editorial - Revista Objetiva

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REVISTA OBJETIVA
N° 6 – 2010
REVISTA DO INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE RIO VERDE
O Instituto de Ensino Superior de Rio Verde - IESRIVER apresenta a Revista
Objetiva com a finalidade de publicar artigos originais de caráter multidisciplinar,
oriundos de pesquisas realizadas por seu corpo acadêmico.
Autores vinculados a diferentes instituições de Ensino Superior, programas de
Graduação e de Pós-Graduação, também são bem vindos, com pesquisas que
visam o desenvolvimento social, econômico, científico, tecnológico e cultural das
diferentes regiões do Brasil.
A Revista Objetiva de publicação semestral, conta nesta edição, de nº. 6 do
ano de 2010, com oito artigos, distribuídos nas áreas dos conhecimentos das
Ciências Sociais Aplicadas e da Saúde. Os assuntos tratados nos artigos versam
sobre
temas
da
Comunicação
Social
Habilitação
em
Jornalismo e Publicidade, Direito, Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia.
Os artigos publicados na Revista Objetiva não expressam necessariamente
as opiniões do coletivo da revista. A reprodução dos textos, no todo ou em parte, é
permitida desde que citada a fonte e os artigos assinados são de inteira
responsabilidade de seus autores.
Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde
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OBJETIVA. Revista do Instituto de Ensino Superior de Rio
Verde. – ano 6, n. 6 (Jul./dez.2010) – Rio Verde: IESRIVER,
2010.
Semestral.
ISSN:1808-1444
1. Administração 2. Direito 3. Enfermagem 4. Jornalismo 5.
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Fisioterapia
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Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde
SUMÁRIO
EDITORIAL
1. O TROMPE L’OEIL E A MODA - O TRABALHO DE JUAREZ MACHADO NOS
ANOS 70
Miguel Luiz Ambrizzi
2. O LEAD COMO EXPRESSÃO DA CULTURA LOCAL: O CASO DO JORNAL
FOLHA DE RIO VERDE
Hadassa Ester David
Gisela Pincowsca Cardoso Campos
3. PANORAMA DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DE RIO VERDE EM 2010
José Antônio Ferreira Cirino
Adriana Souza Campos
4. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CLIENTES COM HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA E DIABETES MELLITUS: EVIDÊNCIAS PARA O ENSINO DO
AUTOCUIDADO
Ann Otília Paiva Ferreira
Carla Ribeiro da Silva Santos
Berenice Moreira
Reila Campos de Araújo Guimarães
Thatiane Marques Torquato
Mariza Vieira Perez
5. AVALIAÇÃO DA DISPNÉIA DURANTE A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE
VIDA DIÁRIA EM PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA
CRÔNICA ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ATRAVÉS DA
LONDON CHEST ACTIVITY OF DAILY LIVING SCALE
Cristianne Carneiro Teixeira
Fernanda Silvana Pereira
Adriana Vieira Macedo
Maria de Fátima Rodrigues da Silva
Renato Canevari Dutra da Silva
6. OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA
ÚLCERA POR PRESSÃO
Aparecida Garcia
Cintia Mendonça de Paiva
Juliana Ribeiro Borges
Vandiara Pertusatti
7. VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE DE RIO
VERDE - GOIÁS: a atuação dos agentes da rede de proteção
Helieny dos Santos Martins
8. INFLUÊNCIA DOS PAIS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO SERIAL
KILLER
Desyrrê Moraes Lemes
Aline Maciel Monteiro
Leonardo Ferreira Faria
Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde
EDITORIAL
Esta 6ª Edição da Revista Objetiva foi desenvolvida com base na importância
da relação entre a pesquisa e a divulgação científica, buscando transferir o
conhecimento científico à comunidade. É um projeto que cria vínculo de caráter
científico de estudos e pesquisas e que vem de encontro à missão da Faculdade
Objetivo.
A Revista Objetiva compreende o somatório de esforços coletivos de
pesquisadores que atuam nas áreas de ciências sociais aplicadas e de saúde,
especialmente nos cursos de Administração, Direito, Enfermagem, Fisioterapia,
Jornalismo e Publicidade e Propaganda que são oferecidos pelo Instituto de Ensino
Superior de Rio Verde/Faculdade Objetivo. É um periódico aberto à contribuições da
comunidade científica em geral, onde são publicados resultados de pesquisas,
divulgações, revisões, estudos de casos e desenvolvimentos de novas técnicas e
materiais.
A Comissão Editorial da Revista Objetiva agradece aos alunos, professores, à
direção do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde/Faculdade Objetivo, e a todos
que contribuíram para que essa edição se transformasse em realidade. Este é um
trabalho em conjunto que integra conhecimentos e proporciona mais possibilidades
de colaboração para o mundo global que vive a era da participação - no princípio de
comunicação associativa, com intensa produção de conteúdo, participação e
colaboração - na busca por informação.
Então, aproveite!
Boa Leitura!
Profª. Ms. Márcia Mariano Raduan Caetano
Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde
O TROMPE L’OEIL E A MODA - O TRABALHO DE JUAREZ MACHADO NOS
ANOS 70
Miguel Luiz Ambrizzi1
Resumo
A produção contemporânea em design de moda, mais especificamente nas
estampas feitas com as técnicas de silk-screen ou transfer estão, há cerca de 5
anos, despertando um grande interesse por parte dos consumidores de moda.
Camisetas com uma estampa de um cachecol ou um bolso falso são feitas por
designers que utilizam o conceito trompe l’oeil, termo francês que significa “engana
olho”, e mostram a ilustração de um lenço, por exemplo, em volta do pescoço, dando
a impressão de que a pessoa está com o acessório. Por mais que as pessoas
achem que é algo contemporâneo e novo no Brasil, há trabalhos pouco conhecidos
produzidos na década de 1970, pelo artista brasileiro Juarez Machado, residente em
Paris. Esta pesquisa visa realizar um estudo sobre tal artista, resgatar sua obra e
buscar registros históricos da sua produção de camisetas pintadas à mão, para
contrapor e comparar com as produções atuais nacionais e internacionais no design
de moda. Sua produção será analisada com base nos princípios teóricos da Arte
Surrealista produzida no início do século XX e sobre a teoria do trompe l´oeil iniciada
no Renascimento.
Palavras - Chave: Arte, Trompe l’oeil, Juarez Machado, Moda.
1. Introdução
Os processos de criação em moda seguem em várias vertentes de acordo
com métodos de pesquisa de referências, cruzamentos de estilos e épocas,
tendências inspiradas em culturas diferentes, em situações atuais. De acordo com
Seivewright (2009, p.6) “a pesquisa é essencial ao design, pois é o momento inicial
de lançamento e coleta de ideias que precede a criação”. Nesse sentido, a pesquisa
em design deve ser “um processo experimental” e se ela for ampla e detalhada, “o
estilista pode começar a interpretar uma série de roupas ou uma coleção” (idem). A
pesquisa em design de moda “caracteriza-se pela investigação e aprendizagem de
algo novo ou do passado, podendo ser comparada, muitas vezes, ao começo de
1
Doutorando em Arte e Design pela Universidade do Porto – Portugal. Mestre em Cultura Visual FAV- UFG, graduado em Educação
Artística - Hab. em Artes Plásticas pela UNESP (2005);Diretor da Faculdade de Design da FESURV e professor no curso de Tecnologias em
Design - FESURV-GO.Professor nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Faculdade Objetivo de Rio Verde. Docente e
pesquisador nas áreas de Artes, Ensino, História da Arte, Moda e Arte.
uma jornada exploratória”. Afirma que há dois tipos de pesquisa, a “coleta de
materiais tangíveis e práticos para sua coleção como tecidos, adornos e botões” e o
outro “diz respeito à inspiração visual para a coleção, o que frequentemente ajuda
na definição do tema, inspiração ou conceito, essencial para desenvolver uma
identidade para o trabalho de criação” (2009, p. 14).Criar é um ato inerente tanto à
arte quanto à moda. A relação entre moda e arte é investigada por vários
pesquisadores que estudam desde artistas que contribuíram para a produção em
moda, como designers que se inspiraram em obras artísticas ao longo da historia,
bem como as fronteiras entre arte e moda na produção conceitual.
Este trabalho busca investigar as relações entre arte e moda, especificamente
na criação de estampas conceituais de camisetas que, nos último cinco anos, voltou
a ser tendência e a ter uma grande presença na moda jovem. Estas estampas
“brincam” com nosso olhar, desafiando a percepção e questionando realidade e
ilusão através de desenhos, através da técnica do trompe l’oeil, tão utilizada há
séculos na produção da arte.
2. O Trompe L’oeil na arte – Conceito e representações
A arte e o artista buscam, dentre outras discussões, refletir sobre razão e
emoção, realidade e imaginação através dos conceitos de representação.
Ao longo da história, vemos o embate entre esses conceitos acima citados.
Porém, após o Romantismo, temos o início da presença do pensamento subjetivo do
artista na sua criação. Seguido dos movimentos subseqüentes, com as vanguardas
modernistas, uma evolução no sentido de os artistas se libertarem dos cânones da
arte clássica ocorreu através das obras, pois até então, os artistas se preocupavam
com a perfeição na representação artística, seja ela pictórica ou escultórica, através
do uso de técnicas de ilusão, o trompe l’oeil.
De acordo com a Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural, o
trompe l’oeil é um “recurso técnico-artístico empregado com a finalidade de criar
uma ilusão de ótica, como indica o sentido francês da expressão: tromper,
"enganar", l'oeil, "o olho" 2. Através do uso de detalhes realistas, se valendo do uso
1
das regras da perspectiva ou pelo sombreamento através do uso do claro-escuro, as
imagens
criadas
pelos
artistas
criavam
nos
espectadores
a
ilusão
de
tridimensionalidade, ou seja, como se ele estivesse à frente do objeto representado,
se esquecendo de que aquela imagem se tratasse de uma representação
bidimensional. Dessa forma, a imagem vista pelo espectador provocaria uma
mudança na sua percepção, demonstrando assim a capacidade que uma imagem
pode ter ao influenciar o espectador, quebrando, muitas vezes, com a racionalidade
no seu diálogo com a obra.
Na arte, o trompe l’oeil foi muito utilizado por artistas do Renascimento
Italiano, os quais criaram e aperfeiçoaram a técnica da perspectiva para a criação de
planos, volumes e profundidade através de linhas bem como do uso de materiais
como a tinta a óleo, a qual permitiu um grande avanço nas técnicas de
representação do volume através do uso do claro-escuro. Foi com grande força que,
a partir do século XIV e nos séculos seguintes, que teve grande presença na arte,
principalmente a partir da criação da tinta a óleo, a qual permitiu um grande
resultado pictórico no que diz respeito a representação do real em superfícies
bidimensionais.
As tradicionais convenções artísticas como a perspectiva e as formas de
ilusionismo foram criticadas por artistas do modernismo. Porém, o que vemos é que
o uso do trompe l’oeil por alguns artistas de movimentos de vanguarda, porém de
forma humorística e crítica, se valendo dessa técnica para inclusive subvertê-lo,
chamando a atenção do espectador para que ele veja que aquela imagem é a
representação de algo e não a própria coisa. Isso podemos encontrar nos trabalhos
do artista do surrealismo, René Magritte, o qual utiliza das técnicas da pintura
clássica para a representação de objetos reais e imaginários. Sua famosa obra “Isto
não é um cachimbo” (1928-1929) traz o questionamento sobre o real e a
representação. Quando perguntamos a alguém que vê a pintura: “o que você está
vendo? o que é isto?” As pessoas logo respondem: “Isto é um cachimbo!”. O que na
verdade, não o é, tal como o artista afirma no título de sua obra, pois não se trata do
objeto cachimbo, não é o cachimbo, mas sim a representação de um cachimbo.
No que diz respeito à produção contemporânea de arte, temos as obras do
hiperrealismo, movimento dos anos 60, popular dos Estados Unidos e Inglaterra, as
quais utilizam a fotografia como ferramenta de composição para as pinturas, numa
volta da figuração extrema, “de modo que elas adquiram precisão e riqueza de
detalhes, como Chuck Close, 1940. A atenção extrema à reprodução fiel da
realidade produz geralmente, e de modo paradoxal, um sentimento de irrealidade”3.
3. O efeito Trompe L’oeil e a moda
Conforme vimos, o uso do trompe l’oeil foi muito utilizado na pintura e na
arquitetura, ao longo da sua história.
Na moda, o trompe l’oeil vem simular elementos ilusórios através de
desenhos de objetos que não estão presentes na roupa. Tais desenhos representam
detalhes de costura, laços, botões, acessórios, bijuterias. E tal como vimos em
movimentos de vanguarda artística, esses desenhos trazem consigo uma carga de
humor e ludicidade na peça.
Historicamente, as primeiras produções na moda surgiram nos anos 30. Da
amizade com o pintor surrealista Salvador Dali, Elsa Schiaparelli, estilista italiana,
trouxe seu uso para a moda através de suas criações.
Tal como nos diz Cecilia Biasi (2010),
La prima ideò un particolare tipo di golf su cui imperversava il grande disegno
di un fiocco intorno al collo, quasi appunto a dare l’illusione dell’effettiva
presenza di una sciarpa o un foulard. Tale lavoro fu possibile grazie ad un
punto di maglia ottenuto dall’intreccio di due fili diversi, che donava al capo
anche una maggiore resistenza rispetto al resto della maglieria offerta dal
mercato dell’epoca. La creazione di Elsa Schiaparelli suscitò meraviglia e
stupore nella Parigi dell’epoca e, come ogni capo che rompe gli schemi,
divenne l’uniforme delle donne più in vista del momento.
Ainda de acordo com Biasi (2010), o efeito aqui estudado, desde Grécia e
Roma, transitando para a produção em moda de Elsa Schiaparelli e Roberta di
Camerino.
Tale tecnica di derisione nei confronti del pubblico era già invalsa nel mondo
antico, dalla Grecia fino a Roma e si è progressivamente diffusa nel corso dei
secoli in molteplici ambienti artistici. Ultimo campo di sperimentazione, in
termini di tempo,è stata la moda, che ne annovera due principali
testimonianze storiche: Elsa Schiaparelli e Roberta di Camerino (idem).
As produções de Elsa Schiaparelli, em tricô, trazem elegância e delicadeza
assim como as produções dos anos 50 da Hermès, fotografadas por Gordon Parks4.
Nessas roupas, o uso do efeito trompe l’oeil se desloca das tramas do tecido para o
uso de tintas através da inserção de estampas.
Figura 1 – Trompe l’oeil na moda
O trompe l’oeil tornou-se presente na moda contemporânea. Conforme Biasi
(2010),
Negli ultimi tempi e nelle ultime collezioni presentate, il trompe l’oeil è tornato,
sia per divertenti t-shirts adatte ad un’occasione d’uso più giornaliera, come
quelle maschili di Dolce & Gabbana(...) pezzo forte della collezione a/i
2010/2011 di Moschino.
A marca Imaginarium, lançou no mercado uma coleção de camisetas que
seguem a moda dos anos 80 e obtiveram grande sucesso. Com versão feminina e
masculina as Camisetas Lenço que trazem a ilustração de um lenço em volta do
pescoço, dando a impressão de que a pessoa está com o acessório. Em 2006,
apostou no lançamento de “roupasamuletos” para as festas de fim de ano. A
camiseta Sorte Grande, com sua estampa em alta qualidade, traz um colar de
amuletos como olho grego, dente, pimenta e figa, elementos que espantam o mauolhado com muitas vibrações positivas.
Contemporaneamente, a técnica do trompe l’oeil está sempre aparecendo em
desfiles e não só em marcas nacionais. De acordo com Martini (2010)5, na “SPFW
de Inverno 2009, Fause Haten criou para sua grife FH um look todo baseado nesse
efeito”, a “Maria Bonita, na mesma temporada, também apresentou um modelo
nesses moldes”, em seu desfile de Verão 2010 na última SPFW, Reinaldo Lourenço
apresentou vestidos com recortes e desenhos que faziam o observador perceber as
peças com um shape diferente”.
Outras roupas que utilizam a técnica do trompe l’oeil, temos a coleção “Hairy”,
a qual brinca com a reação de alguém ao ver a sua amada ou amado com uma
roupa de baixo. Como o nome diz, a brincadeira é com pelos e de tão bizarras as
peças acabam sendo muito interessantes.
Seguindo a tendência do cômico, há uma serie de camisetas mais populares,
de diversas marcas e grifes, as quais trazem elementos de personagens clássicos
dos quadrinhos e dos desenhos animados de televisão como Flinstons, Mickey
Mouse e Snoopy.
Vemos na figura 1, produções de designers conceituados como Rei
Kawakubo, Martin Margiela e Sonia Rykiel, cujas produções apresentam o uso do
trompe l’oeil de uma forma mais sofisticada, na representação de elementos formais
da roupa como costuras, bolsos, botões, etc.
4. As camisetas de Juarez – o efeito Trompe L’oeil nos anos 70 no Brasil
Apesar desta série de produções em moda, acima apresentadas, muito do
que se pensa, quando dizemos do público consumidor contemporâneo, é que essas
estampas são uma tendência atual da moda.
Vimos que, desde os anos 30 com Elsa Schiapparelli, esse efeito iniciou sua
presença nas produções de roupas. Porém, no Brasil, temos o trabalho de Juarez
Machado, pintor e desenhista. Uma série de camisetas foram criadas especialmente
para a revista Geração POP, n. 19, de Maio de 1974, da Editora Abril. Essas
camisetas trazem uma exploração de situações absurdas e divertidas, e apresentam
uma possibilidade de uso de acordo com seu estado de espírito e de humor.
Juarez apresenta uma clara influência do movimento do Surrealismo, do
século XX. Elementos chaves como gavetas, passagens e aberturas, utilizadas por
Magritte e Salvador Dalí, foram aplicados nas estampas das camisetas com uma
mudança no tratamento pictórico, as vezes mais próximo da Arte Pop (quadrinhos,
contornos), outras da pintura representacional mais pictórica.
Figura 2 – Camisetas de Juarez Machado 1
Em uma camiseta temos a estampa de seios pintados exatamente no lugar
onde se localiza no corpo feminino, junto com um nariz, boca e um bigode com as
pontas enroladas, compondo um retrato onde os seios se “transformam” em olhos,
compondo um rosto. Vemos claramente a referência do Surrealismo, tanto na
composição total da estampa nos elementos dos seios que remetem a obra La
Philosofie dans Le Boudoir do artista René Magritte, quanto no detalhe do bigode
enrolado muito utilizado e característico de Salvador Dalí, numa fusão das duas
grandes referências artísticas deste movimento.
Um outro elemento utilizado por Salvador Dalí são as gavetas, que aplicadas
em partes do corpo humano como na obra The Anthropomorphic Cabinet, de 1936,
apresentam os lugares mais íntimos dos seres humanos, sentimentos, alma, o
inconsciente tão estudado e representado nas pinturas do Surrealismo. Na produção
de Juarez Machado temos uma estampa com um cofre, uma abertura que traz
guardado o coração da pessoa, símbolo maior do amor, de desvendar a pessoa, é
claro, dentro do senso comum.
Magritte usava recursos como espelhos, janelas, olhos, cortinas, molduras,
cavaletes e imagens dentro de outras imagens – revelando e evidenciando as
enigmáticas questões ilusórias da percepção visual. Assim também Juarez Machado
utilizou dessas aberturas que levam à outra realidade surreal e inusitada, com a
estampa que encontramos na figura 2 de um homem olhando por dentro da
camiseta, como se estivesse espiando de uma forma assustada, revelando espanto
também para quem vê a própria camiseta vestida por uma pessoa.
Há também as estampas de roupas com aberturas, seja por zíper ou por
botões, e que deixam a mostra detalhes como pêlos do peito e os seios, futuramente
foram redesenhadas pelo casal de designer japoneses Hirotsugu e Miyo em 2010.
Apresentadas anteriormente nesse texto, trazem uma estampa mais simplificada
(numa estética de ilustração vetorial), somente em preto e branco, dos pêlos
pubianos, do peito masculino e das canelas. Juarez trabalha de uma forma mais
realista na representação, com uso das tintas, utilizando o trompe l’oeil para dar a
ilusão também do zíper, além dos detalhes de exposição do corpo humano. Apesar
de ser atual as roupas da série “Hairy”, Juarez Machado já havia realizado algo
semelhante nos anos 70, porém o modelo feminino trazia uma estampa do corpo
masculino e vice-versa, brincando com a androginia e o travestismo.
Figura 3 – Camisetas de Juarez Machado 2
Mais próximas da estética pop atual, semelhantes as camisetas com
estampas feitas em marcas como Imaginarium e outros exemplos que podemos
encontrar em sites de internet, as quais trabalham com o tom de humor, as
camisetas de Juarez (figura 3) que possuem estampas de uma corda de forca,
acessórios como o suspensório e tiros de metralhadora e uma faca apunhalada nas
costas brincam com o jogo de ilusões, bem como o clássico terno pintado sobre um
paletó, só que com as costas e a frente invertidos, criando uma má impressão ao ver
“um homem de frente, porém com a cabeça totalmente voltada para trás”.
5. Considerações Finais
O estudo do efeito trompe l’oeil ao longo da história da arte e da moda trouxe
dados que talvez poucos conheciam, especificamente no Brasil, com o trabalho de
Juarez Machado, que nos anos 70 já elaborava estampas que nos últimos 6 anos
voltaram a ter presença na produção de moda das grandes marcas internacionais e
versões nas marcas nacionais e populares aqui no Brasil.
Tal estudo apontou que, por mais que seja uma brincadeira no uso das
estampas, sua característica de estilo pode variar na forma como tal técnica é
aplicada, pois o tom de humor pode ser utilizado em grau menor, conforme vimos
nas produções de Rei Kawacubo e Sonia Rykiel, mais sofisticadas e até mesmo as
roupas produzidas por Elsa Schiapparelli nos anos 30.
Gombrich nos auxiliará sobre uma discussão maior acerca da ilusão na arte.
Já na moda, uma reflexão sobre a ilusão também será ampliada sobre os shapes e
os cortes das roupas que proporcionam “ilusões” de mudanças nas proporções e na
forma como percebemos o corpo humano vestido.
Essa pesquisa não se finda, pois o uso do efeito trompe l’oeil está se
ampliando para a interação com a roupa, de uma forma mais lúdica como a criação
do casal de designers japonês Hirotsugu e Miyo, que decidiu levar o acessório
para um outro patamar. Muito além de estampas bidimensionais, estas novas têm
em partes de seus desenhos relevos muito bem pensados para permitir certa
interatividade do usuário. Do tradicional jogo de tabuleiro japonês Reversi - onde as
peças são feitas de buttons -, a um par de tênis All Star com os cadarços
pendurados para fora, todos os elementos das figuras são pintados de preto e
branco e trabalhados de maneira alternativa com costuras extras, pregas e
drapeados mil.
Agora não se trata apenas de uma impressão interessante que dê a ilusão de
que algo está aplicado a roupa, mas com o uso de acessórios, tal representação
amplia essa técnica pois modifica detalhes do tecido, gerando volumes, dobras,
franzidos, que detalham mais ainda as características desta representação. A moda
se renova e se reinventa através do trabalho dos designers que sempre buscam,
tanto na arte quanto na observação da realidade, formas e inspirações para seu
trabalho de criação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIASI, Cecilia. Trompe l’oeil – Golf effetto trompe l’oeil. Artigo disponivel em:
http://www.modaemodi.org/rivista/?p=14404. Acesso em 26 de abril de 2010.
CALDAS, Dario. Observatório de Sinais: teoria e prática da pesquisa de
tendências. São Paulo: Senac, 2004.
MALTA, Marize. O trompe l’oeil da imaginação: decoração, literatura e cultura visual
no século XIX. In? 19&20, Rio de Janeiro, v. I, n. 3, nov. 2006. Disponível em:
http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_trompeloeil.htm. Acesso em 20
de junho de 2010.
MARTINI, Ana Paula. O efeito Trompe l’oeil torna a moda divertida: Técnica cria
ilusão de ótica e simula elementos que não estão ali de verdade. Artigo disponível
em:
http://moda.ig.com.br/modanomundo/o+efeito+trompe+loeil+torna+a+moda+divertida
/n1237530021590.html Acesso em 19 de agosto de 2010.
PIRES, Doroteia Baduy. Design de Moda. Rio de Janeiro: Estação das Letras,
2008.
Revista Bravo. Editora Abril, Março 2010, Ano 12, Nº151, Andy Warhol.
SEIVEWRIGHT, Simon. Fundamentos de design de moda: Pesquisa e Design.
Porto Alegre: Bookman, 2009.
2
Texto extraído do site: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=5
358 . Acesso em 23 de junho de 2010.
3
Trecho retirado da Enciclopédia de Artes Visuais digital, do Instituto Itaú Cultural disponível no site:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=5358. Acesso em 21 de junho
de 2010.
4
As imagens das peças Hermès podem ser encontradas no site: http://www.anamappe.com.br/blog/2010/08/04/trompe-loeil . Veja também
peças de Elsa Schiapparelli no site: http://www.modaemodi.org/rivista/?p=14404 . Acesso em 14 de junho de 2010.
5
Trecho disponível em: http://moda.ig.com.br/modanomundo/o+efeito+trompe+loeil+torna+a+moda+divertida/n1237530021590.html .
Acesso em 18 de agosto de 2010.
O LEAD COMO EXPRESSÃO DA CULTURA LOCAL: O CASO DO JORNAL
FOLHA DE RIO VERDE1
Gisela Pincowsca Cardoso Campos2
Hadassa Ester David3
Resumo
Esse artigo é resultado de uma pesquisa que tem seu foco na trajetória do lead no
Brasil e no mundo, estabelecendo como corpus sua aplicação no jornal impresso de
Rio Verde, interior do Estado de Goiás. O objetivo é apontar as estratégias da
técnica da pirâmide invertida aplicadas ao jornalismo, a qual impõe um padrão de
escrita que obriga o redator a responder às perguntas fundamentais para a produção
de um princípio ordenado das informações na matéria: O quê, Quem, Quando,
Onde, Como e Por quê. O estudo parte da premissa de que a pirâmide invertida é
fruto da tecnologia, gerando maior praticidade tanto para o leitor, quanto para o
jornalista. Nessa perspectiva, o lead seria um produto oferecido pelo mercado
capitalista.
Palavras-chave: Lead. Jornal. Pirâmide Invertida.
1. Introdução
Vários fatores apontam os motivos que levaram a consolidação do lead na
história do jornalismo impresso mundial. Autores com diferentes pontos de vista
discutem e argumentam sobre a gênese, o conceito e prática da técnica da pirâmide
invertida. Genro Filho (1987), Sousa (2001), Karam (2000), Rangel (1987), Martins
(2005), Callado (2001) são alguns nomes significativos nesse debate.
O termo Lead vem do inglês e significa conduzir.
É a abertura do texto
jornalístico, que deve resumir o relato do fato principal respondendo às seis
perguntas básicas: Quem? Fez o quê? Quando? Onde? Como? E por quê?
A origem do termo, segundo o que consideram os pesquisadores, teria sido
nos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão, que foi o primeiro
acontecimento a receber cobertura maciça da mídia.
Para Jorge Pedro Sousa
(2001, p.19) neste período milhares de repórteres se tornaram correspondentes de
1
Artigo resultante de Programa de Iniciação Científica dos cursos de Comunicação Social
(INICIACCOM) do IESRIVER/Faculdade Objetivo realizado de agosto de 2009 a maio de 2010. O
projeto de iniciação científica teve orientação da professora mestre Márcia Raduan, como atividade
complementar desenvolvida por alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.
