGA TOLEDO (Engº Civil) Coordenação e Supervisão Cartográfica LIGIA CAMARGO MADRUGA (Engª Cartógrafa) Supervisão do Banco de Dados GIOVANNI LEÃO ORMOND (Administrador de Banco de Dados) VICENTE DIAS FILHO (Analista de Sistema) Supervisor do Mapeamento/Campo dos Aspectos Climatológicos CARLOS ALBERTO LOPES (Engº Agrônomo) EQUIPE TÉCNICA DE EXECUÇÃO CNEC – Engenharia S.A. LUIZ MÁRIO TORTORELLO (Gerente do Projeto) KALIL A. A. FARRAN (Coordenador Técnico) MÁRIO VITAL DOS SANTOS (Coordenador Técnico do Meio Físico – Biótico) TÉCNICA JOSÉ ROBERTO TARIFA (Geógrafo) SUMÁRIO VOLUME I 1. 2. INTRODUÇÃO 001 1.1. 002 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA FUNDAMENTOS DINÂMICOS DO CLIMA DO ESTADO DE MATO GROSSO 005 2.1. INTRODUÇÃO 005 2.2. A CIRCULAÇÃO DE SUPERFÍCIE (1.000 mb) 005 2.3. A CIRCULAÇÃO GERAL DE LARGA ESCALA 012 2.3.1. El Niño - Oscilação Sul 012 2.3.2. Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) 013 2.3.3. Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) 013 2.4. 2.5. A Circulação Superior (200 a 300 hpa) 014 2.4.1. A Alta da Bolívia 014 2.4.2. A Corrente do Jato 014 OS SISTEMAS CONVECTIVOS EM MATO GROSSO 016 2.5.1. A Convecção na Amazônia 016 2.5.2. Os Complexos Convectivos de Mesoescala 017 2.5.2.1. Do Mato Grosso Setentrional 017 2.5.2.2. Do Mato Grosso Centro Meridional 017 2.5.3. 3. As Linhas de Instabilidade 018 A VARIAÇÃO ESPACIAL DA TEMPERATURA 018 4. 3.1. MÉDIA COMPENSADA ANUAL 019 3.2. MÉDIA DAS MÁXIMAS 020 3.3. MÉDIA DAS MÍNIMAS 021 A VARIAÇÃO ESPACIAL DA PLUVIOSIDADE 022 4.1. O TOTAL ANUAL MÉDIO 022 4.2. A DISTRIBUIÇÃO SAZONAL MÉDIA 023 4.3. O RITMO E A VARIAÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO ANO-PADRÃO CHUVOSO (1992) 024 O RÍTMO E A VARIAÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO ANO-PADRÃO SECO (1993) 024 A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL PLUVIOMÉTRICOS EM 24 HORAS 025 4.4. 4.5. 5. 6. DOS MÁXIMOS A VARIAÇÃO ESPACIAL DO BALANÇO HÍDRICO 025 5.1. A EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL 026 5.2. A EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL (mm) 027 5.3. A DEFICIÊNCIA HÍDRICA ANUAL 027 5.4. OS EXCEDENTES HÍDRICOS ANUAIS 028 AS UNIDADES CLIMÁTICAS DE MATO GROSSO 6.1. 6.2. 029 CLIMA EQUATORIAL CONTINENTAL ÚMIDO COM ESTAÇÃO SECA DEFINIDA (I) DA DEPRESSÃO SUL AMAZÔNICA. 029 CLIMA SUB-EQUATORIAL CONTINENTAL ÚMIDO COM ESTAÇÃO SECA DEFINIDA (II) DO PLANALTO DOS PARECIS. 036 6.3. CLIMA TROPICAL CONTINENTAL (III) ALTERNADAMENTE ÚMIDO E SECO DAS CHAPADAS, PLANALTOS E DEPRESSÕES DE MATO GROSSO 6.3.1. O Clima Tropical Mesotérmico Úmido dos Topos de Cimeira dos Chapadões (IIIA) 038 039 6.3.2. O Clima Tropical Mesotérmico-Quente e Úmido dos Parecis, Alto Xingu e Alto Araguaia (IIIB) 041 6.3.3. O Clima Tropical de Altitude Mesotérmico Quente da Fachada Meridional das Chapadas e Planaltos (IIIC) 044 O Clima Tropical Megatérmico Úmido dos Baixos Planaltos e Depressões de Mato Grosso (IIID) 047 O Clima Tropical Megatérmico Sub-Úmido das Depressões e Pantanais de Mato Grosso (IIIE) 053 O Clima Tropical Continental Úmido de Altitude das Serras e Maciços Isolados (IIIF) 055 6.3.4. 6.3.5. 6.3.6. 7. CONCLUSÕES 056 8. BIBLIOGRAFIA 061 ANEXOS ANEXO I – MAPAS A001 REDE PLÚVIOMÉTRICA E METEOROLÓGICA A002 DISTRIBUIÇÃO DA TEMPERATURA MÉDIA ANUAL A003 DISTRIBUIÇÃO DA TEMPERATURA MÉDIA DAS MÁXIMAS ANUAIS A004 DISTRIBUIÇÃO DA TEMPERATURA MÉDIA DAS MÍNIMAS ANUAIS A005 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE ANUAL MÉDIA (1983-1994) A006 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE MÉDIA (1983 1994) NO TRIMESTRE MAIS CHUVOSO A007 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE MÉDIA, TRIMESTRE MAIS CHUVOSO (1983 – 1994) A008 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE MÉDIA (1983-1994) NO TRIMESTRE MAIS SECO A009 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE TRIMESTRE MAIS SECO (1983 – 1994) A010 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO ANO PADRÃO CHUVOSO (1992) MÉDIA, EM EM PORCENTAGEM, PORCENTAGEM, NO NO VOLUME II A011 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO TRIMESTRE MAIS CHUVOSO DO ANO PADRÃO CHUVOSO (1992) A012 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO TRIMESTRE MAIS SECO DO ANO PADRÃO CHUVOSO (1992) A013 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO ANO PADRÃO SECO (1993) A014 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO TRIMESTRE MAIS CHUVOSO DO ANO PADRÃO SECO (1993) A015 DISTRIBUIÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO TRIMESTRE MAIS SECO DO ANO PADRÃO SECO (1993) A016 DISTRIBUIÇÃO DOS MÁXIMOS PLUVIOMÉTRICOS EM 24 HORAS A017 DISTRIBUIÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL MÉDIA (1983 – 1994) A018 DISTRIBUIÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL MÉDIA ANUAL (1983 – 1994) A019 DISTRIBUIÇÃO DA DEFICIÊNCIA HÍDRICA ANUAL (1983-1994) A020 DISTRIBUIÇÃO DO EXCEDENTE HÍDRICO MÉDIO ANUAL (1983 – 1994) A021 UNIDADES CLIMÁTICAS DO ESTADO DE MATO GROSSO A022 POTÊNCIAL AGROCLIMÁTICO DO ESTADO DE MATO GROSSO LISTA DE QUADROS 001 GRAUS DE INTENSIDADE DA SECA E DO EXCESSO DE ÁGUA EM MATO GROSSO, SEGUNDO O BALANÇO HÍDRICO (CC – 75mm) 030 LISTA DE GRÁFICOS 001 VARIAÇÃO MENSAL DA NEBULOSIDADE - JANEIRO/JUNHO 010 002 VARIAÇÃO MENSAL DA NEBULOSIDADE – JULHO/DEZEMBRO 011 003 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA SINOP 032 004 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO MATUPÁ 033 005 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA VERA 033 006 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA 034 007 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA VILA RICA 035 008 BALANÇO HÍDRICO PARA SÃO JOSÉ DO RIO CLARO 037 009 BALANÇO HÍDRICO PARA ALÔ BRASIL 037 010 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA ALCOOMAT 040 011 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA CHAPADA DOS GUIMARÃES 041 012 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA NOVA MUTUM 043 013 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA PARANATINGA 043 014 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA PARECIS 047 015 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO V. B. DA SANTÍSSIMA TRINDADE 049 016 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA CUIABÁ 051 017 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA RONDONÓPOLIS 052 018 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA PORTO CERCADO 054 1 1. INTRODUÇÃO O principal objetivo deste relatório técnico é caracterizar e descrever as Unidades Climáticas do Estado de Mato Grosso. No entanto, é preciso considerar de que maneira foram feitos a apreensão, o entendimento e a representação da realidade climática. A evolução do conhecimento passou por várias fases e níveis, permeado sempre por uma dialética permanente entre teoria – prática e realidade. A primeira fase (dados secundários nível compilatório) foi constituída por um levantamento bibliográfico e de dados e estudos realizados. A análise e avaliação críticas deste levantamento permitiram compor um conjunto de informações capazes de propiciar uma avaliação sobre o estado atual do conhecimento climatológico do Estado de Mato Grosso. Uma das principais conclusões resultantes dessa revisão bibliográfica foi ter ficado evidente o caráter pontual e extremamente genérico dos estudos climatológicos (feitos em sua maioria para escalas muito pequenas de análise, entre 1:5.000.000 a 1:20.000.000), abrangendo todo o território brasileiro ou mesmo toda a América do Sul. Portanto, mesmo os estudos que abrangem todo o seu território não foram metodologicamente construídos a partir do conhecimento das realidades climáticas do seu espaço biogeofísico, mas sim como projeções dos mapeamentos realizados em nível de Brasil e ou para a América do Sul. Por outro lado, os trabalhos pontuais (na escala local) não analisaram as variações mensais e sazonais dos atributos climáticos de forma a permitir aplicabilidade no planejamento das atividades sócio-econômicas. Um segundo produto, ainda dentro desta fase compilatória, foi um mapa na escala de 1:1.500.000 denominado “As Unidades Climáticas do Estado de Mato Grosso – 1a Aproximação”, SEPLAN, 1997. Tendo em vista que os dados e informações secundárias utilizados naquela compartimentação climática eram muito genéricos e descontínuos (no tempo e no espaço); as unidades climáticas apresentadas foram encaradas como “hipóteses de trabalho” a serem decompostas, avaliadas e reconstruídas ao longo de todo o desenvolvimento do Diagnóstico Sócio – Econômico - Ecológico de Mato Grosso” (SEPLAN, 1997). Esta primeira compartimentação foi extremamente útil e necessária na resolução de vários problemas teóricos e práticos da investigação. O primeiro deles foi ter mostrado onde estavam as áreas com diferentes graus de deficiência a cerca do conhecimento climatológico, tanto de cada realidade especificamente, como do tipo de informação e dado meteorológico existente. Desta maneira, todo o programa de análise crítica e substituição das falhas procurou respeitar (sempre que possível) os macro limites regionais das Unidades Climatologicamente Homogêneas. Por outro lado, todo o roteiro do trabalho de campo (05 expedições), 03 na estação chuvosa e 02 na estação seca, foi estabelecido com o propósito de percorrer e cortar as principais unidades climáticas zonais, regionais e locais do Estado de Mato Grosso. Este procedimento ajudou a sanar várias dúvidas sobre limites zonais (entre os climas Equatoriais e Tropicais), bem como melhorar a sistematização e generalização das coletas e observações de campo. A fase do mapeamento dos atributos (temperatura, chuva e balanço hídrico) procurou sempre manter viva a relação entre a representação cartográfica do fenômeno e o conhecimento da realidade. Assim sendo, por exemplo, o mapeamento da pluviosidade foi feito por aproximações sucessivas e interativas entre a técnica de interpolação linear (através do Programa Surfer) e o conhecimento obtido através das observações de campo (altitude, forma e orientação do relevo, drenagem, uso do solo, vento, nebulosidade). Todos os 19 mapas 2 (temperatura, chuva e balanço hídrico) foram analisados e criticados buscando a melhor explicação com os controles climáticos. Este procedimento procurou respeitar e identificar qualidades e processos, mesmo nas áreas onde não se contava com nenhuma estação meteorológica, mas cujas evidências na paisagem deixava claro diferenças e variações na distribuição espacial do atributo climático. A distribuição espacial da rede meteorológica e pluviométrica utilizada encontra-se representada no Mapa A001 Rede Pluviométrica e Meteorológica. Neste cartograma pode-se observar a distribuição irregular, existindo áreas e espaços climáticos onde a rede é escassa ou praticamente inexistente. A fase de síntese (mapeamento das Unidades Climáticas do Estado de Mato Grosso) foi construída a partir de uma análise integrada entre atributos e controles climáticos de superfície. A distribuição da pluviosidade no tempo (variação anual média, sazonal e mensal) e no espaço forneceu a base interpretativa para suas relações com a variação qualitativa e quantitativa da temperatura. Estes dois atributos foram sempre relacionados aos controles climáticos, tanto em suas variações sazonais, como nos gradientes associados à latitude, longitude, altitude, forma e orientação do relevo e da própria gênese ligada à circulação atmosférica regional. No entanto, os resultados obtidos através do balanço hídrico, pelo fato de ser uma técnica que permite avaliar a oferta pluvial e cotejá-la com a perda através da evapotranspiração, forneceu através da estimativa das deficiências e excedentes hídricos as propriedades básicas de cada Unidade Climática. Portanto, o primeiro critério que se mostrou mais consistente para a delimitação das Unidades foi o da variação da deficiência hídrica. O segundo critério, em termos de ordem de importância foi o excedente hídrico combinado com a intensidade da pluviosidade anual e sazonal. O terceiro critério é relacionado com a disponibilidade de energia, avaliado através da variação da temperatura do ar. Este elemento foi sempre deduzido através de suas correlações e gradientes associados à altitude, latitude e longitude. Esta seqüência de critérios é uma explicação necessária do ponto de vista técnico, no entanto, o conceito de Unidade Climática está sempre ligado à totalidade da realidade, ou seja, a delimitação no mapa busca criar uma identidade que nasce de um conjunto de relações indissociáveis do clima dentro da paisagem biogeofísica. 1.1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Na fase preliminar deste projeto foi realizada uma análise da bibliografia publicada e disponível para consulta. Naquele momento (Caderno de Climatologia – SEPLAN, 1997) foi redigido um item denominado “O Estado Atual do Conhecimento Climatológico do Estado de Mato Grosso” cujo teor julga-se oportuno transcrever neste relatório técnico, pois permitirá uma avaliação crítica e efetiva da contribuição alcançada neste diagnóstico climatológico. Os Estudos publicados sobre o clima de Mato Grosso refletem, em geral, a precariedade dos dados climatológicos disponíveis, concentrando-se na área sul do Estado, especialmente na região do Pantanal, na qual a rede de estações meteorológicas é mais densa. O pouco conhecimento do norte do Estado deve ser procurado nos estudos sobre a Amazônia e o referente ao restante do Estado, nos estudos sobre a região centro-oeste brasileira. Num dos primeiros trabalhos sobre o clima do Centro-Oeste, com uma abordagem explicativa e de integração geográfica, MONTEIRO (1951), enfoca o estudo da região na faixa situada abaixo do Paralelo 14°S. Justifica tal procedimento pela distribuição das estações meteorológicas, concentradas nessa área. Analisa a temperatura, ressaltando sua dependência do fator altitude e o papel da circulação geral no decorrer do ano influenciando as variações térmicas estacionais. Estuda ainda a chuva e sua distribuição anual e aplica o “índice de umidade” de E. de Martonne. Apresenta gráficos climáticos contendo a distribuição mensal média da chuva, temperatura média compensada e temperaturas máxima e mínima 3 compensada e absoluta e aplica a classificação de Köeppen que, na época do trabalho, era tida como satisfatória para estudos de âmbito geral. Dedica ainda um tópico especial para as relações entre os aspectos climáticos e os traços naturais e culturais da região, analisando as três unidades topográficas que se identificam no Centro-Oeste: a baixada, a borda ocidental do planalto e o planalto. A OEA (1969), em trabalho sobre a Bacia do Rio da Prata, apresenta no tópico denominado Atmosfera, os Centros de Ação, a Circulação Geral da Atmosfera, as massas de ar e as frentes que definem o tempo na bacia. Das informações levantadas que abarcam a área do Pantanal mato-grossense constam basicamente: a precipitação, a temperatura, a evaporação e a evapotranspiração. O estudo apresenta a classificação do clima da bacia aplicando a classificação de Thornthwaite e a de Troll. Pela primeira, a bacia Superior do Paraguai se caracteriza por um clima do tipo sub-úmido (tipo C) e pela de Troll, por um clima do tipo tropical com chuvas de verão (7 a 9 ½ meses) (zona V-2). BASTOS (1972), procura mostrar, numa visão bastante ampla, o modo de ocorrência dos fenômenos meteorológicos que mais afetam o ambiente climático e as condições da agricultura na Amazônia Brasileira. Seu trabalho define e mapeia os tipos climáticos da região em função das classificações de Köeppen e de Thornthwaite, “a primeira por ser mais usual e a segunda por ser mais racional dada a introdução da evapotranspiração potencial como elemento de classificação (op. cit. pág.71). Calculou o Balanço Hídrico para Cáceres, Cuiabá e Presidente Murtinho, segundo o método de THORNTHWAITE,1955. O DNOS (1974) nos Estudos Hidrológicos da Bacia do Alto Paraguai (Região do Pantanal, Estado de Mato Grosso), instalou duas estações meteorológicas para fornecerem elementos adicionais aos da rede existente na região: Fazenda São João (16°57’ S e 56°38’W) no Estado de Mato Grosso e Fazenda Rio Negro (19°35’S e 56°12’W) no atual Estado de Mato Grosso do Sul. O trabalho faz um estudo de precipitação voltado para as necessidades hidrológicas, analisando o total anual médio, as variações ao longo da série temporal disponível para seis estações meteorológicas, a distribuição mensal da precipitação, o número anual de dias de chuva, a ocorrência máxima de precipitação com duração de um a dois dias, a intensidade de precipitação e sua distribuição horária. Apresenta ainda informações sobre radiação solar, evaporação de tanque classe A, capacidade evaporativa do ar (tipo Piche) e temperatura do ar para as duas estações mencionadas, no período 1970-1972. NIMER (1977 e 1989), em estudo sobre o clima região Centro-Oeste, preocupa-se em definir os sistemas de Correntes Perturbadas que afetam o tempo na região. Analisa a temperatura e a pluviosidade e propõe diferenciações climáticas baseadas no regime térmico e no das chuvas. O Projeto RADAMBRASIL, estudando as Folhas Tocantins (SC-22), Juruena (SC-21) e Guaporé (SD-20), enfoca as áreas em relação à classificação de Köeppen, apresentada em vários trabalhos, e àquela proposta por Nimer. Apresenta em linhas gerais, o comportamento da precipitação e da temperatura baseando-se nas informações das cartas do Atlas Climatológico do Brasil (1969), escala aproximada de 1:16.000.000. Tendo por objetivo fornecer subsídios à avaliação do Potencial Agroclimático, procura definir o tipo de clima regional baseando-se no índice de umidade de Thornthwaite, na precipitação total média anual, no excedente hídrico total médio anual, na deficiência hídrica total média anual e no número médio de meses por ano, com deficiência hídrica e com excedente hídrico. Os climas assim definidos seguem uma terminologia que os classifica em função da umidade (forte, média ou fraca) uma vez que do ponto de vista térmico são todos tidos como quentes. Os trabalhos, entretanto, não apresentam os resultados mensais dos estudos desenvolvidos para se obter o Balanço Hídrico. A Folha Tocantins abarca o setor nordeste do Estado de Mato Grosso entre os paralelos de 10 e 12° S e os meridianos de 51°15’ e 54°W; a Folha Juruena, o setor nordeste do 4 Estado, entre 8 e 12°S e 54 e 60°W; e a Folha Guaporé, só abarca estreita faixa a sudoeste do Estado de Mato Grosso, entre 60 e 60°30’W e os 12 e 16°S. Nas folhas Goiás (SD-22), Cuiabá (SD-21), Corumbá (SE-21), Goiânia (SE-22) e Porto Velho (SC-20) é apresentado um esboço genérico da circulação atmosférica, temperatura e pluviosidade. O Balanço Hídrico de THORNTHWAITE,1948, é utilizado como elemento de definição da capacidade de uso do solo. Os resultados obtidos para esse Balanço Hídrico também não são apresentados claramente. O PRODIAT (1982) estudou o clima da Bacia Araguaia-Tocantins analisando a temperatura, a precipitação, os ventos, umidade relativa, insolação, evaporação, evapotranspiração, balanço hídrico e nebulosidade. O trabalho apresenta um zoneamento climático baseado em Thornthwaite e Mather e ainda a classificação de Köeppen. A área desse estudo que interessa ao Estado de Mato Grosso é uma estreita faixa a E-NE do Estado entre os paralelos 6° e 17°S, envolvendo a Bacia do Rio Araguaia. TARIFA (1986), analisa o sistema climático do Pantanal salientando a importância da localização geográfica da região dentro do território sul-americano, bem como sua situação topográfica e segundo o conceito de “ritmo” da climatologia geográfica. Foram analisados os sistemas atmosféricos, o balanço de radiação e os atributos climáticos (Temperatura, umidade do ar e pluviosidade). A situação média da circulação da América do Sul é analisada a partir da cobertura de nuvens, adaptada de trabalho de MILLER & FEDDES (1971). Observa o predomínio de céu limpo de maio a junho e um máximo de nebulosidade de novembro a fevereiro, ligando tais fatos às atuações de um anticiclone tropical (“formado pelo ramo descendente da circulação de Hadley”, op. cit. pág.11) e à massa Equatorial Continental. Ressalta ainda, a importância da atuação da Frente Polar Atlântica nos resfriamento de inverno e na produção de chuva nas outras estações. Representa graficamente a variação mensal do Balanço de Radiação e variação Temporo-Espacial da Radiação Solar Global e conclui que ao nordeste dos 15°S, esta última não diminui no período de outono-inverno, enquanto que na faixa central (entre 17°S e 20°S), neste período, cai abaixo de 300 cal/cm-²/dia-1, e o máximo ocorre entre outubro e fevereiro (entre 450 e 500 cal/cm-²/dia-1). Para a análise dos atributos climáticos foram construídos gráficos da variação temporo-espacial das temperaturas médias anuais, das mínimas absolutas, máximas absolutas, umidade relativa do ar e da pluviosidade mensal e também Perfis Pluviométricos anuais. SANT’ANNA et al. (1989, estudando a região de Rondonópolis, analisa o clima a partir do cálculo do Balanço Hídrico, segundo o método de THORWTHWAITE E MATHER (1955, 1957), com capacidade de campo de 100 mm, para 10 estações meteorológicas. Trata-se de um estudo cuidadoso que, tendo por finalidade proporcionar informações para análise do escoamento superficial (runoff), fornece os resultados obtidos nos cálculos efetuados, bem como a representação gráfica do Balanço Hídrico. SANCHEZ (1992), enfoca o clima entre os Recursos Naturais do Estado de Mato Grosso reportando-se a TARIFA (1986), para lembrar o problema de carência de dados de superfície e em especial de altitude. Ainda, baseando-se nesse autor: associa as faixas de nebulosidade e a distribuição das chuvas durante o ano; ressalta a elevação dos índices de radiação solar de S para N do Estado. Mostra, de outro lado, as linhas gerais do comportamento das chuvas, da temperatura e da umidade do ar e também, a conveniência de se estudar a variabilidade mensal e anual das chuvas, atentando para os desvios em relação às médias. Destaca o trabalho de CAMPELO JR. (1989), que analisa as deficiências hídricas para estações meteorológicas de Mato Grosso, utilizando estimativas de precipitação mínima esperada ao nível de 75% de probabilidade a cada quatro anos. 5 2. FUNDAMENTOS DINÂMICOS DO CLIMA DO ESTADO DE MATO GROSSO 2.1. INTRODUÇÃO A circulação atmosférica do Estado de Mato Grosso ainda não é bem conhecida. A enorme extensão territorial de 906.806,9 km2 aliada à quase ausência de estações com radiosondagem prejudicou o desenvolvimento do conhecimento meteorológico. No entanto, nos últimos dez anos, graças à utilização das imagens de satélites meteorológicos, bem como análises realizadas através dos modelos de previsão do tempo, houve um avanço considerável dos padrões de larga escala. No levantamento bibliográfico realizado, procurou-se selecionar os principais trabalhos executados com base nos campos de pressão atmosférica, cartas sinóticas de superfície e de altitude, referentes ao conhecimento básico produzido até meados da década de 1980. A partir da publicação mensal da CLIMANÁLISE (CPTEC-INPE – São José dos Campos) em outubro de 1986, foi possível ordenar uma evolução e sistematização do conhecimento da circulação atmosférica regional sobre o Estado de Mato Grosso. Assim sendo, a base dos últimos dez anos está assentada numa revisão da contribuição desta publicação. A melhor forma de apresentar e comunicar os resultados nos pareceu, estruturando o conhecimento a partir dos resultados referentes a cada escala de análise. Portanto, a abordagem aqui adotada seguirá uma estrutura da superfície para os níveis superiores da troposfera. 