Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 136 Imagem e memória: Édipo e a cena teatral porto-alegrense Image and memory: Oedipus and the theater scene of Porto Alegre Newton Pinto da Silva Mestre em Artes Cênicas Jornalista da TVE/RS [email protected] Recebido para publicação em outubro de 2012 Resumo Este artigo investiga a cena teatral de Porto Alegre nos anos 1980. Em especial, realiza-se a análise da peça de teatro A Verdadeira História de Édipo Rei (Grupo Gregos & Troianos), na tentativa de reconstruí-la por meio de seus vestígios. O principal documento de pesquisa é um vídeo, realizado pela TVE/RS, que registrou esta peça de teatro para exibição em um programa de televisão da emissora. Palavras-chaves: Teatro – Vídeo – Documento Abstract This paper investigates the theater scene of Porto Alegre in 1980. In particular, we make an analysis of the play The True Story of Oedipus (Group Greeks and Trojans), in an attempt to reconstruct it through their traces. The main research paper is a video, made by TVE / RS, which recorded this play for viewing on a television broadcaster. Keywords: Theater - Video - Document Aceito para publicação em dezembro de 2012 MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 137 espetáculo A Verdadeira História de Édipo Rei (1985), do Grupo Gregos & Introdução Troianos, que integra a pesquisa ao lado Gilles Deleuze, no livro Cinema de outras seis montagens teatrais 1: a imagem-movimento, explica a estreadas na capital gaúcha naquela noção de conjunto e sua relação com o década. A dissertação investigou os todo. processos Ao analisar o conceito de de produção teatral de e de enquadramento, Deleuze (1985, p. 30) experimentação grupos afirma que enquadrar é um processo de gaúchos a partir de registros feitos em escolha das “partes de todos os tipos vídeo pela TVE/RS. A emissora pública que entram num conjunto”, ou seja, de televisão gravou diversos espetáculos trata-se de uma opção por uma imagem teatrais que estavam em cartaz, naquele que contém um fragmento de um todo. período, na cidade, para posterior Nela, há uma parte, formada por várias exibição no programa semanal chamado outras partes, que está recortada dentro Palcos da Vidai. do quadro. No entanto, existe no A partir da noção proposta por extracampo, quer dizer, fora do recorte Deleuze, penso este recorte temático da imagem escolhida, uma infinidade de como uma unidade que se relaciona outros conjuntos que se relacionam com o todo, visto, neste caso, como o (pela ausência) com o enquadramento sistema de produção teatral inserido no definido. Para Deleuze, o conjunto é um contexto “sistema fechado”, ou seja, é um político e econômico da década de recorte do todo. 1980. Socorro-me da definição do filósofo como um social, enquadramento, selecionado e reconstruído a partir do olhar da pesquisa, quase três décadas enquadramento que passo a realizar a depois do acontecimento cênico. Dito partir de agora. Trata-se aqui de de outra maneira: trata-se de um apresentar minha conjunto (sistema fechado) que contém dissertação de mestrado Palcos da uma multiplicidade relacionada a outros Vida: o vídeo como documento do temas (todo). recorte inicial É cultural, ao um alerta artístico, de teatro em Porto Alegre nos anos 1980. Em especial, este artigo detalha o MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 138 intelectuais e artistas provoca a criação A cena porto-alegrense na do Curso de Artes Cênicas (CAD) na segunda metade do século XX Faculdade de Filosofia da URGSii. A Um panorama que fale de um determinado contexto temporadas mais extensas leva o grupo histórico tem suas raízes no passado do Teatro de Equipe a inaugurar a sua próprio acontecimento. Olhar um fato própria sala de espetáculos numa casa pelas lentes da história abarca diversas alugada no centro de Porto Alegre. camadas temporais que vão do tempo Neste momento, surgem e atuam nomes do historiador (o pesquisador olha para importantes como Linneu Dias, Lillian seu objeto com a distância de quem está Lemmertz, no futuro daquilo que passou); passa Fernando Peixoto, Ítala Nandi, Paulo pelo tempo da ação ocorrida (o presente José, Paulo César Peréio e Luthero do momento analisado); e tem como Luiz. A maioria dos diretores e atores pano de fundo as