EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ VICE-REITORIA DE GRADUAÇÃO – VRG DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DA ADMINISTRAÇÃO – DEAd COORDENADORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – CEaD Coleção Educação a Distância Série Livro-Texto Marcelo Blume Martin Ledermann GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Ijuí, Rio Grande do Sul, Brasil 2009 1 EaD 2009, Editora Unijuí Rua do Comércio, 1364 98700-000 - Ijuí - RS - Brasil Fone: (0__55) 3332-0217 Fax: (0__55) 3332-0216 E-mail: [email protected] www.editoraunijui.com.br Marcelo Blume – Martin Ledermann Editor: Gilmar Antonio Bedin Editor-adjunto: Joel Corso Capa: Elias Ricardo Schüssler Designer Educacional: Liane Dal Molin Wissmann Responsabilidade Editorial, Gráfica e Administrativa: Editora Unijuí da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí; Ijuí, RS, Brasil) Catalogação na Publicação: Biblioteca Universitária Mario Osorio Marques – Unijuí B658g Blume, Marcelo. Gestão de produtos e marcas / Marcelo Blume, Martin Ledermann. – Ijuí : Ed. Unijuí, 2009. – 154 p. – (Coleção educação a distância. Série livro-texto). ISBN 978-85-7429-814-6 1. Marketing. 2. Produto. 3. Gestão de produtos. 4. Gestão de marcas. 5. Embalagem – Rotulagem. 6. Planejamento. I. Ledermann, Martin. II. Título. III. Série. CDU : 658.8 658.827 2 EaD Sumário GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS CONHECENDO OS AUTORES ....................................................................................................7 APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................... 11 O QUE VAMOS ESTUDAR ........................................................................................................ 13 UNIDADE 1 – MARKETING: Revisão dos Principais Conceitos .......................................... 17 Seção 1.1 – Conceitos e Abordagens ......................................................................................... 17 Seção 1.2 – Mix de Marketing.................................................................................................... 21 Síntese da Unidade 1 .................................................................................................................... 27 UNIDADE 2 – PRODUTO ........................................................................................................... 29 Seção 2.1 – O que é um Produto? .............................................................................................. 29 Seção 2.2 – Agregação de Valor aos Produtos .......................................................................... 30 Seção 2.3 – Classificação de Produtos ....................................................................................... 32 Seção 2.4 – Especificidades Quando o Produto é um Serviço ............................................... 39 Síntese da Unidade 2 .................................................................................................................... 53 UNIDADE 3 – GESTÃO DE PRODUTOS ................................................................................ 55 Seção 3.1 – Decisões Sobre Produtos Individuais .................................................................... 55 3.1.1 – Atributos do Produto ........................................................................................... 56 3.1.2 – Marcas ................................................................................................................... 60 3.1.3 – Embalagem ............................................................................................................ 61 3.1.4 – Rótulos ................................................................................................................... 62 3.1.5 – Serviços de Apoio ao Produto ............................................................................ 62 Seção 3.2 – Decisões sobre Linhas de Produtos ....................................................................... 63 3.2.1 – Extensão da Linha de Produtos ......................................................................... 64 3.2.2 – Modernização da Linha de Produtos ................................................................ 65 Seção 3.3 – Decisões sobre o Composto de Produtos .............................................................. 65 Síntese da Unidade 3 .................................................................................................................... 67 3 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann UNIDADE 4 – GESTÃO DE MARCAS ......................................................................................69 Seção 4.1 – Origem e Evolução das Marcas ..............................................................................69 Seção 4.2 – Conceituação Atual de Marca ...............................................................................71 Seção 4.3 – Marca é uma Comunicação Poderosa ...................................................................75 Seção 4.4 – O Processo de Adoção das Marcas ........................................................................77 Seção 4.5 – Marcas Fortes na Internet .......................................................................................84 Seção 4.6 – As Extensões da Marca ...........................................................................................85 Seção 4.7 – Marca Própria – uma Extensão da Marca do Varejo ..........................................88 Seção 4.8 – Relacionamento com as Marcas ............................................................................91 Seção 4.9 – Os Processos de Criação de Marcas ......................................................................94 Seção 4.10 – Mantendo a Longevidade de uma Marca ....................................................... 105 Síntese da Unidade 2 .................................................................................................................. 108 UNIDADE 5 – EMBALAGEM E ROTULAGEM DE PRODUTOS ...................................... 111 Seção 5.1 – O que é uma Embalagem ..................................................................................... 111 Seção 5.2 – Desenvolvendo a Embalagem e a Rotulagem ................................................... 112 Seção 5.3 – A Importância do bom Design de Embalagem .................................................. 114 Seção 5.4 – Estratégias de Embalagem e a Rotulagem ......................................................... 117 Seção 5.5 – A Internet, as Embalagens e os Rótulos ............................................................ 119 Seção 5.6 – A Embalagem e o Posicionamento Competitivo ............................................... 121 Seção 5.7 – Design de Tampas e Dispositivos de Abertura e Fechamento ......................... 122 Seção 5.8 – A cor e a Forma no Estudo das Embalagens ..................................................... 123 Seção 5.9 – A Comunicação na Embalagem e Rotulagem ................................................... 126 Síntese da Unidade 5 .................................................................................................................. 128 UNIDADE 6 – DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E PLANEJAMENTO DE PRODUTOS .......................................................... 131 Seção 6.1 – O Processo de Desenvolvimento de Produtos .................................................... 131 Seção 6.2 – Introdução de Novos Materiais e Tecnologia ................................................... 134 Seção 6.3 – Inovação e Novos Produtos ................................................................................. 135 4 Seção 6.4 – Lançando Novos Produtos ................................................................................... 141 Seção 6.5 – Ciclo de Vida do Produto ...................................................................................... 143 Seção 6.6 – Proteção Legal a Marcas e Patentes ................................................................... 146 Síntese da Unidade 6 .................................................................................................................. 149 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 151 EaD Conhecendo os Professores GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Martin Ledermann Natural de Ijuí, nasceu no dia 14 de maio de 1972. Cursou o Ensino Fundamental na Escola Estadual de Ensino Fundamental Giovana Margarita de Vila Floresta, interior do município de Ijuí. Após concluir esta etapa do estudo, ingressou na Escola Estadual de Ensino Médio Rui Barbosa. Graduou-se em Administração em 2000 na Unijuí. Em 2003 concluiu o curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Marketing, também na Unijuí. Em 2007 recebeu o título de mestre em Desenvolvimento, novamente pela Unijuí. Enquanto estudava, exerceu várias atividades. Foi auxiliar de almoxarifado e controlador de estoques da Indústria de Máquinas Agrícolas Fuchs S.A. – Imasa. Também atuou como técnico administrativo na 17ª Coordenadoria Regional de Saúde, órgão ligado à Secretaria Estadual de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul. Atuou no Programa Diagnóstico Empresarial firmado entre Unijuí e Sebrae, quando diagnosticou 149 empresas da Região Noroeste do Estado do RS pertencentes aos seguintes setores: têxtil, metal-mecânico, moveleiro, alimentício, construção civil e turismo. Além disso, executou a função de negociador de consultorias e cursos de capacitação por intermédio do convênio Unijuí/ SEBRAE, no período de outubro de 2003 a setembro de 2006. Exerce a função de consultor empresarial na área de marketing. Foi professor substituto da Universidade Federal de Santa Maria, no Centro de Educação Superior do Noroeste do Estado – Cesnors –, situado no município de Palmeira das Missões, quando ministrou as seguintes discipli nas: Marketing A, Pesquisa Operacional, Economia Rural e Gestão da Produção, Logística e Materiais I. É professor da Unijuí, ligado ao Departamento de Estudos da Administração (DEAd), no qual ministra as disciplinas de Administração de Marketing I, Administração de Marketing II e Pesquisa Operacional. 7 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Marcelo Blume Marcelo Blume é natural de Canoas (RS), mas durante muitos anos residiu em Três de Maio (RS) onde concluiu o Ensino Fundamental e Médio. Graduou-se Bacharel em Administração em 1994. Em 1996 obteve o título de especialista em Marketing pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 2004, titulou-se mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), realizado na linha de pesquisa em marketing, tendo como tema da Dissertação, o marketing de relacionamento. A carreira docente no ensino superior teve início em 1996, atuando no curso de Administração da Setrem, onde também atuou como coordenador do Bacharelado em Administração, entre 1998 e 2001. Atuou como diretor de Ensino Superior da mesma instituição de 1999 a 2004, liderando o processo de desenvolvimento institucional, com a criação de novos cursos de Graduação e PósGraduação, além de integração institucional, atividades de pesquisa, extensão e produção científica. Em 2005 direcionou suas atividades para a Unijuí, como assessor da Reitoria e da Direção da Fidene. Dentre as principais contribuições destaca-se a participação na elaboração do Planejamento Estratégico Institucional, o PDI 2005-2010, o Plano Decenal 2005-2015, a reestruturação das condições de oferta dos cursos de especialização, transformação da Assessoria da Comunicação em Coordenadoria de Marketing, estudos de viabilização econômico-financeiras das atividades da Fidene, dentre outras atividades. No fim de 2006, desligando-se da Unijuí como assessor, passou a prestar Assessoria de Marketing para a URI – Campus Santo Ângelo, buscando um reposicionamento de imagem institucional, atuando até 2008. Atualmente é professor da Graduação e Especialização da Unijuí e URI, focado principalmente nas áreas do marketing e planejamento. Como professor convidado, também atua em cursos de especialização de outras instituições do Estado. 8 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS A carreira de consultor iniciou em 1995, quando constituiu uma empresa de consultoria em sociedade com o amigo e colega de Graduação, Luciano Zamberlan, objetivando prestar serviços na área de marketing. Inicialmente, as atividades da empresa concentravamse em criação de campanhas promocionais, marcas, logomarcas, embalagens, além de pesquisas de mercado, cursos de atendimento, vendas e qualificação de gestores de marketing. Com o passar do tempo e o ingresso de novos sócios, a empresa foi ampliando os ramos de atuação. A partir de 2003, com uma nova unidade estratégica de negócios na empresa – a consultoria em gestão universitária – Marcelo Blume participou da criação, do credenciamento, da elaboração de planos de desenvolvimento institucional e de novos cursos de Graduação e Especialização para instituições de ensino superior no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Como pal e strante /confe r e nci sta te m par ti ci pado freqüentemente de eventos no sul do Brasil. Os temas mais freqüentes das palestras são: marketing de relacionamento, liderança e desenvolvimento de equipes, atitudes e escolhas profissionais, desenvolvimento local e regional e gestão educacional. As atividades de consultoria, docência e pesquisa acadêmica, têm proporcionado a publicação de artigos em anais de eventos e magazines, com os mesmos temas que tem proferido conferências. Marcelo Blume nunca deixou de atuar como consultor, embora tenha alternado períodos de maior e menor atividade, agregando a sua formação acadêmica experiência e cases empresariais, quesito mais marcante e considerado fundamental para a qualidade do seu trabalho como palestrante e professor. A empresa de consultoria criada em 1995, da qual é sócio, é a Referenda Consultoria, que está dividida em 3 unidades estratégicas: Consultoria Empresarial, Consultoria Educacional e Qualidade e Segurança em Alimentos. Além da participação de duas consultoras associadas, a empresa conta com diversos consultores colaboradores. A experiência de 13 anos de docência no ensino superior, 14 anos de consultoria empresarial, aliada à formação acadêmica e, principalmente o incentivo dos colegas do DEAd – Unijuí – e o apoio institucional da Fidene, oportunizaram e encorajaram o desenvolvimento do livro Promoção, propaganda e mídia, no final de 2008, a participação no livro Gerenciamento do Ponto-de-Vendas e esta participação no livro Gestão de Produto e Marcas. 9 EaD Apresentação Constituímos este livro com a convicção de que as organizações que sobreviverão e terão sucesso são as que conseguirem satisfazer os desejos e necessidades dos consumidores, por meio GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Suplantaram Superar, ultrapassar, ir além de. da criação e do desenvolvimento constante de produtos que atendam seus anseios. Deschamps e Nayak (1997) afirmam que empresas líderes no mundo obtêm sucesso basicamente pela produção de um fluxo de produtos extraordinário. Vários são os exemplos de empresas de alto desempenho que alcançaram a liderança do mercado por intermédio de produtos inovadores que satisfazem os desejos e necessidades de seus consumidores. Apple, Toyota, Sony, Merck e Microsoft, entre outras organizações, são exemplos de empresas líderes que, em um curto período de tempo, suplantaram seus concorrentes com a criação e comercialização de produtos inovadores que se tornaram, em alguns casos, percebidos como indispensáveis para a vida das pessoas. Dessa forma, os estudos relacionados à Gestão de Produtos e Marcas tem como base o conceito central do marketing, que é a satisfação das necessidades e desejos dos consumidores. O foco central dos estudos é o mercado, o cliente. Assim, este livro-texto tem por objetivo discutir e ampliar conhecimentos a respeito da gestão estratégica de produtos nas organizações. Primeiramente faremos uma breve revisão dos principais conceitos de marketing. Em um segundo momento, conheceremos o que é o Mix de Marketing e seus componentes. Após, daremos ênfase a produtos e seu processo de gestão, assim como a gestão de marcas, embalagens e rótulos. Por fim, abordaremos o processo de desenvolvimento, inovação e planejamento de produtos. Os detalhes do conteúdo de cada Unidade, você pode acompanhar na descrição a seguir. 11 EaD O Que Vamos Estudar GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Para que possamos dar conta do tema Gestão de Produtos e atingir o objetivo de fazer com que você se sinta mais seguro ao tomar decisões ao tratar estrategicamente dos produtos das organizações em que prestar serviços, o conteúdo deste livro está organizado em seis Unidades, descritas no Quadro 1. Quadro 1: Conteúdo programático UNIDADE 1 – MARKETING: Revisão dos Principais Conceitos A primeira Unidade tem por objetivo rever os principais conceitos de marketing. A retomada dos conceitos essenciais justifica-se por dois motivos: o primeiro diz respeito à relação entre Gestão de Produtos e Marcas e o conceito central do marketing, que é a satisfação das necessidades e desejos dos consumidores; o segundo parte da constatação de que o termo “marketing” é seguidamente utilizado de forma equivocada no universo empresarial e outros meios. Após esta etapa, parte-se para o estudo do Mix de Marketing. 13 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Referir Fazer referência, relatar, mencionar, expor. O Mix de Marketing é formado pelos 4Ps: Produto, Preço, Praça e Promoção. Esta formatação tem duas finalidades: referir que para uma organização ter sucesso, estes quatro elementos devem ser tratados coletivamente; e mostrar que os estudos de marketing não se restringem à promoção de produtos e serviços. Após a concretização desta Unidade, iniciar-se-á a abordagem específica relacionada ao primeiro “P” do Mix, ou seja, o “P” de PRODUTO. UNIDADE 2 – PRODUTO Na segunda Unidade estudaremos, exclusivamente, a primeira variável que constitui o Mix de Marketing, que é a variável “Produto”. Iniciaremos esta seção definindo o que é Produto. Em um segundo momento, mostraremos algumas formas de agregar valor aos produtos. Após esta etapa, descreveremos como os produtos podem ser classificados. Por fim, trataremos exclusivamente das especificidades quando o Produto é um Serviço. UNIDADE 3 – GESTÃO DE PRODUTOS A Unidade 3 tem como focos principais: as questões relacionadas a decisões sobre produtos individuais, tais como atributos do produto, marcas, embalagem, rótulos e serviços de apoio ao produto; questões relacionadas a decisões sobre linha de produtos, que abrangem estudos relacionados à extensão, modernização e apresentação da linha de produtos; e aspectos relacionados a decisões sobre o composto ou mix de produtos, que envolve o total de produtos que a empresa comercializa. UNIDADE 4 – GESTÃO DE MARCAS Na quarta Unidade veremos que a marca é tão importante para a gestão de produtos quanto os próprios produtos. Estudaremos as principais estratégias de gestão de marcas, aliadas à gestão de produtos, visando a uma composição de sucesso para a organização. 14 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Um grande produto necessita de uma grande marca para obter maior valor e, por este motivo, aliada à estratégia de produto, é fundamental uma estratégia de marca compatível. Nesta linha, e abordando exemplos diversos, a Unidade 4 apresenta várias Self service Auto-serviço, em que o cliente pode circular entre as mercadorias, como nos supermercados. oportunidades para aprimorar os conhecimentos a respeito da gestão de marcas, tema que vem merecendo cada vez mais atenção com o rápido aumento da competitividade entre produtos. UNIDADE 5 – EMBALAGEM E ROTULAGEM DE PRODUTOS A embalagem e a rotulagem serão os temas focalizados na Unidade 5. Sabemos que em muitos momentos o fator de decisão de compra, especialmente no self service é fortemente influenciado pela embalagem e/ou rótulo do produto. As pesquisas indicam que números expressivos de consumidores, de diferentes segmentos, tomam decisões de compras influenciados pela embalagem e/ou pela rotulagem dos produtos. Tanto a embalagem como a rotulagem de produtos vem sendo alvo de constante inovação, pois representam cada vez mais a diferenciação entre os muitos produtos concorrentes que se apresentam ao consumidor. Veremos que uma boa gestão de produtos precisa estar sempre atenta à embalagem e a rotulagem, em seus vários aspectos, desde o desenvolvimento, passando pela criação, novos materiais, até o processo de venda. UNIDADE 6 – DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E PLANEJAMENTO DE PRODUTOS A gestão da inovação é um tema bastante abordado em muitos textos e rodadas de discussões, e será o foco desta Unidade 6. Sabemos, no entanto, que inovação em gestão de produtos não pode ser discutida e desenvolvida sem planejamento. Desta forma, a Unidade abordará o desenvolvimento e a inovação de produtos com foco no planejamento empresarial e na perspectiva de produtos que evoluem antevendo as tendências e alinhados com a estratégia da organização a longo prazo. Veremos que os produtos tem ciclos de vida e que estes podem alterar de produto para produto, mas que, invariavelmente, qualquer produto tem um ciclo que precisa ser gerido pela empresa. 15 EaD Unidade 1 GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS MARKETING: Revisão dos Principais Conceitos Daremos início aos nossos estudos nivelando os conhecimentos a respeito do significado de marketing. Nesta Unidade revisaremos alguns conceitos básicos de marketing e expandiremos nossos conhecimentos referentes à administração de marketing. Além disso, faremos uma pequena retomada do Ps que compõem o Mix de Marketing. Seção 1.1 Conceitos e Abordagens Podemos afirmar categoricamente que o termo marketing vem sendo usado de maneira incompleta, senão equivocada, por parte das pessoas; e não são apenas pessoas sem formação superior que o empregam equivocadamente, pois até no meio acadêmico encontramos profissionais que vinculam este termo única e exclusivamente à propaganda, publicidade e vendas. Conforme afirmam Kotler e Armstrong (1999), vendas e propaganda são apenas uma pequena parte do marketing. Convém frisar que não estamos afirmando que uma equipe de vendas bem treinada e uma boa campanha publicitária não fazem a diferença. Esse não é nosso objetivo. Temos aqui a intenção de mostrar que marketing extrapola as fronteiras das vendas e dos aspectos promocionais. A partir desta intenção, e mesmo que este assunto tenha sido abordado no componente curricular Gestão de Marketing, dentre outros, faremos uma breve revisão de conceitos dos principais autores e pesquisadores de marketing e que se encontram expostos no Quadro 2. 17 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann FONTE CONCEITO Rocha e Christensen (1999, p. 15) Marketing é uma função gerencial, que busca ajustar a oferta da organização a demandas específicas do mercado, utilizando como ferramental um conjunto de princípios e técnicas. Pode ser visto, também, como um processo social, pelo qual são reguladas a oferta e a demanda de bens e serviços para atender às necessidades sociais. É, ainda, uma orientação da administração, uma Filosofia, uma visão. Kotler e Armstrong (1999, p. 3) Podemos definir marketing como processo social e gerencial pelo qual indivíduos e grupos obtêm aquilo que desejam e necessitam, criando e trocando produtos e valores uns com os outros. Kotler e Armstrong (2000, p.7) Marketing significa administrar mercados para dar oportunidade a trocas e relacionamentos, com o propósito de criar valor e satisfazer necessidades e desejos. Kotler e Keller (2006, p. 4) O marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais. Para defini-lo de uma maneira bem mais simples, podemos dizer que ele supre necessidades lucrativamente. Boone e Kurtz (2009, p. 8) Marketing é o processo de planejar e executar a concepção, a fixação de preço, a promoção e a distribuição de idéias, produtos e serviços, organizações e eventos para criar e manter relacionamentos que satisfarão objetivos individuais e organizacionais. Quadro 2: Principais conceitos de Marketing Inconcebível Inaceitável, que não se pode fazer. Na análise dos principais conceitos de marketing, alguns termos destacam-se. Dentre os quais podemos citar: • Necessidade: estado no qual se percebe alguma privação, ou seja, falta, carência de alguma coisa. Consumidores não compram produtos. Compram soluções que satisfaçam suas necessidades. • Desejos: variáveis humanas moldadas pela cultura e pelas características individuais. Por exemplo: as pessoas sentem sede (necessidade). No Brasil, podemos saciar a sede tomando cerveja. Já no Egito, isso é algo inconcebível, pois é proibido o consumo de bebida alcoólica. Esse exemplo mostra a influência da cultura nas escolhas dos consumidores. • Demanda: quando os desejos são viabilizados pelo poder de compra. Isso significa dizer que podemos ter sede (necessidade) e o desejo de saciá-la ingerindo um copo de cerveja. Se, contudo, se não tivermos recursos financeiros necessários, ou acesso imediato para suprir nosso desejo, ou seja, tomar uma cerveja, teremos que buscar uma bebida alternativa, saciando a sede, mas o desejo pela cerveja ainda poderá manter-se. 18 EaD • Produto: objeto de estudo deste componente curricular, é algo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma ne- GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Market share Fatia de mercado. cessidade ou desejo. O produto é o “satisfator ” das necessidades e dos desejos das pessoas. Toda a abordagem do marketing para produto, portanto, está voltada para “aquilo que satisfaz Prospect Possível cliente. o cliente”. Suspect • Valor: diferença percebida entre o que se compra e o que se Cliente pretendido. paga. Uma determinada marca de cerveja pode vender seu produto – uma lata de 350 ml a R$ 1,09 – e ter muitos clientes, gerando grande rentabilidade para a empresa. Outra marca de cerveja pode vender seu produto a R$ 13,81, também ter muitos clientes e gerar grande rentabilidade. Por que isso acontece? Outro exemplo é sabão em pó. Temos um grande número de marcas de sabão em pó no mercado. A que possui preço maior é a mais vendida e possui um market share maior nas famílias de renda mais baixa, do que nas famílias de renda mais alta. Você já avaliou como você mesmo percebe o valor das mercadorias que costuma comprar? • Satisfação: é o resultado do processo de compra. Pode ser positivo, negativo ou indiferente. A satisfação está diretamente relacionada ao atendimento das necessidades que se busca suprir por meio de um produto. Quando adquirimos um produto, temos certas expectativas quanto ao desempenho do mesmo. Expectativa não atendida gera clientes insatisfeitos. Expectativa atendida resulta em clientes satisfeitos. Já expectativa superada implica em consumidores encantados, fiéis, leais ao produto e à marca. • Qualidade: é o que todas as empresas buscam e que a maioria diz que possui, mesmo que isso não seja uma realidade. Resumidamente, qualidade pode ser definida como a totalidade dos aspectos e características de um produto ou serviço, com capacidade para satisfazer as necessidades dos consumidores. Mesmo para as empresas que possuem qualidade certificada, no entanto, é preciso que se entenda fundamentalmente que a qualidade necessita ser percebida por quem é alvo do produto: o cliente, o prospect e o suspect. 19 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann • Troca: para muitos autores, é o conceito central do marketing. Nenhuma empresa é socialmente responsável o suficiente para apenas satisfazer as necessidades dos consumidores. Parece-nos óbvia a necessidade que as empresas possuem em satisfazer seus clientes por meio da oferta de bens e serviços de qualidade. É evidente, contudo, também, que não basta apenas satisfazer seus clientes. Para manter um negócio com investimentos dos empreendedores, empregos, pagamento de tributos e contribuições sociais, é preciso ter lucro, e isso somente é possível mediante a contrapartida monetária de quem compra. Este é o princípio da troca, que está diretamente ligado aos princípios de marketing. Estimulando trocas, vamos gerando prosperidade para os envolvidos e desenvolvendo o mercado. • Relacionamento: promove a fidelização, a lealdade, a manutenção de clientes e os bons depoimentos a respeito da organização, produtos e marcas. Empresas que respeitam seus consumidores, sem iludi-los, menosprezá-los e desrespeitá-los, possuem uma enorme vantagem competitiva sobre as demais. Vivemos numa sociedade que é cada vez mais uma ligação de redes de relacionamentos. Nos relacionamos com um número cada vez maior de pessoas e, em cada relacionamento, está envolvida uma série de relações de troca, incluindo a permuta de informações sobre trocas realizadas de forma bem ou malsucedida. • Mercado: grupo de consumidores que já adquiriram o produto ou que podem vir a comprar. • Mercado potencial: grupo de consumidores que apresentam algum grau de interesse por um produto em particular. • Mercado disponível: conjunto de consumidores que têm interesse e acesso a um produto ou serviço. • Mercado qualificado disponível: possui interesse, acesso, renda e qualificações para determinada oferta. • Mercado atendido: mercado-alvo, aquele que a empresa decide atender. • Mercado penetrado: grupo de consumidores que já compraram o produto da empresa. • Segmento: parte ou partes do mercado que possuem pelo menos uma característica em comum. Após essa revisão de conceitos e abordagens que devem fazer parte do seu vocabulário a partir de agora, passaremos para a revisão do Mix de Marketing, na seção 1.2. 20 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Seção 1.2 Tangibilidade Palpável, que pode ser tocado. Mix de Marketing O mix de marketing é um grupo de variáveis do ambiente interno e, portanto, controlável, que o marketing da organização emprega para produzir a resposta que deseja no mercadoalvo. O mix de marketing consiste em todas as ações da empresa com a intenção de influenciar a demanda de seus produtos. É constituído pelo conjunto das seguintes variáveis: Produto, Preço, Praça e Promoção. Nesta seção, abordaremos resumidamente estas quatro variáveis, pois todas serão aprofundadas em componentes curriculares específicos, inclusive a variável “Produto”, que é objeto de estudo deste componente curricular. a) Produto Kotler e Armstrong (1999) afirmam que as pessoas satisfazem suas necessidades e desejos adquirindo produtos. Afinal, porém, o que é um produto? É comum pensarmos em produto apenas como um bem físico, que pode ser tocado, olhado, experimentado, como um carro, uma moto, uma televisão. A definição de produto, contudo, extrapola os limites da tangibilidade. Enganam-se os que definem produto somente como o que pode ser visto, contemplado. Kotler e Armstrong (1999) afirmam que o conceito de produto não se limita a objetos físicos. Para estes autores, produto é qualquer coisa que possa ser oferecida ao mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo. Para gravar: “qualquer coisa que possa ser oferecida ao mercado para satisfazer uma necessidade ou desejo”. Produto, portanto, pode ser um bem físico, como uma bola de futebol, mas também pode ser um serviço, como um atendimento médico, e uma idéia, como a criação de um novo sistema de suspensão traseira para automóveis. 21 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann b) Preço O preço é um elemento muito complexo e extremamente sensível, pois afeta diretamente a receita e o lucro das empresas. É o montante de dinheiro ou outros recursos cobrado por um produto, com propósito de troca. É a soma de valores que os consumidores trocam pelo benefício de possuírem ou usarem um produto. Vamos observar algumas características principais do preço: • Recebe muitos nomes, podendo também ser denominado, em algumas ocasiões, de salário, juros, mensalidade, taxa, honorários, gorjeta, gratificação. • É um dos elementos do mix de marketing que mais produz receita, devido ao seu caráter monetário. • Às vezes não é o fator preponderante para a escolha do consumidor, pois quando este diz que está caro, freqüentemente quer dizer muitas outras coisas como: “não tenho dinheiro agora”, “não gosto da imagem do produto”, “não tenho necessidade do produto”, “não posso decidir sozinho”, “não acredito que vale tanto”, “tenho opções mais acessíveis”. O preço é uma variável que deve, assim como os demais componentes do mix de marketing, ser tratada estrategicamente pelos gestores. Na seqüência do estudo, citamos algumas estratégias de preço que podem ser emrpegadas pelas empresas. • Estratégia Premium: para produtos de alta qualidade. Nesse caso, pode-se praticar um preço alto, visando a atingir faixas de rendas mais altas do mercado. • Estratégia de Penetração: para produtos de alta qualidade. Pratica-se um preço médio tentando obter uma rápida penetração de mercado. • Estratégia de Barganha: produto de qualidade média a um preço baixo. Uma das explicações pode ser um acordo entre distribuidores e consumidores. • Estratégia de Superbarganha: produto de alta qualidade a preço baixo. Terá uma rápida introdução no mercado. • Estratégia de Preço Alto: produto de qualidade média e preço alto. É uma estratégia que valoriza o produto, visando a lucratividade a curto prazo. • Estratégia de Qualidade Média ou Comum: preço compatível com a qualidade do produto, objetivando uma participação aceitável do mercado. • Estratégia de “Bater e Correr”: preço alto com qualidade baixa. Tem-se uma vantagem inicial e, após, há uma retirada rápida do mercado. 22 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS • Estratégia de Artigos de Qualidade Inferior: preço médio para um produto de baixa qualidade. “Artigos de confecção com Comumente Freqüentemente, habitualmente. defeitos de fábrica, vendidos a preços médios como sendo de boa qualidade”. • Estratégia de Preços Baixos: preço baixo e baixa qualidade. Procura-se vender com esta estratégia simplesmente quantidade. c) Praça Comumente chamado de distribuição, o P de Praça é, muitas vezes, relegado a um segundo plano, ou seja, não lhe é dada a devida importância. Podemos afirmar, porém, sem medo de errar, que esta variável se iguala, no plano de importância, aos demais elementos. A denominação de praça refere-se a PDV – ponto-de-venda – local onde os produtos são comercializados. Com o tempo passou a englobar novas concepções, e a denominação mais adequada às atribuições contemporâneas desta variável é “distribuição”. Então, qual é o significado de distribuição no contexto do marketing? Distribuição é uma forma de se referir a um conjunto complexo de elementos que visa a tornar o produto disponível para o consumidor onde e quando ele o desejar , e isso inclui elementos importantes como canais de distribuição, logística de mercado e as variáveis que integram esses elementos. Para clarear um pouco mais o que estamos tentando dizer, pense nas palavras atacadista, varejista, distribuição de massa, representantes comerciais, franquias e assim por diante. Todos estes termos relacionam-se diretamente com o tema que estamos abordando agora. Canais de distribuição, também chamados de canais de marketing, podem ser vistos, de acordo com Coughlan et al (2002, p. 20), como “um conjunto de organizações interdependentes envolvidas no processo de disponibilizar um produto ou serviço para uso ou consumo”. De acordo com estes autores, os canais de distribuição não têm somente a função de atender a demanda 23 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann por produtos ou serviços, em quantidade, qualidade e preço correto, mas também têm papel fundamental no estímulo à demanda, mediante atividades promocionais de seus componentes (atacadistas, varejistas, representantes). A afirmação de Cobra (1989) é semelhante à definição de Coughlan et al (2002), pois entende que um canal de distribuição é constituído por organizações ou indivíduos que se encarregam de levar e disponibilizar produtos e serviços ao local onde os compradores potenciais se encontram, no tempo e no momento convenientes a esses compradores e em condições de transferir a posse. Definição parecida é dada por Corey (1991), que conceitua canal de distribuição como sendo o percurso pelo qual os produtos se movem da sua produção até seu uso. Constitui-se dos produtos e de uma série de negócios de distribuição que adicionam valor na forma de disponibilidade de oferta, conveniência de compra e modificações de produto, para ir ao encontro das demandas do usuário e serviços de manutenção e reparo. Para Richars (2000, p.251) “os canais de distribuição são todas as vias que um produtor ou intermediário de bens ou serviços utiliza para facilitar o acesso dos compradores desses bens”. Ainda, segundo este autor, o uso dessas vias implica em uma série de responsabilidades que irão passar pelo canal, a logística do canal, o padrão do atendimento e a administração do serviço pós-venda. Já um sistema de canais é o conjunto de canais de distribuição específicos, utilizados por uma empresa para disponibilizar seus produtos aos consumidores. A Figura 1 exemplifica um sistema de distribuição. Figura 1: Canais de distribuição para bens de consumo Fonte: Adaptado de Kotler; Armstrong, 2000. 24 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Ao analisarmos a Figura 1, especificamente nos canais de nível um, dois e três, verificamos a existência de intermediários. Estes elos existentes entre fabricantes e consumidores não exis- Rotinização Referente à rotina, repetição, especialização, fazer bem feito. tem por acaso pois desempenham importantes funções dentro do contexto empresarial; as que mais se destacam são: • Aumentar a eficiência no processo de trocas. Não é interessante nem produtivo, para algumas empresas fabricantes, atender os consumidores individualmente, sem a ajuda de intermediários. • Ajustar a discrepância da oferta no processo de suprimentos, atuando de forma importante mediante a sua homogeneização, ou seja, na acumulação de diversas ofertas das mais variadas fontes de um mesmo produto em um único lote, bem como na divisão de grandes lotes em menores e individuais. • Os setores de marketing trabalham em conjunto com os canais para prover a rotinização das transações, pois cada transação envolve pedidos, avaliação e pagamento por produtos e serviços. O custo das transações pode ser minimizado por meio da rotinização das transações. • Canais de distribuição facilitam o processo de busca, tornando os produtos disponíveis ao mercado consumidor, dando suporte logístico a cliente e fornecedores. • Canais de distribuição possibilitam a aproximação entre o fabricante de bens e serviços com os usuários, qualificando, assim, o relacionamento entre ambos e possibilitando a constante troca de informações. • Por fim, canais de distribuição também são importantes devido à especialização das atividades. Rosenbloom (2002) cita a contribuição de Adam Smith em seu livro A Riqueza das Nações, de 1776. No seu trabalho, Smith citou como exemplo uma fábrica de alfinetes. Notou que quando as etapas produtivas são designadas a pessoas que se especializam em uma das atividades, a eficiência do processo é maior do que quando todos realizam todas as atividades. Assim sendo, dividindo uma tarefa complexa, como é o caso da distribuição, em tarefas menores, alocadas para especialistas, acredita-se que será obtida uma eficiência maior para todo o sistema. 