2.2. A CIRCULAÇÃO DE SUPERFÍCIE (1.000 MB) A extensão territorial do Estado de Mato Grosso (MT), localizado na porção central da América do Sul, entre as latitudes de 8º a 19º LS e de 51º a 62º LW, lhe impõe certas características específicas dos Climas Continentais das latitudes intertropicais da América do Sul. Uma das principais propriedades climatológicas desta realidade é estar situado numa área de transição entre os Climas Tropicais Continentais, revestidos com Cerrado e os Climas Equatoriais Continentais recobertos com Floresta Amazônica. Da mesma maneira, a localização continental, distante entre 1.400 a 2.000 km do Oceano Atlântico, lhe confere padrões climáticos sazonais com alternância numa estação úmida, (de novembro a abril) e uma estação seca (de maio a setembro). A grande extensão latitudinal, (8º a 9º LS) altera esta distribuição sazonal, fazendo com que a estação chuvosa no extremo meridional geralmente se inicie com 1 a 2 meses de antecedência (setembro-outubro) enquanto no extremo norte ocorre um atraso (novembro e dezembro). Por outro lado, o início da estação seca é da mesma maneira antecipado no sul (março-abril) enquanto no extremo norte, o verão amazônico1 só se inicia em maio-junho. Estas características territoriais, fazem com que de modo geral, persista na estação chuvosa um esquema de circulação atmosférica de superfície associado às baixas pressões do Continente Sul Americano. Por outro lado, na estação seca ocorre o avanço dos centros de alta pressão sobre as áreas centrais da América do Sul. Um dos pioneiros a descrever a circulação de superfície para o Estado de Mato Grosso (MT e MS) foi SERRA (1948), procuramos transcrever abaixo a descrição dos movimentos sinóticos para as quatro estações do ano: 1 Inverno (junho, julho e agosto) Na Amazônia (ou no norte do Mato Grosso) a estação chuvosa é chamada de inverno ou estação das águas, enquanto que a estação seca é conhecida por verão 6 “A queda do barômetro, conseqüente à frontogênese na Frente Polar Atlântica, produz elevação da temperatura, e arrasta para SE a Instabilidade Tropical, de base na baixa central, bem como as respectivas chuvas e trovoadas. Apresentam eles correntes N até 3 km, contra NW-W mais acima, e se deslocam numa média de 300 km/dia. Tais formações persistem, e se reforçam, quando a Frente Polar Atlântica caminha para norte. A nebulosidade aumenta, então, o mesmo sucedendo à temperatura. Se a frente se dirige para Mato Grosso, a pressão cai no sul do Estado, onde o termômetro sobe perto de 4º, coincidindo tal fato com o giro de todos os ventos superiores para N, e desaparecimento das várias componentes de S. O céu limpa, então, rapidamente. Depois, já na própria massa polar, nota-se aumento bárico, queda de temperatura, e um teto 10 de Cu, Sc, sob ventos S, que alcançam em média 2 km. Ocorrem chuvas frontais, de trovoadas, mas a estrutura se assemelha, em regra, a uma frente quente, com 10 de Ns e As. Em seguida, a pequena taxa de vapor d’água, no ar Polar continental, e limpeza do céu, produzem as acentuadas mínimas de friagem, acompanhadas, entretanto, por máximas elevadas, e nevoeiro pela manhã. Se, agora, nova frontogênese ocorrer na Frente Polar Atlântica, no Prata, a pressão cai na massa Polar continental, e a nebulosidade se reduz a St e Sc, o céu ficando limpo, com giro dos ventos para N. Gradualmente, voltam as condições normais, e o intenso aquecimento, no solo, resulta em poderosas formações de Cu. Quando o avanço da Frente Polar se produz apenas no litoral a queda do barômetro coloca o Estado sob a baixa central, com elevação da temperatura. Depois, verificada a frontólise no trópico, o centro de ação volta para o interior e, ao passo que na costa leste ele intensifica as chuvas, em Mato Grosso causa somente um declínio na temperatura.” - Primavera (setembro, outubro e novembro) “Com a agravação da frontogênese na Frente Polar Atlântica, a pressão cai, e o Estado fica dominado pela baixa central. Os ventos, a princípio de SW, tornam-se logo de N-NW, secos, acarretando forte aquecimento; a cobertura, antes de Sc, evolve, gradualmente, para 4-2 de Cu, na formação da massa Tropical continental”. Sob o avanço frontal ao Rio Grande do Sul, a pressão se eleva em Mato Grosso, e as instabilidades tropicais logo produzem rápida transformação para Equatorial continental: a nebulosidade aumenta, e a temperatura declina, observando chuvas e trovoadas, de Sc, Cb, Ns. Forma-se uma alta destacada, a qual origina ventos de Sul (a leste), e de Nordeste (a oeste); a seguir, vai surgindo, aos poucos, a nova baixa a norte, no Xingu, as instabilidades tropicais se encaminhando, de modo lento, para Goiás. Enquanto persiste o aumento da pressão, não pode entrar a massa Polar continental, cujo avanço ulterior para norte é sempre indicado por uma queda do barômetro no sul do Mato Grosso, acompanhada de aquecimento. Finalmente, na chegada do ar polar, as chuvas cessam, e as direções giram para Sul, enquanto a pressão aumenta, decrescendo a temperatura. O céu, a princípio de Sc St, fica rapidamente limpo, permitindo mínimas acentuadas.” - Verão (dezembro, janeiro e fevereiro) “Tendo início a frontogênese na Frente Polar Atlântica, a pressão se eleva e a temperatura declina, registrando-se maior nebulosidade de Ns-Sc, nas dorsais de massa Equatorial continental, deslocadas para o Chaco”. Avançando a frente para o Rio Grande do Sul, a pressão atinge o máximo em Mato Grosso. Se, contudo, aquela prosseguir mais para o norte, o barômetro desce, e os ventos se tornam de NW, com forte aquecimento, tanto mais intenso, quanto mais próxima a baixa central. A massa Tropical continental vem assim a dominar, e suas nuvens se reduzem a 3-6 de Cu, com forte seca no sul, e gradual diminuição das precipitações a norte. É quase impossível no verão, o próprio ar Polar continental penetrar em Mato Grosso. Contudo, parte do Estado é freqüentemente dominada pela Frente Polar Reflexa, aí ocorrendo ventos de S, chuvas, trovoadas e resfriamento acentuado.” - Outono (março, abril e maio) “Na fase do estio a pressão se mantém elevada, ocorrendo aguaceiros nas zonas setentrionais do Estado, sob 10 Ns, e ventos N. Contudo, um declínio barométrico se regista com a intensificação da Frente Polar Reflexa no sul de Mato Grosso. Esta acarreta direções de SE, resfriamento e 0-2 de Cu, na região limítrofe 7 do Paraguai, contra NE e aquecimento, na Serra do Roncador, onde a nebulosidade logo se reduz a 4-6 Sc”. Intensa frontogênese no Prata redunda em aumento da temperatura, correntes NW e redução da cobertura para 0-2 Ac. Já o avanço frontal do Rio Grande do Sul permite subida do barômetro, ventos de N e novo resfriamento. Tais fenômenos são substituídos, na formação dos ciclones naquela região por um declínio da pressão em Mato Grosso, sob correntes de NE, aquecimento e nebulosidade 4-6 de Cu, Sc, salvo nas instabilidades tropicais, onde esta se agrava para 8-10 Cu, Sc. Finalmente, a penetração do próprio ar polar resulta em chuvas frontais e acentuada baixa termométrica, acompanhada por direções de S, 10 de Ns e Sc, e grande subida de pressão.” Após esta contribuição de Adalberto Serra, e apoiando-se em outros clássicos da fase inicial da meteorologia (anterior aos anos 60) como Massas de Ar na América do Sul (SERRA & RATTSBONNA, 1942), o professor Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, propôs um esquema didático para a interpretação e análise dos sistemas atmosféricos na América do Sul (MONTEIRO, 1969, 1973). Neste esquema os principais sistemas atmosféricos que afetam a região central do Brasil são: - Massa Tropical Continental (MTC) – está associada às várias “fácies” da depressão continental do Chaco, trata-se de uma depressão barométrica com maior atuação durante a primavera-verão, parcialmente associada ao aquecimento das terras baixas do continente sul americano; - Massa Equatorial Continental (MEC) está ligada ao cinturão das baixas pressões equatoriais continentais da América do Sul. Sua máxima expansão ocorre no verão austral (dezembro a janeiro); - Massa Tropical Atlântica (MTA), sua fonte de origem está ligada ao Atlântico Sul (23 a 30º LS), sendo o ramo descendente da circulação de Hadley; no outono-inverno avança sobre o continente sul americano; - Massa Equatorial Atlântica (MEa) é o campo de abertura do anticiclone subtropical do Atlântico Sul, sendo na realidade o campo de divergência dos alíseos de Sudeste e leste do Hemisfério Meridional. Tornam-se dinamicamente instáveis, a medida que avançam para latitudes mais baixas (inferiores à latitude de 10 a 12º LS) em função do forte aquecimento pela base proporcionado pelo aquecimento do solo; - Massa Equatorial do Atlântico Norte (MEn) – Trata-se do campo de divergência dos ventos provenientes da célula de alta pressão do Atlântico Setentrional, cuja penetração na Amazônia equatorial, se dá com componentes de nordeste e eventualmente norte. Quando a trajetória sobre o continente é muito longa em direção à baixa do Chaco, se tornam instáveis penetrando com direção de noroeste; - Massa Polar Atlântica (MPa), este sistema acompanha a evolução e o deslocamento da frente polar no continente sul americano. Em função de sua trajetória pode ser classificado como de origem oceânica ou continental (MPc), sendo esta última mais freqüente durante o inverno quando provoca o fenômeno da “friagem” nas regiões centrais do Continente Sul Americano; - Frente Polar Atlântica (FPA) – A influência do eixo principal da FPA em Mato Grosso, depende do tipo de ciclogênese e do deslocamento do sistema frontal. Mesmo em situações sinóticas de atuação indireta ela intensifica e organiza a convecção no Brasil Central; 8 - ZCIT – A zona de Convergência Intertropical, é um dos sistemas mais importantes da faixa equatorial. Sua atuação no extremo Norte e Nordeste do Estado de Mato Grosso, é discutível. É provável que ela tenha apenas uma atuação indireta reforçando ou aprofundando as células de convecção. A freqüência e maior atividade deste sistema deve ocorrer no final do verão e início do outono (fevereiro-março até março-abril). Estudos mais recentes Têm utilizado imagens de satélites meteorológicos para complementar as análises de campos de vento e nebulosidade (VIRJIH, 1981; MOLION & KOUSKY, 1981). Com base no estudo de MILLER e FEDDES (1971), adaptado por TARIFA, (1986) (Gráficos 001 e 002) pode-se caracterizar o que se aproxima da situação média da circulação para a região Centro-Ocidental da América do Sul: a primeira constatação que pode ser observada na seqüência apresentada nos Gráficos 001 e 002 são as áreas totalmente brancas (cobertura em octas de 0 a 1) e as áreas totalmente escuras (cobertura em octas de 5 a 8), dominando, respectivamente, na região central do Brasil, de maio a junho (céu limpo) e de novembro a fevereiro (céu com o máximo de nebulosidade). Estas duas situações contrastantes representam os trimestres mais secos e mais chuvosos para a região do Estado de Mato Grosso. Esta área de céu totalmente limpo, de forma ligeiramente circular, representa a permanência de um anticiclone, formado pelo ramo descendentes da circulação de Hadley: conforme pode ser observado no Gráfico 001, atinge seu ponto de máxima descida latitudinal em maio, deslocando-se para norte-nordeste em junho e julho, respectivamente. A extensa banda de nebulosidade que corta a Amazônia e o Brasil Central de noroeste para sudeste (máxima concentração em novembro-dezembro), que aumenta em intensidade progressivamente a partir da primavera-verão (setembro-outubro), oriunda da Amazônia Central e Oriental, e que se desloca para Sul-Sudeste, é responsável pela produção da maior parte das chuvas de primavera-verão, principalmente do setor norte da Bacia do Alto Paraguai. Em que pese a ausência de estudos específicos sobre os deslocamentos destes sistemas da Amazônia para o Centro-Oeste, o fato é que durante a estação das chuvas no Brasil Central é muito freqüente o deslocamento destas perturbações vindas do noroeste em direção à Depressão Continental do Chaco. Este tipo de fluxo foi denominado por SERRA (1942), de Massa Equatorial Continental. Portanto, a maior parte das precipitações do Estado de Mato Grosso depende deste tipo de fluxo. Em termos de macro-escala, este tipo de transporte de umidade parece também depender de transferência de vapor d’água, trazido do Atlântico Norte. Esse fluxo equatorial e oceânico carrega, para a Amazônia adentro, grande parte da umidade em baixos níveis, sendo que o anfiteatro formado pelos Andes e a Depressão Continental do Chaco afunilam para latitudes mais altas, no interior do Brasil Central. Não podemos, entretanto, nos esquecer da atuação da Frente Polar Atlântica, sendo ela o sistema atmosférico com maior mobilidade e grau de penetração em território brasileiro. Quando precedida de forte ciclogênese acima ou em torno do paralelo de 30º, próximo da costa do Rio Grande do Sul (TARIFA & HAMILTON, 1978), indica que vai penetrar fundo no Planalto Central e, eventualmente, atingir o sul da Amazônia. Se no inverno ela produz graus diferenciados de resfriamentos episódicos, nas outras estações é parcialmente responsável pela produção de chuvas. Pode-se observar, nos Gráficos 001 e 002 que a partir do mês de maio ocorre um aumento de nebulosidade (3 a 4 octas), de sudoeste para nordeste, que atinge o Mato Grosso em junho e permanece até agosto com a mesma orientação. Esta faixa de nebulosidade é ligada aos deslocamentos frontais da Frente Polar, em território brasileiro. Existem resultados que demonstram que esse elevado grau de penetração da Frente Polar estaria relacionado a um trough estacionário, ligado à Cordilheira dos Andes (SATYAMURTI et al 1980), e orientado no 9 mesmo sentido da banda de nuvens presentes nos Gráficos 001 e 002 nos meses de novembro a dezembro”. (TARIFA , 1986). Recentemente, TARIFA (1994), demonstra preocupação de que a área do Brasil Central (principalmente o Clima Equatorial Continental do Estado de Mato Grosso), possa sofrer uma diminuição das chuvas (a longo prazo) em função das mudanças climáticas que venham a ocorrer na Amazônia. A análise de imagens de satélites meteorológicos, bem como o estudo do escoamento troposférico em baixos níveis (850 mb) demonstram haver um deslocamento constante (de noroeste para sudeste) de nuvens e vapor d’água da Amazônia Ocidental para o Centro-Oeste. Assim sendo, conclui o autor, apesar de ainda não existirem simulações capazes de relacionar o desflorestamento da floresta equatorial com a diminuição das chuvas no Estado de Mato Grosso, as evidências observacionais demonstram que uma parte considerável da umidade atmosférica do Brasil Central é geneticamente formada na Amazônia Centro-Ocidental. 10 ENTRA GRÁFICO 001 11 ENTRA GRÁFICO 002 12 2.3. A CIRCULAÇÃO GERAL DE LARGA ESCALA O Estado de Mato Grosso, devido à sua grande extensão latitudinal, caracteriza-se por ser uma região de transição entre os climas quentes de latitudes baixas e os climas Tropicais do Brasil Central. O extremo meridional do Estado é afetado pela maioria dos sistemas sinóticos que atingem o sul do Brasil, com características modificadas, mas de origem extratropical (frentes, anticiclones e cavados de altitude). Por outro lado, o extremo norte e a porção central do Estado, são muito influenciados pelos padrões de larga escala associados às mudanças na circulação de Hadley. Desta maneira, os principais sistemas a serem tratados, cuja importância é fundamental para a compreensão da distribuição temporo-espacial dos atributos climáticos de superfície são o fenômeno “ENSO” (El-Niño – Oscilação Sul); a Zona de convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). 2.3.1 El Niño - Oscilação Sul As anomalias meteorológicas que ocorrem a América do Sul estão associadas, principalmente, ao deslocamento da célula de Walker, do fortalecimento do jato subtropical e de um possível trem de ondas que se estende do Pacífico até o sul da América do Sul. O deslocamento da célula de Walker, para leste, tem influência sobre o nordeste do Brasil e parte da Amazônia , regiões que ficam sob a ação do ramo descendente dessa célula, (KOUSKY et al, 1984, APUD por CAVALCANTI, 1996), O fortalecimento do jato subtropical ocorre devido ao forte aquecimento na região do Pacífico Equatorial, que provoca um aumento do gradiente de temperatura norte - sul e também um transporte de momentum em altos níveis, da região de liberação de calor latente tropical, para os ventos de oeste. Um dos mais fortes eventos de ENSO, foi aquele ocorrido durante os anos de 1982/83. No caso da Amazônia Central (o que inclui a parte setentrional do Mato Grosso) provocou uma diminuição considerável da pluviosidade na estação chuvosa (janeiro e fevereiro). Este comportamento ocorreu em razão do ramo descendente da célula de Walker deslocar-se para a região sobre a Amazônia, inibindo a formação de atividades convectivas (NOBRE & RENNÓ, 1985), Este período (Janeiro/Fevereiro 82/83) caracterizou-se por possuir o menor índice pluviométrico nos últimos 50 anos. No entanto, a repercussão do fenômeno ENSO no território do Mato Grosso, necessita de maior detalhamento na distribuição espacial da pluviosidade. Os dados das séries pluviométricas referentes ao período de 1983 a 1994 demonstram que em anos de El Niño muito forte como os de 1982/83, e de 1990 a 1994 (El Niño estendido) o extremo norte e noroeste sofre diminuição da pluviosidade, enquanto no extremo sul as chuvas acompanham o padrão normal ou sofrem desvios positivos. Estudos observacionais realizados por MARENGO E HASTENRATH (1993), e que foram comprovados por estudos de modelagem do clima de MARENGO et alli. (1993), mostram que, durante anos de grande aquecimento das águas do Pacifico equatorial central (fenômeno do El-Niño), a ZCIT situa-se anômalamente mais ao norte do que sua posição normal sobre o Atlântico tropical. Consequentemente, os ventos alísios de NE são mais fracos, reduzindo a umidade que penetra no interior da região Amazônica. Sobre o lado oeste dos Andes, a convecção que produz chuvas abundantes ao norte do Peru, provoca, por sua vez, movimentos de ar de subsidência compensatória no lado este, contribuindo para uma menor quantidade de chuva na parte oeste da Amazônia (FISCH et all, 1996). 13 2.3.2. Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) Principalmente durante a primavera-verão do hemisfério sul, forma-se uma extensa e larga Zona de Convergência na América do Sul; sua orientação é de noroeste para sudeste estendendo-se desde o sul da Amazônia até o Brasil de Sudeste. Trata-se de um fenômeno meteorológico de macroescala, sendo geralmente acompanhado por intensos impactos pluviométricos. Climatológicamente a ZCAS pode ser identificada, na composição de imagens de satélite, como uma banda de nebulosidade de orientação NW/SE, estendendo-se desde o sul da região Amazônica até a região central do Atlântico Sul (KOUSKY, 1988), ou ainda em padrões de distribuição de radiação de onda longa (CARVALHO et alli, 1989). O estudo observacional feito por KODAMA (1992), mostrou diversas características comuns entre a ZCAS, a Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS). Essas características comuns seriam: estendem-se para leste, nos subtrópicos, a partir de regiões tropicais específicas de intensa atividade convectiva; formam-se ao longo de jatos subtropicais em altos níveis e a leste de cavados semi-estacionários; são zonas de convergência em uma camada inferior úmida, espessa e baroclínica; estão localizadas na fronteira de massas de ar tropical úmida, em regiões de forte gradiente de umidade em baixos níveis, com geração de instabilidade convectiva por processo de advecção diferencial. A origem do fenômeno ZCAS, e quais os processos meteorológicos de larga escala, que as mantém ainda não estão totalmente equacionados. Estudos realizados por CASARIM E KOUSKY (1986), mostraram uma relação entre a convecção na região Centro-Oeste do Pacífico (ZCPS) e uma posterior intensificação da ZCAS, sugerindo um trem ondulatório de 30 a 60 dias. Dentre os fatores locais, que exercem influência no mecanismo de manutenção das ZCAS, talvez o mais importante seja o papel desempenhado pela convecção na região amazônica. O estabelecimento desse padrão de circulação está claramente associado à atividade convectiva na Amazônia e Brasil Central, que intensifica o jato subtropical em altos níveis, em um processo de conversão de energia cinética divergente em energia cinética rotacional (HURREL & VINCENT, 1991). Em baixos níveis a convecção também contribui na intensificação da Baixa na região do Chaco, que fortalece a convergência de ar úmido sobre a região. Outro aspecto importante parece ser também o papel do anfiteatro formado pela Cordilheira dos Andes, no sentido de intensificar o escoamento em baixos níveis, auxiliando assim a alimentação da convergência com o ar úmido da região amazônica. 2.3.3. Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) A extensa faixa de baixas pressões equatoriais (entre os dois hemisférios) é considerada o Equador meteorológico do planeta. Historicamente conhecida como convergência dos alíseos, ela é muito importante para a climatologia das áreas tropicais e equatoriais, pois seu deslocamento entre as latitudes 08ºN e 05ºS, modula grande parte da convecção na faixa intertropical. Portanto, o conceito meteorológico de ZCIT, pressupõe características físicas tais como: - zona de confluência dos alíseos de ambos os hemisférios; - zona de cavado equatorial ou doldrum; - zona de máxima temperatura da superfície do mar; 14 - zona de máxima convergência de massa; - zona de banda de máxima nebulosidade convectiva. No caso, especificamente do Estado de Mato Grosso, cuja localização está praticamente fora da faixa de deslocamento norte-sul da ZCIT, a sua atuação deve se dar de forma indireta, e mesmo assim restrita ao extremo norte do Estado. 2.4. A CIRCULAÇÃO SUPERIOR (200 A 300 hpa) A análise da circulação superior (entre 200 a 300 hpa) para a região central da América do Sul envolve pelo menos o reconhecimento de dois padrões de circulação atmosférica. O primeiro deles associado à permanência de um anticiclone, conhecido como Alta da Bolívia, cuja atuação é semi-estacionária no período de outubro a março. Na passagem do verão para o outono, ocorre o desaparecimento deste centro de alta, sendo gradativamente substituído pelos ventos e cavados da circulação de oeste, sendo este esquema médio, o padrão predominante durante o outono-inverno. 