Imagem e memória: Édipo e a cena teatral porto

Propaganda
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
136
Imagem e memória:
Édipo e a cena
teatral porto-alegrense
Image and memory:
Oedipus and the theater
scene of Porto Alegre
Newton Pinto da Silva
Mestre em Artes Cênicas
Jornalista da TVE/RS
[email protected]
Recebido para publicação em outubro de 2012
Resumo
Este artigo investiga a cena teatral de Porto
Alegre nos anos 1980. Em especial, realiza-se a
análise da peça de teatro A Verdadeira História
de Édipo Rei (Grupo Gregos & Troianos), na
tentativa de reconstruí-la por meio de seus
vestígios. O principal documento de pesquisa é
um vídeo, realizado pela TVE/RS, que registrou
esta peça de teatro para exibição em um
programa de televisão da emissora.
Palavras-chaves: Teatro – Vídeo – Documento
Abstract
This paper investigates the theater scene of
Porto Alegre in 1980. In particular, we make an
analysis of the play The True Story of Oedipus
(Group Greeks and Trojans), in an attempt to
reconstruct it through their traces. The main
research paper is a video, made by TVE / RS,
which recorded this play for viewing on a
television broadcaster.
Keywords: Theater - Video - Document
Aceito para publicação em dezembro de 2012
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
137
espetáculo A Verdadeira História de
Édipo Rei (1985), do Grupo Gregos &
Introdução
Troianos, que integra a pesquisa ao lado
Gilles Deleuze, no livro Cinema
de
outras
seis
montagens
teatrais
1: a imagem-movimento, explica a
estreadas na capital gaúcha naquela
noção de conjunto e sua relação com o
década. A dissertação investigou os
todo.
processos
Ao
analisar
o
conceito
de
de
produção
teatral
de
e
de
enquadramento, Deleuze (1985, p. 30)
experimentação
grupos
afirma que enquadrar é um processo de
gaúchos a partir de registros feitos em
escolha das “partes de todos os tipos
vídeo pela TVE/RS. A emissora pública
que entram num conjunto”, ou seja,
de televisão gravou diversos espetáculos
trata-se de uma opção por uma imagem
teatrais que estavam em cartaz, naquele
que contém um fragmento de um todo.
período, na cidade, para posterior
Nela, há uma parte, formada por várias
exibição no programa semanal chamado
outras partes, que está recortada dentro
Palcos da Vidai.
do quadro. No entanto, existe no
A partir da noção proposta por
extracampo, quer dizer, fora do recorte
Deleuze, penso este recorte temático
da imagem escolhida, uma infinidade de
como uma unidade que se relaciona
outros conjuntos que se relacionam
com o todo, visto, neste caso, como o
(pela ausência) com o enquadramento
sistema de produção teatral inserido no
definido. Para Deleuze, o conjunto é um
contexto
“sistema fechado”, ou seja, é um
político e econômico da década de
recorte do todo.
1980.
Socorro-me da definição do
filósofo
como
um
social,
enquadramento,
selecionado e reconstruído a partir do
olhar da pesquisa, quase três décadas
enquadramento que passo a realizar a
depois do acontecimento cênico. Dito
partir de agora. Trata-se aqui de
de outra maneira: trata-se de um
apresentar
minha
conjunto (sistema fechado) que contém
dissertação de mestrado Palcos da
uma multiplicidade relacionada a outros
Vida: o vídeo como documento do
temas (todo).
recorte
inicial
É
cultural,
ao
um
alerta
artístico,
de
teatro em Porto Alegre nos anos 1980.
Em especial, este artigo detalha o
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
138
intelectuais e artistas provoca a criação
A cena porto-alegrense na
do Curso de Artes Cênicas (CAD) na
segunda metade do século XX
Faculdade de Filosofia da URGSii. A
Um panorama que fale de um
determinado
contexto
temporadas mais extensas leva o grupo
histórico tem suas raízes no passado do
Teatro de Equipe a inaugurar a sua
próprio acontecimento. Olhar um fato
própria sala de espetáculos numa casa
pelas lentes da história abarca diversas
alugada no centro de Porto Alegre.
camadas temporais que vão do tempo
Neste momento, surgem e atuam nomes
do historiador (o pesquisador olha para
importantes como Linneu Dias, Lillian
seu objeto com a distância de quem está
Lemmertz,
no futuro daquilo que passou); passa
Fernando Peixoto, Ítala Nandi, Paulo
pelo tempo da ação ocorrida (o presente
José, Paulo César Peréio e Luthero
do momento analisado); e tem como
Luiz. A maioria dos diretores e atores
pano de fundo as representações do
desta
passado deste mesmo episódio (seus
anteriores (Maria Della Costa, Walmor
antecedentes históricos). Em um breve
Chagas, Carmen Silva) se transfere para
histórico sobre a produção cênica de
o centro do país (São Paulo e Rio de
Porto Alegre, na segunda metade do
Janeiro)
século
oportunidades de trabalho na área. A
XX,
ambiente
pode-se
ou
falta de espaços cênicos para as
destacar
três
períodos principais.
