VOLUME 40 – NÚMERO 2 ABR/MAI/JUNHO – 2011 • Proposta de técnica cirúrgica para correção de estenose de nasofaringe. • Perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço que evoluiram a óbito antes do tratamento. • Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço - duas abordagens distintas. • Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese. • Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009. • Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar. • Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. • Ameloblastoma de maxila: Estudo de 3 casos. • Reconstrução mandibular com enxerto microvascularizado de fíbula - uma nova técnica (variante IV). • Metástase óssea frontal de carcinoma papilífero da tireoide: excepcional resposta a radioiodoterapia - relato de caso. • Fibromatose cervical. • Raiz dentária impelida para o seio maxilar após exodontia: uma opção de tratamento. • Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço ISSN 0100-2171 para a Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (impressa). ISSN 1981-951X para a Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (online). Registrada sob o nº 2080 P 209/73 na Divisão de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal Órgão oficial da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Federação Sul-Americana de Sociedades de Cirurgia de Cabeça e Pescoço EDITORES-CHEFES Geraldo Pereira Jotz, UFRGS e UFCSPA - Porto Alegre / RS Rogério Aparecido Dedivitis, FMUSP, UNILUS e UNIMES – Santos / SP EDITORES ADJUNTOS André Lopes Carvalho, H. Cancer – Barretos / SP Elaine Stabenow, USP - São Paulo / SP EDITORES ASSOCIADOS Alvaro Nagib Attalah, UNIFESP - São Paulo / SP Medicina Baseada em Evidências Ana Paula Brandão Barros, H. Heliópolis – Santos / SP Fonoaudióloga Julio Morais Besteiro, USP - São Paulo / SP Cirurgia Plástica Reconstrutiva Maria Paula Curado, IARC – Lion – França Epidemiologia Nédio Steffen, PUCRS - Porto Alegre / RS Otorrinolaringologia Sergio Luis de Miranda, UNISA - São Paulo / SP Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial Rui Maciel, UNIFESP - São Paulo / SP Endocrinologia Silvia Regina Rogatto, UNESP – Botucatu / SP Área Básica CORPO EDITORIAL / EDITORIAL BOARD BRAZIL Agrício Nubiato Crespo – UNICAMP – Campinas / SP, Alberto Rossetti Ferraz – USP - São Paulo / SP, Alfio José Tincani – UNICAMP – Campinas / SP, Anói Castro Cordeiro – USP - São Paulo / SP, Antônio José Gonçalves – FCMSCSP - São Paulo / SP, Antônio Santos Martins – UNICAMP - Campinas / SP, Antônio Sérgio Fava – H.S.P.E. - São Paulo / SP, Carlos Neutzling Lehn – H.S.P.E. São Paulo / SP, Cláudio Eduardo de Oliveira Cavalcanti – UFAL – Maceió - AL, Cláudio Roberto Cernea – USP - São Paulo / SP, Emílson de Queiroz Freitas – INCA - Rio de Janeiro / RJ, Fábio Luiz de Menezes Montenegro – USP - São Paulo / SP, Fátima Cristina Mendes de Matos – UFPe – Recife / PE, Fernando Luiz Dias – INCA - Rio de Janeiro / RJ, Flávio Carneiro Hojaij – UNIFESP - São Paulo / SP, Francisco Monteiro de Castro Júnior – UFC – Fortaleza / CE, Gerson Schullz Maahs – PUCRS - Porto Alegre / RS, Gilberto Vaz Teixeira - CECON - Florianópolis / SC, Gyl Henrique Albrecht Ramos – Hospital Erasto Gaertner - Curitiba / PR, Henrique Olavo de Olival Costa – FCMSCSP - São Paulo / SP, Jacob Kligerman – INCA - Rio de Janeiro / RJ, João Batista de Oliveira - Sta. Casa - Belo Horizonte / MG, Jorge Ferreira de Azevedo – SESA/SUS - Fortaleza / CE, Jorge Pinho Filho – Hospital Memorial São José - Recife / PE, José Antônio Pinto - Núcleo de Otorrinolaringologia - São Paulo / SP, José Carlos de Oliveira Hospital Araujo Jorge - Goiânia / GO, José Francisco de Góis Filho – IAVC - São Paulo / SP, José Francisco de Sales Chagas – PUCCAMP – Campinas / SP, José Magrin – Hospital A.C. Camargo - São Paulo / SP, José Maria Porcaro Salles UFMG - Belo Horizonte / MG, Jossi Ledo Kanda - Fundação ABC - São Paulo / SP, Lenine Garcia Brandão – USP - São Paulo / SP, Leonardo Haddad – UNIFESP - São Paulo / SP, Luiz Augusto do Nascimento – UNB – Brasília / DF, Luiz Paulo Kowalski – Hospital A.C. Camargo – São Paulo / SP, Marcelo Doria Durazzo – USP - São Paulo / SP, Marcílio Ferreira Marques Filho – U.E. Ilhéus – Itabuna / SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO (DIRETORIA DO BIÊNIO 2009-2011) Presidente .......................................... Onivaldo Cervantes (SP) 1º Vice-Presidente ............................. Jose Roberto Vasconcelos de Podesta (ES) 2º Vice-Presidente ............................. Luís Eduardo Barbalho de Mello (RN) 3º Vice-Presidente ............................. Gilberto Vaz Teixeira (SC) 4º Vice-Presidente ............................. Leônidas Alves da Silva (AM) 5º Vice-Presidente ............................. Márcio Roberto Barbosa da Silva (GO) 1º Secretário ...................................... Fábio Luiz de Menezes Montenegro (SP) 2º Secretário ...................................... Alfio José Tincani (SP) 3º Secretário ...................................... Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi (PR) 1º Tesoureiro ...................................... Sérgio Samir Arap (SP) 2º Tesoureiro ...................................... Cláudio Rogério Alves de Lima (BA) 3º Tesoureiro ...................................... Bartolomeu Cavalcanti de Melo Junior (PE) Diretor de Defesa Profissional ........... Fernando José Pinto de Paiva (RN) Diretor Científico ................................ Flavio Carneiro Hojaij (SP) BA, Márcio Abrahão – UNIFESP - São Paulo / SP, Marcos Brasilino de Carvalho – Hospital Heliópolis - São Paulo / SP, Marcos Roberto Tavares – USP - São Paulo / SP, Mauro Becker Martins Vieira – Hospital Felício Rocho - Belo Horizonte / MG, Marcelo Lazzaron Lamers – UFRGS - Porto Alegre / RS, Marcelo Miguel Hueb – UFTM – Uberaba / MG, Marcus Lessa – UFBA – Salvador / BA, Mauro Marques Barbosa - INCA - Rio de Janeiro / RJ, Nilton Tabajara Herter – H. Sta. Rita - Porto Alegre / RS, Onivaldo Cervantes – UNIFESP - São Paulo / SP, Orlando Parise Jr. – Hospital Sírio Libanês - São Paulo / SP, Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi - Hospital Erasto Gaertner - Curitiba / PR, Pedro Michaluart Junior – USP - São Paulo / SP, Roberto de Araújo Lima – INCA - Rio de Janeiro / RJ, Rui Celso Martins Mamede – USP/RP - Ribeirão Preto / SP, Silvia Dornelles – UFRGS - Porto Alegre / RS, Sylvio de Vasconcellos e Silva Neto - UFPe - Recife / PE. CORPO EDITORIAL INTERNACIONAL / INTERNATIONAL EDITORIAL BOARD Abél González – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Ashok Shaha – Memorial Sloan Kettering Cancer Center, New York (Estados Unidos); Eugene N. Myers – Pittsburgh University, Pittsburgh (Estados Unidos); François Eschwege - Institut Gustave-Roussy, Villejuif (França); Jatin P. Shah Memorial Sloan Kettering Cancer Center, New York (Estados Unidos); Jean Louis Lefebvre - Centre Oscar Lambret, Lille (França); Jonas T. Johnson – Pittsburgh University, Pittsburgh (Estados Unidos); Jose Luis Novelli, Centro de Tiroides Rosário (Argentina); Jose Saavedra – Soc. Peruana de Cirurgia, Lima (Peru); Juan Postigo Díaz - Cirugia de Cabeza y Cuello – Oncologia, Lima (Peru); Luis Soto Díaz - CEAT, Santiago (Chile); Manuel Montesinos – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Marcelo Figari – Hospital Italiano de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Osvaldo Gonzalez Aguilar – Universidad de Buenos Aires, Buenos Aires (Argentina); Paul J. Donald – University of California - Davis Health System, Sacramento (Estados Unidos); Pedro Sanchez e Ingunza - INEN, Lima (Peru). **** Indexada na Base de Dados Lilacs***** CONSELHO CIENTÍFICO DA SBCCP (EX-PRESIDENTES) Abrão Rapoport (São Paulo), Alberto Rossetti Ferraz (São Paulo), Anói Castro Cordeiro (São Paulo), Cláudio Roberto Cernea (São Paulo), Emílson de Queiroz Freitas (Rio de Janeiro), Fernando Luiz Dias (Rio de Janeiro), Francisco Monteiro de Castro Jr. (Fortaleza), Jacob Kligerman (Rio de Janeiro), Josias de Andrade Sobrinho (São Paulo), Lenine Garcia Brandão (São Paulo), Luiz Paulo Kowalski (São Paulo), Marcos Brasilino de Carvalho (São Paulo), Marcos Roberto Tavares (São Paulo), Maria Paula Curado (Goiânia), Mário Jorge Rosa de Noronha (Rio de Janeiro), Mauro Marques Barbosa (Rio de Janeiro), Ricardo Curioso (Natal), Roberto Araújo Lima (Rio de Janeiro). EX-EDITORES DA RBCCP Abrão Rapoport (1974-1986), Marcos Brasilino de Carvalho (1987-1989), Lenine Garcia Brandão (1989-1993), Fernando Luiz Dias (1994-1997), Fábio Luiz de Menezes Montenegro e Marcelo Doria Durazzo (1997-2001), Luiz Paulo Kowalski (2001-2003), Onivaldo Cervantes (2003-2005). Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço www.revistabrasccp.org.br / www.sbccp.org.br Redação, assinaturas e administração: Av. Brigadeiro Luís Antonio, 278 6º andar - Sala 5 - Bela Vista - CEP 01318-901 - São Paulo - SP - Brasil Tel./Fax: (11) 3107-9529 e-mail: [email protected] Projeto Gráfico: Vagner Bertaco Severino Impressão: H. Máxima Produtora Editora e Gráfica - (11) 3277-3314 A RBCCP é Distribuida gratuitamente aos sócios da SBCCP ou mediante assinatura anual de R$ 100,00; número avulso: R$ 35,00 Periodicidade: Trimestral - Tiragem: 1.000 exemplares É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Normas para publicação Orientação aos autores A Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (ISSN 0100-2171), órgão científico oficial da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Federação Sul-Americana de Sociedades de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, é um veículo multidisciplinar de publicação trimestral, em um único volume anual, com o objetivo de divulgar artigos originais de autores nacionais e estrangeiros, aprovados por pareceristas do Conselho Editorial, contendo informações clínicas e experimentais relacionadas com o segmento anatômico da cabeça e pescoço, interessando não só à Especialidade de Cirurgia de Cabeça e Pescoço como também às de Cirurgia Geral, Otorrinolaringologia, Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial, Neurocirurgia e Ciências Básicas afins. O endereço editorial é: Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278 – 6º andar 01318-901 São Paulo SP. Telefax (11) 3107-9529. Todos os manuscritos e comunicações editoriais devem ser enviados on-line. Veja a Submissão de Manuscritos, abaixo. Visite o site: http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/ e http://www.sbccp.org.br Política editorial Todos os artigos são revisados por dois revisores. O Conselho Editorial é composto por especialistas, com publicações nas bases de dados, que recebem os textos de forma anônima e decidem por sua publicação. A aceitação é baseada na originalidade e significância do material apresentado. Somente serão submetidos à avaliação os trabalhos que estiverem dentro das normas para publicação na Revista. A responsabilidade de conceitos ou asserções emitidos em trabalhos na Revista, bem como a exatidão das referências cabem inteiramente ao(s) autor(es). Não serão aceitos trabalhos já publicados ou simultaneamente enviados para avaliação em outros periódicos. Autoria Todas as pessoas designadas como autores devem responder pela autoria do manuscrito e ter participado suficientemente do trabalho para assumir responsabilidade pública pelo seu conteúdo. O crédito de autoria deve ser baseado apenas por contribuições substanciais durante: (a) concepção, planejamento, execução, análise e interpretação dos resultados; (b) redação e elaboração do artigo ou revisão de forma intelectualmente importante; (c) aprovação final da versão a ser publicada. A participação limitada somente à obtenção de fundos, coleta de dados, supervisão geral ou chefia de um grupo de pesquisa não justifica autoria do manuscrito. Os Editores podem solicitar justificativa para a inclusão de autores durante o processo de revisão do manuscrito, especialmente se o total de autores exceder seis. Categorias dos artigos Os seguintes tipos de artigos são publicados: – Artigos Originais: a) introdução com objetivo; b) método; c) resultados; d) discussão; e) conclusões; f) referências bibliográficas. As informações contidas em tabelas e figuras não devem ser repetidas no texto. Estudos envolvendo seres humanos e animais devem fazer referência ao número do protocolo de aprovação pelo respectivo Comitês de Ética em Pesquisa da instituição à qual está vinculada a pesquisa. Artigos originais são definidos como relatórios de trabalho original com contribuições significativas e válidas. Os leitores devem extrair de um artigo geral conclusões objetivas que vão ao encontro dos objetivos propostos. – Artigos de Revisão da Literatura: a) introdução; b) revisão de literatura; c) discussão; d) comentários finais; e) referências bibliográficas. Artigos de revisão devem abranger a literatura existente e atual sobre um tópico específico. A revisão deve identificar, confrontar e discutir as diferenças de interpretação ou opinião. – Artigos de Atualização: a) introdução; b) revisão de um determinado tema; c) discussão; d) comentários finais; e) referências bibliográficas. O artigo de atualização é uma produção científica que explora um determinado tema, desenvolvido a partir de dados atuais disponíveis pelos autores. Tem por finalidade organizar um discurso explorando um assunto específico, com base em obras publicadas recentemente. – Artigos de Relato de Caso: a) introdução; b) revisão de literatura com diagnóstico diferencial c) apresentação de caso clínico; d) discussão; e) comentários finais; f) referências bibliográficas. Relatos de caso deverão apresentar características inusitadas ou cientificamente relevantes. Será dada prioridade a relatos de cunho multidisciplinar, interdisciplinar e/ou prático. – Artigos de Opinião e Carta ao Editor: deverão ser feitos sob convite do Editor. Preparação do manuscrito A Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço adota as recomendações do Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, conforme o site www.icmje.org (de outubro de 2007). A Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço apoia as políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso aberto. Assim, somente serão aceitos para publicação os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE. Os endereços estão disponíveis no site do ICMJE http://www.icmje.org. O número de identificação deverá ser registrado ao final do resumo. Abreviações devem ser apresentadas por extenso na primeira vez em que aparecem no texto, sendo indicadas imediatamente depois entre parênteses. Devem ser consistentemente utilizadas no corpo do manuscrito. Serão aceitos trabalhos em português e espanhol. Página do título. A página do título deve conter: (1) título em português e em inglês, devendo ser conciso e explicativo e representando o conteúdo do trabalho; (2) nome completo de todos os autores, com o mais elevado título acadêmico e afiliação institucional de cada um; (3) instituição(ões) onde o artigo foi desenvolvido; (4) nome, endereço completo, números de telefone/fax e endereço eletrônico (e-mail) do autor correspondente; o autor correspondente receberá toda correspondência relativa ao manuscrito, bem como a prova do artigo e solicitação de separatas; (5) congresso ou encontro onde o trabalho foi apresentado, se aplicável; e (6) patrocínios, assistência recebida e conflito de interesse, se aplicável. Resumo e Abstract. Artigos originais devem ter um resumo em português e um abstract em inglês, cada um com 200 a 250 palavras. Devem ser apresentados em páginas separadas, em um parágrafo único e estruturados nas seguintes partes: Introdução; Objetivo; Casuística (ou Material) e Método; Resultados; e Conclusão. Três ou mais descritores em português e key words em inglês, em seguida, respectivamente, ao resumo e ao abstract devem ser apresentados, conforme padronização nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) (http:// www.bireme.br) e Medical Subject Headings do Index Medicus (MeSH). Texto. Consulte “Categorias dos Artigos” para orientação sobre o tamanho do manuscrito. O texto deve ser claro e conciso. Recomenda-se subdividir os artigos originais em: Introdução; Métodos; Resultados; Discussão; e Conclusão. Use os nomes genéricos de drogas e equipamentos quando possível; cite os nomes do proprietário após a primeira menção. Identifique equipamentos pelo nome e local do fabricante. Aspectos éticos. Todos os artigos devem mencionar claramente a aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do local onde o trabalho foi realizado ou equivalente, contendo o Consentimento Informado e com observação da Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 196, de 10 de outubro de 1996 (http://www.datasus.gov.br/conselho/resolucoes.htm ou http://www.resodic.org. br/rede8119.html); da Declaração de Helsinki, revisada em 2000 - WMA (World Medical Association), 2000. Declaration of Helsinki. Edinburgh, Scotland: 52nd General Assembly-WMA. 13 October 2000 (http://www.wma.net); e das Normas Internacionais de Proteção aos Animais. Agradecimentos. Registre agradecimento ao estatístico e qualquer outra pessoa que tenha contribuído para o trabalho e que não sejam co-autores, indicando os nomes e respectivas titulações acadêmicas e vínculo institucional. Referências. Os autores são responsáveis pela exatidão, acurácia e formato das referências. Comece a listagem das referências em uma página separada, logo após os Agradecimentos. As referências são identificadas no texto, nas tabelas e legendas através de algarismos arábicos colocados na mesma linha do período, na forma sobrescrita. As referências devem ser numeradas de forma consecutiva na ordem em que são citadas pela primeira vez no trabalho, não na ordem alfabética nem na cronológica. Siga o formato detalhado no Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (JAMA. 1997;277:927-34). Mencionar todos os autores. Cite dados não publicados, comunicações pessoais e manuscritos submetidos (mas ainda não aceitos) como notas de rodapé, no texto. Serão aceitas no máximo 30 referências para artigos originais, 50 para artigos de revisão ou de atualização e 15 para relatos de casos. Exemplos de formas de referências: - em Revista: Alkureishi LW, Ross GL, MacDonald DG, Shoaib T, Gray H, ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 Normas para publicação Robertson G, Soutar DS. Sentinel node in head and neck cancer: use of size criterion to upstage the no neck in head and neck squamous cell carcinoma. Head Neck. 2007;29(2):95-103. - livro: Carvalho MB. Tratado de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001. - capítulo de livro: Barroso FL, Souza JAG. Perfurações pépticas gástricas e duodenais. In: Barroso FL, Vieira OM, editores. Abdome agudo não traumático - Novas propostas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Robe Editora; 1995. p. 201-220. - tese e monografia: Barros APB. Efetividade da comunicação oral, qualidade de vida e depressão pós-faringolaringectomia e laringectomia total. [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2002. - Material Eletrônico: Artigo: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial on the Internet]. 1995 jan/mar [cited 1996 jun 5]; 1(1):[24 telas]. Available from: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Arquivo de Computador: Hemodynamics III: The ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2 Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. Monografia em formato eletrônico: CDI, Clinical dermatology illustrated [CD-ROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0 San Diego: CMEA; 1965. Tabelas. As tabelas devem ser numeradas de forma consecutiva na ordem em que são citadas no texto. Devem ser colocadas em páginas separadas, logo após as Referências e numeradas na ordem em que elas são mencionadas no texto. Cada tabela deve ter um título conciso na parte superior e suas abreviações devem ser colocadas como notas de rodapé, escritas como Times New Roman 10. Figuras. As figuras devem ser numeradas de modo consecutivo de acordo com a primeira citação no texto. A lista de legendas das figuras deve ser remetida em folha separada logo após as tabelas. Cada figura deve ter uma legenda na sua parte inferior. Cada figura será impressa em preto e branco, a não ser que seja selecionada pelo Editor ou haja uma solicitação por parte dos autores para reprodução a cores. Figuras a cores são estimuladas, porém, os autores serão responsáveis pelas despesas para reprodução a cores, caso sejam os solicitantes. As figuras podem aparecer no website da Revista sem custo adicional. Para reprodução de figuras já publicadas deve ser reconhecida a fonte e os autores devem encaminhar cópia da autorização escrita do proprietário para reprodução. Fotos envolvendo seres humanos devem observar os cuidados de privacidade do indivíduo. Caso contrário, os autores devem providenciar uma autorização por escrito do paciente ou de seu responsável. As figuras devem ser submetidas no formato eletrônico, em formato TIF ou JPEG. As figuras devem ser enviadas separadamente na submissão eletrônica. Todas as figuras devem ser referidas no texto, sendo numeradas consecutivamente por algarismo arábico. Cada figura deve ser acompanhada de uma legenda descritiva colocada após as referências. Instruções para submissão on-line de manuscritos usando o sistema de gestão de publicações (sgp) Todo o processo de submissão deverá ser feito através do endereço de internet http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/, que dá acesso ao nosso Sistema de Gestão de Publicações (SGP), onde é feita a submissão do artigo pelos autores e a avaliação por revisores do corpo editorial, em um processo onde os nomes dos autores do artigo em questão não são demonstrados em nenhuma instância. Quando acessar este link, o sistema irá pedir seu nome de usuário e senha, caso já esteja cadastrado. Caso contrário clique no botão “Quero me cadastrar” e faça seu cadastro. Ou ainda, caso tenha esquecido sua senha, use o mecanismo para lembrar sua senha, que gerará automaticamente um e-mail contendo a mesma. O (s) autor (es) deve (m) manter uma cópia de todo o material enviado para publicação, pois os editores não se responsabilizam pelo extravio do material. O processo de submissão é composto de oito passos, listados abaixo: 1º - Informar Classificação (Original, Revisão, Atualização, Relato de Caso) 2º - Envio de Imagens para o seu Artigo 3º - Cadastrar Co-autor (es) 4º - Informar Título e Descritores 5º - Informar Resumo e Comentários 6º - Montar Manuscrito 7º - Transferência de Copyright (Cessão de Direitos) e Declaração de Conflitos de Interesse 8º - Aprovação do (s) Autor (es) nuscritos preparados em WordPerfect ou Microsoft Word, pois no passo “Montar Manuscrito”, será exibida uma tela que simula o Word, onde é possível “copiar e colar” de qualquer editor de texto, inclusive as tabelas. O texto deverá ser digitado em espaço duplo, sendo que as margens não devem ser definidas, pois o sistema SGP as definirá automaticamente. Regras para imagens e gráficos estão descritas abaixo. Submissão on-line passo a passo 1º Passo: Informar Classificação Escolha uma das quatro opções: Artigo Original, Artigo de Revisão, Artigo de Atualização ou Relato de Caso. 2º Passo: Envio de imagens para o seu artigo: As imagens deverão obrigatoriamente estar em formato JPG. Caso necessite alterar o formato de suas imagens entre na seção DOWNLOADS no SGP em: http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/naveg/downloads.asp e faça o download de algum dos programas freeware oferecidos para edição de imagens (requer senha de acesso). O sistema envia grupos de até cinco imagens por vez. Para submeter mais de cinco imagens, basta clicar no botão “Enviar mais imagens”. Logo após serão exibidas miniaturas das imagens, onde há um ícone (), que deverá ser clicado para editar o título e a legenda de cada imagem submetida. 3º Passo: Cadastrar Co-autor (es) Cadastre cada co-autor, informando nome completo, cargo e titulação obrigatoriamente. O CPF poderá ser informado posteriormente. A ordem dos co-autores pode ser alterada facilmente usando as “setas” exibidas na tela. 4º Passo: Informar Título e Descritore Informe o título do trabalho, em português e inglês, e as Descritore (Português) e Key words (Inglês), que deverão ter aproximadamente 2 a 6 palavras chaves pertinentes (ESTAS PALAVRAS DEVERÃO ESTAR CONTIDAS NO DECS E NO MESH que podem encontrados no SGP em todas as telas). 5º Passo: Informar Resumo e Comentários O Resumo/Abstract deverá obrigatoriamente conter no máximo 250 palavras cada. O autor deverá preencher os campos: Instituição, Nome e endereço para correspondência, suporte financeiro (deverá ser provida qualquer informação sobre concessões ou outro apoio financeiro) e a carta ao editor (opcional). Importante: o limite máximo aceito pelo sistema de submissão on-line para os resumos em português e inglês é de 250 palavras cada. O excedente será cortado automaticamente pelo sistema. 6º Passo: Montar Manuscrito Nesta tela é exibido um simulador do Word com todas as funcionalidades de formatação de texto necessárias. Para inserir seu texto neste campo, simplesmente selecione todo seu trabalho e copie e cole no campo de montagem do manuscrito (artigo). Somente selecione textos e tabelas, pois as imagens já deverão ter sido enviadas no 1º passo e serão inseridas no final do trabalho automaticamente. Importante: Nunca coloque neste campo os nomes de autores, co-autores, ou qualquer outra informação que possa identificar onde o trabalho foi realizado. Tal exigência se deve ao fato de o processo de revisão transcorrer sem o conhecimento destes dados pelo (s) revisor (es). A não observância deste detalhe fará com que seu trabalho seja devolvido como FORA DE PADRÃO para correções. 7º Passo: Copyright (Cessão de Direitos) e Declaração de Conflitos de Interesse Neste passo é exibida a tela com o termo de Copyright e outra com a Declaração de conflitos de Interesse, onde os autores deverão clicar nos boxes apropriados. 8º Passo (Último passo): Aprovação do Autor Este é o último passo para completar a submissão do artigo. Nesta tela o autor terá a opção de visualizar seu trabalho no sistema e também pode salvar uma versão em PDF de seu trabalho recém submetido. Importante: O autor deverá clicar no link “APROVAR MANUSCRITO” para que seu trabalho seja encaminhado à Secretaria da Revista da SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA DE CABEÇA E PESCOÇO para conferência e confirmação. Distribuição A Revista é distribuída gratuitamente a todos os membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, a bibliotecas da área de Saúde e mediante assinatura. Após a submissão, o sistema oferece a opção de salvar uma cópia de seu manuscrito em formato PDF para seu controle. A Revista encoraja fortemente que os autores submetam eletronicamente ma- Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Instructions for authors Instructions for authors The Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (Brazilian Journal of Head and Neck Surgery), ISSN 0100-2171 is the official scientific journal of the Brazilian Society for Head and Neck Surgery and the South American Federation of Societies for Head and Neck Surgery. It is a multidisciplinary journal published quarterly, forming a single volume per year, with the aim of disseminating original articles by Brazilian and foreign authors that have been approved for publication by the Editorial Board’s specialist reviewers. The articles published contain clinical and experimental information relating to the anatomical segment of the head and neck and are of interest not only to the specialty of Head and Neck Surgery but also to the specialties of General Surgery, Otorhinolaryngology, Cranio-maxillofacial Surgery and Neurosurgery and similar Basic Sciences. The editorial address is: Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278, 6º andar, 01318-901 São Paulo SP. Tel/fax: (55 11) 3107-9529. All manuscripts and communications with the Editorial Board must be sent online. See Submission of Manuscripts, below. Visit the website: http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/ and http://www.sbccp.org.br Editorial policy All articles are appraised by two reviewers. The Editorial Board is composed of specialists with published work in indexed journals who receive submissions anonymously and decide whether these texts should be published. Acceptance is based on the originality and significance of the material presented. Only studies that conform to the Journal’s publication standards will be submitted for appraisal. The responsibility for concepts or assertions put forward in studies in the Journal, and for the accuracy of references, lies entirely with the author(s). Studies that have already been published or that have simultaneously been sent for appraisal by other periodicals will not be accepted. Authorship All persons named as authors are responsible for the authorship of the manuscript and need to have participated in the study sufficiently for them to assume public responsibility for its content. Authorship credit must be based only on substantial contributions during the stages of (a) conceptualization, planning, execution and results analysis and interpretation; (b) compilation and writing of the article or review in an intellectually meaningful manner; (c) final approval of the version to be published. Participation that is limited only to fund-raising, data collection, general supervision or being the head of a research group does not justify authorship of the manuscript. The Editors may request justification for author inclusion, during the manuscript review process, especially if the total number of authors exceeds six. Article categories The following types of article are published: – Original articles: a) introduction with objective; b) method; c) results; d) discussion; e) conclusions; f)references. The information described in tables and graphs should not be repeated in the text. Studies involving human beings and animals should include the approval protocol number of the respective Ethics Committee on Research of the institution to which the research is affiliated. Original articles are defined as reports of an original work with valid and significative results. The readers should extract from it objective conclusions that are related to the proposed objectives. – Literature review articles: a) introduction; b) review of literature; c) discussion; d) final comments; e) bibliographical references. Literature review articles should include the updated literature regarding an specific topic. The revision should identify and compare and discuss the different opinions and interpretations. – Update articles: a) introduction; b) review of a particular topic, c) discussion; d) final comments, e) references. The article is an update of scientific production that explores a particular theme, developed from current data available by the authors. Aims to organize a speech exploring a particular subject, based on recently published works. – Case report articles: a) introduction; b) review of literature with differential diagnosis; c) case report; d) discussion; e) final comments; f) references. Case report articles should present unusual characteristics or scientific relevant ones. Priority will be given to reports of multidisciplinary or interdisciplinary or practical approaches. – Opinion articles: Only by invitation from the Editorial Board. Preparation of the manuscript The Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço adopts the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), as laid out on the ICMJE website: www.icmje.org (October 2007). The Revista Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço supports the policies of the World Health Organization (WHO) and ICMJE regarding the registration of clinical trials and it recognizes the importance of these initiatives for registering and internationally disseminating information on clinical studies, with open access. Thus, clinical research articles will only be accepted for publication if they have received an identification number from one of the Clinical Trial Registers that have been validated in accordance with the criteria established by WHO and ICMJE. The addresses of these registers are available on the ICMJE website: http://www.icmje.org. The identification number should be stated at the end of the Abstract and abstract. Abbreviations must be written out in full on the first occasion when they appear in the text, such that the term is followed immediately by the abbreviation in parentheses. They must be used consistently in the body of the manuscript. Studies will be accepted in Portuguese and Spanish. Title page. The title page must contain: (1) the title in Portuguese and English, which must be concise and explicative, representing the content of the study; (2) full names of all the authors, with their highest academic titles and institutional affiliations; (3) institution(s) where the article was developed; (4) name, full address, telephone/fax numbers and electronic address (e-mail) of the author for correspondence; this author will receive all correspondence relating to the manuscript, as well as the proof for the article and requests for reprints; (5) congress or meeting at which the study was presented, if applicable; and (6) sponsorship, assistance received and conflicts of interest, if applicable. Abstract and Abstract. Original articles must have a Abstract in Portuguese and an abstract in English, which should each consist of 200 to 250 words. They must be presented on separate pages, each as a single paragraph and structured into the following parts: Introduction; Objective; Sample (or Material) and Method; Results; and Conclusion. Three or more descriptors in Portuguese must be presented following the Abstract, and three or more key words in English following the abstract, as standardized in the Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) (http://www.bireme.br) and Medical Subject Headings of the Index Medicus (MeSH). Text. Consult “Article Categories” for instructions regarding the manuscript size. The text must be clear and concise. It is recommended that original articles should be subdivided into: Introduction; Methods; Results; Discussion; and Conclusion. Use generic names for drugs and equipment whenever possible; cite the proprietary names after the first mention. Identify equipment by the name and the place of manufacture. Ethical matters. All articles must clearly mention that approval was obtained from the Research Ethics Committee at the place where the study was developed, or its equivalent; that informed consent procedures were adopted; and that due regard was given to Resolution no. 196 of the National Health Board (Conselho Nacional de Saúde), dated October 10, 1996 (http://www.datasus.gov. br/conselho/resolucoes.htm or http://www.resodic.org.br/rede8119.html); to the Declaration of Helsinki, as revised in 2000: World Medical Association (WMA), 2000. Declaration of Helsinki. Edinburgh, Scotland: 52nd General Assembly-WMA. October 13, 2000 (http://www.wma.net); and to the International Animal Protection Standards. Acknowledgements. Register acknowledgements to the statistician and any other persons who may have contributed towards the study but who are not co-authors, indicating the names and respective academic titles and institutional links. References. The authors are responsible for the exactness, accuracy and format of the references. Start to list the references on a separate page, just after the Acknowledgements. References are identified in the text, tables and legends by means of Arabic numerals placed on the same line of the sentence, in superscript form. The references must be numbered consecutively in the order in which they are cited for the first time in the study, and not in alphabetical or chronological order. Follow the format detailed in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (JAMA. 1997;277:927-34). Mention all authors. Cite unpublished data, personal communications and manuscripts submitted (but not yet accepted), as footnotes in the text. There should be no more than 30 references for Original articles, 50 for Literature review ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 Instructions for authors or update articles and 15 for Case report articles. Examples of forms of references: - Journal: Alkureishi LW, Ross GL, MacDonald DG, Shoaib T, Gray H, Robertson G, Soutar DS. Sentinel node in head and neck cancer: use of size criterion to upstage the no neck in head and neck squamous cell carcinoma. Head Neck. 2007;29(2):95-103. - Book: Carvalho MB. Tratado de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Atheneu; 2001. - Chapter of a book: Barroso FL, Souza JAG. Perfurações pépticas gástricas e duodenais. In: Barroso FL, Vieira OM, editores. Abdome agudo não traumático - Novas propostas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Robe Editora; 1995. p. 201-220. - Thesis and monograph: Barros APB. Efetividade da comunicação oral, qualidade de vida e depressão pós-faringolaringectomia e laringectomia total. [Dissertation]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2002. - Electronic material: Article: Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerg Infect Dis [serial on the Internet]. 1995 Jan/Mar [cited 1996, Jun 5]; 1(1):[24 screens]. Available from: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Computer file: Hemodynamics III: The ups and downs of hemodynamics [computer program]. Version 2.2 Orlando (FL): Computerized Educational Systems; 1993. Monograph in electronic format: CDI, Clinical dermatology illustrated [CDROM]. Reeves JRT, Maibach H. CMEA Multimedia Group, producers. 