2
Mestre em Letras e Linguística, Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER.
3
Acadêmica do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo do Instituto de Ensino
Superior de Rio Verde – IESRIVER
guerra, momento em que criaram e aplicaram técnicas de empacotamento da
informação, como a entrevista, o lead e a reportagem. Também a necessidade do
uso do telégrafo impulsionou a técnica da pirâmide invertida para a redação das
notícias. O uso do telégrafo era caro e sua tecnologia falível sendo necessário que a
informação mais importante viesse no início da transmissão. Assim, a técnica da
pirâmide invertida e o lead auxiliaram a delimitar o campo profissional do jornalismo,
e o jornalista passou a ser visto como um técnico na produção de informação
noticiosa.
A utilização de um parágrafo introdutório às histórias, que posteriormente
adquiriria a denominação anglo-saxônica de lead, foi uma técnica usada desde a
antiguidade. Eugenio Coseriu (apud, Sousa 2001, p.27) assinala que já Homero
usou essa técnica.
"Este jovem morrerá ao amanhecer", por exemplo, é a frase introdutória de
uma narrativa homérica que prefigura o lead e a própria técnica da pirâmide
invertida, pois antecipa ao leitor o final da história. (Sousa, apud, Casasús e Nuñez
Ladevéze,1991, p. 15).
Já Francisco José Karam4 (2000) acredita que a introdução do lead não é
responsabilidade exclusiva do jornalismo norte-americano ou inglês. Não surge do
acaso ou por um simples arbítrio na articulação do discurso. Certamente a
linguagem jornalística - e aí entra a tradição inglesa e norte-americana do discurso
jornalístico valeu-se da tradição greco-romana em relação ao uso das palavras e ao
discurso claro e convincente.
Em Roma, filósofos retomam a tradição grega da Retórica, entre eles o
exímio orador Marco Túlio Cícero. Os retores, na Grécia Antiga, entre os
quais Platão, Aristóteles e Protágoras (cerca de 400 anos antes da era
cristã), já haviam consolidado a ideia de que o discurso deveria ser bem
articulado e acessível às massas... Cícero, em De Inventione, relacionou
os aspectos essenciais para que o texto se tornasse completo. Para o
famoso orador romano, era preciso responder as perguntas quem? (quis /
persona) o quê? (quid / factum) onde? (ubi / locus) como? (quemadmodum
/ modus) quando?(quando / tempus) com que meios ou instrumentos
(quibus adminiculis / facultas) e por quê (cur / causa). As proposições de
Cícero, originadas na Retórica da Antiguidade Grega, foram paradigma da
exposição de acontecimentos nos dois milênios seguintes (KARAM, 2000).
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Francisco José Karam é jornalista, Doutor em Comunicação e Semiótica, Professor do Curso de
Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) e autor de Jornalismo, Ética e
Liberdade (São Paulo: Summus, 1997). Integra, em Santa Catarina, a comissão do Programa
Nacional de Qualidade de Ensino em Jornalismo da Federação Nacional dos Jornalistas do Brasil.
Adelmo Genro Filho, em sua obra O Segredo da Pirâmide (1987, p.183-202),
relata que a primeira notícia redigida segundo a técnica da "pirâmide invertida" teria
aparecido no The New York Times em abril de 1861. A partir da segunda metade no
século XX, alguns dos mais importantes periódicos latino-americanos passaram a
publicar notícias das agências norte-americanas redigidas segundo esse modelo.
Nesse período, essa técnica se espalhou gradativamente, tendo chegado ao Brasil
exatamente em 1950, pela iniciativa do jornalista Pompeu de Sousa.
Para Ana Arruda Callado (apud Caldas 2002, p.46), a paternidade da
implantação da técnica no Brasil deve ser atribuída a Danton Jobim, diretor do Diário
Carioca, que esteve na Universidade de Columbia, Nova Iorque, antes de Pompeu ir
lá aprender as novas técnicas. Mas no dia-a-dia do jornal, Pompeu, grande líder que
era, de fato consolidou o uso do lead, que passaria a ser chamado de “lide”, uma
adaptação brasileira.
Pompeu de Souza aprendeu as novidades que seriam transformadas em
Manual de Redação quando estagiou como jornalista em Nova Iorque durante a
Segunda Guerra Mundial. O Manual tinha 16 páginas e intitulava-se “Regras de
Redação do Diário Carioca”. Foi, durante muitos anos, o único manual de redação
do jornalismo brasileiro.
Eu comecei a reforma do Diário Carioca durante o carnaval de 1950. Estava
de folga na Faculdade de Jornalismo e aproveitei para mudar tudo. Os
jornais
eram todos redigidos na técnica do “nariz de cera”, fazendo
especulações puramente subjetivas, especulações filosóficas, uma
subliteratura. Eu me convenci que não dava mais para você escrever para
jornal na base do “nariz de cera”. O leitor acabava por se transformar num
corredor de obstáculos. Ele procura parágrafos para procurar notícia, que
estava muitas vezes no pé da matéria. Implantei o copydesk e redigi aquilo
que os americanos chamaram de study book e que eu chamei de “Regras
de Redação do Diário Carioca”. Inicialmente, as reformas causaram um
verdadeiro escândalo... Bem, mas o que eu pretendia era narrar o
acontecimento não mais na ordem cronológica nem na ordem lógica, e sim
na ordem psicológica, para que tudo ficasse claro para o leitor
(SOUZA,1986 apud Diário Carioca, p.103).
No Brasil, o jornal era o principal veículo de acesso aos leitores. Os jornais
não tinham uma técnica própria de contar história, não havia um paradigma e até a
segunda metade do século XX, os jornalistas se espelhavam na literatura, seguiam
uma gama variada de estilos e não um estilo padronizado. Nos anos 50, no entanto,
a imprensa abandona o modelo francês de jornal mais opinativo e literário, adotando
o modelo americano de jornal meramente informativo.
Luís Edgard de Andrade (1985), que trabalhou como chefe do copydesk no
Diário Carioca, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo e editor (em 1985) do Manual
de Telejornalismo da TV Globo, onde foi Editor chefe do Jornal Nacional, dá seu
depoimento:
A chegada do lide ao Brasil, 50 anos depois, parece banal. Na época, foi
uma revolução. Basta lembrar que, mais tarde, nos anos 60, quando fui
correspondente em Paris, o “lede” ainda não havia chegado à imprensa
francesa. A narrativa cronológica determinava o estilo das notícias nos
jornais de Paris (ANDRADE, 2003 apud Diário Carioca, p.85).
As regras de redação brasileira passam a retirar do jornalismo noticioso
qualquer caráter emotivo e participante para garantir a impessoalidade e a ocultação
do sujeito de enunciação. Acontecia a transição do nariz de cera para o lead.
Na opinião de Genro Filho (1987), alguns aceitam a tese de que a "pirâmide
invertida" surgiu por uma deficiência técnica, um acaso que contemplou, ao mesmo
tempo, o comodismo dos leitores e o interesse dos jornais em suprimir os parágrafos
finais quando chegava um anúncio de última hora. Geralmente, quando as linhas
finais de uma matéria eram cortadas, perdia-se a informação principal.
A narração cronológica, diz Eleazar Diaz Rangel (apud, Genro Filho, p.183202), que dominou o que poderia chamar-se toda uma primeira etapa na evolução
da notícia, respeitava a ordem em que se sucederam os fatos e era necessário ler
todo o relato para inteirar-se do que havia ocorrido. Para os novos leitores que a
imprensa conquistou, resultava muito mais prático essa estrutura da "pirâmide
invertida". O leitor, assim, informa-se brevemente e não pergunta pelas
circunstâncias dos fatos. Essa nova estrutura da notícia não foi planejada para
chamar o leitor à reflexão, mas apenas "para informá-lo superficialmente, para
adormecê-lo, fazê-lo indiferente e evitar que pense", complementa o autor.
Esta praticidade acaba resultando na destruição do racional e passa a retirar
qualquer visão crítica que o leitor possa ter, substituindo-a pela recepção passiva.
2. O Lead como a Essência do Jornalismo
Para Franklin Martins (2005, p.111), o lead nasceu como uma reação
saudável à monumental chatice do nariz de cera, embora há quem diga que ele foi
uma imposição industrial. Segundo o autor, o lead tem um grande mérito: organiza a
informação, e um grande defeito: padroniza o estilo.
O nariz de cera era um texto longo, geralmente opinativo que em vez de dar
logo a notícia ao leitor, adiava-a por quatro ou cinco parágrafos de subliteratura.
Além das visões e teses que apontam ter a pirâmide invertida nascido em
uma circunstância tecnológica para atender ao mercado capitalista, e que o lead
anuncia uma mercadoria na indústria cultural com objetivo de impedir a consciência
crítica dos leitores, Diaz Rangel lembra ainda que essa maneira de estruturar a
notícia e a tendência a uniformizar os primeiros parágrafos desestimula também a
criatividade e iniciativa dos repórteres.
Genro Filho (1987), já citado anteriormente, define que as informações
circulantes na comunicação cotidiana apresentam, normalmente, uma cristalização
que oscila entre a singularidade e a particularidade. A singularidade seria a
manifestação na atmosfera cultural de uma “imediaticidade” compartilhada, uma
experiência vivida de modo mais ou menos direto.
A particularidade se propõe no contexto de uma atmosfera subjetiva mais
abstrata no interior da cultura, a partir de pressupostos universais geralmente
implícitos, mas de qualquer modo naturalmente constituídos na atividade social.
Somente o aparecimento histórico do jornalismo implica uma modalidade de
conhecimento social que, a partir de um movimento lógico oposto ao movimento que
anima a ciência, constrói-se deliberada e conscientemente na direção do singular.
Desse modo, o critério jornalístico de uma informação está ligado à
reprodução de um evento pelo ângulo de sua singularidade, ou seja, sua essência, e
que a essência só pode ser apreendida no relacionamento com a totalidade. O lead,
portanto, de acordo com o autor, seria uma importante conquista da informação
jornalística, pois representa a reprodução sintética da singularidade da experiência
individual.
O problema é que a "pirâmide invertida" corresponde a uma descrição
formal, empírica, que nem sempre corresponde à realidade, exatamente
porque não capta a essência da questão. Não se trata, necessariamente, de
relatar os fatos mais importantes seguidos dos menos importantes. Mas de
um único fato tomado numa singularidade decrescente, isto é, com seus
elementos constitutivos organizados nessa ordem, tal como acontece com a
percepção individual na vivência imediata... A pirâmide invertida e o lead
levam a maioria dos redatores a pensar que se deve sempre responder
monótona e mecanicamente às famosas "seis perguntas" no primeiro
parágrafo - do que realmente pela apreensão singularizada do fato, na qual
o lead seria apenas a expressão mais aguda e sintética. De fato, o lead,
como momento agudo, síntese evocativa da singularidade, normalmente
deverá estar localizado no começo da notícia. Porém, nada impede que ele
esteja no segundo ou até no último parágrafo, como demonstram certos
redatores criativos (GENRO FILHO, 1987, p. 183-202).
De fato, ao se aterem ao princípio da objetividade, no qual se deve buscar a
imparcialidade e manter um distanciamento crítico diante de fatos e interesses, o
jornalista acaba se rendendo a essa técnica de padronização, sendo que esse
método, como diz Marcondes Filho (1986), é um meio de manipulação ideológica de
grupos de poder social e uma forma de poder político.
Partindo do princípio da singularidade, atrelada à particularidade, vamos
analisar como se dá este processo em um jornal impresso na cidade de Rio Verde,
estado de Goiás, levando em conta que cidades do interior possuem realidades
histórico-sociais e culturais específicas.
3. Aplicação do Lead no Jornal Folha de Rio Verde
A Folha de Rio Verde5 é uma publicação quinzenal, com uma tiragem de três
mil exemplares, fundada em oito de agosto de 1988 (8/8/88) pelo jornalista Egidio
Brizola. A data é, igualmente, da fundação da Editora Geral Independência, de sua
propriedade e sob sua direção.
Egidio Brizola veio de Londrina (PR) para Rio Verde em 1986, e aqui
contribuiu para a fundação da Associação dos Produtores de Grãos (APG). Fundou,
para a APG, o Jornal do Grão, que circulou vários anos. Simultaneamente, fundou o
jornal Gang, de cunho cultural-social, que teve grande repercussão por ter sido um
produto diferenciado. Nesse tempo, o jornalista também atuou como correspondente
do jornal O Popular.
Em 1994, devido a problemas de saúde na família, o jornalista regressou à
sua terra e voltou a trabalhar no jornal, onde tinha ingressado em 1976 e trabalhado
durante 11 anos. Havia começado como repórter e seguiu como redator, editor de
várias editorias e secretário de Redação. Lá ele desenvolveu outra etapa de sua
carreira, por mais nove anos, como assistente da Editoria de Economia e depois
como editor de Política e Opinião. Nesse período a Folha de Rio Verde deixou de
5
Folha de Rio Verde é uma publicação quinzenal da Editora Geral Independência Ltda, fundada em
Rio Verde (GO) em 8/8/88 por Egídio Brizola. Tiragem: três mil exemplares. Editor responsável:
E. Brizola, [email protected].
circular. Mas em 2003, com o retorno a Rio Verde, Brizola retomou a Folha de Rio
Verde – chamando de Fase 2 a nova circulação.
Durante o período em que o jornal circulou na primeira fase (1988 – 1994),
não foi possível encontrar cópias das edições, já que a cidade não possui
hemeroteca, e poucos veículos arquivam suas publicações.
Quando o jornal voltou a circular, a chamada Fase 2, foi publicada no período
de 05 a 20 de agosto de 2004 uma explicação aos leitores sobre o motivo da
suspensão da circulação da Folha:
Caro leitor, O retorno da Folha de Rio Verde é causado pela oportunidade
favorecida pela expansão econômica da cidade e da região, que amplia os
espaços para todos os empreendimentos. Não existia esta circunstância
com tal grandiosidade em 1988, quando este jornal teve a honra de
começar a circular. Dezesseis anos atrás, esta publicação enfrentou as
dores da evolução do crescimento juntamente com a cidade, ambas
atônitas com a voracidade do processo. Anos depois, enfim, o cenário
apontava como caminho mais sensato a suspensão do jornal... Agora, a
volta da Folha significa, primeiramente, a criação de uma nova página, de
uma nova pena à disposição da comunidade, da qual sempre espera
solidariedade na mesma medida que oferece. Os tempos são outros, como
são outras as tendências, mas o veículo jornal, como meio e mensagem,
continua teimosamente a respirar, e a cada decreto de sua morte ressurge
com força redobrada. Na luta frenética que este tipo de publicação enfrenta
há uns 15 anos, sua capacidade de adaptação à TV e à Internet mostra
porque se faz o jornal. Jornal é o resultado da paixão, mas também das
vicissitudes, das dores, do coração quebrado, da alma dolorida que ao ficar
pronto, tem o poder de se transformar no refrigério necessário a todos os
desencantos. Ele é assim porque é feito de material vivo, feito da mesma
árvore que faz o lápis. Feito com entusiasmo, que significa ter Deus dentro
da gente (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio Verde-GO, 05-082004).
No âmbito do jornalismo “empresa”, o retorno da circulação do veículo revela
a necessidade e a importância de tecnologia e capital disponíveis para manter o seu
funcionamento. Além disto, a linguagem utilizada determina o estilo da escrita
adotado, que se revela atraente, com apelo ao emocional, na busca de prender e
agradar ao leitor. Como mostram os primeiros parágrafos que aparecem no mesmo
período, narrando a história do nascimento da cidade, as construções frasais são
típicas do nariz de cera. Nessa edição de 2004, a Folha de Rio Verde trazia matérias
em homenagem ao aniversário de 156 anos da cidade como nos leads a seguir:
Foram os bandeirantes paulistas, nas suas entradas e bandeiras em direção
do lugar onde o sol se põe, que fizeram, segundo consta, os primeiros
contatos com os índios que se concentravam no fundão do Sudoeste de
Goiás, por volta de 1726. Bravos, eles resistiram, mas isso não conteve a
ânsia dos homens brancos. Apenas alguns grupos admitiram contato – e aí
foram pacificados – uns sessenta e tantos anos depois. Passaram a ser
chamados de caiapós (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio VerdeGO, 05-08-2004/20-08-2004).
Outro exemplo:
O boom do desenvolvimento de Rio Verde teve início ainda nos finais de
1960 e início de 1970, quando experimentados produtores de grãos de São
Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná decidiram “dar uma volta” no Centro
Oeste em busca de terras, conheceram a região e ficaram. Conta uma
lenda que um deles, um gaúcho, saiu a esmo de carro meio novo. Parou
num posto de gasolina e comprou uma área de 4 mil alqueirões para pagar
em três anos. Com o Opala de entrada. Ele ficou tão encantado que “voltou
a pé” contar a notícia (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio VerdeGO, 05-08-2004/20-08-2004).
A linguagem de cunho literário, com expressões conotativas, coloquiais,
populares e adjetivadas no texto citado não significa que o jornal ainda não havia
adotado o lead, já que na mesma edição, o modelo também aparece, como mostra o
trecho a seguir:
O assessor comercial da Embaixada do Chile no Brasil, Donald Mondinger,
esteve em Rio Verde, no último dia 26 de julho, para conhecer indústrias e
verificar as potencialidades de exportação do município para seu país.
(BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio Verde-GO, 05-08-2004/20082004).
Cinco anos depois, no período do aniversário da cidade, edição de 5 a 17 de
agosto de 2009, veja como foi redigido os primeiros trechos das seguintes matérias:
O dia 5 de agosto de 2009 é a data em que Rio Verde completa 161 anos
de história construída pela força e a tradição do agronegócio. O aniversário
tem uma agenda de comemorações, e por certo fará muito sucesso um bolo
de 161 metros que será distribuído à população. O bolo será montado na
Av. Presidente Vargas, no trecho entre a cooperativa Comigo e o Shopping
Rio Verde, e será servido no dia 5, no local, a partir das 7 horas. Rio Verde
é responsável por 1% da produção nacional de grãos, é o maior produtor de
grãos do Estado e um dos maiores arrecadadores de impostos sobre
produtos agrícolas. Por meio de entidades como a Universidade de Rio
Verde (Fesurv), também é centro difusor de novas tecnologias.
O lead, adotado como modelo, passa a ser visto em todas as matérias da
Folha, mesmo que isto não signifique que tenha perdido a característica literária
inicial. Como mostra o primeiro exemplo, a linguagem adquiriu uma hibridez textual,
por vezes opinativa e, com respaldo nos textos de assessorias de imprensa.
Pelo o que se nota, o lead do jornal Folha de Rio Verde atua como
instrumento de afirmação e difusão do panorama político e econômico da cidade,
girando em torno do agronegócio, atividade de considerável importância no
município.
4. Considerações Finais
Os jornais locais se diferenciam dos nacionais pela maneira de noticiar, já que
os primeiros possuem características específicas que envolvem a proximidade, o
compartilhamento de experiências, o mesmo cotidiano e identidade social e cultural.
Vale lembrar que as notícias deveriam destacar justamente o aspecto desta
particularidade que as envolvem, ser objeto da democracia e resgatar as identidades
e diversidades locais, além de trazer questões úteis e problemáticas socialmente
relevantes, em relação à comunidade.
Porém, quando o jornalismo rende-se às regras do mercado, a notícia
transforma-se em mercadoria e os leitores se tornam meros consumidores,
condicionados pela ilusão de que têm acesso às principais informações, sem de fato
analisarem os motivos e interesses particulares e ideológicos que determinam o que
é de fato essencial.
O resumo dos acontecimentos, exposto no lead do jornal Folha de Rio de Rio
Verde, traz informações de eventos que ocorreram e que estão para acontecer, já
que é uma publicação quinzenal.
Nesse intervalo de tempo, nota-se a falta da matéria do repórter que sai com
uma pauta e está atento a tudo o que está a sua volta, com o objetivo de encontrar
histórias de pessoas, seus dramas, anseios. Quando o veículo dedica-se a isto,
chamam-lhe pejorativamente de sensacionalista.
Na ânsia de escolher qual linguagem utilizar, muitos acabam recorrendo a
extremos e acabam deformando a realidade. De um lado aparece a singularidade ao
extremo, sensacionalista. De outro, os veículos adotam a pirâmide invertida da
grande imprensa, caso do jornal analisado, porém escondem grande parte da
realidade, ao não considerar importante a vivência diária dos rio-verdenses e outros
fatores que expressam a cultura local, já que a maioria das matérias publicadas são
releases recebidos da assessoria de comunicação da Prefeitura, de conteúdo
partidário e condicionado ao mercado de produtores de grãos.
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Summus editorial, 1996.
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PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005.
SOUZA, Jorge Pedro. Elementos do jornalismo impresso. Porto: Universidade
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ZANOTTI, Carlos Alberto. O Paradoxo do lide: sedução e afastamento. Revista de
Estudos do Curso de Jornalismo PUC-Campinas, Ano 1, nº 1, outubro de 1998.
PANORAMA DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DE RIO VERDE EM 20101
José Antônio Ferreira Cirino2
Adriana Souza Campos3
Resumo
Este trabalho é fruto de projeto de iniciação científica que resultou em um
mapeamento das mídias locais de Rio Verde (GO). O objeto de estudo está centrado
nos veículos de comunicação em funcionamento neste ano de 2010. Como métodos
foram adotados a pesquisa bibliográfica e documental, entrevista e pesquisa de
campo. A mídia local e regional tem se destacado no cenário das comunicações
midiáticas no Brasil, principalmente em um contexto em que a globalização parecia
ter o poder de fazer desaparecer a diversidade cultural. Aparentemente desde o
início deste século houve uma redescoberta da mídia local como um outro território,
um outro mercado, que quer ser respeitado nas suas especificidades.
Palavras-chave: Mídia. Local. Comunicação Regional.
1. Introdução
Este trabalho é fruto de projeto de iniciação científica que resultou em um
mapeamento das mídias locais de Rio Verde (GO) – emissoras de rádio, televisão e
jornais impressos -, com o intuito de traçar o panorama dos veículos desta cidade.
Rio Verde possui pouco mais de 160 mil habitantes (IBGE) e fica a 238 km de
Goiânia. O Município se desenvolveu muito rápido nos últimos anos em decorrência
da instalação de diversas indústrias. Como resultado disto também houve uma
expansão da mídia local.
O objeto de estudo desse trabalho está centrado nos veículos de
comunicação em funcionamento neste ano de 2010: uma emissora de TV; cinco
1
Artigo resultante de Programa de Iniciação Científica dos cursos de Comunicação Social
(INICIACCOM) do IESRIVER/Faculdade Objetivo realizado de agosto de 2009 a maio de 2010. O
projeto de iniciação científica teve orientação da professora mestre Márcia Raduan, como atividade
complementar desenvolvida por alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda.
2
Estudante de Graduação do 3º Semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Instituto de
Ensino Superior de Rio Verde (IESRIVER) e estudante de Graduação do 2º semestre do curso de
Marketing pela Universidade Paulista (UNIP) pólo Rio Verde-GO. Professor do projeto Jovem de
Futuro da disciplina de Contabilidade. Monitor de Atividades Complementares dos cursos de
Comunicação Social. Assessor de Marketing e Comunicação do Hospital Evangélico de Rio Verde.
Email: [email protected].
3
Orientadora, Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade
Federal de Goiás (UFG), especialista em Assessoria em Comunicação (UFG) e mestre em
Comunicação (Unimar-SP). Coordena os cursos de Comunicação Social do IESRIVER. Email:
[email protected];
emissoras de rádio; seis revistas e oito jornais. É importante destacar que os
veículos institucionais e os que apenas possuem plataformas digitais não foram
pesquisados.
Como métodos foram adotados a pesquisa bibliográfica e documental,
entrevista e pesquisa de campo. Na pesquisa de campo, junto aos proprietários ou
diretores dos veículos de comunicação, foram aplicados questionários com modelo
padrão - entrevista estruturada. Está técnica segue um roteiro previamente
estabelecido, com perguntas predeterminadas permitindo "que todas elas sejam
comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as diferenças devem
refletir diferenças entre os respondentes e não diferenças nas perguntas” (LODI,
1974, apud CORRÊA, 2003, p. 01).
Para obtenção das respostas aos questionários estruturados, foram enviados
e-mails a todos os veículos, com um resumo explicativo sobre o tema da pesquisa e
apresentando em anexo os questionários estruturados. Alguns dos entrevistados
responderam prontamente e, com outros, o preenchimento dos questionários foi feito
por telefone. A pesquisa de campo foi desenvolvida entre março e abril de 2010.
Uma entrevista não dirigida foi realizada com o objetivo de levantar a história
da comunicação no Município. As observações participativas também foram
elemento fundamental para a pesquisa empírica sobre a estrutura e característica
dos veículos pesquisados.
2. História e Comunicação Regional
Os veículos regionais ou locais, diferentemente dos de abrangência nacional,
têm atuação segmentada e se distinguem pela relação direta estabelecida entre
comunidade e conteúdo. Valem-se do princípio da proximidade, aplicado através do
conteúdo e temáticas locais. Proximidade tanto no sentido de contiguidade e
vizinhança - como também quanto à proximidade como um dos fatores de
noticiabilidade para as informações, jornalísticas e de serviço. Além disso, são um
formato que pode ser utilizado para intensificar as relações com a própria
comunidade e o público no seu entorno, através da articulação entre a circulação e o
próprio espaço territorial.
Ubirajara Galli, escritor goiano, é autor do livro “A História da Indústria Gráfica
em Goiás (de 1830 a 2004)” conta que no passado mais distante apareceram muitos
jornais no interior e Rio Verde foi a cidade que, segundo Galli, teve maior projeção
nesse setor. Aqui surgiram o “Sul de Goyaz”, no mesmo ano “A Cigarra”, o “BeijaFlor” e o “Oeste de Goyas”. Em 1899, “Centro de Goyas” e, no mesmo ano, “O Riso”.
A primeira estação de rádio em Rio Verde foi a Difusora Brasileira de Rio Verde, de
propriedade do político uberlandense Geraldo Ladeira - que na década de 50 foi
prefeito de Uberlândia (PSD). Ladeira possuía uma rede de rádios.
De acordo com Barreto (2004), a intenção das mídias regionais e locais é
valorizar a produção regional, fazendo com que cada vez mais municípios participem
desta iniciativa. Para o autor, não é uma forma de preservação da cultura nacional
nem o fortalecimento da democracia: “é a própria cultura nacional, dentro de uma
democracia viva e participativa”. Mesmo diante da potencialidade que existe no
jornalismo regional, Barreto (2004) nos apresenta dados que indicam a baixa
produção disseminada pelo segmento:
Um dos dados mais importantes divulgados recentemente é o de que
somente 8% dos municípios do país geram todos os programas de TV
assistidos no Brasil inteiro. Isto é muito grave para o jornalismo regional,
pois nos diz que 92% dos municípios, a maior parte resguardando
evidentemente as tradições culturais deste país, são apenas espectadores
do processo. (BARRETO, 2004)
Desta forma se faz necessário aprofundar no conhecimento da realidade da
comunicação de regiões e localidades do interior goiano, a exemplo do que
propomos fazer neste trabalho, tendo como locus o município de Rio Verde – GO. A
realidade da comunicação do interior, especialmente em Goiás, ainda é muito pouco
estudada. Destaca-se que nos últimos anos as pesquisas no campo da
comunicação regional no Estado cresceram, motivadas possivelmente pela
expansão do ensino de graduação e pós-graduação na área.
