Abordagem sociocultural do consumo de calmantes alopáticos

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SBS – XII Congresso Brasileiro de Sociologia
GT16 - Saúde e Sociedade
Abordagem sociocultural do consumo de calmantes alopáticos
Autor: Reginaldo Teixeira Mendonça
Introdução
O presente artigo visa analisar a interação do medicamento alopático (produzido pela
indústria farmacêutica e prescrito pelo médico), mais especificamente os calmantes
alopáticosi, com o meio social. O medicamento vai além de objeto utilizado nas terapias da
medicina ocidental e se relaciona de forma singular de acordo com o grupo social no qual é
inserido. A maneira que os medicamentos são utilizados por seus consumidores não está
restrita as prescrições médicasii, são moldadas pela vida cotidiana, pelos meios de
comunicação, pelas concepções sobre saúde e doença (FERREIRA, 1998; SILVEIRA.
2000).
Este texto é parte de uma pesquisaiii, que investigou, através de uma abordagem
qualitativa, utilizando entrevistas semi-estruturadas, as concepções de mulheres idosas
sobre os calmantes alopáticos, usuárias de um serviço psiquiátrico ambulatorial. Foram
entrevistadas dezoito mulheres pertencentes a classes sociais populares, moradoras de
região periférica da cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. São mulheres em sua
maioria com ensino fundamental incompleto, aposentadas, donas-de-casa, lavadeiras de
roupa, caracterizadas por um envelhecimento acompanhado por dificuldades econômicas e
com o consumo de calmantes. As queixas mais destacadas em seus prontuários médicos
foram depressão, ansiedade, insônia, nervosismo.
De acordo com Boltanski (1984)iv, as concepções sobre medicamentos podem variar
de acordo com a classe social à qual a pessoa pertence, sendo também influenciadas pelo
gênero. Em sua pesquisa, realizada na França no início dos anos 70, observou que a
distância entre as classes sociais colabora na formação de comunicação fragmentada e
parcial de termos médicos pelas classes populares. Assim, pelo fato do médico pertencer a
um ambiente sociocultural diferente do paciente, pode ser produzida esta fragmentação. A
isto o autor chamou de “redução analógica”, a passagem da categoria científica e de seu
vocabulário para o plano popular, ao senso comum.
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A “redução analógica” consiste no uso de sinonímia ou de homonímia, isso é, as
classes populares utilizam termos médicos como sinônimos de termos conhecidos de seu
dia-a-dia, de seu vocabulário, ou que possuem sons ou fonética semelhante. Desse modo,
conclui que as classes altas são melhor compreendidas pelos médicos, assim como estes são
por seus componentes, gerando assim, uma aproximação entre médico e paciente e com
isso um consumo de seus serviços mais acentuados do que nas classes populares.
Desse modo pode-se observar a existência da interação entre o científico e o
popular, podendo também negar um ao outro ou formar pontos de intersecção entre os
conhecimentos, seja ele cartesiano, mágico ou religioso (OLIVEIRA, 1998). Assim, uma
rede de comunicação entre médico e paciente é formada, mas os discurso de um são reelaborados, re-significados e adaptados à realidade social do outro. O médico transforma os
termos dos pacientes (o senso comum) em termos técnicos e os pacientes traduzem estes de
acordo com sua linguagem (KLEINMAN, 1988), fazendo assim com que os serviços de
saúde contribuam nas concepções sobre saúde e doença, e conseqüentemente, na maneira
de consumir os medicamentos.
Através dos serviços de saúde os indivíduos ou grupos sociais avaliam, escolhem ou
recusam as terapias e criam seu itinerário terapêutico (ALVES; SOUZA, 1999; SOUZA,
1999). De acordo com estes autores, somente a existência de serviços de saúde não é
suficiente para o seu consumo, que também precisa ser aceito de acordo com as condições
econômicas e culturais. Do mesmo modo, para Alves e Rabelo (1999), o envolvimento do
doente por aqueles que o circunvizinham (familiares, amigos, vizinhos e terapeutas) faz
com que (re)formulem e (re)produzam soluções, receitas ou tratamentos de açodo com o
universo sociocultural de que fazem parte. Assim, a maneira de consumir os medicamentos
está relacionada às diferenças econômicas, às redes de comunicação entre determinado
grupo social, aos valores culturais.