2.4.1. A Alta da Bolívia Na região central do Brasil, durante a primavera-verão, predomina na troposfera superior, um anticiclone, cuja origem está associada ao forte aquecimento do solo, bem como à liberação de calor latente (VIRJI, 1981). Este sistema de alta é importante para a Climatologia do Centro-Oeste do Brasil por várias razões entre as quais destacamos: - pode ocorrer interações entre a posição da alta superior e as penetrações frontais. Ela pode intensificar a convecção na região frontal e a divergência em altitude pode ajudar nesse processo. - em anos de forte El Niño ou menos chuvosos, existem resultados que mostram um deslocamento do centro da alta para oeste de sua posição climatológica. - a alta interage com os cavados de oeste e com o jato subtropical, intensificando a circulação (CARVALHO, 1989). Em síntese, a alta pode intensificar a convecção e as chuvas na região frontal e a divergência em altitude pode ajudar nesse processo. No entanto, isso depende muito das características dos dois sistemas na penetração da frente sobre o continente. É possível que a divergência em altitude, associada à região da alta, entre em fase com a convergência úmida em baixos níveis, associada à região frontal, e estabeleça-se assim um mecanismo de feedback, que estimule a convecção na banda frontal, e esta por sua vez aumente a divergência em altitude. Entretanto, o posicionamento adequado da divergência associada à Alta da Bolívia depende de uma série de fatores de grande escala, dentre eles a posição do jato subtropical e a distribuição da convecção ao longo do cinturão tropical. 2.4.2. A Corrente do Jato Na troposfera superior, próximo da descontinuidade da Tropopausa, existe uma área de ventos de oeste muito fortes, muitas vezes com intensidades superiores a 300 km por hora. Este fluxo de oeste recebe o nome de corrente de jato ou simplesmente jato. Sua importância 15 climatológica está associada à evolução dos ciclones extratropicais, bem como à formação e intensificação dos movimentos ondulatórios da frente polar no continente sul americano. Na realidade, existem duas correntes de jato distintas. Uma delas é o jato polar e está associada ao forte gradiente horizontal de temperatura que ocorre nas estreitas zonas frontais, localizando-se no lado equatorial destas. Este jato encontra-se geralmente entre as latitudes de 35ºS a 70ºS. A sua posição é mais próxima ao equador durante o inverno do que no verão. A outra corrente, Jato Subtropical, está associada à circulação da Célula de Hadley e geralmente fica localizada no limite polar dessa célula, entre as latitudes de 20ºS a 35ºS. Esta corrente é mais regular e sua posição média muda em direção ao equador no período de inverno e em direção aos polos no verão (PEZZI et alli, 1996). A importância da Corrente de Jato é ressaltada em BROWING (1985), que associa casos de precipitação intensa com a Corrente de Jato. KOUSKY & CAVALCANTI (1984) relacionaram o padrão do escoamento em altos níveis a um bloqueio ocorrido na América do Sul durante o evento ENOS de 1983, ressaltando o papel do Jato Subtropical nas intensas precipitações sobre a região Sul (PEZZI et alli, 1996). Existem pouquíssimos estudos sobre a climatologia sazonal da Corrente de Jato na América do Sul, talvez o mais completo trabalho seja o de PEZZI et alli, (1996), cujo período analisado foi o de 1985 a 1996, sendo que os resultados principais que interessam para o Estado de Mato Grosso são: Durante os meses de verão (dezembro, janeiro e fevereiro) pode-se observar que em apenas dois anos (1985 e 1991) há um núcleo mais intenso sobre a América do Sul – Subtropical (principalmente 1991) com ventos relativamente fortes. Nos anos de 1992, 1993 e 1994 o jato esteve bem forte; no ano de 1989 e início de 1990, este sistema apresentou-se fraco. De forma geral nos anos em que ocorreu El Niño estendido, principalmente de 1991 a 1994 a corrente do jato, no Atlântico próximo da América do Sul foi mais forte do que no período de 1985 a 1989. No outono o jato subtropical apresenta-se bem definido e em processo de intensificação. Durante o inverno há uma intensificação do jato subtropical e do jato polar. Nos anos de 1987, 1988, 1993 e 1994, o jato apresentou-se mais intenso. Durante os meses da primavera o jato começa a perder força em resposta ao aparecimento da Alta da Bolívia. Durante os anos de 1987, 1990, 1993 e 1994, o jato esteve bem forte. Por outro lado nos anos 1985, 1989 e 1991, o jato apresentou-se mais enfraquecido. Nesta estação, devido ao transporte de ar quente e umidade, provenientes da Região Amazônica, pelo Jato em Baixos Níveis (JBN) para a região do Paraguai e norte da Argentina, e à presença do jato em altos níveis sobre as Regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil, há a formação dos chamados Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) nesta área. A presença do jato em altos níveis executa o papel de aumentar a instabilidade. 16 2.5. OS SISTEMAS CONVECTIVOS EM MATO GROSSO Os processos convectivos sazonais no Estado de Mato Grosso dependem da circulação de larga escala e de controles meteorológicos locais para o seu desenvolvimento dentro do ciclo diurno-noturno. Para facilitar a compreensão e a caracterização dos mecanismos e o desenvolvimento temporal dos sistemas de mesoescala, dividiremos em três níveis de abordagem: A Convecção na Amazônia; Os Complexos Convectivos de Mesoescala; e as linhas de Instabilidade. No caso da Amazônia o tratamento será mais genérico, mostrando as condições regionais, enquanto que os complexos convectivos de mesoescala (CCM) e as linhas de Instabilidade (LI) os resultados obtidos pelo INPE-CPTEC permitem uma análise no ciclo sazonal e diurno-noturno. 2.5.1. A Convecção na Amazônia Segundo MOLION (1987, 1993), os mecanismos que provocam chuva na Amazônia podem ser agrupados em 3 tipos: convecção diurna resultante do aquecimento da superfície e condições de larga-escala favoráveis; linhas de instabilidade originadas na costa N-NE do litoral do Atlântico; aglomerados convectivos de meso e larga escala, associados com a penetração de sistemas frontais na região S/SE do Brasil e interagindo com a região Amazônica; Segundo FISCH et alli, (1996), o máximo da chuva na região central da Amazônia (próximo de 5º S), pode estar associada á penetração de sistemas frontais da região sul, interagindo e organizando a convecção local. O período de chuvas ou forte atividade convectiva na região Amazônica é compreendido entre novembro e março, sendo que o período de seca (sem grande atividade convectiva) é entre os meses de maio e setembro. Os meses de abril e outubro são meses de transição entre um regime e outro. A distribuição de chuva no trimestre dezembro-janeiro-fevereiro (DJF) apresenta uma região de precipitação alta (superior a 900 mm) situada na parte oeste e central da Amazônia, em conexão com a posição geográfica da Alta da Bolívia. Por outro lado, no trimestre junho-julho-agosto (JJA), o centro de máxima precipitação deslocou-se para o norte e situa-se sobre a América Central. A região Amazônica, principalmente na parte central, está sobre o domínio do ramo descendente da Célula de Hadley, induzindo um período de seca bem característico (FISCH et alii, 1996). Este comportamento está completamente de acordo com o ciclo anual da atividade convectiva na região, conforme demonstrado por HOREL et alli., (1989). OLIVEIRA (1986), realizou um estudo climatológico sobre a interação desta convecção tropical e a penetração de sistemas frontais na região SE do Brasil, utilizando de 5 anos (1977/1981) de imagens de satélites meteorológicos. Estes sistemas frontais provocam a organização e formação de uma banda de nuvens orientada no sentido NW/SE identificada como Zona de Convergência do Atlântico Sul, ZCAS, que possui sua máxima intensidade nos meses de verão, aumentando o regime de precipitação da região (época chuvosa). Este aumento de convecção está relacionado com a intensificação do cavado em altos níveis, que é gerado pela penetração da frente (FISCH et alli, 1996). 17 2.5.2. Os Complexos Convectivos de Mesoescala 2.5.2.1. Do Mato Grosso Setentrional O extremo norte (noroeste e nordeste do Estado) sofre muita influência dos movimentos para oeste e noroeste dos sistemas convectivos da Amazônia centro meridional para o Brasil Central. De forma geral, pode-se afirmar que na região tropical, as áreas convectivas, acompanham de certa forma o movimento sazonal da zona de convergência intertropical (ZCIT) bem como o deslocamento e as trajetórias dos sistemas extratropicais, principalmente a propagação das frentes polares no continente sul americano. Um dos trabalhos mais importantes para a compreensão dos movimentos destes sistemas é o de MACHADO et al, (1996), este autor relata que: 2.5.2.2. A trajetória dos sistemas no verão na região Amazônica, mostra a propagação de sistemas de leste para oeste com tempo de vida de aproximadamente 10 horas. Observa-se também, uma propagação de sistemas da Região Amazônica para a Região Sul do Brasil, mostrando uma interação com a ZCAS. Além disso, nota-se a presença de convecção associada à Alta da Bolívia; Os fatores marcantes no verão são os núcleos no oeste da América do Sul. Esses núcleos correspondem às regiões de convecção da Alta da Bolívia e ZCAS. O período predominante na Região Norte é de 3,5-4 dias. Na região ao Sul (próximo de Resistência-Argentina), o período de oscilação não é muito estável de um setor a outro, e a energia espectral é concentrada em períodos de 3-4 dias e 7-10 dias. A oscilação na Região Norte, no Verão, em torno do período de 3,5-4 dias, em fase com o ciclo diurno, extremamente forte nesta região, pode resultar em uma oscilação de 7 dias. O período entre 7-10 dias é típico das penetrações de frentes frias no sul da América do Sul. Esse conjunto de atuações simultâneas de diferentes períodos sugere que a ZCAS seja forçada pelo ciclo diurno, pelas penetrações de frentes frias e pela oscilação de 3,5-4 dias. Do Mato Grosso Centro Meridional Os complexos convectivos aqui considerados, são aqueles cuja origem está associada ao intenso aquecimento da depressão continental do Chaco, ou o conjunto de “Pantanais” ou “Chacos” entre o Paraguai, a Depressão do Guaporé e o Pantanal de Mato Grosso. São considerados aglomerados convectivos, como já citava os trabalhos pioneiros de CAVALCANTI (1982) e GUEDES (1985). Como indicam os diversos estudos de casos de CCM, eles estão freqüentemente associados a eventos de precipitações intensas, fortes rajadas de vento e até tornados, motivando seu estudo com base nas aplicações em previsão do tempo. Conforme relatado em VELASCO & FRITSCH (1987), o ciclo de vida do Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) é tal que o horário de máxima extensão ocorre de madrugada, na grande maioria dos casos observados. O hábito noturno é uma das características mais marcantes do CCM tanto subtropical, nos dois hemisférios como aqueles observados na região tropical. As primeiras células convectivas que ainda precedem a definição do início do CCM podem ocorrer tanto no início da tarde como no início da noite, numa curva 18 bimodal. O fim do CCM ocorre em sua grande maioria por volta do meio-dia subsequente. Pode-se notar que o tempo de vida mais freqüente está entre 10 e 20 horas. MACHADO et alli. (1994) examinaram o ciclo de vida de sistemas convectivos sobre a América do Sul e encontraram para sistemas com raio de 240 km um tempo de vida médio de 15 horas para latitudes médias no verão. No entanto, alguns sistemas inicialmente classificados como CCM podem evoluir para vórtices como aquele descrito em BONATTI & RAO (1987),: durante as primeiras 6 horas o sistema se apresenta como um CCM e a seguir começa a adquirir a forma de vírgula invertida característica de vórtices e persiste por mais 48 horas. A ocorrência dos CCM a sotavento de cadeias de montanhas como os Andes e seu hábito noturno podem ser explicados por uma associação de uma condição sinótica favorável com as circulações locais termicamente induzidas. 2.5.3. As Linhas de Instabilidade O uso de imagens de satélites geoestacionários, bem como estudos observacionais, tem permitido descrever dois tipos de linhas de instabilidade (LI); aqueles que se formam próximo da costa litorânea do Pará e Amapá e se deslocam ou não para dentro do continente, atingindo a Amazônia Central e o extremo sul do Pará em certas situações sinóticas. Estas linhas são caracterizadas por possuir grandes conglomerados de nuvens cúmulo nimbus e são formadas devido à circulação da brisa marítima. CAVALCANTI (1982), realizou um estudo climatológico e observou que a formação destas linhas posiciona-se ao sul da Zona de Convergência Inter-Tropical (ZCIT), sendo o período de maior freqüência na época em que a ZCIT está mais organizada. MOLION (1987, FISCH et alii, 1996), descreve a influência destas LIs na distribuição de chuva da Amazônia Central, observando que, durante à noite e devido à diminuição do contraste térmico oceano-continente, estas LIs praticamente se dissipam, para revigorarem-se no dia seguinte, com o aquecimento da superfície. 3. A VARIAÇÃO ESPACIAL DA TEMPERATURA O território do Estado de Mato Grosso, localizado entre as latitudes de 8º a 18ºLS, encontra-se dentro da faixa intertropical da porção central do Continente Sul americano. O primeiro fato que se pode deduzir desta posição são elevados totais de radiação solar global, incidentes na superfície do solo, praticamente o ano todo. O comprimento do dia, através da insolação, indica pequenas variações entre os solstícios de inverno e verão. Resultam assim, o domínio de climas Equatoriais e Tropicais Quentes com pequena variação térmica sazonal e anual. Na realidade, as maiores variações térmicas são aquelas associadas com o ciclo dia – noite. Este ritmo é fortemente marcado pelo movimento do sol fica claramente evidenciado na amplitude térmica diária, onde encontramos valores muito superiores às amplitudes anuais. Em termos médios, a amplitude diária varia entre 10 a 14ºC, e em termos absolutos pode se aproximar com muita freqüência de valores entre 16 a 20ºC, enquanto que a amplitude térmica anual varia entre 1,5 e 4,0ºC. Outro aspecto desse tipo de localização é a influência da própria estrutura da nebulosidade e da chuva no aquecimento da camada próxima da superfície, influenciando decisivamente a sensação de conforto térmico. Desta maneira, é muito comum o homem amazônico chamar de inverno a estação das águas ou das chuvas, e de verão a estação seca. Esta percepção mostra a importância do ciclo diurno se sobrepondo ao ciclo anual ou sazonal ligado às estações definidas por datas astronômicas. 19 O ritmo torna-se assim a combinação ou superposição orgânica entre calor e chuva (água) e calor e seca (com muito sol e menor umidade). Este fato, ou esta realidade, não elimina a possibilidade de arritmias, como as fortes, curtas e intensas ondas de frio (friagens amazônicas) que podem ocorrer de maio – junho à agosto – setembro. E, neste caso, o resfriamento pode resultar em temperaturas mínimas de até 4,1ºC, como ocorreu em Vera durante o inverno de 19812. Do ponto de vista do mapeamento das temperaturas foram utilizados os gradientes térmicos associados à latitude, à altitude e à longitude. No caso do mapa de temperaturas médias das mínimas optou-se por trabalhar apenas com a latitude e altitude. Este procedimento mostrou um ajuste melhor entre os dados reais medidos nas estações meteorológicas e aqueles estimados pela regressão. 3.1. MÉDIA COMPENSADA ANUAL O campo de variação da temperatura média anual no Estado de Mato Grosso é de 21,0 a 26,0ºC como ilustra o Mapa A002 – Distribuição da Temperatura Média Anual. As regiões mais frias do Estado correspondem às faixas de latitudes entre 16 a 18ºLS, onde as altitudes são superiores a aproximadamente 900 metros. Na realidade são pequenas áreas dos topos dos chapadões do Alto Taquarí, Alto Araguaia, Campo Verde (Alto Rio das Mortes), Chapada dos Guimarães e em algumas serras isoladas como Ricardo Franco, Santa Bárbara e Serra da Estrela. Nestes sítios e no seu entorno se agregam climas mesotérmicos ou Tropicais de Altitude, com temperaturas médias anuais entre 22 a 23ºC e em faixas altitudinais entre 600 a 800 metros. Pode –se tomar como exemplo destes tipos de realidades climáticas os topos elevados da Chapada dos Parecis, Chapada dos Guimarães, Planalto dos Guimarães, Planalto do Alto Araguaia e Taquari. A Província Serrana mostra variações térmicas entre 23 a 24ºC, dependendo da altitude e da faixa de latitude onde se encontra. A maior parte dos reversos setentrionais da Chapada dos Parecis, onde as altitudes começam a cair para uma faixa entre 400 a 500 metros e as latitudes vão se tornando menores a temperatura média anual fica entre 23 e 24ºC. A fachada meridional das chapadas e planaltos (altitudes entre 300 a 600 metros) mostra um gradiente de aumento das temperaturas entre 23 e 24ºC. O contato com as depressões, pantanais e baixos planaltos do Mato Grosso meridional (onde as altitudes oscilam entre 200 a 300 metros) mostram temperaturas médias anuais entre 24 e 25ºC. As áreas mais baixas (altitudes menores que 200 metros) do Vale do Guaporé, Depressão do Alto Paraguai e da Depressão Cuiabana, incluindo o pantanal indicam valores entre 25 e 26ºC de temperatura média anual. O Planalto dos Parecis e grande parte da Depressão Sul Amazônica (altitudes entre 300 e 400 metros) mostra um grau de homogeneidade térmica, com valores entre anuais entre 24 a 25ºC. O extremo noroeste e a Depressão do Médio Araguaia apresentam temperaturas médias anuais entre 25,0 e 26ºC. A variação mensal das temperaturas médias compensadas mostra um ritmo de máximo aquecimento no equinócio de primavera (outubro – novembro). Esta característica é comum a todas as unidades climáticas, pois é um fato que se repetiu em todas as 24 estações 2 Conforme relato pessoal do observador da Estação Meteorológica de Vera – INMET. 20 meteorológicas utilizadas. Apenas em Juína e Vilhena ocorreu uma antecipação deste máximo para o mês de setembro. O mês mais frio ou com os menores valores médios da temperatura do ar é julho, em pleno inverno seco do hemisfério meridional. Em Alta Floresta e Matupá o mês mais quente é outubro com 26,1ºC e 25,3º, enquanto que o mês mais frio é julho, com 23,8ºC e 23,4ºC. Portanto, a amplitude térmica anual é de apenas 2,3ºC e 1,9ºC. Cotriguaçú, Juína e Vilhena apresentam amplitudes térmicas também muito parecidas, com valores entre 1,9º a 2,5ºC, enquanto em Vera, localizada um pouco mais a leste e ao sul, a amplitude térmica aumenta para 3,1ºC, sendo a temperatura do mês mais quente, outubro, com 25,5ºC e julho, o mês mais frio, com 22,4ºC. De modo geral, na faixa tropical (latitudes entre 13 a 18ºLS) as amplitudes térmica anuais ficam entre 3 e 4ºC. As únicas exceções parecem ser as estações localizadas na Depressão do Alto Paraguai (Cáceres e Quatro Marcos) e na Depressão Cuiabana (Cuiabá, Remetter e Rosário), aonde as amplitudes aumentam as para valores entre 4,8ºC a 5,4ºC. Este fato talvez tenha explicação na proximidade desta áreas com as serras e áreas elevadas, fornecendo drenagem noturna de ar frio durante os meses de inverno seco (junho, julho e agosto). Este tipo de resfriamento foi observado nos trabalhos de campo em Cuiabá, Rondonópolis, Poxoréu, confirmando, portanto, o que os dados das estações demonstram. 3.2. MÉDIA DAS MÁXIMAS A distribuição espacial das isotermas médias anuais das temperaturas máximas para o Estado de Mato Grosso (Mapa A003) demonstra elevado grau de aquecimento do ar próximo do solo no período da tarde. Considerando-se o Estado como um todo, a temperatura média anual das máximas varia entre um mínimo de 28,0ºC a 34,0ºC. O principal controle climático deste elemento é a altitude. Por outro lado, a variação latitudinal age da forma combinada com o relevo e a topografia, estruturando faixas e processos genéticos diferenciados. Por exemplo, podemos citar a faixa setentrional do Estado (latitudes entre 12º a 8º Sul) onde não se nota abaixamento ou resfriamento das máximas no solstício de inverno (junho, julho e agosto); elas caem ou ficam um pouco mais baixas durante o pico da estação chuvosa; este processo ou ritmo genético diferenciado é evidente nos dados das temperaturas máximas de Vera, Matupá, Alta Floresta, Cotriguaçú, Juína e Vilhena. Enquanto isso, ao sul do paralelo 13º, o resfriamento está sempre associado à estação seca de inverno. Talvez por uma nova dupla de ação genética, ou seja, a combinação da diminuição da radiação solar global no ápice do solstício de inverno com a atuação do anticiclone polar Continental; não apenas pelo resfriamento através da advecção de ar frio, mas também pela baixa umidade do ar. O terceiro fator, em termos de ordem de importância é a longitude, ou a sua combinação com o fator continentalidade. A própria trajetória e faixa de deslocamento das baixas pressões continentais definem “campos térmicos” associados às características da superfície do continente, com o outro fator já mencionado, ou seja, a altitude. Portanto, as baixas térmicas estão muito ligadas com o forte aquecimento das superfícies planas e relativamente baixas da região central do Continente da América do Sul. De modo geral, na faixa equatorial do Estado, incluindo parte da Depressão do Norte do Mato Grosso e os vales dos rios Juruena, Arinos e do Xingu, as temperaturas médias das máximas oscilam entre 32º a 33ºC. A Depressão do Araguaia (entre 10 e 15º de Latitude Sul) também é fortemente aquecida no período da tarde, e a média anual fica entre 32 e 33ºC. O Planalto dos Parecis, mostra no geral valores de aquecimento intermediário entre 31 e 32ºC. A passagem para a Chapada dos Parecis e os Planaltos, Chapadas e serras do sudeste do Estado de Mato Grosso é feita em largas faixas onde os máximos vão caindo para valores entre 30 a 31ºC. Nos topos mais elevados (altitudes entre 700 a 900 metros) das serras, Chapadas e Altos Planaltos a média anual das temperaturas máximas fica entre 28 a 30ºC. 21 As depressões do Guaporé, Alto Paraguai e do Rio Cuiabá mostram aquecimento muito forte com as médias anuais entre 32 e 33ºC. O Pantanal, à medida que as altitudes vão diminuindo (entre 80 a 100 metros), tem média anual entre 33 e 34ºC. A análise da variação mensal das temperaturas médias das máximas também demonstra (à exemplo das médias compensadas) pequena amplitude térmica entre o mês mais quente e o mês mais frio, ou seja, um campo de variação entre 2,6ºC a 4ºC aproximadamente. Este fato significa forte aquecimento no período da tarde para todas as estações do ano. Na realidade a mudança mais significativa não é de quantidades, mas sim do processo genético, ou seja, de qualidade entre a zona equatorial setentrional do Estado e a faixa tropical (centro-meridional). Explicando melhor ,os dados meteorológico das estação