REVISTA OBJETIVA N° 6 – 2010 REVISTA DO INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE RIO VERDE O Instituto de Ensino Superior de Rio Verde - IESRIVER apresenta a Revista Objetiva com a finalidade de publicar artigos originais de caráter multidisciplinar, oriundos de pesquisas realizadas por seu corpo acadêmico. Autores vinculados a diferentes instituições de Ensino Superior, programas de Graduação e de Pós-Graduação, também são bem vindos, com pesquisas que visam o desenvolvimento social, econômico, científico, tecnológico e cultural das diferentes regiões do Brasil. A Revista Objetiva de publicação semestral, conta nesta edição, de nº. 6 do ano de 2010, com oito artigos, distribuídos nas áreas dos conhecimentos das Ciências Sociais Aplicadas e da Saúde. Os assuntos tratados nos artigos versam sobre temas da Comunicação Social Habilitação em Jornalismo e Publicidade, Direito, Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia. Os artigos publicados na Revista Objetiva não expressam necessariamente as opiniões do coletivo da revista. A reprodução dos textos, no todo ou em parte, é permitida desde que citada a fonte e os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde ENDEREÇO Instituto de Ensino Superior de Rio Verde - IESRIVER Rua 12 de Outubro, Nº. 40, Qd.: 64, Lt.: 02 Jardim Adriana – Rio Verde/Go CEP: 75901-970. Fone: (64) 3621-3539 – Fax (64) 3621 4543 www.faculdadeobjetivo.com.br IMPRESSÃO GRÁFICA Gráfica São João Fone: (64) 3441 – 2320 E-mail: [email protected] DIAGRAMAÇÃO Cacildo Ferreira Assunção CAPA Agência Modelo Publicidade IESRIVER CORRESPONDÊNCIA E ENVIO DE ARTIGOS Núcleo de Planejamento e Pesquisa - NPPE E-mail: [email protected] Fone: (64) 3621-3539 – Fax (64) 3621 4543 FICHA CATALOGRÁFICA OBJETIVA. Revista do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde. – ano 6, n. 6 (Jul./dez.2010) – Rio Verde: IESRIVER, 2010. Semestral. ISSN:1808-1444 1. Administração 2. Direito 3. Enfermagem 4. Jornalismo 5. Publicidade e Propaganda. I. Instituto de Ensino Superior de Rio Verde. CDU: 659 611 658 615 SOLICITA-SE PERMUTA – EXCHANGE REQUESTED Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde ASSOCIAÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE GOIÁS – AESGO INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DE RIO VERDE – IESRIVER DIREÇÃO ADMINISTRATIVA Fábio Buzzi Ferraz DIREÇÃO ACADÊMICA Stefane Barbosa NÚCLEO DE PLANEJAMENTO E PESQUISA - NPPE NÚCLEO DA REVISTA ACADÊMICA – NURA EDITORIAL DA REVISTA OBJETIVA COORDENAÇÃO Profª. Ms. Márcia Mariano Raduan Caetano CONSELHO EDITORIAL Profª. Ms. Adriana Souza Campos - Profª.Drª. Denize Marroni Prof. Ms. Cláudio de Castro Braz - Prof. Ms. Getúlio Antonio de Freitas Filho Prof. Ms. Givaldo Doreto - Profª.Ms. Kalinka Martins da Silva Prof. Ms. Lindomar da Silva Almeida - Profª.Ms. Rosane Costa dos Reis Prof. Ms. Tairo Vieira Ferreira - Prof. Ms. Renato Cruvinel de Oliveira COORDENAÇÕES DE CURSOS Administração de Empresas e Cursos de Tecnologia de Gestão - Prof. Ms. Lindomar da Silva Almeida Comunicação Social - Profª.Ms. Adriana Souza Campos Direito - Prof. Ms. Cláudio de Castro Braz Profª. Rosângela de P. Leão Cabreira Enfermagem - Profª. Drª. Denize Marroni Profª. Carla Ribeiro da S. Santos Fisioterapia - Prof. Ms. Getúlio Antonio de Freitas Filho Turismo - Prof. Will Heumeer da Silva Barros Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde SUMÁRIO EDITORIAL 1. O TROMPE L’OEIL E A MODA - O TRABALHO DE JUAREZ MACHADO NOS ANOS 70 Miguel Luiz Ambrizzi 2. O LEAD COMO EXPRESSÃO DA CULTURA LOCAL: O CASO DO JORNAL FOLHA DE RIO VERDE Hadassa Ester David Gisela Pincowsca Cardoso Campos 3. PANORAMA DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DE RIO VERDE EM 2010 José Antônio Ferreira Cirino Adriana Souza Campos 4. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CLIENTES COM HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E DIABETES MELLITUS: EVIDÊNCIAS PARA O ENSINO DO AUTOCUIDADO Ann Otília Paiva Ferreira Carla Ribeiro da Silva Santos Berenice Moreira Reila Campos de Araújo Guimarães Thatiane Marques Torquato Mariza Vieira Perez 5. AVALIAÇÃO DA DISPNÉIA DURANTE A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA EM PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ATRAVÉS DA LONDON CHEST ACTIVITY OF DAILY LIVING SCALE Cristianne Carneiro Teixeira Fernanda Silvana Pereira Adriana Vieira Macedo Maria de Fátima Rodrigues da Silva Renato Canevari Dutra da Silva 6. OS CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO E TRATAMENTO DA ÚLCERA POR PRESSÃO Aparecida Garcia Cintia Mendonça de Paiva Juliana Ribeiro Borges Vandiara Pertusatti 7. VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA CIDADE DE RIO VERDE - GOIÁS: a atuação dos agentes da rede de proteção Helieny dos Santos Martins 8. INFLUÊNCIA DOS PAIS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO SERIAL KILLER Desyrrê Moraes Lemes Aline Maciel Monteiro Leonardo Ferreira Faria Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde EDITORIAL Esta 6ª Edição da Revista Objetiva foi desenvolvida com base na importância da relação entre a pesquisa e a divulgação científica, buscando transferir o conhecimento científico à comunidade. É um projeto que cria vínculo de caráter científico de estudos e pesquisas e que vem de encontro à missão da Faculdade Objetivo. A Revista Objetiva compreende o somatório de esforços coletivos de pesquisadores que atuam nas áreas de ciências sociais aplicadas e de saúde, especialmente nos cursos de Administração, Direito, Enfermagem, Fisioterapia, Jornalismo e Publicidade e Propaganda que são oferecidos pelo Instituto de Ensino Superior de Rio Verde/Faculdade Objetivo. É um periódico aberto à contribuições da comunidade científica em geral, onde são publicados resultados de pesquisas, divulgações, revisões, estudos de casos e desenvolvimentos de novas técnicas e materiais. A Comissão Editorial da Revista Objetiva agradece aos alunos, professores, à direção do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde/Faculdade Objetivo, e a todos que contribuíram para que essa edição se transformasse em realidade. Este é um trabalho em conjunto que integra conhecimentos e proporciona mais possibilidades de colaboração para o mundo global que vive a era da participação - no princípio de comunicação associativa, com intensa produção de conteúdo, participação e colaboração - na busca por informação. Então, aproveite! Boa Leitura! Profª. Ms. Márcia Mariano Raduan Caetano Revista Objetiva – Instituto de Ensino Superior de Rio Verde O TROMPE L’OEIL E A MODA - O TRABALHO DE JUAREZ MACHADO NOS ANOS 70 Miguel Luiz Ambrizzi1 Resumo A produção contemporânea em design de moda, mais especificamente nas estampas feitas com as técnicas de silk-screen ou transfer estão, há cerca de 5 anos, despertando um grande interesse por parte dos consumidores de moda. Camisetas com uma estampa de um cachecol ou um bolso falso são feitas por designers que utilizam o conceito trompe l’oeil, termo francês que significa “engana olho”, e mostram a ilustração de um lenço, por exemplo, em volta do pescoço, dando a impressão de que a pessoa está com o acessório. Por mais que as pessoas achem que é algo contemporâneo e novo no Brasil, há trabalhos pouco conhecidos produzidos na década de 1970, pelo artista brasileiro Juarez Machado, residente em Paris. Esta pesquisa visa realizar um estudo sobre tal artista, resgatar sua obra e buscar registros históricos da sua produção de camisetas pintadas à mão, para contrapor e comparar com as produções atuais nacionais e internacionais no design de moda. Sua produção será analisada com base nos princípios teóricos da Arte Surrealista produzida no início do século XX e sobre a teoria do trompe l´oeil iniciada no Renascimento. Palavras - Chave: Arte, Trompe l’oeil, Juarez Machado, Moda. 1. Introdução Os processos de criação em moda seguem em várias vertentes de acordo com métodos de pesquisa de referências, cruzamentos de estilos e épocas, tendências inspiradas em culturas diferentes, em situações atuais. De acordo com Seivewright (2009, p.6) “a pesquisa é essencial ao design, pois é o momento inicial de lançamento e coleta de ideias que precede a criação”. Nesse sentido, a pesquisa em design deve ser “um processo experimental” e se ela for ampla e detalhada, “o estilista pode começar a interpretar uma série de roupas ou uma coleção” (idem). A pesquisa em design de moda “caracteriza-se pela investigação e aprendizagem de algo novo ou do passado, podendo ser comparada, muitas vezes, ao começo de 1 Doutorando em Arte e Design pela Universidade do Porto – Portugal. Mestre em Cultura Visual FAV- UFG, graduado em Educação Artística - Hab. em Artes Plásticas pela UNESP (2005);Diretor da Faculdade de Design da FESURV e professor no curso de Tecnologias em Design - FESURV-GO.Professor nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Faculdade Objetivo de Rio Verde. Docente e pesquisador nas áreas de Artes, Ensino, História da Arte, Moda e Arte. uma jornada exploratória”. Afirma que há dois tipos de pesquisa, a “coleta de materiais tangíveis e práticos para sua coleção como tecidos, adornos e botões” e o outro “diz respeito à inspiração visual para a coleção, o que frequentemente ajuda na definição do tema, inspiração ou conceito, essencial para desenvolver uma identidade para o trabalho de criação” (2009, p. 14).Criar é um ato inerente tanto à arte quanto à moda. A relação entre moda e arte é investigada por vários pesquisadores que estudam desde artistas que contribuíram para a produção em moda, como designers que se inspiraram em obras artísticas ao longo da historia, bem como as fronteiras entre arte e moda na produção conceitual. Este trabalho busca investigar as relações entre arte e moda, especificamente na criação de estampas conceituais de camisetas que, nos último cinco anos, voltou a ser tendência e a ter uma grande presença na moda jovem. Estas estampas “brincam” com nosso olhar, desafiando a percepção e questionando realidade e ilusão através de desenhos, através da técnica do trompe l’oeil, tão utilizada há séculos na produção da arte. 2. O Trompe L’oeil na arte – Conceito e representações A arte e o artista buscam, dentre outras discussões, refletir sobre razão e emoção, realidade e imaginação através dos conceitos de representação. Ao longo da história, vemos o embate entre esses conceitos acima citados. Porém, após o Romantismo, temos o início da presença do pensamento subjetivo do artista na sua criação. Seguido dos movimentos subseqüentes, com as vanguardas modernistas, uma evolução no sentido de os artistas se libertarem dos cânones da arte clássica ocorreu através das obras, pois até então, os artistas se preocupavam com a perfeição na representação artística, seja ela pictórica ou escultórica, através do uso de técnicas de ilusão, o trompe l’oeil. De acordo com a Enciclopédia de Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural, o trompe l’oeil é um “recurso técnico-artístico empregado com a finalidade de criar uma ilusão de ótica, como indica o sentido francês da expressão: tromper, "enganar", l'oeil, "o olho" 2. Através do uso de detalhes realistas, se valendo do uso 1 das regras da perspectiva ou pelo sombreamento através do uso do claro-escuro, as imagens criadas pelos artistas criavam nos espectadores a ilusão de tridimensionalidade, ou seja, como se ele estivesse à frente do objeto representado, se esquecendo de que aquela imagem se tratasse de uma representação bidimensional. Dessa forma, a imagem vista pelo espectador provocaria uma mudança na sua percepção, demonstrando assim a capacidade que uma imagem pode ter ao influenciar o espectador, quebrando, muitas vezes, com a racionalidade no seu diálogo com a obra. Na arte, o trompe l’oeil foi muito utilizado por artistas do Renascimento Italiano, os quais criaram e aperfeiçoaram a técnica da perspectiva para a criação de planos, volumes e profundidade através de linhas bem como do uso de materiais como a tinta a óleo, a qual permitiu um grande avanço nas técnicas de representação do volume através do uso do claro-escuro. Foi com grande força que, a partir do século XIV e nos séculos seguintes, que teve grande presença na arte, principalmente a partir da criação da tinta a óleo, a qual permitiu um grande resultado pictórico no que diz respeito a representação do real em superfícies bidimensionais. As tradicionais convenções artísticas como a perspectiva e as formas de ilusionismo foram criticadas por artistas do modernismo. Porém, o que vemos é que o uso do trompe l’oeil por alguns artistas de movimentos de vanguarda, porém de forma humorística e crítica, se valendo dessa técnica para inclusive subvertê-lo, chamando a atenção do espectador para que ele veja que aquela imagem é a representação de algo e não a própria coisa. Isso podemos encontrar nos trabalhos do artista do surrealismo, René Magritte, o qual utiliza das técnicas da pintura clássica para a representação de objetos reais e imaginários. Sua famosa obra “Isto não é um cachimbo” (1928-1929) traz o questionamento sobre o real e a representação. Quando perguntamos a alguém que vê a pintura: “o que você está vendo? o que é isto?” As pessoas logo respondem: “Isto é um cachimbo!”. O que na verdade, não o é, tal como o artista afirma no título de sua obra, pois não se trata do objeto cachimbo, não é o cachimbo, mas sim a representação de um cachimbo. No que diz respeito à produção contemporânea de arte, temos as obras do hiperrealismo, movimento dos anos 60, popular dos Estados Unidos e Inglaterra, as quais utilizam a fotografia como ferramenta de composição para as pinturas, numa volta da figuração extrema, “de modo que elas adquiram precisão e riqueza de detalhes, como Chuck Close, 1940. A atenção extrema à reprodução fiel da realidade produz geralmente, e de modo paradoxal, um sentimento de irrealidade”3. 3. O efeito Trompe L’oeil e a moda Conforme vimos, o uso do trompe l’oeil foi muito utilizado na pintura e na arquitetura, ao longo da sua história. Na moda, o trompe l’oeil vem simular elementos ilusórios através de desenhos de objetos que não estão presentes na roupa. Tais desenhos representam detalhes de costura, laços, botões, acessórios, bijuterias. E tal como vimos em movimentos de vanguarda artística, esses desenhos trazem consigo uma carga de humor e ludicidade na peça. Historicamente, as primeiras produções na moda surgiram nos anos 30. Da amizade com o pintor surrealista Salvador Dali, Elsa Schiaparelli, estilista italiana, trouxe seu uso para a moda através de suas criações. Tal como nos diz Cecilia Biasi (2010), La prima ideò un particolare tipo di golf su cui imperversava il grande disegno di un fiocco intorno al collo, quasi appunto a dare l’illusione dell’effettiva presenza di una sciarpa o un foulard. Tale lavoro fu possibile grazie ad un punto di maglia ottenuto dall’intreccio di due fili diversi, che donava al capo anche una maggiore resistenza rispetto al resto della maglieria offerta dal mercato dell’epoca. La creazione di Elsa Schiaparelli suscitò meraviglia e stupore nella Parigi dell’epoca e, come ogni capo che rompe gli schemi, divenne l’uniforme delle donne più in vista del momento. Ainda de acordo com Biasi (2010), o efeito aqui estudado, desde Grécia e Roma, transitando para a produção em moda de Elsa Schiaparelli e Roberta di Camerino. Tale tecnica di derisione nei confronti del pubblico era già invalsa nel mondo antico, dalla Grecia fino a Roma e si è progressivamente diffusa nel corso dei secoli in molteplici ambienti artistici. Ultimo campo di sperimentazione, in termini di tempo,è stata la moda, che ne annovera due principali testimonianze storiche: Elsa Schiaparelli e Roberta di Camerino (idem). As produções de Elsa Schiaparelli, em tricô, trazem elegância e delicadeza assim como as produções dos anos 50 da Hermès, fotografadas por Gordon Parks4. Nessas roupas, o uso do efeito trompe l’oeil se desloca das tramas do tecido para o uso de tintas através da inserção de estampas. Figura 1 – Trompe l’oeil na moda O trompe l’oeil tornou-se presente na moda contemporânea. Conforme Biasi (2010), Negli ultimi tempi e nelle ultime collezioni presentate, il trompe l’oeil è tornato, sia per divertenti t-shirts adatte ad un’occasione d’uso più giornaliera, come quelle maschili di Dolce & Gabbana(...) pezzo forte della collezione a/i 2010/2011 di Moschino. A marca Imaginarium, lançou no mercado uma coleção de camisetas que seguem a moda dos anos 80 e obtiveram grande sucesso. Com versão feminina e masculina as Camisetas Lenço que trazem a ilustração de um lenço em volta do pescoço, dando a impressão de que a pessoa está com o acessório. Em 2006, apostou no lançamento de “roupasamuletos” para as festas de fim de ano. A camiseta Sorte Grande, com sua estampa em alta qualidade, traz um colar de amuletos como olho grego, dente, pimenta e figa, elementos que espantam o mauolhado com muitas vibrações positivas. Contemporaneamente, a técnica do trompe l’oeil está sempre aparecendo em desfiles e não só em marcas nacionais. De acordo com Martini (2010)5, na “SPFW de Inverno 2009, Fause Haten criou para sua grife FH um look todo baseado nesse efeito”, a “Maria Bonita, na mesma temporada, também apresentou um modelo nesses moldes”, em seu desfile de Verão 2010 na última SPFW, Reinaldo Lourenço apresentou vestidos com recortes e desenhos que faziam o observador perceber as peças com um shape diferente”. Outras roupas que utilizam a técnica do trompe l’oeil, temos a coleção “Hairy”, a qual brinca com a reação de alguém ao ver a sua amada ou amado com uma roupa de baixo. Como o nome diz, a brincadeira é com pelos e de tão bizarras as peças acabam sendo muito interessantes. Seguindo a tendência do cômico, há uma serie de camisetas mais populares, de diversas marcas e grifes, as quais trazem elementos de personagens clássicos dos quadrinhos e dos desenhos animados de televisão como Flinstons, Mickey Mouse e Snoopy. Vemos na figura 1, produções de designers conceituados como Rei Kawakubo, Martin Margiela e Sonia Rykiel, cujas produções apresentam o uso do trompe l’oeil de uma forma mais sofisticada, na representação de elementos formais da roupa como costuras, bolsos, botões, etc. 4. As camisetas de Juarez – o efeito Trompe L’oeil nos anos 70 no Brasil Apesar desta série de produções em moda, acima apresentadas, muito do que se pensa, quando dizemos do público consumidor contemporâneo, é que essas estampas são uma tendência atual da moda. Vimos que, desde os anos 30 com Elsa Schiapparelli, esse efeito iniciou sua presença nas produções de roupas. Porém, no Brasil, temos o trabalho de Juarez Machado, pintor e desenhista. Uma série de camisetas foram criadas especialmente para a revista Geração POP, n. 19, de Maio de 1974, da Editora Abril. Essas camisetas trazem uma exploração de situações absurdas e divertidas, e apresentam uma possibilidade de uso de acordo com seu estado de espírito e de humor. Juarez apresenta uma clara influência do movimento do Surrealismo, do século XX. Elementos chaves como gavetas, passagens e aberturas, utilizadas por Magritte e Salvador Dalí, foram aplicados nas estampas das camisetas com uma mudança no tratamento pictórico, as vezes mais próximo da Arte Pop (quadrinhos, contornos), outras da pintura representacional mais pictórica. Figura 2 – Camisetas de Juarez Machado 1 Em uma camiseta temos a estampa de seios pintados exatamente no lugar onde se localiza no corpo feminino, junto com um nariz, boca e um bigode com as pontas enroladas, compondo um retrato onde os seios se “transformam” em olhos, compondo um rosto. Vemos claramente a referência do Surrealismo, tanto na composição total da estampa nos elementos dos seios que remetem a obra La Philosofie dans Le Boudoir do artista René Magritte, quanto no detalhe do bigode enrolado muito utilizado e característico de Salvador Dalí, numa fusão das duas grandes referências artísticas deste movimento. Um outro elemento utilizado por Salvador Dalí são as gavetas, que aplicadas em partes do corpo humano como na obra The Anthropomorphic Cabinet, de 1936, apresentam os lugares mais íntimos dos seres humanos, sentimentos, alma, o inconsciente tão estudado e representado nas pinturas do Surrealismo. Na produção de Juarez Machado temos uma estampa com um cofre, uma abertura que traz guardado o coração da pessoa, símbolo maior do amor, de desvendar a pessoa, é claro, dentro do senso comum. Magritte usava recursos como espelhos, janelas, olhos, cortinas, molduras, cavaletes e imagens dentro de outras imagens – revelando e evidenciando as enigmáticas questões ilusórias da percepção visual. Assim também Juarez Machado utilizou dessas aberturas que levam à outra realidade surreal e inusitada, com a estampa que encontramos na figura 2 de um homem olhando por dentro da camiseta, como se estivesse espiando de uma forma assustada, revelando espanto também para quem vê a própria camiseta vestida por uma pessoa. Há também as estampas de roupas com aberturas, seja por zíper ou por botões, e que deixam a mostra detalhes como pêlos do peito e os seios, futuramente foram redesenhadas pelo casal de designer japoneses Hirotsugu e Miyo em 2010. Apresentadas anteriormente nesse texto, trazem uma estampa mais simplificada (numa estética de ilustração vetorial), somente em preto e branco, dos pêlos pubianos, do peito masculino e das canelas. Juarez trabalha de uma forma mais realista na representação, com uso das tintas, utilizando o trompe l’oeil para dar a ilusão também do zíper, além dos detalhes de exposição do corpo humano. Apesar de ser atual as roupas da série “Hairy”, Juarez Machado já havia realizado algo semelhante nos anos 70, porém o modelo feminino trazia uma estampa do corpo masculino e vice-versa, brincando com a androginia e o travestismo. Figura 3 – Camisetas de Juarez Machado 2 Mais próximas da estética pop atual, semelhantes as camisetas com estampas feitas em marcas como Imaginarium e outros exemplos que podemos encontrar em sites de internet, as quais trabalham com o tom de humor, as camisetas de Juarez (figura 3) que possuem estampas de uma corda de forca, acessórios como o suspensório e tiros de metralhadora e uma faca apunhalada nas costas brincam com o jogo de ilusões, bem como o clássico terno pintado sobre um paletó, só que com as costas e a frente invertidos, criando uma má impressão ao ver “um homem de frente, porém com a cabeça totalmente voltada para trás”. 