De acordo Ferreira (1998)v a autonomia do paciente sobre os tratamentos prescritos
é revelada quando este decide quanto, quando e como vai tomar os medicamentos,
selecionando-os com a assistência de vizinhos, familiares e balconistas de farmácia. Assim,
os anticoncepcionais são vistos, por este grupo social, como espécie de barreira mecânica e
não química; os anti-hipertensivos são considerados bons para os rins por fazerem urinar;
os vermífugos são usados na fase da lua minguante por acreditarem que, nessa fase, tudo
diminui; acreditam que quanto mais rápido fizerem o tratamento, mais rápido se curarão; os
medicamentos são tomados em horários diferentes daqueles prescritos pelos médicos, as
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injeções são, também, consideradas mais eficientes do que os comprimidos e xaropes; é
considerado importante tomar o vidro inteiro do medicamento, independente do número de
dias prescritos pelos médicos, os medicamentos de cor são considerados mais eficientes do
que os ´incolores´. Assim, o paciente controla seu processo de cura de acordo com suas
concepções sobre doença e saúde, e sobre os medicamentos.
De acordo com Cardoso e Gomes (2000), o modelo biomédico gera correntes de
narrativas interagem com cada grupo social, pois possuem concepções particularizadas
sobre doença e saúde, interpretando os fenômenos corporais de acordo com o universo
simbólico envolvido, do cotidiano, enquanto o saber médico está centrado nos fundamentos
das ciências biológicas. Nesse contexto, Minayo (1999) diz que as representações
envolvendo o processo saúde/doença são formadas pelas contradições e pela interação dos
grupos sociais, produzidos pelas desigualdades socioeconômicas e culturais entre as classes
sociais, proporcionadas pelo modo de produção capitalista.
Deve-se lembrar que a medicina ocidental está historica e socialmente unida às
ideologias dominantes do Estado, ligação entre força de trabalho, mercado e consumo de
mercadorias. Foucault (1987a) mostra que a medicina ocidental se fortaleceu baseada em
um modelo que fragmenta as partes do corpo, localizando a doença de acordo com as partes
do corpo, as partes tornando-se mais importantes do que o todo. Assim, o doente foi
reduzido a sua doença e separado de seu meio social. A medicina ocidental contribuiu para
produzir, a partir séculos XVIII e XIX, um corpo disciplinado, produtor de mercadorias
(FOUCAULT, 1987b). Além disso, a relação entre Estado e medicina ocidental forneceu
sustentáculo para que outras formas de saber terapêutico fossem anuladas, consideradas
ilegais e perseguidas, fazendo com que somente o saber médico fosse considerado
adequado aos cuidados do corpo. Assim, constata-se que o uso de medicamento está
relacionado ao sentido de progresso, à necessidade de trabalho, às concepções de estética.
Além disso, a atual sociedade produziu mecanismos de controle, de vigilância constantes
(DELEUZE, 1992), sendo os calmantes, freqüentemente, relacionados com a coesão social
e ao controle dos comportamentos.
Relação de calmantes alopáticos com gênero e envelhecimento
Segundo Bourdieu (1999), na vida moderna, o papel da mulher foi restringido ao
espaço interno dos lares (ao cuidar dos filhos, a papel de integradora da família), à vida
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pública, aos assuntos relacionados à economia. Fazendo reinar uma dominação masculina,
também simbólica, sobre as mulheres, na qual desvalorizava o trabalho feminino,
facilitando a exploração e uso de poder do homem sobre a mulher, o trabalho remunerado
foi reservado aos homens. Desse modo, para o autor, a dominação masculina está presente
nas marcas impostas ao corpo feminino através de sua postura, sua disciplina, seus gestos,
assim, os comportamentos são construídos socialmente. Quando se relaciona tal construção
social ao consumo de medicamentos podemos observar que a imposição à mulher como
cuidadora fez com que se aproximasse mais do que o homem dos serviços de saúde,
transformando-na em grande consumidora destes produtos.
Porém, segundo Bourdieu (1999), a dominação masculina implica também em
deveres impostos aos homens. Desse modo, quando o homem for limitado ao lar, não
podendo freqüentar seu espaço característico, o espaço público, não se sentirá confortável.
A este respeito temos as situações envolvendo doenças, onde, muitas vezes, os faz se sentir
culpados, fracassados ou envergonhados (NARDI, 1998)vi. Nesse contexto, as mulheres
terão comportamentos diferentes, nos modos de cuidar do corpo, de acordo com cada classe
social (BOLTANSKI, 1984)vii. Conclui-se que o maior consumo de serviços médicos pelas
mulheres se deve ao uso corrente de medicamentos por questões reprodutivas
(contracepção, gravidez, parto, puerpério, menopausa), pela maior percepção com os
cuidados com o corpo, por seu papel de cuidadora e por fatores estruturais e institucionais
que facilitam o acesso das mulheres aos serviços de saúde pelas mulheres (GÓMEZ, 2002).