meteorológicas de Vera, Matupá, Alta Floresta, Cotriguaçú Juína e Vilhena demonstram uma antecipação na ocorrência do período de máximo aquecimento para julho – agosto até setembro – outubro, enquanto que todas as outras estações ao sul do paralelo 12ºLS o máximo de aquecimento é em setembro-outubro-novembro. Na zona setentrional (equatorial ou subequatorial) o mês mais quente é agosto, em pleno inverno austral; e o mês mais frio oscila entre janeiro – fevereiro, associado com o máximo pluvial do verão. Torna-se claro a percepção do homem amazônico em chamar a estação das águas de “inverno” ou “invernada” e a estação seca de “verão”. Em todas as outras regiões do Estado (ao sul do paralelo 12º ou da localização da estação meteorológica de Vera) mês mais quente e outubro e o mais frio é Tomando-se como exemplo a estação meteorológica de Cuiabá, o mês de máximos mais elevados é outubro, com 34,4ºC e o mês de menores máximas é junho, com 30,7ºC, dando, portanto, uma amplitude térmica de 3,7ºC. 3.3. MÉDIA DAS MÍNIMAS Os valores observados das temperaturas mínimas absolutas são muito influenciados pela localização topoclimática da estação meteorológica. Este fato, aliado a uma série de erros instrumentais e à falta de uma uniformidade das séries utilizadas, dificultam muito o mapeamento deste elemento. Desta forma, o mapa produzido deve ser visto como uma tendência associada à dois controles climáticos: a latitude e a altitude, e à uma escala cartográfica na resolução 1:1.500.000. Portanto, o mapeamento em outras escalas maiores (1:250.000 até 1:10.000) deverá adotar procedimentos técnicos vinculados também à forma, orientação e declividade das unidades de relevo e da própria topografia e não serem produzidos como simples ampliação do mapeamento aqui elaborado. A variação da temperatura média anual das mínimas no Estado de Mato Grosso é de 16,0 a 22,0ºC como ilustra o Mapa A004 – Distribuição da Temperatura Média dos Mínimos Anuais. O extremo noroeste do Estado de Mato Grosso (Mapa A004) é a região que apresenta o menor grau de resfriamento noturno, com a temperatura média anual das mínimas entre 21 a 22ºC. Na realidade, são áreas baixas (altitudes entre 100 a 200 metros) e onde se concentram tetos baixos de nuvens quase o ano todo. As elevadas condições de alta umidade e nebulosidade devem atenuar o resfriamento noturno. No Planalto dos Parecis a temperatura média anual das mínimas deve variar entre 19 a 20ºC, enquanto que na Depressão do Araguaia (entre 160 a 300 metros) elas deve variar entre 20 a 22ºC. Os planaltos e chapadas (com altitudes entre 600 a 900 metros) de Mato Grosso Centro – Meridional indicam valores entre 17 a 19ºC. As depressões do Guaporé, Alto Paraguai e Alto Cuiabá mostram valores crescentes, mas com um gradiente altitudinal relativamente pequeno, ou seja, os valores médios das temperaturas mínimas variam entre 20 a 21ºC. No entanto, os dados observados de Cuiabá e Ricardo Remetter em estações meteorológicas localizadas em áreas relativamente baixas, ou seja, entre 171 a 140 metros respectivamente, indicam valores médios anuais de 21,7ºC e 21,3ºC. Talvez a estação meteorológica da cidade de 22 Cuiabá possa estar sendo influenciada pela área urbana, enquanto a estação de Ricardo Remetter não tenha este tipo de influência. O ritmo mensal e sazonal da variação espacial do ciclo de resfriamento no Estado de Mato Grosso mostrou um padrão único para todo o Estado. Os três meses com máximo resfriamento matinal são rigorosamente iguais para todas as estações meteorológicas, junho, julho e agosto. Este mesmo tipo de padrão com maior resfriamento noturno ligado ao solstício de inverno se repete com o sol alto do verão austral. Os maiores valores observados das mínimas acontecem em dezembro, janeiro e fevereiro, sendo que para a grande maioria das estações, as mínimas absolutas são mais elevadas em dezembro, ou seja, ponto máximo de radiação solar incidente, com o máximo de vapor de água e nebulosidade. Resta lembrar que apesar destes valores mínimos de temperatura serem relativamente elevados, o inverno austral (junho, julho e agosto) reserva uma freqüência esporádica, mas intensa de ondulações anticiclônicas polares continentais, de cuja atuação resultam mínimas entre 0 a 4ºC na parte meridional e entre 4 a 9ºC na parte Centro – Setentrional. Estes fenômenos, apesar de esporádicos podem provocar danos à atividade agropecuária e agrícola do Estado. 4. A VARIAÇÃO ESPACIAL DA PLUVIOSIDADE O mapeamento da pluviosidade foi efetuado para o total anual médio (1983-1994), para o ano-padrão seco (1993) e o ano-padrão chuvoso (1992). O regime sazonal foi analisado através do mapeamento dos totais correspondentes aos três meses mais chuvosos e mais secos do segmento temporal (1983-1994). Este estudo compreendeu também a análise do grau de concentração relativa (porcentagem) da pluviosidade em relação ao total anual médio. 4.1. O TOTAL ANUAL MÉDIO De forma geral a Distribuição da Pluviosidade Anual Média – Mapa A005 segue três padrões. O primeiro deles mostra uma larga faixa (ao norte do paralelo 12ºLS e à oeste do meridiano de 52ºWGr) com valores superiores a 2.000mm. A orientação desse padrão é de um aumento progressivo de leste-sudeste para oeste-noroeste. Dessa forma, as áreas de maior pluviosidade correspondem ao extremo norte e noroeste do Estado, abrangendo parte substancial do médio e baixo curso dos rios Roosevelt-Aripuanã e Juruena-Teles Pires. Nestas áreas os totais médios anuais variam entre 2.100 a 2.500mm. O segundo padrão está associado a uma diminuição progressiva da pluviosidade no sentido oeste-leste, na região centro-oriental do Estado; de forma geral esta tendência tem como transição a passagem da bacia do Juruena-Teles Pires para a bacia do Rio Xingu, dentro do Planalto dos Parecis. Os totais anuais caem abaixo de 1.900mm, com manchas entre 1.700 a 1.800mm, principalmente entre a Bacia do Xingu e do Rio Araguaia. O terceiro padrão está ligado ao “efeito da altitude e do relevo” no aumento ou diminuição da pluviosidade. Assim sendo, as chapadas (Parecis e Guimarães) e planaltos elevados (entre 600 a 800 metros de altitude) são, de forma geral, responsáveis pelo aumento dos totais anuais. Por outro lado, as depressões (Guaporé, Araguaia e Pantanal) são os territórios onde encontram-se os menores valores de pluviosidade. Desta maneira, os totais anuais na Chapada dos Parecis oscilam entre 1.300 a 2.100mm. Nas áreas elevadas dos espigões divisores entre a Bacia do Xingu-Rio das Mortes 23 (Alto Coluene) voltadas para N-NW também fica evidente o efeito do relevo no aumento da pluviosidade, com totais variando entre1.900 a 2.100mm. A fachada meridional da Chapada dos Parecis, principalmente no rebordo escarpado da Serra de Tapirapuã, entre Arenápolis, Nortelândia, Tangará da Serra e Parecis, acusa totais médios entre 1.900 a um máximo de 2.347mm. Da mesma forma, na face sudoeste da Chapada dos Guimarães, os totais também são superiores a 2.000mm. As áreas rebaixadas (Vale do Guaporé, Depressão Cuiabana, Depressão do Paraguai, Pantanal e a Depressão do Araguaia) onde as altitudes variam entre 80 a 300 metros se constituem nas regiões onde o efeito de ressecamento, associado à descida do vento (compressão adiabática), provoca considerável diminuição nos totais pluviométricos. Assim sendo, nas partes mais baixas do Vale do Guaporé os totais variam entre 1.400 a 1.600mm; enquanto que na Depressão Cuiabana e do Alto Paraguai os totais variam entre 1300 a 1.700mm. As áreas deprimidas da Depressão do Araguaia, à montante da Serra da Estrela, mostram valores de chuva anual entre 1.400 a 1.500mm. Os menores valores observados em todo o Estado correspondem ao Pantanal (grosso modo áreas onde as altitudes são inferiores a 100 metros); nesta região os totais variam entre 1.100 a 1.300mm (Mapa A005). 4.2. A DISTRIBUIÇÃO SAZONAL MÉDIA A distribuição das chuvas no decorrer do ano evidencia o caráter tropical da área com duas estações bem definidas, uma seca e outra chuvosa. A medida do grau de concentração sazonal da pluviosidade pode ser observado pela análise comparativa dos Mapas A006 e A007 (Distribuição da Pluviosidade Média Total e Porcentagem no Trimestre mais Chuvoso – DJF), onde se nota que: Elevado grau de concentração do total anual ocorre durante os três meses mais chuvosos, variando entre um máximo de 1.100/1.200mm à um mínimo de 500/600mm (Mapa A006). Estes valores significam de maneira geral, um grau de concentração entre 45 a 50% do total anual (Mapa A007). O trimestre mais chuvoso, para todo o território de Mato Grosso é dezembro, janeiro e fevereiro. Na realidade poder-se-ia enquadrar também o mês de março como um dos mais chuvosos, já que seus totais são para a maioria das estações muito próximos dos valores registrados durante o mês de dezembro. Não se notou na série estudada (1983-1994) mudança de regime, apenas uma tendência de que os três meses mais chuvosos, eventualmente, possam ser janeiro, fevereiro e março; O trimestre mais seco (junho, julho e agosto) concentra totais (Mapas A008 e A009) muito baixos, entre 20 e 80mm de pluviosidade. No entanto, a distribuição espacial mostra evidências sobre a gênese das chuvas na estação seca. O Vale do Araguaia é o que apresenta os menores totais (10 a 20mm), o Planalto dos Parecis mostra valores entre 20 a 40mm e apenas o extremo noroeste acusa valores observados de intensidade crescente das chuvas, para até um máximo de 100mm. Este fato e esta orientação se devem à entrada da Alta Sub-tropical (a partir do mês de abril) com uma orientação de ESE para WNW; assim sendo quanto mais próximo do seu núcleo de alta pressão, maior a estabilidade atmosférica e menor a possibilidade de ocorrência de chuvas. Observa-se ainda um aumento (entre 60 a 80mm) na região meridional do Estado. Este aumento se deve provavelmente à atuação do escoamento de sul-sudeste, associado às frentes polares; neste caso nota-se que mesmo nas áreas planas das depressões e pantanais fica caracterizado este efeito. A observação do Mapa A009 mostra que apenas 1 a 4% do total anual das chuvas é precipitado durante o trimestre mais seco. 24 4.3. O RITMO E A VARIAÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO ANO-PADRÃO CHUVOSO (1992) O padrão de distribuição do total anual demonstra que para a maior parte do Estado os valores da pluviosidade ficaram entre 2.000 a 2.200mm. As chapadas e os planaltos elevados intensificaram os totais, alcançando valores entre 2200 a 2800mm (Mapa A010 – Distribuição da Pluviosidade no Ano Padrão Chuvoso (1992). Uma das regiões que apresentou maior incremento em relação aos valores médios foi o médio Araguaia, onde os totais variaram entre 1.800 a 2.000mm. No entanto, as áreas rebaixadas do Vale do Guaporé, Pantanal e a Depressão do Alto Paraguai acusaram valores baixos entre 1.200 a 1.400mm. Um dos fatos interessantes a registrar é a pequena oscilação dos totais médios em relação ao ano chuvoso na área abrangida pelo médio Xingu (Planalto do Parecis). O mapeamento dos totais acumulados no trimestre mais chuvoso (dezembro, janeiro e fevereiro) mostrou um padrão semelhante aqueles dos valores médios. No entanto, o total de 1.000mm, praticamente abrange todo o Estado; as áreas com valores entre 800 a 1.000mm ficaram localizadas no vale do Araguaia, na região ocidental do Estado (incluindo parte da Chapada dos Parecis) e os Planaltos do Sudeste. Este tipo de distribuição com a intensidade pluvial, crescendo para a faixa setentrional, reforça a hipótese da importância dos fluxos (de umidade) equatoriais e amazônicos para o Clima do Brasil Central (Mapa A011 – Distribuição da Pluviosidade no Trimestre mais Chuvoso do Ano Padrão Chuvoso (1992). A análise da distribuição da pluviosidade no trimestre mais seco (junho, julho e agosto) demonstrou pequenas variações em relação à média. De forma geral os maiores totais (entre 50 a 80mm) ficaram concentrados no sudoeste, oeste e extremo Noroeste do Estado. Os Planaltos e Chapadões do sudeste também apresentaram valores entre 40 e 60mm, enquanto que toda a faixa centro-oriental ficou muito seca, com totais acumulados entre 0 e 10mm (Mapa A012 Distribuição da Pluviosidade no Trimestre mais Seco do Ano Padrão Chuvoso (1992). 4.4. O RÍTMO E A VARIAÇÃO DA PLUVIOSIDADE NO ANO-PADRÃO SECO (1993) Durante o ano-padrão seco a maior parte do Estado acusou valores entre 1.600 a 2.000mm. Apenas o extremo setentrional (acima do paralelo de 10ºLS) registrou áreas significativas com totais anuais entre 2000 a 2.400mm (Mapa A013 – Distribuição da Pluviosidade no Ano Padrão Seco (1993). A área centro-oriental (no Planalto dos Parecis) apresenta uma diminuição de oeste para leste, ou seja, na Bacia do Xingu os totais oscilam entre 1.600 a 1.800mm, enquanto que para oeste os valores ficam entre 1.800 a 2.000mm. As regiões que receberam os menores valores de pluviosidade é a faixa meridional (abaixo do paralelo 14ºLS), bem como o vale do Araguaia. Nestas áreas a pluviosidade decresceu para valores entre 1.000 a 1.400mm, tendo ocorrido uma extensa área sobre o Pantanal, onde os totais ficaram entre 900 a 1.000mm. No vale do Araguaia também foram registradas manchas com altura anual entre1.000 a 1.200mm. No entanto, mesmo dentro de um padrão de ano seco, a fachada sudoeste da Chapada dos Guimarães e do Planalto de Itiquira, os totais anuais ficaram entre 2.000 a 2.050mm. O mapeamento dos totais acumulados (no trimestre mais chuvoso) no ano de 1993, demonstrou uma grande variabilidade (Mapa A014). Os maiores valores registrados ficaram agrupados em faixas orientadas no sentido norte-sul (1.100 a 1.300mm), no entanto, a tendência geral obedecia um gradiente entre 900 a 1.000mm. Dentro deste padrão geral incidiram manchas no baixo Araguaia e no médio Teles Pires com valores entre 600 a 800mm. A região meridional do Estado, incluindo grande parte das bacias do Guaporé, Alto Cuiabá-Paraguai e Alto Araguaia, 25 os valores registrados ficaram entre 500 a 800mm. As chapadas (Parecis e Guimarães), bem como os planaltos elevados, variando entre 800 a 1100mm. No trimestre mais seco (junho, julho e agosto) a maior parte do Estado teve totais acumulados entre 20 a 40mm de chuva. Na Bacia do Araguaia, no médio Xingu e no média o Arinos-Juruena, incidiram manchas significativas com totais entre 0 a 10mm (Mapa A015). Apenas no extremo Noroeste os valores foram mais elevados, oscilando entre 40 a 80mm, demonstrando maior instabilidade, mesmo durante a estação seca. 4.5. A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DOS MÁXIMOS PLUVIOMÉTRICOS EM 24 HORAS O máximo de chuvas em 24 horas (Mapa A016) é uma importante variável no entendimento dos processos erosivos locais e regionais. Cada lugar, dentro de um determinado espaço, mostra um potencial de água precipitável num dado intervalo de tempo e este potencial é parcialmente responsável pelos processos denudacionais da superfície do solo. Assim sendo, a construção do mapa A016 – Distribuição dos Máximos Pluviométricos em 24 Horas teve o objetivo de contribuir para este tipo de compreensão. A distribuição dos máximos indica para a maior parte do Estado, valores entre 140 a 180mm. As manchas ou isoietas com valores entre 180 a 220mm ou mais não mostraram correlação significativa com as chapadas e planaltos mais elevados. Parece que os temporais convectivos, onde se inserem os máximos de água precipitável, dependem de outros controles; tais como o padrão de circulação atmosférica e as interações entre as características do aquecimento da superfície, com as condições dinâmicas da baixa, média e alta troposfera. É interessante notar que em certas áreas os máximos crescem muito para valores não esperados, como no Pantanal, no extremo meridional, onde ocorreram máximos de 243,389 e 460mm em 24 horas. Em Mirassol do Oeste também ocorreu um máximo de 330mm; no posto P116 (Faz. Santa Emília) na Rodovia entre São José do Xingu e Matupá ocorreu um máximo de 310mm. Não podemos descartar a possibilidade de erros de leitura, mas como é impossível este tipo de verificação, é conveniente adotar uma postura conservadora e aceitar estes valores como verdadeiros, sendo possíveis de serem explicados pela dinâmica da própria atmosfera tropical continental. 5. A VARIAÇÃO ESPACIAL DO BALANÇO HÍDRICO Considerando-se que não se pode classificar um clima como sendo úmido ou seco apenas através dos valores pluviométricos, torna-se necessário, para se saber se a chuva caída é suficiente para atender às necessidades das plantas, isto é, manter o solo úmido, considerar o consumo de água através dos processos de evaporação, o qual é tanto mais intenso quanto mais quente ou rica de energia solar é a região (TARIFA, 1970). A técnica do Balanço Hídrico de Thornthwaite, que trata a água do solo como uma grandeza contabilizável, permite estimar a umidade disponível, cotejando dois atributos climatológicos opostos: a chuva, que representa o ganho de umidade do solo e a evapotranspiração potencial, que representa a perda potencial da umidade do solo. Thornthwaite introduziu o conceito de evapotranspiração potencial para exprimir a evapotranspiração que normalmente se verifica num terreno inteiramente vegetado, livremente exposto à atmosfera e onde nunca falte umidade no solo para uso das plantas (THORNTHWAITE & MATHER, 1955). A evapotranspiração potencial é, pois, o elemento que indica a necessidade de água, por unidade de área do terreno, ou melhor, a chuva teoricamente necessária para manter a vegetação verde e turgescente o ano inteiro corresponde a chuva ideal para uma área. Confrontando-se a evapotranspiração potencial com a chuva ocorrida pode-se estimar as disponibilidades hídricas, as deficiências, os excessos, a retirada e a reposição de água no solo em determinado sítio. Existem vários métodos e técnicas para a estimativa da evapotranspiração potencial. Os mais precisos são aqueles baseados nas fórmulas empíricas de 26 PENMAN (1948), cujas determinações são baseadas no balanço de radiação solar e nos efeitos provocados pela ação do vento e do déficit de saturação (termo aerodinâmico). No entanto, dada a inexistência de dados de radiação solar, bem como das dificuldades para o mapeamento (na escala 1:1.500.000) de todo o Estado de Mato Grosso, tornou-se necessário recorrer ao método proposto por THORNTHWAITE & MATHER (1955); este método utiliza o comprimento do dia (estimado pela latitude do lugar) bem como as temperaturas médias mensais. Experimentos de campo e os resultados obtidos por PAES DE CAMARGO (1961) indicam que para os climas tropicais e Equatoriais Úmidos a Sub-úmidos, como o são aqueles do Estado de Mato Grosso, as estimativas médias mensais são boas para a caracterização climatológica na escala local e regional. O conceito “balanço hídrico” pode ter vários significados, dependendo do uso, da finalidade e da própria espessura do reservatório onde se acumula a disponibilidade hídrica. No caso do presente estudo, deve ser considerado como um processo contábil, onde o solo funciona como caixa (reservatório de água), a chuva funciona como entrada ou depósito de água no mesmo e a evapotranspiração potencial a saída ou perda superficial de água. Portanto, não se trata de um “balanço hidrológico”, mas de uma estimativa areolar das disponibilidades hídricas superficiais. No caso específico do Estado de Mato Grosso foi adotada uma capacidade de campo de 75mm; este limite foi baseado em determinações para os principais grupos de solo realizado pela equipe de solos do projeto. Deve-se considerar, portanto, uma estimativa média do armazenamento hídrico máximo e não um valor absoluto. O valor é climatológico e, portanto, imprescindível (para uma análise comparativa dos vários espaços e unidades climáticas), que fosse um único limite para a capacidade de campo (75mm). O balanço hídrico, quando o solo não se encontra em capacidade de campo (cc)3 a evapotranspiração potencial será menor em virtude da falta de água para as plantas, ocorrendo a evapotranspiração denominada real (ER). A deficiência hídrica (DEF) indica a falta de água no solo, em milímetros. É sempre representada pela diferença algébrica entre a evapotranspiração potencial (EP) e a evapotranspiração real (ER), ou seja, DEF = EP – ER O excedente hídrico (EXC) mostra o escoamento total em milímetros (runoff) após a saturação do solo, ele pode variar de acordo com o limite de capacidade de campo adotado. No balanço hídrico sempre que a curva da pluviosidade (mm) cai abaixo da curva da evapotranspiração potencial, há a utilização da água do solo (água retirada do solo). Uma vez que a curva da chuva sobrepasse a da evapotranspiração potencial começará a reposição hídrica, até que se complete o limite da capacidade de campo, sendo então considerada como água excedente ou excesso hídrico. 5.1. A EVAPOTRANSPIRAÇÃO POTENCIAL A estimativa das perdas máximas superficiais de umidade indica valores anuais elevados para quase todo o Estado de Mato Grosso (Mapa A017). O extremo noroeste do Estado (na confluência do Teles Pires-Juruena e o médio e baixo Roosevelt-Aripuanã) é a área que registra os mais elevados valores anuais, variando entre 1.400 a 1.450mm. Este fato se deve à combinação das altitudes e latitudes mais baixas do Estado, aumentando consequentemente a disponibilidade de energia disponível para a evaporação e transpiração. Outras áreas com valores elevados de EP (mm) são a da Depressão do Araguaia e o Pantanal, onde os totais anuais oscilam entre 1.400 a 1.450mm. De forma geral o Planalto dos Parecis mostra uma perda inferior, entre 1.250 a 1.300mm, variando para valores mais elevados ou mais baixos em função da combinação do controle climático, altitude e a latitude. 3 Capacidade de campo (cc) 27 A Depressão do Norte de Mato Grosso é marcada também por valores elevados de EP(mm), girando entre 1.300 a 1.400mm. O Vale do Guaporé (altitudes inferiores a 300 metros) e as depressões do alto Paraguai e a Depressão Cuiabana também indicam valores elevados de EP (mm), entre 1.300 a 1.400mm. Os menores valores estimados de EP são aqueles registrados para os planaltos e chapadas, onde o efeito da altitude e da latitude diminui a faixa de perda, para os totais entre 1.000 a 1.200mm (Mapa A018). 5.2. A EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL (mm) O conceito de evapotranspiração real (mm) pode significar em termos fitogeográficos, como um indicador da capacidade vegetativa de um lugar, pois integra a disponibilidade de energia (através do balanço de radiação solar) com a variação dos insumos hídricos, fornecidos pela pluviosidade. A observação do Mapa A018 evidencia claramente que todo o território do Estado de Mato Grosso mostra valores elevados de evapotranspiração real; existe mesmo uma relativa homogeneidade na distribuição no espaço; isto se deve à uma relativa concentração dos valores mais elevados das chuvas em praticamente um único período, ou seja, de outubro-novembro a março-abril. Isto significa que existe uma longa estação chuvosa, entre 6 a 7 meses, onde as perdas superficiais de umidade são geralmente repostas pelas chuvas. Desta maneira, o gradiente de variação vai de um mínimo de 850mm (nos chapadões do Alto Taquari, por exemplo) à um máximo de 1.100 a 1.200mm no extremo noroeste do Estado. De forma geral, a Depressão Sul-Amazônica (ao norte dos Paralelos 11 e 12ºLS) também apresenta valores relativamente altos de evapotranspiração real, entre 1.000 a 1.100mm. O Planalto dos Parecis, a Chapada dos Parecis, e os Planaltos do Sudeste mostram totais entre 950 a 1.000mm. O Vale do Guaporé e as depressões (do Pantanal, do alto Paraguai, Cuiabana e do Rio Vermelho em Rondonópolis) ficam com totais entre 1.000 a 1.150mm (Mapas A018). 