apresentação do programa carbono neutro

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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Politécnica
Departamento de Construção Civil
APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA CARBONO NEUTRO IDESAM E PROPOSTA DE
CÁLCULO DE EMISSÃO E NEUTRALIZAÇÃO PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
Cintia Regina Amaral El Chaer
Rio de Janeiro
Agosto de 2015
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escola Politécnica
Departamento de Construção Civil
APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA CARBONO NEUTRO IDESAM E PROPOSTA DE
CÁLCULO DE EMISSÃO E NEUTRALIZAÇÃO PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
Cintia Regina Amaral El Chaer
Projeto de Graduação apresentado ao Curso de
Engenharia
Civil
da
Escola
Politécnica,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Engenheiro.
Orientador: Elaine Garrido Vazquez
Rio de Janeiro
Agosto de 2015
ii
APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA CARBONO NEUTRO IDESAM E PROPOSTA DE
CÁLCULO DE EMISSÃO E NEUTRALIZAÇÃO PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
Cintia Regina Amaral El Chaer
PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE
ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO
DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.
Aprovada por:
Profa. Elaine Garrido Vazquez, D.Sc.
Prof. Assed Naked Haddad, D. Sc.
Profa. Sandra Oda, D.Sc.
Rio de janeiro
Agosto de 2015
iii
El Chaer, Cintia Regina Amaral
Apresentação Do Programa Carbono Neutro IDESAM e
Proposta De Cálculo de Emissão e Neutralização pela Construção
Civil / Cintia Regina Amaral El Chaer – Rio de Janeiro: UFRJ /
Escola Politécnica, 2015.
XI, 89 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Elaine Garrido Vazquez.
Projeto de Graduação – UFRJ / Poli / Engenharia Civil,
2015.
Referências Bibliográficas: p 85-89.
1. Introdução 2. Revisão Bibliográfica 3. Construção Civil e
Poluição 4. O Programa Carbono Neutro IDESAM 5. Proposta
de Quantificação para a Construção Civil 6. Considerações
Finais.
I. Vazquez, Elaine Garrido. II. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.
Apresentação do Programa Carbono Neutro IDESAM e
Proposta de cálculo de Emissão e neutralização Pela
Construção Civil.
iv
Agradecimentos
Aos meus pais e maiores exemplos, Ana e Carlos, por todo amor e apoio
incondicional. Independentes das dificuldades enfrentadas ao longo desses anos
nunca deixaram de incentivar e acreditar em mim. Obrigada por todo esforço e
compreensão, sem vocês nada disso seria possível.
Obrigada a minha irmã, Silvia, pelo amor e companheirismo, e principalmente
pelo seu incrível senso de humor, no qual ajudou a tornar essa trajetória mais leve.
Ás minhas avós e riquezas, Alda, Lais e Evany, que estiveram comigo em
todas as etapas da minha vida, contribuindo sempre com muito amor e carinho.
Á minha família, que sempre torceu por mim, e representa a base de tudo na
minha vida. Celebraremos e compartilharemos de mais uma vitória com muita alegria.
Ao meu namorado, Mário Victor, por me ajudar a despertar o gosto pela
engenharia. Juntos, com certeza esta caminhada tornou-se mais fácil. Obrigada por
cada ensinamento, por toda paciência e pelo exemplo de profissional e engenheiro.
Aos amigos que fiz nesta universidade, cúmplices de toda esta trajetória, nos
quais compartilhei vitórias e derrotas. Estes foram essenciais para essa conquista,
nossos momentos serão eternos.
As minhas amadas amigas, que souberam entender minhas ausências,
obrigada por estarem sempre comigo, me apoiando e ajudando nos momentos mais
difíceis e exaustivos.
Á minha orientadora Elaine, pela ajuda no pouco tempo que lhe coube, pelas
suas correções, orientações е incentivos. Um obrigado especialmente por todo suporte
dado aos alunos da engenharia, não medindo esforços em prol de melhorias para a
faculdade.
v
Ao engenheiro Flávio Cremonesi, pela oportunidade de conhecer o Programa
Carbono Neutro IDESAM e pela experiência de desbravar a Amazônia. Obrigado por
todo aprendizado, pelo material cedido e todo cuidado durante a viagem.
Aos professores do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio
de Janeiro que desempenharam papel fundamental na minha formação acadêmica.
A todos vocês, minha eterna e sincera gratidão.
vi
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários à obtenção do grau de Engenheiro Civil.
APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA CARBONO NEUTRO IDESAM E PROPOSTA DE
CÁLCULO DE EMISSÃO E NEUTRALIZAÇÃO PELA CONSTRUÇÃO CIVIL
Cintia Regina Amaral El Chaer
Agosto / 2015
Orientador: Elaine Garrido Vazquez
A Construção Civil, setor estratégico da economia brasileira, é um dos que mais gera
impactos no meio ambiente, através das emissões de gases do efeito estufa (GEEs),
sendo sua participação de extrema importância nos processos de mitigação dos
impactos ambientais. O presente trabalho teve como objetivo apresentar uma proposta
de cálculo de emissões GEEs para empreendimentos do setor de Construção Civil, e
propor modelos de neutralização de emissões por meio de plantios florestais. Para a
compensação dessas emissões de GEEs, foi sugerido programas de neutralização de
carbono por meio do sequestro florestal como o do estudo de caso: O Programa
Carbono Neutro IDESAM. A metodologia empregada foi baseada no GHG Protocol e
no SINDUSCON-SP, direcionada para a construção civil. Foram identificados os
principais processos de emissão, tais como o processo industrial de fabricação dos
materiais, o transporte de materiais e resíduos e o uso do edifício. A partir das análises
e pesquisas apresentadas espera-se que a Construção Civil estabeleça estratégias de
combate à mudança do clima, partindo do princípio de inventariar as emissões de
GEEs, aplicar estratégias de redução nos processos chaves e compensar as emissões
por meio do plantio florestal.
Palavras-chave: Gases de efeito estufa, GHG Protocol, neutralização, compensação
de emissões.
vii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Engineer.
PRESENTATION OF CARBONO NEUTRO IDESAM PROGRAM AND EMISSION
CALCULATION AND NEUTRALIZATION PROPOSAL FOR THE CONSTRUCTION
INDUSTRY
Cintia Regina Amaral El Chaer
August / 2015
Advisor: Elaine Garrido Vazquez
The Construction, strategic sector of the Brazilian economy, is one of the fastest
generates impacts on the environment, through emissions of greenhouse gases
(GHGs), and its share of utmost importance in mitigation processes of environmental
impacts. The objective of this paper is to develop a proposal for quantification of
emission of gas (GHG), focusing on the construction industry, in addition to offering
models for compensating this emissions through forestry plantation. The methodology
adopted was the one presented by GHG Protocol and SINDUSCON-SP, focused on
construction. The main processes have been identified, such as the fabrication process
of the materials, transportation of these materials, material waste and using of the
building. In order to compensate the GHG emissions, carbon neutralization programs
were suggested, such as The Carbon Neutral Program IDESAM. Based on analysis
and research, it is expected that the construction industry comes to establishing
strategies to combat climate changing. Basic principles should be followed: inventory
the GHG emissions, apply reduction strategies at the key processes and compensate
emissions through the forest planting.
Keywords: Greenhouse gases, GHG Protocol, neutralization, compensation of GHG
emissions.
viii
SUMÁRIO
1
2
Introdução.............................................................................................................. 1
1.1
Considerações Inicias ..................................................................................... 1
1.2
Objetivo .......................................................................................................... 2
1.3
Justificativa ..................................................................................................... 2
1.4
Metodologia Empregada ................................................................................. 3
1.5
Estrutura do trabalho ...................................................................................... 4
Revisão Bibliográfica ............................................................................................. 5
2.1
2.1.1
Visão Global ............................................................................................ 5
2.1.2
Regiões do Brasil e Amazônia ............................................................... 11
2.2
Efeito Estufa X Aquecimento Global ............................................................. 16
2.3
O Carbono e as Emissões de CO2................................................................ 20
2.3.1
Ciclo do Carbono ................................................................................... 20
2.3.2
Liberação do CO2 .................................................................................. 22
2.4
3
Mudanças Climáticas ...................................................................................... 5
O Protocolo de Kyoto.................................................................................... 24
Construção Civil e Poluição ................................................................................. 30
3.1
Principais Emissões pela Construção Civil ................................................... 30
3.1.1
Produção de Materiais na Construção ................................................... 32
3.1.2
Transporte de Materiais e Resíduos ...................................................... 34
ix
3.1.3
3.2
Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG) ................................................. 40
3.3
O Programa Brasileiro GHG Protocol ........................................................... 43
3.4
Compensação de Gases do Efeito Estufa .................................................... 44
3.4.1
4
5
Uso dos Edifícios ................................................................................... 36
O Sequestro de Carbono ....................................................................... 45
O Programa Carbono Neutro IDESAM ................................................................ 47
4.1
Apresentação do Programa Carbono Neutro IDESAM ................................. 47
4.2
Método Empregado ...................................................................................... 50
4.3
Cálculo de Emissão Pessoa Física ............................................................... 53
4.4
Cálculo de Emissão Pessoa Jurídica ............................................................ 55
4.5
Participantes do Programa e os Números de Emissões ............................... 56
4.6
Compensação de Emissões Através do Plantio Florestal ............................. 57
Proposta de Elaboração de Inventários de Emissões e Compensação dos GEEs
para o Setor da Construção Civil ................................................................................ 62
5.1
Customização do GHG Protocol para a Construção Civil ............................. 63
5.1.1
Limites e Diretrizes dos Inventários de Emissões .................................. 63
5.1.2
Análise e Resultados do Inventário........................................................ 66
5.2
Fatores de Emissões .................................................................................... 67
5.3
Cálculo de Emissões .................................................................................... 71
5.3.1
Cálculo de Emissões para o Consumo de Combustíveis ....................... 72
x
6
5.3.2
Cálculo de Emissões para o Consumo de Energia Elétrica ................... 73
5.3.3
Cálculo de Emissão para a Geração de Resíduos ................................. 73
5.3.4
Cálculo Emissão para Consumo de Combustíveis Fontes Móveis ......... 75
5.3.5
Emissão pelos Materiais de Construção Civil ........................................ 75
5.4
Validação da Ferramenta.............................................................................. 76
5.5
Compensação de Gases pela Recomposição Florestal ................................ 80
Considerações Finais .......................................................................................... 83
Referências Bibliográficas .......................................................................................... 85
xi
1
1.1
Introdução
Considerações Inicias
O desenvolvimento socioeconômico do mundo moderno, combinado com o
crescimento populacional, tem levado à aceleração do uso dos recursos naturais. Um
dos pontos críticos neste sentido é o aumento exponencial da concentração de gases
de efeito estufa (GEEs) na atmosfera, muito acima da capacidade de assimilação do
planeta. Este acúmulo de gases está gerando o fenômeno das Mudanças Climáticas,
cujo impacto tem sido apontado com ênfase pela comunidade científica internacional.
Segundo o SINDUSCON-SP (2013), é um novo panorama que se abre como um
desafio para a gestão das atividades econômicas ao redor do mundo, com novos
riscos e oportunidades para as empresas, tornando-se vital a criação de novas
estratégias para tratar a sustentabilidade dos negócios.
A Construção Civil, setor estratégico da economia brasileira, é um dos que
mais gera impactos no meio ambiente, sendo sua participação de extrema importância
nos processos de mitigação dos impactos ambientais. Ao longo do Século XXI, as
Mudanças Climáticas Globais poderão causar variações na quantidade e distribuição
de precipitações, nas temperaturas médias e extremas, entre outras mudanças no
regime climático (IPCC, 2013).
Neste contexto, várias empresas do setor têm tomado iniciativas na direção de
estabelecer processos de gestão de suas emissões, a iniciar pela realização e
publicação de inventários de emissões de gases de efeito estufa e prosseguindo por
medidas de gestão para a sua redução.
O presente trabalho tem como objetivo
elaborar uma proposta de
quantificações de emissões para empreendimentos da Construção Civil e propor
modelos de compensação de emissões por meio de plantios florestais. Esta técnica
1
possui relação direta com as mudanças climáticas, sendo utilizado como principal
método de compensação de emissões de GEEs.
Segundo KRUG (2004 apud FLIZIKOWSKI, 2012), reflorestamento é a
conversão induzida diretamente pelo homem de área não florestada para área
florestada por meio do plantio de espécies florestais.
O Brasil, por apresentar muitas regiões com vocação florestal, possui um bom
potencial para estes tipos de projetos, com destaque para a Amazônia. Além disso,
existem muitas áreas degradadas que podem se prestar bem aos propósitos dos
potenciais projetos, trazendo impactos sociais positivos, além dos benefícios
econômicos e ambientais já preconizados.
1.2
Objetivo
O objetivo do presente trabalho é apresentar uma proposta de cálculo de
emissões de gases de efeito estufa para o setor da Construção Civil e propor modelos
de compensação das emissões por meio do plantio florestal. Estimular o setor da
Construção Civil a estabelecer estratégias de combate às mudanças climáticas;
inventariar e quantificar as emissões de gases do efeito estufa; aplicar estratégias de
redução nos processos chaves.
1.3
Justificativa
A ideia de consciência ambiental deve ser cada vez mais compreendida e
disseminada pelo ser humano, de forma que o crescimento socioeconômico da
sociedade esteja sempre relacionado com o desenvolvimento sustentável. Assim, a
indústria da construção civil, responsável por significativos impactos ambientais,
torna-se fundamental pela busca de um melhor desempenho e reduções destes
danos.
2
Os dados relacionados à indústria da construção civil são alarmantes, segundo
o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), o setor é
responsável por cerca de 30 a 40% do consumo mundial de energia nas edificações.
Já o Brasil se encontra em sexto lugar no ranking mundial de emissão de CO2 pela
construção civil devido à utilização intensa de recursos durante a construção e
operação (FREITAS, 2007).
É essencial que uma intervenção seja feita no setor com foco em medidas de
combate as alterações climáticas, através da elaboração de inventários de emissões
de GEEs, aplicação de estratégias de redução em suas principais atividades e
compensação das emissões por meio do plantio florestal. O Programa Carbono
Neutro IDESAM aborda tais questões, com a proposta de compensar as emissões de
gases de efeito estufa através da implantação de Sistemas Agroflorestais, sendo um
modelo a ser seguido por diferentes instituições, principalmente, a Construção Civil.
1.4
Metodologia Empregada
A metodologia de pesquisa adotada foi baseada nas principais formas de
emissão de gases do efeito estufa pela Construção Civil, com ênfase na emissão de
carbono, responsáveis pelas interferências climáticas. As principais etapas para
compreensão e quantificação dessas emissões foram fornecidas baseadas no GHG
Protocol e no SINDUSCON-SP, de forma a estimular o setor da construção a elaborar
inventários de GEEs, e assim desenvolver estratégias para redução da emissão
destes gases, como exemplificado pelo Programa Carbono Neutro IDESAM.
Para a realização do trabalho foram consultados livros, artigos e teses, a fim de
oferecer a informação necessária ao entendimento do tema.
3
1.5
Estrutura do trabalho
Este trabalho está estruturado em seis
capítulos, contando com as
considerações iniciais e finais, e mais quatro partes que integram o corpo do trabalho.
Neste primeiro capítulo temos a introdução ao tema apresentado, os objetivos
que se pretende alcançar com a realização deste estudo, as justificativas que levaram
ao desenvolvimento do presente trabalho e a metodologia aplicada.
Segue-se a esta introdução o segundo capítulo, no qual são apresentados
aspectos diversos como as mudanças climáticas, o Efeito Estufa e o Aquecimento
Global, as formas de liberação do Carbono na atmosfera e o Protocolo de Kyoto.
O terceiro capítulo apresenta as formas de poluição pela Construção Civil e
suas principais fontes de emissões dos gases do efeito estufa, tais como a produção
de materiais na construção, o transporte de materiais e resíduos e o uso do edifício.
Em sequência, é apresentado o GHG Protocol no qual objetiva incentivar as empresas
a inventariar as emissões e o plantio de árvores que atuam no sequestro do Carbono.
No quarto capítulo é apresentado o Programa Carbono Neutro IDESAM,
projeto capaz de neutralizar as emissões de gases do Efeito Estufa através do plantio
florestal. Os detalhes do projeto, o método dos cálculos das emissões e a forma de
compensação são apresentados ao longo do capítulo.
O capítulo cinco apresenta uma proposta de como quantificar as principais
emissões geradas pela Construção Civil com diretrizes e ferramentas de cálculo de
emissões de CO2. A Proposta foi customizada através da metodologia do GHG
Protocol e referências do SINDUSCON-SP.
No sexto e último capítulo estão as considerações finais, seguidas das
referências bibliográficas.
4
2
Revisão Bibliográfica
2.1
Mudanças Climáticas
2.1.1 Visão Global
Quanto mais o tempo passa maiores são as evidências de que as ações
humanas estão interferindo no clima. Bilhões de pessoas consumindo volumes
crescentes de produtos já começam a afetar a composição química da atmosfera que
protege os habitantes do planeta.