Nota-se que a necessidade de um corpo adaptado para o consumo de mercadorias é
produzido socialmente. Do mesmo modo que conceito de gênero é uma construção social e
histórica (LOURO, 1996), o conceito de velhice também formado (DEBERT, 1998). O
idoso é alvo do mercado consumidor, através da publicidade, da mídia os produtos
comerciais dirigidos para coopta-los para o consumo, ocorrendo sua individualização
(DEBERT, 1998). Nesse sentido, o consumo de medicamentos é colocado como uma
norma para a velhice, sendo ela muitas vezes vista como ameaçadora da ordem produtiva
(LOPES, 2000). A necessidade de um corpo disciplinado, adaptado aos interesses da
estrutura capitalista leva a discriminações aos que não correspondem, contribuindo para o
uso excessivo de medicamentos, uma opção para se manterem adaptados às normas sociais
exigidas. O número crescente de idosos, na atualidade, faz com que estes sejam lucrativos
às indústrias farmacêuticas.
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O consumo de calmantes alopáticos pode ser adicionalmente aumentado devido ao
fato de provocarem dependência (fazendo seus consumidores criarem artifícios para
continuarem seu uso), pela existência de médicos desinformados ou desatualizados (não
conhecendo os efeitos farmacológicos dos medicamentos) e por profissionais que vendem
receitas (LARANJEIRAS; CASTRO, 1999).
Os calmantes alopáticos são mais utilizados pelas mulheres e intensificados a partir
dos 60 anos de idade, sendo um dos medicamentos mais utilizados no mundo (VERAS;
COUTINHO; COELI, 1998; SILVA, 1999; VERAS; ALVES, 1999; CHAIMOWICZ;
FERREIRA; MIGUEL, 2000; NOTO et al., 2002), estimando-se que a cada cinco anos seu
consumo dobra (AUCHEWSKi et al., 2004). Vários autores mostraram que calmantes
estão, também no Brasil, entre os medicamentos mais consumidos (HUF; LOPES;
ROZENFELD, 2000; NOTO et al., 2002), principalmente entre as donas-de-casa
(KARNIOL et al., 1986).
Concepções dadas aos calmantes: necessidades socioeconômicas e cronicidade de seu
consumo
Observa-se que o conceito de doença mental é mutável, sendo caracterizado de
acordo com cada época, ocorrendo períodos em que são isolados do convívio social, hora
sendo inseridos nele. Do mesmo modo, de acordo com cada grupo social, é tratado de
maneira diferente: como os religiosos, os da medicina alternativas, os dados pela medicina
oficial. Assim, a doença mental e seus tratamentos são caracterizados por diversos fatores
sociais e culturaisviii.
Como exemplo da dinâmica dos tratamentos e conceitos de doença mental temos a
loucura. De acordo com Pessotti (1994), na Antigüidade, a loucura fora tratada através de
rituais que buscavam harmonia entre os homens e os deuses e o equilíbrio entre o meio
ambiente e o corpo humano, utilizam, por exemplo, purgativos como tratamento. Na Idade
Média, os demônios eram considerados a causa da loucura e como terapia usavam-se
exorcismo, peregrinações, confissões, multiplicação do sinal-da-cruz e preces. Somente a
partir do século XVIII a psiquiatria se estruturou, impondo terapias baseadas na clínica e no
uso do tratamento moral dado por Pinelix, corrigindo vícios, determinando um padrão aceito
de comportamento e combatendo os comportamentos desviantes.
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De acordo com Perrusi (1995), a doença mental promove uma maior aproximação
entre médico e paciente devido à cronicidade havendo um maior número de consultas
médicas. Desse modo, a psiquiatria torna-se grande influenciadora das concepções sobre
saúde e doença ou das terapias prescritas. Perrusi (1995) diz que esta proximidade molda o
senso comum fazendo anular terapias populares ou alternativasx. As soluções se resumem
ao uso de medicamentos prescritos pelos médicos como os calmantes alopáticos. Nota-se
também que, pelo fato das entrevistadas serem mulheres de classes populares, aposentadas,
faxineiras, donas-de-casa, possuíam maior proximidade com os serviços de saúde
(psiquiatria, ginecologia, cardiologia, clínica geral, etc), popularizando o uso dos
medicamentos no meio social.
Eu tenho cinco médicos e sei o que todos os médicos dizem, inclusive o
ginecologista. Também outra coisa que eu vou contar pro senhor e o senhor não vai
encontrar em qualquer paciente, conheço todos os meus sintomas, todos: pressão
alta, quando eu vou dormir, quando eu não vou, quando eu amanheço bem, quando
eu amanheço... já sei todos os meus sintomas, já vou certo no meu medicamento.
Em casa eu tenho uma farmácia; tenho aparelho de medir pressão, tenho comadre,
tenho bolsa de água quente, eu tenho uma farmácia, eu já vou certinho no
medicamento certo, nunca mudei nenhum e nem faltei... (Esmeralda, 68 anos)xi.
