FLUXO IMIGRATÓRIO. Contribuições para a cidade de Ipameri

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FLUXO IMIGRATÓRIO.
Contribuições para a cidade de Ipameri-GO no período de 1910 a 1950.
Mestranda: Vaneza Aparecida de Cubas
Orientadora: Maria Imaculada Cavalcante
Re sumo:O texto a seguir constitui-se dos primeiros passos de um trabalho dissertativo
desenvolvido no Mestrado em Geografia do Campus Catalão/UFG. Tendo como objetivo
principal, analisar os principais fluxos imigratórios e suas contribuições para a cidade de
Ipameri-GO, no período de 1910 a 1930. Segundo alguns historiadores como Martins (1999), o
fluxo imigratório para o Brasil passou por fases distintas. O primeiro foi, supostamente, os povos
asiáticos nômades, que povoaram o continente americano, conhecidos como índios. Milênios
depois, no século XIV, a chegada dos colonizadores portugueses, trazendo consigo mão-de-obra
escrava, os negros africanos. Posteriormente, com a abolição da escravatura, no final do século
XIX, e uma crise econômica na Europa, assiste-se à vinda de imigrantes europeus. Diante disso,
constatamos que a imigração para o Brasil não é um fato recente, marcando uma miscelânea de
etnias e culturas. Quanto à contribuição dos imigrantes para o Estado de Goiás, destacaremos a
força de trabalho e investimentos no comércio, na agricultura, na pecuária, na educação e no
desenvolvimento das cidades. Os imigrantes adentraram o Estado de Goiás no início do século
XX, através da construção da estrada de ferro. Em Ipameri a ferrovia chegou ao município no
início da década de 1910, trazendo os imigrantes. Estes forneceram à cidade não apenas
mão-de-obra, mas também, conhecimentos técnicos de fabricação de produtos, possibilitando
que, nos anos posteriores, os mesmos se tornassem grandes empresários, comerciantes,
fazendeiros expandindo a economia ipamerina e a goiana. De acordo com os dados da
Secretaria de Educação do Município de Ipameri (2006), a cidade em 1910 possuía 11.080
habitantes e a construção da estrada de ferro, em 1913, contribuiu para que, em 1920, a
população fosse para 19.227 habitantes, estatisticamente um aumento considerável. Perante
essas informações e outras que virão com a pesquisa, esperamos comprovar, formalmente, o
que propomos pesquisar: a importância da imigração na formação e desenvolvimento da cidade
de Ipameri.
Palavras-Chaves: Fluxo migratório. Estrada de ferro. Desenvolvimento de Ipameri
O artigo a seguir constitui o princípio de um trabalho dissertativo que tem
como objetivo investigar as contribuições do fluxo imigratório provocado pela construção da
Estrada de Ferro Centro-Oeste (EFCO), que possibilitou um melhor acesso à cidade de
Ipameri-GO. O estudo visa investigar o período compreendido entre 1910 a 1950, no
entanto, neste artigo focaremos somente as décadas de 1910 a 1930 e os seus principais
acontecimentos espaciais que marcaram a economia, a malha urbana e os aspectos culturais
da cidade em questão. Dessa forma, os dados aqui apresentados, consistem em informações
preliminares da pesquisa que foram levantadas em artigos eletrônicos, livros, trabalhos
monográficos e dissertativos tanto na área da geografia quanto na história, abordando
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aspectos urbanos e culturais a nível nacional e regional, fluxos imigratórios, dados e tabelas do
IBGE, e outros, que contribuíram para o desenvolvimento deste artigo e que serão
fundamentos para o desenvolvimento da dissertação.