geração,
em
como
busca
Abujamra,
em
de
décadas
melhores
diáspora teatral, termo cunhado por
A primeira fase, marcada por um
intenso
Antônio
movimento
pela
profissionais que deixam o Rio Grande
teatro
do Sul por falta de condições de se
amador, começa nos anos 1950 e
sustentarem a partir de seu trabalho
estende-se até 1964, quando ocorre o
teatral.
proliferação
dos
cênico
grupos
de
e
Fernando Peixoto, refere-se a estes
golpe militar. Durante este período, os
coletivos
atuam
na
renovação
O segundo período abrange os
da
anos de chumbo da ditadura militar, que
produção teatral da cidade, interessados
se inicia em 1964, passa pelo final dos
na pesquisa e montagem de autores
anos 1960 quando é decretado o AI-5,
contemporâneos,
da
com perseguições políticas até chegar
vanguarda mundial. A pressão de
ao final da década de 1970, quando se
inclusive
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
139
abertura
múltiplas transformações no campo
democrática no país. São anos marcados
teatral até o final do século XX.
pela censura prévia aos textos e
Herdeiros de um teatro de resistência à
espetáculos teatrais. Em contrapartida,
ditadura militar, diretores e atores
atores e diretores se mobilizam através
acrescentaram
de uma produção cênica de resistência
processo de experimentação cênica e da
ideológica ao regime. Dois coletivos se
relação entre palco e plateia, em uma
destacam na época. O Teatro de Arena,
busca
grupo de artistas liderados por Jairo de
mudanças políticas e sociais do país
Andrade, dá preferência à montagem de
naquele momento histórico. Mesmo que
textos nacionais de caráter político e de
já houvesse sinais de renovação em
obras clássicas de Bertolt Brecht e Peter
momentos anteriores, intensificam-se
Weiss.
características
inicia
o
processo
Eles
alugam,
de
reformam
e
novos
artística
que
como
exploração
caminhos
responde
ao
às
diversidade
inauguram seu próprio teatro no porão
estética,
de um edifício no viaduto da Avenida
linguagens e de concepção de espaço
Borges de Medeiros, em Porto Alegre,
cênico, espetáculos que se distanciam
transformando o espaço em um símbolo
do textocentrismo, investimento em
de luta contra a opressão política. Já o
dramaturgia
Grupo de Teatro Província é formado
improvisação e da criação coletiva e
por profissionais oriundos do CAD,
fomento da pesquisa do trabalho do
como Luiz Arthur Nunes, Luiz Paulo
ator.
realizada
de
novas
através
de
Vasconcellos, Maria Helena Lopes,
Graça Nunes e outros. O grupo marcou
sua
trajetória
pela
pesquisa
e
A Verdadeira História de
Édipo Rei
A revitalização do teatro gaúcho
experimentação de linguagem de um
às
nos anos 1980 tem como uma de suas
experiências de Antonin Artaud, Jerzi
principais características o encontro
Grotowski e Brecht.
com a plateia. Diversas produções
teatro
contemporâneo,
aliado
A terceira fase começa no final
tiveram
êxito
de
bilheteria
em
dos anos 1970 e se consolida com o
sucessivas temporadas. Na época, um
processo de redemocratização do país,
dos
após a ditadura militar, resultando em
alegrenses de sucesso foi Bailei na
primeiros
espetáculos
porto-
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
140
Curva, com o Grupo do Jeito que Dá.
final que rompe com a proposta do
Depois da estreia, em 1983, a peça
original. A pesquisadora Andrea de
dirigida por Júlio Conte atingiu cerca de
Roccio Souto, que examinou a forma
250 mil espectadores em quase três anos
como três autores de diferentes épocas
de carreira da primeira montagem.
apropriaram-se de Sófocles – Sêneca
Circulou por 45 cidades e seis capitais.
(Édipo),
O grupo reunia jovens artistas, a
Verdadeira História de Édipo Rei) e
maioria com formação no Departamento
Woody Allen (Poderosa Afrodite) –,
de
afirma:
Arte
Dramática
da
UFRGS.
Toninho
Costa
Neto
(A
Concebido a partir de improvisações, o
texto mostra o cotidiano de sete crianças
durante o regime militar até suas
vivências
com
as
transformações
políticas da década de 1980.
Outro sucesso é o primeiro
espetáculo
do
Grupo
Gregos
&
Troianos, A Verdadeira História de
Édipo Rei, que estreou em 7 de
setembro de 1985, no Teatro de
Câmara, em Porto Alegre. A peça
permaneceu
três
anos
em
cartaz,
passando por diversas salas da Capital e
do interior do Estado. O autor Toninho
Costa Neto realizou uma paródia de
Édipo Rei, de Sófocles. Combinação
entre tragédia e comédia, o espetáculo
era uma releitura que “brincava” com
elementos do clássico grego. O texto
mantém o enredo e os personagens
principais, mas atualiza o mito ao
dialogar com a cultura contemporânea,
pop e de massa, surpreendendo com um
Com os olhos
voltados tanto para a modernidade
como para a
tradição, Costa Neto reúne
ferramentas suficientemente
indicativas de
ruptura – seja em relação à
cristalização mítica, à
medida que Édipo deixa
de ser punido, seja com a adequação
literária.