Apesar das incertezas envolvidas, a partir da década de 1950, diversas
mudanças climáticas têm sido observadas em diferentes regiões do planeta: a
atmosfera e os oceanos se aqueceram, os níveis do mar aumentaram, e as
concentrações de gases de efeito estufa (GEEs) aumentaram (IPCC, 2013).
Figura 1: Anomalias das temperaturas globais em maio de 2013, relativas ao período base 1981-2010
(Fonte: www.apolo11.com, 2015).
5
O aumento da temperatura e as diferentes variações regionais na Terra são
fatores preocupantes, como mostrado na Figura 1, as evidentes anomalias de
temperaturas globais do mês de maio de 2013 com relação ao período base 19812010. Observa-se que enquanto algumas regiões apresentaram um aquecimento
muito maior que a média global, outros registraram um resfriamento bem significativo.
O clima da Terra é regulado por diversos elementos e processos que envolvem o
fluxo de radiação solar, a atmosfera e a superfície terrestre. São cinco os
componentes principais: a Atmosfera, uma camada de ar dividida em sete faixas, que
envolve nosso planeta e é extremamente fina quando comparada ao raio terrestre; a
Hidrosfera, representada pelas águas oceânicas e continentais; a Criosfera,
constituindo as camadas de gelo e neve na superfície da Terra; a Superfície Terrestre
e Biosfera, ou seja, crosta terrestre onde se encontram os seres vivos; e por último, a
Radiação Solar, onde todas as interações entre os outros quatro componentes
mencionados acontecem devido à incidência de tal fenômeno. Em síntese, nesse
contexto, observa-se que tudo o que ocorre na Terra é causado e influenciado pelo
brilho do Sol.
Para um melhor entendimento sobre esses fenômenos, alguns conceitos usuais
sobre mudanças climáticas devem ser considerados. Clima é normalmente definido
como a descrição estatística do tempo em termos de média e variações de
quantidades relevantes por períodos de várias décadas. Tais quantidades são na
maioria das vezes temperatura, precipitação e vento. Clima também é definido como a
descrição do estado do sistema climático (IPCC, 2013).
Mudanças climáticas referem-se a mudanças no estado do clima que podem ser
identificadas (por exemplo, por meio de testes estatísticos) por alterações na média
e/ou variação de suas propriedades, e que persiste durante um longo período,
tipicamente décadas ou mais. A mudança climática pode ocorrer devido a processos
6
naturais ou forças externas, ou devido a mudanças antropogênicas persistentes na
composição da atmosfera ou no uso da terra (IPCC, 2007, apud Machado, 2013).
O clima da Terra não é uma constante, e apresenta variações drásticas em
decorrência de processos naturais, como ocorreu nas eras glaciais onde boa parte do
planeta foi coberto por gelo. O sistema climático terrestre responde a desequilíbrios
energéticos chamados de forçantes climáticas e suas causas podem ser classificadas
como naturais (internas e externas) e antrópicas (devido a atividades humanas).
A influência externa é caracterizada pelas causas originadas fora do globo
terrestre, como as de origens solares, que vai desde a variação de energia do sol que
chega a Terra até a variação da própria órbita terrestre.
As causas de origem interna acontecem devido à deriva dos continentes (nos
quais aproximam-se ou afastam-se dos polos), por partículas emitidas pelos vulcões
(aerossóis que refletem a luz solar impedindo que uma parte chega à superfície) e
também pelas oscilações periódicas, conhecidos como El Niño e La Niña, que afetam
o hemisfério sul e o Brasil.
Os forçantes antrópicos, são causados principalmente pela queima de
combustíveis fósseis e o desmatamento, nos quais intensificam a concentração de
gases de efeito estufa na atmosfera. Assim, no sistema climático, nota-se que todos
esses elementos estão interligados, e quando algum sofre modificação, os demais
também são alterados.
Quando existe um balanço entre a energia solar incidente e a energia refletida na
forma de calor pela superfície terrestre, o clima se mantém praticamente inalterado.
Entretanto, o balanço de energia pode ser alterado de várias formas (MMA, 2013,
apud Machado, 2013): por mudança na quantidade de energia que chega à superfície
terrestre; por mudança na órbita da Terra ou do próprio Sol; por mudança na
quantidade de energia que chega à superfície terrestre e é refletida de volta ao
7
espaço, devido à presença de nuvens ou de partículas na atmosfera (também
chamadas de aerossóis, que resultam de queimadas, por exemplo); e, finalmente,
graças à alteração na quantidade de energia reemitida de volta ao espaço com maior
comprimento de onda, devido a mudanças na concentração de gases do efeito estufa
(GEEs) na atmosfera.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é um órgão da
ONU criado em 1988 com a função de avaliar o estado atual do conhecimento
científico sobre mudanças climáticas e seus potenciais impactos ambientais e
socioeconômicos. Sob o ponto de vista oficial, o IPCC, diz que o problema em questão
não deve sequer ser motivo de discussão em termos de sua existência ou não, pois é
mais do que comprovada a série de mudanças climáticas ocorridas nos últimos
tempos e a participação do ser humano nesse processo.
De acordo com o IPCC, a emissão de gases do efeito estufa provenientes de
atividades humanas cresceram 70% entre 1970 e 2004. Do total de emissões
antropogênicas, 77% correspondiam ao dióxido de carbono, que no mesmo período
teve um aumento de 21 para 38 giga toneladas (Gt), onde 1 tonelada de carbono é
aproximadamente o que emite um carro popular (com o uso de gasolina) durante um
ano (www.ghgprotocolbrasil.com.br, 2015).
Segundo o Programa Brasileiro CHG Protocol, o aumento de emissões de dióxido
de carbono equivalente foi bem maior no período de 1995 a 2004, do que de 1970 a
1994. Os setores que mais contribuíram para o aumento de emissões foram energia,
transporte e a indústria (com ênfase para a Construção Civil) e em um ritmo menor os
edifícios comerciais e residenciais e o setor florestal e da agricultura.
Atualmente, estima-se que o planeta está próximo aos 50Gt de CO2e e poderá
chegar a 61Gt em 2020 e 70Gt em 2030. Discute-se sobre a capacidade da Terra de
absorver tais emissões e números científicos apontam que tais emissões estão
8
atualmente cerca de quatro vezes superiores a essa capacidade (entre 6 e 9 GtCO2),
em um processo que teve início em meados do século XIX, com a Revolução
Industrial (http://cms-ghg.herokuapp.com/, 2015).
Dados levantados por cientistas vinculados ao IPCC afirmam que o século XX, em
razão dos desdobramentos ambientais das Revoluções Industriais, foi o período mais
quente da história desde o término da última glaciação, com um aumento médio de
0,7ºC nas temperaturas de todo o planeta. Ainda segundo o órgão, as previsões para
o século XXI não são animadoras, pois haverá a elevação de mais 1ºC, em caso de
preservação da atmosfera, ou de 1,8 a 4ºC, em um cenário mais pessimista que
apresente maior poluição.
Figura 2: Simulação do aumento médio regional de temperatura previsto pelos modelos compilados pelo
IPCC para três cenários de emissões diferentes (B1, A1B E A2) e para as escalas temporais de 20202029 e 2090-2099. (Fonte: www.mudancasclimaticas.andi.org.br, 2015).
A Figura 2 mostra os possíveis aumentos de temperatura, e as diferenças
regionais, em função das diferentes quantidades de emissões ao longo dos anos
paras as escalas temporais de 2020-2029 e 2090-2099. Essas variações têm afetado
o clima, o ciclo hidrológico e os eventos extremos, com impactos na disponibilidade
9
dos recursos hídricos em âmbito global e regional, podendo causar quedas
importantes na taxa de precipitação e afetando diferentes áreas do globo terrestre.
Se as incertezas são grandes no que diz respeito às estimativas de médias
globais, são ainda maiores quando se produzem avaliações regionais do aumento de
temperatura. Acredita-se que essa elevação não será igual para as várias regiões do
globo, onde as áreas de altas latitudes (como o Ártico e a Antártica) sofrerão
aquecimento mais pronunciado, e as regiões continentais sofrerão aquecimento maior
do que as oceânicas (http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/, 2015).
De forma geral, já são diversos os impactos observados devido às mudanças
climáticas conforme relata o IPCC (2014a): em muitas regiões, a mudança de
precipitação ou derretimento de neve e gelo estão alterando os sistemas hidrológicos,
afetando os recursos hídricos em termos de quantidade e qualidade; muitas espécies
terrestres, aquáticas e marinhas mudaram sua distribuição geográfica, atividades
sazonais, padrões de migração, abundância e interações intraespecíficas em resposta
às mudanças climáticas em curso; para a produção agrícola, com base em muitos
estudos que abrangem uma ampla gama de regiões e culturas, os impactos negativos
das mudanças climáticas sobre têm sido mais comuns do que os impactos positivos;
impactos oriundos de eventos climáticos extremos como, por exemplo, ondas de calor,
secas,
inundações,
ciclones
e
incêndios
florestais
revelam
a
significativa
vulnerabilidade e a exposição de alguns ecossistemas - e de muitos sistemas
humanos - à variabilidade climática atual.
Dessa forma, os fatos citados evidenciam os diversos impactos ambientais que
ocorrem atualmente em diferentes regiões do planeta e ainda o possível agravamento
desses diferentes quadros, devido aos fortes desdobramentos das Mudanças
Climáticas, agravados principalmente pelas ações humanas.
10
2.1.2 Regiões do Brasil e Amazônia
Como todo o resto do mundo, o Brasil também está exposto às mudanças do
clima atuais e, mais ainda, às que se projetam para o futuro. O Brasil possui um vasto
território
com
diferenças
regionais
pronunciadas
das
quais
algumas
são
particularmente vulneráveis aos eventos climáticos extremos. As áreas mais
vulneráveis compreendem a Amazônia e a região Nordeste, conforme registrado
no Relatório de Clima do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2011).
Uma das projeções é a que diz respeito a maior ocorrência de extremos
climáticos tais como secas, veranicos, vendavais, tempestades severas, inundações,
dentre outros, com alta probabilidade de aumento em um planeta mais aquecido. A
ocorrência de eventos extremos registrados no Brasil nos últimos anos, com todas as
suas gravíssimas consequências sociais e ambientais, ilustra bem a necessidade de
uma estratégia de adaptação para o país nos vários setores de atividades econômicas
(VINCENT et al. 2005; MARENGO et al. 2009 apud PBMC, 2015).
Eventos extremos como a seca de 2005 no oeste e sudoeste da Amazônia, e o
furacão Catarina no sul do país em 2004, podem se tornar mais frequentes até o final
do século XXI, num cenário futuro de aquecimento global devido à intensificação do
efeito estufa ocasionados pelas altas emissões de CO2 na atmosfera do planeta.
No Brasil, a temperatura média aumentou aproximadamente 0,75°C até o final
do século XX, considerando a média anual entre 1961-90 de 24,9°C (mostrado na
Figura 3), sendo 1998 o ano mais quente, com aumento de até 0,95ºC em relação à
normal climatológica de 24,9ºC. De fato, os 11 anos considerados, 1995-2006 (com
exceção de 1996) estão entre os mais quentes no período instrumental (MARENGO et
al, 2007).
11
Figura 3: Anomalias de temperatura (superior) e chuva (inferior) para o Brasil no período 1901-1998
(Fonte: MARENGO et al, 2007).
No Brasil, o clima ficará mais quente (com aumento gradativo e variável da
temperatura média em todas as regiões do país entre 1oC e 6oC até 2100) e o regime
de chuvas também vai mudar: as precipitações diminuirão significativamente em
grande parte das regiões central, Norte e Nordeste do país; e aumentarão nas regiões
Sul e Sudeste, é o que aponta o primeiro Relatório de Avaliação Nacional(RAN1),
lançado em 2013 pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).
O relatório ainda aponta que, como o Brasil é um país de dimensões
continentais, as mudanças climáticas não afetarão da mesma forma todas as regiões.
De modo geral, é possível perceber um aumento nas temperaturas em todo o país,
porém com intensidades diferentes em cada região. Já o regime de chuvas será
diferente, com regiões tendo diminuição no volume de precipitações e outras tendo
aumento.
Assim, como o verificado nas previsões mundiais, o Brasil e sua população
tendem a sofrer diferentes consequências das mudanças climáticas de acordo com a
região. O Quadro 1 mostra os possíveis cenários climáticos futuros, derivados das
análises dos modelos do IPCC, e do relatório do Clima do INPE para os cenários de
12
altas (A2) emissões e baixas (B2) emissões, assim como seus impactos em nível
global.
Quadro 1: Possíveis cenários climáticos futuros para as regiões brasileiras
Região
Projeção do clima futuro: Projeção do clima futuro:
ALTAS EMISSÕES (A2) BAIXAS EMISSÕES (B2)
Possíveis impactos
Impactos na biodiversidade, risco da floresta
ser substituída por outro tipo de vegetação
4 a 8°C mais quente, com
(tipo Cerrado). Baixos níveis dos rios
redução de 15% a 20% do
3 a 5°C mais quente, com
amazônicos podendo afetar o transporte.
volume de chuvas, atrasos na
redução de 5% a 15% nas
Norte
Risco de incêndios florestais devido ao ar
estação chuvosa e possíveis chuvas. O impacto não é muito
(inclusive Amazônia)
mais seco e quente. Impactos no transporte
aumentos na frequência de
diferente daquele previsto pelo
de umidade atmosférica para as regiões Sul
extremos de chuva no oeste da
cenário A2.
e Sudeste, com consequências para a
Amazônia.
agricultura e geração de energia
hidroelétricas.
Nordeste
Sudeste
Centro-Oeste
Sul
Aumento das secas, especialmente no semiárido. Imactos na agricultura de subsistência
e na saúde. Perda da biodiversidade da
1 a 3°C mais quente, com
caatinga. Risco de desertificação. Migração
2 a 4°C mais quente. 15% a
redução de até 15% no volume
para outras regiões pode aumentar
20% mais seco. Diminuição dos
da chuva. Diminuição do nível
(refugiados do clima). Chuvas intensas
níveis dos açudes.
dos açudes.
podem aumentar o risco de deslizamentos
podendo afetar as populações que moram
em morros desmatados, enchentes urbanas
mais intensas.
3 a 6°C mais quente. Eventos
2 a 3°C mais quente.
extremos de chuvas, seca e
Consequências semelhantes às
temperatura mais frequentes e
do cenário A2.
intensos.
Imapcto na agricultura, na biodiversidade, na
saúde da população e na geração de
energia. Eventos de extremos de chuvas
mais intensos aumentam o risco de
deslizamento podendo afetar populações
que moram em morros desmatados,
enchentes urbanas mais intensas.
3 a 6°C mais quente. Risco de
veranicos mais intensos.
Redução da biodiversidade no Pantanal e do
Cerrado. Impacto na agricultura e na
geração de energia hidroelétrica.
2 a 4°C mais quente. Risco de
veranicos mais intensos.
2 a 4°C mais quente, com
aumento das chuvas de 5% a
10%. Aumento no volume das
Extremo de chuva mais frequente aumenta o
chuvas e na forma dos eventos
risco de deslizamentos podendo afetar as
1 a 3°C mais quente, aumento
intensos de chuva. Alta
populações que moram em morros
das chuvas de até 5%. As
evaporação devido ao calor
desmatados, enchentes urbanas mais
consequências são parecidas
podendo afetar o balanço
intensas. Imapcto na saúde da população,
com as do cenário A2, embora
hídrico. Extremos de
na agricultura e na geração de energia.
a intensidade possa variar.
temperatura mais intensos,
Risco (ainda pouco provável) de mais
causando um inverno mais
eventos de ciclones extratropicais.
quente com poucos eventos
intensos de geadas.
(Fonte: Adaptado http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/, 2015)
Uma das regiões brasileiras mais sensíveis à questão das mudanças climáticas
é a Amazônia. Esse ecossistema tem se mostrado muito menos robusto do que se
acreditava a alguns anos atrás e está sob intensa pressão devido principalmente a
13
fatores como o desordenado processo de ocupação com desmatamento acelerado e
as alterações na temperatura e precipitação resultantes das mudanças climáticas.
A Amazônia é importante para o balanço global de carbono por seu papel na
captação do carbono proveniente da atmosfera e sua absorção pelas árvores e pelo
solo. A Floresta Amazônica também desempenha um papel crucial no clima da
América do Sul por seu efeito no ciclo hidrológico regional. A floresta interage com a
atmosfera para regular a umidade no interior da bacia, ajuda a direcionar a circulação
atmosférica nos trópicos ao absorver energia e reciclar aproximadamente metade das
chuvas que caem nela (INPE, 2011).
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais estudaram cenários
futuros de desmatamento caso as taxas continuem seguindo o padrão atual e as
políticas públicas de ocupação continuem as mesmas. Observa-se que a área
desmatada em vermelho, com o cenário das políticas atuais poderia chegar a
2.698.735km² (Figura 4a), o que corresponde a cerca de 45% da Amazônia brasileira.
Esse desmatamento tenderia a emitir para a atmosfera cerca de 33 milhões de
toneladas de carbono (GtC), o que corresponde a mais de 5 anos de todo o
combustível fóssil queimado no planeta (ARTAXO, 2008).