25 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann d) Promoção Quando começamos a estudar esta Unidade, referimo-nos ao fato que muitas pessoas possuem uma percepção um tanto equivocada do marketing, confundindo-o com propaganda. Pois agora temos aqui a oportunidade de estudarmos, mesmo que de maneira resumida, esta importante variável do mix de marketing. Embora a propaganda seja o elemento central num programa de promoção, normalmente não é o único, pois o composto de promoção é constituído por mais cinco ferramentas promocionais: promoção de vendas, relações públicas, venda pessoal, marketing direto e merchandising. Vamos ver do que cada uma delas trata. • Propaganda: qualquer forma paga de apresentação impessoal e promoção de idéias, bens ou serviços por um patrocinador identificado. Anúncios de rádio, TV, jornal e outdoors, são alguns exemplos de propaganda. • Promoção de vendas: incentivos de curto prazo para encorajar a compra ou venda de um produto ou serviço. Brindes, sorteios de prêmios, concursos, adição de outro produto à oferta básica e descontos, são alguns exemplos de promoção de vendas. • Relações públicas: desenvolvimento de boas relações com os vários públicos da empresa pela obtenção de publicidade e comentários favoráveis, em especial dos formadores de opinião. Variedade de programas e eventos, preparados para promover e/ou proteger a imagem de uma empresa ou de seus produtos individuais. Envio de mensagens periódicos, visitas de cortesia, lançamentos, entrevistas coletivas, promoção e participação em eventos, são exemplos de algumas atividades que podem ser desenvolvidas pelas relações públicas na variável Promoção, do mix de marketing. • Venda pessoal: apresentação pessoal da força de vendas da empresa com o propósito de promover e as efetivar e estabelecer relações com os clientes e influenciadores das vendas. • Marketing direto: ferramentas de contato impessoal para comunicar ou solicitar resposta direta de consumidores ativos e potenciais. A mala direta impressa ou eletrônica e o telemarketing, são exemplos de ações de marketing direto. • Merchandising: ações táticas efetuadas no ponto de venda ou em editoriais dos veículos de comunicação de massa, para se oferecer ao mercado o produto certo, na quantidade certa, no preço certo, no tempo certo, com o impacto visual adequado e na exposição certa. Uma aparição do produto ou da fachada do estabelecimento durante um filme, programa ou novela, é um exemplo do merchandising editorial. Displays na prateleira do supermercado, stand com exposição e/ou demonstração de produtos ou marca, são exemplos de merchandising no ponto-de-venda. 26 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Para vislumbrar como cada uma das ferramentas do composto de promoção pode ser utilizada na prática, analise o Quadro 3. Quadro 3: Ferramentas de promoção Fonte: Adaptado a partir de Kotler e Armstrong, 2000. Encerramos aqui nossa primeira Unidade, que teve a função de revisar alguns conceitos principais de marketing e descrever, mesmo que resumidamente, as variáveis que compõem o mix de marketing. A partir de agora, concentraremos nossos estudos exclusivamente na gestão de produtos e marcas, o primeiro “P” do mix de marketing. SÍNTESE DA UNIDADE 1 Embora muito empregado no vocabulário empresarial, o que se vê é que parte das empresas utiliza muito pouco do que o marketing pode oferecer. Vinculado a aspectos promocionais, principalmente à publicidade e propaganda, pode-se afirmar que marketing é muito mais que isso. É um processo social e gerencial que envolve a satisfação das necessidades dos consumidores. Embora alguns empresários pensam que comercializam produtos, suas empresas 27 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Persuadir Convencer. satisfazem necessidades, resolvem problemas e os seus clientes as freqüentam porque buscam lá a satisfação de suas necessidades e a solução dos seus problemas. Marketing envolve o processo de troca permanente entre a organização e os consumidores. A empresa satisfaz as necessidades dos consumidores por intermédio de produtos que, por sua vez, remuneram a organização em troca da satisfação de suas necessidades, gerando relacionamentos. Marketing é o processo de planejar e executar a concepção, a fixação de preço, a promoção e a distribuição de idéias, produtos e serviços, organizações e eventos para criar e manter relacionamentos que satisfarão objetivos individuais e organizacionais. Nesta definição destacam-se os quatro componentes do mix de marketing: Produto, Preço, Praça e Promoção. Produto é tudo o que a organização oferece ao mercado-alvo para satisfazer os seus clientes. Preço é o recurso que os clientes devem trocar para tomar posse do produto. Praça é a busca da disponibilização dos produtos, aos clientes, da maneira mais conveniente para ambos. Já a Promoção refere-se às atividades de comunicação desenvolvidas pela empresa com a intenção de persuadir os consumidores a adquirir seus produtos. 28 EaD Unidade 2 PRODUTO GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Acepção Definição, sentido, significado. No coração de uma grande marca há um grande produto. O produto é um elemento-chave na oferta ao mercado. Líderes de mercado geralmente oferecem produtos e serviços de qualidade superior (Kotler; Keller, 2006. p. 366). Nesta Unidade centralizaremos nossa atenção na gestão de produtos. Primeiramente vamos conhecer a acepção de produtos ou o que caracteriza os produtos. Na seqüência, mostraremos como podem ser classificados e como as organizações podem agregar valor aos seus produtos, obtendo vantagem competitiva sobre seus adversários. Por fim, apresentaremos as especificidades quando o produto é um serviço. Seção 2.1 O Que é um Produto? Iniciaremos esta etapa do estudo respondendo às questões do exercício a seguir: 1. O que caracteriza um produto? 2. Os benefícios oferecidos por um plano de saúde podem ser considerados produtos? Por quê? Vamos às respostas. A afirmação que Kotler e Keller (2006, p. 366) fazem a respeito de produtos talvez responda as três questões ao mesmo tempo: “muitas pessoas acham que um produto é uma oferta tangível, mas ele pode ser muito mais do que isso. Um produto é tudo que possa ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo”. 29 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Esta mesma concepção possuem Rocha e Christensen (1999) quando declaram que produto é muito mais que um produto físico que o comprador irá utilizar. É um conjunto de características, tangíveis e intangíveis, que constituem o produto, tais como marca, status, garantias, serviços, embalagem e acessórios. Um produto pode ser algo tangível, como um sapato, um carro ou qualquer bem que possa ser tocado, visto e experimentado. Também pode ser um serviço, como uma consulta médica, um conserto de um computador, entretenimento num parque de diversões, uma experiência, pessoas, lugares, informações, propriedades e idéias. Podemos afirmar, então, que produto é tudo o que possa ser oferecido ao mercado para satisfazer necessidades e desejos. Esta afirmação vem ao encontro do que dizem Boone e Kurtz (2009, p. 377): “os profissionais de marketing reconhecem essa concepção mais ampla de produto; reconhecem que pessoas compram satisfação de desejos em vez de produtos”. Seção 2.2 Agregação de Valor aos Produtos Após refletirmos sobre as definições de produto, partiremos para o segundo objetivo desta Unidade, que é conhecer as formas de agregar valor aos produtos na percepção dos consumidores e, com isso, satisfazê-los e fidelizá-los por meio da criação, desenvolvimento e comercialização de produtos que os satisfaçam plenamente. Utilizaremos como referência a proposta de Kotler e Keller (2006) que criaram o que podemos denominar de hierarquia de valor para o cliente, dividida em cinco níveis fundamentais (ver Figura 1). Produto potencial Produ to ampliado Produto espera do Produto básico Benefício central Fonte: Kotler e Keller, 2006, p. 367 Figura 1: Níveis de produto. 30 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Se analisarmos algumas definições de marketing expostas na Unidade 1 deste livro, podemos afirmar que os consumidores não compram produtos, mas benefícios proporcionados por tais produtos que satisfaçam suas necessidades e desejos. Produtos são, portanto, conjuntos de benefícios. Quando alguém decide passar uma semana de férias em um hotel, não está comprando necessariamente a estadia, mas talvez descanso e entretenimento, ou seja, está adquirindo os benefícios que o hotel oferece. É coerente afirmar que empresas bem-sucedidas são as que oferecem os melhores benefícios aos consumidores. Diante disso, vamos aos cinco níveis de produto definidos por Kotler e Keller (2006). Para exemplificar esta situação, utilizaremos como exemplo a situação de compra de um automóvel novo. Benefício central: é o benefício que o cliente realmente está comprando. O benefício central de um automóvel pode ser transporte, locomoção, status, poder, economia. Produto básico: é a transformação do benefício central no produto básico. Um automóvel deve ter, no mínimo, rodas, volante, motor, sistema de freios, espelhos, bancos, vidros, sistema de embriagem, entre outros. Algum carro roda sem estes componentes? Você ficaria satisfeito se adquirisse um automóvel que não tivesse algum destes itens? Produto esperado: é o conjunto de atributos ou condições que os compradores esperam. O comprador de um veículo espera que os pneus sejam novos, que não haja problemas mecânicos tão cedo, que os bancos não estejam rasgados, que os vidros tenham acionamento elétrico e que os sistemas de freios e embreagem funcionem perfeitamente, sem colocar em risco a vida dos ocupantes do carro. Produto ampliado: é o conjunto de atributos do bem e serviços associados concebidos para atender às expectativas dos potenciais compradores. Quando se compra algo, além do produto básico e esperado, adquire-se uma série de benefícios que acompanham o bem. No caso do automóvel, podemos citar as garantias oferecidas, Sistema de Atendimento ao Cliente (SAC), consertos rápidos quando necessário, assistência e orientação técnica. Algumas considerações devem ser feitas com relação ao produto ampliado. Primeiro, praticamente toda a ampliação gera custos, que são repassados e absorvidos geralmente pelos clientes. Sistemas de Atendimento aos Consumidores (SACs) requerem investimentos por parte das indústrias automobilísticas em tecnologia e em pessoal, e quem paga essa conta é o cliente. Segundo, produtos ampliados em pouco tempo tornam-se produtos esperados. Quando uma concessionária de automóveis disponibiliza aos clientes reparo rápido nãoesperado, terá que disponibilizar este mesmo serviço, com a mesma qualidade, em processos de compra subseqüentes, pois esta será a expectativa dos compradores. Caso isso não ocorra, o resultado pode ser catastrófico para a empresa, com a migração dos compradores para a concorrência. Terceiro, à medida que as empresas elevam o preço de seus produtos, os concorrentes podem oferecer versões mais simples e mais baratas. Dessa forma, ao mesmo tempo em que podemos nos deparar com o crescimento das vendas de carros de luxo, podemos ver o aparecimento de versões mais básicas de veículos. 31 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Catastrófico Produto potencial: é o conjunto de todos os aumentos e Desastroso, negativo. transformações que podem ser agregados ao produto no futuro. É nesse âmbito que várias empresas procuram novas formas de satisfazer seus clientes e diferenciar sua oferta. Quem garante que, futuramente, não teremos automóveis movidos à água e com capacidade para voar? Esta última hipótese resolveria, talvez, os problemas relacionados ao congestionamento das grandes e médias cidades brasileiras. Seção 2.3 Classificação de Produtos Após discutirmos o que são produtos e de que forma podemos agregar valor a eles, abordaremos as várias formas de como os produtos são classificados. Utilizaremos, para isso, o modelo proposto por Kotler e Keller (2006). De acordo com estes autores, existem duas formas de classificação: quanto à durabilidade e tangibilidade, e quanto ao uso (produtos de consumo e produtos industriais). Os produtos podem ser sub-divididos em três grupos quanto à durabilidade e tangibilidade: a) bens não-duráveis, b) bens duráveis e c) serviços (ver Quadro 1). • Bens não-duráveis: são bens tangíveis, comprados, usados e consumidos rápida e freqüentemente. A tendência é que tenham preços baixos, pequena margem de lucro, distribuição de massa e utilização de propaganda maciça. São exemplos deste tipo de bens: cerveja, refrigerante, leite, carne, creme dental, artigos de higiene e limpeza, entre outros. • Bens duráveis: são bens tangíveis, que levam um tempo maior para serem consumidos, em comparação com os bens não-duráveis. Seus preços e suas margens são mais altos e requerem serviços agregados, tais como garantia e assistência técnica especializada. Propaganda, promoção de vendas e venda pessoal, são as ferramentas de promoção mais indicadas para esses tipos de produtos. São exemplos desse tipo de bens: geladeira, equipamentos de informática, carro, casa, apartamento, produtos de vestuário. 32 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS • Serviços: são transações de mercado nas quais o objetivo de troca é algo diferente da simples transferência de uma mercadoria tangível. Os bens são produzidos e os serviços são executados. São exemplos de serviços: assessoria empresarial, atendimento médico, corte de cabelo, serviço de ensino, curso de capacitação, entre outros. Aprofundaremos mais este grupo na Seção 2.4. Grupo Bens nãoduráveis Bens duráveis Serviços Mix – Preço Preço baixo Margem pequena Preços médios e altos Mix – Praça Distribuição de massa Mix – Promoção Propaganda Compra Freqüente Promoção de vendas Venda direta Propaganda Distribuição intensiva Promoção de vendas Margens médias e elevadas Distribuição exclusiva Venda pessoal Variável Venda direta Venda pessoal Exemplos Cerveja Refrigerante Leite Nãofreqüente Geladeira Carro Casa Vestuário Variável Corte de cabelo, serviço de ensino, curso de capacitação Quadro 1: Classificação de produtos conforme a tangibilidade e intangibilidade Fonte: Baseado em Kotler e Keller, 2006. Quanto ao uso, os produtos são sub-divididos em a) produtos de consumo e b) produtos industriais ou empresariais. a) Produtos de consumo São os produtos comprados pelo consumidor para seu próprio uso ou para o uso de outrem. São produtos destinados ao consumidor final. Se alguém adquirir 1kg de carne para o consumo próprio, de sua família ou de outra pessoa, podemos afirmar que está adquirindo um produto de consumo. Nesta categoria temos outra sub-divisão: 1) produtos de conveniência, 2) produtos de comparação, 3) produtos de especialidades e 4) produtos nãoprocurados (ver Quadro 2), conforme o hábito de compra dos consumidores. 33 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann CONSIDERAÇÕES DE MARKETING Comportamento de compra do consumidor Produtos de Conveniência Produtos de Comparação Produtos de Especialidade Produtos NãoProcurados – Compra freqüente. – Pouco planejamento. – Pouca comparação ou esforço de compra. – Baixo envolvimento do consumidor. – Compra menos freqüente. – Muito planejamento. – Muito esforço de compra. – Comparação das marcas. – Pouco conhecimento do produto. – Havendo conhecimento, pouco ou nenhum interesse. Preço Distribuição – Preço baixo – Distribuição ampla, locais convenientes. – Preço mais alto – Distribuição seletiva em poucos pontos de venda. Promoção – Promoção de massa pelo produtor. – Propaganda e venda pessoal promovidas pelo produtor e pelos revendedores. – Forte preferência e lealdade a marcas. – Esforços especiais de compra. – Pouca comparação de marcas. – Pouca preocupação com preço. – Preço alto – Distribuição exclusiva em um único ou poucos pontos de venda por área de mercado. – Promoção mais bem orientada promovida pelo produtor e pelos distribuidores. Exemplos – Creme dental, pão, leite. – Eletrodomésticos, vestuário, móveis, automóveis. – Roupas de griffe, porcelana chinesa, iates. – Variado – Variada – Propaganda agressiva e venda pessoal promovidas pelo produtor e pelos distribuidores. – Serviços funerários, seguros de vida. Quadro 2: Classificação de produtos de consumo Fonte: Adaptado de Kotler e Armstrong, 1999. Outrem 1) Produtos de conveniência Outra pessoa. Produtos de conveniência referem-se a produtos que os consumidores compram freqüentemente, com um esforço mínimo de comparação e trabalho e baixo envolvimento do comprador. Geralmente seus preços são mais baixos e estão disponíveis em vários pontos-de-vendas. São divididos em três categorias: produtos básicos ou de primeiras necessidades, produtos de impulso e produtos de emergência. Os produtos básicos ou de primeiras necessidades são aqueles comprados com grande regularidade. Podemos citar como exemplos de produtos pertencentes a esta categoria o creme dental, papel higiênico, sabão em pó, sabonete, artigos do vestuário e assim por diante. São itens indispensáveis para qualquer consumidor. 34 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Os produtos de impulso são aqueles adquiridos sem nenhum planejamento. Quando você vai ao supermercado e compra algo Check-outs Caixas, terminal de ponto-de-venda. que não estava na sua lista, nem nos seus planos, isso pode ser chamado de “compra por impulso”. Nos supermercados, aqueles produtos colocados estrategicamente ao lado de onde se formam as filas dos check-outs, como as balas em embalagens pequenas e atrativas, sorvetes, refrigerantes, revistas, etc., são produtos de impulso. Por que será que cada vez mais gôndolas com balas, chocolates, revistas, jornais, CDs, aparelhos de barbear e preservativos ficam junto aos caixas de supermercados? A resposta é simples: para potencializar a compra por impulso. Geralmente os fabricantes desses produtos disponibilizam-nos no maior número possível de pontos, dentro do mesmo estabelecimento. Um dos motivos que levou a Coca-Cola à liderança de mercado foi esse: ninguém percorre distâncias muito grandes para adquirir um refrigerante dessa marca. Em qualquer bar, restaurante ou supermercado podemos encontrar Coca-Cola. Já os produtos de emergência, como a própria expressão já menciona, são bens que são comprados em situações de extrema necessidade. Várias pessoas compram guarda-chuvas durante uma tempestade para não se molharem, assim como torcedores compram capas de chuva quando começa a chover nos estádios, ou nos autódromos. Devido a essa situação emergencial, os produtos devem estar ao alcance dos consumidores e o sistema de distribuição indicado para esse caso é o de massa ou intensiva. 2) Produtos de comparação São produtos comprados com menos freqüência e cuidadosamente comparados em termos de adequação, qualidade, preço, durabilidade, economia, desempenho e modelo. Exemplos desses tipos de produtos são automóveis, motocicletas, eletrodomésticos, televisores, móveis, roupas, equipamentos de informática e moradias. Os consumidores têm mais trabalho e levam mais tempo buscando informações e comparando produtos até efetivarem a aquisição do bem. 35 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Despender Usando o exemplo da moradia, vamos discorrer sobre como Gastar, investir. se dá este processo na prática. Geralmente as pessoas adquirem um único bem ou poucos bens desse tipo durante toda a vida. Ter moradia própria e deixar de pagar aluguel é o sonho de muitas pessoas, principalmente no Brasil. Essa situação leva o potencial comprador a despender um grande esforço buscando e comparando preços, qualidade, número de peças, tamanho, localização, formas de pagamento e outras informações necessárias no momento de efetivar a aquisição do produto. Afinal, não é todo dia que se têm recursos financeiros suficientes para adquirir uma casa ou um apartamento. Os produtos de comparação podem ser divididos em homogêneos e heterogêneos. Homogêneos são produtos com qualidade semelhante, mas com diferenças significativas de preços que justificam a comparação. Os compradores consideram, nesse caso, o preço mais importante do que as características do produto. Quem trabalha com produtos homogêneos, portanto, deve ter uma equipe de vendas bem preparada, que esclareça o custo-benefício da aquisição do bem. O vendedor tem que vender o preço ao comprador, como um dos grandes atributos do produto. Ao comprarem produtos heterogêneos, os compradores consideram as características do produto mais importantes do que o preço. Dessa forma, quem trabalha com produtos de comparação heterogêneos deve oferecer maior variedade de artigos para satisfazer às necessidades e desejos individuais e uma equipe de vendas bem preparada para informar e orientar os clientes sobre os detalhes de cada escolha. 3) Produtos de especialidade São produtos diferenciados, exclusivos. Possuem características únicas e são voltados a um seleto número de consumidores, identificado com a marca do produto e que fazem um grande esforço para adquiri-lo. Exemplos clássicos desse tipo de produtos são as marcas de automóvel Ferrari e Lexus. Ferrari e Lexus são exemplos de produtos de especialidade, pois os compradores se dispõem a se deslocar, em alguns casos, a grandes distâncias para adquirir o bem. O consumidor de produ36 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS tos de especialidade possui convicção do que quer, faz pouca ou nenhuma comparação entre as marcas e está disposto a pagar a quantia de dinheiro que for necessária para ter o produto. São mais do que consumidores. Podem ser considerados “apaixonados” pela marca. Um exemplo é a marca de motocicletas Harley Davidson, que costuma se promover afirmando que não tem clientes e sim fãs. Devido ao caráter exclusivo, produtores desse tipo de bem não se utilizam de propaganda de massa para promover os produtos. A promoção é direcionada ao público-alvo de interesse da empresa. Se observarmos direito, é comum vermos propagandas de carros populares na TV. Já propagandas de marcas de luxo, como o Lexus, ou de esportivos consagrados, como a Ferrari, praticamente inexistem. Estas empresas investem em outras estratégias de promoção, tais como venda pessoal, relações públicas e promoção da marca em eventos marcantes para seus públicos. 4) Produtos não-procurados Em um primeiro momento parece um tanto estranho mencionar a existência de produtos não-procurados. Produtos não-procurados são produtos que o consumidor não conhece, ou, se conhece, não tem a intenção de comprar. Enquadram-se nessa classificação as inovações, ou seja, produtos que são comercializados para consumidores que talvez ainda não reconheçam qualquer necessidade deles. Poucos produtos encaixam-se nessa categoria, pois esta é a classificação, por exemplo, dos serviços funerários, os seguros de vida, os coquetéis de medicamentos para tratamentos de doenças muito graves e os cuidados médicos de longo prazo (asilo). 5) Produtos industriais ou empresariais Diferentemente dos produtos de consumo, os produtos industriais não são destinados ao consumidor final. São comprados para serem processados ou empregados na confecção de outro bem. Por exemplo: o pneu é um produto que faz parte de um outro maior que é o automóvel, ou a motocicleta, ou ainda a bicicleta. É isso que diferencia os produtos de consumo dos produtos industriais. Os compradores empresariais são consumidores profissionais, ou seja, representam pessoas jurídicas. Para deixar mais clara esta diferença, vamos citar dois exemplos: o queijo e a escrivaninha. Se um consumidor adquirir 1kg de queijo para consumo próprio, podemos considerar este item como produto de consumo. Por outro lado, se esta porção de queijo for adquirida para fazer parte de um hambúrguer, que posteriormente será comercializado, então podemos considerá-lo como um produto industrial. 37 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Da mesma forma, se um consumidor adquirir uma escrivaninha para seu uso pessoal, podemos afirmar que este é um produto de consumo. Se, no entanto, o uso for feito por uma pessoa jurídica, ou seja, por uma empresa, podemos declarar que seja classificado como um produto industrial. Produtos industriais podem ser divididos em três grupos: 1) materiais e peças, 2) bens de capital e 3) suprimentos e serviços empresariais. 1) Materiais e peças São bens que entram no processo de fabricação dos produtos manufaturados. São componentes que fazem parte de um produto maior e se dividem em duas classes: as matérias-primas e os materiais manufaturados. As matérias-primas, por sua vez, subdividem-se em dois grupos: materiais agropecuários e produtos naturais. Como materiais agropecuários podemos citar o trigo, o algodão, os legumes, as verduras e o gado, que comporão um produto maior. Por exemplo: o trigo é utilizado para fabricar farinha, que é usada no beneficiamento de pães, massas e bolos. O algodão é empregado na produção de tecidos que, por sua vez será utilizado na produção de vestuário. Os legumes, as verduras e o gado são usados na produção de alimentos. Ainda como exemplos de produtos naturais temos os peixes, que são empregados na produção de alimentos; a madeira, usada na produção de móveis; e o minério de ferro, utilizado na fabricação de componentes para a indústria automotiva. Os materiais e peças manufaturados dividem-se em duas categorias: materiais componentes e peças componentes. Os materiais componentes, tais como ferro, fibras têxteis, cimento e fios condutores, são os submetidos a processos de transformação adicionais. Por exemplo: o ferro-gusa é transformado em aço, as fibras têxteis são transformadas em tecidos e o cimento é transformado em massa para a construção civil. As peças componentes são aquelas que compõem o produto acabado com pouca modificação, como pneus, volantes e bancos. 2) Bens de capital São produtos que fazem parte da produção ou das operações de quem o compra. São bens que constituem o capital da empresa. Dividem-se em instalações e equipamentos acessórios. São consideradas instalações as construções e os equipamentos pesados, como os geradores, prensas, tornos, aparelhos de solda e elevadores mecânicos, entre outros. Os equipamentos acessórios incluem utilidades para escritórios, como computadores, escrivaninhas, mesas, prateleiras, cadeiras, telefone, aparelhos de fax e máquinas e ferramentas portáteis, como ferramentas de mão, empilhadeiras, caminhões. Estes equipamentos têm vida mais curta do que as instalações e auxiliam no processo de produção. 38 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS 3) Suprimentos e serviços empresariais São bens de curta duração que facilitam o desenvolvimento do produto acabado, mas que não fazem parte dele. Existem dois tipos de suprimentos: os operacionais, do qual fazem parte os lubrificantes, papel, canetas, cartuchos de impressora, e os de manutenção e reparos, que incluem tintas, pregos e vassouras, por exemplo. Dos serviços empresariais fazem parte os serviços de reparo e manutenção (limpeza, manutenção de computadores e copiadoras, manutenção de tornos, prensas e elevadores, etc.) e os serviços de consultoria empresarial (consultoria jurídica, financeira, de produção, de recursos humanos, de marketing, etc.). A seguir, veja a síntese que podemos construir a partir desta seção. Bens não-duráveis Durabilidade e tangebilidade Bens duráveis Serviços P R O D U T O S Produtos de conveniência Produtos de comparação Materiais agropecuários Produtos de especialidades Produtos naturais Produtos nãoprocurados Matérias-primas Produtos de consumo Materiais manufaturados Uso Produtos industriais ou empresariais Materiais e peças Instalações Peças componentes Equipamento acessório Bens de capital Suprimento Materiais componentes Operacionais Manutenção e reparos Serviços empresariais Serviços de reparo e manutenção Serviços de consultoria empresarial Quadro 3: Classificação de produto Seção 2.4 Especificidades Quando o Produto é um Serviço Até este momento relacionamos nossos estudos focados no produto quase que exclusivamente de natureza física, tangível. Relembrando, contudo, o que Kotler e Keller (2006) afirmam, produto é tudo o que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer um desejo ou necessidade. Serviços prestados também satisfazem desejos e necessidades de mercadosalvo e, portanto, também podem ser considerados produtos. 39 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann O setor de serviços vem apresentando um crescimento significativo nos últimos tempos. Segundo o Almanaque Abril Mundo (2001), o setor de serviços na América do Sul, em 2001, foi responsável por 58,5% do Produto Interno Bruto, conforme pode ser observado no Quadro 4. País PIB Serviços (%) 60 57,6 51 62 69 53 55 57 65 55 58,5 Argentina Brasil Bolívia Chile Colômbia Equador Paraguai Peru Uruguai Venezuela Média Quadro 4: Importância dos serviços na América do Sul – participação no PIB 2001 Fonte: Almanaque Abril Mundo, 2001. IBGE No Brasil, segundo dados do IBGE referentes ao ano de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2006, este setor representou 64,7% do PIB, conforme pode-se ve- PIB rificar no Quadro 5, ou seja, a maior parte de tudo o que se produziu e comercializou no país. Tudo o que é produzido e comercializado no Brasil.PIB SETOR PARTICIPAÇÃO PIB (%) SERVIÇOS 64,7 Agropecuário 5,1 Industrial 30,2 Total 100 Quadro 5: Importância dos serviços no Brasil – participação no PIB 2006 Fonte: IBGE, 2006. Para complementar a importância do setor de serviços, Kotler e Keller (2006) afirmam que este setor será o principal gerador de empregos na economia norte-americana, devendo abrir 20,5 milhões de postos de trabalho até 2010. Estima-se que, de 2000 a 2010, o crescimento de postos de trabalho no setor de serviços na 40 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS economia norte-americana será de 19%, contra 3% do setor de manufatura. É importante salientar que esta projeção foi feita antes da crise imobiliária que abalou os Estados Unidos da América e o mundo em 2008. Vários são os fatores que contribuem para o crescimento da indústria de serviços. Os que mais se destacam são: maior afluência, mais tempo de lazer, alto percentual de mulheres na força de trabalho, expectativa de vida mais longa, maior complexidade dos produtos, maior preocupação com a ecologia e a escassez de recursos e o maior número de novos produtos. Na seqüência do estudo, detalharemos cada um desses fatores. a) Maior afluência: maior demanda por cuidados com o corte e limpeza do gramado, a lavagem de roupas, a limpeza das casas, antes executados pelos proprietários. São serviços que os consumidores costumavam realizar por si próprios, mas que, por algum motivo, deixaram de executar. b) Mais tempo de lazer: relacionada à disponibilidade e necessidade crescente das pessoas em ter lazer. As pessoas trabalham muito e querem se dar ao luxo de desfrutar das coisas boas da vida. Aumenta, então, a demanda por serviços de agências de viagens, cidades para veraneio e cursos de idiomas, entre outras necessidades. c) Alto percentual de mulheres na força de trabalho: a necessidade de aumentar a renda familiar fez com que as mulheres começassem a trabalhar profissionalmente, deixando de executar parte das atividades domésticas. A grama, contudo, ainda deve ser cortada, as roupas ainda devem ser lavadas e passadas, a casa ainda deve ser higienizada, os filhos ainda devem ser cuidados e integrantes da família ainda devem ser alimentados. Mas quem irá executar essas funções? A mulher, que já cumpre uma jornada de trabalho de 8 horas diárias? O resultado desse novo contexto é a crescente criação de empresas especializadas em serviços domésticos, creches e restaurantes. d) Expectativa de vida mais longa: maior demanda por estabelecimentos de assistência aos idosos, por serviços de saúde, por serviços de lazer (ex.: bailes da terceira idade). Empresas de capacitação já disponibilizam cursos de informática voltados exclusivamente ao público com idade superior a 65 anos, porque a demanda para esse tipo de serviço vem crescendo significativamente nos últimos tempos. Cursos para aprender a enviar e receber mensagens via Internet e a usar webcam, são os mais procurados por este público no município de Ijuí, por exemplo. e) Maior complexidade dos produtos: os produtos estão cada vez mais complexos. Há algum tempo, comprávamos produtos simples, o que nos permitia fazer seu conserto e manutenção. Os produtos, todavia, mudaram, e os tempos também, e hoje contratamos mãode-obra especializada para instalar o chuveiro, consertar o carro e o computador, e assim por diante. Não temos e nem podemos ter a obrigação de saber e fazer tudo. 41 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann f) Maior complexidade da vida: hoje, está mais fácil ou mais difícil viver? A vida é melhor agora que há 1 ano? E do que há 10 anos? Essas são perguntas que todo mundo faz, mas que são de difíceis respostas. O fato é que a vida ficou mais complexa. Por exemplo os conflitos entre casais, se não aumentaram, ficaram mais evidentes, pois as famílias existem em diferentes e diversas composições na sociedade atual. Surgem, então, empresas especializadas em aconselhamento de casais. A renda pessoal aumentou e surgiu a necessidade de empresas especializadas auxiliarem na declaração de imposto de renda. As oportunidades de emprego tornaram-se escassas e o mercado de trabalho passou a ser mais competitivo: surge a necessidade de qualificação profissional que, por sua vez, possibilita o surgimento de empresas especializadas em cursos de qualificação. g) Maior preocupação com a ecologia e a escassez de recursos: a preocupação com a ecologia e com os recursos naturais pode gerar uma demanda por serviços adquiridos ou alugados, como transporte coletivo e aluguel de automóveis, ao invés da sua compra. h) Maior número de novos produtos: estudos recentes revelam que 75% dos produtos que serão usados em 2015 ainda não foram projetados. Esse dado nos mostra o quanto de inovação teremos nos próximos anos. Juntamente com os novos produtos surgem novas demandas de serviços. Por exemplo: o surgimento de novos produtos, em decorrência do desenvolvimento da computação, gera demanda por serviços de programação, assistência técnica para computadores, periféricos e compartilhamento de informações. Após justificar a importância de se estudar os serviços, a partir de agora, para uma melhor abordagem deste tema, dividiremos esta seção em três partes: natureza dos serviços, características de um serviço e estratégias de marketing para empresas de serviços. a) Natureza dos serviços O setor de serviços é amplo e variado. Se pensarmos em hospital, estamos pensando em serviços de saúde. Se pensarmos em Poder Executivo, Legislativo e Judiciário, estamos pensando em serviços públicos. A área de Organizações Não-Governamentais (ONGs), com museus, instituições de caridade, igrejas, universidades, fundações e hospitais, também faz parte do setor de serviços. Na área empresarial, temos companhias aéreas, bancos, hotéis, seguradoras, escritórios de advocacia e de engenharia e arquitetura, empresas de consultoria e assessoria, consultórios médicos e odontológicos e imobiliárias como prestadoras de serviços. Funcionários de empresas, como caixas, balconistas, vendedores, operadores de computador, contadores e assessores, também estão fornecendo um serviço em troca de uma remuneração. Kotler e Keller (2006) definem serviço como toda atividade ou benefício intangível que uma parte pode oferecer a outra e que não resulte na posse de um bem. Os serviços podem acompanhar 42 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS ou virem acompanhados de um bem tangível. O componente serviço pode ser uma parte secundária ou a parte principal de uma oferta ao mercado. Torna-se importante, então, conhecer as cinco categorias de oferta de mercado. 1) Bem tangível: é o bem que pode ser tocado, visualizado, sentido, como sabão, creme dental e sal, quando nenhum serviço acompanha o produto. 2) Bem tangível associado a serviços: a oferta é acompanhada por um ou mais serviços para ampliar seu apelo ao consumo. Por exemplo: um fabricante de automóveis vende seu produto com uma garantia, instruções de manutenção e assistência técnica. Quanto mais sofisticado tecnologicamente é o produto, como automóveis e computadores, mais suas vendas dependem da qualidade e disponibilidade de serviços ao consumidor (entrega e manutenção, instruções de uso, treinamento e garantias). 3) Híbrida: nesse caso, a oferta consiste tanto em bens como em serviços. Por exemplo: as pessoas freqüentam restaurantes pelo serviço (qualidade do atendimento) e pela comida e bebida oferecida. 4) Serviço principal associado a bens ou serviços secundários: aqui a oferta consiste em um serviço principal junto com alguns serviços adicionais e/ou bens de apoio. Por exemplo: os passageiros de aviões compram serviços de transporte, chegam ao destino sem ter nada tangível para mostrar. A viagem, contudo, inclui coisas tangíveis, como alimentos, bebidas, a passagem e a revista de bordo. A viagem requer um avião para sua realização, mas o item principal é um serviço. 5) Serviço puro: a oferta consiste única e exclusivamente em serviços. Não há um bem tangível associado. São exemplos dessa categoria de serviços a psicoterapia e as massagens. Os serviços também podem diferenciar-se quanto ao tipo de empresa, conforme você pode ver na Figura 2. Podem ser baseados em equipamentos automáticos, sem a interferência humana na execução, como as máquinas de vender refrigerante e os lava-rápido; em equipamentos monitorados por técnicos não-qualificados, como as tinturarias e os táxis, e em equipamentos operados por técnicos qualificados, como os serviços de escavação e transporte aéreo. Os serviços também podem ser baseados em pessoas cuja mão-de-obra não é qualificada, como os serviços de corte de grama e de limpeza; em pessoas cuja mão-de-obra é qualificada, como o conserto de computadores, de encanamento e serviço de bufê; e em pessoas especializadas, como é o caso dos advogados, engenheiros, consultores administrativos e contadores. 