representações do desta passado deste mesmo episódio (seus anteriores (Maria Della Costa, Walmor antecedentes históricos). Em um breve Chagas, Carmen Silva) se transfere para histórico sobre a produção cênica de o centro do país (São Paulo e Rio de Porto Alegre, na segunda metade do Janeiro) século oportunidades de trabalho na área. A XX, ambiente pode-se ou falta de espaços cênicos para as destacar três períodos principais. geração, em como busca Abujamra, em de décadas melhores diáspora teatral, termo cunhado por A primeira fase, marcada por um intenso Antônio movimento pela profissionais que deixam o Rio Grande teatro do Sul por falta de condições de se amador, começa nos anos 1950 e sustentarem a partir de seu trabalho estende-se até 1964, quando ocorre o teatral. proliferação dos cênico grupos de e Fernando Peixoto, refere-se a estes golpe militar. Durante este período, os coletivos atuam na renovação O segundo período abrange os da anos de chumbo da ditadura militar, que produção teatral da cidade, interessados se inicia em 1964, passa pelo final dos na pesquisa e montagem de autores anos 1960 quando é decretado o AI-5, contemporâneos, da com perseguições políticas até chegar vanguarda mundial. A pressão de ao final da década de 1970, quando se inclusive MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 139 abertura múltiplas transformações no campo democrática no país. São anos marcados teatral até o final do século XX. pela censura prévia aos textos e Herdeiros de um teatro de resistência à espetáculos teatrais. Em contrapartida, ditadura militar, diretores e atores atores e diretores se mobilizam através acrescentaram de uma produção cênica de resistência processo de experimentação cênica e da ideológica ao regime. Dois coletivos se relação entre palco e plateia, em uma destacam na época. O Teatro de Arena, busca grupo de artistas liderados por Jairo de mudanças políticas e sociais do país Andrade, dá preferência à montagem de naquele momento histórico. Mesmo que textos nacionais de caráter político e de já houvesse sinais de renovação em obras clássicas de Bertolt Brecht e Peter momentos anteriores, intensificam-se Weiss. características inicia o processo Eles alugam, de reformam e novos artística que como exploração caminhos responde ao às diversidade inauguram seu próprio teatro no porão estética, de um edifício no viaduto da Avenida linguagens e de concepção de espaço Borges de Medeiros, em Porto Alegre, cênico, espetáculos que se distanciam transformando o espaço em um símbolo do textocentrismo, investimento em de luta contra a opressão política. Já o dramaturgia Grupo de Teatro Província é formado improvisação e da criação coletiva e por profissionais oriundos do CAD, fomento da pesquisa do trabalho do como Luiz Arthur Nunes, Luiz Paulo ator. realizada de novas através de Vasconcellos, Maria Helena Lopes, Graça Nunes e outros. O grupo marcou sua trajetória pela pesquisa e A Verdadeira História de Édipo Rei A revitalização do teatro gaúcho experimentação de linguagem de um às nos anos 1980 tem como uma de suas experiências de Antonin Artaud, Jerzi principais características o encontro Grotowski e Brecht. com a plateia. Diversas produções teatro contemporâneo, aliado A terceira fase começa no final tiveram êxito de bilheteria em dos anos 1970 e se consolida com o sucessivas temporadas. Na época, um processo de redemocratização do país, dos após a ditadura militar, resultando em alegrenses de sucesso foi Bailei na primeiros espetáculos porto- MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 140 Curva, com o Grupo do Jeito que Dá. final que rompe com a proposta do Depois da estreia, em 1983, a peça original. A pesquisadora Andrea de dirigida por Júlio Conte atingiu cerca de Roccio Souto, que examinou a forma 250 mil espectadores em quase três anos como três autores de diferentes épocas de carreira da primeira montagem. apropriaram-se de Sófocles – Sêneca Circulou por 45 cidades e seis capitais. (Édipo), O grupo reunia jovens artistas, a Verdadeira História de Édipo Rei) e maioria com formação no Departamento Woody Allen (Poderosa Afrodite) –, de afirma: Arte Dramática da UFRGS. Toninho Costa Neto (A Concebido a partir de improvisações, o texto mostra o cotidiano de sete crianças durante o regime militar