Isso porque ele escreve um híbrido de
tragédia e
comédia, no qual a catarse
trágica converte-se em motivo de riso.
Portanto, uma
das mais importantes inovações de
Toninho Neto
reside justamente na
transformação do modo e da matéria
mítica
(trágicocanônica) em comédia/releitura, da
qual resulta,
efetivamente, uma reescritura
dos textos clássicos (SOUTO,
2000, p. 102).
A encenação do Grupo Gregos
& Troianos jogava com os dois níveis
de referências, a Grécia antiga e o
mundo contemporâneo. A montagem
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
141
não se privou de acrescentar ao texto
parapsicólogo, pai de santo
citações, gags e cacos criados durante o
e apicultor Tirésias, boa
processo de ensaio ou no decorrer das
tarde.
temporadas. Muitos efeitos cômicos
Édipo:
estavam
própria
gostaria de falar com o
dramaturgia. Na Cena 2, por exemplo,
doutor, vidente, adivinho,
do texto de Costa Neto, disponível no
parapsicólogo, pai de santo
anexo da pesquisa de Souto (2000),
e apicultor Tirésias.
quando
Tirésias: Quem gostaria de
previstos
o
na
personagem
principal
Boa
tarde.
encontra a Esfinge, a rubrica diz que
falar?
“Édipo vem pela estrada, com uma
Édipo: Adivinha?iii
Eu
mochila nas costas. É abordado pela
Esfinge,
uma
espetáculo,
intelectual”.
o
grupo
traduziu
No
Diálogos rápidos e cômicos,
as
como esse, foram entrelaçados, na
indicações de Costa Neto apresentando
encenação,
o jovem Édipo vestindo uma típica
constavam do texto final do autor e com
túnica grega. Ele aparecia à beira da
números
estrada pedindo carona aos imaginários
“Esfinge”, Costa Neto prevê a entrada
carros
do coro que canta e dança para anunciar
que
passavam,
enquanto
carregava uma mochila contemporânea.
Mais adiante, no texto, é dito
com
outros
musicais.
Na
que
Cena
não
1,
a chegada do viajante. Na concretização
cênica, o Grupo Gregos & Troianos
que o cego Tirésias tem como primeiro
manteve
nome
referência
alterações na letra original. Formado
explícita a Freud. Na Cena 8, também
por três atores, nessa cena, o coro
no texto dramático, com o título
entrava de figurino preto, justo ao
“Telefonema”,
corpo, em um visual contemporâneo. A
Sigmund,
uma
Édipo
e
Tirésias
conversam pelo telefone:
a
canção
com
pequenas
Esfinge, já em cena, segurava um
chicote.
Édipo
disca,
Tirésias
atende.
Tirésias:
QUADRO 1 – Letra canção Cena 1 de
Consultório
do
doutor, vidente, adivinho,
A Verdadeira História de Édipo Rei
CORO
(LETRA CORO
(LETRA
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
142
ORIGINAL)
Fonte:
CANTADA
EM
masculinidade dos heróis. Para isto, o
texto CENA)
dramático
Programa
grupo trabalhava com estereótipos do
espetáculo
universo gay, sublinhando uma possível
Fonte:
(In:
SOUTO, do
2000,
p.2
diálogo com a Esfinge, em uma sátira à
relação homossexual entre os super-
- (1985)
Anexo)
heróis. É o que pode ser percebido
Lá vem mais um Lá vêm mais dois
através da decupagem do texto dito em
viajante,
viajantes
cena pelos atores na Cena 1B de A
pobre, coitado,
Pobres, coitados
Verdadeira História de Édipo Rei,
tem o futuro certo, Têm
está condenado.
A
esfinge
lançará
enigma,
só
passará
adivinhar,
só
passará
adivinhar.
o
futuro
conforme o documento em vídeo do
programa Palcos da Vida.
incerto
lhe Estão fuzilados
um A
esfinge
lançará
lhes
QUADRO 2 – Decupagem do texto e
um
câmeras Cena 1B de A Verdadeira
se enigma,
História de Édipo Rei
Só passará quem
se adivinha
(Grifo nosso)
IMAGE
MOVIMENT
M
O
TEXTO
DOS
ATORES
Cena 1B
As mudanças na letra da canção
tinham como objetivo incluir uma cena
Câmera 2 Esfinge de pé,
que não existia na dramaturgia original.
Plano
com
O texto de Costa Neto, na Cena 2, logo
geral
na mão, em
chicote
depois do canto do coro, previa a
cima de um
entrada do filho de Laios e Jocasta. No
praticável
entanto, a encenação apresentava, antes
branco
disto, a Cena 1B, quando dois atores
dois degraus.
surgiam vestidos com os uniformes de
Ela desce um trilha
Batman e Robin. Conforme pode ser
dos degraus e original
visto no vídeo, a dupla do célebre
se
seriado da televisão norte-americana da
atenta.
década de 1960 travava um divertido
(Trilha
com sonora
–
vinheta
posiciona seriado de
tevê
Batman).