43 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Figura 2: Tipos de empresas de serviços Fonte: Thomas, 1978, p. 161. A natureza dos serviços também possui implicações sobre como os consumidores avaliam sua qualidade. Essa avaliação possui algumas peculiaridades se comparada à avaliação de bens tangíveis, concretos. Em alguns casos, os consumidores não conseguem avaliar a qualidade do serviço mesmo depois de terem recebido o mesmo. A possibilidade de avaliação da qualidade de um serviço por um consumidor, é diretamente proporcional ao conhecimento que este consumidor possui sobre o serviço prestado. Por exemplo: um médico, na condição de paciente de outro médico, terá melhores condições de avaliar a qualidade do serviço de seu companheiro de profissão. Um dentista também possui conhecimento técnico suficiente para avaliar o desempenho de um colega de profissão, quando estiver na condição de paciente e/ou cliente. Talvez uma das principais diferenças entre os serviços e os bens tangíveis seja o fato de que os serviços, ao contrário dos bens físicos, não podem ser experimentados. Você conhece algum paciente que sofre de problemas cardíacos que necessitou realizar transplante de coração, e que experimentou vários tipos de transplantes, com médicos diferentes, para decidir qual é o melhor? Certamente não. 44 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Então, como os serviços não podem ser provados, sua aquisição envolve um risco maior em comparação aos bens concretos, e esse fato gera algumas implicações. Em primeiro lugar, os consumidores costumam confiar mais nas informações de quem já utilizou o serviço do que em qualquer propaganda a seu respeito. Em segundo lugar, ao julgar a qualidade, os consumidores dão grande importância ao preço, aos funcionários e aos fatores visíveis. É uma tentativa de tornar tangível o intangível. Um cuidado especial devemos ter com o componente “preço” nesse momento. Nem sempre o cliente vai escolher a empresa prestadora de serviço que tiver o preço mais baixo. Às vezes, preço baixo é sinônimo de qualidade inferior para os compradores. Em terceiro lugar, eles são extremamente fiéis aos prestadores de serviços que os satisfaçam. Isso explica-se devido ao alto risco envolvido na escolha do prestador. Nesse momento surge a velha observação: “Por que trocar o certo pelo duvidoso?” b) Características de um serviço Serviços apresentam algumas particularidades se comparados a produtos concretos. Via de regra, os serviços apresentam quatro características principais, conforme ilustrado na Figura 3: intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade e perecibilidade. Figura 3: Quatro características de serviço Fonte: Kotler e Armstrong, 1999, p.456. 45 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Entenda melhor cada uma delas. 1) Intangibilidade Ao contrário dos produtos físicos, os serviços são intangíveis porque não podem ser vistos, provados, sentidos, ouvidos ou cheirados. Por exemplo: quem se submete a uma lipoaspiração não pode ver o resultado antes da execução do serviço. Da mesma forma, ao contratar um advogado, o cliente não tem a certeza se o mesmo irá ter êxito no processo judicial. Como reduzir, entretanto, tal incerteza? Invariavelmente os consumidores procuram evidências da qualidade de serviço. Buscam informações com quem já utilizou o serviço, além de observar o lugar, as pessoas, o equipamento, o material de comunicação e o preço. Cabe, então, às empresas prestadoras de serviços acrescentarem tangibilidade às ofertas intangíveis e uma das formas mais eficientes é garantir bons depoimentos favoráveis, prestados por clientes já atendidos. Por exemplo: se um restaurante quer transmitir a idéia de que seus produtos não estão contaminados e não provocam algum tipo de intoxicação alimentar, algumas medidas podem ser tomadas: a) a cozinha deve ser panorâmica, para que os clientes possam ver o preparo dos alimentos; b) os cozinheiros devem usar toucas brancas, para os cabelos não se misturarem aos alimentos; c) também devem usar luvas, para que não haja contaminação; d) e, ainda, calças, jalecos e calçados brancos para mostrar que o ambiente é limpo. Do mesmo modo, se um banco quer transmitir a idéia de um serviço rápido e eficiente, o seu ambiente físico deve sugerir serviços rápidos e eficientes; o fluxo de pessoas deve ser planejado, as filas devem ser curtas ou, preferencialmente, não existirem, os equipamentos devem ter uma aparência moderna e os funcionários devem estar bem vestidos e ocupados. 2) Inseparabilidade O princípio da inseparabilidade prega que os serviços são primeiro vendidos, depois produzidos e consumidos ao mesmo tempo. Produção e consumo são simultâneos. Além disso, quem executa o serviço é parte dele. Quando o executor comete um erro, o cliente já recebe o serviço defeituoso. Não há como testar o serviço antes da execução. Além disso, parte dos serviços é executada na presença dos clientes. A interação fornecedor-cliente é uma característica específica do marketing de serviços. Isso quer dizer que tanto quem presta o serviço quanto quem o compra interfere no seu resultado. O sucesso de um show musical de uma dupla sertaneja, por exemplo, depende tanto da performance dos cantores quanto da participação do público. 46 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS 3) Variabilidade Oscilante Que oscila, variável. Os serviços são variáveis por que sua qualidade depende de quem, onde e quando são proporcionados. Por exemplo: determinado Banco tem fama de oferecer atendimento qualificado, comparando com outros bancos. Isso se deve, entre outras coisas, ao desempenho de seus colaboradores. Em uma determinada agência bancária podemos encontrar funcionários eficientes e agradáveis, enquanto outro empregado da mesma agência pode ser desagradável e ineficiente. Além disso, a qualidade do serviço do funcionário considerado eficiente e simpático pode variar de um dia para outro, dependendo da sua energia e disposição. Quando falamos em variabilidade de serviços, estamos falando da oscilação de sua qualidade. Kotler e Keller (2006) entendem que as organizações prestadoras de serviços podem tomar três providências para controlar a qualidade de seus serviços: a) investir em processos de contratação e treinamento de funcionários, b) padronizar o processo de execução dos serviços, e c) acompanhar a satisfação dos clientes mediante pesquisas com a clientela. 4) Perecibilidade Quando afirmamos que os serviços são perecíveis, estamos querendo dizer que os mesmos não podem ser estocados para venda ou uso futuro, ou seja, precisam ser consumidos no mesmo instante que são produzidos. Esta característica se torna um problema para as empresas, quando a demanda é oscilante. Vamos citar o exemplo de uma empresa de transporte coletivo. Nos períodos em que há uma maior demanda pelo serviço de transporte (início da manhã, meio-dia e final da tarde), a empresa deve disponibilizar um maior número de ônibus e, conseqüentemente, de funcionários, para atender tal demanda. Em outros períodos do dia, no entanto, a demanda cai, mas a empresa continua tendo que manter o mesmo número de carros e de colaboradores contratados, mesmo que não estejam em atividade. O que fazer diante dessa situação? 47 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann O custo deste problema precisa ser repassado para as passagens, ou seja, quem paga o custo da contratação de novos servidores e da oferta de novos carros é o próprio usuário, independente do horário em que utiliza o serviço. Podem ser propostas tarifas diferenciadas para períodos de menor procura, o que poderia levar os clientes, mesmo que uma pequena parte, a fazer seus percursos em horários alternativos. As empresas aéreas já se tornaram conhecidas por oferecerem preços de passagens muito acessíveis em horários e dias de menor movimento, como de madrugada ou em feriados a exemplo de Natal e Ano Novo. E quando a demanda oscila anualmente, o que fazer? Isso ocorre em muitas universidades brasileiras. Nesse caso, as organizações empregam funcionários em tempo parcial, por período determinado. O caso dos professores horas-aula enquadra-se nessa situação. Se o número de matrículas aumenta a ponto de se abrirem novas turmas, estes professores vão sendo contratados por mais horas e/ou mais docentes são contratados. c) Estratégias de marketing para empresas de serviços Até há pouco tempo, as empresas prestadoras de serviços estavam atrás do setor industrial quando o assunto era “estratégias de marketing”. Diferentes eram os motivos, seja porque em geral eram de pequeno porte, ou porque consideravam o marketing desnecessário ou, ainda, porque não tinham colaboradores com conhecimento da área. Além disso, muitas organizações não utilizavam o marketing por considerá-lo antiético ou porque não conheciam sua amplitude. Da mesma forma que as indústrias, contudo, as empresas de serviço fazem e devem fazer maior uso das estratégias de marketing. Que prestador de serviços não posiciona suas ofertas no mercado? Que prestador de serviço não segmenta seu mercado, não possui estratégias de preço, não promove e não distribui suas ofertas, mesmo que de forma inconsciente ou não-planejada? Como os serviços diferem dos bens tangíveis, porém, muitas vezes exigem estratégias de marketing diferentes. Nas empresas de bens de consumo, os produtos são padronizados e, invariavelmente, ficam expostos em locais acessíveis ao consumidor, esperando-o para a aquisição. O contrário acontece com os serviços. Enquanto que nos bens concretos a ênfase está no consumidor, o serviço enfatiza e dá o mesmo valor aos clientes e aos empregados. Os clientes e os empregados da linha de frente interagem para criar o serviço. Os prestadores de serviços têm de laborar eficazmente para criar um valor maior as suas ofertas, e isso depende muito da eficiência, da qualificação e da motivação de seus colaboradores. 48 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Kotler e Armstrong (1999) criaram o que podemos chamar de cadeia de lucros de serviços, que atrela os lucros da empresa à satisfação do empregado e do consumidor, consistindo em cinco vínculos: 1) Lucros e crescimento de serviços saudáveis – que é o desempenho de alta qualidade da empresa de serviço que resulta de consumidores satisfeitos e leais. 2) Consumidores satisfeitos que se mantêm leais, repetem a compra e indicam outros consumidores, o que resulta de maior valor de serviço. 3) Criação de valor mais eficiente e eficaz e prestação de serviços, o que resulta de empregados de serviços satisfeitos e produtivos. 4) Empregados mais satisfeitos, leais e que trabalham duro, o que resulta de qualidade de serviço interno. 5) Seleção e treinamento de qualidade para ter bons profissionais e um bom ambiente de trabalho. Isso mostra que as empresas de serviços devem treinar e motivar seus empregados, com maior ênfase naqueles que contatam com os clientes e no pessoal de serviço de apoio, para que todos trabalhem em equipe. O foco do treinamento deve ser o cliente, ou seja, todos os funcionários devem ser orientados para o cliente. Não basta operar da forma tradicional, criando um departamento de marketing. Todos na empresa e, conseqüentemente, todas as ações da corporação, devem ser orientadas à satisfação dos clientes. Surge, então, a seguinte indagação: como as organizações prestadoras de serviços podem obter vantagem competitiva em um ambiente marcado pela crescente concorrência? A resposta é a seguinte: aumentar sua diferenciação competitiva, sua qualidade de serviço e sua produtividade. O marketing de serviços é o ambiente propício para a criatividade, para a agregação de valor, diferenciando serviços, aumentando a fidelidade e construindo relacionamentos. Estas são as armas mais poderosas que se pode ter para enfrentar a concorrência. Diferenciação competitiva Em períodos de intensa concorrência, as empresas de serviços queixam-se da dificuldade em diferenciar seus serviços e acabam optando pela redução de preços para combatêla. Esta estratégia, contudo, mostra-se ineficaz a partir do momento em que os rivais também passam a utilizá-la. O que fazer diante dessa situação? Continuar optando pela mesma estratégia e ver a situação ficar cada vez mais complicada, tendo receitas reduzindo e custos aumentando, ou buscar alternativas para se diferenciar das demais empresas? 49 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Retrocesso Uma das alternativas para combater a concorrência é desenvol- Atraso, volta ao passado. ver ofertas, fornecimento e imagem diferenciados. A oferta inclui a instituição de aspectos inovadores em relação às ofertas dos concorrentes. Por exemplo, uma empresa de transporte coletivo intermunicipal (ônibus) pode oferecer alguns serviços que a diferenciam das demais empresas do setor, como acesso à Internet dentro do veículo, carregadores de bateria de celular, prêmios para os passageiros freqüentes, assentos modernos e áreas vips em terminais rodoviários. Já o fornecimento de serviços pode ser diferenciado de três maneiras: por meio das pessoas, do ambiente físico e do processo. A empresa pode contratar ou capacitar seus empregados para que tenham um desempenho melhor que os empregados da concorrência. A empresa também pode desenvolver um ambiente físico de qualidade superior onde são prestados os serviços, ou pode criar um processo de distribuição de serviços superior, gerando maior conveniência e fidelidade do que os processos da concorrência. Por exemplo: com a chegada da Inte rne t os bancos disponibilizaram a execução de alguns de seus serviços via rede mundial de computadores, o que gerou grandes benefícios e que foram rapidamente copiados pelos concorrentes. O fato de serem rapidamente copiados (os serviços) fez com que alguns bancos, sem abandonar as possibilidades virtuais, focassem novamente o contato direto com seus clientes. Para alguns, essa ação pode ser vista como um retrocesso, mas, para outros, foi vista como uma estratégia de diferenciação extremamente eficaz, considerando a diferenciação pela humanização dos serviços e a melhoria dos relacionamentos que a medida gerou. As empresas também podem diferenciar seus serviços por meio de imagens, símbolos e marcas. As cooperativas geralmente empregam o símbolo do pinheiro para transmitir a idéia de força do grupo, ajuda mútua, união e cooperação. Qualidade de serviço Uma das formas eficazes de a empresa diferenciar-se é oferecer um serviço com qualidade superior à de seus concorrentes. Muitas empresas que aderiram a programas de qualidade total, descobriram que serviços de excelente qualidade lhes renderam uma grande vantagem competitiva. 50 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS O segredo é superar as expectativas dos consumidores com a qualidade dos serviços, prometendo somente o que puder fornecer e fornecer mais do que prometeu. Explicaremos esta situação com o seguinte exemplo: determinado cliente percebeu que seu refrigerador não estava resfriando os alimentos como devia. Além disso, observou que a conta de energia elétrica havia aumentado significativamente nos últimos meses. Procurou uma empresa de refrigeração que lhe prometeu solucionar os problemas em cinco dias. Esta situação pode ter três finais: insatisfação, satisfação ou encantamento do cliente. Insatisfação: (1) a empresa entrega o refrigerador em cinco dias, mas não resolve o problema do cliente. (2) a empresa resolve o problema, mas entrega o produto em sete dias, sendo que o acordo previa cinco dias. Satisfação: a empresa resolve o problema e entrega o produto no prazo preestabelecido. Encantamento: a empresa resolve o problema e entrega o produto antes do prazo preestabelecido. Encantar o cliente é o que todas as empresas devem objetivar, pois gera fidelização e o cliente encantado torna-se um divulgador dos serviços da empresa. Essas expectativas surgem de experiências passadas, da propaganda boca a boca e da propaganda da empresa de serviços. Na seqüência apresentaremos algumas ações que geram satisfação e encantamento por parte dos clientes. • Receber telefonema de retorno quando prometido. • Receber uma explicação sobre um problema ocorrido. • Receber informação sobre números de telefone para que o cliente possa entrar em contato. • Ser prontamente contatado assim que o problema estiver resolvido. • Poder falar com alguém que tenha autoridade. • Saber quanto tempo levará para que o problema seja resolvido. • Receber informações sobre alternativas viáveis quando o problema não pode ser resolvido. • Ser tratado como um ser humano, não como um número. • Ser informado sobre as maneiras de evitar um problema futuro. • Ser informado sobre a situação, quando o problema não pode ser resolvido de imediato. À primeira vista parece fácil satisfazer e encantar os clientes. Porque, porém, muitas empresas de serviços, apesar de terem estes propósitos, não conseguem concretizá-los. Três fatores destacam-se nesse sentido: 1) não conhecem as expectativas de seu público-alvo, 2) não capacitam seus funcionários e 3) não definem padrões de qualidade. 51 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Obstinação Para satisfazer às expectativas dos clientes, é necessária a Afinco, vontade. organização de um sistema de informações capaz de extrair dados dos clientes e processá-los para uma futura ação. É necessário conhecê-los, saber quem são, quais são seus perfis pessoais, como são seus hábitos de consumo, o que pensam e o que esperam da empresa, suas marcas e seus produtos. Outra maneira de alcançar a qualidade em serviços é dar aos empregados responsabilidade e incentivos para que eles possam reconhecer, preocupar-se e se voltar para as necessidades dos clientes. E isso consegue-se com muito treinamento. Por fim, a terceira forma de obter qualidade em serviços é definir padrões de qualidade. Por exemplo: Kotler e Armstrong (1999) citam o caso do Citibank, que estabeleceu como um dos padrões de qualidade responder chamadas telefônicas em 10 segundos. É muito importante entender, todavia, que qualidade superior é uma condição que se efetiva somente com a percepção do cliente. Para obter resultados, é fundamental que todos os processos de melhoria da qualidade dos serviços tenha como foco valorizar a percepção do cliente sobre a empresa, os serviços e a marca. Produtividade de serviço Com os custos dos serviços elevando-se constantemente, as empresas buscam cada vez mais aumentar sua produtividade. Com a diminuição das margens de lucro, é importante ganhar na quantidade de serviços executados. Isso pode ser alcançado de várias maneiras: a) treinar melhor os funcionários atuais ou contratar novos; b) aumentar o número de serviços, o que pode prejudicar a qualidade do serviço prestado; e c) projetar serviços mais eficazes. Os prestadores de serviços podem treinar melhor os funcionários atuais ou contratar novos, que trabalhem com mais obstinação, ou que sejam mais eficientes pela mesma remuneração. Essa é uma estratégia muito empregada por algumas empresas, devido ao excedente de mão-de-obra existente no mercado. 52 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS As empresas também podem aumentar a produtividade, ampliando o número de serviços prestados e abrindo mão de aspectos da qualidade. Como um exemplo dessa estratégia podem ser citados os médicos que atendem por convênios um maior número de pacientes, reduzindo o tempo de consulta. As organizações de serviços também podem aumentar sua produtividade criando serviços mais eficazes. Terceirizar parte dos serviços é uma estratégia muito empregada para reduzir custos, elevar os rendimentos e se concentrar naquilo que é fundamental nos serviços e na percepção dos clientes. SÍNTESE DA UNIDADE 2 Um produto é tudo que pode ser oferecido a um mercado para satisfazer uma necessidade ou um desejo. Ao elaborar sua oferta ao mercado, a empresa deve pensar em cada um dos cinco níveis do produto: o benefício central, o produto básico, o produto esperado, o produto ampliado e o produto potencial, que envolve todas as modificações futuras a que o produto poderá ser submetido. Os produtos podem ser classificados de várias maneiras. As mais usadas são quanto à durabilidade e tangibilidade, e quanto ao uso (produtos de consumo e produtos industriais). Quanto à durabilidade e tangibilidade são divididos em bens duráveis, bens não-duráveis e serviços. Quanto ao uso, são divididos em bens de consumo e bens industriais ou empresariais. Os bens de consumo são classificados em produtos de conveniência, de comparação, de especialidade e nãoprocurados. Os bens industriais ou empresariais são classificados em materiais e peças, bens de capital e suprimentos e suprimentos e serviços empresariais. Produtos podem ser bens tangíveis, como um automóvel, ou algo intangível, como um serviço de consulta médica. A crescente participação dos serviços no Produto Interno Bruto das nações, tem acarretado uma maior atenção de estudiosos, pesquisadores e profissionais sobre este setor. Serviços são todas as atividades ou os benefícios intangíveis que uma parte pode oferecer a outra e que não resulte na posse de um bem. Os serviços possuem quatro características que os diferenciam dos bens: intangibilidade, inseparabilidade, variabilidade e 53 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann perecibilidade. Isso quer dizer que os gestores devem encontrar meios de tangibilizar ao máximo os serviços de suas empresas, ou seja, torná-los perceptíveis. Também devem buscar aumentar a produtividade dos funcionários, motivando-os e os qualificando e ainda padronizar a qualidade da oferta, encontrando meios de ajustar a oferta à demanda e a demanda à oferta. Quanto às estratégias de marketing para serviços, o foco deve ser tanto o cliente, quanto o funcionário. Enquanto que nos bens tangíveis o foco está mais no consumidor, os prestadores de serviços devem enfatizar e dar o mesmo valor aos clientes e aos empregados. Os clientes e os empregados da linha de frente interagem para criar o serviço. Por fim, para obterem vantagens competitivas sobre os concorrentes, as empresas prestadoras de serviços devem criar diferenças competitivas, disponibilizando atividades de qualidade superior e aumentando a produtividade na prestação dos serviços. 54 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Unidade 3 GESTÃO DE PRODUTOS Nesta Unidade aprofundaremos um pouco mais nossos estudos relacionados à gestão de produtos. Se na Unidade 2 definimos o que é um produto, identificamos algumas maneiras de agregar valor aos bens, classificamos e verificamos as especificidades que distinguem os serviços dos bens tangíveis, na Unidade 3 enfatizaremos, com maior profundidade, a gestão de produtos. Questões relacionadas a decisões sobre produtos individuais, tais como atributos do produto, marcas, embalagem, rótulos e serviços de apoio; decisões sobre linha de produtos, que abrange estudos relacionados à extensão, modernização e apresentação da linha de produtos; e decisões relacionadas ao composto ou mix de produtos, serão discutidas a partir deste ponto. Seção 3.1 Decisões Sobre Produtos Individuais Enfatizaremos agora aspectos de marketing relativos ao desenvolvimento de ações relacionadas a produtos individuais. Utilizaremos a proposta de Kotler e Armstrong (1999), exibida na Figura 1, que destaca os seguintes pontos: atributos do produto, marca, embalagem, rótulo e serviços de apoio ao produto. Atributos do produto Marca Embalagem Rótulo Serviços de apoio ao produto Figura 1: Decisões sobre produtos individuais Fonte: Kotler e Armstrong, 1999, p. 192. Veja que o produto é muito mais do que a oferta básica, na qual muitas empresas, cujos gestores possuem visão restrita, concentram-se. Para desenvolver uma boa gestão de produtos, é preciso entender que produto é um conjunto que visa a gerar uma percepção melhor ao cliente, do que o conjunto ofertado pelos competidores. 55 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Nas subseções a seguir vamos explicar cada um dos pontos elencados por Kotler e Armstrog (1999). 3.1.1 – ATRIBUTOS DO PRODUTO Antes de iniciarmos os estudos sobre atributos do produto, é importante entendermos o significado da palavra “atributo”. Atributo pode assumir o significado de “característica”, ou seja, de algo que distingue uma coisa da outra. Pode também assumir o significado de “qualidade” e de “benefício” daquilo que mais se destaca em algo ou alguma coisa. Podemos afirmar, então, que gerir um produto implica defini-lo e interferir favoravelmente nos benefícios que este irá proporcionar aos seus compradores. Esses benefícios são fornecidos por quatro atributos básicos: a) qualidade (do produto e percebida pelo cliente), b) forma, c) características, e d) estilo e design do produto. a) Qualidade Quando questionados sobre o que diferencia suas empresas das corporações concorrentes, a maioria dos gestores é categórica ao afirmar que é a qualidade dos produtos. O que vem, no entanto, a ser qualidade? Kotler e Armstrong (1999) entendem que qualidade é a capacidade do produto de desempenhar suas funções. Já Rocha e Christensen (1999) têm uma visão mais mercadológica e definem qualidade como tudo o que o consumidor acha que é. Para Kotler e Keller (2006), existem dois tipos de qualidade: a de desempenho e a de conformidade. Qualidade de desempenho é o nível no qual o produto opera. Existem quatro níveis de qualidade de desempenho: 1) baixo, 2) médio, 3) alto e 4) superior. O nível de qualidade de um produto deve ser determinado pelo fabricante e deve se basear nas características do mercado-alvo e no desempenho dos concorrentes. Por exemplo: muitos produtos eletroeletrônicos produzidos na China possuem nível de qualidade de desempenho baixo e médio, mas nem por isso deixam de ter mercado. Enquanto a concorrência concentra-se em produzir bens de qualidade alta e superior para um público-alvo pertencente à classe média-alta, as empresas chinesas definiram como públicoalvo a classe média-baixa. Quem compra produtos eletroeletrônicos chineses paga um preço baixo, mas tem consciência que a vida útil e o desempenho podem ser inferiores aos produtos da concorrência. 56 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Geralmente a melhoria contínua de um produto, ou seja, investimentos em programas de qualidade, cujo objetivo é ter qualidade alta ou superior em produtos, traz maiores retornos financeiros e maior participação de mercado às empresas. Por outro lado, reduzir a qualidade para compensar custos de produção implica sérias conseqüências, como a perda de credibilidade e a conseqüente redução da participação de mercado. A qualidade de conformidade significa padronização, ou seja, todas as unidades produzidas devem ser idênticas, atendendo às especificações prometidas. Suponha que um automóvel Ford Ka seja projetado para consumir 19 litros de gasolina por quilômetro rodado. Se todos os veículos Ford Ka produzidos fizessem isso, podemos afirmar que o modelo tem alta qualidade de conformidade. Caso contrário, desapontará alguns compradores e trará sérios problemas de credibilidade à marca. Para além da qualidade em si, no entanto, há a qualidade do produto e a qualidade percebida pelo cliente. Qualidade do Produto Podemos citar 3 características que dizem respeito a essa qualidade: durabilidade, confiabilidade e facilidade com que os produtos são concentrados. Durabilidade é a mensuração da vida operacional do bem. Em outras palavras, é o tempo de vida de um produto. Geralmente os compradores pagam mais por produtos de maior reputação e durabilidade. Isso, contudo, vem mudando gradativamente devido à rápida obsolescência tecnológica, como é o caso dos computadores pessoais, câmaras de fotografia e vídeo, televisores e celulares, entre outros produtos. A confiabilidade é a mensuração da probabilidade de um produto não deixar de funcionar ou não apresentar defeitos durante certo período de tempo. A Volkswagen, a Sony, a Brastemp, conseguiram gerar sobre seus produtos a percepção no cliente de serem confiáveis, de necessitarem de pouca ou nenhuma manutenção. A facilidade com que os produtos são consertados também é um indicador de qualidade de produto. A facilidade de reparo ideal seria se os próprios usuários pudessem consertar seus produtos. Um exemplo de sucesso nesse sentido é o Volkswagen Fusca, que tinha a fama de fácil reparo. Alguns donos desse veículo salientavam que “com um alicate e um pedaço de arame consertava-se qualquer problema desse veículo”. Quando o conserto do produto é impossível de ser realizado unicamente pelo comprador, algumas empresas disponibilizam serviços de reparo via e-mail e por telefone, para orientar o usuário sobre como resolvê-lo. A Microsoft montou um banco com problemas freqüentes e possíveis soluções de modo que, ao acessar este serviço de assistência técnica virtual, os clientes possam resolver a maioria dos problemas existentes. Nesta linha trabalham marcas como Dell, HP, provedores de Internet, entre outras, que seguem a tendência. 57 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Agivest Associação Gaúcha das Indústrias do Vestuário e Decoração de Ambientes. Qualidade percebida pelo cliente A diferença de percepção de qualidade entre a visão da empresa e a visão do cliente, pode ser muito grande. Aquilo que as empresas julgam ser qualidade e a forma como os consumidores percebem aquele produto, podem ser bastante distintas. Um fabricante de roupas íntimas, por exemplo, confidenciou que a qualidade de seus produtos se expressa pela durabilidade. Tal declaração precisa ser comparada com o fato de que em produtos relacionados à moda íntima, dotados de sensualidade, o que a maioria das pessoas compra não é durabilidade, mas sim sensualidade, auto-estima e bem-estar. Entender o que é qualidade do produto para o cliente é fundamental, pois somente este entendimento pode ajudar uma empresa a inserir modificações e melhorias de qualidade em seus produtos. Lembramos aqui a pesquisa encomendada pela Rede Agivest, realizada pela Unijuí, para identificar os aspectos relacionados aos produtos que mulheres com idade entre 18 e 55 anos, de 18 regiões do Estado do Rio Grande do Sul, consideram mais importantes. Concluiu-se que a maioria, ou 71,6%, consideram o conforto mais importante. Esta constatação mostrou uma questão muito importante em relação ao que os proprietários das organizações acreditavam. Para eles, seus consumidores procuravam produtos que fossem fáceis de lavar, passar, guardar, ou seja, praticidade. Este quesito, contudo, foi citado por apenas 28,2% dos entrevistados (IPD, 2006). Este exemplo revela as diferenças que podem existir entre o que as empresas julgam ser qualidade e o que os consumidores consideram como tal. Empresas que não conhecem a percepção de qualidade das pessoas que compõem seu público-alvo, estão dando um grande passo ao fracasso. Desenvolver e produzir o produto que o cliente deseja e espera é mais lógico, mais fácil e garante bons negócios. Voltamos agora ao segundo dos quatro atributos que podem identificar um produto (qualidade, forma, características e estilo e design). 58 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS b) Forma Alguns produtos podem ser oferecidos sob várias formas, tamanhos ou formatos. Considere, por exemplo, a marca de refrigerantes “Guaraná Antarctica”. Ela é envasada e comercializada em garrafas PET de 600ml, 1litro, 1,5 litro, 2 litros, 2,5 litros, 3,3 litros, em garrafas de 290ml e em latas de 350ml. c) Características Produtos também podem ser oferecidos com características variáveis. Vão desde o modelo básico, sem quaisquer acessórios, até modelos de alto padrão, com mais dispositivos, que funcionam como ferramentas competitivas para se diferenciar da concorrência. A marca Lexus, ao lançar o automóvel modelo LS 600 H, procurou diferenciar-se da concorrência acrescentando câmera traseira em seu automóvel, cujo monitor fica junto ao vidro dianteiro, substituindo o espelho interno. Além disso, esse veículo oferece bancos traseiros com encosto para as pernas dos caroneiros. Estes acessórios possuem grande utilidade. A câmera, porque o espelho tradicional possuía sérias limitações de ajuste; já o encosto nos bancos traseiros para as pernas é muito bem-vindo, especialmente em viagens longas, ajudando no descanso dos usuários. Como é possível, no entanto, identificar novas características e decidir quais devem ser acrescentadas ao produto? A resposta é única: pesquisas periódicas junto a clientes, prospects e suspects. Agora, vamos ao último atributo. d) Estilo e design O que é estilo? Qual é a diferença entre estilo e design? Estilo, muitas vezes confundido com design, é o conjunto do visual do produto, a sensação que o produto passa, a percepção que ele gera, o status que ele proporciona e o estilo de vida que se pressupõe sobre os proprietários e/ou usuários destes produtos. Os consumidores pagam mais caro por produtos da Porsche porque eles têm, dentre outras coisas, um visual diferenciado. O estilo é uma fonte de diferenciação difícil de ser copiada. Para obter vantagem competitiva, contudo, basta apenas ter um visual incrível? 59 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Figura 2: Design de um modelo Porsche A resposta é “não”. Além de uma bela aparência, um produto, para se destacar, deve ter um conjunto de características, como visual atraente e funcionalidade. A Porsche não tem sucesso apenas pela aparência de seus produtos. O formato arredondado de seus carros, além de proporcionar uma aparência destacada, também proporciona uma maior estabilidade ao veículo que, por sua vez, possibilita ao condutor acelerar a mais de 200 km/h sem correr o risco de desestabilizar o automóvel. Então, o design contribui tanto para a utilidade, funcionalidade e desempenho, quanto para a aparência do produto. A diferença entre estilo e design está evidenciada na Figura 3. ESTILO = Aparência + Percepção gerada + DESIGN = Aparência + Utilidade + Status proporcionado Funcionalidade + Desempenho Figura 3: Diferenças entre estilo e design Agora que já definimos o que podem ser considerados atributos de um produto, vamos passar ao segundo ponto indicado por Kotler e Armstrong (1999) no que se refere a aspectos de marketing relacionados ao desenvolvimento de ações relativas a produtos individuais (ver Figura 1 desta Unidade). 3.1.2 – MARCAS Consumidores consideram a marca uma parte importante do produto. Elas valorizam o produto. O Romanée-Conti é o mais consagrado e mais caro vinho tinto do mundo. Dependendo da antiguidade e raridade da safra, paga-se mais de € $ 22.000,00 a garrafa de 1,5 litro. Se, no entanto, o mesmo vinho for posto dentro de uma garrafa PET, sem rótulo ou marca, como alguns produtores de vinho colonial em muitos municípios do interior do Rio Grande do Sul fazem, possivelmente não se obterá mais do que R$ 10,00 por 2 litros. Provavelmente seria considerado um produto de qualidade inferior, mesmo com o idêntico aroma, sabor, cor, envelhecimento. O que explica isso? 60 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS A explicação é simples. A marca tornou-se um ponto importante na estratégia do produto. A marca revela os atributos do produto. Por exemplo: a marca de carros Lexus é sinônimo de conforto e luxo. Já a Mercedes-Benz destaca-se pela durabilidade e prestígio. A Volkswagen é reconhecida pelo alto valor de revenda, durabilidade e baixo custo de manutenção. A marca também revela os benefícios dos produtos, como durabilidade, prestígio e boa concepção. Muitas pessoas compram produtos de alto valor e de marcas reconhecidas para se sentirem importantes e admiradas. A marca também mostra os valores da empresa. Por exemplo: a Mercedes-Benz preza pelos valores de seus produtos. Já a Caterpillar é reconhecida pela durabilidade de seus produtos e pelo serviço de assistência técnica, rápida e eficiente. A marca também projeta a personalidade de uma pessoa. Quem possui uma Ferrari pode ser considerada uma pessoa expansiva, moderna e com personalidade de um jovem, independentemente da idade. Já quem possui um Mercedes-Benz, geralmente revela um estilo de vida mais formal, maduro e tradicional. Esses dois exemplos sugerem que a marca atrai as pessoas, cujas auto-imagens reais ou desejadas encaixam-se na imagem da marca do produto. Note que esta foi apenas uma pequena introdução do que estuda e desenvolve a gestão de uma marca. Este assunto não se esgota aqui, pois será tratado com profundidade na Unidade 4 deste livro. EMBALAGEM A embalagem nasceu com o objetivo de facilitar o transporte e proteger o produto durante sua passagem pelos canais de distribuição até chegar aos consumidores. Com o passar do tempo, contudo, a embalagem assumiu novas funções, como identificar a marca, transmitir informações descritivas e persuasivas, fornecer dados sobre armazenagem em casa e sobre o consumo do produto. Nos últimos tempos, a embalagem tem se tornado uma importante ferramenta de marketing. Veja o exemplo a seguir: um dos problemas enfrentados pelas indústrias de leite referia-se à vida útil deste produto, além da pouca proteção oferecida pela embalagem de filme plástico, os populares “saquinhos de leite”. A Tetra Pak resolveu este problema criando a embalagem para o leite longa vida. Aproveitando o exemplo do leite longa vida, um dos principais problemas era a dificuldade de abrir a caixinha. Surge, então, a embalagem com tampa. Estes dois exemplos revelam como as empresas podem obter vantagem competitiva utilizando-se de embalagens inovadoras e tratando estrategicamente este tema. Abordaremos com maior ênfase este assunto na Unidade 5 deste livro. 61 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann 3.1.4 – RÓTULOS O rótulo pode ser uma simples etiqueta presa ao produto ou um projeto gráfico bem elaborado que faz parte da embalagem. No rótulo pode conter apenas o nome da marca e algumas informações exigidas por lei, ou muitas informações que auxiliam e estimulam o consumidor. O rótulo desempenha várias funções. Veja algumas delas: – Identifica o produto ou marca; – Pode classificar o produto; – Pode descrever o produto: • quem fabricou; • onde e quando foi fabricado; • o que contém; • como deve ser usado; • informações nutricionais (no caso de bebidas e alimentos); • como usá-lo com segurança; • outras informações exigidas por lei. Na Unidade 5 deste livro daremos maior destaque a este assunto tão importante da gestão de produtos. Por fim, apresentamos o último ponto referenciado por Kotler e Armstrong (1999). 