Figuras 4a e 4b: Diferentes situações para as áreas desmatadas em vermelho, conforme políticas
públicas de ocupação (Fonte: www.mudancasclimaticas.andi.org.br, 2015).
14
Em outro cenário possível (Figura 4b), os pesquisadores apresentaram uma
simulação das previsões das regiões que seriam desmatadas até 2050 se uma política
efetiva de governança fosse implantada na região Amazônica. A emissão de carbono
seria reduzida para 17GtC, e a área desmatada seria da ordem de 1.655.734km².
Deve-se ressaltar que, mesmo no cenário mais positivo, ainda se prevê um
desmatamento expressivo da região.
Do ponto de vista de previsão de temperatura, observa-se que no cenário B2 do
IPCC (o mais otimista, à esquerda da Figura 5), durante o período chuvoso na
Amazônia, que vai de dezembro a fevereiro, a temperatura poderia aumentar da
ordem de 3-4ºC em algumas regiões, mas o crescimento médio possivelmente seria
da ordem de 2ºC. Para o cenário A2 (que implica pouca redução nas emissões e a
continuidade de uso intensivo de combustíveis fósseis e está representado à direita da
Figura 5), o aumento de temperatura para algumas regiões poderia ser da ordem de 5
a 6ºC - particularmente na região leste da floresta amazônica.
Figura 5: Simulações de aumento de temperatura no final do século na América do Sul, para o período de
dezembro a fevereiro. A figura à esquerda contém os resultados para o cenário B2 do IPCC, mais
otimista; a figura à direita, para o cenário A2 do IPCC, mais pessimista. (Fonte:
http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/, 2015).
Esse aumento forte de temperatura tornaria o ecossistema amazônico mais
suscetível a queimadas. Por essa razão, algumas regiões da parte leste poderiam
sofrer uma perda considerável de área florestal. Com menor disponibilidade de água,
15
maiores temperaturas e maior evapotranspiração, poderia não ser possível sustentar
ecologicamente uma floresta tropical chuvosa. De igual forma, o ecossistema
amazônico possivelmente acabaria sofrendo em parte de seu território do Leste um
processo de savanização (ARTAXO, 2008), ou seja, de forma acelerada, parte da
maior floresta tropical do mundo ganharia contorno de cerrado, perdendo capacidade
de armazenar carbono, importante processo para contenção do aquecimento global.
É importante salientar mais uma vez as grandes incertezas inerentes a essas
simulações climáticas e seus possíveis efeitos. Os modelos climáticos ainda são
bastante limitados e os novos conhecimentos continuamente agregados podem alterar
os resultados destes cenários.
2.2
Efeito Estufa X Aquecimento Global
Apesar de ser um tema atual, a abordagem feita entre Efeito Estufa e
Aquecimento Global ainda gera certa confusão conceitual, pois na maioria dos casos
são denominados para designar a mesma coisa.
Efeito estufa é o fenômeno natural responsável pelo aquecimento térmico, no
qual a Terra é capaz de manter sua temperatura constante e assim permitir que a vida
possa existir. A atmosfera terrestre é composta por uma série de camadas gasosas
que se sobrepõem uma a outra. São elas: a exosfera, a termosfera, a mesosfera, a
estratosfera e a troposfera. Tais camadas se organizam em uma dinâmica pautada por
uma lógica natural possibilitando o perfeito funcionamento da terra.
O sol é a principal fonte de energia para a superfície da Terra, emitindo
radiação com diversos comprimentos de onda. O Vapor d’água (H2O), dióxido de
carbono (CO2), óxido nitroso (N2O), metano (CH4) e ozônio (O3) são os principais
GEEs, definidos como constituintes gasosos da atmosfera, naturais e antrópicos, que
absorvem e emitem radiação em comprimentos de onda específicos dentro do
16
espectro da radiação térmica infravermelha emitida pela superfície da Terra, pela
atmosfera em si, e por nuvens (IPCC, 2007, segundo Machado, 2013). Além desses,
há certo número de GEEs produzidos pelo homem, como os halocarbonetos e outras
substâncias contendo cloro e bromo.
Os GEEs são capazes de formar uma espécie de redoma de ar na qual
permite que a radiação solar (ultravioleta) entre e se transforme em calor, mas
impedem que esse calor na forma de radiação infravermelha volte para o espaço,
como esquematizado na Figura 6.
Figura 6: Efeito Estufa e os diferentes tipos de radiação (Fonte: http://www.cmqv.org/, 2015)
A radiação ultravioleta, por possuir comprimento de onda menor, consegue
atravessar a atmosfera, aquecendo o solo, a vegetação, o mar e a própria atmosfera,
provocando efeitos como a evaporação de água (formação de nuvens e chuvas),
ventos e correntes oceânicas. A superfície da Terra, ao absorver essa energia que
chega, irradia calor de volta para o espaço através de radiação infravermelho, com
comprimentos de ondas bem maiores do que a radiação ultravioleta, daí a maior
dificuldade da energia sair da atmosfera do que entrar. Ou seja, por possuir
comprimento de onda menor, a energia que chega à Terra consegue entrar com maior
17
facilidade do que sair, já que fica retida pelos interstícios existentes entre os gases que
compõem a atmosfera. A radiação infravermelha então é capturada pelos GEEs que
se aquecem e aumentam a temperatura do ar.
A forma em que está composto atualmente o sistema Terra – Atmosfera deve
se manter em equilíbrio, de modo que toda a energia que entra seja igual a emitida de
volta para o espaço, caracterizando assim o balanço energético. De toda a radiação
solar que atinge a Terra, 30% é refletida antes de atingir o solo e 70% é absorvida e
convertida em calor.
A troca de energia entre a superfície e a atmosfera mantém as atuais
condições, que proporcionam uma temperatura média global, próxima à superfície, de
14ºC, pois, se não existissem naturalmente, a temperatura média do planeta seria
muito baixa, da ordem de 18ºC negativos (MMA, 2013, apud Machado, 2013).
Contudo, se houver um aumento da concentração de CO2 poderá ocorrer um aumento
do efeito estufa e, portanto, sairá menos radiação do que entra. Essa diferença
causará o aquecimento da baixa atmosfera, aumentando a temperatura média da
Terra e causando possíveis desequilíbrios ambientais.
As concentrações atmosféricas globais de CO2, CH4 e N2O aumentaram
acentuadamente como resultado das atividades humanas desde 1750 e hoje excedem
em muito os valores pré-industriais determinados a partir de amostras de gelo que
abrangem muitos milhares de anos. Os aumentos globais na concentração de CO2 são
consequência principalmente das emissões pelo uso de combustíveis fósseis e
mudanças no uso da terra, enquanto os de CH4 e N2O são principalmente atribuídos à
agricultura (IPCC, 2007, apud Machado, 2013).
Tal agravamento do efeito estufa desestabiliza o equilíbrio energético do planeta e
gera o fenômeno conhecido como aquecimento global. Sendo assim, aquecimento
18
global é um problema climático que designa o aumento das temperaturas médias do
planeta ao longo dos últimos tempos, devido a intensificação do efeito estufa.
As principais causas do aquecimento global estão relacionadas com as práticas
humanas realizadas de maneira não sustentável, ou seja, sem garantir a existência
dos recursos e do meio ambiente para as gerações futuras. Assim, formas de
degradação ao meio natural como a poluição, as queimadas e o desmatamento
estariam na lista dos principais elementos causadores desse problema climático.
De maneira geral, a comunidade mundial já aceitou que a influência antrópica
sobre o aquecimento global é uma realidade e que é responsabilidade de todos
contribuírem para a redução de seus impactos negativos. Sob o ponto de vista oficial,
para o principal órgão responsável pela sistematização e divulgação de estudos
relacionados com o aquecimento global (IPCC), é mais do que comprovada a série de
mudanças climáticas ocorridas nos últimos tempos e a participação do ser humano
nesse processo.
Caso não haja um retrocesso na emissão de gases, o fenômeno do
aquecimento global ocasionará em uma infinidade de modificações no espaço natural
e, automaticamente, na vida do homem. Dentre as possíveis alterações, as principais
são: mudanças climáticas drásticas, onde lugares de temperaturas extremamente frias
sofrem elevações e áreas úmidas enfrentam períodos de estiagem; o fenômeno pode
levar áreas cultiváveis e férteis a entrar em um processo de desertificação; aumento
significativo na incidência de grandes tempestades, furacões ou tufões e tornados;
perda de espécies da fauna e flora em distintos domínios naturais do planeta;
contribuir para o derretimento das calotas de gelo localizadas nos polos e,
consequentemente, provocar uma elevação global nos níveis dos oceanos.
19
2.3
O Carbono e as Emissões de CO2
2.3.1 Ciclo do Carbono
O carbono é um elemento químico de grande importância para os seres vivos,
pois participa da composição química de todos os componentes orgânicos e de uma
grande parcela dos inorgânicos. O carbono utilizado primariamente pelos seres vivos
está presente no ambiente, combinado ao oxigênio e formando as moléculas de gás
carbônico presentes na atmosfera ou dissolvidas nas águas dos mares, oceanos, rios
e lagos. É encontrado sob as formas de: diamante, grafite, carvão, hulha, antracito,
óxidos, dióxidos, hidratos.
Removido da atmosfera pela fotossíntese, o carbono do CO2 é incorporado aos
seres vivos quando os vegetais, utilizando o CO2 do ar, ou os carbonatos e
bicarbonatos dissolvidos na água, realizam a fotossíntese. Assim, o carbono desses
compostos é utilizado na síntese de compostos orgânicos, que vão suprir os seres
vivos. Da mesma maneira, as bactérias que realizam quimiossíntese fabricam suas
substâncias orgânicas a partir do CO2. Os compostos orgânicos mais comumente
formados são os açúcares (carboidratos), mas além deles, as plantas são capazes de
produzir proteínas, lipídeos e ceras em geral (ROSA et al., 2003).
O ciclo do carbono (Figura 7), pelas plantas, pode seguir diferentes caminhos:
pela respiração, através do qual é devolvido na forma de CO2; repassado para os
animais superiores via cadeia alimentar; pela morte e decomposição dos vegetais,
volta a ser CO2; absorvido pelas plantas e convertido em açúcar, pelo processo de
fotossíntese.
Em relação aos animais, o carbono é adquirido de forma direta ou indireta, do
reino vegetal durante a sua alimentação. Assim, os animais herbívoros recebem dos
vegetais os compostos orgânicos e, através do seu metabolismo, são capazes de
20
sintetizar e até transformá-los em novos tipos de produtos. O mesmo ocorre com os
animais carnívoros, que se alimentam dos herbívoros e assim sucessivamente.
Figura 7: Os diferentes caminhos do Ciclo do Carbono (http://claudioauer.blogspot.com.br/2013/05/ciclodo-carbono.html, agosto 2015).
O ciclo do carbono (Figura 7), para os animais, assim como os das plantas,
também pode seguir diferentes caminhos: pela respiração é devolvido na forma de
CO2; passagem para outro animal via nutrição; pela morte e decomposição dos
animais, volta a ser CO2; os animais comem as plantas e ao decomporem os açúcares
liberam carbono na atmosfera, oceanos e solo (ROSA et al., 2003).
Outro mecanismo de retorno do carbono ao ambiente é por intermédio da
combustão de combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel, gás natural). Outra forma é
a troca entre os oceanos e a atmosfera, que acontece em ambos os sentidos na
interação entre o ar e a água. Além desses, o desmatamento e a queima de florestas
são outras formas de devolução, nos quais acarretam sérios danos ao ambiente,
ocasionando grandes variações no ecossistema do planeta.
21
2.3.2 Liberação do CO2
O gás carbônico existente na atmosfera é essencialmente originado pelo
processo de respiração (79%). Pode ser gerado pela queima de materiais orgânicos,
combustíveis fósseis (gasolina, querosene, óleo diesel, etc) ou não (álcool, óleos
vegetais). Pode ainda ser resultado da atividade vulcânica. Os solos ricos em matéria
orgânica em decomposição (pântanos) apresentam grande concentração de CO2.
Segundo Agopyan e Jhon, (2012) a atividade humana no planeta tem como
resultado o aumento da concentração de gases como o CO2, CH4 e N2O, gases esses
que reduzem a transparência da atmosfera para a dissipação da energia emitida na
Terra. Medidas da concentração de CO2 no ar preso em geleiras formadas há
centenas de milhares de anos (cuja idade é tratada como carbono 14, a partir dos
fósseis orgânicos presentes) mostram que, após o início da revolução industrial, por
volta de 1750, a concentração desse gás começou a subir rapidamente, como
demonstrado na Figura 8.
Figura 8: Evolução da concentração de CO2 na atmosfera (Fonte: IPCC, 2007).
O IPCC apresenta em seu Quarto Relatório em evidências paleoclimáticas
(largura de anéis de árvores, investigação em concentração de gases dentro de blocos
22
de gelo) que o aquecimento global é anormal considerando os últimos 13.000 anos. As
áreas atingidas pelos círculos polares somente estiveram mais quentes em períodos
anteriores a 125x103 anos. O documento do IPCC ainda aponta que, caso ocorra o
derretimento de todo o volume de gelo polar, haveria um aumento de 4 a 6 metros do
nível do mar (ONU, 2007a apud LOBO, 2010).
O Relatório apontou ainda que a concentração de dióxido de carbono aumenta
de 280ppm pré-industrial para 379ppm em 2005. Os valores medidos para 2005
ultrapassam significativamente a faixa natural de concentração atmosférica desde os
650.000 últimos anos, que variou entre 180ppm a 300ppm. Apesar das alterações de
crescimento anual das concentrações de CO2, a taxa anual de crescimento da
concentração de dióxido de carbono foi maior nos dez anos (1995-2005 média: 1,9
ppm por ano) do que foi desde o começo da medição contínua e direta da atmosfera
entre 1960 a 2005 a média de 1,4 ppm por ano (ONU, 2007a apud LOBO, 2010).
Segundo Agopyan e Jhon (2012) a principal fonte de emissão desses gases é
a através da liberação para a atmosfera de carbono que estava preso na crosta
terrestre, pela queima de combustíveis fósseis, como carvão mineral ou petróleo, a
queima ou apodrecimento de florestas nativas e o manejo do solo.
Além desses, vários outros processos geram a liberação do Carbono, tais como: a
destruição de matas nativas que durante seu processo de formação fixaram carbono
na forma de biomassa, bem como outras mudanças no uso do solo; a decomposição
de carbonatos, especialmente do calcário (CaO.CO2), sendo o dióxido de carbono
44% da massa total de calcário, que ocorre principalmente nos fornos de cimento, de
aço e de cal; o metano (CH4) tem como principais fontes a decomposição de matéria
orgânica em aterros sanitários; o tratamento de esgotos; a produção, o processamento
e a queima de combustíveis; o óxido nitroso (N20) advindo de atividades agrícolas, na
queima de combustíveis, inclusive a madeira (AGOPYAN e JHON, 2012).
23
O gás carbônico presente na atmosfera é importante componente do efeito estufa,
como já mencionado ao longo deste trabalho. Desse modo, a questão preocupante é a
intensificação do efeito estufa em relação aos níveis atuais. O CO2 tem causado
polêmica quanto à quantidade emitida e principal local e fontes de emissão, além da
necessidade de se controlar tais emissões. Isso ocorre devido ao aumento de sua
concentração na atmosfera (cerca de 0,5% ao ano) e seu tempo de vida na atmosfera,
que é de até 200 anos.
Assim, a necessidade de estabelecimento de protocolos de controle de emissões
de gases estufa é incontestável, como exemplo o Protocolo de Kyoto, pois a gradual
intensificação de emissão desses gases causa um grande risco e graves
consequências para toda humanidade.
2.4
O Protocolo de Kyoto
Furacões, ciclones, tufões, tsunamis, ondas de calor, tempestades, enchentes,
famílias desabrigadas, casas destruídas, mortes, doenças, mudanças climáticas, são
alguns dos repetidos eventos ao redor do mundo que vem acontecendo nas últimas
décadas. Grande parte desses acontecimentos é resultado do aquecimento global e
do efeito estufa causados pelas ações humanas, que colocam em risco não só as
gerações futuras, como também os animais e a natureza.
Com todo esse cenário é preciso que haja mudança nos hábitos dos indivíduos.
Empresas, indústrias e governos, além de influentes, possuem papel fundamental no
processo de fiscalizar, mobilizar, tomarem medidas mitigadoras e conscientizar a
todos para o bem comum.
Finalmente, na década de 1980, as evidências científicas relacionando as
emissões de gases de efeito estufa causadas por atividades antrópicas com o
aquecimento global, começaram a despertar o interesse público para o problema das
24
mudanças no clima e suas futuras implicações no planeta Terra. Assim, devido à
preocupação com as questões ambientais globais, a mudança climática foi introduzida
na agenda política mundial e este tema vem assumindo um papel central nos últimos
tempos.
Em junho de 1988, em Toronto no Canadá realizou-se a Conferência Mundial
sobre Mudanças Atmosférica, que dentre outros aspectos, estabeleceu o Painel
Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), que em 1990 publicou o seu
Primeiro Relatório de Avaliação, afirmando que a mudança climática representaria
uma ameaça a humanidade. Cinco anos depois no seu Segundo Relatório de
Avaliação, o IPCC, sugere evidências que indicam uma nítida influência do homem
sobre o clima.