Desse modo, o maior consumo de calmantes alopáticos pelas mulheres pode ser em
decorrência, segundo Hohmann (1989) e Ashton (1991): por supor que possuem mais
doenças crônicas do que os homens pelo maior uso dos serviços de saúde, maior
longevidade, pela maior percepção de doença e por fazerem mais exames preventivos. De
acordo com os autores, a maior proximidade das mulheres com os médicos pode levá-las a
ser mais susceptíveis e a receber mais receitas médicas. Por estarem mais familiarizadas
com os medicamentos e com seus efeitos, podem convencer os médicos de que estão
precisando das receitas e suas expressões emotivas podem ser confundidas com sintomas de
doenças relacionadas a sofrimento psíquico e depressão, contribuindo para que os médicos
prescrevam mais calmantes. Os médicos podem ver a afetividade feminina como
justificativa para a medicalização e, ignorando sintomas do homem como a retração, a
irritabilidade, o silêncio, o não chorar, diagnosticarem, mais doenças nas mulheres. A este
aspecto pode-se acrescentar que as mulheres idosas estão mais susceptíveis a tomarem
calmantes, pois as concepções sobre os idosos como pessoas doentes, frágeis e deprimidos
estão relacionadas às prescrições.
A dependênciaxii de calmantes pode ser intensificada nos idosos, podendo ser
estimulada por seu uso contínuo (CHAIMOWICZ; FERREIRA; MIGUEL, 2000). Os
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medicamentos são os principais agentes causadores de intoxicações no ser humano,
principalmente nas mulheres, sendo comuns as intoxicações por benzodiazepínicos
(BORTOLETTO; BOCHNER, 1999). Segundo
trabalho de Huf, Lopes e Rozenfeld
(2000), o maior uso de benzodiazepínicos ocorre entre pessoas de baixo nível de renda e
baixa escolaridadexiii, sendo também comum o uso de outros medicamentos de maneira
concomitante, fato ainda mais problemático em pessoas com idade acima de 60 anos.
De acordo com Bottino e Castilho (1999), os idosos são mais propensos à
toxicidade devido a sua idade (o medicamento fica mais tempo no organismo), pela comorbidade (várias enfermidades ao mesmo tempo), pela polifarmácia (uso de diversos
medicamentos, apresentando interações medicamentosas) e a não-adesão ao tratamento
(uso inadequado de medicamentos). Além disso, os medicamentos podem provocar vários
efeitos nos idosos como sedação excessiva, tremores, quedas e eventuais fraturas, lentidão
psicomotora, comprometimento cognitivo, como amnésia e diminuição da atenção, e
dependência, tendo isso a maior captação destas drogas no organismo nos idosos.
Observa-se, através das mulheres entrevistadas, que a velhice, quando se relaciona a
uma idade cronológica, fez com as pacientes vivessem várias situações envolvendo o
processo saúde/doença. Assim, pelo fato de já terem usado vários medicamentos e pelas
constantes consultas médicas, mostraram-se grandes conhecedoras de seus nomes e efeitos,
distinguindo quais são considerados melhores ou piores, deste modo, particularizando então
seu uso diferentemente do prescrito pelo médico. Segundo Lopes (2000), a velhice induz as
pacientes a se considerar autônomas frente às terapias medicamentosas, concebendo a sua
própria maneira de consumir os medicamentos, ditando quantos, quando e quais devem ser
consumidos.
Hulse (2002) acrescenta que o idoso por estar mais susceptível a algumas
modificações em suas vidas, como a aposentadoria e a perda de papéis sociais, podendo
isso levar ao consumo de calmantes. Para o autor, o uso de medicamentos utilizados para
melhorar o sono é muitas vezes inapropriado, visto que há diminuição normal no tempo de
sono com o progredir da idade. Pode-se acrescentar que o uso do calmante funciona como
mecanismo para negar a realidade vista que não deve ser pensada.
É o contrário, ficaria mal se eu não tomasse, fico brava, irritada, volto a pensar no
meu acidente, volto a pensar na minha beleza, quando eu trabalhava que eu era
muito mais nova, então eu percebo isso (Esmeralda, 68 anos).
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Noto et al. (2002) verificaram que no Estado de São Paulo o uso inadequado dos
calmantes alopáticos são, em grande parte, devido a erro de prescrições, principalmente
para as mulheres idosas, que mais as recebem. Além disso, as dificuldades econômicas
encontradas nas classes sociais mais baixas, os níveis educacionais baixos, intensificam o
uso dos medicamentos de maneira diferente da prescrita pelo médico. Quando se trata de
pacientes idosos devemos relacionar alguns outros fatores, como a dificuldade para ler as
receitas e o esquecimento dos horários prescritos.