3.1.5 – SERVIÇOS DE APOIO AO PRODUTO Geralmente, a qualidade de um produto se deve ao serviço agregado que este possui. De nada adianta uma organização ter um bom produto, se não tiver um serviço de apoio eficiente. Serviços de apoio eficientes são ferramentas básicas para obtenção de vantagens competitivas. Um bom serviço de atendimento ao consumidor tornou-se um ótimo negócio para as empresas. Isso porque é muito mais dispendioso para uma empresa atrair novos clientes e reconquistar os perdidos do que manter os satisfeitos. Além disso, clientes altamente satisfeitos costumam agir como vendedores não pagos, indicando nossos produtos, marcas e empresas. Empresas que fornecem serviços de alta qualidade, geralmente destacam-se da 62 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS concorrência. Ademais, negócios com alta qualidade de serviços podem cobrar mais que mesmo assim são mais lucrativos, mas Dispendioso Caro, oneroso. isso somente vai ocorrer se o conjunto satisfazer plenamente as necessidades dos clientes. Antes de definir os serviços de apoio que devem acompanhar o produto visando a satisfazer às necessidades do públicoalvo, torna-se necessário, contudo, conhecer os serviços valorizados por ele. É preciso constituir um sistema de informações gerenciais que possi bi li te de te rminar as necessi dade s de se rviços, monitorando as reclamações que chegam até a empresa. São imprescindíveis levantamentos periódicos com os clientes para poder avaliar a qualidade do serviço prestado e captar novas idéias que possam ser introduzidas. Dinâmicas de grupo com consumidores, além das já tradicionais garantias, assistência técnica especializada e sistemas de atendimento ao cliente, são ações que podem ter um bom retorno para a empresa. Seção 3.2 Decisões Sobre Linhas de Produtos Na Seção 3.1 estudamos questões relacionadas a estratégias de produtos individuais, como atributos do produto, marcas, embalagens, rótulos e serviços de apoio. Nesta segunda etapa da Unidade, exploraremos a estratégia de produto sob o enfoque coletivo. Em outras palavras, a ênfase desta Unidade é o que podemos chamar de linha de produtos. O que vem a ser, porém, uma linha de produtos? Para Kotler e Armstrong (2000), linha de produto é um grupo de bens estreitamente relacionados por funcionarem de forma semelhante, serem vendidos para grupos de consumidores idênticos, lançados no mesmo mercado por intermédio de tipos simila63 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann res de PDV, ou estarem dentro dos mesmos limites de preço. Para deixar claro esta definição, vamos utilizar o exemplo da Anheuser-Busch InBev, antiga Companhia de Bebidas das Américas (AmBev) (ver Quadro 1). No Brasil, a Anheuser-Busch InBev possui cinco linhas de produtos, que são as seguintes: cervejas, refrigerantes, água mineral, isotônicos e chás. Ao desenvolverem essas estratégias de produtos, os profissionais de marketing enfrentam uma série de decisões a serem tomadas quanto à extensão e modernização da linha de produtos. 3.2.1 EXTENSÃO DA LINHA DE PRODUTOS A extensão da linha de produtos refere-se ao número de marcas que serão postas no mercado. A Anheuser-Busch InBev, por exemplo, possui atualmente no Brasil, 22 marcas em sua linha de cervejas e sete marcas na linha de refrigerantes. As linhas de produtos podem ser ampliadas para baixo, para cima ou nos dois sentidos, conforme apresenta a Figura 4. A ampliação para baixo representa a inserção de novas linhas de produtos, com preço mais baixo e qualidade inferior. A ampliação para cima revela a inserção de novas linhas de produtos com qualidade superior e preço mais alto. Já a ampliação nos dois sentidos revela a intenção da empresa em atingir um grande número de segmentos de mercado. Figura 4: Decisão sobre ampliação de linhas de produtos Fonte: Kotler e Armstrong, 1999, p. 205. 64 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS 3.2.2 MODERNIZAÇÃO DA LINHA DE PRODUTOS As linhas de produtos precisam ser atualizadas constantemente. Exemplos não faltam para mostrar a necessidade de atualização das linhas de produtos, com o passar do tempo. As máquinas colheitadeiras já são capazes de medir a produtividade das lavouras e as necessidades de correção do solo para o próximo plantio. Também possibilitam redução de perdas na colheita e cada vez maior conforto a seus operadores. Empresas que não modernizam suas linhas de produtos, certamente deixarão de existir e vão perdendo lucros, clientes e mercado com o passar do tempo. Quem se lembra da maior produtora de máquinas de escrever do Brasil nas décadas de 80 e 90? Estamos falando da Olivetti, empresa que não conseguiu perceber as necessidades dos seus consumidores, e quando tentou modernizar suas linhas de produtos já não conseguiu mais alcançar os competidores e acabou esquecida. Seção 3.3 Decisões Sobre o Composto de Produtos O composto de produtos é o conjunto de todos os itens e linhas de produto que um determinado fabricante produz. No exemplo, o composto da Anheuser-Busch InBev consiste em cinco linhas – cervejas, refrigerantes, água mineral, isotônicos e chás –, que se desdobram em sublinhas ou famílias de produtos, como você pode ver no Quadro 1. 65 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann AMPLITUDE DO COMPOSTO DE PRODUTOS Linha de Produtos Cervejas Refrigerantes Família Antarctica Antarctica Pilsen Antarctica Pilsen Extra Antarctica Malzbier Chopp Claro Antarctica Chopp Escuro Antarctica Família Guaraná Antarctica Guaraná Antarctica Guaraná Antarctica Zero Açúcar Guaraná Antarctica Ice Guaraná Antarctica Caçulinha Guaraná Antarctica ZON Guaraná Antarctica Diet Família Brahma Brahma Chopp Brahma Extra Brahma Light Brahma Malzbier Líber Chopp Brahma Claro Chopp Brahma Escuro Chopp Brahma Black Família Bohemia Bohemia Pilsen Bohemia Weiss Bohemia Escura Bohemia Confraria EXTENSÃO DA LINHA DE PRODUTOS Família Skol Skol Pilsen Skol Lemon Skol Beats Stella Artois Caracu Kronnenbier Serramalte Polar Export Antarctica Original Belle-Vue Hoegaarden Família Leffe Leffe Blonde Leffe Brown Leffe Radieuse Família Pepsi Pepsi Light Pepsi Twist Pepsi Twist Light Pepsi X Água mineral Água Fratelli Vita Isotônicos Chás Família Gatorade Gatorade Cool Red Gatorade Açaí Guaraná Gatorade Maracujá Gatorade Tangerina Gatorade Limão Gatorade Laranja Gatorade Morango e Maracujá Gatorade Uva Gatorade Frutas Cítricas Gatorade Cool Blue Família Lipton Ice Tea Lipton Ice Tea Pêssego Lipton Ice Tea Pêssego Light Lipton Ice Tea Limão Lipton Ice Tea Limão Light Lipton Chá Verde Família Soda Limonada Soda Limonada Soda Limonada Diet Família Sukita Sukita Sukita Light Família Água Tônica Antarctica Tônica Antarctica Tônica Antarctica Diet Teem Família H2OH! H2OH! Limão H2OH! Limão e Tangerina H2OH! Limão e Maçã Família Franziskaner Franziskaner HefeWeiss Franziskaner Dunkel Franziskaner Kristallklar Löwenbräu Spaten Patricia Norteña Pilsen Quilmes Cristal Labatt Blue Beck’s Quadro 1: Amplitude do composto de produtos da Anheuser-Busch InBev no Brasil O composto de produtos de uma organização tem quatro elementos importantes: amplitude, extensão, profundidade e consistência. A amplitude do composto de produtos da Ambev contém, como já afirmamos, cinco linhas: refrigerantes, cervejas, água mineral, chás e isotônicos. 66 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS A extensão do composto de produtos refere-se ao número total de itens da empresa. Já a profundidade de composto de produtos diz respeito ao número de versões de cada produto que a empresa oferece na linha. Por exemplo: a cerveja “Brahma” é oferecida nas versões Brahma Chopp, Brahma Extra, Brahma Light, Brahma Malzbier e Liber. Figura 5: Apresentação das embalagens das versões da Brahma A consistência do composto de produtos refere-se ao grau de relação entre as várias linhas, em termos de utilização, necessidades de produção e canais de distribuição. Os produtos da Anheuser-Busch InBev possuem um patamar de consistência elevado, pois são bebidas que empregam basicamente os mesmos canais de distribuição. SÍNTESE DA UNIDADE 3 Os gestores de um modo geral e os profissionais de marketing especificamente, tomam decisões importantes sobre produtos individuais, que envolvem os atributos do produto, marcas, embalagens, rótulos e serviços de apoio. Atributos do produto são os benefícios que este pode oferecer aos seus consumidores. A marca é a forma como os produtos são identificados e diferenciados dos demais, similares ou não, por meio de um nome e/ou símbolo. Embalagens e rótulos são importantes porque valorizam a marca, tornando o produto atraente aos olhos do consumidor e afetando diretamente o desempenho e a funcionalidade dele. Já os serviços de apoio aos consumidores podem tornarse fatores decisivos para a escolha de determinada marca. Estratégias de produtos também incluem decisões sobre a linha destes produtos. Podemos definir linha de produtos como o conjunto de produtos relacionados devido a sua funcionalidade, clientes, canais de distribuição e preços semelhantes. As linhas po- 67 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann dem ser ampliadas para cima, com qualidade elevada e preço elevado; para baixo , com qualidade baixa e preço baixo; e nos dois sentidos. Além disso, as linhas de produtos devem ser modernizadas, sob pena de ficarem obsoletas. Empresas também tomam decisões sobre o composto de produtos, que apresenta quatro aspectos importantes: amplitude, que é a quantidade de linhas que a organização disponibiliza aos consumidores; extensão, que é o número total de itens que a empresa produz; profundidade, que se relaciona ao número de versões de produtos de cada linha oferecida; e consistência, que se refere ao grau de relação entre as várias linhas. 68 EaD Unidade 4 GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS GESTÃO DE MARCAS A Unidade 4 é dedicada a aprofundarmos estudos a respeito de marca e imagem de produtos. Veremos como agregar valor às marcas e aos produtos mediante a melhor gestão de processos de marcas e como aproveitarmos uma marca de valor, para estendermos este valor para outros produtos e outras linhas de produtos. A criação de marcas fortes é tão importante quanto a sua propriedade e sua proteção e, por isso, veremos também questões relativas a registros, licenciamentos, propriedade industrial e outros temas. Em muitas organizações a marca é o ativo de maior valor, e é justamente por isso que os profissionais da gestão precisam constantemente empreender ações que valorizem suas marcas, garantindo e aumentando a prosperidade dos negócios. Nesse sentido, iniciamos os estudos desta Unidade abordando a origem e a evolução das marcas, para, só depois, conhecer como uma marca é entendida atualmente (nome e símbolo). Na seqüência vamos demonstrar como uma marca pode suscitar uma comunicação poderosa e como pode se dar o processo de adoção de uma marca. Como não poderia deixar de ser, também dedicaremos uma seção para discutir o tema marcas X Internet, entretanto o assunto não se esgota aí. Ainda estudaremos as extensões da marca, as chamadas marcas próprias e o relacionamento com elas. Por fim, você conhecerá o processo de criação de uma marca e dicas de como mantê-la viva no mercado. Seção 4.1 Origem e Evolução das Marcas Uma das maiores necessidades de quem produz algo que tem sobrando, com o propósito de trocar por algo que deseja e não possui, é promover. Desde a mais remota Antiguidade existiam várias maneiras de promover as mercadorias. Sinetes, selos, siglas e símbolos eram as mais comuns, empregados como um sinal distintivo e de identificação para assinalar animais, armas e utensílios. Naqueles tempos, bem antes que as marcas tivessem adquirido o seu sentido moderno, era costume indicar a procedência do produto. Nos 69 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann ambientes em que vários produtores ofereciam mercadorias semelhantes, logo surgiu a necessidade tanto de ofertantes quanto de compradores, de atestar a excelência do produto e seu prestígio. Para as populações largamente analfabetas da época, o uso de pinturas revelou-se a melhor forma para identificar os comerciantes e as mercadorias que vendiam. Os açougues romanos exibiam a figura de uma pata traseira do boi, os comerciantes de vinho colocavam na fachada de seus estabelecimentos o desenho de uma ânfora, enquanto a figura tosca de uma vaca indicava a existência de um estabelecimento que comercializava laticínios em geral. Na Idade Média, as corporações de ofício e de mercadores adotaram uso de marcas como o procedimento para o controle da qualidade da produção. As chamadas marcas de comércio (trademarks) tornaram possível a adoção de medidas para o ajuste da produção e comercialização de determinados bens a demanda do mercado. E ainda constituíram uma proteção para o comprador, que podia identificar o produtor e resguardar-se da má qualidade que caracterizava grande parte das mercadorias na época. Para as corporações, as marcas tinham também um sentido prático. Os ourives na França e na Itália, os tecelões na Inglaterra e muitos membros das guildas na Alemanha, eram forçados a usar marcas individuais que permitiam às corporações preservar o monopólio e identificar as falsificações ou os artesãos cuja produção estivesse em desacordo com as especificações técnicas da agremiação (Pinho, 1996, p. 11). Foi assim que as marcas individuais tornaram-se obrigatórias para a obtenção de melhores preços e adquiriam, já no século 11, um sentido comercial, com o desenvolvimento das comunidades e cidades e com a divisão de mercado, trabalho e competência. As operações comerciais passaram a ser efetuadas longe do centro produtor, deixando de existir uma relação direta entre o produtor e o comprador. Assim, a marca passou a ser o elemento que estabelece um vínculo entre o fabricante sediado na cidade de origem do produto e o consumidor que está em lugar distante. Além da referida diferenciação do produto, é por meio da marca que o comprador tem assegurada a garantia de qualidade do produto e pode reclamar quando a mercadoria não apresenta as qualidades devidas. No século XVI, as destilarias escocesas embarcavam o uísque em barris de madeira que recebiam a gravação a fogo do nome do fabricante. A marca representava uma garantia de procedência e uma prevenção contra a substituição da bebida por outros sucedâneos mais baratos. As tabernas e pubs ingleses exploraram de maneira engenhosa os símbolos pictóricos no século XVII, usados em associação com o nome do estabelecimento. A placa de uma taberna com o nome Three Saquirrels (três esquilos), por exemplo, era reforçada com o desenho dos animais, uma tradição que permanece até nossos dias. O uso pioneiro da marca como elemento de diferenciação aconteceu na Escócia, em 1835, com a introdução da marca Old Smuggler, criada para designar a linha de uísque que empregava um processo especial de destilação (Pinho, 1996, p. 13). 70 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Inpi Seção 4.2 Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Conceituação Atual de Marca O Comitê de Definições da American Marketing Association estabeleceu em 1960 a definição de marca: “Marca é um nome, termo, sinal, símbolo ou desenho, ou uma combinação dos mesmos, que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou um grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles concorrentes.” Para além dessa definição, marca é também o que memorizamos sobre algo, o que fica na lembrança, o que identifica e o que diferencia uma coisa da outra. Quando pensamos num lugar ou numa pessoa, automaticamente lembramos de algo a respeito; isso é a marca desta pessoa e deste lugar. A marca e a imagem dos produtos segue o mesmo processo na mente de cada um de nós. Para que você possa memorizar um conceito sintético de marca, é possível dizer que ela é sinônimo de um conceito. Então tenha sempre presente que a marca de um produto é o conceito de um produto. Uma marca de um produto é um conjunto formado principalmente por nome da marca, logotipia do nome da marca e simbologia da marca. Vamos ver no Quadro 1, algumas características deste conjunto. Itens do conjunto da marca Nome da marca Logomarca Símbolo da marca Logotipo Imagem da marca Marca registrada Características Nome “fantasia” da organização, produto, grupo de produtos, uma organização ou uma divisão de uma corporação. É o conjunto de elementros gráficos da marca, formada pelo símbolo da marca e o logotipo. É o desenho que representa a marca, gerando a percepção do conceito sobre um produto, grupo de produtos, uma organização ou uma divisão de uma corporação. É um dos elementos gráficos de uma marca, determinado por uma tipografia (tipos de letras) de uma forma característica. É o que vem à memória, o que as pessoas lembram quando lêem ou ouvem o nome da marca, ou vêem algum dos elementos gráficos referentes a ela. É uma marca protegida legalmente, que não pode ser utilizada para fins descritos nas categorias em que ela está registrada no Inpi. Quadro 1: Descrição dos itens do conjunto da marca Fonte: Elaborado pelos autores 71 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann O NOME DA MARCA Os nomes de marcas, apesar de sua grande variedade e quantidade, podem ser agrupados em algumas categorias básicas. Podemos classificá-las em algumas classes que podem ser melhor ilustradas a seguir: 1) marcas baseadas em nomes de pessoas, seja do seu inventor, do titular da patente, do lojista ou de pessoas de alguma maneira associadas ao produto, emprestando-lhes credibilidade, como Madia Marketing, Trevisan Consultores, Channel, Porsche, Harley Davidson, Gillete, Lacoste; 2) marcas baseadas no nome de um local ou região, geralmente onde a organização teve origem, como American Airlines, Aerolineas Argentinas, Swissair, Parmalat. Outros casos são as marcas de origem que emprestam credibilidade às marcas dos produtos, como vinhos de Mendoza (Argentina), do Vale dos Vinhedos (Bento Gonçalves, RS, Brasil) ou da Serra Gaúcha, ou, ainda, como os Chocolates de Gramado (RS); 3) marcas baseadas em nomes científicos, criados a partir de seus componentes, como Tylenol (paracetamol) e AAS (ácido acetilsalicílico) ou, ainda, linha de panelas Starflon (revestimento em teflon), Ovomaltine (ovo e malte), Pepsi (pepsina e nozes de cola); 4) marcas baseadas em nomes de status provenientes de palavras que na origem possuem status, como algumas palavras da língua francesa ou inglesa, como Chef, Ambassador e Minister, ou, ainda, Jonny Walker, Lotus, Cartier, Mondaine, Sony; 5) marcas baseadas em associações positivas e, com alguma freqüência, estabelecidas a partir de histórias reais ou de lendas, como Farroupilha, Missões, Fanta (fantástico), Lego (origem dinamarquesa leg godt, que significa “bem jogado”), Sadia, Marcopolo, Kibon, Nutrela, LG (life’s good, que significa boa vida), Objetivo, Positivo; 6) marcas baseadas em nomes artificiais, que foram criados apenas por terem uma expressão forte ou sonoridade expressiva, não tendo nenhum significado real, como Kodak, Kleenex, OGX, EBX e Exxon. O SÍMBOLO DA MARCA Por mais extraordinário e imaginativo que seja um nome, a marca que ele carrega é mais facilmente incorporada à memória do consumidor se puder ser representada graficamente. Essa representação, se bem feita, pode desenvolver tamanha identidade com o produto que, por vezes, pode ser percebida até mesmo sem o nome. Os sinais gráficos e as cores 72 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS podem fazer com que um consumidor perceba a marca Nike apenas observando aquele seu traço característico. Uma concha estilizada nos faz pensar em um posto de gasolina da Shell, e assim por diante. O símbolo e o logotipo são as formas gráficas e visuais da marca, cujo objetivo principal é torná-la visualmente tangível. É comum as pessoas erroneamente referirem-se ao símbolo como marca ou logomarca. Diz-se freqüentemente: a marca da Coca-Cola ou da Fiat, quando, na verdade, nestes casos, a intenção é a referência ao logotipo da Coca-Cola ou da Fiat. Logos em grego quer dizer conhecimento e também palavra. Typos quer dizer padrão e também grafia. Grafia-da-palavra ou palavra-padrão, portanto. Como você pode constatar nas imagens a seguir, estas duas marcas, por exemplo, possuem logotipos, mas não possuem símbolos, pois suas logomarcas são baseadas unicamente em letras desenhadas de forma única e característica. Figura 1: Logotipo da Coca Cola Figura 2: Novo logotipo da Fiat Da mesma maneira, símbolos também são muitas vezes chamados erroneamente de marcas e é comum se ouvir referência à marca da Chevrolet, da Mercedes-Benz, do Banco do Brasil, do Windows, quando a designação correta seria símbolo. Para ilustrar, veja nas imagens a seguir a diferença dos exemplos destas marcas que possuem símbolos. Figura 3: Símbolo da Chevrolet Figura 5: Símbolo do Banco do Brasil Figura 4: Símbolo da Mercedes Benz Figura 6: Símbolo do Windows XP 73 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Vamos lembrar ainda alguns exemplos de logomarca, quando a marca possui símbolo e quando este é grafado junto com o logotipo. Veja a da Unijuí, Adidas, TV Futura e Intel. Figura 7: Logomarca da Unijuí Figura 8: Logomarca da Adidas Figura 9: Logomarca da TV Futura Figura 10: Logomarca da Intel Muitas companhias costumam revisar regularmente a sua identidade, alterando a fórmula dos seus símbolos para mantê-los atualizados ou modificando a tipologia e as cores, mas os elementos visuais básicos se mantêm durante longo tempo, de uma forma ou de outra. Em certas ocasiões, é preciso trocar os nomes corporativos, e isso obriga a elevados investimentos, implicando em muitas questões de ordem geral e logística. Além disso, é preciso enfrentar a resistência natural das pessoas à mudança. O símbolo pode ser figurativo ou abstrato. O símbolo figurativo é aquele que faz uma representação de uma figura com um significado claro, como o “ninho” da Nestlé (que traduzindo do inglês, significa ninho), a “árvore” da Abril e o “aviãozinho” da Embraer. Figura 11: Exemplos de símbolos figurativos 74 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Um símbolo abstrato não possui um significado predefinido. Essa associação tem que ser “apreendida” pelo consumidor e, por isso, alguns profissionais consideram esse como sendo o formato mais adequado para as marcas, pois prende mais a atenção das pessoas que ficam pensando no significado daquele símbolo. A base para essa afirmação é que não há idéias preconcebidas com relação ao símbolo abstrato. O que for convencionado pela marca é o que vai ficar gravado na cabeça do consumidor, sem interferências ou interpretações pessoais. Vejamos a seguir alguns exemplos de símbolos abstratos: Figura 12: Exemplos de símbolos abstratos Agora que você já entendeu a diferença entre o nome e o símbolo de uma marca, o convidamos a descobrir como uma marca pode ser uma comunicação poderosa para o produto ou empresa. Seção 4.3 Marca é uma Comunicação Poderosa Uma marca comunica a “promessa” de um produto, seu diferencial diante dos concorrentes que o faz especial e único. O gestor da marca deve associar a ela uma personalidade ou uma imagem mental. Assim, poderá “marcar ” a imagem na mente do cliente, isto é, associar a imagem aos atributos do produto. Em função disto, uma marca pode ser um importante elemento temático para o composto promocional, seja na propaganda, na publicidade, no merchandising, nas relações públicas ou na venda pessoal. Quando bem gerida, a marca serve como uma forma rápida para mostrar e dizer aos clientes o que uma organização oferece ao seu mercado. Uma boa marca possui vários níveis de significado, entre eles cultura, atributos e benefícios. Para gerir e estudar marcas, é fundamental entender que marca é mais intangível do que tangível, pois o consumidor de determinada classificação demográfica tem sensações, experiências e percepções diferentes sobre a mesma marca em relação a outro consumidor classificado demograficamente da mesma forma. 75 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Os dados levantados em pesquisa norte-americana, conforme Fascione (2001), revelam a importância que a marca possui para o consumidor final: – 72% dos entrevistados afirmam que estão dispostos a pagar mais de 20% extra pelo valor de uma marca; – 70% dos entrevistados orientam a sua decisão de compra pela marca; – 50% dos entrevistados acreditam que experimentariam novos produtos de uma marca preferida; – 30% das compras são realizadas por indicações de pessoas satisfeitas com a marca, influenciando outras; – 25% dos clientes não se importam com o preços se comprarem de uma marca que lhe conquiste a fidelidade. Assistimos diariamente a uma batalha por um espaço privilegiado em nossas mentes. A cada dia uma quantidade quase que incontável de marcas busca nosso afeto e interesse. Elas estão em todos os lugares e muitas delas já estão ocupando um espaço importante em nossa vida. O seu despertador, o sabonete, o creme dental, a cafeteira, o pão, os fiambres, a manteiga, todos estes elementos possuem marcas importantes na sua vida e o seu dia recém está iniciando. É uma verdadeira passarela de sabonetes, xampus, carros, ônibus, imagens, roupas, comidas, lojas e governos. Sequer conseguimos contar o número de símbolos que passam pelo nosso dia-a-dia. Alguns chamam a nossa atenção, outros passam despercebidos. Nos serviços de som, aparelhos de rádio e televisores, outdoors, jornais e cartazes, há uma luta árdua pela nossa atenção, simpatia e apreço. Cada ação de promoção de marca envolve símbolos, logotipos, logomarcas, cores, traços, relevos, numa combinação pela busca dos nossos sentidos, emoções e sonhos, invadindo nossa vida buscando nossas mentes e nosso dinheiro. Hoje não é mais concebível um mundo sem marcas e símbolos. Necessitamos das marcas para nos orientar, identificar, diferenciar o que é melhor para cada um e fundamentar nossas escolhas. Desde criança arquivamos imagens de marcas enquanto brincamos, aprendemos e nos desenvolvemos. Muitas marcas se foram e não nos “marcaram”; muitas foram lampejos; mas muitas fazem parte da nossa história e mesmo aquelas que não estão mais presentes nas prateleiras, povoam as nossas memórias e emoções. 76 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Seção 4.4 O Processo de Adoção das Marcas Em princípio, todas as nossas decisões em termos de aquisição de um produto ou utilização de um serviço, obedecem a uma seleção de rigor e critério. Esta seleção incide, em primeiro lugar, sobre a gama de produtos que vamos utilizar para satisfazer às necessidades que sentimos, e é baseada nos benefícios que encontramos nas várias séries dos produtos disponíveis. Encontrado o tipo de produto que necessitamos, passamos à segunda fase do processo de decisão: a seleção daquele que vamos adotar. Os critérios têm a ver com dois tipos de fatores: os atributos que cada consumidor valoriza em cada decisão e a sua ordem de prioridades; e, a seguir, a classificação em cada atributo para as várias alternativas de produto disponíveis. A escolha do produto A ou B resulta, assim, do valor atribuído pelos clientes a cada produto, ditando o racionalismo em que cada consumidor escolhe o produto mais valorizado no seu processo próprio de avaliação. Os critérios de escolha poderão ser: o sabor, a embalagem, o aroma, o preço, o status, a disponibilidade, o prazo de entrega e, principalmente, a identificação com os valores que o produto representa. É preciso ter sempre presente que, para cada cliente, o valor de cada um destes atributos é diferente, tal como é diversa a valorização que ele atribui a cada produto, e como também será diferente a sua decisão final, tanto em termos da escolha do produto como da força ou inflexibilidade dessa escolha. É preciso frisar que este processo ocorre em nossa mente de forma automática, tal como o condutor de um veículo que realiza uma ultrapassagem, pois, para tomar a decisão de ultrapassar, deve medir a velocidade e a aceleração do veículo que conduz, a velocidade do veículo que pretende ultrapassar, a distância a percorrer e, caso encontre um veículo em sentido contrário, a sua velocidade e aceleração. Todos nós, no entanto, fazemos ultrapassagens sem fazer exatamente estas medições e cálculos, mas levando todas estas variáveis em consideração. Consumimos marcas e não produtos Observamos a todo o momento consumidores que escolhem o produto A sem qualquer hesitação, e que recusam até experimentar o produto B, quando o A não está disponível. Os chamados testes cegos, os blind-tests (estudos em que o consumidor deve identificar o produto baseado apenas nas suas características intrínsecas, isto é, sem embalagem, cor, etc.), no entanto, mostram que, sem marca, os consumidores mais fiéis não conseguem identificar diferenças. 77 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Você mesmo pode realizar um destes testes com seus amigos, colegas e familiares. Para o teste é importante que haja um número significativo de pessoas, portanto sugere-se um número acima de 20. Convide-os para um teste de percepção de sabor. Sirva Pepsi e CocaCola à mesma temperatura, em copos brancos de igual tamanho, sem que eles vejam você servindo. Identifique os copos apenas com 1 para uma marca e 2 para a outra. Depois, peça para eles identificarem qual é Pepsi e qual é Coca-Cola. Você vai observar que mesmo os mais fiéis fãs de uma e de outra, têm grande dificuldade de identificá-las apenas por características como sabor, por exemplo. A explicação é simples e está nas marcas, ou seja, tudo aquilo que vai além das características do próprio produto e que lhe concede personalidade. Um produto é um objeto inanimado que apenas desempenha a função que lhe está destinada, como lavar a roupa, tirar a sede ou transportar pessoas. Uma marca é um ser vivo, com personalidade e idade, com estados de espírito e opiniões. Continuando no exemplo, enquanto a Coca-Cola se posiciona e é reconhecida como tradicional, a Pepsi se posiciona e é reconhecida como irreverente. O que nós consumimos não são produtos, são marcas, são imagens que fabricamos no nosso consciente e subconsciente, estando ligadas obviamente a realidades concretas que são os produtos, mas que os ultrapassam em muito. As percepções geradas sobre as várias marcas disponíveis determinam as decisões de consumo. As marcas não se criam de um dia para o outro, e uma vez estabelecidas é difícil a sua alteração. Resultam de todas as percepções que o consumidor vai acumulando sobre um produto e são construídas lentamente, com um número crescente de registros nas mentes dos clientes, como o próprio produto com as suas características e desempenho, o preço que é vendido e todos os esquemas de descontos ou promoções que são efetuados, os locais onde é vendido e a forma como essa venda é efetuada e, finalmente, toda a comunicação que é realizada, em todas as suas vertentes. Veja que uma marca resulta de todo o composto do mix de marketing, que foi recordado na Unidade 1. A alteração de qualquer item deste composto poderá melhorar a aderência da marca às expectativas do consumidor, bem como poderá piorá-la. Tal como gostamos ou não de uma pessoa, mesmo não sabendo exatamente definir os motivos, também a marca de um produto resulta de um conjunto de elementos na maior parte dos casos indefinível, mas que rege todo o processo de decisão e relacionamento dos consumidores. Em conseqüência é necessário fazermos um esforço para entender muito bem como são percebidas as marcas que temos sob nossa gestão. Se não o fizermos, mais cedo ou mais tarde daremos um passo errado (no produto, no preço, na distribuição ou na comunicação) e perderemos o nosso ativo mais precioso. 78 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS O valor de uma marca constrói-se ao longo do tempo e não Perenidade é facilmente abalado. A sua gestão, no entanto, requer muita Permanente atenção para que o consumidor se mantenha fiel. Avaliando a imagem e a personalidade da marca O conjunto das nossas percepções globais, a combinação de identidade e personalidade é que criam permanência ou não de marcas nas mentes de seus usuários em potencial e afetam o seu processo de escolha-decisão. A personalidade, neste contexto, é uma representação dinâmica de características implícitas – as simbologias – pelas quais os indivíduos procuram e obtêm satisfação pelo uso das marcas. É preciso lembrar que pessoas diferentes procurarão satisfações diferentes, supridas por marcas diferentes que possuem personalidades diferentes. (Shimp, 1993) Os hábitos de cada pessoa e o momento vivenciado, são chaves para entender por que elas elegem as marcas que escolhem e como chegam a tais opções. Por exemplo: as pesquisas indicam que há um número grande de pessoas que afirmam que bebem cerveja Kaiser, em casa, fato que pode ser comprovado pela forte venda desta marca há mais de 20 anos, em supermercados. Estes mesmos consumidores, em determinados bares e restaurantes, consomem outras marcas, afirmando publicamente que são suas preferidas. Para avaliar a imagem e a marca, cada fator é mesurado em função dos seus índices de consistência e perenidade. Pelos escritos de Pinho (1996), pode-se afirmar que normalmente são levados em conta os fatores como liderança, estabilidade, tendências, suporte e proteção, para esta avaliação da marca. A liderança de uma marca em um setor significa maior estabilidade e maior potencial de rentabilidade em relação a seus concorrentes. Lembrando das leis do marketing de All Ries e Jack Trout, ser a marca líder na mente dos clientes é algo muito poderoso na influência da tomada de decisão. A estabilidade ao longo do tempo garante maior fidelidade do consumidor e, conseqüentemente, maior valor para a marca. O mercado é assinalado em função de estar sujeito, em maior ou 79 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann menor grau, a mudanças devido à moda ou inovações tecnológicas, como é o caso, respectivamente, dos mercados de confecções e produtos eletrônicos e dos mercados de alimentos e bebidas. As tendências a longo prazo da marca no mercado indicam a sua capacidade de manter a preferência do consumidor e são indicativas de valor. O suporte recebido na forma de investimentos mercadológicos ou de outra natureza valoriza, a marca em detrimento daquelas que não merecem a atenção continuada dos seus proprietários. A proteção da marca mediante registro e eventuais patentes de processos de produção, redunda em maior valor para ela. Veremos na Unidade 6 esta questão estratégica para a marca. Há várias fontes que discorrem sobre as marcas mais valiosas do mundo. A pesquisa da consultoria britânica Brand Finance (2007) estimou os seguintes valores das marcas mais valorizadas: Marcas Valores estimados (em US$) Coca-Cola 43,146 bilhões Microsoft 37,074 bilhões Citibank 35,148 bilhões Wal-Mart 34,889 bilhões IBM 34,074 bilhões HSBC 33,495 bilhões General Electric 31,850 bilhões Bank of America 31,426 bilhões Hewlett-Packard 29,445 bilhões Marlboro 26,990 bilhões Quadro 2: Estimativa de valores das mais valiosas marcas mundiais Fonte: Pesquisa da consultoria britânica Brand Finance, 2007. Para Aaker (1998, p. 61), o conhecimento da marca pode ser definido como: a capacidade de o consumidor reconhecer ou lembrar que uma marca pertence à certa categoria de produto. Essa capacidade pode oscilar desde um vago sentimento de que a marca é conhecida, até a crença de que ela é a única em determinada classe de produto, o que pode ser representado em três diferentes níveis de conhecimento. 80 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Estes três níveis estão retratados na Figura 13 e são o reconhecimento às marca, a lembrança da marca e o top of mind. Top of Mind Primeiro na mente – índice de lembrança em primeiro lugar. Figura 13:– Níveis de reconhecimento da marca Fonte: Aaker, 1998, p. 62. A identificação do nível de reconhecimento da marca pelos testes ou pesquisas de recall, pode ou não ser estimada pelo entrevistador, o reconhecimento da marca é verificado com a apresentação do entrevistado, de um conjunto de marcas de uma determinada categoria. Diante do pedido para que identifique as marcas das quais já ouviu falar antes, o entrevistado irá revelar os nomes que reconhece dentro daquela categoria de produto, e que constituem o nível mínimo de conhecimento da marca (Pinho, 1996). O segundo nível, de lembranças da marca, é obtido com a pergunta que levanta o conhecimento espontâneo total das marcas. O entrevistador solicita que enumere as marcas conhecidas dentro de uma categoria de produto, sem ajuda, listas ou relação prévia de nomes. A primeira marca que for lembrada pelo entrevistado corresponde ao Top of Mind, uma posição predominante que ocupa o terceiro nível no conhecimento da marca (Pinho, 1996). 81 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann O Top of Mind pode ser levantado com uma pergunta direta: “Qual é a primeira marca que lhe vem à cabeça quando se fala em.?”. Esta questão é empregada para cada categoria de produto da pesquisa anual do Top of Mind, do Datafolha Instituto de Pesquisas, que revela as marcas mais lembradas pelo consumidor brasileiro. No Quadro 3 você pode verificar a relação das marcas corporativas mais lembradas na pesquisa Top of Mind 2008, no Estado do Rio Grande do Sul. Categoria de Marca Corporativa Top of Mind Rio Grande do Sul Grande empresa do Estado Gerdau, RBS, GM, Marcopolo, Tramontina Banco Banco do Brasil Cartão de Crédito Visa Companhia Aérea TAM Concessionária de Estradas Concepa Farmácia Panvel Loja de Calçados Paquetá Loja de Eletrodomésticos Colombo Loja de Material de Construção Tumelero Loja de Roupas Lojas Renner Montadora GM Operadora de Telefonia Celular Vivo Operadora de Telefonia Fixa Brasil Telecom Plano de Saúde Unimed Previdência Privada Gboex Rede de Posto de Gasolina Ipiranga Supermercado BIG Time de futebol Grêmio Transportadora Mercúrio Universidade Ulbra Quadro 3: Top of Mind RS 2008 – Marcas Corporativas Fonte: Revista Amanhã, 2008. O Quadro 4 apresenta a relação das marcas de produtos mais lembradas na pesquisa Top of Mind 2008, no Estado do Rio Grande do Sul. 82 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Categoria de Marca de Produto Água Mineral Aparelho de DVD Aparelho de TV Arroz Automóvel Biscoito Calçados Caminhão Cerveja Cimento Computador Eletrodoméstico Erva-Mate Ferramentas Frango Garrafa Térmica Inseticida Leite Máquinas Agrícolas Massas Motocicleta Móveis Perfume Pisos e Azulejos Pneu Refrigerante Talheres Telefone Celular Tênis Tintas Uísque Vinho Top of Mind Rio Grande do Sul Sarandi Philips Philips Tio João Gol Isabela Azaléia Mercedes-Benz Skol Votoran LG Consul Vier Tramontina Doux Frangosul Termolar SBP Elegê Massey Ferguson Isabela Honda Carraro Natura Eliane Pirelli Coca-Cola Tramontina Nokia Nike Renner Natu Nobilis Canção Quadro 4: Top of Mind RS 2008 – Marcas de Produtos Fonte: Revista Amanhã, 2008. Outra categoria da pesquisa é a Top of Mind Executivo, também do Instituto Datafolha, na qual são separados e considerados apenas os votos dos executivos de organizações de diversos setores. O Quadro 5 apresenta a relação das marcas mais lembradas por este segmento em 2008, no Estado do Rio Grande do Sul. Categoria de M arca Top Executivo Carro de Luxo Consultoria de G estão Corretora de Ações Em presa de Logística Em presa de Software de G estão Espum ante M BA Notebook Private Banking Relógio Top of Mind Rio G rande do Sul BMW Bain & Com pany e Mckinsey G eração Futuro ALL SAP M . Chandon FG V (Fund. G etúlio Vargas) Sony Citibank Rolex Quadro 5: Top of Mind RS 2008 – Top Executivo Fonte: Revista Amanhã, 2008. 