Em 1992, ocorre a aprovação do texto da Convenção-Quadro das Nações
Unidas sobre Mudança Climática e Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento (CQNUMC), que foi aberta às assinaturas de todos os
chefes de estado presentes durante a Cúpula da Terra no Rio de Janeiro, conhecida
como Eco 92, onde na ocasião, 154 países (mais União Europeia) assinaram a
Convenção.
Com base no princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, a
Convenção estabeleceu compromissos distintos para cada grupo de países, seguindo
a noção de que, somente por meio da cooperação internacional, poderá ser resolvido
um problema da magnitude do aquecimento global. Este princípio se baseia ainda nas
condições socioeconômicas dos diversos países e seus níveis de desenvolvimento,
nos quais irão refletir diretamente nas emissões de GEEs na atmosfera, sendo esses
alvos de ações mais radicais e imediatas para amenizar o problema.
Desse modo, foram divididos dois grupos: o primeiro denominado países Partes
Anexo I, composto pelos países pertencentes em 1992 à OCDE – Organização para a
25
Cooperação e Desenvolvimento Econômico e também pelas antigas repúblicas
socialistas da União Soviética. O segundo grupo denominado países Partes nãoAnexo I, agrega os países em desenvolvimento, que não possuem compromissos de
redução, mas ficam obrigados a elaborarem inventários nacionais de emissões de
carbono.
Assim, foi estabelecido que os países do chamado Anexo I, deveriam adotar
políticas e medidas de mitigação capazes de fazer com que seus níveis de emissão
antrópica de GEEs retornassem aos níveis de 1990. Esta Convenção não determina
como atingir este objetivo, mas estabelece mecanismos que possibilitem negociações
em torno dos instrumentos necessários para que ele seja alcançado.
Infelizmente, este compromisso assumido pelos países do Anexo I não foi
honrado, correndo inclusive em alguns países um crescimento das emissões de CO2.
Com base no princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, só foi
definido na Terceira Conferência das Partes (COP 3), realizado na cidade de Kyoto em
1997, no Japão, um protocolo ou outro instrumento legal, com metas quantitativas de
redução de GEEs (PEREIRA, 2003, apud MACHADO, 2006).
O documento denominado de Protocolo de Kyoto foi aprovado, contando com
representantes de 159 nações, que culminou na adoção por consenso, deste protocolo
que ficou como um dos marcos mais importante desde a criação da CQNUMC no
combate à mudança climática. O Protocolo lista os seis GEEs que, por serem os mais
importantes relacionados a atividades humanas, terão metas quantificadas de redução
de emissões, são eles: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O),
hidrofluorcarbonos (HFCs), perfluorcarbonos (PFCs) e hexafluoreto de enxofre (SF6) –
com destaque para o dióxido de carbono (CO2).
Estes compromissos foram estabelecidos de forma diferenciada às partes do
Anexo I (como um leilão, no qual cada país ofereceu suas metas – vide Tabela 1),
26
utilizando como base o ano de 1990 e estão compreendidos em intervalos que variam
entre uma redução de 8% e um aumento de 10% das emissões dos gases listados metas que devem ser atingidas entre 2008 e 2012 (PEREIRA, 2003, apud MACHADO,
2006). Países em franco desenvolvimento como Brasil, México, Argentina, Índia e,
principalmente, China, não receberam metas de redução, no momento descrito.
Tabela 1: Anexo B do Protocolo de Kyoto - Compromissos quantificados de limitação ou redução de
emissões, base 1990
(Fonte: MACHADO et al., 2006)
O Protocolo de Kyoto, com intuito de ajudar os países pertencentes ao Anexo I a
cumprirem suas metas, estabeleceu os chamados mecanismos de flexibilidade com
objetivo de permitir maior eficiência econômica na mitigação do efeito estufa.
São três os mecanismos criados (CHANG; 2003, apud MACHADO, 2006): a
Implementação Conjunta, que permite maior flexibilidade aos países do Anexo I para
investirem entre si no cumprimento de seus compromissos de redução; o Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL), que permite aos países industrializados financiar
projetos que ajudem na redução de emissão em países em desenvolvimento e receber
créditos, de maneira a cumprir o seu compromisso de redução de emissão; o Mercado
Internacional das Emissões, que possibilita aos países do Anexo I comercializarem
27
entre si as quotas de emissão e os adquiridos através do MDL em países em
desenvolvimento.
Dos três, apenas o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) refere-se
diretamente aos países em desenvolvimento, no qual consiste no financiamento de
projetos que possam gerar reduções certificadas de emissão, permitindo a
transferência de recursos financeiros e tecnologia para os países em desenvolvimento
e a posteriori, a contabilização do crédito pela redução da emissão de GEEs para os
Estados responsáveis pela transferência destes recursos.
Vale ressaltar que o objetivo destes de flexibilização é ajudar as partes a
cumprirem as metas e, portanto, são às ações domésticas, ou seja, somente uma
parte das reduções de emissões de GEEs quantificadas no Protocolo de Kyoto pode
ser alcançada pelo uso desses mecanismos.
Em 2012, ano de expiração do primeiro acordo do Protocolo de Kyoto, ocorreu
em Doha, no Catar, a 18ª Conferência das Partes (COP 18) na Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, com o objetivo de prorrogar a validade
do Protocolo até 2020. No entanto, Japão, Rússia, Canadá e Nova Zelândia se
recusaram a assiná-lo porque queriam que países emergentes como a Índia, a China e o
Brasil também tivessem metas a cumprir, o que não é previsto pelo documento.
Os Estados Unidos assinaram, mas nunca ratificaram o Protocolo de Kyoto. Dessa
forma, o grupo comprometido com as metas do protocolo se reduz a 36 países: Austrália,
Noruega, Suíça, Ucrânia e todos os integrantes da União Europeia. Juntos, eles
respondem por apenas cerca de 15% do total de emissões de gases estufa de todo o
mundo.
Em dezembro de 2015, líderes mundiais, diplomatas e corporações se reunirão
na capital francesa durante a Convenção do Clima das Nações Unidas, a COP21, para
definir o tamanho do esforço que cada país deverá empreender para reduzir as
28
emissões de carbono e se adaptar ao aquecimento global, a partir de 2020. O maior
desafio dos negociadores será incluir os dois maiores poluidores do planeta, a China e os
Estados Unidos.
Em 2015 completou 10 anos da entrada em vigor do acordo mundial que visa
reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Porém, segundo pesquisadores o acordo
não atingiu seus objetivos iniciais, pois entre os anos de 2005 e 2012 houve um
aumento da emissão mundial destes gases.
Por outro lado, especialistas em clima afirmam que o pacto gerou alguns
benefícios. Estes estudiosos dizem que se não houvesse o Protocolo de Kyoto, a
emissão de gases do efeito estufa teria sido muito maior, aumentando os efeitos
nocivos do aquecimento global no planeta. O Protocolo também foi benéfico no
sentido de incentivar a adoção de medidas governamentais práticas como o objetivo
de diminuir os impactos climáticos negativos. Também foi positivo, pois alertou a
população mundial para o problema das mudanças climáticas, além de estimular o uso
de fontes de energia limpa (eólica e solar). O maior desafio ainda está em
conscientizar e mobilizar todos os países participarem de acordos e para assim
diminuírem suas emissões.
29
3
3.1
Construção Civil e Poluição
Principais Emissões pela Construção Civil
A indústria da construção civil é muito importante no cenário industrial mundial, e
claro brasileiro, não só pela grande quantidade de recursos financeiros que movimenta
e na geração de empregos, mas pelo grande volume de energia e recursos naturais
que utiliza. É notório, o papel fundamental que o setor tem no desenvolvimento do
país, e seu papel essencial para o atendimento dos objetivos globais do
desenvolvimento sustentável.
A indústria da construção é uma das atividades humanas que mais consome
recursos naturais, sendo um dos setores da economia que mais gera impacto sobre o
meio ambiente. Estima-se internacionalmente que entre 50% e 75% dos recursos
naturais existentes são consumidos por esse setor, com responsabilidade por grande
parte dos resíduos, consumo de energia e emissões atmosféricas produzidas (LAERA,
2012).
O impacto ambiental da Construção Civil depende de toda uma enorme cadeia
produtiva: extração de matérias-primas; produção e transporte de materiais e
componentes; concepção e projetos; execução (construção), práticas de uso e
manutenção e, ao final da vida útil, a demolição/desmontagem, além da destinação de
resíduos gerados ao longo da vida útil (AGOPYAN e JOHN, 2011).
As emissões de gases de efeito estufa provenientes da construção civil estão
associadas, principalmente, aos processos industriais como: uso de energia durante o
ciclo de vida do edifício, aos oriundos da extração das matérias-primas dos materiais
de construção no processo de fabricação, da construção de edifícios, uso e operação
do edifício, disposição final dos resíduos e no transporte de materiais (BESSA, 2010
apud FLIZIKOWSKI, 2012).
30
A cadeia produtiva de matérias e componentes de construção, isoladamente,
tem impacto significativo que precisa ser mitigado, tendo um peso grande em termos
de emissões de carbono. A gama de produtos ofertados limita as opções para
projetistas e consumidores, influenciando no impacto ambiental de edifícios e obras ao
longo do seu ciclo de vida.
Na indústria da construção civil, o setor de produção de cimento é citado como
responsável por 2% (SOARES, 1998) a 7% (TOLEDO FILHO; REGO, 2002) de todas
as emissões de CO2. Nas obras civis o concreto é o elemento mais utilizado, sendo o
material mais consumido pela humanidade após a água (ISAIA e GASTALDINI, 2004).
Em relação ao consumo de energia, as emissões de CO2 das indústrias de construção
correspondem, nas cidades europeias, a aproximadamente 30% do total de emissões
(BARBOSA et al., 2003 apud LAERA, 2012).
Além do consumo de grande quantidade de recursos naturais não renováveis, a
construção civil, no modelo atual, é responsável também pela produção de resíduos e
desperdício de grande parte desses recursos ao longo do processo de produção.
Estima-se que os resíduos da construção e demolição representam mais de 50% da
massa de resíduos sólidos urbanos (JOHN, 2000 apud LAERA, 2012).
Estudos da indústria de construção na Bélgica, elaborados pelo IDD,
demonstram que os materiais de construção, cimento, cal, aço (ferro), areia e brita
(retirada e transporte), cerâmica vermelha e PVC, são os que apresentam maiores
índices de emissões dos gases causadores do efeito estufa. De acordo ainda com o
IDD, o concreto apresenta a maior quantidade de emissão de CO2 para os principais
materiais de construção utilizados em uma residência (LAERA, 2012).
31
3.1.1 Produção de Materiais na Construção
No processo de produção dos materiais, podem ocorrer três principais fatores
de emissões de gases do efeito estufa tais como: a decomposição do calcário no
processo de calcinação, o uso de combustível fóssil na produção e transporte de
materiais até o destino final.
A maior parte dos materiais industrializados passa pelo processo de
calcinação, nome dado a reação química de decomposição térmica, usada para
transformar o calcário (CaCO3) em cal virgem (CaO), liberando gás carbônico (CO2).
Materiais cerâmicos, cimento, aço, vidro, alumínio são alguns exemplos dos materiais
mais utilizados pela construção civil, nos quais passam pelo processo de calcinação.
Normalmente, para o alcance das altas temperaturas, são utilizados derivados
do petróleo e o carvão mineral, energia fóssil não renovável. Para algumas situações,
também é utilizado a lenha obtida através do desmatamento. Em todos os casos, o
combustível utilizado emite e aumenta a concentração de CO2 na atmosfera.
A decomposição do calcário em altos fornos a altas temperaturas é uma fonte
importante de CO2 para a Construção Civil. Cada tonelada de calcária libera 440 kg de
CO2 e gera apenas 560 kg de material. Materiais vitais para a construção, como o
cimento, o aço e a cal hidratada dependem desse processo. Em consequência, o
cimento – material artificial de maior consumo no mundo – é responsável por,
aproximadamente, 5% das emissões de CO2 antropogênico (AGOPYAN e JOHN,
2011).
Radicchi (2002) salienta que o principal material para construção e segundo
produto mais vendido no mundo é o cimento. Mas a utilização desse material gera um
grande impacto ambiental em todo seu ciclo de vida. A indústria de cimento é
responsável por 7% de emissão de gás carbônico na atmosfera, só no Brasil são
lançados 22,8 milhões de toneladas por ano (SOUZA, 2014).
32
Os impactos ambientais gerados pela produção do cimento começam na sua
extração, no processo de mineração da rocha calcária, prejudicando o ecossistema
local. Pela queima desse material no processo de calcinação, liberando o gás
carbônico que é um dos principais causadores do efeito estufa. E no transporte do
cimento, que é feito geralmente por caminhões que consomem quantidades elevadas
de combustíveis, como a gasolina e o óleo diesel (AMDA, 2011 apud SOUZA 2014).
Componentes cerâmicos também são consumidos em grandes escalas pelo
setor da construção. Durante sua produção, o processo envolve a calcinação da argila,
onde há consumo de energia térmica e elétrica, gerando emissões de CO2 e consumo
de água. Loyola (2010) salienta que o principal problema deste sistema produtivo é a
degradação de áreas causada pela extração de argila ilegal e seu posterior abandono
após o esgotamento da jazida. Segundo o autor a extração ilegal é um fator agravante
devido à mão de obra não qualificada para uma boa lavra (SOUZA, 2014). O setor é
altamente informal e dados estatísticos são escassos. O Inventário nacional estima
que as emissões diretas de CO2 devidas as queimas de combustível fósseis do setor
cerâmico representem cerca de 0,25% das emissões nacionais totais, ou pouco mais
de 1% excetuadas as relativas mudanças do uso do solo e florestas (AGOPYAN e
JOHN, 2011).
A transformação do minério de ferro em aço é realizada a partir da indústria
siderúrgica, de maneira que o minério possa ser usado comercialmente. O minério
(FeO) é aquecido em fornos especiais conhecidos como altos fornos, em presença de
carbono (sob a forma de coque ou carvão vegetal) e de fundentes que são
adicionados para auxiliar a produzir a escória, que, por sua vez, é formada de
materiais indesejáveis ao processo de fabricação.
O objetivo desta primeira etapa é reduzir ao máximo o teor de oxigênio da
composição FeO. A partir disso, obtém se o ferro-gusa. O aço, por fim, será o
33
resultado da descarbonatação do ferro gusa, ou seja, é produzido a partir deste,
controlando-se o teor de carbono para no máximo 2%. A partir desse processo formase então uma liga metálica constituída basicamente de ferro e carbono (FERRAZ,
2003 apud SOUZA 2014).
O setor siderúrgico provoca grandes impactos de poluição atmosférica. Emite
uma série de óxidos de enxofre (SOx), gás sulfídrico (H2S), óxidos de nitrogênio (NOx),
monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), etano (C2H6),
material particulado e diferentes hidrocarbonetos orgânicos, como o benzeno.
Ressaltando que o CO2 e CH4 contribuem para o aumento da quantidade de carbono
na atmosfera e, resultando em mudanças climáticas (MILANEZ; PORTO, 2008 apud
SOUZA 2014).
O aço é responsável globalmente por algo entre 6 e 7% das emissões de CO2,
mas apenas uma parcela é destinada para a Construção Civil. O IPCC estima que, em
média, o aço brasileiro emita 1,25t CO2/t de produto, valor mais baixo do relatório, fato
atribuído a grande participação da aciaria de arco elétrico, que ao reciclar sucata,
utilizando a energia elétrica limpa, apresenta emissões de CO2 até 50% inferiores à
produção via alto-forno e aciaria (AGOPYAN e JOHN, 2011). Os aços para o concreto
armado no Brasil são produzidos quase que exclusivamente em aciaria de arco
elétrico, usando elevado teor de sucata e energia limpa, que apresentam emissões
significativamente menores.
3.1.2 Transporte de Materiais e Resíduos
O sistema de transporte está relacionado diretamente com o crescimento do
setor econômico, no qual estimula o mercado de movimentação de cargas e
passageiros, acarretando no aumento das emissões atmosféricas. Uma importante
parcela dessas emissões está associada a necessidade de deslocamento de materiais
e resíduos gerados pela construção, pois estes representam uma grande fração do
34
fluxo de materiais. Muitos produtos da construção são transportados em longas
distâncias por rodovias, utilizando o diesel como principal combustível.
As crescentes taxas de urbanização, a deficiência de políticas públicas de
transporte em massa, a retomada do crescimento econômico, inclusive com incentivos
à produção e consumo de veículos, tem implicado em um aumento expressivo da
motorização individual (automóveis e motociclos) e apontam para cenários futuros de
forte expansão dessa frota.
O mesmo vale para a frota de veículos pesados, cuja logística baseada
prioritariamente no transporte por caminhões, relega os planos de menor expressão
modais como o ferroviário e o aquaviário, nos quais são de grande eficiência na
distribuição de mercadorias e bens em um país com dimensões continentais como o
Brasil.
Figura 9: Porcentual relativo da participação dos diferentes modais no transporte de cargas no Brasil
(Fonte: www.mma.gov.br, 2015).