O maior paradigma dos veículos de comunicação no âmbito regional e local é
a falta de comprometimento ético e moral com os preceitos jornalísticos da ética,
objetividade e imparcialidade. Para Filadelfo Borges (2010), em Rio Verde essa falta
de comprometimento também existe: “Os jornais do passado eram mais presos a
grupos políticos, e hoje, são presos a empresas, que indiretamente são ligados a
políticos”.
Peruzzo vai além quando trata do atrelamento dos veículos com o poder
público:
Na prática, o jornalismo local vem revelando algumas tendências. Os laços
políticos locais tendem a ser fortes e a comprometer a informação de
qualidade. É comum a existência de tratamento tendencioso da informação
e até a omissão de fatos, em decorrência de ligações políticas com os
detentores do poder local e dos interesses econômicos de donos da mídia.
Claro que não se trata apenas de um problema da imprensa regional (...)
Mas, os jornais e as televisões, na prática, estão envolvidos em
contradições, motivadas por vínculos políticos e interesses econômicos,
que, além de comprometer a informação de qualidade e isenta, acabam por
reproduzir estilos e menosprezar a força do local enquanto fonte de
informação. (PERUZZO, 2005, p.78)
É complicado discutir sobre tais preceitos e paradigmas confrontantes com a
ética jornalística quando se vê claramente os interesses pessoais dos proprietários
dos veículos em detrimento a imparcialidade dos fatos. Martins e Silva destacam que
“a produção da informação na imprensa interiorana ainda é um desafio para a
manutenção e vivacidade da ética. A imprensa do interior tende a ser opinativa e
pouco
imparcial”.
As
observações
participativas
empreendidas
para
o
desenvolvimento deste trabalho nos permitem afirmar que, em Rio Verde, boa parte
dos veículos assume uma posição tendenciosa e parcial dos fatos.
O caráter opinativo característico da mídia impressa interiorana existe devido
a padrões pré-determinados que vão além do despreparo para atuação na área
(Martins e Silva). Um dos fatos que prova isso são os laços do veículo com os
órgãos de poder público e executivo, não descartando também, as empresas com
poder para alavancar o faturamento destes. Por esse motivo, a consciência regional,
necessária para a união de esforços em prol do desenvolvimento regional, é frágil. O
fortalecimento do sentimento de regionalidade só será possível, portanto, se houver
uma gestão comunicacional que divulgue, esclareça, motive e incentive a
participação de todos os setores da sociedade na discussão das questões que a
eles interessam. (SANTOS, LICHT e GIL, 2005)
Embora a comunidade receptora dos produtos comunicacionais da mídia local
ainda receba conteúdos, vez ou outra parciais, sua presença é fundamental para o
fortalecimento do sentimento de pertença a uma região. (SANTOS, LICHT e GIL, 2005)
3. Características dos Meios
Para dar suporte às descrições e análises sobre os veículos é necessário
retomar conceitos sobre as particularidades de cada um. Charadeau (2007) evoca
as características principais da televisão, que se resume em “imagem e fala, fala e
imagem”. Não somente a imagem, como se diz algumas vezes quando se trata de
denunciar seus efeitos manipuladores, mas imagem e fala numa solidariedade tal,
que não se saberia dizer de qual das duas depende a estruturação do sentido. A
televisão é o “Olimpo da Comunicação” (FIGUEIREDO, 2005).
Já o rádio é para Charadeau (2007), o conjunto voz, sons, música e ruído é
que o inscreve numa tradição oral, sem acompanhamento de imagem, nenhuma
representação figurada dos locutores nem dos objetos que produzem as vozes.
Produz, como o próprio afirmou, “uma magia particular através da ausência de
encarnação, e da onipresença de uma pura voz, chegando-se a identificar o tom que
deixa aflorar o mistério da sedução”. Sendo ainda, por excelência, a mídia da
transmissão direta e do tempo presente. Para Figueiredo (2005), o rádio é fundo,
trilha do dia-a-dia das pessoas.
Quando se trata das características do jornalismo impresso, destacam-se as
possibilidades de espaço e tempo de contato com o receptor. Com base em
Charadeau (CHARADEAU, 2007, p.113), podemos afirmar que a “imprensa é
essencialmente uma área escritural, feita de palavras, de gráficos, de desenhos e,
por vezes, de imagens fixas, sobre um suporte de papel”. Esse conjunto de técnicas
inscreve essa mídia numa tradição escrita que se caracteriza essencialmente por:
uma relação distanciada entre aquele que escreve e aquele que lê. Em relação às
especificidades de revista e jornais, Figueiredo (2005) esclarece: a primeira tem uma
circulação e uma durabilidade maior devido a seu suporte de impressão mais
resistente, o que não ocorre com o jornal - “o jornal de hoje, embrulha o peixe de
amanhã”.
QUADRO 1 - Panorama dos veículos de comunicação rio-verdenses
Veículo
Fundaçã
o
2009
Responsável
Peculiaridades
André Furquim
Jornal
Folha da
Cidade
Jornal
Folha de
Rio Verde
Jornal
News
1999
Jesus Catarino de
Oliveira
1988
Egídio Brizola
Quinzenal. Formato Germânico. 16 páginas.
Tiragem: 6 mil. Distribuição gratuita em Rio Verde
e Região.
Quinzenal. Formato Standard. 16 páginas, 8
coloridas. Tiragem: 5 mil. Distribuição Gratuita:
Rio Verde e Região.
Mensal. Formato Standard. 8 páginas. Tiragem:
3,5 mil. Distribuição Gratuita em Rio Verde.
1994
Henrique Kringer
S. Pereira
Jornal O
Acadêmico
2009
IESRIVER/Faculda
de Objetivo
Jornal O
Espaço
1993
João de Freitas
Jornal
Tribuna do
Sudoeste
Rádio 96
FM
Rádio
Cidade FM
Rádio Líder
FM
Rádio
Morada do
Sol
Rádio Rio
Verde AM
Revista
Casa &
Casa e
Revista
Saúde &
Você
Revista Ella
e Revista
Plantar
Sudoeste
Jornal
2005
Grupo Tribuna do
Planalto
1990
Organização Júlio
Capparelli
Lissuaer Vieira
Jornal
Fatos
2009
2009
1990
1950
2008/200
9
2004
Luciane
Mascarenhas
Janete Nascimento
e Renata
Nascimento
Organização Júlio
Capparelli
Sandra Adam e
Hugo Reis/Ângelo
Graciano
Divino Onaldo
Quinzenal. Formato Standard e Tablóide (coluna
social). Tiragem: 5 mil. Distribuição gratuita em
Rio Verde e Região.
Mensal. Formato Tablóide Americano. 12 páginas,
6 coloridas. Tiragem: 1 mil. Distribuição Gratuita
em Rio Verde e Região.
Quinzenal. Formato Standard. 8 páginas.
Tiragem: 6 mil. Distribuição Gratuita em Rio Verde
e Região. Gráfica: Imprima, em Uberaba.
Semanal. Formato Standard. Tiragem: 6 mil.
Distribuição Gratuita em Rio Verde e Região.
Gráfica: própria, do Grupo Tribuna do Planalto.
Atinge as classes AB e C, com programação
alternativa e vários estilos musicais.
O público da rádio, de acordo com os dados
divulgados pela emissora, é AB.
Possui como principais programas: “Jornal A
Força do Povo” e “Manhã 95”.
Apresenta-se como veículo que pretende atingir a
todas as classes sociais e idades, com uma
programação variada.
Possui 10 quilowatts de potência e dial 900,
abrangendo todo o sul e sudoeste goiano.
Bimestral. Formato 21x28cm. 56 páginas.
Tiragem: 5 mil. Distribuição Gratuita e Dirigida em
Rio Verde e Região.
Mensal/Bimestral. Formato 21x28cm. Tiragem: 10
mil. Distribuição Gratuita e dirigida em Rio Verde e
Região.
2007
Organização Júlio
Quinzenal. Formato Tablóide Americano. 12
Capparelli
páginas. Tiragem: 10 mil. Distribuição Gratuita e
Dirigida em Rio Verde e Região.
TV Riviera
1990
Organização
Dentre a colocação regional, os programas da TV
Jaime Camara
Riviera estão entre os 30 com maior audiência da
Rede Globo.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor dessa pesquisa embasado nos dados coletados.
3.1 Emissora de TV
Em Rio Verde existe apenas uma emissora de TV, sendo que ela pertence a
Rede Anhanguera de Televisão, afiliada da Rede Globo em Goiás. No Estado, essa
relação de intercâmbio entre o nacional e o local fica clara na grade de programação
da TV Anhanguera, emissora afiliada à Rede Globo e que faz parte de uma rede de
emissoras de televisão pertencente ao grupo Organização Jaime Câmara, um dos
maiores grupos regionais de mídia do Brasil. (CAMPOS, 2008)
É interessante como a Rede Globo se aproveitou desse novo mercado, o
mercado regional, para aumentar seu faturamento abrindo possibilidades de
emissoras se filiarem.
Percebe-se a retomada do processo de regionalização da comunicação ou
mesmo da produção regionalizada em várias emissoras que integram redes
de comunicação como forma de fidelização do telespectador ou como
estratégias que abarcam novas alternativas de apelo comercial. (CAMPOS,
2008, p. 221).
3.1.1 TV Riviera
De propriedade da Organização Jaime Câmara, na “Tv Riviera – Você se vê
na sua tv!”. É a única emissora de Rio Verde, fundada em 1990, com programação
local jornalística voltada para todos os públicos e com assuntos do cotidiano. Possui
uma equipe de 14 jornalistas, sendo Rimenes Prado o Editor-chefe. Dentre a
colocação regional, os programas da TV Riviera estão entre os 30 com maior
audiência da Rede Globo, atingindo quase 350 mil pessoas em 20 municípios da
região.
3.2 Emissoras de Rádio AM e FM
São cinco emissoras de rádio em Rio Verde, sendo uma AM e quatro FM. A
AM possui conteúdo exclusivamente de cunho religioso. As FMs tem conteúdo
misto, indo de notícias a entretenimento. A maioria delas tem em sua grade de
programação um programa jornalístico. Esses programas apresentam doses de
polêmica nos comentários dos locutores, que dão o tom dos programas. É comum a
personificação do programa pelo locutor, tamanho reconhecimento dele em meio ao
público ouvinte. No último ano, duas rádios mudaram seus nomes quando mudaram
de proprietários: a rádio Positiva passou a se chamar Líder e a Terra tornou-se
Rádio Cidade.
3.2.1 Rádio 96FM
A “Rádio 96 FM – A rádio da cidade” entrou em funcionamento em 1990, com
10 quilowatts de potência e dial 96,9, abrangendo todo o sul e sudoeste goiano.
Atinge as classes AB e C, com programação alternativa e vários estilos musicais
(predominam rock e pop nacional/internacional). Faz parte da Organização Júlio
Capparelli.
3.2.2 Rádio Cidade
A rádio Cidade FM tem por slogan “Aqui é bem melhor” e foi fundada em
2009. O proprietário atual é Lissauer Vieira e foi o responsável pela troca de nome
da rádio, conforme mencionado anteriormente. O público da rádio, de acordo com os
dados divulgados pela emissora é AB, mas por observação participativa pode-se
inferir que somente uma pesquisa mais aprofundada de audiência poderia
estabelecer, com precisão, o público.
3.2.3 Rádio Líder 95 FM
A Rádio Líder já foi chamada de Positiva e, anteriormente, Interativa. Hoje
pertence a Luciane Mascarenhas. Passou a funcionar como Líder FM em 2009.
Possui como principais programas: “Jornal A Força do Povo”, “Flashback Sertanejo”
e “Manhã 95”.
3.2.4 Rádio Morada do Sol
A Rádio Morada do Sol, que tem como proprietários a Janete Nascimento e
Renata Nascimento, foi fundada em 1990. Apresenta-se como veículo que pretende
atingir a todas as classes sociais e idades, com uma programação variada, que vai
desde o jornalismo policial e popular, com o programa do Costa Filho, até programas
de entretenimento.
3.2.5 Rádio Rio Verde AM
A Rádio Rio Verde AM entrou em funcionamento em 1950. Possui 10
quilowatts de potência e dial 900, abrangendo todo o sul e sudoeste goiano num raio
de 200 km. Como sua programação musical é 100% gospel, o público se limita a
ouvintes desse estilo musical e religioso. Faz parte da Organização Júlio Capparelli.
3.3 Impressos – Jornais e Revistas
“O jornalismo regional, como conta Gastão Thomaz de Almeida, ainda é
conhecido pelo seu ‘abre e fecha de jornais’”, afirma Martins e Silva. Mas é com
esses jornais e revistas vai-e-vem que a região é representada e tem sua cultura
valorizada – ao menos em tese. Em Rio Verde, esse quadro também caracteriza o
meio impresso.
Os jornais e as revistas no interior, em sua maioria, são produtos da indústria
cultural, no sentido de que seu planejamento principal é o de faturamento com a
comercialização de espaços publicitários, em detrimento da linha editorial e o
conteúdo a ser passado.
3.3.1 Jornal Fatos
O Jornal Fatos foi nomeado assim, de acordo com o proprietário e editor
André Furquim, devido a um trabalho executado quando ainda cursava a faculdade
de Jornalismo - curso que abandonou no segundo semestre. A publicação foi
fundada em 2009 e tem como público-alvo as classes AB e C. Possui uma equipe de
três repórteres – todos estagiários, acadêmicos de Jornalismo do Instituto de Ensino
Superior de Rio Verde (IESRIVER).
A periodicidade do Jornal Fatos é quinzenal, impresso no formato Germânico,
com tiragem de 6 mil exemplares, 16 páginas - com as capas coloridas (inclusive do
caderno Mulher) e é distribuído gratuitamente – porém possui alguns clientes que
assinam o periódico para receberem em casa (Rio Verde e cidades vizinhas).
3.3.2 Jornal Folha da Cidade
O jornal Folha da Cidade apresenta como slogan “Essa folha também é sua”.
Pertence a Jesus Catarino de Oliveira, que nomeou o jornal desta forma no intuito
de criar uma proximidade com o público, deixando claro seu caráter local. Foi
fundado em 1999 e já foi chamado de “Jornal Alternativo”.
Possui oito colaboradores, um deles é jornalista diplomado. É distribuído
gratuitamente, com periodicidade quinzenal, no formato Standard, com 16 páginas –
sendo 8 coloridas. Apresenta tiragem de 5 mil exemplares e é distribuído
prioritariamente em Rio Verde.
Em resposta às perguntas enviadas por este autor, o proprietário e editor do
jornal deixa clara sua opinião em relação ao cenário da comunicação Rio-verdense:
Considero que Rio Verde está dando importantes passos em relação à
comunicação. (...) Já a comunicação escrita... esta falta muito para
acompanhar o crescente desenvolvimento do município. Isto se dá devido a
muitos jornais que circulam há vários anos no município com o único
objetivo de promover este ou aquele político, ou o que é pior, é utilizado
para denegrir a imagem de autoridades políticas. Geralmente este tipo de
veículo circula por algum tempo e depois desaparece, o que é lamentável.
(OLIVEIRA, Jesus Catarino de. Entrevista em 15 abril 2010)
3.3.3 Jornal Folha de Rio Verde
O jornal Folha de Rio Verde tem como proprietário Egídio Brizola, jornalista
que atua na comunicação local há duas décadas, e fundou esse impresso em 1988.
O Jornal tem como slogan “O melhor jornal da cidade” e funciona com uma equipe
de três pessoas, que de acordo com ele, ”antigamente precisava de muita gente,
hoje é mais fácil, a editoração eletrônica auxiliou na redução de funcionários,
eventualmente conto com um freelancer”.
Atualmente apresenta periodicidade mensal – já foi semanal, quinzenal e
esporádico -, no formato Standard com 8 páginas, a maioria colorida e tiragem de
3,5 mil exemplares. É distribuído gratuitamente em Rio Verde. A falta de
periodicidade da publicação se deve ao fato, em algumas ocasiões, de ausência de
contratos de publicidade com a administração pública.
3.3.4 Jornal News
De propriedade do Henrique Kringer Silva Pereira, o “Jornal News - Desde
1994 fazendo história em Rio Verde” possui equipe de reportagem terceirizada e
contrata freelancers - acadêmicos de jornalismo. Contempla temas como política,
economia, educação, construção civil, saúde e possui um caderno para o Colunismo
Social. É impresso quinzenalmente. Com dois cadernos, um standard e o outro
tablóide – colorido, tiragem de 5 mil exemplares e distribuição gratuita.
3.3.5 Jornal O Acadêmico
O jornal laboratório – O Acadêmico é vinculado ao curso de Jornalismo do
Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (IESRIVER) e foi fundado em 2009. Por
não se tratar de impresso tradicional, sua inclusão nesta pesquisa é apenas a de
apresentar a publicação como integrante da comunicação regional.
3.3.6 Jornal O Espaço
“Jornal O Espaço - O jornal que faz a diferença” é outro impresso de Rio
Verde. A publicação já foi chamada de Espaço Aberto, mas “fomos pesquisar para o
registro da patente e já havia uma disputa por esse nome, e decidimos por colocar
apenas Espaço”, esclarece o proprietário João de Freitas. Fundado em 1993, seu
foco principal é a política - 80% do conteúdo. Distribuído gratuitamente em Rio Verde
e região “e nos bastidores do poder em Goiânia”. Tiragem quinzenal, no formato
Standard com 8 páginas e 6 mil exemplares.
3.3.6 Jornal Tribuna do Sudoeste
O Jornal Tribuna do Sudoeste é filiado ao grupo Tribuna do Planalto, de
propriedade do Sebastião Rosa. Fundado em 2005 é impresso semanalmente, no
formato Standard, com tiragem de 6 mil exemplares e distribuição gratuita.
Fernando Machado, repórter do jornal, analisa o cenário rio-verdense:
Vejo que existe uma demanda crescente por profissionais qualificados tanto
no mercado publicitário quanto jornalístico. A quantidade de profissionais
aptos a desempenhar funções importantes nesse mercado ainda é muito
pequena, o que dá margem para que profissionais de outros segmentos
atuem de maneira quase sempre improvisada ou para que sejam
contratados profissionais de outras localidades. (MACHADO, Fernando.
Entrevista em 18 abril 2010)
O jornalista reforça a importância do curso de Jornalismo na Cidade: “nesse
contexto, estou convicto de que o papel de uma faculdade de Comunicação Social
no município é fundamental para a profissionalização do segmento em toda a região
Sudoeste e para que existam condições dignas de trabalho”.
3.3.7 Sudoeste Jornal
É mais um veículo que integra a Organização Júlio Capparelli. O “Sudoeste
Jornal – O Jornal que ajuda você a pensar” foi fundado em 2007. A publicação se
intitula: “órgão analítico, objetivando sedimentar a circulação de novas idéias,
divulgar informações objetivas e promover a visão crítica de jornalismo
independente, mas igualmente responsável”. É quinzenal, no formato Tablóide
Americano, com 12 páginas, tiragem de 10 mil exemplares e distribuição gratuita.
3.3.8 Revista Ella e Revista Plantar
A “Revista Ella – O melhor estilo para você” e a “Revista Plantar – O espaço
do agronegócio” possuem o mesmo proprietário, Divino Onaldo Silva. “Fundadas há
seis anos, as revistas objetivam levar informações de qualidade a seus leitores.
Cada uma abrange uma área específica. A Plantar é voltada para o Agronegócio e a
ELLA abrange o universo feminino”, informa o proprietário que acredita na
importância dos veículos locais: “é o veículo local que fala a linguagem do povo da
cidade ou região”.
A revista “Ella” é impressa bimestralmente e a “Plantar” mensalmente.
Possuem o mesmo formato (21x28 cm) e tiragem de 10 mil exemplares. Distribuição
gratuita e dirigida.
3.3.9 Revista Casa & Casa e Revista Saúde & Você
A “Revista Casa e Casa” e a “Revista Saúde & Você – Saúde em primeiro
lugar” também possuem proprietários em comum. São eles: Sandra Adam e Hugo
Reis. Apenas na Saúde & Você, inclui-se um outro sócio: Ângelo Graciano. A
Revista Casa e Casa é voltada para assuntos de decoração e arquitetura e foi
fundada em 2008. A Saúde & Você trata de assuntos relacionados à saúde. Foi
fundada em 2009. São impressas bimestralmente, com 56 páginas, 5 mil
exemplares de tiragem, distribuídos gratuitamente em Rio Verde e região.
3.3.10 Revista Nomes
A Revista Nomes, de propriedade de Bruno França e Julliano França é
voltada a publicação de artigos e matérias de variedades. Seu “atrativo” consiste em
10 páginas de uma coluna social, expondo fotos de pessoas renomadas do
Município. É distribuída gratuitamente e possui 72 páginas. Tamanho: 28x24cm.
3.3.11 Revista Society
A Revista Society pertence a Ana Paula Campos, Lúcia Campos e Natália
Campos. É voltada para a “alta” sociedade. Divulga festas de casamentos,
aniversários, e publica um ou outro artigo relacionado a esses temas. É impressa em
tiragem de 15 mil exemplares, distribuída gratuitamente. Possui 54 páginas e
tamanho de 32x16cm. As revistas Nomes e Society não responderam às questões
encaminhadas e as informações obtidas são fruto de pesquisa documental nas
respectivas publicações.
4. Considerações Finais
A cidade de Rio Verde-GO bem como a sua diversidade de veículos de
comunicação pode ser considerada um vasto campo para os estudos de mídia. Essa
pesquisa representa uma tentativa de levantar elementos sobre a pesquisa de mídia
local e regional no âmbito das investigações feitas. Tem caráter inicial, assim como é
inicial a pesquisa sobre os veículos de comunicação Rio-verdenses.
Os grupos de mídia regionais estão se desenvolvendo como empresa, de fato
regional, com maior número de produções e notícias tanto na esfera local, quanto na
esfera global. Representam um número cada vez maior de investidores que apostam
no aperfeiçoamento e nos altos investimentos, provando que os grupos midiáticos
regionais se atentaram para a importância do profissionalismo e da qualidade da
mídia local. Por outro lado, as mídias locais conquistaram seu espaço, independente
de suas intenções mercadológicas, o cenário da mídia Rio-verdense demonstra a
necessidade da população em ver suas opiniões, cultura e fatos sendo expostos e
documentados dando a possibilidade de faturamento dos veículos que preenchem
esse espaço no mercado atual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARRETO, Gustavo. Jornalismo Regional. Consciência.net, 2004. Disponível em:
<http://www.consciencia.net/2004/mes/03/barreto-regional.html>. Acesso em: 15 abr.
2010.
BORGES, Filadelfo. Filadelfo Borges: depoimento [abr. 2010]. Entrevistador: José
Antônio Ferreira Cirino. Rio Verde: Casa da Cultura, 2010. Entrevista concedida ao
Projeto de Iniciação Científica.
CAMPOS, Adriana Souza. A audiência da TV Regional no cerrado goiano: a
Rede Anhanguera de Televisão in Estudos de mídia regional, local e comunitária.
São Paulo: Arte & Ciência/Unimar, 2008.
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2007.
CORRÊA, Paulo. Perfil contemporâneo da imprensa limeirense. Originalmente
apresentado como Programa de Iniciação Científica do ISCA Faculdades, 2003.
Disponível em: <http://www.iscafaculdadescom.br/nucom/artigo_12.htm>. Acesso
em: 15 mar. 2010.
FIGUEIREDO, Celso. Redação publicitária: sedução pela palavra. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005.
GALLI, Ubirajara. A História da Indústria Gráfica em Goiás: de 1830 a 2004.
Goiânia: Contato Comunicação, 2004.
MARTINS, Salvador Lopes; SILVA, Esdras Domingos da. A cara do jornalismo no
interior.
Disponível
em:
<http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/jornal/salvadorlopesmartins_esdrasdom
ingosdasilva.doc>. Acesso em: 15 abr. 2010.
PERUZZO, Cicília M. Krohling. Mídia Regional e local: aspectos conceituais e
tendências. Comunicação & Sociedade. São Bernardo do Campo: Póscom-Umesp,
a. 26, n. 43, p. 67-84, 2005.
SANTOS, Roberto Elísio; LICHT, René Henrique Gotz; GIL, Antonio Carlos. A
comunicação regional no contexto da globalização: uma reflexão sobre a
região
do
grande
ABC.
Disponível
em:
<http://www.uscs.edu.br/.../projetos_arq/?f=comunicacao_regional...pdf>.
Acesso
em: 01 abr. 2010.
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CLIENTES COM HIPERTENSÃO ARTERIAL
SISTÊMICA E DIABETES MELLITUS: EVIDÊNCIAS PARA O ENSINO DO
AUTOCUIDADO
Ann Otília Paiva Ferreira1
Carla Ribeiro da Silva Santos1
Berenice Moreira2
Reila Campos de Araújo Guimarães 3
Thatiane Marques Torquato4
Mariza Vieira Perez 4
Resumo
As doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares (CV) acometem
principalmente a população adulta, sendo assim as principais causas de morbimortalidade nessa população. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão
(SBH), uma pessoa é dita como hipertensa quando é observado em aferições a
pressão com valor igual ou superior a 140/90mmHg. Segundo o Consenso Brasileiro
de Diabetes (2002) o Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de etiologia
múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer
adequadamente seus efeitos, além disso é o fator de risco maior para as DCV,
principalmente se associado a hipertensão e tabagismo. Buscou-se com este estudo
traçar o perfil social e epidemiológico dos clientes com hipertensão arterial sistêmica
(HAS) e diabetes mellitus (DM) em unidade de referência do município de Rio Verde
e identificar os fatores mais relevantes para abordagem educativa em enfermagem.
Caracteriza-se por uma pesquisa documental, quantitativa, realizada através de
dados obtidos dos 7797 cadastros dos clientes (HIPERDIA), referente ao ano de
2007. Identificou-se que o perfil dos clientes é formado por sua maioria de:
mulheres, brancas, de baixa escolaridade, acima de 61 anos, sedentárias, com
obesidade e que já apresentaram infarto agudo do miocárdio (IAM) como
complicação dessas patologias. O presente estudo buscou agregar informações
sobre o desenvolvimento, aparecimento e prevenção das complicações decorrentes
das DCV e CV, oferecendo subsídio para uma melhor assistência aos clientes,
através da Teoria do Autocuidado de Orem e servindo como fonte futura de
informações para pesquisas.
Palavras-Chave: Diabetes. Perfil Epidemiológico. Hipertensão Arterial
____________________________
! Enfermeiras Especialistas em Formação Pedagógica na Saúde – FIOCRUZ, Mestrandas em
Ciências Ambientais e Saúde –PUC -GO, Docentes do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde –
IESRIVER.
" Enfermeira Mestre em Ciências da Saúde - UNB, Docente da Fesurv.
3
Enfermeira Especialista em Morfofisiologia – UFG, Coordenadora do Centro de Referência em
Hipertensão e Diabetes – CRHD – Rio Verde - GO.
4
Acadêmicas de Enfermagem do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER.
1. Introdução
A frequência das doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares (CV)
representam importantes causas de morbi-mortalidade na população adulta,
resultando em incapacidades físicas, diminuição da qualidade de vida (QV) e morte.