83 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Conforme você observou, o Top of Mind é um tipo de pesquisa que pode ser realizada por diversas empresas e institutos devidamente habilitados para esta função. Existem pesquisas Top of Mind por cidades, regiões e categorias profissionais. Lembre-se que a pesquisa Top of Mind identifica a marca líder na mente dos entrevistados no período de coleta dos dados. Seção 4.5 Marcas Fortes na Internet As primeiras homepages foram os sites institucionais, que eram muito parecidos com os portfólios em papel e contavam a história da empresa, o curriculum dos executivos e mostravam produtos, além dos dados financeiros, etc. Embora o mercado esteja evoluindo rapidamente, existe ainda, no Brasil, a cultura de que os websites são veículos de mídia, úteis apenas para divulgar a imagem das empresas e “entrar na onda” da Internet. O fato de a Internet ser uma excelente fonte geradora de negócios, relacionamentos e canal digital de posicionamento de marcas, empresas e pessoas, é pouco explorada, sendo pouco trabalhada e, principalmente, nada estruturada pela maioria dos profissionais que vendem e compram esses serviços. Kotler (2008), diz que a Internet não é apenas mais um canal que se acrescenta aos já existentes. Ela é uma verdadeira oportunidade de reinventar as empresas, dada a sua base de criação de relacionamento com os consumidores. Como os anunciantes estão cada vez mais interessados em usar o marketing de relacionamento, ou marketing customizado, o autor diz que a Internet traz implicações cada vez mais extraordinárias na vida das empresas e pessoas. O primeiro obstáculo que as empresas devem superar ao posicionarem sua marca na Internet, é o fato de dedicarem muito mais tempo à gestão da marca que elas são e muito pouco da marca que elas virão a ser. É preciso lembrar que a Internet é um espaço multimídia, de uso simultâneo de dados em formas diferentes de mídia (texto, animações, voz, imagem, etc.), o que faz com que os computadores sejam um meio de as pessoas tocarem o mundo por intermédio dos seus sentidos. Conforme já vimos, a relação das pessoas com as marcas são sensoriais, sustentadas por aspectos intangíveis de análise. Os consumidores já se utilizam das ferramentas da multimídia no seu processo de comunicação e consumo. Conseqüentemente, essa habilidade de comunicação multimídia auxilia no processo de construção das associações de marcas, uma vez que é possível absor84 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS ver informações de maneira muito mais rápida, e com menores chances de as pessoas serem embaralhadas pela mídia convencional, que “joga” informações sobre as marcas no mercado sem que as pessoas tenham tempo adequado para avaliar a mensagem. Aliás, é preciso lembrar, também, que os grupos de consumidores interessados em digerir e entender aquilo que recebem da comunicação é cada vez menor. As tecnologias de comunicação e o franco acesso aos meios de se atingir conhecimento, facilitam as escolhas dos consumidores ao mesmo tempo em que vão criando novos hábitos, exigências e posturas diante dos canais convencionais de vendas. Isso libera as pessoas das suas restrições de tempo, permitindo o acesso a mais informação sobre mais marcas e empresas, em muito menos tempo, com muito mais economia e melhor qualidade de vida. Logo, a Internet, como meio de divulgação e promoção de marcas, fará com que a relação das pessoas com as suas marcas seja uma conjunção de experiências, trocas, percepções, tentativa e erro, pensamento e experiência, tudo simultaneamente, no mesmo lugar. As ferramentas para a construção de marcas na Internet, também chamadas cyberbrands, não diferem muito daquelas necessárias para construir as marcas de origem. Na Internet, o fato mais importante para as pessoas são as experiências do aqui e agora. As ações diante da tela produzem imediatamente inspirações e idéias. O ato de pensar não precisa mais ser precedido do ato de fazer. Ao contrário, as idéias nascem da interatividade entre as pessoas, as máquinas e as sensações que experimentam em cada sessão de navegação. Seção 4.6 As Extensões da Marca Extensão de marca, ou brand extension, é um tema que está (ou deveria estar) na agenda de 9 entre 10 gestores atualmente. Há uma necessidade evolutiva de crescimento nas organizações atuais. Tudo indica que crescimento é um dos dispositivos de adaptação e seleção natural. Não crescer é um sinal de que algo não vai bem. É preciso muito cuidado, porém, com estratégias de crescimento, pois são equações que admitem múltiplas soluções, e uma delas é a extensão de marca (Troiano, 2008). Estender a marca significa utilizar a mesma plataforma de reconhecimento que ela já tem no mercado, para lançar e desenvolver outros produtos ou linhas de produtos. Depois de longos períodos de investimentos intensivos na construção de uma imagem reconhecida e sólida, nada mais natural do que aproveitá-la para expandir negócios em outras áreas. 85 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann É preciso, no entanto, não confundir extensão de marca com extensão de linha de produtos. Já estudamos o assunto linha de produtos na Unidade 3. Extensão de linha é algo mais simples, que não tira a marca de seu hábitat natural. Um fabricante de sucos que lança um novo sabor, ou um fabricante de televisores que lança um modelo maior ou com funções inovadoras, está praticando extensões de linha. Ou seja, eles conduziram um processo de ampliação de negócios dentro do mesmo território original. Desodorantes que sejam apenas variantes de fragrância do produto original, também são apenas extensões de linha. Extensões de marca obrigam a marca a penetrar em novos territórios de negócios. Extensão de marca é um processo bem mais complexo do que extensão de linha, pois obriga a empresa a descobrir formas de operar com o mesmo profissionalismo em áreas novas, onde ela ainda caminha com menos conhecimento do terreno. A Coca Zero é uma extensão de linha; já os tênis, as calças, as camisetas e outros produtos da Coca-Cola, são exemplos de extensão de marca, juntamente com a Bradesco Seguros, a Editora Unijuí e o Consórcio Quero Quero. A extensão de marca obriga a um desenvolvimento intelectual e de inteligência de mercado para que, entrando na nova área, a marca não seja “engolida” pelas que já dominam aquele setor. Algumas empresas preferem compartilhar os atributos da marca em segmentos em que o público-alvo seja o mesmo. Toddynho, da Pepsico, por exemplo, elaborou suas extensões a partir do conceito de portabilidade. Aproveitando a credibilidade conquistada entre mães e filhos, além do leite achocolatado, a marca foi estendida para bolinho e sobremesa, que podem ser levados facilmente nas lancheiras para escolas ou qualquer outro lugar, oferecendo praticidade para quem não pode priorizar tempo para o preparo e armazenamento da merenda dos filhos. Apesar das dificuldades e ameaças, as recompensas das extensões de marca são enormes como ferramenta de expansão de negócios. A chamada brand extension é uma ferramenta de expansão de negócios muito atraente por motivos fáceis de entender. O primeiro deles é a comparação entre os custos envolvidos no processo, confrontados com os que são necessários para começar uma nova marca do zero, no novo setor de negócios. Algumas pesquisas indicam que aproximadamente 80% dos bens de consumo e bens duráveis no Brasil, são extensões de alguma marca já existente. O movimento frenético de extensões de marca demonstrou que as empresas optaram por este caminho e não pelo da criação de marcas novas (Troiano, 2008). O segundo motivo que torna extensão de marca um processo muito atraente e tentador, é o fato de que ele pode fortalecer a própria marca-mãe. Extensões não são apenas uma ferramenta de abertura de novos territórios para os produtos da marca. São também um 86 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS dispositivo para o desenvolvimento do poder da marca original. Trata-se de uma engenhosa ferramenta para incrementar o valor deste ativo; não só de um ponto de vista mercadológico, mas também financeiro. Extensões incrementam o fluxo de caixa gerado pela marca, por meio de seus novos produtos. O raciocínio é relativamente simples. O valor econômico de uma marca, como de qualquer outro ativo, depende dos fluxos de caixa que ela é capaz de gerar. Uma família de produtos sob a mesma marca, é uma geradora de fluxos de caixa naturalmente maiores do que a marca com um único produto isoladamente (Troiano, 2008). O terceiro motivo se aplica particularmente ao mercado business-to-consumer. Espaço para colocação de produtos no varejo é uma conquista cada vez mais árdua. Marcas já existentes, que disponham de reconhecimento e prestígio, têm muito mais abertura para conquistar espaços. Sua credibilidade e seu relacionamento com o cliente, gera muito mais segurança, do que os riscos de uma marca desconhecida. Se você trabalha com produtos de consumo, conhece bem a saga para abertura de novos espaços de gôndola nas redes do varejo. A extensão de uma marca já conhecida e respeitada torna as negociações mais suaves e aumenta as chances de abrir espaços nas prateleiras das lojas e supermercados, com menos investimentos. O quarto e último motivo é o relacionamento com consumidores, fazendo com que a marca possa acompanhá-lo em outras categorias de produto além daquela em que ela atua originalmente. Extensões de marca aumentam o valor que cada cliente ou consumidor tem para a empresa e, por isso, deslocam o eixo de preocupações mercadológicas: de uma disputa por market share para um esforço de consolidação nas relações mais permanentes com os “mesmos” consumidores. Em última instância, brand extension é uma das formas supremas de prestação de serviços: a marca está pronta para atender seu consumidor, no limite, onde quer que ele esteja (Troiano, 2008). Podemos dizer que estamos no século das grandes famílias de produtos. Nos próximos anos teremos um novo e fascinante mundo de concentração em torno de “marcas-mãe”, que estarão mais poderosas do que nunca, cercadas de uma ampla “prole”. Há armadilhas que espreitam a marca nos novos territórios para onde ela está se deslocando, e é por isto que nem sempre as extensões são bem sucedidas. Embora não estejamos apresentando uma receita, expomos algumas providências consideradas essenciais para escapar destes perigos potenciais: 1. A primeira e mais crítica: identificar se a marca tem natural autoridade para atuar no novo mercado. É o fator avaliado quando um consumidor chega a um supermercado, por exemplo, e alguém indica a ele um novo produto de uma marca já existente. Surpresa, a pessoa diz: “Ué, mas já não tinha?” Quando a afinidade entre a marca-mãe e seus filhotes é clara, a mente dos consumidores já está previamente preparada para aceitar naturalmente o novo produto da marca. E imaginem o que se economiza em custos de marketing e comunicação em casos como este. 87 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann 2. A segunda providência é cuidar com o excesso de velocidade. Não é possível acomodar na cabeça dos clientes, prospects e suspects, uma avalanche de novos produtos em pouco tempo. Grandes empresas que tentaram (e algumas outras continuam tentando) não tiveram sucesso e foram obrigadas a voltar atrás. Quando esta regra não é obedecida, a “multa” é a seguinte: o desejado efeito de sinergia entre os “filhotes” fica comprometido pela velocidade acelerada. Muitas marcas importantes e poderosas ainda nem começaram a percorrer este trajeto promissor. Tornar a marca ainda mais poderosa, multiplicar negócios com a sua franquia, rede, ou distribuídos, preservar mais clientes por mais tempo: Alguém pode imaginar algo melhor do que isto? É preciso lembrar, ainda, sobre a importância da proteção legal das marcas. As empresas que queiram fazer a extensão de suas marcas necessitam, antes de tudo, ter a preocupação jurídica de regularizarem seus contratos sociais incluindo o segmento de mercado pretendido. Antes de pensar em estender a marca, é fundamental verificar se ela está devidamente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi), nas classes em que a empresa pretende estender suas linhas de produtos e atuação. Detalhes sobre registro de marcas e patentes, conforme já comentado, estudaremos na Unidade 6. Seção 4.7 Marca Própria – uma Extensão da Marca do Varejo O varejo está caminhando a passos largos na direção de uma fatia crescente de mercado, que era, tradicionalmente, da indústria. Os produtos fabricados ou embalados com as marcas dos próprios varejistas, as chamadas marcas próprias, ganham cada vez mais espaço nas prateleiras e na decisão de compras, começando a ocupar um espaço destinado às marcas tradicionais em todos os segmentos. De acordo com o 13º Estudo de Marcas Próprias da Consultoria Nielsen, os brasileiros optam cada vez mais por produtos de marca própria, tanto que o volume de vendas está estimado com um crescimento de 25% ao ano, enquanto as marcas tradicionais registraram crescimento de 8,4%. Algumas das empresas que desenvolvem marcas próprias criaram uma associação, chamada Associação Brasileira de Marcas Próprias (Abmapro). Esta organização revela, em seus estudos, que este mercado deve crescer ainda mais, porém sem tomar mercado das marcas tradicionais. Os empresários do varejo afirmam que a marca própria não tem nenhuma intenção de bater os produtos multinacionais. Para saber mais sobre a Abmapro visite o site <www.abmapro.org.br>. 88 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS A seguir descrevemos alguns dos tantos exemplos que podemos encontrar no nosso dia-a-dia, cada vez mais repleto das marcas de varejo nos produtos que consumimos. A rede de supermercados Carrefour possui uma linha com 400 itens de presentes, decorações e utensílios de cozinha. Com preço médio 10% mais barato do que os líderes, tem como posicionamento diferenciar-se pelo design. A rede Pão de Açúcar está construindo uma unidade de suas lojas destinada a vender apenas marcas próprias. Há redes na Inglaterra que tem 70, 90 e até 100% dos produtos com marca própria. O interessante é que lá eles já estão numa fase na qual a marca própria vai buscar produtos com novas tecnologias, que, às vezes, nem os líderes possuem. O crescimento das marcas próprias deve-se principalmente, aos investimentos em qualificação realizados nos últimos anos. Apesar, entretanto, de o produto sinalizar qualidade pela embalagem e pelo posicionamento no ponto-de-venda, perde-se um pouco porque ele está geralmente no meio de uma prateleira cercado de marcas mais conhecidas e, portanto, mais fortes na disputa pela atenção do cliente. As marcas próprias tiveram uma primeira fase nos anos 70 e aconteceu no Brasil o que já havia ocorrido em vários países algumas décadas antes, com produtos intitulados de marca branca, pois sequer marca eles tinham. Não havia preocupação com qualidade e era um produto considerado “de combate”. Os gerentes de marcas grandes, marcas de produto, dos bens de consumo imediato costumavam ter uma atitude de superioridade em relação aos varejistas, considerando-os por décadas como seu canal para o mercado. Quando os varejistas cometeram a temeridade de lançar produtos com seus próprios nomes, esses esforços foram considerados com desprezo como “marcas vazias” (Cheverton, 2007, p. 52). A segunda fase no Brasil é considerada nos anos 90, quando os produtos começaram a ganhar marca, com uma pequena preocupação com a sua qualidade. O conceito de produto genérico foi uma resposta das grandes redes de supermercados e hipermercados à crescente motivação do consumidor em relação ao preço, em uma época de forte retração econômica. Sem os custos elevados da embalagem, rotulagem e proteção legal, os produtos sem marca possibilitaram preços mais baixos do que os artigos similares sem marca, adaptando experiências já consolidadas na Europa e Estados Unidos (Pinho, 1996, p. 22). Hoje chegamos numa terceira fase na qual o produto tem todos os pré-requisitos de marcas tradicionais no mercado, com uma preocupação muito grande de embalagem. O fato de a marca própria ter um diferencial de preço pode sinalizar que ela não tenha uma qualidade ideal, mas essa diferença no preço é fruto do enxugamento do custo, porque os produtos de marca própria não têm investimento em mídia, nem em marketing e tampouco na área comercial, pois é vendido nos pontos-de-vendas dos donos das marcas. 89 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Tavares (1998) cita que o crescente número de concorrentes não provoca pressão apenas nos preços, mas também nos ganhos e manutenção da participação de mercado, na redução do tempo de inovação e na intensificação da imitação. O diferencial nos preços também é citado por Pinho (1996, p. 23), da seguinte forma: Os produtos com marcas dos hipermercados custam normalmente entre 5% e 15% menos do que as marcas líderes de mercado e, adicionalmente, trazem inúmeras vantagens ao consumidor e ao varejista. A venda é mais fácil, por ser uma alternativa mais econômica, sem prejuízo da qualidade. As marcas próprias ainda conseguem atrair novos fregueses para as lojas, já que os preços baixos permitem promoções constantes. Enfim, representam um diferencial perante a concorrência, contribuindo para reforçar a identidade do supermercado junto ao público. Cada varejista tem a sua estratégia de acordo com o público que atende. Partindo do princípio da qualidade, é como comparar um automóvel Gol com um automóvel Mercedes. Os dois têm qualidade de acordo com o público específico. Cada um tem valores e exigências exclusivos. Por isso não existe concorrência direta entre marcas próprias porque ela atende a primeira lei do varejo, que é a concorrência na prateleira. O mais importante de um produto de marca própria é saber claramente como ele vai ser posicionado no mercado. Especula-se que as marcas próprias têm muito mercado para expandir ainda, especialmente porque há uma fatia crescente de clientes fiéis aos PDVs, a sua loja, ao seu supermercado, a sua farmácia. Para crescer, no entanto, são necessárias indústrias com capacidade instalada para atender a marca própria em todos os segmentos, inclusive nos com tecnologia avançada. É preciso também fornecedores que entendam que marca própria é uma unidade de negócio, não para ocupar capacidade ociosa, o que é uma realidade atual, em muitos casos. É necessário, ainda. considerar que, para fazer marca própria, precisa haver volume para reduzir custos. O volume é um gargalo, pois podemos observar que somente redes como Panvel, Agafarma, Farmais, Wall Mart, Renner, Carrefour, Makro, estão com uma gama importante de produtos com marcas próprias. O grande desafio destes grandes varejistas é chegar nas classes C, D e E, nas quais está o maior volume de compras em marcas próprias. Não tem como fazer marca própria para um pequeno supermercado, por exemplo, porque o volume não permite um preço competitivo. Mesmo assim, nos últimos cinco anos, vem crescendo a marca própria nos segmentos que se uniram em redes de cooperação. Como essas redes têm até 60 varejistas muitas vezes compartilhando parte das compras, promocionais de vendas, fornecedores, sistemas, com uma bandeira única, há possibilidade de se fazer marca própria para eles. Será que o surgimento e o crescimento das marcas de varejo implicam o declínio e a queda da marca registrada ou marca de produto? Muito provavelmente não, desde que os fornecedores reconheçam o desafio e evoluam suas marcas de modo correspondente. 90 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Não se deveria supor que os varejistas façam tudo como bem entendem. Seus clientes têm determinadas expectativas do que vão encontrar na loja, especialmente com relação a determinadas marcas, suas favoritas, os grandes, as que foram recém-promovidas, e se forem desapontados podem simplesmente ir comprar em outra loja. Nesse sentido, um supermercado sem coca-cola é como um bar sem cerveja (Cheverton, 2007, p. 57). Seção 4.8 Relacionamento com as Marcas Uma das conclusões do Índice de Conexão Humana das Marcas (ICHM), lançado pela consultoria de marca Sart Dreamaker, conforme Neto (2009), é que os consumidores apresentam maior afinidade com marcas dos segmentos de bens duráveis e consumo e que expressam a brasilidade em sua identidade. A pesquisa, que deverá ser atualizada anualmente pela consultoria, busca descobrir o poder de influência de uma marca sobre o consumidor. O índice parte inicialmente de uma base de 500 marcas que, após uma pré-seleção, diminuiu para 80, que são avaliadas. No resultado final, a Coca-Cola lidera a lista, com 82,5 pontos (em uma escala que vai até 100), seguida por Nestlé (77,5), Sadia (75,1), Natura (73,5) e Rede Globo (72,7). Para os pesquisadores, a liderança ocupada pela marca de refrigerantes não é nenhuma surpresa, pois a Coca-Cola sempre aparece no topo em listas de lembrança e afinidade com marcas. Ainda segundo os textos de Neto (2009), para a Sadia, boa distribuição e pós-venda explica seu bom resultado. A terceira colocada no ranking credita o sucesso ao cuidado com o consumidor em toda a sua cadeia produtiva, afirmando que a marca sempre esteve presente na vida do consumidor, graças aos mais de 100 mil pontos-de-venda. O sucesso também é atribuído ao pós-venda, que inclui o primeiro Serviço de Informação ao Consumidor do setor de alimentos no Brasil, criado em 1982, nove anos antes da vigência do Código Nacional de Defesa do Consumidor. A boa posição de marcas de cosméticos, com Natura em quarto e Boticário em nono, é uma boa surpresa, pois, no entendimento de Neto (2009), os pesquisadores tinham a expectativa de que as marcas de alimentos e bebidas apresentariam os melhores resultados, mas apenas seis marcas do setor aparecem entre as 20 melhores. Na pesquisa a Rede Globo ficou em quinto lugar e a Editora Abril em 17º. Curiosamente, as marcas de cervejas, tão anunciadas, não aparecem na pesquisa de afinidade. No entendimento dos pesquisadores, isso deve-se ao fato da “forte sensação de medo nessa relação” entre o produto e o consumidor. 91 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Finalizando a avaliação, Neto (2009) afirma que outra descoberta da lista é a maior aceitação de marcas que expressam a brasilidade em sua identidade. Isso explica a boa posição da Natura em quarto, assim como da Petrobras em vigésimo terceiro. O Banco do Brasil lidera pelo mesmo motivo no setor financeiro. No geral, as marcas nacionais e internacionais têm uma presença aproximada na lista, com as brasileiras ocupando 54,6% do total. As marcas podem gastar milhões para incentivar seus clientes a interagir com elas e obter muito pouco retorno. Parece simplesmente que algumas marcas são simplesmente mais adequadas em níveis superiores de interação e níveis superiores de resposta emocional do que outras. A resposta não está no orçamento promocional (pelo menos, não a princípio) mas às circunstâncias do cliente como comprador, e com isso condiciona a percepção deles (Cheverton, 2007, p. 28). Para conseguir uma melhor conexão humana com o consumidor, os pesquisadores aconselham que é preciso não apenas ouvir os seus consumidores, mas os da concorrência, além de observar o que os seus competidores estão fazendo. Por exemplo: o melhor celular do mercado perdeu o sentido nos mercados que já possuem iPhone. O produto tinha um benefício muito bom até alguém lançar um produto inovador, extraordinário. Lembre-se: você deve estar sempre muito atento à influência das outras marcas na sua. A MARCA COMO SÍMBOLO DE LEALDADE As marcas, quando bem relacionadas com os seus públicos, podem gerar níveis surpreendentes de lealdade e isso tem valor cada vez maior no mercado competitivo atual. Na opinião de Cheverton (2007, p. 41) “Muitas empresas sem uma marca forte adorariam escapar dos métodos que precisam adotar para conseguir essa lealdade”, pois uma marca com clientes fiéis faz muito por estes. Observa-se também que muitos dos gestores sem marcas fortes não pretendem ter e nem compreendem tal dedicação aos clientes. A Figura 14 retrata que a fidelidade do consumidor às marcas pode ser diferenciada em níveis distintos. Considerando estes níveis, podemos planejar melhor as ações de fidelização as nossas marcas. 92 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Figura 14: Níveis de lealdade do comprador às marcas Fonte: Adaptado de Aaker, 1998. Veja que o primeiro nível, colocado na base da pirâmide, corresponde ao comprador sem lealdade à marca. Qualquer produto é percebido como adequado e a marca desempenha uma papel pouco significativo na decisão de compra, posto que a preferência acontece exclusivamente por fatores como preço ou a própria convivência do comprador. Na interpretação de Pinho (1996), o segundo nível compreende os compradores satisfeitos com o produto por não existir nenhum aspecto negativo na marca que possa contribuir para a troca, especialmente se a mudança exigir algum esforço do comprador. Os usuários habituais, como são denominados os membros deste grupo, estão vulneráveis aos concorrentes que promovem um benefício que justifique uma troca. Há, no entanto, uma dificuldade real para atingir o comprador habitual, pois ele não costuma se mostrar naturalmente predisposto a procurar ou se interessar por outras alternativas. O terceiro nível compõe-se dos compradores que, além de estarem satisfeitos com a marca, percebem custos em uma eventual troca, seja de tempo, de dinheiro ou de riscos na performance do produto concorrente. Tais custos de mudança podem ser superados caso o concorrente proporcione um benefício que compense amplamente a troca. O quarto nível agrupa os compradores que apreciam a marca, uma preferência que pode estar baseada em associações suscitadas pela marca, tais como um símbolo ou as experiências de uso maior ou uma alta qualidade percebida nela. Aaker (1998), entretanto, pondera que a ligação é um sentimento que não pode ser diretamente relacionado a algo 93 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann específico, uma vez que as pessoas, muitas vezes, não são capazes de explicar os motivos pelos quais apreciam uma determinada marca. Na ausência dessas associações, o próprio relacionamento de longo prazo do comprador com a marca pode gerar um sentimento efetivo, o que permite classificar o seu usuário como um amigo da marca também em relação ao vínculo emocional que se estabelece. O quinto nível, no topo da pirâmide, inclui os compradores verdadeiramente comprometidos com a marca. Conforme Pinho (1996), orgulhosos de sua condição, eles consideram a marca importante pelos elementos funcionais ou pela maneira com que ela expressa ou traduz o que eles são. O comprador deposita tanta confiança na marca que a recomenda para outras pessoas do seu círculo de relações. A lealdade à marca é desenvolvida por ações diversas e diferentes fatores, no entanto o que não se pode abrir mão é de promover a experiência de uso. Este é um dos principais fatores e representa um pressuposto obrigatório para a sua formação. Outras dimensões da marca que influenciam a fidelidade do consumidor são: o conhecimento, as associações promovidas e a qualidade percebida da marca. Em certos casos, sustenta Aacker (1998), a lealdade pode nascer a partir de um desses fatores apenas ou das combinações entre dois ou mais destes fatores. Seção 4.9 Os Processos de Criação de Marcas Você já viu como se constroem marcas fortes e líderes com boas estratégias de marketing e comunicação. Um dos primeiros passos na estruturação da identidade de um produto, uma linha ou uma organização, ou mesmo da essência da marca, no entanto, é definir o nome que o acompanhará. Esta não é uma tarefa fácil e, por isso, recomenda-se o envolvimento de especialistas. É preciso desenvolver um processo criativo para encontrar um nome que atenda às estratégias de marca, sem esquecer de questões como sonoridade, significado, identidade e disponibilidade jurídica. O nome é a forma de expressão mais sólida de uma marca. É necessário, antes de tudo, pensar no que a criação significa dentro do todo para, então, passar ao brainstorming, checagem jurídica e apresentação de opções aos que tomarão a decisão. Temos que dar vida e cor ao conceito desenvolvido na estratégia de marketing, lembrando que marca é um conceito. É o nome da marca que vai dar a vida, e a conseqüência é ter uma identidade que dê, além de vida, cor, a este conceito. 94 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Se você tem filhos ou sobrinhos, ou ainda irmãos menores, sabe o quanto as pessoas preocupam-se em como os filhos serão chamados. Assim, as empresas que sabem dar valor ao que fazem, pois os produtos são os seus filhos, dedicam tempo e dinhei- Brainstorming Chuva de idéias. Reunião na qual os participantes contribuem livremente com idéias a respeito de um determinado assunto. ro ao descobrimento da melhor solução para o nome dos seus produtos, linhas de produtos, programas, marcas dentre outros. O melhor profissional que vai se envolver na criação de uma marca, deve ter familiaridade com questões de identidade e também saber lidar com a transposição do verbal para o não-verbal, porque um bom nome de marca precisa ser sonoro e, ao mesmo tempo, visualmente agradável. Não pode ser ofensivo em outros idiomas e precisa gerar relação com elementos positivos e ligados aos benefícios oferecidos pelos produtos. O profissional ou a equipe que trabalhar neste sentido, deve ser multidisciplinar e ter conhecimentos sobre Lingüística, Semiologia, Antropologia e até sobre aspectos técnicos e jurídicos, que podem estar envolvidos, além, obviamente, do marketing. Um processo de criação de marca não acontece sozinho. Na maioria das vezes, logo após a criação do nome, ele é seguido pelo design. As técnicas podem ser muitas, mas geralmente depende da estratégia dos negócios. O conhecimento da língua é muito importante, embora o nome ideal não deva estar preso a uma única língua. Em inglês, por exemplo, palavras com i não costumam ser utilizadas, pois a vogal pode ter diferentes sons dependendo da palavra. No processo de criação do nome da marca, uma das técnicas utilizadas é o sense. Nela, as pessoas são convidadas a pensar na história do objeto a ser nomeado, nas pessoas que o usariam, situações que elas passariam e até coisas de que falariam. A partir daí surgem inúmeras sugestões. Pense na força e ao mesmo tempo na simplicidade de marcas fortes e muito populares no segmento de telefonia móvel, como Vivo, Claro, Oi e Tim. Parece fácil depois de vê-las prontas e fazendo sucesso. Conceber uma marca simples e de sucesso, no entanto, exige muito esforço de criatividade e análises. 95 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann O melhor caminho para criar um bom nome de marca é entender qual é a sua essência, o núcleo do seu significado, além dos propósitos futuros. Muitos nomes surgem de idéias vindas dos executivos da empresa, de seus funcionários ou até de seus clientes; nesse caso específico temos exemplos como a Fedex, a Band ou o Leite Moça. É necessário compreender a essência em torno da marca e como o nome poderá contribuir na construção da sua personalidade. A identidade de uma marca é a combinação de diversos elementos de expressão, seu logotipo/símbolo, elementos gráficos padronizados, como a cor, impressos, seu site, sua abordagem de atendimento, a arquitetura da sede e dos pontos-de-venda, ou seja, toda e qualquer experiência de contato dos públicos que interagem com a empresa, e claro que seu nome é uma das fontes mais fortes de construção de identidade, tanto que quando temos algum problema sério ligado à imagem da marca, é comum a necessidade da mudança do nome. Voltando aos exemplos, podemos falar de algumas mudanças de nome na telefonia móvel, como a substituição da marca Telemar, no centro do país e, mais recentemente, da Brasil Telecom, no sul, para Oi. É um excelente nome de marca, que usa uma expressão muito comum nas comunicações de nosso cotidiano. A essência da marca está ligada na simplicidade de forma bastante expressiva e, segundo fontes diversas, tornou o nome Oi um elemento de identidade tão forte a ponto dos concorrentes não usarem a palavra em seus diálogos internos, ou no atendimento e vendas. O melhor profissional na gestão de marcas deve ter familiaridade com questões de identidade e também saber lidar com a transposição do verbal para o não-verbal, pois conforme já vimos, um bom nome precisa ser sonoro e, ao mesmo tempo, visualmente agradável. Você pode observar que uma palavra pode assumir diversos significados. A simples mudança de uma letra “i” para um “ y” por exemplo, pode dar a aparência de que ela é de outra língua, mudando o seu significado, assim como uma certa construção morfológica pode aparentar uma coisa que não é. Vejamos o exemplo da marca de sorvetes HÄAGENDAZS, que tem como foco um público classe A. Ao contrário do que muitos pensam, ela não é uma empresa européia, mas de Nova York. Essas duas palavras foram inventadas; não tinham nenhum significado particular e foram baseadas em um olhar “europeu” dos norteamericanos. Uma nova marca pode ter um nome especialmente criado para se harmonizar sua definição, enquanto uma marca antiga está presa ao que recebeu como herança, mas pelo tempo que está no mercado é bastante conhecida. Você já deve ter se perguntado: Qual situação é melhor? Até que ponto isso é importante e qual é o momento para considerar uma mudança de nome? Um grande número de marcas leva o nome de seu fundador ou inventor, embora há muito tempo, na maioria dos setores, deixou-se de fazer associações com pessoa reais. 96 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Entende-se que quase todo substantivo pode vir a representar a definição de uma marca, desde que seja oportuno. É claro que uma boa palavra com associações positivas também pode ser associada a uma péssima definição de marca. Em russo, Lada quer dizer “amado”, no entanto, no Brasil, a marca “apaixonou” muito menos consumidores do que se esperava e o desempenho abaixo do esperado foi o mesmo em alguns outros países em que a marca tentou estabelecer-se. É impressionante o número de marcas de destaque que incluem as letras como x, k e o. Muitas das marcas mais notáveis iniciam ou finalizam seus nomes com uma destas letras. Citamos algumas e veja se você lembra de outras como: Dulux, Doux, Kodak, Excel, Sony, Motorola, Yahoo, Google, Knorr, Ikea, Exxon, Xerox, OGX, EBX, Malboro, Coca-Cola, Kinder, Kellog’s, Lego, Ford, Porsche, Feedex, Sedex, Lacoste, Ovomaltine, Nike, Epson, Honda, Nintendo, Bradesco, Wilson, Pontiac, Rolex, Batavo, Speedo, Perdigão, Dove, Dodge, Vivo, Oi, Adobe, Unibanco, Volkswagen, Linux, Lux, Eletrolux, Dako, Kibon, Umbro, Toyota, Texaco, Reebok, Cisco, Goodyear, Globo, Lupo, Condor, Gol, Microsoft, Windows, Consul, Johnson’s, Kopenhagen, Komeco, O Boticário, Orkut, Orange, Olimpikus, Kia, Kalunga, Xuxa, Sky, Positivo, Kleenex, Objetivo, Positivo, Omo e Oxo. Estas são apenas algumas dentre muitas que chamam a nossa atenção por meio de sua aparência incomum e pela presença de algumas letras em comum. Faça um teste com você mesmo e com as pessoas que estão perto de você. Peça para anotarem as marcas que tenham estas letras e veja como a lista vai aumentar muito rapidamente. É claro que existem muitas marcas fortes e de sucesso, baseadas em outros atributos. Vejamos alguns dos principais critérios para que você possa auxiliar na construção e escolha de um bom nome de marca: Nome curto e forte: é difícil ser tão curto e forte quanto Omo, ou como a nova e capitalizada empresa petrolífera brasileira OGX, do Grupo EBX, do famoso empresário brasileiro Eike Batista. Palavra de fácil escrita e pronúncia: é fácil falar e escrever Globo, Lego, Cica, Positivo, Intel. Lembre-se da Schincariol, que passou para Schin, o que possibilitou a popularização da marca de forma mais rápida. Exclusivo da marca: a busca de um nome exclusivo pode ser demorada e frustrante. Kodak, por exemplo, não possui nenhum significado e foi criada pelo seu fundador pensando apenas na sonoridade e força do nome da marca e que não fosse confundida com nada, satisfazendo as legislações da época para registro de marca. Coerente com a definição que se deseja para a marca: os nomes antigos já chegaram a essa posição, ao passo que os novos devem ser escolhidos com cuidado. Alguns exemplos podem ser citados como a Volkswagen, que se traduz como “carro do povo”, a Natura, e o seu posicionamento voltado para a natureza, a Kibom, com o apelo pelo sabor, e Universitário, com apelo para o desejo do aluno de passar no vestibular. 97 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Passível de uso internacional sem causar embaraço ou ofensa cultural: critério ignorado, o que resulta muitas vezes em fracassos, como o caso da Chrysler, quando lançou o automóvel Nova no México, onde no va significa “não vá”. Capaz de atrair e prender a atenção: uma boa marca deve atrair e prender a atenção de seu público. Observe que cada tipo de público pode ter a atenção atraída de formas diferentes, portanto este critério deve ser empregado com cuidado, junto com os demais, sem que se faça uma opção apenas pela atenção que atrai, ignorando outros fatores importantes. Passível de ser protegida: palavras que lembrem outras marcas e podem confundir as pessoas devem ficar fora das opções de escolha. Nunca fique apenas com uma opção de nome antes de realizar a pesquisa para registro de marca. Tenha duas ou três opções em ordem de prioridade. Caso a primeira não possa ser registrada na categoria do produto, você tem a próxima opção. Procure evitar as palavras comuns e as descrições muito simples. A Lexicom é uma empresa especializada em desenvolvimento de marcas, citada na obra de Cheverton (2007, p. 142), que assinala alguns conselhos instigantes da Lexicon para a construção de marcas: 1. Estamos bem a vontade com o nome? “Então ele está bom, mas não ótimo” – um ótimo nome de marca deve provocar. 2. O nome rompe com alguma convenção?” Se não, tente outra vez” – um ótimo nome de marca precisa ser mais do que apenas se encaixar. 3. Podemos usar o nome para fazer uma promessa ou contar uma história? – isso é uma exigência. Ao solicitar o trabalho de criação de uma marca, prepare antes as informações sobre o produto e/ou a empresa que levará o nome. A agência de propaganda, ou a consultoria de marketing, vai precisar saber o máximo possível que você puder informar. Um bom teste para ver se a agência ou a consultoria que você escolheu é a mais adequada, refere-se às informações que ela solicitar sobre sua empresa e seu produto. Um levantamento de dados, informações acerca da marca a ser criada e seus usos, chama-se briefing. Conforme Cheverton (2007, p. 168), o conjunto de informações que deve ser levada em conta para os criadores da marca, considera os seguintes assuntos: – mercado, dinâmicas e tendências; – os principais concorrentes; – os principais fornecedores; – a estratégia comercial; – o método de segmentação do mercado e os segmentos visados; – a estratégia de posicionamento da marca; 98 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS – sua atual definição da marca; – sua planejada definição da marca para o futuro; – seu plano promocional e resultados desejados para a marca; – sua proposição direcionada (a menos que você esteja esperando o envolvimento da agência para definir uma para você); – as evidências que fundamentam essa proposição; – a mídia preferida e a mídia recomendada para os públicos; – quaisquer restrições relativas a sua capacidade de promoção – financeiras, legais, morais – e assim por diante; – prazos e orçamentos. Já vimos que dar nome a uma marca é quase como dar nome a um/a filho/a, pois ele será pronunciado inúmeras vezes para o resto da vida e, por isso, tem que ser bem escolhido. Se você leu até aqui e está pensando que tudo isso é obvio, lembre-se que o óbvio precisa ser dito, lido e observado, pois temos muitos exemplos infelizes ao nosso redor, que parecem ter esquecido do óbvio. Vejamos alguns exemplos, infelizmente reais: 1. Valores negativos: há uma marca de vestuário chamada “Xantagem”. Além do erro de grafia (que talvez seja proposital, mesmo que não se consiga imaginar o motivo), você é capaz de associar algum valor positivo a uma marca com esse nome? Você conhece a marca de jeans chamada “Dopping”? É no mínimo temerário o tipo de apelo que terá sobre o seu público-alvo, basicamente jovens e adolescentes? E a Desordi Contabilidade, mesmo que baseada em nome de família, também traz uma associação pouco recomendável para o seu ramo de atividade. 