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
143
mãos armadilha.
pelas
Batman
e
até o centro A Mulher
Robin entram
correndo
Gato nos
do palco.
de
pegou.
mãos dadas e
Batman:
circulam pelo
Ai, Robin.
palco.
Não é a
Câmera 3 A
Mulher
Esfinge
Esfinge
até Gato,
Close da olha para a
caminha
Esfinge
Batman e fica Robin.
dupla.
e Esfinge:
Câmera 1 Batman
se Alto
lá,
Plano
Robin
geral
deparam com camaradas
a
face Claro que
com o herói.
não. É a
Esfinge.
Robin
!
a Esfinge.
face
se Mas
não
e esquenta
Robin dá um
afasta
grito e ambos Esfinge,
caminha
em Menino
fogem para o descendo
direção
ao Prodígio.
fundo
do Assim que
do
fundo.
se praticável
Esfinge
movimenta
em
Esfinge:
direção Aonde
aos
super- vão
heróis
e dá tanta
com
uma chicotada pressa.
no ar.
Por acaso
Robin pula no vão pagar
colo
Batman.
de alguma
promessa?
palco, ficando nós
de costas.
chegarmo
s
a
Cadman
City,
eu
vou
procurar o
comissári
o Gordon.
Esfinge:
Tolice.
Batman solta Robin:
FIM DA Robin.
CENA
puxa
Ele Batman,
Robin santa
Não
pensem
que
meu
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
porto
Newton Pinto daa Silva
144
enigma
A citação dos heróis do seriado
será
barbada,
da
não. Não
espetáculo, dava ao público o tom
me
cômico
confunda
informações do clássico com a cultura
m com a
de
besta
mudanças na dramaturgia, muitas delas
do
televisão,
do
massa.
logo
no
início
entrelaçamento
Apesar
de
do
de
pequenas
realizadas ao longo da carreira
ca
do
Saara.
espetáculo, o texto original conduzia a
totalidade da encenação.
Robin
(brabo):
Todo
de
bat-lance
com
ela,
não
é
bobalhão?
Extrato de uma decupagem da Cena 1B
de A Verdadeira História de Édipo Rei,
Rei
feita a partir da gravação do Palcos da
Vida (1988). No programa da TVE/RS,
a cena foi editada até a última
movimentação do personagem Robin. O
modelo de decupagem foi inspirado na
tabela apresentada por Odette Aslan
(2005, pp. 235-242)
242) no livro O ator no
Século
XX:
evolução
da
técnica,
problema da ética,, no subcapítulo
Rádio – Cinema – Televisão: sua
especificidade.
FIGURA 1 – Anotações realizadas pelo
ator e diretor Oscar Simch na página 2
da cópia do texto de A Verdadeira
História de Édipo Rei,
Rei utilizado pelo
MOUSEION, n.13, set-dez
dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
145
grupo nos ensaios. Pode-se notar a
autor brasileiro se apropria (SOUTO,
inclusão, à caneta, da cena 1B – Batman
2000, p. 103).
e Robin. Fonte: Acervo do ator Oscar
A encenação, como pode ser
Simch.
Como explica Souto, a paródia
observado no vídeo da TVE/RS, fez
de Costa Neto vai além do que poderia
outras citações da cultura de massa.
ser
Antes de ser aclamado como rei de
uma
comédia
sem
maiores
A
Tebas, Édipo corria em câmera-lenta até
pesquisadora afirma que o cômico da
subir em um pódio para comemorar sua
peça
intertextual
vitória frente à Esfinge, parodiando uma
proposto pelo autor, em especial, nas
propaganda de um refrigerante, sucesso
conotações psicanalíticas do texto por
na televisão da época. Além disso, em
meio de referências freudianas ao
1987, dois anos após a estreia da peça
complexo de Édipo.
gaúcha, a Rede Globo apresentou a
preocupações
deriva
de
do
conteúdo.
jogo
novela Mandala, inspirada em Édipo
A Verdadeira História de Édipo Rei
Rei, de Sófocles. A montagem gaúcha
remete-nos à intensificação do híbrido,
não perdeu a oportunidade de satirizar,
no que diz respeito à própria forma, no
no palco, a produção global. Exemplos
entrecruzamento do mito – trágico por
como estes demonstram a vinculação
si só, aliás – com os procedimentos
estética da encenação com o universo
psicanalíticos,
intertextualizando,
massivo, ou seja, a televisão era fonte
interdisciplinarizando e construindo,
de inspiração para a representação
em nossa leitura, uma tragicomédia em
proposta pelo grupo. O recurso colocava
que os traços tanto trágicos como
o
cômicos fundamentais se estilhaçam: a
identificação, rindo de suas próprias
ironia,
referências da cultura de massa.
as
personagens
algo
espectador
em
uma
zona
de
caricaturais e o grotesco combinam-se
à busca da identidade, à busca do
Ainda há mais um aspecto que
destino, à intervenção do coro e ao
deve ser destacado em A Verdadeira
conflito
a
História de Édipo Rei. Em algumas
tragicidade nos intertextos de que o
cenas, havia frases pinçadas da tragédia
pessoal
que
reforçam
grega que reforçavam ações e conflitos.