A HAS é definida pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) com
valores de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) respectivamente, iguais
ou superiores a 140/90 mmHg. Chega atingir uma prevalência de 43,9% na
população brasileira.
A HAS é um fator de risco bem estabelecido para as DCV e insuficiência
cardíaca congestiva (ICC). Portanto, há uma necessidade epidemiológica de
identificar a prevalência dos fatores de risco presentes na população brasileira no
sentido de ampliar as políticas públicas de saúde.
Outro agravante é o diabetes mellitus (DM), pois a doença coronariana ocorre
mais comumente em diabéticos do que na população em geral. O DM é fator de
risco maior para as DCV, principalmente se associado a hipertensão e tabagismo.
No Brasil, junto com a HAS, o diabetes é responsável pela primeira causa de
mortalidade e hospitalizações, de amputações de membros inferiores, além de
62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica
submetidos à diálise. (DIABETES, 2002)
Grande impacto econômico ocorre nos serviços de saúde com os custos do
tratamento dessas doenças. Contudo, a família desses portadores também sofrem
com o ônus econômico advindos das complicações, redução da expectativa e
qualidade de vida.
Mudanças neste cenário poderão ocorrer considerando-se as mudanças no
estilo de vida, como hábitos alimentares, cessação do tabagismo e prática de
atividade física, sobretudo, a adesão do paciente ao tratamento terapêutico.
O Ministério da Saúde vem implementando ao longo dos anos, estratégias e
ações para o controle destes e outros agravos. Entre eles, está o Plano de
Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus –
HIPERDIA, aprovado pela Portaria/GM n° 16, de 03/01/2002. Este plano tem por
objetivos:
1- Implantar o cadastramento dos portadores de hipertensão e diabetes
mediante a instituição do Cadastro Nacional de Portadores de Hipertensão e
Diabetes;
2- Ofertar de maneira contínua para a rede básica de saúde os medicamentos
para hipertensão, como: hidroclorotiazida 25 mg, propanolol 40 mg e captopril 25 mg
e diabetes, como: metformina 850 mg, glibenclamida 5mg e insulina definidos e
propostos pelo Ministério da Saúde, validados e pactuados pelo Comitê do Plano
Nacional de Reorganização da Atenção a Hipertensão Arterial e Diabetes;
3 - Acompanhar e avaliar os impactos na morbi-mortalidade para estas
doenças decorrentes da implementação do Programa Nacional.
Em Rio Verde-GO, cidade com uma população estimada em 151 mil
habitantes, localizada no sudoeste goiano, o programa teve início em 2002,
realizando cadastros e dispensação de medicamentos a comunidade. Em 12/06/07
foi implantando o Centro de Referência e Hipertensão – CRHD a fim de reorganizar
e implementar as ações voltadas aos diabéticos e hipertensos do município. A
equipe multiprofissional do CRHD é composta por: 2 endocrionologistas, 1
cardiologista, 1 enfermeiro, 1 psicológo, 1 fisioterapeuta, 1 farmacêutico, 1
nutricionista e 1 educador físico.
Desta forma, o presente estudo tem por objetivos: traçar o perfil social e
epidemiológico dos clientes com HAS e DM em um Centro de Referência de
Hipertensão e Diabetes no município de Rio Verde – GO e identificar os fatores de
risco para doenças cardiovasculares e cerebrovasculares mais relevantes para
abordagem educativa em enfermagem.
2. Metodologia
Trata-se de uma pesquisa do tipo documental com abordagem quantitativa
realizada no Centro de Referência em Hipertensão e Diabetes – C.R.H.D, que é
responsável pelo atendimento multidisciplinar de indivíduos hipertensos e diabéticos
do município de Rio Verde – GO. As amostras foram obtidas através da análise de
dados dos 7797 cadastros do Programa HIPERDIA, referentes ao ano de 2007.
Os dados foram dispostos em tabelas que demonstram o perfil social e
epidemiológico para os três grupos, sendo:
Grupo 1: indivíduos hipertensos.
Grupo 2: indivíduos diabéticos.
Grupo 3: indivíduos com associação de HAS e DM.
As variáveis utilizadas para apresentação dos resultados foram: sexo,
escolaridade, raça/cor, fatores de risco para DCV e CV
e presença de
complicações.
3. A Hipertensão Arterial
A hipertensão arterial é definida como uma pressão arterial sistólica maior ou
igual a 140 mmHg e uma pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg.
(HIPERTENSÃO, 2006)
É uma enfermidade de origem multicausal e mutifatorial.
A pressão arterial
(PA) depende de fatores físicos, como o volume sangüíneo e a capacitância da
circulação, sendo resultante da combinação instantânea entre o volume minuto
cardíaco (ou débito cardíaco = freqüência cardíaca x volume sistólico), e da
resistência periférica.
Tabela 1 - Classificação diagnóstica da hipertensão arterial de maiores de 18 anos
CLASSIFICAÇÃO
ÓTIMO
NORMAL
LIMÍTROFE
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 1
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 2
HIPERTENSÃO ESTÁGIO 3
HIPERTENSÃO SISTÓLICA
ISOLADA
PRESSÃO
SISTÓLICA PRESSÃO
DIASTÓLICA
(mmHg)
(mmHg)
<120
<80
<130
<85
130 – 139
85 – 89
140 – 159
90 – 99
160 – 170
100 – 109
>= 180
> 110
>=140
<90
Fonte: V Diretrizes Brasileiras da Hipertensão Arterial – SBH – 2006
Quando as pressões sistólica e diastólica de um paciente situam-se em
categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da pressão
arterial (HIPERTENSÃO, 2006).
O controle adequado da pressão arterial é imprescindível à manutenção da
pressão de perfusão tecidual nos diversos órgãos e sistemas em mamíferos,
colaborando para a homeostase cardiovascular.
Assim, a HAS exige diagnóstico e tratamento adequado por especialistas,
pois sua elevação representa um fator de risco independente, linear e contínuo para
doença cardiovascular. As complicações que podem advir da HAS não-controlada
são: doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca,
insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades (HIPERTENSÃO,
2006).
4. Diabetes Mellitus
O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de etiologia múltipla,
decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer
adequadamente seus efeitos. Principais tipos: DM tipo 1 e DM tipo 2 (DIABETES,
2002) .
O DM pode ser classificado em 2 tipos principais:
O DM tipo 1 resulta primariamente da destruição das células beta
pancreáticas, geralmente ocasionando deficiência absoluta de insulina, de natureza
auto-imune ou idiopática (causa da destruição das células não é conhecida).
Corresponde a 5 a 10 % do total dos casos. É comumente observada em crianças e
adolescentes (PRETO, 2006).
O DM tipo 2 resulta, em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e
deficiência relativa de secreção de insulina. O diagnóstico é feito comumente em
indivíduos adultos, com idade acima de 40 anos.
Os valores glicêmicos ideais preconizados pela Sociedade Brasileira de
Diabetes (2002) indicam: glicemia em jejum entre 70 a 99 mg/dl e glicemia pósprandial (pós-refeição) < 140 mg/dl.
Tanto a HAS como DM não tem cura, porém suas complicações podem ser
evitadas.
5. Resultados e Discussão
Na tabela 1 foram dispostos os valores em número e porcentagem dos
pacientes portadores de hipertensão, diabetes e diabetes + hipertensão cadastrados
no CRHD em 2007, Rio Verde-GO.
Tabela 2 – Número e porcentagem de pacientes portadores de hipertensão, diabetes
e diabetes + hipertensão cadastrados no CRHD em 2007, Rio Verde-GO
HIPERTENSÃO - GRUPO 1
DIABETES – GRUPO 2
DIABETES + HIPERTENSÃO – GRUPO 3
TOTAL
Nº
4961
885
1951
7797
%
63,63
11,35
25,02
100
O grupo 1, formada de hipertensos, representa a maior população do estudo,
indicando que esta é a doença mais prevalente entre os pacientes cadastrados no
Programa HIPERDIA, totalizando um número de 4961 indivíduos, o que representa
63,63% do total de cadastros. No Brasil esta doença, segundo a SBH, acomete
43,9% da população brasileira.
Gráfico 1 - Distribuição de clientes quanto ao sexo
Grupo 1
Grupo 2
HIPERTENSOS
70%
61,10%
60%
50%
39,90%
40%
30%
20%
10%
0%
Feminino
Masculino
Grupo 3
Na comparação geral, quanto à distribuição do sexo, entre os 3 grupos
estudados, houve prevalência do sexo feminino. De acordo com Magnabosco e
Tavares (2005) este dado se dá pelo fato de que as mulheres percebem e relatam
seus problemas de saúde mais do que os homens, assim como procuram mais
pelos serviços de saúde.
Tabela 3 – Distribuição dos clientes quanto ao nível de escolaridade
Grupo 1
ESCOLARIDADE NÚMERO
%
ENS. FUND.
1703
34,32
ENS. MÉDIO
392
7,9
ENS. SUP.
60
1,2
ALFABETIZADO 1088
21,93
ANALFABETOS
971
19,57
IGNORADOS
747
15,08
TOTAL
4961
100
___________________________________
Grupo 2
ESCOLARIDADE NÚMERO
%
ENS. FUND.
353
39,8
ENS. MÉDIO
130
14,8
ENS. SUP.
19
2,3
ALFABETIZADO 114
12,8
ANALFABETOS
113
12,7
IGNORADOS
156
17,6
TOTAL
885
100
___________________________________
Grupo 3
ESCOLARIDADE NÚMERO
%
ENS. FUND.
788
40,4
ENS. MÉDIO
141
7,3
ENS. SUP.
35
1,8
ALFABETIZADO 303
15,5
ANALFABETOS
395
20,2
IGNORADOS
289
14,8
TOTAL
1951
100
___________________________________
Quanto ao nível de escolaridade foi verificado que, a maioria dos clientes
cadastrados no Programa HIPERDIA possuem baixa escolaridade. Este fato,
segundo Saúde (2002), está inversamente relacionado com a ocorrência de
complicações da HAS e DM, já que o grau de instrução interfere e determina o tipo
de trabalho que o indivíduo terá bem como, influencia na renda familiar,
proporcionando condições sócio-econômicas precárias. Além disso, o grau de
instrução também está relacionado à compreensão do indivíduo acerca do que é
uma doença crônica, dos fatores de risco que contribuem para sua instalação e do
significado atribuído as orientações sobre: alimentação, hábitos de vida e seus
efeitos sobre a saúde, portanto, quanto maior o nível de escolaridade menor a
prevalência de complicações.
Tabela 4 – Distribuição dos clientes quanto a raça/cor
Grupo 1
RAÇA/COR
NÚMERO
%
BRANCA
2351
47,3
PRETA
946
19,06
PARDA
856
17,25
AMARELA
21
0,42
INDÍGENA
6
0,12
NÃO INFORMADO 781
15,85
TOTAL
4961
100
________________________________
Grupo 2
RAÇA/COR
NÚMERO
%
BRANCA
469
52,9
PRETA
155
17,5
PARDA
98
11,1
AMARELA
10
1,2
INDÍGENA
1
0,2
NÃO INFORMADO 152
17,1
TOTAL
885
100
________________________________
Grupo 3
RAÇA/COR
NÚMERO
%
BRANCA
991
49,6
PRETA
408
20,4
PARDA
302
15
AMARELA
12
0,6
INDÍGENA
1
0,05
NÃO INFORMADO 284
14,35
TOTAL
1998
100
________________________________
Quanto à variável raça/cor houve predominância na maioria dos grupos de
estudo, de brancos. Embora a Hipertensão (2006) relate que, HAS seja mais
prevalente em afrodescendentes com excesso de risco de até 130% em relação aos
brancos. Para a Diabetes (2006), este item não representa um fator de risco para
DM. Mas, de acordo com Saúde(2002) este dado se dá pela existência de
diferenças nas condições socioeconômicas da população, que apontam para a
necessidade de outros estudos que considerem o quesito raça/cor, voltados para o
acesso aos serviços de saúde.
Gráfico 2 – Distribuição de clientes quanto aos fatores de risco para DCV e CV
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
No estabelecimento do perfil de fatores de risco para DCV e CV nos grupos de
estudo, verificou-se que, o fator antecedentes cardiovasculares prevaleceu no grupo
1. Porém, Hipertensão (2006) afirma que a presença isolada deste fator de risco não
é suficiente para desencadear uma DCV e/ou CV, pois estas ocorrem comumente
na forma combinada, ou seja, além da predisposição genética, fatores ambientais
contribuem para uma agregação de fatores de risco cardiovasculares, em famílias
com estilo de vida pouco saudáveis.
No grupo 2, a variável sedentarismo prevalece. Como afirma Diabetes (2002)
este é um fator de risco modificável, pois, quanto menor o nível de atividade física
maior o risco de se desenvolver uma DCV. Além disso, na presença de DM todos os
outros fatores de risco são potencializados.
Na análise do grupo 3 houve predominância do fator de risco obesidade. Este
também é um fator de risco modificável e decorre da falta de hábitos de vida
saudáveis. A obesidade, sobretudo a abdominal, é um fator de risco muito forte para
desenvolvimento de DCV, já que a obesidade na maioria desses casos também está
ligada a outros fatores de risco. (PRETO, 2006).
Gráfico 3 – Distribuição de complicações associadas ao DM e HAS entre os clientes
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Na análise dos gráficos quanto às complicações associadas, percebe-se que,
no grupo 1, o infarto agudo do miocárdio (IAM) foi a principal complicação
evidenciada. Isto se deve ao fato de que a HAS é um dos três fatores de risco mais
significantes para seu surgimento. Entre os diabéticos, a complicação predominante
foi o pé diabético. Um dos agravantes trata-se da glicemia descompensada que
acarreta a perda de sensibilidade do pé – neuropatia. No grupo 3 o IAM predomina.
Diante da análise dos gráficos, constata-se que as complicações evidenciadas na
pesquisa são resultado de vários fatores de risco passíveis de modificações, exceto
os antecedentes cardiovasculares, que poderiam ter sido evitados desde que fosse
feito uma prevenção primária, sobretudo, com mudanças do estilo de vida e
tratamento medicamentoso específico.
Dessa forma, surge a necessidade de se estabelecer cuidados de
enfermagem embasados pela Teoria do Autocuidado (AC) de Orem.
6. Teorias de Orem
6.1 Teoria do Autocuidado (AC)
A Teoria do AC de Orem foi desenvolvida entre 1959-1985 por uma
enfermeira chamada Dorothea Elisabeth Orem. Para TORRES et al(1999) sua teoria
baseia-se na premissa básica, de que o ser humano tem habilidades próprias para
promover o cuidado de si mesmo, e que pode se beneficiar com o cuidado da equipe
de enfermagem quando apresentar incapacidade de autocuidado ocasionado pela
falta de saúde.
A teoria do autocuidado de Orem, engloba:
•
O autocuidado;
•
A atividade de autocuidado;
•
A exigência terapêutica de autocuidado. ( TORRES et al, 1999).
São três os requisitos de autocuidado, apresentados por Orem: universais, de
desenvolvimento e de desvio de saúde:
Os requisitos universais estão associados a processos de vida e à
manutenção da integridade da estrutura e funcionamento humanos. Eles são
comuns a todos os seres humanos durante todos os estágios do ciclo vital, como por
exemplo, as atividades do cotidiano.
Os requisitos de desenvolvimento são relacionados aos processos de
desenvolvimento associados a algum evento; por exemplo, a adaptação a novas
situações.
Os requisitos de desvio de saúde são aqueles exigidos em condições de
doença, ferimento ou moléstia para diagnosticar e corrigir uma condição.
6.2 Teoria de Déficit de Autocuidado
Segundo Torres et al (1999) essa teoria refere-se ao momento em que a
enfermagem passa a ser uma exigência, a partir das necessidades de um adulto,
e/ou quando o mesmo acha-se incapacitado ou limitado para prover autocuidado
contínuo e eficaz.
É importante ressaltar que:
Orem identificou cinco métodos de ajuda: 1) agir ou fazer para o outro; 2)
guiar o outro; 3) apoiar o outro (física ou psicologicamente); 4) proporcionar
um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal, quanto a tornar-se
capaz de satisfazer demandas futuras ou atuais de ação; e 5) ensinar o
outro (TORRES; DAVIM; NÓBREGA, 1999, p.43).
6.3 Teoria de Sistemas de Enfermagem
Baseia-se nas necessidades de autocuidado e na capacidade do paciente
para a execução de atividades de autocuidado. Para satisfazer os requisitos de
autocuidado do indivíduo, Orem identificou três classificações de sistemas de
enfermagem (TORRES, DAVIM e NÓBREGA, 1999):
O sistema de enfermagem totalmente compensatório, onde o indivíduo é
incapaz de desenvolver ações de autocuidado e o enfermeiro, então, atua através
de suas ações, para compensar a incapacidade do paciente em realizar o
autocuidado.
O sistema de enfermagem parcialmente compensatório que está
representado por uma situação em que, tanto o enfermeiro, quanto o paciente,
executam medidas de autocuidado, sendo que, o enfermeiro regula as atividades do
paciente e este, aceita seu atendimento e auxílio.
O sistema de enfermagem de apoio-educação ocorre quando o indivíduo
pode e deve executar ou aprender a desenvolver medidas de autocuidado
terapêutico, e o enfermeiro vai promover esse indivíduo a ser um agente capaz de
se autocuidar.
7. Conclusão
Diante das complicações evidenciadas pela pesquisa conclui-se que a maior
parte de seus determinantes são passíveis de prevenção. Sendo assim, pelo modelo
de Orem, o ensino do autocuidado torna-se meta terapêutica. A enfermagem
trabalhando a sensibilização nas mais variadas formas de cuidado contribui de
maneira significativa para minimizar tais agravos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIABETES, Consenso Brasileiro sobre: Diagnóstico e Classificação do
Diabetes Melito e Tratamento do Diabetes Melito do tipo 2. Rio de Janeiro:
Diagraphic Editora, 2002.
HIPERTENSÃO, SOCIEDADE BRASILEIRA DE - V Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira
de Nefrologia, 2006
MAGNABOSCO, P.; TAVARES, D. M. S. Educação em Saúde: Contribuição na
Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial. RECENF. Revista TécnicoCientífica de Enfermagem, Curitiba-PR, v. 3, n. 11, p. 290-297, 2005.
PRETO, SMS RIBEIRÃO – Protolcolo de Atendimento em Hipertensão Arterial –
São Paulo, 2006. Disponível em: <www.saude.ribeiraopreto.sp.gov.br>. Acesso em:
30 mai. 2009.
SAÚDE, Ministério da - Manual de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus –
Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus ––
2002.
TORRES, G.de V.; DAVIM, R.M.B.; NÓBREGA, M.M.L.da. Aplicação do processo
de enfermagem baseado na teoria de OREM: estudo de caso com uma
adolescente grávida. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 2, p. 4753, abril 1999. Disponível em: <http://ww[w.scielo.br/pdf/rlae/v7n2/13461.pdf>.
Acesso em: 30 mai. 2009.
AVALIAÇÃO DA DISPNÉIA DURANTE A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE
VIDA DIÁRIA EM PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA
CRÔNICA ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ATRAVÉS DA
LONDON CHEST ACTIVITY OF DAILY LIVING SCALE1
Cristianne Carneiro Teixeira 2
Fernanda Silvana Pereira2
Adriana Vieira Macedo3
Maria de Fátima Rodrigues da Silva3
Renato Canevari Dutra da Silva3
Resumo
Verificar a dispnéia durante a realização de atividades de vida diária (AVD) do
portador de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) antes e após intervenção
fisioterapêutica através da London Chest of Daily Living Scale (LCADL), relacionar a
pontuação obtida na LCADL com o número de sessões fisioterapêuticas realizadas e
evidenciar possíveis alterações na capacidade física do portador de DPOC após
intervenção. Métodos: foram selecionados quarenta e seis pacientes com o
diagnóstico de DPOC moderado e grave, cadastrados na Clínica Escola de
Fisioterapia, os quais, após responderem a LCADL submeteram-se a um protocolo
de treinamento em cicloergômetro durante oito semanas, com freqüência de duas
vezes semanais e duração média de cinqüenta minutos. Resultados: na correlação
entre o escore total e o percentil do total da LCADL antes e após intervenção
fisioterapêutica não houve significância estatística (p= 0,46 e p= 0,75,
respectivamente), porém, observou-se uma diminuição na pontuação total da escala
(3,8 e 1,9, respectivamente). Constatou-se uma correlação estatisticamente
significativa (p= 0,05) entre o número de sessões realizadas e o total da escala após
o treinamento. Os valores de freqüência cardíaca (FC) e saturação da hemoglobina
pelo oxigênio (SpO2%) obtidos durante o teste de carga sub-máxima de membros
inferiores antes e após intervenção fisioterapêutica mostra diferença
estatisticamente significante (p= 0,03). Conclusões: Uma considerável redução da
pontuação total da LCADL infere melhora da percepção da dispnéia no grupo
estudado. Quanto maior o número de sessões fisioterapêuticas menor a percepção
da dispnéia. As alterações de FC e SpO2% da presente amostra inferem melhora da
capacidade física. Registro no CEP 623329.
Palavras-chave: Dispnéia. DPOC. Atividades Cotidianas.
1. Introdução
A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma entidade clínica
caracterizada pela presença de obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo de
1
Trabalho realizado na Universidade de Rio Verde – FESURV – Rio Verde.
Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Rio Verde – FESURV – Rio Verde.
3
Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER.
2
progressão lenta e parcialmente reversível1. Tendo como origem a combinação de
bronquite crônica e enfisema pulmonar sendo que um predomina sobre o outro2.
A DPOC gera alterações do parênquima pulmonar que leva ao aumento da
resistência das vias aéreas e hiperinsulflação, gerando uma desvantagem mecânica
do diafragma pelo rebaixamento de sua cúpula e encurtamento de suas fibras
musculares. Tais fatores contribuem para limitação da capacidade de exercício3,4.
A patogênese da limitação ao exercício é complexa e envolve perda da força
dos músculos respiratórios, alterações das trocas gasosas e alterações da mecânica
pulmonar, bem como fraqueza muscular em membros superiores e inferiores5. A
diminuição de força muscular é predominante em membros inferiores, pois, estes
pacientes
frequentemente
mecanismo
de
proteção
evitam
da
atividades
dispnéia
e
relacionadas
à
marcha
conseqüentemente
como
surge
o
descondicionamento físico que agrava a dispnéia e compromete a realização das
atividades de vida diária (AVD), levando estes pacientes ao quadro de total
dependência.
Uma das formas objetivas de quantificar a limitação das AVD’s em
decorrência da dispnéia é através da london chest activity of daily living scale
(LCADL). Esta é uma escala desenvolvida exclusivamente para indivíduos com
diagnóstico de DPOC moderado e grave, composta por quinze questões
contempladas em quatro domínios: cuidados pessoais, atividade doméstica, lazer e
atividade física. Possui a vantagem de ser de fácil aplicação e compreensão para os
pacientes6,7,8,9.
A reabilitação pulmonar é um programa multidisciplinar e individualizado que
procura devolver ao indivíduo a maior capacidade funcional permitida. Embora o
comprometimento da arquitetura pulmonar não se beneficie com a reabilitação, é
através dela que o círculo vicioso da falta de ar, inatividade, perda de
condicionamento físico, isolamento social e depressão pode ser revertido3,10.
O treinamento de endurance de membros inferiores (MMII) englobando o
treinamento físico de resistência em cicloergômetro, esteira e escadas constituem a
base do programa de reabilitação pulmonar. Devem ter uma duração de 6 a 12
semanas com frequência semanal de 2 a 3 sessões e intensidade entre 60 a 80% da
capacidade máxima. Pacientes em todos os estágios se beneficiam com os
programas de treinamento, melhorando tanto a tolerância ao exercício quanto os
sintomas de fadiga e dispnéia11,12.
O presente estudo teve como finalidade verificar a dispnéia durante a
realização das atividades de vida diária do portador de DPOC antes e após
intervenção fisioterapêutica através da LCADL, bem como relacionar a pontuação
obtida na escala com o número de sessões fisioterapêuticas realizadas e evidenciar
possíveis alterações na capacidade física do portador de DPOC após intervenção
fisioterapêutica.
2. Métodos
Foram incluídos no estudo quarenta e seis pacientes com o diagnóstico de
DPOC moderado e grave cadastrados no banco de dados da Clínica Escola de
Fisioterapia, no período de setembro a novembro de 2007. Os critérios de inclusão
foram: diagnóstico de DPOC moderado e grave, de acordo com os critérios da
American Thorax Society13, espirometria recente e estabilidade clínica nas últimas
quatro semanas. Os critérios de exclusão foram: outras doenças pulmonares que
não a DPOC, presença de doenças não pulmonares consideradas incapacitantes,
incapacidade de compreensão da LCADL, o preenchimento incompleto da escala ou
com rasuras e o não preenchimento nas duas aplicações.
Todos os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido,
e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do
Centro Universitário do Triângulo.
Primeiramente, foi realizada uma avaliação dos sintomas com o propósito de
identificar a estabilidade clínica dos pacientes, quanto ao sintoma de tosse,
expectoração, em relação a volume e aspecto da secreção. Também foi verificada a
história de tabagismo e a prática ou não de atividade física. Em seguida os
voluntários responderam a LCADL.
Posteriormente os mesmos submeteram-se ao teste de carga submáxima
para MMII realizados em uma bicicleta ergométrica (Modelo BM 2600; MOVIMENT,
Manaus, Brasil), com cargas acrescidas progressivamente a cada dois minutos até
se obter o máximo de esforço do indivíduo, iniciando com velocidade de 40 rotações
por minuto (Rpm) e carga de 25 watts (W). Quando o número de rotações era
acrescido, o número de W permanecia inalterado, em seguida aumentava a carga e
o número de rotações permanecia o mesmo. A velocidade máxima era 60 Rpm e a
partir deste valor era acrescida apenas a carga até atingir a frequência cardíaca de
treino (FCT) ou 12 minutos de teste.
A FCT foi calculada usando a fórmula de Karvonen14: FCT= FCR + X%
(Fcmáx-FCR), onde FCR é a frequência cardíaca de repouso e X, o percentual da
frequência cardíaca máxima desejada durante o treinamento. Neste estudo, X foi de
60% ou 0,06. A frequência cardíaca máxima (Fcmáx) foi calculada pela fórmula: 220
– idade.
Os parâmetros aferidos antes e após o teste foram: freqüência cardíaca
(FC), saturação da hemoglobina pelo oxigênio (SpO2%), pressão arterial (Pa) e
índice de percepção de esforço respiratório (BORG dispnéia) e fadiga de membros
inferiores (BORG MMII)14.
Antes de iniciar o teste realizava-se o alongamento passivo dos grupos
musculares: flexores, extensores, adutores e abdutores do quadril e flexores e
extensores de joelho15.
As sessões de treinamento foram desenvolvidas por um estagiário do oitavo
período de fisioterapia, devidamente treinado para tal finalidade, durante oito
semanas com freqüência de duas vezes semanais na Clínica Escola de Fisioterapia
no período vespertino, tendo uma duração média de 50 min. Durante cada sessão
do treinamento era feita na ficha de evolução do paciente com todos os dados
monitorados e as intercorrências ocorridas durante a sessão.