A cidade de Ipameri situa-se no Sudeste Goiano, possuindo uma
localização privilegiada, pois é ponto de confluência de rodovias (GOs: 330 e 307; e BR 490)
e a Ferrovia Centro Atlântica (FCA), antiga Estrada de Ferro Centro-Oeste (EFCO). A
malha rodo-ferroviária permite a ligação da cidade com a capital do Estado, Goiânia; com a
capital do país, Brasília; com a cidade de Catalão e com o Triângulo Mineiro. A economia do
município se baseia na agricultura (milho, arroz, feijão e algodão), na pecuária (leite, gado de
corte e suínos), em fábricas de produtos lácteos e indústrias de cerâmica. O espaço
geográfico e a história da cidade, juntamente com todo o país, foram e ainda são marcados
por grandes transformações sócio-econômicas. Devido a grandes mudanças ocorridas na a
cidade, nas décadas de 1910 a 1930, Ipameri recebeu o título de “sala de visitas” do Estado
de Goiás. Esta titulação se deve, principalmente, a várias mudanças ocorridas na dinâmica
capitalista – política e econômica – mundial e nacional que favoreceram regiões até então
esquecidas, como o Centro-Oeste. Para uma melhor compreensão do expressivo
desenvolvimento da cidade nesse período, faremos uma rápida introdução histórico-espacial
dos acontecimentos que marcaram a espacialidade e a economia do país e da região,
resultando no desenvolvimento urbano da cidade de Ipameri-GO. Sucessivamente
abordaremos no presente artigo os primeiros resultados bibliográficos da pesquisa
dissertativa.
O sistema capitalista brasileiro consolidou-se, segundo Singer (1989), na
última década do século XIX, com o assalariamento e o colonato cafeicultor. Anteriormente,
o sistema que predominava era o escravocrata, que perdurou por três séculos e, mesmo com
a Proclamação da Independência (1822), o sistema escravagista permaneceu oficialmente até
1888. Posteriormente, com a consolidação do modo de produção capitalista, surgem as
primeiras indústrias têxteis brasileiras, proporcionando um maior crescimento urbano.
As novas relações de trabalho, juntamente com a escassez de
mão-de-obra nas plantações de café (base da economia no final do século XIX), fizeram com
que os cafeicultores paulista e mineiros se deparassem com um grande problema. Onde
encontrar mão-de-obra barata e disponível para as lavouras de café e, sobretudo, garantir a
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exportação cafeeira. A solução encontrada pelos cafeicultores e pelo governo foi a criação de
políticas de incentivo a imigração européia. Portanto, passaram a divulgar ofertas de trabalho
em anúncios de jornais como a “Gazetinha”, jornal paulista considerado importante veículo de
comunicação da época, atraindo imigrantes de várias partes da Europa. Um dos vários
anúncios publicados dizia:
Precisa-se de muitos empreiteiros para a limpa de cafezais com o
mato de menos de um mês. Paga-se a seco: por mil pés de
18$000 e 20$000. Diária, a molhado 70$000, a seco 100$000.
Muita atenção. A colheita do café será começada depois da
semana santa. (A GAZENTINHA, 1895, s/p.).
Através da imprensa jornalística os imigrantes europeus recorreram aos
anúncios, visto que a crise econômica atingia os países europeus. Os conflitos internos em
países como a Alemanha e a Itália, que haviam deixado boa parte da população na total
miséria, tornou o Brasil um país atrativo, daí o fluxo de imigração para o Brasil,
proporcionando aos cafeicultores mão-de-obra capacitada e ao governo o crescimento e a
estabilidade econômica. O resultado desse fluxo de imigração foi à expansão da cafeicultura
para o interior do país no final do século XIX e início do século XX.
Sobre o grande fluxo imigratório que transformou a espacialidade
brasileira, Olic (2002), faz um comentário bastante pertinente:
Os imigrantes eram originários de toda a Europa, mas os
britânicos, italianos, alemães, espanhóis, russos e portugueses
se constituíram em mais de 80% do total. De maneira geral, eles
se dirigiram para países “novos” como os EUA, que recebeu
aproximadamente 33 milhões de imigrantes, a Argentina (6,4
milhões), o Canadá (5,2 milhões), o Brasil (4,4 milhões) e a
Austrália (3 milhões). Juntaram-se a estes fluxos aqueles
formados por europeus que se dirigiram para as colônias.
Um pouco mais tarde o fluxo aumentou por conta dos asiáticos.
Primeiramente os chineses e depois os japoneses imigraram
para as terras do Novo Mundo. Por volta de 1880, a América
recebeu cerca de meio milhão de asiáticos.