Porque uma vez eu entendi mal a letra do médico, eu tava tomando... ao invés de
dois por dia eu tava tomando dois Tegretol de manhã e dois à noite, passei mal! Eu
levantava da cama e caía, depois eu comecei conversar abobrinha e o meu filho:
“Mãe, o que a senhora tem mãe?” Lá no salão do reino os irmãos perceberam,
sabe, levantei fui lá no fundo, dei um comentário, o irmão me chamou: “Aquele
comentário que você deu, você tava chapada viu? Tá bom? Você conversa com o
médico seu”. Mas eu que tava errada, eu que entendi mal (...) (Fabiana, 60 anos).
A limitação das mulheres ao ambiente privado, ao lar, às atividades ligadas
proporciona toda uma disciplina para os afazeres, a disciplina é preparado pela condição de
gênero, pela construção social. Desse modo, sua execução com perfeição, como se
considerar asseada, cuidadosa com a casa e os filhos, é visto como algo agradável de se
falar, sendo isto uma das justificativas do uso de calmantes, um componente que contribui
para controlar e executar as tarefas diárias, manter-se disciplinada. Além disso, a
aposentadoria pode contribuir para uma maior limitação ao ambiente doméstico. A divisão
de tarefas pode ser desgastante à mulher.
Antes disso, toda vida eu fui, eu era nervosa, quando eu era solteira, quando eu
casei de novo, num sei se é a luta agravava a vida da gente, né. Meu marido é
muito sistemático demais, não é aquela pessoa que colabora em casa, assim né,
assim com os filhos, tudo com os filhos né, arrumava, tudo era eu, né. Então, acho
que foi juntando, ah, a gente vem sofrendo desde pequena (Teodora, 61 anos).
Se eu ficar sem eu não sou ninguém não (...) ainda mais lidando com esse filho e
com o marido que eu tive. Foram 21 anos casada, 11 anos ele quebrando tudo em
casa e me difamando, falando que os filhos não eram dele (ri) (Fabiana, 60 anos).
O consumo de calmantes faz parte de uma rede de relações sociais das prescrições
médicas, suas consumidoras emprestam ou receitam seus medicamentos para outras
pessoas, identificando os medicamentos muitas vezes somente por sua cor característica
como mostra dona Beatriz, de 62 anos de idade: “Mas, eu conheço duas vizinhas, uma
sogra da minha filha, só que o dela é o de três miligramas, igual ao meu, o rosinha. O da
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vizinha é o branco (...)”. Esta rede de relação social está caracterizada pela comunicação
envolvendo parentes, amigos, vizinhos.
O Diazepam é bom pras pessoas, as pessoas que num dormem, tem insônia. O meu
filho, ele bebe muita cerveja, ele tem problema de beber muita cerveja. E ele tem
muito problema familiar. Já tem oito filhos com 6 mulheres, tem que pagar pensão,
muita criança. Ele tem dificuldade na vida dele demais, então, tem noite que ele não
dorme de pensar na vida. Aí, ele vai lá em casa e busca o Diazepam. (Ivone, 71
anos).
Deve-se lembrar, quase sempre, as informações se restringem somente às pessoas
que circunvizinham a consumidora de calmantes, principalmente quando se leva em conta a
influência mercadológica do consumo de medicamentos. Os interesses da indústria
farmacêutica no incentivo ao consumo de medicamentos, através da propaganda pelos
meios de comunicação de massa e nos consultórios médicos fazem com que o medicamento
seja coisificado, com aparência de inocuidade (LEFÈVRE, 1999). E como apontaram
Loyola (1984) e Queiroz (1994), o papel do farmacêutico está se reduzindo a de um
comerciante, distanciando-se dos problemas de saúde de determinados grupos sociais,
tendo como fator contribuinte as pressões da indústria farmacêutica para aumentar o
consumo de medicamentos e o controle da saúde pelos órgão públicos. A própria estrutura
pela qual profissão do farmacêutico está influenciada na atualidade fez com que se
transformasse em um simples entregador de medicamentos.
Às vezes, eu compro um remédio, aí fala isso é assim, assim... Um tempo atrás tinha
um farmacêutico que ele explicava tudo pra gente. Hoje eles falam assim pra gente
“lê a bula”. Eles mandam a gente ler a bula. Como a letra é miudinha assim, agora
eu enxergo, mesmo as letras miudinhas porque eu operei de catarata, mas eu não
entendo. Muitas coisas que falam na bula eu num entendo. (Neusa, 73 anos).
O fato de freqüentarem um psiquiatra pode levar a discriminação, podendo ser
considerado motivo de não arrumarem emprego, ou de serem mandadas embora de seus
trabalhos, ou de ficarem sem comunicação com vizinhos, amigos, parentes. Isso as levam a
terem atitudes como esconder ou dissimular o uso de calmantes e/ou tratamento
psiquiátrico, o que fazem não emprestar ou receitar seus medicamentos. Desse modo, as
dificuldades econômicas tornam-se mais intensa.