As sessões iniciavam com alongamento da musculatura a ser utilizada. Em
seguida, eram realizados exercícios calistênicos de membros superiores (MMSS)
que eram compostos por exercícios não sustentados utilizando a segunda diagonal
do Kabat durante dois minutos. Logo em seguida, iniciava-se o aquecimento com
duração de cinco minutos, realizado na bicicleta ergométrica, com carga
individualizada utilizando 20% da capacidade física máxima do voluntário.
Posteriormente realizava-se o condicionamento, com duração de trinta
minutos de exercícios contínuos em bicicleta ergométrica, com carga individualizada
objetivando um trabalho de 60% da capacidade física máxima do indivíduo. A FC e a
SpO2 foram monitoradas continuamente pelo oxímetro de pulso (Modelo PalmSat
7131-018; NONIN, São Paulo, Brasil). A PA foi monitorada a cada cinco minutos de
exercício e o BORG dispnéia e o BORG de MMII foram avaliados pela escala de
Borg. Foi instituído oxigenoterapia complementar (1-3 l/min), por meio de cateter
nasal de oxigênio, caso o paciente apresentasse SpO2 abaixo de 87% durante a
sessão; neste caso o fluxo de O2 administrado era ajustado para manter a saturação
acima de 90%. O condicionamento era interrompido se o paciente apresentasse
alterações significativas de PA e sinais de cansaço excessivo e fadiga, dor, tosse
excessiva e desconforto de qualquer natureza, SpO2 abaixo de 87% apesar da
oxigenoterapia complementar11.
Decorridos os trinta minutos de condicionamento iniciava-se o resfriamento
da mesma maneira que o aquecimento tinha duração de cinco minutos e era
realizado
na
bicicleta
ergométrica,
com
carga
e
velocidade
estabelecida
individualmente a fim de trabalhar a 20% da capacidade física máxima. Ao final
realizava-se o alongamento da musculatura recrutada.
Decorridas oito semanas, uma reavaliação e um novo teste de carga
submáxima para MMII foram realizados e a LCADL era reaplicada. Em seguida,
realizou-se a enumeração de cada paciente e a contagem da pontuação obtida na
aplicação da LCADL, bem como o cálculo do escore e percentual da pontuação
total, desconsiderando as questões em que o escore é zero6.
Todos os dados foram analisados utilizando os programas Microsoft Office
Excel 2003 e SPSS.
As características da amostra foram descritos como média, mediana, desvio
padrão e intervalo de confiança 95%.
O teste de Wilcoxon foi utilizado para comparar a LCADL antes e após
intervenção fisioterapêutica.
O coeficiente de correlação de Sperman foi empregado para correlacionar o
número de sessões realizadas e o escore final da escala.
Para comparar os valores de FC e SpO2 obtidos pelo teste de carga submáxima de MMII em cicloergômetro durante a avaliação e reavaliação do paciente
foi utilizado o teste t de Student.
O nível de significância adotado foi 5% (p= 0,05).
3. Resultados
A amostra foi constituída de quarenta e seis pacientes com idade entre 53 e
74 anos, média de 67,1 anos (±7,5) dos quais trinta e oito pacientes (82,60%) eram
do sexo feminino e oito (17,39%) do sexo masculino. Destes, trinta e um possuem
diagnóstico de distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) acentuado (67,39%) e quinze
(32,6%) com DVO moderado. As características dos pacientes são apresentadas na
tabela 1.
Tabela 1 – Características da amostra de 46 pacientes com DPOC
Variável
Média
DP
Mediana
IC 95%
Limite
Limite
Inferior
Superior
Idade (Anos)
67,1
7,5
69,0
59,2
75,1
Anos/maço
26,4
21,1
34,4
4,3
48,6
VEF1%prev
39,1
13,9
35,6
24,5
53,7
VEF1 (litros)
0,7
0,2
0,7
0,4
1,0
CVF%prev
49,9
14,5
47,7
34,6
65,1
CVF (litros)
1,2
0,4
1,1
0,7
1,7
VEF1/CVF%
73,7
19,0
79,8
53,7
93,7
Peso (kg)
61,4
16,2
60,5
44,3
78,4
Estatura (m)
1,5
0,0
1,5
1,4
1,6
IMC (kg/m2)
26,1
6,0
26,4
19,8
32,4
VEF1%prev: porcentagem do previsto do volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1:
volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF%prev porcentagem do previsto da capacidade
vital forçada; CVF: capacidade vital forçada; IMC: índice de massa corpórea.
Não houve correlação entre o escore total e o percentil do escore total da
LCADL, obtida antes e após as sessões de treino (p= 0,46 e p= 0,75
respectivamente) (Tabela 2). Porém, observou-se que o escore total no início foi de
31,6 e após o treinamento foi de 27,8 evidenciando uma redução de 3,8 pontos. Já o
percentil do escore total que no início foi de 41,5 após o treinamento reduziu para
39,6 mostrando uma redução de 1,9 pontos. Frente às alterações expostas sugerese uma redução da dispnéia após oito semanas de treinamento.
Tabela 2: Correlação entre os escores da London Chest Activity of Daily Living Scale
antes e após intervenção fisioterapêutica.
Antes
Após
%
p
Total
%
P
Média
31,6
41,5
0,4631
27,8
39,6
0,753
DP
12,5
17,4
9,9
15,5
Mediana
31,6
42,0
26,5
41,6
IC 95%
18,4 a
17,4 a
23,3063
23,2 a
44,8
38,2
a
59,8
55,9337
LI
18,4
23,2
17,4
23,3
LS
44,8
59,8
38,2
55,9
DP: Desvio Padrão; IC 95%: Intervalo de confiança; LS: Limite Superior; LI: Limite Inferior; p:
significância de 5%.
A correlação entre o número de sessões realizadas e o escore total da
LCADL obtido ao final do treinamento Tabela 3 foi significativa estatisticamente (p=
0,05) entre o número de sessões e o escore total da LCADL. Inferindo que quanto
maior o número de sessões realizadas, menor a dispnéia apresentada durante a
realização de AVD’s.
Tabela 3 - Correlação entre o número de sessões realizadas e o escore total da
LCADL obtido no final do programa de treinamento
Número de sessões e LCADL
Total Final
(rs) =
-0.7945
t=
-2.6163
(p) =
0.0590
Número de pares =
46
rs: Coeficiente de Spearman; t: teste t; (p): nível de significância de 5%
Os valores da FC obtidos durante a realização do teste de carga submáxima de MMII em cicloergômetro antes e após intervenção fisioterapêutica,
(Tabela 4) mostram uma diferença estatisticamente significativa (p= 0,03). A média
foi de 99,9 batimentos por minutos (Bpm) no período de pré-avaliação e 91,9 Bpm
após o treinamento ocorrendo, uma redução de 8 Bpm, o que sugere uma melhor
eficiência cardíaca.
Na tabela 4, pode ser observado um aumento significante (p= 0,03) na SpO2
cuja média inicial foi de 90,56 e a final de 93,04 o que comprova um aumento de
2,48. Este discreto aumento da SpO2 infere melhor transporte de O2 aos tecidos
após o programa de treinamento realizado.
Tabela 4 - Correlação da FC obtida no teste em cicloergômetro antes e após
intervenção fisioterapêutica
FC
SpO2
Pré
Pós
p
t
Pré
Pós
p
t
0,036
Média
99,9000
91,9565
1,8453 90,5652 93,0476 0,0360 1,8451
1
Variância 169,7789 230,9526
12,0476 28,4387
IC 95%
(Dif. entre
médias
-0,8445 a
16,7315
-0,2840 a
5,2488
t: teste t; (p): nível de significância de 5%; IC 95%: Intervalo de confiança.
4. Discussão
A DPOC normalmente é diagnosticada entre a quinta e sexta década de
vida. Sua incidência é maior em homens que em mulheres e aumenta com a idade2.
No entanto, o presente estudo verificou-se maior participação das mulheres aos
programas de treinamento, trinta e oito mulheres (82,60%) e oito homens (17,39%),
a falta de adesão do sexo masculino pode ser atribuída a uma característica típica
da região estudada. A falta de adesão dos homens aos programas de tratamento
pode constituir importante agravante para os altos custos e impacto socioeconômico
das doenças crônicas.
O treino de exercício foi proposto como o método mais eficaz para
dessensibilização da dispnéia. Para tal efeito, o doente deve ser exposto a níveis de
dispnéia superior ao habitual, em ambiente seguro. Consequentemente ocorre uma
melhora na eficácia em lidar com o sintoma e o aumento do limiar de percepção da
mesma16,17. Este estudo buscou verificar tais efeitos por meio da avaliação da
dispnéia apresentada por pacientes com DPOC durante a realização de AVD’s
através da LCADL.
A LCADL é sensível às mudanças clínicas obtidas após um programa de
reabilitação pulmonar, o que favorece a demonstração da correlação entre a
qualidade de vida e a capacidade de exercício9,8. Embora a comparação entre o
escore total e percentil do escore total da LCADL, obtido antes e após as sessões de
treinamento apresentados no presente estudo, não demonstrou correlação
estatisticamente significativa. Pode-se observar uma redução de 3,8 pontos no
escore total e 1,9 pontos no percentil do escore total (Tabela 2), sugerindo uma
redução da dispnéia durante a realização de AVD’s em pacientes com DPOC, após
dezesseis sessões de treinamento. Fato que corrobora com um estudo realizado em
20028. O qual constatou uma melhora significativa na dispnéia durante as atividades
de vida diária após um programa de reabilitação pulmonar de seis semanas através
da redução da contagem total da escala de 5,91 (IC 95% de -9,23 a -2,60).
Estudos demonstram uma melhora significativa da sensação de dispnéia em
pacientes com DPOC, obtida através de programas que envolvem o treinamento de
membros inferiores10,17,11,4. A maioria dos estudos que avaliam a dispnéia após um
programa de reabilitação pulmonar o faz por meio de domínios de questionários de
qualidade de vida ou através de escalas desenvolvidas para avaliar a dispnéia
durante o exercício. Na literatura nacional, é escasso o número de trabalhos que o
fazem por meio de instrumentos específicos para avaliar tal sintoma durante a
realização de AVD’s6,9,7. O presente estudo possui a vantagem de utilizar uma
escala específica para realização de AVD’s em pacientes com DPOC moderado e
grave, fator que possivelmente tenha contribuído para tal resultado uma vez que, ao
avaliar a dispnéia durante o teste de capacidade submáxima, o resultado poderá ser
influenciado pela melhora do condicionamento.
O treino de exercício baseia-se nos princípios gerais de fisiologia de
exercício e assim como nos indivíduos saudáveis, os benefícios do treino de
exercícios em pacientes com doença respiratória crônica mantém seus efeitos
enquanto há treinamento e declina com o tempo17,16. Devido a tais fatores sugere-se
que o número de faltas dos pacientes no atual estudo, contribuiu para que o efeito
de reversibilidade ao treinamento ocorresse de forma gradual. Uma vez que
conforme apresentado na tabela 3, houve uma correlação estatisticamente
significativa (p = 0,05) entre o número de sessões realizadas e o escore total da
escala, obtida após um programa de dezesseis sessões de treinamento. Podendo
inferir que quanto maior o número de sessões realizadas, menor a dispnéia
apresentada durante a realização de AVD’s por pacientes com doença pulmonar
obstrutiva crônica. O treino de exercício baseia-se nos princípios gerais da fisiologia
do exercício e assim como nos indivíduos saudáveis, os benefícios no treinamento
dependem da especificidade, intensidade, frequência e duração de cada exercício e
o efeito de reversibilidade16. A correlação significativa entre o número de sessões
realizadas e o escore total da escala obtida após o programa de treinamento
proposto infere que quanto maior o número de sessões realizadas menor a dispnéia
apresentada durante as AVD’s uma vez que, quanto maior o número de sessões e
mais intenso o exercício, melhores e mais intenso o exercício, melhores os
resultados e estes são perdidos após a cessação do exercício17.
Durante muitos anos estudos afirmaram que o efeito do treinamento
aeróbico não era alcançado por pacientes com DPOC. Tais estudos sustentaram
esta afirmação através do argumento de que os pacientes com DPOC grave não
conseguiam atingir a intensidade ideal de treinamento capaz de promover
adaptações. Estudos posteriores verificaram uma acidose precoce durante os
exercícios em pacientes com DPOC e melhora significativa como redução de FC, da
ventilação, dos níveis de lactato e aumento de enzimas oxidativas comprovando
melhora do metabolismo aeróbico17,18. Os sujeitos deste estudo apresentaram uma
significativa melhora das variáveis fisiológicas FC e SpO2, sugerindo possíveis
adaptações cardiovasculares em decorrência da melhora da capacidade física
evidenciada no teste de carga submáxima realizado em cicloergômetro. Porém,
exames mais elaborados para comprovação de tais respostas ao treinamento não
estavam disponíveis.
Embora a reabilitação pulmonar não proporcione melhora na função
pulmonar, o treinamento físico constitui um importante componente da reabilitação
por melhorar a capacidade de exercício e reduzir a dispnéia. O exercício é o
estímulo fisiológico perturbador da homeostasia mais estudado que visa melhora da
capacidade aeróbica, da força, da flexibilidade e coordenação motora16.
Durante muitos anos estudos afirmaram que o efeito do treinamento
aeróbico não era alcançado por pacientes com DPOC. Tais estudos sustentavam
esta informação através do argumento de que os pacientes com DPOC grave não
conseguiam atingir a intensidade ideal de treinamento capaz de promover
adaptações. Estudos posteriores verificaram que o treino em indivíduos com DPOC
desencadeava metabolismo anaeróbio e início precoce da acidose lática. Portanto, a
intensidade do treinamento pode ser baseada na limitação dos sintomas, com o
passar do treinamento ocorre significativa redução da FC, da ventilação, dos níveis
de lactato e aumento de enzimas oxidativas comprovando melhora do metabolismo
aeróbico17,18,16. Os sujeitos deste estudo apresentaram uma significativa melhora da
capacidade física evidenciada no teste de carga submáxima realizado em
cicloergômetro. Porém, exames mais elaborados para comprovação de tais
respostas ao treinamento não estavam disponíveis.
Durante o exercício submáximo, o maior condicionamento resulta em uma
frequência cardíaca menor em uma determinada taxa de trabalho. Essa diminuição
da FC indica uma maior eficiência cardíaca obtida pelas adaptações ao treinamento,
supondo que o coração treinado, realize um trabalho menor por aumentar sua força
de contração levando a um maior volume de ejeção, consequentemente, a FC
diminui para aumentar o tempo de enchimento ventricular. Assim, o débito cardíaco
é mantido através do aumento do volume de ejeção e não pela FC19. A diminuição
da FC apresentada pelos sujeitos desta amostra, conforme pode ser observado na
Tabela 4, sugere uma melhora do condicionamento físico dos pacientes com DPOC
moderado e severo após um programa de oito semanas de treinamento.
Os resultados da presente amostra contradizem com um estudo, composto
por uma amostra de 10 pacientes de ambos os sexos, submetidos a oito semanas
de treinamento muscular respiratório, exercícios em cicloergômetro e exercício para
MMSS no qual não foram observadas diferenças significativas nas variáveis
fisiológicas FC e SpO212.
Um dos objetivos dos programas de reabilitação é reduzir a dispnéia, isto se
dá por meio do treinamento físico aeróbico que incrementa o transporte de O2 para a
periferia e melhora sua captação muscular6. Os valores da SpO2 obtidos através do
teste submáximo de MMII antes e após intervenção fisioterapêutica, evidenciam um
aumento estatisticamente significante na SpO2 após o programa de treinamento
realizado neste estudo (p= 0,03), inferindo melhora na eficiência do transporte de O2
promovido pelo treinamento.
5. Considerações Finais
Com o treinamento ocorre um aumento do volume plasmático e um discreto
aumento do volume de eritrócito. No entanto, o volume plasmático supera o volume
de eritrócito e por esta razão o hematócrito diminui. Com isso, ocorre a redução da
viscosidade sanguínea e o aumento da liberação de oxigênio aos tecidos. Tanto a
quantidade total de hemoglobina como o total de eritrócito encontra-se
discretamente acima dos valores normais após o treinamento, garantindo uma maior
capacidade de transporte de oxigênio19. Imputa-se, que o discreto aumento da SpO2
obtido após o programa de treinamento desenvolvido no presente estudo se deva a
tais adaptações.
Diante do exposto pode-se afirmar que embora não houve uma correlação
estatisticamente significativa entre os escores total e percentil do escore total da
LCADL, houve uma considerável (3,8 pontos) redução da pontuação total, inferindo
uma melhora da percepção da dispnéia no grupo estudado.
Quanto maior o número de sessões realizadas, menor a dispnéia
apresentada durante a realização das AVD’s.
Houve melhora da capacidade física dos indivíduos da presente amostra,
observada através da redução da freqüência cardíaca e aumento da saturação
periférica de oxigênio (SpO2) verificados através da realização do teste de carga
submáxima de membros inferiores.
Sugere-se a realização de mais estudos que utilizem a LCADL em uma
população maior. Visto que, esta é a única escala específica validada no país com a
finalidade de avaliar as limitações apresentadas pelos pacientes com DPOC de
graus moderado e grave. Pois até então, tais limitações eram mensuradas de forma
menos objetiva e específica através de domínios de questionários de qualidade de
vida ou escalas desenvolvidas para mensurar a dispnéia somente aos esforços.
Sugere-se a realização de mais estudos que utilizem a LCADL como forma de
melhor quantificar a limitação funcional de pacientes com DPOC. Visto que, esta é a
única escala específica validada no país com a finalidade de avaliar as limitações
apresentadas pelos pacientes com DPOC de graus moderado e grave. Pois até
então, tais limitações eram mensuradas de forma menos objetiva e específica
através de domínios de questionários de qualidade de vida ou escalas
desenvolvidas para mensurar a dispnéia durante os exercícios e os resultados
podem ser influenciados pela melhora do condicionamento.
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OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA
ÚLCERA POR PRESSÃO
Aparecida Garcia1
Cintia Mendonça de Paiva1
Juliana Ribeiro Borges1
Vandiara Pertusatti2
Resumo
A úlcera por pressão é definida como qualquer lesão causada por uma pressão não
aliviada, cisalhamento ou fricção que podem resultar em morte tecidual, sendo
frequentemente localizada na região das proeminências ósseas. Geralmente
ocorrem em detrimento a longo período de internação hospitalar e à predisposição
multifatorial, onde vários fatores de risco expõem os pacientes com déficit de
mobilidade ou sensibilidade a seu desenvolvimento ou agravamento. A proposta de
prevenção é mais viável para a instituição que o tratamento, visto que oferece
menos custos e menos riscos ao paciente. Porém, para execução desse processo é
necessário uma equipe multidisciplinar, exigindo uma abordagem abrangente que
inclui a prevenção, o alívio da pressão, a restauração da circulação, o controle da
ferida e a minimização dos transtornos correlatos. Algumas Pesquisas mostram que
os enfermeiros são mais preparados para desenvolver estratégias de prevenção e
tratamento da úlcera por pressão. O objetivo desse estudo consiste em buscar na
literatura, conhecimento, tecnologias e experiências acerca da temática,
possibilitando informações embasadas a respeito da prevenção, tratamento e
cuidados para úlceras por pressão.
Palavras-chave: Enfermeiro. Úlcera de pressão. Prevenção. Tratamento.
1. Introdução
A úlcera por pressão (UP) é definida como qualquer lesão causada por uma
pressão não aliviada, cisalhamento ou fricção que podem resultar em morte tecidual,
sendo freqüentemente localizada na região das proeminências ósseas (CARDOSO,
2004).
De acordo com Medeiros et al. (2004), as UP são causadas por fatores
intrínsecos e extrínsecos ao paciente, além de ocasionar dano tissular, pode
provocar inúmeras complicações e agravar o estado clínico de pessoas com
restrição na mobilização do corpo.
1
2
Acadêmicas do 6º período de Enfermagem do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER.
Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio – IESRIVER.
Para Costa et al. (2005), as UP se desenvolvem na metade inferior do corpo,
sendo dois terços na região do quadril e nádegas e um terço nos membros
inferiores.
O diagnóstico é feito por meio de métodos visuais que também classificam as
úlceras em estágios, importantes na elaboração de estratégias terapêuticas
(BLANES et al. 2004 apud SHEA e FRISOLI).
Observa-se que a prevenção da UP é mais importante que as propostas de
tratamento, visto que o risco e o custo para o paciente é praticamente inexistente.
Porém, este processo deve envolver uma equipe multidisciplinar integrada para a
obtenção dos melhores resultados. O conhecimento e entendimento da definição,
causas e fatores de risco por parte dos profissionais da saúde se faz necessário, a
fim de se implantar medidas de prevenção e tratamento mais eficazes.
Para Rangel et al. (1999), a natureza multifatorial do problema requer um
esforço de todos os membros da equipe multidisciplinar para a prevenção e
tratamento, no entanto, cabe à equipe de enfermagem a maior parcela do cuidado.
O profissional de enfermagem é responsável pelo cuidado direto e pelo
gerenciamento da assistência e precisa estar preparado para isto. Assim, é
imprescindível que na sua formação adquira conhecimentos para o cuidado. Já
Harmer e Henderson (1922) em seu clássico livro "Princípios e Práticas de
Enfermagem", logo no início deste século afirmavam:
A prevenção de úlceras de decúbito é de total responsabilidade da
enfermeira assim, logo no início do seu treinamento, muito antes de lhe ser
designado o cuidado de um paciente, ela deve aprender como cuidar do
paciente para evitá-la (Harmer e Henderson, 1922 apud COOPER, 1987).
Para Selbach (2009), a enfermagem é a arte de cuidar e também uma ciência
cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, individualmente, na
família ou em comunidade de modo integral e holístico, desenvolvendo de forma
autônoma ou em equipe atividades de promoção, proteção, prevenção e
recuperação da saúde.
E segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), 240/2000 em seu
capítulo 1, artigo V “A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do
ser humano e da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e
reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais”. Ainda, nesta
mesma lei, podemos observar no capítulo 6 que: “O profissional de enfermagem
exerce a profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais da enfermagem”.
A autonomia é definida como a habilidade que o profissional possui em
desenvolver suas responsabilidades práticas regularizadas na profissão, mantendo a
integridade ética, legal e profissional (DELAIR apud WIENS, 2005).
Portanto, o progresso na prevenção e tratamento da úlcera de pressão
consiste na qualidade da assistência prestada ao paciente. E, uma vez que é o
profissional de enfermagem que está em contato direto com o paciente, cabe a ele
prestar uma assistência profissional, qualificada e humanizada, contendo todos os
elementos de compromisso, envolvimento, sensibilidade e solidariedade, para que o
cuidado não se aplique somente à doença, e sim em cuidar do doente, da pessoa
que, circunstancialmente está sofrendo.
O objetivo desse estudo consiste em buscar na literatura, referências
bibliográficas, concernentes ao conhecimento, novas tecnologias e experiências
acerca da temática, possibilitando informações atualizadas embasadas a respeito da
prevenção e tratamento das UP.
2. Metodologia
Para tal, a revisão da literatura foi baseada em livros, dissertações,
monografias e artigos científicos, publicados no período de 1987 até 2009.
3. Fundamentação Teórica
As UP, são definidas como lesões de pele ou parte moles, superficiais ou
profundas de etiologia isquêmica, originadas pelo colapso local da microcirculação e
do sistema linfático, secundária a um aumento de pressão externa, usualmente
presente sobre uma proeminência óssea (CARVALHO FILHO, PAPALÉO NETTO,
2005).
Para Jorge (2005), a UP é definida como uma área localizada de morte
celular, que se desenvolve quando um tecido mole é comprimido entre uma
proeminência óssea e uma superfície dura. Vários são os termos utilizados
inadequadamente para as UP, tais como úlcera de decúbito, úlceras isquêmicas,
onde ambas significam deitar-se e escaras que é definida como tecido desvitalizado
que recobre a úlcera (Costa, 2005). No entanto, a terminologia úlcera de pressão
vem sendo consagrada internacionalmente à medida que a pressão é o fator
etiológico mais importante na gênese dessas lesões (JORGE, 2005).
As úlceras geralmente ocorrem no período de hospitalização, onde vários
fatores de risco expõem os pacientes com déficit de mobilidade ou sensibilidade a
desenvolverem úlceras de pressão ou a terem este problema agravado. Os grupos
de maior risco são os idosos com diabetes, acidente vascular cerebral e problemas
ortopédicos, os pacientes com lesão medular e aqueles com longa permanência em
unidades de terapia intensiva (LIMA et al., apud VERSLUYSEN, 1986; STOTTS &
STEVEN, 1988; BRANDEIS et al., 1990).
Existem quatro fatores extrínsecos que podem levar ao aparecimento destas
lesões: a pressão, o cisalhamento, a fricção e a umidade.
a) Pressão
A pressão capilarnormal é de 32 mmHg, assim quando há uma pressão sobre
as proeminências ósseas em indivíduos acamados e/ou sentados, que excede
esse limite, o paciente desenvolve uma isquemia no local, sendo que o primeiro
sinal é o eritema devido à hiperemia reativa, pois aparece um rubor vermelho vivo à
medida que o corpo tenta suprir o tecido carente de oxigênio (DELISA; GANS,
2002; SMELTZER; BARE, 2005).
Segundo Delisa e Gans (2002, p. 1116), “os tecidos podem tolerar pressões
cíclicas muito mais altas que pressões constantes. Se a pressão for aliviada
intermitentemente a cada 3 a 5 minutos, pressões mais altas podem ser toleradas”.
b) Cisalhamento
O cisalhamento acontece quando a pele permanece estacionária e o tecido
subjacente se desloca, ou seja, é uma pressão exercida quando o paciente é movido
ou reposicionado na cama e/ou cadeira. Esses pacientes são recolocados na
posição iniciais repetidas vezes e nesse movimento a pele permanece aderida ao
lençol enquanto que o restante do corpo é empurrado para cima. Devido a essa
tração há a torção dos vasos sanguíneos e a interrupção da micro-circulação da pele
do tecido subcutâneo. (DELISA, GANS, 2002; SMELTZER; BARE, 2005).
c) Fricção
A fricção ocorre quando a pele se move contra uma superfície de apoio. É a
força de duas superfícies movendo-se uma sobre a outra. A fricção pode causar
danos ao tecido quando o paciente é arrastado na cama, em vez de ser levantado.
Isso faz com que a camada superficial de células epiteliais seja retirada. A fricção
está sempre presente quando o cisalhamento acontece (DELISA; GANS, 2002;
CARVALHO FILHO; PAPALÉO NETTO, 2006).
d) Mobilidade
A mobilidade tem capacidade de mudar e controlar a posição do corpo. Está
relacionado ao nível de consciência e competência neurológica. É a capacidade do
paciente de aliviar a pressão através do movimento e contribuir para seu bem estar
físico e psíquico. As principais condições que contribuem para a imobilidade são: o
acidente vascular cerebral, artrite, esclerose múltipla, lesão medular, traumatismo
craniano, sedação excessiva, depressão, fraqueza e confusão (DELISA; GANS,
2002; JORGE; DANTAS, 2003; MORTON et al., 2007).
e) Nutrição
Dois estudos prospectivos mostraram evidências de uma má dieta como fator
causador na formação de úlceras por pressão (Delisa; Gans, 2002). Os pacientes
que emagreceram na têm coxim de tecido adiposo sobre as saliências ósseas e,
portanto, tem uma proteção menor contra a pressão. Por outro lado, os pacientes
muito obesos são difíceis de deslocar, podendo ser arrastados, em vez de
levantados na cama, o que precipita a lesão do tecido.