O fluxo se modificou no período entre - guerras. Sua principal
característica foi à diminuição numérica dos imigrantes, não só
pelo alívio das pressões demográficas na Europa, como também
pelas conseqüências da Primeira Guerra Mundial. (OLIC, 2002,
s/p.)
A princípio, o fluxo imigratório concentrou-se nas áreas mais urbanizadas
do país; entretanto, com a introdução do meio de transporte que possibilitou a interligação de
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outras áreas com a parte central do país, vários grupos de estrangeiros passaram a se
direcionarem para regiões consideradas até então atrasadas, como a Centro-Oeste. O
contingente de pessoas se deslocando para o interior e a sua produção agropecuária resultou
em demandas por meios de transporte, o que era um problema naquele momento. O principal
meio de transporte era a tração animal, impossibilitando o transporte do café de áreas
distantes do interior aos portos marítimos do litoral. Tendo em vista essas complicações, o
governo criou condições para a construção das primeiras ferrovias, com financiamento inglês.
A implantação das ferrovias proporcionou ao país grandes transformações de ordem: sociais,
econômicas, políticas e espaciais.
As ferrovias não foram somente um veículo que acompanhou a expansão
cafeeira pelo Estado de São Paulo, mas também, foi veículo de interiorização, permitindo o
povoamento e o crescimento urbano de várias outras regiões, além das áreas dos cafezais e,
também, a consolidação da Divisão Regional do Trabalho (DRT). A ligação das ferrovias
com áreas interioranas permitiu o adentrar da economia de mercado e dos imigrantes nas
regiões mais distantes do país, sendo o período que mais marcou a economia nacional,
possibilitando a incorporação de novas áreas à produção mercantil, incluindo o Estado de
Goiás que foi atingido pela ferrovia, já nas primeiras décadas do século XX. Segundo Chaul
(1998) Goiás, no início do século XX, era visto pelos capitalistas e pelo próprio país, como o
Estado onde predominava o atraso e o isolamento, por ainda não apresentar características
de poder e urbanização.
O estado de Goiás foi “descoberto”, segundo Inocêncio (1997), pelos
bandeirantes do Anhanguera, que a esta região se dirigiram em busca de ouro. A chegada
dessas bandeiras em solo goiano foi facilitada pela descoberta de ouro em Minas Gerais e
depois em Cuiabá-MT. O povoamento de Goiás resultou da mineração e, posteriormente, da
produção agropecuária. No que se refere a esta questão tem-se:
(...) os núcleos populacionais foram surgindo e se espalhando
pelo território goiano (...). Esta atividade era de caráter nômade
e conseguira trazer para a região populações de etnias
diversificadas (...), com base na mineração funda-se os
primeiros arraiais, mas o surto aurífero durará segundo relatos,
pouco. (SINGER, 1989, p. 654)
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A decadência aurífera e o fato de Goiás não possuir nenhuma outra
atividade econômica que amparasse o crescimento da região, fez com que o Estado ficasse
esquecido pelo país e pelo mundo. Com o fim do “período do ouro”, as vias de comunicação
se encontravam precárias, assim se tornaram impróprias para o transporte de grandes
produções, desestimulando a produção agropecuária e a vinda de comerciantes. As
condições precárias das estradas encareciam os custos de transporte e ocasionavam perdas
de mercadorias, desestimulando o comércio.
Segundo Borges (1990), Goiás se ligou de forma conveniente ao restante
do país a partir das primeiras décadas do século XX, período em que a nova ordem nacional
e internacional da produção capitalista exigia a incorporação de novas áreas
agro-exportadoras. A ligação de Goiás a outras áreas agro-exportadoras aconteceu via
ferrovia que, num primeiro momento, orientou-se com a expansão cafeeira. A ferrovia
começou a ser implantada em Goiás em meados da década de 1910, favorecendo o
fornecimento de matérias-primas, o transporte de mercadorias e, por conseqüências, a vinda
de comerciantes. Todas essas transformações refletiram no crescimento econômico e na
paisagem do Estado de Goiás, promovendo o aumento do número de cidades. O que antes
predominava um cenário rural, com a ferrovia, aos poucos, foi adquirindo características
urbanas. Gomes (1991) afirma que as Regiões Norte e Centro-Oeste eram e são pobres em
rodovias. Os primeiros trilhos ligando Araguari-MG a Roncador-GO começaram a ser
instalados a partir de 1912. A construção de ferrovias favoreceu, a partir de 1915, a vinda
para o Estado de um grande número de migrantes paulistas, sulista (...) e de imigrantes
(árabes, sírios, turcos, alemães...).