2nd ed. Version 2.0 San Diego: CMEA; 1965. Tables. Tables must be placed on separate pages, just after the References, and must be numbered consecutively in the order in which they are cited in the text. Each table must have a concise title placed above it, and abbreviations used in the table must be defined as footnotes. Figures. Figures must be numbered consecutively starting with the first citation in the text. A list of figure legends must be placed on a separate page just after the tables. Each figure must have a legend appearing below it. All figures will be printed in black and white, unless selected for color reproduction by the Editor or there is a request for this from the authors. Figures in color are encouraged, but the authors will be responsible for the expenses relating to color reproduction if they are the party requesting this. The figures may appear on the Journal’s website without additional cost. If it is desired to reproduce figures that have already been published, the source must be acknowledged and the authors must forward a copy of the owner’s written authorization of this reproduction. Photographs involving human beings must give due regard to the individual’s privacy. Otherwise, the authors must provide written authorization from the patient or from the person responsible for this patient. Figures must be submitted in electronic format, as TIF or JPEG files. The figures must be sent separately in the electronic submission. All figures must be referred to in the text and be numbered consecutively in Arabic numerals. Each figure must be accompanied by a descriptive legend that is placed after the references. General instructions for on-line submission of manuscripts using the Manager Publication System (MPS) All the submission process should be done through the internet address http://www.sgponline.com.br/rbccp/sgp/which gives access to our Manager Publication System (MPS), where the submission of the article is done by the authors and the evaluation process is done by the reviewers of our editorial board in a process where the names of the authors are not displayed in any instance. When linked the system will ask for your user name and password in case you have already registered. On the contrary click on the link “Want to Register” and make your registration. In case you have forgotten your password, click on the appropriate link and the system will generate an automatic e-mail with the information. The author or authors should keep a copy of all submitted material for publication as the editor can not be held responsible for any lost material. The submission is an eight steps process as listed bellow: 1st Informing article classification (Original articles, Literature review articles, Update articles, Case report articles) 2nd Sending images for your article 3rd Registering co-authors 4th Informing title and key-words 5th Informing Abstract and comments 6th Preparing Manuscript 7th Filling, signing and sending Copyright and Conflicts of Interest forms 8th Author approval After submission, the system offers the option of saving a copy of your manuscript in PDF format for your control. The journal strongly recommends that the authors submit their electronic manuscripts written in Microsoft Word or Word Perfect. In the “Preparing Manuscript” step a screen that simulates the word processor will be displayed, where it is possible to “copy and paste”, including tables. Rules for images and graphs are descried below. Step-by-step on-line submission 1st Step: Informing article classification Chose one from the three options: Original Article, Revision Article, Update Article or Case Report. 2nd step: Sending images for your article Images must be in JPG format. If your images need format changing access the section DOWNLOADS in SGP (Manager Publication System) on http://www. sgponline.com.br/rbccp/sgp/naveg/downloads.asp and download some freeware programs offered for image edition (password is required). The system accepts groups of five images at a time. In order to submit more than five images, click on “Send more images”. Soon after that it will be displayed miniatures of the images where there is an icon which must be clicked to edit the title and legend of each submitted image. 3rd Step: Registering co-authors Register each author informing his/her full name, function and position; CPF number (for Brazilians) or any ID (in case of a foreigner) could be send later on. Co-authors sequence can be easily changed using the “arrows” displayed on the screen. 4th Step: Informing title and key-words Inform the manuscript title and keyword in your native language and in English, using from 2 to 6 related words. (THESE WORDS MUST BE PART OF DECS AND MESH), which can be found on MPS (Manager Publication System)on all of the screens. 5th Step: Informing Abstract and comments Abstract/Abstract must have 250 words at its maximum. The author should fill the following fields: Institution, Name and Mail Address, Financial Support (any other information on concessions or other type of financial support), and Letter to the Editor (optional). Important: The limit accepted by the on-line submission system for the summaries in native language and English is 250 words. The exceeding words will be automatically cut off by the system. 6th Step: Preparing manuscript In this screen a Word simulator is displayed having all format text function needed. In order to insert your text in this field, select your text and tables and copy and paste it on “Preparing Manuscript” field; Images should have already been sent on the 2nd step and they will be inserted automatically at the end of the work. Important: never fill these fields with the names of the authors, co-authors or any other information that can identify where the work was done. This is because the reviewer should not have access to this information. If this instruction is not followed your work will return to you as OUT OF STANDARD in order to be correct. 7th Step: Filling, signing and sending Copyright and Conflicts of Interest forms In this step the Copyright and Conflict of Interest terms are displayed, clicking on the appropriate boxes. 8th Step: Author approval This is the last step to complete your manuscript submission. In this step the author will have an option to visualize his work in the system and will also be able to save a PDF version of the newly submitted work. Important: author should click on “ APPROVE MANUSCRIPT” to have it send to the office of the BRAZILIAN HEAD AND NECK SOCIETY Journal for control and confirmation. Distribution The Journal is distributed free of charge to all members of the Brazilian Society for Head and Neck Surgery and to libraries within the field of healthcare, and is available on subscription. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Editorial Revista da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço Editorial - Volume 40 (2) – Abr/Mai/Junho – 2011 O XXIII Congresso Brasileiro de Cirurgia de Cabeça e Pescoço ocorrerá no Mendes Convention Center, em Santos, de 3 a 6 de setembro. Trata-se do maior evento de nossa especialidade na América Latina e que se repete a cada dois anos. Apresenta-se de uma oportunidade ímpar de atualização na Cirurgia de Cabeça e Pescoço e, da mesma forma de reencontrar amigos e intensificar nossa convivência. Esse Congresso traz algumas novidades. Pela primeira vez, será realizado fora do âmbito de um hotel. A escolha de um centro de convenções visa atender o crescimento de nossa Sociedade, bem como possibilitar ampla participação de outras áreas da saúde em que existe uma importante atuação em nossos pacientes. O Mendes Convention é amplo, moderno e tem tudo para receber a todos muito bem. Atendendo solicitações, teremos no dia 2 de setembro, um dia específico para o Concurso para obtenção do Título de Especialista. O pré-Congresso será realizado no dia seguinte com 7 cursos, boa parte dos quais com interface teórico-prática e, na mesma noite, terá lugar a cerimônia de abertura. O tema do nosso Congresso será “Ampliando Horizontes na Cirurgia de Cabeça e Pescoço”. De fato, ao verificar a programação científica, acreditamos que ela possa efetivamente acrescentar valores à atuação profissional dos participantes. Em 3 intensos dias, ocorrerão 6 conferências, 9 painéis, 6 sessões interativas, 1 fórum de ensino, 3 sessões de prêmios e 16 sessões de temas livres. A área de pôsteres terá fácil acesso e a área dos expositores será de passagem obrigatória para todos os que se dirigirem aos auditórios grandes e à praça de alimentação. Estão confirmados 14 palestrantes convidados de Estados Unidos e Europa. Nossos colegas sul-americanos deverão também ter presença marcante. Da mesma forma, fonoaudiólogos, dentistas, fisioterapeutas, enfermeiros e outros profissionais deverão ratificar o aspecto multidisciplinar de nossa especialidade. Teremos o VIII Congresso de Fonoaudiologia e o IV Congresso de Fisioterapia em Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Agradecemos efusivamente às Sociedades que participam da organização, aos patrocinadores e expositores. Esse Congresso nasce a partir do apoio irrestrito da Diretoria da Sociedade, da Comissão Científica, que foi muito representativa, com 2 reuniões presenciais em São Paulo e de nossos associados, com suas sugestões e com o prestígio a ser dado pela sua presença e participação. Lembramos que, no dia 5 de setembro, a partir das 16h30, está marcada a Assembleia Geral Ordinária da Sociedade, oportunidade para todos contribuírem. Santos é uma das principais estâncias balneárias brasileiras, com interessantes possibilidades turísticas, culturais e gastronômicas. Esperamos que os tradicionais jantares da noite alumni (domingo, dia 4 de setembro de 2011) e o jantar do Congresso (segunda-feira, dia 5 de setembro de 2011) possam agregar a todos em um momento que seja inesquecível. Sejam todos muito bem-vindos a Santos! Seja o nosso Congresso de grande proveito! Rogério A. Dedivitis Presidente da Comissão Organizadora ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 Índice Artigo Original Proposta de técnica cirúrgica para correção de estenose de nasofaringe. ...................................................... 53 Proposed Surgical technique for correction of stenosis nasopharynx. Caroline Valverde Diniz, Aurélia Silva e Albuquerque, Mauro Becker Martins Vieira, Eduardo Machado Rossi Monteiro, Ana Paula Ferreira Aquino Monteiro, Daniel Santos Arantes Soares, Emerson Rodrigo Santos, Glaucia Maria Vasconcelos Severiano Godoi. Perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço que evoluiram a óbito antes do tratamento........................................................................................................................................................... 57 Epidemiologic profile of head and neck cancer patiens who died before treatment. Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi, Benedito Valdecir de Oliveira, Juliana Corrêa Dallagnol, Regina Célia Anastácio da Silva, Dinarte Orland. Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço - duas abordagens distintas. .................................................................................................................................. 61 Pulmonary optimization in candidates for surgery due head and neck neoplasms - two distintc approaaches. Juliana Carvalho Schleder, Letícia de Souza Pereira, Marcielli Nascimento da Silva, Woldir Wosiacki Filho, César Costa, Benedito Valdecir de Oliveira, Thatiana Moreira de Paiva. Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese. .................................. 66 Analysis of acoustic parameters with different times of use tacheoesophageal prosthesis. Mahina Talita Lucena Chahade, Rui Mamede, Luiz de Souza, Lilian Neto Ricz, Hilton Marcos Alves Ricz. Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009. ................................................................... 71 Oral malignant neoplasias: retrospective study from 1962 to 2009. Elaine Dias do Carmo, Lúcia Helena Denardi Roveroni Favaretto, Andresa Costa Pereira, Fernanda Bertini, Adriana Aigotti Haberbeck Brandão, Luiz Eduardo Blumer Rosa. Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar............................................................................................................................................... 76 Major salivary glands cancer - survival analysis and results of the treatment in one hospitalar institution. Rubem Fernando L. C. Andrade, Marcos Duarte de Mattos, Juliana Muniz Miziara, Ana Luiza Pereira Quinto, Ana Tarsila Fonseca de Souza, Stela Verzinhasse Peres. Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. .......................................................... 81 Retrospective study of oral benign tumours: a forty-two year analysis. Elaine Dias do Carmo, Lúcia Helena Denardi Roveroni Favaretto, Fernanda Bertini, Suzana Ungaro Amadei, Adriana Aigotti Haberbeck Brandão, Luiz Eduardo Blumer Rosa. Relato de Caso Ameloblastoma de maxila: Estudo de 3 casos..................................................................................................... 87 Ameloblastoma in the maxilla: Study of three cases. Helma Maria Chedid, Ali Amar, Abrão Rapoport, Renato Cardoso, Otávio Alberto Curioni. Reconstrução mandibular com enxerto microvascularizado de fíbula - uma nova técnica (variante IV). ..... 90 Vascularized fibular graft for mandibular reconstruction - a new tecnique (variety IV). Laurindo Moacir Sassi, José Luis Dissenha, Alfredo B. Silva, Paola A.G. Pedruzzi, Benedito Valdecir de Oliveira. Metástase óssea frontal de carcinoma papilífero da tireoide: excepcional resposta a radioiodoterapia - relato de caso. ....................................................................................................................................................... 93 Skull metastasis of thyroid papillary carcinoma: great radioiodine therapy response - case report. Francisco Monteiro de Castro Junior, Francisco de Assis Castro Bonfim Junior, Regis Oquendo Nogueira, Selinaldo Amorim Bezerra, Jônatas Catunda de Freitas, Igor Furtado Soares Melo. Fibromatose cervical............................................................................................................................................... 96 Cervical fibromatosis Ary Serrano Santos, Reivla Marques Vasconcelos Soares, Marcel Martins Marques, Wagner Leite de Almeida, Ricardo Viera Santos 5 Raiz dentária impelida para o seio maxilar após exodontia: uma opção de tratamento.................................. 99 Dental root displaced to maxillary sinus after tooth extraction: a treatment option. Daniela Ponzoni, Ana Paula Farnezi Bassi, Alessandra Marcondes Aranega, Leonardo Perez Faverani, Gabriel Ramalho-Ferreira, Idelmo Rangel-Garcia Jr. Artigo de Revisão Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. ................................................................... 102 Cervical congenital disorders. Rare cases: lateral anomalies. José Francisco de Sales Chagas, Abrão Rapoport, Maria Beatriz Nogueira Pascoal, José Luis Braga de Aquino, Luis Antonio Brandi Filho, Marcos Ribeiro Magalhães, Otávio Alberto Curioni, Thiago Olivetti Artioli, Carolina Ferraz do Amaral. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Artigo Original Proposta de técnica cirúrgica para correção de estenose de nasofaringe Proposed Surgical technique for correction of stenosis nasopharynx RESUMO Caroline Valverde Diniz 1 Aurélia Silva e Albuquerque 1 Mauro Becker Martins Vieira 2 Eduardo Machado Rossi Monteiro 3 Ana Paula Ferreira Aquino Monteiro 4 Daniel Santos Arantes Soares 1 Emerson Rodrigo Santos 5 Glaucia Maria Vasconcelos Severiano Godoi 6 ABSTRACT Estenose de nasofaringe é uma afecção rara, de difícil tratamento. Diversas etiologias têm sido descritas, e as mesmas sofreram alterações importantes com o desenvolvimento de medicações e novas técnicas cirúrgicas. No passado, havia destaque para sífilis como fator etiológico principal da doença. Após a era dos antibióticos, tal etiologia perdeu espaço para as causa iatrogênicas, dando destaque a complicações em pósoperatório de adeno-amigdalectomia e uvulopalatofaringoplastia. Diversas técnicas de tratamento são descritas na literatura, mas permanece o desafio de tratamento da estenose de nasofaringe, haja vista o grande índice de recorrência dos sintomas após a correção cirúrgica. Descrevemos neste artigo uma técnica cirúrgica eficaz para tratamento de estenose de nasofaringe. Trata-se de retalho de pele da região infra-clavicular, posicionado e suturado na nasofaringe após confecção de uma área cruenta. Nossos resultados com a técnica são satisfatórios e efetivos. Nasopharyngeal stenosis is a rare condition difficult to treat. Several etiologies have been described, and they have undergone major changes with the development of new medications and surgical techniques. In the past, syphilis was highlighted as the main etiological factor of disease. After the era of antibiotics, such etiology lost ground to iatrogenic causes, highlighting the complications in the postoperative period after adenotonsillectomy and uvulopalatopharyngoplasty. Several treatment techniques are described in the literature, but the challenge remains the treatment of nasopharyngeal stenosis, given the high rate of recurrence of symptoms after surgical correction. This paper we describe an effective surgical technique for treatment of nasopharyngeal stenosis. This is a skin flap from the infraclavicular region, positioned and sutured to the nasopharynx after making a bloody area. Our results with the technique are satisfactory and effective. Palavras-chave: Braquiterapia. Key words: Nasopharyngeal Neoplasms; Nasopharynx; Oral Surgical Procedures; Surgical Flaps. Nasofaringe; Neoplasias Nasofaríngeas; Introdução A nasofaringe é a porção superior da faringe, entre a coana da cavidade nasal e orofaringe. Podemos definir estenose de nasofaringe como uma obstrução parcial ou total da comunicação fisiológica entre a nasofaringe e orofaringe, causando grandes transtornos ao funcionamento desta região em todos os mecanismos que a mesma participa, tais como fala e respiração. É uma afecção extremamente rara. Em um estudo publicado em 1944, fez-se uma avaliação retrospectiva de 100.000 adeno-amigdalectomias realizadas nos últimos 10 anos em um hospital em Manhatthan. Foram encontrados 3 casos de estenose de nasofaringe1. Não houve predileção por sexo. Apesar de ser uma afecção rara, há um grande índice de recorrência dos sintomas. Muitos pacientes são submetidos a diversos procedimentos cirúrgicos até que se tenha sucesso no tratamento, o que transformou o tratamento da estenose de nasofaringe em um grande desafio. Os fatores causadores de tal patologia são diversos, e sofreram grandes alterações ao longo da evolução da medicina, à medida que novos tratamentos e doenças surgiram. 1) Médico(a) Residente do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Felício Rocho. 2) Médico Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial (Membro titular da clínica de Otorrinolaringologia do Hospital Felício Rocho. 3) Médico Otorrinolaringologista (Médico membro da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial) 4) Médica Pediatra e Residente. Médica Residente de Otorrinolaringologia no Hospital Felício Rocho. 5) Médico Otorrinolaringologista. 6) Médica. Instituição: Hospital Felício Rocho. Belo Horizonte / MG - Brasil. Correspondência: Caroline Valverde Diniz Boechat - Avenida do Contorno, 9676, casa 03 - Barro Preto - Belo Horizonte - MG / Brasil - CEP: 30110-098 - Telefone: (+55 31) 9704-7333. Recebido em 24/03/2011; aceito para publicação em 23/04/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 53-56, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 53 Proposta de Técnica cirúrgica para correção de estenose de nasofaringe. Na era pré-antibiótico houve um destaque para sífilis como fator etiológico,bem como o ácido nítrico usado em seu tratamento. Outras doenças como penfigoide bolhoso e epidermólise bolhosa podem levar a estenose. Com o surgimento das penicilinas, o trauma cirúrgico (adeno- amigdalectomias, uvalopalatoplastias, e mais recentemente as LAUPs) emergiram como etiologia predominante nas causas de estenose de nasofaringe. Por ser uma entidade incomum e de difícil manejo, há ainda dúvidas e dificuldades nas técnicas destinadas a correção desta patologia. Estenose de nasofaringe traumática resulta da aderência da parede posterior do palato mole com a parede anterior da faringe, formando assim uma área cicatricial estenosada. O quadro clínico é variado: obstrução nasal, voz anasalada, rinossinusite, otite média secretora, distúrbios do olfato. O uso de laser de CO2 de maneira inadvertida para realização de uvalopalatoplastia, bem como de eletrocautério tem mostrando uma crescente incidência como causa de estenose de nasofaringe. Devido a grande escassez de técnicas descritas em literatura eficazes no tratamento de estenose de nasofaringe, o objetivo do nosso trabalho foi expor aqui uma técnica desenvolvida em nosso serviço e realizada em três pacientes, com resultados satisfatórios a curto e médio prazo. Método Os pacientes envolvidos neste estudo foram selecionados no banco de dados do nosso serviço. Todos eram portadores de estenose de nasofaringe, com etiologias distintas. Foram submetidos à videoendoscopia nasossinusal previamente e logo após o procedimento cirúrgico, comparando as dimensões da área estudada antes e póscirurgia. M.G.L., 52 anos, sexo masculino, queixava-se de obstrução nasal, roncos noturnos e respiração oral. Apresentava história de uvulopalatofaringoplastia (UVFP) prévia, realizada com eletrocautério e anestesia local. A estenose foi mensurada por laringoscopia indireta e videoendoscopia nasal. O paciente foi submetido ao procedimento de correção de estenose nasofaríngea em abril de 2000 sob anestesia geral com boa resposta já na 1ª semana pós-operatória. Durante o seguimento clínico notamos melhora de todas as queixas relacionadas a patologia no início do quadro. O.J.C., 59 anos, sexo masculino, portador de penfigoide cicatricial, procurou nosso serviço em julho de 2009 com queixa de obstrução nasal constante, roncos noturnos e apneia do sono há anos. Foi submetido a videoendoscopia nasossinusal a qual revelou estenose em nasofaringe, diagnóstico corroborado por achados de tomografia computadorizada. O paciente foi submetido ao procedimento de correção de estenose nasofaríngea sob anestesia geral com remissão dos sintomas já em 54 Diniz et al. pós-operatório imediato. Encontra-se em acompanhamento periódico em nosso serviço sem novas queixas. MAC, 54 anos. Paciente com passado de tumor em rinofaringe (CEC). Foi submetida a tratamento radioterápico em 2008, e como houve recidiva em 2009, o tratamento foi complementado com braquiterapia em nasofaringe. Apresentava queixa de hipoacusia, roncos noturnos e xerostomia (respiração predominantemente oral). Foi submetida a correção cirúrgica com a técnica descrita a seguir em fevereiro de 2001, e até o momento houve melhora de todos os sintomas relacionados à patologia. Nosso Trabalho foi submetido ao comitê de ética em pesquisa do Hospital Felício Rocho, segundo as regras padronizadas. Os pacientes preencheram e concordaram com a publicação destes dados, em um termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos mesmos. 1) 2) 3) 4) Descrição da técnica: Segue sua descrição e ilustração: Incisão na borda lateral da abertura residual da nasofaringe, prolongada supero- lateralmente, bilateralmente. Abertura da passagem aérea da orofaringe para nasofaringe, com formação de área cruenta bilateral. Reconstrução de área cruenta com enxerto parcial de pele removida da região infraclavicular. Fixação do enxerto com sutura (Vicryl 4.0). resultados Nossos resultados com a técnica descrita são bastante satisfatórios. A videoendoscopia nasal foi o exame escolhido para avaliar os resultados em pós-operatório. Houve remissão de todos os sintomas relacionados a patologia, em todos os pacientes submetidos a técnica cirúrgica. dIscussão Estenose de nasofaringe é uma patologia adquirida incomum, principalmente após tonsilectomia e UVFP1. Desde o surgimento do antibiótico as causas cirúrgicas têm ganhado destaque como causadoras de estenose1,3,6,9. Num passado mais remoto a sífilis foi a principal causadora de tal patologia, mas com o advento de seu tratamento e maior índice de diagnóstico em sua fase primária, a sífilis perdeu como principal causa da estenose de nasofaringe, dando lugar aos traumas cirúrgicos. Krespi e Kacker propuseram uma escala para graduação da gravidade da estenose de nasofaringe7. • Estenose tipo I ( leve) • Estenose tipo II ( moderada) • Estenose tipo II ( severa, com fusão total da parede posterior e lateral do palato, deixando uma abertura menor que 1 cm) –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 53-56, abril / maio / junho 2011 Proposta de Técnica cirúrgica para correção de estenose de nasofaringe. Diniz et al. Wang et al (2009) classificaram a estenose baseado no tempo de diagnóstico após o trauma inicial: • Tipo I - Diagnosticado com 3 meses e causados por radioterapia ou trauma. • Tipo II - Diagnosticado 3-6 meses após radioterapia/ trauma • Tipo II - Dignosticado 6 meses após radioterapia/trauma A patologia pode aparecer meses após adenoidectomia, UVFP ou radioterapia. Resulta da retirada excessiva de mucosa, ou por contratura excessiva da mesma durante a cicatrização. Alguns fatores que contribuem para fusão da parede anterior da faringe com a parede posterior do palato mole são: 1) Remoção excessiva de mucosa palatofaríngea 2) Medo de remover tecido na porção lateral da faringe ao curetar a adenoide 3) Revisões de UVFP 4) Uso inadvertido de eletrocautério para hemostasia, resultando em necrose da mucosa. 5) Queloide em cicatriz de cirurgia ou radioterapia 6) Infecção da ferida operatória. A UPFP é hoje a maior causa de estenose de nasofaringe nos dados de literatura. Foi introduzida nos EUA em 1981, como alternativa à traqueostomia no tratamento de apneia obstrutiva do sono grave25. Mais tarde a realização deste procedimento também ganhou notoriedade na resolução de roncos intensos. É um método eficiente no tratamento da apneia obstrutiva do sono, quando a indicação é pertinente. Não é ainda conhecida a real incidência de estenose como complicação de UPFP, pois os dados na literatura são subestimados, mas estima-se que a real taxa seja próximo a 1%24,25. Em 1993, a LAUP (Uvulopalatofaringoplastia a Laser) ganhou popularidade no tratamento dos roncos, bem como da apneia obstrutiva. É um procedimento efetivo e com um bom custo benefício, sendo ainda uma alternativa aos pacientes que têm alto risco anestésico, sendo realizada com anestesia local. Mas embora haja vantagens e benefícios na escolha deste procedimento, o mesmo apresenta maior risco de cicatrização estenosada, pois a mesma ocorre por segunda intenção3,4. Recentemente alguns estudos foram publicados descrevendo radioterapia para tratamento de carcinoma de nasofaringe como causador da patologia2,3,4,5,6.Outros casos raros na literatura compreendem rinoscleroma, lúpus, difteria e tuberculose. Pode haver confusão diagnóstica entre estenose de nasofaringe e atresia de coana. Por definição a atresia coanal possui um componente ósseo, é congênito, podendo ser parcial ou total. Estenose de nasofaringe compreende apenas tecidos de partes moles, e quase sempre é uma patologia adquirida. Os sintomas relatados pelos pacientes estão relacionados à obstrução nasal, disfagia, otalgia, voz anasalada, respiração oral, disfagia, hipoacusia (otite média), anosmia. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 53-56, abril / maio / junho 2011 Ao exame físico notamos alteração na coloração da mucosa nasal (torna-se azulada), com excessiva secreção hialina, típica de via aérea obstruída. Fluxo aéreo nasal na expiração pode estar diminuído ou até mesmo inexistente. A cicatriz que envolve o palato pode ser vista por ótica nasal flexível ou espelho em rinoscopia posterior. Conhecer a anatomia da nasofaringe é importante para entendimento da patologia e das técnicas descritas para sua correção. Trata-se de um espaço cuboide, cujo teto é formado pela base do crânio e seio esfenoide, anteriormente limitado pela coana e posteriormente pelo vômer. O assoalho e formado pela parte superior do palato mole e úvula. Nas paredes laterais encontramos os orifícios das tubas auditivas e fossetas de Rosenmuller. A parede posterior é formada pela extensão superior da parede posterior da faringe. Na linha média encontramos depósito de tecido linfoide, e a mucosa de revestimento é do tipo respiratória. O tratamento da patologia é um desafio para a medicina. Diversas técnicas cirúrgicas são descritas, mas a recorrência é alta. Muitas vezes o paciente é submetido a diversos procedimentos cirúrgicos, sem sucesso. Prevenção é ainda a melhor forma de lidar com estenose de nasofaringe, principalmente tendo cuidado em técnicas cirúrgicas que envolvem uso de eletrocautério. McLauglin et al relataram sucesso com uso tópico de triancinolona na área estenosada, mas o tratamento definitivo da patologia é cirúrgico9. A primeira descrição em literatura de tratamento desta patologia foi publicada por Nichols, em 1896 26. Tal técnica não foi muito bem tolerada pelo paciente, pois se tratava do uso de um anel metálico posicionado no ponto de maior estenose, com objetivo de dilatação progressiva. O incômodo causado pelo corpo estranho na nasofaringe impediu maior sucesso da técnica. Além disso, sempre há o risco de deslocamento da prótese, o que pode ser grave em caso de obstrução das vias aéreas. As técnicas mais aceitas e com maiores índices de sucesso são as que envolvem retalhos locais ou a distância. Em 1927 MacKenty descreveu uma técnica utilizando mucosa do palato e da faringe que eram cruzados e usados paralelamente a úvula para cobrir a área cruenta. A partir daí surgiram várias modificações destas técnicas com diferentes posicionamentos destes retalhos30. Mais recentemente o Laser de CO2 também passou a ser utilizado no tratamento de estenose de nasofaringe. São feitas incisões no palato mole de forma radial. Van Duine e Colleman publicaram sucesso em seis pacientes com o uso desta técnica. É um procedimento que pode ser realizado ambulatorialmente sobre anestesia local, mas os resultados em longo prazo não são realmente conhecidos, pois os pacientes foram acompanhados por um período de 12 meses apenas 4,6. Uma técnica descrita por Cotton em 1985 compreende a confecção de uma retalho de músculo e fascia retirado da região pré-vertebral. O limite inferior do re- –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 55 Proposta de Técnica cirúrgica para correção de estenose de nasofaringe. talho deve ser dissecado para trás o máximo possível. O retalho é posicionado cobrindo a área cruenta criada no local da estenose. Smith usou retalho miocutâneo de esternocleidomastóideo na reconstrução de estenose de nasofaringe 14. Outras técnicas, como aplicação de mitomicina na área estenosada foram descritas. Mais recentemente alguns autores como Ku et al in 2007 e Wang et al (2009) descreveram o uso de técnicas endoscópicas. As vantagens deste método é que ele oferece uma boa visão do campo operatório e permite a remoção precisa da placa estenótica sem danificar as estruturas vizinhas, reduzindo assim a incidência de reestenose3,4,5. O objetivo na comparação destas técnicas é avaliar as dificuldades na correção desta patologia. Existem poucos relatos na literatura descrevendo um método cirúrgico específico, o qual resultou em sucesso. Além disso, o seguimento dos pacientes raramente passa de seis meses, o que dificulta a avaliação da eficácia do procedimento em longo prazo5. Não há ainda um estudo randomizado comparando as técnicas descritas para determinar a eficácia de cada uma, e os resultados em longo prazo são baseados muitas vezes em relato do paciente, e não em dados objetivos5,6. E.W Stevenson publicaram em 1969, uma revisão na literatura de estenose de nasofaringe. Nesta revisão os autores descrevem e ilustram todos os relatos de técnica descritos até o momento na tentativa de correção da patologia. Nesta revisão há relatos de retalhos de locais diversos, uso de próteses e dilatadores29. É a única fonte encontrada na literatura que reúne e compara diversas técnicas cirúrgicas, o que corrobora o fato de haver poucos relatos na literatura. conclusão A incidência de estenose de nasofaringe é baixa, o que talvez dificulte o desenvolvimento de técnicas cirúrgicas eficazes na sua correção. É importante aos otorrinolaringologistas conhecer os métodos de correção desta patologia. O retalho apresentado neste trabalho é uma maneira eficaz e simples na correção de estenose de nasofaringe. referêncIas 1. Bonfils P, de Preobrajenski N, Florent A, et al. Choanal stenosis: a rare complication of radiotherapy for nasopharyngealcarcinoma. Cancer Radiother. May 2007;11(3):143-5. 2. Ku PK, Tong MC, Tsang SS, et al. Acquired posterior choanal stenosis and atresia: management of this unusual complication after radiotherapy for nasopharyngeal carcinoma. Am J Otolaryngol. Jul-Aug 2001;22(4):225-9. 3. Ku PK, Tong MC, van Hasselt A. Application of holmium yttrium aluminium garnet (YAG) laser in treatment of acquired posterior choanal atresia following radiotherapy for nasopharyngeal carcinoma. J Laryngol Otol. Feb 2007;121(2):138-42. 4. Shepard PM, Houser SM. Choanal stenosis: an unusual late complication of radiation therapy for nasopharyngeal carcinoma. Am J Rhinol. Jan-Feb 2005;19(1):105-8. 56 Diniz et al. 5. Wang QY, Wang SQ, Lin S, et al. Transnasal endoscopic repair of acquired posterior choanal stenosis and atresia. Chin Med J (Engl). Jun 20 2008;121(12):1101-4. 6. Krespi YP, Kacker A. Management of nasopharyngeal stenosis after uvulopalatoplasty. Otolaryngol Head Neck Surg. Dec 2000;123(6):6925. 7. Wang QY, Chai L, Wang SQ, Zhou SH, Lu YY. Repair of acquired posterior choanal stenosis and atresia by temperature-controlled radio frequency with the aid of an endoscope. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. May 2009;135(5):462-6. 8. McLaughlin KE, Jacobs IN, Todd NW, et al. Management of nasopharyngeal and oropharyngeal stenosis in children. Laryngoscope. Oct 1997;107(10):1322-31. 9. Brown OE, Pownell P, Manning SC. Choanal atresia: a new anatomic classification and clinical management applications. Laryngoscope. Jan 1996;106(1 Pt 1):97-101. 10. Morgan DW, Bailey CM. Current management of choanal atresia. Int J Pediatr Otorhinolaryngol. Mar 1990;19(1):1-13. 11. Toh E, Pearl AW, Genden EM, et al. Bivalved palatal transposition flaps for the correction of acquired nasopharyngeal stenosis. Am J Rhinol. May-Jun 2000;14(3):199-204. 12. Cotton RT. Nasopharyngeal stenosis. Arch Otolaryngol. Mar 1985;111(3):146-8. 13. Smith ME. Prevention and treatment of nasopharyngeal stenosis: Operative Techniques in Otolaryngology - Head and Neck Surgery. December 2005;16(4):242-247. 14. Jones LM, Guillory VL, Mair EA. Total nasopharyngeal stenosis: treatment with laser excision, nasopharyngeal obturators, and topical mitomycin-c. Otolaryngol Head Neck Surg. Nov 2005;133(5):795-8. 15. Madgy DN, Belenky W, Dunkley B, et al. A simple surgical technique using the plasma hook for correcting acquired nasopharyngeal stenosis. Laryngoscope. Feb 2005;115(2):370-2. 16. Eppley BL, Sadove AM, Hennon D, et al. Treatment of nasopharyngeal stenosis by prosthetic hollow stents: Clinical experience in eight patients. Cleft Palate Craniofac J. May 2006;43(3):374-8. 17. Giannoni C, Sulek M, Friedman EM, et al. Acquired nasopharyngeal stenosis: a warning and review. Arch Otolaryngol Head Neck Surg. Feb 1998;124(2):163-7. 18. Stepnick DW. Management of total nasopharyngeal stenosis following UPPP. Ear Nose Throat J. Jan 1993;72(1):86-90. 19. Fairbanks DN. Operative techniques of uvulopalatopharyngoplasty. Ear Nose Throat J. Nov 1999;78(11):846-50. 20. Hanson RD, Olsen KD, Rogers RS 3rd. Upper aerodigestive tract manifestations of cicatricial pemphigoid. Ann Otol Rhinol Laryngol. Sep-Oct 1988;97(5 Pt 1):493-9. 21. Johnson LB, Elluru RG, Myer CM 3rd. Complications of adenotonsillectomy. Laryngoscope. Aug 2002;112(8 Pt 2 Suppl 100):35-6. 22. Stevenson EW. Cicatricial stenosis of the nasopharynx. A comprehensive review. Laryngoscope. Dec 1969;79(12):2035 23. Van Duyne J, Coleman JA Jr. Treatment of nasopharyngeal inlet stenosis following uvulopalatopharyngoplasty with the CO2 laser. Laryngoscope. Sep 1995;105(9 Pt 1):914-8 24. Fujita S, Conway W, Zorick F, Roth T. Surgical correction of anatomic abnormalities in obstrutive sleep apnea syndrome: uvalopalatopharingoplasty. Otolaryngol Head Neck Surg 1981;89:923-934 25. Toh E, Pearl A, Genden EM, Lawson W and Urken M. Bivalved Palatal Transposition Flaps for the correction of Acquired Nasopharingeal Stenosi. Am J Rhinol 2000 May-Jun;14(3):199-204. 26. Nichols JEH. The sequelae of siphilis in the parynx and their tratment. Trans AM Laringol Assoc 18:161-168,189 27. MacKenty JE. Nasopharingeal atresia. Arch Otolaryngol 6:1227,192 28. Denny WR, and Wilson CP. Naso-pharyngeal Stenosis. J Laryngol Otol 1957;71:645654. 29. Stevenson EW. Cicatricial stenosis of the nasopharynx. Laringoscope 1969;12:2035-2067. 30. Mankenkar G. Nasopharingeal Stenosis: Treatment Otorrinolaringology and facial plastic surgery, March 2010 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 53-56, abril / maio / junho 2011 Artigo Original Perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço que evoluiram a óbito antes do tratamento Epidemiologic profile of head and neck cancer patiens who died before treatment RESUMO Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi 1 Benedito Valdecir de Oliveira 2 Juliana Corrêa Dallagnol 3 Regina Célia Anastácio da Silva 4 Dinarte Orlandi 5 SUMMARy Introdução: O câncer de cabeça e pescoço é o quinto câncer mais comum no mundo. Apesar dos importantes avanços no diagnóstico e tratamento, um pequeno aumento na sobrevida em 5 anos foi observado nas últimas décadas. Objetivo: Analisar a epidemiologia dos pacientes com câncer da cabeça e pescoço, atendidos no Hospital Erasto Gaertner, que foram a óbito antes de receber tratamento. Método: Revisão de dados epidemiológicos de 164 pacientes, admitidos entre janeiro de 2001 e dezembro de 2006. Resultados: A idade média foi de 61,6 anos e a localização mais comum foi à orofaringe, em 36,6%. 83% dos pacientes apresentavam Estádio Clínico IV, e o emagrecimento foi observado em 76,6% dos pacientes. 38,4% dos pacientes eram Zubrod 2, 16,5% Zubrod 3 e 7,3% com Zubrod 4. O tempo médio entre a primeira consulta e o óbito foi de 68,7 dias. Conclusão: O estádio clínico avançado e o atraso no reconhecimento dos sintomas e na procura da assistência médica parecem ser fatores determinantes dos óbitos dos pacientes estudados. Introduction: Head and neck cancer is the fifth most common cancer worldwide. Despite recent advances in the diagnosis and treatment of head and neck cancer, a little improvement in 5-year survival rates was observed in last decades. Purpose: Evaluate the epidemiology of head and neck cancer patients who died before receiving treatment. Method: Epidemiologic data review of 164 patients with head and neck cancer, admitted between January 2001 and December 2006, that died before receiving treatment at Hospital Erasto Gaertner. Results: The average age was 61,6 years and the most common anatomic site was the oropharynx in 36,6%. 83% of patients where in clinical stage IV and 76,6% had lost of weight. 