“Vigilância epidemiológica da hanseníase na atenção básica: o caso do município de Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro ” por Sonia Maria Livramento dos Santos Borba Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre Modalidade Profissional em Saúde Pública. Orientadora Principal: Prof.ª Dr.ª Rosely Magalhães de Oliveira Segundo orientador: Prof. Dr. Alexandre San Pedro Siqueira Rio de Janeiro, outubro de 2015 Esta dissertação, intitulada “Vigilância epidemiológica da hanseníase na atenção básica: o caso do município de Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro ” apresentada por Sonia Maria Livramento dos Santos Borba foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros Prof. Dr. Jose Wellington Gomes Araujo Prof.ª Dr. Marly Marques da Cruz Prof.ª Dr.ª Rosely Magalhães de Oliveira – Orientadora Principal Dissertação defendida e aprovada em 15 de outubro de 2015. Catalogação na fonte Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica Biblioteca de Saúde Pública B726v Borba, Sonia Maria Livramento dos Santos Vigilância epidemiológica da hanseníase na atenção básica: o caso do município de Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro. / Sonia Maria Livramento dos Santos Borba. -- 2015. xv,164 f. : il. ; tab. ; graf. ; mapas Orientador: Rosely Magalhães de Oliveira Alexandre San Pedro Siqueira Dissertação (Mestrado) – Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Rio de Janeiro, 2015. 1. Vigilância em Saúde Pública. 2. Vigilância Epidemiológica. 3. Atenção Primária à Saúde. 4. Hanseníase - prevenção & controle. I. Título. CDD – 22.ed. – 616.998098153 LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES AB- Atenção Básica ACS- Agente Comunitário de Saúde AIDS- Síndrome da Imunodeficiência Adquirida AP- Área de Planejamento APA- Área de Proteção Ambiental APS- Atenção Primária à Saúde BAC- Boletim de Acompanhamento de Caso BCG- Bacilo Calmette-Guérin CAPS- Centro de Assistência Psicossocial CENEPI- Centro Nacional de Epidemiologia CEP- Comitê de Ética em Pesquisa CGHDE- Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação CMS- Conselho Municipal de Saúde CNS- Conferência Nacional de Saúde CNS- Conselho Nacional de Saúde CNES- Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde COAP- Contrato organizativo de Ação Pública de Saúde COMPERJ- Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro CONASS- Conselho Nacional de Secretários de Saúde CONASEMS- Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde DATASUS – Banco de Dados do Sistema Único de Saúde DDS- Divisão de Dermatologia Sanitária DST- Doença Sexualmente Transmissível ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca ESF – Estratégia Saúde da Família FJP – Fundação João Pinheiro FIOCRUZ- Fundação Oswaldo Cruz GT- Gestor/Coordenador GT- Grupo Técnico GVE - Guia de Vigilância Epidemiológica HETM- Hospital Estadual Tavares de Macedo IDH - Índice de Desenvolvimento Humano i IDHM- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS- Instituto Nacional de Seguridade Social IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPTU- Imposto Predial e Territorial Urbano MDT- Multidrogaterapia MORHAN- Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase MS- Ministério da Saúde NES- Núcleo de Educação em Saúde NEPS- Núcleo de Educação Permanente em Saúde OMS- Organização Mundial de Saúde OPAS – Organização Pan-americana da Saúde OSS- Organização Social de Saúde OSCIP- Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PAC- Programa de Aceleração do Crescimento PACS - Programa de Agentes Comunitários de Saúde PCH- Programa de Controle de Hanseníase PEL- Plano de Eliminação da Hanseníase PFVPS- Piso Fixo de Vigilância e Promoção da Saúde PVVPS- Piso Variável de Vigilância e Promoção da Saúde PMI - Prefeitura Municipal de Itaboraí. PMS - Plano Municipal da Saúde PNCH- Programa Nacional de Controle da Hanseníase PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PQT- Poliquimioterapia PSE- Programa de Saúde Escolar PSF - Programa de Saúde da Família PT- Profissional Técnico RAG- Relatório Anual de Gestão RENASES- Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde RH- Recursos Humanos SCNES- Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde SES- Secretaria Estadual de Saúde SEMEC- Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Itaboraí ii SIAB - Sistema de Informação na Atenção Básica SINAN- Sistema de Informação de Notificação de Agravos Nacionais SISPACTO- Sistema de Pactuação SF- Saúde da Família SMS- Secretaria Municipal de Saúde SMSF- Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza SNVE- Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica SNVS- Sistema Nacional de Vigilância em Saúde SRAG- Síndrome Respiratória Aguda Grave SVS- Secretaria de Vigilância em Saúde SUS - Sistema Único de Saúde TCE/RJ- Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro TCLE- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TFECD- Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle de Doenças TFVS- Teto Financeiro de Vigilância em Saúde UBS - Unidade Básica de Saúde UESF- Unidade de Estratégia da Saúde da Família USF- Unidade de Saúde da Família VD- Visita Domiciliar VE- Vigilância Epidemiológica VS- Vigilância em Saúde WHO- World Health Organization iii LISTA DE FIGURAS Figura 1- Taxas de detecção de novos casos de hanseníase, segundo países por 2 100.000 habit. notificados à OMS em janeiro de 2012 Figura 2- Coeficiente geral de detecção de hanseníase por municípios, Rio de 3 Janeiro 2010 Figura 3- Síntese das Ações de Controle da Hanseníase no Brasil 17 Figura 4- Componentes e subcomponentes do Programa Nacional de Controle da 18 Hanseníase Figura 5- Profissionais entrevistados das Equipes de Saúde da Família nas Unidades selecionadas 27 Figura 6- Organograma da Secretaria Municipal de Saúde 52 Figura 7-Linha do tempo do PCH, da adequação da AB e da VE no município de Itaboraí 58 Figura 8-Fotos do bairro Centro de Itaboraí 61 Figura 9-Fotos da Unidade de Referência (PCH) no nível central 62 Figura 10-Fluxograma do Programa de Controle da Hanseníase Municipal 72 Figura 11- Foto da Unidade Básica de Saúde de Ampliação I 73 Figura 12- Fotos do bairro Ampliação 75 Figura 13- Fotos do bairro Ampliação, Programa Bairro Novo 75 Figura 14- Foto Unidade de Saúde da Família de Vale do Sol 76 Figura 15- Fotos do entorno da USF de Vale do Sol- Três Pontes 79 Figura 16- Fotos do Bairro Três Pontes 79 Figura 17- Caracterização das localidades da pesquisa 81 Figura 18- Foto em Comemoração ao Dia Mundial de Combate à Hanseníase, 2015 85 iv Figura 19- Foto em Comemoração ao Dia Mundial de Combate à Hanseníase, 2015 85 Figura 20- Fluxo da informação sobre os casos de hanseníase notificados no nível local 95 Figura 21- Síntese das Ações de VE, município de Itaboraí, segundo setores responsáveis 107 Figura 22- Taxa de detecção de hanseníase nos municípios de Itaboraí, Niterói e São Gonçalo no período de 2001 a 2013 108 Figura 23-Taxa de detecção em menores de 15 anos no período de 2001 a 2015 nos municípios de Itaboraí, Niterói, São Gonçalo e Estado do Rio de Janeiro 109 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1- Distribuição da população no município de Itaboraí, segundo distritos 2010 34 Gráfico 2- Distribuição da população no município de Itaboraí, segundo o sexo e idade, 2000 e 2010 35 LISTA DE MAPAS Mapa 1- Mapa do Rio de Janeiro e municípios, 2010 28 Mapa 2- Mapa de rodovias Itaboraí, 2013 31 Mapa 3- Município de Itaboraí segundo divisão por bairros 32 Mapa 4- Mapa de estabelecimentos de saúde 37 Mapa 5- Distribuição territorial do número de casos de hanseníase, segundo distritos de Itaboraí no período de 2006 a 2013 59 v Mapa 6- Distribuição territorial da taxa média de detecção de casos de hanseníase segundo bairros do município de Itaboraí no período de 2006-2013, por 10.000 hab 60 Mapa 7- Distribuição territorial da taxa média de detecção geral segundo distritos de Itaboraí no período de 2006-2013, por 100.000 habitantes 111 LISTA DE TABELAS Tabela1- Número de casos de hanseníase notificados no município de Itaboraí no período de 2006-2013, taxas específicas em 2013 4 Tabela 2- Características gerais dos distritos do município de Itaboraí, no período de 20052006 33 Tabela 3- Distribuição da renda, pobreza e desigualdade no município de Itaboraí, período de 1991, 2000 e 2010 36 Tabela 4-Taxa de detecção de hanseníase nos municípios de Itaboraí, Niterói e São Gonçalo no período de 2001 a 2013 108 Tabela 5-Taxa de detecção em menores de 15 anos no período de 2001 a 2015 109 Tabela 6- Taxa de detecção geral segundo distritos de Itaboraí no período de 2006-2013 110 Tabela 7- Número de casos de hanseníase segundo distritos no período de 2006-2013 110 Tabela 8-Indicadores operacionais no município de Itaboraí, no período de 2006-2013 113 Tabela 9- Indicadores operacionais no bairro de Ampliação no período de 2006-2013, município de Itaboraí 113 Tabela 10- Indicadores operacionais no bairro de Três Pontes no período de 2006-2013, município de Itaboraí 114 vi QUADROS Quadro 1- Relação dos profissionais entrevistados 40 Quadro 2- Síntese dos procedimentos metodológicos 42 Quadro 3-Síntese dos Elementos Organizacionais que interferem nas Práticas de VE da Hanseníase no Município de Itaboraí 116 LISTA DE APÊNDICES Apêndice I- Taxas de detecção de casos de hanseníase bruta e suavizadas pelo método Bayesiano segundo bairros no município de Itaboraí no período de 2006-2013 142 Apêndice II- Roteiro de Observação Participante dos processos de trabalho 144 Apêndice III- Roteiro Guia para a Observação Sistemática da localidade onde está inserida a UBS/UESF 145 Apêndice IV- Roteiro de entrevista para o a Coordenação de Programas de Saúde, Coordenador da Vigilância Epidemiológica, Coordenador do Programa de Hanseníase, Coordenador do Programa de Hanseníase/ Unidade de Saúde da Família 146 Apêndice V- Roteiro de entrevista para os profissionais envolvidos nas ações de Vigilância Epidemiológica da UBS/UESF/PCH nível local e central 148 Apêndice VI- Roteiro de entrevista com os profissionais da UBS/UESF -nível local 150 Apêndice VII- Roteiro de entrevista com os profissionais ACS -nível local 152 Apêndice VIII- Termo de Autorização Institucional 154 Apêndice IX- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 155 vii LISTA DE ANEXOS Anexos 1- Guia de referência e contrarreferência 158 Anexos 2- Formulário para Avaliação Neurológica Simplificada 160 Anexo 3- Ficha do SINAN 162 Anexos 4- Ficha de Atendimento do Serviço Social 163 Anexos 5-Ficha de Investigação de Hanseníase (ficha elaborada pelo PCH municipal) 165 Anexo 6- Formulário de Vigilância de Contatos Intradomiciliares de Hanseníase (ficha elaborada pelo MS) 166 Anexo 7- Cartão de Aprazamento 167 viii SUMÁRIO 1- Introdução 2- Objetivos 2.1- Objetivo geral: 2.2- Objetivos específicos: 3- 8 11 14 Material e Método 4.1- Desenho do estudo 4.2-Área do estudo 4.3-Procedimento metodológico 4.4- Análise de dados 4.5- Aspectos éticos 5- 7 7 Revisão Bibliográfica 3.1- Vigilância em Saúde 3.2- Vigilância Epidemiológica na Atenção Básica 3.3- Vigilância Epidemiológica da Hanseníase na Atenção Básica 4- 1 26 27 38 43 44 Resultados 5.1-Buscando elementos para entender o contexto organizacional onde ocorrem as práticas de VE: Organização do PCH e da Atenção Básica no município de Itaboraí 45 5.2- Gestão do Programa de Controle de Hanseníase e da Vigilância Epidemiológica no Ambulatório Central e nas localidades escolhidas 59 5.3-Descrição das práticas de Vigilância Epidemiológica da hanseníase, identificando elementos de adequação às normas e a situação local da hanseníase 82 5.4- Identificação dos elementos organizacionais do Programa de Controle da Hanseníase e da Atenção Básica que interferem na realização das ações de Vigilância Epidemiológica na AB/USF 115 6- Discussão 120 7- Considerações finais 128 8- Referências Bibliográficas 131 9- Apêndices 142 10- Anexos 158 ix RESUMO: “ VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA HANSENÍASE NA ATENÇÃO BÁSICA: O CASO DO MUNICÍPIO DE ITABORAÍ, REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO.” A Hanseníase, conhecida desde os tempos bíblicos como lepra, é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica que se manifesta, principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. No mundo, o Brasil ocupa o 2º lugar em número absoluto de casos. O município de Itaboraí vem passando por importante transformação com a instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) em sua área, além de apresentar importante magnitude da doença, sendo cenário de várias transformações políticas e históricas em relação à hanseníase. O município, no ano de 2011, apresentou 50 casos/100.000 hab. Em menores de 15 anos em 2011, foram notificados 4 casos indicando um coeficiente alto e transmissão recente da doença. OBJETIVO: Caracterizar as ações de Vigilância Epidemiológica (VE) da hanseníase e sua relação com a atenção básica no município de Itaboraí, identificando elementos de adequação às normas e à situação local da hanseníase. METODOLOGIA: é um estudo de caso múltiplo do tipo exploratóriodescritivo, voltado para o entendimento das ações de vigilância epidemiológica da hanseníase desenvolvidas na Atenção Básica. Tendo em vista os objetivos, foram utilizados como estratégia metodológica: levantamento documental; análise de dados secundários referentes à notificação da hanseníase (SINAN); observação sistemática dos processos de trabalho e das localidades e entrevistas com informantes-chave. Foram selecionados o Ambulatório Central do Programa de Controle da Hanseníase municipal (PCH) e duas Unidades de Saúde da Família, representando o nível central e o nível local. Com o conjunto de informações obtidas dos procedimentos metodológicos, foi elaborado um quadro síntese com os elementos de adequação às normas e à situação local da hanseníase para posterior discussão. RESULTADOS: o estudo apontou como elementos que interferem nas práticas de VE da hanseníase: a falta de uma revisão e atualização na estrutura organizacional; falta de diagnósticos de situação de saúde; falta de planejamento articulado intra e intersetorial, de forma contínua e institucionalizada, com ações voltadas para as necessidades e demandas das localidades com a participação de todos os envolvidos; falta de programas permanentes de capacitação; falta de um boletim epidemiológico; a falta de instrumentos/protocolos de avaliação da efetividade das intervenções/ações; a instabilidade e interferência política, que geram rotatividade de profissionais, desgaste e sobrecarga dos mesmos nas Unidades de Saúde, no Ambulatório Central do PCH e na VE, além de infraestrutura precária, carência de recursos humanos, recursos físicos, recursos tecnológicos e recursos materiais que interferem na VE da hanseníase. Destaca-se ainda no nível local o excesso de atividades burocráticas e administrativas. Como dispositivos existentes para enfrentamento das dificuldades elencadas, destacam-se o profissionalismo, a ajuda mútua dos profissionais e esforço coletivo dos mesmos para alcance de metas estabelecidas. CONCLUSÃO: O PCH está minimamente estruturado e as ações do PCH ainda encontram-se centralizadas, o nível local atua como um ponto de distribuição da medicação. As ações de VE da hanseníase estão dispersas dentro da estrutura da SMS, sendo executadas pelos próprios profissionais do PCH. O setor de VE atua predominantemente na alimentação do banco de dados (SINAN) e discussão de alguns indicadores. x ABSTRACT: The Hansen's disease, also known as leprosy since biblical times, is an infection and contagious illness with chronic evolution that manifests itself mainly by skin lesions with decreased thermal sensitivity, painful and tactile. Globally, Brazil occupies the second worldwide position in terms of absolute number cases. The municipality of Itaboraí has undergone an important transformation with the installation of the Petrochemical Complex of Rio de Janeiro (COMPERJ) in your area, in addition to presenting important magnitude of disease, being the scene of many political and historical transformations in relation to leprosy. The municipality, in 2011, presented 50 cases / 100,000 inhabitants. In children under 15 years old in 2011, 4 cases were reported indicating a high coefficient and recent transmission of the disease. OBJECTIVE: Characterize the actions of Epidemiological Surveillance (ES) of leprosy and its relationship with the Primary Care made in Itaboraí, identifying elements of regulatory compliance and the local leprosy situation. METHODOLOGY: is a multiple case study of exploratory and descriptive kind, focusing the understanding of epidemiological surveillance activities of leprosy developed in Primary Care. Considering the objectives, it was used as a methodological strategy: documentary survey; analysis of secondary data regarding the notification of Leprosy (SINAN); systematic observation of work processes and locations and interviews with key informants. The Central Clinic of the municipal Control Program of Leprosy (PCH) and two units of Family Health were selected, representing the central level and the local level respectively. With the amount of information generated by the methodological procedures, it was prepared a summary table with the adequacy elements to the standards and the local leprosy situation for further discussion. RESULTS: the study pointed out as elements that interfere with ES practices of leprosy: the lack of a review and update the organizational structure; lack of health status diagnoses; lack of articulated intra and inter-sectoral planning, continuous and institutionalized way, with actions aimed at the needs and demands of the localities with the participation of all stakeholders; lack of ongoing training programs; lack of epidemiological bulletin; lack of tools or assessment protocols of the effectiveness of interventions and actions; political instability and interference generating turnover of professionals, wear and overload of the same in the health units, the HCP Central Clinic and ES, as well as poor infrastructure, lack of human, physical, technological and material resources, which interfere in the ES of leprosy. Noteworthy is even at the local level excess of bureaucratic and administrative activities. As existing devices to confront the difficulties listed, it highlights the professionalism, mutual help of professionals and collective effort to reach the goals. CONCLUSIONS: The PCH is minimally structured and its actions are still centralized, the local acts like a drug distribution point. The ES leprosy actions are dispersed within the SMS structure, performed by own PCH professionals. The ES sector operates predominantly in the database feeding (SINAN) and discussion of some indicators. xi AGRADECIMENTOS: Somos incompletos e muitas vezes não temos a consciência disso. Neste período, tive o imenso prazer de conviver com pessoas especiais, sem as quais não seria possível a realização deste estudo. Por isso, quero registrar aqui minha gratidão... À Deus, meu Pai, luz e razão da minha vida, que meu deu este presente, e no momento mais difícil da minha vida, me carregou no colo, para que eu pudesse continuar caminhando mesmo com o coração partido. À Nossa Senhora Aparecida, minha mãezinha, que me cobriu com seu manto de amor, me protegeu, cuidou de mim, secou minhas lágrimas com seus cabelos. À Profa. Dra. Rosely Magalhães de Oliveira, minha querida orientadora, minha mestra, que não teve vaidade e nem ego, compartilhou comigo seus conhecimentos. Acreditou na minha capacidade de luta, me guiou para a construção e concretização de mais um sonho, sempre me incentivando a produzir ciência e a crescer como profissional e como pessoa. Não me deu o “peixe”, simplesmente, me ensinou a pescar. Serei eternamente grata, jamais serei a mesma. Obrigada! Ao Prof. Dr. Alexandre San Pedro Siqueira, pela paciência, compreensão das minhas limitações, pela prontidão e disponibilidade em iluminar os meus caminhos com os seus ensinamentos, pela ajuda na elaboração dos mapas e gráficos. Obrigada por tudo! À Profa. Dra. Marly Marques da Cruz e ao professores Prof. Dr. José Wellington Gomes Araújo e Prof. Dr. Gil Sevalho, pelas contribuições por ocasião do exame de qualificação. À minha família, tios, primos, irmão, sobrinhos e amigos pela compreensão da minha ausência nas reuniões familiares, pelo incentivo nesta caminhada. Aos meus tios José e Irany, meus segundos pais, pelo cuidado e apoio incondicional. xii À Sheila e Srª. Arminda, anjos de luz na minha vida. Muito obrigada pela forma carinhosa com que me acolheram, pela valorosa colaboração em todos os momentos desta pesquisa. Gostaria de dividir com vocês essa vitória. Aos professores e aos colegas do mestrado, em especial Viviane Alves, Bianca Leandro, Ana Clara, Rodrigo Constantino, Igor de Paula, Ana Cloe e Débora Lopes, foram momentos ímpares tê-los ao meu lado no percurso deste caminhar, nas nossas noites de estudo, longe de casa, nossos lanches coletivos, alegrias e dúvidas em especial à 2ª turma do Mestrado Profissional em Vigilância em Saúde. À Sandra Fialho, mais que uma amiga, uma irmã, caminhar contigo neste mestrado foi algo muito especial, compartilhamos tudo, alegrias, lágrimas, angústias, aniversários, sempre juntas, foi um verdadeiro encontro de outras vidas. Obrigada irmãzinha! Aos funcionários Pedro e Lídia Vidal pela atenção e carinho dispensado a todos nós e a tia Cida, pelo carinho e cuidado na nossa estadia em Guapimirim. À Profª MS Lúcia Andrade, pelo auxílio, confiança, incentivo, facilitando e oportunizando à realização deste projeto profissional. Obrigada! À equipe do Sistema de Alimentação do Instituto de Nutrição Josué de Castro, em especial Audrey Cintra, Alex Jeronimo, Bruna Taranto, Camila Eliza, Caren Campos, Carlos Alberto, David Ribeiro, Isabela da Matta, Gisele Pereira, Heloisa Gomes, Henrique Almeida, Karine Braz, Lara de Araripe, Maísa Martins, Marília França, Mônica Reis, Mônica Seefeld, Muriel Carneiro, Renata Machado, Simone Pinho e do LANUTRI, Marcelly Cunha, Thaís Ferreira e Vanessa Chaia, colegas, com os quais tenho/tive a oportunidade de conviver, trabalhar e compartilhar o meu processo de mudança e transformação. Sei que sempre torceram por mim. Obrigada! À equipe de nutricionistas do Hospital Estadual Tavares de Macedo, em especial a Ivone Chafim, Márcia Lemos, Rosane Pina, Vangelina Lins e Márcia Paragó, amigas e companheiras, presentes em minha vida ao longo da minha trajetória de vida profissional e por compreenderem a minha ausência neste momento importante da minha vida. Obrigada! À todos os profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Itaboraí, do setor de Vigilância Epidemiológica e em especial à amiga, Josimar Alves, que não mediu esforços para contribuir para este estudo, suas contribuições foram preciosas. Obrigada por tudo! xiii À Kátia Salles (geoprocessamento) e Márcia Paraizo, pela ajuda e atenção nas inúmeras vezes que precisei de material. Muito Obrigada! Aos profissionais das Unidades de Saúde de Ampliação I, Nova Cidade e Vale do Sol, por compartilhar comigo suas experiências, dificuldades, formas de enfrentamento, pelo acolhimento e carinho. A todos o meu muito obrigado! Aos profissionais que trabalham com este agravo, em especial os do Programa de Controle de Hanseníase do município de Itaboraí e aos profissionais do Hospital Colônia de Hanseníase Tavares de Macedo, que diante de tantas adversidades e com poucos recursos, acreditam, amam o que fazem e se esforçam para oferecer diagnóstico, tratamento e esperança para tantas pessoas acometidas pela doença. Obrigada pelo carinho e acolhimento! À tia Ieda, Tutinha e família, pelo carinho e por me acolherem, dando-me pousada no sítio São Bento quando precisei me recolher do mundo. Obrigada por tudo! Aos meus pacientes acometidos pela hanseníase, em especial os do isolamento compulsório, que me ensinaram a ser “gente”, compartilharam e compartilham comigo suas experiências de sofrimento, de abandono, descaso e de luta por melhores condições de vida e tratamento e que despertaram em mim o amor pela Saúde Pública. Minha eterna gratidão a todos vocês! E finalmente aos meus 8 filhos de quatro patas, especialmente, Bethoven, Campeiro e Thor, fiéis escudeiros e amigos incondicionais de estudo, de dia e de noite, sempre me fazendo companhia, ficando aos meus pés ou deitando a cabeça no meu colo. Essa dissertação tem a marca das patinhas de vocês! xiv DEDICATÓRIA: Ao Meu Deus, Tudo é do Pai, toda honra e toda glória, essa vitória é tua! Aos meus pais, Maria do Livramento dos Santos e Eduardo Araújo dos Santos (in memorian), Meus queridos, meus amores, mesmo com toda a simplicidade, vocês me deram vida, amor e o maior presente que alguém pode ter, a educação. Mãe, você é meu exemplo de mulher guerreira, de bondade, de persistência, nunca tem tempo ruim para você, mesmo com todas as adversidades. Pai, quanta saudade! Você dizia que eu era sua filha de “ouro”. Saudades do nosso convívio, de acordar com você por perto, de sentir seu cheiro. Sinto por você não ter podido esperar por este dia, mas sei que de onde você estiver, olha e torce por mim. A vocês, devo tudo o que sou e o que vou deixar como semente. Muito obrigada por serem meus pais. Por toda a minha vida e para a eternidade vou amá-los! Ao meu querido companheiro de jornada, amigo, esposo, amado Luiz Carlos. Sempre presente na minha vida, no meu caminho, me incentivando, me apoiando, cuidando para que eu pudesse conquistar essa vitória. Obrigada, por entender as minhas ausências, meu isolamento em alguns momentos, compartilho com você este projeto. Amo você! xv 1- INTRODUÇÃO: A Hanseníase, conhecida desde os tempos bíblicos como lepra, é uma doença infectocontagiosa de evolução crônica que se manifesta, principalmente, por lesões cutâneas com diminuição de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil (Oliveira, 2012). A transmissão da doença ocorre através do convívio íntimo e prolongado com pessoas infectadas pela forma contagiosa (ou forma bacilífera) e sem tratamento, associado a condições socioeconômicas desfavoráveis. O trato respiratório é considerado a mais provável via de propagação e penetração dos bacilos no organismo. Durante as reações (surtos reacionais), vários órgãos podem ser acometidos, tais como, olhos, rins, supra-renais, testículos, fígado e baço (Talhari, 1997). O período de incubação pode variar de 02 a 07 anos. A doença quando não tratada, manifesta-se também com lesões nos nervos, principalmente nos troncos periféricos, sendo responsáveis pelas incapacidades e deformidades características da hanseníase (Brasil, 2002). O tratamento da pessoa com hanseníase é feito a nível ambulatorial, devendo ser realizado nas unidades de saúde com o uso da poliquimioterapia (PQT), segundo esquemas terapêuticos padronizados pela Organização Mundial de Saúde (Veronesi, 2005). Apesar dos avanços no controle da hanseníase, a endemia apresenta coeficientes epidemiológicos preocupantes. De acordo com relatórios oficiais recebidos de 105 países e territórios, a prevalência global de hanseníase registrada no início de 2012 foi de 0,33 casos em tratamento por 10.000 habitantes, representando um total de 189.018 casos registrados. O número de casos novos detectados em todo o mundo durante o ano de 2011 foi de 226.626 em comparação com 228.474 casos novos em 2010 (WHO, 2014). A figura 1 mostra as grandes regiões do mundo mais acometidas pela hanseníase, dentre elas o sul da Ásia, a América do Sul e o continente africano. 1 Figura 1-Taxas de detecção de novos casos de hanseníase, segundo países por 100.000 habitantes notificados à OMS em janeiro de 2012. Fonte: www.who.int/lep/situation/leprosy_DR_2011. No mundo, a Índia ocupa o 1º lugar e o Brasil ocupa o 2º lugar em número absoluto de casos. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em algumas áreas de muitos países persistem bolsões de alta endemicidade sendo mencionados como referência: Angola, Bangladesh, Brasil, China, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Madagascar, Moçambique, Mianmar, Nepal, Nigéria, Filipinas, o Sudão do Sul, Sri Lanka, Sudão e República Unida da Tanzânia (WHO, 2014). No Brasil, o desafio para redução da prevalência da hanseníase, tem se fundamentado na descentralização para os serviços de atenção básica, com uma proposta de ampliação da rede de diagnóstico e atenção ao paciente, suas complicações e sequelas, além da reinserção social de pessoas que foram internadas e isoladas compulsoriamente em hospitais colônias, devendo ser oferecida em toda rede do Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com os princípios de equidade e integralidade (Brasil, 2011). No ano de 1991, durante a 44ª Assembléia Mundial de Saúde, a OMS firmou acordo com os países membros, para o alcance da meta programática de eliminação da hanseníase no mundo, de menos que 1 caso por 10 mil habitantes, que deveria ser alcançada até o ano 2000 (WHO, 1991). No entanto, já se passaram 14 anos após o prazo estipulado e o Brasil ainda não conseguiu atingir a meta. 2 A importância da hanseníase para a saúde pública é dada pela sua magnitude, seu alto poder incapacitante, o que pode atingir principalmente a faixa economicamente ativa (Brasil, 2007a). Por isso, é imprescindível uma constante vigilância para novos casos, em especial nos menores de 15 anos, que refletem circuitos de transmissão ativa, bem como acompanhamento daqueles já existentes. O panorama deste agravo ainda é desfavorável para muitos municípios do Estado do Rio de Janeiro. Dados divulgados pelo Ministério da Saúde sobre a situação da hanseníase no ano de 2010 no Estado do Rio de Janeiro apontam áreas silenciosas, constam como sem casos, deixando alguns questionamentos se são municípios que não informaram os casos encontrados ou não houve nenhum caso e municípios de baixa endemicidade em todas as regiões do estado. Dos 92 municípios, 19 (21%) não notificaram casos em 2010 e dos 03 municípios hiperendêmicos, 01 diagnosticou menos de 10 casos. A capital, Rio de Janeiro, com 7,9 casos/100.000 habitantes é considerada de média endemicidade (Brasil, 2011a). No município de Itaboraí, o coeficiente geral é considerado muito alto, ficando entre 19,99 a 39,99 casos/100.000 hab. conforme figura 2. Figura 2- Coeficiente geral de detecção de hanseníase por municípios. Rio de Janeiro-2010 Fonte: Ministério da Saúde, SVS: Relatório de situação: Rio de Janeiro, 2011. 3 A tabela 1 mostra a evolução do número de casos notificados de hanseníase no município de Itaboraí no período entre 2006 a 2013 e taxas específicas em 2013 comparando-se com a região Leste Fluminense. Tabela 1: Número de casos de hanseníase notificados no município de Itaboraí no período entre 2006 a 2013 e taxas específicas em 2013. Fonte: Relatório Técnico-Científico XXVIII. Monitoramento da evolução de indicadores de saúde e segurança pública nos municípios de Itaboraí, Guapimirim e Cachoeiras de Macacu e no Distrito de Monjolos (São Gonçalo): síntese anual 2013. De acordo com os dados da tabela 1, no município de Itaboraí, verifica-se uma tendência geral de declínio na detecção geral de casos ao longo dos quadrimestres de 2006 a 2013. No entanto, apesar do declínio nas notificações, chama atenção o elevado número de casos notificados quadrimestralmente. A taxa de detecção geral verificada para o ano de 2013 no município foi superior à observada para a Região Leste Fluminense. Em relação à detecção em menores de 15 anos de idade, observa-se a persistência de casos nesta faixa etária, apontando para presença de focos ativos de transmissão. Pelos dados apresentados acima, percebe-se a importância da intensificação das ações de vigilância e controle na hanseníase no município, incorporadas no cotidiano das equipes de Atenção Básica/ Estratégia Saúde da Família, devendo ser adequada às diferentes realidades locais. 4 Na visão de Papinutto (2011), a criação do Programa Saúde da Família (PSF) em 1994, foi um grande passo na reestruturação do sistema de saúde no país, adquirindo em 1997 a condição de Estratégia de Saúde da Família (ESF), possibilitando uma maior compreensão do processo saúde-doença a partir da interação das equipes com o território e com a população, com ações permanentes de vigilância em saúde. Segundo Pereira et. al (2008), dentro das recomendações do SUS, é de competência dos municípios a organização dos serviços de saúde na atenção básica, assumindo a responsabilidade como gestores de saúde e à rede básica cabe a competência de prestar assistência aos doentes de hanseníase. Para tal, as ações da Vigilância em Saúde deverão ser subsidiadas pelas análises permanentes da situação de saúde da população, orientando gestores e profissionais nas tomadas de decisões (Brasil, 2007a). Para Mendes (1995 p. 179), a Vigilância à saúde pode ser entendida como: [...] uma prática sanitária informada pelo modelo epidemiológico, que articula, sob a forma de operações, um conjunto de processos de trabalho, relativos a situações de saúde a preservar, riscos, danos e sequelas, incidentes sobre indivíduos, famílias, ambientes coletivos (creches, escolas, fábricas), grupos sociais e meio ambiente. Ainda segundo Mendes (1995), na vigilância da saúde, o território é o cenário onde ocorrem as relações de vida e trabalho de uma população. Portanto, é necessário reunir informações demográficas, socioeconômicas, político-culturais, epidemiológicas e sanitárias de um dado território, com vistas a identificar e analisar os problemas, os perfis epidemiológicos e as necessidades de saúde dos grupos populacionais, com o objetivo de definir prioridades de atenção à saúde visando a intersetorialidade, a integralidade e a equidade. Desde o ano de 2006, o município de Itaboraí vem passando por importante transformação, com a instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ)1 em seu território, além do município apresentar importante magnitude da hanseníase, sendo 1 NOTA: COMPERJ- O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro está sendo construído numa área de 45 km², o equivalente a 10,5% da área de Itaboraí.Tem como objetivo aumentar a produção nacional de produtos petroquímicos, com o processamento de cerca de 150 mil barris/ dia de óleo pesado nacional. 5 cenário de várias transformações políticas e históricas em relação à doença. Na década de 30, o município foi escolhido para a construção de um hospital colônia, com o objetivo de internar doentes com hanseníase em regime de isolamento compulsório, o hospital colônia Tavares de Macedo. Os profissionais de saúde que atuam nos serviços de atenção primária nos locais onde a ocorrência de hanseníase é comum têm um papel fundamental nas práticas de vigilância epidemiológica, a partir da busca ativa de casos suspeitos favorecendo o diagnóstico precoce, no encaminhamento do paciente para o tratamento oportuno, prevenindo as incapacidades provenientes do diagnóstico tardio, na vigilância de contatos intradomiciliares. É necessário implementar as ações da vigilância epidemiológica a partir das informações que são geradas em nível local, como base para o planejamento das intervenções de saúde, contribuindo para subsidiar o diálogo entre a secretaria de saúde em todos os seus níveis de gestão, articulado com as demais secretarias no nível municipal, unidades básicas de saúde e movimentos sociais para o enfrentamento das transformações socioeconômicas e ambientais, decorrentes da implantação do Complexo Petroquímico, assim como para a eliminação da hanseníase como agravo no município. Diante do exposto acima, este estudo buscará responder as seguintes questões: Como está organizado o PCH e a Atenção Básica no município de Itaboraí? Como ocorrem as práticas de vigilância epidemiológica para o Controle da Hanseníase na Atenção Básica no município de Itaboraí? Quais são os elementos organizacionais do PCH e da atenção básica que interferem na realização das ações de VE na AB/USF? Este estudo tem como pressuposto, que apesar dos avanços na organização, da descentralização das ações de Vigilância da hanseníase para as Unidades Básicas, e do material disponível para orientar as práticas de vigilância epidemiológica, existem vários problemas para a efetiva implementação da mesma. Desde a sua promulgação, a vigilância epidemiológica vem passando por momentos de transformação, e que de certa forma, podem causar um entendimento confuso nos profissionais sobre as práticas a serem desenvolvidas, uma vez que nem sempre os vários conceitos sobre o que seria vigilância, articulam-se com as 6 normas preconizadas na literatura, e não se adaptam com as realidades locais, impactando nas práticas de vigilância epidemiológica no campo. O estudo pode ampliar a discussão dessas práticas, apontando as dificuldades ou facilidades para a sua operacionalização e sua interação com o nível municipal, possibilitando criar estratégias a partir de informações geradas no nível local, que contemplem ações e articulações inter e intrasetoriais. 2-OBJETIVOS: 2.1- OBJETIVO GERAL: Caracterizar as ações de VE da hanseníase e sua relação com a atenção básica no município de Itaboraí. 