5. Considerações Finais O estudo do efeito trompe l’oeil ao longo da história da arte e da moda trouxe dados que talvez poucos conheciam, especificamente no Brasil, com o trabalho de Juarez Machado, que nos anos 70 já elaborava estampas que nos últimos 6 anos voltaram a ter presença na produção de moda das grandes marcas internacionais e versões nas marcas nacionais e populares aqui no Brasil. Tal estudo apontou que, por mais que seja uma brincadeira no uso das estampas, sua característica de estilo pode variar na forma como tal técnica é aplicada, pois o tom de humor pode ser utilizado em grau menor, conforme vimos nas produções de Rei Kawacubo e Sonia Rykiel, mais sofisticadas e até mesmo as roupas produzidas por Elsa Schiapparelli nos anos 30. Gombrich nos auxiliará sobre uma discussão maior acerca da ilusão na arte. Já na moda, uma reflexão sobre a ilusão também será ampliada sobre os shapes e os cortes das roupas que proporcionam “ilusões” de mudanças nas proporções e na forma como percebemos o corpo humano vestido. Essa pesquisa não se finda, pois o uso do efeito trompe l’oeil está se ampliando para a interação com a roupa, de uma forma mais lúdica como a criação do casal de designers japonês Hirotsugu e Miyo, que decidiu levar o acessório para um outro patamar. Muito além de estampas bidimensionais, estas novas têm em partes de seus desenhos relevos muito bem pensados para permitir certa interatividade do usuário. Do tradicional jogo de tabuleiro japonês Reversi - onde as peças são feitas de buttons -, a um par de tênis All Star com os cadarços pendurados para fora, todos os elementos das figuras são pintados de preto e branco e trabalhados de maneira alternativa com costuras extras, pregas e drapeados mil. Agora não se trata apenas de uma impressão interessante que dê a ilusão de que algo está aplicado a roupa, mas com o uso de acessórios, tal representação amplia essa técnica pois modifica detalhes do tecido, gerando volumes, dobras, franzidos, que detalham mais ainda as características desta representação. A moda se renova e se reinventa através do trabalho dos designers que sempre buscam, tanto na arte quanto na observação da realidade, formas e inspirações para seu trabalho de criação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIASI, Cecilia. Trompe l’oeil – Golf effetto trompe l’oeil. Artigo disponivel em: http://www.modaemodi.org/rivista/?p=14404. Acesso em 26 de abril de 2010. CALDAS, Dario. Observatório de Sinais: teoria e prática da pesquisa de tendências. São Paulo: Senac, 2004. MALTA, Marize. O trompe l’oeil da imaginação: decoração, literatura e cultura visual no século XIX. In? 19&20, Rio de Janeiro, v. I, n. 3, nov. 2006. Disponível em: http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/ad_trompeloeil.htm. Acesso em 20 de junho de 2010. MARTINI, Ana Paula. O efeito Trompe l’oeil torna a moda divertida: Técnica cria ilusão de ótica e simula elementos que não estão ali de verdade. Artigo disponível em: http://moda.ig.com.br/modanomundo/o+efeito+trompe+loeil+torna+a+moda+divertida /n1237530021590.html Acesso em 19 de agosto de 2010. PIRES, Doroteia Baduy. Design de Moda. Rio de Janeiro: Estação das Letras, 2008. Revista Bravo. Editora Abril, Março 2010, Ano 12, Nº151, Andy Warhol. SEIVEWRIGHT, Simon. Fundamentos de design de moda: Pesquisa e Design. Porto Alegre: Bookman, 2009. 2 Texto extraído do site: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=5 358 . Acesso em 23 de junho de 2010. 3 Trecho retirado da Enciclopédia de Artes Visuais digital, do Instituto Itaú Cultural disponível no site: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=5358. Acesso em 21 de junho de 2010. 4 As imagens das peças Hermès podem ser encontradas no site: http://www.anamappe.com.br/blog/2010/08/04/trompe-loeil . Veja também peças de Elsa Schiapparelli no site: http://www.modaemodi.org/rivista/?p=14404 . Acesso em 14 de junho de 2010. 5 Trecho disponível em: http://moda.ig.com.br/modanomundo/o+efeito+trompe+loeil+torna+a+moda+divertida/n1237530021590.html . Acesso em 18 de agosto de 2010. O LEAD COMO EXPRESSÃO DA CULTURA LOCAL: O CASO DO JORNAL FOLHA DE RIO VERDE1 Gisela Pincowsca Cardoso Campos2 Hadassa Ester David3 Resumo Esse artigo é resultado de uma pesquisa que tem seu foco na trajetória do lead no Brasil e no mundo, estabelecendo como corpus sua aplicação no jornal impresso de Rio Verde, interior do Estado de Goiás. O objetivo é apontar as estratégias da técnica da pirâmide invertida aplicadas ao jornalismo, a qual impõe um padrão de escrita que obriga o redator a responder às perguntas fundamentais para a produção de um princípio ordenado das informações na matéria: O quê, Quem, Quando, Onde, Como e Por quê. O estudo parte da premissa de que a pirâmide invertida é fruto da tecnologia, gerando maior praticidade tanto para o leitor, quanto para o jornalista. Nessa perspectiva, o lead seria um produto oferecido pelo mercado capitalista. Palavras-chave: Lead. Jornal. Pirâmide Invertida. 1. Introdução Vários fatores apontam os motivos que levaram a consolidação do lead na história do jornalismo impresso mundial. Autores com diferentes pontos de vista discutem e argumentam sobre a gênese, o conceito e prática da técnica da pirâmide invertida. Genro Filho (1987), Sousa (2001), Karam (2000), Rangel (1987), Martins (2005), Callado (2001) são alguns nomes significativos nesse debate. O termo Lead vem do inglês e significa conduzir. É a abertura do texto jornalístico, que deve resumir o relato do fato principal respondendo às seis perguntas básicas: Quem? Fez o quê? Quando? Onde? Como? E por quê? A origem do termo, segundo o que consideram os pesquisadores, teria sido nos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão, que foi o primeiro acontecimento a receber cobertura maciça da mídia. Para Jorge Pedro Sousa (2001, p.19) neste período milhares de repórteres se tornaram correspondentes de 1 Artigo resultante de Programa de Iniciação Científica dos cursos de Comunicação Social (INICIACCOM) do IESRIVER/Faculdade Objetivo realizado de agosto de 2009 a maio de 2010. O projeto de iniciação científica teve orientação da professora mestre Márcia Raduan, como atividade complementar desenvolvida por alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. 2 Mestre em Letras e Linguística, Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER. 3 Acadêmica do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER guerra, momento em que criaram e aplicaram técnicas de empacotamento da informação, como a entrevista, o lead e a reportagem. Também a necessidade do uso do telégrafo impulsionou a técnica da pirâmide invertida para a redação das notícias. O uso do telégrafo era caro e sua tecnologia falível sendo necessário que a informação mais importante viesse no início da transmissão. Assim, a técnica da pirâmide invertida e o lead auxiliaram a delimitar o campo profissional do jornalismo, e o jornalista passou a ser visto como um técnico na produção de informação noticiosa. A utilização de um parágrafo introdutório às histórias, que posteriormente adquiriria a denominação anglo-saxônica de lead, foi uma técnica usada desde a antiguidade. Eugenio Coseriu (apud, Sousa 2001, p.27) assinala que já Homero usou essa técnica. "Este jovem morrerá ao amanhecer", por exemplo, é a frase introdutória de uma narrativa homérica que prefigura o lead e a própria técnica da pirâmide invertida, pois antecipa ao leitor o final da história. (Sousa, apud, Casasús e Nuñez Ladevéze,1991, p. 15). Já Francisco José Karam4 (2000) acredita que a introdução do lead não é responsabilidade exclusiva do jornalismo norte-americano ou inglês. Não surge do acaso ou por um simples arbítrio na articulação do discurso. Certamente a linguagem jornalística - e aí entra a tradição inglesa e norte-americana do discurso jornalístico valeu-se da tradição greco-romana em relação ao uso das palavras e ao discurso claro e convincente. Em Roma, filósofos retomam a tradição grega da Retórica, entre eles o exímio orador Marco Túlio Cícero. Os retores, na Grécia Antiga, entre os quais Platão, Aristóteles e Protágoras (cerca de 400 anos antes da era cristã), já haviam consolidado a ideia de que o discurso deveria ser bem articulado e acessível às massas... Cícero, em De Inventione, relacionou os aspectos essenciais para que o texto se tornasse completo. Para o famoso orador romano, era preciso responder as perguntas quem? (quis / persona) o quê? (quid / factum) onde? (ubi / locus) como? (quemadmodum / modus) quando?(quando / tempus) com que meios ou instrumentos (quibus adminiculis / facultas) e por quê (cur / causa). As proposições de Cícero, originadas na Retórica da Antiguidade Grega, foram paradigma da exposição de acontecimentos nos dois milênios seguintes (KARAM, 2000). 4 Francisco José Karam é jornalista, Doutor em Comunicação e Semiótica, Professor do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) e autor de Jornalismo, Ética e Liberdade (São Paulo: Summus, 1997). Integra, em Santa Catarina, a comissão do Programa Nacional de Qualidade de Ensino em Jornalismo da Federação Nacional dos Jornalistas do Brasil. Adelmo Genro Filho, em sua obra O Segredo da Pirâmide (1987, p.183-202), relata que a primeira notícia redigida segundo a técnica da "pirâmide invertida" teria aparecido no The New York Times em abril de 1861. A partir da segunda metade no século XX, alguns dos mais importantes periódicos latino-americanos passaram a publicar notícias das agências norte-americanas redigidas segundo esse modelo. Nesse período, essa técnica se espalhou gradativamente, tendo chegado ao Brasil exatamente em 1950, pela iniciativa do jornalista Pompeu de Sousa. Para Ana Arruda Callado (apud Caldas 2002, p.46), a paternidade da implantação da técnica no Brasil deve ser atribuída a Danton Jobim, diretor do Diário Carioca, que esteve na Universidade de Columbia, Nova Iorque, antes de Pompeu ir lá aprender as novas técnicas. Mas no dia-a-dia do jornal, Pompeu, grande líder que era, de fato consolidou o uso do lead, que passaria a ser chamado de “lide”, uma adaptação brasileira. Pompeu de Souza aprendeu as novidades que seriam transformadas em Manual de Redação quando estagiou como jornalista em Nova Iorque durante a Segunda Guerra Mundial. O Manual tinha 16 páginas e intitulava-se “Regras de Redação do Diário Carioca”. Foi, durante muitos anos, o único manual de redação do jornalismo brasileiro. Eu comecei a reforma do Diário Carioca durante o carnaval de 1950. Estava de folga na Faculdade de Jornalismo e aproveitei para mudar tudo. Os jornais eram todos redigidos na técnica do “nariz de cera”, fazendo especulações puramente subjetivas, especulações filosóficas, uma subliteratura. Eu me convenci que não dava mais para você escrever para jornal na base do “nariz de cera”. O leitor acabava por se transformar num corredor de obstáculos. Ele procura parágrafos para procurar notícia, que estava muitas vezes no pé da matéria. Implantei o copydesk e redigi aquilo que os americanos chamaram de study book e que eu chamei de “Regras de Redação do Diário Carioca”. Inicialmente, as reformas causaram um verdadeiro escândalo... Bem, mas o que eu pretendia era narrar o acontecimento não mais na ordem cronológica nem na ordem lógica, e sim na ordem psicológica, para que tudo ficasse claro para o leitor (SOUZA,1986 apud Diário Carioca, p.103). No Brasil, o jornal era o principal veículo de acesso aos leitores. Os jornais não tinham uma técnica própria de contar história, não havia um paradigma e até a segunda metade do século XX, os jornalistas se espelhavam na literatura, seguiam uma gama variada de estilos e não um estilo padronizado. Nos anos 50, no entanto, a imprensa abandona o modelo francês de jornal mais opinativo e literário, adotando o modelo americano de jornal meramente informativo. Luís Edgard de Andrade (1985), que trabalhou como chefe do copydesk no Diário Carioca, Prêmio Esso Nacional de Jornalismo e editor (em 1985) do Manual de Telejornalismo da TV Globo, onde foi Editor chefe do Jornal Nacional, dá seu depoimento: A chegada do lide ao Brasil, 50 anos depois, parece banal. Na época, foi uma revolução. Basta lembrar que, mais tarde, nos anos 60, quando fui correspondente em Paris, o “lede” ainda não havia chegado à imprensa francesa. A narrativa cronológica determinava o estilo das notícias nos jornais de Paris (ANDRADE, 2003 apud Diário Carioca, p.85). As regras de redação brasileira passam a retirar do jornalismo noticioso qualquer caráter emotivo e participante para garantir a impessoalidade e a ocultação do sujeito de enunciação. Acontecia a transição do nariz de cera para o lead. Na opinião de Genro Filho (1987), alguns aceitam a tese de que a "pirâmide invertida" surgiu por uma deficiência técnica, um acaso que contemplou, ao mesmo tempo, o comodismo dos leitores e o interesse dos jornais em suprimir os parágrafos finais quando chegava um anúncio de última hora. Geralmente, quando as linhas finais de uma matéria eram cortadas, perdia-se a informação principal. A narração cronológica, diz Eleazar Diaz Rangel (apud, Genro Filho, p.183202), que dominou o que poderia chamar-se toda uma primeira etapa na evolução da notícia, respeitava a ordem em que se sucederam os fatos e era necessário ler todo o relato para inteirar-se do que havia ocorrido. Para os novos leitores que a imprensa conquistou, resultava muito mais prático essa estrutura da "pirâmide invertida". O leitor, assim, informa-se brevemente e não pergunta pelas circunstâncias dos fatos. Essa nova estrutura da notícia não foi planejada para chamar o leitor à reflexão, mas apenas "para informá-lo superficialmente, para adormecê-lo, fazê-lo indiferente e evitar que pense", complementa o autor. Esta praticidade acaba resultando na destruição do racional e passa a retirar qualquer visão crítica que o leitor possa ter, substituindo-a pela recepção passiva. 2. O Lead como a Essência do Jornalismo Para Franklin Martins (2005, p.111), o lead nasceu como uma reação saudável à monumental chatice do nariz de cera, embora há quem diga que ele foi uma imposição industrial. Segundo o autor, o lead tem um grande mérito: organiza a informação, e um grande defeito: padroniza o estilo. O nariz de cera era um texto longo, geralmente opinativo que em vez de dar logo a notícia ao leitor, adiava-a por quatro ou cinco parágrafos de subliteratura. Além das visões e teses que apontam ter a pirâmide invertida nascido em uma circunstância tecnológica para atender ao mercado capitalista, e que o lead anuncia uma mercadoria na indústria cultural com objetivo de impedir a consciência crítica dos leitores, Diaz Rangel lembra ainda que essa maneira de estruturar a notícia e a tendência a uniformizar os primeiros parágrafos desestimula também a criatividade e iniciativa dos repórteres. Genro Filho (1987), já citado anteriormente, define que as informações circulantes na comunicação cotidiana apresentam, normalmente, uma cristalização que oscila entre a singularidade e a particularidade. A singularidade seria a manifestação na atmosfera cultural de uma “imediaticidade” compartilhada, uma experiência vivida de modo mais ou menos direto. A particularidade se propõe no contexto de uma atmosfera subjetiva mais abstrata no interior da cultura, a partir de pressupostos universais geralmente implícitos, mas de qualquer modo naturalmente constituídos na atividade social. Somente o aparecimento histórico do jornalismo implica uma modalidade de conhecimento social que, a partir de um movimento lógico oposto ao movimento que anima a ciência, constrói-se deliberada e conscientemente na direção do singular. Desse modo, o critério jornalístico de uma informação está ligado à reprodução de um evento pelo ângulo de sua singularidade, ou seja, sua essência, e que a essência só pode ser apreendida no relacionamento com a totalidade. O lead, portanto, de acordo com o autor, seria uma importante conquista da informação jornalística, pois representa a reprodução sintética da singularidade da experiência individual. O problema é que a "pirâmide invertida" corresponde a uma descrição formal, empírica, que nem sempre corresponde à realidade, exatamente porque não capta a essência da questão. Não se trata, necessariamente, de relatar os fatos mais importantes seguidos dos menos importantes. Mas de um único fato tomado numa singularidade decrescente, isto é, com seus elementos constitutivos organizados nessa ordem, tal como acontece com a percepção individual na vivência imediata... A pirâmide invertida e o lead levam a maioria dos redatores a pensar que se deve sempre responder monótona e mecanicamente às famosas "seis perguntas" no primeiro parágrafo - do que realmente pela apreensão singularizada do fato, na qual o lead seria apenas a expressão mais aguda e sintética. De fato, o lead, como momento agudo, síntese evocativa da singularidade, normalmente deverá estar localizado no começo da notícia. Porém, nada impede que ele esteja no segundo ou até no último parágrafo, como demonstram certos redatores criativos (GENRO FILHO, 1987, p. 183-202). De fato, ao se aterem ao princípio da objetividade, no qual se deve buscar a imparcialidade e manter um distanciamento crítico diante de fatos e interesses, o jornalista acaba se rendendo a essa técnica de padronização, sendo que esse método, como diz Marcondes Filho (1986), é um meio de manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de poder político. Partindo do princípio da singularidade, atrelada à particularidade, vamos analisar como se dá este processo em um jornal impresso na cidade de Rio Verde, estado de Goiás, levando em conta que cidades do interior possuem realidades histórico-sociais e culturais específicas. 3. Aplicação do Lead no Jornal Folha de Rio Verde A Folha de Rio Verde5 é uma publicação quinzenal, com uma tiragem de três mil exemplares, fundada em oito de agosto de 1988 (8/8/88) pelo jornalista Egidio Brizola. A data é, igualmente, da fundação da Editora Geral Independência, de sua propriedade e sob sua direção. Egidio Brizola veio de Londrina (PR) para Rio Verde em 1986, e aqui contribuiu para a fundação da Associação dos Produtores de Grãos (APG). Fundou, para a APG, o Jornal do Grão, que circulou vários anos. Simultaneamente, fundou o jornal Gang, de cunho cultural-social, que teve grande repercussão por ter sido um produto diferenciado. Nesse tempo, o jornalista também atuou como correspondente do jornal O Popular. Em 1994, devido a problemas de saúde na família, o jornalista regressou à sua terra e voltou a trabalhar no jornal, onde tinha ingressado em 1976 e trabalhado durante 11 anos. Havia começado como repórter e seguiu como redator, editor de várias editorias e secretário de Redação. Lá ele desenvolveu outra etapa de sua carreira, por mais nove anos, como assistente da Editoria de Economia e depois como editor de Política e Opinião. Nesse período a Folha de Rio Verde deixou de 5 Folha de Rio Verde é uma publicação quinzenal da Editora Geral Independência Ltda, fundada em Rio Verde (GO) em 8/8/88 por Egídio Brizola. Tiragem: três mil exemplares. Editor responsável: E. Brizola, [email protected]. circular. Mas em 2003, com o retorno a Rio Verde, Brizola retomou a Folha de Rio Verde – chamando de Fase 2 a nova circulação. Durante o período em que o jornal circulou na primeira fase (1988 – 1994), não foi possível encontrar cópias das edições, já que a cidade não possui hemeroteca, e poucos veículos arquivam suas publicações. Quando o jornal voltou a circular, a chamada Fase 2, foi publicada no período de 05 a 20 de agosto de 2004 uma explicação aos leitores sobre o motivo da suspensão da circulação da Folha: Caro leitor, O retorno da Folha de Rio Verde é causado pela oportunidade favorecida pela expansão econômica da cidade e da região, que amplia os espaços para todos os empreendimentos. Não existia esta circunstância com tal grandiosidade em 1988, quando este jornal teve a honra de começar a circular. Dezesseis anos atrás, esta publicação enfrentou as dores da evolução do crescimento juntamente com a cidade, ambas atônitas com a voracidade do processo. Anos depois, enfim, o cenário apontava como caminho mais sensato a suspensão do jornal... Agora, a volta da Folha significa, primeiramente, a criação de uma nova página, de uma nova pena à disposição da comunidade, da qual sempre espera solidariedade na mesma medida que oferece. Os tempos são outros, como são outras as tendências, mas o veículo jornal, como meio e mensagem, continua teimosamente a respirar, e a cada decreto de sua morte ressurge com força redobrada. Na luta frenética que este tipo de publicação enfrenta há uns 15 anos, sua capacidade de adaptação à TV e à Internet mostra porque se faz o jornal. Jornal é o resultado da paixão, mas também das vicissitudes, das dores, do coração quebrado, da alma dolorida que ao ficar pronto, tem o poder de se transformar no refrigério necessário a todos os desencantos. Ele é assim porque é feito de material vivo, feito da mesma árvore que faz o lápis. Feito com entusiasmo, que significa ter Deus dentro da gente (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio Verde-GO, 05-082004). No âmbito do jornalismo “empresa”, o retorno da circulação do veículo revela a necessidade e a importância de tecnologia e capital disponíveis para manter o seu funcionamento. Além disto, a linguagem utilizada determina o estilo da escrita adotado, que se revela atraente, com apelo ao emocional, na busca de prender e agradar ao leitor. Como mostram os primeiros parágrafos que aparecem no mesmo período, narrando a história do nascimento da cidade, as construções frasais são típicas do nariz de cera. Nessa edição de 2004, a Folha de Rio Verde trazia matérias em homenagem ao aniversário de 156 anos da cidade como nos leads a seguir: Foram os bandeirantes paulistas, nas suas entradas e bandeiras em direção do lugar onde o sol se põe, que fizeram, segundo consta, os primeiros contatos com os índios que se concentravam no fundão do Sudoeste de Goiás, por volta de 1726. Bravos, eles resistiram, mas isso não conteve a ânsia dos homens brancos. Apenas alguns grupos admitiram contato – e aí foram pacificados – uns sessenta e tantos anos depois. Passaram a ser chamados de caiapós (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio VerdeGO, 05-08-2004/20-08-2004). Outro exemplo: O boom do desenvolvimento de Rio Verde teve início ainda nos finais de 1960 e início de 1970, quando experimentados produtores de grãos de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná decidiram “dar uma volta” no Centro Oeste em busca de terras, conheceram a região e ficaram. Conta uma lenda que um deles, um gaúcho, saiu a esmo de carro meio novo. Parou num posto de gasolina e comprou uma área de 4 mil alqueirões para pagar em três anos. Com o Opala de entrada. Ele ficou tão encantado que “voltou a pé” contar a notícia (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio VerdeGO, 05-08-2004/20-08-2004). A linguagem de cunho literário, com expressões conotativas, coloquiais, populares e adjetivadas no texto citado não significa que o jornal ainda não havia adotado o lead, já que na mesma edição, o modelo também aparece, como mostra o trecho a seguir: O assessor comercial da Embaixada do Chile no Brasil, Donald Mondinger, esteve em Rio Verde, no último dia 26 de julho, para conhecer indústrias e verificar as potencialidades de exportação do município para seu país. (BRIZOLA, Egídio. Folha de Rio Verde, Rio Verde-GO, 05-08-2004/20082004). Cinco anos depois, no período do aniversário da cidade, edição de 5 a 17 de agosto de 2009, veja como foi redigido os primeiros trechos das seguintes matérias: O dia 5 de agosto de 2009 é a data em que Rio Verde completa 161 anos de história construída pela força e a tradição do agronegócio. O aniversário tem uma agenda de comemorações, e por certo fará muito sucesso um bolo de 161 metros que será distribuído à população. O bolo será montado na Av. Presidente Vargas, no trecho entre a cooperativa Comigo e o Shopping Rio Verde, e será servido no dia 5, no local, a partir das 7 horas. Rio Verde é responsável por 1% da produção nacional de grãos, é o maior produtor de grãos do Estado e um dos maiores arrecadadores de impostos sobre produtos agrícolas. Por meio de entidades como a Universidade de Rio Verde (Fesurv), também é centro difusor de novas tecnologias. O lead, adotado como modelo, passa a ser visto em todas as matérias da Folha, mesmo que isto não signifique que tenha perdido a característica literária inicial. Como mostra o primeiro exemplo, a linguagem adquiriu uma hibridez textual, por vezes opinativa e, com respaldo nos textos de assessorias de imprensa. Pelo o que se nota, o lead do jornal Folha de Rio Verde atua como instrumento de afirmação e difusão do panorama político e econômico da cidade, girando em torno do agronegócio, atividade de considerável importância no município. 