A movimentação de cargas no país ainda é prioritariamente dependente do
transporte rodoviário, como mostra a Figura 9. Mesmo que os números tenham
pequenas diferenças entre si, a participação porcentual do transporte rodoviário está
35
entre 61,1% (ANTT, 2006) e 59%, segundo o Ministério dos Transportes em seu PNLT
- Plano Nacional de Logística de Transportes. Para ambas as instituições o modal
ferroviário contribui com algo entre 20,7 e 24% da carga transportada, contra cerca de
13% do hidroviário, 4% do dutoviário e 0,4% do aeroviário, como mostrado na figura 9
acima. (http://www.mma.gov.br, 2015).
O crescente aumento da frota no país e as condições precárias de sua
manutenção evidenciam a problemática nos níveis de emissão de gases agravantes
da poluição. Os principais poluentes veiculares são: o monóxido de carbono (CO),
óxidos de nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos (HC), material particulado (MP), aldeídos
(CHO), óxidos de enxofre (SOx) e compostos de chumbo (Pb). Também se deve
considerar o dióxido de carbono (CO2) que, embora não seja considerado um poluente
devido à sua baixa toxidade, deve ser levado em consideração, pois compõe os gases
que contribuem para o efeito estufa.
3.1.3 Uso dos Edifícios
São vários os aspectos ambientais identificados durante o ciclo de vida de um
edifício, cujo impacto ambiental é a poluição. A interação do empreendimento com o
meio ambiente ocorre em momentos distintos de sua existência e envolve diferentes
agentes e etapas da cadeia produtiva (DEGANI e CARDOSO, 2002): começando pelo
Planejamento, fase inicial onde são feitos estudos de viabilidade física, econômica e
financeira, e a elaboração do projeto e especificações; a Implantação é a fase da
construção, produção do produto edifício; na fase de Uso ocorre a operação do
empreendimento, já ocupado pelos seus usuários; na fase de Manutenção ocorre
necessidade de reposição de componentes, correção de falhas de execução e
patologias, ou ainda a modernização do edifício; e por fim, a fase de Demolição onde o
edifício será inutilizado, ocorrendo o processo de desmonte.
36
Segundo a NBR ISO 14001:1996, aspecto ambiental é o elemento das
atividades, produtos ou serviços de uma organização que pode interagir com o meio
ambiente. Impacto ambiental é qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou
benéfica, que resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de
uma organização. Complementando, segundo a NBR ISO 14004:1996: A relação entre
aspectos ambientais e impactos é uma relação de causa e efeito. Um impacto
ambiental se refere à alteração que ocorre no meio ambiente como um resultado do
aspecto (DEGANI e CARDOSO, 2002).
Quadro 2: Principais impactos ambientais para o meio Físico, Biótico e Socioeconômico
Fonte: autor, adaptado (DEGANI e CARDOSO, 2002)
Analisando as atividades presentes para todas as fases do ciclo de vida dos
edifícios residenciais, foram avaliados os efeitos diretos sobre o meio ambiente e
37
identificados três significativos impactos ambientais: impacto no meio físico, impacto
no meio biótico e impacto no meio sócio econômico, segundo (DEGANI e CARDOSO,
2002), como listados no Quadro 2.
Quanto a poluição, é de extrema importância a atmosférica, na qual pode ser
observada nas diferentes fases: a emissão de materiais particulado respirável nas
fases de implantação e demolição; emissão de CO2 e CFC provenientes das possíveis
ocorrências de incêndios, perfurações de equipamentos e alguns utensílios
domésticos nas fases de uso, manutenção e demolição; e poluição sonora nas fases
de implantação, manutenção e demolição, causando desconforto à comunidade
vizinha. Na fase do uso do edifício, acontece a poluição do ar interior, pois gera a
criação de ambientes internos poluídos pelo condicionamento do ar, das atividades
relacionadas ao uso e da operação de equipamentos e produtos de limpeza, poeira,
dentre outros (DEGANI e CARDOSO, 2002).
Estima-se que, em nível global, o uso dos edifícios seja responsável por 25%
das emissões de CO2, incluindo as emissões diretas - queima de combustíveis fósseis
para fins de condicionamento ambiental, e indiretas - emissões associadas à
eletricidade adquirida por terceiros.
No entanto, as questões locais são determinantes da contribuição do uso do
edifício para a emissão de CO2. O grau de difusão de sistemas de condicionamento
ambiental artificial – seja aquecimento ou refrigeração (fatores associados não
somente ao clima, mas também a condições de renda), práticas construtivas e
aspectos culturais, bem como a natureza dos combustíveis utilizados em cada região,
são fatores que influenciam (AGOPYAN e JOHN, 2011).
A matriz energética utilizada para a geração de eletricidade é determinante no
que diz respeito às emissões de GEEs, dados de um estudo publicado em 2003,
38
comparam as emissões da cadeia completa dos diferentes sistemas de geração de
eletricidade por tipo de fonte, assim resumidas na Figura 10.
Figura 10: Emissões GEEs por fonte de geração, no Brasil (www.brasil-economia-governo.org.br/, 2015).
No consumo de energia elétrica, a Construção Civil influência nos aspectos
relativos à iluminação, condicionamento ambiental (ventilação, aquecimento elétrico e
ar condicionado), aquecimento de água e operação de equipamentos (elevadores,
aparelhos domésticos, aquecedores de água).
Tabela 2: Consumo de eletricidade nas diferentes regiões brasileiras
Fonte: autor, adaptado (AGOPYAN e JOHN, 2011)
Na Tabela 2 observa-se o potencial de contribuição do setor que depende muito
das características regionais de consumo de energia. A parcela da Construção
mostrada na tabela é a soma de água quente, iluminação e ar condicionado.
39
Segundo Agopyan e John (2012), espera-se que o consumo de eletricidade
pelos edifícios brasileiros dobre até o ano de 2030; simultaneamente, que a geração
de eletricidade a partir da biomassa cresça 7% ao ano, o que multiplicaria por 5 a
intensidade de CO2 da eletricidade, aumentando as emissões globais do setor elétrico
por um fator de 10.
Nos dias de hoje, existe uma tendência de movimentação de setor de projetos
em direção à melhoria do desempenho do edifício quanto à sustentabilidade. Investir
na fase de planejamento de um projeto é fundamental para a elaboração de um
edifício, pois não prevê um acréscimo no seu custo, e sim um desenho apurado
que garanta seu melhor desempenho (térmico, acústico, iluminação), sendo essas
ações mais baratas e de maior eficácia para o meio ambiente e a sociedade.
3.2
Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG)
No início de 1998, diferentes entidades se reuniram com o objetivo de
desenvolver normas internacionais de monitoramento e comunicação de emissões de
GEEs e de promovê-las globalmente de forma a incentivar a adoção dessas medidas
uniformemente.
A parceria de negócios entre diferentes organizações
não
governamentais (ONGs), governos e outras entidades, reunidos pelo World Resources
Institute (WRI) e o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD),
promoveu a iniciativa de Protocolo de Gases de Efeito Estufa conhecido mundialmente
como Greenhouse Gas Protocol Initiative – GHG (FLIZIKOWSKI, 2012).
Diversos relatórios corporativos têm sido desenvolvidos pelo GHG com diretrizes
de quantificação de emissões, nas quais são apresentadas para empresas e para
todos os tipos de organização que queiram inventariar as suas emissões de GEEs. De
acordo com o GHG, as Normas Corporativas de Transparência e Contabilização do
Protocolo de Gases de Efeito Estufa do Greenhouse Gas Protocol Initiative foram
40
criadas dentro de uma perspectiva de negócio para o desenvolvimento de inventários
de emissões de GEEs.
Segundo (FLIZIKOWSKI, 2012), as normas constantes nesse processo visam a:
(a) Ajudar empresas, instituições e órgãos a preparar seu inventário GEEs que
represente um registro justo e verdadeiro das suas emissões, por meio da utilização
de princípios e abordagens padronizadas; (b) Simplificar e reduzir os custos da
compilação de um inventário de GEEs; (c) Fornecer informações necessárias para a
construção de uma estratégia eficaz na gestão e redução das emissões de GEEs às
áreas de negócios; (d) Prestar informação necessária de maneira a facilitar a
participação em programas voluntários e obrigatórios de GEEs; (e) Aumentar a
conformidade e transparência dos registros e relatórios de GEEs, entre as várias
empresas e programas de GEEs.
Para que as metas sejam atingidas, conceitos e instruções extremamente
importantes devem ser considerados pelas corporações, de acordo com o Protocolo
de Efeito Estufa, baseando-se na relevância, integralidade, consistência, transparência
e exatidão.
De acordo com o GHG Protocol (2003), cinco passos básicos devem ser
seguidos para a elaboração de inventários corporativos, com o intuito de se alcançar
os objetivos: 1. Definição dos limites operacionais e organizacionais do inventário; 2.
Coleta de dados das atividades que resultam na emissão de GEEs; 3. Cálculo das
emissões; 4. Adoção de estratégias de gestão, como aumento de eficiência, projetos
para créditos de carbono, introdução de novas linhas de produtos, mudança de
fornecedor, entre outros; 5. Apresentação dos resultados.
O Protocolo ainda define alguns limites para a elaboração do inventário a serem
seguidos: (1) Limites Geográficos: o limite geográfico delimita o território onde as
emissões serão levantadas. (2) Limites Organizacionais: a organização pode ser
41
composta por uma ou mais instalações, e para efeitos de contabilidade de GEEs,
dependem da estrutura da empresa e do relacionamento com todas as partes
envolvidas. Ao definir os limites organizacionais a serem inventariados, define-se a
abordagem para a realização da quantificação de emissões de GEEs. (3) Limites
Operacionais: O
limite
operacional
vem
após
a
determinação dos
limites
organizacionais.
A empresa deverá estabelecer e documentar seus limites operacionais, o que
envolve a identificação das emissões associadas às suas operações, classificando-as
como emissões diretas ou indiretas e selecionando o escopo para contabilização e
elaboração do inventário de emissões, os quais são definidos como escopo 1, escopo
2 e escopo 3.
Figura 11 - Detalhamento dos 3 escopos do GHG Protocol (Programa Brasileiro de GHG Protocol).
Na Figura 11 podem ser observados os três escopos. Escopo 1: São as
emissões diretas de GEEs da própria empresa ou instituição (emissões físicas),
incluindo as emissões da queima de combustível, os processos de fabricação e o
transporte de propriedade da empresa. Escopo 2: Emissões de GEEs indiretas
líquidas a partir de importações e exportações de energia, como é o caso da
eletricidade. Escopo 3: contempla todas as outras fontes de emissão que possam ser
42
atribuíveis à ação da empresa. Exemplo disso é a inclusão de viagens de negócios de
funcionários e o transporte de produtos em veículos que não pertençam à empresa, a
terceirização de atividades centrais e atividades de disposição/gerenciamento de
resíduos (FLIZIKOWSKI, 2012).
Para estimular e implementar atividades de redução de emissões em um país, é
preciso que todos os setores da economia estejam engajados neste mesmo processo.
Assim, tanto os países como as instituições públicas e privadas precisam investir no
levantamento e conhecimento destes números e conhecer a origem dessas emissões
(GHG Protocol, 2003).
3.3
O Programa Brasileiro GHG Protocol
O Programa Brasileiro GHG Protocol tem como objetivo estimular a cultura
corporativa para a elaboração e publicação de inventários de emissões de gases do
efeito estufa, proporcionando aos participantes acesso a instrumentos e padrões de
qualidade internacional.
Em 2008, o método foi adaptado ao contexto nacional em uma parceria do Centro
de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), World Resources
Institute (WRI), Ministério do Meio Ambiente do Brasil, o Conselho Empresarial
Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e o World Business Council
for Sustainable Development (WBSCD) (FLIZIKOWSKI, 2012).
A aplicação do método GHG Protocol no Brasil acontece de forma adaptada ao
contexto nacional. O Programa Brasileiro organiza grupos de trabalho, junto às
empresas participantes, para o aperfeiçoamento do método e desenvolvimento de
novas ferramentas para a contabilização de emissões de GEEs de acordo com a
realidade brasileira.
43
Deste modo, o Programa Brasileiro GHG Protocol apoia empresas para realização
de seus inventários, incluindo os seguintes aspectos: contabilização, cálculo,
elaboração e publicação de relatório de GEEs em base voluntária; capacitação de
empresas e organizações na temática de inventários e temas correlatos; plataforma
web para divulgação pública dos inventários; espaço de intercâmbio de informações
entre instituições públicas e privadas e modelos de gestão.
Outras características dessa ferramenta destacam-se o seu caráter modular e
flexível, a neutralidade em termos de políticas ou programas e ainda o fato de ser
baseada em um amplo processo de consulta pública.
3.4
Compensação de Gases do Efeito Estufa
De acordo com o dicionário Houaiss, o termo neutralização é o ato de tornar algo
neutro, extinguir, anular, torná-lo inofensivo ou inativo. A palavra compensação, por
sua vez, entende-se como equilibrar, suprir falta de algo, contrabalançar-se
(HOUAISS, 2008 apud FLIZIKOWSKI, 2012).
O aumento do dióxido de carbono, um dos gases constituintes da atmosfera
responsáveis pelo aumento do efeito estufa e da temperatura global, tem sido uma
crescente preocupação de governantes, cientistas e da sociedade como um todo.
Este aumento de CO2 deve-se principalmente a atividades antropogênicas,
seguidas pela mudança do uso da terra, com redução da capacidade de
armazenamento de carbono na biomassa. O conceito de sequestro de carbono foi
consagrado pela Conferência de Kyoto, em 1997, com a finalidade de conter e reverter
o acúmulo de CO2 na atmosfera, visando a diminuição do efeito estufa.
44
3.4.1 O Sequestro de Carbono
O sequestro do carbono refere-se ao mecanismo de mitigação biológica das
árvores de absorver o CO2 do ar e fixá-lo em forma de matéria lenhosa. A forma mais
comum desse processo é naturalmente realizada pelas florestas, nas quais absorvem
grandes quantidades de CO2 presentes na atmosfera. Na fase de crescimento, as
plantas realizam a fotossíntese, processo que usa a energia da radiação solar (luz do
sol) para converter o CO2 e água em açúcares à base de carbono, como glicose. A
fotossíntese também libera oxigênio na atmosfera, que é necessário para a respiração
de do homem, das plantas e animais.
CO2 + H2O + Energia → Glicose (C6H12O6) +O2
(Eq. 1)
A fotossíntese é responsável por cerca de metade do carbono extraído da
atmosfera e a Figura 12 abaixo mostra um aspecto interessante de como a
fotossíntese afeta os níveis atmosféricos de CO2.
Figura 12: Curva de Keeling, concentrações de CO2 atmosféricos medidos em Mauna Loa, Havai Mauna
Loa Observatory (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ciclo_do_carbono, 2015).
Na Figura 12 observa-se o crescimento dos níveis de CO2 desde 1958. Esses
aumentos ocorrem durante o outono e o inverno no Hemisfério Norte, atingindo o pico
um pouco antes da primavera, onde as concentrações de CO2 diminuem durante a
45
primavera e o verão. Isso ocorre porque, durante a estação de plantio, as plantas
estão absorvendo mais CO2 do que liberando através da respiração.
As árvores decíduas (plantas que perdem suas folhas em determinada época do
ano) produzem folhas, e plantas sazonais, como o capim, que nascem. Durante o
outono e o inverno, o capim morre e essas árvores ficam inativas e deixam de
funcionar como sequestradoras de CO2, caracterizando as linhas onduladas do gráfico
da Figura 12. Já as plantas tropicais absorvem CO2 ao longo do ano. No Hemisfério
Sul, as estações são opostas. Porém, como o Hemisfério Norte tem uma área terrestre
muito maior, o efeito líquido mundial é que as plantas proporcionam um sequestro
maior de CO2 durante a primavera e o verão do que durante o outono e o inverno.
O gás carbônico absorvido pelas plantas tem dois destinos simultâneos: uma
parte fica retida no interior do vegetal, na forma de biomassa, alimentos ou fibras; e a
outra seria devolvida para atmosfera pelo processo da respiração. Neste sentido,
tecnologias que selecionem plantas com maior habilidade em sequestrar o carbono,
poderiam contribuir para reduzir a concentração deste gás na atmosfera. Como já
mencionado, o ciclo do carbono mostra que são diversos os contribuintes na emissão
de gás carbônico, e que somente através da fotossíntese ocorre absorção e o seu
aproveitamento na formação de biomassa, identificando as causas para o acúmulo de
carbono na atmosfera.
Portanto, é importante conceber a ideia de que o aumento das áreas de florestas
(principalmente as florestas tropicais) é essencial para o sequestro de carbono na
atmosfera, contribuindo assim, como uma medida mitigadora aos crescentes níveis de
emissão de CO2, sendo este o principal agravante do efeito estufa.