38,4% of patients where classified as Zubrod (Z) II, 16,5% Zubrod III and 7,3% Zubrod IV. Median time from the first medical visit to death was 68,7 days. Conclusion: Advanced clinical stage, late symptoms recognition and late medical assistance seams to be determining factors of our patient’s deaths. Palavras-chave: Epidemiologia. Mortalidade. Neoplasia de cabeça e pescoço. Keywords: epidemiology. Mortality. Head and neck neoplasm. Introdução O câncer de cabeça e pescoço é o quinto câncer mais comum no mundo. Estima-se que sejam diagnosticados 644.000 casos novos por ano, dos quais dois terços ocorrem nos países em desenvolvimento1. No Brasil, a incidência da doença ultrapassa 20 por 100.000 habitantes e é mais comum em homens2. No período de janeiro de 2005 a dezembro de 2008, foram admitidos no Registro Hospitalar de Câncer do Hospital Erasto Gaertner (HEG) 8.767 casos de neoplasias malignas que foram considerados elegíveis para o Registro Hospital de Câncer (RHC). Destes, 8,5% (741 casos) eram portadores de neoplasia de cabeça e pescoço3. A maioria dos pacientes portadores neoplasias malignas da cabeça e pescoço apresenta carcinoma epidermoide, com doença avançada ao diagnóstico4,5. Apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento destes tumores, a sobrevida em cinco anos permanece baixa ao longo das últimas décadas6. O prognóstico sombrio deve-se ao diagnóstico tardio, que ocorre em aproximadamente 60% dos pacientes5. A presença de comorbidades, o emagrecimento, o estádio clínico e o estado geral do pa- 1) Mestre (Oncologia - USP). Médica do Serviço de Cirurgia da Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner. 2) Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça do Hospital Erasto Gaertner. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça do Hospital Erasto Gaertner. 3) Médica Residente do Programa de Cancerologia Cirúrgica do HEG. 4) Chefe do Registro Hospitalar de Câncer do HEG. 5) Estatístico do Registro Hospitalar de Câncer do HEG. Instituição: Registro Hospitalar de Câncer do Hospital Erasto Gaertner (HEG). Curitiba / PR – Brasil. Correspondência: Paola Andrea Galbiatti Pedruzzi - Rua Dr. Ovande do Amaral 201 - Curitiba / PR - Brasil - CEP: 81520-060 - Telefone: (+55 41) 3361-5237 - E-mail: [email protected] Recebido em 02/04/2011; aceito para publicação em 23/04/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 57-60, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 57 Perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço que evoluiram a óbito antes do tratamento. ciente são fatores prognósticos clínicos conhecidos nos pacientes com câncer de cabeça e pescoço7. Este estudo tem por objetivo avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço do Hospital Erasto Gaertner que foram a óbito antes do tratamento. Método O projeto desta pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner. Entre janeiro de 2001 e dezembro de 2006, 255 pacientes admitidos no Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HEG foram a óbito antes de iniciar o tratamento. Foram elegíveis para o estudo 164 casos, sendo excluídos os casos de melanoma, linfoma, tumores de origem oftalmológica ou neurocirúrgica, além dos pacientes que receberam qualquer tratamento fora da Instituição. Os dados analisados foram: idade, gênero, profissão, escolaridade, renda (em quantidade de salários mínimos), tempo entre o início dos sintomas e as consultas na Unidade Básica de Saúde e no Hospital, tempo entre a consulta na Unidade de Saúde e a consulta no Hospital, performance status, queixa principal, tempo de início dos sintomas, fatores de risco (etilismo e tabagismo), emagrecimento, topografia, morfologia, estadiamento, comorbidades, tempo entre a primeira consulta no HEG e o óbito e a causa do óbito. O performance status foi avaliado segundo o índice de Zubrod sendo 0 o paciente assintomático, 1 sintomático, porém completamente ativo, 2 sintomático <50% do tempo na cama durante o dia, 3 sintomático > 50% do tempo na cama, porém não restrito ao leito, 4 paciente restrito ao leito. O emagrecimento foi considerado significativo quando representava mais de 10% do peso corporal. O paciente foi estadiado de acordo com a classificação da American Joint Committee on Cancer (AJCC) . resultados A média de idade dos pacientes foi de 61,6 anos, variando de 34 a 95 anos. Quanto ao gênero, 89,6% (147) eram homens e 10,4% (17) mulheres. A maioria dos pacientes (59 casos, 36%) era trabalhador rural. O nível de escolaridade era baixo, com maioria de analfabetos (26 casos, 15,8%) ou com ensino fundamental incompleto (118 casos, 71,9%). A renda pessoal de 81 pacientes (49,4%) era menor que 2 salários mínimos e 64 pacientes (39,0%) relataram não ter renda alguma. A Tabela 1 ilustra os dados demográficos dos pacientes estudados. A queixa principal mais comum foi à presença de massa cervical, em 73 (24,3%) casos, seguida de disfagia (67 pacientes, 22,3%), odinofagia (46 pacientes, 15,3%), disfonia (44 pacientes, 14,6%), lesão na boca (37 pacientes, 12,4%), dor (10 pacientes, 3,3%) e outras (16,6%). O tempo médio entre o início dos sintomas e o atendimento na Unidade Básica de Saúde foi de 8,3 meses, 58 58 Pedruzzi et al. Tabela 1. Dados demográficos da população em estudo N Sexo Feminino Masculino Profissão Lavrador Pedreiro Do lar Comerciante Motorista Outros Escolaridade Analfabeto Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo Ensino médio incompleto Ensino médio completo Superior completo Renda Sem renda Menos de 1 SM De 1 a 2 SM De 2 a 4 SM Não informou % 17 147 10,37 89,63 59 12 11 10 13 59 35,98 7,32 6,71 6,10 7,93 35,98 26 118 13 2 4 1 15,85 71,95 7,93 1,22 2,44 0,61 64 44 37 15 4 39,02 26,83 22,56 9,15 2,44 Legenda: SM (salário mínimo). variando de 15 dias a 96 meses. O tempo médio entre o início dos sintomas e o atendimento no Hospital Erasto Gaertner foi de 8,7 meses, variando de 15 dias a 101meses. O tempo médio entre a primeira consulta na Unidade básica de Saúde e a primeira consulta no HEG foi de 17,48 dias, variando de 1 a 138 dias. Quanto aos fatores de risco, 15 pacientes (9,1%) negaram tabagismo e etilismo, 111 pacientes (67,7%) eram etilistas e tabagistas, 32 pacientes (19,5%) referiam apenas tabagismo e 6 pacientes (3,7%) referiam somente etilismo. O emagrecimento foi observado em 119 casos (76,6%). Nenhuma comorbidade foi encontrada em 91 pacientes (55,5%). As comorbidades mais frequentes foram: doença pulmonar obstrutiva crônica (30 pacientes, 18,3%), hipertensão arterial sistêmica (23 pacientes, 14,0%), cardiopatia (10 pacientes, 6,1%), diabetes melittus (4 pacientes, 2,4%), acidente vascular encefálico (3 pacientes, 1,8%) e hepatopatia (3 pacientes, 1,8%). Quanto à topografia, a orofaringe foi o local mais acometido com 60 pacientes (36,6%), seguida da hipofaringe (43 pacientes, 26,2%), laringe (23 pacientes, 14,0%), boca (22 pacientes, 13,4%), nasofaringe (5 pacientes, 3,0%), lábio (4 pacientes, 2,4%), tireoide (4 pacientes, 2,4%), parótida (2 pacientes, 1,2%) e maxila (1 paciente, 0,6%) (Figura 1). O Índice de Zubrod foi: 2 pacientes (1,2%) Zubrod 0, 60 pacientes (36,6%) Zubrod 1, 63 pacientes (38,4%) Zubrod 2, 27 pacientes (16,5%) Zubrod 3 e 12 pacientes (7,3%) Zubrod 4. A morfologia mais comum foi o carcinoma epidermoide em 150 casos (91,5%) seguido de carcinoma pouco –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 57-60, abril / maio / junho 2011 Perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço que evoluiram a óbito antes do tratamento. Não vieram as figuras Pedruzzi et al. Não vieram as figuras Figura 1. Distribuição por topografia. Figura 2. Distribuição de acordo com estádio clínico (EC) e Índice de Zubrod (Z). diferenciado em 8 casos (4,9%), adenocarcinoma em 2 casos (1,2%), carcinoma anaplásico da tireoide em 2 casos (1,2%), 1 paciente com carcinoma medular da tireoide (0,6%) e 1 caso com carcinoma folicular da tireoide (0,6%). Em relação ao estadiamento T, 102 pacientes (62,2%) eram T4, 43 (26,2%) T3, 14 (8,5%) T2 e 5 (3%) T1. Em relação ao estádio N, a amostra dividia-se da seguinte maneira: 36 pacientes (22%) eram N0, 29 pacientes (17,7%) N1, 46 (28%) N2 e 53 (32,3%) N3. Em 8 pacientes (4,9%) os exames iniciais evidenciaram metástases à distância (M1) e o restante (156 pacientes, 95,1%) não apresentavam metástases (M0). Quanto ao estádio clínico (EC), observamos: EC IVa em 46,9% (77 casos), EC IVb em 31,1% (51 casos), EC III em 11,6% (19 casos), EC IVc em 4,9% (8 casos), EC II em 3,7% (6 casos) e EC I em 1,8% (3 casos). Entre os pacientes em EC I, um paciente de 85 anos apresentava Zubrod IV, 1 paciente de 75 anos faleceu de causa natural e apresentava história de hipertensão arterial sistêmica e AVE e outro paciente de 68 anos faleceu por causa desconhecida não relacionada ao câncer. A distribuição dos pacientes de acordo com o estadiamento clínico e o Índicede Zubrod está ilustrada na Figura 2. Do total de pacientes estudados, 70 (42,7%) necessitaram de algum procedimento cirúrgico para diagnóstico e/ou paliação de sintomas. Destes, 27 pacientes (16,5%) necessitaram de traqueostomia, 15 (9,1%) foram submetidos a gastrostomia ou jejunostomia e 28 (17,1%) necessitaram de laringoscopia direta com sedação para diagnóstico. O tempo médio entre a admissão no HEG e o óbito foi de 68,7 dias, variando de 1 a 385 dias. A causa imediata mais comum do óbito foi a caquexia, indicada em 47,6% das declarações de óbito (78 casos), seguida da insuficiência respiratória em 30 casos (18,3%) e de causa desconhecida não relacionada à neoplasia em 24 casos (14,6%). Em 140 (85,4%) declarações de óbito, a causa imediato do óbito estava relacionada ao câncer. dIscussão Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 57-60, abril / maio / junho 2011 O Hospital Erasto Gaertner é uma instituição filantrópica de referência no atendimento oncológico no Estado do Paraná. No período estudado, 84,7% a 89,3% de pacientes eram provenientes do Sistema Único de Saúde8. Os tumores de cabeça e pescoço pela expressiva incidência e mortalidade, assim como alta letalidade, constituem-se uma relevante preocupação para a saúde no mundo, particularmente nos países em desenvolvimento9. (Andreotti M, Rodrigues NA, Eluf-Neto J et al. Ocupação e câncer da cavidade oral e orofaringe. Cad. Saúde Pública 2006; 22(3):543-552). Conforme esperado, 91,5% dos tumores deste estudo eram carcinomas epidermoides, fato já amplamente descrito na literatura1-4,11 e intimamente relacionado a fatores de risco como tabagismo e etilismo. Estima-se que o uso de álcool e tabaco seja responsável por aproximadamente 80% dos casos de câncer de cabeça e pescoço12. Apenas 5 a 30% dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço são não fumantes13. Dentre os pacientes deste estudo, apenas 9,1% não era tabagistas ou etilistas e 67,7% da amostra acumulava os dois fatores de risco. Warnakulasuriya S, em artigo de meta-análise, demonstrou que, quanto aos fatores sócio-econômicos, o risco relativo para câncer de cabeça e pescoço foi de 1,85 para indivíduos com baixa escolaridade e 2,41 para baixa renda e que esta diferença persistiu mesmo após ajuste para fatores de risco e condições e hábitos de vida, tais como etilistmo, tabagismo e higiene oral14. Os dados demográficos da população deste estudo mostram a predominância de pacientes com baixo nível de escolaridade e baixa renda. Estes dados não podem ser diretamente relacionados ao óbito ocorrido antes do início do tratamento, uma vez que a população à qual o HEG atende é essencialmente de baixa renda o que pode trazer um viés de comparação. Nos resultados deste estudo, observa-se que o tempo médio para encaminhamento ao HEG após a primei- –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 59 Perfil epidemiológico dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço que evoluiram a óbito antes do tratamento. 60 60 to de medidas preventivas e educacionais na prevenção destes óbitos. referêncIas 1. Marur S, Forastiere AA. Head and neck cancer: changing epidemiology, diagnosis, and treatment. Mayo Clin Proc 2008 Apr;83(4):489-501. 2. Stenson, KM, Brockstein, BE, Lerner R, editors. Epidemiology and risk factors for head and neck cancer. [last literature review: 5 may, 2009]. Disponível em < UpToDate - www.uptodate.com > 3. Registro de câncer do HEG 4. Argiris A, Karamouzis MV, Raben D, Ferris RL. Head and neck câncer. Lancet 2008 May;371(9625):1695-709. 5. Gama RR. Tumores da Cabeça e do Pescoço. In: Simões JC, Gama RR, Winheski MR. Câncer Estadiamento & Tratamento. 1ª. Edição. São Paulo: Lemar; 2008. p. 84. 6. Carvalho AL, Nishimoto IN, Califano JA, Kowalski LP. Trends in incidence and prognosis for head and neck cancer in the United States: a site-specific analysis of the SEER database. Int J Cancer 2005 May;114(5):806-16. 7. Pedruzzi, PAG, Kowalski LP, Nishimoto IN et al. Analysis of prognostic factors in patients with oropharyngeal squamous cell carcinoma treated with radiotherapy alone or in combination with systemic chemotherapy. Archives of Otolaryngology, Head & Neck Surgery 2008;134:1196-1204. 8. Hospital Erasto Gaertner [Internet]. Curitiba. Disponível em < http:// www.erastogaertner.com.br/admin/download/files/pdf/abifcc_dados_2009.pdf >. 9. Governo do Paraná [Internet]. Curitiba. Disponível em < http://www. cidadao.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=73 >. 10. Agência de Notícias do Estado do Paraná [Internet]. Curitiba. Disponível em < http://www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article. php?storyid=33005 >. 11. Sturgis EM, Wei Q, Spitz MR. Descriptive epidemiology and risk factors for head and neck cancer. Semin Oncol. 2004 Dec;31(6):726733. 12. Sankaranarayanan R, Masuyer E, Swaminathan R, Ferlay J, Whelan S. Head and neck cancer: a global perspective on epidemiology and prognosis. Anticancer Res. 1998 Nov-Dec;18(6B):4779-86. 13. Hashibe M, Brennan P, Benhamou S, Castellsague X, Chen C, Curado MP, et al. Alcohol drinking in never users of tobacco, cigarette smoking in never drinkers, and the risk of head and neck cancer: pooled analysis in the international head and neck cancer epidemiology consortium. J Natl Cancer Inst 2007 May;99:777-89. 14. Warnakulasuriya S. Significant oral cancer risk associated with low socioeconomic status. Evid Based Dent 2009 Jun; 10(1):4-5. 15. Kowalski 16. Lung T, Tascau OC, Almasan HA, Muresan O. Head and neck cancer, epidemiology and histological aspects – part 1: a decade´s results. J Craniomaxillofac Surg 2007 Mar;35(2):120-5. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 57-60, abril / maio / junho 2011 Falta referência 15 ra consulta em UBS é relativamente curto (28,35 dias) provavelmente com pouca implicação na evolução da doença. Aqui entra a referência do Dr. Kowalski15. É notório, porém, que as queixas principais e o tempo de início dos sintomas indicam um longo tempo de evolução do câncer (8,3 meses), com sintomas de massa cervical, disfagia, odinofagia A sintomatologia pode ser utilizada como fator prognóstico, pois indica a extensão da doença7. Outros fatores prognósticos clínicos observados no estudo foram: emagrecimento em 76,6% dos casos e Índice de Zubrod baixo 3 e 4, em 23,8% da amostra. Todos estes fatores estão, muito provavelmente, relacionados ao baixo nível de instrução dos pacientes, levando a um atraso na percepção de “estar doente” e, por consequência, atraso na procura de assistência médica, retardo no diagnóstico e diminuição das possibilidades terapêuticas, levando ao óbito sem receber tratamento. Estes dados não podem ser confirmados neste trabalho, uma vez que não temos número suficiente de pacientes com elevado nível de instrução para comparação. Neste estudo, chama a atenção a grande porcentagem de pacientes com estádio clínico avançado (83%), fato provavelmente relacionado aos óbitos sem que houvesse tempo para início do tratamento. O diagnóstico tardio das neoplasias da cabeça e pescoço está relacionado ao prognóstico ruim e este fato já foi amplamente relatado na literatura4,5,16. Nos pacientes estudados, o tempo médio entre o primeiro atendimento e o óbito foi de 68,7 dias, não permitindo o início do tratamento neste período. O baixo nível de instrução, o estádio clínico avançado, o emagrecimento o baixo performance status ao diagnóstico parecem ser os fatores mais importantes na determinação do prognóstico dos pacientes do estudo. O atraso no reconhecimento dos sintomas e na procura da assistência médica e, consequentemente, no início do tratamento parecem ser os fatores determinantes dos óbitos dos pacientes estudados. Mais estudos são necessários para avaliação das causas de óbitos sem tratamento nos pacientes com câncer de cabeça e pescoço e do impac- Pedruzzi et al. Artigo Original Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço duas abordagens distintas Pulmonary optimization in candidates for surgery due head and neck neoplasms - two distintc approaaches RESUMO SUMMARy Introdução: A abordagem fisioterapêutica respiratória nos pacientes com neoplasia de cabeça e pescoço deve iniciar-se no pré-operatório, através de avaliação da função respiratória e reabilitação respiratória quando indicado. Objetivo: Comparar uma nova proposta de protocolo de atendimento em fisioterapia respiratória pré-operatória em pacientes candidatos à cirurgia para ressecção de neoplasia de cabeça e pescoço (CP), elaborada pelo Serviço de Fisioterapia do Hospital Erasto Gaertner, com uma rotina já publicada pelo mesmo serviço. Método: Foram incluídos candidatos a cirurgia por neoplasia de CP, no período de janeiro a dezembro de 2008, de ambos os gêneros, sem limite de idade. Foram coletados dados da Prova de Função Pulmonar, mensuração, da pressão inspiratória máxima (Pimax), das forças musculares diafragmática (FMD) e intercostais (FMI), tempos respiratórios e determinação do índice de performance Karnofsky. Os pacientes foram randomizados em dois grupos. O G1 recebeu tratamento fisioterapêutico respiratório com protocolo já publicado, e o G2 com o proposto neste estudo. Foram submetidos a 10 sessões de fisioterapia e reavaliados posteriormente. Conclusão: A amostra foi constituída de 10 pacientes no G1 e 11 no G2. Nos valores da PFP observou-se melhora em todas as variáveis, em ambos os grupos e diferença estatisticamente significativas na Pimax. Em relação ao tempo inspiratório e expiratório somente o G2 apresentou diferença significativa no pré e pós-tratamento. No entanto, levando-se em conta as forças musculares o G1 apresentou diferença significativa em todos as variáveis e o G2 não apresentou diferença significativa na FMI superiores. Em ambos os grupos houve diferença significativa no índice de Karnofsky. Palavras-chave: Fisioterapia (Especialidade); Respiratórios; Neoplasias de Cabeça e Pescoço. Juliana Carvalho Schleder 1 Letícia de Souza Pereira 2 Marcielli Nascimento da Silva 3 Woldir Wosiacki Filho 4 César Costa 5 Benedito Valdecir de Oliveira 6 Thatiana Moreira de Paiva 7 Introduction: The approach to respiratory physiotherapy in patients with head and neck cancer should begin preoperatively by evaluation of respiratory function and respiratory rehabilitation when indicated. Objective: To compare a new proposal for a protocol of care in respiratory therapy in the preoperative surgery candidates for resection of tumors of head and neck (CP) developed by the Physiotherapy Service Gaertner Hospital, with one already published by the same routine service. Method: The study included candidates for surgery for cancer of lung cancer in the period January to December 2008, of both genders, irrespective of age. Data were collected from Pulmonary Function Test, measurement, maximal inspiratory pressure (MIP) of the muscular diaphragm (FMD) and intercostal (IMF), stroke and respiratory determination of Karnofsky performance index. Patients were randomized into two groups. G1 received respiratory physical therapy protocol with already published, and G2 as proposed in this study. Underwent 10 physiotherapy sessions and reassessed later. Conclusion: The sample consisted of 10 patients in G1 and 11 G2. The values of PFP showed improvements in all variables in both groups and no statistically significant difference in MIP. In relation to expiratory time only 2 showed significant difference in pre-and post-treatment. However, taking into account muscle forces G1 showed significant differences in all variables and G2 showed no significant difference in the IMF above. In both groups there was significant difference in the Karnofsky index. Keywords: Physical Therapy (Specialty); Breathing Exercises; Head and Neck Neoplasm’s. Exercícios 1) Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Oncológica, Mestre em Tecnologia em Saúde pela Pontifícia Universidade Católica - Paraná (Fisioterapeuta) 2) Especialista em Fisioterapia Oncológica pelo Hospital Erasto Gaertner, Curitiba// PR. (Fisioterapeuta) 3) Especialista em Fisioterapia Oncológica pelo Hospital Erasto Gaertner, Curitiba/PR, Fisioterapeuta do Hospital Erasto Gaertner, Curitiba / PR. (Fisioterapeuta) 4) Mestre em Engenharia de Produção, Preceptor Residência de Fisioterapia Oncológica Hospital Erasto Gaertner, Professor Adjunto da Universidade Tuiutí do Paraná - UTP. (Fisioterapeuta) 5) Chefe do Serviço de Fisioterapia Hospital Erasto Gaertner. (Fisioterapeuta) 6) Cirurgião de Cabeça e Pescoço, Chefe do Serviço de Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner (Médico) 7) Especialista em Fisioterapia Oncológica pelo Hospital Erasto Gaertner, Curitiba / PR. (Fisioterapeuta) Instituição: Setor de Fisioterapia do Hospital Erasto Gaertner - Liga Paranaense de Combate ao Câncer do Paraná. Curitiba / PR – Brasil. Correspondência: Liga Paranaense de Combate ao Câncer - Hospital Erasto Gaertner - Fisioterapia - Rua Dr. Ovande do Amaral, 201 - Jardim das Américas - Curitiba / PR – Brasil – CEP: 81520-060. Recebido em 18/04/2011; aceito para publicação em 23/04/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 61-65, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 61 Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço - duas abordagens distintas. Introdução O tabaco, isolado ou associado ao álcool, permanece como a maior causa de câncer, sendo responsável por aproximadamente um em três casos de câncer1. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima-se que ocorrerão no Brasil em 2010, 489.270novos casos de câncer, sendo que 10.630 somente na de cavidade oral, sendo 7.890 somente no sexo masculino2. A cirurgia, a radioterapia e a quimioterapia são as formas terapêuticas disponíveis para as neoplasias de cabeça e pescoço. A combinação, a ordem das mesmas depende de vários fatores como estágio clinico, localização anatômica, tamanho do tumor, histologia e dados do paciente como: idade, condição geral e outros3. Um pré-operatório adequado, associado a um planejamento cirúrgico e um eficiente acompanhamento pósoperatório constitui a melhor garantia no êxito de toda intervenção4. Portanto, para o sucesso do tratamento do câncer de cabeça e pescoço, o trabalho da equipe multidisciplinar é fundamental5. A abordagem fisioterapêutica deve iniciar no préoperatório através de avaliação da função respiratória e motora, orientações e informações ao paciente das repercussões no âmbito da fisioterapia da conduta cirúrgica6. Na avaliação respiratória pré-operatória, a prova de função pulmonar pode ser fundamental para se avaliar a condição pulmonar do paciente e identificar a presença de doenças pulmonares associadas causadas principalmente pelo tabagismo7 e, quando necessário, deve-se haver um preparo pneumo-funcional, visando a higienização do pulmão e o treino da musculatura respiratória minimizando, as alterações funcionais da musculatura respiratória causada pela limitação ao fluxo aéreo crônico nos pacientes8. Nos casos de preparo pré-operatório, uma segunda prova de função normalmente é aplica após a intervenção, para se parametrizar os recursos terapêuticos utilizados9. Todavia, nos casos em que não for possível a realização da prova de função pulmonar, uma avaliação subjetiva respiratória deverá ser realizada para ser detectar possíveis alterações respiratórias, caso isso ocorra, o paciente, deverá ser da mesma forma, encaminhado para preparo pneumo-funcional pré-operatório6. O objetivo dessa pesquisa foi comparar uma nova proposta de rotina fisioterapêutica de preparo pneumofuncional pré-operatório de cirurgia para ressecção de neoplasia de cabeça e pescoço, elaborada pelo Serviço de Fisioterapia do Hospital Erasto Gaertner, com uma rotina já publicada pelo mesmo serviço. Método Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Erasto Gaertner, foram levantados neste estudo prospectivo, descritivo, pacientes encaminhados do Ser62 Schleder et al. viço de Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner, candidatos à cirurgia, devido neoplasia, no período de janeiro a dezembro de 2008, de ambos os gêneros, sem limite de idade. Foram excluídos da amostra, os pacientes que não compreenderam os comandos verbais para realização da avaliação fisioterapêutica respiratória, bem como os indivíduos que não foram capazes de responder ao índice de performance de Karnofsky, e aqueles apresentaram incapacidade, devido quaisquer razões, de realizar a rotina fisioterapêutica pré-operatória proposta. Após ciência e aceitação do termo de consentimento livre esclarecido, respeitando a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, os pacientes foram então submetidos à avaliação fisioterapêutica, realizado sempre pelo mesmo profissional treinado para a pesquisa. Inicialmente era realizada a prova de função pulmonar espirométrica, através do sistema computadorizado Master Screen – Erich Jaegger, com o paciente com um clip nasal, sentado, segurando o tubo corrugado conectado ao sistema com a mão esquerda. O profissional, através de três comandos, orienta o paciente a realizar respiração oral através do tubo, para obtenção dos valores da capacidade vital forçada, volume expiratório forçado no primeiro segundo, índice de tiffeneau, ventilação voluntária máxima e fluxo expiratório forçado médio10. Posteriormente, era aferida a pressão inspiratória máxima (Pimax), para tal foi utilizado um manovacuômetro com variações de 0 a -120, modelo M120, da marca Comercial Médica. O paciente era orientado a permanecer sentado, realizar uma expiração lenta até o volume residual e então realizar uma inspiração máxima, sustentando por três segundos. Com o propósito de tornar os resultados mais fidedignos, foram realizas três mensurações e apenas o valor maior foi escolhido para representar os dados11. Para avaliação das forças musculares, diafragmática e intercostal, foi utilizado o método descrito por Cuello (1980), no qual se gradua a força muscular diafragmática palpando-se o músculo região logo abaixo do gradil costal e ângulo do Sharpi, graduando “0” se houvesse movimento paradoxal, “I” se houvesse apenas consistência muscular, “II” na presença de consistência e expansão da caixa torácica e “III” na presença dos dados do grau II com expulsão dos dedos do examinador. Para graduação dos músculos intercostais, tanto superiores quanto inferiores, eram palpados os espaços intercostais recebendo a mesma graduação da força diafragmática12. Para mensuração do tempo inspiratório (Ti), tempo expiratório (Te) e o tempo total (Ttot), foi utilizado um cronômetro digital da marca Technos. O paciente era orientado a fixar o olhar em um determinado objeto, sem saber que seria realizada a mensuração da respiração para evitar dados irreais, e então era cronometrado o Ti e Te durante três ciclos. Foi então, realizada a média de cada momento da ventilação, sendo coletado o valor dessas médias. A partir desses valores foi obtido o valor do Ttot, através da soma do Ti e do Te. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 61-65, abril / maio / junho 2011 Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço - duas abordagens distintas. E por último foi aplicado o índice de performance Karnofsky, com a função de avaliar o grau de independência e nível de atividade dos indivíduos numa graduação porcentual de 0 a 100, sendo 100 o nível normal de atividade e independência. Os dados dos pacientes como, número do prontuário, idade, sexo, tabagismo, topografia tumoral, tipo histológico, estadiamento, avaliação nutricional, resultados a avaliação fisioterapêutica respiratória, e o índice de Karnofsky foram anotados em uma ficha elaborada pelos próprios pesquisadores. Para a assistência fisioterapêutica os pacientes foram randomizados em dois grupos. Para o grupo 1 (G1) foi aplicada uma intervenção fisioterapêutica (IF) pré-operatória com padrão muscular ventilatório (PMV) de 1:1 associado a inaloterapia por impactação com solução fisiológica de cloreto de sódio a 0.9%, e treino muscular ventilatório através de um resistor linear de fluxo, Threshould IMT que oferece constante e específica carga de pressão inspiratória indiferente da velocidade. Através do uso de uma válvula (spring load) impõe uma força de trabalho aos músculos inspiratórios durante a inspiração. A válvula bloqueia o fluxo aéreo até que uma suficiente pressão de “disparo” seja produzida para superar a pressão da válvula. Possui ajustes de pressões variando de 7-41cmH2O. Já no grupo 2 (G2) além PMV e resistor linear de fluxo foi submetido também ao treino de expiração lenta com a glote aberta com o uso de cânula plástica em cavidade oral, descrita por Carvalho (2001)13. A assistência fisioterapêutica consistiu em dez sessões consecutivas, completadas essas sessões, os pacientes foram novamente submetidos os mesmos procedimentos de avaliação respiratória pré-tratamento. A análise estatística dos resultados foi feita através de análise descritiva através de média, desvio padrão e mínimo e máximo, aplicação do teste de Wilcoxon para dados pareados, identificar a significância entre o pré e o pós-tratamento fisioterapêutico e o teste de MannWhitney para verificação da diferencia entre os grupos. resultados Foram avaliados 24 pacientes, dos quais 3 foram excluídos por não conseguirem os comandos para realização da prova de função pulmonar espirométrica, restando 10 no G1 e 11 no G2. A média de idade foi de 63,71 (±11,36) anos sendo a mínima de 39 e a máxima de 80 anos. Dezoito pacientes eram do sexo masculino (81,82%) e apenas 4 era do sexo feminino (18,18%). Todos os pacientes relataram ser tabagistas. Quanto à topografia do tumor 42,86% eram de orofaringe, sendo que o restante foram laringe (23,82%), lábio (4,76%), cavidade nasal (4,76%), Cisto cervical (19,04%) e glândula sub-mandibular (4,76%). Histologicamente 71,43% foram diagnosticados como carcinoma espino-celular (CEC). Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 61-65, abril / maio / junho 2011 Schleder et al. A Tabela 1 demonstra a média dos valores, obtidos a partir da porcentagem prevista, encontrados na da prova de função pulmonar antes e após o tratamento. Obtevese melhoras em todos os valores, tanto no G1 quanto no G2. A Tabela 2 representa os valores de Pimax encontrada entre os pacientes analisados, indicando que houve diferença estatisticamente significativa em ambos os grupos. Em relação às forças musculares, no G1, a força diafragmática obteve 1,40 (±0,51) de média no pré-tratamento, e 2,50 (±0,53) no pós tratamento, sendo o valor de p=0,002; na força muscular de intercostal (FMI) superior esquerdo (SE) e superior direito (SD) a média antes do tratamento era de 1,10 (±0,32) e depois ficou com uma média de 1,70 (±0,48) em ambos, obtendo um p=0,014; e na FMI inferior esquerdo (IE) e inferior direito (ID), inicialmente a média era de 1,70 (±0,48) e posteriormente ficou com 2,50 (±0,53), com um valor de p=0,011; ou seja, todos os parâmetros apresentaram diferença estatisticamente significativa. Já no G2, considerando-se as médias da FMD, no pré-tratamento o valor foi de 1,82 (±0,75), e no pós 2,73 (±0,47), com um valor de p=0,008; em se tratando da FMI SE e SD que no prétratamento apresentava uma média de 1,73(±0,79) e depois ficou com uma média de 2,09 (±0,70) em ambos o p=0,102 e, finalmente, nas FMI IE e ID nas quais a média antes era de 1,91 (±0,54) e depois era de 2,64 (±0,67), com o valor de p=0,011 em ambas, afirmando que não houve diferença significativa apenas na FMI superiores. A Tabela 3 e 4 mostra os valores encontrados para o tempo inspiratório (Tinsp) e tempo expiratorio (Texp) antes e após o tratamento nos grupos 1 e 2. No G1 o Ttot antes do tratamento tinha uma média de 3,30 (±0,92) passando a ser 4,09 (±2,70) depois do tratamento, com um p= 0,283, afirmando que não houve diferença estatística e do G2 a média do Ttot antes era Tabela 1. Média dos valores da prova de função pulmonar espirométrica CVF FEV1 FEV%FVC VVM FEF25-75% G1-Pré G1-Pós G2-Pré G2-Pós 71,8 57,4 78,2 54,7 39,7 73,2 62,2 84,6 56,4 47,2 76,9 69 89,1 60,5 51,1 81,8 72,6 88,3 65,3 60,1 Tabela 2. Valores da mensuração da pressão inspiratória máxima no pré e pós-tratamento Pressão Inspiratória Máxima G1 G2 Pré-tratamento Pós-tratamento Valor p 13,70 (±3,20) 11,82 (±3,37) 21,00 (±5,16) 21,36 (±9,24) 0,004 0,007 Os dados são expressos como média ± desvio-padrão, * significância estatística (p< 0,05), utilizando-se o teste estatístico de Wilcoxon. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 63 Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço - duas abordagens distintas. Tabela 3. Valores da mensuração do tempo inspiratório no pré e pós-tratamento G1 G2 Tinsp Pré Tinsp Pós Valor p 1,37 (±0,36) 1,28 (±0,18) 1,94 (±1,31) 1,70 (±0,40) 0,093 0,004 Os dados são expressos como média ± desvio-padrão, * significância estatística (p< 0,05), utilizando-se o teste estatístico de Wilcoxon. 3,20 (±0,68), passando a ser 4,26 (±1,13), com p=0,010, ocorrendo diferença significativa no parâmetro avaliados. Levando em consideração o índice de performance de Karnofsky no G1 antes do tratamento sua média era de 80,00 (±9,43) e após o tratamento sua média era 68,00 (±9,19) sendo o valor de p=0,003 e no G2 inicialmente sua média era 78,18 (±9,82) e posteriormente sua média era 68,18 (±10,79), com um valor de p=0,002, mostrando que ambos apresentaram diferença estatisticamente significativa. dIscussão Quando analisado o contexto mundial a incidência de câncer de cabeça e pescoço é maior em homens, assim como observado neste trabalho, corroborando com outros trabalhos publicados14, 15,16. A faixa etária dos pacientes com a média de idade em 63 anos esta de acordo com os dados do INCA e do Serviço de Cabeça e Pescoço do hospital em Pernambuco, demonstrando que o risco aumenta com aumento da idade. Este resultado assemelha-se aos achados da literatura que mostra uma maior incidência dos pacientes, portadores de carcinoma epidermoide de base de língua, numa faixa etária em torno da 5ª e 6ª décadas de vida16,17. Hábitos de vida inadequados, como fumo e álcool aumentam a incidência18. Como observado neste estudo todos os pacientes eram tabagistas. Vários estudos têm mostrado uma relação consistente do fumo e do álcool com câncer de laringe e cavidade oral16,17, 19, 20. As mensurações da pressão inspiratória máxima (PImax) são consideradas estimativas reais da força muscular inspiratória. Atualmente vem sendo amplamente utilizada, por ser um método não invasivo21, auxiliando como recurso para atuação fisioterapêutica nas desordens pulmonares observadas nos pacientes. Sempre que possível os pacientes deverão realizar fisioterapia pré-operatório visando higienização e treino da musculatura respiratória como preparo para cirurgia22. Levando em consideração a força muscular no total da caixa torácica, ambas IF são indicadas, pois apresentaram diferença estatisticamente significativas corroborando com estudo de Oliveira et. al.8,em que analisaram a força muscular de pacientes com câncer de cavidade oral, utilizando a IF do G1. No entanto, nos testes de função muscular segmentar apenas os pacientes do G1 64 Schleder et al. Tabela 4. Valores da mensuração do tempo expiratório no pré e pós-tratamento G1 G2 Texp Pré Texp Pós Valor p 1,93 (± 0,58) 2,00 (±0,44) 2,14 (± 1,41) 2,56 (±0,80) 0,878 0,021 Os dados são expressos como média ± desvio-padrão, * significância estatística (p< 0,05), utilizando-se o teste estatístico de Wilcoxon. apresentaram melhora estatisticamente significativa nas FMD e nas FMI superiores e inferiores. A IF utilizada no G2 mostrou-se mais efetivo quando se visa otimizar o tempo ventilatório, pois os pacientes apresentaram melhora estatisticamente significativa no Ti, Te e no Ttot. A obstrução ao fluxo expiratório gera uma hiperinsuflação pulmonar, causando alterações estruturais da caixa torácica. Nos músculos inspiratórios, principalmente o diafragma, a alteração muscular culmina com retificação, diminuição das zonas de oposição restringido sua excursão23. Os exercícios realizados preconizavam zonas inferiores melhorando a força dos músculos inspiratórios, principalmente diafragma, melhorando assim tempo ventilatório total dos pacientes. O índice de performance de Karnofsky foi avaliado para verificar se o efeito sistêmico da progressão da neoplasia, durante os 10 dias de IF, como distúrbios metabólicos, afetam a condição muscular, por causarem deficiência no equilíbrio nutricional e deixarem o paciente astênico24. Observou-se, analisando os dados, que o houve diferença estatisticamente significativa, entre o pré e o pós-tratamento, mostrando que os pacientes apresentaram durante o período do estudo uma queda do estado geral suficiente para alterar o índice, contrapondo os dados do estudo de Oliveira et al. (1998)8, que afirmam não ter diferença significativa. Porém, no presente estudo verificou-se também, que a queda do estado geral do paciente não foi um fator limitante para sua otimização respiratória. conclusão Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que ambas a IF são interessantes no preparo pneumofuncional de pacientes com o perfil estudado. No entanto, está sendo realizado, um aprofundamento no processo de eleição dessas duas ferramentas de abordagem que se mostraram funcionais. referêncIas 1. Pedruzzi PAG, Linhares JC, Camargo J, Ramos GHA, Oliveira BV, Precoma G. Projeto de responsabilidade social do Instituto de Oncologia do Paraná: Tabaco: uma questão de consciência. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço. 2008;37(3):172- 4. 2. Estimativa 2010 – Incidência de Câncer no Brasil. Instituto Nacional do Câncer (INCA)/ Ministério da Saúde. Disponível em: (http://bvsms. saude.gov.br/bvs/controle_cancer). Acesso em : 15/04/2011. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 61-65, abril / maio / junho 2011 Otimização pulmonar em pacientes candidatos a cirurgia devido neoplasia de cabeça e pescoço - duas abordagens distintas. 3. Irish J, O’Sullivan B, Siu L, Lee A. Câncer de cabeça e pescoço. In: Pollock RE, et al. Manual de Oncologia Clínica da UICC. Fundação Onconcentro de São Paulo. 8º Ed. São Paulo: Atheneu; 2006. p. 331-54. 4. Antunes AP. Princípios do planejamento terapêutico e avaliação geral do paciente oncológico. In: Carvalho MB. Tratado de cirurgia de cabeça e pescoço e otorrinolaringologia. 1º Ed. São Paulo: Atheneu; 2001. p. 21-29. 5. Shah JP. Head and Neck. 2nd. London: Mosby-Wolfe; 1996. p.167175. 6. Sociedade Brasileira de Fisioterapia em Cancerologia (SBFC). Consenso Brasileiro de Fisioterapia em Cancerologia. 1º Congresso de Brasileiro de Fisioterapia em Cancerologia, 2006; Curitiba: Hospital Erasto Gaertner. 