Manfred Kets de Vries - “O amor é essencial para os negócios” O professor de liderança Manfred Kets de Vries, considerado um dos principais pensadores na área de recursos humanos, diz que as pessoas têm de gostar umas das outras no ambiente de trabalho JOSÉ FUCS Considerado pela revista britânica The Economist como um dos principais pensadores mundiais nas áreas de liderança e de recursos humanos, o professor e consultor Manfred Kets de Vries leva ao limite a interseção entre a psicologia e a administração. Ele diz que as emoções, tradicionalmente negligenciadas pelas empresas, estimulam o envolvimento e o comprometimento dos funcionários. “As pessoas gastam tanto tempo no trabalho que as empresas têm de ser uma comunidade”, afirma. “Elas precisam gostar umas das outras.” Segundo De Vries, a característica mais importante de um grande líder é o autoconhecimento. “Se você pretende ser um líder autêntico, precisa entender seus pontos fortes e suas fraquezas, suas motivações, seus desejos, seus sentimentos e saber como eles afetam seu comportamento.” ENTREVISTA – MANFRED KETS DE VRIES QUEM É Consultor empresarial, professor titular de desenvolvimento de liderança da escola de administração Insead, na França, e responsável pelo Centro de Liderança Global da instituição. É membro da Associação Internacional de Psicanálise ONDE ESTUDOU Doutor em economia pela Universidade de Amsterdã, doutor em administração pela Universidade Harvard e psicanalista O QUE PUBLICOU Escreveu cerca de 30 livros, entre eles O líder e o divã – Uma análise clínica para transformar pessoas e organizações, inédito no Brasil ÉPOCA – Em seus últimos livros, o senhor fala que é preciso dar vazão às emoções nas empresas. Por quê? Manfred Kets de Vries – Até pouco tempo atrás, as emoções não tinham importância na vida das empresas. Nas organizações convencionais, as pessoas costumam trabalhar de forma mecânica, sem mostrar emoções. O modelo de gestão é desapaixonado. Hoje, mais e mais pessoas começam a se dar conta de que isso não funciona. O comando e o controle são coisas do passado. Se você quiser tirar o que as pessoas têm de melhor, tirar algo extra das pessoas, precisa inspirá-las. As pessoas têm de se sentir vivas no trabalho. ÉPOCA – O que isso quer dizer? De Vries – O que acontece nos workshops que faço com executivos mostra bem o que estou falando. Costumo pedir para eles fazerem um autorretrato. É uma forma de quebrar o gelo e descontrair o ambiente. Em geral, os executivos me olham como quem diz: “Meu Deus, o que você está fazendo?”. E eu digo que, se os filhos deles podem fazer isso, eles também podem. Depois, colo os desenhos na parede e escolho algumas pessoas para explicar o que fizeram. Uma vez, quando estava dando um workshop para 25 executivos de um grande banco internacional, pedi para o presidente explicar seu desenho. Em vez de um autorretrato, ele tinha desenhado uma menina. Eu perguntei: “Por que você desenhou uma menina?”. Ele disse que era sua filha, e ela tinha morrido. E começou a chorar. Ele é o presidente do banco, e não o SuperHomem. É um ser humano – e isso não muda quando está trabalhando. ÉPOCA – No dia a dia, de que forma as emoções podem contribuir para melhorar o clima nas empresas? De Vries – Muitos executivos estão percebendo que a maioria das pessoas não decide simplesmente sair das empresas em que trabalham. Elas deixam seus exércitos. Quando alguém lhes pergunta: “Por que vocês trabalham para essa empresa? É uma péssima empresa”, elas dizem: “Eu gosto do meu chefe. Quando tenho alguma dificuldade, ele (ou ela) realmente se importa comigo”. Isso faz uma tremenda diferença. Outra coisa importante é o que eu chamo de “amor”, embora talvez não seja a melhor palavra. Hoje, as pessoas gastam tanto tempo no trabalho que as empresas têm de ser uma comunidade. As pessoas precisam gostar umas das outras. Em muitas empresas, há uma sopa darwiniana, em que as pessoas lutam entre si. A terceira coisa é o significado. É a mais importante delas. As pessoas trabalham por dinheiro, mas morreriam por uma causa. Algumas vezes, é difícil conseguir isso. Se você trabalha numa empresa de cigarros, não é fácil. Mas as pessoas só têm uma vida. Elas não querem ser as pessoas mais ricas do cemitério. Querem fazer algo que tenha significado para ser lembradas.