até suas vivências com as transformações políticas da década de 1980. Outro sucesso é o primeiro espetáculo do Grupo Gregos & Troianos, A Verdadeira História de Édipo Rei, que estreou em 7 de setembro de 1985, no Teatro de Câmara, em Porto Alegre. A peça permaneceu três anos em cartaz, passando por diversas salas da Capital e do interior do Estado. O autor Toninho Costa Neto realizou uma paródia de Édipo Rei, de Sófocles. Combinação entre tragédia e comédia, o espetáculo era uma releitura que “brincava” com elementos do clássico grego. O texto mantém o enredo e os personagens principais, mas atualiza o mito ao dialogar com a cultura contemporânea, pop e de massa, surpreendendo com um Com os olhos voltados tanto para a modernidade como para a tradição, Costa Neto reúne ferramentas suficientemente indicativas de ruptura – seja em relação à cristalização mítica, à medida que Édipo deixa de ser punido, seja com a adequação literária. Isso porque ele escreve um híbrido de tragédia e comédia, no qual a catarse trágica converte-se em motivo de riso. Portanto, uma das mais importantes inovações de Toninho Neto reside justamente na transformação do modo e da matéria mítica (trágicocanônica) em comédia/releitura, da qual resulta, efetivamente, uma reescritura dos textos clássicos (SOUTO, 2000, p. 102). A encenação do Grupo Gregos & Troianos jogava com os dois níveis de referências, a Grécia antiga e o mundo contemporâneo. A montagem MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 141 não se privou de acrescentar ao texto parapsicólogo, pai de santo citações, gags e cacos criados durante o e apicultor Tirésias, boa processo de ensaio ou no decorrer das tarde. temporadas. Muitos efeitos cômicos Édipo: estavam própria gostaria de falar com o dramaturgia. Na Cena 2, por exemplo, doutor, vidente, adivinho, do texto de Costa Neto, disponível no parapsicólogo, pai de santo anexo da pesquisa de Souto (2000), e apicultor Tirésias. quando Tirésias: Quem gostaria de previstos o na personagem principal Boa tarde. encontra a Esfinge, a rubrica diz que falar? “Édipo vem pela estrada, com uma Édipo: Adivinha?iii Eu mochila nas costas. É abordado pela Esfinge, uma espetáculo, intelectual”. o grupo traduziu No Diálogos rápidos e cômicos, as como esse, foram entrelaçados, na indicações de Costa Neto apresentando encenação, o jovem Édipo vestindo uma típica constavam do texto final do autor e com túnica grega. Ele aparecia à beira da números estrada pedindo carona aos imaginários “Esfinge”, Costa Neto prevê a entrada carros do coro que canta e dança para anunciar que passavam, enquanto carregava uma mochila contemporânea. Mais adiante, no texto, é dito com outros musicais. Na que Cena não 1, a chegada do viajante. Na concretização cênica, o Grupo Gregos & Troianos que o cego Tirésias tem como primeiro manteve nome referência alterações na letra original. Formado explícita a Freud. Na Cena 8, também por três atores, nessa cena, o coro no texto dramático, com o título entrava de figurino preto, justo ao “Telefonema”, corpo, em um visual contemporâneo. A Sigmund, uma Édipo e Tirésias conversam pelo telefone: a canção com pequenas Esfinge, já em cena, segurava um chicote. Édipo disca, Tirésias atende. Tirésias: QUADRO 1 – Letra canção Cena 1 de Consultório do doutor, vidente, adivinho, A Verdadeira História de Édipo Rei CORO (LETRA CORO (LETRA MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 142 ORIGINAL) Fonte: CANTADA EM masculinidade dos heróis. Para isto, o texto CENA) dramático Programa grupo trabalhava com estereótipos do espetáculo universo gay, sublinhando uma possível Fonte: (In: SOUTO, do 2000, p.2 diálogo com a Esfinge, em uma sátira à relação homossexual entre os super- - (1985) Anexo) heróis. É o que pode ser percebido Lá vem mais um Lá vêm mais dois através da decupagem do texto dito em viajante, viajantes cena pelos atores na Cena 1B de A pobre, coitado, Pobres, coitados Verdadeira História de Édipo Rei, tem o futuro certo, Têm está condenado. A esfinge lançará enigma, só passará adivinhar, só passará adivinhar. o futuro conforme o documento em vídeo do programa Palcos da Vida. incerto lhe Estão fuzilados um A esfinge lançará lhes QUADRO 2 – Decupagem do texto e um câmeras Cena 1B de A Verdadeira se enigma, História