5.3. A DEFICIÊNCIA HÍDRICA ANUAL A variação da intensidade anual média da seca no Estado de Mato Grosso indica padrões bem definidos. O primeiro deles é associado ao caráter tropical alternadamente úmido e seco do seu clima zonal e regional. Nota-se, portanto, em todo o seu território um período “seco definido”, muito embora a duração (meses) e a intensidade mostrem variações significativas ao sabor dos processos genéticos zonais (circulação atmosférica) e regionais-locais (altitude, forma e orientação do relevo). Desta maneira, de forma geral as deficiências hídricas anuais variam entre 100 a 450mm (Mapa A019). O extremo-Noroeste (ao norte do paralelo 10ºLS e a oeste do meridiano de 56ºWGr) indica uma diminuição da seca, nesta área os totais anuais da deficiência hídrica ficam entre 150 a 250mm. O Planalto dos Parecis e grande parte da Depressão do Norte de Mato Grosso (nas bacias dos rios Arinos, Juruena e Médio Teles Pires) mostram valores da deficiência hídrica entre 250 e 300mm. No entanto, à medida que se desloca para a Bacia do Xingu (à leste do espigão divisor entre as bacias do Arinos e Teles Pires) ocorre um aumento progressivo da seca, indicando a incidência de valores entre 300 a 350mm para grande parte das bacias dos médios Teles Pires e Xingu, avançando até o espigão divisor entre o Xingu e o Araguaia. A descida para a Depressão do Araguaia corresponde à um novo aumento no grau de intensidade da seca, passando para valores entre 350 a 470mm (Mapa A019). As chapadas e 28 planaltos elevados revertem esta tendência, mostrando valores entre 100 a 250mm. Os topos elevados (>600m) da Chapada dos Parecis, Guimarães e Planaltos e Chapadões do Sudeste mostram deficiência hídrica anual entre 150 a 200mm. Em determinados sítios, como a fachada sudoeste da Chapada dos Guimarães, os valores registrados mostram deficiência hídrica anual entre 75 a 100mm. O Planalto Jauru-Rio Branco, bem como as fachadas meridionais da Chapada dos Parecis acusam deficiências hídricas entre 200 a 250mm. No entanto, as depressões (do Paraguai e Alto Cuiabá) os valores aumentam à medida que as altitudes diminuem e o efeito orográfico de proximidade das áreas serranas também diminui. Neste passamos para valores entre 250 a 350mm. O Vale do Guaporé é ligeiramente mais úmido com valores entre 250 a 300mm. Uma vez que se inicia a descida para as áreas rebaixadas dos vales do Paraguai e Cuiabá, os totais anuais de déficit hídrico ficam entre 350 a 444mm (Mapa A019). 5.4. OS EXCEDENTES HÍDRICOS ANUAIS Do ponto de vista regional a área com o máximo de excedente hídrico abrange a região setentrional do Estado, ao norte do paralelo 12º e à oeste do meridiano de 52ºWGr. O escoamento total (EXC) nesta área varia no geral entre 1.000 a 1.200mm, muito embora possam ocorrer valores inferiores a 1000 em decorrência de serem áreas baixas, como nos vales do Juruena e do Teles Pires (Mapa A020). O Planalto dos Parecis apresenta valores de excedente hídrico, entre 800 a 1.000mm, com uma tendência de decréscimo de oeste para leste, principalmente na Bacia do Médio Xingu, onde os totais oscilam entre 750 a 850mm. À medida que vamos em direção aos limites entre a Bacia do Xingu e do Araguaia, os excedentes são ainda menores, entre 700 a 800mm. Nas áreas mais baixas da Bacia do Araguaia, com altitudes entre 160 a 300 metros, os excedentes variam entre 500 a 600mm. A Depressão do Guaporé acusa valores de excesso hídrico entre 350 a 550mm; nota-se ainda no Mapa A020 que a Depressão do Alto Paraguai na região de Nortelândia, Arenápolis e Denise, apresenta excedentes bem mais elevados (entre 600 a 1.000mm) do que a área de Mirassol D’Oeste, Porto Esperidião onde os valores caem para apenas 200 a 400mm. As áreas rebaixadas do Alto Cuiabá também mostram valores relativamente baixos de excessos, entre 400 e 600mm. No entanto, uma vez que as altitudes vão ficando menores (inferiores a 300 metros) e que se distancia da influência serrana (cinturão orográfico da Bacia Paraguai Uruguai), ocorrem os menores valores de todo o Estado, ou seja, entre 100 a 400mm. Dentro desta área se inclui o Pantanal (onde as altitudes são inferiores a 100m) e onde em muitos anos o excedente hídrico local se aproxima de zero, enquanto que na média os valores oscilam entre 75 a 200mm. 29 6. AS UNIDADES CLIMÁTICAS DE MATO GROSSO As unidades climáticas do Estado de Mato Grosso encontram-se sintetizadas no Mapa Síntese A021 – Unidades Climáticas do Estado de Mato Grosso. 6.1. CLIMA EQUATORIAL CONTINENTAL ÚMIDO COM ESTAÇÃO SECA DEFINIDA (I) DA DEPRESSÃO SUL AMAZÔNICA A área ocupada por esta Unidade Climática (I) abrange a faixa de latitude entre aproximadamente 7º30’ a 11º/12º LS e a longitude entre 51º a 61º WGr. Dentro desta macrounidade (clima regional) ocorrem subunidades (representadas na Legenda do Mapa A021, por letras maiúsculas (A, B, C, D), números (1, 2, 3, ...n) e letras minúsculas (a, b, c). Na realidade são níveis de organização hierárquica dos espaços climáticos, uns embutidos dentro dos outros, e de cuja “homogeneidade relativa” a um dado espaço integra na sua totalidade a dimensão do tempo. Por outro lado, a própria “unidade” contém diferenças em relação principalmente através dos controles climáticos intra-regionais e locais se constitui em novas identidades. Um dos aspectos fundamentais desta unidade é que mesmo se tratando de climas Equatoriais Continentais quentes e úmidos existe a definição da estação seca. Trata-se no geral de uma “seca moderada” (deficiência), existente em quase todas as subunidades. A segunda propriedade extensiva é a existência de um elevado excedente hídrico (superior a 1.000mm); o próprio mapeamento desta unidade revelou coincidência entre o total anual médio de chuva superior a 2.000mm, com a isolinha de 1.000mm de excesso. Constata-se também uma faixa relativamente extensa de unidades climáticas de transição para os climas tropicais continentais alternadamente úmido e seco. Na realidade existe marca das transições para o baixo Vale do Araguaia (Unidade ID) para o médio Xingu (Planalto dos Parecis) (Unidades IC e IB) e para o médio Arinos para o Rio do Sangue (Unidade IA). Estas transições são marcadas ou por aumento na intensidade da seca (de 200 a 300 para 250 a 350mm/ano) ou diminuição do excedente hídrico, ficando este entre 800 a 1.000mm. Dentro deste conjunto de terras baixas com predomínio de altitudes entre 200 a 300 metros se destacam na paisagem serras e maciços residuais, onde o fator altitude se incumbe de atenuar o aquecimento a nível local. Assim sendo, foram delimitadas (mesmo sem dados medidos de estações meteorológicas) subunidades climáticas, correspondentes às áreas abrangidas pelas serras do Apiacás (IA2), Caiabis (IB3b)), Serra Formosa-Cachimbo (IB3b), Dardanelos-Serra Morena (IB1b) e Serra do Urubu Branco (ID3b) (Mapa A021). Nestas unidades de clima local deve ocorrer uma diminuição da evapotranspiração potencial e consequentemente aumentando o excedente e diminuindo a deficiência hídrica. Na legenda do Mapa A021, pode-se identificar a variação dos controles climáticos (latitude, longitude, altitude, relevo) e suas correlações com os atributos climáticos, temperatura, pluviosidade e balanço hídrico. Além da discriminação quantitativa dos elementos climáticos, classificou-se através da variação mensal da disponibilidade hídrica, a duração e a intensidade da seca e do excedente de água no solo. Considerando-se que a falta ou excesso de água no solo seja insumos importantes para o bom desempenho da vida e da sociedade, criou-se uma hierarquia de graus de intensidade como ilustra o Quadro 001 a seguir. 30 QUADRO 001 GRAUS DE INTENSIDADE DA SECA E DO EXCESSO DE ÁGUA EM MATO GROSSO, SEGUNDO O BALANÇO HÍDRICO (CC – 75mm) Seca (mm) 0 – 100 = muito pequena (pp) 101 – 200 = pequena (peq.) 201 – 250 = peq. a moderada (peq/mod) 251 – 300 = moderada (mod) 301 – 350 = mod.a severa (mod/sev) 351 – 400 = severa (sev) > 400 = muito severa (ss) cc = capacidade de campo FONTE: CNEC, 2000 Excesso (mm) <200 muito pequeno (pp) 201 – 400 pequeno (peq.) 401 – 600 peq. a moderado (peq/mod) 601 – 800 moderado (mod) 801 – 1000 mod. a elevado (mod/elev) 1000 – 1200 elevado (elev.) > 1200 muito elevado (ee) Essa hierarquia apresentada no Quadro 001 permitiu estabelecer a combinação dos dois indicadores (seca e excesso de água), como uma propriedade fundamental das Unidades Climáticas (Mapa A021). A subunidade IA1 e IA2 (Mapa A021) corresponde ao extremo noroeste do Estado de Mato Grosso, compreendendo o médio curso das bacias dos rios Roosevelt, Guarita, Aripuanã e a confluência entre o Juruena-Teles Pires. A baixa latitude (8 a 9º LS) com altitudes entre 100 a 300 metros define uma condição megatérmica, onde as temperaturas médias anuais oscilam entre 25,7 a 24,7ºC, e as máximas entre aproximadamente 32,0 a 33,0ºC e as mínimas entre 19,5 a 21,0ºC. Na realidade as maiores diferenças térmicas (amplitude) estão associadas ao ciclo dia e noite e não são ciclo estacional, ou seja, a amplitude térmica diária desta unidade varia entre 10º a 12º, enquanto que a amplitude anual fica entre 1º a 2ºC. O total pluviométrico médio varia entre 2.000 a 2.500mm. A estação seca ocorre de junho a setembro (4 meses) com uma intensidade de 200 a 250m de deficiência hídrica. O excedente hídrico é elevado, variando entre 100 a 1.200mm, tendo uma duração de 8 meses (outubro a abril). A Serra dos Apiacás constitui-se em uma subunidade (IA2), com uma pequena atenuação térmica, mas suficiente para reduzir um pouco os déficits na estação seca e aumentar os excessos na estação chuvosa (Mapa A021). A região das nascentes e do alto curso das bacias dos rios Aripuanã e Roosevelt se constituem na unidade climática IB1. A oferta pluvial é elevada, variando entre 2.000 a 2.100mm, com temperaturas elevadas (25,1 a 24,1ºC de média anual). O período seco é bem definido, de maio a setembro com deficiências moderadas (200 a 300mm) e excedentes de moderados a elevados (900 a 1.300mm) cuja duração vai geralmente de outubro a abril. Os espigões divisores e serras com altitudes superiores a 400 metros foram identificados como uma subunidade, IB1b (Mapa A021), onde o efeito do relevo em relação aos fluxos atmosféricos deve acentuar a instabilidade, aumentando a pluviosidade. O médio Juruena-Teles Pires se constitui em um espaço climático diferenciado (unidade IB2 no mapa A021). A variação média mensal do balanço hídrico (Gráfico 003) para a localidade de Sinop mostra que: no final do inverno (ago/set) quando as temperaturas já passaram pelo mínimo de 22,3ºC (julho) é que se constata o período mais grave de falta da água no solo; setembro (início ou passagem para a primavera) é o mês com o maior valor acumulado de deficiência hídrica (236,8mm) e o aquecimento já é muito forte, dando máximas absolutas superiores a 32,0ºC; outubro marca o início da reposição hídrica da água no solo, proporcionando um armazenamento de 61,9mm, sem no entanto atingir a saturação ou a capacidade de campo (75mm). 31 A partir de novembro a estimativa do balanço hídrico (Gráfico 003) já indica um excesso de 149,1mm; configura-se, portanto, a estação chuvosa, ou “inverno amazônico”. O elevado escoamento superficial (run off) permanece até o mês de março (187,6mm). O excedente de água diminui para 65,2mm em abril e em maio começa um novo período seco, com uma falta de água no solo de 14,8mm. Os meses com maior intensidade de seca são junho (52,8mm), julho (65,8mm) e agosto (68,8mm). Setembro marca o aumento da quantidade de chuva (76,0mm), valores, entretanto, insuficientes para cobrir a demanda de 111,4mm da perda de água superficial através da evapotranspiração potencial (Gráfico 003). Nesta mesma unidade climática nota-se algumas diferenciações locais, por exemplo, o balanço hídrico estimado para o posto M154, para Juína (344m) mostra um excedente hídrico mais elevado , ou seja, de 1.306,3mm. Provavelmente em função da altitude e de estar localizada próximo dos maciços residuais e espigões entre as bacias do Juruena e do Aripuanã. Outra variação foi aquela constatada no posto P125, no vale do Juruena à uma altitude de 225m, indica um excedente de 952,8mm, portanto uma redução provavelmente associada ao maior aquecimento e estabilidade atmosférica. A região do baixo Teles Pires (incluindo a Bacia do Peixoto de Azevedo) no arco interno envolvido pelos Caiabis, Serra Formosa e a Chapada do Cachimbo se constitui na Unidade Climática IB3, que foi subdividida nas subunidades IB3a (vales, depressões e colinas baixas da Depressão Sul Amazônica) e IB3b (maciços e chapadas residuais do Norte de Mato Grosso). O balanço hídrico de Matupá (Gráfico 004) pode ser utilizado como representativo das condições da Unidade Climática IB3a. Neste gráfico se percebe um elevado volume de excedente hídrico, com um total anual de 1197,8. A distribuição mensal deste excedente é máxima durante os meses de dezembro (207,2mm), janeiro (266,3mm), fevereiro (299,3mm) e março (197,7mm). No entanto, em novembro e abril o excedente é ainda considerável, 129,3 e 90mm respectivamente. A deficiência hídrica anual é de 244,2mm, iniciando em maio e se prolongando até setembro. Dentro desta unidade (I) de Clima Equatorial Úmido com estação definida, existem duas áreas como transições progressivas para os climas tropicais continentais. Uma delas vai em direção leste, nos limites entre a Bacia do Xingu e do Araguaia. Ela foi denominada ID e a outra envolve as bacias dos rios Arraes e Mauricauá-Miçú (afluentes da margem esquerda do Rio Xingu, já dentro do Planalto dos Parecis). A principal característica da Unidade IC (Mapa A021) é um aumento da deficiência hídrica para valores entre 300 a 350mm, enquanto o excedente hídrico se mantém elevado (1.000 a 1.200mm). O balanço hídrico médio mensal de Vera (Gráfico 005) indica armazenamento máximo de água no solo de novembro a abril, com um excedente total de 1.033,3mm. A estação seca tem início em maio e se prolonga até setembro, com uma deficiência moderada de 268,9mm. Esta unidade tem também como tendência, uma diminuição da pluviosidade anual em direção ao médio vale da Bacia do Xingu. A outra Unidade Climática de transição é aquela que abrange a região de Vila Rica, Confresa, Luciara, Santa Terezinha até aproximadamente São Félix do Araguaia. A maior atuação dos Sistemas de Alta Pressão associados ao anticiclone subtropical aumentam a estabilidade atmosférica e reduzem as chuvas na faixa centro oriental do Estado. Este feito associado à forma e orientação do Vale do Araguaia contribuem para um maior ressecamento. Tratando-se de uma área com altitudes (200 – 300 metros) e latitudes baixas (10 a 11ºLS), os valores de perda de água superficial são muito elevados, aumentando as deficiências e 32 reduzindo o excedente hídrico. Este fato pode ser observado no Gráficos 006 e 007 das localidades de S. Félix do Araguaia4 e Vila Rica. A seca estacional é mais prolongada, durando 5 a 6 meses (na média de maio a outubro), variando entre 350 a 450mm (de moderada a severa) e os excedentes hídricos sofrem uma razoável redução (500 a 800mm), cuja duração com valores mensais acima de 50mm inicia em dezembro se prolongando até março. Quando comparamos os balanços hídricos de São Félix com aqueles de Luciara e Santa Terezinha, notamos quantidades muito parecidas, ou seja, 390,2mm de deficiência em Luciara e 369,3mm em Santa Terezinha. No entanto, saindo do Vale do Araguaia, em direção aos baixos planaltos, os morros e serras residuais com altitudes entre 300 a 600 metros se constituem em unidades diferenciadas ID2, ID3 e ID3b. O controle climático altitude atenua o aquecimento, reduz a evapotranspiração potencial e aumenta as deficiências e diminui o excedente hídrico (Mapa A021). GRÁFICO 003 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA SINOP mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico Total - 1010,6 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica Total - 236,8 200 100 0 jan FONTE: 4 fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 11º 52’ Long. 56º 32’ Alt. 380m Esta estação está localizada no limite entre as Unidades 1D1 e IIIE4b, podendo representar ambas as condições hídricas. 33 GRÁFICO 004 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA MATUPÁ mm 500 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real 400 Excedente Hídrico - Total - 1197,8 Reposição de Água Água Retirada 300 Deficiência Hídrica - Total - 244,2 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez FONTE : Dados meteorológicos INEMET ( 1983-1994 ) Lat. 10o 15' Long. 54o 55' Alt. 285 m GRÁFICO 005 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA VERA mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico Total - 1033,3 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul FONTE : Dados meteorológicos INEMET ( 1983-1994 ) Lat. 12o 17' Long. 55o 17' Alt. 400 m ago set out nov dez Total - 268,9 34 GRÁFICO 006 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA S. FÉLIX DO ARAGUAIA mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico Total - 681,0 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul FONTE : Dados meteorológicos INEMET ( 1983-1994 ) Lat. 11o 50' Long. 50o 40' Alt. 200 m ago set out nov dez Total - 376,7 35 GRÁFICO 007 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA VILA RICA mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico - Total - 697,3 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica - Total - 353,8 100 0 jan fev mar abr mai jun jul FONTE : Dados meteorológicos INEMET ( 1983-1994 ) Lat. 9o 58' Long. 51o 10' Alt. 280 m ago set out nov dez 36 6.2. CLIMA SUB-EQUATORIAL CONTINENTAL DEFINIDA (II) DO PLANALTO DOS PARECIS. ÚMIDO COM ESTAÇÃO SECA O aumento da intensidade da seca estacional (entre 300 a 350mm) combinado com excedentes entre 800 a 1.000mm cria uma extensa faixa de transição climática dentro do Planalto dos Parecis. O aumento da altitude média (300 a 400 metros) e da latitude diminui o aquecimento, baixando a variação das temperaturas médias anuais entre 24,8º a 24,0ºC. No entanto, os totais anuais médios ficam entre 1.600 a 2.000mm. Esta transição climática é constituída também de duas subunidades (IIA do médio Arinos e Rio do Sangue e IIB1, IIB2 no médio Xingu). Apesar da diminuição dos totais anuais de pluviosidade a área do médio Arinos e Rio do Sangue (IIA) não apresenta aumento da deficiência hídrica sazonal, ficando com valores entre 250 a 300mm, o que fica como uma moderada seca de final de outono e de maior intensidade durante o inverno austral (junho, julho, agosto). A duração do período seco é, portanto, de 5 meses, ou seja, de maio a setembro. A redução do excedente hídrico (entre 800 a 900mm) ocorre principalmente em função da diminuição dos totais pluviométricos dentro da estação chuvosa. O balanço hídrico (Gráfico 008) da estação meteorológica de São José do Rio Claro representa bem esta mudança do padrão de intensidade e distribuição da pluviosidade nesta realidade climática. O total anual da falta de água no solo é de 252,4mm, enquanto que o excedente anual é de 622,3mm. A moderada seca sazonal ocorre de maio a setembro, sendo o período de excesso de novembro a abril; considera-se, no entanto, que os meses de novembro e abril, com excedentes de apenas 23,4 e 15,1mm, estejam sempre sujeitos às variações do ritmo climático, o que pode antecipar ou prolongar a estação seca. A evapotranspiração potencial nesta unidade ainda se mantém elevada, com o total mensal variando entre um mínimo de 73,2mm (julho) à um máximo de 127,9mm em novembro. A soma do total anual médio é de 1.317,1mm (Gráfico 008). As condições climáticas associadas à mudança na instabilidade atmosférica relacionadas aos anticiclones tropicais continentais (alta subtropical), cuja trajetória é do ESE para WNW, cria no médio Xingu, propiciam realidades climáticas um pouco mais secas, e provavelmente com um ritmo mais irregular do que o extremo noroeste. A intensidade da falta de água no período de maio a setembro sobe para 300 a 350mm (considerada como de moderada a severa). No entanto, dentro desta área, pode-se identificar duas subunidades. A primeira delas (IIB1) abrange a bacia do médio Curisevo e do Rio V. D. Steinen. Neste caso os totais anuais de excedente hídrico ainda se mantêm entre 800 a 1000mm. A duração deste período com excesso vai de novembro a abril. A segunda subunidade climática (IIB2) sobre a bacia do Coluene e do Suiá Miçu (ver Mapa A021). Os totais anuais de chuva caem para valores entre 1.600 a 1.800mm; a deficiência hídrica é de moderada a severa (média de 300 a 350mm) e o excedente cai para uma faixa maior de oscilação entre 650 a 800mm. A análise do balanço hídrico de Alô-Brasil (Gráfico 009) localizada na transição entre o sub-equatorial úmido do médio Xingu e o Tropical Úmido do Araguaia (Unidade III4) pode ajudar a entender as alterações do espaço climático de transição Equatorial-Tropical. O total anual médio da pluviosidade é de 1.839,5mm (período 1983-1994), no entanto no ano seco (1993) a chuva total do ano alcançou apenas 1.258,3mm; este limite dentro de uma série temporal de 11 anos é demonstrativo de variações significativas no ritmo climático. Pode-se considerar ainda, como anos de pluviosidade abaixo da média, 1984 (1568,3mm) e 1990 (1557,5); o balanço hídrico médio (gráfico 006) indica um excesso de água no solo de 815,6mm (duração entre novembro a abril) e uma falta de água estacional de 271,0mm, compreendendo os meses de maio a setembro. O total real anual médio de perda de água superficial por evapotranspiração é de 1.023,4m. 37 GRÁFICO 008 BALANÇO HÍDRICO PARA S. JOSÉ DO RIO CLARO mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico- Total - 622,3 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica- Total - 252,4 100 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez FONTE : Dados meteorológicos INEMET ( 1983-1994 ) Lat. 13o 26' Long. 56o 43' Alt. 350 m GRÁFICO 009 BALANÇO HÍDRICO PARA ALÔ BRASIL mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico - Total - 815,6 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica -Total - 271,0 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul FONTE : Dados meteorológicos INEMET ( 1983-1994 ) Lat. 12o 11' Long. 51o 45' Alt. 370 m ago set out nov dez 38 6.3. CLIMA TROPICAL CONTINENTAL (III) ALTERNADAMENTE ÚMIDO E SECO DAS CHAPADAS, PLANALTOS