2. Invenções Gramaticais: o que você acha de uma loja de produtos naturais chamada “Emporiu’s”? Infelizmente esse erro é bastante comum – colocar um ’s no final só para “dar um charme”. O ’s, além de não existir em português (nem mesmo como plural em siglas, como alguns podem achar), em inglês indica possessivo. Bob’s, significa Do Bob. Então, de quem é o tal EMPORIU’S? Outro agravante é que talvez a terminação IU tenha sido posta como forma de remeter à versão latina da palavra. Então seria EMPORIUS? A marca deve pertencer ao mesmo conglomerado proprietário da loja de bijuterias “Facynius’s”, do motel “Classy ’s”, da papelaria “Treku’s” e do restaurante “Skyna’s. O pessoal gosta de complicar a sua vida, os seus negócios e dos seus clientes e fornecedores. Não é? E a “Lancheria Tiakenores”? E o “Sayber Café”? Bem... quando os conhecimentos de latim, inglês e francês dos proprietários não são tantos, assim como os dos clientes, na dúvida, há outros riscos mais adequados para se correr com os negócios. 99 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann 3. Erros grosseiros de tradução: você já ouviu falar da farmácia chamada “FamilyFarm”? Se o objetivo era traduzir para o inglês algo como “farmácia da família”, o erro foi grotesco, pois farm em inglês, significa fazenda. Você também já deve ter visto muita marca que teve a última vogal da palavra suprimida, idealizando que assim ela se traduz automaticamente para o inglês, ou outro idioma, pensando, equivocadamente, que a marca vai ganhar em status, como em “Lanchonet”; isso sem falar nas traduções pela metade, como “Self Serve”. Também é fácil encontrar “Nahgt Club”, “Owver nait”, “Flexe e Dance”, “Faive Estar ”. 4. Dificuldades de pronúncia: mas vamos lá... mesmo as riquíssimas e poderosas multinacionais cometem erros. Vejamos o caso dos produtos para cabelo OUTRAGEOUS. Em inglês significa exagero, mas o comercial de TV para o Brasil, prevendo dificuldade de pronúncia, mostrou a garota propaganda empregando uma articulação mais próxima do português. Quando ela falava o nome, parecia que estava dizendo ULTRAGES! Você também não se sentiria ultrajado(a)? 5. Erros criados propositadamente: nomes estranhos, inexplicáveis, feios e até ridículos são o que mais há. Tem gente que adora trocar a letra C pelo K, como a “Koisas da Kasa”, ou a “Dakasa”. Você já deve ter visto muitas vezes a preferência de muitos por colocar Y, TH e W, imagina-se que com o objetivo de ficar mais “fashion”, como em “Myranthe Bar” e em “Kreperia”. Atenção, não há nada de mal em usar as palavras estrangeiras para compor marcas. Na verdade, é preciso somente cuidar para que faça sentido e o resultado não acabe depondo contra o produto que se quer promover. Veja que aqui não estamos falando de bom ou mau gosto, pois é obvio que cada empreendedor pode usar o nome que quiser, inclusive com erros, se achar melhor. O que se quer é atentar para o fato de que um erro é, ao mesmo tempo, um diferencial que se agrega a um nome, e ele, muitas vezes, é negativo. Muitos alegam que a grafia diferente é uma forma de chamar a atenção, mas lembre-se das tantas possibilidades de chamar a atenção que necessariamente não trazem imagem positiva para quem a usa. A partir de Martins (2005), podemos ver como alguns nomes famosos foram criados, mesmo que alguns deles há muitos anos: ADIDAS – Fundada nos anos 20 do século 20, por Adolf Dassler, a marca é formada pelo modo diminutivo do nome do fundador (Adi) e as três primeiras letras do sobrenome (Das). AUDI – Criada pelo alemão August Horch, que traduziu seu sobrenome alemão para o latim. Em português, Horch significa “ouça”. 100 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS KODAK – O nome foi criado em 1888 sem nenhum significado especial pelo fotógrafo George Eastman. Segundo ele mesmo, as razões foram puramente técnicas. Ele considerava que um nome precisava ser curto e vigoroso, incapaz de confundir a identidade e, para satisfazer as leis de propriedade intelectual, não deveria significar nada já existente. A letra “k” foi escolhida por ser forte e incisiva, devendo o nome começar e terminar com K. ROLEX – O fundador da empresa julgou o nome adequado para relógios por ser curto e sugerir Rolling (passando, rolando), fácil de pronunciar e de lembrar. SANYO – Marca japonesa criada em 1950 que significa “três oceanos”: san, de três e yo de mar. O objetivo era descrever a pretensão de internacionalidade da empresa (Oceanos Pacífico, Índico e Atlântico). 3 M – Criada em 1902, faz uma referência aos três “M” da empresa: Minnesota Minig and Manufacturing Co. Xerox – Deriva do processo de fazer cópias a seco. Em grego, “Xeros” significa seco. O último “x” foi acrescentado para dar mais sonoridade ao nome. Escolher nomes para a marca é uma tarefa complexa, porém fascinante. A empresa JR Brands desenvolveu um software chamado NameBuilder para auxiliar o trabalho. Para mais informações, você pode acessar o site <www.jrbrands.com.br>. Bons dicionários bilíngües também ajudam. Como você pode ver, desenvolver nomes é um grande jogo de palavras, sons e significados. Saber lidar com isso é essencial na construção de um bom nome de marca. Existem diversas téc- Adolf Dassler Adolf Dassler, em 1920, com apenas 20 anos, conhecido por Adi, desenvolveu sapatos de pano especiais para corredores, criando a Adidas. Dassler foi influenciado pela idéia que o guiou durante toda sua vida: a de que cada atleta tivesse o sapato adequado ao desporto que praticava. Após o sucesso inicial, Adi Dassler desenvolveu novos modelos para o atletismo e para o futebol. Já em 1928, os desportistas alemães disputaram a Olimpíada de Amsterdã calçando sapatos especiais da oficina de Dassler, que nunca se cansou, até morrer em 1978, de procurar o modelo perfeito da “chuteira”, da bota, do tênis, o que se traduz em 700 patentes e modelos registrados em todo o mundo. Já na década de 30, Dassler produzia 30 modelos para 11 desportos, com a ajuda de 100 funcionários (<www.rs4e.com>). George Eastman (12 de julho de 1854 – 14 de março de 1932). Fundou a Eastman Kodak Company e inventou o filme em rolo, trazendo a fotografia para o público. O filme em rolo foi também a base para a invenção do filme cinematográfico, em 1888, para o primeiro cineasta do mundo, Louis Le Prince, e uma década mais tarde por seus seguidores Léon Bouly, Thomas Edison, os Irmãos Lumière e Georges Méliès (<www.fotodicas.com>). nicas que vão desde o simples uso do dicionário, que, aliás, sempre estará presente em qualquer processo criativo de nomes, até a construção de nomes “artificiais” ou “inventados” a partir da junção de pedaços de palavras, tentando explorar a questão sonora. Ser criativo é muito fácil; é possível gerar 200, 300 nomes 101 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann em um dia. A questão principal é encontrar nomes que possam contribuir na construção da identidade da marca a um custo de comunicação baixo e que possam ser registráveis legalmente, hoje um dos maiores problemas, pois criar uma marca legalmente protegível está cada vez mais difícil. Vamos discutir na Unidade 6. O processo de criação da identidade visual passa pelas questões já vistas no início desta Unidade, desenhando a simbologia da marca. No processo de criação da identidade visual, as cores são muito importantes e muitas vezes são parte de uma marca. Quanto mais cores se utiliza-se, no entanto, mais caras e difíceis serão as aplicações. Confeccionar cartões de visita, pastas, papéis timbrados, envelopes e vários outros itens da identidade visual em uma cor ou em cinco cores, implica numa diferença importante de orçamento. Além disso, quando as cores tornam-se mais importantes que o traço, a aplicação em relevo fica inviabilizada. A economia de cores gera uma percepção de marca mais “limpa”. Outra questão que muitas vezes é esquecida, ou desconhecida, mas essencial na definição da representação gráfica, é o formato do desenho. Conforme Fascione (2001), os desenhos podem ser representados eletronicamente de duas maneiras: por equações matemática e por meio de “pontinhos”, tecnicamente conhecido como pixels. À primeira vista, pode parecer que esse assunto não lhe interesse: “é coisa para os técnicos discutirem”, mas a escolha errada pode atrapalhar muito a sua vida. Vejamos: se um desenho é concebido de uma maneira que ele possa ser subdividido em figuras geométricas simples (o símbolo da Nike e os “peixinhos” da Hering, por exemplo), então o arquivo no qual ele estará guardado poderá ser menor, ocupando menos kbytes de memória, pois conterá somente as equações matemáticas que o representam; e, o que é melhor, ele poderá ser aplicado em qualquer dimensão (grande, pequeno, enorme), sem qualquer prejuízo para o desenho. Já se uma marca utiliza recursos como degradês, sombras, imagens fotográficas e desenhos sofisticados, seu símbolo só poderá ser representado por meio de pixels. E na hora de ampliar como será? Os pontinhos terão que ficar maiores (e isso tem um limite), o símbolo ficará mais ou menos desfigurado e a reprodução de cores poderá ser dificultada. Um exemplo disso é o símbolo da Rede Globo, no entanto a reprodução da simbologia deles é praticamente toda na TV ou na web. Em outdoors, fachadas, placas e grandes formatos, porém, a dificuldade de reprodução pode ser grande. Figura 15: Símbolos de marca com uso de degrades e sombras 102 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Outra questão importante sobre a reprodução do símbolo da marca refere-se ao tamanho mínimo. Para ter certeza de que a Corel-draw Softwar de design. escolha do símbolo gráfico foi adequada, faça o chamado “teste dos 5mm”. Se o símbolo for reduzido a 5mm de altura ou de comprimento (escolha a proporção) e continuar sendo reconhecível, você estará no caminho certo. Caso contrário, talvez seja melhor refazer o trabalho. Pelos estudos de Fascione (2001), nada impede que, às vezes, em determinadas aplicações, a sua marca vista a “ roupa de gala” e se encha de sombras e efeitos especiais. Se ela foi construída com simplicidade, sofisticá-la não será difícil. O problema é quando ela já nasce “ rica” e precisa usar a sua “ roupa de trabalho” no dia-a-dia. Como você pode observar, design é uma ferramenta essencial para o marketing, especialmente para a gestão de marcas, que estamos estudando. Mesmo não sendo um especialista na área, é vital que o profissional de marketing tenha olhos para ver a importância e a profundidade do trabalho de um bom designer e, principalmente, saber distinguir entre esse profissional e o amigo do seu vizinho que “faz misérias com o corel draw”. Explicando melhor, não é o domínio de uma ferramenta de informática que transforma a pessoa em um profissional de marketing e estratégias de comunicação. O objetivo é que você observe as formas de comunicação que a sua empresa utiliza com olhos mais críticos e esteja ciente de quais ferramentas e estilos estão disponíveis para passar a mensagem correta, vender mais e melhor, com uma marca mais forte e mais valiosa. OS JINGLES E SLOGANS PODEM CONTRIBUIR COM O FORTALECIMENTO DA MARCA As marcas podem utilizar jingles e slogans como valiosos instrumentos de comunicação para ajudar na criação ou manutenção da lembrança. A grande força do jingle está no poder mnemônico, que facilita a memorização da mensagem na fixa103 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann ção da marca. A melodia, que pode ou não ser original, tem como funções primordiais servir como elemento de ilustração ou criar um clima favorável à mensagem, predispondo o ouvinte a sua efetiva recepção e até mesmo a sua propagação quando cai no gosto do público. O creme dental Kolynos, marca mais lembrada na categoria pasta de dentes da pesquisa Top of Mind de 1993 do Datafolha, deve muito da sua posição ao jingle de grande sucesso vinculado durante 14 anos: “KOLYNOS – Você vai vai vai, vai vai em frente, vai buscar sua glória, você vai sentir o novo gosto, o gosto da vitória. Kolynos – Ahhh!!! – Sua espuma protetora faz dentes brancos, hálito puro e sorriso de campeão. Uma fervescente sensação e o gosto da vitória. Kolynos – Ahhh!!!” (Iasbeck, 2002). Já o slogan tem a função de reforçar a imagem de uma marca por meio da associação de um valor a um nome. Embora algumas vezes seja basicamente empregado para fixação do símbolo da marca, como “Peugeot: a marca do leão”, ou Liquigás: o gás do cachorrinho, o slogan tem o propósito de satisfazer – “Visa: é tudo o que você precisa” –, de seduzir – “Credicard: o mundo quer você” –, de mostrar – “Toyota: é assim que o mundo roda” –, de demonstrar – “Se é Bayer é bom” –, de realizar o cliente – “Honda: o poder dos sonhos” –, e de diferenciar – “Santander: o valor das idéias” – (Pinho, 1996). Marca Slogan Bayer Se é Bayer é bom Cica Se a marca é Cica bons produtos indica Dreher Deu duro, tome Dreher Danone Vale por um bifinho Caninha 51 Uma boa idéia Bombril 1001 Utilidades Hollywood O sucesso Cônsul Põe na Consul Doril Tomou Doril, a dor sumiu Valisère Se eu fosse você, só usava Valisère Brastemp É uma Brastemp Coca-Cola Emoção pra valer Pepsi-Cola Sabor de vencer Technos O suíço mais pontual do mundo Ray-O-Vac As amarelinhas Sundown O sol na medida certa Carlton Um raro prazer Lee Coisa de louco Quadro 6: Alguns dos slogans mais lembrados no Brasil Fontes: Adaptado de Pinho (1996) e Iasbeck (2002). 104 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Observe que todas essas marcas não são novas. Elas estão no mercado há um tempo razoável. Você já parou para analisar, entretanto, quais foram as estratégias adotadas para que elas pudessem estar onde estão? Seção 4.10 Mantendo a Longevidade de uma Marca Mesmo quem nunca usou, com certeza conhece produtos centenários como o sabonete Gessy, o requeijão Catupiry, o Leite Moça, a pomada Minâncora, a manteiga Aviação. São todas marcas nacionais que desafiaram o tempo e, ao atravessar gerações, conquistaram seu espaço na memória coletiva do consumidor brasileiro. As velhas marcas ensinam que o peso da tradição e da confiança é um atributo valioso, desde que corretamente gerido. Ao longo das décadas, a maioria desses produtos sofreu leves mudanças ou atualizações em suas fórmulas e embalagens, mas seus fabricantes nunca deixaram que caíssem no esquecimento. Muito antes de passar ao domínio da Unilever (propriedade de um consórcio inglês e holandês), o sabonete Gessy patrocinava radionovelas e era vendido com o conceito inovador de “tratamento de beleza”. A pastilha Valda, um dos casos que melhor ilustra a capacidade de revitalização de uma marca antiga, no início do século 20 chegou com o apelo de arma contra constipação, asma, rouquidão e bronquite. O antigo “ remédio poderoso”, hoje é mais conhecida como confeito, vendido até em formato de chiclete e versão diet. Nessa trajetória, houve um pouco de tudo em esforços de propaganda. Uma das primeiras ações inovadoras de fortalecimento da marca Valda, no início do século 20, teria sido o lançamento, por avião, de saquinhos de Valda, que pousavam em pequenos pára-quedas nas praias cariocas. Recentemente, o rejuvenescimento da marca foi feito por meio do Festvalda, um festival de música jovem, que rapidamente multiplicou por dez seu faturamento, fazendo com o que o Brasil seja hoje o maior consumidor das pastilhas Valda dentre os 30 países em que é comercializada. O Leite Moça é um produto que quando chegou ao Brasil, trazido pela Nestlé, chamava-se Milkmaid. Os gestores suíços tiveram a sensibilidade de mudar a marca ao observar que a novidade passou a ser chamada de “o leite da moça”, por causa do desenho estampado no rótulo. Hoje, o Brasil se projeta como o maior mercado mundial de leite condensado açucarado. Ainda existem, no Brasil, várias outras marcas centenárias e inabaláveis na liderança de seus mercados, como o amido Maizena, o fermento Royal, o leite Ninho e a maionese Hellmann’s. 105 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Figura 16: Embalagens antigas da manteiga Aviação, pastilhas Valda e Leite Moça Estas e tantas outras marcas que são quase que lendárias, são grandes marcas sustentadas em sólidas propostas de valor. Poderíamos, no entanto, ter muito mais marcas antigas no mercado, se não fossem equívocos de gestores que pararam de investir nas suas marcas mais fortes, pensando que elas já haviam conquistado um lugar inabalável nos seus mercados. Isso ocorre quando o gestor dá mais atenção aos resultados econômicos de curto prazo, apostando menos em programas de construção de marcas de longo prazo. Como resultado, ficam muitos produtos com pouca diferenciação e, então, os consumidores passam a se importar mais com aqueles que tinham um preço mais baixo, tendo em vista que todos os produtos daquela categoria parecem ser iguais, e isso não é lucrativo para nenhuma marca. Hoje as marcas estão mais fortes do que nunca, pois numa era de rápida proliferação de produtos, de enorme escolha para o consumidor e de uma crescente confusão no mercado, uma grande marca é uma necessidade, não um luxo. Numa abordagem a longo prazo, uma grande marca pode viajar pelo mundo afora, ultrapassar barreiras culturais, apelar a múltiplos segmentos de consumidores simultaneamente, criar economias de escala e permitir o posicionamento nos segmentos mais altos do mercado, quando se ganham margens elevadas durante um longo período de tempo. Algumas categorias de produtos podem gerar melhores marcas do que outras, mas qualquer produto pode ter uma marca associada. A Nike, por exemplo, faz a ponte com a forte relação emocional que as pessoas mantêm com o desporto. Quase todos os produtos oferecem oportunidades para criar um estado de espírito único e podem ultrapassar as fronteiras da sua categoria de produto. A Intel é uma referência quando se fala de marcas, sendo quase que uma garantia. A maioria das pessoas que possuem um computador certamente não sabe exatamente o que fazem os processadores da Intel, como é que funcionam e por que são superiores aos da concorrência. O público reconhece e está disposto a pagar mais, no entanto, quando vê a etiqueta “Intel inside”. 106 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Figura 17: Novo selo Intel Inside Uma marca duradoura pode alavancar os negócios de uma maneira mais eficiente do que qualquer outro tipo de ativo. Criando uma ponte emocional e racional entre os clientes e a empresa, e quando bem-sucedida, ocupa uma posição exclusiva na mente do consumidor. Uma identidade forte e motivadora, que seja conhecida e confiável aos consumidores, pode colocar a marca acima de questões relativas a preço e artigos da concorrência (Kotler, 2008). Vale ainda ressaltar que não se pode esperar que as marcas sejam perfeitas e inabaláveis o tempo todo. As constantes mudanças no ambiente podem criar situações em que a marca não mais apresente desempenho e qualidades adequados ao público-alvo. É inegável que as marcas citadas possuem bons produtos, mas seu grande trunfo são suas marcas poderosas. Nenhuma marca sobrevive a um produto ruim, mas o melhor produto não obtém sucesso sem uma grande marca. É PRECISO CONHECER A SUA MARCA E APELAR PARA AS EMOÇÕES Quando você desejar construir uma grande marca, precisará, primeiro, conhecê-la, sabendo exatamente como os públicos a vêem. Para manter uma marca viva durante muito tempo e assegurar a sua vitalidade, no entanto, é necessário mais do que saber o que as pessoas pensam a respeito. É preciso que, de vez em quando, se faça algo de novo e inesperado que esteja relacionado com o posicionamento estratégico da marca. Uma marca que se conhece a si própria, também utiliza essa informação para decidir o que não fazer. Todos os gestores desejam que os seus produtos sejam os melhores na sua classe. A inovação de produto, todavia, é apenas o preço a pagar para se entrar no jogo. O que as empresas que criaram grandes marcas têm em comum não são apenas os resultados, pois seus gestores reconhecem que as emoções motivam a maior parte das decisões de compra dos públicos mais diversos. Uma marca alcança o seu alvo com experiências que emocionam de alguma forma seus públicos. A marca é uma relação emocional e, por isso, quando transcendemos o produto, conseguimos criar uma marca poderosa. 107 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Uma grande marca cria novos desafios: o do bem-estar físico e emocional. Uma marca é uma história metafórica que está sempre a evoluir. Esta situação está relacionada com algo muito profundo, uma intensa apreciação humana pela mitologia. As pessoas estão sempre precisando dar sentido às coisas que as transcendem. Todos queremos pensar que somos parte de alguma coisa maior do que nós. As empresas que manifestam esta sensibilidade em relação aos seus empregados e consumidores, invocam algo muito poderoso. Para ser uma marca valorizada, ela precisa ser relevante para as pessoas, principalmente para seus clientes. Uma marca tem de ser relevante, ir ao encontro do que as pessoas querem. As marcas valiosas não quebram promessas, pois as que o fazem são vistas como desonestas e perdem o prestígio dos públicos. Cada vez mais consumidores procuram algo que tenha um valor duradouro, algo que fará sentido na sua vida, e isso é a busca pela qualidade nas marcas. SÍNTESE DA UNIDADE Na Idade Média surgiram as marcas nominais, empregadas principalmente pelas corporações de ofício e de mercadores com diversos propósitos. As chamadas marcas de comércio permitiram o controle da qualidade e da qualidade da produção, ajustando a fabricação e a comercialização de determinados bens à demanda do mercado. Adicionalmente, as marcas individuais possibilitam que as corporações preservem seus monopólios, pelo reconhecimento de falsificações ou ainda de produtos em desconto com as especificações técnicas de agremiação. Para o comprador, as mercadorias assinaladas com marcas representaram uma proteção, pois com ela poderia identificar o produtor e se resguardar da má qualidade que caracterizava grande parte das mercadorias da época. Modernamente, as marcas passaram a desempenhar papéis mais variados e complexos. Por sua vez, a definição da marca, formulada pela American Marketing Association, como “um nome, termo, sinal, sinal símbolo ou desenho ou sua combinação, que pretende identificar os bens e serviços de um vendedor ou um grupo de vendedores e diferenciá-los daqueles dos concorrentes”, tornou-se hoje bastante restrita, pois a marca é mais do que um simples nome, apresentando como seus principais componentes, o produto em si, 108 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS a embalagem, o nome de marca, a publicidade e a apresentação. A marca deve ser entendida como a síntese dos elementos físicos, racionais, emocionais e estéticos que nela estão presentes e foram desenvolvidos através dos tempos. A gestão das marcas é campo do marketing, que tem por responsabilidade desenvolver e manter determinado conjunto de valores e atributos para construção de uma imagem de marca que se mostre coerente, apropriada e atrativa para o consumidor. Como um dos componentes da marca, a comunicação pode, com muita propriedade, ajudar na tarefa de criar e manter um conjunto atualizado e permanente de atributos, valores, sentimentos e percepções, conectados com a marca para revesti-la de um sentido de valor que ultrapasse a mera percepção dos benefícios funcionais do produto. São freqüentes as situações em que o consumidor precisa escolher entre marcas de produtos muito similares em termos de atributos intrínsecos, ou seja, produtos muito semelhantes, fazendo com que a decisão de compra recaia sobre aspectos além do produto em si. Nesta Unidade foram discutidos os efeitos relativos que uma marca pode produzir sobre a decisão de compra de qualquer produto. Percebemos detalhes dos processos de criação de marcas e o quanto é importante que sejam observados os aspectos fundamentais da marca, quando ela ainda está em processo de planejamento. A gestão de marcas é hoje uma das funções mais importantes dos gestores, em especial aos profissionais do marketing. A marca pode ser o ativo mais valioso da organização, quando bem gerida. Uma das tendências mais importantes é o desenvolvimento de extensões de marcas. Uma grande marca pode ser o que seus gestores desejarem que ela seja, quando detiver o reconhecimento, a confiança e a atratividade de seus públicos. Quanto maior o significado e maior for a capacidade de emocionar os seus públicos, mais valor terá a marca. É preciso, no entanto, ter sempre presente que as grandes marcas chegam para ficar e que nenhuma boa marca sobrevive a um produto ruim. Como vimos, a valoração da marca realiza-se pela criação e manutenção de uma conjunto organizado de características funcionais e aspectos simbólicos em uma relação que sustente uma vantagem competitiva da empresa perante seus concorrentes no mercado. Do ponto de vista do consumidor, estas associações de idéias 109 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann direcionam fortemente a imagem de marca, já definida como conjunto de atributos e associações que os consumidores conhecem e conectam com o nome da marca. Desta forma, as percepções e reações do consumidor à marca podem ser dispostas em quatro categorias básicas: o conhecimento (awareness) do nome de marca, a qualidade percebida, as associações e a fidelidade do consumidor. Todas elas contribuem primordialmente para a construção da imagem de marcas e podem ser manipuladas pela publicidade, que se destaca entre as demais ferramentas de comunicação, tanto pelo elevado grau de controle que permite sobre as mensagens, como pelo poder de penetração e convencimento junto aos prospects e consumidores em geral. 110 EaD Unidade 5 GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS EMBALAGEM E ROTULAGEM DE PRODUTOS Nesta Unidade vamos estudar um pouco do muito que há para ser estudado e aprimorado no processo de desenvolvimento de embalagem e rotulagem de produtos, do ponto de vista do marketing. A embalagem e a rotulagem estão dentre os principais estímulos à decisão no pontode-venda do consumidor, além de serem veículos de informação da marca e do próprio produto. No PDV, a embalagem ainda contribui cada vez mais para as questões logísticas de armazenamento, exposição e conservação. Sendo assim, estudaremos aspectos importantes a serem considerados para a criação de embalagens e rótulos, visando à competitividade. Em outras palavras, a embalagem e o rótulo devem contribuir com a estratégia de posicionamento da marca e por isso é fundamental que ela esteja alinhada a esta estratégia. Seção 5.1 O Que é Uma Embalagem O componente embalagem de um produto refere-se a qualquer recipiente oferecido à venda e sobre o qual uma informação é transmitida em seu rótulo. Um rótulo é a parte integrante da embalagem e geralmente identifica o produto ou a marca, quem o produz, onde e quando foi feito, como deve ser usado, seu conteúdo e seus ingredientes. Em grande parte, a primeira exposição do consumidor a um produto é com a embalagem e com o rótulo, e ambos fazem parte de uma importante e cara estratégia de marketing. Uma embalagem é um recipiente, caixa ou invólucro que, por diversas razões, acompanha o produto na sua apresentação ou venda. A embalagem possui como principais funções: – facilitar a armazenagem; – proteger e conservar o produto; – posicionar ou reposicionar o produto; 111 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann – facilitar o uso do produto; – atrair o cliente; – vender o produto. A embalagem é estudada, desenvolvida pelas organizações e reconhecida pelos clientes, prospects e suspects, como parte do produto. Uma mudança de embalagem geralmente é associada a uma mudança de produto. Por tudo isso, a embalagem é estudada como sendo parte do P de Produto, nos 4 Ps, do mix de marketing. A embalagem pode e deve ser utilizada estrategicamente para atingir os objetivos mercadológicos da organização e, como veremos, muitas vezes compramos a embalagem e não o produto intrínseco. Em muitas empresas, existem produtos em que o principal componente na formação do preço é a embalagem. Pense, por exemplo, no leite longa vida, na água mineral em garrafas, no refrigerante em latinhas, no chá em caixinhas, nas bebidas lácteas de 180ml. Em todos estes e muitos outros produtos, a empresa está vendendo e estamos comprando muito mais a embalagem do que o conteúdo. A embalagem e a rotulagem custam às empresas mais de US$ 100 bilhões anualmente e são responsáveis por cerca de 15% de cada dólar gasto pelos consumidores com produtos. A despeito dos custos, a embalagem e a rotulagem são essenciais porque ambas fornecem importantes benefícios para o fabricante, para o varejista e para o consumidor final. É por isso que a embalagem e a rotulagem também podem oferecer uma vantagem competitiva (Kerin; Hartley; Berkowitz; Rudelius, 2007). Seção 5.2 Desenvolvendo a Embalagem e a Rotulagem Para desenvolver uma embalagem e/ou um rótulo, precisamos levar em conta a própria definição do produto. Questões como a enumeração dos elementos contra os quais deve ser protegido, a definição das necessidades de fabricação, o limite de custo da embalagem e/ou do rótulo, a necessidade de atratividade ante aos concorrentes, os aspectos legais, a posição em que ficará no PDV, dentre outros, são fundamentais no processo de desenvolvimento de rótulos e embalagens. Com a automação dos processos e o avanço da legislação de proteção ao consumidor, a avaliação das condições de seleção do material e maquinaria necessária para a produção, o preparo de amostras para ensaios técnicos e redação das especificações (peso, validade, sistema de conservação, informações sobre consumo e uso), precisam estar presentes na tomada de decisão sobre a embalagem e/ou rotulagem. 112 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Com os protótipos desenvolvidos, são fundamentais testes como: – de reconhecimento de suas características comerciais; – de visibilidade, identificação, comunicação, legibilidade; – avaliações de impacto visual no PDV; – avaliações comparativas com concorrentes que forem expostos próximos; – avaliações sobre reciclagem e percepção sobre impacto ambiental; – revisão sobre normas técnicas e alinhamento com orientações dos órgãos reguladores. Tanto quanto o produto, a embalagem, que é o objeto do projeto, deverá ser conhecida em detalhes. Se ela já estiver definida e existir fisicamente, seus desenhos e plantas técnicas deverão ser solicitados já na reunião de briefing, para que o design seja montado sobre eles. Exemplares da embalagem também são necessários para a fase inicial de estudo. Algumas vezes o produto ainda não existe na embalagem que será adotada, mas um de seus concorrentes emprega essa mesma embalagem, podendo então ser utilizado como referência física. Os aspectos que mais precisam ser conhecidos nesse momento são: o material usado na embalagem e suas características técnicas, a técnica de impressão, decoração ou rotulagem que será utilizada, o número de cores disponíveis, o sistema de envase, a maneira como a embalagem é fechada. Outras características que precisam ser observadas com atenção: marcas e indicações de fotocélula, posições e magnitude do código de barras, áreas de reserva da impressão, áreas de soldagem, lacre e localização das informações de lote de fabricação, data e prazo de validade. São detalhes que, se esquecidos nessa fase, aparecerão na arte-final sem que tenham sido previstos no layout, obrigando muitas vezes a re-diagramação da embalagem para incluí-los. Outro fator importante é saber o número de cores disponíveis para podermos decidir se usaremos cores especiais e também se a embalagem será impressa individualmente, podendo empregar todas as cores, ou se será impressa no sistema de co-produção, em que vários “sabores”, por exemplo, são impressos simultaneamente, utilizando, portanto, as mesmas cores. Tudo o que conseguimos levantar sobre a embalagem no briefing será de grande utilidade no decorrer do projeto, por isso não devemos nos descuidar de nada e precisamos procurar ser o mais detalhista possível, perguntando tudo o que está no Checklist e solicitando ao cliente outras informações que ele considere importantes e deseje acrescentar. Vejam que esta fase é muito importante para que os criadores da embalagem não venham a compor algo muito longe daquilo que o cliente valoriza, precisa e espera. Um bom brieffing resultará num trabalho que será aprovado mais facilmente e com menos re-trabalho. 113 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Seção 5.3 A Importância do Bom Design de Embalagem Felizmente já existe no Brasil a consciência da importância da embalagem para a comercialização dos produtos e para a produção industrial, o que, por conseqüência, favorece a economia do país. Essa consciência originou uma cadeia produtiva que no Brasil está estimada em 20 bilhões de reais ao ano, somando-se a matéria-prima, a indústria de conversão e os equipamentos de produção e envase. Também levou a comunidade acadêmica a se interessar por este tema tão importante e, há alguns anos, começaram a surgir os primeiros cursos superiores da carreira do desenho industrial. Com isso, a tradicional divisão que se fazia no ensino de design, na qual o aluno podia optar pela especialização em desenho de produto ou comunicação visual, ganhou uma nova opção, o Design de Embalagem. Existem também outras iniciativas que estão contribuindo para o desenvolvimento dessa atividade, como por exemplo, o Comitê de Design da Associação Brasileira de Embalagem (Abre), que você pode conhecer no endereço <http://www.abre.org.br>. A Associação vem promovendo a integração do design com a indústria, gerando informações e conhecimento extremamente úteis tanto para os que atuam na área, como para aqueles que estão ligados ao ensino e à educação. Essa introdução nos conduz a refletir sobre a real importância do design de embalagem e tecer considerações que devem ser levadas em conta especialmente pelos empresários, cujos negócios utilizam, de alguma forma, as embalagens. A embalagem é um fato estratégico com sérias implicações na constituição dos produtos de consumo, pois o consumidor não separa o que é embalagem do que é conteúdo. Para ele, ambos constituem uma única entidade (Mestriner, 2002). É pela embalagem que o consumidor percebe o produto e compreende seu significado de valor. Assim, toda empresa que possui um produto embalado precisa olhar para ele e refletir com seriedade se isto está sendo feito adequadamente, se aquela é realmente a melhor imagem que ela gostaria de apresentar para seu cliente e que se pode oferecer a ele. Talvez esta reflexão não se torne fácil, seja em razão ao apego emocional que muitas empresas têm por seus produtos, seja em função do receio de mexer no que de alguma forma está funcionando, ou mesmo pela falta de metodologia que permita abordar o assunto com alguma fundamentação técnica e saber quando é hora de mudar ou reformular a embalagem. 114 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Quando abordamos os aspectos mercadológicos, aprendemos que a embalagem é uma poderosa ferramenta de marketing, permitindo que empresas de todos os tamanhos possam participar de um mercado cada vez mais sofisticado, valendo-se exclusivamente da embalagem dos seus produtos para se comunicar com o consumidor, chamar sua atenção e conquistar a sua preferência na hora da compra. Afinal, a partir da embalagem é possível empreender uma série de ações promocionais que reforçam o apelo de venda e a ligação do consumidor com o produto (incluindo aí ações que envolvem receitas, informações, brindes, prêmios e concursos), tornando-o mais atraente e competitivo. Tudo isso pode ser feito, uma vez que no PDV a embalagem funciona chamando a atenção do consumidor, informando-o sobre o produto, despertando o desejo de compra, vencendo a barreira do preço e fechando a venda do produto. Se, além disso, ela ainda tiver uma ação promocional oferecendo algo a mais, o efeito costuma ser sensacional (Mestriner, 2002). O que nem todos sabem, entretanto, é que, além do que foi descrito, a embalagem faz ainda mais pelos seus produtos e pela empresa. Ela começa a trabalhar muito antes de chegar às prateleiras ou às gôndolas dos supermercados. Na verdade, a primeira função da embalagem é despertar o entusiasmo da empresa pelo seu produto, fazendo com que toda a organização dedique-se com maior vigor. Quando o design da embalagem é bom, a força de vendas, por exemplo, acredita mais no produto e o apresenta com convicção ao mercado. Esse, por sua vez, tende a ver os produtos com bom design de embalagem como mais fáceis de comercializar, o que acaba facilitando a sua entrada no mercado. Alguns Pontos-Chave Para o Design de Embalagem Os profissionais do mercado que vão encomendar desenhos de embalagens ou tem de alguma forma responsabilidade ou participação neste processo, necessitam saber que, para se alcançar um bom resultado final, é preciso estarem atentos para alguns pontos-chave: 1. Conhecer o produto: a embalagem é a expressão e o atributo do conteúdo. Para projetála é preciso antes conhecer profundamente o produto. Assim, suas características, sua composição, seus diferenciais de qualidade e seus principais atributos, incluindo seu processo de fabricação, precisam ser compreendidos. Uma boa visita à fábrica é necessária e recomendada. E mais: a história do produto, o material de divulgação, anúncios, pesquisas de embalagens antigas, tudo isso precisa ser levado em conta. 2. Conhecer o consumidor: saber quem compra, quem utiliza e os diferentes usos do produto é fundamental para estabelecer um processo de comunicação efetiva por meio da embalagem. As características desse consumidor, seus hábitos e atitudes em relação ao produto e, principalmente, a motivação que o leva a adquiri-lo, são um ponto-chave a ser conhecido pelo designer e pelos profissionais responsáveis. 