Já cuidei de mim, eu trabalhava de empregada doméstica antes de eu ficar desse
jeito. Eu levava os meninos comigo no colo no ônibus, trabalhava de empregada,
faxineira. Mas, eu num contava que tomava calmante, eu num falava que tratava
com psiquiatra porque se falar aí a patroa não dá emprego, porque se essa pessoa
trata com psiquiatra e bebe calmante, a pessoa já fica meia assim. Já não fica com
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aquela confiança na pessoa, eu acho. Depois, eu parei de trabalhar, trabalhei
bastante (Teodora, 61 anos).
A prática de uma simples renovação de receita (visto que os calmantes só são
adquiridos com receitas padronizadas) pode, muitas vezes, caracterizar a saturação do
sistema público de saúde ou a mercantilização do sistema privado de saúde. Em estudo
realizado por Oliveira e Fraga (2002)xiv, constata-se que esta prática pode se caracterizar
pela simples renovação da receita antiga, os pacientes não são consultados, apenas buscam
a receita.
O médico é visto como uma ferramenta prescritora de calmantes, pois suas
consumidoras supõem ser capazes de decidir quando tomar, quando parar e o motivo de
estarem tomando os calmantes: “O Diazepam não é sempre que eu tomo, é lá de vez
enquanto, quando eu perco o sono é que eu tomo (...)” (Neusa, 73 anos). Além disso, o
próprio médico pode contribuir para o paciente usar de maneira autônoma o calmante,
como irá mostrar dona Orlinda. As avaliações são primordiais para o seguimento do
tratamento e pode-se confundir as problemáticas em que suas vidas estão inseridas,
envolvendo questões sociais, econômicas e culturais, com os efeitos colaterais provocados
pelos calmantes, entre os quais por vezes ocorre sinergismo.
Era um pouquinho só que eu nunca fui de tomar muito não, tomava metade, que
nem agora o Rivotril eu tomo meio Rivotril de 2mg só que quando eu saí do
Hospital Dia o médico falou pra mim ir começando a tomar um quarto só, pra mim
ir tirando, mas até hoje eu não consegui eu tô tomando meio porque eu comecei
tomar um quarto e eu não conseguia dormir. Aí o Dr. Fábio disse pra eu continuar
tomando meio e eu tô nesse meio. Eu tento não tomar mais, mas é difícil...só
quando eu tô com muitos problemas (...)(Orlinda, 60 anos).
Além disso, observa-se que várias mulheres entrevistadas tinham em casa filho ou
marido com alguma doença mental. A convivência ou o cuidar da pessoa com doença
mental pode estar contribuindo para que a vida dessas pessoas seja dificultada, cansativa ou
estressante, sendo uma causa do uso de calmantes. Além disso, o fato de ter filhos, pais ou
algum outro parente próximo em uso de calmantes pode também levar a uma espécie de
“naturalização” do consumo interno na família.
É hereditário, a minha mãe tinha problema de depressão, usava medicamento
também, então, eu, meus irmãos, não são todos, mas algum tem, tem problema de
depressão, entram em depressão, em tratamento (...). Irmão e irmã, eu tenho um
irmão que toma, dois irmão que toma e duas irmã que tomam e minha filha. (...).
Motivo de depressão, ansiedade, angústia, insônia (...). (Claudete, 61 anos).
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A doença mental pode mudar toda a rotina da família, deixando seus membros
vulneráveis (GUEDES, 2001). Rabelo, Alves e Souza (1999) observaram que no bairro
Nordeste de Amaralina, em Salvador, o cuidar do doente mental, dentre eles os
esquizofrênicos, é uma tarefa reservada ao sexo feminino, em primeiro lugar às mães e, na
falta dela, às filhas, na maioria as mais velhas. São essas pessoas que, além de escolher e
fornecer os medicamentos, ficam sem dormir à noite atendendo as necessidades de seus
filhos doentes ou preocupadas com seu paradeiro.
Ah, esse (filho) que tá em casa doente, tomava Melleril e Akineton. Ele foi
internado no Santa Tereza (Hospital Psiquiátrico) quatro meses. Agora ele tá um
rapaz em casa, insuportável. Eu num agüento mais, ontem ele estragou um relógio
de parede tão lindo, acabou com tudo. E ele tá nervoso mesmo (...). E ele é
perigoso, ele deu uma facada no pai, também, e deu uma facada numa mulher
esperando nenê, esses tempos (Ivone, 71 anos).