E DEPRESSÕES DE MATO GROSSO. Os Climas Tropicais de Mato Grosso são muito variados em função da enorme extensão territorial (tanto em termos de latitude, quanto de longitude) e do controle modificador exercido pela forma e orientação do relevo. Ao lado destes dois estruturadores básicos, junta-se o fator altitude, qualificando conjuntos e realidades diferenciadas pelo aquecimento do solo e consequentemente também modificando o balanço de radiação de ondas longas (ROL). Dentro desta perspectiva a interpretação dos processos associativos entre os recursos climáticos (disponibilidades de água, ar e energia de boa qualidade) e aqueles exercidos pela demanda sócio-econômica e humana devem ser feitos em termos do ritmo climático e do ritmo historicamente contido em cada unidade climática do território. Assim sendo, já existe nos climas tropicais do Brasil Central, onde se incluem vastas regiões do Estado de Mato Grosso, ritmos humanos e econômicos de intensidade temporal e espacial muito diferenciadas do cotejo, desta combinação podemos encontrar um ou vários “limites” ou “transições” no tempo e no espaço. Essas transições são importantes para o planejamento ambiental da paisagem, pois podem identificar potencialidades ou problemas na forma da ocupação e organização humana dos recursos climáticos. Por exemplo, um clima tropical de altitude, úmido e mesotérmico, plano à sub-plano, apropriado para a produção de grãos tem uma relação com o recurso climático, muito diferente daquela “produção para subsistência encontrada em quase todas as unidades climáticas do Estado. O suporte tecnológico torna a produção muito menos susceptível às variações climáticas do que aquelas áreas onde a relação agropecuária é baseada ainda numa forte dependência do andamento da disponibilidade de água através da chuva. A chamada “agricultura de precisão” exemplifica bem o uso de estratégias tecnológicas para superar a oscilação e o ritmo climático. Assim sendo, o uso de um calendário com uma extensa faixa de datas e épocas de plantio, associada à uma grande combinação de variedades de ciclo curto, médio e longo prazo em uma mesma fazenda ou muitas vezes em um mesmo talhão, tenta compensar através da repetição no tempo cronológico um maior acerto dentro das variações impostas pelo tempo meteorológico. No entanto, o custo dessa atividade e deste nível tecnológico precisa ser avaliado, bem como a sua dependência (cada vez maior de insumos, sementes, variedades e controle de pragas) dos fornecedores internacionais. Contudo, existem formas e procedimentos associados ao planejamento da atividade agropecuária, respeitando minimamente a vocação ou potencialidade de cada espaço, onde o custo é muito inferior. No entanto, o uso de “tecnologias simples” ajustadas às condições de oferta do meio esbarram quase sempre na estrutura fundiária. Por isto pensar o recurso climático isoladamente não faz sentido, é necessário inseri-lo dentro dos tipos de lógica da apropriação e produção do espaço sócio-econômico. Assim sendo, procurou-se detalhar as unidades climáticas à um nível de decomposição que permita sua posterior análise com o uso e a ocupação histórica e atual do solo. Muitas vezes as diferenças entre as unidades climáticas não são dadas apenas pela existência ou não de diferenças nos elementos meteorológicos, mas também pelas próprias características do relevo e do lugar no território que a unidade climática ocupa. Desta forma, mesmo as serras e maciços isolados onde não existe nenhuma estação meteorológica ou pluviométrica buscou-se uma identidade indicada pela semelhança dos processos e ritmos do seu entorno. A delimitação destes “polígonos” e “sub-polígonos” deve facilitar também a estrutura e a organização do banco de dados, não apenas dos dados coletados e trabalhados neste projeto, mas principalmente deverá facilitar atualizações futuras, dentro do conceito organizacional de Unidades e Subunidades Climáticas do Estado de Mato Grosso. Portanto, o Clima Regional Tropical Continental alternadamente úmido e seco (III) do Estado de Mato Grosso foi decomposto em 06 unidades intraregionais, identificados pelas letras A, B, C, D, E, F. Este conjunto foi novamente subdividido em 45 subunidades climáticas, nível local e quando necessário até o nível topoclimático. Para estas representações cartográficas 39 foram adicionados números (1, 2, 3, ...n) ou ainda letras minúscula (a, b, c) que indicam feições climáticas diferenciadas dentro de uma mesma unidade. De forma geral a primeira e talvez a mais importante característica do Clima Tropical alternadamente úmido e seco é a sua regularidade. A repetição e a alternância quase cíclica do movimento estacional quente e úmido confere a esta realidade climática um grande espectro de uso e exploração dos recursos climáticos. Existem diferenças e mudanças de ritmo, mas em se tratando de climas tropicais, as alterações tem segmentos temporais de médios a longos ciclos, ou seja, apenas quando ocorrem mudanças nos padrões de circulação atmosférica de larga escala e que são produzidas mudanças quantitativas consideráveis, como aquelas que ocorreram durante o El Niño de 1983 e no último evento de 1997/1998. Assim sendo, os ciclos estacionais, quase regulares, com 6 a 7 meses de predomínio da estação chuvosa (geralmente de outubro-novembro a março-abril) e 4 a 5 meses com estação seca definida (geralmente de maio a setembro), permite um planejamento razoavelmente confiável no desenvolvimento e desempenho da atividade agropecuária. O segundo aspecto em termos de importância é a existência de um conjunto substancial de terras elevadas (chapadas e planaltos com altitudes entre 400 a 800 metros) o que significa diferentes tipos de graus de alteração térmica, possibilitando reagrupar conjuntos e realidades climáticas distintas. A atenuação térmica conduz implicitamente a um aumento da disponibilidade hídrica, diminuindo o rigor das altas perdas de água superficial. Além deste aspecto, a orientação, a forma e a altitude agem dinamicamente nos fluxos de vento, aumentando os valores da precipitação pluviométrica. Estes fatos ficaram evidentes em todos os mapeamentos e trabalhos de campo realizados e naturalmente representam também um aumento regional dos insumos atmosféricos através da água da chuva. Resta lembrar que os grandes sistemas coletores de água dos planaltos (Depressão do Guaporé, Pantanal e Depressão do Araguaia) têm os seus valores quantitativos de chuva reduzidos pelo “efeito orográfico”. Neste aspecto, merecem atenção especial, por se encontrarem mais próximos dos limites inferiores ou superiores das oscilações rítmicas, tanto no caso de anos “extremos de seca”, pois vão ser afetados na produção local da pluviosidade, como vão receber menores volumes do escoamento fluvial, superficial e subterrâneo das chapadas e planaltos elevados. Por outro lado, em anos ou seqüências de anos com “ciclos de águas altas” o aumento local da pluviosidade se soma àquele do escoamento, resultando em cheias e ultrapassando os limites superiores. 6.3.1. O Clima Tropical Mesotérmico Úmido dos Topos de Cimeira dos Chapadões (IIIA) O fator altitude e as extensas superfícies planas à sub-planas dos topos de cimeira (altitudes entre 600 a 900 metros) das Chapadas e Planaltos se constituem em uma Unidade Climática Intraregional. O resfriamento provocado pela altitude dá origem aos climas mais frios do Estado, com as temperaturas médias anuais entre 21,4 a 23,0ºC. Os valores médios da pluviosidade são relativamente elevados, oscilando entre 1.700 a 2.100mm. A duração e intensidade da seca estacional são atenuadas; encontra-se, pois, os menores valores regionais de deficiência hídrica, entre 75 a 200mm. Os excedentes hídricos são de moderados a elevados, variando entre 800 a 1.000mm (Mapa A021). Dentro deste extenso conjunto de terras altas, com clima mesotérmico úmido foram separados três macrounidades. A primeira delas constituída pela Chapada dos Parecis (Unidade IIIA1); a segunda por toda a área ocupada pela Chapada e Planalto dos Guimarães (Unidade IIIA2) e a terceira cobrindo os altos elevados do Planalto Taquari-Alto Araguaia (Unidade IIIA3). Estas macrounidades foram subdivididas em duas feições. A primeira, cuja nomenclatura foi adicionada a letra minúscula (a), significa um nível altitudinal entre 600 a 700 metros; e a segunda, cuja variação topográfica está entre 700 e 900 metros, foi adicionada a letra (b), ou seja, a feição (b) representa uma realidade climática um pouco mais fria e mais úmida daquela representada pela letra (a). 40 O balanço hídrico (Gráfico 010) da estação meteorológica de Alcoomat (localizada no Município de Campo Novo dos Parecis) à uma altitude de 690 metros representa bem esta condição de topo da Chapada dos Parecis. O primeiro aspecto a salientar é a diminuição da evapotranspiração potencial, com uma perda de 1.102,4mm (anual). A deficiência hídrica anual é de apenas 1.12,6mm, iniciando o período seco somente em junho (10,4 mm, portanto, com um grau de intensidade pequeno) e se estendendo por 4 meses, até o mês de setembro. Por outro lado, o excedente de água no solo começa um pouco mais cedo e já em outubro temos 14,6mm. O período com excesso vai até o mês de abril, totalizando um valor anual de 933,2mm. O balanço hídrico representado no Gráfico 011, para o posto da Chapada dos Guimarães (lat 15º26’, long 55º46’ e altitude de 700 metros) mostra a variação mensal do armazenamento da água no solo, válidos para as unidades dos topos elevados e dos Planaltos e Chapadões do Sudeste (ver localização no Mapa A021). A variação mensal da evapotranspiração potencial oscila entre um mínimo de 59,2mm em julho à um máximo de 110,3mm em dezembro. O total anual médio é de 1.081,4mm. A ocorrência de seca (em termos médios) é muito pequena, com um total anual de 53,8mm, distribuídos em apenas três meses, junho (7,4mm), julho (14,8mm) e agosto (31,5mm). O excesso de água no solo começa em outubro (27,6mm) se prolongando até o mês de maio (30,4mm); este período de 8 meses com excedente totaliza um valor anual de 1.065,4mm (Gráfico 011). GRÁFICO 010 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA ALCOOMAT mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico - Total - 933,2 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica - Total - 112,6 200 100 0 jan FONTE: fev mar abr mai jun jul ago Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 14º 16’ Long. 59º 14’ Alt. 690m set out nov dez 41 GRÁFICO 011 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA CHAPADA DOS GUIMARÃES mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico- Total - 1065,4 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica- Total - 53,8 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez FONTE: Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 15º 16’ Long. 55º 46’ Alt. 700m 6.3.2. O Clima Tropical Mesotérmico-Quente e Úmido dos Parecis, Alto Xingu e Alto Araguaia (IIIB) O reverso setentrional de todos os planaltos e chapadas nos altos cursos dos principais rios que drenam para a bacia Amazônica se constituem nesta unidade Climática Regional. O fator altitude (faixa topográfica entre 400 a 600 metros) ainda se constitui no controle climático básico. No entanto, a extensa faixa constituída pelas cabeceiras e nascentes dos principais rios (Juruena, Teles Pires, Arinos, Xingu, Coluene, Couto, Araguaia, Rio das Mortes e Rio das Garças) cobre um espectro variado de orientação em relação à circulação atmosférica. Principalmente em relação aos fluxos úmidos e instáveis de norte e de noroeste, cuja freqüência máxima ocorre no período chuvoso (entre novembro a março). Portanto, aparecem subunidades mais expostas e outras mais protegidas, de cuja combinação resultam diferenças na intensidade da pluviosidade. Desta forma, percebe-se aqui uma maior variabilidade nos totais pluviométricos anuais, variando entre 1.400 a 2.000mm. Portanto, dentro desta macrounidade (regional) foram classificados e reconhecidos os atributos de nove subunidades (IIIB1 a IIIB9), cujas principais características podem ser observadas na Legenda do Mapa A021. O reverso da Chapada dos Parecis (incluindo os vales e transições para o Planalto dos Parecis) se constitui na Unidade IIIB1 (altitudes entre 400 a 600 metros). Estando voltada para NNW ela exerce um “efeito instabilizador” nos fluxos da circulação atmosférica predominante, que é de NNW e NE, forçando seu levantamento e aumentando gradativamente a pluviosidade, com valores anuais entre 1.900 a 2.000mm. O período seco é geralmente de maio-junho até setembro, com déficit hídrico variando entre 200 a 250mm (pequeno a moderada seca). O excedente hídrico ocorre de outubro a abril, com um total anual de 900 a 1.000mm. A Unidade Climática IIIB2 abrange a bacia do Alto Curso do Rio Arinos (incluindo a fachada NNW do divisor com o alto Cuiabá e Alto Paraguai). Os totais anuais de chuva variam entre 1.800 a 1.900mm, com cinco meses de duração do período seco (maio a setembro). A 42 deficiência hídrica anual varia entre 250 a 300mm, e o excedente é moderado (700 a 900mm), ocorrendo no período de outubro a abril. O balanço hídrico para Nova Mutum (lat 13º18’, long. 56º10’e alt. de 420 metros) constante do Gráfico 012 ilustra bem a variação mensal média de armazenamento de água no solo. A evapotranspiração potencial anual é de 1235,8mm, variando entre 68,0 mm (julho) a 90,4mm (agosto) na estação seca e entre 124,3mm (dezembro) a 113,3mm (março) na estação chuvosa. A falta de água no solo começa geralmente em maio (11,5mm) e se prolonga até o mês de setembro (66,5mm), proporcionando um total acumulado de 220,0mm. O período de excesso vai de outubro (8,8mm) até o mês de abril (88,2mm), acumulando um total de 817,2mm. A Bacia do Alto Teles Pires (Unidade IIIB3), incluindo parte da Depressão de Paranatinga, indica uma variação mais acentuada nos totais pluviométricos, entre 1.800 a 2.100mm. Esta variação se deve provavelmente à existência de áreas serranas com fortes declives voltados para NNW, bem como as áreas rebaixadas da Depressão de Paranatinga. A seca estacional é moderada (250 a 300mm) e abrange o período de maio a setembro. Os excessos são de moderados a elevados (800 a 1.100mm), predominando durante 6 meses (novembro a abril). O balaço hídrico de Paranatinga (Gráfico 013) pode ser tomado como representativo desta unidade climática. O total anual de evapotranspiração potencial é de 1210,6mm, sendo que a seca estacional tem início em maio (9,3mm) e se prolonga até setembro (37,7mm). A estação chuvosa vai de novembro (82,2 mm de excesso) e se prolongando até abril (18,9mm), sendo o total anual de 200,5mm (Gráfico 013). As unidades climáticas IIIB4 (Alto Coluene e Curisevo) e IIIB5 (Bacia do Couto e 7 de Setembro), mostram uma redução dos totais anuais de pluviosidade (entre 1.600 a 1.850mm). Isto se deve à mudança de orientação e posição das áreas abrangidas por estas unidades em relação aos fluxos atmosféricos instáveis de Noroeste. Por outro lado, à medida que se desloca para leste (área centro-oriental do Estado) existe uma freqüência maior dos tipos de tempo estáveis, associados à alta sub-tropical. Esta redução dos valores pluviais, apesar de pequena é suficiente para aumentar a intensidade estacional da seca, ficando entre 250 a 300mm (seca moderada), ocorrendo também uma diminuição na quantidade do excesso de água, ficando entre 550 a 1.000mm (novembro a abril). O Planalto do Alto Rio das Mortes (Unidade IIIB6) (altitudes entre 500 a 600 metros) e do Alto Graça (Unidade IIIB7) apresentam características climáticas muito semelhantes. A seca estacional nesta duas unidades (IIIB6 e IIIB7) varia entre 200 a 250mm de falta de água (no período de maio a setembro-outubro) e com um excedente hídrico moderado e 800 a 1.000mm. A bacia do Alto Vale do Rio Araguaia (altitudes entre 400 a 600 metros) se constituem na unidade IIIB8. A posição rebaixada em relação aos planaltos mais elevados do seu entorno reduz os totais pluviométricos anuais para valores entre 1.600 a 1.700mm. A extensão do período seco passa de 5 para 6 meses de seca, apesar de não ocorrer mudança nos valores quantitativos (200 a 250mm). Desta maneira o período seco se estende de maio a outubro. Ocorre também uma diminuição nos excedentes hídricos, ficando os totais anuais entre 700 a 800mm. A área abrangida pelas bacias do médio Rio das Mortes e médio Rio das Garças (altitudes entre 300 a 500 metros) encontram-se rebaixadas (em relação ao entorno) e voltadas para ENE. Estas condições são responsáveis pela diminuição dos totais pluviométricos para valores entre 1.400 a 1.600mm, com seca definida de maio a outubro. O grau de intensidade da seca é de moderada a severa (250 a 350mm) com excedente hídrico de pequeno a moderado (500 a 650mm), durante os meses de novembro a março (Mapa A021). 43 GRÁFICO 012 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA NOVA MUTUM mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico Total - 817,2 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica Total - 220,0 100 0 jan FONTE: fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 13º 48’ Long. 56º 10’ Alt. 420m GRÁFICO 013 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA PARANATINGA mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico Total - 838,8 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set FONTE: Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 14º 23’ Long. 54º 13’ Alt. 470m out nov dez Total - 200,5 44 6.3.3. O Clima Tropical de Altitude Mesotérmico Quente da Fachada Meridional das Chapadas e Planaltos (IIIC) Os rebordos escarpados e as fachadas meridionais das bacias dos altos cursos do Guaporé, alto Paraguai, alto Cuiabá, alto São Lourenço e alto Itiquira-Taquari se constituem em uma macrounidade (regional) climática, denominada como Tropical Continental de Altitude, Meso-Térmico Quente e Úmido da Fachada Meridional das Chapadas e Planaltos (IIIC) atém do fator estruturador altitude (entre 300 a 700 metros) este conjunto de realidades climáticas tem um segundo fator constituído pela forte declividade e desnível altimétrico forçando o escoamento de sul – sudeste – sudoeste a terem uma ascensão forçada, gerando aumento da instabilidade atmosférica. Por outro lado, de forma geral, o perfil longitudinal do sistema de drenagem é de pequena extensão e forte escoamento e energia potencial. Este aspecto é fundamental hidroclimatologicamente para se compreender o alto impacto pluvial nos rebordos escarpados, bem como sua influência na formação e flutuação do escoamento hídrico nas depressões e pantanais. Este clima regional foi subdividido em onze subunidades (IIIC1 a IIIC11), cuja localização e descrição dos atributos pode ser visto no Mapa A021. O rebordo escarpado da fachada sudoeste da Chapada dos Parecis voltado para Bacia do Guaporé se constitui na Unidade IIIC1. Esta unidade com altitudes entre 300 a 600 metros mostra variações entre 1.600 a 2.000mm de pluviosidade anual média. Tratando-se, portanto, de terras relativamente elevadas e onde as latitudes já não são tão baixas, as deficiências hídricas são de pequenas a moderadas (200 a 250mm). Nesta unidade o período seco sazonal costuma, em média, começar um pouco atrasado, ou seja, a partir de junho e se prolongando até setembro. O excesso de água no solo é de moderado a elevado, com valores entre 800 a 900mm. Um dos aspectos a ser lembrado nestas unidades do extremo sudoeste do Estado é o efeito dos sistemas de baixa pressão continental, que permanecem semi-fixos sobre estas regiões quase o ano todo. Este fato deve tornar estas escarpas relativamente instáveis e mais úmidas mesmo durante o inverno austral. O alto divisor entre as bacias do Guaporé e Jauru, com orientação geral Norte – Sul, revela faces para leste e oeste (Unidade IIIC2). Neste caso, a localização já não favorece o aumento local da pluviosidade, e portanto, os valores ficam um pouco mais baixos, entre 1.400 a 1.600mm, com uma seca um pouco mais intensa (250 a 300mm) e cuja duração vai de junho a outubro (5 meses). Os excedentes são mais baixos, variando entre 600 a 700mm (Mapa A021). O rebordo sudeste da Chapada dos Parecis, cuja área engloba a bacia do alto Jauru-Rio Branco, se constitui na Unidade IIIC3. Os valores da pluviosidade anual média estão entre 1.600 a 1.700mm, com 5 meses de duração do período seco (maio-junho a setembro-outubro) e uma deficiência entre 200 a 250mm e um excedente hídrico entre 600 a 800mm. O período de duração do excedente hídrico é relativamente reduzido, iniciando-se em dezembro-janeiro e se prolongando até abril. Estes trechos voltados para sudeste da Bacia do Rio Branco e Jauru acusam fortes gradientes de diminuição pluvial em direção aos vales e Depressões. Desta forma, é necessário compreender que como um dos fluxos genéticos mais importantes vem de noroeste esta área está relativamente abrigada, pois os sistemas frontais do escoamento meridional costumam ter uma trajetória mais para leste. Um dos exemplos desta variação acentuada no espaço dos valores pluviais é o baixo excedente hídrico, de apenas 282,0mm encontrado para o posto P239 (Alto Jauru – Cáceres). No entanto, as deficiências dentro da estação seca não são elevadas, pois como já mencionamos, existe uma regularidade um pouco maior na incidência das chuvas de inverno. 