2.2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Descrever aspectos organizacionais do PCH e da atenção básica do município, identificando elementos relacionados à VE da hanseníase; Descrever as práticas de VE da Hanseníase no município, identificando elementos de adequação às normas e à situação local da Hanseníase; Identificar elementos organizacionais do PCH e da atenção básica que interferem na realização das ações de VE na AB/USF. 7 3-REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: 3.1- VIGILÂNCIA EM SAÚDE: O termo vigilância surgiu vinculado aos conceitos de isolamento e quarentena no final da Idade Média, consolidando-se nos séculos XVII e XVIII (Romero e Trancoso, 1981 apud Waldman, 1991). No início do século XIX, começo da industrialização na Europa, era necessário controlar epidemias que pudessem limitar a expansão econômica, o crescimento das cidades e assegurar principalmente a reprodução da força de trabalho. Neste contexto, as atividades da vigilância epidemiológica restringiam-se ao monitoramento e controle das enfermidades transmissíveis, tendo como instrumento a notificação compulsória de casos com o isolamento físico do doente e controle focal (Sabroza, 2006). Em meados do século XX, com a intensificação da industrialização e aumento da urbanização, houve o fortalecimento do Estado Nacional e o seu papel fundamental nos planejamentos econômico e social, as atividades de vigilância são caracterizadas pelo controle de doenças por meio de programas institucionais permanentes, com implementação de práticas padronizadas de ações por trabalhadores de saúde com vínculo permanente nas corporações estatais e com rígida divisão técnica de suas funções laborais (Sabroza, 2006). Apesar da padronização de ações com instrumental de bioestatística e epidemiologia descritiva para análise de dados obtidos em sistemas de registro dando ênfase no monitoramento contínuo para o monitoramento de agravos e identificação das epidemias, a vigilância epidemiológica ainda era centralizada e se consolidava por programas verticais específicos ainda voltados para enfermidades infecciosas e sem a promoção da análise de situações epidemiológicas particulares (Sabroza, 2006). No modelo proposto pela OMS, na década de 60 para o controle de doenças, as atividades de vigilância e controle deveriam ser integradas, com a introdução da epidemiologia orientando as práticas de controle e as necessidades de coleta e análise de informações (Raska, 1966 apud Sabroza, 2006). 8 O registro mais antigo no Brasil, das ações de prevenção e controle de doenças, refere-se às medidas adotadas para conter uma epidemia de febre amarela no porto de Recife, no século XVII (Rezende, 2001 apud Silva Júnior, 2004). Como demanda resultante de amplas discussões na 21ª Assembléia Mundial de Saúde em 1968, a vigilância epidemiológica passa a ser aplicada não só para doenças transmissíveis, mas para outros agravos, tais como malformações congênitas, envenenamentos na infância, leucemia, abortos, acidentes, doenças profissionais, outros eventos relacionados a riscos ambientais e emprego de tecnologias médicas, tais como medicamentos, equipamentos, procedimentos cirúrgicos e hemoterápicos (Waldman; Rosa 1998). Neste contexto, as ações de vigilância epidemiológica são descentralizadas com a valorização de produção e divulgação de informações permanentes e atualizadas sobre as condições de saúde locais e globais para os gestores e população. Enfatiza-se a utilização de fatores de risco para, além das doenças infecciosas, mas também para os agravos crônicos não transmissíveis, à vigilância ambiental e à vigilância da saúde do trabalhador (Bonita et al, 2005 apud Sabroza, 2006). No Brasil, alguns fatos marcaram a constituição e consolidação da vigilância em saúde, tais como a 10°Conferencia Nacional de Saúde, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988, a criação do Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI) em 1990, que era responsável por fortalecer as ações de vigilância, prevenção e controle de doenças no SUS. Outro fato importante foi a estruturação do financiamento das ações de vigilância e controle no SUS e a criação em 2003 da secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), que passou a coordenar o Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, após a extinção de três secretarias do Ministério da Saúde (Brasil, 2006b). Na década de 1990, algumas Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, passaram a utilizar a denominação vigilância à saúde ou vigilância da saúde, designando assim as novas unidades de suas estruturas organizacionais, unificando administrativamente a área de vigilância epidemiológica e as atividades a ela relacionadas, a área de vigilância sanitária e de saúde do trabalhador (Paim, 2003 apud Silva Júnior, 2004). Com esta alteração na denominação, houve uma mudança institucional, reunindo todas as ações de promoção, vigilância, prevenção e controle em uma única estrutura, consolidando a ampliação do objeto da vigilância (CONASS, 2007b). Segundo Silva Junior (2004), esta nova estrutura, simboliza a representação do processo de expansão das práticas de vigilância em saúde pública, tendo como intuito responder aos 9 desafios colocados pelo perfil epidemiológico complexo que se apresenta nos dias atuais, caracterizado pelo surgimento e/ou persistência de doenças, exigindo renovação e fortalecimento da vigilância de doenças transmissíveis, como por exemplo, as chamadas emergentes (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida-AIDS ou Síndrome Respiratória Aguda Grave - SRAG); as que reaparecem, porém com características diferentes, como por exemplo, a dengue e as representadas por endemias como tuberculose e hanseníase, cujas respostas dadas pelo sistema de saúde estão muito longe dos resultados positivos de outros programas. Segundo o Ministério da Saúde (2007), o conceito de Vigilância em Saúde inclui (Brasil, 2007a, p.10). [...] a vigilância e controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde, a vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância sanitária. Em 2009, o Ministério da Saúde regulamenta as ações e o financiamento da chamada “Vigilância em Saúde”, através da Portaria nº 3252/2009 potencializando o processo de descentralização, fortalecendo Estados, Distrito Federal e Municípios no exercício do papel de gestores da Vigilância em Saúde (Brasil, 2009c). Dentro deste contexto, o grande desafio da vigilância em saúde seria a superação dos modelos hegemônicos (biomédico e sanitarista), visando a redefinição do objeto, dos meios de trabalho, das atividades, das relações técnicas e sociais, assim como das organizações de saúde e cultura, superando também a dicotomia entre as práticas coletivas e individuais. Trata-se de uma proposta de uma vigilância que pretende transcender os espaços institucionais dos serviços de saúde e se expande a outros setores e órgãos, tanto os governamentais como os não governamentais, envolvendo diversos atores sociais que representam diferentes interesses. Além disso, este modelo tem como suporte o processo de descentralização e de reorganização dos serviços e das práticas de saúde no nível local, incorporando a contribuição de outras ciências por exemplo, o planejamento, a ciência social e a geografia (Sabroza, 2006). A partir do entendimento que o “local” é o território de atuação da Estratégia de Saúde da Família, e que esta tem como tarefa a reordenação do sistema de saúde, existem questões importantes a serem consideradas ao se pensar em um modelo de vigilância da saúde para sistemas locais, devendo-se levar em consideração a intervenção sobre problemas de saúde 10 (danos, riscos e/ou determinantes; a ênfase em problemas que requerem atenção e acompanhamento contínuos; a operacionalização do conceito de risco; a articulação entre ações promocionais, preventivas e curativas; a atuação intersetorial; as ações sobre o território; a intervenção sob a forma de operações) (Sabroza, 2006). Diante desta nova proposta, a Vigilância busca uma maior integração entre a assistência individual e as práticas coletivas. Dentro desta perspectiva, as práticas realizadas no nível local consideram as realidades e necessidades de uma determinada comunidade inserida em um determinado território, articulando os processos de trabalhos mediante as informações epidemiológicas, sanitárias, sociais, políticas e culturais visando a qualidade de vida da comunidade (Mendes,1995). 3.2- VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NA ATENÇÃO BÁSICA: Na V Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em 1975, foi proposta a criação de um Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (SNVE) no país, que foi promulgado pela lei nº6259/75 e estruturado nesse mesmo ano. O SNVE teria como funções o planejamento de ações de informações, investigação e levantamentos que seriam utilizados para efetuar medidas de controle, principalmente das doenças de notificação compulsória (Brasil, 1975). O SNVE estabelecia responsabilidades para o Ministério da Saúde e Secretarias Estaduais de Saúde (SES), excluindo a participação dos municípios como gestores do Sistema de Saúde, limitando-os, em poucos casos, à administração de alguns serviços de assistência. Uma das características do SNVE era sua atuação exclusivamente voltada para as doenças transmissíveis, principalmente as contagiosas, com poder de produzir epidemias (Silva Junior, 2004). Segundo Fossaert et al. (1974 apud Waldman, 1991, p.23), a vigilância teria como conceito: [...] o conjunto de atividades que permitem reunir a informação disponível para conhecer em todo o momento a conduta ou história natural da enfermidade, detectar ou prever qualquer mudança que possa ocorrer por alterações dos fatores condicionantes para recomendar oportunamente, sobre bases firmes, as medidas indicadas e eficientes que levem a prevenção e controle da doença. 11 O conceito de vigilância epidemiológica foi ampliado pela lei 8.080 de 1990 (Brasil, 1990, p.3) sendo definido como: [...] um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças e dos agravos à saúde das populações" Ainda segundo Waldman (1991), a partir do conceito ampliado na lei 8080/90, a vigilância epidemiológica incorpora ações de observações, estudos epidemiológicos, avaliação e planejamento, relacionados à prevenção e controle das doenças transmissíveis e não transmissíveis; ações de controle, coleta de informações atualizadas, processamento, análise, interpretação, recomendações e disseminação das informações. Gassen (2013), corrobora com a opinião de Waldman (1991) quando afirma que a vigilância constituiria um subsistema formado pela tríade informação-decisão-ação, dando subsídios para a elaboração de recomendações, avaliação das medidas de controle e realização do planejamento. Na visão de Barreto, conhecer o comportamento epidemiológico da doença ou agravo no nível local, subsidia as ações voltadas para a realidade das comunidades (Barreto, 1998, p. 121, 122. [...] para o entendimento da dinâmica de transmissão de doenças, deve ser buscada uma apreensão dos mecanismos que incidem no nível local, que podem representar a constituição de um foco para algumas doenças, mas também a integração com os espaços diferenciados. Isto implica redefinir a unidade de análise, planejamento e execução das ações, bem como a recomposição do processo de informação sobre saúde, na perspectiva de permitir o desenho da situação de saúde. A lei 8080/90 chama a atenção quando coloca o município como instância central para o desenvolvimento de ações de saúde, impondo ao Sistema de Vigilância repensar sobre as formas de organização, estratégias de intervenção e fluxos de informações, descentralizando para o nível local as ações (Passos, 2003). Este quadro apresentado pelo Sistema de Vigilância, muito se diferencia do cenário inicial em 1975, onde os municípios tinham participação mínima como gestores de saúde. As Portarias nº 1399/1999 e nº 950/1999, do Ministério da Saúde, regulamentaram a descentralização da VE em cada Estado, a definição das atribuições das três instâncias de 12 governo e a forma de financiamento das ações, através do Teto Financeiro de Epidemiologia e Controle de Doenças (TFECD) (Brasil, 1999; Brasil, 1999a). Em 2004, a Portaria nº 1172/2004 revoga a Portaria 1399/99, sendo as atribuições dos municípios, apresentadas de forma mais operacional e realista, sendo incluído nesta portaria o componente de “coordenação de ações de imunização”. Outro detalhe importante é que nesta portaria definem-se as condições para certificação e transferência de recursos do Teto Financeiro da Vigilância da Saúde (TFVS) e a substituição do nome do tipo de financiamento, de “Epidemiologia e controle de doenças” para “Vigilância da saúde” (Brasil, 2004). Dentro desta premissa, a descentralização da VE para a ESF necessariamente, implica em valorizar a realidade locorregional, identificando problemas e criando possibilidades de aumentar a capacidade de intervenção (Silva Santos & Melo, 2008). Em um estudo realizado por Carvalho e Marzocchi (1992) sobre a avaliação das práticas de vigilância epidemiológica nos serviços públicos de saúde no Brasil, em 948 unidades de saúde situadas em 98 municípios mais populosos de cada Estado, já apontava a necessidade de revisão do modelo de vigilância epidemiológica vigente, alertando que as práticas de vigilância epidemiológica estavam voltadas para as doenças transmissíveis e o gerenciamento dos serviços e programas desvinculados da informação epidemiológica. Para as autoras Silva Santos & Melo (2008), o êxito da descentralização da VE para o nível local, implica na resolução de algumas questões cruciais tais como: participação dos cidadãos no sistema de saúde, por meio dos conselhos municipais e locais; a autonomia dos profissionais na realização das ações, avaliando os resultados, a utilização de protocolos para situações previamente definidas pelos três níveis de gestão, educação permanentes das equipes, vontade política do gestor local, resumindo-se em um processo envolvendo a dimensão técnica, administrativa e político-organizacional do SUS municipal. Para Rouquayrol (2003, apud Girardi, 2010), o Sistema de Vigilância Epidemiológica, desde a implantação do SUS, para adequar-se aos princípios de integralidade da atenção à saúde e de descentralização, vem passando por profunda reorganização operacional nas três esferas de governo. Na visão de Silva (2004), a integração entre vigilância e programas, pode favorecer o fortalecimento das atividades da vigilância e o aperfeiçoamento das ações de prevenção e controle de doenças. Alguns autores (Passos, 2003; Silva Junior, 2004; Pimenta Junior, 2005 apud Bezerra, 2009), apontam a necessidade de constante avaliação sobre as ações de vigilância 13 epidemiológica em diversos âmbitos do sistema de saúde, respaldados pela complexidade do desenvolvimento das ações. Neste sentido, em 2006 é proposto o Pacto pela Saúde. Este Pacto sugere mudanças entre os três níveis de gestão, dando ênfase ao diálogo tanto nas definições das prioridades sanitárias quanto na gestão do SUS, além de prever o financiamento federal por blocos de recursos para os estados e municípios. A Vigilância à Saúde faz parte de um desses blocos, tendo com um dos componentes a vigilância epidemiológica, com recursos destinados às ações de vigilância, prevenção e controle de doenças (Bezerra et al., 2009). Segundo o Guia de VE do Ministério da Saúde na sua 7ª edição (Brasil, 2009a), para ser operacionalizada, a VE deveria compreender um ciclo de funções específicas e intercomplementares, sendo desenvolvidas de forma contínua, permitindo a cada momento, conhecer o comportamento da doença ou agravo, subsidiando as medidas de intervenção. Compreende as funções da VE: coleta; processamento; análise e interpretação dos dados coletados, recomendação das medidas de controle; a promoção das ações de prevenção e controle indicados; avaliação da eficácia e efetividade das medidas adotadas para posterior divulgação das informações para a população. 3.3-VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA HANSENÍASE NA ATENÇÃO BÁSICA: 3.3.1- Breve Histórico: A organização das atividades estatais para o controle da hanseníase iniciou-se no Brasil em 1925, tendo como medida principal o isolamento compulsório 2 (Relatório GT/HANSEN/CONASEMS, 2000). Até o advento da sulfona em 1943, a profilaxia da hanseníase no mundo, baseava-se em três atividades institucionais: Leprosários, Dispensários e Preventórios. Os Leprosários eram destinados a resguardar os casos malignos, ou seja, pacientes wirchovianos (dimorfos ainda não classificados); os Dispensários destinavam-se a examinar os contatos, pessoas suspeitas e 2 Nota: O Hospital Estadual Tavares de Macedo, antes chamado Leprosário do Iguá, foi fundado no dia 27 de abril de 1936 e inaugurado em 1938. A construção do leprosário em Itaboraí estava associada ao “Plano Nacional de Combate à Lepra”, sendo a escolha definida pela sua dimensão territorial 950.000 m², a proximidade com Niterói e São Gonçalo e por se caracterizar como uma área com baixa densidade populacional (Santana et al., 2011). 14 atender aos casos tuberculóides ou indeterminados; e a função dos Preventórios era criar e educar os filhos dos doentes internados (Andrade, 1996). Ainda segundo a autora Andrade (1996), no período de 1956-1958, foi adotado um conjunto de medidas para a cura da hanseníase que incluía: a descentralização do atendimento com aumento da cobertura populacional; estratificação do país segundo critérios operacionais e epidemiológicos; identificação para exclusão dos registros dos casos falecidos, ausentes ou curados e a educação sanitária. Desde a década de 1950, o tratamento da hanseníase é feito em nível ambulatorial. O internamento compulsório dos doentes de hanseníase foi abolido por lei, em todo o Brasil, no ano de 1954. Em 1964, com o término da Campanha Nacional de Lepra, o nível federal transferiu a responsabilidade do Programa para os Estados (Edit, 2004). Ainda na década de 1960, mais duas medidas foram tomadas para evitar o aparecimento de novos casos, reduzindo a endemia, sendo elas: proteção dos contatos contra o contágio e reabilitação dos pacientes curados de modo que possam retornar ao trabalho e ao seu lugar na sociedade (Andrade, 1996). No ano de 1976, novas políticas para o controle da hanseníase determinam ações que visavam à educação em saúde, acompanhamento de comunicantes e aplicação de BCG, detecção de casos novos, tratamento dos doentes e prevenção e tratamento das incapacidades físicas que a doença pode causar (Veloso; Andrade, 2002). A década de 1970 foi marcada pelo reforço do tratamento quimioterápico ambulatorial, a desospitalização e o combate ao preconceito através da portaria nº 165 de 1976, do Ministério da Saúde. Esse período é marcado pela estadualização do programa de controle da hanseníase, sendo municipalizado na década de 1980. A introdução da Poliquimioterapia (PQT), a alta de tratamento e da primeira campanha publicitária sobre a hanseníase na grande mídia aconteceu a partir de 1986 (Maciel, 2010). Apesar da recomendação pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1981 da PQT no tratamento da hanseníase, conforme esquema terapêutico, somente em 1993, passou a ser adotada oficialmente no Brasil (Relatório GT/HANSEN/CONASEMS, 2000). O Programa de Controle da Hanseníase, no ano de 1985, intensificou a avaliação da situação e a elaboração de recomendações que vêm sendo executadas até hoje, dentre elas: a descentralização das ações para toda rede de saúde, capacitação de recursos humanos em todos os níveis, criação e ampliação de Centros de Referência (Andrade, 1996). 15 No início da década de 1990 foi elaborada pela Organização Mundial de Saúde mais uma estratégia de controle denominada Plano de Eliminação da Hanseníase (PEL). O Plano estabeleceu como meta a eliminação da hanseníase no ano 2000, tendo como prioridades as seguintes ações de controle, monitoramento e avaliação: a detecção intensiva dos casos, a vigilância epidemiológica, a atenção às incapacidades e tratamento com o esquema multidrogaterapia (MDT-OMS) (Andrade, 1996). No final de década de 1990, a OMS lança a Aliança Global para Eliminação da Hanseníase durante a Terceira Conferência Internacional estipulando novo prazo para eliminação da endemia para 2005. Como medidas de controle da transmissão e a diminuição de deformidades são dadas ênfase, na detecção precoce dos casos, tratamento e diminuição do abandono, necessitando de extensão da cobertura. Simultaneamente, foi elaborado um plano de eliminação em municípios prioritários até 2002. Nesses municípios preconizou-se a implantação de ações de controle e agravo nas Unidades Básicas de Saúde como forma de alcance das metas estipuladas no plano, sendo articuladas com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e Programa Saúde da Família (PSF) (Relatório GT/HANSEN/CONASEMS, 2000). No ano de 2006, por meio da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), uma das estratégias a ser implantada no território nacional foi à eliminação e controle da Hanseníase por meio das equipes de saúde da família. As equipes teriam como uma das ações, realizarem o diagnóstico precoce, tratamento oportuno de todos os casos diagnosticados, a prevenção das incapacidades e a vigilância dos contatos intradomiciliares (Brandão, 2011). Com a inclusão das atividades de eliminação da hanseníase nas demais ações da Atenção Básica, melhorou o acesso da população aos procedimentos de diagnóstico, tratamento e a participação de profissionais generalistas na assistência aos portadores de hanseníase (Ferreira, 2005). Segue na figura abaixo uma síntese das ações de controle no Brasil. 16 Figura 3- Linha do tempo dos principais marcos das Ações de Controle da Hanseníase no Brasil. Fonte: Elaborado a partir do Relatório GT/HANSEN/CONASEMS, 2000; Andrade, 1996; Andrade, 2002; Edit,2004; Maciel, 2010; Brandão,2011. Com o objetivo de fortalecer a resposta para um grupo de doenças, dentre elas a hanseníase, em que os resultados dos programas nacionais foram considerados insuficientes e incompatíveis com a capacidade de resolução pelo Sistema Único de Saúde, foi criado pelo Ministério da Saúde, a Coordenação Geral de Hanseníase e Doenças em Eliminação- CGHDE por meio do decreto nº 7530, de 21 de julho de 2011. Tendo como metas: alcançar a prevalência de menos de 1 caso para 10.000 habitantes; alcançar e manter o percentual de 90% de cura nas coortes de casos novos de hanseníase até 2015; aumentar a cobertura de exames de contatos intradomiciliares para igual ou maior do que 80% dos casos novos de hanseníase até 2015; reduzir em 26,9% o coeficiente de detecção de novos casos de hanseníase em menores de 15 anos até 2015. Como desafio principal, promover o acesso da população ao diagnóstico precoce e tratamento oportuno da hanseníase no âmbito da atenção 17 primária em saúde, assim como adoção de medidas coletivas e estratégicas recomendadas para a eliminação desses agravos enquanto problema de saúde pública (Brasil, 2012). A Coordenação Geral do Programa Nacional de Controle de Hanseníase (CGPNCH) está vinculada ao departamento de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Vigilância em Saúde, cujas ações estão pautadas pela Portaria nº3252 de 22 de setembro de 2009. A CGPNCH atua em parcerias de modo articulado e integrado com outras áreas técnicas do Ministério da Saúde e órgãos do governo, com instituições de ensino e pesquisa, centros colaboradores, organizações não governamentais nacionais e internacionais, representantes dos movimentos sociais e usuários do SUS (Brasil, 2011). O PNCH contempla os seguintes componentes: vigilância epidemiológica divididos em três subcomponentes (monitoramento, análise de informações e assessoria técnica), gestão divididos em três subcomponentes (planejamento, monitoramento /avaliação e descentralização), atenção integral divididos em três subcomponentes (diagnóstico precoce/vigilância de contatos, prevenção de incapacidades/reabilitação e resgate social), comunicação e educação divididos em três subcomponentes (comunicação, educação permanente e mobilização social) e pesquisa divididos em três subcomponentes (centros de referência e pesquisa operacional) conforme figura abaixo. Figura 4- Estrutura dos componentes e subcomponentes do PNCH, 2010. Fonte: Relatório de gestão da CGPNCH, janeiro 2009 a dezembro2010. 18 No nível Estadual, o Plano para o Controle da Hanseníase está baseado nos princípios propostos do Plano Nacional de Eliminação da Hanseníase 2006-2010, assegurando que as atividades de controle estejam disponíveis e acessíveis a todos os indivíduos na unidade de saúde mais próxima de suas residências. Tem como principal desafio, aumentar o percentual de contatos intradomicilares dos pacientes examinados e orientados, melhorar as atividades de prevenção de incapacidades e reabilitação e sua integração no SUS, e aprimorar o manejo das rotinas de hanseníase no SINAN, qualificando o monitoramento e acompanhamento do sistema de vigilância epidemiológica. Tem como missão planejar, coordenar, implantar, estimular, acompanhar e avaliar as ações de vigilância em saúde, que contribuem para que os municípios mantenham a endemia hansênica sob controle adequado (SES, 2013). No nível municipal, o Guia proposto pelo Ministério da Saúde para implementar as ações para o Controle da Hanseníase, prevê que as mesmas devem ser gerenciadas e implantadas em toda a rede de serviços de saúde, garantindo o acesso a toda população. Os serviços devem ser organizados em todos os diferentes níveis de complexidade, integrados com outras áreas técnicas que têm interface com a hanseníase, tais como: PSF, ACS, Educação em Saúde, Imunizações, Promoção Social, Assistência Farmacêutica, Rede de Laboratório e outras que precisem caso sejam identificadas pelo nível municipal, compreendendo as seguintes atividades: divulgação dos sinais e sintomas, diagnóstico, confirmação do diagnóstico, tratamento, prevenção das incapacidades, ações de vigilância epidemiológica, tratamento das intercorrências, reabilitação (Brasil, 1999). Em um estudo realizado por Spnelli e Ignotti (2007), com o objetivo de avaliar a implantação de um projeto para eliminação da hanseníase no estado do Mato Grosso, no período de 2001 a 2003, os autores obtiveram como resultados que os maiores escores alcançados no grau de implantação, foram verificados nos municípios onde as atividades estavam voltadas para a mudança de modelo assistencial, com o fortalecimento do Programa de Saúde da Família e descentralização do atendimento ao paciente de hanseníase. Na visão de Silva Santos & Melo (2008), a partir do momento que os profissionais da ESF incorporarem a VE como atividade cotidiana e que o contexto político local estiver favorável a este processo de mudanças, serão um grande avanço para reorientação das práticas de saúde. Com o intuito de orientar a prática clínica das equipes de saúde, as ações de controle, o fortalecimento da vigilância epidemiológica, a organização da rede de atenção integral, a promoção da saúde, a comunicação, a educação e mobilização social, o Ministério da Saúde 19 aprova em 07 de outubro de 2010, a Portaria nº 3125 que trata das Diretrizes para a Vigilância, Atenção e Controle da Hanseníase. Ainda no mesmo ano, visando fortalecer tanto a atenção primária como a especializada na hanseníase e respaldar os gestores municipais e estaduais no planejamento, implementação, monitoramento e a vigilância epidemiológica, o Ministério da Saúde aprova a Portaria nº 594, SAS/MS, de 29 de outubro de 2010, estabelecendo mecanismos para organização e implementação de redes de atenção estaduais e municipais com a classificação e inclusão de serviço de atenção integral em hanseníase no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de saúde (SCNES) (Brasil, 2010). No Brasil, o controle da hanseníase é baseado no diagnóstico precoce de casos, tratamento e cura, sendo que a detecção de casos novos em menores de 15 anos foi adotada como principal indicador de monitoramento, tendo como meta até 2011, a redução em 10%, estando inserida no Programa Mais Saúde: Direitos de Todos-2008/2011- Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) (Lobato, 2011). O diagnóstico de casos de hanseníase em menores de 15 anos sugere a presença de focos ativos de transmissão no interior de um dado território ou deficiência nos serviços de vigilância e controle. Nesse sentido, a vigilância epidemiológica deve manter um controle rigoroso em crianças, detectando a doença mais precocemente (Ferreira &Alvarez, 2005 apud Morais, 2010). Uma das articulações preconizadas para a busca ativa de casos de hanseníase entre escolares e seus contatos intradomiciliares, é a parceria com o Programa de Saúde Escolar (PSE), garantindo a realização de ações educativas nas escolas, principalmente em áreas consideradas endêmicas, áreas com Programa de Saúde Escolar implantado (PSE) e unidades de Saúde da Família ou rede básica (Brasil, 2012). A descoberta dos casos pode ser por meio da detecção ativa ou passiva. Na detecção ativa, a busca sistemática de doentes ocorre por meio da equipe da unidade de saúde, através das seguintes etapas: investigação epidemiológica de um caso conhecido (exame de contatos); exame das pessoas que demandam espontaneamente os serviços gerais da unidade de saúde por outros motivos que não sejam os sinais e sintomas dermatológicos ou neurológicos; exame de grupos específicos (prisões, quartéis, escolas, de pessoas que se submetem a exames periódicos); mobilização da comunidade adstrita à unidade, principalmente as que estão em áreas de alta prevalência da doença e que demandem os serviços de saúde sempre que apresentarem sinais e sintomas suspeitos (Brasil, 2002, 2012). 20 O diagnóstico da hanseníase é feito através do exame físico com avaliação dermatoneurológica, anamnese, pesquisa de sensibilidade e como complementar, a baciloscopia. Após confirmação do diagnóstico, o tratamento é realizado com esquemas de PQT/OMS, em regime ambulatorial, nos postos e centros de saúde da rede básica (Ferreira, 2005; Araújo, 2003 apud Vásquez, 2007). Queiroz (2009), ao realizar um estudo sobre a influência das condições dos serviços de saúde na detecção precoce dos casos de hanseníase em Recife apontou que nas Unidades de Saúde, considerada porta de entrada do sistema de saúde, foram encontradas as maiores deficiências relacionadas às condições para realizar ações de detecção de casos de hanseníase, principalmente pela pesquisa de sensibilidade. Em um estudo descritivo realizado por Barro (2004), objetivando obter um perfil do paciente hanseniano, analisar a situação epidemiológica e avaliar o programa de controle da hanseníase no município de Londrina no período de 1997 a 2001, a partir dos parâmetros epidemiológicos, operacionais e organizacionais, constatou que os pacientes chegavam ao Serviço de Dermatologia Sanitária encaminhado por outros serviços ou por apresentar grau de parentesco com algum paciente, ocorria à falta de compromisso político e social dos gestores municipais com o Programa de Controle da Hanseníase, falta de medidas técnicas adequadas e esforço coletivo quanto à educação em saúde, associado à falta de condições de vida e sanitárias, além de uma menor integração do Serviço de Dermatologia Sanitária com a rede de serviços, o que dificultava o diagnóstico precoce e a busca ativa. Para Mencaroni (2003), a ausência de busca ativa de novos casos pode traduzir-se em um silêncio epidemiológico e retrata uma realidade preocupante. Existem duas situações onde pode ocorrer a detecção passiva: na demanda espontânea da população para os serviços de saúde e nos encaminhamentos feitos por outras unidades de saúde para confirmação diagnóstica da doença, em casos suspeitos de hanseníase. Em ambas as situações devem ser realizados os exames dermatoneurológicos na pessoa para confirmação do diagnóstico (Brasil, 2002, 2012). Segundo Barro (2004), pacientes advindos de demanda espontânea podem significar um bom nível de informação sobre a doença pela população, podendo vir ou pelos meios de comunicação ou pela endemicidade da doença. Para Moreira (2002) e Costa Neto (2001 apud Lobato, 2011), a investigação epidemiológica tem como objetivo interromper a cadeia de transmissão da doença, identificar 21 e descobrir novos casos de hanseníase entre as pessoas que convivem com o doente no mesmo domicílio e prevenir o contágio com outras pessoas. Para alguns autores (Oliveira et al 2007; Dessunti et al, 2008 apud Lobato, 2011), a vigilância de contatos intradomicilares pode ser considerado como um dos pilares para as ações de controle da hanseníase. Para Andrade et al (2006), a vigilância de contatos não deve ser esquecida, devendo ser estimulada de forma contínua, para que os contatos domiciliares possam ser orientados e examinados sistematicamente, favorecendo cada vez mais, o diagnóstico precoce e tratamento adequado. Após a identificação dos casos, os contatos do portador de hanseníase deverão fazer a avaliação da cicatriz vacinal do BCG-ID, independente da forma clínica da doença. Para os contatos sem a cicatriz vacinal, o MS preconiza uma dose de vacina e para os que apresentarem mais de duas cicatrizes de BCG, não receberão a dose (Brasil, 2009). Lobato (2011), em um estudo, avaliou as ações da vigilância epidemiológica de contatos de pacientes com hanseníase no município de Igarapé-Açú-Pará no período de 2004-2008, a partir de dados do SINAN, protocolo próprio e entrevistas. Como resultado, constatou que a vigilância epidemiológica deve implementar o acompanhamento das ações de controle de contatos, a realização da vacina BCG e a avaliação dermato-neurológica, além de garantir a educação continuada para os profissionais que atuam no programa de hanseníase no município. Estas ações favorecerão o controle da doença e contribuirão para a redução do número de casos no município estudado. A Hanseníase é uma doença de notificação compulsória. Como o objetivo era racionalizar o processo de coleta e transferência de dados de doença e agravos, foi implantado em todo o território nacional em 1993, por meio das Secretarias Estaduais de Saúde, o Sistema de Informação de Notificação de Agravos Nacionais (SINAN), porém somente em 1995, seus bancos de dados foram estruturados (Carvalho, 1998 apud Rodrigues, 2005). Para Gaze & Perez (2002 apud Mencaroni, 2003), a informação é uma poderosa ferramenta para subsidiar o planejamento, avaliação, manutenção e aprimoramento das ações em saúde, podendo-se adquirir os dados demográficos, ambientais, socioeconômicos, morbidade, mortalidade em outros setores. Após o preenchimento da ficha, a mesma deve ser enviada ao órgão de vigilância epidemiológica hierarquicamente superior por meio físico, magnético ou virtual, ficando no prontuário uma cópia. Além da notificação no SINAN, nas unidades de saúde é utilizado o 22 Boletim de Acompanhamento Mensal do SINAN, tornando-se uma importante ferramenta para implementar nos municípios a vigilância epidemiológica dos casos de hanseníase. No caso da notificação de recidiva, a notificação será realizada pelo serviço de referência que confirmou o diagnóstico (Brasil, 2002, 2010). Para a efetividade da vigilância epidemiológica em cada unidade de saúde, faz-se necessário, que as informações sejam fidedignas, completas de qualidade e que tenham um fluxo adequado entre os vários níveis do sistema de saúde, além da manutenção de um sistema de informação ágil e organizado. As informações ajudam no acompanhamento dos casos em tratamento e na construção dos indicadores (Ferreira, 2005), além de subsidiar o planejamento das intervenções. Os profissionais de saúde da atenção básica fazem a coleta de dados a partir da ocorrência de um evento sanitário de caso suspeito ou caso confirmado da doença sob vigilância, ocorrendo em todos os níveis de atuação do sistema de saúde. É necessário que os responsáveis pelo atendimento sejam bem preparados para diagnosticar corretamente o caso, assim como realizar uma boa investigação epidemiológica, com anotações claras e confiáveis. A força e valor da informação dependem da qualidade e fidedignidade (Gazen, 2013). Alguns autores já chamavam a atenção (Carvalho, Marzochi, 1992; Passos, 2003 apud Bezerra, 2009), que diante das dificuldades estruturais do sistema de saúde, da pouca integração das ações de vigilância com as ações assistenciais nos serviços, o uso das informações da vigilância epidemiológica tem ficado restrito à coleta de dados e/ou transmissão destes dados a outros níveis. A subnotificação pode causar uma falsa impressão e gerar informações equivocadas. Em estudo realizado no estado do Ceará, os resultados apontaram que os números da doença caíram, todavia em outro estudo realizado anteriormente no estado sinalizou que 14,9% dos casos de hanseníase atendidos e registrados nos centros de saúde em Fortaleza não constavam dos relatórios do Sistema Nacional de Vigilância de doenças e da Secretaria de Saúde de Fortaleza (SINAN/SMSF), havendo a necessidade de maior qualidade da informação (Façanha et. al, 2006 apud Lobato, 2011). Os indicadores epidemiológicos medem a magnitude da hanseníase, força de morbidade e perfil epidemiológico, sendo eles: coeficiente de detecção anual de casos novos de hanseníase por 100.000 habitantes; coeficiente de detecção anual de casos novos de hanseníase em menores de 15 anos de idade por 100.000 habitantes; proporção de casos de hanseníase com grau de incapacidade física II no momento do diagnóstico, entre os casos 23 novos detectados e avaliados no ano; proporção de casos de hanseníase com grau II de incapacidade física, entre os casos avaliados no momento da alta por cura; coeficiente de grau II de incapacidade física dos casos novos por 100.000 habitantes no momento do diagnóstico; coeficiente de prevalência anual de hanseníase por 10.000 habitantes (Brasil, 2010). Os indicadores operacionais medem a qualidade das ações e serviços, sendo eles: proporção de casos novos de hanseníase com o grau de incapacidade física avaliado no momento do diagnóstico; proporção de casos novos de hanseníase avaliados quanto ao grau de incapacidade física no momento da alta por cura; proporção de contatos examinados entre os contatos registrados dos casos novos diagnosticados no ano; proporção de cura de hanseníase entre os casos novos diagnosticados nos anos das coortes; proporção de casos de hanseníase em abandono de tratamento entre os casos novos diagnosticados nos anos das coortes (Brasil, 2010). Andrade, já em 1995, alertava que o sistema de informações epidemiológicas e operacionais do Programa de Hanseníase, além de trabalhar os indicadores essenciais recomendados pelo Ministério da Saúde, deveria permitir promover, nos vários níveis, intervenções nos fatores condicionantes e determinantes, assim como, possuírem indicadores por nível de atuação que pudessem discriminar as áreas de riscos. Gassen (2013), considerando a importância dos dados epidemiológicos no planejamento das ações em saúde e visando o monitoramento dos agravos de notificação compulsória na rede de Atenção Básica, propôs a elaboração de um protocolo para a vigilância epidemiológica na AB em Santa Cruz do SUL/RS, instrumentalizando os profissionais das unidades de saúde frente aos procedimentos corretos a serem tomados diante dos agravos de notificação compulsória. Como resultado, observou que o protocolo implantado foi um facilitador do processo de trabalho, melhorando a qualidade das informações epidemiológicas das unidades de saúde e o planejamento das ações. Segundo Queiroz (2009), para o planejamento e desenvolvimento das atividades no controle da hanseníase, os serviços de saúde devem levar em consideração o nível de escolaridade dos pacientes, as ações educativas devem ser desenvolvidas numa linguagem adequada à capacidade cognitiva dos usuários e os profissionais devem valorizar os seus conhecimentos e crenças, adequando-os aos conceitos atuais e promovendo novas informações, esclarecendo os questionamentos dos doentes e comunicantes de hanseníase de forma clara. 