de Édipo Rei Só passará quem se adivinha (Grifo nosso) IMAGE MOVIMENT M O TEXTO DOS ATORES Cena 1B As mudanças na letra da canção tinham como objetivo incluir uma cena Câmera 2 Esfinge de pé, que não existia na dramaturgia original. Plano com O texto de Costa Neto, na Cena 2, logo geral na mão, em chicote depois do canto do coro, previa a cima de um entrada do filho de Laios e Jocasta. No praticável entanto, a encenação apresentava, antes branco disto, a Cena 1B, quando dois atores dois degraus. surgiam vestidos com os uniformes de Ela desce um trilha Batman e Robin. Conforme pode ser dos degraus e original visto no vídeo, a dupla do célebre se seriado da televisão norte-americana da atenta. década de 1960 travava um divertido (Trilha com sonora – vinheta posiciona seriado de tevê Batman). MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 143 mãos armadilha. pelas Batman e até o centro A Mulher Robin entram correndo Gato nos do palco. de pegou. mãos dadas e Batman: circulam pelo Ai, Robin. palco. Não é a Câmera 3 A Mulher Esfinge Esfinge até Gato, Close da olha para a caminha Esfinge Batman e fica Robin. dupla. e Esfinge: Câmera 1 Batman se Alto lá, Plano Robin geral deparam com camaradas a face Claro que com o herói. não. É a Esfinge. Robin ! a Esfinge. face se Mas não e esquenta Robin dá um afasta grito e ambos Esfinge, caminha em Menino fogem para o descendo direção ao Prodígio. fundo do Assim que do fundo. se praticável Esfinge movimenta em Esfinge: direção Aonde aos super- vão heróis e dá tanta com uma chicotada pressa. no ar. Por acaso Robin pula no vão pagar colo Batman. de alguma promessa? palco, ficando nós de costas. chegarmo s a Cadman City, eu vou procurar o comissári o Gordon. Esfinge: Tolice. Batman solta Robin: FIM DA Robin. CENA puxa Ele Batman, Robin santa Não pensem que meu MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense porto Newton Pinto daa Silva 144 enigma A citação dos heróis do seriado será barbada, da não. Não espetáculo, dava ao público o tom me cômico confunda informações do clássico com a cultura m com a de besta mudanças na dramaturgia, muitas delas do televisão, do massa. logo no início entrelaçamento Apesar de do de pequenas realizadas ao longo da carreira ca do Saara. espetáculo, o texto original conduzia a totalidade da encenação. Robin (brabo): Todo de bat-lance com ela, não é bobalhão? Extrato de uma decupagem da Cena 1B de A Verdadeira História de Édipo Rei, Rei feita a partir da gravação do Palcos da Vida (1988). No programa da TVE/RS, a cena foi editada até a última movimentação do personagem Robin. O modelo de decupagem foi inspirado na tabela apresentada por Odette Aslan (2005, pp. 235-242) 242) no livro O ator no Século XX: evolução da técnica, problema da ética,, no subcapítulo Rádio – Cinema – Televisão: sua especificidade. FIGURA 1 – Anotações realizadas pelo ator e diretor Oscar Simch na página 2 da cópia do texto de A Verdadeira História de Édipo Rei, Rei utilizado pelo MOUSEION, n.13, set-dez dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 145 grupo nos ensaios. Pode-se notar a autor brasileiro se apropria (SOUTO, inclusão, à caneta, da cena 1B – Batman 2000, p. 103). e Robin. Fonte: Acervo do ator Oscar A encenação, como pode ser Simch. Como explica Souto, a paródia observado no vídeo da TVE/RS, fez de Costa Neto vai além do que poderia outras citações da cultura de massa. ser Antes de ser aclamado como rei de uma comédia sem maiores A Tebas, Édipo corria em câmera-lenta até pesquisadora afirma que o cômico da subir em um pódio para comemorar sua peça intertextual vitória frente à Esfinge, parodiando uma proposto pelo autor, em especial, nas propaganda de um refrigerante, sucesso conotações psicanalíticas do texto por na televisão da época. Além disso, em meio de referências freudianas ao 1987, dois anos após a estreia da peça complexo de Édipo. gaúcha, a Rede Globo apresentou a preocupações deriva de do conteúdo. jogo novela Mandala, inspirada em Édipo A Verdadeira História de Édipo Rei Rei, de Sófocles. A montagem gaúcha remete-nos à intensificação do híbrido, não perdeu a oportunidade de satirizar, no que diz respeito à própria forma, no no palco, a produção global. Exemplos entrecruzamento do mito – trágico por como estes demonstram a