45 Parte desta explicação pode ser encontrado na trajetória mais continental dos Sistemas Frontais de Sudoeste. A área abrangida pela bacia do Alto Rio Sepotuba, incluindo o degrau estrutural da Serra do Tapirapuã se constitui em uma outra Unidade Climática (IIIC4). Em virtude exatamente da frente escarpada (subida da Serra para Tangará) foi necessário subdividir esta unidade em duas feições IIIC4a (bacia do Alto Sepotuba) e IIIC4b (Serra do Tapirapuã). A diferença entre estas duas feições climáticas está associada ao relevo e ao efeito da altitude no aumento local da pluviosidade. Na bacia do Alto Sepotuba (subunidade IIIC4a) as altitudes variam entre 300 a 600 metros e os totais pluviais de 1.900 a 2.100mm. A duração e intensidade da seca é reduzida para 4 meses (junho a agosto), sendo de pequena a moderada (200 a 250mm/ano). Os excedentes hídricos são de moderados a elevados (800 a 1.000mm) no período de outubro a abril. A Serra do Tapirapuã (subunidade IIIC4b) apresenta-se topoclimaticamente na subida da serra, com declividades muito altas (quase uma ruptura de declive ou um paredão quase retilíneo com desnível de 200 a 250 metros) e no topo da Serra (altitudes entre 400 a 450 metros) uma topografia suave, quase plana. Este conjunto de associações, onde temos uma depressão (do Alto Paraguai) à jusante, com forte aquecimento diurno provoca elevada freqüência de temporais convectivos, aumentando a pluviosidade média para valores entre 2.200 a 2.300mm. A falta de água no solo (junho a agosto) é de apenas 150 a 200mm e o excesso é muito elevado (1.000 a 1.300mm), com duração de outubro a abril. O rebordo sul da Chapada dos Parecis no alto Paraguai – Diamantino (Unidade IIIC5) com altitudes entre 300 a 500 metros apresenta uma altura anual das chuvas entre 1.700 a 1.900mm. A seca estacional é relativamente curta (4 meses) durando de junho a setembro, sendo o excedente anual moderado (600 a 900mm). O balanço hídrico do Posto P260 (Parecis – Arenápolis) localizado próximo da transição entre as unidades IIIC5 e IIIA1a (topos da Chapada dos Parecis) exemplifica bem as variações mensais da disponibilidade hídrica (Gráfico 014). A reposição hídrica começa em outubro, quando a pluviosidade mensal é superior (201,0mm) às perdas por evapotranspiração potencial (119,9mm) mas o excedente é muito pequeno, ou seja, de apenas 8,3mm. Nos meses de novembro o solo já está saturado e o excesso é de 117,6mm; esta condição de excesso permanece até o mês de abril, quando então, a partir de maio se instala o processo inverso de retirada hídrica, com uma pequena deficiência hídrica de 6,2mm. Esta situação de seca permanece até o mês de setembro, indicando um total de 192,0mm de falta de água anual. O excedente é elevado, com 1.069,7mm. A Província Serrana, localizada entre as latitudes de 14 a 17ºLS e meridianos de 56 a 58ºWGr, tem na sua variação altitudinal (entre 300 a 700 metros) o controle climático mais importante. Outro aspecto básico para o entendimento desta unidade climática é a sua orientação (grosso modo NNE – SSW) e altas declividades. Este tipo de orientação (NNE – SSW) deve acentuar tanto as instabilidades de noroeste (fluxos continentais) bem como forçar levantamentos nos escoamentos de SSE (frentes e calhas associadas aos sistemas extra-tropicais). No entanto, este tipo de evidência não pode ser constatada através dos dados pluviométricos, já que tanto na face WNW como na SSE não existe nenhum posto com medidas. As observações de campo, entretanto, dão suporte a este tipo de dedução, pois observamos várias formações de nebulosidade associadas ao relevo e às faces ocidentais e sul da Província Serrana. No entanto, as áreas mais baixas (300 – 400 metros) e localizadas na extremidade meridional da Província Serrana devem ser mais secas do que as cristas e serras mais elevadas (400 – 700 metros). De modo geral, através das inferências produzidas pelo mapeamento, pode-se deduzir que: a pluviosidade anual deve variar entre 1.400 a 1.600mm, com 4 a 5 meses 46 de seca estacional (junho a setembro – outubro) e um excedente hídrico de pequeno a moderado, entre 400 a 800mm, com duração entre outubro a abril (Mapa A021). As serras e nascentes da bacia do Alto Rio Cuiabá (Rio Manso, Diamantino), com altitudes variando entre 300 a 550 metros (Unidade Climática IIIC7) mostra uma variação pluviométrica média entre 1.600 a 1.700mm, com um período de seca de inverno de 4 meses, de junho a setembro. A deficiência hídrica varia entre 200 a 250mm por ano e o excedente é de moderado a elevado 600 a 900mm. O contato da área Serrana e a Depressão Cuiabana é muito abrupto e portanto, na prática, é muito difícil a delimitação das áreas mais chuvosas e mais secas. Principalmente porque as áreas de menor pluviosidade têm também maiores perdas por evapotranspiração potencial. Por outro lado, a baixa densidade de postos e estações não permite uma boa amostragem de todas as realidades climáticas. A fachada sudoeste da Chapada dos Guimarães é um imenso paredão abrupto e com fortes rupturas de declive. Em distâncias relativamente curtas, de 4 a 10 km, temos desníveis altimétricos de 300 a 600 metros. Este fato força uma condição climática diferenciada, com amplitudes termo – pluviométricas muito fortes. Ao mesmo tempo, dá nascimento a um tipo de ritmo diferenciado, no escoamento e na intensidade dos fluxos pluviais e atmosféricos. O total médio da pluviosidade varia entre 1.700 a 2.200mm, enquanto que a deficiência hídrica anual fica entre 200 a 250mm. A extensão do período seco estacional vai de junho a setembro, e com um excedente hídrico de moderado a elevado, onde o total anual varia entre 600 a 900mm. A bacia do Alto São Lourenço e os seus afluentes principais (Rio Vermelho, Poxoréu) se constitui em um enorme anfiteatro de terras relativamente altas (altitudes entre 300 a 700 metros) com grande variedade de formas do relevo (Unidade Climática IIIC9). Na realidade, existe um escalonamento em níveis altimétricos bem definidos, onde as serras, os topos e espigões divisores (com a bacia do Alto Rio das Mortes, no Chapadão de Primavera do Leste) estão entre 500 a 700 metros, enquanto os planaltos e rampas intermediárias (chapadas, serras e cristas) estão entre 300 a 500 metros. As altitudes abaixo de 300 metros (Depressão do Rio Vermelho, São Lourenço na região de Rondonópolis) foram classificadas como outra unidade (IIID4) em função do aquecimento e da maior estabilidade atmosférica. A pluviosidade anual média varia entre 1.600 a 1.800mm, com 4 meses secos (junho a setembro) e deficiências hídricas variando entre 150 a 250mm. O excedente hídrico médio é de 700 a 800mm, ocorrendo de novembro a abril. As áreas dos planaltos e serras do sudeste de Mato Grosso tem como um dos controles climáticos mais importantes a posição e o deslocamento da frente polar. É de se supor, portanto, uma irregularidade um pouco maior no ritmo anual e sazonal da pluviosidade do que o Planalto e a Chapada dos Parecis, onde a chuva tem um controle maior dos Sistemas Equatoriais Continentais de Norte e Noroeste. A fachada leste do Planalto do Alto Itiquira – Taquari (altitudes entre 300 a 500 metros) se constitui num rebordo escarpado com fortes rupturas de declive e bruscas mudanças térmicas e pluviométricas. Esta faixa de contato entre os topos e a Depressão Cuiabana (incluindo a área abrangida pelo Pantanal Mato-grossense) se constitui em uma Unidade Climática distinta, aqui denominada IIIC10. A principal característica desta realidade climática é de instabilizar as colunas de ar quente e relativamente mais secos provenientes de oeste e sudoeste. Desta forma, os totais pluviométricos variam entre 1.600 a 1.700mm (média 1983 – 1994), o período seco é geralmente concentrado de junho a setembro e os excedentes hídricos devem acompanhar o gradiente altitudinal da escarpa. Nas áreas mais elevadas deve oscilar entre 800 a 900mm, enquanto nas áreas mais baixas e próximas das baixadas e depressões deve cair para valores entre 500 a 600mm por ano (Mapa A021). 47 A fachada sudoeste do Planalto do Alto Taquari (altitudes entre 300 a 600 metros) indica ser uma das áreas com menor deficiência hídrica anual, com valores entre 150 a 150mm, se constituindo portanto em uma outra unidade climática (IIIC11). As descontinuidades de SSE associadas ao escoamento troposférico extra-tropical deve agir com maior intensidade e freqüência nesta realidade climática, principalmente por se tratar também da área com a latitude mais alta do Estado (17 a 18ºLS). A seca estacional é de 4 meses, com duração entre junho a setembro e o período com excesso de água no solo é de novembro a abril, proporcionando um total de 800 a 900mm (Mapa A021). GRÁFICO 014 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA PARECIS mm 400 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico - Total - 1069,7 300 Reposição de Água Água Retirada Deficiência Hídrica - Total - 192,0 200 100 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez FONTE: Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 14º 09’ Long. 56º 56’ Alt. 448m 6.3.4. O Clima Tropical Megatérmico Úmido dos Baixos Planaltos e Depressões de Mato Grosso (IIID) Os baixos planaltos (Jauru – Rio Branco, e da Bacia do Rio Vermelho – São Lourenço) e as Depressões do Guaporé, alto Paraguai e alto Cuiabá se constitui numa área onde o “efeito de descida” da coluna de ar provoca uma diminuição considerável nos totais de chuva. Por outro lado, tratando-se de superfícies com altitude baixa (150 a 300 metros) e quase sempre planas ou com o relevo suave de colinas amplas, dá origem a uma condição de elevado aquecimento do solo, e por conseqüência dos fortíssimos aquecimentos da camada de ar próxima da superfície. Por esta razão, estas realidades climáticas foram denominadas de megatérmicas. De forma geral, a temperatura média anual é superior a 25,0ºC, enquanto que as máximas estão quase sempre entre 31,5 a 32,5ºC (média anual). Os totais pluviométricos caem para valores entre 1.400 a 1.600mm e as deficiências hídricas se tornam de moderadas a severas. Ocorre também de forma generalizada nestas unidades (IIID) uma diminuição nos excedentes hídricos, variando entre 200 a 600mm, de pequeno a moderado excesso. A Depressão do Guaporé, localizada no extremo sudoeste do Estado de Mato Grosso, guarda certas características climáticas específicas deste espaço climático. Uma delas é estar 48 quase sempre sob a atuação dos Sistema Depressionários Continentais. Este fato atenua de certa forma a redução da pluviosidade, que seria de se esperar em função da posição topográfica muito deprimida (rebaixada em relação ao entorno). As baixas pressões continentais favorecem o levantamento e provocam temporais, principalmente quando são dinamizados pela aproximação da frente polar. Outro aspecto interessante é um ligeiro aumento das chuvas de outono – inverno, o que faz com que a seca estacional não seja tão intensa quanto em outras áreas rebaixadas, como por exemplo o Pantanal. Na realidade, o maior redutor de disponibilidade hídrica ocorre na própria estação chuvosa. Esta Unidade Climática (IIID) foi subdividida em duas feições, a primeira delas com altitudes entre 200 a 300 metros (IIIDa) e a outra correspondente aos Pantanais do Guaporé, onde as altitudes variam entre 150 a 200 metros. Na feição IIIDa o total pluviométrico anual varia entre 1.400 a 1.600 metros, com uma duração de 5 meses do período seco, entre junho e outubro. O excedente hídrico anual varia entre 400 a 600 mm, iniciando-se com um atraso em relação às outras realidades climáticas do Estado; em termos médios ele começa em dezembro – janeiro e se prolonga até o mês de abril. A feição IIID1b (Planície do Guaporé) tem totais pluviométricos entre 1.400 a 1.500 mm, no entanto, a deficiência hídrica anual é mais elevada e tem uma duração do período seco de 6 meses, ou seja, entre maio a outubro, muito embora a intensidade não seja tão elevada (250 a 300mm) que na Unidade anterior, variando entre 250 a 300 mm; o excesso de água no solo é reduzido a apenas um total anual de 300 a 400mm, durando 4 meses. O balanço hídrico da Vila Bela da Santíssima Trindade (antiga Mato Grosso) – (Gráfico 015), a uma altitude de 240 metros) demonstra a variação mensal dos principais atributos climáticos nesta unidade. A perda máxima por evapotranspiração é de 1.339,5mm enquanto que o total anual da pluviosidade é de 1.436,0mm. A redução dos totais pluviométricos é de maio (51,0mm) até outubro (94,0mm), ou seja, um longo período de meses com retirada hídrica, no entanto em todos os meses de outono – inverno (maio – outubro) existe reposição. Este fato atenua a intensidade local da seca que é de 223,8mm. Na realidade a diminuição mais atenuada ocorre nos totais pluviométricos dentro do período chuvoso, quando as perdas por evapotranspiração são quase equivalentes aos totais pluviais, reduzindo consequentemente os valores de excesso hídrico anual, que é de apenas 300 a 400mm. (Gráfico 015). 49 GRÁFICO 015 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA V. B. DA SANTÍSSIMA TRINDADE mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico -Total - 320,3 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica -Total - 223,8 100 0 jan FONTE: fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 15º 00’ Long. 59º 58’ Alt. 240m Os baixos Planaltos do Médio Jauru – Rio Branco e a parte Norte da Depressão do Alto Paraguai (altitudes entre 200 a 300 metros) formam uma Unidade Climática denominada IIID2a e IIID2b (respectivamente). Estas duas feições climáticas tem no forte aquecimento (temperaturas médias anuais entre 24,4 a 25,0º) uma propriedade muito importante. A diferença entre as duas feições climáticas é que o trecho norte da bacia do Alto Paraguai tem uma intensidade pluviométrica um pouco superior, variando a média anual entre1.600 a 1.800mm, enquanto nos baixos planaltos do médio Jauru os valores médio caem para 1.400 a 1.600mm. No entanto, em termos de falta de água na estação seca, ambas possuem praticamente a mesma condição, ou seja, com a deficiência hídrica anual entre 200 a 300mm. A região do Alto Paraguai (Unidade IIID2a) tem um excedente hídrico de pequeno a moderado, com valores entre 400 a 600mm, enquanto que na Unidade IIID2b (baixos Planaltos do Médio Jauru – Rio Branco) já ocorre uma redução um pouco maior, entre 300 a 500mm. As áreas baixas (altitudes entre 160 a 300 metros) da Depressão do alto Cuiabá, formada por colinas, vales e superfícies planas a sub-planas formam um conjunto quase uniforme do ponto de vista climático. Na realidade, as principais ocorre (grosso modo) no sentido Norte – Sul ou de montante para jusante na bacia./ As áreas a montante da cidade de Cuiabá, e portanto mais próximas das áreas serranas, parecem ser ou sofrer maior instabilidade, sendo os totais anuais um pouco mais elevados, entre 1.400 até 1.600mm de total anual médio (Unidade IIID3a). A medida que descemos topograficamente para o vale do Rio Cuiabá (altitude entre 160 a 200 metros) e portanto dentro de uma outra feição climática (Unidade IIID3b), ocorre um aquecimento maior e através dos processos de compressão adiabática, um maior ressecamento e neste caso os totais pluviométricos ficam entre 1.400 a 1.500. A incidência de seca dura 6 meses, de maio a outubro, e com uma intensidade de moderada a severa (300 a 350 mm). Os excedentes hídricos diminuem em volume (200 a 400mm) e já podem ser considerados relativamente pequenos dentro da realidade do Estado como um todo. Ao sul de Cuiabá se constitui uma faixa de transição climática para a nova realidade que é o Pantanal. Esta Unidade 50 (IIID3c) tem algumas áreas um pouco mais elevadas nas proximidades da faixa central do lado oriental da Província Serrana. Este conjunto, um pouco mais elevado é formado pelas nascentes dos rios formadores do Rio Cuiabá. Nesta unidade (IIID3c) o total anual médio de chuva oscila entre 1.300 a 1.400mm, com seis meses de seca, e deficiências hídricas de moderadas a severas (300 a 350mm). O período de excesso de água no solo é bastante curto, ou seja, de janeiro a março, com um total de 200 a 400mm. O balanço hídrico do posto meteorológico de Cuiabá (altitude de 151 metros) representado no Gráfico 016 indica que: As perdas por evapotranspiração real são de 1.277,3mm; O período com os solos saturados e de máximo armazenamento vai de janeiro a abril; A retirada hídrica (EP>P) dura seis meses, se estendendo de maio a outubro; O acúmulo anual de excedente hídrico é de apenas 224,7mm. Quando comparamos o excedente do posto de Cuiabá com aquele de Rosário do Oeste, localizado na mesma unidade climática, percebe-se que o excesso neste último é ainda menor ou seja, de apenas 146,4mm. Nas regiões baixas e deprimidas dos vales dos rios Vermelho e São Lourenço com um relevo de colinas amplas e largos espigões, insere-se a Unidade Climática IIID4. Esta região, onde está localizada a cidade de Rondonópolis (altitude entre 180 a 300 metros) possui uma condição climática tropical megatérmica úmida, com seca definida de 5 meses, de maio a setembro. A deficiência hídrica é moderada (250 a 300mm) e o excedente anual é de pequeno a moderado (400 a 600mm). A estimativa das perdas de água superficial na região de Rondonópolis (Posto Meteorológico da UFMT) indicam um máximo mensal de 137,7mm (dezembro) e um mínimo de 63,5 em julho. O período com retirada hídrica começa em abril, quando a evapotranspiração supera o total mensal de chuva em 22,3mm. Este período com armazenamento hídrico baixo, e com deficiência hídrica se prolonga até o mês de outubro. No entanto, abril e outubro têm deficiências muito pequenas, de apenas 3,0 e 5,9mm respectivamente; muito embora em anos com distribuição irregular ou com tendência à seca, o período seco possa se prolongar por 6 ou até 7 meses. O excedente hídrico desta unidade climática (IIID4) é de pequeno ao moderado, com um total de 402,1mm (Gráfico 017). 51 GRÁFICO 016 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA CUIABÁ mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico-Total - 224,7 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica-Total - 266,1 100 0 jan FONTE: fev mar abr mai jun jul ago set Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 15º 36’ Long. 56º 06’ Alt. 151m out nov dez 52 GRÁFICO 017 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA RONDONÓPOLIS mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico-Total - 402,1 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica-Total-218,2 100 0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out FONTE: Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 16º 27’ Long. 54º 34’ Alt. 280m nov dez 53 6.3.5. O Clima Tropical Megatérmico Sub-Úmido das Depressões e Pantanais de Mato Grosso (IIIE) Existe no território do Estado de Mato Grosso um conjunto de terras baixas (entre 80 a 300 metros) fortemente circundadas por relevos e topografias mais elevadas (entre 300 a 600 metros). Este caráter de descida forçada das principais correntes e descontinuidades atmosféricas dá origem a Unidades Climáticas Sub-Úmidas, aqui denominadas IIIE. Estas realidades climáticas são áreas fortemente aquecidas em função das altitudes muito baixas (a maioria delas com altitudes inferiores a 200 metros) e também por serem muito planas, ou seja, depressões ou planícies sazonalmente inundáveis. Do forte aquecimento superficial resulta em elevadas perdas por evapotranspiração, aumentando a deficiência hídrica sazonal e diminuindo também o volume de água excedente na estação chuvosa. Desta forma, as Unidades Megatérmicas Sub-úmidas foram assim consideradas por possuírem seca severa e excedente pequeno a moderado. O setor centro meridional da Depressão do Alto Paraguai (altitudes entre 100 a 200 metros) com totais anuais de 1.300 a 1.400mm, e com praticamente 8 meses de seca (Unidade IIIE1) e uma deficiência hídrica de 300 a 350mm (abril a novembro) e com um excedente de 300 a 400mm, ocorrendo nos meses de janeiro a março, se constitui em um clima local diferenciado. É importante salientar que qualquer oscilação climática de meso e macroescala será suficiente para provocar ou atingir os limites das necessidades para abastecer o solo e a demanda de água para as atividades sócio-econômicas em geral, dada a pequena diferença entre a condição habitual, tendendo a falta e a demanda de água que quase sempre é crescente para os múltiplos usos que a sociedade dela faz. A Depressão do médio Rio Cuiabá (ao Sul do paralelo 16ºLS) com altitudes inferiores a 200 metros, mostra um gradiente de diminuição da pluviosidade de norte para sul, em direção aos limites meridionais do Estado. Esta unidade que abrange a área dos Pantanais, da confluência dos Rios São Lourenço, Taquari, Cuiabá e Paraguai, se constitui na unidade climática mais seca do Estado. Nesta condição, o período com deficiência hídrica (7 a 8 meses), com início em abril e se prolongando até outubro – novembro. As principais diferenças entre as Unidades IIIE2 e IIIE3 é com relação ao total anual da chuva, sendo a segunda mais seca (1.100 a 1.300mm), enquanto que na primeira os valores ficam um pouco mais elevados, entre 1.300 a 1.400mm. Esta diferença, aliada à situação topográfica mais baixa da Unidade IIIE3, faz com que as perdas de água sejam maiores, reduzindo ainda mais os excedentes hídricos, cuja disponibilidade, portanto, a nível local do Pantanal Mato-grossense é de apenas 100 a 200mm. O balanço hídrico de Porto Cercado, no Município de Poconé e (Gráfico 018), com um total anual de 1.352,0mm de chuva e com uma perda máxima anual de evapotranspiração (EP) de 1.451,4mm, indica um longo período de 7 meses com retirada hídrica (abril a outubro). Neste período o déficit acumulado é de 305,7mm; o excedente hídrico é pequeno (206,3mm) e tem uma duração de apenas 4 meses, sendo que em dezembro o excedente é de apenas 14,0mm e em março é de 32,4mm. Esta condição de pequeno excedente de água a nível local se repete em vários outros pontos de amostragem do Pantanal. Por exemplo em Córrego Grande (Sto. Antônio do Leveger) o excedente médio é de apenas 171,4mm, e em Orion (Posto P398 – no município de Cáceres) o excesso é de apenas 54,2mm, com reposição hídrica suficiente para saturar os solos durante apenas os meses de janeiro e fevereiro. Esta característica do balanço de água, com excesso muito reduzido, aumenta sobremaneira a importância da água que chega (nas depressões e pantanais) através do escoamento superficial (fluvial principalmente) e do escoamento 54 subterrâneo, como uma fonte alternativa de recurso hídrico nos anos com desvios negativos da pluviosidade. A localização da Depressão do Rio Araguaia (incluindo toda a confluência com o Pantanal do Rio das Mortes) na faixa oriental do Estado (maior freqüência dos sistemas atmosféricos estáveis associado à alta subtropical) e em posição de relevo rebaixada provoca uma forte redução dos totais pluviométricos (1.400 a 1.600mm). Esta realidade climática (Unidade IIIe4a, IIIE4b e IIIE4c) apesar de pequenas diferenças locais, têm como propriedade básica uma seca muito severa de outono – inverno (350 a 450mm de total anual) e um excedente hídrico moderado (500 a 800mm) na estação chuvosa de novembro a abril. Esta macrounidade climática tem diferenças locais introduzidas pela grande variação latitudinal (11 a 16ºLS) e pela altitude. Assim sendo, hierarquizou-se três níveis de organização climática, o primeiro deles corresponde a uma faixa intermediária de altitude, entre 200 a 300 metros, que denominamos Unidade III4a (Depressão do Alto e Médio Araguaia). A segunda subunidade ficou envolvendo toda a planície inundável entre o Rio das Mortes e Planície do Bananal até a altura da cidade de São Félix do Araguaia. Nesta unidade as altitudes variam entre 160 a 200 metros. A terceira subunidade (IIIE4c) está localizada na transição para a bacia do Rio Xingu, ou seja, abrange os baixos planaltos e alongados espigões e serras baixas onde a variação altitudinal é de 300 a 350 metros. A Unidade IIIEa (Depressão do alto e médio Araguaia) é a que indica menor valor da pluviosidade média anual, com valores entre 1.400 a 1.600mm. GRÁFICO 018 BALANÇO HÍDRICO MÉDIO PARA PORTO CERCADO mm 300 Precipitação Evaporação Potencial Evaporação Real Excedente Hídrico-Total - 206,3 Reposição de Água 200 Água Retirada Deficiência Hídrica-Total - 305,7 100 0 jan FONTE: fev mar abr mai jun jul ago set Dados meteorológicos INEMET (1983-1994) Lat. 18º 31’ Long. 56º 23’ Alt. 119m out nov dez 55 6.3.6. O Clima Tropical Continental Úmido de Altitude das Serras e Maciços Isolados (IIIF) Na bacia drenada pelo Rio Guaporé existe três unidades de relevo que se destacam na paisagem. Eles se constituem em maciços