Em diversos diálogos platônicos, a personagem de Sócrates é caracterizada por um procedimento investigativo refutatório que se contrapõe ao gênero de discurso empregado pelos mestres de retórica. Tomando o seguinte extrato do Górgias como ponto de partida, explicite: A) os temas que compõem o campo de investigação da Filosofia socrática: B) o modo como a refutação socrática opera. “— ... Receio contestar-te para que não penses que falo menos pelo prazer de esclarecer o assunto em discussão do que por motivos pessoais. (...) E em que número me incluo? Entre as pessoas que têm prazer em ser refutadas, no caso de afirmarem alguma inverdade, e prazer também em refutar os outros, se não estiver certo, do mesmo modo, o que disserem, e que tanto se alegram com serem refutadas como em refutarem... ". PLATÃO. GÓRGIAS. (457E-458A). BELÉM: EDUFPA, 2002. P. 142-143. RESOLUÇÃO: A) Com Sócrates a filosofia entrou numa nova fase, de caráter antropológico, marcada pelo interesse no próprio homem e nas relações do homem com a sociedade. Foi o período socrático ou clássico. Nele, filosofia foi uma investigação sobre os fundamentos éticos, o conhecimento de si mesmo, para ele importa o próprio homem, como o objeto da filosofia. O ponto de partida da Filosofia é a confiança no pensamento ou no homem como ser racional, capaz de conhecer-se a si mesmo e, portanto, capaz de reflexão. Reflexão é a volta que o pensamento faz sobre si mesmo para conhecer-se; é a consciência conhecendo-se a si mesma como capacidade para conhecer as coisas, alcançando o conceito ou a essência dessas coisas. As perguntas filosóficas se referem a valores como a justiça, a coragem, a amizade, a piedade, o amor, a beleza, a temperança, a prudência dentre outros, que partem da opinião e formam os conceitos, constituindo-se nos ideais do sábio e do cidadão. B) Sócrates jamais se colocou como sábio e nem estava disposto a dar lições morais ou ensinar algo. A refutação socrática é o conjunto de indagações que se constituem em dois momentos: o primeiro, um processo purificador, é a ironia, que levava o interlocutor a confessar suas próprias contradições e ignorâncias, ou seja, o próprio o indivíduo se dá conta de que seu saber era baseado em reflexões, cujo conteúdo era repleto de conceitos vagos e imprecisos. O segundo momento, a maiêutica, é uma parturiação, o interlocutor, a partir das questões habilmente postas por Sócrates busca “dar a luz” a uma conceito. Assim, Sócrates exortava, chamava para o filosofar, mas nunca dava as respostas para o que questionava, ensejava os interlocutores a buscarem neles mesmos esses conceitos e valores universais.