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O Estado do Maranhão - São Luís, 24 de fevereiro 2013 - domingo
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Literatura de cordel e a magia
do cangaço inspiram espetáculo
O BemDito Coletivo realiza a circulação do espetáculo A chegada de Lampião no inferno; a apresentação, que já
aconteceu em escolas, universidades e praças, será reexibida quarta-feira, às 17h, na área de vivência da UFMA
Fotos/Ricardo Alvarenga
Ricardo Alvarenga
Da equipe de O Estado
O
s versos do cordelista
pernambucano José Pacheco ganharam vida e
chegaram a escolas e praças de
São Luís com o espetáculo A
chegada de Lampião no inferno, do grupo BemDito Coletivo, que tem como proposta
levar as tradições populares e
cordelísticas do sertão brasileiro para o teatro.
Desde o dia 15, a peça está
em circulação por escolas e
praças da capital maranhense
e já foi apresentada em escolas estaduais e projetos sociais,
além de locais públicos. A Praça Gonçalves Dias, o Viva
Maiobinha, o Viva Maiobão e
a Praça Nauro Machado foram
alguns dos espaços que receberam o espetáculo. Na quarta-feira (27), a apresentação
acontecerá na área de vivência
da UFMA, às 17h.
No fim da tarde de quartafeira (20), o espetáculo foi apresentado na Praça Gonçalves
Dias e os atores surpreenderam
o público com o anúncio da
morte do cangaceiro Lampião.
Era a chamada para apresentar
o universo do cordel. Como resposta, foi formada uma plateia,
na praça, ao redor do grupo que
conduzia o corpo em uma rede
e entoava cânticos e ladainhas
fúnebres, além de apresentar
referências da realidade vivenciada no sertão.
Cada lugar que o grupo passa, seja praça, pátio, sala ou palco, é transformado em chão do
sertão nordestino, no qual amigos e parentes entoam cantigas
adequadas ao ato fúnebre. À
frente fica o padre, empunhando água benta. Vez ou outra o
religioso puxa a melopeia ( canto rítmico que acompanha a
declamação), que os demais repetem em coro.
Rejeitado - As cenas descritas
no cordel de José Pacheco dão
conta da chegada de Lampião
ao portal do Céu. Rejeitado por
São Pedro, o cangaceiro vai bater nos portões do inferno, e aí
a confusão foi certa. De tanto
aprontar em vida, nem o Diabo
quis aceitá-lo. O embate é feito
em rimas de cordel pelos atores
do BemDito Coletivo.
“O inferno nesse dia faltou pouco para virar. Incensiou-se o mercado morreu tanto cão queimado,
que faz até pena contar”, declamam os atores.
Na atual formação da peça,
quatro atores se revezam no
papel de narrador. Layo Bulhão faz o Diabo; Edinaldo Jr. é
o Diabo e também a Diaba
Moça; Paulo Roberto Aguiar
atua como Lampião e Maria
Bonita; e Rafael Feitosa é o Vigia do Inferno e o padre. Todo
o figurino usado no espetáculo foi produzido pelos próprios
atores. Além de encenar, eles
cantam e tocam pandeiro,
triângulo e caixa, dando o tom
certo para conduzir o público
ao universo da trama.
O cordelista José Pacheco da
Rocha, ou José Pacheco, como
é mais conhecido, nasceu no
Município de Corrientes, em
Pernambuco, residindo algum
tempo na cidade de Caruaru,
no mesmo estado.
Viveu muitos anos em Maceió, Alagoas, onde morreu,
provavelmente em 1954. Folhetos de sua autoria foram publicados pela Luzeiro Editora, de
São Paulo. Recentemente, a
Editora Queima-Bucha, de
Mossoró (RN), publicou o folheto A intriga do cachorro com
o gato. Além disso, há edições
de suas obras pela Catavento,
de Aracaju (SE); Lira Nordestina, de Juazeiro do Norte (CE);
Coqueiro, de Recife (PE), e por
outras editoras.
Teatro de rua – Desde 2006,
artistas do bairro da Cidade
Operária, na cidade de São
Luís, começaram a levar essa
proposta do teatro de rua e da
literatura de cordel às escolas
e praças da Ilha. O BemDito
Coletivo tem, em sua formação, artistas que defendem a
ideia da arte compartilhada,
Atores do BemDito Coletivo durante o cortejo fúnebre de Lampião na Praça Gonçalves Dias; a apresentação tem como base a literatura de cordel do pernambucano José Pacheco
Mais
No Brasil, o cordel surgiu na segunda metade do século XIX e
expandiu-se da Bahia ao Pará, antes de alcançar outros Estados.
Os temas usados para ilustrar o cordel eram os mais variados: as
aventuras de cavalaria, as narrativas de amor e sofrimento, as
histórias de animais, as peripécias e diabruras de heróis. Chegou
até nós pela literatura oral da Península Ibérica e a memória
popular encarregou-se de preservar e transmitir.
O poeta nordestino foi incorporando a esse romanceiro. Fatos
mais próximos do público, ocorridos em seu ambiente social,
ganham as páginas da literatura de cordel: façanhas de
cangaceiros, acontecimentos políticos, catástrofes, milagres e
até mesmo a propaganda, com fins religiosos e comerciais
deram vida às histórias dos antigos cordéis.
que estimule o diálogo e a visão crítica sobre a cidade, o
mundo e sobre a própria arte
em suas diversas vertentes.
Atualmente o Grupo desenvolve projeto interdisciplinar
com alunos do Ensino Fundamental da Unidade de Educação Básica Maria José Aragão,
na Cidade Operária. “Queremos descentralizar a arte, dando oportunidade para a grande
parte da população que não vai
ou não tem acesso aos teatros”,
enfatizou Layo Bulhão, um dos
atores da peça.
O BemDito Coletivo foi
contemplado com edital cultural do BNDS/BNB e do Governo Federal, que o patrocina. Com A chegada de Lampião no inferno, o grupo já
participou do Festival Maranhense de Teatro, da Semana
do Teatro no Maranhão, do
Festival Nacional de Teatro de
Vitória/Espírito Santo e da
Mostra Sesc Guajajara.
Edinaldo Jr. e Layo Bulhão em cena com a Diaba Moça e o Diabo em A chegada de Lampião no inferno
O ator Paulo Roberto Aguiar encarna o cangaceiro Lampião na peça
O ator Rafael Feitosa interpreta dois papéis no espetáculo; ele atua como o padre e o vigia do inferno
Atores cantam e tocam durante o espetáculo do BemDito Coletivo
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