residuais, com sistemas de vertentes de alta declividade e altitude elevada, entre 300 a 900 metros. Apesar de não se contar com estações meteorológicas localizadas nestes sítios, é evidente que estes espaços se constituem em unidade climáticas diferenciadas em função da altitude. Este conjunto de terras altas e serranas foram designadas de Climas Tropicais Continentais Úmidos de Altitude (Unidades IIIF1, F2, F3). A subunidade IIIF1 (Serra Ricardo Franco) deve receber um total médio anual de pluviosidade entre 1.600 a 1.900mm. Os topos do maciço são áreas relativamente frias (altitudes superiores a 700 metros) onde as temperaturas médias anuais ficam entre 22,0 e 21,0ºC; este fato ressalta portanto a ocorrência de Climas Tropicais Continentais Mesotérmicos de altitude. Nestas condições o período seco deve ficar reduzido a 3 a 4 meses, ou seja, de junho. O total anual de deficiência hídrica deve variar entre 100 a 300mm, e o excedente hídrico deve ser de moderado a elevado (600 a 800mm), com duração de novembro a abril. A serra de São Vicente, localizada próximo da fachada sudoeste da Chapada dos Parecis, dentro da Bacia do Rio Guaporé se constitui em outra unidade climática (IIIF2). A orientação deste rebordo escarpado é de noroeste – sudeste, com altitudes entre 300 a 700 metros. Este tipo de orientação deve favorecer e intensificar as instabilidades associadas às baixas continentais. A pluviosidade média anual, estimada através do mapeamento, indica uma variação entre 1.700 a 1.800mm, com 4 a 5 meses de seca estacional, entre junho – outubro. O período de máximo armazenamento de água no solo ocorre de dezembro a abril, totalizando 600 a 800mm. A extremidade sul do divisor principal entre a Bacia do Guaporé e do Rio Paraguai envolve um maciço com altitudes elevadas (300 a 900 metros) localmente denominado como Serra de Santa Bárbara. Esta área possui uma identidade diferenciada dentro dos climas regionais, o fator altitude, as encostas escarpadas e a localização no extremo sudoeste do Estado de Mato Grosso são os traços essenciais deste clima local Tropical Continental Úmido de altitude (Unidade IIIF3). O total pluviométrico médio anual deve variar entre 1.600 a 1.900mm, com um período de seca estacional de 4 a 5 meses, e onde a intensidade das deficiências hídricas deve variar entre 100 a 300 metros. A intensidade da seca deve ser mais acentuada de junho a setembro. O excesso de água no solo deve ser máximo no período de novembro a abril, oscilando entre 600 a 800mm (excesso moderado). A última unidade climática (IIIF4) identificada como um maciço isolado é o da Serra da Estrela. Esta unidade topoclimática fica localizada no trecho meridional da Depressão do Médio Araguaia. Destaca-se sobretudo na paisagem pela diferenciação altitudinal (300 a 800 metros) já que o nível de base geral da Depressão do Araguaia neste local varia entre 300 a 350 metros. Torna-se portanto, um clima Tropical Continental Úmido de Altitude, intensificando nas suas encostas com alta declividade, os processos de descompressão adiabática e aumentando os valores de pluviosidade. Desta maneira, os totais anuais devem girar entre 1.500 a 1.800mm. O período seco é de junho a setembro, com uma intensidade de 100 a 300mm de deficiência hídrica. O armazenamento hídrico é máximo no período de outubro a abril, com um excedente de 600 a 800mm por ano. 56 7. CONCLUSÕES A metodologia empregada, cruzando e criticando o acervo de informações climatológicas com as observações de campo se mostraram satisfatórias, produzindo mapeamentos e representações cartográficas ajustadas à realidade cartográfica. O trabalho de campo realizado incorporou e ajudou no entendimento das relações entre os atributos e os controles climáticos, e sobretudo na síntese e delimitação espacial das 60 Unidades e Subunidades Climáticas do Estado de Mato Grosso (Mapa A0021). A crítica e a uniformização da série mensal dos dados pluviométricos utilizados com consistência, substituição das falhas e homogeinização da série temporal (1983-1994) se revelou um procedimento essencial nos mapeamentos dos atributos na escala 1:1.500.000. A análise de regressão múltipla, empregada para estimar as temperaturas médias, e máximas, em função da latitude e altitude, mostrou correlação significativa, permitindo estimar o balanço hídrico para todos os postos pluviométricos do Estado de Mato Grosso e do seu entorno (limites com os Estados do Amazonas, Pará, Goiás, Rondônia e Mato Grosso do Sul). Os resultados obtidos com a estimativa do balanço hídrico (com capacidade de campo de 75mm) indicou uma distribuição espacial das deficiências e excedentes hídricos, com elevada correlação com a estrutura genética do Clima associada aos padrões de circulação atmosférica, tanto na estação seca quanto na chuvosa. A análise de regressão múltipla, entre os controles climáticos latitude e altitude e a variação da temperatura média das mínimas mostrou valores estatisticamente válidos para as médias anuais; mas face à forte influência da localização das estações meteorológicas, os desvios entre os valores observados e aqueles estimados são elevados. Do ponto de vista regional a estimativa da temperatura média das mínimas (para o mapeamento na escala 1:1.500.000) é perfeitamente válida, no entanto para estimativas à nível local podem aparecer desvios muito elevados, sendo preferível aplicar fatores de correção baseados nos dados observados. Comparando-se os resultados deste Diagnóstico (mapeamentos e síntese na escala 1:1.500.000) com o estado de conhecimento no início deste projeto (conforme análise crítica constante do relatório de Climatologia – SEPLAN, 1997), fica evidente um significativo avanço. Principalmente quanto à resolução temporal e espacial dos mapeamentos. Por outro lado, a representatividade cartográfica, aliada a uma descrição/delimitação e delimitação dos atributos e controles climáticos amarrados às principais bacias e sub-bacias hidrográficas, bem como às principais unidades do relevo, criou um conjunto de 60 polígonos, com enorme facilidade de integração dentro de um Sistema de Informação Geográfica. É de se supor que este conjunto de unidades, subunidades e feições climáticas sejam a base para um sistema permanente de arquivo, gerenciamento e disponibilização de informações sobre os recursos climáticos do Estado de Mato Grosso. A sua revisão e atualização permanente facilitará enormemente a tomada de decisões pelo poder público, sobre questões essenciais do planejamento agrícola e urbano do território, dentro do tema recursos hídricos e climáticos do Estado. Em termos de uma síntese referente ao conhecimento específico das realidades climáticas do Estado alcançadas por este diagnóstico pode-se concluir que: 57 A larga extensão territorial do Estado de Mato Grosso lhe confere uma grande diversidade de tipos climáticos associados às latitudes equatoriais continentais e tropicais na porção central do continente Sul Americano. Apesar do forte aquecimento pela posição latitudinal ocupada pelo seu território, a oferta pluvial é relativamente elevada. Os valores médios encontrados para a série 1983-1994 revelam totais quase sempre superiores a 1.500mm anuais; apenas em áreas deprimidas e rebaixadas topograficamente encontram-se valores entre 1.300 a 1.400mm. Portanto o suprimento hídrico através da pluviosidade supera na maior parte do seu espaço geográfico as perdas por evapotranspiração potencial. Um dos fatos que reforça a potencialidade hídrica do Estado é o ritmo sazonal com acentuada regularidade. Explicando melhor, a seqüência de períodos secos e chuvosos de forma alternada mostra a nível anual um ritmo relativamente regular, onde a intensidade da deficiência hídrica quase sempre ocorre de maio a setembro e onde o esperado período chuvoso tem uma duração média de novembro a março. Portanto, existe uma estação de crescimento vegetativo com ótimo suprimento de luz, calor e água para a maioria do território de Mato Grosso. No entanto, algumas macrounidades climáticas regionais necessitam de cuidados especiais no manejo e na utilização dos recursos climáticos. A primeira delas é o conjunto de Unidades Climáticas Equatoriais Continentais Úmidas com estação seca definida (Unidades I e II do Mapa A0021). O processo genético de formação das chuvas nesta realidade climática está ligado aos processos convectivos de larga escala, mas regionalmente encontram-se intimamente associados às propriedades da superfície, ou seja, às áreas originalmente revestidas com diferentes fisionomias de Floresta Amazônica. Portanto, a retirada da Floresta implica em alterações micro, topo e do clima local, principalmente em termos de armazenamento e disponibilidade hídrica. Portanto, a cobertura vegetal (principalmente em áreas de solos pobres) implica necessariamente numa mudança radical no processo de recepção e velocidade do fluxo de águas junto ao solo, podendo erodir rapidamente a camada que retém a maior parte dos nutrientes do solo (TARIFA, 1994). Outro indício de alteração climática em curso é o aumento das áreas ocupadas e invadidas pelo Babaçu no Estado de Mato Grosso. Na realidade, o babaçu representa um “ecótono” que convive naturalmente com a Floresta Equatorial. A retirada da floresta (principalmente através de queimadas) implica num aumento de luminosidade, que por sua vez acarreta um ótimo de condições ambientais para a proliferação do babaçu, principalmente nos solos pobres. Não seria este fato um indício de alteração climática em curso? Provavelmente sim, principalmente se se considerar que estes fatos vem de há muito extrapolando os limites de ocorrências locais ou isoladas; praticamente em toda a borda leste, meridional e ocidental da Amazônia o avanço das formações abertas da Amazônia é um fato. Extensas áreas nas Unidades Climáticas Equatoriais de Mato Grosso mostram esse tipo de alteração na paisagem. As pastagens ou formações abertas (mata de cocais ou palmeiras) implicam numa mudança radical no ritmo climático, aumenta a velocidade do escoamento, o impacto erosivo e diminui o tempo de residência da água nos vários compartimentos na interface solo-planta-atmosfera. Resta considerar que a disponibilidade de energia para o aquecimento do solo e para as perdas por evapotranspiração são muito elevadas o ano todo. Deste balanço deve resultar um progressivo ressecamento dos recursos hídricos superficiais, diminuindo o armazenamento e os excedentes e aumentando e prolongando a duração da seca. A macrounidade climática regional denominada “Clima Tropical Continental Alternadamente Úmido e Seco das Chapadas, Planaltos e Depressões” (Unidade III – Mapa A021) comporta uma extensa variedade de tipo climáticos associados basicamente à forma e orientação do relevo. Do ponto de vista da vegetação, é o domínio de diversas fisionomias de cerrado, enquanto o ritmo climático é caracterizado por uma marcante sazonalidade. A extensão e duração (tanto da estação seca como da chuvosa) está muito ligado ao fator altitude e à forma do relevo. 58 Os topos de cimeira dos extensos chapadões (altitudes entre 600 a 900 metros) são os que apresentam as menores deficiências hídricas, enquanto que as baixadas e depressões são as unidades com os menores excedentes e as maiores deficiências hídricas. Torna-se, portanto, importante mostrar as conexões entre estas unidades climáticas, ou seja, uma interação entre o que ocorre nos topos e espigões elevados e o escoamento hídrico resultante nas baixadas e depressões. As depressões (Alto Paraguai, Alto Cuiabá, Guaporé e Médio Araguaia) e o Pantanal de Mato Grosso são unidades climáticas com tendência a moderada e severa seca. Por outro lado, é evidente na análise dos excedentes hídricos uma diminuição substancial nos totais anuais. As áreas mais críticas são as unidades climáticas consideradas sub-úmidas (IIIE1 a IIIE4), não apenas por apresentarem valores mais elevados de deficiência hídrica e possuírem uma redução nos volumes de excesso de água, mas também por possuírem um ritmo mais próximo do limite determinado pelo uso através das atividades agronômicas e sócio-econômicas, ou seja, a diferença entre a demanda do recurso hídrico e a oferta através dos insumos pluviais é muito pequena, e qualquer variabilidade ou mudança de ritmo estacional (por exemplo o prolongamento da estação seca até novembro ou início de dezembro) será capaz de produzir danos e prejuízos de magnitude elevada. Desta forma, como nestas situações, as baixadas e depressões dependem do escoamento superficial e fluvial, é fundamental preservar e controlar o ritmo do escoamento pluvial nas nascentes e altos cursos dos rios que nascem nos rebordos escarpados dos Planaltos e Chapadas. As observações de campo demonstram para a grande maioria das Unidades Climáticas ocupadas nos altos chapadões com produção de grãos (soja, milho, algodão) não preservou as nascentes com a vegetação natural. Considerando que estes rebordos e faces escarpadas recebem altos totais pluviais (entre 1.800 a 2.400mm) os processos erosivos e a velocidade do escoamento devem ter sido substancialmente alterados. Desta forma estas alterações devem também se produzir nos pantanais e depressões. A elaboração do Mapa A022 - Potencial Agroclimático, resultou da aplicação de critérios de ponderação às unidades climáticas. O cruzamento entre as características individuais de cada unidade, com uma composição (somatória) encontrada pelo grau de risco climático, a que a atividade agrícola está submetida, permitiu classificar regionalmente o potencial agroclimático. Torna-se, entretanto, importante esclarecer que se trata de uma potencialidade baseada apenas na oferta atmosférica do clima, em termos de grau de aquecimento (temperatura e evapotranspiração potencial), disponibilidade hídrica (intensidade da seca e do excedente hídrico) e duração média da estação chuvosa ou de crescimento vegetativo para os cultivos. Os parâmetros utilizados (temperatura média, deficiência hídrica, excedente hídrico e duração em dias da estação de crescimento) são aqueles disponíveis e que mantém maior poder de explicação em relação ao desenvolvimento e produtividade agrícola tropical e equatorial. Assim sendo, as variáveis agroclimáticas, foram classificadas em três níveis ou graus (ranking) de ponderação. Ao primeiro grau foi atribuído o peso 1., ou seja uma potencialidade baixa, ou restrita, havendo limitações ao conjunto de todos os cultivos ou um risco por falta ou excesso do fator térmico ou hídrico. O segundo grau, considerado como um potencial individual médio, foi atribuído a ponderação (2), em relação aos mesmos fatores (térmicos, hídricos e duração do período chuvoso). O terceiro grau, é aquele que define a máxima potencialidade, tendo sido atribuído o valor (3). Após a análise detalhada sobre o conhecimento de cada unidade climática, os pesos individuais foram somados, alcançando-se assim, o potencial agroclimático agregado, cujos valores (resultantes da somatória) oscilaram entre 4 a 12. Finalmente, foi organizada uma nova classificação, ou seja, as unidades com total igual ou superior a 10 foram consideradas como tendo um ótimo potencial agroclimático; com valores entre 7 a 9 o potencial foi considerado bom, na faixa de valores 5 e 6 o potencial agroclimático é médio e igual ou inferior a 4 o potencial é baixo. Na legenda do Mapa A022, encontra-se um quadro com as unidades climáticas, bem como os pesos individuais atribuídos a cada variável, e a classificação final resultante. 59 As unidades climáticas I (A, B, C, D) Clima Equatorial Continental Úmido com estação seca definida, indica como propriedade fundamental, o elevado excedente hídrico (>1.000mm), associado à temperaturas elevadas (entre 24,4 a 26,0°C) quase o ano todo. Nestas condições climáticas regionais, a maior potencialidade agrícola, está associada à exploração e uso sustentado da floresta. O emergente biomercado e as ofertas do conhecimento cultural da biodiversidade surgem como possibilidade para novos materiais, medicamentos, princípios ativos, alimentos, perfumes, conservantes, adoçantes, sal vegetal, variedades de plantas, sementes, pesticidas orgânicos e frutas (NOVAES,1999 - citado por LEONEL M., 2000). Estas são algumas das razões para não se derrubar a floresta Amazônica, além de outras associadas às possibilidades de mudanças no clima local e regional (já discutidas no relatório técnico). Além de preservar incondicionalmente as florestas desta Unidade Climática, é urgente recuperar as áreas microclimaticamente degradadas, por queimadas e uso agrícola em solos pobres e sem manejo capaz de manter a produtividade, estão abandonadas, ou com rentabilidade econômica, biológica e social muito baixa. A Unidade Climática II (clima Subequatorial Úmido Continental do Planalto dos Parecis) indica uma potencialidade agroclimática boa. Os excedentes hídricos variam entre 800 a 1.000mm, muito embora as deficiências sejam mais elevadas, oscilando entre 250 a 350mm. O período da estação de crescimento é de 200 a 220 dias, o que demonstra condições plenas de umidade disponível. Considerando-se ainda, tratar-se de uma unidade climática, com extensas superfícies cobertas com mata, é importante manter o mesmo tipo de preocupação em não permitir novas derrubadas ou queimadas, usando neste caso os mesmos argumentos já ressaltados para a Unidade I. Em termos de regularidade climática as subunidades localizadas na Bacia do Rio Xingu (IIB1 e IIB2 do Mapa A021), indicam um ritmo menos constante do que aquelas localizadas no extremo oeste (IIA) no médio Arinos e Rio do Sangue. Isto leva a uma conclusão de que mesmo esta unidade, pode apresentar em poucos anos de uso agrícola sob manejo inadequado, uma rápida degradação na retenção e na disponibilidade hídrica. A macrounidade regional III (tropical Continental alternadamente úmido e seco das Chapadas, Planaltos e Depressões) é aquela que resultou nos maiores valores agregados do Potencial Agroclimático. No entanto, foi necessário subdividir a realidade em unidades fundamentalmente controladas pelo relevo (orientação e forma) e pela altitude. Assim sendo, o maior valor alcançado foi obtido pela subunidade IIIA (mesotérmico dos topos de cimeira dos chapadões); correspondendo às altitudes planas à subplanas entre 600 a 900 metros da Chapada dos Parecis, Chapada dos Guimarães e dos Chapadões do Planalto do Taquari e Alto Araguaia. Estas áreas, apresentam a maior potencialidade agroclimática por permitirem maior abrangência ou diversificação da atividade agrícola. São nestes chapadões, que se concentra hoje a maior parte da produção de grãos do Estado de Mato Grosso. No entanto, as observações de campo, mostraram que é possível uma ampliação grande do espectro de cultivos, por exemplo a produção comercial de frutas (uva, maracujá) usando irrigação nos municípios de Primavera do Leste e Campo Verde. Esse fato, pode resultar num arranjo agrário com maior sincronicidade com o mercado interno, e não dependente apenas do mercado externo como a soja. Além da fruticultura estes chapadões teriam também, segundo experimentos em áreas tropicais, condições para usando parcialmente a irrigação, em meses de inverno, produzir trigo ou outros cultivos mais exigentes em termos de temperaturas mais amenas. Os climas mesotérmicos quentes e úmidos da fachada meridional dos planaltos (unidade IIIC) também apresentam quase a mesma potencialidade dos topos elevados dos Chapadões; a grande diferença está na declividade e na forma mais escarpadas destas bordas meridionais. Pelo fato de constituírem um conjunto de altas nascentes das bacias do Guaporé, 60 Paraguai, Cuiabá, Taquari e Itiquira, recebem fortes impactos pluviométricos, e em função do elevado declive, tem seus processos erosivos muito acelerados. Existe também a necessidade de cuidados especiais neste processo, pois grande parte das águas e nutrientes do Pantanal dependem em última instância deste tipo de escoamento pluviofluvial. A macrounidade III.B (mesotérmico quente e úmido dos Parecis e Alto Xingu – Araguaia) indicou uma boa potencialidade agroclimática. Esta área corresponde ao reverso das chapadas e planaltos voltados para o norte com os rios, correndo em direção à Bacia Amazônica. Grosso modo, é o grande domínio dos cerrados e matas ciliares, onde a ocupação predominante hoje é a pecuária associada à manchas adensadas de uso agrícola comercial e industrial. As depressões do Estado de Mato Grosso, (unidades IIID e IIIE4) cujas áreas correspondem as Bacias do Guaporé, Alto Paraguai, Alto Cuiabá e Médio Araguaia – Rio das Mortes, tem como propriedade fundamental serem áreas com elevadas temperaturas, alta perda de águas superficiais através da evapotranspiração potencial e excedente hídrico de médio à reduzido. Nestas condições a produtividade e o rendimento agroclimático, indica maior risco de variabilidade, bem como inibe parcialmente o uso da diversificação de cultivos e de tecnologia. O fator decisivo nestas unidades, é a forma correta do manejo e do entendimento de como a oferta meteorológica, no nível da atmosfera será retrabalhada à nível do solo, da topografia, e de técnicas adequadas à cada realidade local. Por exemplo, dentro do Vale do Guaporé e do Vale do Araguaia, existem áreas que são tipicamente “pantanais”, onde é claro que a maior força produtiva da natureza, não está no clima (que tende sazonalmente e ciclicamente ao sub-úmido ou quase semi-árido) mas no transporte (escoamento fluvial) e no processo de sedimentação, que traz e renova a cada cheia os nutrientes para a “vida”; aqui compreendida como maior potencialidade de sua preservação; o uso adequado para estes “pantanais” nos parece, não ser a atividade agrícola, mas um amplo quadro relacionado à exploração auto sustentada destes ecossistemas. O Pantanal do Estado de Mato Grosso, em termos climatológicos, é o que apresenta a menor potencialidade agroclimática, as chuvas em média, são quase sempre rapidamente evapotranspiradas pelo forte calor e aquecimento existente. Em anos de ciclo de águas baixas ou com anomalias meteorológicas de macroescala, a relação da oferta de água atmosférica e a perda, indica ser o Pantanal uma área com forte tendência à semiaridez. Ora a riqueza maior está também no escoamento fluvial e subterrâneo que vem das altas nascentes, e neste caso qualquer alteração por mínima que seja no nível deste escoamento, pode causar sérios prejuízos à preservação e a manutenção da biosociodiversidade nas novas realidades locais do Pantanal. Finalmente, as áreas serranas (Província Serrana) e Maciços isolados (unidade III.F.) apesar de possuírem um bom potencial para uso agropecuário, são áreas de relevo e formações escarpadas e com fortes rupturas de declive, o que recomenda o uso destas áreas como unidades de preservação (Parques e Estações Ecológicas) 61 8. BIBLIOGRAFIA ABRH, Associação Brasileira de Hidrologia e Recursos Hídricos - Anais do III Simpósio Brasileiro de Hidrologia e Recursos Hídricos. Brasília, 1979. vol. 1 e 2. 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