24 Campos et al. (2005), em um estudo para analisar o contexto epidemiológico da hanseníase no município de Sobral/Ceará, no período de 1997-2003, a partir dos dados do SINAN, obteve como principais achados que apesar de maior sensibilidade da rede de assistência para captação de casos novos, foram identificados inconsistências no diagnóstico, ao serem analisadas mais detalhadamente a partir das variáveis, sinalizaram a possibilidade de inadequação no diagnóstico da hanseníase, destacando a importância de análises críticas e monitoramento da situação epidemiológica e operacional da hanseníase, mesmo em áreas que obtiveram sucesso na integração das ações de controle na atenção básica. Em 2009, Bezerra e colaboradores, em um estudo de caso avaliaram o grau de implantação da vigilância epidemiológica na Secretaria Municipal de Saúde do Recife, Pernambuco, sendo avaliados o nível central, 6 distritos sanitários e 62 equipes de saúde da família. O estudo foi realizado em 2005, apresentou como principais achados que a VE no município, estava parcialmente implantada, sendo o nível central o único em que a vigilância epidemiológica encontrava-se implantada, enquanto que nos distritos sanitários e nas equipes de saúde da família estavam parcialmente implantadas. No que diz respeito à descentralização das ações de vigilância epidemiológica para os municípios, havia diferenças para atender as normatizações e a realidade dos diferentes níveis do sistema municipal. Um estudo realizado por Costa (2013) sobre a implementação da VE no município de Itaboraí/ região metropolitana do RJ, encontrou como principais achados que a vigilância epidemiológica está implementada de forma insatisfatória. Segundo a autora, as dificuldades que mais contribuíram para que o serviço não seja implementado de forma plena são as relacionadas ao contexto político-institucional, que limitam o seu desenvolvimento. Ainda de acordo com a pesquisadora a VE não é valorizada pelos gestores municipais, sendo reconhecida somente em casos de epidemias com o intuito de notificação de casos. Dentre as recomendações que a autora sugere estão o projeto de descentralização para unidades centrais nos distritos, fundamentada em uma proposta de Vigilância em Saúde de base territorial, investimentos na readequação do espaço físico, alocação de recursos humanos e capacitação de profissionais da estratégia de saúde da família para incorporação das práticas de VE. 25 4- MATERIAL E MÉTODOS: 4.1- DESENHO DO ESTUDO: Trata-se de um estudo de caso múltiplo do tipo exploratório-descritivo voltado para o entendimento das ações de vigilância epidemiológica da hanseníase desenvolvidas na Atenção Básica, levando-se em consideração, aspectos da organização do Programa de Controle da Hanseníase (PCH) municipal e da Atenção Básica sendo utilizado para o alcance dos objetivos propostos um conjunto de técnicas quantitativas e qualitativas, de coleta e análise de dados. Serão considerados dois níveis de análise a saber: o nível local e o central. Conceitualmente, o estudo de caso pode ser definido como uma investigação empírica de um fenômeno analisado em profundidade e em seu contexto de vida real, principalmente quando os limites entre o contexto e o fenômeno não estão evidentes. (Yin, 2010). Segundo Minayo (2013, p.164), os estudos de caso: [...] metodologicamente, evidenciam ligações causais entre intervenções e situações da vida real; o contexto em que uma ação ou intervenção ocorreu ou ocorre, o rumo de um processo em curso e maneiras de interpretá-lo; o sentido e a relevância de algumas situações-chave nos resultados de uma intervenção. Segundo Santos (2007), estudar um caso tem como objetivo aprofundar os aspectos característicos de um objeto de pesquisa restrito. Para Denis & Champagne (1997), o estudo de caso permite trabalhar com um número pequeno de unidades de análise e sua potência explicativa sustenta-se na coerência da estrutura das relações entre os componentes do caso e as variações destas relações no tempo e espaço, não sendo dissociado do seu contexto, portanto, baseia-se na profundidade da análise do caso e não da quantidade de unidades analisadas. Como se trata de um estudo voltado para o entendimento das ações de VE da hanseníase e as ações do PCH não estão totalmente descentralizadas para a AB, selecionamos o Ambulatório Central do PCH municipal e duas Unidades de Saúde da Família. Para a escolha das Unidades de Saúde da Família a serem pesquisadas representando o nível local, foi utilizado o seguinte critério: a partir do banco de dados do SINAN estadual, no período de 2006-2013, foram selecionados os bairros que apresentaram os maiores números de casos e elevadas taxa de detecção geral (Apêndice I). No caso dos bairros que possuíam duas USF, utilizou-se como critério de seleção, a unidade mais próxima do Ambulatório 26 Central. Uma vez identificadas as USF candidatas a realização do estudo, foi realizada uma consulta aos profissionais técnicos do Centro de Referência de forma a confrontar nossos resultados com a percepção deles sobre a magnitude do problema. Das UESF selecionadas uma delas possuía uma única equipe ESF. Nesta, a equipe estava incompleta. Na outra ESF havia duas equipes que também estavam incompletas, assim optou-se por escolher profissionais de várias categorias, mesclando-se as duas ESFs, conforme figura 5. Por ser um quantitativo maior de profissionais, foram utilizados os seguintes critérios para selecionar os Agentes Comunitários de Saúde (ACS): os que atuavam mais tempo na Unidade de saúde ou residiam na localidade onde a mesma estava inserida; ou atuassem em microárea onde houvesse casos de hanseníase. Figura 5- Profissionais entrevistados das Equipes de Saúde da Família nas Unidades selecionadas. 4.2- ÁREA DO ESTUDO: O local do estudo é o município de Itaboraí, situado no estado do Rio de Janeiro, na região metropolitana II, microrregião 3 e no lado leste da Baía de Guanabara. Faz limite com 27 os municípios de São Gonçalo, Guapimirim, Cachoeira de Macacu, Tanguá e Maricá (IBGE, 2013). Mapa 1 - Estado do Rio de Janeiro segundo divisão municipal, 2010. METROPOLITANA II ITABORAÍ, RJ Fonte:Centro Estadual de Estatística Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro-CEPERJ Historicamente a origem do município está relacionada à história da extinta Vila de Santo Antônio de Sá ou Vila de Santo Antônio de Macacu, como também era conhecida, que tem sua origem em 1567 (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). A fundação de Itaboraí ocorreu em 1672, com a inauguração de uma capela dedicada a São João Batista, substituída por outro templo em 1693. De 1700 a 1800, a freguesia de São João de Itaboraí apresentou um notável desenvolvimento. Em 1778, era a mais importante da Vila de Santo Antônio de Sá, considerada um grande centro agrícola. Em 1780, grande parte do açúcar produzido pelos oitenta engenhos das freguesias próximas era embarcado em caixas de madeira nos catorze barcos pertencentes ao porto (daí o nome Porto das Caixas) (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). A partir de 1850, os transportes fluviais foram gradualmente substituídos pelos ferroviários e, em 23 de abril de 1860, com a inauguração do primeiro trecho da Estrada de Ferro Niterói-Cantagalo, Itaboraí consolidou a sua importância econômica, pois recebia toda a produção de gêneros do nordeste fluminense pela ferrovia e a enviava em embarcações pelo Rio Aldeia até o Rio Macacu, deste seguinte até a Baía de Guanabara para ser comercializada. 28 Contudo, a Vila de Santo Antônio de Sá começou a entrar em decadência, pois perdia a sua condição de entreposto comercial (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). Em 5 de julho de 1874, foi inaugurada a Estrada Ferro-Carril Niteroiense, partindo de Maruí, em Niterói, até Porto das Caixas. A estrada fazia a ligação de Nova Friburgo e Cantagalo diretamente ao porto da capital da província, Niterói, substituindo o transporte fluvial realizado através de Porto das Caixas. A construção da estrada foi uma das principais causas do declínio do porto e, por consequência, da Vila de São João de Itaboraí, este também agravado pela libertação dos escravos, que levou muitos fazendeiros à falência (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). Do ponto de vista da ocupação humana, Itaboraí, como outros lugares no Brasil, foi palco de ação constante do ser humano, desde tempos mais remotos. Tal afirmação baseia-se nos estudos que vêm sendo realizados com a descoberta de artefatos produzidos e utilizados pelo homem pré-histórico em diferentes pontos do país. Em dezembro de 1995 foi criado o Parque Paleontológico de São José, através de Lei Municipal, para garantir a preservação da área (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). No ano de 2008, com o início da implantação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ), o município vem experimentando importante transformação de seu espaço urbano, com proliferação de atividades econômicas voltadas para o setor de serviços e especulação imobiliária, com expectativa de intensificação do fluxo migratório após implantação das indústrias de transformação dos produtos derivados do petróleo. Apesar do início da construção do COMPERJ, Itaboraí ainda é um município rural, possuindo grande parte de seu território ocupado por propriedades rurais. As principais atividades econômicas do município são: manufatura cerâmica (decorativa e utilitária), fruticultura, agricultura de subsistência, apicultura, pecuária extensiva, extrativismo mineral, setor terciário (comércio e serviços) (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). Aspectos Ambientais: O Município de Itaboraí apresenta um importante ecossistema, com destaque para a área do manguezal de Itambi na foz do Rio Caceribú, áreas remanescentes de Mata Atlântica na Serra do Barbosão, nas Serras do Lagarto e Cassorotiba ao Sul e ainda a Bacia Calcária de São José, no Distrito de Cabuçu. Os manguezais ocupam grande parte da desembocadura dos rios que deságuam na baía de Guanabara em áreas de pouco declive cortadas pelos rios Macacu e Guaxindiba (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). Itaboraí pertence à Área de 29 Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, que engloba ainda os municípios de São Gonçalo, Guapimirim e Magé. A APA de Guapimirim concentra os manguezais da porção oriental da Baía de Guanabara e ocupa uma área de mais de 14 mil m2. Foi criada em 1984, tornando-se a primeira unidade de conservação específica de manguezais no país. A importância dos manguezais decorre do fato destas áreas serem importantes ecossistemas de transição, que concentram diferentes espécies de fauna e flora que buscam estes locais como abrigo para a reprodução, como aves, peixes, caranguejos, etc. Desta forma, os manguezais são caracterizados como verdadeiros berçários para diversas espécies (Cadernos Itadados, 2006). As características do relevo do município são bem peculiares entre si. As maiores altitudes da cidade são encontradas na serra do Barbosão a leste, na divisa com Tanguá, considerada uma das últimas áreas verdes, em bom estado de preservação, abrigando espécies de fauna e flora remanescentes de Mata Atlântica, nas serras do Lagarto e Cassorotiba do Sul, na divisa com o município de Maricá. Nas demais localidades, no norte e no oeste do município, predominam as planícies, onde estão concentrados os rios que convergem para a baía de Guanabara. Entre as planícies e as serras, observa-se um relevo suavemente ondulado, com morros que raramente ultrapassam os cinqüenta metros. Com o crescimento da população torna-se mais frequente os desmatamentos e ampliação de cultura de subsistência nesta área (Cadernos Itadados, 2006). Em relação à hidrografia, o município possui uma rede hidrográfica extensa, que está situada na Região Hidrográfica da Baía de Guanabara, abarcando as bacias dos rios que nascem nas encostas da Serra do Mar, são eles: Macacu, Caceribú, Iguá, Aldeia e Várzea. Os rios mais expressivos encontram-se nas bacias do Caceribú, com 846,7 km² e do Macacu, com 256 km², com destaque para os rios Duques, contribuintes do Caceribú e o rio Aldeia, contribuinte do rio Macacu. Ressalta-se que o rio Macacu, é o maior desta bacia hidrográfica, sendo o principal rio da região e tem como afluentes mais expressivos os rios Guapiaçú à direita e Caceribú, Aldeia e Imbu à esquerda. Ao longo do seu curso as terras da Fazenda Macacú, as ruínas do Convento de São Boa Ventura de Macacú. Suas águas são barrentas e frias. Extensão navegável apenas para barcos de pequeno calado, destinados à pesca. Não possui praias, nem locais propícios para banho (Cadernos Itadados, 2006). O Rio Macacú foi interligado por obra de engenharia ao rio Guapimirim, além de ser vital para o abastecimento de água da população da região leste da Bacia, enquadrando-se na Classe 2, e de acordo com a Resolução CONAMA 20/86, as águas destes rios, após 30 tratamento adequado, estão prontas para a criação de espécies destinadas à alimentação humana, a irrigação, a proteção das comunidades aquáticas e ao abastecimento doméstico (Cadernos Itadados, 2006). A Petrobrás resolveu fazer a instalação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (COMPERJ) no município pela sua posição geográfica estratégica, utilizando o arco metropolitano que ligará Itaboraí ao porto de Sepetiba em Itaguaí, por onde será escoada sua produção (COMPERJ, 2013). A figura 5 mostra o mapa de rodovias do município de Itaboraí, cortado por estradas municipais, estaduais e federais. Mapa 2- Município de Itaboraí segundo divisão distrital e principais rodovias, 2013. Fonte: Itaboraí news, 2013. O Município é cortado pela estrada de ferro da Leopoldina, fator que condicionou sua ocupação. Um ramal da RFFSA segue rumo leste para Guapimirim. O principal acesso à cidade é realizado através da BR-101, que vem de São Gonçalo, a leste, e segue para Tanguá, a oeste. Outra importante via de acesso para São Gonçalo e Niterói é a RJ-104. A BR-493 vem de Magé e Guapimirim, a leste (TCE, 2012) Essas três rodovias se encontram no importante entrocamento de Manilha. A RJ-116 segue rumo norte para Cachoeiras de Macacu e Friburgo e a RJ -114 alcança a fronteira de Maricá, na localidade de Pacheco (TCE, 2012). Um arco rodoviário da Região Metropolitana (BR-493, RJ-099) fará a ligação do porto de Sepetiba, em Itaguaí, à BR-101, em Itaboraí. Esse arco passará por Seropédica e precisará 31 ser construído um trecho entre Queimados, Nova Iguaçu e Duque de Caxias. Lá ele cruzará com a BR-040, juntando-se à BR-116 em Magé, e segue para Guapimirim, chegando a Itaboraí no trevo de Manilha (TCE, 2012). O município está subdividido em oito distritos, sendo eles: Centro de Itaboraí; Porto das Caixas; Itambi; Sambaetiba; Visconde de Itaboraí; Cabuçu; Manilha e Pachecos. Em 2006 foi aprovada uma nova lei de abairramento, lei nº 1985 de setembro de 2006, cujo objetivo foi delimitar e/ou incorporar geograficamente alguns bairros e loteamentos pré-existentes a outros já existentes. Atualmente o setor de georreferenciamento está trabalhando nesta nova lei (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014) (Mapa 3). Mapa 3: Município de Itaboraí segundo divisão por bairros. Fonte: Elaborado a partir dos dados disponibilizados pela Prefeitura de Itaboraí, 2014. 32 Na tabela 2, são apresentadas as características gerais dos distritos do município de Itaboraí, qualquer intervenção voltada para a hanseníase deve levar em consideração a heterogeneidade de cada localidade. Tabela 2- Características gerais dos distritos do município de Itaboraí, no período de 2005-2010. 33 Aspectos Demográficos: O município de Itaboraí possui uma área de aproximadamente 430.373 Km². No ano de 2010, a população do município era de 218.090 habitantes, representando uma densidade demográfica de 514.42 hab/Km². Do total de habitantes, 215.503 residem em área urbana e 2.587 em área rural. Em relação ao crescimento populacional, entre os anos de 2000 e 2010, verifica-se um aumento de 16,8%. Esta população está dividida nos oito distritos, de acordo com o Censo 2010, conforme o gráfico 1. Gráfico1– Distribuição da população no município de Itaboraí, segundo distritos, 2010. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo IBGE, 2010. Nota-se que o primeiro distrito (Itaboraí) representa a maior parcela da população com 107.117 habitantes, seguido pelo sétimo distrito (Manilha) com 58.572 habitantes e pelo terceiro distrito (Itambi) com 23.111.habitantes. O distrito que apresenta a menor contingente populacional é o segundo distrito (Porto das Caixas) com 3.782 habitantes. Em relação à faixa etária, segundo o Censo 2000 e 2010, ao compararmos as duas pirâmides podemos observar pelo gráfico abaixo, mudanças no perfil demográfico municipal com estreitamento na base e alargamento no meio (TCE, 2013). 34 Gráfico 2-Distribuição da população no município de Itaboraí, segundo o sexo e idade. Fonte: TCE/RJ-2012. Observamos que em ambos os Censos 2000 e 2010, a faixa etária de 10 a 14 anos praticamente manteve-se igual para os meninos em 4,7% e variou levemente para as meninas em 4, 6% no Censo de 2000 e 4,5% no Censo de 2010, chamando a atenção para uma parte do grupo que mais expressa à transmissão ativa da hanseníase, necessitando um maior controle. Aspectos Socioeconômicos: Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) tem como objetivo medir o grau de desenvolvimento de um país, estado e municípios. É uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, que é renda per capita, ou seja, toda a riqueza produzida ao longo de um ano, dividida aritmeticamente por sua população, a educação (traduzida na escolaridade, número de crianças alfabetizadas e regularmente matriculadas nas escolas) e a expectativa de vida ao nascer, a sua longevidade (número médio de anos que uma pessoa viveria nascida em um determinado município, a partir do nascimento) (Atlas Brasil, 2013). O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) é uma forma padronizada de avaliação e medida de bem-estar de uma população, varia entre 0 e 1. Quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento humano do município. Ao se avaliar um município, considerase com o IDHM muito baixo aquele que estiver na faixa entre 0 e 0,499, considerado baixo 35 entre 0,500 e 0,599, considerado médio entre 0,600 e 0,699, considerado alto entre a faixa 0,700 e 0,799, muito alto entre 0,800 e 1 (Atlas Brasil, 2013). No ano de 2010, o município de Itaboraí apresentou um IDHM de 0,693 considerado como um índice médio, o fazendo ocupar, o sexagésimo segundo lugar entre os municípios do estado do Rio de Janeiro. Em relação ao IDHM renda, o município apresentou um índice de 0,690, ocupando o sexagésimo lugar, o IDHM longevidade foi 0,813, ocupando o quadragésimo lugar e IDHM educação de 0,593, ocupando a sexagésimo nono lugar (Atlas Brasil, 2013). Na tabela abaixo, observamos a distribuição da renda, pobreza e desigualdade referente ao período de 1991, 2000 e 2010 no município de Itaboraí, segundo o Atlas Brasil, 2013. Tabela 3- Distribuição da Renda, Pobreza e Desigualdade, Itaboraí - RJ Renda per capita (em R$) % de extremamente pobres % de pobres Índice de Gini 1991 276,47 13,31 37,15 0,49 2000 410,66 6,14 21,29 0,50 2010 584,35 3,31 10,21 0,48 Fonte: Pnud, Ipea, FJP- Atlas Brasil, 2013. Ao observar a tabela acima, notamos que a renda per capita média de Itaboraí cresceu 111,36% nas últimas duas décadas, aparentemente houve uma melhora. A taxa média anual de crescimento foi de 48,54% no primeiro período e 42,30% no segundo. A extrema pobreza que é a medida de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 70,00 passou de 13,31% em 1991 para 6,14% em 2000 e para 3,31 em 2010. O coeficiente de Gini, que é um indicador usado para medir o grau de concentração de renda, aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos, variando de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar (Atlas Brasil, 2013). Pela tabela acima nota-se que a desigualdade no município de Itaboraí diminuiu passando de 0,49 em 1991 para 0,50 em 2000 e para 0,48 em 2010. Aspectos em relação à saúde: 36 No que se refere à saúde, o município, segundo o CNES, possui 151 estabelecimentos de saúde assim distribuídos: (1) Central de Regulação; (2) Centro Atenção Psicossocial; (46) Centro de Saúde/UBS; (14) Clínicas Especializadas/ambulatório especializado; (45) Consultórios isolados; (1) Farmácia Médica Excepcional e Programa Farmácia Popular; (2) Hospitais especializados; (2) Hospitais Gerais; (3) Policlínicas; (4) Postos de Saúde; (1) Secretaria de Saúde; (27) Unidades de Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia; (1) Unidade Vigilância em Saúde; (1) Unidade Móvel pré-hospitalar de urgência/emergência; (3) Unidades Móveis Terrestres (Estudos Socioeconômico 2012/ Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, 2013). Em relação ao total de leitos, há (22) leitos cirúrgicos; (223) leitos clínicos; (24) leitos obstétricos; (12) leitos pediátricos (TCE, 2013). No município de Itaboraí, no período da pesquisa existiam 34 unidades de saúde da família (USF) e 45 equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF). As USF’s possuem de uma a duas equipes, segue no abaixo o mapa de estabelecimentos com a distribuição das Unidades de Saúde, os hospitais, policlínicas e clínicas conveniadas (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014). Mapa 4- Mapa de Estabelecimentos de Saúde Fonte: Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014. 37 A Unidade de Referência do Programa de Controle da Hanseníase também conhecido como Ambulatório Central ou Centro de Referência funciona na sede da antiga Secretaria de Saúde, conta com uma equipe técnica de 8 profissionais. O processo de descentralização das ações do PCH para a AB ainda estão em andamento, segundo informações dos profissionais. 4.3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Tendo em vista os objetivos do estudo foram utilizados como técnicas de pesquisa: levantamento documental, análise de dados secundários referentes à notificação da hanseníase, observação sistemática dos processos de trabalho e das localidades e entrevistas com informantes-chave. Para levantamento documental foram consultados: Plano Municipal de Saúde (20102013 e 2014-2017); Diário Oficial do município; Cadernos Itadados do município 2005-2006; Relatórios de Gestão (2012, 2013, 2014); sites governamentais (municipal e estadual), dissertações, documentos da SMS, englobando os vários níveis de atenção, identificando aspectos específicos do processo de implantação e implementação do Programa de Controle de Hanseníase no Ambulatório Central, no nível local e a organização da AB e da VE; manuais técnicos do Ministério da Saúde, Programa Nacional de Controle da Hanseníase. Para caracterização da situação epidemiológica, inicialmente foi realizada uma análise comparativa da taxa de detecção geral e em menores de 15 anos de idade referente ao município de Itaboraí, Niterói, São Gonçalo e Estado do Rio de Janeiro a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) para o período de 2006 a 2013. Adicionalmente foi realizada uma análise da distribuição espacial da taxa de detecção geral de hanseníase por distritos e bairros do município para o período de 2006 a 2013. Para tanto, foi realizada a confecção de mapas temáticos de incidência no referido período. Em relação à distribuição segundo bairros, uma vez identificada instabilidade nas taxas de incidência decorrentes de pequenos números (casos e populações nos bairros), optou-se pelo cálculo de coeficientes corrigidos através do método Bayesiano Empírico Global, assumindo uma matriz de vizinhança por contiguidade. As estimativas populacionais para o período intercensitário basearam-se no modelo de crescimento geométrico, supondo uma variação linear constante por unidade de tempo (ano). A caracterização do cotidiano do trabalho e infraestrutura tanto no nível central quanto nas localidades de estudo foram realizadas através da observação sistemática e de registro 38 fotográfico conjuntamente com as entrevistas e análise documental, seguindo um roteiro guia. As informações foram registradas em um diário de campo (Apêndices II e III). As entrevistas com os informantes-chave seguiram um roteiro semi-estruturado e tiveram as seguintes questões norteadoras (Apêndices IV, V, VI e VII). Aspectos da organização do PCH e da Atenção Básica – neste tópico buscou-se obter informações sobre a descentralização para a Atenção Básica das ações do Programa de Controle da Hanseníase na ESF, comportamento dos indicadores operacionais e suas prováveis causas, monitoramento e avaliação dos mesmos, as parcerias intra/intersetoriais, conhecimento dos recursos financeiros, autonomia dos coordenadores, planejamento participativo, a estrutura organizacional da SMS e a organização atual do serviço. Dinâmica de funcionamento do Programa de Controle da Hanseníase no nível municipal e local- neste tópico buscou-se conhecer como é o funcionamento do Programa de Hanseníase no nível local e central, quais as dificuldades e facilidades encontradas no processo de descentralização, recursos humanos (quadro disponível, qualificação), disponibilidade de infraestrutura para as equipes e sua articulação com o nível municipal, conhecer o processo de Educação Permanente das equipes que atuam com as ações de VE da hanseníase. Hanseníase em Itaboraí e as práticas de VE – conhecimento da situação epidemiológica da hanseníase na localidade onde está inserida a USF, como a doença se produz e como são trabalhados os indicadores epidemiológicos e operacionais encontrados na localidade e no nível central, estratégias de vigilância epidemiológica da hanseníase utilizadas no município e na localidade da USF, como é o fluxo de informações, a notificação, como se faz busca contatos intradomiciliares, busca de faltosos e de abandono, acompanhamento dos casos, a relação com as outras equipes de saúde da família da localidade escolhida, as dificuldades e facilidades encontradas para execução das ações de vigilância epidemiológica da hanseníase e adequação as normas. 39 Foram selecionados os seguintes informantes-chave (coordenador da UESF das localidades escolhidas, coordenador de Programas de Saúde, coordenador do Programa de Controle de Hanseníase, coordenador da Vigilância Epidemiológica, profissionais envolvidos diretamente nas ações da VE (no nível Central) e profissionais que atuam nas UESF das localidades escolhidas (nível local), totalizando 19 entrevistas (Quadro 1). Como forma de minimizar a identificação do informante-chave foi utilizada a sigla (E 01, E 02, E 03...) e assim sucessivamente. Ressalta-se que a numeração foi dada de forma aleatória, sem nenhuma relação com o grau hierárquico ocupado por cada entrevistado ou por ordem de entrevista. As entrevistas foram aplicadas entre os meses de novembro de 2014 a fevereiro de 2015. O tempo médio previsto para as entrevistas foi no máximo de uma hora. Posteriormente, as gravações foram transcritas e subsidiaram a elaboração de um relatório com as contribuições de cada informante, preservando o sigilo da fonte. Levando-se em consideração que alguns cargos são específicos, houve risco de identificação, no entanto, os entrevistados foram informados. Quadro 1- Relação dos profissionais entrevistados Fonte: Elaborado a partir das entrevistas, 2014. 40 Antes da aplicação das entrevistas o roteiro a ser seguido sofreu alguns ajustes e adequações, após aplicação de um teste piloto em profissionais de uma UESF que não foi incluída na investigação. A Unidade de Saúde na qual foi aplicado o teste piloto possuía duas equipes de ESF, os entrevistados foram escolhidos tendo o cuidado de incluir participantes de cada categoria (profissionais técnicos e coordenador), com o intuito de ajustar as perguntas de acordo com cada perfil. O primeiro contato com as UESF’s da pesquisa foi feito por intermédio do coordenador do PCH, que disponibilizou uma listagem com os nomes e telefones dos respectivos coordenadores. A partir daí foram realizados os contatos com as unidades selecionadas para agendamento de uma visita institucional da pesquisadora com o objetivo de apresentação do projeto, seus objetivos e procedimentos metodológicos. Após apresentação do projeto, as entrevistas foram agendadas. Todas as entrevistas foram realizadas em local e horário pré-determinados pelos entrevistados. Para tornar a entrevista mais acolhedora possível nas USF e deixar os profissionais à vontade, foi oferecido um pequeno coffee-break. Houve um acolhimento e receptividade dos profissionais nas USF’s com a pesquisadora e a vontade de contribuir na pesquisa. No nível central inicialmente foi feito um primeiro contato com o Núcleo Permanente de Educação em Saúde (NEPS) para apresentação do Parecer de Aprovação da Pesquisa, e com a Coordenação de Programas de Saúde que intermediou o primeiro contato com os respectivos setores e coordenações envolvidos na pesquisa. Com a proximidade com os setores/coordenações envolvidos na pesquisa, houve um acolhimento das equipes dos respectivos setores com a pesquisadora. Esta proximidade criou um vínculo de familiaridade que proporcionou a pesquisadora participar como observadora dos processos de trabalho das equipes, principalmente no nível central, participando inclusive de reuniões de trabalho e atividade como, por exemplo, no mês em Combate à Hanseníase. Após a aplicação das entrevistas, efetuou-se uma análise e sistematização do material, sendo elaborado um quadro síntese com as principais ações de VE da hanseníase segundo a Portaria nº3125/2010 (Brasil, 2010), identificando os elementos limitadores das práticas de VE da hanseníase e dispositivos para enfrentamento existentes apontados pelos entrevistados. As ações e elementos foram separados segundo cada nível de assistência e VE. Para um maior detalhamento dos procedimentos metodológicos, apresentamos o quadro 2. 41 Quadro 2- Síntese dos procedimentos metodológicos 42 4.4- ANÁLISE DOS DADOS: A análise dos dados foi feita a partir da complementariedade das fontes, sendo elas: a análise documental; análise de dados secundários junto ao banco do SINAN; observação sistemática dos processos de trabalho e das localidades e entrevistas com informantes-chaves, buscando identificar elementos relacionados à organização da Atenção Básica, do Programa de Controle da Hanseníase e da Vigilância Epidemiológica e das práticas de VE da hanseníase. Para entender o contexto organizacional do Programa de Controle da Hanseníase e da Atenção Básica e identificar elementos relacionados à gestão do Programa e da VE da hanseníase no nível central e local e sua relação com a AB, foi necessário, primeiro, considerar e descrever um breve histórico sobre a experiência do município e do PCH na atuação e nas ações de controle da hanseníase, uma vez que, o município abriga um hospital colônia de hanseníase desde 1938. Para levantar esses elementos e ajudar a entender melhor essas relações, foi apresentado um caso da uma paciente que tinha uma relação antiga com o PCH, desde o tempo que esteve internada no Hospital Colônia Tavares de Macedo, quando este ainda funcionava no modelo de isolamento compulsório. Posteriormente, foi construído o organograma da SMS e fluxograma do PCH com o objetivo de identificar os nós críticos em relação à organização institucional. Para entender as práticas de VE da hanseníase e identificar os elementos de adequação às normas e à situação local da hanseníase, inicialmente, foi necessário conhecer a hanseníase no município segundo alguns indicadores epidemiológicos e operacionais. Ao analisar os indicadores, a partir dos dados produzidos pelo município vislumbrou-se a possibilidade de olhar essas práticas por dentro do programa e da VE. Na medida em que os elementos eram identificados, estabeleciam-se comparações com as normas e regulamentos oficiais e a situação local da hanseníase, sendo construído um fluxograma, identificando as ações realizadas de VE da hanseníase no município. Para análise final da vigilância dos elementos organizacionais que interferem nas práticas de VE da hanseníase no município de Itaboraí, foi construído um quadro síntese identificando os elementos limitadores separando o nível central e o nível local, sendo balisados pelas normas, considerando-se: a busca ativa de casos (descoberta e confirmação do diagnóstico); notificação do caso (SINAN); investigação epidemiológica de contatos; acompanhamento do caso (relatório/Boletim de acompanhamento do caso/ prontuário); monitoramento e avaliação 43 e identificando-se criatividades produzidas e dispositivas utilizados pelos profissionais para enfrentamento das dificuldades existentes que interferiam nas práticas de Vigilância epidemiológica da hanseníase no nível central e no nível local. 4.5- ASPECTOS ÉTICOS: O estudo só se iniciou após a submissão no Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, em conformidade com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde. O trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Nacional de Saúde Pública, e aprovado com parecer número 750.032 de 06/08/2014 (CAAE: 33437814.8.0000.5240). Foi elaborado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para os entrevistados (coordenadores, gestores, profissionais de saúde e profissionais técnicos do nível central e local) e um termo para autorização da pesquisa pela Secretaria Municipal de Saúde do Município de Itaboraí (Apêndices VIII e IX). Antes do início da gravação das entrevistas foi apresentado a cada entrevistado o TCLE para ciência dos mesmos. Neste termo constam as seguintes informações: o objetivo da pesquisa, justificativa, procedimentos metodológicos a serem utilizados, riscos, benefícios, garantia de sigilo das informações, anonimato e a importância de sua participação no estudo. Os sujeitos que correm o risco de serem identificados, devido à especificidade de alguns cargos foram avisados sobre esta possibilidade no TCLE. Além disso, será solicitada autorização para citação do cargo caso algum trecho da entrevista tivesse que ser transcrito e que pudesse contribuir para o estudo, porém todos os participantes tinham autonomia para recusar, pois no TCLE estava previsto. O material coletado (as gravações e documentos disponibilizados) foi utilizado exclusivamente para elaboração da pesquisa, e serão guardados por cinco anos em segurança. Está previsto a divulgação dos resultados do estudo através da publicação de artigos e apresentação em congressos científicos. Foi acordado com os gestores e profissionais no nível central e local, uma apresentação final do estudo, após a defesa da dissertação, para exposição dos resultados. 