ELETROCARDIOGRAFIA EM CUTIAS (DASYPROCTA PRYMNOLOPHA, WAGLER 1831) ELECTROCARDIOGRAPHY IN AGOUTI (DASYPROCTA PRYMNOLOPHA, WAGLER 1831) Anaemilia das Neves Diniz 1; José Ribamar da Silva Júnior 2; Maria Acelina Martins de Carvalho 3; Yulla Klinger Pereira de Carvalho 4, Dayseanny de Oliveira Bezerra5*, Flávio Ribeiro Alves 6 Resumo: O presente estudo teve como objetivo realizar exames eletrocardiográficos em Cutias visando estabelecer valores de referência para esta espécie. Para tanto foram utilizados 30 animais, sendo 15 machos e 15 fêmeas, adultos e hígidos. Os valores do intervalo PR, complexo QRS e intervalo QT em Milissegundos demonstraram diferença entre machos e fêmeas. Assim como em muitas outras espécies as informações sobre a fisiologia cardiovascular de mamíferos roedores como a cutia ainda é escassa. Desse modo, há necessidade de mais estudos sobre esta espécie. O exame eletrocardiográfico mostrou-se de fácil aplicação e eficaz na avaliação da função cardíaca em cutias, como forma de subsidiar a composição de dados que possam denotar um perfil eletrocardiográfico para a espécie, gerando informações na prática clinica de manejo desses animais, contribuindo para sua conservação em cativeiro. Palavras-chave: Cardiologia; Animais Selvagens; Parâmetros. Summary: This study aimed to perform electrocardiographic examinations in Agouti to establish reference values for this species. Therefore, we used 30 animals, 15 males and 15 females, adults and healthy. The values of the PR interval, QRS complex and QT interval in milliseconds showed difference between males and females. As in many other species, information concerning to cardiovascular physiology of mammals such as rodents agouti is still scarce. Thus, there is need for more studies on this species. The electrocardiographic examination proved easy to apply and effective in assessing cardiac function in agoutis, as a subsidy for the composition of data that can denote an electrocardiographic profile for the species, providing information on clinical practice management of these animals, contributing to its conservation in captivity. Key words: Cardiology; Wild animals; Parameters. Na medicina veterinária o eletrocardiograma é um teste diagnóstico valioso e de obtenção relativamente fácil. Constitui ainda um método pouco oneroso, não-invasivo e de fácil realização no campo (TILLEY e GODWIN, 2002; FREGIN, 1982; ROBERTSON, 1990). Apesar de consolidada na prática clínica de espécies domésticas, é um exame recente dentro da Medicina Veterinária de animais selvagens e, portanto, os padrões de normalidade, _______________________ 1 Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí 2 Médico Veterinário, Doutor, Universidade estadual do Maranhão 3 Médica Veterinária, Doutora, Universidade Federal do Piauí 4 Biomédica, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade Federal do Piauí 5 * Estudante, graduanda do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí, Campus Universitário Ministro Petrônio Portela, Bairro Ininga, Cep: 64049-550. [email protected] 6 Médico Veterinário, Doutor, Universidade Federal do Piauí assim como o estudo das alterações nos traçados elétricos associadas às doenças necessitam ainda serem mais estudados (FELIPPE, 2006). Atualmente a Cutia é uma importante espécie criada em cativeiro. Os estudos com este roedor têm sido cada vez mais acentuados, no intuito de exploração do seu potencial zootécnico, seu uso como modelo biológico, além de outro caráter de elevada importância, a conservação e preservação da espécie (HOSKEN, 2001; PINHEIRO et. al., 1989). Considerando que informações sobre fisiologia e anatomia cardiovascular dos animais silvestres são muito importantes e escassas, o presente estudo visou definir parâmetros eletrocardiográficos de normalidade para Cutias (Dasyprocta prymnolopha, Wagler 1831), mantidas em cativeiro, utilizando posteriormente os dados obtidos como valores de referência para a espécie. A pesquisa foi realizada no NEPAS (Núcleo de produção e pesquisa de animais silvestres) da Universidade Federal do Piauí, campus Ministro Perônio Portella, na cidade de