7. Montenegro F. Aspectos gerais de cuidados pré e pós-operatórios em cirurgia de cabeça e pescoço. In: Araujo Filho VJF, Brandão LG, Ferraz AR. Manual do residente de cirurgia de cabeça e pescoço. São Paulo: Keila & Rosenfeld, 1999. p.17-20. 8. Oliveira BV, Filho WW, Oliveira A et al. Fisioterapia pré-operatória em pacientes candidatos à cirurgia por neoplasia de cabeça e pescoço. Rev Bras Cancerol. 1998;44(2):525-532. 9. Costa D, Jamami M. Bases fundamentais da espirometria. Rev Bras Fisiot. 2001;5(2):95-102. 10. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Diretrizes para testes de função pulmonar. J Pneumol. 2002;28(3):1-221. 11. Souza RB. Pressões respiratórias máximas. J Pneumol. 2002; 28(3):155-65. 12. Costa D. Fisioterapia respiratória básica. 1º Ed. Rio de Janero: Ed. Atheneu; 1999. 13. Carvalho, M. Fisioterapia Respiratória: Fundamentos e Contribuições. 5ªed., Revinter: Rio de Janeiro, 2001. 14. Filho FSA, Sobrinho JA, Rapoport A, Carvalho MB, Novo NF, Juliano Y. Estudo de variáveis demográficas, ocupacionais e co-carcinogenéticas no carcinoma espinocelular da base de língua nas mulheres. Rev Bras Otorrinolaringol. 2003;69(4):472-8. 15. Dedivitis RA, França CM, Mafra ACB, Guimarães FT, Guimarães Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 61-65, abril / maio / junho 2011 Schleder et al. AV. Características clínico-epidemiológicas no carcinoma espinocelular de boca e orofaringe. Rev Bras Otorrinolaringol 2004;70:35-40. 16. Alvarenga LM, Ruiz MT, Pavarino-Bertelli EC, Ruback MJC, Maniglia JV, Goloni-Bertollo EM. Avaliação epidemiológica de pacientes com câncer de cabeça e pescoço em um hospital universitário do noroeste do estado de São Paulo. Rev Bras Otorrinolaringol 2008;74(1):68-73. 17. Boig AF. Condições socio-econômicas e câncer de cabeça e pescoço. [Tese de doutorado]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2007. 18. Zain RB. Cultural and dietary risk factors of oral cancer and precancer- a brief overview. Oral Oncol 2001;37:205-10. 19. Melo ILP, Dantas MAM, Silva LC, LIMA VT, Vieira SC, Cavalcanti K, Sena M. Avaliação nutricional de pacientes cirúrgicos com câncer de cabeça e pescoço sob terapia nutricional enteral. Rev Bras Nutr Clin 2006;21(1):6-11 20. Russo A, Ruiz MT, Galbiatti ALS, Cury NM, Raposo LS, Maniglia JV, Pavarino-Bertelli EC, Goloni- Bertollo EM. Câncer de cabeça e pescoço: avaliação do polimorfismo CYP2E. Resumos do 55º Congresso Brasileiro de Genética. 2009. São Paulo. Acessado em: <www.sbg.org. br> - ISBN 978-85-89109-06-2. 21. Monteiro LS, Veloso CA, Araújo S, TerziRGG. Comparação de Dois Métodos de Mensuração da Pressão Inspiratória Máxima em Pacientes Com e Sem Alterações do Nível de Consciência. Rev Bras Ter Intens 2006:18(3):256-62. 22. Schultz K, Souza RV. Atuação fisioterapêutica na cirurgia de cabeça e pescoço. In: Fundação Oncocentro de São Paulo. Fonoaudiologia em cancerologia. São Paulo: FOSP; 2000. p.167-164. 23. Paulin E, Brunetto AF, Carvalho AF, Celso RF. Efeitos de programa de exercícios físicos direcionado ao aumento da mobilidade torácica em pacientes portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica. Jornal de Pneumologia. 2003;29(5):287-94. 24. Charles AS, Daignaut NM, Souba WW, Labow BI. 2006. Nutrição e câncer. Câncer de cabeça e pescoço. In: Pollock RE et al. Manual de Oncologia Clínica da UICC. Fundação Onconcentro de São Paulo: São Paulo. 8 ed; 2006. p. 784-818. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 65 Artigo Original Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese Analysis of acoustic parameters with different times of use tacheoesophageal prosthesis RESUMO Introdução: É possível que o desgaste da prótese vocal e impregnação por crostas ou debris possam afetar para menor o padrão vocal em pacientes reabilitados após laringectomia total, porém, a presença de vibração mais regular no segmento faringoesofágico com o uso poderia afetá-lo para maior. Objetivo: Analisar a correlação entre tempo de uso da prótese traqueoesofágica (PTE) e parâmetros vocais e compará-los em grupos com tempos de uso distintos da mesma PTE (maiores e menores que 10 meses). Método: O programa Advanced MDVP do laboratório vocal Kay Pentax, modelo CSL 4500, analisou a vocal sustentada /a/ de pacientes portando PTE. Foram comparados dois grupos de indivíduos reabilitados com prótese vocal, conforme o tempo de uso. Para a análise estatística utilizouse o coeficiente de correlação de Spearman e para a comparação entre os grupos, o teste de Wilcoxon. Resultados: Doze pacientes foram estudados, nove masculinos e três femininos com f0 médias semelhantes e com Jitter, Shimmer and NHR maiores nos grupos iniciais. Não houve diferença significante nos grupos com menos e com mais de 10 meses de uso. Conclusão: O tempo de uso da PTE parece não interferir nos valores de parâmetros vocais. No entanto, os achados sinalizam que pacientes com prótese por mais de 10 meses apresentam Jitter, Shimmer e NHR menores. Palavras-chave: Laringectomia; Laringe Artificial; Fonoterapia. Introdução No Brasil, o câncer constitui a terceira causa de morte, ficando apenas atrás das doenças cardiovasculares e do trauma, sendo a segunda causa de morte por doença1. É importante enfatizar que o câncer de cabeça e pescoço é um dos mais frequentes no sexo masculino e que a laringe é a responsável por aproximadamente 25% desses, ou seja, 2% entre todas as neoplasias ma- Mahina Talita Lucena Chahade 1 Rui Mamede 2 Luiz de Souza 3 Lilian Neto Ricz 4 Hilton Marcos Alves Ricz 5 ABSTRACT Introduction: Possibly prolonged usage of vocal prosthesis associated with crust and debris impregnation can negatively affect the vocal pattern in rehabilited patients after total laryngectomy. However, a more regular vibration in pharyngoesophageal area is likely an improvement factor for vocal quality. Objective: To analyze the correlation of length of usage of tracheoesophageal prothesis (TEP) with vocal parameters in rehabilited patients and compare them using two groups of different length of usage of a single TEP (more and less than 10 months). Method: The Advanced MDVP software from the vocal laboratory Kay Pentax, model CSL 4500 was used to analyse a sustained vowel /a/ in patients using a TEP. We compared two groups of rehabilited individuals using vocal prothesis according to length of usage of TEP (more and less than 10 months). The Spearman correlation coefficient was used for statistical analysis. Wilcoxon test was used to compare the groups. Results: Twelve patients were studied, 9 male and 3 female with similar mean f0 and with higher Jitter, Shimmer and NHR in initial groups. There was no significant difference between the group with less and more than 10 months of usage. Conclusion: Length of usage of TEP did not affect vocal parameters. However, the present findings indicate that patients using TEP for more than 10 months tend to demonstrate lower Jitter, Shimmer and NHR. Key words: Laryngectomy; Larynx, Artificial; Speech Therapy. lignas. Segundo o INCA, cerca de 10.000 casos novos de câncer de laringe ocorrem por ano em nosso território e que mais de 3.000 morrem. Entre as formas possíveis de tratamento do câncer da laringe está a Laringectomia Total que resulta em mudanças de algumas funções básicas da vida, incluindo a respiração, a deglutição e a comunicação. O restabelecimento da respiração por meio do traqueostoma resulta aumento na produção de muco, de tosse e de ruídos 1) Aluna do 4º ano do Curso de Fonoaudiologia da FMRP-USP. Estagiária. 2) Professor Titular. Docente. 3) Professor Doutor. Estatístico da FMRP-USP. 4) Professor Doutor. Docente da Fonoaudiologia da FMRP-USP. 5) Professor Doutor. Chefe da Divisão de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Departamento de Oftalmologia Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP. Instituição: Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto – USP. Ribeirão Preto / SP – Brasil. Correspondência: Rui Celso Martins Mamede - Avenida Giuseppe Cilento, 1115 Apto 91 – Ribeirão Preto / SP – Brasil - CEP: 14021-650 - Telefone: (+55 16) 3602-2353. Recebido em 25/04/2011; aceito para publicação em 25/06/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 66 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 66-70, abril / maio / junho 2011 Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese. Chahade et al. durante a respiração, além da afonia, disfagia, alterações de paladar e olfato e limitação da movimentação do pescoço e do ombro2. Estas mudanças, físicas e funcionais, afetam o bem-estar emocional nos pacientes, pois além do trauma emocional decorrente da cirurgia, eles têm que se submeter a mecanismos adaptativos para apreender a lidar com tais situações e possibilitar obter qualidade de vida adequada3. A reabilitação vocal não é um processo simples, pois requer um esforço motivacional importante e uma rede de apoio eficiente que acople desde os profissionais de saúde até familiares e pessoas de seu entorno social4. Em outras palavras, a reabilitação vocal pós laringectomia total é desafiadora, pois o paciente terá que optar pelo uso de um novo método de comunicação. Os três métodos de comunicação mais conhecidos para laringectomizados são: voz esofágica, laringe eletrônica e voz traqueoesofágica (com prótese fonatória). Em 1992, Singer5, fez pequenas modificações e popularizou a prótese fonatória, cuja função é a de desviar o ar sob pressão para que a mucosa faringoesofágica vibre e produza o som, que se converte em fala com a articulação da cavidade oral, lábios, língua e dentes. Atualmente a fonação traqueoesofágica é a opção de comunicação alaríngea mais utilizada e tem fornecido aos pacientes meios de comunicação que mais se aproxima de uma voz laríngea normal em termos de abastecimento aéreo, duração e sonoridade2, 6. No entanto, Grolman et al 7, verificou que a eficiência vocal se altera com o uso da prótese vocal, pois ocorre uma diminuição da eficácia aerodinâmica durante o uso, em relação à voz normal. Assim, pacientes laringectomizados que utilizavam a voz traqueoesofágica necessitavam de maior intensidade sonora para se obter a mesma eficiência vocal da voz normal. É fácil entender esse processo na medida em que a fisiologia é diferente, pois quem vibra não é a prega vocal, mas sim a mucosa faringoesofágica 8. As próteses fonatórias, se não cuidadas, se tornam rapidamente colonizados por biofilme de bactérias e secreção, diminuindo o calibre que leva o ar da traqueia para o esôfago/faringe9. Embora, o discurso traqueoesofágico seja considerado como o “padrão-ouro”, a presença de biofilme, a menor eficiência vocal e o desgaste das próteses poderiam alterar o padrão vocal á medida que elas permanecem em uso nos pacientes laringectomizados. objetIvos • • Analisar a presença de correlação entre tempo de uso da Prótese Traqueoesofágica (PTE) e os parâmetros vocais: Frequência Fundamental (Fo); Jitter, Shimmer e NHR. Comparar os valores dos parâmetros vocais em dois grupos de pacientes laringectomizados com tempos distintos de uso da mesma PTE (maior e menor que 10 meses). Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 66-70, abril / maio / junho 2011 Método Este estudo ocorreu com pacientes que se submeteram a laringectomia total por carcinoma de laringe e fazem uso da voz traqueoesofágica com o auxílio de prótese traqueoesofágica (PTE). Realizou-se a revisão dos prontuários dos pacientes submetidos a laringectomia nos últimos 3 anos e selecionou-se aqueles que faziam uso de PTE e que tiveram orientação fonoaudiológica para obtenção de voz. Alem dos dados clínicos dos pacientes, os dias agendados para o retorno dos mesmos ao serviço eram obtidos dos prontuários. Neste dia a pesquisadora comparecia para orientação e obtenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (processo HCFMRPUSP 5175/2010). Os participantes foram então submetidos à gravação vocal, para análise acústica da voz. Aqueles que já tinham a voz coletada anteriormente, para realização de outra pesquisa, eram dispensados dessa tarefa. Foram selecionadas gravações cujos pacientes respeitavam os critérios de inclusão e exclusão. Não foram levadas em conta variáveis como sexo, idade, ou associações de outras formas terapêuticas, mas sim o tempo de uso da mesma PTE, finalização do processo de reabilitação e utilização do mesmo tipo de prótese. Análise acústica da voz A gravação da voz foi realizada utilizando o programa Sound Forge 7.0 (Sony Pictures Digital Inc.) e um microfone unidirecional Shure, a 4 centímetros da boca, num ângulo de 45º, em sala silenciosa. O programa de análise utilizado foi o Advanced MDVP do laboratório vocal Kay Pentax, modelo CSL 4500 em microcomputador de processador Dell. Foi solicitado ao paciente que emitisse a vogal sustentada /a/ na intensidade e frequência vocais habituais. Os parâmetros utilizados para análise foram: valores de frequência fundamental (f0), medidas de perturbação de frequência (Jitter – variabilidade da frequência fundamental em curto prazo), medidas de perturbação de amplitude (Shimmer – variabilidade da amplitude da onda sonora em curto prazo) e medidas de ruído (Harmonicto-noise ratio - NHR). Métodos Estatísticos A metodologia proposta para o primeiro objetivo foi o coeficiente de correlação de Spearman 10. Este coeficiente é uma medida de correlação não-paramétrica, isto é, ele avalia a relação entre duas variáveis baseado nos postos das observações das variáveis, sem fazer suposições sobre a distribuição de frequência delas. Este procedimento foi realizado através do software SAS® 9.1, utilizando a PROC CORR. O coeficiente de correlação mede o grau de associação linear entre duas variáveis. Este coeficiente pode variar de –1 a 1, dependendo da relação encontrada: positivamente correlacionada (se uma variável tende a aumentar em grandeza, a outra também aumenta) ou –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 67 Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese. negativamente correlacionada (uma variável tende a diminuir conforme a outra aumenta). Para as construções dos gráficos foi utilizado o software R 2.11.1. resultados Participaram da pesquisa 12 pacientes portadores da PTE da marca Provox®, sendo 9 do sexo masculino e 3 do sexo feminino, divididos em dois grupos. O primeiro composto por seis pacientes que utilizavam a mesma PTE há menos de 10 meses e o segundo composto por 6 pacientes que a utilizavam há mais de 10 meses. A Tabela 1 mostra a média, desvio padrão, valor máximo, valor mínimo e mediana das seguintes variáveis: Tempo de uso da mesma PTE, F0, Jitter, Shimmer e NHR, calculados dentro do grupo de 12 pacientes selecionados para participarem da pesquisa. Por sua vez, a Tabela 2, mostra o cálculo da correlação de cada variável entre si, e os valores assumidos por cada par. De acordo com os resultados do p-valor encontrados na comparação entre cada par de parâmetros vocais, a diferença entre os mesmos não assumiu um valor significante. Na Tabela 3 está distribuído a média, desvio padrão, valor máximo, valor mínimo e mediana das seguintes variáveis: Tempo de uso da mesma PTE, F0, Jitter, Shimmer e NHR, calculados dentro dos dois grupos. O 1º grupo foi composto por um total de 6 pacientes que utilizavam a mesma PTE a menos de 10 meses, e o 2º grupo foi composto por um total de 6 pacientes que utilizavam a mesma PTE por mais de 10 meses. Tabela 1. Apresentação dos sujeitos segundo as variáveis frequência, Jitter, Shimmer, NHR e período de uso da prótese. Variável N Média Período (meses) F0 (Hz) Jitter % Shimmer % NHR 12 12 12 12 12 8,92 129,35 7,29 8,86 0,44 DP Mínimo Mediana Máximo 3,15 3 48,41 69,14 6,41 1,01 8,62 0,09 0,34 0,13 9,5 120,43 4,77 5,81 0,27 12 222,73 19,54 26,17 1,02 Chahade et al. dIscussão Segundo Viggo et al11, as primeiras próteses fonatórias tinham tempo de vida curto, sendo que a duração média da Provox® geração I era de 3,1 meses e da geração II era de 2,3 meses. No entanto, atualmente as próteses se mantêm por tempo muito maior, possibilitando que esse estudo se concretizasse. A implicação mais óbvia da laringectomia total é a perda da voz natural, sendo a reabilitação da fala um dos fatores determinantes e importantes para a qualidade de vida desses pacientes12. Assim, é importante que ocorra análise comparativa do sinal da voz gerada pela vibração das pregas vocais com a vibração dos tecidos remanescentes do segmento faringoesofágico no caso do laringectomizado. Esta comparação poderá levar à melhoria dessa última e a obtenção de vozes as mais próximas possíveis. Para essa comparação, o método mais utilizado é a análise perceptual e acústica. Ressalta-se que para que o resultado das avaliações perceptivas da voz traqueoesofágica seja próximo da voz normal exigem-se treinamento intensivo, que é demorado e dispendioso13. Por outro lado, para Van Gogh et al14, o grande problema da análise acústica é a alta variabilidade entre as vozes traqueoesofágica (TE) que, muitas vezes, se apresentam com fraca periodicidade do sinal, fazendo com que muitos programas disponíveis não forneçam confiabilidade nos resultados para as não periódicas, tais como altura e medição da perturbação do som. Infelizmente, a maioria dos sistemas de análise acústica não fornece nenhuma advertência quando os dados não Tabela 2. Matriz dos coeficientes da correlação de Spearman. Correlação de Spearman Tempo F0_Hz Jitter Shimmer NHR Tempo F0_Hz Jitter Shimmer NHR 1 0,230 -0,244 -0,244 -0,014 1 0,343 0,364 0,308 1 0,629 0,797 1 0,483 1 Tabela 3. Tamanho da amostra (N), média, desvio padrão, mínimo, mediana e máximo segundo o período de uso da prótese (< ou > de 10 meses). 68 Grupo Variável N Média DP < 10 meses F0_Hz Jitter Shimmer NHR 6 6 6 6 124,93 50,58 9,58 7,14 12,17 10,63 0,57 0,41 69,14 1,4 2,11 0,16 121,8 9,01 11,5 0,57 205,17 19,54 26,17 1,02 > 10 meses F0_Hz Jitter Shimmer NHR 6 6 6 6 133,77 5 5,54 0,3 83,35 1,01 0,09 0,13 120,43 3,32 5,61 0,24 222,73 14,92 11,53 0,69 50,5 5,18 4,92 0,21 Mínimo Mediana Máximo –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 66-70, abril / maio / junho 2011 Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese. Chahade et al. são confiáveis. Segundo Van Gogh et al14 vários estudos na literatura descrevem as análises acústicas da voz traqueoesofágica e concluem que essas vozes diferem consideravelmente das vozes normais. Essas diferenças dizem respeito às medidas acústicas computadorizadas que fornecem um valioso complemento para as avaliações perceptivas na prática clínica, porém, a análise acústica da voz traqueoesofágica é mais difícil do que a da voz normal, porque, como dissemos, em muitas delas a periodicidade é evidenciada, e em algumas, a frequência fundamental é extremamente baixa. Num estudo anterior, o autor acima verificou que, foram encontradas correlações de moderada a forte entre as avaliações perceptivas de uma vogal sustentada / a / e as medidas acústicas obtidas com a mesma vogal sustentada / a /, porem com o Multi Dimensional Voice Program: MDVP (Elemetrics Kay, Lincoln Park, NJ). Esse estudo também mostrou que, com MDVP, 30% das amostras de vozes não puderam ser analisadas ou eram analisados trechos muito curtos da curva sonora. Neste último caso, a inspeção visual das amostras mostrou que os pacientes tinham vozes com frequência muito baixa (e, portanto, caia fora da análise do MDVP) ou tinham vozes muito aperiódicas. No presente estudo, foi proposta a análise de mais vozes (18 no total), porém, verificou-se que o programa de análise utilizado não foi capaz de analisar o sinal de algumas vozes devido à periodicidade das mesmas. Diante disso, os pesquisadores, não podendo contar com tais dados, diminuiu sua população para 12 pacientes e os dividiu em dois grupos para que, as análises estatísticas pudessem ser realizadas. A análise dos dados realizada com o teste de Spearman mostrou correlação muito baixa entre as variáveis, uma vez que elas assumiram valores próximos do zero. Constatou-se média correlação entre os parâmetros Jitter e Shimmer (0,629) e, Jitter e NHR (0,797), com valores próximos do número 1 (positivamente correlacionado). Sabe-se que a Frequência Fundamental das vozes de indivíduos normais difere conforme o gênero, sendo a feminina maior que a masculina. Neste estudo, utilizouse de pacientes tanto do sexo masculino como do feminino nos grupos, visto que a Fo da voz feminina diminui significativamente com o uso da fala traqueoesofágica. Essas observações foram descritas no estudo desenvolvido por Van Gogh et al14, ao detectarem ausência de diferença entre a frequência fundamental do sexo masculino (109 Hz em média) e feminino (115 Hz, em média) em pacientes que utilizavam a fala TE. Em nosso estudo, no entanto, os valores médios da Fo foram 124 Hz e 175 Hz, respectivamente, ou seja, obteve-se voz “gênero-específica” (menor que 150 Hz para o homem e maior que esse valor para a mulher). Frise-se que duas mulheres tiveram “vozes bem femininas”: 205 Hz de Fo no grupo com menos de 10 meses e 222 Hz no grupo com mais de 10 meses de uso da PTE. Somente uma teve 97 Hz, no grupo com menos de 10 meses de prótese. Isto nos permite discordar de Kazi R. et al 8 quando afirma que Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 66-70, abril / maio / junho 2011 as técnicas atuais de restauração da voz com PTE têm sido incapaz de fornecer um “gênero-específico” para a voz da mulher laringectomizada, gerando graves implicações psicossociais para elas. É comum observar estudos sobre voz traqueoesofágica utilizando somente pacientes do sexo masculino, porque a grande maioria dos pacientes que são submetidos a laringectomia total é do sexo masculino. Acreditamos que a obtenção de “vozes bem femininas” neste estudo esteja relacionada com a qualidade da orientação fonoaudiológica aplicada. Também acreditamos que, com a distribuição pelos dois grupos de estudo, as “vozes bem femininas” não influenciaram no resultado final dessa pesquisa. Jitter (perturbação de frequência) indica a variabilidade da frequência fundamental em curto prazo, medida entre ciclos glóticos vizinhos. Expressa o quanto um período é diferente do anterior ou de seu sucessor imediato15. Shimmer (perturbação de amplitude em curto prazo) pode ser explicado por analogia ao conceito de Jitter. Assim sendo, o shimmer indica a variabilidade da amplitude da onda sonora em curto prazo, uma medida de estabilidade sonora. O shimmer oferece-nos uma percepção indireta do ruído na produção vocal e, seus valores, crescem quanto maior a quantidade de ruído numa emissão. Tanto o Jitter, como o shimmer tende a ser elevado nas situações em que ocorrem distúrbios laríngeos15, como a laringectomia. De acordo com Dubravka et al16, nos seus pacientes, com prótese Provox, o valor do Jitter foi de 1,9%, enquanto que o shimmer foi de 3,78 %. No presente estudo os valores médios do jitter encontrado nos 12 pacientes foram de 7,29%, enquanto que nos grupos com diferentes tempos de uso de PTE foram: 9,58% (< 10 meses de uso da PTE) e 5% (> 10 meses de uso da PTE). O shimmer foi de 8,86% na média do grupo como um todo, e nas médias dos grupos de diferentes tempos de uso de PTE foram: 12,17% (< 10 meses de uso da PTE) e 5,54% (> 10 meses de uso da PTE). Tais valores estão muito acima dos encontrados no trabalho de Dubravka et al 16, talvez por apresentarem tempos de uso da PTE diferentes. Porém, ambos concordam com os parâmetros definidos por Behlau15, quando afirma que os valores limites da normalidade para Jitter e Shimmer são respectivamente 0,5% e 3% para a voz normal. Os valores no presente estudo e no de Dubravka et al16 comprova a anormalidade dos sinais sonoros, uma vez que os mesmos são emitidos por pacientes laringectomizados. Em outras palavras, quem os produziu foi à vibração da mucosa faringoesofágica e não da prega vocal. O fato dos valores de Jitter e Shimmer serem menores no grupo com mais tempo de prótese sinaliza melhora da voz, provavelmente decorrente do uso, pois segundo Bertino et al17 os resultados dependem de um padrão de vibração mais regular no segmento faringoesofágico devido a um fluxo expiratório mais eficiente. De acordo com Ferrero et al18 e De Colle19, NHR é uma relação média de energia dos componentes harmônicos, e representa a presença de ruído no sinal analisa- –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 69 Análise acústica da voz traqueoesofágica com períodos distintos de uso de prótese. do (como amplitude e variações de frequência, ruído de turbulência, componentes sub-harmônicos e/ou quebra de voz). O sinal com todos os seus periódicos e ruídos é gerado por componentes da vibração da mucosa que pode mudar de acordo com o local e modo de encontro durante a vibração de estruturas como: aritenoides, base da língua, paredes da faringe. Esse fenômeno é lógico, estrutural e funcionalmente, muito diferente do emitido pelas pregas vocais. Segundo BEHLAU15, valores de NHR abaixo de 7 dB são necessariamente patológicos. Foi o que ocorreu em nosso estudo, pois o NHR encontrado na média do grupo como um todo foi de 0,44 dB, tanto nas médias dos grupos de diferentes tempos de uso de PTE (< 10 meses = 0,57 dB e > 10 meses = 0,30 dB). Acreditamos que os valores estatísticos ficam prejudicados quando se pretende a generalização para outras populações pela escassez de casos, decorrentes dos motivos citados acima. Assim, sugere-se que outros estudos sejam desenvolvidos, especialmente aqueles que tratem de correlacionar parâmetros vocais em relação ao tempo de uso de PTE. conclusão De acordo com os valores encontrados neste estudo, pode-se concluir que o tempo de uso da prótese vocal parece não interferir nos valores dos parâmetros vocais. No entanto os achados sinalizam que o paciente com prótese por mais de 10 meses apresenta Jitter e Shimmer menores. referêncIas 1. Santana ME, Sawada NO, Sonobe HM, Zago MMF. A complicação fístula faringocutânea após laringectomia total: uma análise preliminar. Rev. Bras.Cancerologia. 2003;49(4):239-244. 2.Attieh AY, Searl J, Shahaltough NH, Wreikat MM, Lundy DS.Voice restoration following total laryngectomy by tracheoesophageal prosthesis: effect on patients quality of life and voice handicap in Jordan. Health Qual. Life Outcomes. 2008;6(26). doi:10.1186/1477-7525-6-26 3. Campos AG. A vez e a voz e do paciente laringectomizado total. Rev Saúde Públ. 2003; 15:389-401. 70 Chahade et al. 4. Flávio PGC, Zago MMF. Reabilitação vocal do laringectomizado: características culturais do processo. Rev.Lat. Am. Enfermagem. 1999;7(2):63-70. 5. Singer MI.Voice rehabilitation. In: Cummings CW, Fredrickson JM, Harker LA, Krause CJ, Schuller DE. Otolaryngology Head and Neck Surgery. St. Louis: Mosby Year Book; 1992; 2; chapter 118; p. 2190203. 6. Arias MR, Ramon JL, Compos M, Cervantes JJ. Acoustic analysis of the voice in phonatory fistuloplasty after total laryngectomy. Otolaryngol Head Neck Surg. 2000;122:743-47. 7. Grolman W, Eerenstein SE, Tange RA, Canu G, Bogaardt H, Dijkhuis JP, Dreschler WA, Schouwenburg PF. The voicemaster voice prosthesis for the laryngectomized patient. Auris Nasus Larynx. 2008;35(1): 83-8. 8. Kazi R, Kiverniti E, Prasad V, Venkitaraman R, Nutting CM, Clarke P, Rhys-evans P, Harrington KJ. Multidimensional assessment of female tracheoesophageal prosthetic speech. Clin Otolaryngol. 2006; 31(6): 511-17. 9. Acton LM, Ross DA, Sasaki CT, Leder SB. Investigation of tracheoesophageal voice prosthesis leakage patterns: patients self-report versus clinicians confirmation. Head Neck. 2008; 30(5): 618-21. 10. Pagano M, Gauvreau K. Princípios de Bioestatística. Editora Thomson, São Paulo, 2004. 11. Viggo HB, Lisbet R, Jens CT. Primary speech restoration at laryngectomy by insertion of voice prosthesis-10 years experience. Acta Otolaryngol. 2000; Suppl 543: 244-45. 12. Singer MI. The development of successful tracheoesophageal voice restoration. Otolaryngology. Clin. N. Am. 2004; 37: 507–517. 13. Van as CJ, Koopmans-Van BFJ, Pols LCW, Hilgers FJM. Perceptual evaluation of tracheoesophageal speech by naive and experienced judges through the use of semantic differential scales. J. Speech Lang. Hear. Res. 2003; 46: 947–59. 14. Van Gogh CDL, Festen MJ, Leeuw IMV, Parker AJ, Traissac L, Cheesman AD, Mahieu HF. Acoustical analysis of tracheoesophageal voice. Speech Commun. 2005; 47: 160–68. 15. Behlau, M. Avaliação acústica do sinal sonoro in Behlau M. Voz - o livro do especialista. Rio de Janeiro. Revinter. 2008; 3 (1), p 130:70. 16. Dubravka G, Boris S, Mirko I, Mladen H. Speech and voice analysis after near-total laryngectomy and tracheoesophageal puncture with implantation of Provox 2 prosthesis. Logoped Phoniatric Vocol. 2004; 29: 84-6. 17. Bertino G, Bellomo A, Miani C, Ferrero F, Staffieri A. Spectrographic differences between tracheo-esophageal and esophageal voice. Folia Phoniatr. Logop. 1996; 48: 255-61. 18. Ferrero FE, Lanni R, De Colle W.Primi risultati di uno Studio per la validazione del sistema MDPV come strumento per la caratterizzazione multiparametrica della voce. Acta Phon Lat. 1995; 17: 161. 19. De Colle W. Voice e Computer. Torino. Omega Edizioni; 2001. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 66-70, abril / maio / junho 2011 Artigo Original Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009 Oral malignant neoplasias: retrospective study from 1962 to 2009 RESUMO ABSTRACT Introdução: O carcinoma de células escamosas representa a neoplasia maligna mais comum em cavidade bucal. No entanto, os tecidos moles da boca são afetados por outras alterações malignas que embora ocorram em uma frequência significativamente inferior àquela apresentada pelo carcinoma de células escamosas, merecem destaque por sua importância clínica. Objetivo: O objetivo deste estudo foi avaliar a frequência destas lesões na cavidade bucal, sua distribuição quanto ao gênero, etnia e idade, bem como sua localização anatômica, a partir dos exames anatomopatológicos arquivados no laboratório de Patologia Cirúrgica do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC-UNESP) no período compreendido entre 1962 e 2009. Método e Resultados: Dos 10.401 laudos histopatológicos avaliados, foram diagnosticados 335 casos de neoplasias malignas bucais de tecido mole (3,22%), sendo o carcinoma de células escamosas a lesão mais prevalente (85,07%), seguida pelo linfoma (4,17%), carcinoma basocelular (2,98%) e carcinoma verrucoso (2,38%). Os indivíduos do sexo masculino (76,42%) e da etnia branca (78,50%) foram os mais acometidos. Houve predomínio de casos entre a 5ª e a 8ª décadas de vida (86,85%) e o local de maior acometimento foi o lábio inferior (19,40%). Conclusão: Concluiu-se que os achados deste trabalho foram consistentes com os relatos da literatura, permitindo traçar um perfil dos pacientes acometidos e contribuindo com ações preventivas de neoplasias malignas bucais. Palavras-chave: Epidemiologia; Escamosas; Linfoma. Elaine Dias do Carmo 1 Lúcia Helena Denardi Roveroni Favaretto 2 Andresa Costa Pereira 3 Fernanda Bertini 4 Adriana Aigotti Haberbeck Brandão 5 Luiz Eduardo Blumer Rosa 6 Carcinoma de Introduction: Squamous cell carcinoma represents the most common malignant neoplasia in the oral cavity. Despite this, other oral soft tissues malignant neoplasms deserve to be highlighted due to their clinical importance, although occurring with a significantly less frequency. Objective: This study objective was evaluating the frequency of malignant neoplasms in oral soft tissues, its distribution according to gender, ethnic group and age, as well as to its anatomical localization, based on anatomopathological exams files of the Surgical Pathology Laboratory of the Bioscience and Oral Diagnosis Department of São José dos Campos Dental School - São Paulo State University (FOSJC-UNESP) between 1962 and 2009. Methods and Results: Among 10,401 anatomopathological results, 355 were oral soft tissue malignant neoplasms (3.22%), being the squamous cell carcinoma the most prevalent lesion (85.07%), followed by lymphoma (4.17%), basal cell carcinoma (2.98%) and verrucous carcinoma (2.38%). Male (76.42%) and white patients (78.50%) were the most affected. There was a predominance of cases between the 5th and the 8th decade of life (86.85%) and the most prevalent localization was the inferior lip (19.40%). Conclusion: It can be concluded that this work’s findings were consistent with the literature results, permitting to delineate a profile of the affected patients contributing to preventive actions related to oral malignant neoplasms. Key words: Lymphoma. Epidemiology; Carcinoma, Squamous Cell; Células Introdução O câncer é um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e em desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano, representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo1. A etiopatogenia das neoplasias malignas é entendida como resultado da quebra dos mecanismos reguladores que governam o comportamento de crescimento 1) Doutorado. Professora Doutora das Disciplinas de Fisiopatologia e Semiologia da Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN. 2) Mestrado. Cirurgiã Dentista. 3) Doutorado. Professora Adjunta da Disciplina de Anatomia do Curso de Odontologia da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG. 4) Doutorado. Cirurgiã Dentista e Pesquisadora Voluntária da FOSJC-UNESP. 5) Doutorado. Professora Doutora da Disciplina de Patologia Geral do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Paulista - FOSJCUNESP. 6) Doutorado. Professor Adjunto da Disciplina de Patologia Bucal do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual Paulista - FOSJCUNESP. Instituição: FOSJC-UNESP. São Sebastião / SP – Brasil. Correspondência: Fernanda Bertini - Rua Duque de Caxias 188-22 - Centro - São Sebastião / SP – Brasil – CEP: 11600-000 – Telefone: (+55 12) 3862-2039 / 3893-1882 / 9767-6666 – E-mail: [email protected] Recebido em 14/05/2011; aceito para publicação em 15/06/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 71-75, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 71 Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009. normal das células, ou seja, perde-se a regulação nas células neoplásicas, as quais se proliferam de maneira descontrolada, independente da necessidade de renovação celular, e finalmente espalham-se por todo o organismo, interferindo nas funções dos tecidos e órgãos2,3. As estimativas do Instituto Nacionais de Câncer (INCa) para o ano de 2009 são de 466.730 casos novos de câncer diagnosticados no país, sendo 231.860 casos novos para o sexo masculino e 234.870 para sexo feminino. Dentre esses, as lesões que acometem a cavidade bucal representam 14.160 casos (3,0%)4. De acordo com Neville et al.5 as neoplasias de cavidade bucal constituem cerca de 5% de todas as neoplasias malignas, sendo que cerca de 90% são carcinomas de células escamosas (CCE). Embora o CCE apareça como a lesão maligna mais incidente em levantamentos epidemiológicos6,7,8, outros tipos de lesões malignas de tecido mole podem ser encontrados nesta região, tais como outros tipos de carcinoma e sarcomas de tecido mole9, lesões estas que muitas vezes não são familiares para o cirurgião dentista. Em estágios precoces, o CCE de boca é usualmente assintomático e manifesta-se como uma lesão infiltrativa, ulcerada e exofítica10. Acomete principalmente indivíduos do sexo masculino e acima dos 50 anos. O comportamento clínico é bastante agressivo, apresentando metastatização cervical precoce. O tabagismo e o etilismo são os principais fatores de risco no desenvolvimento desta lesão11. Estudos mostram que cerca de 90% dos pacientes com CCE são usuários de tabaco. Além disso, o uso concomitante de tabaco e álcool aumenta o risco de desenvolvimento, pois o álcool é um importante promotor da neoplasia, impedindo a reparação do DNA10,12. O linfoma é uma patologia importante nas casuísticas de lesões de boca e se origina de linfócitos B ou T e de suas células precursoras, formando nódulos eritematosos ou purpúreos, mais comumente localizadas no palato duro e na gengiva9,13,14,15. Linfadenopatia cervical e alterações de ordem sistêmica, como fadiga, perda de peso e sudorese noturna, também podem compor o quadro clínico9. Histopatologicamente a maioria dos linfomas originam-se de linfócitos B, e podem envolver tanto os tecidos moles quanto os ossos15. Mostram variados graus de diferenciação e maturação celular, bem como padrões microscópicos diversificados, podendo assim ser classificados em lesões de baixo ou alto grau de malignidade5,13. O carcinoma basocelular (CB) é o câncer de pele mais comum, que acomete principalmente a região de cabeça e pescoço, inclusive região de lábios. Origina-se da camada de células basais da pele e seus apêndices, é localmente invasivo e dissemina-se lentamente. Resulta da exposição crônica à radiação ultravioleta e afeta adultos brancos com mais de 40 anos de idade5. O carcinoma verrucoso (CV) é considerado histologicamente como uma variante de baixo grau de malignidade do carcinoma espinocelular5. Clinicamente apresenta crescimento lento, exofítico, predileção pela mucosa 72 Carmo et al. jugal e gengiva, acomete frequentemente indivíduos do sexo masculino com mais de 50 anos de idade e apresenta melhor prognóstico quando comparado ao carcinoma epidermoide13,16,17. É frequentemente associado ao uso prolongado de tabaco, embora outros fatores etiológicos possam estar envolvidos, como a imunossupressão e a infecção pelo papilomavírus humano (HPV)5,13,18. Microscopicamente, se caracteriza pela presença de projeções papilares largas e alongadas que se direcionam para dentro do tecido conjuntivo subjacente; apresenta abundante produção de queratina e sua superfície é papilar ou verruciforme5. A ausência de atipias celulares significativas confere à lesão um ilusório padrão microscópico de benignidade13. Considerando-se a importância do conhecimento das principais neoplasias malignas bucais foi realizado um estudo retrospectivo dos arquivos do Serviço de Patologia Cirúrgica da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC-UNESP) com o objetivo de identificar a prevalência, bem como a distribuição etária, racial e de gênero, além da localização anatômica destas lesões, no período compreendido entre 1962 a 2009. Método Foi realizado um levantamento epidemiológico dos casos de neoplasias malignas bucais de tecido mole, sendo que para tal, foram revisados 10.401 laudos anatomopatológicos dos arquivos do Serviço de Patologia Cirúrgica do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC-UNESP) no período de 1962 a 2009. As informações contidas nos laudos anatomopatológicos foram transcritas para uma ficha previamente elaborada, contendo os seguintes dados: número do exame histopatológico, idade, gênero e etnia dos pacientes, localização anatômica e diagnóstico histopatológico da lesão. resultados Dos 10.401 laudos histopatológicos avaliados, foram diagnosticados 335 casos de neoplasias malignas bucais de tecido mole, portanto 3,22% do total de casos. O CCE foi à neoplasia mais incidente, representando 85,07% das lesões. A segunda lesão mais frequente foi o linfoma com 14 casos (4,17%), seguido pelo carcinoma basocelular (10 casos – 2,98%) e carcinoma verrucoso (8 casos – 2,38%) (Tabela 1). Foram observados ainda 4 casos de carcinoma de células fusiformes e de neoplasia mesenquimal maligna e 2 casos de fibrohistiocitoma maligno. As demais lesões diagnosticadas estão descritas na Tabela 1. De uma maneira geral, observou-se que os indivíduos do sexo masculino (76,42%) e da etnia branca (78,50%) foram os mais acometidos pelas neoplasias malignas bucais de tecido mole (Figuras 1 e 2). Em relação à idade verificou-se a ocorrência de casos em uma –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 71-75, abril / maio / junho 2011 Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009. Carmo et al. Tabela 1. Distribuição numérica e percentual dos tipos histológicos de neoplasias malignas bucais de tecido mole da boca. Tabela 2. Localização anatômica e distribuição dos casos de neoplasias malignas de tecido mole da boca. Lesões Localização Número de Casos (%) Carcinoma de células escamosas Linfoma Carcinoma basocelular Carcinoma verrucoso Carcinoma de células fusiformes Neoplasia mesenquimal maligna Fibrohistiocitoma maligno Schwnnoma maligno Angiossarcoma Fibrossarcoma Neurossarcoma Carcinoma escamoso basoloide Sarcoma de células reticulares Neoplasia epitelial maligna Mioepitelioma maligno Mieloma múltiplo 285 (85,07%) 14 (4,17%) 10 (2,98%) 8 (2,38%) 4 (1,19%) 4 (1,19%) 2 (0,59%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) 1 (0,29%) Lábio superior Lábio inferior Comissura labial Rebordo alveolar superior Rebordo alveolar inferior Soalho bucal Gengiva Mucosa jugal Língua Trígono retromolar Palato duro Palato mole Palato duro/mole Seio maxilar Tuberosidade da maxila Não-informada Total 335 (100,00%) Total Figura 1. Distribuição percentual dos casos de neoplasias malignas bucais de tecido mole por gênero. ampla faixa etária com predomínio entre a 5ª e 8ª décadas de vida (86,85%) (Figura 3). A localização anatômica e a distribuição dos casos de neoplasias malignas de tecido mole da boca podem ser observados na Tabela 2. O CCE mostrou predileção pelo sexo masculino (4,5:1) com 81,75% dos casos e pela etnia branca (79,64%). Observou-se maior número de casos entre a 5ª e a 8ª décadas de vida (90,87%) com pico de incidência na 6ª década (29,47%). Em relação à localização anatômica o lábio inferior foi a mais incidente (21,40%), seguido pela língua (19,64%), soalho bucal (15,43%) e gengiva (12,98%). Nos casos de linfoma verificou-se maior incidência entre as mulheres (64,28%) brancas (92,85%), sendo distribuídos em uma ampla faixa etária, que variou de 4 a 67 anos com uma idade média de 38 anos. A gengiva foi o sítio anatômico mais prevalente com 7 casos diagnosticados (50,00%). O sexo masculino (80,00%) e a etnia branca (80,00%) foram as mais incidentes nos casos Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 71-75, abril / maio / junho 2011 Número de Casos (%) 6 (1,79%) 65 (19,28%) 1 (0,29%) 9 (2,67%) 9 (2,67%) 45 (13,35%) 51 (15,13%) 23 (6,82%) 61 (18,10%) 28 (8,30%) 10 (2,98%) 17 (5,04%) 1 (0,29%) 2 (0,59%) 1 (0,29%) 6 (1,78%) 337 (100,00%) Figura 2. Distribuição percentual dos casos de neoplasias malignas bucais de tecido mole por etnia. NI=etnia não-informada na ficha clínica do paciente. Figura 3. Distribuição percentual de casos de neoplasias malignas bucais de tecido mole por idade mais incidente. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 73 Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009. de carcinoma basocelular. Houve uma leve predileção pela 8ª década de vida (30,00%) e pelo lábio superior (50,00%), já que o lábio inferior contou com 40,00% dos casos. O carcinoma verrucoso não mostrou predileção por sexo (1:1), contudo houve predomínio da etnia branca (75,00%). Com relação à idade, os casos foram distribuídos entre a 6ª e 9ª décadas de vida, sendo que a 8ª década foi a mais acometida (50,00%). A língua foi à região anatômica mais atingida (30,00%). dIscussão Após a análise de quarenta e sete anos de exames anatomopatológicos de neoplasias malignas bucais de tecido mole, os resultados mostraram que o CCE é a lesão maligna mais comum em cavidade bucal (84,56%), estando de acordo com os relatos da literatura6,7,8. Observou-se neste estudo que homens (81,75%) brancos (79,64%) na 6ª década de vida (29,47%) foram os mais acometidos pelo CCE. Os resultados confirmam dados da literatura, que relata que homens são mais acometidos que mulheres6,7,8,19,20, os indivíduos brancos são mais afetados19,20,21,22 e a 6ª década de vida também foi registrada como apresentando o maior número de casos em diversos estudos6,19,21,22. O lábio inferior (21,40%), seguido da língua (19,64%) foram os locais mais afetados neste estudo, estando em desacordo com o trabalho de Mehrotra et al.6, Carvalho et al.19 e Maciel et al.23 que mostraram a língua como a região mais envolvida e de Abdo et al.20 e Osterne et al.8 que observaram maior número de casos no soalho bucal. O linfoma foi a segunda lesão mais frequente e estudos têm mostrado que este fato deve-se ao aumento dos casos de pacientes HIV positivos e transplantados13,24,25. Esta lesão apresentou predileção por mulheres (64,28%) brancas (92,85%), estando de acordo com os relatos da literatura14,15,25,26. Entretanto, Zavras et al.27 observaram a predominância do gênero masculino nos casos de linfoma, enquanto Urquhart & Berg24 não observaram diferenças significativas entre os gêneros. Os casos foram distribuídos em uma ampla faixa etária variando de 4 a 67 anos, com uma idade média de 38 anos, estando em desacordo com alguns estudos14,15,26,27, que relataram idade média superior àquela observada neste trabalho. Urquhart & Berg24 e Ugboko et al.25 fazem a ressalva de que o aumento do número de pacientes imunocomprometidos seja pela infecção pelo vírus HIV, ou pela imunossupressão induzida em pacientes transplantados, pode ser a causa do desenvolvimento de linfomas em pacientes mais jovens que outrora. A gengiva foi o local mais acometido (50,00%), estando de acordo com alguns relatos da literatura9,27. Outros trabalhos mostraram a predileção pela região do anel de Waldeyer (tonsilas palatinas, faringe e base da língua)14,15. Os resultados mostraram que o carcinoma basocelular ocorreu com mais frequência em homens (80,00%) de etnia branca (80,00%). Foi observado predileção pela 74 Carmo et al. 8ª década de vida (30,00%). Este estudo corrobora com os relatos da literatura no que se refere à etnia e à idade, no entanto, difere quanto ao gênero, pois os autores relataram predominância entre as mulheres28,29,30. Nasser31 observou em sua casuística maior número de casos entre as mulheres na faixa etária de 50 a 69 anos de idade. Quanto à localização foram consideradas somente as lesões que ocorreram na região de boca, as demais regiões de cabeça e pescoço foram excluídas da amostra. Foi observado 5 casos em lábio superior (50,00%), 4 casos em lábio inferior (40,00%) e 1 caso em comissura labial (10,00%). Mantese et al.29 e Bandeira et al.30 verificaram maior incidência na região nasal. Ferreira & Nascimento28 relataram maior número de casos na região de cabeça e pescoço, contudo não descrevem a localização exata das lesões. Nasser31 descreveu a face como a região de maior acometimento. O carcinoma verrucoso não mostrou predileção por sexo, contudo os indivíduos brancos foram mais acometidos (75,00%). No estudo de Bouquot18, foi relatado um maior número de casos acometendo o sexo feminino e a 7ª década de vida foi a mais prevalente (50,00%). Observou-se uma discreta predileção pela língua (30,00%), corroborando com os estudos de Zavras et al.27 que relatam este sítio anatômico como o mais prevalente. Estando em desacordo com Neville & Day17, que afirmam que o carcinoma verrucoso ocorre comumente na mucosa jugal e gengiva. Os sarcomas de tecido mole compreendem um grupo de lesões relativamente raras na região bucomaxilofacial, representando cerca de 5% de todos os sarcomas diagnosticados em todo o corpo. Quando ocorrem nesta região, as lesões mais comuns são o rabdomiossarcoma, o fibrohistiocitoma maligno, o fibrossarcoma e o neurofibrossarcoma32. Embora esta casuística seja pequena, o presente estudo mostrou alguns casos de sarcoma, tais como a neoplasia mesenquimal maligna (6,66%), fibrohistiocitoma maligno (6,66%), schwannoma maligno (3,33%), sarcoma de células reticulares (3,33%), angiossarcoma (3,33%) e mieloma múltiplo (3,33%). Os sarcomas em conjunto, apresentaram predileção pelo sexo masculino (62,50%) e pela etnia branca (50,00%). Não houve predileção por idade e pela localização anatômica. A literatura mostra que, de maneira geral, os sarcomas acometem pacientes jovens do sexo masculino32 e ocorrem preferencialmente em língua e mucosa jugal33. Os resultados deste estudo mostraram que são consistentes com os relatos da literatura, no que se refere ao gênero, etnia, idade e localização anatômica das lesões avaliadas. Confirmou-se o CCE como a neoplasia maligna mais incidente em cavidade bucal, apresentando predileção pelo gênero masculino e pela etnia branca. É extremamente importante que o cirurgião dentista conheça as características das neoplasias malignas de tecido mole que acometem a cavidade bucal, além da frequência e do perfil dos pacientes acometidos por tais lesões. Nesse sentido, os levantamentos epidemiológicos são necessários e devem ser divulgados para que –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 71-75, abril / maio / junho 2011 Neoplasias malignas orais: estudo retrospectivo de 1962 a 2009. Carmo et al. se possa realizar ações preventivas, correto diagnóstico e tratamento adequado. referêncIas 1. Guerra MR, Gallo CVM, Mendonça GAS. Risco de câncer no Brasil: tendências e estudos epidemiológicos mais recentes. Rev Bras Cancerol 2005;51(3):227-34. 2. Cooper GM. Câncer. In: Cooper GM. A célula uma abordagem molecular. 2. ed. Porto Alegre: Artmed; 2001. p. 633-74. 3. Louro ID, Llerena Júnior JC, Melo MSV, Ashton-Prolla P, ConfortiFroes N. Genética molecular do câncer. São Paulo: MSG Produção; 2002. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Estimativas de incidência e mortalidade de câncer no Brasil. Disponível em: http: //www.inca.gov.br/estimativas/2009/tbregioes_consolidado.asp. Acesso em 14/07/2009. 5. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia epithelial e Tumores dos tecidos moles. In: Patologia Oral e Maxilofacial. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2009; p.363-435 e p. 509-565. 6. Mehrotra R, Singh M, Kumar D, Pandey NA, Gupta RK, Sinha US. Age specific incidence rate and pathological spectrum of oral câncer in Allahabad. Ind J Med Sciences 2003;57(9):400-4. 7. Brener S, Jeunon FA, Barbosa AA, Grandinetti HAM. Carcinoma de células escamosas bucal: uma revisão de literatura entre o perfil do paciente, estadiamento clínico e tratamento proposto. Rev Bras Cancerol 2007;53(1):63-69. 8. Osterne, R.L.V. et al. Saúde bucal em pacientes portadores de neoplasias malignas: estudo clínico-epidemiológico e análise de necessidades odontológicas de 421 pacientes. Rev Bras Cancerol 2008;54(3):221-226. 9. Daley T, Darling M. Nonsquamous cell malignant tumours of the oral cavity: an overview. J Can Dent Assoc 2003;69(9):577-82. 10. Parise O. Câncer de boca: aspectos básicos e terapêuticos. São Paulo: Sarvier; 2000. 11. Dedivitis RA, França CM, Mafra ACB, Guimarães FT, Guimarães AV. Características clínico-epidemiológicas no carcinoma espinocelular de boca e orofaringe. Rev Bras Otorrinolaringol 2004;70(1):35-40. 12. Scully C, Porter S. Oral cancer. British Med J 2000;321:97-100. 13. Regezi JA, Sciubba JJ. Lesões Linfoides. In: Patologia Bucal – Correlações Clinicopatológicas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. p. 219-234. 14. Epstein JB. et al. Characteristics of oral and paraoral malignant lymphoma: a population-based review of 361 cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2001;92(5):19-25. 15. Kolokotronis A. et al. Localized B-cell non-Hodgkin’s lymphoma of oral cavity and maxillofacial region: a clinical study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2005;99:303-10. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 71-75, abril / maio / junho 2011 16. Amstalden EM, Cintra ML. Dermatopatologia. In: Patologia Especial. 2ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. p. 632-55. 17. Neville BW, Day TA. Oral cancer and precancerous lesions. CA Cancer J Clin 2002;52(4):195-215. 18. Bouquot JE. Oral verrucous carcinoma – incidence in two U.S. populations. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 1998;86:318-324. 19. Carvalho AL, Singh B, Spiro RH, Kowalski LP, Shah JP. Cancer of the oral cavity: a comparison between institutions in a developing and a developed nation. Head Neck 2004;26:31-8. 20. Abdo EN, Garrocho AA, Aguiar MCF. Perfil do paciente portador de carcinoma epidermoide da cavidade bucal, em tratamento no Hospital Mario Penna em Belo Horizonte. Rev Bras Cancerol 2002;48:357-62. 21. Danesi CC, Marconato MC, Spara L. Câncer de boca: um estudo no hospital universitário de Santa Maria. Rev Bras Cancerol 2000;46:17982. 22. Amorim Filho FS, Sobrinho JA, Rapoport A, Carvalho MB, Novo NF, Juliano Y. Estudo de variáveis demográficas, ocupacionais e cocarcinogenéticas no carcinoma espinocelular da base de língua nas mulheres. Rev Bras Otorrinolaringol 2003;69(4):472-8. 23. Maciel S, Lessa F, Rodrigues CS. Mortalidade por câncer bucal e desigualdades sociais em capitais brasileiras nos anos 1980 e 1991. Rev Bras Odonto Saúde Coletiva 2000;1(1):51-61. 24. Urquhart A, Berg R. Hodgkin’s and non-Hodgkin’s lymphoma of the head and neck. Laryngoscope 2001;111:1565-69. 25. Ugboko VI et al. Orofacial non-Hodgkin’s lymphoma in Nigerians. J Oral Maxillofac Surg 2004;62:1347-50. 26. Solomides CC et al. Lymphomas of the oral cavity: histology, immunologic type, and incidence of Epstein-Barr virus infection. Human Pathol 2002;33(2):153-7. 27. Zavras A et al. Leukoplakia and intraoral malignancies: female cases increase in Greece. JEADV 2003;17:25-7. 28. Ferreira FR, Nascimento LFC. Câncer cutâneo em Taubaté (SP) – Brasil, de 2001 a 2005: um estudo de prevalência. An Bras Dermatol 2008;83(4):317-22. 29. Mantese SAO, Berbert ALCV, Gomides MDA, Rocha A. Carcinoma basocelular - Análise de 300 casos observados em Uberlândia - MG. An Bras Dermatol 2006;81(2):136-142. 30. Bandeira AM, Bandeira V, Silva JF, Mazza E. Carcinomas basocelulares: estudo clínico e anatomopatológico de 704 tumores. An Bras Dermatol 2003;78(1):23-34. 31. Nasser N. Epidemiologia dos carcinomas basocelulares em Blumenau, SC, Brasil, de 1980 a 1999. An Bras Dermatol 2005;80(4):363-8. 32. Pandey M. Sarcoma of the oral and maxillofacial soft tissue in adults. Euro J Surg Oncol 2000;26:145-48. 33. Amir R et al. Neurilemmoma of the hard palate. J Oral maxillofac Surg 2002;60:1069-71. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 75 Artigo Original Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar Major salivary glands cancer - survival analysis and results of the treatment in one hospitalar institution RESUMO SUMMARy Introdução: Este estudo foi desenhado para demonstrar a experiência e os resultados de uma única instituição de um tumor relativamente incomum. Objetivos: Relatar os resultados do tratamento dos tumores de glândulas salivares maiores do Hospital do Câncer de Barretos e compará-los com os dados da literatura. Método: Realizou-se a análise retrospectiva de registros hospitalares de 38 pacientes tratados com cirurgia, radioterapia exclusiva ou adjuvante à cirurgia no Hospital do Câncer de Barretos entre Janeiro de 2002 e Dezembro de 2006. Foi realizada análise descritiva dos dados demográficos e epidemiológicos. O cálculo de sobrevida global foi feito utilizando-se o método de Kaplan-Meier. Resultados: Dos 38 pacientes avaliados no estudo, 6 (15,8%) apresentavam estádio I, 13 (34,2%) estádio II, 3 (7,9%) estádio III e 16 (42,1%) estádio IVa-b. Destes, 4 pacientes (10,5%) foram tratados com cirurgia exclusiva; 27 pacientes (71%) com cirurgia e radioterapia adjuvante; e 7 pacientes (18,5%) com radioterapia exclusiva. A sobrevida global em 5 anos dos pacientes tratados foi de 56,2%. Os pacientes que realizaram cirurgia exclusiva tiveram 75,0% de sobrevida global em 5 anos; os que realizaram cirurgia e radioterapia adjuvante 61,8% e os que fizeram radioterapia exclusiva 28,6%. Conclusão: A radioterapia como tratamento exclusivo ou adjuvante foi realizada em 89,5% dos pacientes tratados no presente estudo. Os resultados de sobrevida global em 5 anos da radioterapia adjuvante à cirurgia são semelhantes aos descritos na literatura. Palavras-chave: Neoplasias das Radioterapia; Análise de Sobrevida. Rubem Fernando L. C. Andrade 1 Marcos Duarte de Mattos 2 Juliana Muniz Miziara 1 Ana Luiza Pereira Quinto 1 Ana Tarsila Fonseca de Souza 3 Stela Verzinhasse Peres 4 Glândulas Background: This study was designed to demonstrate the experience and results from a single institution of a relatively uncommon tumor. Objectives: Report the results of the treatment of the major salivary glands cancer of the Hospital for Cancer of Barretos and to compare them with literature data. Method: We conducted a retrospective analysis of hospital records of 40 patients treated with surgery, radiotherapy alone or adjuvant to surgery at the Hospital for Cancer of Barretos between January 2002 and December 2006. A descriptive analysis of demographic and epidemiological data was performed. The overall survival was calculated using the Kaplan-Meier method. Results: Of the 38 patients in the study, 6 (15.8%) had stage I, 13 (34.2%) stage II, 3 (7.9%) stage III and 16 (42.1%) stage IVa- b. Of these, 4 patients (10.5%) were treated with surgery alone, 27 patients (71%) with surgery and adjuvant radiotherapy and 7 patients (18.5%) with radiotherapy alone. The 5-year overall survival of patients treated was 56.8%. The overall survival at 5 years for the patients who underwent to surgery alone was 75%, to those who underwent surgery and adjuvant radiotherapy 61.8%, and to the group that had radiotherapy alone 28.6%. Conclusion: Radiotherapy as sole or adjuvant treatment was performed in 87.5% of patients in this study. The overall survival at 5 years of adjuvant radiotherapy to surgery is similar to that described in the literature. Key words: Radiotherapy; Survival Analysis; Salivary Gland Neoplasms. Salivares; Introdução Os tumores de glândulas salivares são incomuns. As taxas de incidência no mundo variam de 0,1 a 1,7/100.000 habitantes e de acordo com os dados do último volume do “Cancer Incidence in Five Continents” (IARC), no Brasil, as taxas de incidência variam de 0,6 a 1,1/100.000 habitantes (1). Podem originar-se nas glândulas salivares maiores (parótidas, submandibulares, sublinguais) e menores (glândulas submucosas na cavidade oral, orofaringe, nasofaringe, cavidade nasal e seios paranasais) com 1) Título de Especialista em Radioterapia. Médico (a) Rádio-oncologista do Hospital de Câncer de Barretos. 2) Mestre pela UNIFESP/EPM na área de Radioterapia. Médico Rádio-oncologista do Hospital de Câncer de Barretos. 3) Completou Residência Médica na área de Radioterapia no ano de 2010 no Hospital de Câncer de Barretos. Médica Radio-oncologista. 4) Mestre em Saúde Pública na área de concentração de Epidemiologia pela Universidade de São Paulo/USP-SP. Epidemiologista do Hospital Israelita Albert Einstein - São Paulo. Instituição: Hospital de Câncer de Barretos. Jales / SP – Brasil. Correspondência: Rubem Fernando Lellis da Costa Andrade - Avenida Engenheiro Euphly Jalles, 526 - Bairro: Estados Unidos – Jales / SP – Brasil - CEP: 15700-254. Recebido em 19/05/2011; aceito para publicação em 25/06/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 76 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 76-80, abril / maio / junho 2011 Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar. diferentes apresentações, história natural da doença, achados histológicos e tratamento. A parótida é o sítio mais afetado, responsável por 80 a 90% de todos os tumores de glândulas salivares e geralmente são benignos, quando comparados com os de outras glândulas salivares onde a probabilidade de malignidade é superior a 50%. (2) A cirurgia é o tratamento primário, mas a radioterapia exclusiva pode ser considerada em algumas circunstâncias, como nos tumores irressecáveis (3). Na adjuvância, a indicação de radioterapia depende da presença de fatores adversos, tais como: alto grau histológico, margens positivas, metástases linfonodais e tumores T3-T4 (4). No passado, os tumores de glândulas salivares eram considerados “radiorresistentes”. No entanto, a radioterapia pós-operatória mostrou aumentar o controle locorregional para tumores de glândulas salivares em vários estudos (5-7), possibilitando um tratamento cirúrgico mais conservador para casos em que a ressecção completa resultaria em resultados cosméticos ruins ou alterações funcionais (8). Este estudo tem como objetivos demonstrar a experiência no tratamento de câncer de glândulas salivares maiores do Hospital de Câncer de Barretos (HCB) e comparar os resultados com os encontrados na literatura, considerando os dados escassos sobre esse tema. Método Realizou-se uma análise retrospectiva, através da coleta de dados de 54 prontuários de pacientes com tumores de glândulas salivares maiores que foram tratados no Hospital de Câncer de Barretos entre Janeiro de 2002 e Dezembro de 2006. Destes, 16 foram retirados da análise descritiva e estatística: 13 por apresentarem doença metastática ao Andrade et al. diagnóstico e 3 por apresentarem tipos histológicos com comportamento singulares (melanoma e carcinoma de pequenas células). Assim, foram avaliados estatisticamente registros hospitalares de 38 pacientes tratados com cirurgia, radioterapia exclusiva ou adjuvante à cirurgia. A análise descritiva dos dados demográficos e epidemiológicos foi feita através de frequências absolutas e relativas através de medidas de tendência central e dispersão. A análise estatística foi realizada através da versão 17.0 do programa “Statistical Package for the Social Sciences” (SPSS) e o cálculo de sobrevida global foi feito utilizando-se o método de Kaplan-Meier. O projeto de pesquisa foi analisado e aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da instituição onde foi realizado o estudo. resultados A idade mediana ao diagnóstico foi de 56,5 anos (6 a 89 anos), 28 (73,7%) pacientes eram do sexo masculino e 10 (26,3%) do sexo feminino. O local mais frequentemente acometido foi a parótida (78,9%), seguida pela glândula submandibular (21,1%) e o tipo histológico predominante foi o adenocarcinoma em 15 (39,5%) pacientes. Dos 38 pacientes avaliados no estudo, 6 (15,8%) apresentavam estádio I, 13 (34,2%) estádio II, 3 (7,9%) estádio III e 16 (42,1%) estádio IVa-b. Destes, 4 pacientes (10,5%) foram tratados com cirurgia exclusiva; 27 pacientes (71%) com cirurgia e radioterapia adjuvante; e 7 pacientes (18,5%) com radioterapia exclusiva (Tabela 1). O esvaziamento cervical foi realizado em 15 pacientes, sendo que 14 (93,4%) realizaram adjuvância com radioterapia e 1 (6,6%) não realizou. Destes, 1 (6,6%) apresentava tipo histológico adenoide cístico, 4 (26,7%) Tabela 1. Características dos pacientes do estudo (n=38). Variável Categoria Idade (anos)* Cirurgia + RT adj. n (%) Cirurgia exclusiva n (%) RT exclusiva n (%) 50 (100) 49,5 (100) 68 (100) Sexo Masculino Feminino 20 (74,1) 7 (25,9) 3 (75,0) 1 (25,0) 5 (71,4) 2 (28,6) Estádio I II III IVa-b 3 13 3 8 (11,1) (48,2) (11,1) (29,6) 2 (50,0) 0 -0 -2 (50,0) 1 (14,3) 0 -0 -6 85,7 Localização Parótida Submandibular 21 (77,8) 6 (22,2) 4 (100) 0 -- 5 (71,4) 2 (28,6) Tipos Histológicos Adenocarcinoma CEC Mucoepidermoide Adenoide cístico Outros 12 5 6 3 1 1 (25,0) 1 (25,0) 2 (50,0) 0 -0 -- 2 (28,6) 4 (57,1) 0 -0 -1 (14,3) (44,4) (18,5) (22,2) (11,1) (3,7) Legenda: * mediana; adj.: adjuvante; RT: radioterapia; CEC: carcinoma espinocelular. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 76-80, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 77 Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar. mucoepidermoide, 4 (26,7%) carcinoma espinocelular (CEC), 6 (40,0%) adenocarcinoma. A radioterapia como tratamento exclusivo ou adjuvante foi realizada em 89,5% dos pacientes, com a técnica convencional, pois no período de tratamento dos pacientes analisados a radioterapia tridimensional (RT3D) não estava ainda disponível na instituição. Portanto, a técnica utilizada variou conforme a disponibilidade de recursos e indicações do tratamento, sendo que dos 7 pacientes que realizaram radioterapia exclusiva, 3 (42,9%) utilizaram fótons de 6 Megavolts (MV) e 4 (57,1%) utilizaram fótons de 6 MV e elétrons com energia variando de 6 a 9 (Megaeletronvolts) MeV. Entre os 27 pacientes que realizaram tratamento adjuvante 6 (22,2%) utilizaram radioterapia com fótons de 6 MV e ortovoltagem, 9 (33,3%) realizaram radioterapia com fótons de 6 MV e 12 (44,4%) com fótons 6 MV e elétrons com energias variando de 9 a 12 MeV. A dose mediana total de tratamento foi de 61,2 Grays (Gy) (variando de 9 a 70.4 Gy) e o tempo mediano entre a cirurgia e o início da adjuvânvica foi de 2,27 meses (variando de 1 a 7 meses). No presente estudo, as taxas de sobrevida global em 5 anos nos pacientes submetidos apenas a cirurgia foi de 75%, enquanto que a sobrevida global para cirurgia e RT adjuvante foi de 61,8% (p < 0,001). Entre os pacientes que realizaram radioterapia exclusiva, a sobrevida global foi de 28,6%, porém 6 pacientes (87,5%) pertenciam aos estádios IVa-b (Tabela 2). A sobrevida global em 5 anos foi de 56,2%. dIscussão O tratamento aceito atualmente para tumores malignos depende do sítio primário, tipo histológico, grau de diferenciação, presença ou ausência de paralisia do nervo facial e extensão da invasão local do tumor. Excisão cirúrgica é a primeira modalidade de tratamento em quase todos os casos. Margens cirúrgicas amplas de tecidos normais não envolvidos são necessárias e podem incluir a pele da face e pescoço, músculos, partes moles contíguas e até ossos, como o temporal e o mandibular. Como uma regra geral, se o nervo facial está intacto antes da cirurgia, deveria ser poupado mesmo se a malignidade for de alto grau. Se o nervo facial está envolvido antes da cirurgia, deveria ser ressecado e imediatamente reconstruído. Outros nervos regionais não precisam ser sacrificados ao menos que estejam envolvidos grosseiramente pelo tumor (2). A taxa de recidiva para tumores tratados com cirurgia exclusiva varia de 24% a 38%, e ultrapassa os 50% para carcinomas adenoides císticos, indiferenciados, mistos malignos e mucoepidermoides de alto grau. O uso da radioterapia pós-operatória parece ser efetiva no controle local de doença microscópica residual (11), embora também possa ser utilizada como modalidade definitiva em algumas circunstâncias como doença irressecável ou 78 Andrade et al. Tabela 2. Taxa de sobrevida global de pacientes, segundo tratamento. Tratamento Cirurgia Cirurgia + RT Radioterapia* Nº de Nº de Sobrevida Global (%) eventos óbitos 5 anos 4 27 7 1 5 5 75,0 61,8 28,6 P <0,001 Legenda: *seguimento de 1 ano e 6 meses; RT: radioterapia. pacientes com metástases à distância (9), apresentando um controle locorregional com fracionamentos convencionais com fótons de 10 a 50% (8,12). Dados de séries retrospectivas sugerem melhor controle local quando a RT é adicionada à cirurgia, mas o impacto na sobrevida é incerto (8,13). Não há trabalhos randomizados comparando cirurgia exclusiva ou com RT adjuvante, mas várias séries observacionais compararam resultados de pacientes tratados com e sem RT. Na maioria dos casos, RT foi adicionada devido a presença de fatores adversos (4,9). O maior estudo foi uma série combinada de 498 pacientes com tumores de glândulas salivares tratados com (n=386) ou sem (n=112) radioterapia adjuvante e com um seguimento mediano de 76 meses. Embora com uma frequência de características prognósticas piores no grupo da radioterapia (mais linfonodos positivos, maior número de tumores localmente avançados), as taxas de controle local foram significativamente maiores quando a RT foi associada ao tratamento tanto em 5 como em 10 anos (94% x 84% e 91% x 76%, respectivamente). Não foram fornecidos dados sobre a sobrevida global (8). A radioterapia pós-operatória é recomendada para tumores T3-T4 (8, 9, 14, 15), margens comprometidas, próximas ou ressecção incompleta (5, 6, 8, 9, 15, 16), linfonodos regionais comprometidos, envolvimento ósseo e invasão perineural (8, 17, 18). Também pode ser recomendada quando o tumor for de grau intermediário ou alto, se houver invasão linfovascular ou extensão extracapsular dos linfonodos ressecados (19). O risco de metástases linfonodais ocultas cervicais depende principalmente do estadiamento e tipo histológico. Em uma revisão de 474 casos de tumores malignos envolvendo as glândulas salivares maiores, o risco de metástases linfonodais era significativamente maior em tumores de alto grau comparados aos de graus baixo e intermediário (49% x 7%), e para tumores maiores que 4 cm comparados aos menores (20% x 4%) (20). Como as indicações de esvaziamento cervical eletivo são muitas vezes difíceis de serem estabelecidas, o grupo holandês: “Dutch Head and Neck Oncology Cooperative Group (NWHHT)” criou uma pontuação (Tabela 3) levando em consideração o estadiamento e o tipo histológico, pois a chance de envolvimento regional linfonodal também é maior com tumores indiferenciados, adenocarcinomas, CEC e carcinomas de ductos salivares (8). Para os casos de tumores de parótida cuja soma for superior a 4, –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 76-80, abril / maio / junho 2011 Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar. Andrade et al. Tabela 3. Estimativa do risco de comprometimento linfonodal em porcentagem de acordo com a soma dos escores (*). Soma: Estadiamento (T) + Tipo Histológico 2 3 4 5 6 Glândula Glândula Cavidade Parótida Submandibular Oral 4% 12% 25% 33% 38% 0% 33% 57% 60% 50% 4% 13% 19% — — Outras Localizações 0% 29% 56% — — Escores: Estadiamento (T): T1 = 1; T2 = 2; T3-4 = 3. Tipos histológicos: acinar/adenoide cístico/carcinoma ex-adenoma pleomórfico = 1; mucoepidermoide = 2; CEC/indiferenciado = 3. * Adaptado e baseado de: “The role of radiotherapy in the treatment of malignant salivary gland tumors. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2005; 61: 103-111. Terhaard CHJ, Lubsen H, Rasch CRN, Levendag PC, et al.” (8). o tratamento eletivo deve ser indicado.Já na maioria dos casos de tumores de glândulas submandibulares, o esvaziamento cervical dos níveis I-III é realizado no momento da ressecção local, pois o risco de comprometimento é maior.O risco cresce também para lesões de glândulas salivares maiores comparados às menores e tumores de parótida com paralisia do nervo facial (21). Um outro fator bastante controverso é a histologia. A presença de histologia considerada mais agressiva, tais como carcinoma ex-adenoma pleomórfico, carcinoma espinocelular, carcinoma indiferenciado e carcinoma do ducto salivar (12, 15, 22) é considerada como uma indicação para radioterapia por vários autores, assim como lesões de alto grau (5, 12, 14, 17), embora a maioria destes estudos basearam-se somente em análises univariadas. A histologia não foi um fator prognóstico independente de sobrevida livre de doença para tumores de parótidas em uma publicação de Terhaard et al (8) e outra de van de Poorten (20). Devido a afinidade única do carcinoma adenoide cístico pelo envolvimento neural, muitos autores recomendam RT pós-operatória de rotina (10), mas outros sugerem RT adjuvante apenas para pacientes com câncer adenoide cístico em estádio avançado (T3/T4) ou com margens da ressecção positivas (24). Atualmente, existem várias opções de técnicas, fracionamentos e modalidades de tratamento radioterápico. Nos casos de adjuvância, após ressecção completa aqui apresentados, utilizou-se a técnica convencional com a maioria dos planejamentos utilizando fluoroscopia, com feixe exclusivo de fótons ou misto com fótons e elétrons e dose mediana final de 61.2 Gy, que está de acordo com a sugerida pela literatura (60 - 70Gy) e que depende da presença de fatores histopatológicos, como margens comprometidas ou não (5,8). A terapia hiperfracionada com fótons para uma dose total de 65 - 70 Gy pode resultar em uma taxa de controle local de 85% com RT exclusiva, como mostrada por Wang et al. (25), mas o seguimento desta série foi pequeno e não se encontram disponíveis atualizações até o momento para maiores recomendações com este tipo de fracionamento. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 76-80, abril / maio / junho 2011 Atualmente, a grande maioria dos casos de glândulas salivares maiores é tratada com a técnica de planejamento com RT3D. Já nos países desenvolvidos e em algumas instituições de países em desenvolvimento, pode optar-se pelo tratamento com a técnica de radioterapia com modulação de feixes (IMRT). Ambas as técnicas, principalmente a última, permitem a diminuição de dose em tecidos normais permitindo um escalonamento de dose no volume tumoral favorecendo o controle locoregional e reduzindo as complicações agudas e tardias (22,26). Na série de casos aqui apresentada, apesar de ter havido diferença estatisticamente significante na sobrevida global entre as modalidades de tratamento empregadas (Tabela 2), é importante ressaltar o número de eventos menor no grupo tratado com cirurgia exclusiva e cirurgia acompanhada de RT (4 x 27, respectivamente), além das características mais favoráveis dos pacientes no primeiro grupo (estadiamento menor e menos fatores adversos), sendo difícil estabelecer uma relação direta entre ambos. A sobrevida global em 5 anos para os pacientes tratados com RT exclusiva foi de 28,6%, porém 6 pacientes (87,5%) pertenciam aos estádios IVa-b (Tabela 2). Portanto, nesta coorte, a sobrevida variou conforme o tratamento empregado, que foi determinado de acordo com o estadiamento e os fatores de risco para recidiva. Os resultados de sobrevida em 5 anos segundo os Resultados Finais de Sobrevivências e Epidemiologia (SEER-”Surveillance, Epidemiology and End Results”) do banco de dados do Instituto Nacional de Câncer de 1981 a 1995 foram de: Estádio I – 75%; II – 59%; III – 57% e IV – 28% (27). Considerando estes dados, a sobrevida global dos pacientes deste estudo, encontra-se dentro do esperado (Tabelas 1 e 2). conclusão A radioterapia como tratamento exclusivo ou adjuvante foi realizada em 89,5% dos pacientes tratados no presente estudo. Os resultados de sobrevida global desta série encontram-se de acordo com os encontrados na –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 79 Câncer de glândulas salivares maiores - análise de sobrevida e resultados do tratamento em uma instituição hospitalar. literatura, principalmente para radioterapia adjuvante à cirurgia. São necessários estudos com maior número de pacientes para se obter uma padronização nas diversas técnicas de tratamento com radioterapia utilizadas atualmente. referêncIas 1. Curado MP, Edwards B, Shin HR, Storm H, Ferlay J, Heanue M and Boyle P, eds (2007). Cancer Incidence in Five Continents, Vol. IX. IARC Scientific Publications No. 160, Lyon, IARC. 2. Foote RL, Olsen KD, Bonner JÁ, Lewis Jê. Salivary gland cancer. In: Gunderson LL, Tepper JE, editors. Clinical Radiation Oncology, 1st. ed. Philadelphia: Churchill Livingstone; 2000. p. 518-534. 3. Mendenhall WM, Morris CG, Amdur RJ, Werning JW, Villaret DB. Radiotherapy Alone or Combined with Surgery for Salivary Gland Carcinoma. Cancer 2005;103:2544-2550. 4. Chen AM, Granchi PJ, Garcia J, et al. Local-regional recurrence after surgery without postoperative irradiation for carcinomas of the major salivary glands: implications for adjuvant therapy. Int J Radiat Oncol Biol Phys 2007;67:982-987. 5. Garden AS, El-NJaggar AK, Morrison WH, et al. Postoperative radiotherapy for malignant tumors of the parotid gland. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1997;37:79-85. 6. North CA, Lee DJ, Piantadosi S, et al. Carcinoma of the major salivary glands treated by surgery or surgery plus postoperative radiotherapy. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1990;18:1319-1326. 7. Therkidsen MH, Christensen M, Andersen LJ, Schiodt T, Hansen Hs. Salivary gland carcinomas – prognostic factors. Acta Oncol 1998;37: 701-713. 8. Terhaard CHJ, Lubsen H, Rasch CRN, Levendag PC, et al. The Role of Radiotherapy in the treatment of malignant salivary gland tumors. Int J Radiat Oncol Biol Phys 2005;61:103-111. 9. Chen AM, Bucci MK, Quivey JM, et al. Long-term outcome of patients treated by radiation therapy alone for salivary gland carcinomas. Int J Radiat Oncol Biol Phys 2006;66:1044-1050. 10. Mendenhall WM, Morris CG, Amdur RJ, Werning JW, Hinerman RW, Villaret DB.Radiotherapy alone or combined with surgery for adenoid cystic carcinoma of the head and neck.Head Neck 2004;26:154162. 11. Elkon D, Colman M, Hendrickson FR. Radiation therapy in the treatment of malignant salivary gland tumors. Cancer. 1978:41;502-506. 12. Laramore GE, Krall JM, Griffin TW, et al. Neutron versus photon irradiation for unresectable salivary gland tumors: final report of an RTOG- 80 Andrade et al. MRC randomized trial. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1993:27;235-240. 13. Storey MR, Garden AS, Morrison WH, et al. Postoperative radiotherapy for malignant tumors of the submandibular gland. Int J Radiat Oncol Biol Phys 2001;51:952-958. 14. Kirbride P, Liu FF, O’Sullivan, et al. Outcome of curative management of malignant tumours of the parotid gland. J Otolaryngol 2001;30:271-279. 15. Zbären P, Schüpbach J, Nuyens M, et al. Carcinoma of the parotid gland. Am J Surg 2003;186:57-62. 16. Hosokawa Y, Shirato H, Hashimoto S, et al. Role of radiotherapy for mucoepidermoid carcinoma of salivary gland. Oral Oncol 1999;35:105111. 17. Vikram B, Strong EW, Shah JP, et al. Radiation therapy in adenoidcystic carcinoma. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1993;27:235-240. 18. Miglianico L, Eschwege F, Marandas P, et al. Cervico-facial adoid cystic carcinoma: study of 102 cases. Influence of radiation therapy. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1987;13:673-678. 19. Bron LP, Traynor SJ, McNeil EB, O´Brien CJ. Primary and metastatic cancer of the parotid: comparison of clinical behavior in 232 cases. Laryngoscope 2003; 113(6):1070-1075. 20. Armstrong, JG, Harrison, LB, Thaler, HT, et al. The indications for elective treatment of the neck in cancer of the major salivary glands. Cancer 1992;69:615-619. 21. Regis De, Brito Santos I, Kowalski, LP, Cavalcante De, Araujo V, et al. Multivariate analysis of risk factors for neck metastases in surgically treated parotid carcinomas. Arch Otolaryngol Head Neck Surg 2001; 127:56-60. 