Os dois tipos de pacientes apresentam um estado nutricional inadequado
(Carvalho Filho; Palaléo Netto, 2006). A massa magra é uma boa medida de
nutrição adequada; o peso ou a massa total não. São recomendadas dietas
calóricas, ricas em proteínas e carboidratos, para promover um balanço positivo de
nitrogênio e suprir as necessidades metabólicas e nutricionais cruciais para a
prevenção das lesões (DELISA; GANS, 2002).
3.1 Estágios de ocorrências de UP
Para Potter e Perry (2004), os estágios das úlceras por pressão são
classificadas em:
•
Estágio I: decorrente de alterações da epiderme e derme intactas que se
encontram lesadas, mas não destruídas. Ocorre um eritema, dor, calor, rubor
e ausência de infecção.
•
Estágio II: ocorre quando a epiderme e a derme são rompidas, apresentamse hiperemiada, dolorosa, pois as terminações nervosas estão expostas, com
bolhas ou cratera rasa, presenças de infecção.
•
Estágio III: corresponde à perda total da espessura da pele, atinge o tecido
subcutâneo, ocorrem pontos de necrose, pode apresentar exudato, porém a
lesão, não se estende até a fáscia muscular.
•
Estágio IV: surge uma extensa destruição da pele; comprometendo músculos
e ossos e estruturas de suporte como tendão e cápsulas das juntas (COSTA
et al., 2007).
4. A importância dos Cuidados de Enfermagem
Para Lima et al., apud Declair (2003), as pesquisas mostram que os
enfermeiros são mais preparados para desenvolver estratégias de prevenção e
tratamento da úlcera de pressão. Cuidar da vida é a essência da ciência da
Enfermagem e, ao mesmo tempo, a essência do ser humano, por isso além de ser
uma atividade eminentemente humana transmitida através da cultura e educação,
também é uma profissão (SEGURO et al.).
Para Potter e Perry (2004), o cuidar é a força motivadora para que as
pessoas se tornem enfermeiras e que se transforma em fonte de satisfação, quando
elas sabem que fazem a diferença na vida de seus clientes.
Diante destas considerações acreditamos que o paciente só receberá uma
assistência eficaz se for acompanhado por uma equipe multidisciplinar, porém, o
papel de maior destaque com certeza será do profissional enfermeiro, que deverá
coordenar a equipe zelando pela comunicação entre os diversos profissionais
envolvidos (LIMA et al.).
Segundo Rabeh (2002), os cuidados de maior complexidade de técnica e que
exijam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões
imediatas, assim como o desenvolvimento de protocolos de cuidados, a
coordenação e a avaliação da assistência prestada cabe ao enfermeiro.
Portanto, após avaliação das necessidades individuais de conforto, estado
geral do paciente, condição da pele, o enfermeiro precisa conhecer as medidas
individuais de prevenção da UP, previamente adotadas pelos pacientes e cuidadores
para implementar um plano de cuidados.
4.1 Prevenção
A maioria das úlceras por pressão são preveníveis através de cuidados
adequados ao indivíduo, orientação e educação do mesmo e das disponibilidades de
recursos necessários (COSTA E COSTA, 2007).
Para Irion (2005), algumas abordagens devem ser realizadas para prevenir a
úlcera de pressão, como:
a) Mudança de decúbito: Mudança de decúbito do paciente acamados ou
debilitados de 2/2hs, e sempre evitar deixar o paciente em atrito com a área lesada.
Para as mudanças de decúbito devem ser considerados os déficits neurológicos,
lesões musculoesqueléticas ou áreas particulares da pele com risco elevado de
formação de úlceras.
b) Cuidados com os pontos de apoio: Para evitar lesão causada pelo contato das
proeminências ósseas umas com as outras, deve-se usar travesseiros, cunha de
espuma ou outros dispositivos para manter os joelhos e os tornozelos separados.
Qualquer pessoa com mobilidade comprometida que esteja restrita ao leito deve ter
um dispositivo que alivie totalmente a pressão sobre os calcanhares fora do leito.
Isto pode ser feito simplesmente colocando-se travesseiros sob as pernas ou pode
incluir dispositivos mais complexos.
c) Colchonetes especiais: Colchonetes especiais contendo ar, espuma, gel ou
água.
d) Massagem de conforto: Massagem de conforto com ácido graxo essencial, pode
trazer um alívio da dor, e auxiliar na circulação sanguínea, evitando o aparecimento
das úlceras de pressão. Segundo Campedelli (1987), a massagem é um
procedimento básico utilizado na enfermagem e se caracteriza pela manipulação
manual e sistemática dos tecidos corporais, transmitindo ao paciente uma sensação
física agradável.
Com a utilização da massagem é possível uma melhor nutrição dos tecidos, além de
uma oxigenação mais aprimorada.
e) Nutrição: O estado nutricional é de extrema importância para os pacientes
acamados, pois a dificuldade de se alimentar pela boca, ocasiona uma perda de
peso involuntária, imobilidade, estado mental alterado e déficit cognitivo. As
diretrizes recomendam encorajar a ingestão dietética e a suplementação da dieta, se
o indivíduo estiver desnutrido, recomenda-se auxílio nutricional através de sonda ou
outros meios necessários.
f) Apoio psicológico: Os aspectos psicossociais necessitam muito do auxílio dos
cuidadores, pois inclui no fato de que o paciente precisa compreender o plano de
tratamento e estar motivado para aderir a ele, precisa compreender valores, e
adaptar a um estilo de vida adequado. Estes recursos não são apenas financeiros,
mas também incluem a capacidade de entender e acompanhar o plano de
tratamento.
Todos estes parâmetros auxiliam na prevenção da úlcera de pressão, mas
para cada paciente deve se criar um plano de mudança de decúbito. O plano deve
ser individual, pois depende da imobilidade de cada paciente.
Segundo O`Sullivan e Schmitz (2004), o paciente será virado a cada duas
horas pela equipe de enfermagem, 24 horas por dia. A condição da pele deve ser
monitorada continuamente. Se ocorrer de uma área ficar avermelhada, a posição do
paciente precisará ser alterada imediatamente para aliviar a pressão.
A higiene corporal deve ser realizada evitando o uso de sabão comum,
soluções irritantes e água quente para evitar ressecamento. Deve-se usar sabão
neutro ou sabonete líquido específico. A pele deve ser limpa e removido todos os
resíduos de soluções e completamente seca (DUARTE; DIOGO, 2000; DECLAIR,
2002).
A cama deve ser limpa e seca, com roupas de tecido não irritantes, lisos, não
engomados e sempre esticados evitando dobras. Coberturas plásticas ou protetores
de cama não devem ter seu uso aceito, protegem a cama, porém podem causar
sudorese, levando a maceração da pele do paciente (Campedelli; Gaidzinski, 1987;
Duarte; Diogo, 2000; Declair, 2002). Nada deve ser esquecido sob o corpo do
paciente, para evitar dano tecidual (KNOBEL, 2006).
As úlceras por pressão podem se desenvolver em 24 horas ou levar até 5
dias para sua manifestação. Todos os profissionais da área de saúde, responsáveis
pelo acompanhamento do paciente devem estar familiarizados com os principais
fatores de risco. Neste sentido, a observação das medidas profiláticas para eliminar
forças de pressão contínua, cisalhamento ou fricção é de vital importância para
evitar a formação de úlceras (COSTA et al., 2005 apud KRASNER).
Outros cuidados preventivos são os exercícios ativos e passivos, que são
essenciais, pois aumentam o tônus muscular da pele, ativam a circulação,
aumentam a demanda de oxigênio, reduzem a isquemia tissular e a elevação dos
membros inferiores, promovem o retorno venoso, diminui a congestão e melhora a
perfusão tissular. Além disso, a equipe e os familiares devem estar atentos à
presença de pregas no lençol, pressão causadas pelos tubos de soro e de sonda,
que podem contribuir para o aumento da pressão e consequentemente reduzir a
circulação (SMELTZER; BARE, 2005).
4.2 Tratamento
No entanto, apesar das medidas preventivas, a UP pode se instalar (Knobel,
2006). Segundo Costa et al. (2007), quando todos os recursos relacionados a
prevenção não são mais possíveis, serão implementados procedimentos sempre
direcionados à necessidade individual de capa paciente.
O tratamento das úlceras de pressão divide-se em sistêmico e local, no
entanto, sabe-se que este pode ser subdividido em conservador e cirúrgico.
Qualquer que seja o tipo de tratamento utilizado, é mandatório que as medidas de
alívio de pressão e profilaxia continuem sendo utilizadas (COSTA et al., 2005 apud
McCARTHY, 1990).
De acordo com Matos e Melo (2009), várias são as formas de tratamento das
UPs, dentre elas encontramos: o desbridamento, a limpeza da ferida, o uso de
papaína a 2%, revestimentos semi-oclusivos e tratamento cirúrgico.
Estudos
relatam
que
se
surgir
infecção
ou
o
paciente
estiver
imunocomprometido, pode ser necessário o desbridamento, técnica esta que
consiste na retirada de tecido necrosado, por meio de enzimas, mecanicamente, por
autólise ou por uma associação desses métodos. O desbridamento enzimático
degrada o tecido necrótico sem afetar o tecido viável. As três técnicas de
desbridamento mecânico incluem aplicação de curativo úmido a seco, imersão com
turbilhonamento da água ou remoção do tecido necrótico por cirurgia.
O
desbridamento por autólise permite ao corpo degradar o tecido necrótico mediante o
uso de enzimas e mecanismos de defesa do corpo (LIMA et al., apud HESS, 2002).
Para Knobel (2006), assegurar a limpeza da lesão de forma sistematizada é
fundamental para a sua cicatrização. A limpeza da ferida deve ser feita utilizando-se
métodos que consistem na aplicação de líquidos anti-sépticos procurando minimizar
o risco de trauma mecânico ou irritação da lesão (CARVALHO et al., 2003).
Estudos prévios mostram que a limpeza das úlceras de pressão com água e
sabão ou algum outro meio surfactante é maneira simples e efetiva de se limpar
lesões superficiais, desde que seja feita com freqüência e de preferência seja
mantida seca. A pele ao redor da úlcera pode também ser protegida com adesivos
espessos a fim de prevenir a maceração da pele (COSTA et al., 2005 apud
POWNEL, 1995).
A papaína a 2% tem papel importante na reparação tecidual de lesões
cutâneas uma vez que se observou melhora na fase de granulação da ferida com
aumento local do número de fibroblastos e consequente melhora na produção e na
deposição de fibras de colágenos. A ação desta substância tem papel importante
nas primeiras fases de remodelagem das lesões, garantindo melhor cicatrização
(MATOS MELO, 2009 apud SANCHEZ, 2003).
Para Costa (2005), de um modo geral, a qualidade da pele regenerada por
tratamento conservador é fina, sem glândulas sebáceas ou sudoríparas. O epitélio é
geralmente seco e fino com suprimento sanguíneo pobre e deve ser lubrificado
constantemente com vaselina e hidratantes. É necessário salientar que o objetivo do
tratamento de feridas é a promoção de ambiente que favoreça o processo de sua
cicatrização, proteção e limitação/redução de edema.
É importante a escolha de um curativo que mantenha a pele ao redor da
ferida intacta e seca e que controle a drenagem do exsudato não desidratando o
leito da ferida. Atenção também à eliminação do espaço morto da ferida por
preenchimento de toda cavidade com material de curativo (KNOBEL, 2006).
Alguns autores defendem que certas úlceras de pressão (graus I e II) podem
ter cicatrização espontânea sem intervenção cirúrgica, desde que à ferida seja limpa
meticulosamente e que seja evitada pressão na área em questão (Costa et al., 2005
apud Pownel, 1995). A limpeza deve ser realizada com o mínimo de trauma
mecânico e químico e envolve desde a seleção da solução ao método a ser aplicado
(KNOBEL, 2006).
Se a úlcera não é muito grande, ela irá se preencher a partir do fundo e o
crescimento epidérmico a partir dos lados irá fechar a ferida. Entretanto, esta
cobertura por tecido cicatricial é insatisfatória devido à vulnerabilidade associada a
mínimos traumas ou atividades diárias (COSTA et al., 2005).
Neste sentido, Knobel (2006), afirma que utilizar a menor força mecânica
possível na aplicação de gazes, tecidos e esponjas. Aplicar a irrigação com pressão
suficiente para a limpeza evitando traumas ao leito da lesão.
Geralmente as úlceras Graus III e IV necessitam de tratamento cirúrgico. As
mais utilizadas para o tratamento cirúrgico das úlceras Graus III e IV, são as altas
taxas de recorrência comumente associadas ao tratamento conservador, sendo mais
apropriado e menos mórbido para o paciente. Medidas conservadoras, consistindo
de desbridamento local, diminuição da pressão local e trocas diárias de curativo têm
pouca eficácia, uma vez que a úlcera crônica se desenvolve (COSTA, 2005).
As cirurgias podem ser necessárias para recompor áreas de ferida extensa,
através de retalhos miocutâneos e eliminando as proeminências ósseas causadoras
de compressão. Os retalhos cirúrgicos são de vários tipos, como os cutâneos
simples, os fáscio-cutâneos e os miocutâneos, com técnicas de rotação,
deslizamento, transposição e outros. A escolha está na dependência da extensão,
localização e profundidade da ferida, assim como da qualidade dos tecidos
circundantes à úlcera (VIEIRA E SOARES, 2009).
Os objetivos da cirurgia no paciente com úlceras de pressão se resumem em:
a) reparação do defeito reduzindo a perda protéica através da ferida; b) prevenir a
osteomielite progressiva e sépsis; c) evitar amiloidose progressiva secundária e
insuficiência renal; d) reduzir os custos de reabilitação; e) melhorar a aparência e
higiene do paciente; f) prevenir o possível aparecimento de Úlcera de Marjolin
(COSTA et al., 2005 apud POWNEL, 1995).
5. Considerações Finais
Embora a UP não ameace a vida em um primeiro momento, é um problema
que acarreta desconforto ao paciente, aumenta o seu período de internação, retarda
seu retorno ao convívio familiar, incorrendo em maior probabilidade de infecção
podendo levar à morte. Geralmente ocorrem em detrimento a longos períodos de
internação hospitalar e a predisposição multifatorial, onde vários fatores de risco
expõem os pacientes com déficit de mobilidade ou sensibilidade a seu
desenvolvimento ou agravamento.
Para Declair (2003), as pesquisas mostram que os enfermeiros são mais
preparados para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento da úlcera de
pressão. Neste sentido, cabe a enfermagem investir a melhor qualidade de
atendimento ao cliente, através de medidas adequadas de cuidado, educação e
capacitação. Pois é inerente do profissional de enfermagem uma ampla mentalidade
que perpassa a consciência de todos aqueles que se dispõe a realizar a ação de
cuidar.
Construindo novas perspectivas e alternativas que prime uma prática que
minimize a dor e o sofrimento humano, conduzindo o cuidado e tratamento das
doenças de maneira integral e humanitária, fundamentada em uma concepção
holística. Porém que requer atualizações constantes.
Assim, em detrimento ao sofrimento acarretado ao paciente, considerando os
fatores de riscos e as condições predisponentes para ocorrências da UP é
imprescindível a intervenção da enfermagem antes que se instale a lesão. Pois,
segundo Carvalho Filho e Papaléo Netto (2005), a prevenção é claramente o modo
mais fácil, mais barato e mais bem-sucedido de tratamento.
No entanto, segundo Rangel (1999) apud Kemp et al. (1994), a prevenção e o
tratamento da úlcera de pressão exigem mais do que a redistribuição mecânica do
peso corporal sendo necessário à identificação precoce dos fatores de risco, o
tratamento das patologias de base quando presentes, a restauração e manutenção
de uma nutrição adequada e a educação de pacientes e cuidadores formais e
informais para o auto cuidado. Contudo, segundo Lima et al. para que isso aconteça
é preciso conhecimento atualizado para aplicação prática da prevenção e tratamento
adequado, visando evitar o problema, poupando o paciente e sua família. Pois a
úlcera de pressão não só põe em perigo a vida do paciente, como também carrega
consigo a conotação de negligência e imperícia, afetando a carreira profissional do
enfermeiro e o nome da instituição de saúde.
Diante do exposto, concordamos com Goulart et al. sobre a importância da
informação e a atualização para os profissionais de enfermagem sobre úlcera por
pressão, sua prevenção e tratamento em pacientes acamados, pois somente assim
se consegue a excelência no cuidado.
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2009.
VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE DE RIO
VERDE - GOIÁS: A ATUAÇÃO DOS AGENTES DA REDE DE PROTEÇÃO
Helieny dos Santos Martins1
Resumo
O presente trabalho considera a necessidade de atenção às crianças e adolescentes
como obrigação de todos, e não só do Estado, e com o objetivo de demonstrar se,
na cidade de Rio Verde, os agentes da rede de proteção estão realmente
preparados e estruturados materialmente para uma atuação conjunta, colaborando
direta ou indiretamente no trabalho de prevenção e erradicação do abuso contra
elas. Apresenta os resultados de uma pesquisa de campo realizada pela autora,
durante os meses de março a junho de 2010, quando foram aplicados questionários
sobre a violência doméstica, buscando saber se é perceptível aos agentes da rede
de proteção quando uma criança e adolescente sofreu ou está sofrendo algum tipo
de violência no âmbito familiar. Foi possível demonstrar que os agentes da rede de
proteção já presenciaram casos e sabem quando uma criança ou um adolescente
estão passando por problemas desta natureza e o quanto é difícil a luta contra este
tipo de violência, principalmente por saberem que o melhor método é a prevenção
seguindo o Estatuto da Criança e Adolescente que resguarda todos direitos e
obrigações das crianças, familiares e da sociedade. Mesmo com inúmeras
campanhas de combate à violência, alguns agentes têm receio de por em prática o
que sabem e, de até mesmo, denunciarem algum ato de violência, por medo de
prejudicar mais ainda a vítima.
Palavras-chave: Violência. ECA. Rede de Proteção.
1. Introdução
A proteção da Criança e Adolescente é prioridade para qualquer sociedade
que pretende não só evitar problemas futuros como buscar um desenvolvimento
diante das transformações mundiais. É importante questionar como o Estado tem
tratado os responsáveis por esta proteção no sentido de tê-los como seus parceiros
nessa luta que deve ser incessante. Por exemplo, será que em cidades do interior
como Rio Verde, os agentes da rede de proteção têm recebido o devido apoio, e se
tiverem será que estão desenvolvendo adequadamente suas atribuições?
1
Artigo Científico realizado pela acadêmica do 10º período noturno do Curso de Direito apresentado
ao Instituto de Ensino Superior de Rio Verde, para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob
orientação do Prof. Ms. Cláudio de Castro Braz.
As questões serão respondidas ao longo do trabalho, com base na literatura
nacional consultada e na pesquisa de campo realizada em Rio Verde pela autora,
mostrando a realidade e a capacidade de percepção dos agentes da rede de
proteção de suspeitar ou identificar casos de violência doméstica contra crianças e
adolescentes.
O Estado brasileiro, que segue princípios internacionais, poderá não estar
totalmente adequado e preparado para exigir dos agentes da rede de proteção total
parceria, visto que falta o amparo material e até mesmo de esclarecimento o que
deve ser alcançado pelo conhecimento da legislação e da realidade social.
Entre as legislações brasileiras que tratam do tema criança e adolescente,
duas são primordiais e basilares, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e
do Adolescente, ambas devendo respeitar regras internacionais de proteção
propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) na década de 80, e que o
Estado brasileiro se comprometeu a respeitar.
A Constituição Federal é taxativa no artigo 227 ao atribuir à criança e ao
adolescente prioridade absoluta no atendimento aos seus direitos como cidadãos:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.
Regra confirmada no Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 4º:
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer,
à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.
O princípio que norteia a legislação brasileira sobre o tema é o estabelecido
pela ONU e identificado no preâmbulo da Convenção sobre os direitos da Criança
no qual se tem determinado que toda criança para um desenvolvimento pleno e
equilibrado deve ter direito a crescer em um ambiente familiar harmonioso e
saudável, para que possa se desenvolver independentemente na vida social,
devendo
ser
educada
com
dignidade,
tolerância,
liberdade,
igualdade
e
solidariedade (ONU-BRASIL, 2010). A citada convenção se fundamenta na
Declaração de Genebra em 1924, sobre os Direitos da Criança e na Declaração dos
Direitos da Criança adotados pela Assembléia de 20 de novembro de 1959,
reconhecendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração sobre os
Princípios Sociais e Jurídicos Relativos à Proteção e ao bem-estar das Crianças, e
as regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil
(Regras de Beijing).
Em relação especificamente aos agentes de proteção, o Estatuto da Criança
e do Adolescente traz no artigo 86 que
a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-à
através de um conjunto articulado de ações governamentais e nãogovernamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios.
2. Agentes na rede de proteção das crianças e adolescentes
Os responsáveis pela atenção às crianças e adolescentes seriam, além dos
órgãos do Estado, todos aqueles que direta ou indiretamente têm relação com eles.
De acordo com Braz (2010),
de modo amplo todos seriam responsáveis: publicitários, administradores de
empresa, enfermeiros, fisioterapeutas, professores, psicólogos, juízes,
promotores de justiça, religiosos, assistentes sociais, conselheiros tutelares,
delegados. Todos devem observar a Doutrina da Proteção Integral adotada
pelo Direito brasileiro e dirigida às crianças e adolescentes.
Cada um, ao cumprir o seu papel, estaria colaborando com a devida
proteção. Por exemplo, o Juiz, devendo aplicar a lei para a solução de conflitos
relacionados aos direitos das crianças e adolescentes, assumindo, quando for o
caso de ausência do conselho tutelar, suas atribuições; o Ministério Público
requisitando diligências investigatórias e determinando a instauração de inquérito
policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à
juventude, sempre zelando pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais; o
delegado investigando com o cuidado para que as crianças não sejam expostas
novamente às cenas de violência, o assistente social orientando, procurando
descobrir se a criança esta sofrendo algum tipo de maus tratos, e ainda, o Conselho
Tutelar atendendo às crianças, adolescentes e suas famílias, com seus direitos
ameaçados fazendo cumprir as medidas de proteção (BRAZ, 2010).
Outros, como a escola, devendo ser o meio de apoio e amparo às crianças
e adolescentes, pois é nela que elas passam parte do seu dia, assumindo também
a obrigação de realizar encontros constantes, debatendo o tema da violência
doméstica, fortalecendo, assim, o trabalho em equipe de educadores e pais. Os
religiosos, trabalhando em grupos de prevenção e conscientização, passando para
as famílias e à sociedade os tipos de cicatrizes que essas crianças e adolescentes
vítimas de tal barbaridade levarão para as suas vidas.
3. A pesquisa de campo sobre a atuação dos agentes em Rio Verde
Para demonstrar se os agentes que compõem esta rede de proteção estão
atuantes e se suas atuações estão articuladas no sentido de colaboração, buscou-se
em uma pesquisa de campo, que fundamenta este artigo, os seguintes agentes: juiz
de direito, promotora de justiça, delegado de polícia, gestora do Centro de
Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, assistente social, médico,
socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU, diretores de
escolas municipal, estadual, particular, e representantes do setor religioso.
Foi utilizado como instrumento o questionário com questões fechadas e
abertas, sendo as fechadas solicitando informações sobre: I- violência física; IIviolência sexual, III - violência psicológica; IV- negligência, onde a preocupação
primordial foi a de saber dos agentes da rede de proteção se eles têm a
sensibilidade de identificar os principais sinais e as marcas psicológicas em crianças
e adolescentes que sofrem esses maus tratos. Foram entregues em diversas
instituições para profissionais de diferentes áreas e apresentado a todos um Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, além das orientações para as respostas,
tendo sido recolhidos posteriormente pela autora, única pesquisadora que atuou no
trabalho. Como garantia aos participantes foi assumida obrigação de sigilo dos
nomes. Todos foram referidos conforme sua função, qualificação e forma de
atuação.
A pesquisa ocorreu entre março e junho de 2010. A abordagem se deu com
os principais agentes da rede de proteção de crianças e adolescentes da cidade de
Rio Verde, onde os entrevistados responderam os questionários a eles entregues,
com exceção do Conselho Tutelar. Neste órgão, não foi possível a realização da
pesquisa, apesar das tentativas da autora, pelo motivo de indisponibilidade dos seus
integrantes nas oito tentativas de contato pessoal e nas quinze por telefone.
4. Resultados e discussão
4.1 Juizado da infância e da juventude
O Juiz da Infância e da Juventude respondeu que nunca suspeitou ou
presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual, violência psicológica e
negligência doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho, e se
ocorresse, notificaria e encaminharia para a Delegacia da Infância e Juventude.
Acrescentou que, se suspeitasse ou presenciasse, conversaria com o próprio
agressor e que notificaria o Conselho Tutelar sobre a negligência doméstica.
Sobre os sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma
criança ou adolescente está sofrendo violência física são: hematomas, feridas e
queimaduras. Sobre a violência sexual, é notável a mudança de comportamento,
curiosidades
relacionadas
ao
sexo
com
certa
malícia,
manifestações
de
conhecimento de temas sexuais, observa-se que as crianças e adolescentes estão
com receio de alguém, pois cria repulsa sobre o agressor. Sinais de negligência
podem ser a desnutrição e a prática de furto de bens de consumo.
Na opinião do Juiz, as instituições que atendem as denúncias da violência
doméstica contra as crianças e adolescentes, na cidade de Rio Verde, às vezes
solucionam o problema. Se fosse convocado a depor na Justiça sobre um caso que
tenha conhecimento ou que atendeu, iria. No seu local de trabalho, atende crianças
e adolescentes na faixa etária de zero a dezoito anos.
4.2 Promotoria da infância e da juventude
A promotora respondeu que já teve alguma suspeita ou presenciou a
ocorrência de violência física, violência sexual, violência psicológica e a negligência,
todas de caráter doméstico contra crianças e adolescentes, não exatamente em seu
local de trabalho, mas em virtude dele,e que conversou com os pais da vítima e
outros responsáveis, notificou o Conselho Tutelar, a Delegacia de Polícia e o
CREAS e que acompanhou a situação da vítima.
Ao responder quais sinais poderiam indicar que crianças e adolescentes
estão sofrendo violência física, violência sexual, violência psicológica e a negligência
doméstica, notaria pelo comportamento agressivo ou muita timidez, manchas no
corpo, e a aparência de assustada ou medo. Acrescentou que a negligência é
notada pelas vestimentas, higiene, alimentação, rendimento escolar baixo.
Sobre a solução do problema pelas instituições responsáveis, em Rio Verde,
informou que, às vezes resolvem os problemas. Que ao denunciar uma suspeita ou
ocorrência de violência por alguma instituição foi atendida imediatamente. E se
precisasse depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que
atendeu, iria sem nenhum problema. A promotora atende crianças e adolescentes
em seu local de trabalho na faixa etária de zero a dezoito anos.
4.3 Delegacia de Proteção de Ato Infracional (DEPAI)
O delegado respondeu que presenciou violência física, violência sexual e
violência psicológica todas tipicamente domésticas, por mais de uma vez em seu
local de trabalho, que determinou instaurar procedimento investigativo e,
posteriormente, notificou o Ministério Público e que, em alguns casos procurou
resolver a situação da vítima no seu próprio local de trabalho e acredita ter cumprido
a sua função. Sobre negligência doméstica teve suspeita ou presenciou a ocorrência
contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho, logo após informou o
Conselho Tutelar, neste caso, ele acompanhou a situação da vítima.