4. Considerações Finais Os jornais locais se diferenciam dos nacionais pela maneira de noticiar, já que os primeiros possuem características específicas que envolvem a proximidade, o compartilhamento de experiências, o mesmo cotidiano e identidade social e cultural. Vale lembrar que as notícias deveriam destacar justamente o aspecto desta particularidade que as envolvem, ser objeto da democracia e resgatar as identidades e diversidades locais, além de trazer questões úteis e problemáticas socialmente relevantes, em relação à comunidade. Porém, quando o jornalismo rende-se às regras do mercado, a notícia transforma-se em mercadoria e os leitores se tornam meros consumidores, condicionados pela ilusão de que têm acesso às principais informações, sem de fato analisarem os motivos e interesses particulares e ideológicos que determinam o que é de fato essencial. O resumo dos acontecimentos, exposto no lead do jornal Folha de Rio de Rio Verde, traz informações de eventos que ocorreram e que estão para acontecer, já que é uma publicação quinzenal. Nesse intervalo de tempo, nota-se a falta da matéria do repórter que sai com uma pauta e está atento a tudo o que está a sua volta, com o objetivo de encontrar histórias de pessoas, seus dramas, anseios. Quando o veículo dedica-se a isto, chamam-lhe pejorativamente de sensacionalista. Na ânsia de escolher qual linguagem utilizar, muitos acabam recorrendo a extremos e acabam deformando a realidade. De um lado aparece a singularidade ao extremo, sensacionalista. De outro, os veículos adotam a pirâmide invertida da grande imprensa, caso do jornal analisado, porém escondem grande parte da realidade, ao não considerar importante a vivência diária dos rio-verdenses e outros fatores que expressam a cultura local, já que a maioria das matérias publicadas são releases recebidos da assessoria de comunicação da Prefeitura, de conteúdo partidário e condicionado ao mercado de produtores de grãos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOAS, Sérgio Vilas. O Estilo Magazine – O Texto em Revista. 2ª ed. São Paulo: Summus editorial, 1996. CALDAS, Álvaro. Deu no jornal: jornalismo impresso na era da internet. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio / Edições Loyola, 2002. ERBOLATO, Mário. Técnicas de codificação em jornalismo – redação, captação e edição no jornal diário. São Paulo: Ática, 2001. Folha de Rio Verde, Rio Verde-GO. Períodos: 05/08/2004 – 20/08/2004 e 05/08/2009 – 17/08/2009. GENRO FILHO, Adelmo. O segredo da Pirâmide: para uma teoria marxista do jornalismo. 3 ed. Porto alegre: Ortiz, 1987. KARAM, 2000. Disponível em: <www.saladeprensa.org/art150.htm>. Acesso em: 10 mar. 2010. LAGE, Nilson. Linguagem jornalística. São Paulo: Ed Ática, 1986. ________. Teoria e Técnica do texto jornalístico. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. MARCONDES FILHO, C. O Capital da Notícia. Jornalismo como Produção Social da Segunda Natureza. São Paulo: Ática, 1986. MARSHALL, Leandro. O jornalismo na era da publicidade. São Paulo: Summus Editorial, 2003. MARTINS. Franklin. Jornalismo Político. Brasília: Contexto, 2005. PENA, Felipe. Teoria do Jornalismo. São Paulo: Contexto, 2005. SOUZA, Jorge Pedro. Elementos do jornalismo impresso. Porto: Universidade Fernando Pessoa, 2001. ZANOTTI, Carlos Alberto. O Paradoxo do lide: sedução e afastamento. Revista de Estudos do Curso de Jornalismo PUC-Campinas, Ano 1, nº 1, outubro de 1998. PANORAMA DOS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO DE RIO VERDE EM 20101 José Antônio Ferreira Cirino2 Adriana Souza Campos3 Resumo Este trabalho é fruto de projeto de iniciação científica que resultou em um mapeamento das mídias locais de Rio Verde (GO). O objeto de estudo está centrado nos veículos de comunicação em funcionamento neste ano de 2010. Como métodos foram adotados a pesquisa bibliográfica e documental, entrevista e pesquisa de campo. A mídia local e regional tem se destacado no cenário das comunicações midiáticas no Brasil, principalmente em um contexto em que a globalização parecia ter o poder de fazer desaparecer a diversidade cultural. Aparentemente desde o início deste século houve uma redescoberta da mídia local como um outro território, um outro mercado, que quer ser respeitado nas suas especificidades. Palavras-chave: Mídia. Local. Comunicação Regional. 1. Introdução Este trabalho é fruto de projeto de iniciação científica que resultou em um mapeamento das mídias locais de Rio Verde (GO) – emissoras de rádio, televisão e jornais impressos -, com o intuito de traçar o panorama dos veículos desta cidade. Rio Verde possui pouco mais de 160 mil habitantes (IBGE) e fica a 238 km de Goiânia. O Município se desenvolveu muito rápido nos últimos anos em decorrência da instalação de diversas indústrias. Como resultado disto também houve uma expansão da mídia local. O objeto de estudo desse trabalho está centrado nos veículos de comunicação em funcionamento neste ano de 2010: uma emissora de TV; cinco 1 Artigo resultante de Programa de Iniciação Científica dos cursos de Comunicação Social (INICIACCOM) do IESRIVER/Faculdade Objetivo realizado de agosto de 2009 a maio de 2010. O projeto de iniciação científica teve orientação da professora mestre Márcia Raduan, como atividade complementar desenvolvida por alunos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda. 2 Estudante de Graduação do 3º Semestre do Curso de Publicidade e Propaganda do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (IESRIVER) e estudante de Graduação do 2º semestre do curso de Marketing pela Universidade Paulista (UNIP) pólo Rio Verde-GO. Professor do projeto Jovem de Futuro da disciplina de Contabilidade. Monitor de Atividades Complementares dos cursos de Comunicação Social. Assessor de Marketing e Comunicação do Hospital Evangélico de Rio Verde. Email: [email protected]. 3 Orientadora, Graduada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Goiás (UFG), especialista em Assessoria em Comunicação (UFG) e mestre em Comunicação (Unimar-SP). Coordena os cursos de Comunicação Social do IESRIVER. Email: [email protected]; emissoras de rádio; seis revistas e oito jornais. É importante destacar que os veículos institucionais e os que apenas possuem plataformas digitais não foram pesquisados. Como métodos foram adotados a pesquisa bibliográfica e documental, entrevista e pesquisa de campo. Na pesquisa de campo, junto aos proprietários ou diretores dos veículos de comunicação, foram aplicados questionários com modelo padrão - entrevista estruturada. Está técnica segue um roteiro previamente estabelecido, com perguntas predeterminadas permitindo "que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas, e que as diferenças devem refletir diferenças entre os respondentes e não diferenças nas perguntas” (LODI, 1974, apud CORRÊA, 2003, p. 01). Para obtenção das respostas aos questionários estruturados, foram enviados e-mails a todos os veículos, com um resumo explicativo sobre o tema da pesquisa e apresentando em anexo os questionários estruturados. Alguns dos entrevistados responderam prontamente e, com outros, o preenchimento dos questionários foi feito por telefone. A pesquisa de campo foi desenvolvida entre março e abril de 2010. Uma entrevista não dirigida foi realizada com o objetivo de levantar a história da comunicação no Município. As observações participativas também foram elemento fundamental para a pesquisa empírica sobre a estrutura e característica dos veículos pesquisados. 2. História e Comunicação Regional Os veículos regionais ou locais, diferentemente dos de abrangência nacional, têm atuação segmentada e se distinguem pela relação direta estabelecida entre comunidade e conteúdo. Valem-se do princípio da proximidade, aplicado através do conteúdo e temáticas locais. Proximidade tanto no sentido de contiguidade e vizinhança - como também quanto à proximidade como um dos fatores de noticiabilidade para as informações, jornalísticas e de serviço. Além disso, são um formato que pode ser utilizado para intensificar as relações com a própria comunidade e o público no seu entorno, através da articulação entre a circulação e o próprio espaço territorial. Ubirajara Galli, escritor goiano, é autor do livro “A História da Indústria Gráfica em Goiás (de 1830 a 2004)” conta que no passado mais distante apareceram muitos jornais no interior e Rio Verde foi a cidade que, segundo Galli, teve maior projeção nesse setor. Aqui surgiram o “Sul de Goyaz”, no mesmo ano “A Cigarra”, o “BeijaFlor” e o “Oeste de Goyas”. Em 1899, “Centro de Goyas” e, no mesmo ano, “O Riso”. A primeira estação de rádio em Rio Verde foi a Difusora Brasileira de Rio Verde, de propriedade do político uberlandense Geraldo Ladeira - que na década de 50 foi prefeito de Uberlândia (PSD). Ladeira possuía uma rede de rádios. De acordo com Barreto (2004), a intenção das mídias regionais e locais é valorizar a produção regional, fazendo com que cada vez mais municípios participem desta iniciativa. Para o autor, não é uma forma de preservação da cultura nacional nem o fortalecimento da democracia: “é a própria cultura nacional, dentro de uma democracia viva e participativa”. Mesmo diante da potencialidade que existe no jornalismo regional, Barreto (2004) nos apresenta dados que indicam a baixa produção disseminada pelo segmento: Um dos dados mais importantes divulgados recentemente é o de que somente 8% dos municípios do país geram todos os programas de TV assistidos no Brasil inteiro. Isto é muito grave para o jornalismo regional, pois nos diz que 92% dos municípios, a maior parte resguardando evidentemente as tradições culturais deste país, são apenas espectadores do processo. (BARRETO, 2004) Desta forma se faz necessário aprofundar no conhecimento da realidade da comunicação de regiões e localidades do interior goiano, a exemplo do que propomos fazer neste trabalho, tendo como locus o município de Rio Verde – GO. A realidade da comunicação do interior, especialmente em Goiás, ainda é muito pouco estudada. Destaca-se que nos últimos anos as pesquisas no campo da comunicação regional no Estado cresceram, motivadas possivelmente pela expansão do ensino de graduação e pós-graduação na área. O maior paradigma dos veículos de comunicação no âmbito regional e local é a falta de comprometimento ético e moral com os preceitos jornalísticos da ética, objetividade e imparcialidade. Para Filadelfo Borges (2010), em Rio Verde essa falta de comprometimento também existe: “Os jornais do passado eram mais presos a grupos políticos, e hoje, são presos a empresas, que indiretamente são ligados a políticos”. Peruzzo vai além quando trata do atrelamento dos veículos com o poder público: Na prática, o jornalismo local vem revelando algumas tendências. Os laços políticos locais tendem a ser fortes e a comprometer a informação de qualidade. É comum a existência de tratamento tendencioso da informação e até a omissão de fatos, em decorrência de ligações políticas com os detentores do poder local e dos interesses econômicos de donos da mídia. Claro que não se trata apenas de um problema da imprensa regional (...) Mas, os jornais e as televisões, na prática, estão envolvidos em contradições, motivadas por vínculos políticos e interesses econômicos, que, além de comprometer a informação de qualidade e isenta, acabam por reproduzir estilos e menosprezar a força do local enquanto fonte de informação. (PERUZZO, 2005, p.78) É complicado discutir sobre tais preceitos e paradigmas confrontantes com a ética jornalística quando se vê claramente os interesses pessoais dos proprietários dos veículos em detrimento a imparcialidade dos fatos. Martins e Silva destacam que “a produção da informação na imprensa interiorana ainda é um desafio para a manutenção e vivacidade da ética. A imprensa do interior tende a ser opinativa e pouco imparcial”. As observações participativas empreendidas para o desenvolvimento deste trabalho nos permitem afirmar que, em Rio Verde, boa parte dos veículos assume uma posição tendenciosa e parcial dos fatos. O caráter opinativo característico da mídia impressa interiorana existe devido a padrões pré-determinados que vão além do despreparo para atuação na área (Martins e Silva). Um dos fatos que prova isso são os laços do veículo com os órgãos de poder público e executivo, não descartando também, as empresas com poder para alavancar o faturamento destes. Por esse motivo, a consciência regional, necessária para a união de esforços em prol do desenvolvimento regional, é frágil. O fortalecimento do sentimento de regionalidade só será possível, portanto, se houver uma gestão comunicacional que divulgue, esclareça, motive e incentive a participação de todos os setores da sociedade na discussão das questões que a eles interessam. (SANTOS, LICHT e GIL, 2005) Embora a comunidade receptora dos produtos comunicacionais da mídia local ainda receba conteúdos, vez ou outra parciais, sua presença é fundamental para o fortalecimento do sentimento de pertença a uma região. (SANTOS, LICHT e GIL, 2005) 3. Características dos Meios Para dar suporte às descrições e análises sobre os veículos é necessário retomar conceitos sobre as particularidades de cada um. Charadeau (2007) evoca as características principais da televisão, que se resume em “imagem e fala, fala e imagem”. Não somente a imagem, como se diz algumas vezes quando se trata de denunciar seus efeitos manipuladores, mas imagem e fala numa solidariedade tal, que não se saberia dizer de qual das duas depende a estruturação do sentido. A televisão é o “Olimpo da Comunicação” (FIGUEIREDO, 2005). Já o rádio é para Charadeau (2007), o conjunto voz, sons, música e ruído é que o inscreve numa tradição oral, sem acompanhamento de imagem, nenhuma representação figurada dos locutores nem dos objetos que produzem as vozes. Produz, como o próprio afirmou, “uma magia particular através da ausência de encarnação, e da onipresença de uma pura voz, chegando-se a identificar o tom que deixa aflorar o mistério da sedução”. Sendo ainda, por excelência, a mídia da transmissão direta e do tempo presente. Para Figueiredo (2005), o rádio é fundo, trilha do dia-a-dia das pessoas. Quando se trata das características do jornalismo impresso, destacam-se as possibilidades de espaço e tempo de contato com o receptor. Com base em Charadeau (CHARADEAU, 2007, p.113), podemos afirmar que a “imprensa é essencialmente uma área escritural, feita de palavras, de gráficos, de desenhos e, por vezes, de imagens fixas, sobre um suporte de papel”. Esse conjunto de técnicas inscreve essa mídia numa tradição escrita que se caracteriza essencialmente por: uma relação distanciada entre aquele que escreve e aquele que lê. Em relação às especificidades de revista e jornais, Figueiredo (2005) esclarece: a primeira tem uma circulação e uma durabilidade maior devido a seu suporte de impressão mais resistente, o que não ocorre com o jornal - “o jornal de hoje, embrulha o peixe de amanhã”. QUADRO 1 - Panorama dos veículos de comunicação rio-verdenses Veículo Fundaçã o 2009 Responsável Peculiaridades André Furquim Jornal Folha da Cidade Jornal Folha de Rio Verde Jornal News 1999 Jesus Catarino de Oliveira 1988 Egídio Brizola Quinzenal. Formato Germânico. 16 páginas. Tiragem: 6 mil. Distribuição gratuita em Rio Verde e Região. Quinzenal. Formato Standard. 16 páginas, 8 coloridas. Tiragem: 5 mil. Distribuição Gratuita: Rio Verde e Região. Mensal. Formato Standard. 8 páginas. Tiragem: 3,5 mil. Distribuição Gratuita em Rio Verde. 1994 Henrique Kringer S. Pereira Jornal O Acadêmico 2009 IESRIVER/Faculda de Objetivo Jornal O Espaço 1993 João de Freitas Jornal Tribuna do Sudoeste Rádio 96 FM Rádio Cidade FM Rádio Líder FM Rádio Morada do Sol Rádio Rio Verde AM Revista Casa & Casa e Revista Saúde & Você Revista Ella e Revista Plantar Sudoeste Jornal 2005 Grupo Tribuna do Planalto 1990 Organização Júlio Capparelli Lissuaer Vieira Jornal Fatos 2009 2009 1990 1950 2008/200 9 2004 Luciane Mascarenhas Janete Nascimento e Renata Nascimento Organização Júlio Capparelli Sandra Adam e Hugo Reis/Ângelo Graciano Divino Onaldo Quinzenal. Formato Standard e Tablóide (coluna social). Tiragem: 5 mil. Distribuição gratuita em Rio Verde e Região. Mensal. Formato Tablóide Americano. 12 páginas, 6 coloridas. Tiragem: 1 mil. Distribuição Gratuita em Rio Verde e Região. Quinzenal. Formato Standard. 8 páginas. Tiragem: 6 mil. Distribuição Gratuita em Rio Verde e Região. Gráfica: Imprima, em Uberaba. Semanal. Formato Standard. Tiragem: 6 mil. Distribuição Gratuita em Rio Verde e Região. Gráfica: própria, do Grupo Tribuna do Planalto. Atinge as classes AB e C, com programação alternativa e vários estilos musicais. O público da rádio, de acordo com os dados divulgados pela emissora, é AB. Possui como principais programas: “Jornal A Força do Povo” e “Manhã 95”. Apresenta-se como veículo que pretende atingir a todas as classes sociais e idades, com uma programação variada. Possui 10 quilowatts de potência e dial 900, abrangendo todo o sul e sudoeste goiano. Bimestral. Formato 21x28cm. 56 páginas. Tiragem: 5 mil. Distribuição Gratuita e Dirigida em Rio Verde e Região. Mensal/Bimestral. Formato 21x28cm. Tiragem: 10 mil. Distribuição Gratuita e dirigida em Rio Verde e Região. 2007 Organização Júlio Quinzenal. Formato Tablóide Americano. 12 Capparelli páginas. Tiragem: 10 mil. Distribuição Gratuita e Dirigida em Rio Verde e Região. TV Riviera 1990 Organização Dentre a colocação regional, os programas da TV Jaime Camara Riviera estão entre os 30 com maior audiência da Rede Globo. Fonte: Quadro elaborado pelo autor dessa pesquisa embasado nos dados coletados. 3.1 Emissora de TV Em Rio Verde existe apenas uma emissora de TV, sendo que ela pertence a Rede Anhanguera de Televisão, afiliada da Rede Globo em Goiás. No Estado, essa relação de intercâmbio entre o nacional e o local fica clara na grade de programação da TV Anhanguera, emissora afiliada à Rede Globo e que faz parte de uma rede de emissoras de televisão pertencente ao grupo Organização Jaime Câmara, um dos maiores grupos regionais de mídia do Brasil. (CAMPOS, 2008) É interessante como a Rede Globo se aproveitou desse novo mercado, o mercado regional, para aumentar seu faturamento abrindo possibilidades de emissoras se filiarem. Percebe-se a retomada do processo de regionalização da comunicação ou mesmo da produção regionalizada em várias emissoras que integram redes de comunicação como forma de fidelização do telespectador ou como estratégias que abarcam novas alternativas de apelo comercial. (CAMPOS, 2008, p. 221). 3.1.1 TV Riviera De propriedade da Organização Jaime Câmara, na “Tv Riviera – Você se vê na sua tv!”. É a única emissora de Rio Verde, fundada em 1990, com programação local jornalística voltada para todos os públicos e com assuntos do cotidiano. Possui uma equipe de 14 jornalistas, sendo Rimenes Prado o Editor-chefe. Dentre a colocação regional, os programas da TV Riviera estão entre os 30 com maior audiência da Rede Globo, atingindo quase 350 mil pessoas em 20 municípios da região. 3.2 Emissoras de Rádio AM e FM São cinco emissoras de rádio em Rio Verde, sendo uma AM e quatro FM. A AM possui conteúdo exclusivamente de cunho religioso. As FMs tem conteúdo misto, indo de notícias a entretenimento. A maioria delas tem em sua grade de programação um programa jornalístico. Esses programas apresentam doses de polêmica nos comentários dos locutores, que dão o tom dos programas. É comum a personificação do programa pelo locutor, tamanho reconhecimento dele em meio ao público ouvinte. No último ano, duas rádios mudaram seus nomes quando mudaram de proprietários: a rádio Positiva passou a se chamar Líder e a Terra tornou-se Rádio Cidade. 3.2.1 Rádio 96FM A “Rádio 96 FM – A rádio da cidade” entrou em funcionamento em 1990, com 10 quilowatts de potência e dial 96,9, abrangendo todo o sul e sudoeste goiano. Atinge as classes AB e C, com programação alternativa e vários estilos musicais (predominam rock e pop nacional/internacional). Faz parte da Organização Júlio Capparelli. 3.2.2 Rádio Cidade A rádio Cidade FM tem por slogan “Aqui é bem melhor” e foi fundada em 2009. O proprietário atual é Lissauer Vieira e foi o responsável pela troca de nome da rádio, conforme mencionado anteriormente. O público da rádio, de acordo com os dados divulgados pela emissora é AB, mas por observação participativa pode-se inferir que somente uma pesquisa mais aprofundada de audiência poderia estabelecer, com precisão, o público. 3.2.3 Rádio Líder 95 FM A Rádio Líder já foi chamada de Positiva e, anteriormente, Interativa. Hoje pertence a Luciane Mascarenhas. Passou a funcionar como Líder FM em 2009. Possui como principais programas: “Jornal A Força do Povo”, “Flashback Sertanejo” e “Manhã 95”. 3.2.4 Rádio Morada do Sol A Rádio Morada do Sol, que tem como proprietários a Janete Nascimento e Renata Nascimento, foi fundada em 1990. Apresenta-se como veículo que pretende atingir a todas as classes sociais e idades, com uma programação variada, que vai desde o jornalismo policial e popular, com o programa do Costa Filho, até programas de entretenimento. 3.2.5 Rádio Rio Verde AM A Rádio Rio Verde AM entrou em funcionamento em 1950. Possui 10 quilowatts de potência e dial 900, abrangendo todo o sul e sudoeste goiano num raio de 200 km. Como sua programação musical é 100% gospel, o público se limita a ouvintes desse estilo musical e religioso. Faz parte da Organização Júlio Capparelli. 3.3 Impressos – Jornais e Revistas “O jornalismo regional, como conta Gastão Thomaz de Almeida, ainda é conhecido pelo seu ‘abre e fecha de jornais’”, afirma Martins e Silva. Mas é com esses jornais e revistas vai-e-vem que a região é representada e tem sua cultura valorizada – ao menos em tese. Em Rio Verde, esse quadro também caracteriza o meio impresso. Os jornais e as revistas no interior, em sua maioria, são produtos da indústria cultural, no sentido de que seu planejamento principal é o de faturamento com a comercialização de espaços publicitários, em detrimento da linha editorial e o conteúdo a ser passado. 3.3.1 Jornal Fatos O Jornal Fatos foi nomeado assim, de acordo com o proprietário e editor André Furquim, devido a um trabalho executado quando ainda cursava a faculdade de Jornalismo - curso que abandonou no segundo semestre. A publicação foi fundada em 2009 e tem como público-alvo as classes AB e C. Possui uma equipe de três repórteres – todos estagiários, acadêmicos de Jornalismo do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (IESRIVER). A periodicidade do Jornal Fatos é quinzenal, impresso no formato Germânico, com tiragem de 6 mil exemplares, 16 páginas - com as capas coloridas (inclusive do caderno Mulher) e é distribuído gratuitamente – porém possui alguns clientes que assinam o periódico para receberem em casa (Rio Verde e cidades vizinhas). 3.3.2 Jornal Folha da Cidade O jornal Folha da Cidade apresenta como slogan “Essa folha também é sua”. Pertence a Jesus Catarino de Oliveira, que nomeou o jornal desta forma no intuito de criar uma proximidade com o público, deixando claro seu caráter local. Foi fundado em 1999 e já foi chamado de “Jornal Alternativo”. Possui oito colaboradores, um deles é jornalista diplomado. É distribuído gratuitamente, com periodicidade quinzenal, no formato Standard, com 16 páginas – sendo 8 coloridas. Apresenta tiragem de 5 mil exemplares e é distribuído prioritariamente em Rio Verde. Em resposta às perguntas enviadas por este autor, o proprietário e editor do jornal deixa clara sua opinião em relação ao cenário da comunicação Rio-verdense: Considero que Rio Verde está dando importantes passos em relação à comunicação. (...) Já a comunicação escrita... esta falta muito para acompanhar o crescente desenvolvimento do município. Isto se dá devido a muitos jornais que circulam há vários anos no município com o único objetivo de promover este ou aquele político, ou o que é pior, é utilizado para denegrir a imagem de autoridades políticas. Geralmente este tipo de veículo circula por algum tempo e depois desaparece, o que é lamentável. (OLIVEIRA, Jesus Catarino de. Entrevista em 15 abril 2010) 3.3.3 Jornal Folha de Rio Verde O jornal Folha de Rio Verde tem como proprietário Egídio Brizola, jornalista que atua na comunicação local há duas décadas, e fundou esse impresso em 1988. O Jornal tem como slogan “O melhor jornal da cidade” e funciona com uma equipe de três pessoas, que de acordo com ele, ”antigamente precisava de muita gente, hoje é mais fácil, a editoração eletrônica auxiliou na redução de funcionários, eventualmente conto com um freelancer”. Atualmente apresenta periodicidade mensal – já foi semanal, quinzenal e esporádico -, no formato Standard com 8 páginas, a maioria colorida e tiragem de 3,5 mil exemplares. É distribuído gratuitamente em Rio Verde. A falta de periodicidade da publicação se deve ao fato, em algumas ocasiões, de ausência de contratos de publicidade com a administração pública. 