vinculação si só, aliás – com os procedimentos estética da encenação com o universo psicanalíticos, intertextualizando, massivo, ou seja, a televisão era fonte interdisciplinarizando e construindo, de inspiração para a representação em nossa leitura, uma tragicomédia em proposta pelo grupo. O recurso colocava que os traços tanto trágicos como o cômicos fundamentais se estilhaçam: a identificação, rindo de suas próprias ironia, referências da cultura de massa. as personagens algo espectador em uma zona de caricaturais e o grotesco combinam-se à busca da identidade, à busca do Ainda há mais um aspecto que destino, à intervenção do coro e ao deve ser destacado em A Verdadeira conflito a História de Édipo Rei. Em algumas tragicidade nos intertextos de que o cenas, havia frases pinçadas da tragédia pessoal que reforçam grega que reforçavam ações e conflitos. MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 146 De acordo com o ator Zé Victor Castiel, Sófocles (tradução de Paulo Neves), a presença de fragmentos de Sófocles, com o texto de Toninho Costa Neto e a na encenação, não era percebida pela encenação de Gregos & Troianos, maioria registrada pelo programa Palcos da do público, que, sem reconhecer o texto original, ria do Vida. trágico como se fosse cômico. Na nossa peça, A Verdadeira História QUADRO 3 – Comparação textual de A de Édipo Rei, nós temos cenas inteiras Verdadeira História de Édipo Rei com a linguagem usada pelo Sófocles. E ÉDIPO A A ipsis litteres. E as pessoas morrem de REI VERDADE VERDADE rir. Elas nem podem imaginar que nós Autor: IRA IRA estamos oferecendo, a elas, passagens Sófocles HISTÓRIA HISTÓRIA inteiras da tragédia de Sófocles. Elas (2008, pp. DE ÉDIPO DE ÉDIPO ouvem o texto de uma cena inteira, 5-6), com REI morrem de rir, e não sabem que aquilo, tradução se abrirem o Édipo Rei quando de Paulo Toninho da Toninho da chegarem Neves. em casa, tiverem REI Autor: Autor: Costa Neto Costa Neto. oportunidade de abrir o livro, vão (In: Encenação: dizer: não, mas espera um pouquinho, SOUTO, Grupo isso aqui está tudo no livro e é verdade. 2000, Só que, da maneira como é contada, Anexo). p.7, Gregos & Troianos. fica muito bem-humorada (CASTIEL, Transcrição 1988). do dito texto em E, caso o espectador realmente cena, a abrisse o livro com a obra de Sófocles, partir da depois de ver o espetáculo, logo na gravação do primeira cena da tragédia Édipo Rei, iria espetáculo encontrar alguns pontos de similitude pelo aos quais se refere Castiel. A título de programa exemplo foi realizado abaixo um quadro Palcos comparativo entre um fragmento de Vida da MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 147 (1988). O coro de sacerdote apareçai. de Zeus. Ai, ai, ai... suplicantes ÉDIPO: Édipo, se Filhos, apareçai. com jovem ÉDIPO: atores linhagem Aparecei. ajoelhados forma os de de nosso Meus costas para o (INÍCIO CENA 7 – CENA 7 – velho filhos, DA OS Cadmo, filhos que Tebas. Que semicírculo. OS TRAGÉD SUPLICAN SUPLICAN TES IA) Diante do Em fazeis aí motivo tão Édipo sobe TES frente Édipo está ao palácio em palácio de público em cena. de forte faz em um dos joelhos, com que cubos. De de Édipo. real, numa Atores piedosam uma turba frente para Um grupo espécie ente se reúna o ornados em frente ele fica em de vestidos de praça, com túnica crianças estão está suplicantes, cena os entram em ajoelhado todos de ramos ao meu lar um suplicant mancando, es? toda degraus chamando dores pelo cidade há (falando da pelo entrada. Édipo na pela mão um principal. ramo de Junto oliveira. na “porta” o do palácio nuvens de para real. Enquanto incensos e sacerdote arrumam cantos que está ao SUPLICAN misturado seu porta objetos cenográfico com s, gritam Édipo, vem em De pé, no o sacerdote. lamentos s lado) TES: Ai, ai, de Vamos, ai... Édipo, lamentos. ancião, apareçai. Julguei explica-te! Ai, ai, ai... assim não Por tua Édipo, meio SUPLICAN “Ai, ai, ai... poder idade delas, TES: Ai, ai, Édipo deixar a convém o ai... Édipo, apareçai”. outros a que está os suplicantes a tarde? exagerando tem alto Por domingo à que ajoelhados, Cada uma aparece nível mais num nos rei. corpo. público, apareçai. ÉDIPO: sejas Aparecei. MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 148 tarefa de porta-voz (Com ouvir de vosso eles. Por nordestino) apelo, que