Assim, existe uma história de uso de medicamentos, um caminho composto por
medicamentos, em que a pessoa com o tempo adquire conhecimentos e concepções que se
acentuam com o passar dos anos, principalmente quando levamos em conta a quantidade de
anos de consumo de calmantesxv. A velhice possui, em relação aos calmantes, vários
aspectos relevantes. Sendo um dos fatores de uso, segundo as entrevistadas, é o uso devido
a preocupações com horários, tempo de fazer seus trabalhos domésticos, seu uso
prolongado, aliado ao aumento da sensibilidade aos calmantes pelo envelhecimento, produz
diversos efeitos colaterais como dependência, tolerância, esquecimento, quedas. O uso
prolongado pode assim passar de uma terapia medicamentosa em busca de melhoria do
estado de saúde para a manutenção dos efeitos nocivos do medicamento provocados por
seu uso constante, como a dependência.
Pode-se afirmar que o consumo de calmantes funciona de maneira circular, primeiro
a medicalização devido as más condições socioeconômicas, depois sua manutenção
mantida pelo número crescente de prescrições, sustentando a estrutura do modelo
biomédico imposto. Nesse contexto, Oliveira e Fraga (2002, p.154) dizem que as “mulheres
demonstraram que as carências estão diretamente ligadas à classe social que ocupam.
Carecem de coisas como: emprego, comida e, por extensão, roupa, moradia adequada e
educação”. Desse modo, o calmante é visto como forma de amenizar o sofrimento causado
pelas necessidades socioeconômicas.
Além disso, segundo as autoras, as desigualdades de gênero somam-se às
socioeconômicas e étnicas, visto que as mulheres constituem o maior contingente de
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pessoas desempregadas ou com trabalho sem carteira assinada. Com o passar do tempo, a
dependência parece juntar-se a esses fatores, gerando serviços de saúde contraditórios, pois
passam a produzir o adoecimento através de sua prática iatrogênica, por não conseguirem
lidar adequadamente com as carências sociais (OLIVEIRA; FRAGA, 2002).
Considerações finais
A medicina, que buscou sua hegemonia através da ordem médica e da linguagem
científica, se depara com uma sociedade que responde através de construções de realidade
diferentes daquelas impostas. O uso de calmantes foi representado pelas relações sociais
entre parentes, amigos, vizinhos, entre outros, através de um processo comunicativo, dando
um significado diferente do imposto pela medicina oficial, superando-a. Os medicamentos,
ao penetrarem no meio social através da prescrição médica, têm seus modos de uso
modificados e adaptados à realidade sociocultural.
Assim, os medicamentos são utilizados pela psiquiatria em decorrência das
necessidades socioeconômicas (a biologização do social), mas quando o medicamento é
inserido na sociedade, ele é utilizado de acordo com as concepções de seus usuários (o
biológico é re-transformado em social). Este processo dinâmico faz com que o social e o
biológico, o científico e o popular, se interliguem, fazendo a linguagem médica ganhar
nova conotação.
Os calmantes são assim utilizados não somente pelos diagnósticos dados pelos
médicos a seus pacientes, mas de acordo com as auto-avaliações que os pacientes fazem
dos efeitos dos medicamentos e de sua utilidade, ou seja, para manter a disciplina do corpo
exigida pela sociedade, pelo trabalho, pelos horários de acordar, de dormir, para se
controlarem: atitudes impostas pelas necessidades socioeconômicas.
O uso de calmantes está caracterizado por construções sociais e culturais, que são
dinâmicas e características de cada grupo social. O gênero, a idade, as condições
socioeconômicas e os valores culturais ordenam o uso de medicamentos. Portanto, deve-se
analisar onde, para quem e em que situações os medicamentos são inseridos, pois somente
um diagnóstico centrado em uma medicina que fragmente o social do biológico é
insuficiente. A não relevância destas situações traduz-se em problemática: o medicamento,
cuja função é de melhorar a saúde, acaba sabidamente produzindo doenças e atitudes.
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Ao mesmo tempo em que a psiquiatria insere terapias, insere também seus discursos
que, com as visitas freqüentes dos pacientes, vai construindo seu saber médico e anulando o
conhecimento de outras terapias populares. Deste modo, a medicina contribui para formar
concepções sobre medicamentos, sendo elas adequada a cada contexto sociocultural. Ao
interagir o conhecimento do paciente, de sua realidade, com informações prestadas pelos
serviços de saúde, pelas redes de relações envolvendo os consumidores de calmantes,
ocorre a formação de um saber particularizado e transmissor de informações, criando assim,
um saber dinâmico e interacional, uma espécie de “cultura do calmante”.