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
146
De acordo com o ator Zé Victor Castiel,
Sófocles (tradução de Paulo Neves),
a presença de fragmentos de Sófocles,
com o texto de Toninho Costa Neto e a
na encenação, não era percebida pela
encenação de Gregos & Troianos,
maioria
registrada pelo programa Palcos da
do
público,
que,
sem
reconhecer o texto original, ria do
Vida.
trágico como se fosse cômico.
Na nossa peça, A Verdadeira História
QUADRO 3 – Comparação textual de A
de Édipo Rei, nós temos cenas inteiras
Verdadeira História de Édipo Rei
com a linguagem usada pelo Sófocles. E
ÉDIPO
A
A
ipsis litteres. E as pessoas morrem de
REI
VERDADE
VERDADE
rir. Elas nem podem imaginar que nós
Autor:
IRA
IRA
estamos oferecendo, a elas, passagens
Sófocles
HISTÓRIA
HISTÓRIA
inteiras da tragédia de Sófocles. Elas
(2008, pp. DE ÉDIPO DE ÉDIPO
ouvem o texto de uma cena inteira,
5-6), com REI
morrem de rir, e não sabem que aquilo,
tradução
se abrirem o Édipo Rei quando
de Paulo Toninho da Toninho da
chegarem
Neves.
em
casa,
tiverem
REI
Autor:
Autor:
Costa Neto Costa Neto.
oportunidade de abrir o livro, vão
(In:
Encenação:
dizer: não, mas espera um pouquinho,
SOUTO,
Grupo
isso aqui está tudo no livro e é verdade.
2000,
Só que, da maneira como é contada,
Anexo).
p.7, Gregos
&
Troianos.
fica muito bem-humorada (CASTIEL,
Transcrição
1988).
do
dito
texto
em
E, caso o espectador realmente
cena,
a
abrisse o livro com a obra de Sófocles,
partir
da
depois de ver o espetáculo, logo na
gravação do
primeira cena da tragédia Édipo Rei, iria
espetáculo
encontrar alguns pontos de similitude
pelo
aos quais se refere Castiel. A título de
programa
exemplo foi realizado abaixo um quadro
Palcos
comparativo entre um fragmento de
Vida
da
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
147
(1988).
O coro de
sacerdote
apareçai.
de Zeus.
Ai, ai, ai... suplicantes
ÉDIPO:
Édipo,
se
Filhos,
apareçai.
com
jovem
ÉDIPO:
atores
linhagem
Aparecei.
ajoelhados
forma
os
de
de nosso Meus
costas
para
o
(INÍCIO
CENA 7 – CENA 7 –
velho
filhos,
DA
OS
Cadmo,
filhos
que
Tebas. Que semicírculo.
OS
TRAGÉD SUPLICAN SUPLICAN
TES
IA)
Diante do Em
fazeis aí motivo tão Édipo sobe
TES
frente Édipo está
ao palácio em
palácio
de público em
cena.
de
forte
faz em um dos
joelhos,
com
que cubos.
De
de Édipo. real, numa Atores
piedosam uma turba frente para
Um grupo espécie
ente
se
reúna o
ornados
em
frente ele fica em
de vestidos
de
praça,
com túnica
crianças
estão
está
suplicantes, cena
os entram em
ajoelhado todos
de ramos ao meu lar um
suplicant
mancando,
es?
toda
degraus
chamando
dores pelo
cidade há (falando
da
pelo
entrada.
Édipo
na pela
mão
um principal.
ramo
de Junto
oliveira.
na “porta”
o do palácio
nuvens de para
real.
Enquanto
incensos e sacerdote
arrumam
cantos
que está ao SUPLICAN
misturado
seu
porta objetos
cenográfico
com s,
gritam
Édipo, vem em
De pé, no o sacerdote. lamentos
s
lado) TES: Ai, ai,
de Vamos,
ai... Édipo,
lamentos.
ancião,
apareçai.
Julguei
explica-te!
Ai, ai, ai...
assim não Por
tua Édipo,
meio
SUPLICAN “Ai, ai, ai...
poder
idade
delas,
TES: Ai, ai, Édipo
deixar
a convém
o ai... Édipo, apareçai”.
outros
a que
está
os
suplicantes
a tarde?
exagerando
tem
alto
Por domingo à que
ajoelhados,
Cada uma aparece
nível
mais
num
nos
rei. corpo.
público,
apareçai.
ÉDIPO:
sejas Aparecei.
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
148
tarefa de porta-voz
(Com
ouvir
de
vosso
eles.
Por nordestino)
apelo,
que
essas Tebanas e
vim
todos sotaque
eu súplicas?
tebanos.