3.3.4 Jornal News De propriedade do Henrique Kringer Silva Pereira, o “Jornal News - Desde 1994 fazendo história em Rio Verde” possui equipe de reportagem terceirizada e contrata freelancers - acadêmicos de jornalismo. Contempla temas como política, economia, educação, construção civil, saúde e possui um caderno para o Colunismo Social. É impresso quinzenalmente. Com dois cadernos, um standard e o outro tablóide – colorido, tiragem de 5 mil exemplares e distribuição gratuita. 3.3.5 Jornal O Acadêmico O jornal laboratório – O Acadêmico é vinculado ao curso de Jornalismo do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (IESRIVER) e foi fundado em 2009. Por não se tratar de impresso tradicional, sua inclusão nesta pesquisa é apenas a de apresentar a publicação como integrante da comunicação regional. 3.3.6 Jornal O Espaço “Jornal O Espaço - O jornal que faz a diferença” é outro impresso de Rio Verde. A publicação já foi chamada de Espaço Aberto, mas “fomos pesquisar para o registro da patente e já havia uma disputa por esse nome, e decidimos por colocar apenas Espaço”, esclarece o proprietário João de Freitas. Fundado em 1993, seu foco principal é a política - 80% do conteúdo. Distribuído gratuitamente em Rio Verde e região “e nos bastidores do poder em Goiânia”. Tiragem quinzenal, no formato Standard com 8 páginas e 6 mil exemplares. 3.3.6 Jornal Tribuna do Sudoeste O Jornal Tribuna do Sudoeste é filiado ao grupo Tribuna do Planalto, de propriedade do Sebastião Rosa. Fundado em 2005 é impresso semanalmente, no formato Standard, com tiragem de 6 mil exemplares e distribuição gratuita. Fernando Machado, repórter do jornal, analisa o cenário rio-verdense: Vejo que existe uma demanda crescente por profissionais qualificados tanto no mercado publicitário quanto jornalístico. A quantidade de profissionais aptos a desempenhar funções importantes nesse mercado ainda é muito pequena, o que dá margem para que profissionais de outros segmentos atuem de maneira quase sempre improvisada ou para que sejam contratados profissionais de outras localidades. (MACHADO, Fernando. Entrevista em 18 abril 2010) O jornalista reforça a importância do curso de Jornalismo na Cidade: “nesse contexto, estou convicto de que o papel de uma faculdade de Comunicação Social no município é fundamental para a profissionalização do segmento em toda a região Sudoeste e para que existam condições dignas de trabalho”. 3.3.7 Sudoeste Jornal É mais um veículo que integra a Organização Júlio Capparelli. O “Sudoeste Jornal – O Jornal que ajuda você a pensar” foi fundado em 2007. A publicação se intitula: “órgão analítico, objetivando sedimentar a circulação de novas idéias, divulgar informações objetivas e promover a visão crítica de jornalismo independente, mas igualmente responsável”. É quinzenal, no formato Tablóide Americano, com 12 páginas, tiragem de 10 mil exemplares e distribuição gratuita. 3.3.8 Revista Ella e Revista Plantar A “Revista Ella – O melhor estilo para você” e a “Revista Plantar – O espaço do agronegócio” possuem o mesmo proprietário, Divino Onaldo Silva. “Fundadas há seis anos, as revistas objetivam levar informações de qualidade a seus leitores. Cada uma abrange uma área específica. A Plantar é voltada para o Agronegócio e a ELLA abrange o universo feminino”, informa o proprietário que acredita na importância dos veículos locais: “é o veículo local que fala a linguagem do povo da cidade ou região”. A revista “Ella” é impressa bimestralmente e a “Plantar” mensalmente. Possuem o mesmo formato (21x28 cm) e tiragem de 10 mil exemplares. Distribuição gratuita e dirigida. 3.3.9 Revista Casa & Casa e Revista Saúde & Você A “Revista Casa e Casa” e a “Revista Saúde & Você – Saúde em primeiro lugar” também possuem proprietários em comum. São eles: Sandra Adam e Hugo Reis. Apenas na Saúde & Você, inclui-se um outro sócio: Ângelo Graciano. A Revista Casa e Casa é voltada para assuntos de decoração e arquitetura e foi fundada em 2008. A Saúde & Você trata de assuntos relacionados à saúde. Foi fundada em 2009. São impressas bimestralmente, com 56 páginas, 5 mil exemplares de tiragem, distribuídos gratuitamente em Rio Verde e região. 3.3.10 Revista Nomes A Revista Nomes, de propriedade de Bruno França e Julliano França é voltada a publicação de artigos e matérias de variedades. Seu “atrativo” consiste em 10 páginas de uma coluna social, expondo fotos de pessoas renomadas do Município. É distribuída gratuitamente e possui 72 páginas. Tamanho: 28x24cm. 3.3.11 Revista Society A Revista Society pertence a Ana Paula Campos, Lúcia Campos e Natália Campos. É voltada para a “alta” sociedade. Divulga festas de casamentos, aniversários, e publica um ou outro artigo relacionado a esses temas. É impressa em tiragem de 15 mil exemplares, distribuída gratuitamente. Possui 54 páginas e tamanho de 32x16cm. As revistas Nomes e Society não responderam às questões encaminhadas e as informações obtidas são fruto de pesquisa documental nas respectivas publicações. 4. Considerações Finais A cidade de Rio Verde-GO bem como a sua diversidade de veículos de comunicação pode ser considerada um vasto campo para os estudos de mídia. Essa pesquisa representa uma tentativa de levantar elementos sobre a pesquisa de mídia local e regional no âmbito das investigações feitas. Tem caráter inicial, assim como é inicial a pesquisa sobre os veículos de comunicação Rio-verdenses. Os grupos de mídia regionais estão se desenvolvendo como empresa, de fato regional, com maior número de produções e notícias tanto na esfera local, quanto na esfera global. Representam um número cada vez maior de investidores que apostam no aperfeiçoamento e nos altos investimentos, provando que os grupos midiáticos regionais se atentaram para a importância do profissionalismo e da qualidade da mídia local. Por outro lado, as mídias locais conquistaram seu espaço, independente de suas intenções mercadológicas, o cenário da mídia Rio-verdense demonstra a necessidade da população em ver suas opiniões, cultura e fatos sendo expostos e documentados dando a possibilidade de faturamento dos veículos que preenchem esse espaço no mercado atual. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARRETO, Gustavo. Jornalismo Regional. Consciência.net, 2004. Disponível em: <http://www.consciencia.net/2004/mes/03/barreto-regional.html>. Acesso em: 15 abr. 2010. BORGES, Filadelfo. Filadelfo Borges: depoimento [abr. 2010]. Entrevistador: José Antônio Ferreira Cirino. Rio Verde: Casa da Cultura, 2010. Entrevista concedida ao Projeto de Iniciação Científica. CAMPOS, Adriana Souza. A audiência da TV Regional no cerrado goiano: a Rede Anhanguera de Televisão in Estudos de mídia regional, local e comunitária. São Paulo: Arte & Ciência/Unimar, 2008. CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2007. CORRÊA, Paulo. Perfil contemporâneo da imprensa limeirense. Originalmente apresentado como Programa de Iniciação Científica do ISCA Faculdades, 2003. Disponível em: <http://www.iscafaculdadescom.br/nucom/artigo_12.htm>. Acesso em: 15 mar. 2010. FIGUEIREDO, Celso. Redação publicitária: sedução pela palavra. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. GALLI, Ubirajara. A História da Indústria Gráfica em Goiás: de 1830 a 2004. Goiânia: Contato Comunicação, 2004. MARTINS, Salvador Lopes; SILVA, Esdras Domingos da. A cara do jornalismo no interior. Disponível em: <http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd3/jornal/salvadorlopesmartins_esdrasdom ingosdasilva.doc>. Acesso em: 15 abr. 2010. PERUZZO, Cicília M. Krohling. Mídia Regional e local: aspectos conceituais e tendências. Comunicação & Sociedade. São Bernardo do Campo: Póscom-Umesp, a. 26, n. 43, p. 67-84, 2005. SANTOS, Roberto Elísio; LICHT, René Henrique Gotz; GIL, Antonio Carlos. A comunicação regional no contexto da globalização: uma reflexão sobre a região do grande ABC. Disponível em: <http://www.uscs.edu.br/.../projetos_arq/?f=comunicacao_regional...pdf>. Acesso em: 01 abr. 2010. PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CLIENTES COM HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA E DIABETES MELLITUS: EVIDÊNCIAS PARA O ENSINO DO AUTOCUIDADO Ann Otília Paiva Ferreira1 Carla Ribeiro da Silva Santos1 Berenice Moreira2 Reila Campos de Araújo Guimarães 3 Thatiane Marques Torquato4 Mariza Vieira Perez 4 Resumo As doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares (CV) acometem principalmente a população adulta, sendo assim as principais causas de morbimortalidade nessa população. De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), uma pessoa é dita como hipertensa quando é observado em aferições a pressão com valor igual ou superior a 140/90mmHg. Segundo o Consenso Brasileiro de Diabetes (2002) o Diabetes Mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos, além disso é o fator de risco maior para as DCV, principalmente se associado a hipertensão e tabagismo. Buscou-se com este estudo traçar o perfil social e epidemiológico dos clientes com hipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus (DM) em unidade de referência do município de Rio Verde e identificar os fatores mais relevantes para abordagem educativa em enfermagem. Caracteriza-se por uma pesquisa documental, quantitativa, realizada através de dados obtidos dos 7797 cadastros dos clientes (HIPERDIA), referente ao ano de 2007. Identificou-se que o perfil dos clientes é formado por sua maioria de: mulheres, brancas, de baixa escolaridade, acima de 61 anos, sedentárias, com obesidade e que já apresentaram infarto agudo do miocárdio (IAM) como complicação dessas patologias. O presente estudo buscou agregar informações sobre o desenvolvimento, aparecimento e prevenção das complicações decorrentes das DCV e CV, oferecendo subsídio para uma melhor assistência aos clientes, através da Teoria do Autocuidado de Orem e servindo como fonte futura de informações para pesquisas. Palavras-Chave: Diabetes. Perfil Epidemiológico. Hipertensão Arterial ____________________________ ! Enfermeiras Especialistas em Formação Pedagógica na Saúde – FIOCRUZ, Mestrandas em Ciências Ambientais e Saúde –PUC -GO, Docentes do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER. " Enfermeira Mestre em Ciências da Saúde - UNB, Docente da Fesurv. 3 Enfermeira Especialista em Morfofisiologia – UFG, Coordenadora do Centro de Referência em Hipertensão e Diabetes – CRHD – Rio Verde - GO. 4 Acadêmicas de Enfermagem do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER. 1. Introdução A frequência das doenças cardiovasculares (DCV) e cerebrovasculares (CV) representam importantes causas de morbi-mortalidade na população adulta, resultando em incapacidades físicas, diminuição da qualidade de vida (QV) e morte. A HAS é definida pela Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) com valores de pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD) respectivamente, iguais ou superiores a 140/90 mmHg. Chega atingir uma prevalência de 43,9% na população brasileira. A HAS é um fator de risco bem estabelecido para as DCV e insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Portanto, há uma necessidade epidemiológica de identificar a prevalência dos fatores de risco presentes na população brasileira no sentido de ampliar as políticas públicas de saúde. Outro agravante é o diabetes mellitus (DM), pois a doença coronariana ocorre mais comumente em diabéticos do que na população em geral. O DM é fator de risco maior para as DCV, principalmente se associado a hipertensão e tabagismo. No Brasil, junto com a HAS, o diabetes é responsável pela primeira causa de mortalidade e hospitalizações, de amputações de membros inferiores, além de 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica submetidos à diálise. (DIABETES, 2002) Grande impacto econômico ocorre nos serviços de saúde com os custos do tratamento dessas doenças. Contudo, a família desses portadores também sofrem com o ônus econômico advindos das complicações, redução da expectativa e qualidade de vida. Mudanças neste cenário poderão ocorrer considerando-se as mudanças no estilo de vida, como hábitos alimentares, cessação do tabagismo e prática de atividade física, sobretudo, a adesão do paciente ao tratamento terapêutico. O Ministério da Saúde vem implementando ao longo dos anos, estratégias e ações para o controle destes e outros agravos. Entre eles, está o Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus – HIPERDIA, aprovado pela Portaria/GM n° 16, de 03/01/2002. Este plano tem por objetivos: 1- Implantar o cadastramento dos portadores de hipertensão e diabetes mediante a instituição do Cadastro Nacional de Portadores de Hipertensão e Diabetes; 2- Ofertar de maneira contínua para a rede básica de saúde os medicamentos para hipertensão, como: hidroclorotiazida 25 mg, propanolol 40 mg e captopril 25 mg e diabetes, como: metformina 850 mg, glibenclamida 5mg e insulina definidos e propostos pelo Ministério da Saúde, validados e pactuados pelo Comitê do Plano Nacional de Reorganização da Atenção a Hipertensão Arterial e Diabetes; 3 - Acompanhar e avaliar os impactos na morbi-mortalidade para estas doenças decorrentes da implementação do Programa Nacional. Em Rio Verde-GO, cidade com uma população estimada em 151 mil habitantes, localizada no sudoeste goiano, o programa teve início em 2002, realizando cadastros e dispensação de medicamentos a comunidade. Em 12/06/07 foi implantando o Centro de Referência e Hipertensão – CRHD a fim de reorganizar e implementar as ações voltadas aos diabéticos e hipertensos do município. A equipe multiprofissional do CRHD é composta por: 2 endocrionologistas, 1 cardiologista, 1 enfermeiro, 1 psicológo, 1 fisioterapeuta, 1 farmacêutico, 1 nutricionista e 1 educador físico. Desta forma, o presente estudo tem por objetivos: traçar o perfil social e epidemiológico dos clientes com HAS e DM em um Centro de Referência de Hipertensão e Diabetes no município de Rio Verde – GO e identificar os fatores de risco para doenças cardiovasculares e cerebrovasculares mais relevantes para abordagem educativa em enfermagem. 2. Metodologia Trata-se de uma pesquisa do tipo documental com abordagem quantitativa realizada no Centro de Referência em Hipertensão e Diabetes – C.R.H.D, que é responsável pelo atendimento multidisciplinar de indivíduos hipertensos e diabéticos do município de Rio Verde – GO. As amostras foram obtidas através da análise de dados dos 7797 cadastros do Programa HIPERDIA, referentes ao ano de 2007. Os dados foram dispostos em tabelas que demonstram o perfil social e epidemiológico para os três grupos, sendo: Grupo 1: indivíduos hipertensos. Grupo 2: indivíduos diabéticos. Grupo 3: indivíduos com associação de HAS e DM. As variáveis utilizadas para apresentação dos resultados foram: sexo, escolaridade, raça/cor, fatores de risco para DCV e CV e presença de complicações. 3. A Hipertensão Arterial A hipertensão arterial é definida como uma pressão arterial sistólica maior ou igual a 140 mmHg e uma pressão diastólica maior ou igual a 90 mmHg. (HIPERTENSÃO, 2006) É uma enfermidade de origem multicausal e mutifatorial. A pressão arterial (PA) depende de fatores físicos, como o volume sangüíneo e a capacitância da circulação, sendo resultante da combinação instantânea entre o volume minuto cardíaco (ou débito cardíaco = freqüência cardíaca x volume sistólico), e da resistência periférica. Tabela 1 - Classificação diagnóstica da hipertensão arterial de maiores de 18 anos CLASSIFICAÇÃO ÓTIMO NORMAL LIMÍTROFE HIPERTENSÃO ESTÁGIO 1 HIPERTENSÃO ESTÁGIO 2 HIPERTENSÃO ESTÁGIO 3 HIPERTENSÃO SISTÓLICA ISOLADA PRESSÃO SISTÓLICA PRESSÃO DIASTÓLICA (mmHg) (mmHg) <120 <80 <130 <85 130 – 139 85 – 89 140 – 159 90 – 99 160 – 170 100 – 109 >= 180 > 110 >=140 <90 Fonte: V Diretrizes Brasileiras da Hipertensão Arterial – SBH – 2006 Quando as pressões sistólica e diastólica de um paciente situam-se em categorias diferentes, a maior deve ser utilizada para classificação da pressão arterial (HIPERTENSÃO, 2006). O controle adequado da pressão arterial é imprescindível à manutenção da pressão de perfusão tecidual nos diversos órgãos e sistemas em mamíferos, colaborando para a homeostase cardiovascular. Assim, a HAS exige diagnóstico e tratamento adequado por especialistas, pois sua elevação representa um fator de risco independente, linear e contínuo para doença cardiovascular. As complicações que podem advir da HAS não-controlada são: doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades (HIPERTENSÃO, 2006). 4. Diabetes Mellitus O diabetes mellitus (DM) é uma síndrome metabólica de etiologia múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade da insulina de exercer adequadamente seus efeitos. Principais tipos: DM tipo 1 e DM tipo 2 (DIABETES, 2002) . O DM pode ser classificado em 2 tipos principais: O DM tipo 1 resulta primariamente da destruição das células beta pancreáticas, geralmente ocasionando deficiência absoluta de insulina, de natureza auto-imune ou idiopática (causa da destruição das células não é conhecida). Corresponde a 5 a 10 % do total dos casos. É comumente observada em crianças e adolescentes (PRETO, 2006). O DM tipo 2 resulta, em geral, de graus variáveis de resistência à insulina e deficiência relativa de secreção de insulina. O diagnóstico é feito comumente em indivíduos adultos, com idade acima de 40 anos. Os valores glicêmicos ideais preconizados pela Sociedade Brasileira de Diabetes (2002) indicam: glicemia em jejum entre 70 a 99 mg/dl e glicemia pósprandial (pós-refeição) < 140 mg/dl. Tanto a HAS como DM não tem cura, porém suas complicações podem ser evitadas. 5. Resultados e Discussão Na tabela 1 foram dispostos os valores em número e porcentagem dos pacientes portadores de hipertensão, diabetes e diabetes + hipertensão cadastrados no CRHD em 2007, Rio Verde-GO. Tabela 2 – Número e porcentagem de pacientes portadores de hipertensão, diabetes e diabetes + hipertensão cadastrados no CRHD em 2007, Rio Verde-GO HIPERTENSÃO - GRUPO 1 DIABETES – GRUPO 2 DIABETES + HIPERTENSÃO – GRUPO 3 TOTAL Nº 4961 885 1951 7797 % 63,63 11,35 25,02 100 O grupo 1, formada de hipertensos, representa a maior população do estudo, indicando que esta é a doença mais prevalente entre os pacientes cadastrados no Programa HIPERDIA, totalizando um número de 4961 indivíduos, o que representa 63,63% do total de cadastros. No Brasil esta doença, segundo a SBH, acomete 43,9% da população brasileira. Gráfico 1 - Distribuição de clientes quanto ao sexo Grupo 1 Grupo 2 HIPERTENSOS 70% 61,10% 60% 50% 39,90% 40% 30% 20% 10% 0% Feminino Masculino Grupo 3 Na comparação geral, quanto à distribuição do sexo, entre os 3 grupos estudados, houve prevalência do sexo feminino. De acordo com Magnabosco e Tavares (2005) este dado se dá pelo fato de que as mulheres percebem e relatam seus problemas de saúde mais do que os homens, assim como procuram mais pelos serviços de saúde. Tabela 3 – Distribuição dos clientes quanto ao nível de escolaridade Grupo 1 ESCOLARIDADE NÚMERO % ENS. FUND. 1703 34,32 ENS. MÉDIO 392 7,9 ENS. SUP. 60 1,2 ALFABETIZADO 1088 21,93 ANALFABETOS 971 19,57 IGNORADOS 747 15,08 TOTAL 4961 100 ___________________________________ Grupo 2 ESCOLARIDADE NÚMERO % ENS. FUND. 353 39,8 ENS. MÉDIO 130 14,8 ENS. SUP. 19 2,3 ALFABETIZADO 114 12,8 ANALFABETOS 113 12,7 IGNORADOS 156 17,6 TOTAL 885 100 ___________________________________ Grupo 3 ESCOLARIDADE NÚMERO % ENS. FUND. 788 40,4 ENS. MÉDIO 141 7,3 ENS. SUP. 35 1,8 ALFABETIZADO 303 15,5 ANALFABETOS 395 20,2 IGNORADOS 289 14,8 TOTAL 1951 100 ___________________________________ Quanto ao nível de escolaridade foi verificado que, a maioria dos clientes cadastrados no Programa HIPERDIA possuem baixa escolaridade. Este fato, segundo Saúde (2002), está inversamente relacionado com a ocorrência de complicações da HAS e DM, já que o grau de instrução interfere e determina o tipo de trabalho que o indivíduo terá bem como, influencia na renda familiar, proporcionando condições sócio-econômicas precárias. Além disso, o grau de instrução também está relacionado à compreensão do indivíduo acerca do que é uma doença crônica, dos fatores de risco que contribuem para sua instalação e do significado atribuído as orientações sobre: alimentação, hábitos de vida e seus efeitos sobre a saúde, portanto, quanto maior o nível de escolaridade menor a prevalência de complicações. Tabela 4 – Distribuição dos clientes quanto a raça/cor Grupo 1 RAÇA/COR NÚMERO % BRANCA 2351 47,3 PRETA 946 19,06 PARDA 856 17,25 AMARELA 21 0,42 INDÍGENA 6 0,12 NÃO INFORMADO 781 15,85 TOTAL 4961 100 ________________________________ Grupo 2 RAÇA/COR NÚMERO % BRANCA 469 52,9 PRETA 155 17,5 PARDA 98 11,1 AMARELA 10 1,2 INDÍGENA 1 0,2 NÃO INFORMADO 152 17,1 TOTAL 885 100 ________________________________ Grupo 3 RAÇA/COR NÚMERO % BRANCA 991 49,6 PRETA 408 20,4 PARDA 302 15 AMARELA 12 0,6 INDÍGENA 1 0,05 NÃO INFORMADO 284 14,35 TOTAL 1998 100 ________________________________ Quanto à variável raça/cor houve predominância na maioria dos grupos de estudo, de brancos. Embora a Hipertensão (2006) relate que, HAS seja mais prevalente em afrodescendentes com excesso de risco de até 130% em relação aos brancos. Para a Diabetes (2006), este item não representa um fator de risco para DM. Mas, de acordo com Saúde(2002) este dado se dá pela existência de diferenças nas condições socioeconômicas da população, que apontam para a necessidade de outros estudos que considerem o quesito raça/cor, voltados para o acesso aos serviços de saúde. Gráfico 2 – Distribuição de clientes quanto aos fatores de risco para DCV e CV Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 No estabelecimento do perfil de fatores de risco para DCV e CV nos grupos de estudo, verificou-se que, o fator antecedentes cardiovasculares prevaleceu no grupo 1. Porém, Hipertensão (2006) afirma que a presença isolada deste fator de risco não é suficiente para desencadear uma DCV e/ou CV, pois estas ocorrem comumente na forma combinada, ou seja, além da predisposição genética, fatores ambientais contribuem para uma agregação de fatores de risco cardiovasculares, em famílias com estilo de vida pouco saudáveis. No grupo 2, a variável sedentarismo prevalece. Como afirma Diabetes (2002) este é um fator de risco modificável, pois, quanto menor o nível de atividade física maior o risco de se desenvolver uma DCV. Além disso, na presença de DM todos os outros fatores de risco são potencializados. Na análise do grupo 3 houve predominância do fator de risco obesidade. Este também é um fator de risco modificável e decorre da falta de hábitos de vida saudáveis. A obesidade, sobretudo a abdominal, é um fator de risco muito forte para desenvolvimento de DCV, já que a obesidade na maioria desses casos também está ligada a outros fatores de risco. (PRETO, 2006). Gráfico 3 – Distribuição de complicações associadas ao DM e HAS entre os clientes Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Na análise dos gráficos quanto às complicações associadas, percebe-se que, no grupo 1, o infarto agudo do miocárdio (IAM) foi a principal complicação evidenciada. Isto se deve ao fato de que a HAS é um dos três fatores de risco mais significantes para seu surgimento. Entre os diabéticos, a complicação predominante foi o pé diabético. Um dos agravantes trata-se da glicemia descompensada que acarreta a perda de sensibilidade do pé – neuropatia. No grupo 3 o IAM predomina. Diante da análise dos gráficos, constata-se que as complicações evidenciadas na pesquisa são resultado de vários fatores de risco passíveis de modificações, exceto os antecedentes cardiovasculares, que poderiam ter sido evitados desde que fosse feito uma prevenção primária, sobretudo, com mudanças do estilo de vida e tratamento medicamentoso específico. Dessa forma, surge a necessidade de se estabelecer cuidados de enfermagem embasados pela Teoria do Autocuidado (AC) de Orem. 6. Teorias de Orem 6.1 Teoria do Autocuidado (AC) A Teoria do AC de Orem foi desenvolvida entre 1959-1985 por uma enfermeira chamada Dorothea Elisabeth Orem. Para TORRES et al(1999) sua teoria baseia-se na premissa básica, de que o ser humano tem habilidades próprias para promover o cuidado de si mesmo, e que pode se beneficiar com o cuidado da equipe de enfermagem quando apresentar incapacidade de autocuidado ocasionado pela falta de saúde. A teoria do autocuidado de Orem, engloba: • O autocuidado; • A atividade de autocuidado; • A exigência terapêutica de autocuidado. ( TORRES et al, 1999). São três os requisitos de autocuidado, apresentados por Orem: universais, de desenvolvimento e de desvio de saúde: Os requisitos universais estão associados a processos de vida e à manutenção da integridade da estrutura e funcionamento humanos. Eles são comuns a todos os seres humanos durante todos os estágios do ciclo vital, como por exemplo, as atividades do cotidiano. Os requisitos de desenvolvimento são relacionados aos processos de desenvolvimento associados a algum evento; por exemplo, a adaptação a novas situações. Os requisitos de desvio de saúde são aqueles exigidos em condições de doença, ferimento ou moléstia para diagnosticar e corrigir uma condição. 