Superstição e preconceitos comuns na filosofia de Espinosa Luís César Guimarães Oliva (orientador), Victor Fiori Augusto (autor) Departamento de Filosofia - FFLCH/Universidade de São Paulo - USP Objetivos O escopo do presente trabalho é analisar os conceitos de superstição e preconceitos comuns na filosofia de Bento de Espinosa. Trata-se de esclarecer em que sentido tais conceitos aparecem na obra de Espinosa (sobretudo na primeira parte da Ética), qual a relação que o filósofo estabelece entre eles, e de que modo o autor procura emendar as ideias preconcebidas que podem impedir que a sua filosofia seja compreendia. Métodos/Procedimentos 1. Análise estrutural dos textos de Espinosa que tratam direta ou indiretamente dos conceitos que nos propomos a investigar; 2. Análise histórica das obras de Espinosa; 3. Análise crítica dos comentadores do texto espinosano; 4. Pesquisa lexical dos radicais commu e praejudi na primeira parte da Ética e do radical superst na Ética e no Tratado Teológicopolítico. Resultados 1. O adjetivo “comum”, além de dizer respeito ao conhecimento adequado ou às “noções comuns”, se aplica no campo da inadequação não apenas aos “preconceitos comuns”, mas também à ordem comum da natureza e às imagens comuns; 2. Espinosa fala de “comum” com relação às “imagens comuns” porque elas dizem respeito a uma conveniência ou comunidade (ainda que forjada) existente entre as imagens corporais que mais afetaram o corpo humano; 3. Os escólios são de fato a ocasião escolhida por Espinosa para emendar preconceitos ao longo da primeira parte da Ética; 4. Os preconceitos denunciados nos escólios envolvem também comunidade e podem, em certo sentido, ser ditos preconceitos comuns (por exemplo, podem ser comuns a todos que julgam confusamente as coisas, a muitos, etc.); 5. A superstição é uma estrutura originada do preconceito finalista que pretende explicar o real por meio das causas finais, e os preconceitos que engendram o finalismo e a superstição podem ser ditos comuns por se originarem de um fundamento comum a todos os homens: nascemos ignorantes das causas das coisas e desejamos. Conclusões Partindo do principal efeito causado pela superstição e apontado por Espinosa no apêndice da primeira parte da Ética – a saber, dedicar máximo esforço para compreender as causas finais das coisas –, e tendo em vista a insuficiência de tal esforço para explicar a realidade (uma vez que as causas finais não passam de entes de imaginação que não permitem explicar o real), uma das propostas centrais da nossa pesquisa é entender como fazer frente à superstição e ao finalismo e como nos liberarmos dos preconceitos comuns. Para tanto, é preciso conhecer claramente o que é a superstição e em que sentido um preconceito pode ser dito “comum”. A análise dos escólios da Ética I, bem como do apêndice que se segue a ela, evidencia a maneira pela qual Espinosa procura afastar as ideias preconcebidas do leitor, e tem se mostrado de grande ajuda para atingir os objetivos que buscamos alcançar nesta pesquisa. Referências Bibliográficas CHAUI, M. A nervura do real. Imanência e liberdade em Espinosa. Vol.1: Imanência. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. DELEUZE, G. Spinoza e as três Éticas. In: Crítica e Clínica. São Paulo: Ed. 34, 1997, p. 156-170. ESPINOSA, B. Spinoza Opera. Edição de Carl Gebhardt. Heidelbergue: Carl Winters Universitætbuchhandlung, 1972. TEIXEIRA, L. A doutrina dos modos de percepção e o conceito de abstração na filosofia de Espinosa. São Paulo: Editora UNESP, 2001.