Buxunda,
pronto,
não percais
se puder,
vosso
a
tempo, que
vos
bem sei é
prestar
mesmo,
Que receio (Ouvem-se
meus
tendes?
filhos, eu, Que
estou
todo
o
precioso.
risadas do
meu
Esse show
público.
auxílio.
foi
Édipo,
quereis? Se Édipo volta
Eu seria
transferido
cujo
viestes até a falar sem
insensível
sine
nome
mim,
ó sotaque)
se
(Suplicante
ninguém
turba
Que
me
s
ignora.
suplicante,
motivo tão
apiedasse
Alto!
Vamos,
agora falai. forte
faz
de vê-los
vos
ancião,
Tudo farei com
que
assim de
lamentai,
explica-
para
joelhos.
povo meu.
vos uma turba
te. És a ajudar.
não
die.
gritam)
Não
se
reúna
Se
por
pessoa
Áspero
em
frente
acaso
eu,
indicada
coração
ao meu lar
Édipo
rei,
para
seria
falar em meu,
nome
ouvir vosso
o num
se domingo à
rogatório,
com toda a tarde, bem
providencio
na hora do
imediatame
deles.
A atenção
que
se não
voz Magaiver?
escutasse.
nte o show
(Novas
que
vossa
risadas do
quiserdes.
atitude?
público) Se
(Aplauso
A
por
dos
deve
qual
um
temor ou
acaso
suplicantes)
a
vindes para
Sara Jane e
desejo?
assistir
ao
suas
Fala,
show
da
rodinhas.
qual
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
149
(Corte
da
rei tebano mostra-se preocupado com a
cena).
O
manifestação
final
não
pública
e
solicita
esclarecimento ao sacerdote. Em uma
está
análise sem pretensão de profundidade,
registrado
mas que dê conta de uma comparação
no
entre estes fragmentos da tragédia e da
documento
paródia, encontram-se justapostos, além
em
dos
vídeo.)
pontos
análogos,
conteúdos
Entra
desenvolvidos de maneira diferente. Por
depoimento
exemplo, enquanto Sófocles indica que
do
o personagem em cena com Édipo é um
ator
Betho
“sacerdote de Zeus” (ou de Júpiter, de
Mônaco.
acordo com outros tradutores), Costa
Grifo nosso. Em negrito, estão os
Neto suprime esta informação a fim de
conteúdos textuais semelhantes. Na
deslocá-lo para a figura de um religioso
terceira
contemporâneo,
coluna,
que
transcreve
a
aparentemente
do
gravação do programa Palcos da Vida,
universo católico. Na encenação de
a descrição da movimentação cênica
Gregos & Troianos, conforme pode ser
dos atores e da reação do público
observado no registro em vídeo da
(risadas) foi realizada a partir da
TVE/RS, o sacerdote (Oscar Simch)
imagem e do som do documento em
vestia
vídeo.
acessórios que remetiam ao figurino
túnica
grega,
acrescida
de
utilizado por padres e bispos católicos.
No quadro acima, é possível
constatar semelhanças entre trechos de
Outra diferença que se destaca
Édipo Rei, de Sófocles, o texto A
no confronto entre os textos é que, no
Verdadeira História de Édipo Rei, de
original de Sófocles, a cena dos
Toninho Costa Neto e a encenação
suplicantes é o início da tragédia,
dirigida por Oscar Simch. As cenas se
enquanto Costa Neto colocou a mesma
iniciam com um grupo de tebanos
ação em sua cena de número sete. Isto é,
ajoelhados diante do palácio real, com
Sófocles começa seu enredo com Édipo
presença de Édipo e de um sacerdote. O
já empossado como rei e casado com
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
porto
Newton Pinto daa Silva
150
Jocasta. A elipse temporal no original
encenação manteve a ação cênica
grego, com a omissão dos fatos que
principal, com Édipo indo ao encontro
culminaram no trágico destino – a
do povo que suplicava em frente ao
saber, matar o pai e casar com a mãe –
palácio. Além disso, fica evidente a
era possível porque “os espectadores
incorporação dos
os “cacos” e gags à peça
atenienses conheciam o mito, não
nã era
de Costa Neto, novamente com citações
necessário que lhes fosse apresentado”
do universo televisivo, midiático e da
(SZONDI, 2001, p. 38).
sociedade de consumo, em uma leitura
debochada e sarcástica. Em termos
Entretanto,
não
estruturais, o entrelaçamento das falas
podia esperar o mesmo (conhecimento
criadas pelo grupo com o texto original
total
público
não se distancia da proposta do autor,
contemporâneo. Desta forma, ele inseriu
que gravita, também, em torno da
na trama, de forma cômica, porém,
cultura pop.
do
mito
Costa
grego)
Neto
do
didática, as circunstâncias
unstâncias anteriores
que desencadearam a ação (Cena 1 até
Cena 7 da paródia). Ocorre ainda que,
na transposição da página ao palco, o
texto do dramaturgo gaúcho recebeu
intervenções, feitas pelo Grupo Gregos
& Troianos, que o modificaram. Deste
modo, três anos após a estreia, quando o
espetáculo foi gravado pela TVE/RS,
em 1988, a mesma cena tinha sido, ao
longo
da trajetória
transformada
(quadro
da montagem,
comparativo
acima).