44 5- RESULTADOS: 5.1- Buscando elementos para entender o contexto organizacional onde ocorrem as práticas de VE: Organização do PCH e da Atenção Básica no município de Itaboraí. Neste item optou-se, primeiramente, pela recuperação da experiência na história da atuação e controle da hanseníase no município. Isso se justifica, pelo fato de que desde os anos 1930, o município abrigar a atuação de controle da doença com papel importante na atenção. Em 1936, num contexto de implantação do Plano Nacional de Combate a Lepra, onde a estratégia de controle era o isolamento compulsório dos doentes, o município de Itaboraí foi escolhido para abrigar o Hospital colônia Tavares de Macedo (HETM), na época, denominado Leprosário do Iguá. Nesse período, o município tinha uma característica predominantemente rural, com uma população urbana e densidade populacional muito baixa. Além disso, apresentava proximidade relativa com Niterói e São Gonçalo e possuía grande área com terrenos elevados de vegetação, duas estradas de rodagem e uma de ferro, próximo a um rio, o que eram características favoráveis para a implantação de uma colônia agrícola autossustentável (Santana e cols., 2011; Cavaliere, 2013). Arruda, (2014), aponta que tal implantação do leprosário, se fez sobre o enfrentamento de resistências de lideranças locais para evitar a construção do hospital colônia no município de Itaboraí, argumentados pelos impactos econômicos, políticos e sociais que a construção do hospital colônia poderia causar, tais como: um maior estigma da doença para o município; a possibilidade de o município ser prejudicado, caso tentasse voltar a ocupar a posição de destaque no cenário político da Província, assim como o próprio desenvolvimento econômico da região. Apesar dos impasses, o hospital foi inaugurado em setembro de 1938 e receberia pacientes com hanseníase oriundos do Estado do Rio de Janeiro e de outros estados, resultados do isolamento compulsório que durou até 1986 (MORHAN, 2010). Segundo o Relatório Anual de Gestão (SMS, 2014), durante muitos anos o Hospital Estadual Tavares de Macedo, manteve uma gestão dupla com o município, atualmente não mais, apesar de ainda constar no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) (SMS, Itaboraí 2014). 45 Segundo o entrevistado (E 06), na época, vários parentes e familiares de pacientes que estavam em isolamento compulsório na colônia, vieram residir no entorno do hospital, na intenção de ficarem mais próximos, surgindo assim, o bairro Reta Velha. O bairro em questão situa-se em frente da colônia, sendo dividido pela rodovia Amaral Peixoto. Já os filhos dos doentes eram levados para o Educandário de Vista Alegre em São Gonçalo, município vizinho a Itaboraí. Cavaliere (2013), relata que uma das formas de resistência dos pacientes ao isolamento compulsório eram as fugas para a sociedade externa, motivadas para comprar bebidas alcoólicas, visitar um prostíbulo da região, visitar parentes e familiares ou os que tentavam se integrar a uma vida fora da colônia. Ainda de acordo com o entrevistado (E 06), as ações voltadas para o controle de hanseníase eram executadas através do Programa de Dermatologia Sanitária implantado no município ano 1960 e funcionava no posto de Saúde Milton Rodrigues onde permaneceu até a década de 1990. Na época, o programa contava com uma equipe técnica composta por um médico dermatologista, uma enfermeira e um técnico de enfermagem. O tratamento medicamentoso resumia-se ao preconizado pelo Ministério da Saúde desde 1943, a monoterapia sulfônica ou com clofazimina. Na década de 1970 passou a ser associada com rifampicina, conhecido como Esquema Terapêutico permanecendo assim até julho de 1990, quando foi introduzida no tratamento da hanseníase a multidrogaterapia (MDT-OMS) de acordo com recomendação da OMS (Andrade, 1996). Em 1985, iniciaram-se as discussões sobre o processo de descentralização das ações para os municípios, tendo como objetivo aumentar a cobertura e melhorar a atenção ao paciente portador de hanseníase. Até então, a assistência aos doentes era oferecida nas unidades estaduais instaladas em alguns municípios (Moreira, 2002). Em conversas informais com alguns profissionais que atuam no PCH, soube-se que até os dias atuais, o Hospital Estadual Tavares de Macedo é considerado referência para região da metropolitana II para tratamento de pacientes com reação hansênica. A lei ordinária nº 982 de 27 de junho de 1990 criou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS). As Leis Municipais nº 1148 e nº 1149 de 05 de março de 1993, instituíram o Conselho Municipal de Saúde e o Fundo Municipal de Saúde respectivamente (Mujdalieb, 2011). A partir de julho de 1996, iniciaram-se as reuniões do Conselho Municipal de Saúde (CMS) com o objetivo de atender aos requisitos de habilitação do município ao SUS, a princípio para a gestão plena da atenção básica e posteriormente para a gestão plena do sistema municipal 46 (Mudjalieb, 2011). Neste momento, iniciou-se a descentralização das ações de Vigilância Epidemiológica em Itaboraí, que até aquele momento eram realizadas pelo setor de Saúde Coletiva da SMS (Costa, 2013). A partir da década de 1990, o programa de hanseníase muda-se para a antiga sede da Secretaria de Saúde, também conhecido como Ambulatório Central, ao lado do Posto Milton Rodrigues, onde permanece até os dias atuais. Na época passa a fazer parte da equipe técnica, uma médica com a missão de introduzir a Poliquimioterapia (PQT) no tratamento dos doentes de hanseníase (E 06). A PQT-OMS consistia na associação de rifampicina (RMP), clofazimina (CFZ) e dapsona (DDS) para os pacientes multibacilares (MB) e dapsona e rifampicina para os pacientes paucibacilares (PB). Para Andrade (1996), a introdução da PQT tinha como objetivo eliminar as condições de transmissão, causando impacto epidemiológico, desse modo, era fundamental que outras atividades de controle, tais como diagnóstico precoce, prevenção e tratamento de incapacidades físicas, a vigilância de contatos e educação sanitária fossem realizadas. Chama a atenção, o fato de que por durante 30 anos a equipe do Programa de Dermatologia Sanitária era formada somente por 3 profissionais, tendo em vista o crescimento populacional do município. Vale destacar, que devido à experiência local com a doença nessa época o município se torna partícipe em um projeto piloto no estado do Rio de Janeiro, que seria a introdução da PQT no tratamento da hanseníase (E 06). Segundo a percepção do entrevistado (E 06), no início, houve muita resistência por parte dos doentes em tratar com a PQT, já que muitos não acreditavam que podiam ficar curados em um período tão curto. Para incentivar a adesão a PQT, a equipe técnica do PCH municipal na época utilizou como estratégia, que todos os casos novos que entrassem no programa seriam tratados automaticamente com a PQT e com os casos em tratamento, seria dada a opção ao doente escolher qual método de tratamento continuar. Esse processo de aceitação e migração do modelo de tratamento tradicional para a introdução de um novo modelo de tratamento com a PQT durou em torno de 10 anos. Em 1995, é criada a Coordenação de Dermatologia Sanitária municipal que atendia hanseníase e outras doenças dermatológicas. Dentre as inúmeras atividades da coordenação, ela era responsável em fazer o diagnóstico clínico e encaminhar para os Centros de Referência (Fiocruz e Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - Fundão), os pacientes para fazerem o diagnóstico laboratorial. Após a confirmação do diagnóstico, os doentes eram 47 reencaminhados para a Coordenação de Dermatologia Sanitária do município para iniciarem o tratamento nesta Unidade (E 06). A partir de 1998, o estado do Rio de Janeiro inicia uma discussão com gestores municipais de saúde com o objetivo de motivá-los a incorporar a hanseníase no conjunto de ações de Atenção Básica integrando a assistência aos portadores na rede de saúde com destaque no PSF e PACS, sendo definida pela Coordenação Estadual do Programa de Hanseníase, a opção de descentralizar o diagnóstico, a avaliação do grau de incapacidade e o tratamento em todas as unidades básicas de saúde dos municípios. Para tal foram realizados capacitações para os profissionais da ESF com a finalidade de executar as atividades nas unidades básicas de saúde em cada município (SESRJ, 1998 apud Moreira, 2002; Pimentel et al, 2004). Segundo Pimentel et al (2004), a descentralização das ações de hanseníase no Estado do Rio de Janeiro, foi implantada em todos os municípios no ano de 2001. Essa nova medida está relacionada com a estratégia de expansão da Atenção Básica, por meio da instalação de unidades de Saúde da Família, sendo importante para descentralização dos programas. A rede básica de Itaboraí, até o ano 2001, era composta por: um ambulatório central localizado na SMS, onde funcionava o Programa de Hanseníase; o posto de saúde Milton Rodrigues da Rocha; e 19 postos de saúde, sendo 3 organizados como PSF, localizados em Itambi, Reta Velha e Marambaia. (Relatório de Gestão 2001 apud Mujdalieb, 2011). Segundo Mudjalieb (2011), no município de Itaboraí no ano de 2001, houve a inserção de novos profissionais, havendo reorganização de vários programas dentre eles, o Programa de Hanseníase municipal e estruturação de novos setores da SMS como a divisão de epidemiologia e controle de doenças. Foram intensificadas as atividades de educação permanente para as equipes de PSF, utilizando-se como estratégias as capacitações, com o objetivo de organizar os programas nas unidades de saúde. Neste mesmo ano foi aprovado no CMS, o projeto detalhado para ampliação da cobertura populacional do PSF no município para 70%, formando um total de 38 equipes de SF e que os 30% restantes seriam atendidos pelo Posto de Saúde Milton Rodrigues, localizado no centro de Itaboraí e pelas Unidades Básicas de Saúde existentes. O período de 2001 a 2003 foi marcado por um fortalecimento da rede de saúde pública e de suporte no município, e ampliação da cobertura da ESF. Apesar da proposta de cobertura ser de 72%, o município só conseguiu 63% de cobertura pelo PSF. 48 Segundo Mujdalieb (2011), em seu estudo, a precariedade das Unidades de Saúde da Família; abastecimento de água potável nas Unidades; entrega dos medicamentos; falta de medicamentos nos PSF; morosidade dos exames encaminhados pelo PSF; proposta de compra de veículos para o PSF; necessidade de estruturação do PSF para oferecer os procedimentos antes realizados pelas clínicas, já eram problemas relatados nas reuniões do Conselho Municipal de Saúde em 2003. Percebe-se que essas colocações são problemas crônicos que se arrastam até os dias atuais e apontam para a necessidade urgente de maior articulação e organização da rede e fluxo de atendimento. Entre os anos de 2004 a 2008, houve um movimento por parte da gestão na época, para institucionalização do PSF, com a organização, construção e reforma das unidades de saúde, normatização de rotinas e protocolos para as equipes de SF, capacitação das equipes na metodologia Ouvidoria Coletiva e Terapia Comunitária, ocorrendo nesse momento, maior consolidação do PSF no município (Mujdalieb, 2011). No ano de 2005, foi aprovado por meio do Decreto municipal nº 11/ 2005, a nova estrutura da Secretaria Municipal de Saúde, criando-se a coordenação do Programa de Hanseníase estando esta subordinada a Atenção Básica (Prefeitura de Itaboraí, 2005). Até o ano de 2009 vigorava a estrutura organizacional da Secretaria Municipal de Saúde aprovada pela lei nº 11 de 04 de janeiro de 2005, a partir do Plano Municipal de Saúde 2010-2013, houve modificação na estrutura organizacional da SMS, havendo a inclusão do setor de vigilância em saúde dentre outras modificações, por meio do decreto nº 80 de 20 de outubro de 2010 (Costa, 2013; Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2010a). Ainda assim, o PCH contava no seu quadro técnico com uma equipe mínima composta por duas médicas, que se revezavam para exercer a função de coordenação, uma enfermeira e uma técnica de enfermagem. Em relação às ações programáticas, no Plano Municipal de Saúde 2005-2009, foi definido como meta a implementação e manutenção do programa de hanseníase com descentralização das ações para 10% das equipes de SF. Dando prosseguimento a esse processo, nos Relatórios de Gestão 2005-2007, constam que as ações dos programas de hanseníase foram descentralizadas para as equipes de Saúde da Família, sendo estas capacitadas pelas coordenações dos programas e pela equipe de supervisão. Outro ponto que chama atenção neste relatório refere-se à preocupação de alguns conselheiros sobre a insuficiência da rede de garantir assistência integral a população mediante a instalação do COMPERJ (Mujdalieb, 2011). Pelas colocações, observa-se que naquela época, o município já apresentava sinais de fragilidade na saúde. 49 A partir do ano de 2008, o PCH municipal passa a ter mais um profissional especialista na equipe, a fisioterapeuta. Neste momento, as atividades de avaliação do grau de incapacidade passam a ser exercida por este profissional (E 04, E 05). O período seguinte, de 2009 a 2010, foi marcado pela instabilidade política na SMS, o que acabou repercutindo no funcionamento nas unidades de saúde, com o aumento da rotatividade de profissionais (Mujdalieb, 2011). Mesmo com essa instabilidade e rotatividade de profissionais, no Plano Municipal de Saúde 2010-2013 estava previsto o aumento da cobertura atendida pelo ESF, porém não havia planejamento para construção ou aquisição de novas unidades, tendo como metas a melhoria da qualidade da equipe, com capacitação, implantação de protocolos, avaliações e melhoria no acesso da população à atenção básica (Costa, 2013). Ainda de acordo com o Plano Municipal, a cobertura da ESF no município em 2010 era de 68,9% (Prefeitura de Itaboraí, 2010a). Em 2012, outros dois profissionais passam a fazer parte do quadro funcional do PCH, uma assistente social e um psicólogo, porém ambos dividiriam sua carga horária para atenderem ao Programa de Hanseníase e ao Programa de Tuberculose, fato que permaneceu até o mês de fevereiro de 2015, quando foram finalizadas as entrevistas (E 04, E 05). O PCH municipal ganha um reforço a partir de 2013. Neste momento, o Programa passava a contar no seu quadro técnico com mais um profissional enfermeiro, que tinha como uma das atividades, atuar mais intensamente no fortalecimento deste processo de descentralização das ações para as USF’s. Como primeira estratégia adotada, foi a capacitação das equipes de ESF sobre hanseníase. A capacitação tinha como metodologia, aulas teóricas e práticas que foram realizadas no Ambulatório Central e nas próprias USF. Ao final do ano de 2013, haviam 10 USF’s com ações descentralizadas do PCH (E 07). Inicialmente, essa descentralização tinha como objetivo, inserir no cotidiano das equipes de ESF a busca ativa de casos novos, avaliação dos contatos intradomiciliares e o tratamento dos doentes de hanseníase. Neste momento, trimestralmente, o paciente passa a ser encaminhado para o Ambulatório Central para ser avaliado pelos profissionais do programa (E 07). Na Programação Anual de Saúde referente ao ano 2013, estava previsto a capacitação dos profissionais do laboratório para coleta e análise da baciloscopia, capacitação dos enfermeiros das unidades de saúde com ações do PCH descentralizadas, para avaliar o grau de incapacidade e todos os profissionais das Unidades de saúde em detecção de casos novos e ações de controle da hanseníase (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2013). 50 Segundo a Ata da 10ª Reunião Ordinária da Comissão de Intergestores Regional da Metropolitana II, ocorrida no ano de 2013, foi aprovada a descentralização do atendimento dos pacientes com Hanseníase para Unidades de Atenção Básica para 50%, no município de Itaboraí (Portal da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, 2015). De acordo com o Plano Municipal de saúde 2014-2017, estima-se um aumento de 75% da cobertura da população pela ESF no município. Neste sentido, está previsto a construção de 17 Unidades novas, ampliação e reforma de 8 Unidades e implantação de novas 11 equipes em unidades já existentes (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014). Outra estratégia proposta segundo o Plano é a construção e implantação de um Centro Ambulatorial de Atendimento Especializado a Doenças Transmissíveis, como parte de controle das doenças transmissíveis de maior prevalência no município incluindo (Hanseníase, Tuberculose e DST, HIV/AIDS e Hepatites virais) e a intensificação das ações do PCH nas Unidades de Vale do Sol, Joaquim de Oliveira e Ampliação, com a realização de campanhas nas unidades de saúde, capacitação de profissionais de Educação e Sociedade Civil organizada, além de fornecimento de materiais educativos nas escolas da região (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014). No Relatório de Gestão de 2014, das atividades previstas no Plano municipal, no ano de 2014, foram realizadas: a construção da Unidade Básica de saúde na área de Morada do Sol, obra prevista pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); reforma da Unidade de Saúde na área de Ampliação I, pelo programa Requalifica UBS componente reforma; ampliação da Unidade Básica de Saúde na área de Quissamã, pelo Programa de Requalifica UBS componente ampliação (Secretaria Municipal de Saúde de Itaboraí, 2014). Em relação à estrutura organizacional, a Atenção Básica é subdividida em: Coordenação de Programas de Atenção Básica, no qual estão subordinados todos os programas de saúde, incluindo o PCH; a Coordenação Geral da ESF, tendo subordinado as coordenações regionais das Unidades de Saúde da Família, sendo 04 coordenações regionais e a coordenação de sistemas informatizados e geoprocessamento em saúde, tendo a divisão de mapeamento geográfico da ESF; e as direções dos postos de Saúde, sendo um total de 06 postos. O setor de Vigilância Epidemiológica do município de Itaboraí está subordinado a Vigilância em Saúde. Segue figura abaixo, o organograma da estrutura da SMS baseado nos decretos nº11/2005; e Decreto nº 80/2010 (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2005; 2010b). 51 Figura 6 – Organograma da Secretaria Municipal de Saúde Fonte: Elaborado a partir do Decreto nº11/2005; Decreto nº 80/2010- Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2010 e conversas informais, 2015. Costa (2013) já apontava em seu estudo que apesar do novo organograma está alterado desde outubro de 2010, ainda não estava implementado dentro da Secretaria Municipal de Saúde, sendo mantido o mesmo organograma aprovado em 2005 e o fato de não existir um coordenador para ocupar o setor de Vigilância em Saúde dificultava a integração entre os setores, tendo sido nomeado 2 coordenadores para VS em um período de dois anos. Segundo a autora, no ano de 2013, chamou a atenção para a grande rotatividade de secretários de saúde em um curto período, de 2009 a 2012, tinham sido 14 secretários, fato que gerava grande instabilidade e falta de continuidade das ações, impactando nos setores da atenção básica. Dentro deste cenário, em 2010, a coordenadora do PCH passou a ocupar também o cargo de Coordenação de Programas da Atenção Básica, função que acumulou durante dois anos dentro da SMS. Somente em 2013, o PCH passa a ter um coordenador exclusivo. Em relação à VE também houve uma rotatividade de coordenadores no período de 2012-1014, tendo sido ocupado por 3 coordenadores, demonstrando instabilidade e a manutenção de uma prática rotineira e contínua (E01, E02). Essa rotatividade de coordenadores acaba implicando 52 numa instabilidade na VS, repercutindo na organização dos processos de trabalho e interação dos setores. Aliás, essa rotatividade nos dias atuais neste estudo ainda é percebida no município pelos profissionais, conforme relato abaixo. [...] à nível de gestão, falta um fortalecimento maior da atenção básica, com relação a coordenação da saúde da família [...] a gente teve um período com troca de coordenação, sem coordenação, agora há 3 meses temos um novo coordenador.” (E 02) Em um estudo elaborado por Pimentel et al (2004) cujo objetivo era demonstrar a evolução temporal da descentralização das ações programáticas de hanseníase no Estado do Rio de Janeiro, por meio do aumento gradual do diagnóstico e tratamento da hanseníase nas unidades básicas de saúde, assim como discutir as dificuldades para o processo de descentralização das ações e sugerir estratégias para superar essas dificuldades, apresentou como um dos achados, que as maiores dificuldades encontradas para o processo de descentralização das ações nos municípios eram: alta rotatividade dos profissionais de saúde, gerando treinamentos contínuos; gestores descomprometidos com as metas de descentralização; descentralização feita de modo incompleto, o que gerava despesas adicionais para o paciente, já que para reações hansênicas ou medicamentosas tinha a necessidade de encaminhá-lo para os centros de referência. Nesta pesquisa, observou-se que o organograma vigente é o regulamentado pelo decreto nº11/2005, porém não na sua totalidade. Nos dias atuais, alguns cargos estão vagos deixando uma lacuna corroborando com os achados do estudo de Costa (2013), conforme as falas dos entrevistados. “Um ponto para melhorar as ações de VE da hanseníase seria mais organização do nível central, geralmente costumam culpar a ponta [...] já informei de todos os problemas na SMS, passei tudo para a coordenação regional, eu preferia quando era uma coordenação geral porque tinha uma pessoa a quem se dirigir, não era uma coisa dividida”. (E 10) “Como uma das propostas para melhorar nosso trabalho seria voltar a entender o fluxo do município, a organização do atendimento, como é, para onde vai, como faz.”(E 19) 53 Percebe-se pelas falas dos entrevistados (E10 e E19), que ambos se referem a processos de trabalhos que no passado foram instituídos e nos dias atuais parece não existir mais, demonstrando descontinuidade das atividades, como a falta de uma coordenação geral da ESF, a falta de clareza e entendimento dos profissionais sobre a organização interna da SMS, dificultando os mesmos em orientar e direcionar os usuários para resolução de suas necessidades, assim como na organização dos seus próprios processos de trabalho apontando limitações para as práticas dos profissionais de VE da hanseníase. Dentro deste contexto, em 2015, foi iniciada pelo Núcleo de Educação Permanente em Saúde a proposta de um guia de serviços para orientar os profissionais que atendem nos programas, centros clínicos e unidades, no direcionamento do paciente dentro da rede pública. A idéia é construir um protocolo sócio-assistencial no município, incluindo programas de TB, Hanseníase, Saúde da Mulher e do Idoso, DST/AIDS, Hepatites Virais, Centro de Assistência Psicossocial (CAPS) Infantil e Adulto, Ambulatório de Saúde mental e Hospital Municipal Desembargador Leal Junior (Viva Itaboraí, 2014). Em relação aos recursos financeiros, tanto para a Vigilância em Saúde como para a Atenção Básica, o financiamento das ações e serviços de saúde é de responsabilidade das três esferas de gestão do SUS, conforme o disposto na Constituição Federal e na Lei Orgânica da Saúde, sendo transferidos na forma de blocos de financiamento. Os recursos são transferidos do Ministério da Saúde para os Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, fundo a fundo, em conta única e específica para cada bloco de financiamento (Brasil, 2007). Para a Vigilância em Saúde, os recursos financeiros são provenientes do bloco financeiro da Vigilância em Saúde, sendo constituídos por dois componentes: o componente da Vigilância e Promoção da Saúde (Piso Fixo de Vigilância e Promoção da Saúde (PFVPS) e pelo Piso Variável de Vigilância e Promoção da Saúde (PVVPS) e o segundo componente da Vigilância Sanitária. Os recursos são transferidos do Fundo Nacional de Saúde para o Fundo Municipal de Saúde com periodicidade trimestral, sendo a aplicação dos recursos acompanhados e monitorados pelos respectivos Conselhos de Saúde por meio do Relatório Anual de Gestão (RAG) (Brasil, 2009). No caso da Atenção Básica, os recursos federais destinados à viabilização de ações compõem o Bloco Financeiro de Atenção Básica (Bloco AB) e parte do Bloco de Financiamento de investimentos. As ações de Atenção Básica são descritas na Relação Nacional de Ações e Serviços de Saúde (RENASES) e nos Planos de Saúde do município e Distrito Federal. Os recursos do Bloco AB são repassados aos municípios sendo 54 acompanhados pelos Conselhos de Saúde Municipal, Estadual e do Distrito Federal, calculados após pactuação tripartite. A prestação de contas dos valores recebidos, como são aplicados, são aprovados no Conselho Municipal de Saúde e encaminhados ao Tribunal de Contas do Estado ou Município e à Câmara Municipal. Para o Ministério da Saúde e ao Estado são apresentados por meio de relatórios de gestão, aprovado pelos respectivos Conselhos de Saúde (Brasil, 2011). No caso do município de Itaboraí, em relação aos recursos financeiros como o PCH está subordinado a Subsecretaria de Atenção Básica e a Vigilância Epidemiológica subordinado à Vigilância em Saúde, quando há necessidade de aquisição de insumos, materiais, equipamentos ou outros recursos necessários para as ações de hanseníase, é feito uma solicitação que é encaminhada para a Coordenação de Programas de Saúde nesta subsecretaria (E 09). Costa (2013), ao analisar o relatório de gestão referente ao ano de 2012, observou que os recursos gastos com o PCH saíram do Bloco Financeiro da Vigilância em Saúde, somandose pouco mais de R$ 12.586,84 (Doze mil quinhentos e vinte e seis reais e oitenta e quatro centavos), referentes a gastos com materiais de consumo, equipamentos e materiais permanentes. De acordo com as falas dos entrevistados, quando perguntados sobre o orçamento destinado para as ações de hanseníase, todos foram unânimes em responder que desconheciam o valor destinado (E 07, E 08, E10, E 11). O setor de Vigilância Epidemiológica de Itaboraí funciona no prédio da antiga sede da Secretaria Municipal de Saúde, juntamente com outros programas, incluindo o Programa de Controle da Hanseníase. Até o primeiro semestre de 2014, contava com 06 técnicos no seu quadro de profissionais. No segundo semestre de 2014, após um período sem coordenação, a VE passou a contar com um novo coordenador. Como uma das primeiras mudanças na gestão do novo coordenador foi à inclusão de mais dois profissionais no quadro técnico e maior integração entre os profissionais (E 01, E 02, E 08). O setor de Vigilância Epidemiológica municipal possui dois núcleos, a saber: um núcleo central, localizado na sede da antiga Prefeitura Municipal e outro núcleo no Hospital Municipal Desembargador Leal Júnior. Até o mês de maio de 2015 esse núcleo funcionava com técnicos contratados por uma Organização Social de Saúde (OSS) (Portal de Itaboraí, 2015; E 01). 55 Segundo as entrevistas realizadas com os coordenadores e profissionais do programa e da VE, no caso da hanseníase existem dois pólos de notificação no município de Itaboraí: um pólo central localizado na sede da Prefeitura onde funciona o PCH, e um pólo no Hospital Estadual Tavares de Macedo, antigo hospital colônia do Iguá, considerado como hospital de referência para tratamento de portadores de hanseníase na região Metropolitana II. Os casos suspeitos que aparecem no Hospital Municipal Desembargador Leal Junior são encaminhados para a VE municipal que repassa para serem investigados pelo PCH municipal (E 01, E 09). Ainda segundo as entrevistas, foi possível verificar que a Vigilância Epidemiológica da Hanseníase no município de Itaboraí é dividida da seguinte maneira: a parte de busca ativa de casos, investigação, notificação é feita pelo PCH municipal e pelas USF’s e o setor de VE tem a função de inserir os dados no sistema do SINAN. O conjunto de informações que se obteve após as entrevistas, os documentos consultados, as dissertações de Mujdalieb (2011) e Costa (2013) e a observação sistemática, nos permitem identificar que nos dias atuais, o PCH municipal pouco se avançou no processo de descentralização das ações para a Atenção Básica. As USF’s permanecem ainda como um ponto de apoio para a administração da medicação supervisionada, conforme a fala do entrevistado abaixo. [...]nós descentralizamos o tratamento da hanseníase, descentralizamos a medicação, fica fácil para o paciente, muitas vezes o ACS leva a medicação dele, muitas vezes ele está acamado.” (E 07) Diante do exposto, podemos dizer que o PCH municipal está minimanente estruturado dentro do Ambulatório Central, e que em função da história do Hospital Estadual Tavares de Macedo, por ser referência no município de Itaboraí principalmente para os pacientes e familiares ligados com a hanseníase e que graças a dois informantes-chave que acompanham o trabalho há muito tempo, foi possível resgatar um pouco da história do PCH municipal. As ações de Vigilância epidemiológica da hanseníase encontram-se dispersas na estrutura da SMS. O PCH funciona especificamente dentro do Ambulatório Central, também considerado como Centro de Referência do município. No Ambulatório Central estão todas as ações de assistência e de parte das ações de VE, sendo estas: a busca ativa de casos novos, confirmação do caso, notificação, investigação epidemiológica dos casos e exame de contatos, busca ativa de casos faltosos, abandono, acompanhamento do caso e monitoramento e avaliação de alguns indicadores, como serão vistos em um item mais a seguir. 56 O setor de VE atua predominantemente na alimentação do banco de dados e na discussão de alguns indicadores. Na figura 7, segue a síntese do contexto organizacional do PCH, da adequação da AB e da VE no município de Itaboraí. 57 Figura 7- Linha do tempo do PCH, da adequação da AB e da VE no município de Itaboraí. Fonte: Elaborado a partir dos documentos oficiais; dissertação de Mujdalieb (2011); Costa (2013) e entrevistas, 2015. 58 5.2- Gestão do PCH e da Vigilância Epidemiológica no Ambulatório Central e nas localidades escolhidas. Diante da estrutura organizacional do programa e da AB, optou-se por descrever aspectos organizacionais específicos do PCH no ambulatório central e nas unidades escolhidas. Quando analisada a distribuição territorial do número de casos e da taxa média de detecção geral de hanseníase, observa-se a ocorrência de valores elevados em bairros da região central do município, assim como em alguns bairros periféricos (mapa 5 e 6). Mapa 5: Distribuição territorial do número de casos de hanseníase segundo bairros de Itaboraí no período de 2006-2013. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) . 59 Mapa 6: Distribuição territorial da taxa média de detecção geral de casos de hanseníase segundo bairros do município de Itaboraí no período de 2006 a 2013, por 10.000 habitantes. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) Após o cumprimento das etapas anteriores, foram selecionadas as seguintes Unidades Básicas de Saúde pesquisadas: representando o nível central, o Centro de Referência/Ambulatório Central de Hanseníase e representando o nível local, as Unidades de Estratégia de Saúde da Família (UESF) de Vale do Sol representando o bairro de Três Pontes e Ampliação I. No bairro de Esperança localizam-se duas UESF (Reta Nova e Reta Velha). Considerado como um bairro com alto índice de violência, por questões de segurança, as UESF localizadas no bairro de Esperança não entraram no estudo. 60 5.2.1-Ambulatório Central/Centro de Referência: O Ambulatório Central ou Centro de Referência do PCH situa-se no 1º distrito, no bairro Centro de Itaboraí. O PCH funciona na sede da antiga Secretaria de Saúde, e dividia até o mês de março de 2015 o mesmo espaço físico com outro programa, o Programa de Tuberculose (PCT). Devido à limitação de espaço físico, o PCH funcionava às 2ª e 5ª feiras e o PCT funcionava às 3ª, 4ª, 6ª feiras. Com a saída do PCT em março de 2015, o espaço físico abriga agora somente o PCH, porém por falta de recursos humanos, há um profissional de licença maternidade e não houve substituição, o PCH continua atendendo somente dois dias por semana (E 03, E 04, E 05, E 06, E 07). O bairro possui amplo comércio de pequeno, médio e grande porte (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014). Em relação à infraestrutura, segundo o censo 2010, no bairro Centro, o percentual de domicílios conectados à rede geral de distribuição de água era 87,54% conectados à rede coletora de esgoto 83,01% dos domicílios e 98,99% apresentavam lixo coletado por serviço de limpeza urbana (IBGE, 2010). Figura 8- Fotos do Bairro Centro de Itaboraí Fonte: Google Earth, 2015. Fonte: Google Street View, 2015. A área física em questão é uma construção antiga, possui infiltrações em toda a sua estrutura, encontra-se em péssimas condições estruturais e de manutenção, não há ventilação e iluminação adequada, de forma geral os requisitos ambientais são precários, necessitando de 61 ampla reforma, não possuindo espaço físico para as refeições dos profissionais, para espera do atendimento, orientações e escuta do paciente em local reservado, consultórios em número insuficiente para atendimento aos pacientes pelos profissionais de saúde conforme figura 9. Figura 9- Fotos da Unidade de Referência (PCH) no nível central Recepção Espaço multiuso Sala de espera dos pacientes Consultórios Copa Sala de curativo Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. Percebe-se a precariedade da área física do PCH, contribui para um desconforto tanto para o paciente que faz tratamento no Ambulatório Central, como para os profissionais de saúde, fato corroborado pelas falas dos entrevistados abaixo. [...]a falta de estrutura, é uma falta de respeito com o paciente e com esse profissional.” (E 04) 62 [...]o espaço físico é insalubre, não há lugar para sentar, água para beber, local para almoçar.” (E 06) Em relação ao espaço físico, durante a realização da pesquisa, segundo informação dos entrevistados já estava na pauta, a proposta de um novo espaço físico exclusivo para atender ao PCH ou o PCT e assim atender as necessidades do serviço (E 09). “[...] tem situações mais simples do próprio ambulatório que a gente ainda não conseguiu dar conta de resolver, mas que a gestão tem estado atenta a isso, têm se preocupado, a equipe já vem apontando as dificuldades das situações e algumas coisas já estão encaminhadas, como o outro Programa já está vendo outro espaço para se deslocar, ter um espaço também individualizado, ou a hanseníase fica ali ou ir para outro espaço.” (E 09) Em relação aos materiais, o PCH não dispõe de recursos tecnológicos tais como: telefone, internet, e-mail institucional, impressora, conta somente com 01 notebook e computador. O Programa também não dispõe de veículo próprio. Quanto ao mobiliário disponível, o mesmo é insuficiente para atender a demanda do Programa, necessitando muitas vezes fazer revezamento dos consultórios para atendimento ao paciente de forma digna e acolhedora. Destaca-se que desde a sua mudança para antiga sede da Secretaria de Saúde, em 1990, o PCH nunca possuiu telefone, internet, impressora e veículo próprio, fato observado durante a permanência da pesquisadora no Ambulatório Central. O PCH conta com uma equipe técnica de 8 profissionais entre concursados e comissionados, sendo: 01 coordenador, 02 médicos, 01 fisioterapeuta, 01 assistente social, 01 psicólogo, 01 auxiliar de enfermagem, 01 auxiliar administrativo. Vale ressaltar, que no quadro de profissionais necessários há falta de algumas categorias tais como enfermeiro, resultando em acúmulo de funções para os profissionais (E 07). Quanto aos insumos, materiais de escritório, de curativo, etc., são solicitados mensalmente ao almoxarifado conforme a necessidade, principalmente os materiais de curativo e a medicação necessária para o tratamento. Foram apontados nas entrevistas que frequentemente ocorre falta de alguns insumos relacionados ao tratamento ou irregularidades no fornecimento como, por exemplo, creme de uréia disponibilizado para o paciente, alguns medicamentos, alguns insumos básicos tais como álcool 70%, luvas (E 03, E 05). 