A palavra imigração, segundo o Dicionário Brasileiro Globo (1991),
consiste num ato de migrar ou entrar num país estrangeiro para nele se estabelecer. Vários
fatores podem ser responsáveis para que aconteça a migração, tais como: desemprego,
instabilidade econômica, conflitos internos e externos; enfim, todos estes fatores, podem
contribuir para a migração temporária ou definitiva. O Brasil é um país que, no seu contexto
histórico-espacial, recebeu e ainda recebe fluxos imigratórios. Os portugueses foram os
primeiros a imigrarem, posteriormente, com a necessidade de mão-de-obra para trabalhar
nos engenhos de cana-de-açúcar, os portugueses trouxeram os escravos e, posteriormente,
os imigrantes de outras nações, contribuíram para a formação cultural e populacional do país.
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Na tabela a seguir poderemos analisar o grande fluxo imigratório que
marcou a história e a espacialidade do Brasil no final do século XIX e início do século XX
Tabela - A Imigração no Brasil nos Períodos Anuais (1840 – 1940)
Ano Imigrantes Ano Imigrantes Ano Imigrantes
1840
269
1860
15774
1880
30355
1841
555
1861
13003
1881
11548
1842
568
1862
14295
1882
29589
1843
694
1863
7642
1883
34015
1844
0
1864
9578
1884
23574
1845
53
1865
6422
1885
34724
1846
435
1866
7699
1886
32650
1847
2350
1867
10842
1887
54935
1848
28
1868
11315
1888
132070
1849
40
1869
11528
1889
65165
1850
2072
1870
5158
1890
106819
1851
4425
1871
12431
1891
215239
1852
2731
1872
19219
1892
85906
1853
10935
1873
14742
1893
132589
1854
9189
1874
20332
1894
60182
1855
11798
1875
14590
1895
164831
1856
14008
1876
30747
1896
157423
1857
14244
1877
29468
1897
144866
1858
18529
1878
24456
1898
76862
1859
20114
1879
22788
1899
53610
Ano Imigrantes Ano Imigrantes
1900
37807
1920
69041
1901
83116
1921
58476
1902
50472
1922
65007
1903
32941
1923
84549
1904
44706
1924
96052
1905
68488
1925
82547
1906
72332
1926
118686
1907
57919
1927
97974
1908
90536
1928
78128
1909
84090
1929
96186
1910
86751
1930
62610
1911
133575
1931
27465
1912
177887
1932
31494
1913
190343
1933
46081
1914
79232
1934
46027
1915
30333
1935
29585
1916
31245
1936
12773
1917
30277
1937
31677
1918
19793
1938
19388
1919
36027
1939
22668
1940
18449
Fonte: Brasil: 500 anos de povoamento, Rio de Janeiro. IBGE, 2000. Org. Vaneza Aparecida de Cubas.
Analisando os dados populacionais e estatísticos do IBGE (2000)
percebe-se que a imigração contribuiu, de forma direta, com os próprios imigrantes e, de
forma indireta, com seus descendentes, para o aumento populacional entre os períodos de
1840 a 1940. Segundo Brandão (2005), o censo de 1900 aponta Goiás com 255.284
habitantes, e o de 1920, com 511.919, ou seja, sendo um aumento populacional mais do
dobro, isto, em 20 anos. Entretanto, a região mais povoada era a sudeste.
A contribuição da imigração para o Estado vai além do crescimento
demográfico e econômico. Para Adas (2002), os imigrantes trouxeram consigo
conhecimentos técnicos de fabricação de produtos, possibilitando que os mesmos,
posteriormente, tornassem-se grandes empresários e comerciantes. O crescimento do Estado
estava diretamente ligado à construção da ferrovia que ampliou as suas perspectivas
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econômicas e propiciou o surgimento de várias cidades, provocando a urbanização de um
Estado essencialmente rural.