FIGURA 2 – (Frame
Frame) Luiz Emilio
Como o vídeo não exibe esta
cena até o seu final, a análise fica
prejudicada
parcialmente.
arcialmente.
Contudo,
com base na fração que ficou registrada
Strassburger (esquerda), Pilly Calvin
(centro)
e
Antônio
Carlos
Falcão
(direita) em A Verdadeira História de
Édipo Rei.. Fonte: Programa Palcos da
pelo Palcos da Vida,, percebe-se
percebe
que a
MOUSEION, n.13, set-dez
dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
151
Vida: A Verdadeira História de Édipo
comediantes cantavam e dançavam a
Rei.
música de encerramento do espetáculo
cuja letra exaltava o final feliz de Édipo
A mise en scène de Gregos &
e Jocasta. Os versos escritos por
Troianos era simples, com palco nu e a
Toninho Costa Neto, com música de
proposta de trabalhar com a imaginação
Néstor Monasterio e arranjo do maestro
criativa
Chico Ferreti, celebravam o amor livre,
do
espectador.
O
grupo
utilizava poucos elementos cenográficos
conforme
documenta
e criava as ambientações através do
impresso do espetáculo.
o
programa
deslocamento e agrupamento de cubos
Faça amor, faça
brancos. A encenação concentrava-se na
relação palco-plateia, com foco no jogo
amor
lúdico dos atores e na espontaneidade
da representação. Claudio Heemann
com
seja
rei,
seja
rainha,
faça amor com
grande público, “com olho na comédia
musical norte-americana, uma pitada
lá
quem for,
(2006, p. 167) afirma que o espetáculo
atingiu uma comunicação direta com o
seja
a madrinha,
mas faça amor.
de sal grosso, piadas e pique de teatro
de revista”. Em texto publicado no
Faça amor, faça
jornal Zero Hora, em 13 de setembro de
1985, o crítico acrescenta que A
amor
seja
Verdadeira História de Édipo Rei está
“muito bem articulada como teatro
brincalhona
o
e
sentido
de
debochada
paródia
com
mesmo que seja
parente,
faça amor bem
a
contente
descontração do musical”.
e
É o que se pode perceber, por
exemplo, na última cena, com o título
Divina
Concupiscência.
com
quem for,
burlesco. Consegue casar em soluções
agradáveis
lá
Nela,
esqueça
o
pecado.
[...]
os
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
152
Faça amor, faça
amor,
transe tudo em
família,
Considerações finais
o menino vai
A pesquisa que deu a origem a
esse artigo privilegiou a reconstrução de
com a mãe,
o
papai
fica
aspectos estéticos e de produção de sete
espetáculos apresentados na segunda
com a filha.
metade da década de 1980 em Porto
... repete...
Alegre. Como sugere Pavis (2005), de
posse dos documentos que originaram a
Por fim, A Verdadeira História
investigação, procedeu-se uma análise-
de Édipo Rei é “farsa”, diz o texto
reconstituição
impresso no programa do espetáculo,
passado, a partir de seus indícios,
distribuído ao público antes do início de
vestígios
cada apresentação. O termo foi utilizado
audiovisuais encontrados no arquivo da
com duplo sentido. De uma parte,
TVE/RS
foram
significando o gênero dramático cômico
unidades
temáticas,
conhecido como “farsa”. De outra,
outras bases documentais que fixaram
jogando
que
materialmente aquela cena e explorados
aproxima o substantivo “farsa” do
com a proposta de restituir parte da
adjetivo “falsa”. O texto, atribuído
experiência estética que teria sido
ironicamente
experimentada pelo público da época.
com
a
ao
sonoridade
trágico
grego
Eurípedes, rival de Sófocles, sublinha
de
e
encenações
rastros.
Partindo
Os
do
registros
decompostos
em
cruzados
de
com
exemplos
que o resultado da encenação foi a
específicos para mapear um panorama
criação de um Édipo “sem culpa, de
mais abrangente, constatou-se que o
uma Jocasta despudorada, um coro
campo teatral estudado, ou seja, o final
esquizofrênico,
dos anos 1980, na capital gaúcha,
um
adivinho
psicanalista, ou vice-versa, um Creonte
caracterizava-se
obcecado pelo poder, enfim, uma
diversas
terrível comédia ou uma farsa tragédia
espetáculos
grega”.
para um grande público até propostas
formas
pelo
convívio
cênicas,
marcadamente
de
desde
voltados
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
153
estéticas experimentais e de pesquisa de
REFERÊNCIAS
linguagem. Esta pluralidade da cena
pode ser verificada por meio da
A Verdadeira História de Édipo Rei.
variedade de repertório, do hibridismo
Texto de Toninho Neto. Direção,
de gêneros, da utilização de espaços não
cenário e montagem do Grupo Gregos
convencionais para apresentação dos
& Troianos. Atuação: Antonio Carlos
espetáculos e da busca pela construção
Falcão,
de
os
Meneghetti, Luiz Emilio Strassburger,
trabalhadores das artes cênicas, através
Oscar Simch, Pilly Calvin e Zé Victor
da profissionalização dos mecanismos
Castiel. Elenco em substituição: Júlio
de produção e do investimento em
Conte, Vera Bertoni e Xala Felippe.
temporadas fora das fronteiras do Rio
Músicas: Néstor Monasterio. Adereços:
Grande do Sul.