6.2 Teoria de Déficit de Autocuidado Segundo Torres et al (1999) essa teoria refere-se ao momento em que a enfermagem passa a ser uma exigência, a partir das necessidades de um adulto, e/ou quando o mesmo acha-se incapacitado ou limitado para prover autocuidado contínuo e eficaz. É importante ressaltar que: Orem identificou cinco métodos de ajuda: 1) agir ou fazer para o outro; 2) guiar o outro; 3) apoiar o outro (física ou psicologicamente); 4) proporcionar um ambiente que promova o desenvolvimento pessoal, quanto a tornar-se capaz de satisfazer demandas futuras ou atuais de ação; e 5) ensinar o outro (TORRES; DAVIM; NÓBREGA, 1999, p.43). 6.3 Teoria de Sistemas de Enfermagem Baseia-se nas necessidades de autocuidado e na capacidade do paciente para a execução de atividades de autocuidado. Para satisfazer os requisitos de autocuidado do indivíduo, Orem identificou três classificações de sistemas de enfermagem (TORRES, DAVIM e NÓBREGA, 1999): O sistema de enfermagem totalmente compensatório, onde o indivíduo é incapaz de desenvolver ações de autocuidado e o enfermeiro, então, atua através de suas ações, para compensar a incapacidade do paciente em realizar o autocuidado. O sistema de enfermagem parcialmente compensatório que está representado por uma situação em que, tanto o enfermeiro, quanto o paciente, executam medidas de autocuidado, sendo que, o enfermeiro regula as atividades do paciente e este, aceita seu atendimento e auxílio. O sistema de enfermagem de apoio-educação ocorre quando o indivíduo pode e deve executar ou aprender a desenvolver medidas de autocuidado terapêutico, e o enfermeiro vai promover esse indivíduo a ser um agente capaz de se autocuidar. 7. Conclusão Diante das complicações evidenciadas pela pesquisa conclui-se que a maior parte de seus determinantes são passíveis de prevenção. Sendo assim, pelo modelo de Orem, o ensino do autocuidado torna-se meta terapêutica. A enfermagem trabalhando a sensibilização nas mais variadas formas de cuidado contribui de maneira significativa para minimizar tais agravos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DIABETES, Consenso Brasileiro sobre: Diagnóstico e Classificação do Diabetes Melito e Tratamento do Diabetes Melito do tipo 2. Rio de Janeiro: Diagraphic Editora, 2002. HIPERTENSÃO, SOCIEDADE BRASILEIRA DE - V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, Sociedade Brasileira de Cardiologia, Sociedade Brasileira de Nefrologia, 2006 MAGNABOSCO, P.; TAVARES, D. M. S. Educação em Saúde: Contribuição na Adesão ao Tratamento da Hipertensão Arterial. RECENF. Revista TécnicoCientífica de Enfermagem, Curitiba-PR, v. 3, n. 11, p. 290-297, 2005. PRETO, SMS RIBEIRÃO – Protolcolo de Atendimento em Hipertensão Arterial – São Paulo, 2006. Disponível em: <www.saude.ribeiraopreto.sp.gov.br>. Acesso em: 30 mai. 2009. SAÚDE, Ministério da - Manual de Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus – Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e Diabetes Mellitus –– 2002. TORRES, G.de V.; DAVIM, R.M.B.; NÓBREGA, M.M.L.da. Aplicação do processo de enfermagem baseado na teoria de OREM: estudo de caso com uma adolescente grávida. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 7, n. 2, p. 4753, abril 1999. Disponível em: <http://ww[w.scielo.br/pdf/rlae/v7n2/13461.pdf>. Acesso em: 30 mai. 2009. AVALIAÇÃO DA DISPNÉIA DURANTE A REALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA EM PORTADORES DE DOENÇA PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA ANTES E APÓS INTERVENÇÃO FISIOTERAPÊUTICA ATRAVÉS DA LONDON CHEST ACTIVITY OF DAILY LIVING SCALE1 Cristianne Carneiro Teixeira 2 Fernanda Silvana Pereira2 Adriana Vieira Macedo3 Maria de Fátima Rodrigues da Silva3 Renato Canevari Dutra da Silva3 Resumo Verificar a dispnéia durante a realização de atividades de vida diária (AVD) do portador de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) antes e após intervenção fisioterapêutica através da London Chest of Daily Living Scale (LCADL), relacionar a pontuação obtida na LCADL com o número de sessões fisioterapêuticas realizadas e evidenciar possíveis alterações na capacidade física do portador de DPOC após intervenção. Métodos: foram selecionados quarenta e seis pacientes com o diagnóstico de DPOC moderado e grave, cadastrados na Clínica Escola de Fisioterapia, os quais, após responderem a LCADL submeteram-se a um protocolo de treinamento em cicloergômetro durante oito semanas, com freqüência de duas vezes semanais e duração média de cinqüenta minutos. Resultados: na correlação entre o escore total e o percentil do total da LCADL antes e após intervenção fisioterapêutica não houve significância estatística (p= 0,46 e p= 0,75, respectivamente), porém, observou-se uma diminuição na pontuação total da escala (3,8 e 1,9, respectivamente). Constatou-se uma correlação estatisticamente significativa (p= 0,05) entre o número de sessões realizadas e o total da escala após o treinamento. Os valores de freqüência cardíaca (FC) e saturação da hemoglobina pelo oxigênio (SpO2%) obtidos durante o teste de carga sub-máxima de membros inferiores antes e após intervenção fisioterapêutica mostra diferença estatisticamente significante (p= 0,03). Conclusões: Uma considerável redução da pontuação total da LCADL infere melhora da percepção da dispnéia no grupo estudado. Quanto maior o número de sessões fisioterapêuticas menor a percepção da dispnéia. As alterações de FC e SpO2% da presente amostra inferem melhora da capacidade física. Registro no CEP 623329. Palavras-chave: Dispnéia. DPOC. Atividades Cotidianas. 1. Introdução A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma entidade clínica caracterizada pela presença de obstrução ou limitação crônica do fluxo aéreo de 1 Trabalho realizado na Universidade de Rio Verde – FESURV – Rio Verde. Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Rio Verde – FESURV – Rio Verde. 3 Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER. 2 progressão lenta e parcialmente reversível1. Tendo como origem a combinação de bronquite crônica e enfisema pulmonar sendo que um predomina sobre o outro2. A DPOC gera alterações do parênquima pulmonar que leva ao aumento da resistência das vias aéreas e hiperinsulflação, gerando uma desvantagem mecânica do diafragma pelo rebaixamento de sua cúpula e encurtamento de suas fibras musculares. Tais fatores contribuem para limitação da capacidade de exercício3,4. A patogênese da limitação ao exercício é complexa e envolve perda da força dos músculos respiratórios, alterações das trocas gasosas e alterações da mecânica pulmonar, bem como fraqueza muscular em membros superiores e inferiores5. A diminuição de força muscular é predominante em membros inferiores, pois, estes pacientes frequentemente mecanismo de proteção evitam da atividades dispnéia e relacionadas à marcha conseqüentemente como surge o descondicionamento físico que agrava a dispnéia e compromete a realização das atividades de vida diária (AVD), levando estes pacientes ao quadro de total dependência. Uma das formas objetivas de quantificar a limitação das AVD’s em decorrência da dispnéia é através da london chest activity of daily living scale (LCADL). Esta é uma escala desenvolvida exclusivamente para indivíduos com diagnóstico de DPOC moderado e grave, composta por quinze questões contempladas em quatro domínios: cuidados pessoais, atividade doméstica, lazer e atividade física. Possui a vantagem de ser de fácil aplicação e compreensão para os pacientes6,7,8,9. A reabilitação pulmonar é um programa multidisciplinar e individualizado que procura devolver ao indivíduo a maior capacidade funcional permitida. Embora o comprometimento da arquitetura pulmonar não se beneficie com a reabilitação, é através dela que o círculo vicioso da falta de ar, inatividade, perda de condicionamento físico, isolamento social e depressão pode ser revertido3,10. O treinamento de endurance de membros inferiores (MMII) englobando o treinamento físico de resistência em cicloergômetro, esteira e escadas constituem a base do programa de reabilitação pulmonar. Devem ter uma duração de 6 a 12 semanas com frequência semanal de 2 a 3 sessões e intensidade entre 60 a 80% da capacidade máxima. Pacientes em todos os estágios se beneficiam com os programas de treinamento, melhorando tanto a tolerância ao exercício quanto os sintomas de fadiga e dispnéia11,12. O presente estudo teve como finalidade verificar a dispnéia durante a realização das atividades de vida diária do portador de DPOC antes e após intervenção fisioterapêutica através da LCADL, bem como relacionar a pontuação obtida na escala com o número de sessões fisioterapêuticas realizadas e evidenciar possíveis alterações na capacidade física do portador de DPOC após intervenção fisioterapêutica. 2. Métodos Foram incluídos no estudo quarenta e seis pacientes com o diagnóstico de DPOC moderado e grave cadastrados no banco de dados da Clínica Escola de Fisioterapia, no período de setembro a novembro de 2007. Os critérios de inclusão foram: diagnóstico de DPOC moderado e grave, de acordo com os critérios da American Thorax Society13, espirometria recente e estabilidade clínica nas últimas quatro semanas. Os critérios de exclusão foram: outras doenças pulmonares que não a DPOC, presença de doenças não pulmonares consideradas incapacitantes, incapacidade de compreensão da LCADL, o preenchimento incompleto da escala ou com rasuras e o não preenchimento nas duas aplicações. Todos os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, e o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Centro Universitário do Triângulo. Primeiramente, foi realizada uma avaliação dos sintomas com o propósito de identificar a estabilidade clínica dos pacientes, quanto ao sintoma de tosse, expectoração, em relação a volume e aspecto da secreção. Também foi verificada a história de tabagismo e a prática ou não de atividade física. Em seguida os voluntários responderam a LCADL. Posteriormente os mesmos submeteram-se ao teste de carga submáxima para MMII realizados em uma bicicleta ergométrica (Modelo BM 2600; MOVIMENT, Manaus, Brasil), com cargas acrescidas progressivamente a cada dois minutos até se obter o máximo de esforço do indivíduo, iniciando com velocidade de 40 rotações por minuto (Rpm) e carga de 25 watts (W). Quando o número de rotações era acrescido, o número de W permanecia inalterado, em seguida aumentava a carga e o número de rotações permanecia o mesmo. A velocidade máxima era 60 Rpm e a partir deste valor era acrescida apenas a carga até atingir a frequência cardíaca de treino (FCT) ou 12 minutos de teste. A FCT foi calculada usando a fórmula de Karvonen14: FCT= FCR + X% (Fcmáx-FCR), onde FCR é a frequência cardíaca de repouso e X, o percentual da frequência cardíaca máxima desejada durante o treinamento. Neste estudo, X foi de 60% ou 0,06. A frequência cardíaca máxima (Fcmáx) foi calculada pela fórmula: 220 – idade. Os parâmetros aferidos antes e após o teste foram: freqüência cardíaca (FC), saturação da hemoglobina pelo oxigênio (SpO2%), pressão arterial (Pa) e índice de percepção de esforço respiratório (BORG dispnéia) e fadiga de membros inferiores (BORG MMII)14. Antes de iniciar o teste realizava-se o alongamento passivo dos grupos musculares: flexores, extensores, adutores e abdutores do quadril e flexores e extensores de joelho15. As sessões de treinamento foram desenvolvidas por um estagiário do oitavo período de fisioterapia, devidamente treinado para tal finalidade, durante oito semanas com freqüência de duas vezes semanais na Clínica Escola de Fisioterapia no período vespertino, tendo uma duração média de 50 min. Durante cada sessão do treinamento era feita na ficha de evolução do paciente com todos os dados monitorados e as intercorrências ocorridas durante a sessão. As sessões iniciavam com alongamento da musculatura a ser utilizada. Em seguida, eram realizados exercícios calistênicos de membros superiores (MMSS) que eram compostos por exercícios não sustentados utilizando a segunda diagonal do Kabat durante dois minutos. Logo em seguida, iniciava-se o aquecimento com duração de cinco minutos, realizado na bicicleta ergométrica, com carga individualizada utilizando 20% da capacidade física máxima do voluntário. Posteriormente realizava-se o condicionamento, com duração de trinta minutos de exercícios contínuos em bicicleta ergométrica, com carga individualizada objetivando um trabalho de 60% da capacidade física máxima do indivíduo. A FC e a SpO2 foram monitoradas continuamente pelo oxímetro de pulso (Modelo PalmSat 7131-018; NONIN, São Paulo, Brasil). A PA foi monitorada a cada cinco minutos de exercício e o BORG dispnéia e o BORG de MMII foram avaliados pela escala de Borg. Foi instituído oxigenoterapia complementar (1-3 l/min), por meio de cateter nasal de oxigênio, caso o paciente apresentasse SpO2 abaixo de 87% durante a sessão; neste caso o fluxo de O2 administrado era ajustado para manter a saturação acima de 90%. O condicionamento era interrompido se o paciente apresentasse alterações significativas de PA e sinais de cansaço excessivo e fadiga, dor, tosse excessiva e desconforto de qualquer natureza, SpO2 abaixo de 87% apesar da oxigenoterapia complementar11. Decorridos os trinta minutos de condicionamento iniciava-se o resfriamento da mesma maneira que o aquecimento tinha duração de cinco minutos e era realizado na bicicleta ergométrica, com carga e velocidade estabelecida individualmente a fim de trabalhar a 20% da capacidade física máxima. Ao final realizava-se o alongamento da musculatura recrutada. Decorridas oito semanas, uma reavaliação e um novo teste de carga submáxima para MMII foram realizados e a LCADL era reaplicada. Em seguida, realizou-se a enumeração de cada paciente e a contagem da pontuação obtida na aplicação da LCADL, bem como o cálculo do escore e percentual da pontuação total, desconsiderando as questões em que o escore é zero6. Todos os dados foram analisados utilizando os programas Microsoft Office Excel 2003 e SPSS. As características da amostra foram descritos como média, mediana, desvio padrão e intervalo de confiança 95%. O teste de Wilcoxon foi utilizado para comparar a LCADL antes e após intervenção fisioterapêutica. O coeficiente de correlação de Sperman foi empregado para correlacionar o número de sessões realizadas e o escore final da escala. Para comparar os valores de FC e SpO2 obtidos pelo teste de carga submáxima de MMII em cicloergômetro durante a avaliação e reavaliação do paciente foi utilizado o teste t de Student. O nível de significância adotado foi 5% (p= 0,05). 3. Resultados A amostra foi constituída de quarenta e seis pacientes com idade entre 53 e 74 anos, média de 67,1 anos (±7,5) dos quais trinta e oito pacientes (82,60%) eram do sexo feminino e oito (17,39%) do sexo masculino. Destes, trinta e um possuem diagnóstico de distúrbio ventilatório obstrutivo (DVO) acentuado (67,39%) e quinze (32,6%) com DVO moderado. As características dos pacientes são apresentadas na tabela 1. Tabela 1 – Características da amostra de 46 pacientes com DPOC Variável Média DP Mediana IC 95% Limite Limite Inferior Superior Idade (Anos) 67,1 7,5 69,0 59,2 75,1 Anos/maço 26,4 21,1 34,4 4,3 48,6 VEF1%prev 39,1 13,9 35,6 24,5 53,7 VEF1 (litros) 0,7 0,2 0,7 0,4 1,0 CVF%prev 49,9 14,5 47,7 34,6 65,1 CVF (litros) 1,2 0,4 1,1 0,7 1,7 VEF1/CVF% 73,7 19,0 79,8 53,7 93,7 Peso (kg) 61,4 16,2 60,5 44,3 78,4 Estatura (m) 1,5 0,0 1,5 1,4 1,6 IMC (kg/m2) 26,1 6,0 26,4 19,8 32,4 VEF1%prev: porcentagem do previsto do volume expiratório forçado no primeiro segundo; VEF1: volume expiratório forçado no primeiro segundo; CVF%prev porcentagem do previsto da capacidade vital forçada; CVF: capacidade vital forçada; IMC: índice de massa corpórea. Não houve correlação entre o escore total e o percentil do escore total da LCADL, obtida antes e após as sessões de treino (p= 0,46 e p= 0,75 respectivamente) (Tabela 2). Porém, observou-se que o escore total no início foi de 31,6 e após o treinamento foi de 27,8 evidenciando uma redução de 3,8 pontos. Já o percentil do escore total que no início foi de 41,5 após o treinamento reduziu para 39,6 mostrando uma redução de 1,9 pontos. Frente às alterações expostas sugerese uma redução da dispnéia após oito semanas de treinamento. Tabela 2: Correlação entre os escores da London Chest Activity of Daily Living Scale antes e após intervenção fisioterapêutica. Antes Após % p Total % P Média 31,6 41,5 0,4631 27,8 39,6 0,753 DP 12,5 17,4 9,9 15,5 Mediana 31,6 42,0 26,5 41,6 IC 95% 18,4 a 17,4 a 23,3063 23,2 a 44,8 38,2 a 59,8 55,9337 LI 18,4 23,2 17,4 23,3 LS 44,8 59,8 38,2 55,9 DP: Desvio Padrão; IC 95%: Intervalo de confiança; LS: Limite Superior; LI: Limite Inferior; p: significância de 5%. A correlação entre o número de sessões realizadas e o escore total da LCADL obtido ao final do treinamento Tabela 3 foi significativa estatisticamente (p= 0,05) entre o número de sessões e o escore total da LCADL. Inferindo que quanto maior o número de sessões realizadas, menor a dispnéia apresentada durante a realização de AVD’s. Tabela 3 - Correlação entre o número de sessões realizadas e o escore total da LCADL obtido no final do programa de treinamento Número de sessões e LCADL Total Final (rs) = -0.7945 t= -2.6163 (p) = 0.0590 Número de pares = 46 rs: Coeficiente de Spearman; t: teste t; (p): nível de significância de 5% Os valores da FC obtidos durante a realização do teste de carga submáxima de MMII em cicloergômetro antes e após intervenção fisioterapêutica, (Tabela 4) mostram uma diferença estatisticamente significativa (p= 0,03). A média foi de 99,9 batimentos por minutos (Bpm) no período de pré-avaliação e 91,9 Bpm após o treinamento ocorrendo, uma redução de 8 Bpm, o que sugere uma melhor eficiência cardíaca. Na tabela 4, pode ser observado um aumento significante (p= 0,03) na SpO2 cuja média inicial foi de 90,56 e a final de 93,04 o que comprova um aumento de 2,48. Este discreto aumento da SpO2 infere melhor transporte de O2 aos tecidos após o programa de treinamento realizado. Tabela 4 - Correlação da FC obtida no teste em cicloergômetro antes e após intervenção fisioterapêutica FC SpO2 Pré Pós p t Pré Pós p t 0,036 Média 99,9000 91,9565 1,8453 90,5652 93,0476 0,0360 1,8451 1 Variância 169,7789 230,9526 12,0476 28,4387 IC 95% (Dif. entre médias -0,8445 a 16,7315 -0,2840 a 5,2488 t: teste t; (p): nível de significância de 5%; IC 95%: Intervalo de confiança. 4. Discussão A DPOC normalmente é diagnosticada entre a quinta e sexta década de vida. Sua incidência é maior em homens que em mulheres e aumenta com a idade2. No entanto, o presente estudo verificou-se maior participação das mulheres aos programas de treinamento, trinta e oito mulheres (82,60%) e oito homens (17,39%), a falta de adesão do sexo masculino pode ser atribuída a uma característica típica da região estudada. A falta de adesão dos homens aos programas de tratamento pode constituir importante agravante para os altos custos e impacto socioeconômico das doenças crônicas. O treino de exercício foi proposto como o método mais eficaz para dessensibilização da dispnéia. Para tal efeito, o doente deve ser exposto a níveis de dispnéia superior ao habitual, em ambiente seguro. Consequentemente ocorre uma melhora na eficácia em lidar com o sintoma e o aumento do limiar de percepção da mesma16,17. Este estudo buscou verificar tais efeitos por meio da avaliação da dispnéia apresentada por pacientes com DPOC durante a realização de AVD’s através da LCADL. A LCADL é sensível às mudanças clínicas obtidas após um programa de reabilitação pulmonar, o que favorece a demonstração da correlação entre a qualidade de vida e a capacidade de exercício9,8. Embora a comparação entre o escore total e percentil do escore total da LCADL, obtido antes e após as sessões de treinamento apresentados no presente estudo, não demonstrou correlação estatisticamente significativa. Pode-se observar uma redução de 3,8 pontos no escore total e 1,9 pontos no percentil do escore total (Tabela 2), sugerindo uma redução da dispnéia durante a realização de AVD’s em pacientes com DPOC, após dezesseis sessões de treinamento. Fato que corrobora com um estudo realizado em 20028. O qual constatou uma melhora significativa na dispnéia durante as atividades de vida diária após um programa de reabilitação pulmonar de seis semanas através da redução da contagem total da escala de 5,91 (IC 95% de -9,23 a -2,60). Estudos demonstram uma melhora significativa da sensação de dispnéia em pacientes com DPOC, obtida através de programas que envolvem o treinamento de membros inferiores10,17,11,4. A maioria dos estudos que avaliam a dispnéia após um programa de reabilitação pulmonar o faz por meio de domínios de questionários de qualidade de vida ou através de escalas desenvolvidas para avaliar a dispnéia durante o exercício. Na literatura nacional, é escasso o número de trabalhos que o fazem por meio de instrumentos específicos para avaliar tal sintoma durante a realização de AVD’s6,9,7. O presente estudo possui a vantagem de utilizar uma escala específica para realização de AVD’s em pacientes com DPOC moderado e grave, fator que possivelmente tenha contribuído para tal resultado uma vez que, ao avaliar a dispnéia durante o teste de capacidade submáxima, o resultado poderá ser influenciado pela melhora do condicionamento. O treino de exercício baseia-se nos princípios gerais de fisiologia de exercício e assim como nos indivíduos saudáveis, os benefícios do treino de exercícios em pacientes com doença respiratória crônica mantém seus efeitos enquanto há treinamento e declina com o tempo17,16. Devido a tais fatores sugere-se que o número de faltas dos pacientes no atual estudo, contribuiu para que o efeito de reversibilidade ao treinamento ocorresse de forma gradual. Uma vez que conforme apresentado na tabela 3, houve uma correlação estatisticamente significativa (p = 0,05) entre o número de sessões realizadas e o escore total da escala, obtida após um programa de dezesseis sessões de treinamento. Podendo inferir que quanto maior o número de sessões realizadas, menor a dispnéia apresentada durante a realização de AVD’s por pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica. O treino de exercício baseia-se nos princípios gerais da fisiologia do exercício e assim como nos indivíduos saudáveis, os benefícios no treinamento dependem da especificidade, intensidade, frequência e duração de cada exercício e o efeito de reversibilidade16. A correlação significativa entre o número de sessões realizadas e o escore total da escala obtida após o programa de treinamento proposto infere que quanto maior o número de sessões realizadas menor a dispnéia apresentada durante as AVD’s uma vez que, quanto maior o número de sessões e mais intenso o exercício, melhores e mais