Antes da construção da ferrovia o transporte era rudimentar, dificultando a
integração da economia e da produção goiana com o restante do país. Comerciantes e
produtores goianos e de outros estados ficavam desestimulados em investir no Estado, pois o
longo percurso entre as áreas de produção e os locais de consumo, somado às dificuldades
de escoamento dos produtos, devido às condições precárias de estradas e transporte,
resultava em grandes perdas de mercadorias, tornando inviáveis os investimentos e, por
conseguinte, o desenvolvimento. Perante tais dificuldades, a produção agrícola de Goiás era
destinada às necessidades internas de cada município.
Quanto ao setor pecuário, ao contrário do agrícola que estava estagnado,
mesmo depois da crise da mineração, no século XIX, continuou organizado e voltado para
atender aos interesses dos grandes mercados consumidores, localizados no litoral. Referente a
isto, Borges (1990, p.98) comenta que “até as primeiras décadas do século XX, a pecuária
garantia as divisas do estado (...). Portanto o setor pecuário foi aos poucos se tornando o
setor mais dinâmico de um estado que perante outros, desenvolvidos e urbanizados,
considerava-o atrasado e estagnado.”
Segundo Palacin e Morais (1989), a pecuária trouxe o desenvolvimento,
atraindo um fluxo imigratório aos municípios goianos povoando-os e desenvolvendo-os. A
princípio chegaram a Goiás no lombo de animais e, posteriormente, por meio da estrada de
ferro. As cidades de Ipameri e Catalão, segundo Lima (2003), foram às primeiras cidades
goianas a sentirem os impactos desta modernização. As duas cidades encontram-se
localizadas no Sudeste Goiano. Ambas foram influenciadas pelo processo de transformação e
cresceram demograficamente e economicamente. Nelas o instalaram-se várias famílias
estrangeiras, quase todas vieram juntamente com os trilhos, atrás dos benefícios trazidos pelos
mesmos. No período compreendido entre 1910 e 1930 a cidade de Ipameri cresceu de
forma rápida com a presença dos imigrantes.
Em 1913, com a penetração da “Estrada de Ferro, Goiás,
aparecem na vida do município outros portugueses, os
Morgados. Trabalhando inicialmente na construção do leito da
estrada de ferro, a que deram grande contribuição e entusiasmo,
os Morgados dedicaram-se depois ao amanho da terra e
criatório de gado. Ordeiros honestos e afeitos do trabalho muito
contribuíram para o desenvolvimento e prosperidade do
município. (VEIGA, 1967, p.55).
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As famílias estrangeiras contribuíram na dinamização das atividades
econômicas e políticas da cidade. As primeiras chegaram pelos “trilhos férreos”. Isto pode ser
comprovado por meio de dados populacionais retirados do Arquivo da Secretaria de
Educação do Município de Ipameri: em 1910, a cidade possuía 11.080 habitantes e em
1920, passou para 19.227 habitantes, sendo um aumento de 8.147 habitantes em dez anos.
Brandão (2005) justifica
As cidades goianas servidas pelas linhas, neste período,
acabam se tornando significativos centros comerciais do
estado. Em 1920 Ipameri contava com 330 estrangeiros,
dedicando-se estes as atividades dos setores secundário e
terciário, as charqueadas, as fábricas de banhas e as grandes
máquinas de beneficiamento de arroz, comércio varejista e
ambulante, além da mão-de-obra qualificada para o trabalho na
Companhia Construtora da Estrada de Ferro. Esses estrangeiros
vinham da Europa, de países como Espanha, Síria, Líbano,
Portugal, Alemanha e outros. (BRANDÃO, 2005, p.50)
E Veiga (1967) confirma:
Com o advento da Estrada de ferro aqui se radicaram alemães e
italianos dos quais pode destacar: Vitorino Bevinhati, Vicent
Marot, Michele Santinoni, Domingos Baiochi, Francisco Lenza,
Henrique Balzani, Alfredo Maschetizky, Hans Lyse (...). A
inauguração da estação ferroviária ensejou igualmente o
aparecimento dos primeiros sírios comerciantes ambulantes.