Notas
i
Os calmantes alopáticos são medicamentos psicotrópicos (possuem ação no sistema nervoso central) que se
referem ao grupo farmacológico dos benzodiazepínicos. Dentre os mais populares temos o Valium
(diazepam), Lexotan (bromazepam), Lorax (lorazepam), utilizados, principalmente, como ansiolíticos,
sedativos, hipnóticos, anticonvulsivantes e relaxantes musculares. O primeiro benzodiazepínico foi sintetizado
na década de 1950, tendo este nome devido a sua estrutura química. Sua popularização é principalmente
decorrida pelo forte empenho da indústria farmacêutica (propaganda, marketing, pesquisas, publicações
científicas, etc) (BERNIK, 1999). Sua compra só é permitida mediante a apresentação de receita padronizada
de cor azul, fornecida por médico (BRASIL, 1999)..
ii
De acordo com Pignarre (1999), a prescrição ou a receita médica é uma das formas da medicina ocidental se
impor frente às outras terapias e dar ao médico hegemonia frente a outros profissionais (enfermeiros,
farmacêuticos, etc).
iii
MENDONÇA, Reginaldo Teixeira. Representações de mulheres idosas usuárias de um serviço de
saude: relações entre consumo de calmantes, gênero e envelhecimento. 2005. 174p. Dissertação (Mestrado).
Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
2005.
iv
Boltanski (1984), para compreender o papel das classes sociais (como são formadas e como as pessoas se
relacionam em seu universo simbólico), faz uso do conceito de habitus de Bourdieu (1998), o qual também
foi utilizado neste texto. Habitus não é o mesmo que hábito (que seria espontâneo, repetitivo, mecânico,
automático, reprodutivo), mas o que se adquiriu, fixado ao corpo, o que é durável, incorporado e aparentandose inato; são as nossas condições sociais produzidas porque são reflexos de nossa própria produção, gerando
as diferenças simbólicas entre as classes sociais.
v
Pesquisa realizada em uma vila de classe popular de Porto Alegre.
vi
Pesquisa realizada no Pólo Petroquímico de Triunfo, Rio Grande do Sul .
vii
Segundo Boltanski (1984), as mulheres de classes populares negam e consideram que as mulheres das
classes superiores cuidam excessivamente do corpo e procuram em demasia o médico. Do mesmo modo tanto
as mulheres quanto os homens pertencentes as classes populares são mais resistentes a procura dos serviços
médicos do que os das classes altas, podendo estar tais atitudes relacionadas a seu maior uso do corpo para a
sobrevivência.
viii
Cultura entendida aqui na concepção de Geertz (1989): são símbolos construindo a realidade, é um
conjunto de significados que as próprias pessoas constroem e se identificam e se prendem, permitindo aos
indivíduos e a determinado grupo interpretar suas experiências e coordenar suas ações.
ix
Pinel é considerado o “pai da “psiquiatria”, fez, no fim do século XVIII na França, a primeira classificação
de doenças mentais da psiquiatria como especialidade médica, organizou o primeiro hospital psiquiátrico
moderno. O isolamento do doente em hospitais psiquiátricos favoreceu os preceitos de Pinel: além de vigiar,
castigar e punir os doentes, permitia observar, descrever, comparar e classificar os doentes.
x
De acordo com Loyola (1984) os saberes populares (religioso, alternativos, etc) e científicos (medicina
ocidental) estão em constantes conflitos, sejam intra ou internamente. Assim, os pais-de-santo competem
entre si, com a igreja protestante, estes com a medicina oficial.
xi
Foram utilizados nomes fictícios em substituição dos nomes das entrevistadas.
13
xii
Dependência é vista como um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos
relacionados a seu uso continuado, apesar dos problemas conseqüentes a este uso. Sua definição clínica inclui
tolerância (necessidade de consumo de quantidades crescentes para obter o mesmo efeito desejado ou redução
do efeito consumindo doses habituais) e abstinência (sintomas gerados pela ausência ou diminuição do
consumo da substância) (OMS, 1993; DSM-IV, 1995).
xiii
Pesquisa realizada em 1996, no centro de convivência para pessoas acima de 60 anos da Universidade
Estadual do Rio de Janeiro, UnATI-UERJ.
xiv
Trabalho realizado no Município de Sobral-CE, em 1998, onde entrevistaram mulheres consumidoras de
Diazepam, na faixa etária de 45 a 60 anos, de classe baixa, com primeiro grau incompleto e analfabetas, com
uma prole de quatro a oito filhos, ocupações desenvolvidas no lar ou instáveis como lavadeiras, vendedoras
de frutas e merendeiras.
xv
A média da idade das entrevistadas foi de 65,9 anos, o tempo médio de consumo foi de 16 anos até a data
das entrevistas segundo as mulheres entrevistadas. Como a idade que começaram a consumir calmante foi em
quase sua totalidade acima dos quarenta anos de idade seria bom analisar com mais cautela os fatores
envolvendo este período da vida destas mulheres.
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