intenso o exercício, melhores os resultados e estes são perdidos após a cessação do exercício17. Durante muitos anos estudos afirmaram que o efeito do treinamento aeróbico não era alcançado por pacientes com DPOC. Tais estudos sustentaram esta afirmação através do argumento de que os pacientes com DPOC grave não conseguiam atingir a intensidade ideal de treinamento capaz de promover adaptações. Estudos posteriores verificaram uma acidose precoce durante os exercícios em pacientes com DPOC e melhora significativa como redução de FC, da ventilação, dos níveis de lactato e aumento de enzimas oxidativas comprovando melhora do metabolismo aeróbico17,18. Os sujeitos deste estudo apresentaram uma significativa melhora das variáveis fisiológicas FC e SpO2, sugerindo possíveis adaptações cardiovasculares em decorrência da melhora da capacidade física evidenciada no teste de carga submáxima realizado em cicloergômetro. Porém, exames mais elaborados para comprovação de tais respostas ao treinamento não estavam disponíveis. Embora a reabilitação pulmonar não proporcione melhora na função pulmonar, o treinamento físico constitui um importante componente da reabilitação por melhorar a capacidade de exercício e reduzir a dispnéia. O exercício é o estímulo fisiológico perturbador da homeostasia mais estudado que visa melhora da capacidade aeróbica, da força, da flexibilidade e coordenação motora16. Durante muitos anos estudos afirmaram que o efeito do treinamento aeróbico não era alcançado por pacientes com DPOC. Tais estudos sustentavam esta informação através do argumento de que os pacientes com DPOC grave não conseguiam atingir a intensidade ideal de treinamento capaz de promover adaptações. Estudos posteriores verificaram que o treino em indivíduos com DPOC desencadeava metabolismo anaeróbio e início precoce da acidose lática. Portanto, a intensidade do treinamento pode ser baseada na limitação dos sintomas, com o passar do treinamento ocorre significativa redução da FC, da ventilação, dos níveis de lactato e aumento de enzimas oxidativas comprovando melhora do metabolismo aeróbico17,18,16. Os sujeitos deste estudo apresentaram uma significativa melhora da capacidade física evidenciada no teste de carga submáxima realizado em cicloergômetro. Porém, exames mais elaborados para comprovação de tais respostas ao treinamento não estavam disponíveis. Durante o exercício submáximo, o maior condicionamento resulta em uma frequência cardíaca menor em uma determinada taxa de trabalho. Essa diminuição da FC indica uma maior eficiência cardíaca obtida pelas adaptações ao treinamento, supondo que o coração treinado, realize um trabalho menor por aumentar sua força de contração levando a um maior volume de ejeção, consequentemente, a FC diminui para aumentar o tempo de enchimento ventricular. Assim, o débito cardíaco é mantido através do aumento do volume de ejeção e não pela FC19. A diminuição da FC apresentada pelos sujeitos desta amostra, conforme pode ser observado na Tabela 4, sugere uma melhora do condicionamento físico dos pacientes com DPOC moderado e severo após um programa de oito semanas de treinamento. Os resultados da presente amostra contradizem com um estudo, composto por uma amostra de 10 pacientes de ambos os sexos, submetidos a oito semanas de treinamento muscular respiratório, exercícios em cicloergômetro e exercício para MMSS no qual não foram observadas diferenças significativas nas variáveis fisiológicas FC e SpO212. Um dos objetivos dos programas de reabilitação é reduzir a dispnéia, isto se dá por meio do treinamento físico aeróbico que incrementa o transporte de O2 para a periferia e melhora sua captação muscular6. Os valores da SpO2 obtidos através do teste submáximo de MMII antes e após intervenção fisioterapêutica, evidenciam um aumento estatisticamente significante na SpO2 após o programa de treinamento realizado neste estudo (p= 0,03), inferindo melhora na eficiência do transporte de O2 promovido pelo treinamento. 5. Considerações Finais Com o treinamento ocorre um aumento do volume plasmático e um discreto aumento do volume de eritrócito. No entanto, o volume plasmático supera o volume de eritrócito e por esta razão o hematócrito diminui. Com isso, ocorre a redução da viscosidade sanguínea e o aumento da liberação de oxigênio aos tecidos. Tanto a quantidade total de hemoglobina como o total de eritrócito encontra-se discretamente acima dos valores normais após o treinamento, garantindo uma maior capacidade de transporte de oxigênio19. Imputa-se, que o discreto aumento da SpO2 obtido após o programa de treinamento desenvolvido no presente estudo se deva a tais adaptações. Diante do exposto pode-se afirmar que embora não houve uma correlação estatisticamente significativa entre os escores total e percentil do escore total da LCADL, houve uma considerável (3,8 pontos) redução da pontuação total, inferindo uma melhora da percepção da dispnéia no grupo estudado. Quanto maior o número de sessões realizadas, menor a dispnéia apresentada durante a realização das AVD’s. Houve melhora da capacidade física dos indivíduos da presente amostra, observada através da redução da freqüência cardíaca e aumento da saturação periférica de oxigênio (SpO2) verificados através da realização do teste de carga submáxima de membros inferiores. Sugere-se a realização de mais estudos que utilizem a LCADL em uma população maior. Visto que, esta é a única escala específica validada no país com a finalidade de avaliar as limitações apresentadas pelos pacientes com DPOC de graus moderado e grave. Pois até então, tais limitações eram mensuradas de forma menos objetiva e específica através de domínios de questionários de qualidade de vida ou escalas desenvolvidas para mensurar a dispnéia somente aos esforços. Sugere-se a realização de mais estudos que utilizem a LCADL como forma de melhor quantificar a limitação funcional de pacientes com DPOC. Visto que, esta é a única escala específica validada no país com a finalidade de avaliar as limitações apresentadas pelos pacientes com DPOC de graus moderado e grave. Pois até então, tais limitações eram mensuradas de forma menos objetiva e específica através de domínios de questionários de qualidade de vida ou escalas desenvolvidas para mensurar a dispnéia durante os exercícios e os resultados podem ser influenciados pela melhora do condicionamento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES GS, BRITTO RR, PARREIRA VF. 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Geralmente ocorrem em detrimento a longo período de internação hospitalar e à predisposição multifatorial, onde vários fatores de risco expõem os pacientes com déficit de mobilidade ou sensibilidade a seu desenvolvimento ou agravamento. A proposta de prevenção é mais viável para a instituição que o tratamento, visto que oferece menos custos e menos riscos ao paciente. Porém, para execução desse processo é necessário uma equipe multidisciplinar, exigindo uma abordagem abrangente que inclui a prevenção, o alívio da pressão, a restauração da circulação, o controle da ferida e a minimização dos transtornos correlatos. Algumas Pesquisas mostram que os enfermeiros são mais preparados para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento da úlcera por pressão. O objetivo desse estudo consiste em buscar na literatura, conhecimento, tecnologias e experiências acerca da temática, possibilitando informações embasadas a respeito da prevenção, tratamento e cuidados para úlceras por pressão. Palavras-chave: Enfermeiro. Úlcera de pressão. Prevenção. Tratamento. 1. Introdução A úlcera por pressão (UP) é definida como qualquer lesão causada por uma pressão não aliviada, cisalhamento ou fricção que podem resultar em morte tecidual, sendo freqüentemente localizada na região das proeminências ósseas (CARDOSO, 2004). De acordo com Medeiros et al. (2004), as UP são causadas por fatores intrínsecos e extrínsecos ao paciente, além de ocasionar dano tissular, pode provocar inúmeras complicações e agravar o estado clínico de pessoas com restrição na mobilização do corpo. 1 2 Acadêmicas do 6º período de Enfermagem do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde – IESRIVER. Docente do Instituto de Ensino Superior de Rio – IESRIVER. Para Costa et al. (2005), as UP se desenvolvem na metade inferior do corpo, sendo dois terços na região do quadril e nádegas e um terço nos membros inferiores. O diagnóstico é feito por meio de métodos visuais que também classificam as úlceras em estágios, importantes na elaboração de estratégias terapêuticas (BLANES et al. 2004 apud SHEA e FRISOLI). Observa-se que a prevenção da UP é mais importante que as propostas de tratamento, visto que o risco e o custo para o paciente é praticamente inexistente. Porém, este processo deve envolver uma equipe multidisciplinar integrada para a obtenção dos melhores resultados. O conhecimento e entendimento da definição, causas e fatores de risco por parte dos profissionais da saúde se faz necessário, a fim de se implantar medidas de prevenção e tratamento mais eficazes. Para Rangel et al. (1999), a natureza multifatorial do problema requer um esforço de todos os membros da equipe multidisciplinar para a prevenção e tratamento, no entanto, cabe à equipe de enfermagem a maior parcela do cuidado. O profissional de enfermagem é responsável pelo cuidado direto e pelo gerenciamento da assistência e precisa estar preparado para isto. Assim, é imprescindível que na sua formação adquira conhecimentos para o cuidado. Já Harmer e Henderson (1922) em seu clássico livro "Princípios e Práticas de Enfermagem", logo no início deste século afirmavam: A prevenção de úlceras de decúbito é de total responsabilidade da enfermeira assim, logo no início do seu treinamento, muito antes de lhe ser designado o cuidado de um paciente, ela deve aprender como cuidar do paciente para evitá-la (Harmer e Henderson, 1922 apud COOPER, 1987). Para Selbach (2009), a enfermagem é a arte de cuidar e também uma ciência cuja essência e especificidade é o cuidado ao ser humano, individualmente, na família ou em comunidade de modo integral e holístico, desenvolvendo de forma autônoma ou em equipe atividades de promoção, proteção, prevenção e recuperação da saúde. E segundo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), 240/2000 em seu capítulo 1, artigo V “A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde do ser humano e da coletividade. Atua na promoção, proteção, recuperação da saúde e reabilitação das pessoas, respeitando os preceitos éticos e legais”. Ainda, nesta mesma lei, podemos observar no capítulo 6 que: “O profissional de enfermagem exerce a profissão com autonomia, respeitando os preceitos legais da enfermagem”. A autonomia é definida como a habilidade que o profissional possui em desenvolver suas responsabilidades práticas regularizadas na profissão, mantendo a integridade ética, legal e profissional (DELAIR apud WIENS, 2005). Portanto, o progresso na prevenção e tratamento da úlcera de pressão consiste na qualidade da assistência prestada ao paciente. E, uma vez que é o profissional de enfermagem que está em contato direto com o paciente, cabe a ele prestar uma assistência profissional, qualificada e humanizada, contendo todos os elementos de compromisso, envolvimento, sensibilidade e solidariedade, para que o cuidado não se aplique somente à doença, e sim em cuidar do doente, da pessoa que, circunstancialmente está sofrendo. O objetivo desse estudo consiste em buscar na literatura, referências bibliográficas, concernentes ao conhecimento, novas tecnologias e experiências acerca da temática, possibilitando informações atualizadas embasadas a respeito da prevenção e tratamento das UP. 2. Metodologia Para tal, a revisão da literatura foi baseada em livros, dissertações, monografias e artigos científicos, publicados no período de 1987 até 2009. 3. Fundamentação Teórica As UP, são definidas como lesões de pele ou parte moles, superficiais ou profundas de etiologia isquêmica, originadas pelo colapso local da microcirculação e do sistema linfático, secundária a um aumento de pressão externa, usualmente presente sobre uma proeminência óssea (CARVALHO FILHO, PAPALÉO NETTO, 2005). Para Jorge (2005), a UP é definida como uma área localizada de morte celular, que se desenvolve quando um tecido mole é comprimido entre uma proeminência óssea e uma superfície dura. Vários são os termos utilizados inadequadamente para as UP, tais como úlcera de decúbito, úlceras isquêmicas, onde ambas significam deitar-se e escaras que é definida como tecido desvitalizado que recobre a úlcera (Costa, 2005). No entanto, a terminologia úlcera de pressão vem sendo consagrada internacionalmente à medida que a pressão é o fator etiológico mais importante na gênese dessas lesões (JORGE, 2005). As úlceras geralmente ocorrem no período de hospitalização, onde vários fatores de risco expõem os pacientes com déficit de mobilidade ou sensibilidade a desenvolverem úlceras de pressão ou a terem este problema agravado. Os grupos de maior risco são os idosos com diabetes, acidente vascular cerebral e problemas ortopédicos, os pacientes com lesão medular e aqueles com longa permanência em unidades de terapia intensiva (LIMA et al., apud VERSLUYSEN, 1986; STOTTS & STEVEN, 1988; BRANDEIS et al., 1990). Existem quatro fatores extrínsecos que podem levar ao aparecimento destas lesões: a pressão, o cisalhamento, a fricção e a umidade. a) Pressão A pressão capilarnormal é de 32 mmHg, assim quando há uma pressão sobre as proeminências ósseas em indivíduos acamados e/ou sentados, que excede esse limite, o paciente desenvolve uma isquemia no local, sendo que o primeiro sinal é o eritema devido à hiperemia reativa, pois aparece um rubor vermelho vivo à medida que o corpo tenta suprir o tecido carente de oxigênio (DELISA; GANS, 2002; SMELTZER; BARE, 2005). Segundo Delisa e Gans (2002, p. 1116), “os tecidos podem tolerar pressões cíclicas muito mais altas que pressões constantes. Se a pressão for aliviada intermitentemente a cada 3 a 5 minutos, pressões mais altas podem ser toleradas”. b) Cisalhamento O cisalhamento acontece quando a pele permanece estacionária e o tecido subjacente se desloca, ou seja, é uma pressão exercida quando o paciente é movido ou reposicionado na cama e/ou cadeira. Esses pacientes são recolocados na posição iniciais repetidas vezes e nesse movimento a pele permanece aderida ao lençol enquanto que o restante do corpo é empurrado para cima. Devido a essa tração há a torção dos vasos sanguíneos e a interrupção da micro-circulação da pele do tecido subcutâneo. (DELISA, GANS, 2002; SMELTZER; BARE, 2005). c) Fricção A fricção ocorre quando a pele se move contra uma superfície de apoio. É a força de duas superfícies movendo-se uma sobre a outra. A fricção pode causar danos ao tecido quando o paciente é arrastado na cama, em vez de ser levantado. Isso faz com que a camada superficial de células epiteliais seja retirada. A fricção está sempre presente quando o cisalhamento acontece (DELISA; GANS, 2002; CARVALHO FILHO; PAPALÉO NETTO, 2006). d) Mobilidade A mobilidade tem capacidade de mudar e controlar a posição do corpo. Está relacionado ao nível de consciência e competência neurológica. É a capacidade do paciente de aliviar a pressão através do movimento e contribuir para seu bem estar físico e psíquico. As principais condições que contribuem para a imobilidade são: o acidente vascular cerebral, artrite, esclerose múltipla, lesão medular, traumatismo craniano, sedação excessiva, depressão, fraqueza e confusão (DELISA; GANS, 2002; JORGE; DANTAS, 2003; MORTON et al., 2007). e) Nutrição Dois estudos prospectivos mostraram evidências de uma má dieta como fator causador na formação de úlceras por pressão (Delisa; Gans, 2002). Os pacientes que emagreceram na têm coxim de tecido adiposo sobre as saliências ósseas e, portanto, tem uma proteção menor contra a pressão. Por outro lado, os pacientes muito obesos são difíceis de deslocar, podendo ser arrastados, em vez de levantados na cama, o que precipita a lesão do tecido. Os dois tipos de pacientes apresentam um estado nutricional inadequado (Carvalho Filho; Palaléo Netto, 2006). A massa magra é uma boa medida de nutrição adequada; o peso ou a massa total não. São recomendadas dietas calóricas, ricas em proteínas e carboidratos, para promover um balanço positivo de nitrogênio e suprir as necessidades metabólicas e nutricionais cruciais para a prevenção das lesões (DELISA; GANS, 2002). 3.1 Estágios de ocorrências de UP Para Potter e Perry (2004), os estágios das úlceras por pressão são classificadas em: • Estágio I: decorrente de alterações da epiderme e derme intactas que se encontram lesadas, mas não destruídas. Ocorre um eritema, dor, calor, rubor e ausência de infecção. • Estágio II: ocorre quando a epiderme e a derme são rompidas, apresentamse hiperemiada, dolorosa, pois as terminações nervosas estão expostas, com bolhas ou cratera rasa, presenças de infecção. • Estágio III: corresponde à perda total da espessura da pele, atinge o tecido subcutâneo, ocorrem pontos de necrose, pode apresentar exudato, porém a lesão, não se estende até a fáscia muscular. • Estágio IV: surge uma extensa destruição da pele; comprometendo músculos e ossos e estruturas de suporte como tendão e cápsulas das juntas (COSTA et al., 2007). 4. A importância dos Cuidados de Enfermagem Para Lima et al., apud Declair (2003), as pesquisas mostram que os enfermeiros são mais preparados para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento da úlcera de pressão. Cuidar da vida é a essência da ciência da Enfermagem e, ao mesmo tempo, a essência do ser humano, por isso além de ser uma atividade eminentemente humana transmitida através da cultura e educação, também é uma profissão (SEGURO et al.). Para Potter e Perry (2004), o cuidar é a força motivadora para que as pessoas se tornem enfermeiras e que se transforma em fonte de satisfação, quando elas sabem que fazem a diferença na vida de seus clientes. Diante destas considerações acreditamos que o paciente só receberá uma assistência eficaz se for acompanhado por uma equipe multidisciplinar, porém, o papel de maior destaque com certeza será do profissional enfermeiro, que deverá coordenar a equipe zelando pela comunicação entre os diversos profissionais envolvidos (LIMA et al.). Segundo Rabeh (2002), os cuidados de maior complexidade de técnica e que exijam conhecimentos científicos adequados e capacidade de tomar decisões imediatas, assim como o desenvolvimento de protocolos de cuidados, a coordenação e a avaliação da assistência prestada cabe ao enfermeiro. Portanto, após avaliação das necessidades individuais de conforto, estado geral do paciente, condição da pele, o enfermeiro precisa conhecer as medidas individuais de prevenção da UP, previamente adotadas pelos pacientes e cuidadores para implementar um plano de cuidados. 4.1 Prevenção A maioria das úlceras por pressão são preveníveis através de cuidados adequados ao indivíduo, orientação e educação do mesmo e das disponibilidades de recursos necessários (COSTA E COSTA, 2007). Para Irion (2005), algumas abordagens devem ser realizadas para prevenir a úlcera de pressão, como: a) Mudança de decúbito: Mudança de decúbito do paciente acamados ou debilitados de 2/2hs, e sempre evitar deixar o paciente em atrito com a área lesada. Para as mudanças de decúbito devem ser considerados os déficits neurológicos, lesões musculoesqueléticas ou áreas particulares da pele com risco elevado de formação de úlceras. b) Cuidados com os pontos de apoio: Para evitar lesão causada pelo contato das proeminências ósseas umas com as outras, deve-se usar travesseiros, cunha de espuma ou outros dispositivos para manter os joelhos e os tornozelos separados. Qualquer pessoa com mobilidade comprometida que esteja restrita ao leito deve ter um dispositivo que alivie totalmente a pressão sobre os calcanhares fora do leito. Isto pode ser feito simplesmente colocando-se travesseiros sob as pernas ou pode incluir dispositivos mais complexos. c) Colchonetes especiais: Colchonetes especiais contendo ar, espuma, gel ou água. d) Massagem de conforto: Massagem de conforto com ácido graxo essencial, pode trazer um alívio da dor, e auxiliar na circulação sanguínea, evitando o aparecimento das úlceras de pressão. Segundo Campedelli (1987), a massagem é um procedimento básico utilizado na enfermagem e se caracteriza pela manipulação manual e sistemática dos tecidos corporais, transmitindo ao paciente uma sensação física agradável. Com a utilização da massagem é possível uma melhor nutrição dos tecidos, além de uma oxigenação mais aprimorada. e) Nutrição: O estado nutricional é de extrema importância para os pacientes acamados, pois a dificuldade de se alimentar pela boca, ocasiona uma perda de peso involuntária, imobilidade, estado mental alterado e déficit cognitivo. As diretrizes recomendam encorajar a ingestão dietética e a suplementação da dieta, se o indivíduo estiver desnutrido, recomenda-se auxílio nutricional através de sonda ou outros meios necessários. f) Apoio psicológico: Os aspectos psicossociais necessitam muito do auxílio dos cuidadores, pois inclui no fato de que o paciente precisa compreender o plano de tratamento e estar motivado para aderir a ele, precisa compreender valores, e adaptar a um estilo de vida adequado. Estes recursos não são apenas financeiros, mas também incluem a capacidade de entender e acompanhar o plano de tratamento. Todos estes parâmetros auxiliam na prevenção da úlcera de pressão, mas para cada paciente deve se criar um plano de mudança de decúbito. O plano deve ser individual, pois depende da imobilidade de cada paciente. Segundo O`Sullivan e Schmitz (2004), o paciente será virado a cada duas horas pela equipe de enfermagem, 24 horas por dia. A condição da pele deve ser monitorada continuamente. Se ocorrer de uma área ficar avermelhada, a posição do paciente precisará ser alterada imediatamente para aliviar a pressão. A higiene corporal deve ser realizada evitando o uso de sabão comum, soluções irritantes e água quente para evitar ressecamento. Deve-se usar sabão neutro ou sabonete líquido específico. A pele deve ser limpa e removido todos os resíduos de soluções e completamente seca (DUARTE; DIOGO, 2000; DECLAIR, 2002). A cama deve ser limpa e seca, com roupas de tecido não irritantes, lisos, não engomados e sempre esticados evitando dobras. Coberturas plásticas ou protetores de cama não devem ter seu uso aceito, protegem a cama, porém podem causar sudorese, levando a maceração da pele do paciente (Campedelli; Gaidzinski, 1987; Duarte; Diogo, 2000; Declair, 2002). Nada deve ser esquecido sob o corpo do paciente, para evitar dano tecidual (KNOBEL, 2006). As úlceras por pressão podem se desenvolver em 24 horas ou levar até 5 dias para sua manifestação. Todos os profissionais da área de saúde, responsáveis pelo acompanhamento do paciente devem estar familiarizados com os principais fatores de risco. Neste sentido, a observação das medidas profiláticas para eliminar forças de pressão contínua, cisalhamento ou fricção é de vital importância para evitar a formação de úlceras (COSTA et al., 2005 apud KRASNER). Outros cuidados preventivos são os exercícios ativos e passivos, que são essenciais, pois aumentam o tônus muscular da pele, ativam a circulação, aumentam a demanda de oxigênio, reduzem a isquemia tissular e a elevação dos membros inferiores, promovem o retorno venoso, diminui a congestão e melhora a perfusão tissular. Além disso, a equipe e os familiares devem estar atentos à presença de pregas no lençol, pressão causadas pelos tubos de soro e de sonda, que podem contribuir para o aumento da pressão e consequentemente reduzir a circulação (SMELTZER; BARE, 2005). 