63 Diante do exposto, podemos perceber que a precariedade na infraestrutura, nos recursos materiais, humanos, tecnológicos se reflete na precariedade da vigilância, visto que isso dificulta as atividades, uma vez que, os mesmos profissionais que fazem a assistência são os mesmos que fazem a VE da hanseníase no município, fato corroborado pelas falas dos entrevistados (E 02 e E 03). “A busca ativa é feita pelo PCH, não temos carro, telefone, usamos o telefone da sala da coordenação de programas para tentar falar com o paciente, às vezes ligamos do nosso próprio telefone, às vezes tem fila para usar o telefone, carro também é complicado, às vezes marca e não tem, ou o carro atende a outras urgências.” (E 03) “O banco fica no setor de VE, o SINAN fica lá, as fichas vão para o setor de VE, mas é o PCH que faz toda a parte de vigilância, investigação dos casos, acompanhamento, passa para a VE, um trabalho mais para alimentar o banco”. (E 02) Em relação ao funcionamento do PCH no nível central, a porta de entrada dos casos suspeitos ou recidivas ao Ambulatório Central pode ser: encaminhado das UESF; das Policlínicas (Manilha e Itaboraí); dos Hospitais (estaduais e municipais); dos Centros de Referência (estaduais e federais); consultórios particulares; por demanda espontânea e por meio das ações coletivas de comunicação e educação (E 07). O MS preconiza que o diagnóstico de casos de hanseníase na AB seja realizado por meio de exame clínico e dermatoneurológico sendo encaminhados para unidades de saúde de maior complexidade somente os casos com suspeita de comprometimento neural sem lesão cutânea ou aqueles que apresentam áreas com alteração sensitiva e/ou sem lesão evidente (MS, 2008). O protocolo adotado no município de Itaboraí é encaminhar todos os casos suspeitos para o Ambulatório Central para realização de exames e confirmação do diagnóstico, com a guia de Referência e Contrarreferência (Anexo 1), não havendo necessidade de recorrer à central de regulação de vagas, pois o paciente é atendido no mesmo dia em que comparece no Ambulatório conforme fala do entrevistado (E11). Vale lembrar, que até o mês de março, o PCH funcionava somente dois dias na semana. “O tratamento (da hanseníase) é centralizado, a partir do caso suspeito, vem para consulta e fazemos um 64 encaminhamento e mando com o encaminhamento em mãos direto para o PCH, lá faz biópsia, baciloscopia.” (E 11) No Ambulatório Central o primeiro atendimento é realizado pela técnica de enfermagem ou auxiliar administrativo que faz o acolhimento a esse paciente, aferindo medidas antropométricas (peso e estatura), abertura do prontuário, agendamento para consulta no mesmo dia com a dermatologista, com a fisioterapeuta e a assistente social. Já para os casos em tratamento, além dessas atividades também são feitas investigações quanto ao autocuidado, curativos, quando necessários, sobre a dose supervisionada e o uso do medicamento pelo paciente no domicílio (E 03). Destaca-se que até o mês de janeiro de 2015, além das atividades inerentes a função de técnica de enfermagem, o profissional também acumulava a função de auxiliar administrativo, já que não existia esse profissional no quadro há pelos menos 5 anos, situação que foi resolvida pelos gestores no mês de fevereiro do mesmo ano (E 03, E 07, E 09). Na consulta médica são realizados os exames clínicos e dermatoneurológico para confirmação do diagnóstico, assim como solicitação dos exames laboratoriais. No momento da consulta médica recolhe-se material para o exame de baciloscopia e para a biópsia (E 03, E 06). Segundo o Guia de VS na sua primeira edição (p. 353, 2009). [...]a baciloscopia, quando disponível, deve ser utilizada como exame complementar para a classificação dos casos de PB ou MB.” Apesar do exame de baciloscopia ser considerado complementar pelo MS, o PCH do município de Itaboraí adotou como protocolo fazer a baciloscopia e a biópsia em todos os casos. Tal protocolo justifica-se segundo a vivência dos profissionais do Programa, por dois motivos: primeiro, pela necessidade por parte do paciente de confirmação do seu diagnóstico, o que pode sugerir que muitos apresentam dúvida ao fato de serem diagnosticados somente no exame clínico, necessitando ter a confirmação por meio de exames laboratoriais e diagnóstico diferencial (E 04); e o segundo motivo, na dificuldade que muitos pacientes encontram para acionar benefícios junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), principalmente os pacientes com avançado grau de incapacidade já instalada conforme relato do entrevistado (E 06). 65 [...] aqui nesta Unidade, nós temos implantada a rotina de biópsia (histopatológico), isso não é exigência do MS. Eu acredito que isso faz bem ao doente, porque ele terá uma comprovação fiel do seu diagnóstico e isso dá um embasamento clínico, epidemiológico, e muitos desses doentes aqui no município buscam o benefício junto ao INSS, e o que vale para lei é o que está escrito, então essa comprovação por escrito é muito importante para o doente.” (E 06) Pelas exposições de um entrevistado (E 06), nota-se que ao incluir na rotina do serviço a baciloscopia e a biópsia na confirmação do diagnóstico de hanseníase, demonstra o cuidado que o PCH possui com o paciente. A baciloscopia pode ser coletada por técnico de enfermagem, por enfermeiro ou médico, mas no PCH está mais sob a responsabilidade do técnico de enfermagem. O material coletado é enviado para análise no laboratório que existe dentro da própria sede antiga da Secretaria de Saúde. O resultado é disponibilizado em média em três dias. Vale lembrar que este laboratório está em processo de conclusão de uma reforma pleiteada há muito tempo pelos profissionais, e atenderá aos Programas de Hanseníase e Tuberculose (E 03). Quando o exame da baciloscopia é positivo o paciente inicia imediatamente o tratamento com a Poliquimioterapia (PQT), quando negativo o paciente terá o diagnóstico confirmado com a biópsia cutânea (E 03). O tratamento com a PQT é constituído por rifampicina, dapsona, clofazimina sendo apresentados em 4 tipos de cartelas. O PCH utiliza os esquemas terapêuticos padronizados pelo MS/OMS conforme a classificação operacional (Brasil, 2001). A biópsia cutânea é coletada pelo médico dermatologista e o material é enviado para um laboratório terceirizado que disponibilizará o resultado em até 30 dias. Caso o resultado seja positivo, o paciente inicia o tratamento com a PQT; caso o resultado seja negativo para a hanseníase, o paciente é encaminhado para o Ambulatório de Dermatologia por meio de guia de referência e contrarreferência expedida pelo PCH para uma Central de Regulação de Vaga da Secretaria de Saúde, havendo agendamento da consulta ou para Policlínica de Manilha ou para Policlínica de Itaboraí. A guia de referência com o agendamento da consulta para o Ambulatório de Dermatologia é encaminhado para a USF mais próxima do domicílio do paciente, sendo este informado da data da consulta. O encaminhamento é enviado pela rota*3 (E 03, E 06, E 07). 3 * A rota= refere-se ao serviço de transporte da Prefeitura Municipal de Itaboraí, que semanalmente passa nas Unidades de Saúde, levando e trazendo material, medicamentos, documentos, etc. 66 No caso dos pacientes com hanseníase que estejam em tratamento no Ambulatório Central ou na USF, e que apresentam outras comorbidades associadas (AIDS, Nefropatias, hepatopatias, endocrinologia) necessitando de atendimento com especialistas, estes também são encaminhados para serem atendidos nas Policlínicas situadas em Manilha ou no centro de Itaboraí, seguindo os mesmos trâmites (E 11, E 17). A comunicação e entrega dos encaminhamentos das consultas agendadas são de responsabilidade da Unidade de Saúde, que fazem por contato telefônico, utilizando telefone particular do profissional da unidade ou por meio do ACS (E 14, E, 15). Destaca-se que quando não há cobertura de ACS na área adscrita, é deslocado um ACS para entrega do encaminhamento. Ressalta-se que pelo exposto acima, um ponto crítico referente à marcação de consulta com especialistas e exames de imagem, sugerindo que o paciente até conseguir agendar a consulta e fazê-la, exigirá um tempo maior para resolução das suas necessidades causada por um excesso de burocracia. No estudo realizado por Serra e Rodrigues (2010), para avaliação da referência e contrarreferência no PSF na Região Metropolitana do Rio de Janeiro apontou como elementos que dificultavam o acesso dos pacientes e o bom funcionamento dos sistemas: a oferta limitada de consultas e exames; inexistência ou precariedade dos sistemas; má organização das atividades de regulação; baixa produção de protocolos clínicos para encaminhamentos; precariedade dos sistemas de informação e comunicação; significativa influência política na gestão das unidades; diversidade na denominação das unidades de saúde e várias grades de ofertas de serviços, dificultando o encaminhamento por parte do profissional e identificação por parte do usuário do serviço que atenda suas necessidades. A consulta com a fisioterapeuta é realizada no momento do diagnóstico, onde são realizadas a avaliação neurológica simplificada e avaliação do grau de incapacidade. As informações coletadas na avaliação do grau de incapacidade e função neural são registradas no Formulário para Avaliação Neurológica Simplificada (Anexo 2). No caso do autocuidado o MS (2008), preconiza que deve ser disponibilizados insumos para o paciente, tais como colírio, óleo com ácidos graxos, creme com uréia, porém na observação sistemática dos processos de trabalho, foi percebido que não estavam disponíveis todos os itens para o paciente, somente alguns materiais básicos de curativos, tais como gases, esparadrapo e atadura. Segundo o MS (2008), a avaliação do grau de incapacidade deverá ser realizada no momento do diagnóstico e na alta por cura, porém o PCH no município de Itaboraí adotou 67 como protocolo incluir mais uma avaliação do grau de incapacidade, quando o paciente encontra-se na metade do tratamento, por exemplo, se ele fizer 12 doses supervisionadas, a avaliação será no início, com 6 meses e ao final do tratamento, demonstrando um cuidado especial e até mesmo uma forma de monitorar com mais atenção a prevenção e avanço do grau de incapacidade. No caso do município de Itaboraí, para a execução dos exercícios de fisioterapia, o paciente realiza no próprio domicílio ou no Ambulatório Central, porém devido à escassez de recursos materiais (equipamentos de fisioterapia, ultrasom, etc.) e falta de infraestrutura adequada à necessidade da demanda do Ambulatório, eles são encaminhados para o Ambulatório de Fisioterapia, situado no prédio da antiga Secretaria de Saúde. Caso haja necessidade de cirurgias reparadoras, aquisição de próteses e órteses e reabilitação, os pacientes são referenciados para o Hospital de Referência Clementino Fraga Filho (FUNDÃO) (E 05, E 06, E 07 e E 09). Após consulta com a fisioterapia, o paciente é encaminhado para o serviço social, onde passará por uma entrevista social. Na consulta com a assistente social, são realizadas as orientações quanto ao diagnóstico, dúvidas sobre a doença, orientação sobre a importância da avaliação de contatos, e questões referentes a benefícios. Se no ato da entrevista, o profissional em questão observar a necessidade de suporte psicológico através de condutas, posturas e reações do paciente frente ao diagnóstico este é encaminhado para uma consulta com o psicólogo (E 04, E 07). Após a confirmação do diagnóstico de hanseníase o paciente inicia o tratamento, tendo a opção de fazê-lo na USF ou no Ambulatório Central (07, E 09). Ao optar pelo tratamento na USF, o paciente recebe a 1ª dose no Ambulatório Central, retornando para a unidade para dar continuidade, o coordenador envia a cópia do prontuário previamente preenchido. A medicação é enviada mensalmente para a Unidade, segue pela rota ou é levada pessoalmente pelo coordenador do PCH após agendamento do veículo da prefeitura, segundo entrevistado abaixo. “[...] depois se for confirmado o diagnóstico, a medicação vem para a Unidade, fica ao nosso cargo acompanhar o paciente, fazer a dose supervisionada.” (E 11) O paciente em tratamento na Unidade de saúde comparece mensalmente para fazer a dose supervisionada, quem faz a administração da medicação é o técnico de enfermagem ou 68 enfermeiro, no domicílio é o ACS. Quando o paciente está impossibilitado de comparecer na Unidade, o ACS leva a medicação no domicílio e administra. Nas áreas em que não há ACS, será deslocado um ACS para levá-la (E 11). As consultas mensais na unidade de saúde são intercaladas entre o enfermeiro e o médico generalista. Nas consultas são realizadas avaliações clínicas com o objetivo de buscar intercorrências, assim como reforçar a necessidade e importância dos exames dos contatos intradomiciliares, fazendo inclusive o agendamento dos que ainda não passaram pela avaliação junto ao programa. Periodicamente, a cada três meses, o paciente é encaminhado para o Ambulatório Central para fazer avaliações com a equipe de profissionais do PCH. Nesta avaliação, são reforçadas orientações, investigações quanto ao autocuidado, uso da medicação no domicílio, intercorrências, avaliação clínica e de prevenção das incapacidades (E 07, E 10, E 11). A supervisão dos casos de hanseníase tratados nas Unidades de Saúde é realizada pelo coordenador do PCH municipal mediante a demanda do serviço, sendo exercida somente nas unidades que possuem paciente em tratamento. Quando o paciente apresenta qualquer tipo de reação, seja hansênica ou medicamentosa, ele é encaminhado ao Ambulatório Central para reiniciar o tratamento. No decorrer do tratamento, se o doente cursar com gravidade no quadro é indicado à internação hospitalar (E 06, E 07, E 11). Nos dias atuais, as USF’s são supervisionadas pelas coordenações regionais, são 4 coordenadores regionais. Cada coordenador regional é responsável pela supervisão de 09 a 10 Unidades de Saúde da Família (E 10, E 11). Destaca-se que os coordenadores regionais, não supervisionam os pacientes em tratamento da hanseníase, sugerindo falta de articulação entre o PCH e a coordenações da AB. Neste contexto, o seu estudo já apontava que as práticas de supervisão na ESF funcionava como um dispositivo para o acompanhamento do trabalho das equipes, promovendo uma interlocução entre a gestão e as equipes, promovendo mudanças nos processos de trabalho nas Unidades, com práticas mais acolhedoras e ampliação do acesso da população aos serviços de saúde. Vale ressaltar que, no município existe um antigo hospital colônia de hanseníase, o Hospital Estadual Tavares de Macedo, que era referência para o tratamento da hanseníase, no entanto, o hospital passa por mudanças organizacionais no seu perfil de assistência. Está em processo de reestruturação, não internando mais pacientes com quadros graves. O outro hospital da região, o Hospital Desembargador Leal Júnior, segundo informações dos 69 profissionais do programa, disponibilizava no passado, 02 vagas para internação de doentes crônicos (E 06, E 07, E 09). Atualmente, os profissionais não sabem informar se esses leitos ainda existem conforme o entrevistado abaixo. [...] temos dificuldade para internar o nosso doente, porque hoje nós não temos uma parceria com o hospital municipal, que deixou de ter leito para doente crônico, suporte para o paciente [...] eu sempre digo, onde a Saúde Pública falha, a emergência do hospital municipal vai pagar por isso. (E 06) Nota-se pela fala do entrevistado (E 06), que na rede de assistência, outra lacuna encontrada para os pacientes com hanseníase é a disponibilidade de leito hospitalar para internação quando o mesmo cursa com gravidade no quadro. A rede de serviços deve ser organizada para atender ao paciente em qualquer nível de complexidade, neste aspecto, o estudo apontou fragilidades na organização da rede. Um fato chamou a atenção, no período das entrevistas, estavam em tratamento cerca de vinte e seis pacientes, somente seis pacientes optaram por fazer o tratamento na USF, 20 optaram por fazê-lo no Ambulatório Central. A justificativa dada pela maioria dos pacientes segundo informações do profissional do programa, é que muitos têm receio de fazê-lo na unidade de saúde, devido ao preconceito, medo de serem discriminados na sua comunidade, já que na maioria das vezes, muitos profissionais da equipe da USF, principalmente os ACS residem na própria comunidade (07). “Quando o paciente aceita fazer o tratamento na USF, o coordenador do Programa informa pessoalmente ao coordenador da Unidade, por causa do sigilo, trabalhamos muito isso na questão da hanseníase nas Unidades de Saúde, e estamos nos remetendo mais ao ACS porque mora na localidade do paciente, então muitos pacientes tem receio, de que a gente o identifique[...]caso o paciente peça sigilo, a gente elege um profissional daquela unidade que vai dar um suporte, se ele se tornar um faltoso, esse profissional vai sair na busca desse paciente.”(E 09) “A hanseníase é uma doença que gera muito preconceito, eu tenho uma família inteira, tem 6 casas e em todas elas já teve alguém que teve hanseníase, as pessoas tem medo, vergonha, tem muito preconceito, quando a gente diz que tem que tratála, que aquela mancha pode ser hanseníase ou não, eles criam uma barreira pela possibilidade de ser hanseníase, pelo fato das pessoas chamarem antigamente de lepra, pra 70 mim é uma doença de preconceito, deixa as pessoas com muitas seqüelas.” (E 13) Pelas falas dos entrevistados (E 09 e E 13) leva-nos a uma reflexão, fazer a vigilância epidemiológica da hanseníase e descentralizar as ações do PCH para as UESF no município de Itaboraí, que culturalmente tem uma história enraizada com a hanseníase exigirá dos gestores, profissionais, comunidade e usuários, além de vontade política, estratégias que trabalhem as relações de cuidado ao paciente com hanseníase, acolhimento, a escuta, a experiência vivida por esses atores, à questão do estigma e falta de informação sobre a doença, além de uma articulação maior da rede de serviços e uma rede de suporte ou apoio para que esse paciente não desista do tratamento. Com o intuito de apresentar uma síntese do funcionamento desse programa, a seguir é apresentamos o fluxograma de serviço do PCH (Figura 10). 71 Figura 10- Fluxograma do Programa de Controle da Hanseníase no município de Itaboraí. Fonte: Elaborado a partir do fluxograma do Programa de Controle da Hanseníase Municipal – Itaboraí, 2014. 72 5.2.2- Bairro Ampliação: O bairro de Ampliação situa-se no 1º distrito, localiza-se próximo do Ambulatório Central e do Centro comercial de Itaboraí, possui 02 USF também conhecidas como USF de Ampliação I e USF de Ampliação II. Na USF Sadi Ribeiro Gomes (Ampliação I) existem duas equipes de Saúde da Família que atendem as áreas 09 e 10, porém as equipes estão incompletas (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2015). Inaugurada há 12 anos, a USF de Ampliação I passou por uma reforma, como parte da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do Governo Federal e reabriu em setembro de 2014. Possui uma demanda aproximada de 7.688 pessoas e tem seu funcionamento de segunda à sexta- feira. (PAHO.ORG, Brasil, 2014; Portal Cidade de Itaboraí, 2014). A UESF possui: 2 consultórios; 1 sala de preventivo; 1 consultório dentário; 1 sala de reunião; 1 sala de acolhimento; 1 sala de vacina; 1 laboratório ( realiza coleta de EAS/ fezes/ sangue); 2 banheiros funcionários; 2 banheiros de usuários; 1 pequena copa para funcionários; 1 recepção Figura 11– Foto da Unidade Básica de Saúde de Ampliação I Fonte: PAHO.ORG, 2014 73 Apesar da reforma da Unidade e o espaço físico serem ampliados, a mesma não foi contemplada com espaço para um almoxarifado/farmácia, tendo que ser improvisado em um dos banheiros destinados para funcionários. A unidade não possui telefone, internet. A UESF recebe água através de carro pipa uma vez por semana. Em relação à infraestrutura sanitária o abastecimento de água no bairro é por meio de poço artesiano ou carro pipa. Existe pavimentação na rua principal, à medida que se afasta da avenida principal, o asfalto torna-se irregular, as ruas adjacentes não possuem asfalto na sua totalidade. Existe coleta de lixo, fato observado pela pesquisadora durante a observação na localidade. Segundo o censo 2010, o percentual de domicílios conectados à rede geral de distribuição de água era de 37,2%, conectados à rede coletora de esgoto 54,6% dos domicílios e 97,8% apresentavam lixo coletado por serviço de limpeza urbana (IBGE, 2010) (Figura 12). O bairro de Ampliação está em expansão, com construções novas, prédios comerciais e residenciais. Possui um comércio local diversificado de pequeno e médio porte, clube recreativo, lojas de materiais de construção, escola pública, bancos, associação de moradores localizados na avenida principal, as casas na sua maioria são construções de alvenaria. O bairro é cortado pelo rio Vargem que transborda nos períodos de chuvas, nas margens existe uma comunidade chamada Beira Rio. A comunidade possui vielas, sem qualquer infraestrutura, barracões construídos de madeira, sem janelas, essa comunidade sofre constantemente com as enchentes (E 17, E 18, E 19). Destaca-se que a ACS que fazia a cobertura desta área foi demitida em 2013, sendo considerada pelos profissionais da unidade como uma área crítica, que já registrou um caso de hanseníase e um caso de tuberculose. Até o término das entrevistas em fevereiro de 2015, ainda não havia cobertura de ACS nesta área (E 10, E 17, E 18, E 19). No ano de 2013, por meio do programa “Bairro Novo” realizado em parceira entre a Prefeitura Municipal e Governo do Estado, a região de Ampliação foi escolhida para que um total de 57 ruas recebesse 24 km asfalto, drenagem, meio-fio e esgotamento sanitário (figura 12 e 13) com previsão de término até o segundo semestre de 2014, porém até abril de 2015 não tinham sido finalizadas a pavimentação de todas as ruas, segundo matéria do jornal publicada em 22 de abril de 2015, causando transtornos aos moradores (Portal de Itaboraí, 2015; jornal “O Itaboraí”, 2015) (Figura 13). 74 Figura 12- Fotos do Bairro Ampliação Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. Figura 13- Bairro Ampliação – Programa Bairro Novo Fonte: Programa Bairro Novo - www.rj.gov.br/web/seobras, 2014. 75 5.2.3-Bairro Três Pontes: O bairro de Três Pontes localiza-se no 1º distrito, não possui USF, a equipe de ESF de Vale do Sol desloca-se para atender uma parte da população de Três Pontes, a outra parte é atendida pela equipe de USF de São Joaquim e a outra parte não tem cobertura da ESF, é atendida no Posto de saúde Milton Rodrigues, no centro de Itaboraí. A USF chama-se Belarina Maria da Silva (Dona Bela), mais conhecida como USF de Vale do Sol, possui somente uma equipe responsável pelo atendimento da área 07. Figura 14- Foto Unidade de Saúde da Família de Vale do Sol Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. A USF de Vale do Sol está localizada ao lado de uma associação de moradores, foi inaugurada em dezembro de 2008, possui: 1 varanda; 1 recepção; 1 sala de vacina; 1 sala multiuso; 1 banheiro de usuário; 1 consultório ginecológico; 1 consultório A sala multiuso serve de estoque de material, local para disponibilizar a balança para pesagem e copa para funcionários. Pela descrição acima, percebe-se a precariedade do espaço físico para atendimento as demandas da equipe e do atendimento a população. Não existe sala 76 de espera, os usuários aguardam na varanda pelo atendimento. A USF não dispõe de espaço multiuso para atividades coletivas, tais como rodas de conversa, grupos focais e reuniões, fato que dificulta a realização de atividades com a comunidade, a solução encontrada pela equipe para realizar tais atividades, foi à utilização da área externa, à sombra de uma mangueira, porém é inviabilizada nos dias de chuvas. Na USF existem afixados nas paredes e murais, vários cartazes informativos, incluindo o da hanseníase, fato observado pela pesquisadora durante as entrevistas. Segundo informações publicadas em março de 2014, no Portal da Cidade de Itaboraí, estava previsto a construção de uma USF em Três Pontes, com a implantação de duas equipes de ESF como parte da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2), do Governo Federal. Ainda de acordo com o Portal, o recurso destinado seria de R$ 512 mil reais e deveria estar em funcionamento até o final de 2014, fato que até a finalização da coleta de dados desta pesquisa, em fevereiro de 2015, não havia acontecido (Portal da Cidade de Itaboraí, 2014). Em relação à infraestrutura no bairro de Três Pontes o abastecimento de água é por meio de poço artesiano ou carro pipa, a unidade de saúde de Vale do Sol recebe água por meio de carro pipa uma vez por semana (E 11). Segundo o censo 2010, no bairro de Três Pontes, o percentual de domicílios conectados à rede geral de distribuição de água é de 0,71%, conectados à rede coletora de esgoto 41,2% dos domicílios e 99,68% apresentavam lixo coletado por serviço de limpeza urbana (IBGE, 2010). O bairro de Três Pontes é cortado pelo rio Cabuçu e pela rodovia BR-101. No entorno da USF existe pouco comércio de pequeno e médio porte. Os comércios maiores no bairro Três Pontes estão localizados as margens da rodovia, duas casas de entretenimentos, restaurantes, posto de gasolina. Nas ruas adjacentes possui pequenos comércios locais, não há pavimentação, existem terrenos baldios, fato observado pela pesquisadora. Ressalta-se que no ano de 2015 foi inaugurado um grande empreendimento, um shopping no bairro de Três Pontes, no entanto não houve investimentos de saneamento básico e pavimentação nas ruas no entorno do shopping (jornal “O Itaboraí”, 2015) (Figura 15). Em conversa informal com profissionais técnicos do nível central, obtive a informação que a região onde está inserida a Unidade de Saúde da Família (USF) de Vale do Sol, é problemática quando se trata de hanseníase. Segundo informações dos profissionais técnicos, neste bairro reside uma família com aproximadamente 15 a 20 pessoas vivendo em moradias no mesmo quintal, incluindo neste número pelo menos 10 crianças e onde pelo menos 4 77 pessoas já apresentaram a doença. Ainda de acordo com as informações dos profissionais, existe “certa resistência” dessa família em aderir ao tratamento. As condições de moradia dessas famílias são precárias, as casas são cômodos pequenos, alguns possuem somente uma janela, com esgoto a céu aberto, lixo exposto no quintal, tendo sido acionado o Ministério Público para tentar solucionar o problema (E 04, E 05, E 07). Em relação a esta família, cabe uma exposição e uma reflexão mais detalhada sobre este caso. A matriarca dessa família foi moradora durante muitos anos no hospital colônia de hanseníase Tavares de Macedo, localizado em Itaboraí. Após a década de 1986, a matriarca deixou a colônia e foi residir no bairro de Três Pontes junto com seus filhos e familiares, todos residindo no mesmo quintal. Na época essa senhora fazia o tratamento no hospital colônia. Alguns anos depois, o profissional de saúde da Unidade e do Programa ao realizar a visita percebeu as manchas no filho. Orientou a essa senhora a levá-lo no posto, porém a mesma só queria ser consultada pela médica que havia tratado dela no hospital colônia, sendo confirmado o diagnóstico de hanseníase no seu filho. Tal fato reforça a questão do vínculo desta senhora com o hospital colônia. Posteriormente, outros familiares apresentaram a doença. Após várias visitas dos profissionais do Programa e dos profissionais da unidade de saúde de Vale do Sol, a mesma concordou que a neta recebesse por intermédio da visita domiciliar do ACS a medicação (E 07, E 09, E 14, E17). Mais uma vez, tal atitude reforça a necessidade da criação de vínculos de confiança e acolhimento com os pacientes portadores de hanseníase como elemento facilitador para a adesão ao tratamento, para a busca ativa de casos e busca de contatos intradomiciliares. Pelo exposto acima, nota-se que essa família vivenciou toda segregação, estigma e preconceito proveniente do isolamento compulsório e o que poderia ser tachado como “resistência ou recusa ao tratamento”, pode se tratar apenas de medo de viver novamente o estigma, isolamento social, já que o compulsório não existe mais. Tal julgamento pode ser corroborado pela conduta do filho dessa matriarca, um jovem adulto, que também apresentou sinais da doença. Segundo os profissionais da Unidade de saúde e do PCH, constantemente ele vive mudando de lugar, com medo de ser identificado pelo profissional de saúde que realiza a visita domiciliar, uma vez que o mesmo reside na localidade. Diante da recusa desta família ao tratamento, o caso foi levado para o Ministério Público. Este fato nos cabe uma reflexão, quando uma família tem a recusa para o tratamento, até onde podemos judicializá-lo, sem levar em consideração toda sua história de vida, preconceito 78 sofrido, suas condições de vida, falta de suporte e apoio de políticas públicas que possam garantir integralidade na sua assistência? Na figura 17, segue a caracterização das localidades. Figura 15- Fotos do entorno da USF de Vale do Sol- Três Pontes Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. Figura 16- Fotos do Bairro Três Pontes Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. 79 Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. 80 Figura 17- Caracterização das localidades da pesquisa 81 5.3 – Descrição das práticas de Vigilância epidemiológica da hanseníase, identificando elementos de adequação às normas e à situação local da hanseníase. Neste tópico, estudaremos as práticas de vigilância epidemiológica da hanseníase na Atenção Básica e sua articulação com o PCH. Para a compreensão do nosso objeto de estudo, foi necessário olhar essas práticas por dentro do programa e por dentro da VE. O conjunto de informações obtidas, os documentos analisados, as entrevistas e a observação nos permitiram um melhor entendimento dessas práticas e apresentaremos a seguir. 5.3.1 - Vigilância epidemiológica da hanseníase, entre as normas e suas práticas locais. Segundo o Plano Municipal de Saúde de Itaboraí referente ao ano de (2010-2013) a VE tem como missão, item 6.2.2: [...] conhecer o perfil dos agravos ocorridos no município, monitorando a ocorrência de agravos de notificação compulsória e buscando conhecer os fatores relacionados à sua ocorrência. É a análise e divulgação das informações referentes aos eventos vitais e o perfil de morbidade em Itaboraí que subsidiam o planejamento e avaliação das ações em saúde com informações oportunas [...] também coordena as ações necessárias à prevenção e controle de doenças transmissíveis, identificando mudanças de comportamento das doenças e atuando de forma oportuna e coordenada na ocorrência de surtos ou surgimento de doenças inusitadas. Neste sentido, a vigilância epidemiológica em hanseníase pode ser compreendida como um ciclo de atividades específicas e inter-relacionadas que envolvem a coleta, processamento, análise e interpretação dos dados referentes aos casos e seus contatos, fornecendo subsídios para recomendações, com vistas à promoção e a análise da efetividade das intervenções a serem desencadeadas de acordo com o comportamento epidemiológico em uma população de uma determinada área, sendo organizada em todos os níveis de atenção, de modo a garantir informações acerca da distribuição, da magnitude e da carga de morbidade da doença nas diversas áreas geográficas (Brasil, 2010). 82 As atividades específicas de vigilância epidemiológica da hanseníase compreendem: a descoberta e notificação do caso; acompanhamento do caso, investigação epidemiológica dos contatos intradomiciliares e monitoramento e avaliação (Brasil, 2010). Para Waldman (1998), o nível de especificidade que a vigilância atingiu permite caracterizá-la como um instrumento de saúde pública de importante aplicação, podendo acelerar as ações de controle de eventos adversos à saúde ou apoiando o aperfeiçoamento técnico dos serviços para o estabelecimento de estratégias efetivas de controle de doenças, tendo na sua metodologia a atividade de acompanhamento contínuo e análise regular do comportamento de específicos eventos adversos à saúde, em populações e criação respaldada no conhecimento científico, das bases técnicas que estruturam as estratégias adotadas pelos programas de controle. Porém, ao se falar das práticas de vigilância epidemiológica da hanseníase em Itaboraí, estamos nos referindo a uma vigilância centralizada onde os profissionais do PCH além de prestarem a assistência integral ao paciente com hanseníase, ainda realizam as práticas de VE da hanseníase, conforme os entrevistados abaixo. “As atividades da VE em relação à hanseníase são: alimentação do sistema, triagem, limpeza do banco (duplicidade de informações).” (E 01) [...] nós temos o setor de epidemiologia, que hoje tem uma função mais de alimentar o sistema de dados, mas quem faz a busca ativa, a avaliação de faltosos e de abandono é o programa de hanseníase, então acaba sendo uma tarefa nossa e acabamos acumulando funções.” (E 07) Pelos relatos acima percebe-se que a VE da hanseníase, do jeito que está organizada no município de Itaboraí, ainda é uma função do nível Central e o nível local atua mais como um ponto de administração de medicação. Apesar do hospital colônia Tavares de Macedo ser um hospital de referência para tratamento de hanseníase, neste estudo, não abordaremos as práticas de VE desenvolvidas neste hospital. 83 Busca ativa de casos: descoberta e confirmação do diagnóstico Em relação ao diagnóstico precoce no município de Itaboraí, a busca ativa de casos suspeitos e a confirmação do diagnóstico, segundo relatos dos informantes, são feitas de diferentes formas. As formas possíveis de descoberta de casos acontecem por meio de: Atividades pontuais: Campanhas nacionais: Dia Mundial de Combate a Hanseníase comemorado no dia 31 de janeiro e Dia Estadual de Combate a Hanseníase, comemorado este ano no dia 06 de agosto; Campanhas nacionais articuladas com outros programas, por exemplo, em parceria com o Programa de Saúde Escolar (PSE). Atividades de informação: Distribuição de panfletos e cartazes para a população; Demanda espontânea; Encaminhamento de outro profissional; Visitas domiciliares (VD) dos profissionais do PCH e da ESF; Exame dos contatos intradomiciliares; No ano de 2014, foram realizadas 2 atividades coletivas de busca ativa de casos suspeitos de hanseníase: a primeira, comemorou o dia mundial de luta contra a hanseníase com o slogan “Hanseníase tem Cura”. O evento foi realizado na Unidade de Saúde da Família de São Joaquim com a participação das equipes de saúde dos postos de Vale do Sol e Joaquim de Oliveira e o PCH e o objetivo da campanha era informar à população sobre os sinais e sintomas da hanseníase e avaliar casos suspeitos; e a segunda atividade, foi em parceria com o PSE e a Secretaria de Educação , uma campanha de prevenção e combate à hanseníase e verminoses em escolas públicas de Itaboraí, com o objetivo de atender 1.800 crianças e adolescentes de 5 a 14 anos, com a realização de exames preventivos e a oferta de medicação. Nesta atividade participaram seis unidades de ensino do município, que fazem parte do Programa Saúde nas Escolas, e estavam próximas de um posto de saúde. Com a ajuda dos professores, os pais dos alunos preencheram um termo de consentimento para receber o medicamento para o combate de infecções intestinais causadas por verminoses e uma ficha de autoimagem, indicando os locais do corpo que possuíam possíveis manchas suspeitas de hanseníase. Após análise das informações, os profissionais de saúde examinavam os alunos (Portal Viva Itaboraí, 2014). 84 No ano de 2015, a SMS realizou as seguintes atividades: o dia Mundial de Luta contra a Hanseníase foi comemorado no mês de janeiro, com atividade de sensibilização para a população sobre a doença utilizando como estratégia, colocação de outdoor’s nas principais vias de acesso a cidade e no mês de fevereiro com atividade de panfletagem na praça (E 07) (figuras 18 e 19). Já o PSE, nos meses de março e abril, realizou nas escolas palestras sobre tuberculose e hanseníase (Portal de Itaboraí, 2015). Ainda no ano de 2015, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Itaboraí – (SEMEC) trabalhou com os escolares da rede municipal na 2ª fase da II Olimpíada da História de Itaboraí o tema hanseníase e a história do hospital colônia Tavares de Macedo (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2015). Figura 18 e 19 – Foto em Comemoração ao Dia Mundial de Combate à Hanseníase, 2015. Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2015. No nível local, as atividades realizadas até o momento das entrevistas resumiram-se em distribuição de panfletos informativos a serem distribuídos pelos ACS nas visitas domiciliares e a colocação de cartazes para divulgação espalhados pela comunidade conforme o entrevistado (E 10). [...] recebemos uma comunicação interna para fazer uma atividade de hanseníase, folder para distribuir na recepção e alguns cartazes para colar na comunidade, já que não podemos colar na Unidade, só posso pedir isso para os ACS, 85 mas só das áreas que eu tenho cobertura, na área mais carente, não terá informativo, lá não vai chegar [...](E 10) Percebe-se que pela fala do entrevistado, que não há cobertura em todas as áreas adscritas, causada pelo quantitativo insuficiente de profissionais da SF, principalmente ACS, interferindo na VE da hanseníase, a divulgação das informações será precária. Vale ressaltar, que os ACS na sua maioria são concursados, porém ainda existiam ACS contratados. Os profissionais com vínculo empregatício precário, devido à instabilidade política foram dispensados. Do total do quadro de ACS concursados, alguns estão de licença médica, outros foram remanejados para outras equipes, o que causou impacto na cobertura, já que não houve reposição de ACS remanejados ou licenciados. As atividades coletivas são pactuadas pelo Ministério da Saúde, tais como as campanhas nacionais e as campanhas chamadas “campanhas casadas”, que são aquelas que acontecem em parceria com outros programas, tais como, o PSE. O objetivo dessas campanhas é a divulgação dos sinais e sintomas da doença, busca ativa de casos novos e a redução do estigma e preconceito. O PCH planeja as ações a serem executadas para o nível local e para o Ambulatório Central. É realizada inicialmente uma reunião com a equipe do PCH, coordenação de programas e o Núcleo de Educação Permanente em Saúde, sendo decidido como serão executados as atividades. Pelos relatos dos entrevistados abaixo, nota-se que não há indícios de participação do nível local no planejamento. “Para o planejamento das atividades a serem desenvolvidas, o coordenador senta com todo mundo em reunião para conversarmos, planejarmos juntos, onde vai acontecer, como será, quem vai ajudar.” (E 03) “O PCH planeja as ações. O trabalho nas ações geralmente é feito por nós. Quando precisa de ajuda, o coordenador corre atrás. O NEPS também ajuda.” (E 06) Dentro deste contexto, iniciou-se no ano de 2015, um planejamento conjunto organizado pelo Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPS) com a Coordenação de Programas de Saúde na AB para criação de uma agenda única de atividades a serem desenvolvidas pelos programas de saúde. Tal agenda justifica-se segundo informações dos 86 entrevistados pelo fato de que em muitas ocasiões, acabava acontecendo vários eventos simultâneos, o que gerava muitas vezes disputa por espaços, recursos materiais, financeiros, veículos e desgaste dos profissionais. Para o planejamento em conjunto foram realizados reuniões com: todas as coordenações dos programas, setor de planejamento e avaliação e o NES/NEPS (E 07, E 09). A escolha da localidade a ser trabalhada nas ações coletivas é definida de acordo com a percepção dos profissionais do quantitativo de casos por localidade. O PCH solicita ao setor de VE, um relatório com o levantamento dos números de casos no ano ou período, segundo as falas dos entrevistados (E 01 e E 07). “[...] a VE participa na identificação da área, identificar o caso novo, fazer o levantamento de casos novos nessa área.” (E 01) “O que norteia o PCH (para escolha da área crítica) é a quantidade de pacientes por região, dentro do nosso município que possuem o maior número de casos, então as ações de 2014, foram baseadas por isso, fizemos uma ação de busca ativa de contatos, examinamos todos os pacientes que apareceram com manchas na região de São Joaquim e Vale do Sol, fizemos uma grande campanha, escolhemos essas duas regiões por causa de uma família que tem em Vale do Sol, que chamou a atenção, muitas pessoas possuem a doença dentro do mesmo quintal [...] (E 07) Além das campanhas, são realizadas as seguintes atividades educativas à nível individual e coletivo: a sala de espera com os pacientes e as reuniões de convivência. Na sala de espera, são aproveitados os momentos que os pacientes aguardam a consulta para uma roda de conversa, um bate papo. As reuniões de convivência são realizadas mensalmente, com a participação do paciente e seus familiares e são conduzidas pela assistente social e/ou pelo psicólogo, podendo ter a participação de outro profissional, caso seja necessário. Nessas reuniões abordam-se vários aspectos envolvendo a doença, dúvidas, esclarecimentos de benefícios, aspectos referentes à importância do exame de contatos, uso da BCG. Geralmente, as reuniões aconteciam no ambulatório do programa Saúde do idoso, nos dias atuais, essas reuniões acontecem na sala de espera ou em outros espaços disponíveis dentro da própria SMS conforme informação do entrevistado ( E 06 e E 17). “A nível educativo com o paciente havia uma reunião mensal que era feita pela assistente social (no anfiteatro). 87 Essa reunião também era para sensibilizar os nossos pacientes sobre a importância do exame de contato e da gente fazer essa marcação de exame de contatos nas USF. No nível coletivo: visita nas escolas, em janeiro (será o dia amarelo), aproveitamos as ações sociais que a prefeitura faz, para pelo menos tenta levar as ações de panfletagem, sempre uma ação voltada para a educação, exemplo, o que é a mancha? [...] (E 06) “Já fizemos isso há muito tempo atrás, tínhamos grupos de hipertensos, diabéticos, eles vinham até nós nessas reuniões, na igreja se fosse um número muito grande, aqui tem 2 igrejas que são sempre solícitas com a gente, nos ajudam muito, porém nenhuma reunião sobre hanseníase. Nas reuniões sempre são os profissionais que patrocinam o lanche[...] ( E 17) Pela fala do entrevistado (E 17) observamos que no nível local, não há informação sobre o trabalho realizado na sala de espera e as reuniões de grupo são citadas como uma rotina realizada no passado, chamando a atenção que em nenhuma dessas reuniões de grupos, foi abordado à temática da hanseníase, o que pode favorecer para a não divulgação de informação sobre os sinais e sintomas da hanseníase, resultando em desconhecimento sobre a doença, contribuindo para o diagnóstico tardio, além de manter o preconceito em relação à doença. Outro ponto também a ser destacado é a percepção do profissional (E 17) sobre a importância de utilização dos “equipamentos sociais” instalados nos territórios, fortalecendo vínculos e parceria dos profissionais com a população, uma vez que, nas unidades de saúde da família há precariedade de infraestrutura para o desenvolvimento de atividades. Para Alves (2004), as estratégias resultantes das práticas educativas tradicionais incluem informações verticalizadas que estabelecem comportamentos adotados para a manutenção da saúde, culpabilizando os sujeitos pelos seus problemas de saúde, sem levar em consideração os determinantes sociais do processo saúde-doença. Um fato observado durante a realização das entrevistas e reforçado no discurso dos entrevistados (E 03, E 17), refere-se a pouca participação dos pacientes nas reuniões de convivência, e a escassez de recursos financeiros do PCH para apoiar os pacientes que fazem tratamento frente às suas necessidades e que na visão dos entrevistados dificultam a adesão ao tratamento, uma vez que ao participarem das reuniões no nível central, precisam custear com seus próprios recursos despesas com transportes, alimentação, desconto na folha de pagamento pelo dia de trabalho, falta de transporte adaptado para os portadores de seqüelas. 88 “Não temos condições nenhuma, nada que a gente possa oferecer, eles acabam tomando esse remédio, se sentem fracos, abandonam ou ficam muito tempo sem vir, porque não fazem a alimentação, eu acho que se a gente tivesse ajuda do governo, ou seja, de quem for cesta básica ou qualquer um suporte, como na época de um governo passado, que deu uma ajuda aos pacientes da hanseníase e foi quando mais apareceu paciente, voltando a se tratar, ele dava um cheque simbólico de R$: 96,00, o resto convertido em vale-transporte, então o paciente vinha à consulta com o vale-transporte dele e ao tomar a medicação ele ganhava aquele cheque mensalmente, só para quem tomava PQT, para ir ao supermercado, o cheque era nominal, observei que voltaram os abandonos.” (E 03) Como forma de indenizar as vítimas do isolamento compulsório, o governo brasileiro, regulamentou a Lei nº 11520, de 18 de setembro de 2007, concedendo pensão especial às pessoas atingidas pela hanseníase que foram submetidas a isolamento compulsório e internação em hospitais-colônia, até 31 de dezembro de 1986 (Brasil, 2007). No município de Itaboraí os únicos benefícios disponíveis para os pacientes são: o Vale Social*4 para quem está em tratamento, lembrando que o Vale Social não se restringe somente à pacientes de hanseníase, e a isenção do imposto predial e territorial urbano (IPTU) para as pessoas portadoras de hanseníase, aprovado pela lei complementar nº 184, de 17 de dezembro de 2013, no entanto, para ter direito a isenção, os interessados devem comprovar renda mensal de até 2 salários mínimos, ser proprietário de um único imóvel, apresentar laudos, exames, atestado médico que comprovem possuir a doença, devendo apresentar anualmente para ter a isenção (Prefeitura Municipal de Itaboraí, 2014). Quanto à avaliação das ações, não há um protocolo implantado no município para avaliar as ações realizadas pelo nível local e pelo Ambulatório Central. As atividades são avaliadas pelo PCH, baseiam-se na percepção dos mesmos e são discutidas em reunião da equipe. Os resultados acabam não sendo divulgados para o nível local e a população, conforme os entrevistados a seguir. “A avaliação das atividades fica mais à nível de estatística, quantos atendimentos, quantos encaminhamentos, quantos casos suspeitos.”(E 04) *4 Vale Social= consiste em um cadastro, feito pela Secretaria de Assistência para receber o vale-transporte municipal. 89 “Não costumo fazer reunião para avaliação da atividade desenvolvida.”(E 11) As atividades de educação em saúde fazem parte das inúmeras atribuições dos profissionais da ESF, levando-se em consideração o princípio da integralidade. No caso da ESF, a equipe de saúde deve ser capacitada para realizar busca ativa de casos na comunidade adscrita, a partir das visitas domiciliares até acompanhamento ambulatorial dos casos diagnosticados, incluindo a hanseníase (Alves, 2004). Nas entrevistas, os profissionais quando foram perguntados sobre como era o processo de capacitação dos mesmos abordando a temática da hanseníase, foi observado que dos 19 entrevistados, 11 profissionais tinham tido pelo menos 1 capacitação em hanseníase, 4 profissionais não tinham tido nenhuma capacitação em hanseníase, 1 profissional não lembrava mais, 2 profissionais tinham tido capacitação em um período entre 3 e 6 anos. “Não tive capacitação sobre hanseníase e nem em vigilância epidemiológica. Acho muito necessário, por ser profissional de saúde, precisamos ter muita informação.”(E 13) “Não fiz nenhuma capacitação sobre hanseníase ou que fiz foi participar de reuniões, recebi panfletos para distribuir, conversam com a gente, pedem para a gente fazer a vigilância [...] Eles querem que a gente faça busca ativa mais não oferecem material necessário para isso, que é a informação.”(E 14) “Fiz algumas capacitações sobre hanseníase, não sei dizer quantas, porém foram bem menos que tuberculose, aprendi a ter um olhar referente à pele.” (E 17) [...] antigamente, nem todos iam para a capacitação, eram escolhidos 2 ou 3, de preferência quem tinha caso da doença na microárea, no meu caso, eu fui porque tinha um caso cadastrado, então quem não tinha cadastrado com a doença não foi, as informações que nós recebíamos repassávamos para os outros.”( E 18) No entender de Moreno, Enders e Simpson (2008), apesar dos avanços em relação ao tratamento após advento da PQT, é importante a capacitação contínua dos recursos humanos, 90 principalmente nos aspectos do diagnóstico, sendo comum ouvir narrativas de pacientes que passaram por uma quantidade de profissionais de saúde sem que a doença fosse descoberta, resultando em inúmeros tratamentos sem obterem êxito. Assim como, narrativas de profissionais que não se sentem seguros para diagnosticar pacientes com hanseníase, devido ao pouco conhecimento que têm sobre a doença, fato corroborado pelos entrevistados. “Apareceu um senhor tratando a mais de 5 meses como artrite com angiologista, estava com mal perfurante plantar, com uma úlcera vascular, com os dedos em garras, todo deformado, ele foi parar em um hospital na Tijuca para tratar da próstata (Gafreé Guinle) e o médico disse para ele, você não tem artrite ou artose, você tem é hanseníase, encaminhou ele para cá.” ( E 03) “Eu acho que a primeira coisa, deveria ser na base, lá nos PSF’s onde eles conseguem chegar mais perto da população, se o ACS tiver um olhar atento para isso, a gente estaria fazendo uma vigilância muito maior, no município. O caso que chega aqui, às vezes chega com a doença tão avançada [...] recebemos um senhor que quando chegou aqui, a gente via o bacilo nele, ele não tinha mais sobrancelha, com dedos em garras, usava luvas por causa dos machucados, como que esse senhor só chegou agora no serviço.” (E 04) Nota-se pela fala dos entrevistados (E 03 e E 04), a experiência dos profissionais do programa no diagnóstico da doença e a dificuldade desse paciente para ter seu diagnóstico correto. Pela percepção do entrevistado (E 04), a capacitação e a descentralização das ações do programa para a SF, melhoraria a vigilância epidemiológica. Segundo o estudo de Moreno, Enders e Simpson (2008) a capacitação contínua da ESF impacta diretamente na busca ativa e no diagnóstico. Segundo os mesmos autores (2008), em um estudo, para avaliar o impacto das capacitações de médicos e enfermeiros das equipes de Saúde da Família na detecção de casos, assim como a visão dos mesmos sobre os treinamentos realizados, encontraram como resultados que os profissionais avaliaram positivamente quanto à sua implementação e ao objetivo de capacitá-los para a detecção da doença, contribuindo para um “novo olhar”, no entanto um grupo ainda permaneceu com insegurança para o diagnóstico e indicou a necessidade de continuação dos treinamentos, lançando algumas reflexões para os próximos. Diante disso, para as capacitações dos profissionais das USF estão previstas as seguintes atividades no nível central: atualização de médicos e enfermeiros sobre hanseníase e 91 capacitação dos ACS sobre sinais e sintomas da doença prevista para o segundo semestre de 2015. Segundo as entrevistas, as capacitações para ACS têm como objetivo aumentar a busca ativa de casos, uma vez que, diante da alta rotatividade de profissionais nas unidades, muitos não estão mais atuando no município ou não possuem capacitação em hanseníase (E 06, E 07). As capacitações envolvendo a temática hanseníase voltada para os profissionais das unidades de saúde e do Centro de Referência seguem um cronograma sugerido pelo MS e têm a Assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, mais também podem ser oferecidas em parceria com outras instituições (UFRJ, UERJ, UFF, FIOCRUZ, etc.) (E 06, E 07). “Existe um cronograma de capacitação, mas a gente não consegue cumprir pela deficiência no PCH. Esse cronograma é via MS, que repassa para o Estado que repassa para gente (município).” (E 06). Na visita domiciliar (VD), o ACS faz o acompanhamento da medicação utilizada no domicílio pelo paciente, acompanhamento do cartão de vacinas, fornece informações quanto à doença, reforça a necessidade de avaliação dos contatos intradomiciliares e agendamento junto ao programa, além da busca ativa de casos suspeitos, faltosos e abandono (E 07, E 09, E 11). Cruz e Oda (2009), ao realizar um estudo com o objetivo de analisar o conhecimento e as atribuições dos ACS no Programa de Controle da Hanseníase em um município no noroeste do Paraná, partindo do princípio que 97% dos profissionais haviam recebidos treinamento com periodicidade semestral e anual, obtiveram como achados que os ACS ao realizar suas visitas quando se deparavam com uma pessoa com sinais que levavam a suspeitar de hanseníase, orientavam a procurar o serviço de saúde, reforçando a idéia de terem conhecimento e domínio sobre a doença. A confirmação do diagnóstico é realizada pelos profissionais do Ambulatório Central, através de exames clínicos e laboratoriais (E 06, E 07). [...] fazemos a busca ativa por aqui, trazemos para a consulta e encaminhamos para o Programa de Hanseníase. Com a hanseníase a gente faz um trabalho melhor, a Unidade de saúde e o Programa.” (E 13) 92 Segundo entrevistas, devido à rotatividade de profissionais, nas Unidades e nos setores dentro da Secretaria e a interferência política, muitos já não trabalham mais no município, muitas equipes estão incompletas, apesar do treinamento dos profissionais das unidades de saúde, ainda tem profissionais com dificuldade, dúvidas quanto à doença, o que faz com que o PCH assuma a função de confirmação do diagnóstico, o que parece interferir no processo de descentralização das ações para as unidades de saúde, fato corroborado pelo entrevistado abaixo (E 07 E 04). [...] o que escuto falar é que antigamente o PSF era muito bom, que por interferência política desestruturou muito as equipes, justamente por ter profissionais que não tinham envolvimento político, então o político queria aquela vaga para fazer sua indicação pq politicamente era interessante para ele, então eu acho que a ESF passou a ser desrespeitada [...] (E 04) Notificação do caso: SINAN Para o enfrentamento dos problemas prioritários de saúde em seus territórios, o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica, nos últimos 15 anos, vem fortalecendo os sistemas locais para que possam obter autonomia técnico-gerencial. Para isso, é imprescindível dispor de informação, instrumento capaz de determinar um processo dinâmico que provoca medidas de controle pertinentes, planejamento, avaliação, manutenção e aperfeiçoamento das intervenções públicas no âmbito da saúde. A informação é produzida a partir da coleta, tratamento e interpretação dos dados (Teixeira et al., 2013). A notificação compulsória é a principal fonte de informação da vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis, porém outras fontes de dados devem ser utilizadas. Sendo assim, a notificação pode ser entendida segundo a autora (Teixeira et al., 2013 p. 6). “É a comunicação da ocorrência de determinada doença ou agravo à saúde ou qualquer cidadão, para fins de adoção de medidas de intervenção pertinentes.” 93 As informações referentes às notificações são produzidas nos serviços de saúde e inseridas no SINAN (Sistema Nacional de Agravos de Notificação) a partir de registros em formulários específicos (Teixeira et al., 2013). (Anexo 3) Quando o paciente tem o diagnóstico confirmado de hanseníase deve ser notificado na semana epidemiológica de ocorrência do diagnóstico, utilizando-se a ficha de notificação e investigação do Sistema de Informação de Notificação de Agravos Nacional (SINAN). Após o preenchimento da ficha, a mesma deve ser enviada ao órgão de vigilância epidemiológica hierarquicamente superior por meio físico, magnético ou virtual, ficando no prontuário uma cópia. No caso da notificação de recidiva, a notificação será realizada pelo serviço de referência que confirmou o diagnóstico (Brasil, 2002, 2010). No caso do município de Itaboraí, segundo informações dos profissionais, existem dois pólos de notificações: as notificações que são realizadas no Ambulatório Central do PCH e as notificações que são realizadas no HETM, na ficha do SINAN constarão o nome da unidade que notificou o caso confirmado, podendo ocorrer quatro situações distintas conforme os entrevistados (E 01, E 07, E 09): a) O caso suspeito é diagnosticado no Ambulatório Central do PCH, constará como unidade notificadora o Ambulatório Central, quando o paciente opta pelo tratamento na USF, a unidade notificadora é a unidade de saúde; b) O caso foi encaminhado de uma USF, o Ambulatório Central confirma o diagnóstico e o paciente opta pelo tratamento no Ambulatório, constará como unidade notificadora o Ambulatório Central, porém terá uma observação informando qual a unidade de saúde fez o encaminhamento do caso suspeito; c) O caso suspeito vem encaminhado do hospital ou Unidade de Pronto Atendimento, a VE repassa o caso para o PCH investigar e confirmar o diagnóstico, encaminhando depois para o setor de epidemiologia a ficha de notificação; d) O Hospital Estadual Tavares de Macedo (HETM) confirma o diagnóstico, notifica e encaminha as fichas de notificação para o setor de epidemiologia no núcleo central. “O PCH repassa as notificações para o setor de VE, quando o hospital ou UPA passa a notificação para a VE, a mesma é encaminhada para o programa, o PCH (investiga) e repassa para a VE novamente [...]” (E 01) 94 No caso das notificações registradas no Ambulatório Central ou nas USF, o preenchimento da ficha é iniciado pelo PCH no Ambulatório Central, o coordenador envia a cópia do prontuário previamente preenchido, com a classificação operacional da hanseníase, baciloscopia, biópsia, avaliação do grau de incapacidade e a entrevista social. A unidade de saúde termina o preenchimento da ficha de notificação. Após o preenchimento da ficha pela Unidade de saúde ela é enviada para o PCH pela rota, que encaminha para o setor de epidemiologia (E 07, E 11). Segundo entrevista, em muitos casos, o próprio coordenador do programa leva a cópia do prontuário para a unidade de saúde. Tal medida é justificada pelo fato de que como o PCH não dispõe de veículo, necessita de agendamento prévio do mesmo e dependendo da agenda pode levar até 15 dias para ser disponibilizado para o programa, o que ultrapassaria o prazo previsto pelo MS para a inclusão da notificação no SINAN, o que pode sugerir ser um elemento dificultador das práticas de VE já que não há veículo disponível para o PCH (E 07). No setor de epidemiologia, as fichas de notificação passam por uma triagem para limpeza do banco. Isto consiste em verificar duplicidade de fichas, erros de preenchimento, campos incompletos, após a triagem as fichas inseridas no sistema (SINAN) (E 01). Segue abaixo, figura com o fluxo de informação sobre os casos de hanseníase notificados no nível local. Figura 20- Fluxo da informação sobre os casos de hanseníase notificados no nível local Fonte: Elaborado a partir das entrevistas; documentos, 2015. 95 Ao analisarmos a figura acima observamos que no município de Itaboraí, não há retorno das informações produzidas nas unidades, somente para preenchimento da ficha de notificação. Em entrevista, os profissionais quando foram questionados sobre a existência de rotina de retroalimentação às unidades notificadoras, relataram acontecer de forma esporádica. O que se pôde sugerir, na verdade, que são poucos os retornos as unidades notificadoras, mesmo com o grande número de unidades de saúde da família, e sendo o nível local o maior gerador de dados, percebe-se que não há retroalimentação das unidades de saúde pelo setor de VE e pelo PCH, o que pode apontar para um elemento limitador das práticas de VE de hanseníase no nível local, já que por desconhecer a situação epidemiológica da sua área de atuação, pode desmotivá-los para a importância das atividades de VE da hanseníase, fato relatado pelo entrevistado (E 10). “Sobre o retorno das informações pelo PCH, geralmente eu tenho mais por parte do ACS que verificam com o paciente ou o próprio.” (E 10) Segundo Teixeira (2013), um dos itens importantes e que devem ser observado pelo SNVE é a retroalimentação, ou seja, o retorno regular das informações as fontes produtoras. Ao fazê-lo, o sistema ganha credibilidade, uma vez que os profissionais e lideranças comunitárias se sentem membros participantes. O conteúdo da informação pode variar desde a simples consolidação até análises epidemiológicas complexas correlacionadas com o impacto das ações de controle. Para Andrade (1996), o nível local é o maior gerador de informações no SINAN sobre os casos de hanseníase, porém não as analisa e não se apropria dos resultados obtidos. A compilação dos dados das fichas de notificação (SINAN) é realizada no nível municipal e/ou estadual. Quando esses dados são consolidados e analisados no nível estadual e/ou federal, os resultados dificilmente retornam ao nível municipal. Na visão de Teixeira et al, (2013), a retroalimentação do sistema pode também ganhar corpo, através da disseminação periódica de informes epidemiológicos sobre a situação local, regional, estadual, macrorregional ou nacional. A organização das informações em boletins pode ajudar aos gestores com poder de decisão, a obtenção de apoio institucional e material para investigação e controle de eventos sanitários. 96 Um protocolo que chama atenção, adotado pelo serviço social do PCH e que merece destaque, diz respeito às entrevistas sociais. Nesse momento, a assistente social preenche a Ficha de Atendimento do Serviço Social (Anexo 4). Neste instrumento de registro elaborado pelo PCH, são coletadas informações sobre a composição familiar, a situação de saúde e a situação habitacional, com ênfase na localização da residência dentro do quintal e com a elaboração da representação gráfica do imóvel, chamado pelo profissional de “mapa”. Tal instrumento tem como objetivo coletar informações tais como, a caracterização da situação do imóvel, a caracterização das condições do domicílio e a caracterização do contexto socioeconômico em que o paciente está inserido (E 04, E 06, E 07). Dentro deste contexto, nota-se que tal instrumento produz muitas informações que caracterizam o perfil do paciente atendido no Ambulatório Central e o contexto no qual vive, porém, essas informações ainda são pouco exploradas. Talvez, se houvesse um maior incentivo por parte da instituição, maior exclusividade do profissional para o programa de hanseníase e um protocolo institucionalizado, essas informações poderiam ser analisadas detalhadamente, contribuindo para elaboração de mapas das áreas de riscos, relatórios que identificassem as condições de vida e situação de saúde desses pacientes nesses territórios e que subsidiassem no planejamento de ações e articulações intra e intersetoriais. Segundo as entrevistas, no município de Itaboraí, não há boletim epidemiológico ou mapas para conhecimento das áreas críticas para a hanseníase (E 02, E 07). Durante o período das entrevistas, foi observado que a VE estava finalizando o boletim da tuberculose e que posteriormente seria iniciado um boletim para a hanseníase (E 01, E 02). [...] a VE pretende fazer assim como foi feito um boletim da tuberculose [...] a gente pretende fazer também para a hanseníase, está fazendo um trabalho mais de análise desse banco dentro da VE [...] (E 02). Para Andrade (1996), a VE deve alicerçar-se com função básica dos serviços em todos os níveis, tanto o local, o regional e o nacional, sendo que a consolidação dos dados deve ser seguida da interpretação e explicação dos fatos. Aumentar a capacidade de detecção precoce e manutenção dos pacientes em tratamento até a cura significa melhorar o sistema de vigilância epidemiológica da hanseníase. 97 Ainda de acordo com a autora, o processo centralizado de análise das informações de hanseníase pode causar dificuldades no monitoramento do tratamento, contribuindo para aumento da frequência de abandono e desconhecimento sobre a real situação tanto a nível individual como também das áreas adscrita pelas equipes de saúde. Investigação epidemiológica de contatos: Para Teixeira et al.(2013), a investigação epidemiológica é uma atividade no qual se consegue informações complementares de um ou mais casos com o objetivo de determinar as fontes e mecanismos de transmissão e as medidas de controle. Essas informações se acrescentam as informações da notificação, no que se refere à fonte de infecção, modo de transmissão, grupo de maior risco, descoberta de outros casos, confirmação diagnóstica. No município de Itaboraí, a investigação epidemiológica, a atividade de busca ativa de casos faltosos, abandono, avaliação da cicatriz da BCG, exame de contatos intradomiciliares no nível central é realizada pelos próprios profissionais do PCH, conforme informação do entrevistado (E 01). “A VE não faz busca ativa de casos, de faltosos, de abandono, exame de contatos, investigação de encerramento de casos, quem faz é o PCH, a VE alerta sobre, por exemplo, teve um óbito e o médico colocou como hanseníase, repassa as informações para o PCH investigar.” (E 01) Quando o paciente em tratamento falta a uma consulta agendada no Ambulatório Central, um profissional técnico do PCH entra em contato via contato telefônico ou por meio de visita domiciliar. No caso do contato telefônico, os profissionais utilizam o telefone da sala de Coordenação de Programas que atende também a outros programas e setores, fato este, que impossibilita que a conversa seja reservada. Em muitos casos, os profissionais utilizam seu telefone particular para conseguir executar tal atividade (E 03 E 04, E 06, E 07). No caso da busca ativa dos contatos intradomiciliares faltosos e abandonos não há exclusividade de profissionais do Ambulatório Central para realizá-la. Quando ocorre à necessidade verifica-se a disponibilidade dos profissionais pela agenda de trabalho. O profissional que estiver mais “disponível” no programa, naquele dia, acompanhado de outro, realizam a visita. Quando na VD, há necessidade de um profissional específico, é feito 98 remanejamento das consultas do dia ou elas acontecem em horários que não prejudiquem o funcionamento do serviço naquele dia (E 07). No nível local, são realizadas na VD as atividades de busca ativa de casos suspeitos, faltosos, abandono pelo ACS. A investigação epidemiológica de casos e exame de contatos intradomiciliares é feita pelo PCH (E 07, E 09, E 11). Segundo entrevistas, tal fato ocorre devido a pouca capacitação da equipe conforme fala do entrevistado abaixo. [...] fizemos uma avaliação e 70% das nossas unidades tem pelo menos 01 enfermeiro ou 01 médico que já foram treinados em hanseníase, um “intensivão”, tiveram um dia de aula, o que acreditamos não ser suficiente para dar uma responsabilidade tão grande que é a busca de contatos intradomiciliares, nós não estamos passando esta demanda para o PSF por entender que eles ainda não tem uma capacitação mais detalhada sobre o assunto, então nós acabamos fazendo. Um fato a ser destacado diz respeito às áreas que não possuem ACS, neste caso, quando o paciente não comparece nas consultas mensais, é deslocado um ACS para executar a visita domiciliar com o objetivo de localizá-lo, o que sugere sobrecarga das funções dos ACS e uma vigilância insatisfatória, já que esta visita atenderá somente a uma urgência. As informações coletadas sobre os contatos intradomiciliares são registradas nos formulários de Investigação de Hanseníase (ficha elaborada pelo PCH municipal) e Formulário de Vigilância de Contatos Intradomiciliares de Hanseníase (ficha elaborada pelo MS) (Anexos 5 e 6). A avaliação de contatos consiste em exame dermatoneurológico, avaliação da cicatriz vacinal e uso da BCG. Caso seja necessário o uso da BCG, os contatos intradomiciliares são encaminhados para o Posto de Saúde Milton Rodrigues, no Centro de Itaboraí. (E 03). Neste estudo, com o objetivo de conhecer a opinião dos entrevistados sobre o que seria VE da hanseníase, observamos as seguintes respostas dos entrevistados: “Seria ver, diagnosticar, ter um olhar para o paciente, prestar a atenção, acolher o paciente, observar o paciente, ter um reconhecimento melhor dos sinais e sintomas, desconfiar, encaminhar o paciente.” ( E 13) “Seria um olhar mais aberto, olhar mais fixo no problema, para tentar resolver de uma forma mais eficaz, um olhar mais intenso, mais específico. Muitas vezes, as pessoas têm a 99 doença, fazem o tratamento, mas acabam desistindo porque é muito tempo[...] ( E 14) “É uma prevenção, antes que a hanseníase seja mais severa, para não atrofiar nenhum músculo. (E 17) Percebe-se pelos discursos dos entrevistados acima, que a vigilância é vista como um monitoramento, um vigiar, um cuidado, um olhar mais atento aos sinais e sintomas da doença com o objetivo de diagnóstico precoce, além de prevenir deformidades físicas provenientes do diagnóstico tardio, no entanto, este olhar está mais restrito ao indivíduo, e não a família como um todo, sendo importante para a dinâmica de transmissão. Para Passos (2003), esse comportamento de assistir, é um modo de atuar sistemático, numa atitude vigilante, traduz uma permanente observação, atenção, no fazer do trabalho exercido no cotidiano. Neste sentido, pela percepção dos profissionais do programa, o cuidado, o acolhimento para os pacientes que buscam tratamento para a hanseníase é fundamental, criando um vínculo de confiança nessa relação usuário-serviço e maior adesão e continuidade ao tratamento, o que poderia facilitar a busca dos contatos intradomiciliares. Diante do exposto, cabe um questionamento a ser discutido, como os profissionais do programa e das unidades de saúde executam as atividades de investigação epidemiológica de casos, busca de faltosos, abandono, busca de contatos intradomiciliares, avaliação de contatos convivendo com a precariedade de recursos materiais, tecnológicos e com o quantitativo insuficiente de profissionais disponíveis? Acompanhamento do caso: relatório/ Boletim de acompanhamento dos casos (BAC)/ prontuário Segundo o MS, além da notificação no SINAN, nas unidades de saúde é utilizado o formulário de Boletim de Acompanhamento Mensal (BAC) do SINAN, tornando-se uma importante ferramenta para implementar nos municípios a vigilância epidemiológica dos casos de hanseníase (Brasil, 2010). No município de Itaboraí, o acompanhamento dos casos e alimentação desse formulário é feito pelos profissionais do programa e pelas unidades de saúde. Quando o paciente está em tratamento na Unidade, ele é agendado mensalmente (de 28 em 28 dias) para 100 receber a dose supervisionada e os medicamentos que serão utilizados no domicílio. O agendamento é feito por meio do Cartão de Aprazamento (Anexo 7). No Ambulatório Central do PCH, por falta de recursos tecnológicos, veículo disponível, o coordenador do PCH leva até a unidade de saúde em seu veículo, todo mês, o boletim para acompanhamento dos casos (BAC) chamado pelos profissionais de “Tela de Acompanhamento” dos casos tratados nas Unidades de Saúde, conforme relato. [...] levar a tela de acompanhamento até a UBS gera mais uma demanda de carro, de dia e de pessoal, eu posso mandar pela rota, mas quem recebe lá (UBS) pode não ter o compromisso de guardar, preencher e reenviar em tempo hábil, em um mês, eu já tive essa experiência e foi ruim, porque eu não tive o retorno da tela e o sistema ficou sem ser alimentado, enfim um milhão de problemas que começam a surgir no meio desse processo que parece ser tão simples (E 07). O setor de VE emite mensalmente um relatório com os dados dos casos em tratamento e repassa para o PCH alimentar. Pelo Boletim de Acompanhamento, os profissionais acompanham a evolução do tratamento, fazem o preenchimento de informações que possam estar em branco, conforme o prontuário e neste momento é feito uma avaliação da situação prévia dos indicadores pactuados (E 01, E 05, E 07). A partir das informações obtidas neste Boletim de Acompanhamento, será intensificado um esforço dos profissionais do PCH e das Unidades de saúde, para resolver as pendências que possam existir de cada paciente conforme relata o entrevistado (E 07). “Mensalmente o PCH alimenta as informações sobre os pacientes na tela de acompanhamento, repassamos mensalmente para a epidemiologia. No início do mês eu faço a tela de acompanhamento do mês passado [...] o PCH vê todos os prontuários e todas as pendências que cada um tem, por exemplo, quem ainda não trouxe familiar, anotamos os nomes, qual a pendência, fazemos os contatos telefônicos, agendamos carro para a VD, fazemos busca ativa, busca de faltosos, avaliação do grau de incapacidade às vezes na casa do paciente, porque não tem condições de vir ao ambulatório, ver quem não estar tomando a medicação por qualquer razão que seja[...] 