115 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann 3. Conhecer o mercado: o mercado no qual o produto participa tem suas características próprias. Tem história, tem dimensões e perspectivas. É um cenário concreto que precisa ser conhecido, estudado e analisado, para que o design da embalagem não seja um salto no escuro. 4. Conhecer a concorrência: por melhor e mais bonito que seja o design, de nada ele ajudará ao produto se não conseguir enfrentar a concorrência no PDV. Conhecer “in loco” as condições em que se dará a competição, é fundamental para desenvolver um bom design da embalagem. Estudar o PDV, detalhes de cada um dos concorrentes, analisar a linguagem visual da categoria e compreendê-la, é uma das chaves para a realização de projetos de sucesso. 5. Conhecer tecnicamente a embalagem a ser desenhada: a linha de produção e de embalagem, a estrutura dos materiais empregados, as técnicas de impressão e decoração, o fechamento e a abertura, os desenhos ou plantas técnicas da embalagem a ser desenvolvida, precisam ser conhecidos meticulosamente, tanto para se obter o máximo dos recursos disponíveis, como para evitar erros que podem prejudicar o projeto. Visitar a linha de embalagem e fazer contato com os fabricantes dela, são ações que qualificam muito o trabalho de criação. 6. Conhecer os objetivos mercadológicos: saber por que estamos desenhando uma embalagem e o que buscamos com o projeto, é um ponto-chave que necessita estar bem claro. Os objetivos de marketing, a participação de mercado, o papel da embalagem no mix de comunicação e as diretrizes comerciais do projeto, precisam ser conhecido para estabelecer os parâmetros que o nortearão e deverão ser atendidos pelo design final apresentado. É necessário ter uma meta a ser buscada para poder avaliar os resultados. 7. Ter uma estratégia para o design: todos os itens anteriores, uma vez compreendidos, precisam ser organizados e transformados numa diretriz de design com uma estratégia clara e consciente. Antes de desenhar é preciso pensar. A função da estratégia na metodologia é fazer com que as premissas básicas do projeto sejam equacionadas e indiquem uma direção a ser seguida no processo de design para responder aos objetivos traçados. De nada adianta todo o esforço empreendido no projeto se o resultado final não for competitivo. 8. Desenhar de forma consciente: para atender às premissas estabelecidas e os objetivos mercadológicos do projeto, é necessário que o trabalho de design seja realizado de forma consciente e metódica. Ele nunca deve ser baseado puramente no impulso criativo. A criatividade é indispensável e desejável, mas precisa ser exercida em favor dos objetivos estratégicos do projeto. Há momentos em que a criatividade demasiada pode até atrapalhar. Ao criar a embalagem, deve-se aproveitar cada oportunidade para evoluir, e para isso é necessário empenhar-se de verdade em cada projeto, buscando superar o que já fez no passado. 116 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS 9. Trabalhar integrado com a indústria: conhecer a indústria que vai produzir a embalagem é uma das premissas básicas para quem vai participar do projeto. Muitos problemas que normalmente ocorrem em projeto de embalagens são evitados com esta providência simples. O grande benefício do projeto integrado, porém, é a possibilidade de se encontrar melhores soluções, pois é por meio da indústria que as novas tecnologias chegam aos profissionais que trabalham com criação de embalagem. O trabalho integrado com a indústria permite à embalagem final beneficiar-se da experiência e das melhores soluções tecnológicas em favor do cliente. 10. Fazer a revisão final do projeto: quando a embalagem final chega ao mercado, os criadores da embalagem e os gestores devem fazer uma visita a campo para avaliar o resultado final e propor eventuais melhorias ou ajustes que possam ser incorporados às novas produções e reimpressões. Só no PDV, em condições reais de competição, é que podemos avaliar o resultado final alcançado. Seção 5.4 Estratégias de Embalagem e a Rotulagem O emprego de imagens nas embalagens representou sempre a maior possibilidade de inovação ao alcance dos profissionais. Vindas das mais diferentes fontes, as imagens alteram ou criam novos contextos para o posicionamento do produto, dando-lhe uma nova vida, um olhar diferente dos clientes. Oriundas da moda, dos filmes, da mídia ou da imaginação dos designers, as embalagens e os rótulos agregam significado ao produto, fazendo com que ele alcance patamares inimagináveis. Por exemplo: quando colocamos uma fotografia com um prato de risoto sofisticado sobre uma mesa decorada numa embalagem de arroz para risoto, estamos evocando a imaginação do consumidor, fazendo-o ver até aonde o produto pode chegar. Esse visual contrasta completamente com os graõzinhos brancos de arroz que ele encontra quando ele abre a embalagem (Mestriner, 2002). Nem sempre se pode apelar para o recurso imaginário. Isso só se tornou possível com a evolução da fotografia e dos recursos de impressão. Hoje, a computação gráfica abriu novas fronteiras para a imaginação e a Internet gerou a integração do conhecimento planetário e uma nova linguagem visual. Tudo isso é o espaço para a inovação. Já existem produtos cujas embalagens foram vinculadas diretamente ao produto que está na web. 117 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann A pesquisa de imagens de novas linguagens visuais é um caminho fértil para a inovação e deve ser explorada permanentemente de maneira estratégica. Da mesma forma, os filmes, as revistas e a adoção de personagens, podem trazer uma atração extra aos produtos que desenhamos. Esses são os principais campos propícios para a busca de inovação. Saber explorá-los constitui um dos principais atributos para os criadores de embalagens, o objeto de sua permanente dedicação. Por causa da aceleração provocada pelos avanços da economia da informação e da globalização, o desenvolvimento de embalagens inovadoras e diferenciadas passou a ser uma questão estratégica de vital importância para as empresas que as utilizam de forma intensiva. Não basta mais os designers entenderem de desenho. Quem quiser atuar neste novo cenário precisa entender de embalagem, de tecnologia e de marketing. A todo o momento novos materiais são lançados, abrindo oportunidades para que se criem embalagens inovadoras. Quem primeiro adota esses materiais se beneficia dessa posição. Quando a cerveja passou a ser envasada em lata, a marca Skol foi a primeira a adotála e se beneficiou do conceito de ser “a primeira cerveja em lata do Brasil”. Durante certo tempo, os atributos de inovação e modernidade pertenceram a essa marca. Depois veio a lata de alumínio e a Skol novamente saiu na frente, reafirmando seu pioneirismo. O consumidor atribui valor a essas iniciativas que a Skol soube comunicar e capitalizou muito bem. Provavelmente essa marca será a primeira a adotar a embalagem PET para cerveja (MESTRINER, 2002). O Café do Ponto é outra marca que soube fazer a adoção de novos materiais, uma identificação forte em sua estratégia de marketing, sendo o primeiro a oferecer uma embalagem flexível em filme plástico metalizado, em substituição ao saquinho de papel de dupla parede usado até então por todos os seus competidores. A Mococa foi a primeira a acondicionar leite condensado em embalagem cartonada, adotando essa nova tecnologia. Novos materiais sempre surgem, e a oportunidade de ser o primeiro a empregá-los está à disposição de quem for mais ágil e tiver espírito inovador para se apropriar deles. A tecnologia de acondicionamento também evolui constantemente, criando novas possibilidades para os produtos. Foi assim com o café autovácuo, o potinho termoformado para iogurtes, as embalagens em ATM (atmosfera modificada) para carnes e legumes, e muitas outras (Mestriner, 2002). 118 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Seção 5.5 A Internet, as Embalagens e os Rótulos É dispensável discutirmos a atual importância da Internet em nosso mercado. O Brasil já possui uma das maiores fatias de usuários do planeta em vários quesitos avaliados. Sejamos pesquisadores, comerciantes, ou qualquer outro tipo de usuário, sabemos que o grande problema da rede mundial de computadores é justamente seu gigantismo. Ninguém consegue mais navegar com desenvoltura sem o apoio das ferramentas de busca. Levar um consumidor ao site de um produto, portanto, está cada dia mais difícil. A embalagem precisa ser pensada como um hot-site, com um endereço próprio do produto, seu cartão de visitas, nos sites das empresas. A embalagem é a ferramenta de marketing que está presente no momento em que o consumidor faz o contato físico com o produto e, neste momento, existe a possibilidade de se estender este contato conduzindo-o ao endereço eletrônico do produto. Você já pode visualizar, em nosso meio, várias embalagens que estimulam a interação em um site que vincula o produto e/ou sua marca. Podemos ver algumas experiências bemsucedidas que demonstram as possibilidades desta nova ação de marketing. Usar a embalagem para fazer a conexão do cliente com a Internet é uma estratégia inteligente, que deve ser adotada na competitividade em que atua a maioria dos produtos. A Internet permite que uma empresa regional de refrigerantes tenha um site similar ao das líderes de mercado. O custo da embalagem já está embutido no custo do produto, portanto é uma mídia permanente que, quanto mais utilizarmos, melhor, e com custos já rateados. Aproveitamos o exemplo da Coca-Cola, que lançou na Europa um site chamado <www.mycokemusic.com>, no qual disponibilizou 250 mil músicas, por volta de 2001. Suas embalagens foram utilizadas como chave de acesso por intermédio de uma senha para download colocada no interior de seus rótulos. Toda a mecânica da ação de marketing utilizou a embalagem como suporte, levando o consumidor até o site. A marca também tem o <http://cocacola-music.blogspot.com/>, em que pode-se conferir muitas músicas de artistas brasileiros. Outra experiência muito bem-sucedida na relação da embalagem com a Internet é da empresa canadense Jones Soda (<www.jonessoda.com>), fabricante de refrigerantes. Esta empresa adotou uma postura criativa e inovadora ao por em seus rótulos fotografias enviadas por seus consumidores, transformando esses rótulos num espaço de expressão daqueles que consomem e se identificam com o produto. Os consumidores entram no site da empresa, cadastram-se e enviam fotos que são selecionadas quase que semanalmente para integrar a 119 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann enorme galeria de rótulos impressos pela marca. Depois de enviar sua foto, o consumidor passa a consultar ansiosamente o site para ver se sua imagem foi selecionada. O sucesso desta iniciativa foi tão grande que eles passaram a receber centenas de milhares de inscrições e os rótulos tornaram-se Cult, sendo objeto de coleções, trocas e vendas. Surgiram na WEB sites dedicados aos rótulos e aos colecionadores de Jones Soda e a empresa criou uma série de comunidades para abrigá-los em seu site, que se transformou, também, num espaço de expressão dos consumidores. Existem consumidores que desejam tanto ter sua Jones Soda com seu próprio rótulo, que a empresa viu nisso uma oportunidade e criou um novo produto. Por apenas US$ 34,95 mais o frete, você recebe em sua casa uma caixa com 12 garrafas com o rótulo que enviou. Aí o movimento não parou mais; a empresa criou uma gravadora alternativa on line na qual recebe músicas e sons, uma TV interativa que recebe vídeos e criou um concurso em que os internautas votam no melhor rótulo do ano. Figura 1: Exemplos de embalagens da Jones Soda A linha de chás orgânicos da marca, foi lançada com um concurso permanente para os designers do mundo todo enviarem propostas. O vencedor ganha o direito de ter uma página divulgando sua carreira. Milhares de designers têm participado. Estudantes e jovens profissionais que desejam ficar famosos participam numa ação de marketing sem precedentes. Estes são apenas alguns acontecimentos do site e você pode consultá-lo. O mais importante neste exemplo, no entanto, é o fato de haver inúmeras formas de relação da embalagem com a Internet. Existe uma enorme possibilidade de utilização da embalagem como ferramenta de marketing, e sua integração com a Internet representa uma tendência importante que precisamos levar em conta em nossas estratégias de embalagem. 120 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Você deve estar pensando que a idéia é simples e que muita gente poderia ter lembrado algo assim, não é? Então, que tal você imaginar algo assim para os produtos da sua empresa? Seção 5.6 A Embalagem e o Posicionamento Competitivo Ne sta seção vamos e studar como a embalagem contribui com o reforço no posicionamento mercadológico-competitivo dos produtos, sejam esses produtos líderes, desafiadores ou seguidores. ESTRATÉGIAS DE EMBALAGEM PARA POSICIONAMENTO DE LÍDER “Produtos líderes não mudam, envolvem” (Mestriner, 2002, p. 21). Produtos líderes precisam afirmar sua posição de liderança, mas não podem ficar estáticos a vida toda. Sua embalagem deve evoluir com o mercado, indicando aos consumidores que o produto está vivo e atuante. Mas essas mudanças precisam ser cuidadosas. O gestor que cuida da embalagem necessita respeitar o patrimônio visual construído ao longo do tempo. Mudanças bruscas ou exageradas nunca devem ser iniciativas do líder. Sua embalagem deve ser uma referência segura, na qual o consumidor fiel possa confiar. Toda mudança ou alteração significativa na embalagem de produtos líderes, precisa ser submetida aos consumidores mediante pesquisas, que avaliarão se a grande mudança é aceita ou não por eles. ESTRATÉGIAS DE EMBALAGEM PARA POSICIONAMENTO DE DESAFIADOR O produto envolvido na competição direta com o líder de uma categoria denomina-se desafiador. Os gestores deste produto e desta marca precisam empregar estrategicamente sua embalagem para obter a vantagem competitiva no PDV. Necessitam investir em novas tecnologias, em novos recursos de impressão e rotulagem e dispositivos de abertura e fechamento que superem os do líder. As inovações devem mostrar que você desafia o modo de agir do líder e os consumidores passarão a respeitar cada vez mais as suas propostas. 121 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann O desafiador nunca deve tomar a posição de seguidor, ou seja, nunca pode imitar o líder. O desafiador tem de oferecer ao consumidor algo que o líder não oferece. O produto desafiador obriga-se a tirar proveito do fato de que o líder precisa conservar sua posição e manter seu sinal visual, não podendo ousar nem adotar soluções diferenciadas e inovadoras. Essa é uma prerrogativa do desafiador, que tem de saber usar todos os recursos oferecidos pelo design e pela indústria de embalagem. ESTRATÉGIAS DE EMBALAGEM PARA POSICIONAMENTO DE SEGUIDOR Profissionais que possuem sob a sua responsabilidade o design de produtos em posição intermediária, precisam dotar suas embalagens de algum atrativo especial. Necessitam encontrar algum diferencial que possa atrair a atenção, despertar a curiosidade e/ou a simpatia do consumidor. Inovações são bem-vindas e devem ser sempre buscadas, pois esses são os produtos que não têm nada a perder, podendo adotar soluções radicais. Seção 5.7 Design de Tampas e Dispositivos de Abertura e Fechamento Em razão de sua importância, a tampa e os dispositivos de fechamento merecem estudo um pouco mais desenvolvido, pois representam um diferencial competitivo e estético capaz de desequilibrar a competição em uma categoria de produtos. Toda vez que uma solução eficiente é encontrada e lançada, ela torna o produto muito mais prático e conveniente de usar, facilitando a vida do consumidor. Sabemos que praticidade e conveniência são benefícios concretos que o consumidor valoriza e prefere, mas não é só isso que acontece. Quando uma boa solução aparece, o consumidor tende a atribuir um conceito muito positivo à marca que se preocupou com ele. Ultrapassando a questão funcional, as tampas têm incorporado novos atributos. Muito antes do design e da sedução para a venda, a tampa atrai o consumidor pela conveniência de uso e conservação do que foi adquirido. Vemos esta preocupação desde a Antiguidade. É possível reconhecer na cerâmica grega os vasos que possuíam tampas. Sua abertura pequena lhe dava um formato característico que indicava sua utilização. Os primeiros conceitos de fechamento para embalagens foram o lacre e a rolha. O primeiro fechava a embalagem, de forma que obrigava o seu “ rompimento” para se ter acesso ao produto. A história registra que médicos egípcios empregavam tubos de bambu rotulados e lacrados para acon122 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS dicionar medicamentos. Em relação ao lacre, a rolha consistiu em um notável avanço, pois permitia “abrir ” o recipiente em vez de rompê-lo. Permitia ainda o re-fechamento e, no caso do vinho, suas características peculiares tornaram-se componente fundamental ao processo de envelhecimento do produto por permitir que ele “respirasse” e amadurecesse lentamente sem estragar (Mestriner, 2002). Em sua evolução, a indústria de embalagem sempre enfrentou o desafio de solucionar a questão da abertura e do fechamento do produto, sendo esta ainda hoje uma de suas principais questões. As primeiras embalagens de vidro usadas para acondicionar bebidas, foram pioneiras na solução eficiente de abertura e fechamento, utilizando rolhas e dispositivos semelhantes. Em 1810 o rei da Inglaterra atribuiu a patente para a preservação de alimentos a uma lata de aço apresentada por Peter Durand. A história pode ser conferida, dentre outras informações, no site da Associação Brasileira de Fabricantes de Latas – Abralata <http:// www.abralatas.com.br/2007_lata_historia_mundo.asp>. A lata, no início, era lacrada, exigindo que soluções como abridor de latas e a pitoresca “chavinha”, que vinha acoplada às embalagens antigas, fossem desenvolvidas para permitir sua abertura. Uma vez aberta, as latas não podiam mais ser fechadas, obrigando o consumo integral de seu conteúdo. Isso fez com que a indústria se empenhasse em desenvolver novas soluções para esse problema. Seção 5.8 A Cor e a Forma no Estudo das Embalagens A forma é o mais importante elemento diferenciador de um produto, pois é exclusiva, só ele pode utilizá-la. Já a cor, embora não seja exclusiva, constitui-se o principal elemento da comunicação, provocando estímulos visuais importantes como num outro elemento. Definir a cor que vamos atribuir a um produto trata-se, talvez, da decisão mais importante num projeto de embalagem e/ou de rotulagem. Sabemos que existem apenas as três cores amarelo, ciano e magenta mas elas abrem um mundo de combinações e possibilidades. A intensidade e a proporção em que cada uma delas entra na composição, alteram completamente a percepção visual do conjunto. O livro Psicodinâmica das cores em comunicação, de Farina, Perez e Bastos (2006), apresenta vários estudos sobre o efeito das cores na percepção humana, e é uma sugestão de leitura para quem deseja aprofundar-se no assunto. 123 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Associar as formas e as cores para provocar os estímulos e reações desejados em seus receptores, é necessário e poderoso na comunicação da embalagem e dos rótulos, que podem e devem ser utilizados para associar idéias, lembranças e sensações. As combinações de cores podem ser associadas, por exemplo, ao público infantil; podem ser alegres ou tristes, sofisticadas ou populares, modernas ou antiquadas, esportivas e dinâmicas, e assim por diante. Existem combinações que funcionam melhor em produtos doces, outras em salgados. Outras transmitem refrescância, e há aquelas que são quentes como o verão, ou seja, as combinações podem ser tantas e tão variadas quanto a vida. Não há regras rígidas para o sucesso no uso das cores, por um motivo muito simples: elas nunca estão sozinhas. Estão sempre combinadas com outras cores, e essas composições são infinitas a incomensuráveis. Você planeja com todo o cuidado uma embalagem e o rótulo do seu produto, e vai muitas vezes ter uma grande surpresa com o efeito visual que ele terá no espaço em que o varejista o inseriu. Este espaço é rico em outras cores, formas, odores, etc. É preciso conhecer bem o local em que o produto será oferecido e exposto. Não se pode ter medo de inserir cores nos produtos. Uma das questões comuns em qualquer conversa de consumidor, ao ouvir a indicação sobre um produto, é perguntar: “de que cor é esse produto?” Se essa resposta não for clara e afirmativa, alguma coisa está errada pois, depois da forma, o elemento de identificação do produto é a cor. No que se refere à forma, ela é o principal elemento de diferenciação na embalagem. O impacto visual de um novo frasco tem um efeito marcante na identificação de um produto e a garrafa contorcida da Coca-Cola é um grande exemplo disso. A forma de um frasco deve ser única; só aquele produto pode ostentá-la. Isso fará com que aquele produto também seja único aos olhos do consumidor. Embalagens diferenciadas são cada vez mais necessárias para destacar o produto nos cenários congestionados das prateleiras. Produtos que têm muita personalidade e precisam expressá-la de maneira categórica, devem ter como ponto relevante de sua embalagem, uma forma diferenciada. Isso acontece com muita clareza na indústria de perfumes finos, quando cada produto é uma entidade complexa, individualizada por sua personalidade aromática sofisticada. O consumidor desses produtos, por sua vez, busca um perfume com o qual ele se identifica, a ponto de tornálo “seu cheiro”. Tudo isso exige que o frasco do perfume seja único, personalizado ao extremo, pois ele é a expressão máxima do seu conteúdo. Sem ir tão longe, podemos notar que os molhos de tomate, pelo mesmo motivo, adotam frascos diferenciados, final, personalidade e sabor precisam ser individualizados pela embalagem (Mestriner, 2002). 124 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Moura e Banzato (1990) descrevem que a embalagem é essencial para a manutenção do padrão de vida do homem. Apresentam uma ampla variedade de formas, modelos e materiais, exibindo-se de diversas maneiras, proporcionando benefícios que justificam a sua existência. Assim sendo, percebe-se que o produto e a embalagem estão tão inter-relacionados que já não se considera um sem o outro. Com essa afirmativa, verifica-se que o produto não pode ser planejado separado da embalagem, que, por sua vez, deve ser definida baseada num sistema complexo de materiais, funções, formas e processos de engenharia, mercadologia, comunicação, legislação e economia. De acordo com Gruenwald (1993), para muitos produtos a embalagem é o seu símbolo, ou seja, o desenho, a forma e a função da embalagem podem ser quase tão importantes quanto seu conteúdo. Cita-se como exemplo o frasco de perfume, a caixa de lenços de papel, a garrafa de uísque, a caixa de bombons, etc. Todos lutam por atenção na prateleira da loja ou no armário de casa. Melhoramentos na conveniência de uso, aparência, possibilidade de reaproveitamento, volume, peso, portabilidade, novos materiais, são novidades que promovem a modificação da embalagem de forma a adequá-la ao meio ambiente e ao estilo de vida. Esta é uma razão pela qual é importante dar tanto atenção à embalagem quanto ao produto. Uma novidade neste setor são os Rótulos Ecológicos ou Selos Verdes, que atestam (mediante uma marca posta no produto ou em sua embalagem) que determinado produto causa menor impacto ambiental em relação a outros “comparáveis” disponíveis no mercado. Do mesmo modo que para os bens, os rótulos ecológicos são aplicáveis também aos serviços. Como produtos “comparáveis”, pode-se citar as lâmpadas de tungstênio ou de halogênio, às quais possuem tecnologias e materiais diferentes, mas pertencem à mesma família, isto é, são destinadas a fins semelhantes e possuem uma utilização equivalente. O objetivo do formato ecológico para seu rótulo ou embalagem, é incentivar a melhoria ambiental de bens, processos e serviços, mediante a mobilização das forças de mercado, por meio da conscientização de produtores e consumidores. Corroboram com estas afirmações Kerin et al (2007, p. 301), quando afirmam: “Duas tendências globais em embalagens se originam em meados dos anos 1990 e continuam no século XXI. Uma delas envolve os efeitos ambientais da embalagem; a outra foca nas preocupações de saúde e de segurança da embalagem.” 125 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Seção 5.9 A Comunicação na Embalagem e Rotulagem O principal benefício da embalagem é a informação contida no rótulo e transmitida ao consumidor, como as instruções de como e quando usar o produto, sua composição e os aspectos necessários para atender às exigências legais para a sua exposição. Por exemplo: o sistema de rotulagem para alimentos embalados e processados apresenta um formato uniforme para os dados nutricionais e dietéticos. Outras informações consistem em selos ou símbolos, exigidos pelo governo, ou ainda selos comerciais de aprovação (como o selo do Ministério da Agricultura). A embalagem também possui benefícios de valor de marca para a empresa. De acordo com o diretor de marketing das roupas íntimas L’eggs, “a embalagem é importante para melhoria do valor da marca L’eggs”. Por quê? A embalagem tem mostrado melhorar o reconhecimento da marca e facilita a formação de associações fortes, favoráveis e únicas (Kerin et al, 2007). É ótimo e necessário ter uma marca forte e respeitada ou um produto que é a última palavra em tecnologia e design, ou, ainda, uma bela campanha publicitária no ar. Isso, no entanto, ainda não é o suficiente, pois vende mais quem cuida melhor do consumidor no exato momento em que ele está em frente ao balcão da loja, manipulando seu produto e ouvindo as explicações que o vendedor tem para dar. É tamanha a importância da comunicação no PDV para a realização de uma compra, que todas as grandes companhias brasileiras têm se dedicado com afinco a estudá-la, de diferentes formas.Entre os grandes anunciantes, a verba para o “chão da loja” é cada vez maior nos orçamentos de promoção. Afinal de contas, a campanha pode ser ótima, mas não é na frente da TV que o consumidor vai abrir a carteira, e sim, dentro da loja. Às vezes, basta um agrado extra ao consumidor para que ele consuma mais de um produto. Um exemplo são as iniciativas da Gessy Lever em grandes supermercados. Começando com cosméticos e higiene pessoal, as estantes ou gôndolas foram melhoradas com o uso de luminosos e uma melhor exposição dos produtos, que dão à seção um ar mais charmoso que as gôndolas tradicionais. Os resultados refletiram-se imediatamente em aumento nas vendas. Agora, a mesma idéia está sendo aplicada em outros produtos. O projeto batizado de “Casa Omo” prevê backlights que explicam o uso de cada variante do sabão Omo. Além de embelezar uma categoria de produtos que sempre foi a mais feia dos supermercados, a loja 126 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS fica mais moderna e a localização dos detergentes fica mais fácil. É um trabalho que não se adequa às pequenas lojas. É preciso uma grande área só para detergentes. Para o supermercado, entretanto, é um duplo bom negócio, pois as vendas aumentam sem que o estabelecimento gaste nada, uma vez que todos os custos são bancados pelo fabricante. Ao contrário do que possa parecer, arrumar produtos na prateleira de um supermercado está longe de ser uma tarefa aleatória, ou de menos importância. O merchandising é uma ciência sofisticada, norteada por pesquisas. Pode-se dizer que nada é posto numa prateleira por acaso. Qualquer iniciativa do fabricante para melhorar a comunicação visual de seus produtos, pode representar a diferença entre ir para o carrinho ou continuar pegando pó na prateleira. Quando entra no supermercado, o consumidor deixa-se expor a uma brutal quantidade de marcas e nomes. Com a possível exceção do pão francês feito na própria loja, para qualquer tipo de produto existem diversas, às vezes dezenas, de opções. Só a Unilever tem dez marcas de sabão em pó e todas precisam competir e vender. Uma gôndola mais incrementada, uma melhor arrumação do produto, ou uma degustação, são pequenos apelos que beneficiam o produto. Muitas vezes o gestor do PDV investe numa atividade promocional de vendas e esquece de organizar os produtos, os espaços e as prateleiras. O resultado é uma promoção que rende bem menos do que poderia. A função do merchandising não é apenas de lembrar a marca, mas de dizer por que aquela marca esta lá. A responsabilidade de gerir o merchandising do produto é principalmente do fabricante, posto que o lojista não terá como cuidar apropriadamente de cada marca, pois tem toda a loja para zelar. Prova disto é que, nos supermercados, os repositores, encarregados de manter a boa disposição e apresentação das embalagens, são sempre contratados dos fornecedores; não são funcionários das lojas. No espaço de uma antiga fábrica na zona sul da capital paulista, a distribuidora Spal, da Coca-Cola, montou uma Escola de Merchandising, onde criou cenários em tamanho real, produzindo cinco ambientes: supermercado, quitanda, padaria, lanchonete e loja de conveniência. Discorrem muito sobre exposição de refrigerantes, mas também ajudam muitos lojistas a melhorar toda a sua loja. Os lojistas são convidados pelas equipes de venda, dando preferência àqueles que já têm equipamentos da Coca-Cola, como geladeiras e máquinas de venda. É humanamente impossível um fabricante fiscalizar como seu produto está sendo tratado em dezenas de milhares de PDVs de todos os tamanhos pelo país afora. As mensagens das pesquisas e das experiências dos fabricantes que pesquisam a sério o assunto, no entanto, é clara: como na velha mercearia do bairro, só vende bem aquele que encosta a barriga no balcão e cuida bem de perto do seu negócio. 127 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Afinal, o cliente nunca deixou de ter razão. Ao finalizar esta Unidade, é evidente que ainda há muito para se estudar sobre embalagem e rotulagem de produtos. O espaço, porém, é limitado e é preciso abordar um pouco dos principais temas. Desta forma, são indicados alguns links interessantes para aprofundar a busca de informações e estudos a respeito do tema: Embalagem entra de vez na estratégia da marca Quanto vale sua embalagem? A embalagem e o sucesso de seu negócio Quando e como mudar a embalagem www.embalagemarca.com.br Em suma, o bom design de embalagem desencadeia uma seqüência de impulsos positivos que possui um grande impacto sobre o produto, contribuindo decisivamente para o seu sucesso. Por isso, os profissionais que têm em suas empresas a responsabilidade em conduzir seus produtos num cenário cada vez mais competitivo, necessitam contar com embalagens fortes e eficientes. Queremos que estes estudos os ajudem a conquistar novas posições. SÍNTESE DA UNIDADE 5 A embalagem pode fazer muito mais pelo produto que apenas conter, proteger e transportar, que são suas funções básicas. Basta para isso que nos dediquemos a explorar todas as suas possibilidades e entendamos que a empresa que tem produtos cuja embalagem tem contato direto com o consumidor possui, na verdade, um instrumento poderoso de ação institucional e mercadológica. Muitas vezes, essa ação acaba não acontecendo porque ninguém na empresa importa-se com isso e, principalmente, pela falta de um programa de trabalho que preveja e organize essa utilização. Por seus aspectos logísticos, qualquer ação empreendida na embalagem precisa ser preparada com meses de antecedência e articulada com vários departamentos da empresa. 128 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS A memória das ações de marketing nas embalagens exige planejamento e precisa ser pensada a longo prazo. Há, entretanto, pouca coisa tão importante para uma empresa quanto buscar tirar o máximo do potencial de suas embalagens, especialmente aquelas que não dispõem de verbas para investir em comunicação e propaganda. Por isso, recomenda-se, enfaticamente, que as empresas incluam, em seu planejamento de marketing, o uso da embalagem e aos profissionais de comunicação que alertem seus clientes para essa necessidade e que estudem a fundo os produtos sob sua responsabilidade, para apresentarem sugestões e idéias que possam fazer de suas embalagens instrumentos ainda mais eficientes na conquista dos consumidores. 129 EaD Unidade 6 GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E PLANEJAMENTO DE PRODUTOS Nesta Unidade, a última de nosso estudo sobre Gestão de Produtos e Marcas, discutiremos sobre desenvolvimento, inovação e planejamento de produtos, do ponto de vista do marketing. Dizem os estudiosos que os próximos cinco anos mudarão mais do que os últimos 30 anos. Pense no mundo há 30 anos. Pense num mundo daqui a cinco anos, com tantas mudanças e inovações quantas surgiram nos últimos 30. Muita coisa diferente, não é? Buscaremos, nesta Unidade, discutir a necessidade de inovação no portfólio de produtos de cada empresa, preparando-se, por meio do desenvolvimento de alternativas, para a competição em condições de enfrentar os desafios futuros. Em uma economia globalizada, a vantagem competitiva de uma empresa está diretamente relacionada a sua capacidade de introduzir no mercado novos bens e serviços, com conteúdo tecnológico e características de qualidade, desempenho, custo e distribuição, que satisfaçam às exigências dos seus públicos. Na literatura são propostas diversas metodologias para o desenvolvimento de novos produtos, cabendo às empresas encontrar ou adequar aquela que melhor se adapte a sua realidade e cultura. Uma das dificuldades importantes enfrentadas pelas empresas, é encontrar profissionais capazes de gerenciar esse processo, com características sistêmicas, que envolvem diversas áreas da organização, como P&D, marketing, engenharia e produção. Seção 6.1 O Processo de Desenvolvimento de Produtos É notória a importância da atividade de desenvolvimento de produtos no mundo dos negócios. Ela determina cerca de 70% a 90% do custo final dos produtos e de outras ações relacionadas à qualidade, à diversificação e ao tempo de introdução no mercado. Traduz objetivos, intenções e idéias em algo concreto, o produto ou as soluções pelos quais os 131 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann consumidores pagarão para satisfazer suas necessidades. O desenvolvimento do produto, portanto, é um dos mais importantes processos responsáveis pela agregação de valor aos negócios (Takahashi; Takahashi, 2007). Nesse sentido, o Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) pode ser definido como um conjunto de atividades por meio das quais se busca produtos mais eficientes, mais funcionais, mais inovadores, mais econômicos a partir das necessidades do mercado e das possibilidades e restrições tecnológicas. Considerando as estratégias competitivas e de produto da empresa, o processo de desenvolvimento de produtos deve chegar às especificações de projeto de um produto e de seu processo de produção, para que a manufatura seja capaz de produzi-lo. Ainda, o desenvolvimento de produtos envolve o acompanhamento do produto após o lançamento, bem como o planejamento da descontinuidade do produto no mercado, incorporando estes conceitos na especificação do projeto e atendendo, assim, todas as necessidades do produto ao longo do seu ciclo de vida (Rosenfeld et al, 2006). De acordo com Montgomery e Porter (1998), o mercado está, cada vez mais, exigindo um estudo mais sério e eficaz sobre a metodologia do desenvolvimento de produto, para que possa reduzir os riscos e os intervalos que compõem esta atividade. Cada empresa emprega o seu próprio processo de desenvolvimento de produtos. Algumas definem um processo preciso e detalhado, outras possuem um processo com pouca estruturação. A mesma empresa, no entanto, pode definir e seguir vários tipos de processos para cada modelo diferente de projeto de desenvolvimento de produto (Takahashi; Takahashi, 2007). Decisões e ações na Gestão do Desenvolvimento do Produto (GDP) são de responsabilidade tanto da alta administração quanto das áreas operacionais da empresa, e são dependentes do horizonte e amplitude destas. Nas médias e pequenas empresas, a responsabilidade recai sobre a alta direção ou mesmo sobre seu proprietário. O sucesso empresarial, o aumento do faturamento e lucratividade e o aumento da participação no mercado, têm sido creditados a uma boa gestão do desenvolvimento de produtos (Cheng; Filho, 2007). Nesse sentido, as várias decisões do projeto para realizar esta transformação, englobam tanto áreas técnicas como econômicas de mercado. A combinação de decisões das fases de desenvolvimento, descritas por Takahashi e Takahashi (2007), em uma progressão no tempo, diminui a incerteza, caracterizando assim o processo de desenvolvimento de produto comparando-o a um “funil”. Estas fases, de acordo com os autores, são as seguintes: Fase 0 – Avaliação de conceito: tem o objetivo de avaliar as oportunidades do produto e iniciar o processo de desenvolvimento do mesmo. Fase 1 – Planejamento e especificação: tem o objetivo de definir claramente o produto, identificar vantagens competitivas, esclarecer funcionalidades e determinar a viabilidade do desenvolvimento em um grau mais detalhado do que a Fase 0. 132 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Fase 2 – Desenvolvimento: objetiva desenvolver o produto propriamente dito, baseando-se nas decisões tomadas e aprovadas na “ revisão da Fase 1”. Os detalhes do projeto e atividades de desenvolvimento acontecem nesta fase. Fase 3 – Teste e avaliação: o objetivo dessa fase é realizar um teste final e preparar a produção e o lançamento do produto. Fase 4 – Liberação do produto: tem o objetivo de verificar se a produção, o marketing de lançamento de produto, o sistema de distribuição e o suporte ao produto, estão preparados para iniciar as atividades. No estágio inicial do planejamento é feita uma pesquisa de mercado para saber as tendências. A partir daí, várias idéias são lançadas e vão sendo afuniladas conforme são feitas as primeiras especificações. Os estágios iniciais são os mais importantes no processo de desenvolvimento de novos produtos. Nesses estágios, os gastos com o desenvolvimento ainda são relativamente pequenos; a pesquisa só ocorreu no papel e os trabalhos de projeto consistem de desenhos e modelos baratos. Figura 1: Etapas do processo de desenvolvimento de produtos Fonte: Rozenfeld et. al, 2006, p. 101. Os produtos que começam com uma boa especificação, discutida e acordada entre todas as pessoas que tomam decisões na empresa, e cujos estágios iniciais de desenvolvimento sejam bem acompanhados, têm três vezes mais chances de sucesso do que aqueles com especificações vagas ou acompanhamentos iniciais mal feitos. Assim, é muito importante iniciar corretamente o processo de desenvolvimento (Bakster, 1998). 