Gregos & Troianos e Arno Sérgio
um
mercado
efetivo
para
Betho
Mônaco,
Cláudia
O retrato proposto neste artigo
Hörlle. Coreografias: Maria Helena
não teve uma ambição totalizadora. Ele
Campani Penz. Produção: Andrômeda
é vinculado as condições de criação,
Produções
produção e recepção teatral em um
Divulgação: Viva Produções. Porto
contexto específico, ou seja, a pesquisa
Alegre, 1985.
realizada
pelos
profissionais
artistas
envolvidos
e
Opus
Promoções.
e
outros
A Verdadeira História de Édipo Rei.
no
fazer
Programa impresso do espetáculo. Porto
artístico e suas visões sobre o campo
Alegre, 1985.
teatral. São fragmentos de imagens e
ASLAN, Odette. O ator no Século XX:
discursos que, expostos à interpretação,
evolução da técnica, problema da ética.
iluminam
São Paulo: Perspectiva, 2005.
tendências,
significados.
processos
São
de
atitudes
e
testemunhos
de
criação,
linguagens,
BARDIN,
Laurance.
Análise
de
conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2009.
formas de atuação e de contato com o
CASTIEL, Zé Victor. A Verdadeira
público na recepção da obra. Entretanto,
História de Édipo Rei. Porto Alegre,
como diria Deleuze, enquanto recorte
1988. Entrevista ao Programa Palcos da
temático se movimenta em direção ao
Vida, da TVE/RS.
todo.
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Imagem e memória: édipo e a cena teatral porto-alegrense
Newton Pinto da Silva
154
CONTE, Júlio...[et al.]. Bailei na
VASCONCELLOS,
curva. Porto Alegre: Mercado Aberto,
Anotações para uma história do teatro
1994.
gaúcho. In: Revista Sete Palcos, Nº 3,
DELEUZE,
Gilles.
Cinema
imagem-movimento.
São
1:
a
Paulo:
teatro
brasileiro.
Luiz
Coimbra:
Paulo.
Cena
Lusófona, set. 1998, pp. 35-42.
Brasiliense, 1985.
HEEMANN, Claudio. Doze anos na
primeira fila: críticas selecionadas pelo
autor. Porto Alegre: Alcance, 2006.
KILPP, Suzana. Os cacos do teatro:
Porto Alegre, anos 70. Porto Alegre:
i
Unidade Editorial, 1996.
PEIXOTO, Fernando. Um teatro fora
do eixo - Porto Alegre: 1953-1963. São
Paulo: Editora Hucitec, 1993.
PROGRAMA
Palcos
da
Vida:
A
Verdadeira História de Édipo Rei. Porto
Alegre,
1988.
TVE/RS.
Produção:
Margarete Noé. Direção de imagens:
Miguel
Pinto.
Supervisão
geral:
Marilourdes Franarin.
SÓFOCLES. Édipo Rei. Porto Alegre:
L&PM, 2008.
SOUTO, Andrea do Roccio. Édipo Rei,
do
palco
à
tela:
Os documentos do programa Palcos da Vida,
que integram o corpus de pesquisa, apresentam
cenas das peças e depoimentos de atores e
diretores. A dissertação de mestrado lançou um
olhar sobre aquele momento histórico e, por
meio das gravações, ressaltou a importância do
vídeo como documento do teatro. Foram
enfocados os espetáculos A Mãe da Miss e o Pai
do Punk (direção de Luiz Arthur Nunes), A
Verdadeira História de Édipo Rei (Grupo
Gregos & Troianos), Escondida na Calcinha
(direção de Patsy Cecato), Império da Cobiça
(Grupo TEAR), O Ferreiro e a Morte (Grupo
Teatral Face & Carretos), Ostal (Tribo de
Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz) e Tangos e
Tragédias (de Hique Gomez e Nico
Nicolaiewsky).
ii
Atual Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). O CAD hoje é o Departamento
de Arte Dramática (DAD), vinculado ao
Instituto de Artes.
iii
Trecho do texto dramático de Toninho Costa
Neto. In: SOUTO, 2000, p. 12, anexo.
reescrituras.
Dissertação. (Mestrado em Letras).
Porto
Alegre:
Programa
de
Pós-
Graduação em Letras - UFRGS, julho
de 2000.
SZONDI, Peter. Teoria do drama
moderno
(1880-1950).
São
Paulo:
Cosac & Naify, 2001.
MOUSEION, n.13, set-dez, 2012, pp 136-154
ISSN 1981-7207
Download