22. Terhaard CHJ. Postoperative and Primary Radiotherapy for Salivary Gland Carcinomas: Indications, Techniques, and Results. Int J Radiat Oncol Biol Phys 2007;69:S52-S55. 23. Van der Poorten VLM, Balm AJM, Hilgers FJM, et al. The development of a prognostic score for patients with parotid carcinoma. Cancer 1999;85:2057-2067. 24. Akashi HK, Altemani AM, Araújo PPC, Barreto G, Martins AS, Negro AD, Tincani AJ. Management of salivary gland adenoid cystic carcinoma: institutional experience of a case series. Sao Paulo Med J 2006;124(1):26-30. 25. Wang CC, Goodman M. Photon irradiation of unresectable carcinomas of salivary glands. Int J Radiat Oncol Biol Phys 1991;21:569-576. 26. Braam PM, Terhaard CHJ, Roesink JM, et al. Intensity-modulated radiotherapy significantly reduces xerostomia compared with conventional radiotherapy. Int J Radiat Oncol Biol Phys. 2006;66:975–980. 27. Greene, FL. American Joint Committee on Cancer (AJCC) Cancer Staging Manual. New York: Springer-Verlag, 2002. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 76-80, abril / maio / junho 2011 Artigo Original Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos Retrospective study of oral benign tumours: a forty-two year analysis RESUMO Avaliar a prevalência de tumores benignos de tecido mole diagnosticados no Serviço de Patologia Cirúrgica da FOSJCUNESP e comparar os resultados com a literatura.O estudo foi realizado a partir dos laudos histopatológicos do Serviço de Patologia Cirúrgica da FOSJC-UNESP entre 1962-2004. Foram considerados dados como sexo, etnia, idade, localização anatômica e diagnóstico histopatológico. Foram avaliados 8413 laudos histopatológicos e encontradas 775 lesões, sendo o fibroma mais frequente (36,64%), ocorrendo principalmente na mucosa jugal (58,10%) e na 5a década de vida (23,24%). O papiloma foi a segunda lesão mais comum (25,55%), localizada principalmente em lábio inferior (18,70%), entre a 1ª e a 5a décadas de vida (74,74%). O fibroma de células gigantes representou 13,30% dos casos, ocorrendo mais em língua (33,00%) entre a 1a e a 5ª décadas de vida (84,45%). Os casos de hemangioma (8,64%) ocorreram com maior frequência em lábio inferior (25,37%) entre a 1a e a 6a décadas de vida (89,55%) e os de lipoma (4,26%) localizaram-se principalmente em mucosa jugal (39,40%) acometendo 7a década de vida (27,27%). Todos os casos foram mais prevalentes na população branca (69,55%) e em mulheres (53,68%), exceto o lipoma que mostrou discreta predileção pelo sexo masculino (51,51%). O estudo dos aspectos epidemiológicos dos tumores benignos orais é importante para confrontar nossa casuística com os resultados da literatura. O detalhamento das características epidemiológicas é de fundamental importância, pois essas informações são de real valor para o estabelecimento do diagnóstico histopatológico e da melhor conduta terapêutica a ser instituída. Palavras-chave: Epidemiologia; Mucosa Bucal; Prevalência. Elaine Dias do Carmo 1 Lúcia Helena Denardi Roveroni Favaretto 2 Fernanda Bertini 3 Suzana Ungaro Amadei 4 Adriana Aigotti Haberbeck Brandão 5 Luiz Eduardo Blumer Rosa 6 ABSTRACT This study aimed to evaluate the prevalence of the benign neoplasias of the soft tissue diagnosed in the Oral Pathology files of FOSJC-UNESP and to compare our results with the literature. The material of the study was taken from histopathologic diagnosis of the Oral Pathology files of FOSJC-UNESP between 1962 and 2004. Were considered as gender, race, age, anatomic localization and histopathological diagnosis. From 8413 histopathologic diagnosis evaluated, we found 775 benign neoplasias of the soft tissue. Fibroma was the most frequent performed 284 cases (36,64%), affecting mainly the buccal mucosa (58,10%), and were more common in the 5th decade of life (23,24%). Papilloma was the second lesion, with 198 cases (25,55%), mainly in the lower lip (18,70%), and more prevalent between the 1nd and 5th decades of life (74,74%). Giant cell fibroma performed 103 cases (13,30%), occurred mainly in the tongue (33,00%), and between 1st and 5th decades of life (80,57%). It was found 67 cases of hemangioma (8,64%), principally in the lower lip (25,37%), and was more prevalent between 2nd and 6th decades of life (80,59%). It were diagnosed 33 cases of lipoma (4,26%), and occurred mainly the buccal mucosa (39,40%), and in the 7th decade of life (27,27%). Those lesions were more prevalent in the white population (69,55%) and in the females (53,68%), except lipoma that showed mild predilection for males (51,51%). The study of epidemiological aspects of benign oral tumors is important to confront our study of cases to the results found in the literature. The detailed description of epidemiological characteristics is of fundamental importance because this information has a real value to determine the histopathologic diagnosis and therefore, the best therapeutic approach to be taken. Key words: Epidemiology; Mouth Mucosa; Prevalence. 1) Doutorado. Professora Doutora da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN). 2) Mestrado. Cirurgiã Dentista. 3) Doutorado. Cirurgiã Dentista e Pesquisadora Voluntária FOSJC-Unesp. 4) Doutorado. Professora Doutora da Faculdade de Pindamonhangaba (FAPI). 5) Doutorado. Professora Doutora da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - (FOSJC/UNESP). 6) Doutorado. Professor Adjunto da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos - (FOSJC/UNESP). Instituição: FOSJC-UNESP. São Sebastião / SP – Brasil. Correspondência: Fernanda Bertini - Rua José do Patrocínio 88 - BSF- São Sebastião / SP – Brasil - CEP: 11600-000 - Telefone: (+55 12) 3893-1882 / 9767-6666 - E-mail: [email protected] Recebido em 15/05/2011; aceito para publicação em 05/07/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 81-86, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 81 Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. Introdução O termo neoplasia significa literalmente crescimento novo e ocorre devido ao aumento da proliferação celular, de forma autônoma em um determinado tecido ou órgão. Quando estas células em proliferação preservam grande parte de suas características morfológicas e funcionais, sendo semelhantes às células de origem a neoplasia recebe a designação de benigna. Estas se caracterizam pelo crescimento lento e expansivo com limites nítidos, sendo bem-diferenciadas1. Os estudos epidemiológicos sobre os tumores benignos que ocorrem em tecidos moles da boca são importantes para se conhecer além da prevalência, as principais características destas lesões e o perfil dos pacientes acometidos. Desta maneira, diversos trabalhos têm sido realizados em diferentes regiões brasileiras2,3. Os tumores benignos de tecido mole da boca acometem pacientes de ambos os sexos, de todas as etnias e de ampla faixa etária. Dentre os tumores benignos mais comuns da boca estão os de origem epitelial (papiloma), conjuntiva (fibroma, lipoma, hemangioma e linfangioma), tecido muscular (leiomioma e rabdomioma) e tecido nervoso (neurilemoma)4. O fibroma é um dos tumores mais comuns que ocorre nos tecidos moles da boca. Segundo alguns autores é duvidoso que ele represente certamente uma neoplasia benigna verdadeira devido a sua semelhança com a hiperplasia reacional do tecido conjuntivo fibroso. No entanto, quando o epitélio de revestimento não exibe alterações inflamatórias e a proliferação é observada apenas no tecido conjuntivo, pode ser considerada como uma neoplasia5. Os tumores benignos apresentam-se como um nódulo firme, séssil ou pediculado, de superfície plana, de coloração semelhante à mucosa circunjacente. Acomete preferencialmente homens na 4ª e 6ª décadas de vida, sendo os sítios anatômicos mais comuns à mucosa labial, língua, gengiva e palato4. O fibroma de células gigantes é um tumor com características clínico-patológicas distintas do fibroma, podendo representar uma variante da hiperplasia fibrosa focal. Recebe esta denominação devido à presença de fibroblastos bi ou trinucleados, volumosos e estrelados, localizados em meio a um tecido conjuntivo fibrovascular delicado6. Em geral o epitélio de revestimento é atrófico, embora as papilas epiteliais mostrem extremidades longas e afiladas. Apresenta-se como um nódulo séssil ou pediculado, usualmente com menos de 1cm de diâmetro. Aproximadamente 60% dos casos são diagnosticados nas três primeiras décadas de vida, com ligeira predileção pelo sexo feminino, ocorrendo em 50% dos casos na gengiva5. Já o papiloma é um tumor benigno de origem do epitélio de revestimento bucal. Sua etiologia é desconhecida, porém a semelhança macroscópica e microscópica da lesão com a verruga vulgar faz, por analogia, admitirse a possibilidade de origem virótica7. 82 Carmo et al. Presumivelmente é induzida pelo papilomavírus humano (HPV), que apresenta alguns subtipos, sendo que os subtipos 6 e 11 têm sido identificados em 50% dos papilomas orais em comparação com menos de 5% em células da mucosa normal. Ocorre principalmente em pessoas entre 30 e 50 anos de idade, sem predileção por sexo, acometendo mais a língua, lábio e palato mole4. Clinicamente apresenta-se como uma lesão exofítica com numerosas projeções digitiformes, dando uma aparência de couve-flor, medindo geralmente 4 a 5 mm5. Os hemangiomas são proliferações vasculares benignas da infância que podem estar presentes desde o nascimento. São caracterizados pela proliferação de células endoteliais, cujo crescimento é rápido, seguido pela fase de estabilização com posterior involução gradual. Devem ser diferenciados das malformações vasculares (hamartomas), as quais são chamadas anomalias estruturais dos vasos sanguíneos que representam proliferação endotelial sem variações no ritmo de crescimento ou involução, persistindo por toda a vida6. Na região bucomaxilofacial podem envolver mucosa, pele, músculos, glândulas salivares e ossos maxilares. São classificados de acordo com suas características histopatológicas em hemangioma capilar, juvenil e cavernoso8. O hemangioma capilar se desenvolve a partir de capilares sanguíneos, sendo o tipo mais comum. O termo hemangioma juvenil refere-se ao estágio imaturo altamente celular de um hemangioma capilar e o cavernoso recebe esta denominação devido ao grande diâmetro dos vasos sanguíneos proliferantes5. As neoplasias classificadas como lipomas são consideradas neoplasias verdadeiras, originadas a partir do tecido adiposo maduro, sendo incomuns na cavidade bucal9,10. São constituídos por uma variável quantidade de adipócitos bem-diferenciados maduros entremeados por quantidade variável de fibras colágenas e vasos sanguíneos. Aparece mais comumente em mucosa jugal e vestíbulo, correspondendo a 50% dos casos, podendo ocorrer também em lábios, soalho e língua4,5,11,12. Acometem indivíduos adultos em uma ampla faixa etária sem predileção por sexo9,13. Considerando a importância dos levantamentos epidemiológicos foi realizado um estudo retrospectivo dos arquivos do Serviço de Patologia Cirúrgica da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJCUNESP), objetivando avaliar a incidência e a prevalência dos tumores benignos bucais de tecido mole, além do perfil dos pacientes portadores destas lesões. Método Foram avaliados 8413 laudos histopatológicos dos arquivos do Serviço de Patologia Cirúrgica do Departamento de Biociências e Diagnóstico Bucal da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos (FOSJC-UNESP) no período compreendido entre 1962 e 2004. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 81-86, abril / maio / junho 2011 Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. Carmo et al. As informações contidas nos laudos foram transferidas para uma planilha previamente elaborada, contendo os seguintes dados: sexo, etnia e idade dos pacientes, além da localização anatômica e diagnóstico histopatológico das lesões. Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de São José dos Campos – UNESP cumpre os princípios éticos contidos na Declaração de Helsink (2000), segue diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa com seres humanos, conforme Resolução n0 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovado sob o protocolo 055/2009-PH/CEP. resultados Do total de laudos histopatológicos avaliados (8413), os tumores benignos de cavidade bucal somaram 775 casos (9,29%), sendo os mais frequentes o fibroma, papiloma, fibroma de células gigantes, hemangioma e lipoma, somando 685 lesões (88,39%). Outros tumores também foram diagnosticados neste levantamento epidemiológico totalizando 90 casos (11,61%) (Tabela 1). Dentre estes estão o neurofibroma (26 casos – 3,35%), linfangioma (21 casos – 2,71%), nevo intramucoso (19 casos – 2,45%), fibrolipoma (12 casos – 1,55%), Schwannoma (5 casos – 0,64%), leiomioma vascular (2 casos – 0,26%), tumor de células granulares (3 casos – 0,39%), hemangioendotelioma (1 caso – 0,13%), neoplasia benigna de origem neural (1 caso - 0,13%) (Tabela 1). Todas as lesões avaliadas mostraram predileção pelo sexo feminino, totalizando 416 casos (53,68%), exceto os casos de lipoma em que houve uma discreta predileção pelos homens (51,51%) (Tabela 1). A etnia branca foi a mais acometida em todas as lesões com 539 casos diagnosticados (69,55%) e os não-brancos representaram 113 casos (14,60%). Em 33 casos (15,85%) não foi possível identificar a etnia, pois esta não foi descrita nas fichas clínicas dos pacientes. Dentre os tumores benignos mais encontrados, o fibroma foi o mais frequente, correspondendo a 284 casos (36,64%) (Tabela 1). Os indivíduos do sexo feminino (182 casos – 64,09 %) e brancos (224 casos – 78,87%) foram os mais acometidos (Tabelas 2 e 3). A lesão foi diagnosticada em uma ampla faixa etária, entretanto, foi observada uma maior prevalência entre a 3ª e a 6ª déca- das de vida (215 casos -75,71%) com pico de incidência na 5ª década (66 casos - 23,24%). Em 12 casos (4,22%) não foi possível identificar a idade dos pacientes devido ao não preenchimento correto da ficha clínica (Tabela 4). A mucosa jugal foi à região mais acometida, perfazendo 165 casos (58,10%). Em dois casos (0,70%) não foi identificada a localização da lesão (Tabela 5). A segunda lesão mais frequente foi o papiloma totalizando 198 casos (25,55%) (Tabela 1). O maior número de casos foi observado em mulheres (119 casos – 60,10 %) brancas (154 casos – 77,77 %) (Tabelas 2 e 3). Os indivíduos entre a 1ª e a 5ª décadas de vida foram os mais acometidos, somando 148 casos (74,74%) (Tabela 4). O lábio inferior com 37 casos (18,70%) foi o sítio anatômico mais prevalente (Tabela 5). Em 4 casos (2,02%) os dados relacionados à idade e a localização não foram preenchidos pelos profissionais que realizaram a biópsia (Tabelas 4 e 5). Foram diagnosticados 103 casos (13,30%) de fibroma de células gigantes (Tabela 1), ocupando esta lesão o terceiro lugar entre os tumores benignos mais prevalentes. O sexo feminino (65 casos - 63,10 %) e a etnia Tabela 1. Distribuição dos casos de tumores benignos bucais do Serviço de Patologia Cirúrgica da FOSJCUNESP entre 1962 e 2004. Tumores benignos bucais Número de Casos Percentual Fibroma Papiloma Fibroma de células gigantes Hemangioma Lipoma Neurofibroma Linfangioma Nevo Intramucoso Fibrolipoma Schwannoma Tumor de células granulares Leiomioma Vascular Hemangioendotelioma Neoplasia benigna de origem neural 284 198 103 67 33 26 21 19 12 05 03 02 01 01 36,64% 25,55% 13,30% 8,64% 4,26% 3,35% 2,71% 2,45% 1,55% 0,64% 0,35% 0,26% 0,13% 0,13% Total 775 100,00% Tabela 2. Distribuição dos tumores benignos bucais mais frequentes de acordo com o sexo. Sexo Total Masculino Feminino Fibroma Papiloma Fibroma de células gigantes Hemangioma Lipoma 102 (35,91%) 182 (64,09%) 79 (39,90%) 119 (60,10%) 38 (36,90%) 65 (63,10%) 33 (49,26%) 34 (50,74%) 17 (51,51%) 16 (48,49%) 284 (100%) 198 (100%) 103 (100%) 67 (100%) 33 (100%) Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 81-86, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 83 Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. Carmo et al. Tabela 3. Distribuição dos tumores benignos bucais mais frequentes de acordo com a etnia. Fibroma Papiloma Fibroma de células gigantes Hemangioma Lipoma 224 78,87% Etnia Não-Branco 43 15,14% Não 17 Identificada 5,99% 154 77,77% 37 18,68% 07 3,55% 78 75,73% 19 18,44% 06 5,83% 26 78,79% 07 21,21% ---- 57 85,07% 07 10,45% 03 4,48% Total 198 (100%) 103 (100%) 33 (100%) 67 (100%) Sexo Branco 284 (100%) Tabela 4. Distribuição dos tumores benignos bucais de acordo com a idade. Idade Fibroma Papiloma Fibroma de células gigantes Hemangioma Lipoma 0 - 10 11 - 20 21 - 30 31 - 40 41 - 50 51 - 60 61 - 70 71 - 80 81 - 90 >90 NI* 03 (1,06%) 18 (6,33%) 49 (17,25%) 56 (19,72%) 66 (23,24%) 44 (15,50%) 24 (8,46%) 10 (3,52%) 02 (0,70%) --12 (4,22%) 25 (12,62%) 30 (15,15%) 29 (14,64%) 32 (16,16%) 32 (16,16%) 19 (9,60%) 17 (8,60%) 08 (4,04%) 02 (1,01%) --04 (2,02%) 16 (15,53%) 16 (15,53%) 18 (17,47%) 18 (17,47%) 19 (18,45%) 04 (3,90%) 08 (7,77%) 03 (2,91%) --01 (0,97%) --- 06 (8,95%) 11 (16,42%) 14 (20,90%) 08 (11,94%) 11 (16,42%) 10 (14,92%) 03 (4,48%) 01 (1,50%) ----03 (4,48%) 02 (6,06%) 02 (6,06%) 03 (9,09%) 03 (9,09%) 06 (18,20%) 02 (6,06%) 09 (27,27%) 05 (15,15%) ----01 (3,03%) Total 284 (100%) 198 (100%) 103 (100%) 67 (100%) 33 (100%) *NI= não-identificada Tabela 5. Distribuição dos tumores benignos bucais mais frequentes de acordo com a localização anatômica. Localização Língua Gengiva Mucosa jugal Soalho bucal Palato Palato mole Palato duro Palato duro/mole Lábio Lábio superior Lábio inferior Comissuara labial Mucosa labial Fundo de saco Rebordo alveolar Trígono retromolar Não identificada Total Fibroma Papiloma Fibroma de células gigantes Hemangioma Lipoma 40 (14,10%) 08 (2,81%) 165 (58,19%) 28 (14,14%) 28 (14,14%) 09 (4,54%) 05 (2,52%) 34 (33,00%) 26 (25,24%) 23 (22,33%) 01 (0,97%) 09 (13,43%) 09 (13,43%) 10 (14,92%) 04 (12,12%) 03 (9,09%) 13 (39,40%) 02 (0,70%) 08 (2,82%) 05 (1,76%) 31 (10,91%) 09 (3,17%) 01 (0,35%) 02 (0,70%) 08 (2,82%) 03 (1,05%) 02 (0,70%) 284 (100%) 25 (12,62%) 25 (12,62%) 11 (5,55%) 01 (0,50%) 13 (6,60%) 37 (18,70%) 09 (4,54%) 02 (1,94%) 01 (0,97%) 02 (2,99%) 04 (5,98%) 03 (4,48%) 08 (11,94%) 17 (25,37%) 01 (1,49%) 01 (3,03%) 01 (3,03%) 06 (18,18%) 01 (1,49%) 01 (1,49%) 01 (1,49%) 01 (1,49%) 03 (9,09%) 01 (3,03%) 04 (2,02%) 04 (3,90%) 03 (2,91%) 01 (0,97%) 198 (100%) 103 (100%) 67 (100%) 33 (100%) 03 (1,51%) branca (78 casos - 75,73%) foram mais prevalentes nesta lesão (Tabelas 2 e 3). O maior número de casos concentrou-se entre a 1ª e a 5ª décadas de vida (87 casos – 84,45%) (Tabela 4), sendo a língua o local mais acometido, totalizando 34 casos (33,00%). A localização não foi identificada em 1 caso (0,97%) (Tabela 5). 84 08 (7,70%) 01 (3,03%) Nesta casuística foram observados 67 casos de hemangioma (8,64%) (Tabela 1), sendo 56 do tipo capilar (83,58%), 8 do tipo cavernoso (11,94) e 3 casos arteriovenosos (4,48%). Foi observada uma discreta predileção por mulheres (34 casos - 50,74%) (Tabela 2) e predomínio pelos indivíduos brancos (57 casos - 85,07%) (Ta- –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 81-86, abril / maio / junho 2011 Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. Carmo et al. bela 3). A distribuição dos casos ocorreu em uma ampla faixa etária, porém o maior número foi observado entre a 1ª e a 6ª décadas de vida (60 casos – 89,55%). Em três casos (4,48%) as fichas clínicas foram preenchidas de maneira incompleta, não sendo possível à identificação da idade dos pacientes (Tabela 4). O lábio inferior foi o local de maior acometimento com 17 casos (25,37%) e em 1 caso (1,49%) não foi identificado o sítio anatômico da lesão (Tabela 5). Foram registrados 33 casos (4,26%) de lipoma (Tabela 1), que mostraram uma discreta predileção pelo sexo masculino (51,51%) (Tabelas 2 e 3). Com relação à idade houve um pico de incidência na 7ª década de vida com 9 casos diagnosticados (27,27%). Em um caso (3,03%) não foi identificada a idade na ficha clínica (Tabela 3). Foi observado um maior número de lesões acometendo a mucosa jugal, totalizando 13 casos (39,40%). Não foi possível identificar o sítio anatômico em 1 dos casos (3,03%) (Tabela 5). dIscussão O conhecimento das patologias bucais é de grande importância e interesse para o cirurgião-dentista. Embora existam muitos levantamentos epidemiológicos para determinar a prevalência de cárie e doença periodontal, são escassos os trabalhos enfatizando as outras doenças orais, como os tumores benignos. A literatura mostra que dentre as neoplasias benignas que ocorrem nos tecidos orais, algumas se apresentam de forma mais frequente que outras. No Brasil poucos são os levantamentos epidemiológicos sobre as lesões orais, embora esses estudos sejam importantes para o detalhamento dos aspectos clínicos, tais como etnia, sexo, idade e localização da lesão, assim como sua prevalência em determinadas regiões. É bastante importante a realização de estudos das mais variadas patologias que acometem a mucosa bucal, pois só dessa forma podemos ter um referencial epidemiológico que permita o confronto de realidades locais com a literatura científica mundial14. Os resultados do presente trabalho corroboram em grande parte com os da literatura, sendo o fibroma, papiloma, fibroma de células gigantes, hemangioma e lipoma as lesões mais frequentemente encontradas em estudos epidemiológicos15,16,17 . Esta casuística mostrou predileção pelo sexo feminino (53,68%) em todos os tumores benignos avaliados, exceto nos casos de lipoma em que houve uma discreta predileção pelos homens (51,51%). Desta maneira, este levantamento está de acordo com os estudos de Rocha et al.15, Toida et al.18 e Palácios et al.19, os quais verificaram que as mulheres foram as mais acometidas pelos tumores benignos de tecido mole numa proporção de 1:1,5. Entretanto, discorda dos trabalhos de Bouquot & Gundlach20 e Knapp21 em que tais lesões ocorreram com maior frequência entre os homens. No que se refere à etnia foi verificada uma predileção Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 81-86, abril / maio / junho 2011 pelos indivíduos brancos em todas as lesões diagnosticadas (69,55%) estando de acordo com os relatos de Bouquot & Gundlach20. O consenso atual na literatura é de que verdadeiros fibromas da boca são extremamente raros e, mesmo quando presentes, podem não ser diferenciados com absoluta certeza de hiperplasias fibrosas não-neoplásicas22. Estudos encontrados na literatura5,11,15 apontam que o fibroma acomete mais frequentemente a mucosa jugal, o que corrobora com nossos resultados, nos quais foram observados uma frequência de 58,10% em tal localização anatômica. Em nosso estudo foi verificado que o fibroma acometeu principalmente indivíduos entre a 3ª e a 6ª décadas de vida (75,70%) com um pico de incidência na 5ª década (23,24%), concordando com Neville et al.5, que afirmam que o fibroma ocorre principalmente em indivíduos nesta faixa etária. O papiloma foi a segunda lesão mais frequente nesta casuística assim como no estudo de Rocha et al.15, no qual foi observado em uma ampla faixa etária (1ª a 5ª décadas), corroborando com os relatos de Neville et al.5 que mostraram a 4ª e a 5ª décadas como as mais comumente afetadas pelo papiloma. Com relação à região anatômica verificamos que o lábio inferior foi o mais acometido (18,70%), resultados que divergem do estudo de Sato et al.23 que mostraram a língua como o local de maior prevalência. Foram observados 8,64% casos de hemangioma distribuídos em uma ampla faixa etária. No entanto, houve um pico de incidência na 3ª década (20,90%), discordando do estudo de Toida et al.18 e de Barrett & Speight24, que observaram um pico de incidência na 6ª década de vida. A literatura mostra que o sexo feminino é acometido cerca de 3 a 5 vezes mais que o sexo masculino5,18,24, contudo verificamos somente uma discreta predileção (50,74%), com resultados similares aos observados por Souza et al.25, que encontraram também uma discreta predileção (55,55%). A região anatômica mais comumente afetada em nosso estudo foi o lábio inferior (25,37%), assim como no estudo de Barrett & Speight24 e discordando de Toida et al.18, que verificaram a gengiva como o sítio mais acometido, seguido pela língua, sendo esta última localização a mais encontrada nos trabalhos de Souza et al.25 . O fibroma de células gigantes acometeu principalmente os indivíduos do sexo feminino (63,10%) entre a 1ª e a 5ª décadas de vida (84,46%), sendo a língua o sítio anatômico mais prevalente (33,00%). Neville et al.5 relataram uma maior predileção pela gengiva. Nossos achados corroboram com os relatos de Campos & Gomez26, que verificaram que o fibroma de células gigantes ocorre com mais frequência na 4ª década de vida, predominantemente em mulheres brancas. Embora o lipoma seja uma neoplasia incomum na cavidade bucal9,10 foi a quinta lesão mais frequente em nosso levantamento (4,26%), sendo a 7ª década de vida a mais afetada (27,27%), concordando com os re- –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 85 Estudo retrospectivo de tumores benignos bucais: análise de 42 anos. sultados de Sarah et al.10 e discordando de outros estudos9,13,27,28 que observaram um predomínio entre a 4ª e 6ª décadas de vida. A mucosa jugal foi à região anatômica mais acometida (39,40%) pelo lipoma, seguida pelo lábio inferior (18,18%), estando de acordo com a literatura10,12,27,28. Diferindo do estudo de Furlong et al.9 em que o sítio anatômico mais prevalente foi à região de parótida. Em relação ao sexo, nosso estudo mostrou discreta predileção pelos homens (51,51%). Desta forma, estes achados corroboram com alguns relatos da literatura9,10,13. Entretanto, diferem dos estudos de Fregnani et al.27no qual o sexo feminino foi mais prevalente e de Barbachan et al.28 que não observaram predileção por sexo. conclusão Com base nos resultados obtidos, concluímos que os dados deste estudo são semelhantes aos relatados na literatura no que se refere à idade, raça, sexo, e localização anatômica. Além disso, foi possível observar que a omissão de dados importantes ou o preenchimento incorreto das fichas clínicas ocorrem com frequência, prejudicando a realização de estudos epidemiológicos. referêncIas 1. Kumar V, Abbas AK, Fausto N, Mitchell RN. Neoplasia. Robbins Patologia Estrutural e Funcional. 6 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. p. 187-244. 2. Almeida OP, Silva CRV, Saiki P. Levantamento de lesões bucais. RGO 1987;35(6):471-73. 3. Gomez RS, Figueiredo FP, Capistrano HM, Mota AL. Levantamento das biópsias bucais realizadas na Faculdade de Odontologia da UFMG. Arq Centro Est Curso Odont Belo Horizonte 1992;29(2):105-13. 4. Tommasi AF, Lima AAS. Tumores benignos dos tecidos moles. Diagnóstico em Patologia Bucal. 3ed São Paulo: Pancast; 2002. p. 251-7. 5. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Tumores dos tecidos moles. Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2004; p.419-460. 6. Sapp JP, Eversole LR, Wysocki GP. Contemporary Oral and Maxillofacial Pathology. St. Louis: Mosby; 2004. p. 433. 7. Araújo NS, Araújo VC. Patologia bucal. São Paulo: Artes Médicas; 1984. p.239. 8. Mantravadi J, Roth LM, Kafrawy AH. Vascular neoplasms of the parotid gland. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1993;75(1):70-5. 9. Furlong MA, Fanburg-Smith JC, Childers ELB. Lipoma of the oral and maxillofacial region: site and subclassification of 125 cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2004;98(4):441-50. 10. Sarah AE et al. Lipoma da cavidade bucal: análise de 46 casos. Rev Fac Odont Porto Alegre 1985;27:103-11. 86 Carmo et al. 11. Regezi JA, Sciubba JJ, Pogrel MA. Lesões nodulares e papilarverruocosas. Atlas de Patologia Oral e Maxilofacial. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. 2002; p.53-72. 12. Bataineh AB, Mansour MJ, Abalkhalil A. Oral infiltrating lipomas. Brit J Oral Maxillofac Surg 1996;34:520-23. 13. Zhong L, Zhao S, Chen G, Ping F. Ultrasonographic appearance of lipoma in the oral and maxillofacial region. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2004;98(6):738-40. 14. Avelar RL, Antunes AA, Carvalho RWL, Santos TS, Oliveira Neto PJ, Andrade ESS. Granuloma piogênico oral: um levantamento epidemiológico de 191 casos. RGO 2008;56(2):131-35. 15. Rocha DAP, Oliveira LMM, Souza LB. Neoplasias benignas da cavidade oral: estudo epidemiológico de 21 anos (1982 a 2002). Rev Odonto da Univ Cidade de São Paulo 2006;18(1):53-60. 16. Moresco FC, Nora Filho MR, Balbinot MA. Levantamento epidemiológico dos diagnósticos histopatológicos da disciplina de estomatologia da faculdade de Odontologia da ULBRA- Canoas/RS. Stomatos 2003;9(17):29-34. 17. Budhy TI, Soenarto SD, Yaacob HB, Ngeow WC. Changing incidence of oral and maxillofacial tumours in East Java, Indonesia 19871992. Brit J Oral Maxilofac Surg 2001;39:210-13. 18. Toida M et al. Lobular capillary hemangioma of the oral mucosa: clinicopathological study of 43 cases with a special reference to immunohistochemical characterization of the vascular elements. Pathol Int 2003;53:1-7. 19. Palacios CJ, Valdez MH, Mattar RT, Campos E. Levantamiento epidemiológico de lãs lesiones bucales presentes en la población atendida em el servicio odontológico del hospital Eudoro González de la población de Carayaca en el Estado Vargas durante el período septiembre 1998 – agosto 1999. Acta Odontol Venezol 2001;39(1):9-12. 20. Bouquot JE, Gundlach KKH. Oral exophytic lesions in 23.616 white Americans over 35 years of age. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1986;62:284-91. 21. Knapp MJ. Oral disease in 181.338 consecutive oral examinations. JADA 1971;83:1288-93. 22. Cawson RA, Binnie WH. Benign fibrous tumors. Luca’s Pathology of Tumors of the Oral Tissues. 5 ed. London: Churchill Livingstone; 1998. p. 251-56. 23. Sato M, Tanaka N, Sato T, Amagasa T. Oral and maxillofacial tumours in children: a review. Brit J oral Maxillof Surg 1997;35:92-5. 24. Barrett AW, Speight PM. Superficial arteriovenous hemangioma of the oral cavity. Oral Surg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2000;90(6):731-8. 25. Souza WD, Cruz DF, Lucena EHG, Sá LHAH, Alencar EHT, Gaião L, Sobreira T. Prevalência de hemangioma na cavidade bucal em pacientes do hospital Napoleão Laureano - João Pessoa - Paraíba (Brasil). Pesq Bras Odontoped Clin Integr 2004;4(2):121-24. 26. Campos E, Gomez RS. Immunocytochemical study of giant cell fibroma. Braz Dent J 1999;10(2):89-92. 27. Fregnani ER, Pires FR, Falzoni R, Lopes MA, Vargas PA. Lipomas of the oral cavity: clincial findings, histological classification and proliferative activity of 46 cases. Int J Oral Maxillofac Surg 2003;32:49-53. 28. Barbachan JJD et al. Lipoma intrabucal: estudo de 14 casos. Rev Fac Odont Porto Alegre 1984;26:13-24. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 81-86, abril / maio / junho 2011 Código 75 Falta o contato para correspondência. Relato de Caso Ameloblastoma de maxila: Estudo de 3 casos Ameloblastoma in the maxilla: Study of three cases RESUMO O ameloblastoma é um tumor benigno originário do epitélio odontogênico, caracterizado por crescimento lento e progresso e, por vezes, localmente agressivo. Tem predileção pela mandíbula. Tem apresentação clínica variável de sinais e sintomas, tais como a presença de expansão óssea assintomática, crescimento tecidual intra-oral, dor e ulceração da mucosa oral, mobilidade e perda dentária e obstrução nasal. São tumores de comportamento recidivante, localmente agressivo e a ressecção cirúrgica com margem de segurança é recomendada. Relatam-se três casos de ameloblastomas localizados na maxila, sendo dois pacientes do sexo masculino e um feminino. Todos foram submetidos à ressecção cirúrgica. Quando de localização na maxila possui tendência à maior agressividade e prognóstico mais reservado, quanto às recidivas. O tratamento cirúrgico é recomendado e a necessidade de margens de segurança se dá pelas taxas elevadas de recorrência tumoral quando de ressecções incompletas ou com margens exíguas. A raridade do ameloblastoma de maxila pode levar tanto a dificuldades para o diagnóstico quanto para o tratamento. Helma Maria Chedid 1 Ali Amar 2 Abrão Rapoport 3 Renato Cardoso 4 Otávio Alberto Curioni 5 ABSTRACT Ameloblastoma is a benign but locally aggressive neoplasm of the odontogenic epithelium. The vast majority of ameloblastomas arise in the mandible. Early symptoms are absent and the diagnosis is seldom made in the early stages of development. A slow-growing, painless swelling is the most common complaint of patients with advanced tumors. Others symptoms were pain, malocclusion, ulcerations, mobile teeth, draining sinuses and nasal obstruction. The conventional ameloblastoma has a capacity for continued growth and a tendency to infiltrate between bony trabecculae with high rates local recurrence. The patient should be treated with surgical resection with safety margin. We report three cases treated with surgical resection. The treatment of choice is surgical resection with safety margin. The rarity of ameloblastoma of the jaw can lead to difficulties for both the diagnosis and for treatment. Key words: Ameloblastoma; Odontogenic Tumors; Maxilla. Descritores: Ameloblastoma; Tumores Odontogênicos; Maxila. 1) Mestre em Ciências da Saúde pelo Curso de Pós-graduação do Hospital Heliópolis Hosphel, São Paulo/SP, Brasil. Cirurgião do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia - Hospital Heliópolis - Hosphel, São Paulo / SP, Brasil. 2) Doutor em Medicina pelo Curso de Pós-graduação em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo, São Paulo / SP, Brasil. Cirurgião do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia - Hospital Heliópolis - Hosphel. 3) Professor Livre Docente pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo / SP. Cirurgião do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia - Hospital Heliópolis - Hosphel. 4) Odontólogo especialista em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial. Cirurgião Buco-Maxilo-Facial do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia - Hospital Heliópolis - Hosphel, São Paulo / SP. 5) Doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo/SP. Chefe do Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia - Hospital Heliópolis - Hosphel, São Paulo / SP. Instituição: Departamento de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e Otorrinolaringologia - Hospital Heliópolis – Hosphel. São Paulo / SP - Brasil. Correspondência: Rua Cônego Xavier, 276 5° andar - São Paulo / SP – Brasil – CEP: 04231-030 - E-mail: [email protected] Recebido em 04/06/2010; aceito para publicação em: 15/11/2010; publicado online em: 20/03/2011. Confilto de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 87-89, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 87 Ameloblastoma de maxila. Introdução O ameloblastoma é um tumor benigno originário do epitélio odontogênico que se caracteriza por crescimento lento e progresso e, por vezes, localmente agressivo. Corresponde a aproximadamente 0,7% dos tumores da cavidade oral e representa 1% dos tumores odontogênicos da mandíbula e maxila, com predileção pela mandíbula em relação à maxila na proporção de 5:1. Quando de localização mandibular, o ameloblastoma compromete com maior frequência o ramo ascendente da mandíbula e o trígono retromolar. Na maxila, praticamente 50% dos casos ocorrem na região posterior, antro maxilar e soalho da fossa nasal. O acometimento principal ocorre na faixa etária adulta, entre a terceira e quarta décadas de vida e é de rara incidência em crianças.1 Sua apresentação clínica é variável, incluindo sinais e sintomas tais como a presença de expansão óssea assintomática, crescimento tecidual intra-oral, dor e ulceração da mucosa oral, mobilidade e perda dentária e assimetria facial. Em casos extremos, desvio do globo ocular, disfagia, obstrução nasal e rinorreia. Os ameloblastomas podem ser classificados, de acordo com suas características clínicas e radiográficas, em multicísticos (também conhecido como sólido ou ameloblastoma comum), unicísticos e periféricos ou extra-ósseos. Os ameloblastosmas multicísticos apresentam-se sob duas formas principais: folicular e plexiforme. O tipo plexiforme é o mais frequente, de menor agressividade em relação ao tipo folicular e pode apresentar áreas de formação cística, em virtude de degeneração do estroma. Os ameloblastomas multicísticos apresentam inúmeras variantes histológicas, tais como o acantomatoso, de células granulares, desmoplásico, de células basais e o queratoameloblastoma1. São tumores de comportamento recidivantes, localmente agressivos e a ressecção cirúrgica com margem de segurança é recomendada2. Em algumas situações, o diagnóstico é feito acidentalmente, durante exames radiográficos de rotina para a avaliação das estruturas ósseas da face. Devido à localização pouco usual na maxila, pode representar um desafio tanto do ponto de vista diagnóstico como do terapêutico. O diagnóstico dos ameloblastomas maxilares pode ser retardado em função das características anatômicas da região e a possibilidade de expansão da lesão para os recessos existentes na estrutura óssea. A forma de abordagem das lesões e o reparo dos defeitos causados pela ressecção são diferentes daqueles tumores originados na mandíbula. relato de casos A amostra desse estudo consistiu de três casos de ameloblastomas localizados na maxila, tratados no período de janeiro de 1977 a dezembro de 2008. Caso 1: Paciente do gênero feminino, 46 anos, com relato de abaulamento na hemiface direita a três meses, 88 Chedid et al. de crescimento lento e progressivo, indolor e com dificuldade de adaptação da prótese dentária superior há 30 dias. O exame físico revelou, na oroscopia, abaulamento submucoso na gengiva superior à direita com cerca de quatro cm no maior diâmetro e preenchimento parcial do sulco gengivo jugal homolateral. Na face apresentava deformidade à custa de abaulamento, apagando o sulco nasogeniano direito. A tomografia computadorizada evidenciou uma lesão multicística com epicentro no rebordo alveolar superior direito, comprometendo o seio maxilar e abaulando sua parede anterior. A biópsia, previamente realizada por odontólogo, demonstrou histologia compatível com ameloblastoma plexiforme. Caso 2: Paciente do gênero masculino, 15 anos, procedente de outro serviço com história de ressecção de amelobastoma folicular há cinco anos, medindo cinco centímetros, submetido à maxilectomia medial. Há um ano relatou abaulamento progressivo envolvendo o terço médio da face, bilateralmente, associado a um abaulamento volumoso na cavidade oral e completa obstrução das fossas nasais. Ao exame loco-regional, apagamento dos sulcos nasogenianos e do rebordo inferior das órbitas e presença de uma lesão nodular ocupando a cavidade oral com projeção para o exterior, impedindo o fechamento da boca e dificultando o exame. A tomografia computadorizada demonstrou extensa lesão ocupando toda a estrutura facial, desde o soalho das órbitas até o palato duro, no sentido crânio-caudal, e desde as fossas nasais até a rinofaringe no sentido antero-posterior – Figura 1. A lesão media 15 cm no seu maior diâmetro – Figura 2. Após oito meses do tratamento evoluiu com extensa recidiva local com comprometendo a fossa craniana anterior. A biópsia evidenciou tumor ameloblástico de comportamento biológico incerto, através de análise imunoistoquímica – Figura 3. Caso 3: Paciente masculino, 54 anos, com relato de aparecimento de “fenda” na gengiva superior, localizada atrás do último molar, há 18 meses. Foi submetido à biópsia por odontólogo, revelando tratar-se de um ameloblastoma folicular. Na tomografia computadorizada, lesão de 2,0 cm com densidade de partes moles, localizada na área do tórus maxilar do lado esquerdo, com comprometimento do antro maxilar e da fossa nasal homolaterais. dIscussão Os ameloblastomas são tumores odontogênicos raros e mais comuns na mandíbula do que na maxila. O diagnóstico destas lesões na maxila pode representar um desafio dado a sua raridade. Em uma revisão abrangendo 15 anos, Zwahlen & Grätz relatou-se que, entre 26 pacientes portadores de ameloblastoma, em cinco deles o sítio era a maxila3. Em nosso serviço, de um total de 26 casos de ameloblastomas, três estavam localizados na maxila. A sintomatologia geralmente é pobre nas lesões iniciais e, na maioria dos casos, a queixa principal é o –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 87-89, abril / maio / junho 2011 Ameloblastoma de maxila. Chedid et al. Figura 1. Aspecto tomográfico do caso 2 em cortes axiais mostrando a extensão da lesão. abaulamento no local da lesão, levando a desconforto ou dificuldade para a adaptação de próteses dentárias. Em casos extremos, como em um dos casos aqui relatados, o paciente pode apresentar obstrução nasal, dispneia e dificuldade para a alimentação. O ameloblatoma maxilar é uma entidade diferente do mandibular, em virtude da tendência maior a agressividade e o prognóstico mais reservado em termos de recidivas e propõem tratamentos mais agressivos do ponto de vista da ressecção cirúrgica. O tratamento cirúrgico é recomendado pela maioria dos autores e a necessidade de margens de segurança se dá pelas taxas elevadas de recorrência tumoral quando de ressecções incompletas ou com margens exíguas2. O comportamento do ameloblastoma plexiforme de menor agressivo do que o subtipo folicular2,3. Entretanto, o caso 3 apresentado era portador do tipo folicular e evoluiu com controle da doença, no período de seguimento considerado nesse estudo. Por outro lado, os casos 1 e 2 apresentados eram do tipo plexiforme. O caso 2 evoluiu com uma recidiva extensa após a ressecção inicial e o caso 1 tem controle da doença. Embora os ameloblastomas sejam raros em pacientes mais jovens, sua ocorrência leva a um problema adicional: o crescimento incompleto da maxila que pode ser afetado por um procedimento cirúrgico mais extenso, resultado em deformidade e assimetria. Dessa forma, a depender do tamanho e subsítios envolvidos pela lesão, procedimentos menos radicais podem ser indicados como forma de evitar estas complicações, especialmente nas lesões unicísticas, mais comuns nesta faixa etária, pode ser tentada a marsupialização, com o intuito de permitir a diminuição da lesão e remodelação óssea antes do procedimento definitivo. Nas lesões unicísticas, também pode ser realizada a enucleação, com utilização de solução de Carnoy ou nitrogênio líquido para obtenção de margem óssea, porém com maior risco de recidiva. Em uma revisão sistemática, reportaram-se 3,6% de recidivas após ressecção, 16% na enucleação com aplicação da solução de Carnoy e 30% na enucleação isolada4. A enucleação tem mais sucesso no tipo intraluminal5. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 87-89, abril / maio / junho 2011 Figura 2. Aspecto intraoperatório (A) e o defeito cirúrgico (B) após a retirada do tumor do caso 2. Figura 3. Fotomicrografia com coloração de hematoxilina-eosina do espécime do caso 3. referêncIas 1. Martins RH, Sobrinho JA, Rapoport A, Rosa MP. Histopathologic features and management of ameloblastoma: study of 20 cases. São Paulo Med J. 1999;117(4):171-4. 2. Ferreti C, Polakow R, Coleman H. Recurrent ameloblastoma: report of two cases. J Oral Maxillofac Surg. 2000;58:800-4. 3. Zwahlen RA, Grätz KW. Maxillary ameloblastomas: a review of the literature and of a 15-year database. J Craniomaxillofac Surg. 2002;30(5):273-9. 4. Lau SL, Samman N. Recurrence related to treatment modalities of unicystic ameloblastoma: a systematic review. Int J Oral Maxillofac Surg. 2006;35:681-90. 5. Pogrel MA, Montes DM. Is there a role for enucleation in the management of ameloblastoma? Int J Oral Maxillofac Surg. 2009;38:807-12. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 89 Relato de Caso Reconstrução mandibular com enxerto microvascularizado de fíbula - uma nova técnica (variante IV) Vascularized fibular graft for mandibular reconstruction a new tecnique (variety IV) Laurindo Moacir Sassi 1 José Luis Dissenha 2 Alfredo B. Silva 3 Paola A.G. Pedruzzi 4 Benedito Valdecir de Oliveira 5 RESUMO ABSTRACT Introdução: Através deste relato Sassi e col. descrevem uma nova variante do retalho microvascularizado da fíbula, na reconstrução da mandíbula. Objetivo: A técnica, também conhecida por método “macho-fêmea”, tem como finalidade oferecer uma maior superfície de contato entre o remanescente mandibular e o enxerto ósseo. Relato de caso: Paciente J.B.C., 61 anos, masculino, portador de carcinoma de células escamosas do assoalho da boca, submetido a pelviglossomandibulectomia e esvaziamento cervical bilateral seguido de radioterapia adjuvante. Após cinco anos foi submetido à reconstrução da mandíbula com retalho osteomiocutâneo de fíbula. A cirurgia utilizou a técnica descrita pelos autores, com evolução satisfatória em 3 anos de seguimento. Considerações Finais: A técnica descrita parece contribuir para a neoformação óssea dos tecidos e pode ser promissora especialmente na reconstrução de defeitos extensos e nas reconstruções pós-radioterapia. Introduction: In this paper, Sassi et al. presents a new modification of vascularized fibula graft for mandibular reconstruction. Objective: The new variant technique, called male-female technique, was developed to maximize the contact surface area between the remaining mandible and the fibula graft, promoting new bone formation - i.e.. Case report: JBC, male, 61-year-old man with well-differentiated squamous cell carcinoma of floor of mouth submitted to pelveglossomandibulectomia and bilateral cervical neck dissection, followed by radiotherapy. After 5 years, the patient where submitted to osteomyocutaneous fibular graft. Surgery was performed with the technique described by authors. Three years after the procedure, the patient has a satisfactory evolution. Final Considerations: This technique seems to contribute the new bone formation and may be indicated particularly in patients with larger defects and after radiotherapy. Descritores: Mandíbula; Reconstrução; Fíbula. Introdução O retalho microvascularizado da fíbula é o mais comumente utilizado nas reconstruções da mandíbula. Edela Puricelli foi a primeira cirurgiã a reconstruir a mandíbula com auto-enxerto osteomiocutâneo microvascularizado de fíbula, em 19851. Deste então a técnica Key words: Mandible; Reconstruction; Fíbula. tem sido amplamente utilizada. Sassi et al descreveram variações da técnica do enxerto microvasculrizado de fíbula, que foram publicadas, e que demonstram a possibilidade de aprimoramento deste retalho 2,3,4. A busca de novas técnicas tem por objetivo melhorar a qualidade de vida do paciente. O presente estudo descreve uma variação da técnica do retalho osteomiocutâ- 1) Doutor. Chefe do Serviço de Cirurgia e Trauma Buco-Maxilo-Facial do Hospital Erasto Gaertner. Professor do Curso de Pós-Graduação em Cirurgia e Trauma Buco-Maxilo-Facial da Universidade Federal do Paraná. Doutor em Ciências da Saúde pela Universidade Federal São Paulo. 2) Cirurgião. Serviço de Cirurgia e Trauma Buco-Maxilo-Facial do HEG. 3) Doutor. Serviço de Cirurgia Plástica do HEG. Doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo. 4) Mestre. Oncologia – USP. Medica do Serviço de Cirurgia da Cabeça e Pescoço do Hospital Erasto Gaertner. 5) Cirurgião. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HEG. Instituição: Hospital Erasto Gaertner. Curitiba / PR – Brasil. Correspondência: Laurindo Moacir Sassi - Avenida Sete de Setembro, 4698 - Sala 1805 - Curitiba / PR – Brasil - CEP: 80240-000 - E-mail: [email protected] Recebido em 04/02/2010; aceito para publicação em 09/03/2011; publicado online em 20/02/2011. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 90 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 90-92, abril / maio / junho 2011 Reconstrução mandibular com enxerto microvascularizado de fíbula - uma nova técnica (variante iv). Sassi et al. neo microvascularizado de fíbula para reconstrução da mandíbula, descrita como técnica “macho-fêmea”. relato de caso Paciente JBC, masculino, 61 anos, branco, comerciante, natural de Curitiba, Paraná. Apresentava história de tabagismo por 30 anos, 20 cigarros ao dia, negava etilismo. Ao exame apresentava lesão ulcerada e infiltrativa do assoalho da boca à esquerda da linha média e região anterior, com infiltração no ápice lingual e laudo histopatológico de carcinoma de células escamosas. No dia 07 de janeiro de 2000 foi submetido a pelvigossomandibulectomia, esvaziamento cervical radical modificado bilateral, sem reconstrução imediata e radioterapia adjuvante, como dose total de 5000 cGy. Após cinco anos a reconstrução de mandíbula foi proposta e o paciente apresentava apenas tecido ósseo remanescente correspondendo aos ramos ascendentes da mandíbula. A técnica proposta foi o retalho osteomiocutâneo microvascularizado de fíbula e síntese óssea através de mini-placas de liga de titânio fixadas com parafusos junto aos ramos remanescentes da mandíbula. O objetivo principal foi de manter maior área de contato possível do retalho com os contos mandibulares para facilitar a neoformação óssea junto ao enxerto, que é uma das dificuldades encontradas em pacientes submetidos à radioterapia prévia, como o caso descrito. Utilizou-se a técnica “macho-fêmea” que consiste em construir, no remanescente da mandíbula e fíbula, utilizada como enxerto, uma fenestração na cortical externa da mandíbula, medindo dois centímetros, a fim de promover o encaixe do enxerto na mandíbula. Na superfície externa da mandíbula e no enxerto, a técnica consistiu na colocação de duas mini-placas e parafusos para fixar os contos em região de ângulo de mandíbula bilateral. Na região de mento foi realizada a angulação necessária e fixação utilizando quatro mini-placas e parafusos. Figura 1. Imagem da radiografia panorâmica da região da mandíbula a ser reconstruída. Figura 2. Preparo das extremidades do enxerto para o encaixe machofêmea. resultados O paciente foi mantido em acompanhamento com radiografias panorâmicas e avaliação clínica, com evolução satisfatória no último contato, três anos após a cirurgia. A função e anatomia da mandíbula foram restabelecidas, e a reabilitação incluiu implantes de titânio para suporte de prótese dentária. As Figuras 1, 2 e 3 ilustram o caso. dIscussão O objetivo da reconstrução da mandíbula é o restabelecimento da mastigação, fonação, deglutição e do contorno facial, o que depende muito da experiência da equipe e de características relacionadas ao paciente. A radioterapia está relacionada ao aumento da taxas de complicações nas cirurgias de cabeça e pescoço. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 90-92, abril / maio / junho 2011 Figura 3. Imagem da radiografia panorâmica pós-reconstrução da mandíbula. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 91 Reconstrução mandibular com enxerto microvascularizado de fíbula - uma nova técnica (variante iv). As fistulas pós faringolaringectomias são mais comuns após a radioterapia5. Puricelli em 1985 demonstrou a possibilidade de reconstrução da face, o que viabilizou as a ressecções extensas com margens amplas1. Da mesma forma, Triana Jr et al. descreveram as vantagens do enxerto microvascularizado de fíbula. Sassi et al. confirmaram o resultado satisfatório da reabilitação funcional do aparelho estomatognático com implantes de cilindro de titânio em enxerto de fíbula6,7. Oliveira et al. publicaram em 2009 a experiência de 11 anos do Hospital Erasto Gaertner, na reconstrução da mandíbula utilizando o retalho da fíbula. A experiência do serviço mostrou taxas significativas de complicações que devem ser consideradas na avaliação operatória e na indicação das reconstruções da mandíbula8. Os pacientes irradiados evoluem pior devido à má vascularização dos tecidos, e a infecção mandibular crônica leva a necrose óssea, dor intratável e alterações funcionais. O resultado funcional depende do posicionamento do côndilo da mandíbula. A primeira variação da técnica, propostas por Sassi et al., a variante I, descrita em 2005, utiliza o duplo segmento de fíbula na reconstrução óssea da mandíbula o que possibilita a uma base satisfatória à reabilitação dentária, com implantes cilíndricos de titânio2. A variante II, descrita em 2007, descreve a reconstrução da mandíbula, com segmento duplo na região mesial, terminando em bisel na região distal do enxerto junto ao ângulo da mandíbula3. A variante III consiste no enxerto da fíbula com formato de encaixe criando-se um nicho no coto da mandíbula remanescente anterior onde a extremidade da fíbula é introduzida e fixada. Na outra extremidade realiza-se o encaixe com 50% do coto e a outra metade do enxerto4. O sucesso do tratamento cirúrgico realizado foi resultado da soma de pequenos detalhes, incluindo a técnica utilizada, com sucesso na reabilitação do paciente, 92 Sassi et al. possibilitando o restabelecimento da função e estética facial. É possível o sucesso na reconstrução mandibular em pacientes submetidos previamente a radioterapia, e a técnicas descrita parece contribuir para a neoformação óssea dos tecidos. A técnica descrita neste estudo pode contribuir para a diminuição da morbidade do sitio receptor e melhora da qualidade de vida dos pacientes. Outros estudos são necessários, para melhor avaliação da aplicabilidade da técnica nas reconstruções de defeitos da mandíbula de forma geral, dos defeitos extensos e nas reconstruções pós-radioterapia. referêncIas 1. Puricelli E, Chem RC, Rinaldi S. Mandible reconstruction using the fibule. In: 8th Congress of European Association for Maxillofacial, Madrid, Espanha, Sept, 1986. 2 Sassi LM, Dissenha JL, Simette RL, et al. Reconstrução com enxerto microvascularizado de fíbula em mandíbula com auto-enxerto osteomiocutâneo microvascularizado de fíbula em edentados. Variante I. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço 2005; 34(1):37-41. 3 Sassi LM, Dissenha JL, Simette, RL, et al. Reconstrução com enxerto microvascularizado de fíbula em mandíbula com duplo segmento em corpo de mandíbula dentado – variante II. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço 2007; 36(3):183-184. 4. Sassi LM, Dissenha JL, Pedruzzi PAG, et al. Reconstrução de mandíbula com enxerto microvascularizado de fibula em forma de encaie. Variante III. In: Anais do Congresso Brasileiro de Cancerologia, Curitiba, Brazil. 2009. 5. Assis LAP, Negri SLC, Oliveira E, et al. Fístula faringocutânea após laringectomia total: experiência do Hospital Mario Penna. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço 2004; 33(2):77-81. 6. Triana Jr RJ, Uglesic V, Virag M, et al. Microvascular free flap reconstructive options in patients with partial and total maxillectomy defects. Arch Facial Plast Surg 2000; 2(2):91-101. 7. Sassi LM, Oliveira BV, Radaelli RL, et al. Oral rehabilitation post mandible tumor excision with titanium osseointegrated implants in a microvascularised fíbula graft. Inter. J. Oral & Maxillofacial Surgery 2001; 30( suppl A ):S15. 8. Oliveira BV, Ramos GHA, Pedruzzi PAG. Reconstrução da mandíbula utilizando o retalho microvascularizado de fíbula – 11 anos de experiência do Hospital Erasto Gaertner. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço 2009; 38(1):37-40. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 90-92, abril / maio / junho 2011 Relato de Caso Metástase óssea frontal de carcinoma papilífero da tireoide: excepcional resposta a radioiodoterapia relato de caso Skull metastasis of thyroid papillary carcinoma: great radioiodine therapy response - case report RESUMO Francisco Monteiro de Castro Junior 1 Francisco de Assis Castro Bonfim Junior 2 Regis Oquendo Nogueira 3 Selinaldo Amorim Bezerra 4 Jônatas Catunda de Freitas 5 Igor Furtado Soares Melo 5 ABSTRACT Introdução: Os carcinomas diferenciados da tireoide não costumam apresentar grande agressividade clínica, principalmente o seu tipo histológico mais comum, o carcinoma palilífero (80%), cuja forma de disseminação é preferencialmente por via linfática para os linfonodos regionais, e, portanto, dificilmente desenvolve metástases sistêmicas. Metástases ósseas de tumores papilíferos são raras, e as que envolvem o crânio foram poucas vezes relatadas na literatura. Objetivo: Relatar o caso de uma paciente com metástase de carcinoma papilífero para o osso frontal, como apresentação inicial da doença, que obteve excelente resposta com a Radioiodoterapia. Relato de Caso: Mulher de 55 anos apresentou uma volumosa metástase de carcinoma papilífero para o osso frontal, e que obteve regressão total da metástase com a radioiodoterapia realizada após a tireoidectomia total. Considerações Finais: O relato mostra que, apesar de remota, existe a possibilidade de metástases de carcinoma papilífero da tireoide para o crânio e a iodoterapia pode ser uma forma de tratamento importante. Introduction: Usually, differentiated thyroid carcinomas are not clinically aggressive, especially its most frequent histological type, papillary carcinoma (80%), which main form of spread is by lymphatic vessels to cervical lymph nodes, and therefore difficult to develop metastatic disease. Bone metastases of papillary tumors are rare, and those involving the skull were seldom reported in literature. Objective: Report a case of a patient with metastatic papillary carcinoma to the frontal bone as the first disease symptom, who had an excellent response to radioiodine therapy. Case Report: 55 woman showed a massive papillary carcinoma metastasis on the frontal bone, which achieved total regression after radioiodine and total thyroidectomy. Conclusion: The case report shows that, despite remote, it is possible papillary thyroid carcinoma metastasis to the skull and radioiodine therapy may be an important form of treatment. Key words: Carcinoma, Papillary; Thyroid Neoplasm’s; Neoplasm Metastasis. Palavras-chave: Glândula Tireoide; Metástase Neoplásica; Carcinoma Papilar. Introdução Os carcinomas diferenciados da tireoide não costumam apresentar grande agressividade clínica. O carcinoma papilífero corresponde à cerca de 80% dos carcinomas diferenciados1 e é o de melhor prognóstico, pois seu crescimento é lento e restrito à glândula2. A principal forma de disseminação é por via linfática, progredindo pela cadeia ipsilateral para os linfonodos regionais do pescoço, dificilmente desenvolvendo me- tástases sistêmicas3. Metástases à distância são observadas em 5 a 10% dos casos, sendo mais comuns para os pulmões3. Metástases ósseas de tumores papilíferos são raras, e as que envolvem o crânio foram poucas vezes relatadas na literatura4. Neste artigo, foi relatado o caso de uma paciente de 55 anos que deu entrada no nosso serviço com uma volumosa metástase para o osso frontal e que após a realização da tiroidectomia total, obteve completa resposta com radioiodoterapia. 1) Mestrado. Chefe do serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da UFC. 2) Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da UFC. 3) Médico Nuclear do Hospital do Câncer do Ceará / Instituto do Câncer do Ceará. 4) Residente de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da UFC. 5) Acadêmico de Medicina da Faculdade de Medicina da UFC. Instituição: Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará (Hospital Walter Cantídio). Fortaleza-CE. Rua Alexandre Baraúna, 949, Rodolfo Teófilo, CEP: 60430-160, Fortaleza / CE - Brasil. Correspondência: Dr. Francisco Monteiro, Av. Pontes Vieira 2531, Hospital São Carlos, Fortaleza CE. E-mail: [email protected] Recebido em 29/07/2010; aceito para publicação em: 25/06/2011; publicado online em: 30/06/2011. Confilto de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 93-95, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 93 Metástase óssea frontal de carcinoma papilífero da tireoide: excepcional resposta a radioiodoterapia - relato de caso. relato de caso Figura não referencia no texto Mulher de 55 anos procurou atendimento em novembro de 2008 após aparecimento de uma massa de aumento progressivo (evolução de 12 meses) em região frontal à direita. Relata também aumento do volume tireoidiano há 25 anos sob acompanhamento médico irregular. Ao exame físico, observava-se uma lesão proeminente, bem evidente, localizada na região frontal à direita, de consistência cística no centro e óssea nas bordas, medindo aproximadamente 6 cm, indolor, fixa, recoberta por pele íntegra e sem sinais flogísticos. Apresentava também tireoide aumentada e de aspecto irregular à palpação. A análise citopatológica da punção aspirativa com agulha fina (PAAF) do nódulo da região frontal mostrou lesão proliferativa atípica, e a ultrassonografia evidenciou nódulo sólido hipervascular ao doppler colorido. A ultrassonografia de tireoide mostrou tireoidopatia hipertrófica mergulhante. Na tomografia computadorizada de crânio, observou-se uma lesão expansiva de aspecto agressivo, erodindo osso frontal à direita, sugestiva de implante secundário. Exames de função tireoidiana não apresentaram alteração. Em maio de 2009 a paciente foi submetida a tireoidectomia total, com o intuito de viabilizar o uso de radioiodoterapia. O exame histopatológico da peça cirúrgica mostrou carcinoma papilífero da tireoide em quatro focos, o maior medindo 6 cm, presença de invasão angiolinfática, margens cirúrgicas livres, estadiamento pT3. Em outubro, quando apresentava anticorpo antitireoglobulina <10 ng/dL e tireoglobulina de 108 ng/ml, foi submetida à nova internação hospitalar para terapia radioisotópica com 11,1 GBq (300 mCi) de iodeto-131I em hipotireoidismo induzido e após preparo com dieta pobre em iodo. No estudo de corpo inteiro, realizado cinco dias após este procedimento (“PCI pós dose”), foram evidenciadas áreas de captação acentuada e satisfatória da dose terapêutica de iodeto-131I na região cervical inferior, na calota craniana, na coluna lombossacra, na articulação sacrilíaca esquerda e na cabeça femoral direita, achados bem relacionados à clínica de lombalgia baixa e dor no quadril importante apresentada pela paciente àquela época. Foi então solicitado TC de crânio e quadril incluindo coluna lombossacra, havendo correlação morfológica das imagens metastáticas com as anteriormente detectadas na cintilografia pós-dose. Devido ao caráter agressivo, distinto do costumeiramente observado em carcinoma papilífero clássico, foi solicitado revisão do material histopatológico, resultando o laudo final em carcinoma papilífero variante células altas. Apesar desta agressividade clinica, houve excepcional resposta ao tratamento com radioiodo, e em fevereiro de 2010 a paciente já se apresentava com regressão significativa da massa em região frontal. Exames laboratoriais mostraram também importante melhora dos valores, com dosagens de tireoglobulina < 0,2 ng/ml, anti94 Castro Jr et al. Figura 1. Imagem à esquerda da paciente em AP e perfil direito antes e à direita depois da radioiodoterapia. corpo anti-tireoglobulina 33,9 ng/ml, TSH 0,064 UI/ml e T4 livre 1,26 ng/dL. Em decorrência dos bons resultados obtidos pela radioiodoterapia, foi adotada uma conduta conservadora, suspendendo o tratamento cirúrgico crânio-facial, inicialmente proposto para diminuir áreas iodocaptantes a fim de direcionar melhor o tratamento radioiodoterápico para o quadril. Desde julho de 2010, a paciente está em uso de 112 mcg de levotiroxina, sem dor no quadril, pescoço negativo e TC de quadril e coluna lombossacra normais, portanto sem evidência de doença ativa. Deverá permanecer em acompanhamento ambulatorial. dIscussão Metástase óssea de carcinoma da tireoide é predominantemente encontrada em mulheres na sexta e sétima décadas de vida. Quando envolve o crânio, a lesão metastática frequentemente apresenta-se como uma massa amolecida no couro cabeludo indolor e geralmente única. Raramente provoca aumento da pressão intracraniana ou compressão do cérebro, ocasionalmente, uma extensão intracraniana pode levar a graves sintomas neurológicos, tendo sido relatado um caso de morte por essa invasão4,5. A frequência de metástases de carcinomas da tireoide para o crânio é bem mais comuns em carcinomas foliculares se comparado ao carcinoma papilífero4. Em uma série de 12 casos de metástases para o crânio apresentados por Nagamine et al. somente 1 caso era de carcinoma papilífero5. Apenas sete casos –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 93-95, abril / maio / junho 2011 Metástase óssea frontal de carcinoma papilífero da tireoide: excepcional resposta a radioiodoterapia - relato de caso. Tabela 1. Resumo dos casos relatados de metástase de carcinoma papilífero de tireoide para o crânio. Autor Nagamine et al. Lin et al.6 Coconu et al.7 Kusunoki et al.8 Miyawaki et al.9 Tetsuo et al.10 Feng et al.4 Castro Jr et al. (atual) 5 Idade Sexo 71 75 67 70 55 74 60 55 M F M F F F F F Localização do tumor Parietal e temporal Occipital Parietal Parietal Parietal Frontal Frontal Frontal conclusão O relato deste caso mostra que apesar da ocorrência reduzida de metástases para o crânio de carcinomas papilíferos da tireoide, esta possibilidade deve ser aventada, mesmo na forma inicial de apresentação do tumor e ressalta também a excepcional resposta obtida com a radioiododoterapia. referêncIas de metástase para o crânio e dois casos de metástases para o osso frontal oriundos de carcinomas papilíferos de tireoide foram relatados4 (Tabela 1). O tratamento inicial para metástases à distância de carcinomas de tireoide é a tireoidectomia juntamente com a excisão das metástases quando possível. A terapia secundária é feita com I¹³¹, principalmente quando houver padrão de captação na cintilografia5. Devido às características clinicas e a grande captação das metástase, optamos pelo tratamento com I¹³¹, obtendo excelente resultado. A metástase frontal apresentou quase total involução, e ocorreu significativa redução das metástases ósseas de coluna e quadril, implicando em substancial melhora da sintomatologia álgica bem como da auto-estima da paciente. O prognóstico de pacientes com metástases para o crânio de carcinomas de tireoide, incluindo papilífero e folicular, é reservado. Em uma série de 12 casos, a sobrevida média foi cerca de 4,5 anos, variando de 5 meses a 17 anos5. Assim, no curso clínico de pacientes com carcinomas de tireoide, a metástase para o crânio deve ser considerada como diagnóstico diferencial quando acorre surgimento de abaulamento na região da cabeça. O seguimento mais próximo desses pacientes pode ajudar a identificar mais precocemente esse tipo de lesão, melhorando o prognóstico. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 93-95, abril / maio / junho 2011 Castro Jr et al. 1. Favero E, Pasquoto MLM, Andrade Júnior A, Mello MC, Ferraz LGC, Franzi SA. Achado incidental de carcinoma de papilífero de tireoide em esvaziamentos cervicais. Rev Bras Cir Cabeça Pescoço. 2007;36(1):68. 2. Pareschi R, Mincione A, Destito D, Mola M, Righini S, Assi A, Dottorini M. Surgery of thyroid cancer: twelve years personal experience. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2004;24(6):348-53. 3. Schlumberger MJ. Papillary and follicular thyroid carcinoma. N Engl J Med. 1998;338(5):297-306. 4. Feng D, Rhatigan R, Shuja S, Wolfson D, Makary R, Koch K, Masood S. Papillary thyroid carcinoma with metastasis to the frontal skull. Diagn Cytopathol. 2009;37(7):522-6. 5. Nagamine Y, Suzuki J, Katakura R, Yoshimoto T, Matoba N, Takaya K. Skull metastasis of thyroid carcinoma. Study of 12 cases. J Neurosurg. 1985;63(4):526-31. 6. Lin KD, Lin JD, Huang HS, Ho YS. Skull metastasis with brain invasion from thyroid papillary microcarcinoma. J Formos Med Assoc. 1997;96:280-282. 7. Coconu M, Berdan G, Rosculescu I, Herlea V. An unusual metastasis of a papillary thyroidian carcinoma with follicular pattern. Rom J Morphol Embryol. 1998;44:183-185. 8. Kusunoki T, Urano K, Saito K, Murata K. A case of skull metastasis from thyroid papillary carcinoma. Thyroid. 2003;13:889-890. 9. Miyawaki S, Yamazaki R, Harada T, Takanashi S, Nagashima T, Nakaguchi H, Okazaki R, Yamazaki K, Ishida Y, Matsuno A. Skull metastasis of thyroid papillary carcinoma. J Clin Neurosci. 2007;14:481-484. 10. Tetsuo H, Motohiko M, Yasunori F, Tsuyoshi S, Kouichi W, Toshihiko I, Shuichi I, Toshiki Y. Skull metastasis from papillary thyroid carcinoma accompanied by neurofibromatosis type 1 and pheochromocytoma: Report of a case. Brain Tumor Pathol. 2006;23:97-100. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 95 Relato de Caso Fibromatose cervical Cervical fibromatosis RESUMO Introdução: A fibromatose da região de cabeça e pescoço é rara, acometendo 2.4 casos/milhão de habitantes, e constitui um grupo de lesões proliferativas que, embora benignas, são de difícil tratamento, devido à agressividade local e a alta taxa de recorrência. Objetivo: Esse trabalho apresenta um caso de fibromatose cervical, revisando suas principais características clínicas, epidemiologias e terapêuticas. Relato de caso: Apresenta-se um caso de paciente de 14 anos, gênero masculino, com lesão dolorosa e fixa em região supraclavicular direita. Realizou-se ressonância nuclear magnética cervical que detectou lesão expansiva, sólida em região referida. O tumor foi ressecado e enviado para estudo anatomopatológico e imuno-histoquímico, confirmando o diagnóstico de fibromatose extra-abdominal. Considerações Finais: A fibromatose cervical é uma lesão rara, que embora seja considerada benigna, apresenta agressividade local considerável, sendo seu tratamento cirúrgico determinante para uma maior sobrevida livre de doença. Palavras-chave: Neoplasias de Cabeça e Pescoço; Fibromatose Agressiva; Procedimentos Cirúrgicos Operatórios. Introdução A fibromatose é uma patologia rara, correspondendo a 3% de todos os tumores de partes moles e a apenas 0,03% de todas as neoplasias. A sinonímia dessa lesão é vasta, destacando-se algumas nomenclaturas: fibroma, fibromatose desmoide, tumor desmoide, fibromatose agressiva, fibromatose músculo-aponeurótica.1,2 Enzinger e Weiss, em 1995, classificaram a fibromatose em superficial e profunda. A primeira inclui o grupo Ary Serrano Santos 1 Reivla Marques Vasconcelos Soares 2 Marcel Martins Marques 3 Wagner Leite de Almeida 4 Ricardo Viera Santos 5 SUMMARy Introduction: The fibromatosis of head and neck is rare, affecting 2,4 cases per million inhabitants per year. It is a group of proliferative lesions which, although benign, its treatment is difficult because of local aggressiveness and high recurrence rates. Objective: This paper presents a case of cervical fibromatosis, reviewing its main clinical, epidemiological and therapeutic characteristics. Case report: Patient 14 year old, male with a painful firm lesion. A cervical Magnetic Resonance Imaging examination was performed a cervical lesion solid in this region. The tumor was resected and sent for pathology and immunohistochemistry, confirming the diagnosis of extra-abdominal fibromatosis, with estrogen receptor negative. Conclusion: The cervical fibromatosis is a rare lesion that despite being technically benign presents considerable local aggressiveness and its surgical treatment determines a higher disease-free survival. Keywords: Head and Neck Neoplasms; Fibromatosis, Aggressive; Surgical Procedures, Operative. restrito das lesões palmares, plantares e penianas e a segunda é uma neoplasia benigna derivada do tecido musculoaponeurótico, constituída de fibroblastos bem diferenciados que apresentam comportamento invasivo, com alto poder de agressão às estruturas locais. Essas características a torna frequentemente recidivante e coloca esse tumor no limite entre as lesões fibromatosas não-agressivas e os fibrosarcomas de baixo grau. É classificada de acordo com sua localização em: abdominais, intra-abdominais e extra-abdominais.1 1) Cirurgião de Cabeça e Pescoço pelo Instituto Nacional de Câncer. Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital Universitário Lauro Wanderley. 2) Discente de Medicina da Universidade Federal da Paraíba. 3) Cirurgião Geral pela Universidade Federal da Paraíba. Cirurgião Geral do Hospital General Edson Ramalho. 4) Médico Patologista. Clínica Privada, João Pessoa/PB. 5) Médico pela Universidade Federal da Paraíba. Médico Residente. Instituição: Universidade Federal da Paraíba (UFPB). João Pessoa / PB - Brasil. Correspondência: Reivla Marques Vasconcelos Soares - Avenida Senador Rui Carneiro, 33/211 – Tambauzinho - João Pessoa / PB – Brasil - CEP: 58000-000 – Telefone: (+55 83) 9903-6706 e-mail: [email protected] Recebido em 15/09/2010; aceito para publicação em: 25/06/2011; publicado online em: 30/06/2011. Confilto de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 96 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 96-98, abril / maio / junho 2011 Fibromatose cervical. Santos et al. A fibromatose extra-abdominal corresponde a apenas um terço da incidência de todas as fibromatoses. Dessa fração, somente cerca de 12% acometem a região da cabeça e do pescoço. Nessa topografia, 85% dos casos envolvem o pescoço e 15% a face e o escalpo, afetando principalmente crianças e adultos jovens.1,3 Sua apresentação clínica é de uma massa solitária, aderida às estruturas profundas, cujo crescimento varia entre semanas e meses. Ocasionalmente, pode vir associada à dor quando há acometimento de raízes nervosas.2 O diagnóstico diferencial inclui lipossarcoma, sarcoma sinovial, histiocitoma, mesenquimoma maligno, mixoma e, em especial, o fibrosarcoma, cuja diferenciação pode ser difícil, devendo ser considerada, nesse último, a presença frequente de atipias celulares e possibilidade de originar metástases.4 As opções terapêuticas envolvem ressecção cirúrgica, radioterapia e hormonioterapia com citrato de tamoxifeno. O prognóstico dessa patologia é ruim, já que as chances de recidiva são em torno de 40%1,2,3,5. Figura 1. Corte de ressonância nuclear magnética revelando lesão expansiva em região supraclavicular direita. relato de caso Paciente gênero masculino, 14 anos de idade, chegou ao serviço de cirurgia de cabeça e pescoço queixando-se de massa cervical dolorosa há 8 meses, localizada em região supraclavicular direita surgida após trauma local. Ao exame clínico, a tumoração era dolorosa à palpação, de consistência fibrosa, com superfície irregular, limites mal definidos e aderida a planos profundos. Na investigação diagnóstica inicial, foi realizada ultrassonografia cervical com doppler colorido que detectou uma imagem nodular sólida, heterogênea, medindo 4,1x2,0x3,1cm, sem vascularização, localizada em região supraclavicular direita, e posteriormente, uma ressonância nuclear magnética, que constatou presença de lesão expansiva próxima à clavícula e plexo braquial na região acima citada, sem sinais de infiltração (Figura 1). Foi indicado biópsia incisional, cujos achados foram compatíveis com fibromatose extra-abdominal. Iniciouse o planejamento terapêutico que incluía a ressecção cirúrgica da neoplasia, seguido da terapia com citrato de tamoxifeno. O procedimento cirúrgico incluiu a ressecção da lesão juntamente com parte dos músculos elevador da escápula, supraespinhal e trapézio direitos, além de parte da espinha escapular, sendo preservados plexo braquial e clavícula (Figura 2). O exame anatomopatológico da peça cirúrgica descreveu uma lesão compatível com tumor desmoide e margens cirúrgicas livres. Em seguida, a imunohistoquímica evidenciou beta catenina positivo (Figura 3), actina muscular lisa fracamente positivo e resultado negativo para pesquisa de receptores de estrógeno. O paciente realizou fisioterapia motora desde o terceiro dia de pós-operatório. Após sete meses de acompanhamento, não houve evidências de doença locoregional e o paciente não apresentou nenhuma morbidade significativa, sendo orientado a manter controle oncológico periódico. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 96-98, abril / maio / junho 2011 Figura 2. Aspecto trans-operatório evidenciando dissecção da lesão com preservação do plexo braquial e clavícula à direita. Figura 3. Fotomicrografia exibindo corte histológico compatível com fibromatose do tipo desmoide e imunohistoquímica positiva para beta catenina. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 97 Fibromatose cervical. dIscussão A fibromatose da região de cabeça e pescoço embora seja benigna, pode ser de difícil diagnóstico e tratamento. Essas lesões são especialmente preocupantes devido não só a agressividade local e as altas taxas de recorrência, mas sim pela localização anatomicamente restrita. 2,3,5 Nessa região, o maior acometimento é na região supraclavicular, seguida da região cervical lateral e posterior.1,2 Acredita-se que três fatores possam estar envolvidos na etiologia deste tumor: fatores hormonais relacionados ao estrógeno, fatores genéticos e história de trauma.1,2 No caso referido, o paciente não apresentava Síndrome de Gardner, condição genética predisponente, como também a lesão não apresentava receptores de estrógeno, sendo positiva apenas a história de trauma prévio. O trauma entrou como uma das hipóteses etiológicas, uma vez que a literatura relata grande número de casos de fibromatose surgindo em cicatrizes cirúrgicas prévias. Sugere-se que imaturos fibroblastos na região do trauma desencadeiam uma descontrolada multiplicação, originando o tumor, embora, essa relação ainda seja motivo de controvérsia.1,2 Na análise histopatológica, a neoplasia se apresenta macroscopicamente como massa branco-acinzentada, firme e mal definida.1,2 À microscopia é composta por grupos de fibroblastos bem diferenciados dispostos em fascículos que infiltram o tecido adjacente, com mitoses raras, atipias ocasionais, mas sem anaplasia.2 Achados compatíveis com o caso. 98 Santos et al. A principal linha de tratamento da fibromatose da cabeça e pescoço é a ressecção cirúrgica em bloco da lesão. Alguns tratamentos adjuvantes são propostos, incluindo a radioterapia e a hormonioterapia com citrato de tamoxifeno. A primeira está indicada caso a ressecção primária da lesão não seja possível, e a segunda, usase para complementação do tratamento cirúrgico e/ou radioterápico.1,2,3,5 Diante da negatividade para receptores de estrógeno do paciente a proposta terapêutica com citrato de tamoxifeno, na ocasião, foi suspensa, sendo tratado apenas com a ressecção ampla da lesão. Apesar da alta morbidade associada a fibromatose agressiva em cabeça e pescoço, a ressecção cirúrgica da lesão, com margens livres, ainda surge como principal escolha terapêutica. referêncIas 1. Siegel NS, Bradford CR. Fibromatose of the head and neck: A challenging lesion. Otolaryngol Head Neck Surg. 2000; 123(3): 269-275. 