46
4
4.1
O Programa Carbono Neutro IDESAM
Apresentação do Programa Carbono Neutro IDESAM
Para melhor compreensão dos conceitos apresentados, foi escolhido como
estudo de caso o Programa Carbono Neutro realizado pelo IDESAM, um programa de
compensação das emissões de gases de efeito estufa, por meio da recomposição
florestal de áreas degradadas na Reserva do Uatumã, localizada na região do Estado
do Amazonas. O programa funciona através da implantação de Sistemas
Agroflorestais (SAFs), que possibilitam não só o sequestro de CO2 da atmosfera, mas
também uma série de benefícios socioambientais, como segurança alimentar e
geração de renda para os moradores da reserva.
Figura 13: IDESAM e o Programa Carbono Neutro (Fonte: http://www.idesam.org.br/, 2015)
O IDESAM, Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do
Amazonas, é uma organização não governamental sem fins lucrativos, fundada no ano
de 2004, de caráter independente e dirigida sob regime privado. A sede do instituto
está localizada na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Com um pouco
mais de 10 anos de atuação, o IDESAM desenvolve um trabalho integrado,
compreendendo uma atuação de base, no contato com produtores rurais e
comunidades tradicionais, até a formulação de políticas internacionais, atuando junto a
organizações que trabalham com clima e desenvolvimento sustentável.
47
Os recursos financeiros do IDESAM são obtidos por meio de doações e
contratos de pesquisa e são investidos em programas focados na prevenção e
redução do desmatamento, mitigação das mudanças climáticas, erradicação da
pobreza, promoção da conservação florestal e manejo dos recursos naturais. Todas as
atividades, programas e fundos arrecadados pelo Instituto são monitorados por
conselhos e auditorias independentes.
O principal objetivo da Instituição é promover a valorização e o uso sustentável
de
recursos
naturais
na
Amazônia,
buscando
sempre
alternativas
para a conservação ambiental, o desenvolvimento social e a mitigação das mudanças
climáticas. O IDESAM atua com diversos programas complementares, através de
pesquisas, estudos científicos e atividades de campos executados por uma equipe de
profissionais que atuam na coordenação e execução de projetos voltados à
conservação e o desenvolvimento sustentável para a região amazônica.
Os projetos do IDESAM estão distribuídos em 5 programas complementares: (1).
Mudanças Climáticas; (2). Manejo Florestal; (3). Gestão de Unidades de Conservação;
(4) Produção Rural Sustentável (PPRS); (5) Carbono Neutro (PCN). As pesquisas,
estudos científicos e atividades de campo são implementados por uma equipe
diversificada de profissionais; e contribuem para estimular a discussão e o debate na
busca de soluções criativas e apropriadas para os desafios sociais e ambientais da
Amazônia.
O Programa Carbono Neutro IDESAM foi criado em 2010 com a proposta de
compensar as emissões de gases de efeito estufa através da implantação de Sistemas
Agroflorestais (SAFs) em áreas degradadas na Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Uatumã (RDS do Uatumã), localizada na região nordeste do Estado do
Amazonas.
48
A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã (RDS) é uma
modalidade de Unidade de Conservação que abriga populações cuja existência
baseia-se
em
sistemas
sustentáveis
de
exploração
dos
recursos
naturais,
desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e
específicas, de forma a exercer o papel de proteção da natureza e manutenção da
diversidade biológica.
A RDS está localizada na região médio do Rio Amazonas (Figura 14), a 380 km
de Manaus, e é a primeira Unidade de Conservação do Brasil que possui uma
estratégia de gestão a utilização dos serviços ambientais para auxiliar sua
implementação. Como exemplo, o Programa Carbono Neutro IDESAM, que consiste
na implantação de Sistemas Agroflorestais em áreas degradas em Unidade de
Conservação como forma de compensar as emissões dos participantes do programa.
Figura 14: Localização da RDS Uatumã e os SAFs. (www.idesam.com.br, 2015)
O objetivo principal dos SAFs é de otimizar o uso da terra, conciliando a
produção florestal com a produção de alimentos, conservando o solo e diminuindo a
pressão pelo uso da terra para produção agrícola. São áreas de vegetação
secundária, sem expressão econômica e social, que podem ser reabilitadas e usadas
49
racionalmente por meio de práticas agroflorestais. Os Sistemas Agroflorestais
implantados na Reserva são baseados no conhecimento tradicional do uso do solo e
nas técnicas agroecológicas para os climas tropicais.
Em fevereiro de 2015, surgiu a oportunidade de conhecer de perto o IDESAM e
o Programa Carbono Neutro. Assim, durante uma semana tive a experiência de visitar
a Sede do IDESAM (Figura 15), conhecer as principais pessoas envolvidas e
acompanhar de perto a atuação do Programa Carbono Neutro. Junto com o
Coordenador do PCN Flávio Cremonesi e de uma equipe especializada do IDESAM,
fui até a RDS do Uatumã, conheci as comunidades ribeirinhas tradicionais e participei
do plantio de mudas em um dos SAFs.
Figura 15: Na sede do IDESAM, em Manaus, com o Coordenador de Projetos do Programa Carbono
Neutro Flávio Cremonesi (terceiro da esquerda para direita) e o Secretário Executivo Adjunto do IDESAM
Mariano Cenamo (quinto da esquerda para direita). Fonte: arquivo pessoal.
4.2
Método Empregado
O IDESAM possui soluções para pessoas físicas ou jurídicas que inventariarem
suas emissões de gases de efeito estufa e tem auxiliado os clientes a identificar
50
potenciais de projetos de redução certificada de emissões e adotar estratégias e
metas para uma economia de baixo carbono.
Para traçar estratégias de baixo carbono dos participantes do programa é
necessário antes conhecer o volume de gases de efeito estufa que é emitido por suas
atividades. Esta estimativa é realizada a partir do inventário de emissões, realizado
com base em metodologias internacionalmente reconhecidas, como a ABNT NBR ISO
14.064:2007 e o GHG Protocol - Programa Brasileiro.
Figura 16: Os três pilares para a neutralização das emissões de GEEs (Fonte: autor, adaptado:
www.natura.com.br, 2015).
Uma das ações possíveis (Figura 16), a partir do conhecimento do volume de
emissões de gases do efeito estufa, é implementar medidas e processos de redução
de emissões das principais atividades analisadas. No caso de emissões inevitáveis, a
neutralização de carbono pode ocorrer através do uso de Reduções Verificadas de
Emissões - os créditos de carbono - assegurando assim uma ação real e concreta no
combate ao aquecimento global, através do Programa Carbono Neutro.
Na Figura 17 observa-se as principais etapas do Programa Carbono Neutro
IDESAM:
51
Figura 17: Principais etapas do Programa Carbono Neutro (Fonte: www.iniciativaverde.org.br/, 2015).
As atividades do Programa Carbono Neutro são divididas em etapas: (1). O
passo inicial é o contato com o potencial cliente (pessoa física ou jurídica) para
apresentação das possibilidades de carboneutralização. (2). São feitos os Inventários
de emissões de gases de efeito estufa para aqueles interessados em realizar a
compensação de suas emissões. (3). Com o inventário de carbono, em toneladas
de CO2, chega-se a quantidade de árvores nativas em si com a área que será
recuperada e a elaboração da proposta e orçamento. (4). Assinatura do contrato entre
o cliente e o Programa Carbono Neutro IDESAM, no prazo de 1 ano, exceto eventos e
produtos, realizados pontualmente. (5). Envio do material publicitário (banner,
certificado e selo de certificação com o identificador exclusivo para o posterior
monitoramento online. (6). É feito a mensuração da pegada de carbono individual:
através da calculadora online de emissões (pessoas físicas), ou por cálculos baseados
no GHG Protocol (pessoas jurídicas). (7). Produção das mudas de árvores, preparo do
solo e plantio das árvores, via sistema agroflorestal, na Reserva do Uatumã, em
parceria com os comunitários. (7). Monitoramento: ao longo dos anos seguintes (em
média, 2 anos após a execução do plantio), a equipe técnica do IDESAM realiza o
52
monitoramento (in locu) das árvores. (8) Renovação, com o vencimento do contrato de
certificação com o Programa Carbono Neutro IDESAM (carbononeutro.org.br, 2015).
É importante ressaltar os diversos benefícios gerados pela compensação de
emissões de CO2 tais como: o combate ao aquecimento global - as árvores absorvem
carbono durante o seu crescimento; conservação da biodiversidade brasileira - a
floresta fornece alimento e proteção aos animais; manutenção de serviços ambientais
- conservação de recursos como a água, o solo e o clima; conscientização da
sociedade
-
sobre
a
importância
da
recomposição
florestal;
mudança
de
comportamento no ambiente corporativo - os empresários e os colaboradores são
sensibilizados sobre a importância do tema; geração de renda no campo - os
agricultores são remunerados para execução dos projetos; monitoramento online dos
restauros florestais - o acompanhamento do desenvolvimento das árvores pode ser
feito pelo site do IDESAM.
4.3
Cálculo de Emissão Pessoa Física
Os cálculos de emissões pelo Programa Carbono Neutro IDESAM são feitos
baseados no GHG Protocol, onde toda emissão de GEEs deve ser calculada de
acordo com o fator de emissão da atividade em estudo, cuja intensidade depende da
fonte emissora.
Uma vez consolidado o levantamento dos fatores de emissões, os cálculos por
tipo de emissão são estabelecidos. Os métodos de cálculo das emissões de GEEs
variam entre as diversas fórmulas e de acordo com realidade brasileira, utilizando-se a
calculadora de carbono. A calculadora de emissões do Programa Carbono Neutro
IDESAM (PCN) foi desenvolvida com base nos guias do GHG Protocol e utilizando
fontes de dados e fatores de emissão disponibilizados pelo Ministério de Ciência e
Tecnologia (MCT), CETESB, Eletrobrás e IPCC.
53
A unidade internacional de medida de gases de efeito estufa é a tonelada
métrica de gás carbônico equivalente (tCO2e), ou seja, todos os gases classificados
como causadores de efeito estufa são comunicados com base em um único gás: o
CO2.
Figura 18: Calculadora online para cálculo das emissões, por pessoas físicas, disponível no site do
IDESAM (Fonte: www.idesam.org.br/carbononeutro/calculadora/, 2015).
Para o caso de pessoa física, a ferramenta mais apropriada para o cálculo das
emissões pode ser feita pelo próprio site do IDESAM, através da calculadora online
mostrada na Figura 18. Todos os cálculos são feitos para o período mínimo de um
ano, sendo realizado um quantitativo das emissões de CO2 para este intervalo de
tempo, para posteriormente realizar a compensação anual.
54
Basicamente, no inventário (cálculo) são considerados diversos fatores que
variam de acordo com os hábitos, estilo de vida e logísticas diárias, como: uso de
veículos motores (conforme a cilindrada e o combustível utilizado) e/ou elétricos e/ou
transporte público (Km rodados); consumo de água (litros ou m3); consumo de gás
(m3); papel impresso (em kg), consumo elétrico (Kwh); viagens aéreas (distância em
Km entre a origem e o destino), dentre outras que sejam relevantes para cada pessoa
individualmente (carbononeutro.org.br, 2015).
4.4
Cálculo de Emissão Pessoa Jurídica
O aumento do interesse e investimento em programas socioambientais no setor
privado é acompanhado pela necessidade de padronização dos critérios, processos e
normas de comunicação associados a projetos dessa natureza. Atualmente o
envolvimento das empresas e suas marcas com iniciativas socioambientais é uma
tendência de mercado, onde 85% da população considera o problema urgente e
anseiam medidas imediatas (http://www.cbft.com.br/, 2015).
No caso de empresas ou instituições, para o cálculo de emissões, deverá ser
realizada uma reunião, preferencialmente, presencial com os responsáveis diretos
corporativos,
para
definir
qual
o
escopo
empresarial
que
esteja
sendo
carboneutralizado. Obrigatoriamente, o período inventariado deverá ser 1 ano (12
meses).
Os cálculos de emissões pelo Programa Carbono Neutro IDESAM são feitos
baseados no GHG Protocol, onde toda emissão de GEEs deve ser calculada de
acordo com o fator de emissão da atividade em estudo, cuja intensidade depende da
fonte emissora. Na elaboração do inventário de emissões para meios corporativos
fatores como o ramo da atividade da empresa, o número de funcionários, a frota de
veículos, fontes de energia utilizada, área de ocupação da empresa, viagens aéreas
geradas, são algumas das atividades consideradas.
55
4.5
Participantes do Programa e os Números de Emissões
A Tabela 3 mostra a referência de todos os clientes participantes do PCN
IDESAM para o ano de 2014. Dados como os códigos (usados no monitoramento
online), o tipo de selos de certificação (empresa, pessoa física, produto, site/blog e
evento) para a carboneutralização, seguido das respectivas quantidades de árvores,
as toneladas de carbono (tCO2), o tamanho da área reflorestada (m2) e a localização
do SAF (1 até 11) na Reserva do Uatumã (AM) estão disponibilizados na Tabela 3.
Tabela 3: Números técnicos relativos às emissões dos clientes no ano de 2014
(Fonte: www.idesam.com.br, 2015)
56
No total, para o ano de 2014 (Tabela 3), chegou-se aos seguintes números: 15
participantes do programa, 3.460 árvores plantadas, 1.245,60 tCO2 compensados e
41.520 m2 de área reflorestada. Observa-se que o programa abrange diferentes perfis
de clientes, desde pessoas físicas até eventos, empresas, blogs entre outros.
Para o caso particular da minha viagem, fiz parte do acompanhamento e plantio
das 36 mudas referentes à compensação de 12,96tCO2 da instituição PCN1411
evidenciada em azul na Tabela 3.
4.6
Compensação de Emissões Através do Plantio Florestal
A neutralização de carbono pode ser considerada como uma forma de
mitigação ambiental em que empresas, instituições e cidadãos têm a possibilidade de
compensar suas emissões de CO2 (Netto et al., 2008, apud FLIZIKOWSKI, 2012).
Por sua vez, Ramseur (2008, apud FLIZIKOWSKI, 2012) relata que a inclusão
de programas de compensações fornece benefícios atrativos como: o incentivo para
os países não regulamentados para gerar programas de redução de emissões e
oportunidades
de
expansão
de
emissão
de
conformidade
para
entidades
regulamentadas. Com esse objetivo, as empresas têm implantado projetos de
reflorestamento que visam à remoção de CO2 da atmosfera através da fixação de
carbono na biomassa.
A recomposição florestal é o plantio de vegetação nativa de determinada região
com o objetivo de recompor o que foi desmatado e ao mesmo tempo, também, de
compensar as emissões de gases de efeito estufa de qualquer atividade humana –
visto que cada árvore absorve carbono, um dos gases causadores do efeito estufa,
durante o seu crescimento (www.iniciativaverde.org.br, 2015).
O plantio de árvores possui relação direta com as mudanças climáticas, sendo
utilizado como principal método de compensação de emissões de GEEs. Como
57
proposta de compensação para estes gases, o Programa Carbono Neutro IDESAM
utiliza o sequestro de carbono florestal por meio de plantio de florestas. A quantidade
de emissões calculadas nas fases anteriores é transformada em número de árvores a
serem plantadas nos SAFs, na Reserva do Uatumã.
Os SAFs fazem parte das diretrizes centrais do Programa Carbono Neutro
IDESAM e podem ser implantados na recuperação de áreas alteradas por atividades
agrícolas malsucedidas, contribuindo assim para a redução da pressão por
desmatamento em novas áreas de floresta (Figuras 19a e 19b). Esse modelo de
conversão agrícola gera reduções de emissões, que contribuem para mitigar as
alterações climáticas.
Figuras 19a e 19b: Área desmatada na RDS Uatumã na qual será utilizada como uma das SAFs e em
seguida uma área já reflorestada com mudas do Programa Carbono Neutro IDESAM (Fonte:
www.idesam.org.br, 2015).
O principal objetivo do Programa é perenizar a produção agrícola e florestal
local através de um modelo de desenvolvimento social de baixo carbono, de forma a
gerar créditos de carbono para compensar a emissão dos parceiros interessados.
Além de reter o carbono disponível na atmosfera, o gás no ar pode agravar o
aquecimento global, as árvores nativas contribuem para a preservação da
biodiversidade, dos recursos hídricos e da conservação do solo. Como os
58
trabalhadores do campo são os contratados para fazerem os plantios, as árvores
ainda têm o valor social de gerar renda para os comunitários.
As mudas de árvores plantadas são de espécies arbóreas lenhosas (frutíferas
e/ou madeireiras) com cultivos agrícolas de forma a gerar lucro para os comunitários
(Figuras 20a e 20b). Além disso, a diversidade de espécies permite a obtenção de um
número maior de produtos a partir de uma mesma unidade de área, tanto para a
subsistência da família quanto para o mercado, garantindo geração de renda e
segurança alimentar para os produtores envolvidos no Programa (Figuras 21a e 21b).
Figuras 20a e 20b: Viveiros aonde são produzidos as mudas que serão plantadas nos SAFs (Fonte:
arquivo pessoal).
Figuras 21a e 21b: Mudas de Cacau sendo plantadas com a ajuda dos comunitários. (Fonte: arquivo
pessoal).