Sobre sinais de violência, o que ele observa é o comportamento arredio,
agressividade, apatia e lesões físicas fora do contexto normal. E o que se nota em
crianças e adolescentes sobre os sinais de violência sexual doméstica é a
exacerbação da libido, ou seja, as crianças e adolescentes começam a demonstrar
prematuramente desejo sexual, outras características é a depressão, o silêncio,
apatia e agressividade. Ao falar em violência psicológica doméstica, os sinais são o
desejo de permanecer na escola, ou seja, não querem retornar para sua casa,
também apatia e agressividade. Sobre a negligência doméstica, disse que os sinais
são externos por isso é notado com mais facilidade, por exemplo: a roupa, asseio
pessoal, desnutrição e falta injustificada nas aulas.
Ao relatar sobre as instituições que atendem as denúncias da violência
contra crianças e adolescentes em Rio Verde, às vezes solucionam o problema.
Quando precisou denunciar a suspeita ou a ocorrência de violência para alguma
instituição, foi atendido de imediato. Ao responder sobre a necessidade de depor na
Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu, ele iria. Informou
que atende em seu local de trabalho crianças de zero ano a dezoito anos.
4.4 Centro de referência especializado de assistência social – CREAS
A Gestora CREAS informou que atendeu vários casos de violência física,
negligência e violência sexual de característica doméstica, contra crianças e
adolescentes no seu local de trabalho e, uma vez, um caso de violência psicológica
doméstica, que conversou com o chefe imediato, com os pais da vítima e notificou
os casos na Delegacia da Mulher, Conselho Tutelar e Promotoria Pública. Após,
procurou resolver a situação da vítima no seu próprio local de trabalho e acredita ter
cumprido a sua função. Disse que as evidências sobre a violência física que
poderiam indicar que crianças e adolescentes estão sofrendo seriam: hematomas,
agressividade e dificuldade de convívio social. Sobre a violência sexual os sintomas
são estereotipados por algum membro da família, hipersexualização de seus
comportamentos e isolamento. Ao falar em violência psicológica, observa-se a
apatia, isolamento e grande dificuldade de concentração. A negligência doméstica
vem acompanhada de aparência abatida, maltrapilho e isolamento.
Opinou que as instituições em Rio Verde, às vezes, solucionam o problema
quando há alguma denúncia sobre a violência doméstica contra crianças e
adolescentes. E quando denunciou uma suspeita ou ocorrência de violência para
alguma instituição, o retorno foi alcançado imediatamente. A Gestora disse que se
fosse preciso, ela iria sim depor na Justiça em um caso que tenha conhecimento ou
que atendeu. Atende crianças e adolescentes na faixa etária de zero a dezoito anos.
4.5 Assistente Social
A Assistente Social informou que já teve alguma suspeita ou presenciou a
ocorrência de violência física, violência sexual, violência psicológica e negligência
doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho mais de uma vez.
Tomou a iniciativa de conversar com o seu chefe imediato, com pais e parentes da
vítima, notificou o Conselho Tutelar, acompanhou a situação da vítima, procurou
resolver o problema no seu local de trabalho e acredita ter cumprido a sua função.
Identifica os sinais de violência física doméstica, pelas marcas de objeto
cortantes pelo corpo, queimaduras que indicam que foi outra pessoa que causou e
marcas de surras de cintos e chinelos. Sobre violência sexual, nota-se que as
crianças e adolescentes ficam retraídas, têm medo de tudo e de todos, sentem
medo de serem tocadas com fraternidade e apresentam dificuldades de
aproximação, até mesmo com outras crianças. Chama a atenção para os sinais da
violência psicológica doméstica, a inquietação na presença do autor da violência,
gagueira e timidez exagerada. Constata a negligência doméstica pela evasão
escolar, falta de lazer, cuidados básicos de saúde mentais e físicos.
Relatou que ao denunciar a violência doméstica contra crianças e
adolescentes em Rio Verde, às vezes soluciona o problema. Informou que, quando
suspeitasse e denunciasse a ocorrência de violência para alguma instituição, o
retorno atendeu imediatamente as suas expectativas. Disse que se fosse preciso,
ele iria depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu.
Em seu local de trabalho, atende crianças e adolescentes de zero a dezoito anos.
4.6 Médico
O médico começou respondendo ao questionário dizendo que suspeitou ou
presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual doméstica contra
crianças e adolescentes no seu local de trabalho por mais de uma vez, que
conversou com os pais e tios da vítima, e notificou o Conselho Tutelar e acredita ter
cumprido a sua função.
Sobre a violência psicológica doméstica e negligência domestica, presenciou
por mais de uma vez, conversou com os pais da vítima e não notificou nenhum
órgão, pois disse que encaminhou a vítima para acompanhamento psicológico com
os pais. Ao mencionar sobre os possíveis sinais de violência física, citou as
escoriações, hematomas e contusões. E o que poderiam indicar que crianças ou
adolescentes estão sofrendo violência sexual doméstica são as lesões genitais,
atitudes de pânico, apavoramento e agressividade. Sobre os sinais de violência
psicológica doméstica é a atitudes de pânico, baixo índice de relacionamento e
fechamento em volta de si próprio. Os sinais de negligência doméstica são visíveis,
como a desnutrição, desmazelo nas vestimentas, cabelos mal cuidados, e crianças
que ficam maior tempo vagando pelas ruas.
Sobre as instituições que atendem as denúncias da violência doméstica
contra as crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às vezes solucionam o
problema. Ao denunciar uma suspeita ou ocorrência de violência para alguma
instituição, foi ouvido e o resultado atendeu as suas expectativas. Ao ser
questionado se fosse convocado para depor na Justiça, ele confirmou que iria.
Atende crianças e adolescentes da faixa etária de 10 anos a 18 anos.
4.7 Serviço de atendimento móvel de urgência – SAMU
O socorrista disse que nunca suspeitou ou presenciou a ocorrência de
violência física, violência sexual, doméstica contra crianças e adolescentes em seu
local de trabalho, mas se tivesse ele conversaria com o chefe imediato e notificaria
algum órgão responsável.Informou nunca ter presenciado violência psicológica, mas
se presenciasse ou suspeitasse ele conversaria com o pai da vítima e notificaria ao
Conselho Tutelar. Sobre negligência doméstica, ele presenciou mais de uma vez,
conversou com o pai da vitima, não quis notificar nenhum órgão e acompanhou a
situação da vítima de perto.
Os sinais de violência física chamariam a sua atenção, as marcas no corpo,
tristeza e medo. E os sinais da violência sexual doméstica, a criança sente medo,
chora sem motivo, e não tem vontade de brincar. A violência psicológica doméstica
traz sinais como o medo, a desconfiança e a agressividade. Sobre sinais de
negligência doméstica, ele relatou a ausência de curiosidade, de interesse e alegria.
Em sua opinião, as instituições de Rio Verde que atendem as denúncias da
violência doméstica contra crianças e adolescentes, às vezes solucionam o
problema. Quando denunciou uma suspeita ou ocorrência de violência para alguma
instituição, suas expectativas foram atendidas. Afirmou que, se fosse convocado
para depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu, ele
iria. Atende crianças e adolescentes de zero a dezoito anos.
4.8 Escola municipal
A diretora da escola municipal presenciou diversas vezes atos de violência
física doméstica contra crianças e adolescentes. Diante desta situação, buscou se
aconselhar com colegas de trabalho e, além disso, conversou com os pais da vítima
e a avó para averiguar o que de fato estava acontecendo. Constatado o fato,
notificou o Conselho Tutelar e acompanhou de perto a situação da vítima, fazendo
valer a sua responsabilidade educacional cumprindo com sua obrigação de zelar
pelo bem-estar da criança. Caso presenciasse novamente este tipo de situação,
tomaria atitude semelhante acima citada além de conversar com outros parentes
que tenham maior contato com a criança. E se essa pessoa confirmasse a situação
de maus tratos notificaria a Promotoria da Infância e da Juventude.
Afirmou ter presenciado, em sua instituição, casos de violência sexual
doméstica. Diante do ocorrido, conversou com a mãe da vítima e notificou o
Conselho Tutelar que acompanhou a situação de perto. Caso acontecesse
novamente o fato com outra criança, conversaria com colegas da instituição, com a
mãe da vítima e com outros parentes próximos da criança. Além disso, novamente
notificaria o Conselho Tutelar, pois ele é o órgão mais bem preparado para lidar com
tal situação. Relatou que presenciou apenas uma vez o fato de negligência contra a
criança e sua instituição. Em meio à situação, conversou com colegas de trabalho e
familiares da vítima e notificou o Conselho Tutelar, fazendo cumprir sua função
como educadora e protetora das crianças em sua instituição de ensino. Sempre que
isso vier acontecer, tomará as mesmas medidas para solucionar os problemas.
Sobre os principais sinais de maus tratos contra crianças e adolescentes, são
observadas as marcas roxas nos braços, nas pernas, na face e nas costas.
Ao falar sobre crianças que possam ter sofrido abusos sexuais e seus sinais,
tem que ser observado o comportamento. Disse que elas podem ficar retraídas,
assustadas, desconfiadas, desatentas e apresentarão falta de organização por não
saber lidar com sentimentos inerentes à agressão. Alem disso, a criança, se
vitimada, terá medo de falar a respeito de assunto, complementa. Ao responder
sobre as evidências da negligência doméstica, é visível pelo aspecto físico, como a
falta de higiene, roupas rasgadas, chinelos velhos e sujos. Além de reclamar
constantemente que estão com fome.
A diretora respondeu que ao denunciar as violências para as devidas
instituições foi atendida de imediato e que o resultado atendeu as suas expectativas.
Informou que se fosse convocada para depor na justiça sobre algum caso que tenha
presenciado ou que tenha conhecimento iria prontamente. As crianças e
adolescentes que frequentam a escola estão entre 5 e 18 anos de idade.
4.9 Escola Estadual
A diretora da escola estadual informou que presenciou uma vez, violência
física doméstica contra criança no local de trabalho. Diante dessa situação,
conversou com seu superior imediato, com os colegas de trabalho e com o pai da
vítima, a fim de verificar o que de fato havia acontecido. Assim, procurou resolver a
situação da vítima no seu próprio local de trabalho. Hoje, se presenciasse alguma
cena parecida com a anterior, procuraria notificar um órgão responsável, tal como
Delegacia da Infância e da Juventude, pois esta saberia conduzir melhor a situação.
Sobre a negligência doméstica, presenciou por mais de uma vez tal fato.
Para resolver o problema, conversou com seu chefe e colegas da instituição. Ao
relatar sobre a violência sexual doméstica contra crianças e adolescentes, em seu
local de trabalho recorreria a seu chefe imediato e também a um órgão responsável.
Ao falar dos sinais de violência física, informou que perceberia se visse manchas no
corpo das crianças, excesso de choro durante as aulas, carência de afeto e a falta
de rendimento escolar. Quanto aos sinais de violência sexual doméstica, a diretora
da escola estadual não soube se pronunciar por não conhecer o referido assunto.
Quando questionada sobre sinais que chamariam sua atenção para indicar
que uma criança ou um adolescente está sofrendo violência psicológica doméstica,
a diretora da escola estadual afirmou que a criança apresentaria um comportamento
agressivo, triste, sem vontade própria e choro constante, ficando sempre quieta
pelos cantos. Sobre a negligência doméstica, a diretora afirma que se alguma
criança ou adolescente passar por este tipo de problema começará a chorar sem
motivos, apresentaria comportamentos rebeldes e teria um olhar distante como se
estivesse pedindo socorro. Informou que suas denúncias sobre ocorrência de
violência para instituições demoraram a serem atendidas e algumas instituições
atenderam parcialmente suas expectativas. Afirmou que, se fosse convocada para
depor na justiça sobre algum caso que tenha presenciado ou teve conhecimento,
iria. As crianças e adolescentes atendidas na escola estão entre 10 a 18 anos.
4.10 Escola Particular
A diretora da escola particular disse que nunca presenciou cenas de violência
física doméstica em sua instituição. Caso suspeitasse ou presenciasse a ocorrência
de violência física ou doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de
trabalho, conversaria com seu chefe imediato e não apelaria para nenhum órgão
responsável, pois não tem informação sobre como ativar esse mecanismo.
A diretora informou novamente que não presenciou e nem suspeitou da
ocorrência de violência sexual no seu local de trabalho. Se isso viesse acontecer,
conversaria com seus superiores, com outros colegas da instituição, para tomar uma
melhor decisão. Mas não acionaria nenhum órgão responsável por medo de
prejudicar a vítima. Sobre ato de negligência doméstica contra alunos de sua
instituição se viesse a suspeitar de maus tratos, conversaria com colega e seu chefe
imediato, procurando resolver ali mesmo a situação para que não houvesse
necessidade de acionar nenhum órgão responsável para que a vítima não fosse
prejudicada. Sobre violência física doméstica, informou que, além das manchas,
outros
comportamentos
devem
ser
levados
em
consideração,
tal
como,
agressividade da criança e o modo arredio para com as pessoas.
Sobre comportamento de crianças e adolescentes que pudessem estar
sendo
vítimas
da
violência
sexual,
observaria
se
elas
apresentassem
inesperadamente sinais de revolta, timidez, apatia e insegurança. Complementando
o assunto, a diretora da escola particular afirmou que a vítima passaria a apresentar
mentiras em seu discurso e insegurança para outras pessoas de seu convívio.
Relatou que os aspectos físicos demonstram a negligência doméstica, como roupas
rasgadas, chinelos velhos e sujos, cabelos mal cuidados, e reclamações sobre fome.
A diretora informou que quando fez uma denúncia para alguma instituição, o
resultado atendeu suas expectativas. Informou que se fosse convocada a depor na
justiça sobre algum caso que tenha conhecimento ou presenciado sobre as
agressões contra crianças e adolescentes, iria sem problema nenhum. Crianças e
adolescentes na escola, de 0 a 14 anos de idade em diferentes turnos.
4.11 Padre
O padre disse que nunca suspeitou ou presenciou a ocorrência de violência
física doméstica e violência sexual doméstica contra crianças e adolescentes em
seu local de trabalho. Caso ocorre-se, conversaria com seu chefe imediato, com os
pais da vítima e notificaria a própria instituição.
Sobre a violência sexual doméstica, o padre disse não haver suspeitado ou
presenciado qualquer tipo de cena a respeito do assunto mencionado. Quanto à
violência psicológica, o padre disse ter presenciado apenas uma vez essa situação e
que procurou orientação de seu chefe imediato, conversou com o tio e o irmão mais
velho da vítima, e ainda, buscou explicações com a mãe da criança. Juntos
resolveram a situação na própria instituição. Sobre a negligência doméstica, o padre
afirmou ter presenciado apenas uma vez esse fato. Que mais uma vez buscou ajuda
de seu chefe, aconselhou-se com colegas e conversou com outros parentes da
vítima, tais como, irmão, tios e avós, para verificar o porquê daquela situação, e
ainda, acompanhou de perto a situação.
Ao relatar sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma
criança ou adolescente está sofrendo violência física doméstica, são hematomas no
corpo, baixa alto estima, o medo e insegurança. Sinais de violência sexual, a criança
ou adolescente toca muito no assunto, sente dores nos órgãos sexuais e autoestima
baixa. A violência psicológica, também vem acompanhada de baixa autoestima, fica
com medo de autoridades, sente insegurança de estar presente com os agressores.
A negligência doméstica é visível notar a criança ou adolescente maltrapilho, pede
alimentos e informam que os pais passam muito tempo fora de casa.
O entrevistado disse que as instituições que atendem as denúncias de
violência doméstica contra crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às
vezes conseguem resolver o problema. Na Igreja, segundo o padre, são atendidas
crianças e adolescentes de 10 a 18 anos de idade.
4.12 Pastor
O pastor afirmou ter presenciado mais de uma vez atos de violência física
doméstica contra crianças em sua instituição. Diante dessa situação, conversou com
seus superiores, com a mãe da vítima, porém não notificou nenhum órgão
responsável para não prejudicar a vítima.
Disse ter suspeitado uma vez de violência sexual doméstica e procurou
orientar-se com seu chefe imediato para resolverem o problema. Além disso,
conversou com a mãe da vítima para averiguar a situação, antes de tomar qualquer
medida que pudesse vir a prejudicar a vítima e sua família. Embora, o pastor tenha
presenciado ato de violência psicológica uma vez em sua instituição, preferiu
esclarecer a situação diretamente com a mãe da vítima, sem buscar ajuda de outras
pessoas para resolver o problema, pois teve medo de prejudicar a própria vítima. O
pastor disse que presenciou algumas vezes cenas de negligência doméstica,
informou ter conversado diretamente com o pai e com a mãe da vítima para apurar
os fatos, não notificando seus superiores e nem a instituição para que a história não
fosse passada adiante.
Ao relatar sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma
criança ou adolescente está sofrendo violência física doméstica, são a introversão,
hematomas e isolamento. Sinais de violência sexual: a criança ou adolescente fica
isolada, procura ficar sozinha e desconfia de todos à sua volta. A violência
psicológica, muitas vezes, as crianças ou adolescentes se isolam, ficam rebeldes e
não gostam de se relacionar com ninguém. A negligência doméstica é visível notar
na criança ou adolescente também o isolamento, baixa autoestima e timidez.
O entrevistado disse que as instituições que atendem as denúncias de
violência doméstica contra crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às
vezes conseguem resolver o problema. O pastor disse que não recorre a instituições
que recebem denúncia contra crianças e adolescentes, pois essa conduta vai contra
os princípios de sua instituição, onde os problemas abordados são ali mesmo
solucionados. Disse que poderia ir ou não, depor na justiça sobre um caso que
tenha conhecimento ou que atendeu. Informou que são atendidas e observadas
crianças e adolescentes de todas as idades que variam de 0 anos a 18 anos.
4.13 Presidente do centro espírita
O presidente do centro espírita disse que nunca suspeitou ou presenciou a
ocorrência de violência física, sexual de caráter doméstico contra crianças e
adolescentes em seu local de trabalho. Caso ocorresse, conversaria com seu chefe
imediato, com os pais da vítima e notificaria à própria instituição.
Sobre a violência sexual doméstica, o presidente do centro espírita disse
que nunca suspeitou ou presenciou nenhum tipo de ocorrência sobre este assunto.
Presenciou apenas uma vez ato de violência psicológica contra um menor e que
buscou apoio de seu chefe para resolver o problema, e não achou necessário
notificar a nenhum órgão responsável para não expor a vítima. Presenciou algumas
vezes cenas de negligência doméstica, disse que buscou ajuda recorrendo a seu
superior e não notificou diretamente a instituição por medo de prejudicar a vítima.
Ao relatar sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma
criança ou adolescente está sofrendo violência física doméstica, são: o
comportamento, manchas e cicatrizes. Os sinais que chamariam a sua atenção se
uma criança ou adolescente estão sofrendo violência sexual, cita o comportamento,
o medo e o choro excessivo. A violência psicológica nota-se que a criança ou
adolescente tem alterações no comportamento, falta de iniciativa e um olhar de
medo. Na negligência doméstica é nítido notar que criança ou adolescente está mal
cuidada, tanto no aspecto físico como nas vestimentas e o seu comportamento
alterado.
O entrevistado da área religiosa disse que as instituições que atendem as
denúncias de violência doméstica contra crianças e adolescentes na cidade de Rio
Verde, às vezes conseguem solucionar os problemas levantados, pois faltam
profissionais qualificados para acompanhar de perto cada situação e que, muitas
vezes, os responsáveis pelas agressões não são punidos. Relatou que não está
satisfeito com as instituições pois não obteve respaldo para a resolução do problema
quando solicitado.Disse que, se fosse necessário, ele deporia na justiça em algum
caso que tenha presenciado ou acompanhado de violência doméstica contra
crianças e adolescentes. No Centro Espírita, conforme o entrevistado são atendidos
adolescentes de 15 a 18 anos.
4.14 Conselho Tutelar
Não foi possível concluir a entrevista neste local. As pessoas responsáveis
no órgão procuradas pela pesquisadora não aceitaram participar da entrevista. O
Conselho Tutelar foi escolhido por ser o órgão de maior apoio, criado especialmente
para trabalhar para crianças e adolescentes vitimas da violência doméstica e
também a ajudar com métodos de prevenção a famílias.
Em uma das tentativas para o preenchimento do questionário, foi percebido
que o local carece de estrutura física adequada, equipamentos, como materiais de
informática e veículos. Foi visto no pátio uma Kombi com os quatro pneus vazios.
Por intermédio de uma ex-conselheira tutelar foi possível colher alguns
relatos. Perguntada se na época em que ela trabalhou conseguia perceber se uma
criança e adolescente pudesse esta sofrendo algum tipo de violência doméstica,
disse que sim, pois, como trabalhou lá por muito tempo, já tinha um preparo para
identificar a violência doméstica. Relatou que uma vez recebeu um telefonema de
uma criança de onze anos de idade de classe média, pedindo ajuda. Foi até ela,
chegando lá, viu nitidamente que se tratava de uma criança maltratada em vários
sentidos, tanto psicologicamente como fisicamente. A família era negligente, tanto o
pai como a madrasta, não queriam saber das suas responsabilidades perante o
menor. A ex-conselheira denunciou ao Ministério Público, onde os fatos seriam
apurados e, se assim confirmados, punir quem agisse de inconformidade com o
Estatuto da Criança e do Adolescente. Finalizou dizendo que foi uma conselheira
de muita responsabilidade, força de vontade, dedicação total e amor ao próximo,
pois se a frente do Conselho Tutelar fossem colocadas pessoas despreparadas e
até mesmo negligentes, as crianças e os adolescentes vitimas de violência poderiam
novamente ser vitimizadas no local que foi criado para dar total apoio e conscientizar
quem está agindo em discordância com a lei.
5. Considerações Finais
A pesquisa mostrou que na cidade do interior como Rio Verde, não são
todos os órgãos que têm recebido apoio do Estado no quesito parceria e isso faz
com que os agentes não consigam desenvolver suas atribuições como deveriam.
Sobre a percepção dos agentes, todos sabem identificar casos de violência
contra crianças e adolescentes.
Foi constado realmente que o Estado brasileiro não está conseguindo fazer
com que todos os agentes da rede de proteção trabalhem na mesma direção e, na
maioria das vezes, isso ocorre pela falta de agentes preparados para exercerem o
seu real papel. Foi notado também que, em alguns órgãos da rede de proteção,
faltam subsídios materiais, dificultando até mesmo as possíveis campanhas de
prevenção em combate à violência doméstica contra crianças e adolescentes.
É indispensável que o legislador esteja atento aos anseios da comunidade e
passe a prestar mais atenção e dar o devido valor aos Direitos das Crianças e dos
Adolescentes, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, consolidando e
garantindo maior eficácia às leis e fazendo com que todos as cumpram. Se ainda
necessário for, até mesmo prevendo novas tipificações penais para as condutas
danosas ainda não definidas na legislação.
É fundamental, acima de tudo, que o Estado invista na capacitação de
pessoas especializadas e competentes que saibam diagnosticar a violência que uma
criança ou adolescente esteja sofrendo, mesmo que os responsáveis por elas
tentem negá-las. A Justiça, o Ministério Público, o Conselho Tutelar e outros órgãos
da rede de proteção às crianças e adolescentes devem, assim, ter atuação
constante, tendente a minimizar os efeitos negativos deste grupo de pessoas
vulneráveis à violência.
Os responsáveis pela aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente,
legislação incumbida de orientar e determinar as sanções cabíveis, devem assumir
cada vez mais o seu papel de guardiões desses direitos, cumprindo, assim, sua
função social, que é a proteção das crianças e adolescentes, reprimindo e punindo
os abusadores e descumpridores da lei.
A prevenção da violência e de seus sinais físicos e psicológicos poderá
constituir uma oportunidade de aprendizado entre as famílias e seus integrantes
para que possam dialogar e refletir, compartilhando sentimentos, crenças, e valores,
respeitando os direitos das crianças e dos adolescentes, e passando a elas as
obrigações de um cidadão equilibrado e consciente. Dando, dessa forma mais
confiança e um aspecto de equilíbrio para que as novas gerações possam ser mais
sensíveis, deixando em um passado distante as marcas da violência doméstica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do. Vade Mecum. São Paulo:
Saraiva, 2009.
________. Estatuto da Criança e do Adolescente. Vade Mecum. São Paulo:
Saraiva, 2009.
BRAZ, C. C. O papel dos agentes na rede de proteção das crianças e adolescentes
vítimas de abuso sexual. In: 4ª Jornada Científica do Instituto de Ensino Superior de
Rio Verde/ Faculdade Objetivo e 1ª Jornada do Egresso do Curso de Direito. Mesa
de abertura. Rio Verde – GO, 23 junho 2010.
D’ ESPÍNDOLA, V.S. A violência doméstica contra criança e adolescentes.
Disponível
em:
<http://www.webartigos.com/articles/18584/1/A/pagina1.html>.
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GOIÁS. Prefeitura Municipal de Rio Verde. SAMU. Disponível
<http://www.rioverdegoias.com.br/i.php?si=samu>. Acesso em: 27 jun. 2010.
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Social – CREAS.
HIRSCHEIMER, M.R.; WAKSMAN, R. D. Roteiro de atendimento e notificação.
Disponível em: <http://www.condeca.sp.gov.br/eventos_re/ii_forum_paulista/c8.pdf>.
Acesso em: 24 jun. 2010.
ONU-BRASIL. Convenção sobre os direitos da criança. Disponível em:
<http://www.onu-brasil.org.br/doc_crianca.php>. Acesso em: 03 jul. 2010.
INFLUÊNCIA DOS PAIS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO SERIAL
KILLER1
Desyrrê Moraes Lemes2
Aline Maciel Monteiro3
Leonardo Ferreira Faria4
Resumo
O serial killer tem uma personalidade que pode ser acompanhada por vários
transtornos psicológicos, como por exemplo, a psicopatia e o desvio de conduta em
que essa personalidade começa a ser moldada durante a infância. Os pais têm
como dever cuidar e educar essas crianças, e portanto, precisam dar atenção
devida às diferenças comportamentais apresentadas pelos filhos. No Transtorno da
Conduta, a criança pode apresentar extrema agressão para com as pessoas de
casa, bem como, para com os colegas de escola, mentir, desobedecer os pais,
aparecer em casa com coisas que não lhe pertencem. Já a personalidade
antissocial faz com que a pessoa não consiga se colocar no lugar do outro, sendo
totalmente fria e desrespeitando os direitos humanos. Esse tipo de personalidade é
associado à Psicopatia, transtorno também descrito junto à personalidade do serial
killer, que padroniza seus crimes, matando de forma fria, em série, variando o
intervalo de tempo entre eles. Sendo assim, objetivou-se, através de uma revisão
bibliográfica, conhecer de que forma os pais poderiam contribuir na formação da
personalidade do serial killer, entendendo como ocorre a influência familiar na
formação dessa personalidade. Frente ao demonstrado pode-se perceber que existe
realmente uma grande influência dos pais na formação da personalidade dos serial
killers. Como não existe cura para o serial killer, um tratamento que envolva a
família para que os pais não influenciem negativamente e cuidem mais de seus
filhos, pode ser o meio mais confiável para ajudar crianças com Transtorna da
Conduta, pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia em
graus mais leves, para que não evoluam e acabam se tornando um serial killer. Fica
claro a necessidade de mais estudos com esse tema, pois estes seriam um caminho
para que os pais e a sociedade tenham mais conhecimento sobre o assunto, e para
que a Psicologia possa se encarregar da regeneração e inclusão desses indivíduos
na sociedade quando for possível, com o devido apoio familiar, e possa manter um
tratamento que amenize os desvios comportamentais depois do diagnóstico.