essas Tebanas e vim todos sotaque eu súplicas? tebanos. Buxunda, pronto, não percais se puder, vosso a tempo, que vos bem sei é prestar mesmo, Que receio (Ouvem-se meus tendes? filhos, eu, Que estou todo o precioso. risadas do meu Esse show público. auxílio. foi Édipo, quereis? Se Édipo volta Eu seria transferido cujo viestes até a falar sem insensível sine nome mim, ó sotaque) se (Suplicante ninguém turba Que me s ignora. suplicante, motivo tão apiedasse Alto! Vamos, agora falai. forte faz de vê-los vos ancião, Tudo farei com que assim de lamentai, explica- para joelhos. povo meu. vos uma turba te. És a ajudar. não die. gritam) Não se reúna Se por pessoa Áspero em frente acaso eu, indicada coração ao meu lar Édipo rei, para seria falar em meu, nome ouvir vosso o num se domingo à rogatório, com toda a tarde, bem providencio na hora do imediatame deles. A atenção que se não voz Magaiver? escutasse. nte o show (Novas que vossa risadas do quiserdes. atitude? público) Se (Aplauso A por dos deve qual um temor ou acaso suplicantes) a vindes para Sara Jane e desejo? assistir ao suas Fala, show da rodinhas. qual MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 149 (Corte da rei tebano mostra-se preocupado com a cena). O manifestação final não pública e solicita esclarecimento ao sacerdote. Em uma está análise sem pretensão de profundidade, registrado mas que dê conta de uma comparação no entre estes fragmentos da tragédia e da documento paródia, encontram-se justapostos, além em dos vídeo.) pontos análogos, conteúdos Entra desenvolvidos de maneira diferente. Por depoimento exemplo, enquanto Sófocles indica que do o personagem em cena com Édipo é um ator Betho “sacerdote de Zeus” (ou de Júpiter, de Mônaco. acordo com outros tradutores), Costa Grifo nosso. Em negrito, estão os Neto suprime esta informação a fim de conteúdos textuais semelhantes. Na deslocá-lo para a figura de um religioso terceira contemporâneo, coluna, que transcreve a aparentemente do gravação do programa Palcos da Vida, universo católico. Na encenação de a descrição da movimentação cênica Gregos & Troianos, conforme pode ser dos atores e da reação do público observado no registro em vídeo da (risadas) foi realizada a partir da TVE/RS, o sacerdote (Oscar Simch) imagem e do som do documento em vestia vídeo. acessórios que remetiam ao figurino túnica grega, acrescida de utilizado por padres e bispos católicos. No quadro acima, é possível constatar semelhanças entre trechos de Outra diferença que se destaca Édipo Rei, de Sófocles, o texto A no confronto entre os textos é que, no Verdadeira História de Édipo Rei, de original de Sófocles, a cena dos Toninho Costa Neto e a encenação suplicantes é o início da tragédia, dirigida por Oscar Simch. As cenas se enquanto Costa Neto colocou a mesma iniciam com um grupo de tebanos ação em sua cena de número sete. Isto é, ajoelhados diante do palácio real, com Sófocles começa seu enredo com Édipo presença de Édipo e de um sacerdote. O já empossado como rei e casado com MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense porto Newton Pinto daa Silva 150 Jocasta. A elipse temporal no original encenação manteve a ação cênica grego, com a omissão dos fatos que principal, com Édipo indo ao encontro culminaram no trágico destino – a do povo que suplicava em frente ao saber, matar o pai e casar com a mãe – palácio. Além disso, fica evidente a era possível porque “os espectadores incorporação dos os “cacos” e gags à peça atenienses conheciam o mito, não nã era de Costa Neto, novamente com citações necessário que lhes fosse apresentado” do universo televisivo, midiático e da (SZONDI, 2001, p. 38). sociedade de consumo, em uma leitura debochada e sarcástica. Em termos Entretanto, não estruturais, o entrelaçamento das falas podia esperar o mesmo (conhecimento criadas pelo grupo com o texto original total público não se distancia da proposta do autor, contemporâneo. Desta forma, ele inseriu que gravita, também, em torno da na trama, de forma cômica, porém, cultura pop. do mito Costa grego) Neto do didática, as circunstâncias unstâncias anteriores que desencadearam a ação (Cena 1 até Cena 7 da paródia). Ocorre ainda que, na transposição da página ao palco, o texto do dramaturgo gaúcho recebeu intervenções, feitas