59
Com o passar do tempo, as árvores começam a recompor a área desmatada:
atraem os animais nativos, evitam a erosão do solo, preservam a água e dão abrigo
para outras espécies de plantas. Dentre as diversas espécies utilizadas, tem-se:
cacau, guaraná, açaí e algumas para extrair óleo como a de Andiroba e Copaíba
Após o plantio das mudas de árvores, o monitoramento e o acompanhamento
técnico das áreas reflorestadas podem ser feitos pelo cliente, de forma a acompanhar
o desenvolvimento do Sistema Agroflorestal e os benefícios ao clima e às
comunidades tradicionais. Placas de identificação e dados técnicos referentes aos
clientes do PCN IDESAM são fixados nas áreas de plantio (Figura 22).
Figura 22: Placa de identificação e dados técnicos do PCN IDESAM fixadas em uma das áreas de plantio,
com destaque para a instituição Dupla Carioca na qual fiz parte do plantio das mudas (Fonte: arquivo
pessoal).
Através desta identificação (ID) única e exclusiva para cada cliente
carboneutralizado, pode-se acompanhar via internet a localização do plantio das
árvores na Reserva do Uatumã (AM), além das informações técnicas e os
comunitários
beneficiados.
Decorrente
disso,
o
cliente
poderá
compartilhar
60
publicamente, a dinâmica com o Programa Carbono Neutro IDESAM com quem
considerar estratégico.
O
Programa
Carbono
Neutro
IDESAM
disponibiliza
ferramentas
de
comunicação ágeis agregando o peso da iniciativa socioambiental a marca das
empresas parceiras. Ele é uma ótima ferramenta de marketing. Dentro das empresas
ganha cunho motivacional melhorando a integração dos funcionários através da
inserção de um tema comum a todos.
Cada participante do programa recebe um Certificado de neutralização de
carbono com o número de árvores plantadas e a quantidade de gases do efeito estufa
compensada (Figura 23). As certificações remetem o conceito de consciência
ambiental, que para o caso de pessoa jurídica, mostra aos clientes que a empresa tem
investido em ações a favor do meio ambiente.
Pode ainda ser usado em materiais de comunicação da empresa, constatando
a participação no Programa Carbono Neutro e a neutralização das emissões dos
GEEs, tendo um diferencial e maior visibilidade no mercado.
Figuras 23: O selo Carbono Neutro IDESAM para cada tipo de cliente (carbononeutro.org.br, 2015)
61
5
Proposta de Elaboração de Inventários de Emissões e Compensação
dos GEEs para o Setor da Construção Civil
Nos últimos anos as mudanças climáticas têm sido constantemente enfatizadas
pelos diferentes canais da sociedade civil, causando preocupação aos governos, à
população e aos cientistas em todo o mundo. Um dos pontos críticos neste sentido é o
aumento exponencial da concentração de gases de efeito estufa (GEEs) na atmosfera,
muito acima da capacidade de assimilação do planeta.
Essas alterações do clima podem estar relacionadas ao aumento de concentração
de gases de efeito estufa (GEEs), responsáveis pelo aquecimento da temperatura na
Terra. Os GEEs são compostos principalmente pelo dióxido de carbono (CO 2), metano
(CH4), óxido nitroso (N2O), hidrofluorcarbonos (HFC), perfluorcarbonos (PFC) e
hexafluoreto de enxofre (SF6) (UNFCCC, 2013 apud SANQUETA, 2013), embora
outros gases também tenham essa propriedade.
Um setor que se destaca como importante emissor de GEEs nos dias de hoje é o
da construção civil. As emissões provenientes da construção civil estão associadas à
extração das matérias-primas usadas nos materiais de construção, aos processos de
fabricação desses materiais, à energia dispendida durante o ciclo de vida da obra, à
operação e manutenção da obra, além da disposição final dos resíduos e do
transporte de materiais (BESSA, 2010 apud SANQUETA, 2013).
Por meio do Protocolo de Kyoto, foram estabelecidas metas entre os países
signatários, com vistas a uma redução gradativa das emissões dos gases do efeito
estufa. O documento determinava que as nações buscassem cooperação e
compartilhamento de experiência para combater os efeitos adversos do clima.
Considerada a inviabilidade tecnológica e social de cessão imediata de emissão
desses poluentes, foi criado o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que na
realidade é um sistema de auditoria para implantar e manter projetos de redução ou
62
remoção dos gases responsáveis pelas mudanças climáticas (RIBEIRO, 2005 apud
LOBO, 2010).
A gestão de carbono está se tornando um aspecto cada vez mais visível e
essencial no mercado, onde muitas empresas de diversos setores já têm tomado
importantes iniciativas para lidar com suas emissões. A cadeia produtiva da
construção tem um peso grande em termos de emissões de carbono, e torna-se
fundamental para o atendimento dos objetivos globais do desenvolvimento
sustentável.
O principal desafio do estudo em questão é estimular o setor da Construção Civil,
na qual tem um peso grande em termos de emissão de carbono, a elaborar o
inventário de GEEs para o posterior desenvolvimento de estratégias para redução da
emissão destes gases. O GHG Protocol - ferramenta utilizada para entender,
quantificar e gerenciar emissões de GEEs, junto com o SINDUSCON-SP foram
utilizados como base para a elaboração da proposta de compensação de gases para a
Construção Civil.
5.1
Customização do GHG Protocol para a Construção Civil
5.1.1 Limites e Diretrizes dos Inventários de Emissões
A elaboração do inventário de emissões é de suma importância para as
instituições compreenderem o perfil de suas emissões de gases de efeito estufa e o
volume de emissões que suas atividades emitem na atmosfera. A partir deste
monitoramento é possível a implementação de ações consistentes, com o objetivo de
promover metas de redução e a neutralização das emissões da organização.
O inventário de emissões é elaborado a partir de normas e metodologias
internacionais como a ABNT NBR ISO 14.064:2007, IPCC e o GHG Protocol. Para sua
63
elaboração e desenvolvimento, é requerido que sejam seguidas algumas etapas e
requisitos, a fim de se ter um documento passível de verificação, compatibilidade e
comparação com outros inventários.
As estratégias corporativas para a nova economia de Baixo Carbono devem
integrar o planejamento, a implementação e a operação das atividades empresariais e
industriais de forma a contribuir para o desenvolvimento sustentável da empresa. A
elaboração desses inventários e a colocação em prática de medidas para efetivamente
reduzir as emissões de GEEs tornam-se praticamente obrigatórias quando se pensa
na possibilidade de fixação de metas de redução de emissões, mesmo que ainda não
obrigatórias.
O inventário de emissões de gases do efeito estufa, além de ser importante para a
empresa ou inventariado saber qual o seu impacto com relação ao clima, traz diversos
benefícios: (a). O reconhecimento do mercado (fornecedor e consumidor) como
empresa preocupada com o impacto ambiental de suas atividades. (b) A possibilidade
de compensação das emissões, já que a quantificação ou inventário das emissões de
gases de efeito estufa é o primeiro passo para a criação de um plano de gestão e
redução dessas emissões; (c) O diagnóstico das emissões e de ineficiências internas,
pois
identifica
oportunidades
de
melhorias
na
eficiência
operacional
e,
consequentemente, para a redução nos custos. (d) A oportunidade de prever e
incorporar os impactos socioambientais de longo prazo no planejamento financeiro;
incentiva a adoção de práticas sustentáveis em todo o mercado.
Em junho de 2013, O Guia Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa na
Construção Civil – Setor Edificações, foi elaborado pelo SINDUSCON-SP em parceria
com grandes empresas, construtoras e incorporadoras do setor da construção com o
objetivo de padronizar os critérios a serem considerados durante o ciclo de vida
do empreendimento e a metodologia de cálculo a ser utilizada para se elaborar o
64
inventário de GEEs das obras. A intenção deste projeto é antecipar o setor às normas
e regulamentações, cada vez mais comuns, que estão ditando as novas diretrizes
sobre emissões de carbono no Brasil.
O guia publicado pelo SINDUSCON-SP instrui as empreiteiras e construtoras a
calcular as emissões de carbono durante todo o ciclo de vida do empreendimento.
Nesta primeira versão o guia se limita a considerar as emissões da fabricação e
transporte dos materiais assim como a execução da obra propriamente dita. Nas
próximas edições do guia, este escopo de emissões se estenderá desde o período de
uso e manutenção do empreendimento até seu destino final, seja o retrofit do prédio
ou sua demolição.
Figura 24: Fases para a elaboração do Inventário de Emissões de GEE pela Construção Civil.
(www.sindusconsp.com.br, agosto 2015)
Com estas novas diretrizes, o SINDUSCON-SP pretende estimular todo o setor da
construção civil, uma vez que grande parte das emissões acontece na fabricação dos
65
materiais utilizados na obra, convocando assim toda a cadeia de fornecedores a iniciar
a gestão das emissões de gases de efeito estufa de seus processos. Esta certamente
é uma iniciativa pioneira que irá amadurecer bastante nos próximos anos, resultando
em grandes avanços e maior eficiência para todo o setor.
O SINDUSCON-SP recomenda que o usuário siga a sequência esquematizada na
Figura 24 parana elaboração do Inventário de Emissões de GEEs: Fase 1:
Identificação dos Usos do Inventário; Fase 2: Definição de limites organizacionais;
Fase 3: Definição de limites operacionais; Fase 4: Monitoramento de dados de
atividade; Fase 5: Cálculo; Fase 6: Relatório.
Por fim, um dos desdobramentos mais significativos dos Inventários de emissões é
que estes permitem o cálculo de contribuições de emissão de CO2 equivalentes de
uma determinada atividade. A avaliação de emissão equivalente de dióxido de
carbono por uma atividade antrópica tem implicações em medidas de mitigação para
alterações climáticas, apontadas pelo IPCC (ONU, 2007a apud LOBO, 2010), e para
mecanismos de desenvolvimento limpo, comercializado em forma de crédito de
carbono.
5.1.2
Análise e Resultados do Inventário
Identificar as entradas e saídas de dados do sistema delimitado na fase da
elaboração do inventário é a finalidade da análise do inventário; baseado na lógica de
Lavoisier: “Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Nesta fase se faz um
balanço de dados de entrada e saída do sistema.
Neste momento de estudo a análise do ciclo de vida da Construção Civil
delimita a visão ampla do uso de recursos de matérias-primas, energia e recursos
hídricos. A análise do inventário mede a quantidade de recursos utilizados e os
resíduos gerados pela atividade pesquisada.
66
Na etapa de avaliação de impacto os dados coletados na fase antecessora
serão avaliados com o objetivo de se encontrar as consequências dos pressupostos
identificados (DRUCZCZ, 2002 apud LOBO, 2010).
A análise de dados possibilita a identificação de consumo energético e a
emissão
de
CO2
na
atmosfera
na
transformação
da
matéria-prima.
Os
desdobramentos desses dados se dão na avaliação de impactos causados, onde no
caso da emissão de dióxido de carbono é o aquecimento global.
A fase de interpretação dos dados é a síntese dos resultados obtidos nas fases
anteriores do estudo. O inventário de emissões de CO2 é uma sequência desde os
objetivos definidos na fase de elaboração do escopo, dos dados coletados, na análise
de dados e da avaliação dos impactos. É o momento de reflexão crítica quando se
questiona do escopo à natureza dos dados (LOBO, 2010).
5.2
Fatores de Emissões
O fator de emissão é a relação entre a quantidade de poluição gerada e a
quantidade de matéria-prima transformada ou queimada, de acordo com a sua
especificidade. Estes fatores servem para calcular uma estimativa das emissões
provenientes de várias fontes de poluição do ar.
Para os cálculos de carbono, foi desenvolvida uma planilha eletrônica junto à
ferramenta do Visual Basic, aplicado por base a metodologia do GHG Protocol. Cada
planilha foi programada utilizando a fórmula e o fator de emissão para a quantificação
da emissão, apresentando, no final, a emissão por escopo e sua sumarização
(SANQUETTA, 2013).
Determinadas atividades com potencial poluidor contêm um fator de emissão
que expressa quão intensiva é a atividade em termos de emissão de GEEs, retratando
67
a quantidade desses gases emitida por certa unidade de atividade (FLIZIKOWSKI,
2012).
Na determinação dos fatores, foram utilizados os guias de inventários de
emissão do IPCC e o Programa Brasileiro de GHG Protocol. Esses serviram como
complementação para a metodologia, a fim de criar cenários comparativos. Os fatores
de emissão utilizados são baseados pelo Programa Brasileiro GHG Protocol.
Para a geração de resíduos sólidos a escolha do fator fixo de emissão
depende, principalmente, da composição dos resíduos gerados. Neste sentido, o
principal parâmetro avaliado é o Carbono Orgânico Degradado (COD), contido em
cada material, adotados com base na metodologia do IPCC (2006b) na Tabela 4 a
seguir:
Tabela 4: Porcentagem de COD - Carbono orgânico degradável para diferentes tipos de resíduos.
Fonte: (IPCC, 2006b).
Na Tabela 5 estão apresentados os fatores de emissão para os respectivos
combustíveis.
68
Tabela 5: Fatores de emissão para combustíveis fósseis
Fonte: (GHG Protocol, 2011).
Os fatores de emissão para o consumo de energia elétrica foram baseados no
Sistema Interligado Nacional (SIN), valores calculados e fornecidos pelo Ministério de
Ciência e Tecnologia (MCT, 2011 apud SANQUETTA 2013). Na Tabela 6 estão
descritos os valores utilizados para o cálculo da energia elétrica.
Tabela 6: Fatores de emissão (tCO2/MWh) do Sistema Interligado Nacional - SIN
Fonte: (FLIZIKOWSKI, 2012).
Os fatores de emissões por fontes móveis incluem viagens de avião. O
Programa Brasileiro de GHG Protocol reuniu diferentes pesquisas relacionadas a
emissões de viagens de negócios, utilizando o avião como meio de transporte.
Os fatores de emissão tiveram como base estudos realizados pelo DEFRA
(Department for Environment, Food and Rural Affairs), que os separam entre
69
transporte de passageiros e de carga. No presente trabalho foram consideradas
apenas as emissões por voos de passageiros. De acordo com o relatório do DEFRA
divulgado em 2010, os fatores de emissões desenvolvidos baseiam-se em combustível
para aeronaves típicas em distâncias de viagem, conforme o guia de inventário de
emissões atmosféricas da EMEP/CORINAIR de 2006. Essas informações são
combinadas com os dados da Civil Aviation Authority (CAA), da capacidade média da
aeronave de assento, os fatores de carga e anual de passageiros - km e aeronaves
km para 2006 (SANQUETTA, 2013).
No entanto, é sugerida uma elevação entre 10% a 12% para considerar as
variações de consumo de combustível subida / cruzeiro / descida. Estes fatores são
derivados pela abordagem CORINAIR, a qual é apropriada para garantir coerência
com a estimativa das emissões da aviação no Reino Unido, como relatado em
consonância com o Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Ainda, deve-se considerar um aumento de 10% por recomendação da CORINAIR,
para levar em conta o congestionamento e os deslocamentos necessários nos
períodos de tráfego intenso, fator denominado Great Circle Distances (GCD) (DEFRA,
2010 apud SANQUETTA, 2013).
Tabela 7: Fatores de emissão médios para viagens aéreas referentes aos anos de 2007, 2008,
2009 e revisados para 2010.
(Fonte: SANQUETA, 2013)
70
Na Tabela 7 estão apresentados os fatores de emissão que devem ser aplicados
nos cálculos de emissões de acordo com o ano e os tipos de voos. Os fatores de
correção de 10% e 9% não estão incluídos nos fatores de emissão.
5.3
Cálculo de Emissões
De acordo com GHG Protocol (2003) toda emissão de GEEs deve ser calculada
de acordo com o fator de emissão da atividade em estudo, cuja intensidade depende
da fonte emissora. Os métodos de cálculo das emissões de GEEs variam entre as
diversas fórmulas e requerem conhecimentos detalhados quanto às informações
necessárias.
No caso da Construção Civil, o GHG Protocol provê diretrizes para a
concepção de inventários corporativos, trabalhando conforme os limites operacionais e
organizacionais. Deste modo, a quantificação das emissões de GEEs dependerá da
estrutura da empresa e do relacionamento desta com as partes envolvidas.
Para a customização da ferramenta de cálculo, consideraram-se as seguintes
fontes de emissão: emissão pelo consumo de combustíveis fósseis por fontes fixas;
emissão pelo consumo de combustíveis fósseis por fontes móveis; emissão pela
geração de resíduos; emissão pela aquisição de energia elétrica; emissão pelos
materiais utilizados na construção civil.
O limite organizacional está associado às operações na construção civil,
divididos em diretos e indiretos. Os diretos englobam o consumo de materiais de
construção utilizados na obra e os combustíveis fósseis usados em seus transportes.
Os indiretos abrangem o consumo de combustíveis fósseis dentro da empresa por
meio de equipamentos e veículos próprios, aquisição de energia elétrica, geração de
resíduos sólidos dentro da empresa.
71
Já
os
limites
operacionais
vêm
após
a
determinação
dos
limites
organizacionais. A empresa deverá estabelecer e documentar seus limites
operacionais, o que envolve a identificação das emissões associadas às suas
operações, classificando-as como emissões diretas ou indiretas e selecionando o
escopo para contabilização e elaboração do inventário de emissões, os quais são
definidos como escopo 1, escopo 2 e escopo 3.
A organização das ferramentas de escopo é identificada na Figura 25, como
exemplo.