Palavras–chave: Serial Killer. Personalidade. Pais.
1. Introdução
O serial killer tem uma personalidade que pode ser acompanhada por vários
transtornos psicológicos, como por exemplo, a Psicopatia e o Transtorno da
Conduta. Todavia, é sabido que a personalidade começa a ser moldada durante a
infância. Assim, a personalidade ao ser construída durante o desenvolvimento dos
1
Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de Psicóloga na Universidade de
Rio Verde-GO
2
Acadêmica do Curso de Psicologia da FESURV - Universidade de Rio Verde.
3
Orientadora, Profª. Ms. do Curso de Psicologia da FESURV - Universidade de Rio Verde.
4
Co-orientador e Especialista em Psicologia Jurídica pela PUC-GO.
seres humanos vai determinar como será a conduta deles durante a vida. Já
aqueles que têm algum Transtorno de Personalidade, têm esses esquemas
diferenciados, e a influência dos pais durante sua formação é de extrema
relevância.
Já que essas características podem ser notadas durante a infância, é
importante que os pais estejam atentos, para que os comportamentos indesejados
que estão presentes na personalidade de um serial killer não evoluam e possam ser
controlados, diminuindo assim a chance de chegar a cometer crimes.
Sendo assim, objetivou-se através de uma revisão bibliográfica, conhecer de
que forma os pais poderiam contribuir na formação da personalidade do serial killer,
entendendo como ocorre a influência familiar na formação dessa personalidade.
Buscou-se ainda analisar como a família garante que essa criança na fase adulta,
consiga controlar os atos que a psicopatia favorece e verificar os benefícios e
malefícios que a educação familiar traz para o serial killer e seu convívio social.
Portanto, viu-se a necessidade deste estudo, já que alertaria os pais, bem
como a sociedade, para as características presentes nessa personalidade,
reconhecendo assim quem seria o psicopata futuramente.
O estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica relacionada a
Transtornos de Personalidade e sua evolução na história de vida dos serial killers.
2. Resultados e discussão
O termo serial killer surgiu para nomear populações de penitenciárias,
diferenciando assim, algumas pessoas que cometiam crimes de forma muito
violenta, sem motivo aparente e com certa semelhança em seus atos criminosos.
Sendo assim, os serial killers foram definidos como sendo indivíduos que
cometem uma série de crimes caracterizados pelo ato de matar durante algum
período de tempo, com pelo menos alguns dias de intervalo entre esses crimes
(CASOY, 2008). Na maioria dos casos, os serial killers são homens e seus crimes
são realizados através de rituais e suas vítimas são escolhidas de forma que
caracterizem mais seus atos como, por exemplo, prostitutas.
De acordo com o Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o Código
Penal Brasileiro, Art. 71, este é o tipo de Crime Continuado, quando o agente,
mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro.
Em relação as suas vítimas, na maioria das vezes, não as conhece, ele
parece sempre ser um estranho e desconhecido da vítima e muitas vezes escolhe
pessoas vulneráveis como prostitutas e andarilhos. (RAMOS, 2002)
Dentro da definição geral do conceito de serial killer, existem quatro tipos de
assassinos em série, variando suas características, mas que por causa dos crimes
que cometem também são enquadrados nesse conceito.
O primeiro tipo de serial killer é o chamado visionário que é um indivíduo que
perde a razão, louco, alienado e que ouve vozes dentro de sua cabeça e, portanto,
as obedece. Já o missionário socialmente não demonstra ser louco, mas em seu
interior tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno e por
isso escolhe certos grupos para matar, como prostitutas, homossexuais, mulheres,
crianças. O emotivo mata por pura diversão, tem prazer em matar utilizando atos
cruéis, obtendo prazer no próprio processo de planejamento do crime. E, por fim, o
sádico é o assassino sexual. Mata por desejo. Seu prazer será diretamente
proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura. A ação de torturar, mutilar e matar
lhe traz prazer sexual. (CASOY, 2008)
Neste momento vale ressaltar, que apenas com a exceção do serial killer
visionário, os demais têm a noção dos atos que cometem, pois estão sempre
conscientes das leis e regras estabelecidas pela sociedade. Para este tipo de serial
killer, o encarceramento em prisão não é aplicado, mas sim uma medida de
segurança que, de acordo com o Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940,
Código Penal Brasileiro, Art. 96, I, é a internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado.
Além das características citadas acima, há possibilidades de se perceber
comportamentos presentes na infância. Outro fator de extrema relevância. Segundo
Casoy (2008, p.29) “a grande maioria dos serial killers, cerca de 82%, sofreu abusos
na infância. Esses abusos foram sexuais, físicos, emocionais ou relacionados à
negligência e/ou abandono”. Por este motivo, viu-se a necessidade de buscar
aspectos que influenciassem a formação da personalidade do serial killer,
relacionados à família, sendo de extrema relevância entender o comportamento e os
transtornos de personalidade que possam caracterizar esses indivíduos.
3. Comportamento Antissocial e Transtorno da Conduta
Para começar a se identificar um serial killer, é preciso observar seu
comportamento e quais os transtornos que ele pode ter. Uma criança em seu
desenvolvimento normal pode apresentar comportamentos típicos de uma criança
problemática, ou que venha a ter um possível transtorno de personalidade, como
por exemplo, os comportamentos antissociais. Mentir para os pais para não levar
uma bronca porque quebrou o vazo de flores da sala, brigar com os colegas na
escola são comportamentos comuns de uma criança que não quer apanhar, ou
precisa se defender.
Mas o que torna isso preocupante é a frequência que esses fatos ocorrem, a
maneira que esses comportamentos estão afetando as pessoas e os lugares que
essas crianças frequentam e como a criança começa a usar isso a seu favor,
manipulando, mentindo e até mesmo fazendo com que as consequências sejam
mínimas.
Esses comportamentos chamados antissociais e que fogem às regras se
enquadram em alguns transtornos como o Transtorno da Conduta e o Transtorno de
Personalidade Antissocial. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais – DSM-IV-TR (APA, 2002, p.120) a “característica do
Transtorno da Conduta consiste num padrão repetitivo e persistente de
comportamento no qual são violados os direitos individuais dos outros ou normas ou
regras sociais importantes próprios da idade”.
Quando o Transtorno da Conduta se inicia na infância, ele traz algumas
características importantes em que, pelo menos um critério característico aparece
antes mesmo dos 10 anos de idade.
Os indivíduos em geral são do sexo masculino e demonstram agressividade
de forma frequente e têm relacionamentos perturbados com os pais. Essas
crianças, na maioria das vezes, estão mais propensas a permanecerem com o
Transtorno da Conduta e desenvolverem o Transtorno de Personalidade Antissocial
na idade adulta. (DSM – IV – TR, APA, 2002). O Transtorno da Personalidade
Antissocial traz para o indivíduo características gerais relacionadas a desprezo e
violação dos direitos dos demais e que começa na infância, ou no início da
adolescência. (DSM – IV – TR, APA, 2002)
Entendendo então os transtornos
citados acima, cabe aos pais notar que esses comportamentos que trazem uma
disfunção em casa ou na escola, estão frequentes e que a criança não se importa
muito com as consequências.
Essa responsabilidade é dirigida aos pais, sendo eles biológicos ou não, pois
são as primeiras pessoas a fornecerem contato para criança. De fato, a família é a
rede primária que referencia e totaliza a proteção e a socialização dos indivíduos,
pois este é o ambiente em que toda criança deve crescer, iniciando sua história
dentro da história de sua família. (PITTA; FONTOURA, 2009)
Portanto, é de extrema relevância pontuar qual o papel da família e de que
maneira ela influencia na formação da personalidade de um serial killer, já que a
família é o primeiro contato da criança.
3.1 Influência familiar na formação da personalidade do serial killer
Sabe-se que os primeiros relacionamentos da vida, são dados pela família,
onde se aprenderá o que deve ou não fazer, o que é certo e o que é errado, além de
construir os primeiros vínculos afetivos, mas na atualidade, é reforçado cada vez
mais o individualismo como forma de sobrevivência.
A existência de um vínculo familiar consistente nos primeiros anos de vida
está associada a um posterior comportamento de confiança em relação a si mesmo.
Essa associação revela como os relacionamentos primitivos são importantes no
desenvolvimento satisfatório da personalidade. Experiências precoces de rupturas
de vínculos afetivos devem ser levadas em consideração por exercerem um efeito
prejudicial no desenvolvimento da personalidade, trazendo comportamentos
inadequados. (ABDALLA, 2004)
Esses comportamentos inadequados chamados de antissocial são muitas
vezes recompensados e reforçados pelos pais, pelos professores e colegas dessas
crianças, que são as pessoas mais próximas delas. (KOCH; GROSS, 2005).
Por este motivo, a família pode se tornar a grande responsável por
comportamentos inadequados, sentimentos de frieza e agressividade, pois essas
crianças tiveram aprendizado baseado em fatores negativos. Sendo assim, os laços
familiares na infância de um ser humano vão servir de mapa para todas as outras
relações. (CASOY, 2008)
Pessoas que possuem comportamentos antissociais apresentam na maioria
dos casos negligência infantil ou abuso por parte dos pais. Devido a um desajuste,
já na interação mãe-bebê, elas não atingem um sentimento de confiança que
juntamente com a ausência de amor com a mãe, surgem experiências definitivas no
desenvolvimento do futuro antissocial. (Garbarski; Gauer; Machado, 2009)
O DSM – IV – TR (APA, 2002, p.659) traz que os filhos adotados
“assemelham-se mais a seus pais biológicos do que a seus pais adotivos, mas o
ambiente da família adotiva influencia o risco do desenvolvimento de um Transtorno
de Personalidade”.
Os pais ainda podem contribuir para que essa criança já nasça com algumas
predisposições ao Transtorno da Conduta. O DSM-IV-TR (APA, 2002, p.122) relata
que os fatores citados a seguir podem contribuir para o desenvolvimento do
transtorno:
rejeição e negligência parental, práticas inconscientes de criação dos filhos
com disciplina demasiado rígida, abuso físico ou sexual, falta de
supervisão, institucionalização nos primeiros anos de vida, trocas
freqüentes de responsáveis pela criança, família muito numerosa, histórico
de tabagismo materno durante a gravidez, exposição a violência e certas
espécies de psicopatologia na família (p. ex., Transtorno de Personalidade
Anti-Social, Dependência ou abuso de Substância).
Vários casos de serial killer no Brasil demonstram como esses lares
desestruturados influenciaram suas personalidades que acabaram por fim se
tornando assassinos em série que chocaram todo o país.
Há um caso que aterrorizou o Brasil. Foram 42 meninos entre 6 e 15 anos,
vítimas feitas por Francisco das Chagas Rodrigues Brito entre 1989 e 2004, no
Maranhão e no Pará, e é considerado o pior serial killer brasileiro. Chagas escolhia
meninos fisicamente parecidos, pobres de periferia que vendiam doces e
perambulavam pelo local onde trabalhava ou morava. Ele puxava conversa com a
criança e a convidava para pegar frutas no mato. Quando entrava na mata fechada,
matava a criança por estrangulamento, a pedradas, ou com objetos cortantes.
Depois as mutilava: retirava seus testículos ou órgãos genitais, decepava partes do
corpo e levava com ele osso, roupas, um dedo, uma orelha ou outro pedaço
amputado. Em alguns casos, estuprou a vítima e há suspeitas de que tenha comido
partes de algumas. Seu caso ficou conhecido como "Os Meninos Emaculados de
Altamira". (RIBEIRO, 2010)
Por isso, especialistas ainda tentam entender os motivos que levaram
Chagas a praticar os crimes. Chagas dizia que o motivo estava na bíblia, Isaías
14:21: "Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para
que não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades". Apesar
da motivação aparentemente religiosa dos crimes, os especialistas acreditam que a
chave da psicopatia de Chagas esteja na infância: criança abandonada pelos pais
que apanhava da avó severa com chicote de cipó. Em 2006, ele foi condenado a 20
anos e oito meses de prisão por um dos crimes e ainda aguarda julgamento pelos
demais assassinatos. (RIBEIRO, 2010)
Percebe-se que a influência negativa dos pais refletem na formação da
personalidade do serial killer. (MORANA, et. al., 2006) A criança então começa a
apresentar comportamentos caracterizados no Transtorno da Conduta, evoluindo
então ao Transtorno de Personalidade Antissocial. Este costuma ser o trajeto
seguido pela experiência de vida familiar da maioria dos criminosos violentos,
principalmente dos serial killers. Outro fator bastante encontrado é o fato do pai ou a
mãe biológica ter características antissociais, o que reforça ainda mais o filho que
apresente as mesmas características, segundo Souza (2008, p.27) “a incidência de
personalidade antissocial é mais elevada em pessoas que têm o pai ou mãe
biológicos com distúrbio antissocial”.
Mesmo assim, acredita-se muito mais em fatores que justificam esses
comportamentos antissociais que foram provocados pela influência familiar do que
fatores genéticos propriamente ditos. Então, o que se pode fazer é diagnosticar
esse Transtorno de Conduta na criança o mais cedo possível, para que se possa
fazer um tratamento e acompanhamento em relação ao controle desses atos.
Portanto, o diagnóstico é de extrema relevância para uma possível intervenção e
por isso é necessário discorrer sobre esse tema para uma maior compreensão de
como identificar comportamentos que se enquadrem no Transtorno da Conduta.
3.2 Diagnóstico e Tratamento do Transtorno da Conduta
O diagnóstico do Transtorno da Conduta é de grande relevância para que os
pais interessados possam ajudar os filhos a não manterem esses comportamentos
inadequados que podem permanecer durante a vida adulta ficando mais grave e se
tornando um Transtorno de Personalidade Antissocial, que está presente na
personalidade do serial killer.
Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002, p.124) para se diagnosticar este
transtorno é necessário que exista:
um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados
os direitos individuais dos outros ou normas e regras sociais importantes
próprias da idade, manifestado pela presença de três (ou mais) dos
seguintes critérios nos últimos 12 meses, com presença de pelo menos um
deles nos últimos 6 meses: agressão a pessoas e animais, destruição de
patrimônio, defraudação ou furto, sérias violações de regras.
Mas vale ressaltar que alguns comportamentos tidos como inadequados e
principalmente indesejados pelos pais, não são suficientes para fechar o diagnóstico
do Transtorno da Conduta em uma criança. Sendo diagnosticado então, a família
poderá buscar tratamento para o filho. É relevante ressaltar que a família também
passe por um tratamento já que o contexto familiar tem grande influência na
experiência da criança.
Para
o
tratamento,
a
terapia
precisa
focar
a
aprendizagem
de
comportamentos novos e a diminuição dos desadaptativos por meio de técnicas,
tais como o reforço do comportamento apropriado, como por exemplo, a criança tem
o costume de interromper a mãe quando está cozinhando, então a mãe oferece um
desenho para a criança colorir e a elogia por não interrompê-la na cozinha. E
objetivar ainda treinamentos que incluam melhor competência e habilidades dos
pais para lidar com os problemas do comportamento infantil. (KOCH; GROSS, 2005)
Porém, é necessário ainda descrever o Transtorno de Personalidade
Antissocial e a Psicopatia, pois na personalidade do serial killer, o Transtorno da
Conduta prevalece somente na infância, evoluindo então na vida adulta para o
Transtorno Antissocial e a Psicopatia.
3.3 Transtorno de Personalidade Antissocial e Psicopatia
Os Transtornos da Personalidade caracterizam pessoas que possuem uma
maneira diferente de se comportar diante da sociedade, comparando com as outras
pessoas. São personalidades anormais que atuam de maneira permanente, já que
determinados traços estão completamente comprometidos, como se a pessoa fosse
refém de seus próprios atos. (SILVA, 2004)
O serial killer, não apresenta apenas o Transtorno da Conduta em sua
personalidade perturbada. Ele traz junto com ele, como já foi citado, na maioria dos
casos, o Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia que mostram na
adolescência, comportamentos que caracterizam o Transtorno da Conduta, e na
fase adulta permanece o padrão de comportamentos irresponsáveis e que
ameaçam a sociedade. (BECK; FREEMAN; DAVIS, 2005)
Segundo Abdalla (2004, p.286) o Transtorno de Personalidade Antissocial
pode ser caracterizado pelos seguintes aspectos:
indiferença e insensibilidade diante dos sentimentos alheios; atitude
persistente de irresponsabilidade e desprezo por normas, regras e
obrigações sociais estabelecidas; incapacidade de manter relacionamentos
estabelecidos; baixa tolerância à frustração e baixo limiar para a
deflagração de agressividade e violência; incapacidade de experimentar
culpa e grande dificuldade de aprender com a experiência ou com a
punição que lhe é aplicada.
Para então, se fazer então o diagnóstico do Transtorno da Personalidade
Antissocial, o indivíduo precisa ter idade mínima de 18 anos e ter tido um histórico
de alguns sintomas do Transtorno da Conduta antes dos 15 anos. (DSM – IV – TR,
APA, 2002)
A Psicopatia também leva a atos criminais por trazer para a personalidade do
indivíduo um distanciamento de suas emoções, pois de acordo com Tripicchio
(2007, p.4) “o que mais chama a atenção nos psicopatas é a sua frieza e total
descompromisso com o que narram, em detalhes milimétricos, de como mataram
suas vítimas”. Apesar da semelhança entre os fatores que descrevem a Psicopatia e
o Transtorno de Personalidade Antissocial, é necessário esclarecer que ambos são
diferentes e que nem todo antissocial venha ser um psicopata em potencial. De
acordo com Filho et al. (2009, p.341) o termo Psicopatia surgiu para “designar
quadros de comportamentos antissociais extremados, usualmente associados a
crimes violentos e bárbaros, em que as faculdades da razão não pareciam
prejudicadas”. Portanto, a personalidade do serial killer está composta pelo
Transtorno de Personalidade Antissocial seguido pela Psicopatia, pois de acordo
com Vellasques (2008, p.36):
pode acontecer, em muitos casos, que o serial killer tenha um Transtorno
de Personalidade psicopática, porém não é necessariamente uma regra.
Isso também não quer dizer que todo psicopata seja um serial killer, e que
ele se tornará um assassino serial, uma vez que a psicopatia tem vários
graus e que pode levá-lo a cometer outros tipos de delitos. São poucos os
psicopatas que se tornam serial killers, mas são muitos os serial killers que
padecem de alguma forma de Psicopatia.
Sendo assim, torna-se importante conhecer o tratamento para esses serial
killers, bem como orientar a sociedade e a família para que saibam reconhecer a
personalidade desses indivíduos e talvez influenciá-los de maneira mais positiva.
3.4 Tratamento para a Psicopatia e para o Transtorno de Personalidade
Antissocial e orientação aos pais e sociedade
Após ter relatado e caracterizado o Transtorno de Personalidade Antissocial e
a Psicopatia, e enfatizado como a família, principalmente a figura dos pais, pode
influenciar de forma categórica a existência desses transtornos em uma criança,
evoluindo então para o agravamento na fase adulta, o que são aspectos básicos da
personalidade do serial killer, é necessário que discorra sobre o tratamento para
esses indivíduos, bem como orientar a família e a sociedade.
Primeiramente, é necessário saber como se constituí o serial killer e de que
forma poderia se identificar essa personalidade que aparentemente é normal e por
isso se mistura às outras pessoas com muita facilidade.
Inicialmente a criança apresenta comportamentos inadequados como brigar
com irmão ou com colegas na escola e quebrar brinquedos, se assim os pais estão
ausentes e não acompanham o crescimento dos filhos ensinando-os e educando-os
com amor, a criança repete os mesmos comportamentos e acrescenta novos
comportamentos inadequados configurando então os comportamentos antissociais
que, quando não tratados, evoluem para o Transtorno da Conduta. Mais uma vez os
pais ausentes e negligentes não observam os filhos e não dão atenção aos seus
comportamentos que evoluem durante a infância e a adolescência chegando à fase
adulta com o então chamado Transtorno de Personalidade Antissocial. Com todo
esse histórico de comportamentos inadequados e uma personalidade antissocial já
formada, surge então o psicopata que pode cometer crimes. Se esses crimes forem
dois ou mais homicídios semelhantes, surge então o serial killer. (BRAZ, 2010)
Portanto, a maneira mais efetiva seria intervir ainda na infância quando a
personalidade não está completamente estruturada. Essa intervenção não deve ser
limitada apenas à criança, mas é muito importante que seja dirigida também aos
pais para que estes possam encontrar meios de resgatar o vínculo afetivo com seus
filhos, isto porque, a privação da presença dos pais e as frustrações daí decorrentes
são decisivas para a configuração da personalidade antissocial (GARBARSKI, et.
al., 2009). Sendo assim, os pais como influenciadores da formação da
personalidade do serial killer, o foco deste estudo é um dos principais fatores para a
causa dos transtornos relatados na personalidade dos filhos, precisam buscar
maneiras para se aproximar dos filhos e então criá-los com afeto, carinho, atenção,
proporcionando o aprendizado dos sentimentos e dos vínculos que devem se formar
ao longo da vida. Mas, as pessoas que são diagnosticadas com o Transtorno de
Personalidade Antissocial e a Psicopatia, e matam de forma seriada, não têm
sucesso em tratamentos.
De acordo com Silva (2008, p.169):
os serial killers, além de acharem que não têm problemas, não esboçam
nenhum desejo de mudanças para se ajustarem a um padrão socialmente
aceito. Julgam-se autossuficientes, são egocêntricos e suas ações
predatórias são absolutamente satisfatórias e recompensadoras para eles
mesmos, então não há necessidade de mudança.
Sendo assim, fica fácil entender o porquê do insucesso relatado nas
experiências de tratamento com assassinos em série, apenas aqueles que estão em
medida de segurança que segundo o Decreto - Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de
1940, Art. 96 do Código Penal Brasileiro é que têm por ordem judicial um
acompanhamento psicoterápico e também o uso de medicamentos.
Por isso, não é nada fácil o tratamento psicoterápico, uma vez que o serial
killer é um mentiroso contumaz. Não existe profissional de saúde mental que não
tenha sido enganado por um psicopata. Em geral têm uma boa apresentação, falam
bem e são muito convincentes. Para ajudar a diminuir a enganação que esses
indivíduos tentam causar, o psicólogo com sua atuação, deve dispor de informações
provenientes de familiares, amigos, registros hospitalares ou fornecidos por
autoridades, confrontar o paciente com suas mentiras, às vezes abrindo as portas
para o início de uma relação terapêutica com um mínimo de sinceridade e às vezes
deixando o paciente furioso e nada propenso a voltar à terapia. (SOUZA, 2008)
Portanto, para o serial killer não há saída, pois apresenta Transtornos de
Personalidade e não alterações comportamentais momentâneas. Porém, é preciso
ter sempre em mente que tais transtornos apresentam formas e graus diversos de
se manifestar e que somente os casos mais graves apresentam barreiras de
convivência intransponíveis (SILVA, 2008). Por este motivo, é que a convivência
com os pais deve ser levada em consideração quando a personalidade está ainda
sendo formada durante a infância, pois nessa relação existem fatores que
influenciam negativamente suas personalidades.
Na literatura existem vários tipos de tratamento, fornecendo ainda
intervenções junto à família e à escola como, por exemplo, psicoterapia familiar e
individual, orientação de pais, comunidades terapêuticas e treinamento de pais e
professores em técnicas comportamentais, e quanto mais cedo se buscar ajuda, e
quanto mais jovem o paciente, os resultados podem ser melhores. (BORDIM;
OFFORD, 2000)
Diante a resistência a mudança que os serial killers têm, tanto o terapeuta,
quanto os pais e a sociedade devem ter um cuidado especial com os psicopatas já
que sua resistência para mudança é maior e mesmo a possibilidade de utilização de
recursos à sua disposição, essa mudança pode se tornar uma aprendizagem para
que sejam mais hábeis na vitimização de seus alvos. (GONÇALVES, 2007)
Para os pais que são os mais influentes na formação da personalidade do
serial killer, existem duas maneiras de ajudar esses indivíduos ainda na infância
para que não se tornem assassinos em série. Primeiramente, os pais precisam
deixar de influenciar negativamente, construindo um lar mais estruturado, mais
afetivo para que as crianças possam crescer e formar suas personalidades. Em
segundo lugar, os pais precisam então cuidar mais, olhar mais para esses filhos, ou
seja, prevenir que esses comportamentos inadequados evoluam até se formar os
serial killers. (BRAZ, 2010)
4. Conclusão
Com base no estudo bibliográfico realizado pôde-se perceber que os pais que
não dão atenção aos filhos, que têm comportamentos inadequados e ainda os
influencia negativamente, permitem que seus filhos evoluam esses comportamentos
chegando ao Transtorno da Conduta que mais uma vez se não tratado
precocemente passa ao Transtorno de Personalidade Antissocial, a Psicopatia e por
fim, forma-se o serial killer.
Chegou-se também à conclusão que o Transtorno de Personalidade
Antissocial e a Psicopatia não têm “cura”, já que as maneiras existentes de
tratamento não trazem mudanças significativas que vão extinguir a maldade e a
frieza presente nas personalidades.
Por isso, os serial killers não conseguem se recuperar, pois apresentam
Transtornos de Personalidade e não alterações comportamentais momentâneas, e
que se diagnosticado esses transtornos relatados, de forma precoce, como dito
anteriormente, os pais podem assim buscar ajuda no tratamento psicoterápico, e se
necessário o uso de algum medicamento, para que os comportamentos antissociais
não se estabeleçam, evoluindo para um Transtorno de Personalidade. Mesmo
assim, a perspectiva de cura é devidamente pequena e por isso não há muito que
fazer com os serial killers, até o momento o encarceramento desses indivíduos é a
maneira mais eficaz de proteger a sociedade.
Mas, se é feito um trabalho junto à família, é possível melhorar a convivência
social dessas crianças, evitando que elas acabem entrando no mundo do crime
prejudicando todo processo familiar, e evitando o surgimento de mais serial killers
na sociedade.
No entanto, é preciso mais realizações de estudos que relacionem os
Transtornos da Conduta e de Personalidade Antissocial, bem como a Psicopatia
relacionada à influência dos pais na formação dessas personalidades, já que na
maioria dos casos não existe possibilidade de cura, principalmente para os serial
killers. Estes estudos seriam um caminho para que os pais e a sociedade tenham
mais conhecimento sobre o assunto, e para que a Psicologia possa se encarregar
da regeneração e inclusão desses indivíduos na sociedade quando possível, com o
devido apoio familiar, e favorecer tratamentos que amenizem os desvios
comportamentais depois do diagnóstico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BORDIN, I. A. S.; OFFORD, D. R. (2000). Transtorno da conduta e comportamento
anti-social. Revista Brasileira de Psiquiatria, v.2, n.22, p.1-10, dez. 2000.
BRAZ, C. C. Comunicação pessoal na banca de apresentação da presente
monografia na Universidade de Rio Verde. Banca de monografia. Rio Verde-GO,
06 jul. 2010.
DECRETO-LEI nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Brasília, DF.
Disponível
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<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del2848.htm>.
Acesso em: 17 abr. 2010
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