pelo Grupo Gregos & Troianos, que o modificaram. Deste modo, três anos após a estreia, quando o espetáculo foi gravado pela TVE/RS, em 1988, a mesma cena tinha sido, ao longo da trajetória transformada (quadro da montagem, comparativo acima). FIGURA 2 – (Frame Frame) Luiz Emilio Como o vídeo não exibe esta cena até o seu final, a análise fica prejudicada parcialmente. arcialmente. Contudo, com base na fração que ficou registrada Strassburger (esquerda), Pilly Calvin (centro) e Antônio Carlos Falcão (direita) em A Verdadeira História de Édipo Rei.. Fonte: Programa Palcos da pelo Palcos da Vida,, percebe-se percebe que a MOUSEION, n.13, set-dez dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 151 Vida: A Verdadeira História de Édipo comediantes cantavam e dançavam a Rei. música de encerramento do espetáculo cuja letra exaltava o final feliz de Édipo A mise en scène de Gregos & e Jocasta. Os versos escritos por Troianos era simples, com palco nu e a Toninho Costa Neto, com música de proposta de trabalhar com a imaginação Néstor Monasterio e arranjo do maestro criativa Chico Ferreti, celebravam o amor livre, do espectador. O grupo utilizava poucos elementos cenográficos conforme documenta e criava as ambientações através do impresso do espetáculo. o programa deslocamento e agrupamento de cubos Faça amor, faça brancos. A encenação concentrava-se na relação palco-plateia, com foco no jogo amor lúdico dos atores e na espontaneidade da representação. Claudio Heemann com seja rei, seja rainha, faça amor com grande público, “com olho na comédia musical norte-americana, uma pitada lá quem for, (2006, p. 167) afirma que o espetáculo atingiu uma comunicação direta com o seja a madrinha, mas faça amor. de sal grosso, piadas e pique de teatro de revista”. Em texto publicado no Faça amor, faça jornal Zero Hora, em 13 de setembro de 1985, o crítico acrescenta que A amor seja Verdadeira História de Édipo Rei está “muito bem articulada como teatro brincalhona o e sentido de debochada paródia com mesmo que seja parente, faça amor bem a contente descontração do musical”. e É o que se pode perceber, por exemplo, na última cena, com o título Divina Concupiscência. com quem for, burlesco. Consegue casar em soluções agradáveis lá Nela, esqueça o pecado. [...] os MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 152 Faça amor, faça amor, transe tudo em família, Considerações finais o menino vai A pesquisa que deu a origem a esse artigo privilegiou a reconstrução de com a mãe, o papai fica aspectos estéticos e de produção de sete espetáculos apresentados na segunda com a filha. metade da década de 1980 em Porto ... repete... Alegre. Como sugere Pavis (2005), de posse dos documentos que originaram a Por fim, A Verdadeira História investigação, procedeu-se uma análise- de Édipo Rei é “farsa”, diz o texto reconstituição impresso no programa do espetáculo, passado, a partir de seus indícios, distribuído ao público antes do início de vestígios cada apresentação. O termo foi utilizado audiovisuais encontrados no arquivo da com duplo sentido. De uma parte, TVE/RS foram significando o gênero dramático cômico unidades temáticas, conhecido como “farsa”. De outra, outras bases documentais que fixaram jogando que materialmente aquela cena e explorados aproxima o substantivo “farsa” do com a proposta de restituir parte da adjetivo “falsa”. O texto, atribuído experiência estética que teria sido ironicamente experimentada pelo público da época. com a ao sonoridade trágico grego Eurípedes, rival de Sófocles, sublinha de e encenações rastros. Partindo Os do registros decompostos em cruzados de com exemplos que o resultado da encenação foi a específicos para mapear um panorama criação de um Édipo “sem culpa, de mais abrangente, constatou-se que o uma Jocasta despudorada, um coro campo teatral estudado, ou seja, o final esquizofrênico, dos anos 1980, na capital gaúcha, um adivinho psicanalista, ou vice-versa, um Creonte caracterizava-se obcecado pelo poder, enfim, uma diversas terrível comédia ou uma farsa tragédia espetáculos grega”. para um grande público até propostas formas pelo convívio cênicas, marcadamente de desde voltados MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 153 estéticas experimentais e de pesquisa de REFERÊNCIAS