Figura 25: organização da ferramenta em escopos (Fonte: GHG Protocol, 2003).
5.3.1 Cálculo de Emissões para o Consumo de Combustíveis
A metodologia considera os dados de consumo do combustível de acordo com
os fatores de emissão de GEEs liberados. O valor das emissões de CO2 para os
combustíveis é obtido pela Equação 2 (FLIZIKOWSKI, 2012):
72
Emissões = km * FEa
(Eq. 2)
Onde:
Emissões = emissão de CO2e (t);
FE = fator de emissão de CO2 em kg km-1; a = tipo de combustível;
km = Distância percorrida pela fonte móvel.
5.3.2 Cálculo de Emissões para o Consumo de Energia Elétrica
Para o cálculo das emissões da energia elétrica consumida, utiliza-se a
Equação 3:
Emissões tCO2e= EE * FE
(Eq. 3)
Onde:
Emissões = emissão de CO2e (t);
FE = fator de emissão de emissão nacional (tCO2/MWh);
EE = energia elétrica (MWh).
5.3.3 Cálculo de Emissão para a Geração de Resíduos
Os resíduos sólidos urbanos são encaminhados aos aterros, lixões ou à
incineração, onde o processo de decomposição da matéria orgânica gera o gás de
efeito estufa metano (CH4). Para o cálculo deste gás, adotou-se a metodologia descrita
pelo IPCC (2006b), uma vez que o GHG não descreve uma fórmula específica para
este tipo de quantificação (SANQUETTA, 2013).
73
O método de quantificação é composto por variáveis fundamentais para o
cálculo, cujo principal parâmetro avaliado é o Carbono Orgânico Degradável (COD),
contido em cada material.
As Equações 4 e 5 mostram como calcular a quantidade de metano gerada
para os resíduos.
Lo = COD * f * 16/12
(Eq. 4)
Onde:
Lo = potencial de geração de metano (t);
COD = carbono orgânico degradado (t C/resíduo);
f = fator de concentração de metano no biogás gerado;
16/12 = razão de conversão de carbono (C) a metano (CH4).
CH4 = (Lo * (1 - ox) * m)
(Eq. 5)
Onde:
CH4 = emissões de metano (t);
Lo = potencial de geração de metano (t);
m = massa de resíduo (t);
ox = fator de oxidação.
Para o desenvolvimento do cálculo de emissões para a geração de resíduos, o
IPCC (2006b) sugere algumas constantes: a fração de metano no aterro (f) refere-se
ao fator de correção de metano no aterro que o IPCC define como 50%, ou seja, igual
a 0,5; o fator de oxidação (ox) reflete a quantidade de metano que é oxidada no solo,
74
ou em outro material presente no aterro, por inexistir um valor internacionalmente
aceito, aplica-se a recomendação do IPCC (2006b), no caso, ox = 0; fração de DOC
que decompõe (DOCf), o valor sugerido pelo IPCC é de 0,5.
5.3.4 Cálculo Emissão para Consumo de Combustíveis Fontes Móveis
As emissões pelo transporte aéreo ocorrem pela queima de combustível em
aeronaves. A metodologia utilizada pelo Programa Brasileiro GHG Protocol é descrita
pela equação 6, sendo.
E = (D x FE) / 1000
(Eq. 6)
Onde:
E = emissões de CO2e (t);
D = distância (km);
FE = fator de emissão (kg GEEs/passageiro/km);
1000 = conversão de kg para tonelada.
Conforme a recomendação de DEFRA (2010), as distâncias percorridas devem
sofrer um acréscimo de 9% sobre a quilometragem calculada em referência aos
desvios de percurso que um avião tende a fazer em uma rota aérea não linear, o qual
não está contemplado nos fatores de emissão. Para a ferramenta de calculadora de
emissões, o fator 9% foi incluído nos cálculos (SANQUETTA, 2013).
5.3.5 Emissão pelos Materiais de Construção Civil
Para contabilização dos materiais de construção civil, o trabalho de LOBO
(2010) foi adotado como base para a quantificação de emissões. O autor fundamentou
seu trabalho por meio de uma análise energética considerando as principais fases e os
requisitos gerais de energia mais significativos.
75
O limite de análise energética adotado foi o 2o nível da IFIAS - que engloba
cerca de 90% do consumo energético incluindo a extração de matérias-primas,
fabricação, transporte, e perdas na geração e transformação de energia - e o ciclo de
vida da edificação foi avaliado até a fase de conclusão da obra.
A delimitação de serviços analisados se deve à ferramenta proposta por LOBO
(2010), que também determinou a planilha de referência e modelo a ser aplicado,
através do quantitativo de sua obra. Foi utilizado o CO2e embutido que foi calculado
com base na discriminação dos consumos energéticos sem fontes primárias e com os
respectivos fatores de geração de CO2e obtidos na literatura e em dados institucionais.
Além da geração de energia, são consideradas também as reações específicas
dos processos de fabricação dos materiais de construção que promovam liberação de
CO2e.
A somatória das emissões foi desenvolvida separadamente através da
delimitação de escopos, a equação 7 apresenta o cálculo.
Emissão total = Escopo 1 + Escopo 2 + Escopo 3
(Eq. 7)
Onde:
Escopo 1 = Fontes de emissão delimitadas pelo escopo 1 (tCO2e).
Escopo 2 = Fontes de emissão delimitadas pelo escopo 2 (tCO2e).
Escopo 3 = Fontes de emissão delimitadas pelo escopo 3 (tCO2e).
5.4
Validação da Ferramenta
Com a finalidade de analisar a eficiência e quantificar o CO2e (dióxido de
carbono) em toneladas emitidas no meio ambiente pela construção civil, foi aplicado o
método de cálculo apresentado em uma obra específica. Deste modo, foi utilizado o
76
trabalho de Sanquetta (2013), onde foi realizada pesquisa de natureza aplicada
através de uma abordagem quanti-qualitativa com objetivo exploratório e na forma de
um estudo de caso.
O empreendimento utilizado para a aplicação dos cálculos foi na ampliação de
um shopping localizado no município de Curitiba - Paraná, cujos dados foram
disponibilizados pela empresa de construção civil Sustentábil. A ampliação do
shopping foi de 60.457,92 m² sendo basicamente no espaço do estacionamento
(SANQUETTA, 2013).
O Protocolo estabelece que a escolha do ano-base seja feita com dados que
melhor apresentem a realidade da empresa sobre uma dada atividade. Desta maneira,
o ano base do estudo abordado foi o de 2010, apesar de a obra ter sido realizada no
período de janeiro de 2010 a abril de 2011. No entanto, deve se considerar que o
inventário é de uma obra, sendo este ano bastante variável. De acordo com os limites
operacionais da empresa, foram considerados os três escopos estabelecidos pela
metodologia. As divisões destes escopos e a descrição específica da contemplação de
cada um deles estão apresentadas segundo Sanquetta (2013):
Tabela 8: Consumo de combustível durante a obra
(Fonte: Sustentábil 2011 apud SANQUETA 2013)
77
No escopo 1 foram incluídas as emissões da queima de combustível pelos
equipamentos utilizados na obra e os resíduos sólidos gerados dentro da empresa.
Durante a obra, foram utilizados somente equipamentos para o desenvolvimento da
construção, todos movidos a diesel.
Na Tabela 8 estão apresentados os consumos de combustíveis fósseis de
cada equipamento utilizado. Por se tratar de uma obra de construção civil, os resíduos
gerados foram, em sua maioria, material de escritório e resíduos de construção civil. A
Tabela 9 apresenta os tipos de resíduos e suas respectivas quantidades.
Tabela 9: Quantidade de resíduos gerados durante a obra.
(Fonte: Sustentábil 2011 apud SANQUETA 2013)
Para o escopo 2, foram considerados todos os kWh utilizados durante a obra,
originários de iluminação para os escritórios, de salas utilizadas pela empresa e do
consumo de energia pelos equipamentos.
Tabela 10: Quantidade de kWh utilizados durante a obra por ano e mês.
(Fonte: Sustentábil 2011 apud SANQUETA 2013)
78
O consumo em kWh pelo shopping foi coletado antes do início da obra, para
que se obtivesse uma estimativa durante toda a construção. Na Tabela 10 está
apresentado o consumo de energia elétrica durante a obra.
O escopo 3 consiste em todas as outras fontes de emissão indiretas que
possam ser atribuídas à ação da empresa, sendo, neste estudo, consideradas as
emissões provenientes de todos os materiais de construção utilizados durante a obra,
a lista completa de materiais esta apresentada em FLIZIKOWSKI (2012). Por se tratar
de muitos materiais foram apresentadas apenas as quantidades por procedimentos
conforme a divisão da ferramenta.
As emissões do escopo 3 são provenientes dos materiais de construção analisadas
pela ferramenta desenvolvida por LOBO (2010), a qual separa as emissões de acordo
com as instalações da obra, sendo desta maneira apresentadas na Tabela 11.
Tabela 11: Emissões provenientes dos materiais de construção civil (tCO2e).
(Fonte: LOBO, 2010).
79
Ao aplicar a calculadora de carbono obteve-se o Inventário de Emissões de GEEs
da obra de ampliação do shopping. Nesse caso, para o escopo 1 a emissão foi de
114,60 tCO2e, oriunda do consumo de combustíveis por fontes fixas, isto é, apenas o
consumo de óleo diesel. Os resíduos sólidos determinaram uma emissão de 0,03
tCH4, o que equivale a 0,56 tCO2e. O escopo 1 resultou numa emissão de 115,16
tCO2e para a obra em estudo.
O escopo 2 refletiu uma emissão total de 0,43 tCO2e, sendo 0,36 tCO2e para o ano
de 2010 e 0,068 tCO2e para o ano de 2011. Os meses contabilizados neste escopo
foram de acordo com a duração da obra, a qual foi construída entre janeiro de 2010 e
abril de 2011.
De acordo com todas as instalações, a obra apresentou uma emissão de
119.058,37tCO2e. O escopo 3 é opcional, o que implica em uma decisão quanto a sua
inclusão e seu conteúdo. O critério para esta decisão deve ser baseado nos princípios
da empresa, relacionado à relevância destas emissões e ao grau de influência e
gestão que a empresa tem sobre elas (SANQUETTA, 2013).
Segundo Sanquetta (2013), com os resultados obtidos, é notável o destaque das
emissões provenientes do escopo 3, decorrentes, principalmente, da fabricação dos
materiais de construção civil. Diante da relevância das emissões, fica evidente a
importância de se contemplar este escopo em inventários de emissões aplicados no
setor de construção civil.
5.5
Compensação de Gases pela Recomposição Florestal
As árvores, no espaço urbano, têm o potencial para fazer uma contribuição
importante à redução de carbono atmosférico, embora seja somente parte de uma
solução para minimizar riscos da mudança do clima.
80
No contexto da melhoria da qualidade ambiental urbana, as árvores representam
um importante papel, com base nos benefícios ambientais por elas proporcionados,
principalmente os relacionados à dinâmica do CO2 no ambiente urbano. A crescente
preocupação mundial com a modificação do clima global tem resultado na
manifestação, cada vez maior, do interesse em plantios de árvores, com vistas à
redução do nível de CO2 atmosférico (DWYER et al, 1992 apud LAERA 2012).
A conservação de estoques de carbono nos solos, florestas e outros tipos de
vegetação, a preservação de florestas nativas, a implantação de florestas e sistemas
agroflorestais e a recuperação de áreas degradadas são algumas outras ações que
contribuem para a redução da concentração do CO2 na atmosfera (JUNIOR, 2004).
A recomposição florestal é o plantio de vegetação nativa de determinada região
com o objetivo de recompor o que foi desmatado e ao mesmo tempo, também, de
compensar as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) de qualquer atividade
humana – visto que cada árvore absorve carbono, um dos gases causadores do efeito
estufa, durante o seu crescimento.
O plantio de florestas possui relação direta com as mudanças climáticas, sendo
utilizado como principal método de compensação de emissões de GEEs. De acordo
com Corte (2010 apud FLIZIKOWSKI, 2012), o Brasil possui um bom potencial para
projetos florestais por apresentar muitas regiões com vocação florestal (com ótima
produtividade silvicultural). Além disso, existem muitas áreas degradadas que podem
se prestar bem aos propósitos do Protocolo de Quioto.
Nos dias de hoje, existem diversos projetos em andamento que visam
sequestrar carbono, nos quais são motivados por diversas fatores, como por exemplo
a manutenção do microclima local, geração de bancos de carbono, a fim de serem
comercializados por vias de créditos de carbono, ou ainda como forma de
compensação de pelo lançamento de compostos carbônicos na atmosfera através de
81
atividades industriais. Normalmente são utilizadas áreas de florestas que estejam
sendo recompostas ou ainda preservadas com vistas no acúmulo de carbono na
biomassa vegetal, impedindo que o carbono se acumule na atmosfera.
.
Todos esses potenciais projetos poderão trazer impactos sociais positivos,
além dos benefícios econômicos e ambientais já preconizados. No intuito de contribuir
com o meio ambiente e combater a mudança do clima, empresas têm utilizado
técnicas
como
restauração
florestal,
recuperação
de
áreas
degradadas
e
reflorestamento utilizando espécies exóticas para realizar essas compensações de
GEEs atmosféricas.
A mitigação das mudanças climáticas pela Construção Civil, por sua vez,
consiste na substituição de atividades por alternativas que tenham por objetivo
eliminar ou atenuar a emissão de GEEs numa dada atividade ou empreendimento.
Uma vez que essa redução não é um processo executado de forma rápida, buscou-se
um meio de compensá-la através do plantio de árvores.
Assim, após a quantificação das emissões por determinado empreendimento
do setor, conforme modelo de cálculo proposto, a quantidade de tCO2 é convertida em
número de mudas de árvores, sendo capazes de compensar as emissões de GEEs
gerados para o determinado período de tempo calculado.
82
6
Considerações Finais
As mudanças climáticas em nosso planeta são influenciadas não só por ações
naturais, mas principalmente pelo homem, no qual pode contribuir significantemente
caso não tome conhecimento sobre os possíveis impactos causados por suas
atividades, e não reverta suas ações. Essas alterações do clima podem estar
relacionadas ao aumento de concentração de gases de efeito estufa, responsáveis
pelo aquecimento global.
Um setor que se destaca como importante emissor de GEEs nos dias de hoje é o
da Construção Civil, sendo este um grande gerador de emissões de gases de efeito
estufa. As emissões provenientes da construção civil, apresentadas ao longo deste
trabalho, estão associadas à extração das matérias-primas usadas nos materiais de
construção, aos processos de fabricação desses materiais, à energia dispendida
durante o ciclo de vida da obra, à operação e manutenção da obra, além da disposição
final dos resíduos e do transporte de materiais.
O setor da construção, em geral, é marcado pelo conservadorismo e apresenta
barreiras à inovação. Entretanto, o setor já experimenta a concorrência e a
necessidade
de
desenvolver
estratégias
de
racionalização
e
ganhos
de
competitividade. Por esses motivos, o setor da construção movimenta-se no sentido
de identificar os danos ambientais que suas atividades causam e propor soluções que
aumentem a competitividade com adaptação das práticas construtivas ao paradigma
ambiental.
Vêm sendo desenvolvidas metodologias específicas de quantificação de emissões
de GEEs para diferentes setores da economia, chamados de Inventários de Emissões
de GEEs. O Programa Brasileiro GHG Protocol tem como objetivo estimar a cultura
corporativa para a elaboração e publicação dos inventários de emissões de GEEs. Em
conjunto, o SINDUSCON-SP instrui as empreiteiras e construtoras a calcular as
83
emissões de carbono durante o ciclo de vida do empreendimento. Os dois seguem
uma linha comum, porém cada um com suas especificações.
Com o intuito de padronizá-los em função das diferentes escalas de realização, foi
realizado neste trabalho uma proposta para Construção Civil com diretrizes e
ferramentas de cálculo de emissões de CO2. A Proposta customizada da metodologia
do GHG Protocol é aplicável a todos os tipos de obras do setor de construção civil,
variando de acordo com a delimitação dos escopos.
A elaboração do inventário de emissões para a Construção Civil é de extrema
relevância para as instituições compreenderem o perfil de suas emissões de gases de
efeito estufa e o volume de emissões que suas atividades emitem na atmosfera. A
partir deste monitoramento é possível a implementação de ações consistentes, com o
objetivo de promover metas de redução e a neutralização das emissões da
organização.
A possibilidade de agregar valor às florestas plantadas com o emergente mercado
de créditos de carbono e de contribuir para redução nas emissões de CO2 na
atmosfera criam perspectivas otimistas de expansão para o setor florestal brasileiro.
As árvores exercem um importante papel frente à mudança do clima, funcionando
como sumidouros de carbono. Projetos como o Programa Carbono Neutro IDESAM é
uma ótima alternativa para empresas da Construção Civil neutralizarem suas
emissões, amenizando assim os danos causados durante todo seu ciclo de vida no
meio ambiente.
De uma forma geral, é importante que empresas não utilizem apenas o modelo
proposto de compensação e sim em conjunto com estratégias de redução e
compensação de suas emissões, criando assim uma gestão de carbono.
84
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