Teresina. Foram utilizados 30 animais mantidos em cativeiro da espécie Dasyprocta prymnolopha (WAGLER, 1831) clinicamente sadios, sendo 15 machos e 15 fêmeas adultos, todos com idade aproximada de dois anos. Para obtenção dos traçados eletrocardiográficos os animais foram posicionados em decúbito lateral direito sobre mesa de material isolante. A velocidade usada para os registros foi de 50mm por segundo, com calibração da voltagem de 1 centímetro para cada milivolt (1mV=1cm) e o aparelho utilizado foi o TEB, método computadorizado. Para o delineamento experimental, as cutias foram divididos em dois grupos de acordo com o sexo sendo o 1° grupo composto por 15 machos (grupo 1) e o 2° formado por 15 fêmeas (grupo 2). Os dados obtidos foram submetidos à análise estatística utilizando-se o teste t. Os eletrocardiogramas foram analisados na derivação bipolar II (DII), e os dados obtidos nos dois grupos de animais estão organizados na tabela 1, tendo as medidas eletrocardiográficas organizadas de acordo com o grupo e dado estudado. Tabela 1. Valores eletrocardiográficos médios e erros padrão em Cutias machos e fêmeas Grupo FC (bpm) Onda P (ms) Onda P Intervalo PR Complexo QRS (mV) (ms) (ms) Machos 193.419 A 35,61 A 0.11516 A 64.806 B 49.613 B Fêmeas 181.567 A Grupo Onda R Intervalo QT (mV) (ms) 0.30323 A 167.226 B Machos 38,07 A 0.09200 A 74.633 A 56.167 A Fêmeas 0.25067 A 183.100 A FC= Frequência cardíaca; bpm= batimentos por minuto; ms: milisegundos; mV: Milivolts; Ns: Não significativo * Médias seguidas de letras diferentes, na mesma coluna, diferem estatisticamente. Assim como em muitas outras espécies, as informações sobre a fisiologia cardiovascular de mamíferos roedores como a cutia ainda é escassa (Felippe, 2006). Não foram detectadas arritmias clinicamente significativas nos animais submetidos ao experimento. Segundo Felippe 2006 a frequência cardíaca variou em torno de 155 bpm aproximadamente com protocolo anestesico de Cetamina e Xilazina, este dado diverge dos 2 dados obtidos neste estudo onde a frequência cardíaca foi bem maior sendo 193 bpm nos machos e 181 bpm nas fêmeas. Tanto o estresse da contenção física como o efeito de fármacos utilizados para contenção podem gerar alterações na frequência cardíaca dos animais (FLECKNELL, 2009), logo, valores de referência com animais não sedados serão mais próximos dos valores reais. Das arritmias normalmente diagnosticadas na clínica de pequenos animais, algumas dependem de valores de referência para serem identificadas, é o caso de bloqueios atrioventriculares de primeiro grau, o qual é ccterizadar um prolongamento do intervalo PR (TILLEY, 2004). Uma vez que os valores dos intervalos PR foram estatisticamente diferentes entre fêmeas e machos, a característica do intervalo deve ser levada em consideração no momento de identificação de BAVs de 1°. O exame eletrocardiográfico mostrou-se de fácil aplicação e eficaz na avaliação da função eletrica cardíaca em cutias, como forma de subsidiar a composição de dados que possam denotar um perfil eletrocardiográfico para a espécie, gerando informações na prática clínica e manejo desses animais, contribuindo para sua conservação em cativeiro. Referências Bibliográficas: FELIPPE, P. A. N. F. Eletrocardiografia. In: Cubas, Z.S.; Silva, J. C. R; Catão-Dias, J.L. Tratado de Animais Selvagens. São Paulo: Roca, 2006. cap. 57, p. 920-929. FLECKNELL, P. “Anaesthetic Management”, Laboratory Animal Anaesthesia, 3ª Ed, Saunders, 79-95. 2009 FREGIN, G. F. The equine electrocardiogram with standardized body and limb positions. Cornell Vet, v.72, p. 304-324, 1982. HOSKEN, F. M. Criação de cutias. Viçosa: Aprenda Fácil, 2001, 234p. PINHEIRO, J. J. P.; ANDRADE, S. A.; CUNHA, J. N. Preservação e exploração de animais silvestres nativos: preá, cutia e moco. Caatinga, v. 6, p. 28-49, 1989. ROBERTSON, S.A. Practical use of ECG in the horse. Practice, v.12, p. 59-67, 1990. TILLEY, P. L.; GOODWIN, J. K. Manual de cardiologia para cães e gatos. 2.ed. São Paulo: Roca, 2002, p. 489. TILLEY, P. L.; BURTNICK, N. L.; Eletrocardiografia para o clínico de pequenos animais.1.ed. São Paulo: Roca, 2004, p. 68 – 69.. 3