101 De acordo com o relato acima, percebemos que os profissionais do programa acabam trabalhando para “atender as urgências”, ou seja, executam o acompanhamento dos casos em atendimento as pendências individuais. Vale destacar, que a Portaria 3252/09 estabelece que o repasse dos recursos financeiros do Bloco de Vigilância e Promoção da Saúde seja condicionado à alimentação dos seguintes sistemas: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC)(Brasil,2009c). No caso do SINAN, ele é alimentado pela notificação e investigação de casos que fazem parte da lista nacional de doenças de notificação compulsória como é o caso da hanseníase, sendo alimentado semanalmente, via e-mail, totalizando 52 lotes de informações anuais (Costa, 2013), o que acaba sobrecarregando os profissionais, uma vez que, trabalham na urgência das demandas. Um fato já citado anteriormente, que interferem nessa logística da VD é a falta de veículo próprio. Como o programa não possui, necessita agendamento do veículo, que também é disputado por outros setores, ocorre muitas vezes à remarcação porque o veículo precisa atender a outras demandas mais urgentes (E 03, E 04, E 05). Monitoramento e Avaliação: indicadores Para Waldman (1991), a palavra monitoramento aparece com vários significados distintos podendo ser usado para expressar o sentido de acompanhar e avaliar, controlar por meio de acompanhamento contínuo, olhar atento, observar ou controlar com propósito especial. Segundo Andrade (1996), as avaliações do controle da hanseníase são feitas unicamente a partir dos dados registrados na ficha de notificação do SINAN, subsidiando a construção dos indicadores, sendo importante o registro das informações pelo nível local. A partir de 1998, o Ministério da Saúde, utiliza os instrumentos do SINAN para acompanhamento e avaliação das ações do Programa de Controle da Hanseníase, dando destaque ao efeito do tratamento e controle da prevalência da doença (Moreira, 2002). Para Moreira (2002), devido à vulnerabilidade das informações do SINAN, não se consegue uma análise mais crítica e minuciosa dos dados referentes à hanseníase e outras doenças de notificação compulsória no Brasil, fato justificado pela necessidade de alimentação do sistema pelo nível local, associado a isso, a hanseníase é uma doença crônica, 102 que deve ser acompanhada podendo levar até 36 meses para encerrar o tratamento. Neste sentido, é preciso que os municípios implantem um sistema de acompanhamento e monitoramento da alimentação do sistema pelo nível local para ser conhecer a magnitude da doença. A análise e interpretação dos dados respaldam a tomada de decisões com o objetivo de aplicação das medidas de prevenção e controle mais apropriadas a cada situação. Sendo assim, ao passo que esta etapa é executada o mais próximo da ocorrência dos problemas de saúde, mais eficaz e adequada serão as ações adotadas (Teixeira et al., 2013). No município de Itaboraí, podemos destacar como ferramentas de gestão da SMS ligados ao planejamento e monitoramento, o Plano Municipal de Saúde 2014-2017, o Sistema do Pacto pela Saúde (registro da pactuação de prioridades, objetivos, metas e indicadores de monitoramento e avaliação do pacto pela saúde- SISPACTO), a Programação Anual de Saúde e o Relatório Anual de Gestão (RAG) (Costa, 2013). Estes ferramentas têm como objetivo auxiliar a gestão, levantando os problemas de saúde, estabelecendo prioridades, sistematizando ações, estratégias e programações para seu enfrentamento, prevendo a alocação de recursos financeiros necessários, monitorando e avaliando a prestação de contas, sendo instrumentos para o planejamento e que favorecem o aperfeiçoamento do sistema de saúde, assim como a melhoria dos serviços e da qualidade de vida da população (Costa, 2013). Segundo a Norma Operacional de Assistência à Saúde (NOAS/2001) as ações de controle da hanseníase devem ser avaliadas frequentemente. Para avaliação da qualidade pelos gestores deve-se levar em consideração o uso de indicadores objetivos baseados em critérios técnicos, o uso de instrumentos de avaliação da satisfação dos usuários do sistema, considerando-se itens tais como: acessibilidade, integralidade da atenção, resolutividade e qualidade dos serviços (Brasil, 2001). Para a avaliação da vigilância epidemiológica utilizam-se indicadores epidemiológicos e operacionais. Os indicadores epidemiológicos mensuram a importância do evento e os operacionais mensuram a avaliação do sistema. A análise dos dois indicadores avalia o impacto de intervenção e indiretamente a utilidade e oportunidade do sistema (Gaze &Perez, 2003 apud Girardi, 2010). Em relação aos indicadores de monitoramento e avaliação, a Resolução CIT nº 05 de 19 de junho de 2013, dispõe sobre as regras do processo de pactuação de Diretrizes, Objetivos, Metas e Indicadores para os anos de 2013-2015, com vistas ao fortalecimento do SUS e a 103 implementação do Contrato Organizativo da Ação Pública da Saúde (COAP). Participam da pactuação das metas dos indicadores, as Secretarias Estaduais e Municipais com posterior validação no SISPACTO e conhecimento do Conselho Municipal de Saúde. (Brasil, 2014). Dentro do roll de indicadores listados pelo MS, os indicadores pactuados para a hanseníase para os anos de 2013 e 2015 foram: o indicador 45: Proporção de cura dos casos novos de hanseníase diagnosticados nos anos das coortes, com parâmetro nacional para referência: > 86%; e Indicador 46: Proporção de contatos intradomiciliares de casos novos de hanseníase examinados, com parâmetro nacional para referência: 2013: 77% de contatos intradomiciliares examinados (Brasil, 2014). Os indicadores monitorados e avaliados freqüentemente pelo PCH e pela VE no município de Itaboraí listados pelo MS são: proporção de cura dos casos novos e proporção de contatos intradomiciliares. A partir de uma série histórica de um determinado período, após análise desses dois indicadores pelo PCH, VE, setor de Planejamento e Avaliação é feito a pactuação para o ano seguinte (E 02). Em relação aos outros indicadores, segundo entrevistas, trimestralmente, o PCH solicita ao setor de VE um relatório com uma série histórica e o PCH faz a análise dos indicadores, avaliando as pactuações, conforme entrevistado (E 07). “Aqui temos meta anual, são as pactuações do Estado e do nível municipal, pactuamos acima de 90% de cura, pactuamos com o estado ano passado, acima 85% de avaliação de contatos intradomiciliares, e 50% de treinamento das UBS. Conforme esteja a estatística, por exemplo, em outubro estávamos com o percentual de avaliação de contatos intradomiciliares baixo em torno de 75%, corremos atrás do que estava acontecendo e vimos que por muitos meses estávamos alimentando errado o sistema, só em fazer a correção no sistema, aumentou o percentual. Percebemos que tinham pacientes que precisavam fazer a avaliação de contato, agendamos carro para 3 dias e fomos atrás desses pacientes, fizemos uma força tarefa, conseguimos levantar esses indicadores [...] Pela fala do entrevistado (E 07), percebemos o empenho e esforço coletivo dos profissionais do PCH e das Unidades para alcance das metas estabelecidas. Segundo Relatório de Pactuação (Prefeitura de Itaboraí, 2015; SES 2012), o município de Itaboraí, em relação à proporção de cura de casos novos, no período de 2008 a 2011 e 2013 atingiu as metas pactuadas, somente em 2012 e 2014 não atingiu a meta. 104 Outro ponto levantado nas entrevistas foi sobre os pacientes que eram do COMPERJ e que vieram fazer ou dar continuidade no tratamento aqui e por serem dispensados, retornaram para seus Estados de origem, ou pela dificuldade de encontrá-los no domicílio contribuindo para manutenção do baixo percentual de cura ou não cumprimento das metas pactuadas conforme entrevistados abaixo. [...] o paciente é do COMPERJ, vem da Bahia, começa a tratar aqui, vai embora e esse paciente só sai da minha tela quando, a BAHIA me notificar ele de volta lá, enquanto isso ele fica como faltoso, já fiz um e-mail para coordenação de hanseníase lá explicando a situação, para que eles tentem notificar esse paciente e o absorvam lá, só assim ele sairá da tela aqui, aqui ele ficará como faltoso, após 1 ano ele fica como abandono e a minha meta de cura cai, então hoje eu tenho 2 pacientes com essa realidade[...]( E 07) “Em Três Pontes, o que mais tem é gente de fora morando lá, gente que você não vê porque trabalha, só chegam à noite, não temos acesso a eles, alguns já sabemos que estão doentes outros não.”(E 16) “Aqui tem muitos do Comperj, moradores vindo de fora. É muito difícil fazer controle desses casos, de uma casa com muitos homens que só estão em casa à noite. Até mesmo para chegar neles.” (E 19) Carneiro (2012), em seu estudo, chamava a atenção para o fato que na ficha do SINAN não existe campo para acompanhamento dos casos com todas as suas particularidades, sendo classificado como abandono somente após 1 ano sem a utilização da medicação, não tendo como indicar a falha ao tratamento antes desse prazo. Outro ponto presente nas falas dos entrevistados foi sobre a falta de conhecimento por parte dos profissionais do perfil dos indicadores das áreas adscritas, e que não há devolutiva para as unidades de saúde sobre as informações coletadas no nível local, conforme entrevistados (E 10, E 11). “Nunca participei de nenhuma reunião para discutir os indicadores da minha área. Só conheci os indicadores da tuberculose, que dá um retorno sobre um panorama da área em relação à doença.” (E 10) “Nunca participei de reuniões com todos os coordenadores para avaliação dos indicadores. Não sabemos como estão os 105 nossos indicadores, só quando os programas precisam fazer uma ação e aí nos repassam as informações dos indicadores de cada área [...] (E 11). Sobre tal queixa, percebeu-se durante a pesquisa que há um movimento por parte dos profissionais de gestão/coordenação do nível central, para um novo desenho das atividades que contemple efetivamente a VE da hanseníase, que hoje ainda encontra-se fragilizada no município, conforme entrevista abaixo. [...] a idéia é traçar outros indicadores para a hanseníase, e está devolvendo isso para o programa, para as unidades de saúde, outros serviços, tanto para mostrar como foi o trabalho no decorrer do ano, como dos anos anteriores enfatizando o último ano, sempre que a gente mostra mais sobre uma determinada doença, você chama atenção para aquilo, você devolve para a unidade, para refletir com está o trabalho dela, a cura diminuiu, qual o meu papel nisso, eu tive paciente, não tive, estou buscando, eu ajudei nos contatos, eu tenho feito a detecção precoce na minha unidade, como está isso.” (E 02) Para melhor entendimento segue na figura abaixo, a síntese das ações de VE da hanseníase desenvolvidas pelo Município de Itaboraí segundo os setores responsáveis (Figura 20). 106 Figura 21- Síntese das Ações de VE, município de Itaboraí, segundo setores responsáveis. 107 5.3.2- A hanseníase no município de Itaboraí segundo alguns indicadores epidemiológicos. A descrição aqui apresentada permite observar a possibilidade de sistematização e análise de dados sobre a hanseníase no município e ajuda a entender alguns elementos da vigilância. No período de 2001 a 2013 foram detectados 710 casos representado uma taxa média de 25,78 casos por 100.000 habitantes, com mínimo de 16,37 e máximo de 41,11. Ao longo do período observa-se um importante declínio, porém a taxa mantém-se alta, acima dos outros municípios como Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo (Figura 22 e Tabela 4). Figura 22- Taxa de detecção de hanseníase nos municípios de Itaboraí, Niterói e São Gonçalo no período de 2001 a 2013. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) Tabela 4: Taxa de detecção de hanseníase nos municípios de Itaboraí, Niterói e São Gonçalo no período de 2001 a 2013. Detecção geral Rio de Janeiro Itaboraí Niterói São Gonçalo N. casos 30550 710 595 1644 Média (Tx) Minimo(Tx.) Máximo(Tx) 15,27 7,82 22,72 25,78 16,37 41,11 9,67 2,43 17,01 13,21 6,40 22,85 Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) 108 Em relação à taxa de detecção em menores de 15 anos, observa-se um declínio ao longo do período que vai do ano de 2001 a 2007, com aumento progressivo entre 2008 - 2010 e posterior decréscimo nos anos subsequentes. Apesar da redução da taxa de detecção em menores de 15 anos, ainda verifica-se a persistência de focos ativos de transmissão em Itaboraí, apresentando valores acima dos observados para os municípios do Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo. No período de 2001 a 2013 a taxa média foi de 7,31 casos por 100.000 habitantes (Figura 23 e Tabela 5). Figura 23: Taxa de detecção em menores de 15 anos no período de 2001 a 2015 nos municípios de Itaboraí, Niterói, São Gonçalo e Estado do Rio de Janeiro. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) Tabela 5: Taxa de detecção em menores de 15 anos no período de 2001 a 2015. Detecção < 15anos Rio de Janeiro Itaboraí Niterói São Gonçalo N. casos 1893 53 49 101 Média (Tx) 3,95 7,31 4,07 3,45 Mínimo (Tx) 1,65 0,00 0,00 0,48 Máximo (Tx) 5,92 19,59 8,37 6,99 Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS). 109 Quando analisada a distribuição da hanseníase no nível intramunicipal, em relação aos oito distritos de Itaboraí, observa-se uma maior taxa de detecção geral no 1º distrito (Centro) com uma média de 31,6 casos por 100.000 habitantes, seguido pelo 4º distrito (Sambaetiba), com uma taxa média de 16,4 e pelo 3º distrito (Itambi) (tabelas 6 e 7 e mapa 7). Tabela 6: Taxa de detecção geral segundo distritos de Itaboraí no período de 2006-2013. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS). Tabela 7: Número de casos de hanseníase segundo distritos no período de 2006-2013. Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS). 110 Mapa 7: Distribuição territorial da taxa média de detecção geral segundo distritos de Itaboraí no período de 2006-2013, por 100.000 habitantes. Fonte: Elaborado a partir de dados do SINAN(DATASUS), 2015. Ao analisar alguns indicadores operacionais da hanseníase tanto no nível municipal quanto nas duas localidades de estudo, foi possível verificar limitações em relação área, realização de exames de detecção em contatos, exames de grau de incapacidade física no momento do diagnóstico e exames de grau de incapacidade física na cura (tabelas 8, 9 e 10). 111 Chama atenção à situação observada nas duas localidades de estudo, as quais apresentaram no período de 2006 - 2013 um pequeno quantitativo de casos a serem acompanhados e percentuais de exames de detecção em contatos, exames de grau de incapacidade física no momento do diagnóstico e exames de grau de incapacidade física na cura, não satisfatório para todos os anos. Tal situação pode estar sinalizando para existência de possíveis obstáculos em termos de vigilância epidemiológica da hanseníase no município de Itaboraí. 112 Tabela 8- Indicadores operacionais no município de Itaboraí, no período de 2006-2013. % contatos % contatos examinados examinados paucibacilar* multibacilares* Exames de GIF diagnóstico % sem % de exames Sem informação Número de de GIF informaçãoGIF GIF GIF 2 Exames de GIF diagnostico diagnostico diagnostico diagnóstico cura % de exames de GIF cura Sem informaçãoG IF cura % sem informaçãoGIF cura 15 23,8 11 0,0 4 24 52,2 14 30,4 9,3 7 34 63,0 7 13,0 19,5 5 12 29,3 25 61,0 10,2 8 15 30,6 34 69,4 2 4,7 8 12 27,9 31 72,1 74,1 12 22,2 4 26 48,1 28 51,9 65,9 15 34,1 0 19 43,2 25 56,8 74,4 52 13,2 37 157 39,8 175 44,4 Município Itaboraí Casos em < 15 anos Casos novos 2006 1 63 - - 50 79,4 0 0,0 1 2007 0 46 57,7 - 24 52,2 5 10,9 2008 3 54 47,8 92,0 36 66,7 5 2009 2 41 40,0 65,8 33 80,5 8 2010 3 49 51,6 47,3 41 83,7 5 2011 3 43 59,1 56,0 40 93,0 2012 1 54 76,7 63,5 40 2013 2 44 77,1 73,7 29 2006-2013 15 394 293 Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) *Assumindo os anos da coorte Tabela 9- Indicadores operacionais no bairro de Ampliação no período de 2006-2013, município de Itaboraí. Ampliação Casos em < 15 anos Casos novos % contatos examinados N. exames de GIF diagnostico 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2006-2013 0 0 0 0 0 0 0 0 0 4 1 5 7 5 4 4 4 34 0,0 20,0 85,7 40,9 25,0 81,8 83,3 100,0 50,6 4 1 4 6 4 4 3 3 29 % de exames de N. sem % sem Número de GIF informaçãoGIF informaçãoGIF GIF 2 diagnostico diagnostico diagnostico diagnóstico 100,0 100,0 80,0 85,7 80,0 100,0 75,0 75,0 85,3 0 0 1 1 1 0 1 1 5 0,0 0,0 20,0 14,3 20,0 0,0 25,0 25,0 14,7 0 0 1 1 2 1 0 0 0 N. de % de exames exames N. sem % sem de GIF de GIF informaçãoGIF informaçãoGIF cura cura cura cura 0 1 2 2 1 1 3 3 13 0,0 100,0 40,0 28,6 20,0 25,0 75,0 75,0 38,2 4 0 3 5 4 3 1 1 21 100,0 0,0 60,0 71,4 80,0 75,0 25,0 25,0 61,8 Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) 113 Tabela 10- Indicadores operacionais no bairro de Três Pontes no período de 2006-2013, município de Itaboraí. Três Pontes 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 20062013 Casos em < 15 casos anos novos % contatos examinados N. exames de GIF diagnostico % de exames de N. sem % sem Número de GIF informaçãoGIF informaçãoGIF GIF 2 diagnostico diagnostico diagnostico diagnóstico N. de % de exames exames N. sem % sem de GIF de GIF informaçãoGIF informaçãoGIF cura cura cura cura 0 0 0 0 0 1 1 0 8 3 2 1 1 5 5 7 47,4 33,3 100,0 100,0 100,0 84,2 52,0 68,8 6 3 2 1 1 4 5 3 75,0 100,0 100,0 100,0 100,0 80,0 100,0 42,9 2 0 0 0 0 1 0 4 25,0 0,0 0,0 0,0 0,0 20,0 0,0 57,1 0 1 0 0 0 0 1 0 3 3 1 0 1 1 3 3 37,5 100,0 50,0 0,0 100,0 20,0 60,0 42,9 5 0 1 1 0 4 2 4 62,5 0,0 50,0 100,0 0,0 80,0 40,0 57,1 2 32 64,2 25 78,1 7 21,9 0 15 46,9 17 53,1 Fonte: Elaborado a partir de dados disponibilizados pelo SINAN (DATASUS) 114 5.4-Identificação dos elementos organizacionais do PCH e da Atenção Básica que interferem na realização das ações de VE na AB/USF. Após análise e sistematização das informações coletadas, para um maior entendimento foi construído um quadro síntese com os elementos organizacionais do Programa de Controle da Hanseníase e da Atenção Básica que interferem na realização das ações de vigilância epidemiológica. Na construção do quadro síntese destacou-se os elementos limitadores separando o nível central e o nível local. Foram considerados os principais elementos e ações da VE, definidos na Portaria nº 3125/2010 (Brasil, 2010), a saber: A busca ativa de casos (descoberta e confirmação do diagnóstico); Notificação do caso (SINAN); Investigação epidemiológica de contatos; Acompanhamento do caso (relatório/Boletim de acompanhamento do caso/ prontuário); Monitoramento e avaliação Destacou-se ainda, aspectos relativos às ações e dispositivos criados pela equipe de profissionais no enfrentamento das dificuldades existentes que interferiam nas práticas de vigilância epidemiológica da hanseníase no nível central e no nível local. Seguem abaixo, os achados encontrados nesta pesquisa. 115 Quadro 3- Síntese dos Elementos Organizacionais que interferem nas Práticas de VE da Hanseníase no Município de Itaboraí. Ações de VE da Elementos limitadores Dispositivos para enfrentamento existentes hanseníase Normas Nível central Nível local Nível central Nível local Busca ativa de casos novos através da visita domiciliar do ACS Divulgação de informações sobre a doença para a população Atividades coletivas com a população Diagnóstico precoce Capacitação permanente dos profissionais sobre a doença (descoberta do caso suspeito/ confirmação do diagnóstico) Confirmação do diagnóstico clínico/epidemiológico/ dermatoneurológico Nas USF- nível local Encaminhados para unidades de saúde os casos com suspeita de comprometimento neural sem lesão cutânea ou aqueles que apresentam áreas com alteração sensitiva e/ou sem lesão evidente Poucas atividades coletivas e de divulgação permanentes sobre a doença, redução do estigma e preconceito RH insuficiente para as atividades no Ambulatório e capacitações. Falta de ACS para cobertura das áreas Experiência dos profissionais com a doença. Falta de capacitação permanente dos profissionais, sobre sinais e sintomas da doença. Os profissionais custeiam com recursos próprios os lanches das reuniões, desjejum para o paciente em dose supervisionada. Interferência política Falta de suporte financeiro para as atividades de educação (reuniões de grupo) Falta de espaço físico atividades com os grupos para Dificuldade de acesso dos profissionais de saúde para examinar os contatos intradomiciliares que trabalham devido ao horário de funcionamento da unidade. Infraestrutura precária do Ambulatório do PCH atendimento a demanda. RH insuficiente para as atividades no Ambulatório RH insuficiente para atividades coletivas Falta de espaço físico para atividades com os grupos Poucas atividades coletivas e de divulgação sobre a doença, redução do estigma e preconceito. Falta de suporte financeiro para as atividades de educação (reuniões de grupo) Para as capacitações, os profissionais organizam as agendas de trabalho, revezando-se para poder aplicá-las. As reuniões de grupos e convivência são realizadas na recepção, em “espaços disponíveis dentro da SMS”. Recursos financeiros: os próprios profissionais financiam os lanches para as atividades educativas com a população no nível local. As reuniões de grupos e convivência são realizadas nas áreas externas das USF (áreas com sombras), na recepção, na varanda, em “espaços improvisados”, utilização de equipamentos socais (igrejas, associação de moradores) Em relação à pouca capacitação: reuniões periódicas de atualização entre os próprios profissionais (socialização das informações recebidas). Dificuldade de acesso dos profissionais de saúde para realizar a VD dos usuários e contatos intradomiciliares que trabalham devido ao horário de funcionamento da unidade. Insegurança na confirmação do diagnóstico 116 Baciloscopia e biópsia como exames complementares Demora nos resultados da biópsia Avaliação do grau de incapacidade no início e na alta do tratamento Muita rotatividade de profissionais (gestores e coordenadores) Muita rotatividade de profissionais nas unidades Instabilidade política Instabilidade política Falta de capacitação permanente dos profissionais sobre a doença. Infraestrutura precária das unidades Falta de espaço físico para atendimento à população Espaço físico insuficiente para a demanda: os profissionais se revezam nos espaços disponíveis; Encaminhamento direto para o PCH sem passar pela Central de Regulação Inclusão da biópsia e baciloscopia como protocolo para confirmação do diagnóstico da hanseníase, demonstrando o cuidado com o paciente. Rapidez no baciloscopia. resultado da Inclusão de mais uma avaliação do grau de incapacidade na metade do tratamento Notificação Comunicação do caso na semana epidemiológica de ocorrência do diagnóstico Preenchimento da ficha notificação do SINAN devendo ser entregue por meio físico, virtual ou magnético Falta de recursos tecnológicos (internet, telefone, computador) Falta de veículo para levar na unidade de saúde a cópia do prontuário Insegurança no preenchimento da ficha Falta de recursos tecnológicos (internet, telefone) Recursos tecnológicos: os profissionais utilizam seus próprios recursos (celular, notebook, internet (etc.), veículos (para levar a cópia do prontuário para unidade Preenchimento prévio da ficha de notificação das USF Utilização de seus próprios recursos tecnológicos (celular, notebook, internet, whatsapp). Elaboração da ficha do Serviço Social (produtor de informações do perfil do paciente) Quando a rota atrasa, o coordenador envia pessoalmente no PCH Recursos tecnológicos: os profissionais utilizam seus próprios recursos (celular, notebook, internet (etc.) Produtor de informações sobre os casos de hanseníase Recursos tecnológicos: os profissionais utilizam seus próprios recursos (celular, notebook, internet (etc.) Dependência da rota Não há rotina de retroalimentação às unidades notificadoras Não há discussões dos indicadores com as equipes de saúde Desconhecimento do perfil epidemiológico do território Pouco retorno dos casos suspeitos Falta de boletim epidemiológico Investigação epidemiológica de caso e de contatos Exames de contatos intradomiciliares (exame Recursos tecnológicos (internet, telefone, computador) Recursos tecnológicos (internet, telefone, computador) Preenchimento da ficha em conjunto com o coordenador ou preenchimento prévio pelo PCH Falta de capacitação permanente 117 dermatoneurológico), recomendação e uso de BCG, orientação, avaliação da cicatriz vacinal Falta de veículo dos profissionais Falta de ACS para cobertura das áreas RH insuficiente RH insuficiente Medo de serem identificados na localidade (preconceito) Sensibilização dos contatos intradomiciliares quanto à importância do exame (Reuniões de convivência) Disponibilidade do profissional “mais solto” Acolhimento, formação de vínculos de confiança com o paciente Elaboração de “mapas” para conhecimento da situação e condições de vida dos pacientes e seus contatos. Acompanhamento do caso Agendamento 28/28 dias (cartão aprazamento) Caso o paciente falte a dose supervisionada no máximo em 30 dias deverão ser visitados Acompanhamento através do Boletim de Acompanhamento de Casos (BAC) mensal Prontuário SINAN Recursos tecnológicos (internet, telefone, computador) Recursos tecnológicos (internet, telefone, computador) Falta de veículo para supervisão nas unidades e busca de faltosos, abandono Falta de ACS para cobertura das áreas RH insuficiente RH insuficiente Atendimento às pendências individuais Atendimento às pendências individuais Excesso de atividades burocráticas e administrativas Encaminhamento direto para o PCH Sensibilização dos contatos intradomiciliares quanto à importância do exame nas visitas domiciliares (ACS) Desloca-se um ACS para fazer a busca ativa de faltosos, abandono das áreas que não tem cobertura Recursos tecnológicos: os profissionais utilizam seus próprios recursos (celular, notebook, internet (etc.) Recursos tecnológicos: os profissionais utilizam seus próprios recursos (celular, notebook, internet (etc.) O coordenador utiliza seu veículo particular para levar o Boletim de Acompanhamento na Unidade de Saúde Desloca-se um ACS para levar a medicação no domicílio Avaliação trimestral do paciente em tratamento nas USF pelos profissionais do PCH Disponibilidade do profissional “mais solto” para a VD Alimentação das informações em conjunto com o PCH (BAC) Intensificação de esforços dos profissionais para sanar as pendências Intensificação de esforços dos profissionais para sanar as pendências 118 Monitoramento e avaliação dos indicadores Construção e análise dos indicadores operacionais e epidemiológicos para propor intervenções no nível local e serviços Falta de planejamento articulado das ações em conjunto com as equipes das unidades de saúde Falta reuniões para avaliação/resultados das ações com as ESF Falta de discussões dos indicadores, com as equipes das unidades de saúde Desconhecimento do perfil epidemiológico do território Falta de reuniões para análise dos indicadores, participação no planejamento das ações Falta de retorno dos resultados das ações executadas no nível local. Análise dos indicadores pactuados pelo MS Intensificação de esforços dos profissionais para atender as metas estabelecidas Intensificação de esforços dos profissionais para atender as metas estabelecidas Planejamento conjunto com a VE e setor de Controle e Avaliação Falta de boletim epidemiológico Falta de boletim epidemiológico Falta de mapaeamento das áreas críticas Fonte: Elaborado a partir das entrevistas, 2014; Portaria 3125/2010. 119 6- Discussão: Desde a sua criação, em 1994, pelo Ministério da Saúde o Programa de Saúde da Família, agora denominado como Estratégia de Saúde da Família (ESF), tem sido uma das prioridades do governo federal para reorganização dos serviços de saúde. Ao longo dos anos a ESF vem passando por mudanças, com vistas a deixar de ser um modelo tradicional de assistência e que efetivamente contemple práticas voltadas para o indivíduo/sujeito como um todo, sua família / coletivo e suas realidades locais. Para Gil (2006, p.1178) “O crescimento do PSF trouxe para a centralidade dos debates a insuficiência dos arranjos organizacionais atuais e a falência das práticas profissionais e de gestão no que se refere especificamente à mudança dos paradigmas que regem o tradicional modelo de atenção à saúde.” Dentro deste contexto torna-se um desafio a inversão do modelo de atenção à saúde porque estabelece um processo de mudança que envolve uma articulação entre a política de formação e a prática, resumindo-se em projetos coletivos, integrados aos cuidados de saúde que tem como corresponsáveis os profissionais, gestores e usuários no fazer saúde dia a dia (Assis et al., 2010). Mujdalieb (2011) considera que a ESF possui duas dimensões: uma instituída, definida através de normas; e a outra prática, que foge as normas, que se desenrola no cotidiano. Em relação à organização interna, os achados desta pesquisa apontaram para uma necessidade urgente de revisão na estrutura organizacional. Um ponto destacado refere-se à falta de clareza e entendimento na estrutura organizacional por parte dos profissionais e usuários dos serviços de saúde no município e, em parte, isto ocorre devido à rotatividade de gestores e coordenadores, às constantes modificações e descontinuidade nos processos de trabalho, refletindo na credibilidade da população frente às equipes de ESF e aos profissionais do nível central. A falta de organização interna impacta nas práticas profissionais, uma vez que os procedimentos, informações sobre as mudanças e novos processos de trabalho quase nunca retornam para os setores, principalmente o nível local, o que acaba refletindo em informações divergentes que causam equívocos e descontinuidade das práticas de VE da hanseníase. 120 Para Silva Santos & Melo (2008), os diferentes interesses político-partidários e disputas de poder existentes tanto nos estados como nos municípios, acabam gerando deturpações na organização dos serviços, repetindo práticas sanitárias focalizadas e burocratizantes, muitas vezes longe das necessidades reais da população. Lanza & Lana (2007-2008), em um estudo sobre o processo de descentralização das ações de controle da hanseníase, em 10 unidades de Atenção Primária a Saúde (APS) todas habilitadas na ESF e 01, centro de referência, em nove municípios da microrregião de Almenara, MG, apontou que o processo de descentralização é a estratégia capaz de enfrentar a endemia na microrregião e que o principal desafio dos municípios do estudo era a reestruturação do programa de controle da doença, fundamentada em políticas públicas efetivas que garantissem o controle da hanseníase na AB, reafirmando o potencial da ESF na reorientação do modelo assistencial. Destaca-se como um dispositivo adotado pelo PCH, a inclusão de baciloscopia e biópsia para confirmação do diagnóstico, o que demonstra o cuidado dos profissionais para que o paciente garanta com mais facilidade seus benefícios, uma vez que por não ter uma rede de apoio e suporte que possa garantir uma condição de renda, muitos deles acabam abandonando o tratamento. Em relação aos recursos financeiros, destinados para as ações da hanseníase, o estudo não apontou indícios da participação dos profissionais nas reuniões de planejamento para discussão da aplicação dos recursos previstos. Em relação aos recursos humanos, o estudo apontou ainda que a instabilidade política afeta tanto aos profissionais concursados quanto aos não concursados, contribuindo para aumento da rotatividade, principalmente os profissionais com vínculo precário, gerando desgaste e sobrecarga dos profissionais nas Unidades de Saúde e no Ambulatório Central (PCH e VE), já que precisam suprir as necessidades no atendimento, assim como além da falta de supervisões periódicas nas unidades de saúde e o excesso de burocratização dos processos de trabalho nas unidades de saúde, dificultam uma maior articulação entre o nível central e o local, fato corroborado pelos achados do estudo de Mujdalieb (2011). Para Mudjalieb (2011), é fundamental o trabalho da supervisão nas unidades, uma vez que cada situação necessita de um “olhar singular” que identifique os “nós críticos”, as potencialidades locais, das equipes, dos territórios e da população. 121 Em relação às capacitações, estas não ocorrem de forma contínua, permanente, e que devido à rotatividade de profissionais, associada à falta de programas permanentes de capacitação sobre a temática hanseníase, gera nos profissionais, principalmente nos novos, insegurança quanto aos procedimentos adotados em relação ao diagnóstico, tratamento e controle da hanseníase, o que pode favorecer o diagnóstico tardio. Para Moreira (2003), a capacitação deve ser um processo contínuo, no entanto a dificuldade em muitas unidades de saúde é confirmar o caso, só se faz apenas o diagnóstico de suspeita, fato observado nesta pesquisa. Com o objetivo de discutir em que medida a análise de impressos favorece a negociação dos sentidos e das práticas sobre hanseníase por profissionais de dois serviços de saúde pública no Rio de Janeiro, Kelly-Santos et al. (2009), analisaram 38 materiais educativos produzidos entre 1993 a 2005. Os resultados revelaram a verticalização e fragmentação nos processos comunicativos, com ênfase nas campanhas, produção centralizada, conteúdos e privilégio dado ao saber biomédico. Em relação às atividades horizontais e participativas, estas não eram comuns, identificando uma lacuna entre a institucionalização do discurso da hanseníase, como alternativa à terminologia da lepra, e a sua circulação e consumo entre os diferentes atores sociais. Nota-se, pelos resultados obtidos neste estudo, o quantitativo insuficiente de recursos humanos, infraestrutura precária, tanto do Ambulatório quanto das Unidades de Saúde, com escassez ou ausência de recursos tecnológicos, equipamentos, insumos básicos, que acabam refletindo na saúde dos profissionais e na qualidade das ações e serviços prestados à população. Para Franco e Merhy (1999) os profissionais de saúde, principalmente os que trabalham em unidades de saúde, lidam diariamente com sobrecarga de trabalho, processos de trabalho desgastantes e infraestrutura deficientes, sendo tais fatores somados às demandas elevadas de usuários que, muitas vezes sem opção, buscam nessas unidades de saúde a resolução dos seus problemas de saúde. Neste estudo, em relação às práticas de vigilância epidemiológica, percebe-se que a busca ativa de casos suspeitos de hanseníase no município de Itaboraí, no nível local, ainda fica mais restrita ao nível individual quando, na verdade, elas deveriam ser a partir da análise das áreas críticas para a hanseníase e dos resultados dos indicadores epidemiológicos. As ações no nível coletivo são realizadas pelos profissionais do PCH e das unidades de saúde, por meio de atividades pontuais, como no caso das campanhas nacionais, podendo ser 122 isoladas ou com a participação da ESF ou, ainda, articuladas com outros setores/programas tais como o Programa de Saúde na Escola (PSE), Secretaria de Educação e Núcleo de Educação Permanente (NEPS). Outro ponto observado neste estudo foi sobre a percepção dos entrevistados do que seria vigilância epidemiológica da hanseníase, apontada por muitos como um ato de vigiar, monitorar, um olhar para os sinais clássicos da doença e preventivo para as deformidades físicas, porém, um monitoramento mais voltado para o indivíduo. Para se facilitar ou intensificar a busca ativa de casos suspeitos de hanseníase no município de Itaboraí, as atividades de comunicação e educação deveriam ser permanentes no município tais como, inquérito escolar, treinamento permanente de ACS para identificar os casos, atualização dos profissionais das unidades de saúde, elaboração de estratégias coletivas dentro do município para se realizar diagnóstico, com ampla divulgação dos sinais e sintomas da doença visando à redução do estigma e preconceito. Para Resende et al. (2009), a deficiência de conhecimento da população em relação à doença está ligada à falta de ações educativas de nível comunitário sendo importante a divulgação intensiva dos sinais e sintomas, o que estimularia a procura dos sintomáticos dermatológicos pelos serviços de saúde, melhorando o diagnóstico precoce. Segundo os autores, outra deficiência causada pela falta de ações educativas diz respeito às ações de forma coletiva para os portadores da hanseníase, uma vez que a interação social contribui para o fortalecimento e crescimento emocional, funcional e estrutural do paciente. No estudo realizado por Pereira et al. (2008), em um amostra de 10% (04 UBS) do total de UBS de Bauru/SP, cujo objetivo foi identificar e caracterizar as ações desenvolvidas pelo Programa de Controle de Hanseníase municipal e analisar as mudanças ocorridas nos serviços de saúde em relação aos indicadores epidemiológicos, no período de 2001 a 2006, apontou que a política pública municipal em saúde priorizava o desenvolvimento da atenção básica com ênfase na saúde pública tradicional, as ações eram realizadas por profissionais capacitados e experientes em hanseníase e que dentro das ações preconizadas pelo Programa, as UBS não realizavam as ações de educação em saúde e a busca ativa dos casos, necessárias para o conhecimento da situação epidemiológica. Para Teixeira et al. (1998; 2013), o processo de informação-decisão-ação inicia-se na maioria das vezes, a partir da notificação, sendo considerada a principal fonte de dados da vigilância. Ele é alimentado e operado nos próprios serviços de vigilância, com o objetivo de assegurar velocidade no desencadeamento das ações de controle da doença. Desse modo, é 123 importante que haja sensibilização dos profissionais de saúde e da comunidade para a necessidade de fortalecer e ampliar a rede de notificação. A produção e divulgação da informação produzida sobre a hanseníase no município é pouca. Vale destacar que o município tem uma potencialidade, os dados sobre os casos de hanseníase são produzidos, o SINAN é alimentado, tem uma frequência de preenchimento, porém dos dados não tem análises sistematizadas. Não há boletim epidemiológico ou mapas da hanseníase, nem rotina de retroalimentação das unidades notificadoras. Para Costa (2013), o boletim epidemiológico, além de ser um instrumento de difusão das informações junto à população e aos gestores, de forma adequada e oportuna, também proporciona, retorno aos profissionais no nível local, conhecer a situação do seu território. Por outro lado, a alimentação do SINAN é atrelada a liberação de recursos financeiros, o que pode contribuir para atendimento as exigências do sistema e desmotivá-los para a importância das atividades de VE da hanseníase. A partir da territorialização do município, levando-se em consideração as condições de vida e saúde como parte da análise da situação de saúde, é viável dar continuidade ao processo de planejamento e programação local, não esquecendo que esse planejamento não resume na mera racionalização da oferta de serviços ambulatoriais e hospitalares, mas trata-se de se fazer aquilo que é necessário para dar conta dos problemas reais existentes na população de um determinado território, em uma área de cobertura de uma unidade de saúde onde se encontram famílias em condições de vida precárias (Teixeira, 1998). Entendendo que as ações e serviços envolvem um empenho a mais de mobilização e envolvimento dos indivíduos, das famílias e das coletividades que vivem e trabalham neste local; e articulação de outros órgãos governamentais e não governamentais que atuam na área, planejar com base na identificação, descrição e análise dos determinantes sociais dos problemas de saúde envolve a definição dos objetivos, metas, ações e atividades que serão executadas para o enfrentamento dos problemas de saúde elencados e priorizados na área, com o estabelecimento dos responsáveis, prazos e recursos envolvidos (Teixeira, 1998). Neste estudo, nota-se que não há protocolo ou rotina institucionalizada de análise da situação de saúde nos territórios, instrumento importante para respaldar os gestores/coordenadores nas intervenções específicas, na formulação e implantação de políticas públicas voltadas para os pacientes em tratamento ou sequelados da hanseníase, nem no nível individual, nem no coletivo ou que contemplem suas condições de vida, no 124 planejamento inter e intrasetorial, na avaliação das ações, apontando para uma necessidade de maior articulação. Destaca-se dentro dos dispositivos existentes criado pelo PCH, a ficha elaborada pelo Serviço Social, que além de conter informações sobre a situação e condições de vida dos pacientes, o profissional também elabora um “mapa”, com a localização do domicílio e condições de infraestrutura, porém as informações ainda são pouco exploradas. Dentro deste contexto, tal instrumento poderia ser mais analisado, subsidiando relatórios que pudessem embasar ações e serviços no nível local. Em relação à investigação epidemiológica de contatos, ela está centralizada no Ambulatório do PCH, observa-se que a precariedade de recursos tecnológicos, veículo, rotatividade de profissionais nas unidades, principalmente os médicos, a falta de recursos humanos concursados (principalmente ACS) para cobertura das áreas adscritas descobertas e a falta de capacitação permanente dos profissionais, estão entre os elementos que contribuem para a sobrecarga dos profissionais do PCH. Além disso, a falta de divulgação permanente de informações sobre a doença aumenta o estigma e preconceito sobre a doença, já que existe o medo de serem identificados na comunidade, interferindo diretamente na busca de casos novos e de contatos intradomiciliares, fato observado neste estudo. Por outro lado, o vínculo de confiança criado nessa relação usuário-serviço entre os pacientes e profissionais do PCH, parece ser um dos dispositivos que facilita a busca dos contatos intradomiciliares. Outro ponto importante observado que interfere na busca de casos novos é a migração de pessoas advindas de outros estados para trabalhar no complexo petroquímico. Com a paralisação das obras, muitas dessas pessoas não residem mais no município, outros mudaram de local de domicílio, impactando na vigilância epidemiológica da hanseníase. Segundo Assis et al. (2010), para estabelecer o vínculo na ESF necessita muito mais do que conhecer as pessoas de sua área de abrangência, torna-se primordial criar condições de envolvimento e compromisso que a equipe tem com o usuário em seu território social e com seus problemas, sensibilizar-se com o sofrimento do outro/da população. Em relação ao acompanhamento do caso, observamos neste estudo, que a precariedade dos recursos tecnológicos, materiais, falta de veículo, precariedade de formação e de informação e recursos humanos, principalmente das áreas que não possuem cobertura de ACS, exigem dos profissionais do nível local e central, uma sobrecarga de esforços para resolver as pendências individuais com o objetivo de alcançar metas. 