2. Sayed YEL. Fibromatosis of the head and neck. J Laryngo Otology.1992; 106: 459-462. 3. Koukoutsis I, Pappas A, Karanikas G, Kotzadimitriou K, Chrysikos J, Tzika S, Koronakis N, Karavitis G, Lagoudianakis E, Manouras A. Desmoid tumor of the supraclavicular region: a case report. Cases J. 2009, 2:7222. 4. Yazaki CM, Croci AT, Camargo OP, Oliveira NRB, Oliveira CRCM, Etchebehere M, Mathias, A. Fibromatose Extra-abdominal: estudo baseado em 13 casos operados. Rev Bras Ortop. 1997; 32(11): 875-881. 5. Tse GMK, Chan KF, Ahuja AT, King AD, Pang PCW,To EWH. Fibromatosis of the head and neck region. Otolaryngol Head Neck Surg. 2001; 125 (5): 516-19. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 96-98, abril / maio / junho 2011 Relato de Caso Raiz dentária impelida para o seio maxilar após exodontia: uma opção de tratamento Dental root displaced to maxillary sinus after tooth extraction: a treatment option RESUMO Introdução: A íntima relação anatômica entre raízes dentárias e o assoalho do seio maxilar, principalmente na região de pré-molares e primeiro molar superiores, podem levar ao deslocamento acidental de raízes para o interior do seio maxilar nos procedimentos de exodontia. Objetivo: Descrição do tratamento realizado para a remoção de uma raiz dentária no interior do seio maxilar, deslocada durante um procedimento de exodontia. Relato de Caso: Paciente do sexo feminino, 39 anos de idade, que relatou ter sido submetida à extração do elemento 26 para cerca de dois meses. O paciente foi informado pelo profissional que realizou a extração de uma raiz que foi impelido para o interior do seio maxilar. O plano de tratamento incluiu a cirurgia para remover a raiz no seio maxilar. Comentários Finais: Os profissionais devem ser criteriosos durante as extrações dentárias, para evitar estes acidentes. Entretanto, caso ocorra esta intercorrência, o acesso ao seio maxilar é a melhor opção terapêutica. Daniela Ponzoni 1 Ana Paula Farnezi Bassi 1 Alessandra Marcondes Aranega 1 Leonardo Perez Faverani 2 Gabriel Ramalho-Ferreira 2 Idelmo Rangel-Garcia Jr. 6 SUMMARy Introduction: Upper teeth, especially first premolars and molars, can have a close anatomical relationship with the floor of maxillary sinus. For this reason, accidental displacement of dental roots into the sinus could happen during exodontic procedures. Objective: Description the treatment performed to remove a tooth root within the maxillary sinus, displaced during an extraction procedure. Case Report: Female patient, 39 years of age, which reported being subjected to the extraction of the element 26 for about two months. The patient was reported by the practitioner who performed the extraction that a root was pushed into the maxillary sinus. The treatment plan included surgery to remove the root within the maxillary sinus. Final Comments: Clinicians should be careful during extractions, to prevent these accidents. However, if such complications occur, access to the maxillary sinus is the best treatment option. Key words: Accidents; Maxillary Sinus; Tooth Root. Palavras-chave: Acidentes; Seio Maxilar; Raiz Dentária. IntroductIon The accidental displacement of tooth roots into the maxillary sinus can occur as a complication in tooth extraction procedures, especially involving premolar and first molar1. The superior first molars roots are the more often driven into the maxillary sinus. In epidemiological studies, this transoperative accident is the greatest cause of bucco-sinusal communications. The intimate anatomical relationship between the roots of these teeth and the maxillary sinus floor, often associated with periapical disease processes, favors this type of complication. Factors in surgical technique, such as excessive manual pressure applied to dental forceps or traumatic use of extractors, increase the risk of transoperative accidents2. After this accident has ocurred and confirmed by radiological exams (periapical, occlusal, Waters projection and panoramic), the presence of the root fragment within the maxillary sinus, suggest that no exploration trough dental socket should be attempted, because there is small possibility of being removed, and it increases the risk of oroantral fistula formation and maxillary sinusitis. 1) Doutora em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Professora Dra da Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da UNESP Araçatuba. 2) Especialista em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Mestrando em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. 3) Doutor em Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial. Professor Adjunto da Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da UNESP Araçatuba. Instituição: Universidade Estadual Paulista - UNESP - Faculdade de Odontologia de Araçatuba. Araçatuba – SP / Brasil. Correspondência: Leonardo Perez Faverani - Rua Jose Bonifácio, 1193 - Prédio 10A - Vila Mendonça - Araçatuba / SP – Brasil - CEP: 16015-050. Recebido em 13/01/2011; aceito para publicação em: 24/05/2011; publicado online em: 30/06/2011. Confilto de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 99-101, abril / maio / junho 2011 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 99 Raiz dentária impelida para o seio maxilar após exodontia: uma opção de tratamento. Ponzoni et al. Thus, after the confirmed diagnosis and procedures for maintenance of sinus aseptically, the removal of the tooth or root fragment can be done, in particular by means of surgical access Caldwell Luc, widely used for allowing direct visualization of the maxillary sinus and therefore the tooth to be extracted2. case rePort Female patient, 39 years of age, leukoderma, was referred to Department of Oral and Maxillofacial Surgery, Faculty of Dentistry of Araçatuba, which reported being subjected to the extraction of the element 26 for about two months. The patient was reported by the practitioner who performed the extraction that a root was pushed into the maxillary sinus. During anamnesis there was absence of symptoms. The patient reported air exit and sometimes the presence of unpleasant taste in the mouth. In intraoral evaluation the presence of oro-sinus fistula was observed in the alveolar ridge in the region of 26. In the extra-oral radiographs panoramic was observed the presence of an image compatible with a root inside the left maxillary sinus (Figure 1A and 1B). For the posterior-anterior Waters projection, was observed slight radiopacity of the left maxillary sinus, suggesting the presence of maxillary sinusitis. The treatment plan included surgery to remove the root within the maxillary sinus with previous preparation of the maxillary sinus by means of irrigation with saline, and systemic antibiotic therapy (Amoxicillin, 500mg 1 tablet 8/8h). The previous preparation was initiated three days before surgery. In an outpatient setting, the patient underwent local anesthesia of the left hemi-maxilla by blocking infraorbital, posterior superior alveolar, palatine and nasopalatine nerves, an anesthetic of intermediate duration was used (mepivacaine 2% with epinephrine 1:100,000). NowakPeter incision was made, consisting in a straight incision in alveolar crest surrounding the fistula, with relaxing incisions anterior and posterior to fistula. The epithelium that covered the oroantral fistula was removed by curettage. A mucoperiostal flap was detached and the anterior wall of the maxillary sinus exposed. An ostectomy was performed in anterior wall of maxilla, allowing access to the maxillary sinus (Figure 2A). After partial curettage of the sinus membrane the root and surrounding tissues were removed (Figure 2B). Abundant irrigation with saline solution and cleaning of the maxillary sinus was done. Were necessary horizontal incisions in the periosteum to bring greater elasticity to the flap, which was slipped, repositioned and sutured in palatine gingiva, resulting in a coaptation of incised edges and a first intention repair of the surgical wound (Figures 3A and 3B). dIscussIon The maxillary sinus is located anatomically in the body of the maxilla, with a pyramidal shape, its basis is 100 A B Figure 1. A. Intraoral evaluation the presence of oro-sinus fistula was observed in the alveolar ridge in the region of 26. B. Radiographs panoramic was observed the presence of an image compatible with a root inside the left maxillary sinus. in the naso-sinus wall and the apex at the root of the zygomatic bone, linking themselves closely in its floor, with the roots of the superior molars and premolars1. The maxillary body is gradually expanding by vacuolation of the maxillary sinus. After teeth loss, the maxillary sinuses can extend to that part where they lost some of its mechanical functions. The recesses of the sinuses can then extend down between the remaining teeth and the floor of such extensions is thin3. Often the maxillary sinus is broad and low and the roots form bumps on the floor, being covered merely by alveolar bone, lined by mucous membrane lining the maxillary sinus. When periapical disease exists, this bone is destroyed with remaining only the sinus mucosa covering the roots. Such anatomical and pathological factors may predispose the penetration of a root in the maxillary sinus when attempting an extraction. The most commonly roots displaced to maxillary sinus are those of the molars. This can occur if the root is being removed with a straight extractor with excessive apical pressure2. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 99-101, abril / maio / junho 2011 Raiz dentária impelida para o seio maxilar após exodontia: uma opção de tratamento. Ponzoni et al. A A B Figure 3. A. Root removed. B. radiographs panoramic postoperatory. B Figure 2. A.Ostectomy was performed in anterior wall of maxilla, allowing access to the maxillary sinus. B. After partial curettage of the sinus membrane the root and surrounding tissues were removed. Kaufman, Neuman4 list factors that determine the consequences generated from the displacement of a root into the maxillary sinus: presence of periapical disease; location of the root - if submucosa, has a great chance of acceptance; level of irritation to soft tissues: physical (such as the fragment size) and microbiological (level of contamination and virulence of microorganisms); and the mechanism of host defense: general (age and physical condition of the patient at operation) and local (state of the maxillary sinus, an interference may exacerbate a pre-existing condition). In the case of displacement of tooth root into the maxillary sinus, the surgeon must assess whether there is any infection in the tooth or in the periapical tissues. If the tooth fragment displaced is a small root tip, one should irrigate the socket and use a powerful vacuum cleaner. If removal is not possible in this way, the root must remain within the sinus. The use of instruments across the dental socket may introduce further fragment and allow the development of microorganisms that cause sinus infection1,2. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 99-101, abril / maio / junho 2011 If the fragment of root is large, or even an entire tooth was displaced, this should be removed. The usual method to access maxillary sinus is Caldwell-Luc incision in the region of the canine fossa4,5. In our case, the access road to the canine fossa was performed through a Nowak–Peter incision, starting from the distal of the canine, which not only allows wide exposure of the canine fossa, but also of the alveolar process region, since it wanted to remove the root and to closure of the fistula. Another advantage is that the muco-periosteal flap protects the canine fossa trepanned avoiding a vestibular fistula occasionally observed when the classical incision Caldwell-Luc is used2,3,5. references 1. Walton RE. Iatrogenic maxillary sinus exposure during maxillary posterior root-end surgery. Oral Surg Oral Med Pathol Oral Radiol Endod 2004; 97(1): 3-4. 2. Ramsey RA, Shelley MJ. Root fragment in the ostium of the maxillary sinus. Int J Oral Maxillofac Surg. 2003; 32(1): 87-90. 3. Wooley EJ, Patel M. Subdural empyema resulting from displacement of a root into the maxillary antrum. Br Dent J. 1997; 14(182): 430-32. 4. Kaufman A, Neuman H. Iatrogenic damages caused by dental procedures. Foreign bodies in the oral cavity. Quintessence Int. 1983;.14(3): 361-366. 5. Visscher SH, Minnen B, Bos RRM. Closure of oroantral communications: A review of the literature. J Oral Maxillofac Surg. 2010; 68(2): 281-6. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 101 Verificar datas; faltam instituição e dados para correspondência Artigo de Revisão Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais Cervical congenital disorders. Rare cases: lateral anomalies RESUMO José Francisco de Sales Chagas 1 Abrão Rapoport 2 Maria Beatriz Nogueira Pascoal 3 José Luis Braga de Aquino 4 Luis Antonio Brandi Filho 5 Marcos Ribeiro Magalhães 6 Otávio Alberto Curioni 7 Thiago Olivetti Artioli 8 Carolina Ferraz do Amaral 8 SUMMARy Introdução: Cistos e fístulas congênitas cervicais devem ser considerados no diagnóstico diferencial das massas cervicais em adultos e crianças. Incluem, em ordem descendente de frequência, os cistos do ducto tireoglosso, afecções do aparelho branquial, cistos dermoides e outras afecções laterais cervicais. Objetivo: Os autores relatam sua experiência nos casos mais incomuns das doenças congênitas cervicais. Revisão de Literatura e Discussão: Anomalias do ducto tireoglosso e cistos dermoides constituem a grande maioria das massas cervicais congênitas da linha média observada em crianças e as lesões mais incomuns do pescoço na linha média incluem as rânulas e fístulas. A avaliação pré-operatória de uma massa cervical deve ser precisa, pois nos casos de lesões congênitas cervicais o erro no diagnóstico diferencial pode levar a conduta inadequada e sequelas importantes como hipotireoidismo, hipocalcemia, etc., principalmente nos casos mais incomuns. Apesar de sua raridade existem certas características clínicas e de imagem que podem ajudar no diagnóstico diferencial destas afecções. Considerações finais: O conhecimento da anatomia e da embriogênese cervicais, assim como a clínica em conjunto com exames complementares são essenciais na resolução das afecções congênitas cervicais, que apesar de terem fácil resolução, podem trazer importantes morbidades ao paciente. Introduction: Congenital cervical cysts and fistulas should be considered in the differential diagnosis of neck masses in adults and children. They include, in descending order of frequency, thyroglossal duct cysts, disorders of the branchial apparatus, dermoid cysts and other lateral diseases in the neck. Objective: The authors report their experience in the most unusual cases of congenital cervical anomalies. Literature revision and Discussion: thyroglossal duct anomalies and dermoid cysts comprise the vast majority of congenital midline cervical masses seen in children. Unusual lesions of the midline neck include ranulae and midline cervical clefts. The preoperative evaluation of a neck mass must be accurate, because in cases of congenital cervical lesions error in diagnosis can lead differential misconduct and important sequelae such as hypothyroidism, hypocalcemia, especially in the most unusual cases. Despite its rarity there are certain clinical and imaging features that can help in the differential diagnosis of these disorders. Final considerations: The cervical anatomy and embryogenesis, as the clinics in conjunction with complementary exams are essencials in the resolution of Cervical congenital disorders, which have easy resolutions, although they can bring important morbities to the patient. Key words: Branchioma; Parathyroid Glands; Fistula; Thymus Gland. Palavras-chave: Glândulas Paratireoides; Timo; Branquioma; Fistula. Introdução Anomalias Branquiais Correspondem a cerca de 1/3 dos casos de anomalias do tracto tireoglosso. Apresentam-se como cistos ou fístulas na região lateral do pescoço e, raramente, como cistos ou fístulas internas na faringe. Podem envolver o aparato auditivo, mas comumente estão relacionados com a região cervical1. Embriogênese O aparato branquial é marcado externamente por quatro fendas branquiais de cada lado do embrião humano. Internamente, a faringe do embrião é marcada 1) Doutor em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HMCP (Hospital da PUC Campinas). Professor da Disciplina de Cirurgia da Faculdade de Medicina da PUC Campinas Cirurgião do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis (SP). 2) Livre Docente em Medicina pela Universidade de São Paulo. Diretor Técnico do Hospital Heliópolis (SP). 3) Doutora em Medicina pela Universidade de São Paulo. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Municipal Mario Gatti (Campinas). Cirurgiã dos Serviços de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital e Maternidade Celso Pierro da PUC Campinas e Hospital Heliópolis (SP). 4) Doutor em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas. Chefe do Serviço de Cirurgia Torácica do HMCP (PUC Campinas). Professor da Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Puc Campinas. Cirurgião do Serviço de Cabeça e Pescoço do HMCP (PUC Campinas). 5) Cirurgião do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital e Maternidade Celso Pierro da Puc Campinas 6) Mestre em Ciências da Saúde pelo Curso de Pós Graduação do Hospital Heliópolis. Cirurgião do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis (SP). 7) Doutor em Medicina pela Universidade de São Paulo. Chefe do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do Hospital Heliópolis (SP). 8) Estudante da Faculdade de Medicina da Puc Campinas. Instituição: Falta dados Correspondência: FALTA DADOS Recebido em 20/06/2011; aceito para publicação em 05/07/2011; publicado online em 30/06/2011 Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. 102 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Artioli et al. por cinco bolsas laterais, das quais as quatro primeiras correspondem aos arcos externos. Entre cada fenda e bolsa branquial situa-se um arco branquial com mesoderma que contem elementos esqueléticos, um arco aórtico conectando as aortas ventrais e dorsais e os primórdios de nervos e músculos. Dentre as quatro fendas e bolsas identificadas na 5ª semana de desenvolvimento, somente a primeira fenda e bolsa não estarão normalmente obliterados na 8ª semana. A primeira fenda persiste como conduto auditivo externo, a primeira bolsa como tuba auditiva e orelha média. O segundo arco branquial cresce sobre os arcos mais inferiores e, este tecido mesodérmico que rapidamente recobre a região cervical, será o músculo platisma. O maior crescimento do segundo arco branquial resultará em um opérculo denominado bolsa faríngea e será a causa de a maioria dos cistos e fístulas branquiais aí se originarem1, 3. Anomalias da primeira fenda e bolsa branquial Os defeitos envolvendo a primeira fenda branquial podem se manifestar como um cisto ou trajeto fistuloso medial à cartilagem da concha, estendendo-se dorsalmente no couro cabeludo retro-auricular e direcionandose medialmente e paralelo à porção cartilaginosa do canal auditivo ou então pode se apresentar como cisto ou fístula inferior à cartilagem do canal auditivo e íntimo na glândula parótida (Figura 1). Ambos os tipos são raros, revestidos por epitélio e geralmente são diagnosticados após quadro infeccioso. Os defeitos da primeira fenda branquial são também denominados de “cistos e fístulas cérvico-aurais” ou “coloboma auris” e localizam-se mediais ou laterais ao nervo facial, podendo inclusive dividir o tronco do nervo, o qual pode ser de difícil identificação, principalmente nos casos infectados. Dentre nossos casos tivemos somente um paciente com este tipo de fistula de primeiro arco, pois a dissecção do trajeto fistuloso mostrou relação com o tronco do nervo facial e final em fundo cego no parênquima da glândula parótida (Figura 2). As anomalias da primeira bolsa branquial são de dois tipos: uma muito rara, o cisto branquiogênico nasofaríngeo e outra comum, a tuba auditiva curta que é típica em crianças com otite média de repetição1. Nossa casuística mostra um paciente com cisto branquial localizado em espaço parafaríngeo e diagnosticado após exame físico realizado pelo pediatra que mostrava abaulamento de cavidade oral em região jugal e palato com queixa da mãe de dificuldade a deglutição (Figura 3). A tomografia computadorizada denotava lesão hipodensa em espaço parafaríngeo, o que levou a indicação cirúrgica com resolução do caso (Figura 4). Anomalias da segunda fenda e bolsa branquiais Quase todas as fístulas branquiais completas derivam da porção ventral da segunda fenda e bolsa branquiais. A abertura externa se situa tipicamente no terço inferior do pescoço e no bordo anterior do músculo esternocleidomastóideo. A fístula passa através do tecido subcutâneo, atravessa o músculo platisma e a fáscia Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 Figura 1. Orifício cutâneo de fístula branquial abaixo do lobo da orelha (seta) e em região parótida com processo infeccioso secundário. Figura 2. Ressonância nuclear magnética em corte axial associada a fistulografia com demonstração do trajeto fistuloso e suas relações com a região parotídea. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 103 Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Artioli et al. Figura 3. Abaulamento de palato duro e mole em paciente de 11 meses de idade. Figura 4. Tomografia computadorizada em corte coronal com lesão cística em espaço parafaríngeo em paciente de 11 meses de idade. Figura 5. Abaulamento de triângulo posterior do pescoço em paciente de 5 meses de idade. Figura 6. Fotografia da peça cirúrgica do caso anterior demonstrando cisto branquial com cápsula espessa por processo infeccioso prévio. cervical profunda para alcançar a bainha da artéria carótida. Acima do hioide se direciona medialmente e abaixo do ventre posterior do músculo digástrico, passando por sobre o nervo hipoglosso e entre as artérias carótida interna e externa, para entrar na faringe na porção superior do pilar tonsilar posterior. As fístulas incompletas externas ou internas também fazem o mesmo trajeto. Um cisto da segunda bolsa branquial se localiza no trajeto descrito para a fístula e somente pode ser atribuído definitivamente à segunda fenda ou bolsa pela suas relações com as estruturas cervicais. Um cisto infectado pode fistulizar para a pele ou para a faringe, o que é difícil de ocorrer devido a sua espessa cápsula. Normalmente localizam-se no bordo anterior do músculo esternocleidomastóideo e são diagnosticados entre segunda e terceira décadas de vida, após quadro de infecção das vias aéreas superiores. O inicio de sintomas em faixas etárias menores é incomum, bem como sua localização no triângulo posterior do pescoço. Exames de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética) podem ser úteis ao diagnóstico, principalmente nos casos infectados onde se perde a consistência cística característica e nos casos com localização mais infrequente, como demonstrado nas Figuras 5 e 6. Estes exames demonstram a consistência cística da lesão com reforço acústico posterior ao ultrassom, imagem hipodensa na tomografia computadorizada e reforço de sinal em T2 na ressonância nuclear magnética1. 104 Anomalias da terceira fenda e bolsa branquiais Uma fístula completa da terceira fenda ou bolsa branquial ainda esta por ser relatada. A abertura cutânea e suas relações com o músculo platisma são as mesmas descritas para a fítula da segunda fenda ou bolsa branquiais. O trajeto fistuloso pode ser relacionado ao nervo glossofaríngeo, sobre o nervo laríngeo superior, ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Figura 7 não referenciada no texto Figura 7. Aspecto clínico de abscesso cervical abaixo de incisão cutânea de drenagens anteriores. Artioli et al. Figura 8. Tomografia computadorizada em corte axial demonstrando imagem hipodensa acometendo lobo tiroeidiano, caracterizando tireoidite supurativa. pósteo-medial à artéria carótida interna, lateralmente à membrana tireo-hióidea e se abrir na faringe na parte anterior e superior do recesso piriforme. Fístula incompleta externa da terceira fenda ou bolsa branquial pode ser reconhecida somente por suas relações com nervo glossofaríngeo, artéria carótida e nervo laríngeo superior. Os cistos branquiais relacionados profundamente com a artéria carótida interna e intimamente com o nervo vago podem ser remanescentes da terceira fenda ou bolsa branquial1-3. Anomalias da quarta fenda ou bolsa branquiais Como as fístulas da terceira fenda ou bolsa branquial, ainda não há descrito fístula completa da quarta fenda ou bolsa branquial. A rota imaginada para esta fístula iria desde o seio piriforme, atravessando a membrana cricotireóidea, goteira tráqueo-esofágica para girar ventralmente em torno da artéria do quarto arco (subclávia à direita e ligamento arterioso à esquerda) e então, cefalicamente, pela carótida faz volta no nervo hipoglosso, descende pelo pescoço profundamente ao músculo platisma, abrindo-se na pele (simulando uma fístula da segunda fenda) no terço inferior e ao longo do bordo anterior do músculo esternocleidomastóideo3. Fístulas incompletas internas da quarta bolsa branquial parecem ter quadro bem estabelecido. O lado esquerdo é o mais envolvido (92% em 526 casos6,7, possivelmente pelo desenvolvimento assimétrico das estruturas vasculares da região superior do tórax. A primeira descrição de fistula do recesso piriforme é de 1933 por Raven e os primeiros casos cirúrgicos foram descritos por Sandborn (1972) e Tucker (1973)6. O paciente se torna usualmente sintomático após os 10 anos de idade e o quadro clínico típico é de tireoidite supurativa de repetição ou abscessos cervicais recidiRev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 Figura 9. Faringoesofagograma contrastado com a fístula do recesso piriforme destacada pelas setas. vantes, porém somente 8% dos pacientes apresentam hipotireoidismo1,7. No período neonatal, normalmente, manifesta-se como massa ou cisto na região cérvico-lateral, cisto intratireoidiano, ou abscesso retrofaringeano, ocasionando problemas respiratórios. Na criança e no adulto jovem a fístula do recesso piriforme pode levar ao quadro de abscesso profundo na região lateral do pescoço, abscesso tireoidiano ou a tireoidite supurativa aguda, como em nossos casos6,7 (Figuras 8 e 9). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 105 Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Figura 10. Tomografia computadorizada em corte axial com imagem cística unilocular junto ao lobo da tireoide. Em 1970 foi relatado o uso de contraste de bário deglutido para diagnóstico e este é realizado, preferencialmente, através de faringoesofagroma contrastado ou por laringoscopia direta, com a demonstração de trajeto fistuloso no primeiro caso e do orifício da fístula no recesso piriforme no segundo método 6,7. Em nossos dois pacientes o diagnóstico foi realizado por meio do faringoesofagograma contrastado (Figura 10). O tratamento é através de ressecção do trajeto fistuloso, incluindo-se ou não lobectomia homolateral. As complicações relatadas em literatura foram paralisia de prega vocal e fístula salivar. A incisão e drenagem devem ser realizadas nos pacientes com abscesso cervical, principalmente em pacientes lactentes, pois pode ser causa de insuficiência respiratória. Métodos conservadores como endoscopia e cauterização podem ser utilizados em casos onde é evidente a identificação do orifício fistuloso na mucosa faríngea6,7. revIsão da lIteratura e dIscussão Cistos de paratireoide Os cistos de paratireoide são doenças raras com incidência entre 0,08% a 3,4%. Os cistos de paratireoide ocorrem em ambos os sexos, com uma proporção de 2,5:1 mulheres em relação aos homens, comumente na quarta e quinta décadas de vida. A vasta maioria localiza-se nas glândulas paratireoides inferiores, sendo descritas do ângulo da mandíbula ao mediastino, com leve predominância à esquerda, mas 10% dos casos podem ocorrer em localizações ectópicas, principalmente no timo e mediastino anterior. Sua patogênese é incerta, havendo várias teorias para explicar a sua origem: (1) remanescente embriológico do 3º e 4º arcos 106 Artioli et al. branquiais, ocorrendo aumento de volume por acúmulo de secreção formando um macrocisto; (2) degeneração, infarto ou hemorragia de paratireoide ou adenoma da glândula; (3) coalescência de microcistos de paratireoides normais ou adenomatosas; (4) persistência do canal de Kustneiner, que são canais vesiculares na existência fetal ou rudimentos glandulares e (5) retenção de paratormônio dentro das vesículas coloides8. Apesar destas teorias embriológicas não se tem relato de cisto de paratireoide em crianças8. Podem ser classificados em funcionantes e nãofuncionantes a depender da associação com hiperparatireoidismo, sendo que menos de 10% são funcionantes. Os pacientes com cisto funcionante tendem a ser homens, sendo 1,6 vezes mais frequente do que em mulheres e com idade mais avançada. Os cistos nãofuncionantes são descritos como mais comuns, predominando em mulheres. São tidos geralmente como massas cervicais assintomáticas e, em ambos os tipos, o conteúdo do cisto apresenta altas concentrações de paratormônio. Os principais sintomas são provocados pelo efeito compressivo local da lesão quando atingem grandes dimensões e incluem disfagia, rouquidão, dor, massa cervical ou dispneia por desvio da traqueia. A rouquidão é causada por paresia de prega vocal, que pode ser explicada por edema e fibrose do nervo laríngeo recorrente combinado com a pressão ou tração em relação à parede do cisto10 e podem existir ainda os sintomas decorrentes do hiperparatireoidismo. O diagnóstico é difícil devido a sua raridade e consequente confusão com doença tireoideana e, normalmente, é realizado geralmente no intra-operatório com confirmação pelo exame histopatológico. No entanto, durante a punção a visualização de líquido aquoso e fluido no interior do cisto e altos níveis de paratormônio (6 a 416 pg/ml para cistos não funcionantes e 2000 a 6000pg/ml para os funcionantes) são diagnósticos, o que pode evitar o tratamento cirúrgico. No entanto o aspecto à punção do conteúdo do cisto proporciona diagnóstico diferencial com os linfangiomas, reforçado pela consistência da massa cervical. Assim, exames de imagem como tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética podem ajudar demonstrando lesão cística unilocular (Figura 11). O tratamento para os cistos nãofuncionantes sem complicações pode ser aspiração guiada por ultrassom, já que não há relatos de malignidade. Nos casos de recorrência ou cisto complicado por sintomas de disfagia, dispneia ou paralisia do laríngeo recorrente, o tratamento primário deve ser cirúrgico, como nos cistos hiperfuncionantes8,9. Apesar de não termos realizados dosagem intra-cística de paratormônio, as características dos exames de imagem e aspectos intra-operatório podem alertar para o diagnóstico, como visto na Figura 12. Estas características demonstram lesão cística e de paredes finas, localizada junto da glândula tireoide e o achado de tecido de paratireoide na parede do cisto fecha o diagnóstico. ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Menciona figura 13 que não veio Artioli et al. Figura 11. Figura de peça cirúrgica demonstrando cisto de conteúdo límpido e cápsula bem definida. Paciente da Figura anterior. Figura 12. Ultrassonografia com doppler demonstrando lesão cística junto de artéria carótida (em vermelho). Cistos do ducto faríngo-tímico O timo desenvolve-se a partir da 6ª semana de gestação, da porção ventral da terceira bolsa faríngea e, em menor proporção da 4ª bolsa, logo aparecendo uma prolongação caudal, denominado ducto faringo-tímico. A partir da 8ª semana os dois lóbulos do timo migram desde a faringe até o mediastino anterior, descrevendo trajeto oblíquo e descendente, por diante dos vasos profundos cervicais. Ao nível da glândula tireoide os lóbulos se fundem, localizando-se no mediastino anterior e retroesternal. Assim, é possível ter os restos do timo no pescoço, que na maioria das vezes apresenta-se como uma massa cervical durante a infância9. A presença de tecido tímico ectópico na região cervical constitue uma de suas afecções congênitas por defeito de migração do timo, o que ocorre por volta da 8ª semana de gestação. Um lóbulo ou vestígios menores sólidos ou císticos do timo podem permanecer no pescoço no trajeto do ducto faringo-tímico. Raramente se encontra vestígios do timo na base do crânio, recesso piriforme, espaço retro-faríngeo ou na bifurcação traqueal. Apresenta sua maior incidência entre a 4ª e 6ª décadas de vida e predominância no gênero feminino. Tecido tímico com localização atípica é classificado em 7 tipos: tipo 1, extensão direita ou esquerda sem contato com a glândula tireoide; tipo 2, extensão direita ou esquerda em contato com a glândula tireoide; tipo 3, extensão bilateral sem contato com a glândula tireoide; tipo 4, extensão bilateral com um lado em contato com a glândula tireoide; tipo 5, extensão bilateral em contato com a glândula tireoide; tipo 6, extensão unilateral acima da glândula tireoide e; tipo 7, nódulos discretos em posições laterais em contato com a glândula tireoide. Os tipos 3 e 4 são os mais comuns. Dentre nossos casos encontramos uma paciente com 54 anos e outra com 8 meses de idade, sendo a primeira do tipo 2 e a segunda do tipo 6. Os sintomas relatados foram massa cervical próxima da glândula tireoide e regurgitação por massa retrofaríngea. Ambos diagnósticos foram realizados por histopatologia10,11. Um tipo de remanescente cístico do timo é o cisto do ducto faringo-tímico, oriundo de um dos setores pares de descendência do timo embriológico. Cistos do ducto faringo-tímico são lesões raras que podem ter uma apresentação semelhante às massas cervicais mais comumente encontradas na infância. Podem ser uni ou multiloculares e contêm líquido amarelo citrino com cristais de colesterol9. A maioria dos cistos faringo-tímicos são congênitos, mas também podem ter sua origem relacionada com infecção, neoplasias, radioterapia, trauma e toracotomia. Diagnóstico diferencial incluem massas císticas como os tumores tímicos com transformações císticas, higroma cístico, teratomas císticos e abscessos. Na região cervical estes cistos se localizam na bainha carotídea e é possível realizar diagnóstico histológico quando se encontra corpúsculos de Hassal12. Os exames de imagem geralmente mostram lesão uni ou multilocular com limites precisos. A tomografia computadorizada mostra densidade próxima da água e a ressonância apresenta sinal de baixa intensidade em T1 e intensidade alta ou intermediária em T2, que pode aumentar na presença de secreção com sangue ou proteína no cisto. A ultrassonografia não demonstra características próprias das lesões císticas, a não ser por sua localização na bainha da carótida, portanto os exames de imagem não ajudam no diagnóstico diferencial (Figura 13). Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 107 Afecções congênitas cervicais. Casos raros: anomalias laterais. Artioli et al. consIderaçÕes fInaIs referêncIas As afecções congênitas cervicais laterais apresentam uma maior variedade afecções o que torna seu diagnóstico diferencial mais difícil entre as massas cervicais. Os aspectos clínicos e de exame físico podem fazer suspeita diagnóstica, confirmando com os exames de imagem. O conhecimento da anatomia cervical e de embriogênese são também igualmente importantes, pois a relação entre a afecção congênita e a anatomia cervical pode ser complexa com possíveis sequelas importantes, como interferência com nervo facial e outros pares cranianos, glândulas paratireoides e hipocalcemia pós-operatória ou mesmo ausência de tecido tímico em pacientes pediátricos. Assim, as afecções congênitas cervicais são acometimentos na maioria das vezes de fácil resolução, mas podem trazer morbidades graves. Resuminho: O conhecimento da anatomia e da embriogênese cervicais, assim como a clínica em conjunto com exames complementares são essenciais na resolução das afecções congênitas cervicais, que apesar de terem fácil resolução, podem trazer importantes morbidades ao paciente. The cervical anatomy and embryogenesis, as the clinics in conjunction with complementary exams are essencials in the resolution of Cervical congenital disorders, which have easy resolutions, although they can bring important morbities to the patient. 1. Charrier JB, Garabedian EN. Kystes et fistules congénitaux de la face et du cou. Archives de pédiatrie 2008;15:473-6. 2. Acierno SP, Waldhausen JHT. Congenital cervical cysts, sinuses and fistulae. Otolaryngol Clin N Am 2007;40:161-76. 3. Todd NW. Common congenital anomalies of the neck. Embryology and surgical anatomy. Surg Clin North Am 1993;73:599-610. 4. Sistrunk WE. The surgical treatment of cysts of the thyroglossal tract. Ann Surg 1920;71:121. 5. Fava AS, Andrade Sobrinho J, Rapoport A, Carvalho MB. Cistos e fístulas branquiais. 2a. parte. An Paul Med Cir 1982;109:9-26. 6. Costa CC, Pascoal MBN, Almeida MC, Amade JRF, Camargo JGT, Bandeira CM, Aquino JLB, Chagas JFS. Fístula congênita de seio piriforme. BJORL 1998;64:515-7. 7. Nicoucar K, Giger R, Pope Jr HG, Jaecklin T, Dulguerov P. Management of congenital fourth branchial arch anomalies: a review and analysis of published cases. J Ped Surg 2009;44:1432-9. 8. Silva DA, Machado MC, Brito LL, Guimarães RA, Fava AS, Mamone MCAC. Cisto de paratireoide: aspectos diagnósticos e tratamento. BJORL 2004;70:840-4. 9. Kaufman MR, Smith S, Rothschild MA, Som P. Thymopharyngeal duct cyst. An unusual variant of cervical thymic anomalies. Arch Otolaryn gol Head Neck Surg 2001;127:1357-60. 10. Heinen FL. Timo ectópico cervical. Comunicación de un caso y revisión bibliográfica. Arch Argent Pediatr 2009;107:168-70. 11. Rapoport A, Dias CF, Freitas JPA, Souza RP. Cervical thymoma. Sao Paulo Med J 1999;117:132-5. 12.Castellote A, Vázquez E, Vera J, Piqueras J, Lucaya J, Garcia-Peña P, Jiménez JA. Cervicothoracic lesions in infants and children. Radiographics 1999;19:583-600. 108 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.40, nº 2, p. 102-108, abril / maio / junho 2011 XXIII CONGRESSO BRASILEIRO DE CIRURGIA DE SANTOS / SP - 3 A 6 DE SETEMBRO DE 2011 CABEÇA E PESCOÇO MENDES CONVENTION CENTER Maiores Informações : WWW.CCP2011.COM.BR Promoção : Apoio : Organização :