105 ATENDIMENTO PSICOLÓGICO: UM RELATO DE ACOLHIMENTO E ACONSELHAMENTO DE CRIANÇAS E ADOLECENTES EM UM CONSELHO TUTELAR NO INTERIOR DA BAHIA JAMÍLIA BRITO GOMES1 MÁYRA RIBEIRO2 INTRODUÇÃO Segundo o artigo 131 do estatuto da criança e do adolescente, “o conselho tutelar é um órgão permanente e autônomo, não-juridicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta lei” e recebe crianças e adolescentes com casos de exploração, violência, negligência, discriminação, crueldade e opressão. Ao receber uma denúncia deste tipo o conselho tutelar inicia um acompanhamento do caso até uma melhor maneira de resolvê-lo. Este conselho passou a funcionar, efetivamente, em Vitória da conquista a partir de 1997, com a posse dos primeiros conselheiros eleitos. Cabem aqui alguns esclarecimentos sobre o funcionamento desta instituição. Trata se de uma equipe composta por: uma presidente; uma secretária; e três conselheiras. Esta atual direção cumpre o objetivo de acompanhar os casos de denuncias e ataques contra os direitos das crianças e adolescentes em situação de risco social no município. Neste acompanhamento é feito investigações e quando necessário é feito encaminhamento para órgãos competentes para auxiliar no trabalho de acompanhamento. A escuta é feito por conselheiras que recebem as pessoas que realizam a denuncia, seja genitores, padrastos, vizinhos, e outros. Além disso, é solicitado o comparecimento da criança ou adolescente envolvido e que muitas vezes encontram-se em condições vulneráveis. Sabe-se que muitas crianças crescem e se desenvolvem em contextos de ameaça à sua saúde psicológica e ao enfrentar situações de stress e risco no seu cotidiano, podem apresentar problemas emocionais tornando vulneráveis. (CECCONELLO e KOLLER , 2000). Contudo, observa-se que nem todas as crianças e adolescentes que vivenciam essas situações apresentam problema, mas muitas delas conseguem adaptar-se e superar essas questões, essas são chamadas crianças resilientes. Pessoas que são expostas a situações de risco que não desenvolvem a capacidade de resiliência são vistas como mais vulneráveis a estes eventos. A psicologia tem buscado compreender e discutir essas demandas principalmente por meio do conceito de resiliência. O psicólogo, que tem entre suas atividades realizar um acolhimento pode ser membro fundamental no trabalho com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Neste sentido faz necessário realizar escuta e aconselhamento, visando um suporte emocional, bem como realizar um acolhimento garantindo o respeito pelo sigilo profissional, buscando proteger através da confidencialidade o relato pessoal de cada paciente. Além disso, torna-se indispensável a promoção da resiliência durante o processo de escuta e aconselhamento e realizar encaminhamentos a depender da necessidade para os serviços de Psicologia existentes na cidade. ¹Psicóloga, colaboradora do Laboratório de Avaliação das diferenças individuais – LADI-Ba da Faculdade Juvêncio Terra. E-mail: [email protected] ²Professora Mestre da Faculdade de Tecnologia e Ciência – FTC e Faculdade Juvêncio Terra 106 OBJETIVO Realizar acolhimento, aconselhamento e promover o desenvolvimento de resiliência às crianças e adolescentes em situação de risco, atendidos pelo conselho tutelar, na cidade de Vitória da Conquista, interior da Bahia. MATERIAL E MÉTODO Este estudo foi realizado em uma Unidade do Conselho Tutelar. Este Conselho Tutelar em Vitória da conquista, no interior da Bahia. Participaram deste estudo seis crianças, quatro do sexo feminino, um do sexo masculino e um adolescente do sexo feminino, sendo todos encaminhados pelo Conselho Tutelar. Para o referido estudo foi utilizado protocolo de registro de atendimento cujo objetivo é armazenar e organizar informações coletadas durante atendimento. Quanto aos procedimentos, esta intervenção foi feita a partir de atendimentos individuais. Durante o processo de intervenção foi utilizado acolhimento, escuta, aconselhamento individual com uma devolutiva para os responsáveis pelos pacientes e encaminhamento a depender da necessidade para os serviços de Psicologia da clínica escola. Destes seis pacientes, apenas um deles foi encaminhado ao serviço de psicologia devido uma mudança de comportamento e pelo fato de necessitar de um acompanhamento psicoterápico que é disponibilizado pelos estagiários de clínica escola. Dessa forma realizou-se somente um encaminhamento, e os demais pacientes foram atendidos realizando-se uma escuta e aconselhamento, concluindo assim os atendimentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Durante a realização deste trabalho, teórico e prático, identificou-se que a atividade desenvolvida pelo conselho tutelar se resume em acompanhar os casos de denuncias e ataques contra os direitos das crianças e adolescentes em situação de risco social e a partir daí surge à necessidade de um acompanhamento psicológico. A fim de realizar acompanhamento psicológico, foram encaminhados pelo conselho tutelar os casos com as seguintes queixas: Manifestações externalizantes (comportamento de birra, faltando às aulas), comportamento de agressividade das crianças e de alguns familiares para com eles, dificuldade de aprendizagem, suspeita de abuso por parte do genitor, abandono de genitora, separação de pais devido traições de um dos conjunges, maus-tratos e negligência familiar. Neste sentido foram realizadas as seguintes intervenções: Acolhimento, escuta, aconselhamento e orientações, visando promover uma ampliação do repertório destas crianças e adolescentes que se encontravam em situação de vulnerabilidade e sofrimento emocional. Também buscou-se trabalhar treino de habilidades sociais, criação de novas estratégias adaptativas, estratégia de resolução de problemas, orientações referente a tomada de decisão, visando aumentar os recursos pessoais para lidar com as situações adversas. Também foram realizados dois encaminhamentos dos casos atendidos para clínica escola para realização de psicoterapia. 107 CONCLUSÃO Neste sentido verificou-se que o profissional de psicologia possui fundamental importância no desenvolvimento deste trabalho, pois o mesmo irá contribuir nesta atuação intervinda de formas variadas a depender da necessidade, entre elas, promovendo um acolhimento, realizando uma escuta, aconselhamento e encaminhamento quando necessário, já que foram os objetivos primordiais no desenvolvimento desta intervenção. Sendo assim, este profissional através de suas intervenções passa a gerar qualidade de vida, condições de saúde e condições de um desenvolvimento com qualidade para essas crianças e adolescentes inseridas neste contexto de frequente vulnerabilidade o que tem gerado todo esse sofrimento emocional conforme citado acima. Contudo, pode-se afirmar que é um campo de atuação de grande responsabilidade, multideterminações e um grande desafio para os profissionais envolvidos nestas temáticas. PALAVRAS CHAVE: Acolhimento, aconselhamento, crianças, adolescentes e resiliência. REFERÊNCIAS BOCK, Ana Mercês Bahia. Código de Ética Profissional do Psicólogo, Brasilia, Agosto de 2005, XIII Plenário do Conselho Federal de Psicologia. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n .8.069, de 13 de junho de 1990. FELDMAN, Clara e MIRANDA, Márcio Lúcio. Construindo a Relação de Ajuda. 12 ed. Belo Horizonte: Crescer, 2001. Educar em revista. Curitiba. N. 15 (1999), p. 67-71 PINHEIRO, D. P. N. A resiliência em discussão. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 9, n. 1, p. 67-75, 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n1/v9n1a09.pdf. Acesso em 23/11/2009.