133 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann UHT Ultra Hight Temperature – ultra alta temperatura – é um processo térmico utilizado para tratamento e melhor preservação do leite fluido, submetendo-o a temperaturas acima de 130 durante 2 a 4” e imediatamente resfriado a menos de 32 negativos. Este leite é envasado em condições assépticas em embalagens estéreis e hermeticamente fechadas. Seção 6.2 Introdução de Novos Materiais e Tecnologia Como curiosidade e fundamentação da seqüência desta Unidade, apresenta-se, no Quadro 1, alguns exemplos de introdução de novos materiais de tecnologia na inovação de produtos. Inovação introduzida Data registrada Conserva em lata, na Inglaterra 1810 Conserva em potes, na França 1815 Garrafa de Coca-cola, nos EUA 1824 Embalagens plásticas (celofane), nos EUA 1930 Embalagens cartonadas assépticas Tetra Pack, na Suécia 1952 Lata de alumínio – Latasa, no Brasil 1989 Quadro 1: Inovação em embalagens ao longo do tempo Fonte: Mestriner, 2002, p. 10. A indústria de embalagens está sempre em busca de novas soluções tecnológicas. Cada uma delas abre novas perspectivas de inovação e desenvolvimento de produtos. Já circulam entre nós embalagens para UHT em plástico ou vidro, autovácuo em folha de alumínio, atmosfera modificada (ATM), dentre outros. Algumas publicações dão conta de que o Brasil está caminhando para ser um dos países que mais lançam novos produtos. A posição está facilitada, pois, neste momento, muitos países tradicionais em lançamentos de novos produtos estão em maiores dificuldades internas e, por este motivo, segurando muitas ações de inovação. Um e stud o re ali zado e m 2 008 pe lo labora tóri o de Monitoramento Global de Embalagem da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) com a ferramenta Global New Product Database do instituto de pesquisa americano Mintel, que cataloga cerca de 80% dos lançamentos em supermercados de todo o mundo, indica que o Brasil está, neste momento, em 2º lugar no lançamento de novos produtos. 134 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Os cosméticos têm destaque entre as categorias de produtos, sendo responsáveis por 16% do total de novos lançamentos em todo o mundo. O Brasil é um dos responsáveis por esse alto número, com seu mercado ultrapassando o japonês em 2008, após também passar à frente da França em 2007 e ficando agora atrás apenas dos Estados Unidos. Os produtos para os lábios, pescoço, olhos e corpo, são o que concentram o maior número de lançamento em todo o mundo. No Brasil, no entanto, a maioria são de produtos para cabelos. Sobre estes produtos, em especial, recentemente foram realizadas matérias em TV aberta, mostrando o alto consumo de tinturas para cabelo. Além do destaque para o Brasil, os estudos indicam que a China também está entre os que mais tem lançam novos produtos. Dos dois outros países emergentes do chamado grupo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), a Índia não entra ainda na lista por não ter um varejo concentrado em supermercados, tipo de PDV no qual é realizada a pesquisa. Já a Rússia encontra-se em dificuldade por conta da recessão econômica que enfrenta no momento. O posicionamento mais adotado nos produtos lançados foi o “natural”, tendência que vem se reforçando nos últimos anos à medida que o debate sobre sustentabilidade e qualidade de vida cresce. O produto de marca própria é outro que se destacou nesse cenário de crise mundial, representando 16% dos produtos lançados em 2008 em todo o mundo, e em janeiro deste ano passou para 21%. Os resultados são possivelmente um ajuste à nova estrutura econômica que está se estabelecendo a partir de agora. O tipo de embalagem mais lançado em todo o mundo tem sido a flexível, ultrapassando, ligeiramente, as garrafas, devido a sua maior versatilidade de formato, possibilitando atender diversas categorias de produtos. Já o tipo de material mais utilizado ainda é o plástico, por conta de sua diversidade de composições e flexibilidade de apresentações. Em seguida, mas muito atrás, está o vidro simples. Seção 6.3 Inovação e Novos Produtos Nós, consumidores, estamos sempre em busca de alguma novidade, de experimentações. Muitas vezes as próprias inovações de embalagens bem-sucedidas representam o mais poderoso conceito de inovação que um produto pode apresentar no PDV. A busca de inovação constitui conceito obrigatório e deve ser perseguida em todo projeto, por mais simples que ele seja. A embalagem do leite longa vida da marca Piá,1 por exemplo, inovou o produ- 1 Produzido e comercializado pela Cooperativa Piá, de Nova Petrópolis na Serra Gaúcha. 135 EaD Embalagem inovadora mais estreita, mais alta e com tampa de rosca Marcelo Blume – Martin Ledermann to, alterando o formato da embalagem, que é mais estreita e mais alta. A sua estampa é mais atrativa e altamente diferenciada, e a tampa de plástico, com rosca, facilita o manuseio. O leite, conteúdo da embalagem, não foi alterado, mas pode-se dizer que o produto teve uma inovação importante com a alteração da embalagem, o que lhe garantiu uma melhor competitividade no setor. Outra inovação é a embalagem de 500 ml, da mesma marca, voltada para o público que consome pouco leite e não quer des- Embalagem inovadora de 500ml, mais prática e customizada para os segmentos de clientes que consomem pouco e eventualmente perdiçar. Inovação, para nós, deve ser uma atividade cotidiana e não uma coisa da “Nasa”, como muitas pessoas imaginam. A inovação de um produto em si, ou somente na embalagem, nem sempre é resultado de tecnologias sofisticadas geradas nos centros avançados de pesquisa. Muitas vezes ela pode ser alcançada a partir de idéias e soluções simples. Quem desenha e cria produtos deve exercitar-se permanentemente na observação do que ocorre no mundo e se manter informado por meio das publicações especializadas, para conhecer as novidades e o que está sendo criado, quais as tendências e novos materiais. Muitas vezes a inovação está em trazer para uma categoria as soluções que são usadas em outras categorias de produtos. Isso faz com que, muitas vezes, a solução esteja muito perto, talvez na sala ao lado. Trazer inovações do mercado internacional para o país, sendo o primeiro a adotá-las, é outra forma simples de inovar. Mecanismos de abertura e fechamento, novos materiais, pigmentos e texturas inovadoras e mesmo imagens, linguagens, abordagens visuais, tudo isso pode resultar em inovação, e precisamos estar atentos para perceber quando aplicar esses recursos. Preferencialmente não é recomendável fazê-lo somente após a concorrência já o ter feito. Toda vez que iniciarmos um projeto, devemos considerar seriamente a possibilidade de encontrar uma inovação que possa ser aplicada ao produto, ou à embalagem. Em cada fase do projeto devemos estar atentos para essa possibilidade. 136 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS A principal fonte em que podemos buscar a inovação é a indústria de embalagens, pois é ela que apresenta constantemente soluções diferenciadas que a põe em vantagem sobre seus concorrentes; pode-se perguntar às indústrias relacionadas com o tipo de embalagem o que empregar no novo produto; se elas têm alguma novidade que poderia ser aplicada ou se vêem alguma oportunidade de inovação no projeto. Estas são iniciativas que costumam dar bons resultados. Além disso, manter um estreito relacionamento com as principais indústrias do mercado é uma forma de ter o acesso às novidades e às oportunidades de inovação. Outra forma de encontrar alternativas inovadoras, é verificar no mercado as soluções que funcionam em outras categorias e que poderiam ser trazidas para o nosso projeto, principalmente no mercado internacional e na Internet. Conforme já mencionado, participar de feiras nacionais e internacionais, quando possível, especializadas no seu setor de atividade, também proporciona grandes possibilidades de visualizar inovações para seus produtos. As feiras do setor precisam ser visitadas e monitoradas, pois a indústria costuma aproveitar esses eventos para lançar suas inovações. Talvez a forma mais efetiva de encontrar as oportunidades, de agregar algo novo, todavia, seja uma atitude de questionamento. Os gestores devem examinar os vários aspectos do projeto e perguntar se as coisas têm mesmo de ser daquele jeito, ou quem sabe poderiam ser de outro. Devem analisar o problema por ângulos diferentes do que foi apresentado, em busca de novas oportunidades de posicionamento para o produto. Aquela frase, “sempre foi deste jeito e sempre deu certo”, é velha e não se usa mais há muito tempo. Aliás, esta frase é bem comum em falas de gestores que já saíram do mercado ou estão ficando fora e ainda não perceberam. Um bom conselho, dado por Mestriner, é: “A inovação pode ser conseguida com a alteração de um detalhe na embalagem existente ou abandonando tudo o que existe e partindo para algo completamente novo” (2002, p. 38). Conforme Cheverton (2007, p. 79), “Embora os bens de consumo imediato e de varejo possam oferecer exemplos de grande destaque, é talvez no campo das marcas industriais e de B2B que o efeito de halo pode ser de maior valia.” O lançamento de novos produtos é uma tarefa difícil se depender principalmente de um esforço de vendas concreto, em vez de uma campanha promocional forte. Conseguir que o cliente dedique parte de seu tempo para que você apresente suas idéias não é fácil, mesmo se acontecerem contatos regulares. Uma observação de Cheverton (2007) é que os produtos que surgem hoje tendem a comprimir as discussões sobre oportunidades futuras. 137 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Efeito halo Uma marca forte não é garantia permanente de preferência No âmbito do mercado de marcas, o efeito halo se dá quando as características percebidas como positivas em relação a um produto tendem a se estender outros produtos da mesma marca. Um exemplo é o caso da Apple, pois o iPod se tornou tão admirado e bem cotado no mercado que esta impressão positiva está englobando os outros produtos da empresa, como um todo. do público; aumenta sua probabilidade e alarga a base das pessoas que podem querer conhecer o produto, mas ele precisa corresponder à altura da promessa que os esforços promocionais estiverem fazendo. “Nos relacionamentos de B2B, uma vez que a ampliação dos contatos é essencial para o sucesso, o halo marca poderá ajudá-lo a ampliar ainda mais seu alcance” (Cheverton, 2007, p. 79). No Brasil, apesar de distintas dinâmicas inovadoras nos diversos setores industriais, percebe-se uma assimilação da importância de tratar o desenvolvimento de produto como instrumento de alavancagem de competitividade. Quando se trata de inovação e novos produtos, porém, surgem algumas alternativas: a modificação do produto e do mercado, e/ou o reposicionamento do produto. Vamos explicar cada uma delas a seguir. a) Modificando o produto A modificação do produto envolve uma característica deste, como sua qualidade, seu desempenho ou sua aparência, para tentar aumentar suas vendas. Roupas que não amassam e são resistentes a manchas, foram possibilitadas pela nanotecnologia, que revolucionou o traje executivo de homens e mulheres e estimulou as vendas na indústria de calças, saias e blusas casuais. A Harley-Davidson modificou seu nível de entrada na linha Sportster de motocicletas, incluindo guidãos menores, um assento mais baixo e um pedal mais fácil de puxar, para criar um passeio mais confortável para aqueles que compram motocicletas pela primeira vez (Kerin et al, 2007). Novos recursos, aromas ou embalagens, podem ser usados para mudar as características do produto e dar a sensação de um ter sido revisado. A Procter & Gamble, por exemplo, renovou a linha de xampus e condicionadores Pantene com uma nova fórmula de vitaminas e relançou a marca com uma campanha de propaganda e promoção milionária. O resultado foi que, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países em que a marca está presente, como no Brasil, em que tem quase 70 anos, ela voltou a figurar entre as de maior market share. 138 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS b) Modificando o Mercado Embalagem do óleo lubrificante com a marca Honda Com as estratégias de modificação de mercado, uma empresa tenta descobrir novos consumidores, aumentar o uso de um produto entre os consumidores já existentes, ou criar novas situações de uso. Também se faz inovação criando novos usos para os produtos já existentes. Algumas indústrias de óleo lubrificante, por exemplo, lançam o mesmo tipo de óleo, porém, com a embalagem de uma determinada marca de veículos. Fazem contratos com as concessionárias ou com a própria fábrica, quando os mecânicos, e muitas vezes o próprio manual do veículo, recomendam o uso do óleo da marca própria. A adesão do consumidor é forte e imediata. É o caso da marca de óleo Mobil, que, dentre outras marcas, tem recomendação no manual do usuário de veículos fabricados pela Honda e Mercedes Benz. Para estas marcas, por exemplo, a Mobil tem embalagem com as marcas dos fabricantes. c) Reposicionando o Produto Freqüentemente uma empresa decide reposicionar seu produto ou linha de produtos numa tentativa de aumentar as vendas. O reposicionamento de produto é a mudança de lugar que um produto ocupa na mente do consumidor com relação aos produtos da concorrência. Uma empresa pode reposicionar um produto alterando um ou mais dos quatro elementos do composto de marketing. Os três fatores que disparam uma ação de reposicionamento são discutidos a seguir. A primeira razão para reposicionar um produto é porque o bom posi c i oname nto de um concorre nte e stá afe tando desfavoravelamente as vendas e a sua participação de mercado. A New Balance Inc. reposicionou, com sucesso, seus calçados esportivos para focar no conforto e no ajuste em vez de competir frontalmente com a Nike e a Rebook, tanto na moda quanto nos esportes. A empresa oferece uma ampla faixa de tamanhos de calçados com a mensagem “New balance é para ajuste perfeito”, e se comunica por meio de especialistas em pés, não com celebridades esportivas (Kerin, et al, 2007). 139 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Quando a Unilever introduziu o ice tea na Inglaterra, em meados dos anos 90, as vendas foram desanimadoras. Os consumidores britânicos o viam como uma sobra do chá quente, não apropriado para beber. A empresa fez seu chá gaseificado e o reposicionou como refrigerante gelado para competir com as bebidas gaseificadas e as vendas melhoraram. A Jonhson & Jonhson reposicionou de forma eficaz a Aspirina St. Joseph, que de um produto para as crianças, passou a ser vendida como uma Aspirina fraca para adultos, para reduzir o risco de problemas cardíacos ou derrames cerebrais. A segunda razão para reposicionar um produto pode se dar devido ao reconhecimento de uma tendência. As mudanças de tendências, e também o crescimento do interesse dos consumidores, podem levar à busca pelo reposicionamento. O crescimento do interesse dos consumidores em alimentos dietéticos e que ofereçam benefícios à saúde é um exemplo, e muitos produtos têm sido reposicionados para capitalizar essa tendência. A Quaker Oats reposicionou seus produtos a partir da aprovação do FDA de que a farinha de aveia, como parte de uma dieta de gorduras não-saturadas e de baixo colesterol, pode reduzir o risco de doenças cardíacas. Produtos enriquecidos com cálcio, como o queijo Kraft American e o arroz Uncle Ben’s Calcium Plus, enfatizam uma estrutura óssea saudável para crianças e para adultos (Kerin, et al, 2007). Consumidores preocupados com o peso estão abraçando as dietas com baixo teor de carboidratos. Atualmente, todas as grandes empresas fabricantes de bebidas e de alimentos oferecem e anunciam versões de seus produtos com baixos índices de carboidratos, produtos livres de gorduras trans, zero açúcar, rico em fibras, promessas de melhorias de funções intestinais, dentre outros. Este segmento tem gerado vendas que crescem exponencialmente e parece ser uma tendência forte para os próximos anos. A terceira forma de reposicionar um produto pode ser mudando o valor oferecido. Ao reposicionar um produto, uma empresa pode decidir mudar o valor que ele oferece aos consumidores, aprimorando seu padrão de preços (mark up) ou reduzindo-o (mark down). O aprimoramento envolve agregar valor ao produto ou linha de produtos por meio de recursos adicionais ou maior qualidade de materiais. Os dirigentes da Michelin e Goodyear têm feito isso com um pneu “que roda vazio” e que pode viajar a 80 quilômetros por hora após sofrer perda total de ar. Fabricantes de alimentos para cães, como a Purina, também têm aprimorado suas vendas oferecendo produtos super premium com base na “nutrição por estágio de vida do animal”. Já a redução envolve diminuir o número de recursos, de qualidade ou preço. Por exemplo: as companhias aéreas estão adicionando mais assentos, reduzindo, dessa forma, o espaço para as pernas, e eliminando os extras, como serviço de aperitivos e porções de refei140 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS ções. A redução freqüentemente ocorre também quando as empresas se engajam em um downsizing – reduzindo o conteúdo das embalagens sem mudança de seu tamanho e mantendo ou aumentando seu preço. As empresas têm sido criticadas por essa prática, como nos alertas obre ética e responsabilidade social. Agora que você já estudou a respeito do processo de desenvolvimento de produtos, sobre a necessidade de estar atento a novos materiais e tecnologias, bem como à inovação e novos produtos, chegou a hora de refletir sobre a forma de ser bem-sucedido também no lançamento destes produtos. Seção 6.4 Lançando Novos Produtos Conforme estudos de Dias et al (2003, p. 111) De cada 58 idéias de novos produtos que surgem nas empresas, apenas 12 transformam-se efetivamente em projetos. Destas, cinco são descartadas na fase de análise financeira e outras quatro morrem no estágio de desenvolvimento de produto. Três produtos apenas chegam a passar por teste de mercado e um único é lançado com sucesso. Como você pode observar, o lançamento de novos produtos é um componente muito importante da estratégia de marketing das empresas de sucesso. Exigem, porém, muitos investimentos e nem todas as empresas são bem-sucedidas nessa tarefa, como revela a citação anterior. O processo de desenvolvimento de um novo produto deve seguir algumas etapas importantes, conforme indicado em Dias et al (2003), e descritas a seguir: 1. Geração e triagem de novas idéias: as empresas inovadoras estão em processo permanente de busca de novas idéias e investem bastante nisso. Uma das maneiras de buscar novas idéias é estimular os funcionários para isso, permitindo participarem dos resultados quando novos produtos, são desenvolvidos e lançados com base em suas idéias. As áreas de tecnologia, de pesquisa e desenvolvimento de produtos também são fontes geradoras de idéias. A pesquisa de marketing pode e deve ser empregada, obtendo-se informações dos clientes sobre suas necessidades e desejos não satisfeitos, sugestões de mudanças nos produtos e opiniões sobre novos produtos. 2. Desenvolvimento e teste do conceito do produto: após a seleção da idéia de um novo produto, o passo seguinte é formular o seu conceito e testá-lo com uma amostra do público usuário potencial. O conceito de produto é a definição dos benefícios e das caracterís141 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann ticas do novo produto na forma de texto impresso, com ou sem a imagem ilustrada de seu formato, das dimensões ou suas características. Nessa etapa, o objetivo é avaliar a aceitação ou a rejeição do público em relação à idéia de novo produto. 3. Desenvolvimento e teste do protótipo do novo produto: após a aprovação da idéia do novo produto pelo público usuário potencial, a empresa prossegue o desenvolvimento até o estágio de construção de um ou mais protótipos, na forma física mais acabada possível. O objetivo é avaliar a aceitação do público potencial, bem como realizar estudos de viabilidade tecnológica, econômico-financeiro e de produção. 4. Desenvolvimento das estratégias e programas de marketing: se o novo produto for aprovado nos testes e nos estudos da etapa anterior, o gerente de marketing elaborará a proposta do seu lançamento, ou o plano de negócios do produto, com o detalhamento da estratégia de marketing recomendada; também fará a previsão dos investimentos mais relevantes que serão necessários, das vendas, das receitas e dos lucros, e, ainda, o orçamento de marketing e o cronograma de instalação. A direção geral da empresa deverá ou não aprovar o lançamento, de acordo com a análise de atratividade do negócio e os objetivos estratégicos da empresa. 5. Desenvolvimento final do produto: se o lançamento do novo produto for aprovado na etapa anterior, a empresa inicia os investimentos em capacidade produtiva, logística e distribuição, visando o seu lançamento no menor prazo possível. O gerente de marketing tem um papel importante nessa etapa como coordenador e líder, acompanhando e orientando as áreas da empresa e os parceiros externos envolvidos no projeto. Além da fabricação do produto e da formação de estoques, nessa etapa são produzidos todos os materiais de marketing e são treinados os vendedores, o canal de distribuição e as equipes envolvidas no atendimento aos clientes. 6. Teste de mercado: visando a minimizar os riscos de um lançamento em larga escala e permitir o ajuste do produto e dos outros componentes do composto de marketing, o gerente de marketing pode optar pela realização de um teste de mercado, lançando o novo produto em uma área geográfica reduzida e controlada. O risco nessa etapa é a reação da concorrência, que poderá se antecipar e lançar em larga escala um seu produto, atrapalhando o lançamento do outro. Por este motivo, a agilidade e o sigilo são estratégias que devem fazer parte dos planos. 7. Lançamento no mercado: uma vez que os resultados do teste de mercado sejam favoráveis, o gerente de marketing inicia o lançamento em larga escala do novo produto. 8. Monitoramento dos resultados: durante a introdução do produto no mercado, o gerente de marketing deve monitorar permanentemente os principais fatores e indicadores de resultados e os fatores críticos de sucesso, como o volume das vendas, a participação de mercado, o preço de venda, a reação da concorrência, o grau de satisfação dos clientes e o nível de estoque nos canais de distribuição. 142 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Seção 6.5 Ciclo de Vida do Produto Uma importante tarefa para uma empresa é gerenciar seus produtos ao longo dos sucessivos estágios de seus ciclos de vida. Essa seção descreve o papel de um gerente de produto, que em geral é responsável por essa tarefa e analisa as formas de gerenciar um produto ao longo de seus ciclos de vida, como modificar o produto, como modificar o mercado e reposicionar o produto, atividades já comentadas anteriormente. O procedimento da Avaliação do Ciclo de Vida é parte de várias normas de certificação da qualidade, como a norma ISO 14000 e de Gestão Ambiental. Estas normas possuem todo um arsenal técnico ao seu dispor. Primeiramente, porém, é preciso compreender o ciclo de vida de cada produto e identificar exatamente em que estágio ele se encontra. Neste caso, muitas vezes é possível passar para a dimensão do Marketing socioambiental, uma vez que muitos componentes e processos do produto podem ser revistos a partir de tecnologias mais limpas e mais econômicas. Atualmente o marketing está cada vez mais orientado numa nova concepção, que tem por objetivo criar valor para os clientes e também para todos aqueles que são afetados direta ou indiretamente pelas ações de uma empresa – os stakeholders. Se nas etapas de desenvolvimento, crescimento, maturidade e declínio do produto há toda uma composição de tarefas e ocorrências, aqui também as obrigações são muitas e as preocupações das empresas requerem investimento tanto em novas tecnologias como em uma cultura empresarial diferenciada, guiada por preceitos não só de preservação do meio-ambiente, mas de controle da demanda e dos impactos sociais que tais mudanças podem causar. De acordo com Kotler e Armstrong (2003), o ciclo de vida de um produto sugere que todo e qualquer produto tem limite em seu período de vida. Na verdade, o termo ciclo já espelha, de forma evidente, à que estes produtos estão predispostos a vivenciar, ou seja, passam por um período de introdução no mercado, desenvolvem o seu crescimento, adentram pela fase de maturidade e, bem mais à frente, atingem o último estágio, chamado de declínio. Ainda de acordo com estes autores citados, percebe-se que ao longo dos anos é comum que haja a necessidade de substituição ou adequação destes bens e/ou serviços no mercado. Um conceito antigo e honrado, se bem que bastante controvertido, nos ajuda a compreender melhor o fenômeno. Trata-se do ciclo de vida dos produtos que, para ser de utilidade pragmática, deve ser analisado sob a ótica de seu contexto ambiental. Não basta observar como os produtos se comportam ao longo de sua vida (que é a principal ênfase que se costuma dar à análise do 143 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Ponto de inflexão conceito), é importante, sobretudo, tentar descobrir as causas de Pontos de inflexão são momentos críticos que podem ocasionar mudanças importantes em função de cenários internos ou externos à organização. São momentos para aproveitar as oportunidades ou se proteger para neutralizar as ameaças. suas mudanças. Aí, o enfoque passa para o meio ambiente, responsável pelos altos e baixos do ciclo e pelos pontos de inflexão (Richers, 1997, p. 64). A partir do entendimento dos pensadores da área, pode-se afirmar que o estudo acerca do estágio de vida em que se encontra um produto, tem como objetivo gerar a identificação desta fase, determinar a intensidade e como este é absorvido e aceito pelo mercado e, ainda, detectar com antecipação as mudanças que este produto poderá sofrer, minimizando os pontos de inflexão. Na obra de Kotler e Armstrong (2003) é incluída, também, a análise desde o período de desenvolvimento do produto, quando a empresa ainda não tem como auferir receitas, mas um conjunto importante de investimentos no produto. Figura 2: Vendas e lucros comparados com o ciclo de vida do produto Fonte: Kotler; Armstrong, 2003, p. 251. A Figura 2 apresenta as etapas relacionadas ao ciclo de vida dos produtos, quando se pode observar desde o seu desenvolvimento, passando por seu período de crescimento e maturidade, até de estagnação e declínio, comparando as possibilidades de receitas e necessidades de investimentos. De acordo com Kotler e Armstrong (2003), embora as empresas não esperem que um produto seja vendido para sempre no mercado, o intuito é tentar manter o máximo possível os 144 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS mesmos em posição de venda, alavancando por maior tempo a rentabilidade e a lucratividade. Daí há a necessidade real de que se compensem todos os esforços para a obtenção dos resultados. A solução, muitas vezes, vem com a inovação do próprio produto, criando novos usos ou incrementos no mesmo produto, gerando um novo ciclo de vida, antes da fase de declínio se agravar. Com a inovação, ao invés da fase de declínio, o produto entra em uma nova fase de desenvolvimento, passando novamente por uma fase de maturidade. Antes da nova fase de declínio chegar, é preciso desenvolver novo processo de inovação, para que, ao invés de chegar à fase de declínio, inicie-se outra fase de crescimento, depois de desenvolvimento e assim por diante, ao longo da vida do produto. Esta é a fórmula das marcas de vida longa. Vendas totais no mercado Lucros totais no mercado Inovação Novo ciclo Inovação Novo ciclo Maturidade Introdução Crescimento Maturidade Declínio Figura 3: Cliclo de vida do produto com ações de inovação Fonte: Elaborada pelos autores. O PAPEL DE UM GERENTE DE PRODUTO O gerente de produtos também pode ser chamado de gerente de marca. Sua função é gerir os esforços de marketing para uma coesa família de produtos e marcas. Conforme Kerin et al (2007), introduzido pela Procter & Gamble em 1928, o estilo de organização de marketing com gerentes de produto é empregado por empresas que produzem bens de consumo, incluindo a General Mills e a PepsiCo e por empresas industriais como a Intel e a Hewlett-Packard (HP). O serviço postal dos Estados Unidos também emprega gerentes de produto. Todos estes profissionais são responsáveis por gerenciar produtos existentes ao longo dos estágios dos seus ciclos de vida. Alguns são responsáveis também por desenvolver novos produtos. As responsabilidades de marketing do gerente de produto incluem desenvolver e executar um programa de marketing para a linha de produto descrita em um plano de marketing anual e aprovar materiais de propaganda, seleção de mídia e design de embalagens. 145 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann Rapé O rapé, palavra de origem francesa (raspar), é o tabaco (fumo) em pó para cheirar. O hábito de consumir rapé era bastante difundido no Brasil até o início do século 20. Era visto de maneiras contraditórias: às vezes como hábito elegante, às vezes como um vício. Seção 6.6 Proteção Legal a Marcas e Patentes Remonta aos primeiros anos do século 19 o início da preocupação com as questões de proteção e de registro das marcas, principalmente na Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. Apesar da evolução lenta e confusa da legislação de proteção às marcas, decorrente das dificuldades inerentes aos seus valores intangíveis, difíceis de serem provados nos tribunais, a demanda legal acarretou, na segunda metade do século, a promulgação da Lei de Marcas da Mercadoria da Inglaterra (1862), da Lei Federal de Marcas do Comércio nos Estados Unidos (1870) e da Lei para Proteção de Marcas na Alemanha (1874) (Pinho, 1996). No Brasil, o Código Criminal do Império era completamente omisso quanto a qualquer tipo de proteção às marcas comerciais e de indústria. Pelos estudos de Domingues (1984), por volta de 1875 a firma Neuron & Cia., fabricante de rapé com a marca Arêa Preta, ingressou em juízo contra a empresa concorrente, a Moreira & Cia., que lançou no mercado o mesmo produto com o nome Arêa Parda. A primeira alegou a usurpação de sua marca pela concorrente. A causa teve Rui Barbosa como advogado reclamante, sendo julgado improcedente pelo Tribunal da Relação da Bahia, posto que nenhuma lei qualificava o fato como delito. Nova representação foi encaminhada pelo autor ao Poder Legislativo, merecendo dessa vez a acolhida pela Comissão de Justiça Criminal da Câmara dos Deputados, que, na sua exposição de motivos, manifestou o perigo que a certeza de impunidade poderia acarretar para a indústria e elaborou um projeto de regulamentação que, depois de aprovado, se transformou na Lei nº 2.682 de 23 de outubro de 1875 (Pinho, 1996). Acrescentando ao que já vimos, marca é legalmente entendida como um nome e/ou sinal de fantasia que identifica, assinala e distingue bens ou serviços dos demais de procedência diver- 146 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS sa, com a função de evitar erro, dúvida ou confusão no espírito do consumidor. Segundo a legislação vigente, são registráveis como marca os nomes, palavras, denominações, monogramas, emblemas, símbolos, figuras e quaisquer outros sinais distintivos que não apresentem anterioridade ou sobreposição a registros já existentes e não estejam compreendidos nas proibições legais. A empresa que não registra suas marcas corre o risco de um terceiro fazê-lo em seu próprio nome e depois intentar medida judicial para compeli-lo a se abster do uso da marca, exigindo indenização por perdas e danos. Atualmente uma das dificuldades mais comuns que as empresas que passam para um estágio de crescimento sofrem, na gestão das marcas, é a proteção legal. Muitas empresas se dão conta de registrar um dos seus maiores patrimônios, somente quando alguém bate a sua porta informando um prazo para deixar de utilizar a marca que pensava ser somente sua. O transtorno pode ser evitado com uma medida simples de registro da marca assim que ela for criada e desenvolvida. O custo é relativamente baixo e os canais de acesso ao Instituto Nacional de Marcas e Patentes (Inpi), são fáceis de encontrar. Além disso, há vários agentes do INPI com escritórios em todas as regiões, que facilitam e agilizam os processos de registro tanto de marcas quanto de patentes. Ao registrar a marca, você precisa escolher uma classe na qual as principais atividades da sua empresa estão descritas. Os registros são feitos por classes. Na Classe 35, por exemplo, estão descritas as atividades relativas à propaganda, gestão de negócios, administração de negócios, funções de escritório, em mais de 100 especialidades. Já a Classe 41, por sua vez, registra atividades relativas à educação, provimento de treinamento, entretenimento, atividades desportivas e culturais. A Patente é legalmente entendida como um instrumento de incentivo ao processo de contínua renovação tecnológica e de estímulo ao investimento das empresas. Ao mesmo tempo em que protege os titulares da invenção, contribui também para promover o desenvolvimento econômico e social do país. Trata-se de um privilégio temporário concedido pelo Estado aos inventores ou quaisquer outras pessoas físicas ou jurídicas, detentoras do direito de invenção de um produto, de um processo ou aperfeiçoamento de produtos e processos já existentes, para que se possa obter o retorno financeiro dos gastos efetuados na realização da pesquisa do produto. Muito admiram-se as pessoas que criam marcas e produtos criativos e inovadores. É comum chamá-las de gênios. Costuma-se dizer, no entanto, que gênio é quem protege suas MARCAS e suas INVENÇÕES! 147 EaD Marcelo Blume – Martin Ledermann A influência vital que a propriedade industrial exerce sobre as atividades de nossas empresas, seja protegendo com exclusividade o uso do nome comercial, as marcas de indústria e de comércio e de prestação de serviços, seja também no campo de patentes (invenções), nos faz pensar na importante necessidade de adotarmos medidas de proteção total, de forma a evitar qualquer violação à exclusividade da marca e/ou patente. A preocupação em resguardar a marca ainda é recente no país, mas no exterior grandes empresas já protegem seu maior patrimônio em segmentos diferentes. Google e Bugatti, por exemplo, além dos segmentos iniciais, também depositaram suas marcas em segmentos como relógios, jóias (Bugatti), escritório e vestuário (Google). Para quem estiver estranhando, lembre que a Coca-Cola vem fazendo muito sucesso com sua linha de vestuário (camisetas, calças, abrigos, etc.) e calçados (especialmente tênis). Assim, também, a linha de tênis da Volkswagen, dentre outros. Se uma destas grandes marcas não tiver se registrado em classes de produtos bem diferentes das de seus produtos tradicionais, e quiser entrar agora no mercado, talvez já exista alguém que tenha registrado esta marca, ou até que já esteja fabricando outros produtos com ela registrada em classes bem diferentes. No Brasil, as marcas devem ser registradas no Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (Inpi), e quando uma empresa investe em novos segmentos deve antes estar atenta a estes aspectos jurídicos. Como regra geral, quanto mais descritivo for um nome, maior o seu poder de comunicação com o consumidor. Tais nomes, no entanto, são pouco distintivos e de difícil proteção. Por outro lado, quanto mais arbitrário ou convencional for o nome, menor será o seu poder de expressividade para o consumidor, obrigando o titular da marca a investir pesadamente para criar a personalidade de marca exigida por ele. Já no meio do espectro estão os nomes sugestivos ou associativos, que se caracterizam por serem distintos e protegíveis, além de comunicarem pelas associações geralmente positivas para o consumidor. O que pode ser curiosidade para muitos é preciso ser explicado. Recentemente o Departamento de Patentes dos Estados Unidos divulgou decisão preliminar que nega a Microsoft o registro da expressão Windows (janela), utilizada pelo fabricante para ser o nome do seu ambiente operacional gráfico. O Departamento de Patentes considerou comum e de significado genérico na indústria de informática, bem antes de a Microsoft lançar o produto em 1983. O Windows foi desenvolvido para facilitar o uso dos microcomputadores da linha PC, permitindo o trabalho simultâneo com dois ou mais aplicativos, que são exibidos em quadros retangulares (as janelas) que compartilham a mesma tela. As vendas do produto atingiram 12 milhões de cópias já no início, em 1992, o que indicava o grande sucesso do software, que mudou radicalmente a situação desse mercado, anteriormente dominado pelo sistema operacional DOS (Disk Operating System), também da Microsoft (Pinho,1996). 148 EaD GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS Para esclarecer: quanto mais a marca se parecer com palavras ou expressões do uso cotidiano das pessoas, mais difícil será dos institutos de marcas e patentes permitirem o registro de exclusividade de uso. Por este motivo, marcas como “oi”, “vivo”, “claro”, “popular ”, “primeiro”, “internacional”, “grêmio”, “vitória”, “elegância”, não são aceitas para registro. Devido à exclusividade que o registro da marca proporciona ao detentor dos direitos de uso, ele pode impedir todos os demais de utilizarem esta marca, ou, ainda, pode permitir o emprego, diante de pagamento de licenciamento de uso da marca. As marcas citadas, no entanto, podem registrar os símbolos das suas marcas, como forma de uso exclusivo, mas não o nome, por pertencerem ao vocabulário cotidiano de todo o país. SÍNTESE DA UNIDADE 6 Nesta Unidade discutimos a importância da inovação e do desenvolvimento de novos produtos para a sustentação e o fortalecimento das marcas e das empresas. As estratégias para novos produtos e os processos envolvidos no desenvolvimento de produtos também foram abordados. Nesse sentido, salientamos que o Brasil é um dos países que atualmente mais lança novos produtos, em especial voltados para a venda em supermercados. Também estudamos que todos os produtos têm estágios em seus ciclos de vida, com desenvolvimento, introdução, crescimento, maturidade e declínio. Muitos produtos, no entanto, conseguem estender seus ciclos de vida por meio da inovação, processo que pode ser permanente e, portanto, permitir longa vida ao produto. Por fim, outro ponto importante desta Unidade é o registro de marcas e patentes, que, como vimos, é um dos itens mais desafiadores do momento, devido à alta competitividade e ao grande número de lançamentos de novos produtos. 149 EaD Referências GESTÃO DE PRODUTOS E MARCAS 13º Estudo de Marcas Próprias da Consultoria Nielsen. AAKER, David. A. Marcas – Brand Quality – gerenciando o valor da marca. São Paulo: Negócio Editora, 1998. AL, Ries; TROUT, Jack. As 22 consagradas leis do marketing. São Paulo: Makron Books, 1993. BAKSTER, M. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1998. BOONE, Louis E.; KURTZ, David L. 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