4.2 Tratamento No entanto, apesar das medidas preventivas, a UP pode se instalar (Knobel, 2006). Segundo Costa et al. (2007), quando todos os recursos relacionados a prevenção não são mais possíveis, serão implementados procedimentos sempre direcionados à necessidade individual de capa paciente. O tratamento das úlceras de pressão divide-se em sistêmico e local, no entanto, sabe-se que este pode ser subdividido em conservador e cirúrgico. Qualquer que seja o tipo de tratamento utilizado, é mandatório que as medidas de alívio de pressão e profilaxia continuem sendo utilizadas (COSTA et al., 2005 apud McCARTHY, 1990). De acordo com Matos e Melo (2009), várias são as formas de tratamento das UPs, dentre elas encontramos: o desbridamento, a limpeza da ferida, o uso de papaína a 2%, revestimentos semi-oclusivos e tratamento cirúrgico. Estudos relatam que se surgir infecção ou o paciente estiver imunocomprometido, pode ser necessário o desbridamento, técnica esta que consiste na retirada de tecido necrosado, por meio de enzimas, mecanicamente, por autólise ou por uma associação desses métodos. O desbridamento enzimático degrada o tecido necrótico sem afetar o tecido viável. As três técnicas de desbridamento mecânico incluem aplicação de curativo úmido a seco, imersão com turbilhonamento da água ou remoção do tecido necrótico por cirurgia. O desbridamento por autólise permite ao corpo degradar o tecido necrótico mediante o uso de enzimas e mecanismos de defesa do corpo (LIMA et al., apud HESS, 2002). Para Knobel (2006), assegurar a limpeza da lesão de forma sistematizada é fundamental para a sua cicatrização. A limpeza da ferida deve ser feita utilizando-se métodos que consistem na aplicação de líquidos anti-sépticos procurando minimizar o risco de trauma mecânico ou irritação da lesão (CARVALHO et al., 2003). Estudos prévios mostram que a limpeza das úlceras de pressão com água e sabão ou algum outro meio surfactante é maneira simples e efetiva de se limpar lesões superficiais, desde que seja feita com freqüência e de preferência seja mantida seca. A pele ao redor da úlcera pode também ser protegida com adesivos espessos a fim de prevenir a maceração da pele (COSTA et al., 2005 apud POWNEL, 1995). A papaína a 2% tem papel importante na reparação tecidual de lesões cutâneas uma vez que se observou melhora na fase de granulação da ferida com aumento local do número de fibroblastos e consequente melhora na produção e na deposição de fibras de colágenos. A ação desta substância tem papel importante nas primeiras fases de remodelagem das lesões, garantindo melhor cicatrização (MATOS MELO, 2009 apud SANCHEZ, 2003). Para Costa (2005), de um modo geral, a qualidade da pele regenerada por tratamento conservador é fina, sem glândulas sebáceas ou sudoríparas. O epitélio é geralmente seco e fino com suprimento sanguíneo pobre e deve ser lubrificado constantemente com vaselina e hidratantes. É necessário salientar que o objetivo do tratamento de feridas é a promoção de ambiente que favoreça o processo de sua cicatrização, proteção e limitação/redução de edema. É importante a escolha de um curativo que mantenha a pele ao redor da ferida intacta e seca e que controle a drenagem do exsudato não desidratando o leito da ferida. Atenção também à eliminação do espaço morto da ferida por preenchimento de toda cavidade com material de curativo (KNOBEL, 2006). Alguns autores defendem que certas úlceras de pressão (graus I e II) podem ter cicatrização espontânea sem intervenção cirúrgica, desde que à ferida seja limpa meticulosamente e que seja evitada pressão na área em questão (Costa et al., 2005 apud Pownel, 1995). A limpeza deve ser realizada com o mínimo de trauma mecânico e químico e envolve desde a seleção da solução ao método a ser aplicado (KNOBEL, 2006). Se a úlcera não é muito grande, ela irá se preencher a partir do fundo e o crescimento epidérmico a partir dos lados irá fechar a ferida. Entretanto, esta cobertura por tecido cicatricial é insatisfatória devido à vulnerabilidade associada a mínimos traumas ou atividades diárias (COSTA et al., 2005). Neste sentido, Knobel (2006), afirma que utilizar a menor força mecânica possível na aplicação de gazes, tecidos e esponjas. Aplicar a irrigação com pressão suficiente para a limpeza evitando traumas ao leito da lesão. Geralmente as úlceras Graus III e IV necessitam de tratamento cirúrgico. As mais utilizadas para o tratamento cirúrgico das úlceras Graus III e IV, são as altas taxas de recorrência comumente associadas ao tratamento conservador, sendo mais apropriado e menos mórbido para o paciente. Medidas conservadoras, consistindo de desbridamento local, diminuição da pressão local e trocas diárias de curativo têm pouca eficácia, uma vez que a úlcera crônica se desenvolve (COSTA, 2005). As cirurgias podem ser necessárias para recompor áreas de ferida extensa, através de retalhos miocutâneos e eliminando as proeminências ósseas causadoras de compressão. Os retalhos cirúrgicos são de vários tipos, como os cutâneos simples, os fáscio-cutâneos e os miocutâneos, com técnicas de rotação, deslizamento, transposição e outros. A escolha está na dependência da extensão, localização e profundidade da ferida, assim como da qualidade dos tecidos circundantes à úlcera (VIEIRA E SOARES, 2009). Os objetivos da cirurgia no paciente com úlceras de pressão se resumem em: a) reparação do defeito reduzindo a perda protéica através da ferida; b) prevenir a osteomielite progressiva e sépsis; c) evitar amiloidose progressiva secundária e insuficiência renal; d) reduzir os custos de reabilitação; e) melhorar a aparência e higiene do paciente; f) prevenir o possível aparecimento de Úlcera de Marjolin (COSTA et al., 2005 apud POWNEL, 1995). 5. Considerações Finais Embora a UP não ameace a vida em um primeiro momento, é um problema que acarreta desconforto ao paciente, aumenta o seu período de internação, retarda seu retorno ao convívio familiar, incorrendo em maior probabilidade de infecção podendo levar à morte. Geralmente ocorrem em detrimento a longos períodos de internação hospitalar e a predisposição multifatorial, onde vários fatores de risco expõem os pacientes com déficit de mobilidade ou sensibilidade a seu desenvolvimento ou agravamento. Para Declair (2003), as pesquisas mostram que os enfermeiros são mais preparados para desenvolver estratégias de prevenção e tratamento da úlcera de pressão. Neste sentido, cabe a enfermagem investir a melhor qualidade de atendimento ao cliente, através de medidas adequadas de cuidado, educação e capacitação. Pois é inerente do profissional de enfermagem uma ampla mentalidade que perpassa a consciência de todos aqueles que se dispõe a realizar a ação de cuidar. Construindo novas perspectivas e alternativas que prime uma prática que minimize a dor e o sofrimento humano, conduzindo o cuidado e tratamento das doenças de maneira integral e humanitária, fundamentada em uma concepção holística. Porém que requer atualizações constantes. Assim, em detrimento ao sofrimento acarretado ao paciente, considerando os fatores de riscos e as condições predisponentes para ocorrências da UP é imprescindível a intervenção da enfermagem antes que se instale a lesão. Pois, segundo Carvalho Filho e Papaléo Netto (2005), a prevenção é claramente o modo mais fácil, mais barato e mais bem-sucedido de tratamento. No entanto, segundo Rangel (1999) apud Kemp et al. (1994), a prevenção e o tratamento da úlcera de pressão exigem mais do que a redistribuição mecânica do peso corporal sendo necessário à identificação precoce dos fatores de risco, o tratamento das patologias de base quando presentes, a restauração e manutenção de uma nutrição adequada e a educação de pacientes e cuidadores formais e informais para o auto cuidado. Contudo, segundo Lima et al. para que isso aconteça é preciso conhecimento atualizado para aplicação prática da prevenção e tratamento adequado, visando evitar o problema, poupando o paciente e sua família. Pois a úlcera de pressão não só põe em perigo a vida do paciente, como também carrega consigo a conotação de negligência e imperícia, afetando a carreira profissional do enfermeiro e o nome da instituição de saúde. Diante do exposto, concordamos com Goulart et al. sobre a importância da informação e a atualização para os profissionais de enfermagem sobre úlcera por pressão, sua prevenção e tratamento em pacientes acamados, pois somente assim se consegue a excelência no cuidado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLANES, Leila; DUARTE, Ivone da Silva; CALIL, José Augusto; FERREIRA, Lydia Masako. Avaliação Clínica e Epidemiológica das úlceras por pressão em Pacientes Internados no Hospital São Paulo. Rev Assoc Med Bras 2004; 50(2): 182-7. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ramb/v50n2/20781.pdf>. Acesso em: 22 out. 2009. CAMPEDELLI, M.C.; GAIDZINSKI, R.R. Escara: problema na hospitalização. São Paulo: Editora Atica, 1987. 64 p. CARDOSO MCS, Caliri MHL, Hass VJ. Prevalência de úlceras de pressão em pacientes críticos internados em um hospital universitário. REME Rev Min Enferm. 2004;8(2):316-20. CARVALHO FILHO, Eurico Thomaz de; PAPALÉO NETTO, Matheus. Geriatria: fundamentos, clínica e terapêutica. 2ª ed. 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Apresenta os resultados de uma pesquisa de campo realizada pela autora, durante os meses de março a junho de 2010, quando foram aplicados questionários sobre a violência doméstica, buscando saber se é perceptível aos agentes da rede de proteção quando uma criança e adolescente sofreu ou está sofrendo algum tipo de violência no âmbito familiar. Foi possível demonstrar que os agentes da rede de proteção já presenciaram casos e sabem quando uma criança ou um adolescente estão passando por problemas desta natureza e o quanto é difícil a luta contra este tipo de violência, principalmente por saberem que o melhor método é a prevenção seguindo o Estatuto da Criança e Adolescente que resguarda todos direitos e obrigações das crianças, familiares e da sociedade. Mesmo com inúmeras campanhas de combate à violência, alguns agentes têm receio de por em prática o que sabem e, de até mesmo, denunciarem algum ato de violência, por medo de prejudicar mais ainda a vítima. Palavras-chave: Violência. ECA. Rede de Proteção. 1. Introdução A proteção da Criança e Adolescente é prioridade para qualquer sociedade que pretende não só evitar problemas futuros como buscar um desenvolvimento diante das transformações mundiais. É importante questionar como o Estado tem tratado os responsáveis por esta proteção no sentido de tê-los como seus parceiros nessa luta que deve ser incessante. Por exemplo, será que em cidades do interior como Rio Verde, os agentes da rede de proteção têm recebido o devido apoio, e se tiverem será que estão desenvolvendo adequadamente suas atribuições? 1 Artigo Científico realizado pela acadêmica do 10º período noturno do Curso de Direito apresentado ao Instituto de Ensino Superior de Rio Verde, para obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação do Prof. Ms. Cláudio de Castro Braz. As questões serão respondidas ao longo do trabalho, com base na literatura nacional consultada e na pesquisa de campo realizada em Rio Verde pela autora, mostrando a realidade e a capacidade de percepção dos agentes da rede de proteção de suspeitar ou identificar casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes. O Estado brasileiro, que segue princípios internacionais, poderá não estar totalmente adequado e preparado para exigir dos agentes da rede de proteção total parceria, visto que falta o amparo material e até mesmo de esclarecimento o que deve ser alcançado pelo conhecimento da legislação e da realidade social. Entre as legislações brasileiras que tratam do tema criança e adolescente, duas são primordiais e basilares, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, ambas devendo respeitar regras internacionais de proteção propostas pela Organização das Nações Unidas (ONU) na década de 80, e que o Estado brasileiro se comprometeu a respeitar. A Constituição Federal é taxativa no artigo 227 ao atribuir à criança e ao adolescente prioridade absoluta no atendimento aos seus direitos como cidadãos: É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Regra confirmada no Estatuto da Criança e do Adolescente, artigo 4º: É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. O princípio que norteia a legislação brasileira sobre o tema é o estabelecido pela ONU e identificado no preâmbulo da Convenção sobre os direitos da Criança no qual se tem determinado que toda criança para um desenvolvimento pleno e equilibrado deve ter direito a crescer em um ambiente familiar harmonioso e saudável, para que possa se desenvolver independentemente na vida social, devendo ser educada com dignidade, tolerância, liberdade, igualdade e solidariedade (ONU-BRASIL, 2010). A citada convenção se fundamenta na Declaração de Genebra em 1924, sobre os Direitos da Criança e na Declaração dos Direitos da Criança adotados pela Assembléia de 20 de novembro de 1959, reconhecendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração sobre os Princípios Sociais e Jurídicos Relativos à Proteção e ao bem-estar das Crianças, e as regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil (Regras de Beijing). Em relação especificamente aos agentes de proteção, o Estatuto da Criança e do Adolescente traz no artigo 86 que a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-à através de um conjunto articulado de ações governamentais e nãogovernamentais, da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. 2. Agentes na rede de proteção das crianças e adolescentes Os responsáveis pela atenção às crianças e adolescentes seriam, além dos órgãos do Estado, todos aqueles que direta ou indiretamente têm relação com eles. De acordo com Braz (2010), de modo amplo todos seriam responsáveis: publicitários, administradores de empresa, enfermeiros, fisioterapeutas, professores, psicólogos, juízes, promotores de justiça, religiosos, assistentes sociais, conselheiros tutelares, delegados. Todos devem observar a Doutrina da Proteção Integral adotada pelo Direito brasileiro e dirigida às crianças e adolescentes. Cada um, ao cumprir o seu papel, estaria colaborando com a devida proteção. Por exemplo, o Juiz, devendo aplicar a lei para a solução de conflitos relacionados aos direitos das crianças e adolescentes, assumindo, quando for o caso de ausência do conselho tutelar, suas atribuições; o Ministério Público requisitando diligências investigatórias e determinando a instauração de inquérito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de proteção à infância e à juventude, sempre zelando pelo efetivo respeito aos direitos e garantias legais; o delegado investigando com o cuidado para que as crianças não sejam expostas novamente às cenas de violência, o assistente social orientando, procurando descobrir se a criança esta sofrendo algum tipo de maus tratos, e ainda, o Conselho Tutelar atendendo às crianças, adolescentes e suas famílias, com seus direitos ameaçados fazendo cumprir as medidas de proteção (BRAZ, 2010). Outros, como a escola, devendo ser o meio de apoio e amparo às crianças e adolescentes, pois é nela que elas passam parte do seu dia, assumindo também a obrigação de realizar encontros constantes, debatendo o tema da violência doméstica, fortalecendo, assim, o trabalho em equipe de educadores e pais. Os religiosos, trabalhando em grupos de prevenção e conscientização, passando para as famílias e à sociedade os tipos de cicatrizes que essas crianças e adolescentes vítimas de tal barbaridade levarão para as suas vidas. 3. A pesquisa de campo sobre a atuação dos agentes em Rio Verde Para demonstrar se os agentes que compõem esta rede de proteção estão atuantes e se suas atuações estão articuladas no sentido de colaboração, buscou-se em uma pesquisa de campo, que fundamenta este artigo, os seguintes agentes: juiz de direito, promotora de justiça, delegado de polícia, gestora do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, assistente social, médico, socorrista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - SAMU, diretores de escolas municipal, estadual, particular, e representantes do setor religioso. Foi utilizado como instrumento o questionário com questões fechadas e abertas, sendo as fechadas solicitando informações sobre: I- violência física; IIviolência sexual, III - violência psicológica; IV- negligência, onde a preocupação primordial foi a de saber dos agentes da rede de proteção se eles têm a sensibilidade de identificar os principais sinais e as marcas psicológicas em crianças e adolescentes que sofrem esses maus tratos. Foram entregues em diversas instituições para profissionais de diferentes áreas e apresentado a todos um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, além das orientações para as respostas, tendo sido recolhidos posteriormente pela autora, única pesquisadora que atuou no trabalho. Como garantia aos participantes foi assumida obrigação de sigilo dos nomes. Todos foram referidos conforme sua função, qualificação e forma de atuação. A pesquisa ocorreu entre março e junho de 2010. A abordagem se deu com os principais agentes da rede de proteção de crianças e adolescentes da cidade de Rio Verde, onde os entrevistados responderam os questionários a eles entregues, com exceção do Conselho Tutelar. Neste órgão, não foi possível a realização da pesquisa, apesar das tentativas da autora, pelo motivo de indisponibilidade dos seus integrantes nas oito tentativas de contato pessoal e nas quinze por telefone. 4. Resultados e discussão 4.1 Juizado da infância e da juventude O Juiz da Infância e da Juventude respondeu que nunca suspeitou ou presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual, violência psicológica e negligência doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho, e se ocorresse, notificaria e encaminharia para a Delegacia da Infância e Juventude. Acrescentou que, se suspeitasse ou presenciasse, conversaria com o próprio agressor e que notificaria o Conselho Tutelar sobre a negligência doméstica. Sobre os sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma criança ou adolescente está sofrendo violência física são: hematomas, feridas e queimaduras. Sobre a violência sexual, é notável a mudança de comportamento, curiosidades relacionadas ao sexo com certa malícia, manifestações de conhecimento de temas sexuais, observa-se que as crianças e adolescentes estão com receio de alguém, pois cria repulsa sobre o agressor. Sinais de negligência podem ser a desnutrição e a prática de furto de bens de consumo. Na opinião do Juiz, as instituições que atendem as denúncias da violência doméstica contra as crianças e adolescentes, na cidade de Rio Verde, às vezes solucionam o problema. Se fosse convocado a depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu, iria. No seu local de trabalho, atende crianças e adolescentes na faixa etária de zero a dezoito anos. 4.2 Promotoria da infância e da juventude A promotora respondeu que já teve alguma suspeita ou presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual, violência psicológica e a negligência, todas de caráter doméstico contra crianças e adolescentes, não exatamente em seu local de trabalho, mas em virtude dele,e que conversou com os pais da vítima e outros responsáveis, notificou o Conselho Tutelar, a Delegacia de Polícia e o CREAS e que acompanhou a situação da vítima. Ao responder quais sinais poderiam indicar que crianças e adolescentes estão sofrendo violência física, violência sexual, violência psicológica e a negligência doméstica, notaria pelo comportamento agressivo ou muita timidez, manchas no corpo, e a aparência de assustada ou medo. Acrescentou que a negligência é notada pelas vestimentas, higiene, alimentação, rendimento escolar baixo. Sobre a solução do problema pelas instituições responsáveis, em Rio Verde, informou que, às vezes resolvem os problemas. Que ao denunciar uma suspeita ou ocorrência de violência por alguma instituição foi atendida imediatamente. E se precisasse depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu, iria sem nenhum problema. A promotora atende crianças e adolescentes em seu local de trabalho na faixa etária de zero a dezoito anos. 4.3 Delegacia de Proteção de Ato Infracional (DEPAI) O delegado respondeu que presenciou violência física, violência sexual e violência psicológica todas tipicamente domésticas, por mais de uma vez em seu local de trabalho, que determinou instaurar procedimento investigativo e, posteriormente, notificou o Ministério Público e que, em alguns casos procurou resolver a situação da vítima no seu próprio local de trabalho e acredita ter cumprido a sua função. Sobre negligência doméstica teve suspeita ou presenciou a ocorrência contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho, logo após informou o Conselho Tutelar, neste caso, ele acompanhou a situação da vítima. Sobre sinais de violência, o que ele observa é o comportamento arredio, agressividade, apatia e lesões físicas fora do contexto normal. E o que se nota em crianças e adolescentes sobre os sinais de violência sexual doméstica é a exacerbação da libido, ou seja, as crianças e adolescentes começam a demonstrar prematuramente desejo sexual, outras características é a depressão, o silêncio, apatia e agressividade. Ao falar em violência psicológica doméstica, os sinais são o desejo de permanecer na escola, ou seja, não querem retornar para sua casa, também apatia e agressividade. Sobre a negligência doméstica, disse que os sinais são externos por isso é notado com mais facilidade, por exemplo: a roupa, asseio pessoal, desnutrição e falta injustificada nas aulas. Ao relatar sobre as instituições que atendem as denúncias da violência contra crianças e adolescentes em Rio Verde, às vezes solucionam o problema. Quando precisou denunciar a suspeita ou a ocorrência de violência para alguma instituição, foi atendido de imediato. Ao responder sobre a necessidade de depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu, ele iria. Informou que atende em seu local de trabalho crianças de zero ano a dezoito anos. 4.4 Centro de referência especializado de assistência social – CREAS A Gestora CREAS informou que atendeu vários casos de violência física, negligência e violência sexual de característica doméstica, contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho e, uma vez, um caso de violência psicológica doméstica, que conversou com o chefe imediato, com os pais da vítima e notificou os casos na Delegacia da Mulher, Conselho Tutelar e Promotoria Pública. Após, procurou resolver a situação da vítima no seu próprio local de trabalho e acredita ter cumprido a sua função. Disse que as evidências sobre a violência física que poderiam indicar que crianças e adolescentes estão sofrendo seriam: hematomas, agressividade e dificuldade de convívio social. Sobre a violência sexual os sintomas são estereotipados por algum membro da família, hipersexualização de seus comportamentos e isolamento. Ao falar em violência psicológica, observa-se a apatia, isolamento e grande dificuldade de concentração. A negligência doméstica vem acompanhada de aparência abatida, maltrapilho e isolamento. Opinou que as instituições em Rio Verde, às vezes, solucionam o problema quando há alguma denúncia sobre a violência doméstica contra crianças e adolescentes. E quando denunciou uma suspeita ou ocorrência de violência para alguma instituição, o retorno foi alcançado imediatamente. A Gestora disse que se fosse preciso, ela iria sim depor na Justiça em um caso que tenha conhecimento ou que atendeu. Atende crianças e adolescentes na faixa etária de zero a dezoito anos. 4.5 Assistente Social A Assistente Social informou que já teve alguma suspeita ou presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual, violência psicológica e negligência doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho mais de uma vez. Tomou a iniciativa de conversar com o seu chefe imediato, com pais e parentes da vítima, notificou o Conselho Tutelar, acompanhou a situação da vítima, procurou resolver o problema no seu local de trabalho e acredita ter cumprido a sua função. Identifica os sinais de violência física doméstica, pelas marcas de objeto