125 Para Moreira (2002), o SINAN permite avaliar de forma simples a implementação das ações de diagnóstico, tratamento, prevenção de incapacidades físicas e vigilância de contatos na rede básica de saúde, porém para avaliar as ações de educação, a cobertura populacional e de serviços com ações implantadas, da eficiência do serviço, são necessários outros instrumentos que possam avaliar o programa na sua forma de organização do sistema, tanto do ponto de vista epidemiológico, como operacional, levando em consideração o processo da implantação e implementação das ações das ações e dos serviços de saúde dos estados e municípios. Em relação aos indicadores, o estudo apontou como elementos que interferem na VE da hanseníase, principalmente no nível local: à falta de análises e discussões dos indicadores; participação no planejamento e na avaliação dos resultados das ações executadas; desconhecimento do perfil epidemiológico do território, o que pode interferir na VE da hanseníase. No nível central, poucas análises dos indicadores em conjunto com o nível local e esforço individual dos profissionais para cumprimento das metas a serem alcançadas. Quanto à proporção de exames do grau de incapacidade física realizados no diagnóstico, observamos neste estudo que houve um aumento na avaliação do grau, provavelmente esses dados estão relacionados com a inserção do profissional fisioterapeuta em 2008 no PCH, porém nos anos seguintes tendem a oscilar o que pode sugerir que a precariedade no quantitativo de recursos humanos, faz com que o PCH não consiga absorver a demanda, diante das atividades a serem exercidas. Quanto ao grau de incapacidade, classificado no diagnóstico observou-se um número expressivo de pacientes diagnosticados com grau de incapacidade II entre os anos de 2010 e 2011, o que pode sugerir que esses pacientes chegaram muito tarde aos serviços, indicando falha na busca ativa, talvez pelo número insuficiente de recursos humanos relatados nas entrevistas, pela falta de capacitação permanente dos profissionais, rotatividade dos mesmos nas unidades de saúde e instabilidade política na SMS já apontada anteriormente pelos estudos de Mujdalieb (2011) e Costa (2013). Vale ressaltar, que o PCH adotou o protocolo de incluir mais uma avaliação do grau de incapacidade, na metade do tratamento, com o propósito de prevenir incapacidades durante o tratamento com a PQT. Chama a atenção nos dados obtidos, a proporção de fichas inseridas no SINAN, sem o registro da informação do grau de incapacidade física avaliado no diagnóstico. Partindo-se do pressuposto que no momento do diagnóstico é realizada a avaliação do grau de incapacidade 126 física pelos profissionais do programa e o setor de VE faz a triagem das fichas, a proporção de fichas sem o registro da informação deveria ser nula, o que aponta para possíveis falhas no sistema de informação. Em relação à proporção de exames com grau de incapacidade realizados na cura, observamos um baixo percentual ao longo do período no município e nos bairros estudados, o que indica que, para analisar esta informação depende-se do paciente comparecer ou não no Ambulatório do PCH para realização desta avaliação ao final do tratamento medicamentoso, sendo necessário conjugar com a proporção de cura. Ao analisarmos a proporção de contatos examinados, observou-se oscilação ao longo do período, voltando a aumentar a partir de 2012. Em Ampliação observa-se o mesmo padrão com aumento a partir de 2011, atingindo nível máximo em 2013. Já em Três Pontes, nota-se que entre os anos de 2008 a 2010, todos os casos notificados tiveram seus contatos intradomiciliares avaliados, voltando a diminuir nos anos de 2011 e 2012 com aumento no ano de 2013. Provavelmente, essa oscilação está relacionada com o período de maior instabilidade política dentro da SMS, com desligamento de profissionais e gestores, impactando nos indicadores. Pelos dados produzidos podemos observar que o município, no ano de 2013, não atingiu a meta estabelecida de 77% contatos examinados segundo o Caderno de Diretrizes, Metas, Objetivos e Indicadores referentes a 2013 - 2105 (Brasil, 2014), dos casos multibacilares. Quando analisamos os dois bairros, a UESF de Ampliação teve todos os contatos intradomiciliares dos casos notificados examinados, talvez justificados pela proximidade com o Ambulatório Central e Três Pontes em torno de 68%. Vale lembrar, que no bairro de Três Pontes não existe unidade de saúde, e a cobertura da população pela ESF tem suas responsabilidades divididas entre a UESF de Vale do Sol e de São Joaquim, onde as equipes se deslocam para atendê-la e a outra parte da população é atendida no Posto Milton Rodrigues. 127 7- Considerações finais: Esta dissertação buscou compreender como são desenvolvidas as ações de vigilância epidemiológica da hanseníase, desenvolvidas na Atenção Básica no município de Itaboraí, levando-se em consideração aspectos da organização do Programa de Controle da Hanseníase (PCH) municipal e da Atenção Básica. O projeto de pesquisa foi delineado para ser um estudo de caso exploratório, investigando essas práticas de VE da hanseníase, identificando elementos de adequação às normas e à situação local da hanseníase e que possam interferir na realização das mesmas no nível local. Com o término desta dissertação será feita uma devolutiva dos principais resultados para os gestores e profissionais envolvidos na pesquisa, fornecendo elementos para uma discussão sobre uma proposta de um novo desenho para a vigilância epidemiológica da hanseníase dentro do município. Durante as entrevistas e o tempo de permanência, o estudo levantou algumas questões como elementos potencializadores das práticas de vigilância epidemiológica da hanseníase no nível central, sendo estes: o profissionalismo, a experiência e o esforço individual dos profissionais do nível central, para realização das metas e atividades estabelecidas; o vínculo e acolhimento com os pacientes atendidos no Ambulatório Central; e as redes sociais formadas a partir de solidariedade e ajuda mútua, fortalecendo os profissionais diante dos inúmeros elementos limitadores; a inclusão da biópsia e baciloscopia na confirmação do caso, demonstrando cuidado com o paciente; a inclusão de mais uma avaliação do grau de incapacidade durante o tratamento; a elaboração de “mapas” reunindo informações sobre as condições de vida dos pacientes e seus contatos, a experiência dos profissionais do PCH; rapidez no resultado de baciloscopia. Como elemento facilitador, no nível local, o estudo apontou a estabilidade adquirida principalmente pelos ACS, que são concursados, diminuindo com isso a rotatividade da categoria; as redes sociais formadas a partir da solidariedade e ajuda mútua fortalecendo os profissionais diante dos obstáculos a serem enfrentados; compromisso e esforço individual dos mesmos para cumprimento das metas e atividades estabelecidas. Destaca-se que apesar da estabilidade e tempo de trabalho dos concursados junto à Secretaria municipal de Saúde, na entrevistas, observou-se que havia muita rotatividade de profissionais nos setores no nível central e nas unidades de saúde, principalmente aqueles profissionais com vínculo precário, causando descontinuidade dos processos de trabalho. 128 Neste estudo foram utilizados os dados do SINAN para fazer uma análise e poder entender alguns elementos relacionados à situação da hanseníase no município, nas duas localidades, e dos indicadores operacionais em relação ao programa. Durante a realização da pesquisa, na medida em que os dados eram produzidos, eram divulgados para os profissionais do nível local e central, isso de certa forma gerou ações, tais como a intensificação das ações de controle da hanseníase nas localidades de Vale do Sol, São Joaquim e Ampliação I, descritas no Plano de Saúde Municipal para o período de 2014-2017(Prefeitura de Itaboraí, 2014) o que demonstra o nível de compromisso, responsabilidade e esforço dos profissionais em querer proporcionar um melhor controle da hanseníase. Como elementos que interferem nas práticas de VE da hanseníase no nível central e no nível local, o estudo apontou que a instabilidade e interferência política, ocasiona rotatividade nos cargos de gestão e em profissionais com vínculo precário, gerando sobrecarga e desgaste nos profissionais nas unidades de saúde e o nível central, associado à carência de recursos humanos, recursos físicos, recursos tecnológicos e recursos materiais que interferem na execução das atividades pertinentes a cada profissional/equipe/setor/programa. Além disso, ainda existe, a falta de diagnósticos que resultem em ações voltadas para as reais necessidades e demandas das localidades, ausência de planejamento articulado, intra e intersetorial, com a participação de todos os envolvidos, de forma contínua e institucionalizada, principalmente do nível local e a falta de instrumentos/protocolos de avaliação da efetividade das intervenções/ações. Destaca-se ainda no nível local, o excesso de atividades burocráticas e administrativas, já que atendem a diversos programas de saúde e suas demandas, fazendo que os profissionais executem suas atividades a partir das urgências dos prazos a serem cumpridos. Em relação às localidades que participaram do estudo, destacam-se: a falta de acesso da população a transportes públicos; falta de saneamento; de serviços; precariedade de infraestrutura; crescimento desordenado; aumento da violência, demonstrando a fragilidade da rede para atender a demanda da população. A instalação do Comperj em Itaboraí, considerado antes do empreendimento, como município dormitório gerou expectativas de aumento de renda, trabalho e maior desenvolvimento para o município, no entanto o crescimento urbanístico, socioeconômico, os investimentos na saúde, educação, meio ambiente, transportes públicos e segurança não acompanharam o mesmo ritmo do empreendimento. Além disso, com a paralisação das obras do complexo mediante a suspeita de irregularidades e escândalos, esse impacto tende a ser ainda pior para o município que já sofre 129 com o aumento da violência, aumento do custo de vida, crescimento desordenado, escassez dos recursos hídricos e aumento do desemprego, causando desafios ainda maiores para os gestores, profissionais e usuários dos serviços. É nesse contexto que a VE tem que se estruturar. A VE deveria ser capaz de organizar as informações coletadas nos territórios, fazer diagnóstico, monitorar, intervir no nível local por meio de ações articuladas e integradas que contemplassem o nível coletivo, porém diante de tantos elementos que limitam essas práticas no município de Itaboraí, do modo como está inserido o PCH e a VE, o trabalho do setor de VE basicamente tem sido relacionado ao simples recebimento e consolidação dos dados provenientes do nível local, alimentação regular do banco de dados do SINAN estadual, com poucas análises críticas e sem devolução dos dados para o nível local. As ações de VE da hanseníase estão mais voltadas para o nível individual, são mais pontuais, e a ações no nível coletivo resumem-se somente às atividades pactuadas pelo Ministério da Saúde como, por exemplo, as campanhas nacionais, sem, necessariamente, interferir nas condições sócio-econômicas que atingem, diretamente, na manutenção e aumento dos casos ocultos de hanseníase no município. Diante deste cenário de precariedade, instabilidade política e falta de continuidade das metas, diretrizes e execução de ações que sejam institucionalizadas, cabe um questionamento: como incorporar de forma efetiva as práticas de Vigilância Epidemiológica na hanseníase na AB, completando o ciclo necessário para ser considerada “vigilância epidemiológica”? Não podemos afirmar, a longo prazo, qual será o cenário do município para a hanseníase, já que o período de incubação da doença é longo, mas a curto e em médio prazo há necessidade urgente de unir esforços no sentido de se conhecer a situação epidemiológica da hanseníase nos bairros/distritos e município como um todo, compromisso e vontade política para que os serviços se organizem nos diversos níveis de complexidade, contemplando ações de prevenção, promoção e assistência integral respeitando-se que cada serviço estudado apresenta suas particularidades, suas condições são heterogêneas, porém interferem diretamente nas práticas de VE da hanseníase, para, só assim, transformar o panorama do município considerado endêmico. 130 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALVES, V.S.- Educação em saúde e constituição de sujeitos: desafios ao cuidado no Programa Saúde da Família. Salvador: Dissertação de Mestrado em Saúde ColetivaUniversidade Federal da Bahia, 2004, 192f. ANDRADE, V. L. G.; SABROZA, P. 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YIN, R.K- Estudo de caso: planejamento e métodos/Robert K.Yin; tradução Ana Thorrell; revisão técnica Cláudio Damacena.-4.ed.-Porto Alegre: Bookman, 2010. 248 p. 141 9- APÊNDICES: APÊNDICE I- Taxas de detecção de casos de hanseníase bruta e suavizadas pelo método bayesiano segundo bairros no município de Itaboraí no período de 2006-2013. Código 52 59 48 15 60 29 11 14 75 69 10 9 50 5 26 6 74 2 1 47 40 77 65 21 37 39 43 3 28 22 42 44 24 61 62 38 58 45 41 Bairro agro brasil aldeia da prata alto do jacu ampliacao apoloII areal badureco bela vista cabucu cabucu centro caluge calundu chacaras bela vista chacaras igua city areal colonia curuzu engenho velho esperanca gebara grande rio granja mirassol granjas cabucu itaborai centro itamarati itambi itambi centro itaville jardim ferma jardim imperial jardim itambi joao caetano joaquim de oliveira manilha centro marambaia maravilha monte verde morada do sol 1 morada do sol 2 Tx_detecção_bruta 3,7 0,0 1,1 3,2 1,1 4,1 3,3 0,8 1,7 1,1 2,9 4,7 4,9 21,0 0,0 0,6 0,0 10,7 3,5 1,4 0,8 0,0 0,6 0,6 0,4 0,0 8,1 0,0 2,0 2,7 1,7 0,9 1,0 2,7 1,3 0,0 0,0 0,0 0,0 Casos 2 0 1 37 6 18 2 1 1 3 4 2 1 3 0 1 0 7 38 3 3 0 1 2 1 0 14 0 2 7 3 5 4 20 8 0 0 0 0 População Taxas_suavizadas_bayesiano 5425 3,311502412 4013 0,647073287 9186 1,256049415 114942 3,202951094 53600 1,151489467 43940 4,02206791 5979 3,073782996 13166 0,920639631 5880 1,801112337 26181 1,207819134 13828 2,808716788 4290 3,934978688 2044 3,627755134 1428 10,64986231 9633 0,327274796 17667 0,707101022 1983 1,000049035 6511 8,936613436 109959 3,435367504 21770 1,434448489 35438 0,907069569 5391 0,522004021 18126 0,690762265 33924 0,665170532 25543 0,502964481 6687 0,441708915 17375 7,519419784 17379 0,194669289 9859 2,045423786 25546 2,701969163 17920 1,71537831 56546 0,921714581 39268 1,066213651 74144 2,684701686 63448 1,284341314 4496 0,596942218 32301 0,109331228 7015 0,425157544 8020 0,38137127 142 23 nancilandia 16 nova cidade 64 novo horizonte 30 ns da conceicao 17 outeiro das pedras 78 pachecos 76 pachecos centro 46 parque aurora 53 parque nova friburgo 73 perobas 4 picos 67 pitanga 32 porto das caixas 31 porto das caixas centro 49 quinta dos colibris 8 quissama 68 recanto dos magalhaes 25 retiro 20 retiro sao joaquim 18 rio varzea 54 sambaetiba 51 sambaetiba centro 57 santo antonio 19 santo expedito 72 sao jose 66 sao miguel 71 sao sebastiao 12 sape 55 semnome 27 sossego 13 tres pontes 7 venda das pedras 63 vila brasil 56 vila gabriela 0 vila rica 70 vila verde 33 vila visconde 35 vilage do sol 36 visconde centro 34 visconde de itaborai 2,2 2,5 0,7 0,0 0,5 0,0 3,1 0,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,7 0,0 3,4 0,0 1,6 3,4 3,3 2,6 2,6 0,0 1,4 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0 3,0 49,6 7,0 1,8 0,0 0,0 0,0 0,0 4,6 0,0 0,0 4 16 3 0 2 0 2 1 0 0 0 0 0 2 0 13 0 2 21 14 1 2 0 4 2 0 0 0 0 9 38 17 9 0 0 0 0 1 0 0 17895 63531 46011 291 42326 10894 6436 12606 8015 9398 6188 1048 110 29803 2222 37777 4521 12612 60991 42423 3893 7713 49671 27693 11011 8289 1085 2743 80 30207 7661 24288 50423 28566 7033 15101 16431 2164 16470 142 2,226899084 2,508397574 0,706219935 1,833839907 0,538338788 0,294605311 2,901939026 0,956581094 0,381566777 0,334180948 0,469516388 1,335625682 2,013415571 0,75207755 0,939698412 3,384038057 0,59455803 1,65302654 3,407040682 3,254462393 2,43662385 2,509850882 0,072390825 1,485542298 1,860604821 0,371140401 1,318122527 0,830450304 2,046633209 2,933806145 40,82411288 6,674825013 1,796761478 0,122806246 0,424285067 0,22100378 0,204826291 3,516200129 0,20438758 1,97915169 Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados disponibilizados pelo SINAN, 2015. 143 APÊNDICE II- ROTEIRO GUIA PARA A OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA DA LOCALIDADE ONDE ESTÁ INSERIDA A UESF Data:____/____/____ Hora:__________ Localidade:________________________________________________________________ 1-Características espaciais da unidade de análise a ser estudada: Neste item serão observados aspectos relativos às condições de moradia (casas apartamentos, etc), infraestrutura (abastecimento de água, esgotamento sanitário, iluminação, coleta de lixo, etc), situação de transporte, condições de arruamento, crescimento e adensamento populacional, disponibilidade de serviços na localidade (comércio, creches, escolas, terrenos baldios, aspectos sociais (associação de moradores, movimentos sociais, filantropia, etc). 144 APÊNDICE III- ROTEIRO GUIA PARA A OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA DOS PROCESSOS DE TRABALHO (NÍVEL CENTRAL E LOCAL) A observação buscará apontar os elementos significativos para as ações de VE da hanseníase. A- Ambiente de trabalho: interação entre os profissionais da equipe e da equipe com a população; B- Recursos disponíveis: físicos, materiais, insumos e humanos; C- Organização do trabalho; D- Ações de VE realizadas: descoberta do caso (detecção, diagnóstico, busca ativa de contatos), notificação, acompanhamento do caso, investigação epidemiológica (exame de contatos, aplicação de BCG), monitoramento e avaliação. E- Fluxo de informações: registros, sistematização, análises das informações, relatórios, produção das informações, divulgação, retorno das notificações; F- Reuniões de equipe: diagnóstico da situação de saúde do território, membros participantes, assuntos abordados; G- Atividades educativas: individual, com a família, com a comunidade H- Outras observações: 145 APÊNDICE IV- ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS SEGUINTES INFORMANTES – CHAVE (COORDENADOR DA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA/COORDENADOR DO PROGRAMA DE HANSENÍASE MUNICIPAL/COORDENADOR DA UESF) DATA DO PREENCHIMENTO:____/____/_____ 1-IDENTIFICAÇÃO Nome: _______________________________________________________________________ Idade: __________ Sexo: ( Formação Acadêmica: ( ( )M ) Superior ( )F ( ) Pós-graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado ) Outros:___________________ Especificar a formação acadêmica:____________________ Vínculo empregatício: ( ) estatutário ( ) contratado ( ) Outro:______________________ Tempo de serviço no município de Itaboraí:____________Tempo de atuação no setor: ___________ CONTEXTO ORGANIZACIONAL 1. O que você pode dizer sobre a hanseníase no município de Itaboraí?e o Programa de Hanseníase? E a VE da hanseníase? 2. Existe algum mecanismo de controle social na hanseníase no município de Itaboraí? Como se dá? - Tem Participação de movimentos sociais? - Ouvidoria? Gestão do PCH e Atenção Básica: 3. Como se desenvolve esse processo de gestão da VE da hanseníase em Itaboraí?O que mudaria para melhorar? 3.1-no nível local: Como se desenvolve esse processo de gestão da VE da hanseníase nesta área de atuação da UESF? - Questões relativas ao orçamento. - Orçamento destinado para VS e ações de VE da hanseníase 4. Como são planejadas e avaliadas as ações de VE da hanseníase? No nível local? - Participação do nível local? -Articulação do nível central (inter e intrasetorial) Monitoramento e Avaliação: 146 5. Quais são as áreas mais críticas onde a ocorrência de hanseníase é maior no município/ nível local? - Como é o processo de conhecimento das áreas mais críticas? 6. Como é o fluxo de informação da VE da hanseníase? - Sistema de informação dos dados da hanseníase - Divulgação das informações produzidas pelas UBS/UESF e/ou o nível central sobre a hanseníase? _Existe Boletim Epidemiológico? 7. Como são trabalhados os indicadores (epidemiológicos e operacionais) encontrados na hanseníase? - Utiliza relatórios com os dados epidemiológicos? - Como é a análise das informações, o que faz com a informação? 8. Para o Sr.(a) a implantação do COMPERJ causa/causou algum impacto na ocorrência da hanseníase em Itaboraí? Por que? 9. Quais os aspectos positivos/negativos na organização do sistema local/central que interferem nas ações da VE da hanseníase? E com enfrenta? 10.Quais seriam suas propostas para melhorar as ações da VE da hanseníase? 147 APÊNDICE V – ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS NAS AÇÕES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA HANSENÍASE (NÍVEL CENTRAL E LOCAL) DATA DO PREENCHIMENTO:____/____/________ 1-IDENTIFICAÇÃO Nome: _______________________________________________________________________ Idade: __________ Sexo: ( Formação Acadêmica: ( ( ) Doutorado ( ) Outros )M ( )F ) Nível técnico ( ) Superior ( )Pós-graduação ( ) Mestrado Especificar qual a titulação acadêmica:____________________ Função:______________________________ Vínculo empregatício: ( Carga horária: ______________________________ ) estatutário ( ) contratado ( ) Outro:__________________________ Tempo de serviço no município/tempo do contrato:______________________________ Tempo de atuação na UESF/UBS: ______________________ Data de implantação da UESF na localidade:_________________________ Localidade (bairro/distrito):__________________________________________ Práticas de vigilância epidemiológica da hanseníase: 1. O que você pode dizer sobre a hanseníase no município de Itaboraí? E sobre a Vigilância Epidemiológica da hanseníase? E o Programa de hanseníase? - Diferença entre Vigilância em Saúde e Vigilância Epidemiológica. 2. Como se dá o processo de VE da hanseníase desenvolvidos pelo setor? -Busca ativa dos casos em adultos, em menores de 15 anos - Busca de faltosos, abandono, vigilância de contatos intradomiciliares, - Investigação dos “casos investigados e encerrados em relação aos notificados” - visita domiciliares aos pacientes de hanseníase em tratamento ou que já receberam alta 3. Como são agrupadas as informações sobre os casos de hanseníase no território? -Como são organizadas essas informações?existe relatório com os dados epidemiológicos? -São utilizados para o planejamento das ações?reuniões técnicas? Quem participa das reuniões?nível local? Articulação com nível central? 4. Como é o fluxo de informação (interno e externo) da VE da hanseníase? - Sistema de informação dos dados da hanseníase, como e onde registra, 148 -Divulgação das informações produzidas pelas UBS/UESF e/ou o nível central sobre a hanseníase? - Existe retroalimentação das informações para as unidades notificadoras? 5. Como são trabalhados os indicadores (epidemiológicos e operacionais) encontrados na hanseníase? - Qual é a situação epidemiológica da localidade onde está inserida a UBS/UESF escolhida? -Existe Boletim Epidemiológico?relatórios?mapas? -Como são analisadas as informações? 6. Como são desenvolvidas as atividades educativas sobre a hanseníase? - nível local (nível individual, nível coletivo) 7. Como são planejadas e avaliadas as ações de VE da hanseníase? - Participação do nível local? -Articulação do nível central (inter e intrasetorial) com o nível local - Quais e como são os mecanismos de comunicação utilizados com o nível central? 8-Como é o processo de capacitação em serviço dos profissionais que atuam na VE da hanseníase? -Existe algum programa permanente de capacitação? - O Sr. (a) possui alguma capacitação em hanseníase ou VE? -Quando foi a última capacitação que o Sr.(a) participou? Assunto? Carga horária? 9- Quais os aspectos positivos/negativos na organização do sistema local/central que interferem nas ações da VE da hanseníase? E como enfrenta as dificuldades? 10- Para o Sr.(a) a implantação do COMPERJ causa/causou algum impacto na ocorrência da hanseníase em Itaboraí ou na sua área de abrangência? 11- Quais seriam suas propostas para melhorar o trabalho VE na hanseníase? 149 APÊNDICE VI– ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS PROFISSIONAIS (UESF) QUE ATUAM NO NÍVEL LOCAL DATA DO PREENCHIMENTO:____/____/________ 1-IDENTIFICAÇÃO Nome: _______________________________________________________________________ Idade: __________ Sexo: ( Formação Acadêmica: ( )M ( )F ) Nível técnico ( ) Superior ( )Pós-graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( )Outros Especificar qual a titulação acadêmica:____________________ Função:______________________________ Vínculo empregatício: ( Carga horária: ______________________________ ) estatutário ( ) contratado ( ) Outro:__________________________ Tempo de serviço no município/tempo do contrato:______________________________ Tempo de atuação na UESF/UBS: ______________________ Data de implantação da ESF na localidade:_________________________ Localidade (bairro/distrito):__________________________________________ Práticas de vigilância epidemiológica da hanseníase: 1. O que você pode dizer sobre a hanseníase no município de Itaboraí? E sobre a Vigilância Epidemiológica da hanseníase? E o PCH? - Diferença entre Vigilância em Saúde e Vigilância Epidemiológica. 2. Quais são as ações de VE da hanseníase desenvolvidas pela equipe? -Busca ativa dos casos em adultos, em menores de 15 anos - Busca de faltosos, abandono, vigilância de contatos intradomiciliares, - Investigação dos “casos investigados e encerrados em relação aos notificados” - visita domiciliares aos pacientes de hanseníase em tratamento ou que já receberam alta 3. Quais são os locais mais críticos para a hanseníase na sua área adscrita? -Como são agrupadas as informações sobre os casos de hanseníase no território? -Como são organizadas essas informações? -São utilizados para o planejamento das ações? reuniões técnicas? Quem participa das reuniões? 4. Como é o fluxo (interno e externo) de informação da VE da hanseníase? - Sistema de informação dos dados da hanseníase -Divulgação das informações produzidas pelas UBS/UESF e/ou o nível central sobre a hanseníase? - As informações trabalhadas no nível central retornam para o nível local? 150 5. Como são trabalhados os indicadores (epidemiológicos e operacionais) encontrados na hanseníase? - Qual é a situação epidemiológica da sua área adscrita em relação à hanseníase? -Existe relatório com os dados epidemiológicos? -Existe Boletim Epidemiológico? -Como são analisadas as informações? 6. Como são desenvolvidas as atividades educativas sobre a hanseníase? - nível individual, nível coletivo - ações de prevenção e promoção da saúde 7. Como são planejadas e avaliadas as ações de VE da hanseníase? - Participação da equipe?comunidade? -Reuniões técnicas? -Articulação do nível central (inter e intrasetorial) com o nível local - Quais e como são os mecanismos de comunicação utilizados com o nível central 8- Quais os aspectos positivos/negativos na organização do sistema local/central que interferem nas ações da VE da hanseníase? E como enfrenta as dificuldades? 9-Como é o processo de capacitação em serviço dos profissionais que atuam na VE da hanseníase? -Existe algum programa permanente de capacitação? - O Sr. (a) possui alguma capacitação em hanseníase ou VE? -Quando foi a última capacitação que o Sr.(a) participou? Assunto? Carga horária 10- Para o Sr.(a) a implantação do COMPERJ causa algum impacto nos índices de hanseníase em Itaboraí ou na sua área de abrangência? 11- Quais seriam suas propostas para melhorar o trabalho da ESF na VE da hanseníase na sua área? 151 APÊNDICE VII– ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA OS PROFISSIONAIS (ACS) – NÍVEL LOCAL DATA DO PREENCHIMENTO:____/____/________ 1-IDENTIFICAÇÃO Nome: _______________________________________________________________________ Idade: __________ Sexo: ( )M ( )F Formação Acadêmica: ( ) Nível técnico ( ) Superior ( ) Pós-graduação ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Outros Especificar qual a titulação acadêmica:____________________ Função:______________________________ Vínculo empregatício: ( Carga horária: ______________________________ ) estatutário ( ) contratado ( ) Outro:__________________________ Tempo de serviço no município/tempo duração do contrato:______________________________ Tempo de atuação como ACS na localidade: _____________ Data de implantação da ESF na Localidade:______________ Localidade (bairro/distrito):________________________________________________ Práticas de vigilância epidemiológica na hanseníase: 1-O que Sr.(a) pode dizer sobre Hanseníase? E sobre a Vigilância da Hanseníase? - sinais e sintomas da hanseníase - dificuldade de reconhecer os sinais 2- Quais são as atividades de Vigilância da hanseníase desenvolvidas pelo senhor(a) (ACS) nesta área? -Busca ativa dos casos em adultos, em menores de 15 anos - Busca de faltosos, abandono, vigilância de contatos intradomiciliares, - Investigação dos “casos investigados e encerrados em relação aos notificados” - Visita domiciliares aos pacientes de hanseníase em tratamento ou que já receberam alta - Visitas para verificação se os pacientes e contatos intradomiciliares receberam a BCG - Casos em tratamento 3-Quais são os locais mais críticos para a hanseníase na sua área adscrita? Por que o sr. (a) acha isso? -identificou algum paciente com os sinais e sintomas da hanseníase? Quando?Qual a faixa etária? 4- O que o sr. (a) faz quando identifica alguma pessoa com suspeita de hanseníase? - notificação dos casos de hanseníase? - faz algum registro? Onde? 5- Como se dá as atividades de informação para a população sobre hanseníase? 152 - nível individual, nível coletivo - ações de prevenção e promoção da saúde 6-Como é o processo de capacitação dos ACS que atuam na VE da hanseníase? -Existe algum programa permanente de capacitação? - O Sr. (a) possui alguma capacitação em hanseníase ? -Quando foi a última capacitação que o Sr.(a) participou? Assunto? Carga horária 7- Quais os aspectos positivos/negativos na organização do sistema local/central que interferem nas ações da VE da hanseníase desenvolvidas pelo senhor(a)? E como enfrenta essas dificuldades? - Quais são as maiores dificuldades dentro do setor/na secretaria municipal de saúde que de alguma forma dificulta a realização de suas atividades em relação à hanseníase na sua adscrita? - recursos necessários( financeiro, humano, material, transporte, etc) para o desenvolvimento das atividades - Quais são as maiores facilidades? 08- Para o Sr.(a) a implantação do COMPERJ causa algum impacto na ocorrência da da hanseníase em sua área de atuação? 09- Quais seriam suas propostas para melhorar o trabalho dos ACS em relação à hanseníase na sua área? 153 APÊNDICE VIII- TERMO DE AUTORIZAÇÃO INSTITUCIONAL PREFEITURA MUNICIPAL DE ITABORAÍ Secretaria Municipal de Saúde TERMO DE AUTORIZAÇÃO INSTITUCIONAL À SONIA MARIA LIVRAMENTO DOS SANTOS BORBA Instituição de Ensino:Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca – ENSP/FIOCRUZ Rua Leopoldo Bulhões, 1.400 andar térreo– Manguinhos. Rio de Janeiro. CEP 21.041 -210 Curso: Mestrado Profissional em Vigilância em Saúde da região leste do Estado do Rio de Janeiro/Programa de Saúde Pública Responsável pela pesquisa: Sonia Maria Livramento dos Santos Borba Orientadora: Dra. Rosely Magalhães de Oliveira Esta autorização restringe-se a utilização dos dados para realização da pesquisa intitulada “Vigilância Epidemiológica da Hanseníase na Atenção Básica: o caso do município de Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro” que tem como objetivo: conhecer as práticas de vigilância epidemiológica relacionadas à Hanseníase na Atenção Básica à luz dos contextos socioeconômico e político- organizacional. Autorizo a realização de entrevistas através da aplicação de roteiros e de outros instrumentos de coleta de dados, aos profissionais municipais que atuam na secretaria municipal de saúde e nas unidades de saúde da família. Autorizo também o acesso às fontes de informações (relatórios, livros-ata, cadernos de trabalho, etc) e banco de dados, relacionadas à Atenção Básica, a Vigilância Epidemiológica e ao Programa de Controle da Hanseníase. Ressalto que as informações obtidas nos registros administrativos deverão ser confidenciais e o sigilo sobre a identificação dos sujeitos de pesquisa deve ser mantido. Ciente dos objetivos e metodologia dessa pesquisa, concordo em fornecer todos os subsídios para seu desenvolvimento, desde que, sejam assegurados os requisitos abaixo: Cumprimento das determinações éticas da Resolução 466/2012 do CNS/MS, A garantia de solicitar e receber esclarecimentos antes, durante e depois do desenvolvimento da pesquisa, Não haverá nenhuma despesa para esta instituição que seja decorrente da participação dessa pesquisa, No caso do não cumprimento dos itens acima, a liberdade de retirar minha anuência a qualquer momento da pesquisa sem penalização alguma. ____________________________________________ Assinatura e Carimbo do Secretário Municipal de Saúde de Itaboraí Rua: Dr. Macedo, nº 10 – Centro – Itaboraí – CEP 24.800-000 Tel: (21)3639-1852 154 APÊNDICE IX – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 155 156 157 10- ANEXOS: Anexo 1- Guia de Referência e Contrarreferência 158 159 Anexo 2- Formulário para Avaliação Neurológica Simplificada 160 161 Anexo 3- Ficha do SINAN 162 Anexo 4- Ficha de Atendimento do Serviço Social 163 DESENHO DO MAPA ELABORADO PELO SERVIÇO SOCIAL Fonte: Arquivo pessoal Sonia Borba, 2014. 164 Anexo 5-Ficha de Investigação de Hanseníase (ficha elaborada pelo PCH municipal) 165 Anexo 6- Formulário de Vigilância de Contatos Intradomiciliares de Hanseníase (ficha elaborada pelo MS) 166 Anexo 7- Cartão de Aprazamento 167