Muitos se radicaram à terra, dedicando-se ao comércio fixo.
Alguns montaram indústrias de beneficiamento de cereais e de
fábricas de laticínios e de outros produtos. (VEIGA, 1967, p.55).
Antes da construção da ferrovia a economia de Ipameri era toda voltada
para as atividades agrícola e pecuária, sendo que esta última consistia na única que continuava
organizada dentro dos padrões da economia de mercado, gerando divisas. Naquele momento
as atividades agrícolas tinham como único propósito atender as necessidades do mercado
interno e de algumas cidades circunvizinhas. Contudo o quadro transformou-se com o
advento da ferrovia, pois ocasionou investimentos e conseqüentemente expansão nas
produções agrícola e pecuária, as mesmas passaram a serem transportadas para outras
regiões, como o Triângulo Mineiro, as regiões sudeste e nordeste. A facilidade no transporte
contribuiu para que a agricultura ipamerina tomasse novos rumos no quadro econômico do
Estado. Os incentivos na produção agropecuária proporcionaram o crescimento da cidade e
a possibilidade de novos investimentos em outros setores da economia. Algumas iniciativas
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foram pioneiras como a primeira Usina Hidroelétrica de Goiás, nomeada de Usina de Içá, que
teve como idealizador o cidadão ipamerino Aristides Rodrigues Lopes, contudo a sua
construção ocorreu apenas com seus filhos Edson Virgílio e Francisco Lopes, também
cidadãos ipamerinos. A sua construção serviu de estímulo para o aparecimento de indústrias e
atrações culturais.
No ano de 1915, decorrente ao grande desenvolvimento agropecuário, foi
montada em Ipameri a primeira Charqueada do Estado, tendo como proprietário o cidadão
baiano Libório Silva, movimentando e transformando a economia da cidade. O charque
produzido no município era transportado para outros estados como São Paulo e o Triângulo
Mineiro, proporcionando novas divisas para a economia local e estadual. Segundo a “Revista
Informação Goyana” (1913) “(...) a exportação do charque, cuidadosamente feita em grande
quantidade e ótima qualidade pelo Sr. Capitão Libório Silva, mostra o quanto vai florescendo
a indústria pastoril neste município”. A cidade de Ipameri, a partir de então, recebeu
migrantes de várias partes do País, juntamente com os imigrantes estrangeiros, foram aos
poucos dinamizando e transformando a estrutura urbana da cidade. Referente as
transformações espaciais podemos citar a construção do cinema em 1915: “No prédio nº235
da Rua Cel. Francisco Vaz, nesta cidade, o cidadão mineiro Hildebrando Nicácio, instala o
primeiro cinema de Goiás, sendo Móvel ‘Casa de Diversão’, inaugurada com o filme ‘A
dama de Preto’, na interpretação de Francisca Bertinne, a estrela famosa daqueles tempos”.
(Carvalho, 1958)
Apesar das várias transformações e modernizações que ocorreram na
espacialidade urbana de Ipameri, a cidade ainda continuava com características rurais e com
tranqüilas rotinas. Este aspecto era um dos fatores que atraíram migrantes e imigrantes de
várias partes do país e do mundo.
“Aviso Público”
De ordem do Sr Prefeito municipal, faço que desta em diante fica proibido o
trânsito de carros de boi na travessia que partindo da Avenida São Vicente
de Paula a Rua Goiáz, passando pela Rrua Al Francisco Vaz entre as
residências do Sr Marcelo Raymundo e D. Emydia Carneiro. Aos infratores
será cobrada a multa de previsto pelo município.(Jornal Ipameri, 1918, p. 3).
Assim, perante os primeiros levantamentos bibliográficos da dissertação,
podemos constatar que para Ipameri e, sobretudo para o sudeste do Estado de Goiás, o
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período de 1910 a 1930, foi promissor e marcou não somente a espacialidade, mas a
economia de um Estado que até então não tinha perspectivas de desenvolvimento e
urbanização.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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