linguagem. Esta pluralidade da cena pode ser verificada por meio da A Verdadeira História de Édipo Rei. variedade de repertório, do hibridismo Texto de Toninho Neto. Direção, de gêneros, da utilização de espaços não cenário e montagem do Grupo Gregos convencionais para apresentação dos & Troianos. Atuação: Antonio Carlos espetáculos e da busca pela construção Falcão, de os Meneghetti, Luiz Emilio Strassburger, trabalhadores das artes cênicas, através Oscar Simch, Pilly Calvin e Zé Victor da profissionalização dos mecanismos Castiel. Elenco em substituição: Júlio de produção e do investimento em Conte, Vera Bertoni e Xala Felippe. temporadas fora das fronteiras do Rio Músicas: Néstor Monasterio. Adereços: Grande do Sul. Gregos & Troianos e Arno Sérgio um mercado efetivo para Betho Mônaco, Cláudia O retrato proposto neste artigo Hörlle. Coreografias: Maria Helena não teve uma ambição totalizadora. Ele Campani Penz. Produção: Andrômeda é vinculado as condições de criação, Produções produção e recepção teatral em um Divulgação: Viva Produções. Porto contexto específico, ou seja, a pesquisa Alegre, 1985. realizada pelos profissionais artistas envolvidos e Opus Promoções. e outros A Verdadeira História de Édipo Rei. no fazer Programa impresso do espetáculo. Porto artístico e suas visões sobre o campo Alegre, 1985. teatral. São fragmentos de imagens e ASLAN, Odette. O ator no Século XX: discursos que, expostos à interpretação, evolução da técnica, problema da ética. iluminam São Paulo: Perspectiva, 2005. tendências, significados. processos São de atitudes e testemunhos de criação, linguagens, BARDIN, Laurance. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009. formas de atuação e de contato com o CASTIEL, Zé Victor. A Verdadeira público na recepção da obra. Entretanto, História de Édipo Rei. Porto Alegre, como diria Deleuze, enquanto recorte 1988. Entrevista ao Programa Palcos da temático se movimenta em direção ao Vida, da TVE/RS. todo. MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207 Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense Newton Pinto da Silva 154 CONTE, Júlio...[et al.]. Bailei na VASCONCELLOS, curva. Porto Alegre: Mercado Aberto, Anotações para uma história do teatro 1994. gaúcho. In: Revista Sete Palcos, Nº 3, DELEUZE, Gilles. Cinema imagem-movimento. São 1: a Paulo: teatro brasileiro. Luiz Coimbra: Paulo. Cena Lusófona, set. 1998, pp. 35-42. Brasiliense, 1985. HEEMANN, Claudio. Doze anos na primeira fila: críticas selecionadas pelo autor. Porto Alegre: Alcance, 2006. KILPP, Suzana. Os cacos do teatro: Porto Alegre, anos 70. Porto Alegre: i Unidade Editorial, 1996. PEIXOTO, Fernando. Um teatro fora do eixo - Porto Alegre: 1953-1963. São Paulo: Editora Hucitec, 1993. PROGRAMA Palcos da Vida: A Verdadeira História de Édipo Rei. Porto Alegre, 1988. TVE/RS. Produção: Margarete Noé. Direção de imagens: Miguel Pinto. Supervisão geral: Marilourdes Franarin. SÓFOCLES. Édipo Rei. Porto Alegre: L&PM, 2008. SOUTO, Andrea do Roccio. Édipo Rei, do palco à tela: Os documentos do programa Palcos da Vida, que integram o corpus de pesquisa, apresentam cenas das peças e depoimentos de atores e diretores. A dissertação de mestrado lançou um olhar sobre aquele momento histórico e, por meio das gravações, ressaltou a importância do vídeo como documento do teatro. Foram enfocados os espetáculos A Mãe da Miss e o Pai do Punk (direção de Luiz Arthur Nunes), A Verdadeira História de Édipo Rei (Grupo Gregos & Troianos), Escondida na Calcinha (direção de Patsy Cecato), Império da Cobiça (Grupo TEAR), O Ferreiro e a Morte (Grupo Teatral Face & Carretos), Ostal (Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz) e Tangos e Tragédias (de Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky). ii Atual Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O CAD hoje é o Departamento de Arte Dramática (DAD), vinculado ao Instituto de Artes. iii Trecho do texto dramático de Toninho Costa Neto. In: SOUTO, 2000, p. 12, anexo. reescrituras. Dissertação. (Mestrado em Letras). Porto Alegre: Programa de Pós- Graduação em Letras - UFRGS, julho de 2000. SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno (1880-1950). São Paulo: Cosac & Naify, 2001. MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154 ISSN 1981-7207