cortantes pelo corpo, queimaduras que indicam que foi outra pessoa que causou e marcas de surras de cintos e chinelos. Sobre violência sexual, nota-se que as crianças e adolescentes ficam retraídas, têm medo de tudo e de todos, sentem medo de serem tocadas com fraternidade e apresentam dificuldades de aproximação, até mesmo com outras crianças. Chama a atenção para os sinais da violência psicológica doméstica, a inquietação na presença do autor da violência, gagueira e timidez exagerada. Constata a negligência doméstica pela evasão escolar, falta de lazer, cuidados básicos de saúde mentais e físicos. Relatou que ao denunciar a violência doméstica contra crianças e adolescentes em Rio Verde, às vezes soluciona o problema. Informou que, quando suspeitasse e denunciasse a ocorrência de violência para alguma instituição, o retorno atendeu imediatamente as suas expectativas. Disse que se fosse preciso, ele iria depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu. Em seu local de trabalho, atende crianças e adolescentes de zero a dezoito anos. 4.6 Médico O médico começou respondendo ao questionário dizendo que suspeitou ou presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho por mais de uma vez, que conversou com os pais e tios da vítima, e notificou o Conselho Tutelar e acredita ter cumprido a sua função. Sobre a violência psicológica doméstica e negligência domestica, presenciou por mais de uma vez, conversou com os pais da vítima e não notificou nenhum órgão, pois disse que encaminhou a vítima para acompanhamento psicológico com os pais. Ao mencionar sobre os possíveis sinais de violência física, citou as escoriações, hematomas e contusões. E o que poderiam indicar que crianças ou adolescentes estão sofrendo violência sexual doméstica são as lesões genitais, atitudes de pânico, apavoramento e agressividade. Sobre os sinais de violência psicológica doméstica é a atitudes de pânico, baixo índice de relacionamento e fechamento em volta de si próprio. Os sinais de negligência doméstica são visíveis, como a desnutrição, desmazelo nas vestimentas, cabelos mal cuidados, e crianças que ficam maior tempo vagando pelas ruas. Sobre as instituições que atendem as denúncias da violência doméstica contra as crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às vezes solucionam o problema. Ao denunciar uma suspeita ou ocorrência de violência para alguma instituição, foi ouvido e o resultado atendeu as suas expectativas. Ao ser questionado se fosse convocado para depor na Justiça, ele confirmou que iria. Atende crianças e adolescentes da faixa etária de 10 anos a 18 anos. 4.7 Serviço de atendimento móvel de urgência – SAMU O socorrista disse que nunca suspeitou ou presenciou a ocorrência de violência física, violência sexual, doméstica contra crianças e adolescentes em seu local de trabalho, mas se tivesse ele conversaria com o chefe imediato e notificaria algum órgão responsável.Informou nunca ter presenciado violência psicológica, mas se presenciasse ou suspeitasse ele conversaria com o pai da vítima e notificaria ao Conselho Tutelar. Sobre negligência doméstica, ele presenciou mais de uma vez, conversou com o pai da vitima, não quis notificar nenhum órgão e acompanhou a situação da vítima de perto. Os sinais de violência física chamariam a sua atenção, as marcas no corpo, tristeza e medo. E os sinais da violência sexual doméstica, a criança sente medo, chora sem motivo, e não tem vontade de brincar. A violência psicológica doméstica traz sinais como o medo, a desconfiança e a agressividade. Sobre sinais de negligência doméstica, ele relatou a ausência de curiosidade, de interesse e alegria. Em sua opinião, as instituições de Rio Verde que atendem as denúncias da violência doméstica contra crianças e adolescentes, às vezes solucionam o problema. Quando denunciou uma suspeita ou ocorrência de violência para alguma instituição, suas expectativas foram atendidas. Afirmou que, se fosse convocado para depor na Justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu, ele iria. Atende crianças e adolescentes de zero a dezoito anos. 4.8 Escola municipal A diretora da escola municipal presenciou diversas vezes atos de violência física doméstica contra crianças e adolescentes. Diante desta situação, buscou se aconselhar com colegas de trabalho e, além disso, conversou com os pais da vítima e a avó para averiguar o que de fato estava acontecendo. Constatado o fato, notificou o Conselho Tutelar e acompanhou de perto a situação da vítima, fazendo valer a sua responsabilidade educacional cumprindo com sua obrigação de zelar pelo bem-estar da criança. Caso presenciasse novamente este tipo de situação, tomaria atitude semelhante acima citada além de conversar com outros parentes que tenham maior contato com a criança. E se essa pessoa confirmasse a situação de maus tratos notificaria a Promotoria da Infância e da Juventude. Afirmou ter presenciado, em sua instituição, casos de violência sexual doméstica. Diante do ocorrido, conversou com a mãe da vítima e notificou o Conselho Tutelar que acompanhou a situação de perto. Caso acontecesse novamente o fato com outra criança, conversaria com colegas da instituição, com a mãe da vítima e com outros parentes próximos da criança. Além disso, novamente notificaria o Conselho Tutelar, pois ele é o órgão mais bem preparado para lidar com tal situação. Relatou que presenciou apenas uma vez o fato de negligência contra a criança e sua instituição. Em meio à situação, conversou com colegas de trabalho e familiares da vítima e notificou o Conselho Tutelar, fazendo cumprir sua função como educadora e protetora das crianças em sua instituição de ensino. Sempre que isso vier acontecer, tomará as mesmas medidas para solucionar os problemas. Sobre os principais sinais de maus tratos contra crianças e adolescentes, são observadas as marcas roxas nos braços, nas pernas, na face e nas costas. Ao falar sobre crianças que possam ter sofrido abusos sexuais e seus sinais, tem que ser observado o comportamento. Disse que elas podem ficar retraídas, assustadas, desconfiadas, desatentas e apresentarão falta de organização por não saber lidar com sentimentos inerentes à agressão. Alem disso, a criança, se vitimada, terá medo de falar a respeito de assunto, complementa. Ao responder sobre as evidências da negligência doméstica, é visível pelo aspecto físico, como a falta de higiene, roupas rasgadas, chinelos velhos e sujos. Além de reclamar constantemente que estão com fome. A diretora respondeu que ao denunciar as violências para as devidas instituições foi atendida de imediato e que o resultado atendeu as suas expectativas. Informou que se fosse convocada para depor na justiça sobre algum caso que tenha presenciado ou que tenha conhecimento iria prontamente. As crianças e adolescentes que frequentam a escola estão entre 5 e 18 anos de idade. 4.9 Escola Estadual A diretora da escola estadual informou que presenciou uma vez, violência física doméstica contra criança no local de trabalho. Diante dessa situação, conversou com seu superior imediato, com os colegas de trabalho e com o pai da vítima, a fim de verificar o que de fato havia acontecido. Assim, procurou resolver a situação da vítima no seu próprio local de trabalho. Hoje, se presenciasse alguma cena parecida com a anterior, procuraria notificar um órgão responsável, tal como Delegacia da Infância e da Juventude, pois esta saberia conduzir melhor a situação. Sobre a negligência doméstica, presenciou por mais de uma vez tal fato. Para resolver o problema, conversou com seu chefe e colegas da instituição. Ao relatar sobre a violência sexual doméstica contra crianças e adolescentes, em seu local de trabalho recorreria a seu chefe imediato e também a um órgão responsável. Ao falar dos sinais de violência física, informou que perceberia se visse manchas no corpo das crianças, excesso de choro durante as aulas, carência de afeto e a falta de rendimento escolar. Quanto aos sinais de violência sexual doméstica, a diretora da escola estadual não soube se pronunciar por não conhecer o referido assunto. Quando questionada sobre sinais que chamariam sua atenção para indicar que uma criança ou um adolescente está sofrendo violência psicológica doméstica, a diretora da escola estadual afirmou que a criança apresentaria um comportamento agressivo, triste, sem vontade própria e choro constante, ficando sempre quieta pelos cantos. Sobre a negligência doméstica, a diretora afirma que se alguma criança ou adolescente passar por este tipo de problema começará a chorar sem motivos, apresentaria comportamentos rebeldes e teria um olhar distante como se estivesse pedindo socorro. Informou que suas denúncias sobre ocorrência de violência para instituições demoraram a serem atendidas e algumas instituições atenderam parcialmente suas expectativas. Afirmou que, se fosse convocada para depor na justiça sobre algum caso que tenha presenciado ou teve conhecimento, iria. As crianças e adolescentes atendidas na escola estão entre 10 a 18 anos. 4.10 Escola Particular A diretora da escola particular disse que nunca presenciou cenas de violência física doméstica em sua instituição. Caso suspeitasse ou presenciasse a ocorrência de violência física ou doméstica contra crianças e adolescentes no seu local de trabalho, conversaria com seu chefe imediato e não apelaria para nenhum órgão responsável, pois não tem informação sobre como ativar esse mecanismo. A diretora informou novamente que não presenciou e nem suspeitou da ocorrência de violência sexual no seu local de trabalho. Se isso viesse acontecer, conversaria com seus superiores, com outros colegas da instituição, para tomar uma melhor decisão. Mas não acionaria nenhum órgão responsável por medo de prejudicar a vítima. Sobre ato de negligência doméstica contra alunos de sua instituição se viesse a suspeitar de maus tratos, conversaria com colega e seu chefe imediato, procurando resolver ali mesmo a situação para que não houvesse necessidade de acionar nenhum órgão responsável para que a vítima não fosse prejudicada. Sobre violência física doméstica, informou que, além das manchas, outros comportamentos devem ser levados em consideração, tal como, agressividade da criança e o modo arredio para com as pessoas. Sobre comportamento de crianças e adolescentes que pudessem estar sendo vítimas da violência sexual, observaria se elas apresentassem inesperadamente sinais de revolta, timidez, apatia e insegurança. Complementando o assunto, a diretora da escola particular afirmou que a vítima passaria a apresentar mentiras em seu discurso e insegurança para outras pessoas de seu convívio. Relatou que os aspectos físicos demonstram a negligência doméstica, como roupas rasgadas, chinelos velhos e sujos, cabelos mal cuidados, e reclamações sobre fome. A diretora informou que quando fez uma denúncia para alguma instituição, o resultado atendeu suas expectativas. Informou que se fosse convocada a depor na justiça sobre algum caso que tenha conhecimento ou presenciado sobre as agressões contra crianças e adolescentes, iria sem problema nenhum. Crianças e adolescentes na escola, de 0 a 14 anos de idade em diferentes turnos. 4.11 Padre O padre disse que nunca suspeitou ou presenciou a ocorrência de violência física doméstica e violência sexual doméstica contra crianças e adolescentes em seu local de trabalho. Caso ocorre-se, conversaria com seu chefe imediato, com os pais da vítima e notificaria a própria instituição. Sobre a violência sexual doméstica, o padre disse não haver suspeitado ou presenciado qualquer tipo de cena a respeito do assunto mencionado. Quanto à violência psicológica, o padre disse ter presenciado apenas uma vez essa situação e que procurou orientação de seu chefe imediato, conversou com o tio e o irmão mais velho da vítima, e ainda, buscou explicações com a mãe da criança. Juntos resolveram a situação na própria instituição. Sobre a negligência doméstica, o padre afirmou ter presenciado apenas uma vez esse fato. Que mais uma vez buscou ajuda de seu chefe, aconselhou-se com colegas e conversou com outros parentes da vítima, tais como, irmão, tios e avós, para verificar o porquê daquela situação, e ainda, acompanhou de perto a situação. Ao relatar sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma criança ou adolescente está sofrendo violência física doméstica, são hematomas no corpo, baixa alto estima, o medo e insegurança. Sinais de violência sexual, a criança ou adolescente toca muito no assunto, sente dores nos órgãos sexuais e autoestima baixa. A violência psicológica, também vem acompanhada de baixa autoestima, fica com medo de autoridades, sente insegurança de estar presente com os agressores. A negligência doméstica é visível notar a criança ou adolescente maltrapilho, pede alimentos e informam que os pais passam muito tempo fora de casa. O entrevistado disse que as instituições que atendem as denúncias de violência doméstica contra crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às vezes conseguem resolver o problema. Na Igreja, segundo o padre, são atendidas crianças e adolescentes de 10 a 18 anos de idade. 4.12 Pastor O pastor afirmou ter presenciado mais de uma vez atos de violência física doméstica contra crianças em sua instituição. Diante dessa situação, conversou com seus superiores, com a mãe da vítima, porém não notificou nenhum órgão responsável para não prejudicar a vítima. Disse ter suspeitado uma vez de violência sexual doméstica e procurou orientar-se com seu chefe imediato para resolverem o problema. Além disso, conversou com a mãe da vítima para averiguar a situação, antes de tomar qualquer medida que pudesse vir a prejudicar a vítima e sua família. Embora, o pastor tenha presenciado ato de violência psicológica uma vez em sua instituição, preferiu esclarecer a situação diretamente com a mãe da vítima, sem buscar ajuda de outras pessoas para resolver o problema, pois teve medo de prejudicar a própria vítima. O pastor disse que presenciou algumas vezes cenas de negligência doméstica, informou ter conversado diretamente com o pai e com a mãe da vítima para apurar os fatos, não notificando seus superiores e nem a instituição para que a história não fosse passada adiante. Ao relatar sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma criança ou adolescente está sofrendo violência física doméstica, são a introversão, hematomas e isolamento. Sinais de violência sexual: a criança ou adolescente fica isolada, procura ficar sozinha e desconfia de todos à sua volta. A violência psicológica, muitas vezes, as crianças ou adolescentes se isolam, ficam rebeldes e não gostam de se relacionar com ninguém. A negligência doméstica é visível notar na criança ou adolescente também o isolamento, baixa autoestima e timidez. O entrevistado disse que as instituições que atendem as denúncias de violência doméstica contra crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às vezes conseguem resolver o problema. O pastor disse que não recorre a instituições que recebem denúncia contra crianças e adolescentes, pois essa conduta vai contra os princípios de sua instituição, onde os problemas abordados são ali mesmo solucionados. Disse que poderia ir ou não, depor na justiça sobre um caso que tenha conhecimento ou que atendeu. Informou que são atendidas e observadas crianças e adolescentes de todas as idades que variam de 0 anos a 18 anos. 4.13 Presidente do centro espírita O presidente do centro espírita disse que nunca suspeitou ou presenciou a ocorrência de violência física, sexual de caráter doméstico contra crianças e adolescentes em seu local de trabalho. Caso ocorresse, conversaria com seu chefe imediato, com os pais da vítima e notificaria à própria instituição. Sobre a violência sexual doméstica, o presidente do centro espírita disse que nunca suspeitou ou presenciou nenhum tipo de ocorrência sobre este assunto. Presenciou apenas uma vez ato de violência psicológica contra um menor e que buscou apoio de seu chefe para resolver o problema, e não achou necessário notificar a nenhum órgão responsável para não expor a vítima. Presenciou algumas vezes cenas de negligência doméstica, disse que buscou ajuda recorrendo a seu superior e não notificou diretamente a instituição por medo de prejudicar a vítima. Ao relatar sinais que chamariam a sua atenção e poderiam indicar que uma criança ou adolescente está sofrendo violência física doméstica, são: o comportamento, manchas e cicatrizes. Os sinais que chamariam a sua atenção se uma criança ou adolescente estão sofrendo violência sexual, cita o comportamento, o medo e o choro excessivo. A violência psicológica nota-se que a criança ou adolescente tem alterações no comportamento, falta de iniciativa e um olhar de medo. Na negligência doméstica é nítido notar que criança ou adolescente está mal cuidada, tanto no aspecto físico como nas vestimentas e o seu comportamento alterado. O entrevistado da área religiosa disse que as instituições que atendem as denúncias de violência doméstica contra crianças e adolescentes na cidade de Rio Verde, às vezes conseguem solucionar os problemas levantados, pois faltam profissionais qualificados para acompanhar de perto cada situação e que, muitas vezes, os responsáveis pelas agressões não são punidos. Relatou que não está satisfeito com as instituições pois não obteve respaldo para a resolução do problema quando solicitado.Disse que, se fosse necessário, ele deporia na justiça em algum caso que tenha presenciado ou acompanhado de violência doméstica contra crianças e adolescentes. No Centro Espírita, conforme o entrevistado são atendidos adolescentes de 15 a 18 anos. 4.14 Conselho Tutelar Não foi possível concluir a entrevista neste local. As pessoas responsáveis no órgão procuradas pela pesquisadora não aceitaram participar da entrevista. O Conselho Tutelar foi escolhido por ser o órgão de maior apoio, criado especialmente para trabalhar para crianças e adolescentes vitimas da violência doméstica e também a ajudar com métodos de prevenção a famílias. Em uma das tentativas para o preenchimento do questionário, foi percebido que o local carece de estrutura física adequada, equipamentos, como materiais de informática e veículos. Foi visto no pátio uma Kombi com os quatro pneus vazios. Por intermédio de uma ex-conselheira tutelar foi possível colher alguns relatos. Perguntada se na época em que ela trabalhou conseguia perceber se uma criança e adolescente pudesse esta sofrendo algum tipo de violência doméstica, disse que sim, pois, como trabalhou lá por muito tempo, já tinha um preparo para identificar a violência doméstica. Relatou que uma vez recebeu um telefonema de uma criança de onze anos de idade de classe média, pedindo ajuda. Foi até ela, chegando lá, viu nitidamente que se tratava de uma criança maltratada em vários sentidos, tanto psicologicamente como fisicamente. A família era negligente, tanto o pai como a madrasta, não queriam saber das suas responsabilidades perante o menor. A ex-conselheira denunciou ao Ministério Público, onde os fatos seriam apurados e, se assim confirmados, punir quem agisse de inconformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente. Finalizou dizendo que foi uma conselheira de muita responsabilidade, força de vontade, dedicação total e amor ao próximo, pois se a frente do Conselho Tutelar fossem colocadas pessoas despreparadas e até mesmo negligentes, as crianças e os adolescentes vitimas de violência poderiam novamente ser vitimizadas no local que foi criado para dar total apoio e conscientizar quem está agindo em discordância com a lei. 5. Considerações Finais A pesquisa mostrou que na cidade do interior como Rio Verde, não são todos os órgãos que têm recebido apoio do Estado no quesito parceria e isso faz com que os agentes não consigam desenvolver suas atribuições como deveriam. Sobre a percepção dos agentes, todos sabem identificar casos de violência contra crianças e adolescentes. Foi constado realmente que o Estado brasileiro não está conseguindo fazer com que todos os agentes da rede de proteção trabalhem na mesma direção e, na maioria das vezes, isso ocorre pela falta de agentes preparados para exercerem o seu real papel. Foi notado também que, em alguns órgãos da rede de proteção, faltam subsídios materiais, dificultando até mesmo as possíveis campanhas de prevenção em combate à violência doméstica contra crianças e adolescentes. É indispensável que o legislador esteja atento aos anseios da comunidade e passe a prestar mais atenção e dar o devido valor aos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente, consolidando e garantindo maior eficácia às leis e fazendo com que todos as cumpram. Se ainda necessário for, até mesmo prevendo novas tipificações penais para as condutas danosas ainda não definidas na legislação. É fundamental, acima de tudo, que o Estado invista na capacitação de pessoas especializadas e competentes que saibam diagnosticar a violência que uma criança ou adolescente esteja sofrendo, mesmo que os responsáveis por elas tentem negá-las. A Justiça, o Ministério Público, o Conselho Tutelar e outros órgãos da rede de proteção às crianças e adolescentes devem, assim, ter atuação constante, tendente a minimizar os efeitos negativos deste grupo de pessoas vulneráveis à violência. Os responsáveis pela aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente, legislação incumbida de orientar e determinar as sanções cabíveis, devem assumir cada vez mais o seu papel de guardiões desses direitos, cumprindo, assim, sua função social, que é a proteção das crianças e adolescentes, reprimindo e punindo os abusadores e descumpridores da lei. A prevenção da violência e de seus sinais físicos e psicológicos poderá constituir uma oportunidade de aprendizado entre as famílias e seus integrantes para que possam dialogar e refletir, compartilhando sentimentos, crenças, e valores, respeitando os direitos das crianças e dos adolescentes, e passando a elas as obrigações de um cidadão equilibrado e consciente. Dando, dessa forma mais confiança e um aspecto de equilíbrio para que as novas gerações possam ser mais sensíveis, deixando em um passado distante as marcas da violência doméstica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição da República Federativa do. Vade Mecum. São Paulo: Saraiva, 2009. ________. Estatuto da Criança e do Adolescente. Vade Mecum. São Paulo: Saraiva, 2009. BRAZ, C. C. O papel dos agentes na rede de proteção das crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. In: 4ª Jornada Científica do Instituto de Ensino Superior de Rio Verde/ Faculdade Objetivo e 1ª Jornada do Egresso do Curso de Direito. Mesa de abertura. Rio Verde – GO, 23 junho 2010. D’ ESPÍNDOLA, V.S. A violência doméstica contra criança e adolescentes. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/18584/1/A/pagina1.html>. Acesso em: 12 abr. 2010. GOIÁS. Prefeitura Municipal de Rio Verde. SAMU. Disponível <http://www.rioverdegoias.com.br/i.php?si=samu>. Acesso em: 27 jun. 2010. em: GUIA DE ORIENTAÇÃO nº 1. 1ª Versão do Centro de Referência Especializado Social – CREAS. HIRSCHEIMER, M.R.; WAKSMAN, R. D. Roteiro de atendimento e notificação. Disponível em: <http://www.condeca.sp.gov.br/eventos_re/ii_forum_paulista/c8.pdf>. Acesso em: 24 jun. 2010. ONU-BRASIL. Convenção sobre os direitos da criança. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/doc_crianca.php>. Acesso em: 03 jul. 2010. INFLUÊNCIA DOS PAIS NA FORMAÇÃO DA PERSONALIDADE DO SERIAL KILLER1 Desyrrê Moraes Lemes2 Aline Maciel Monteiro3 Leonardo Ferreira Faria4 Resumo O serial killer tem uma personalidade que pode ser acompanhada por vários transtornos psicológicos, como por exemplo, a psicopatia e o desvio de conduta em que essa personalidade começa a ser moldada durante a infância. Os pais têm como dever cuidar e educar essas crianças, e portanto, precisam dar atenção devida às diferenças comportamentais apresentadas pelos filhos. No Transtorno da Conduta, a criança pode apresentar extrema agressão para com as pessoas de casa, bem como, para com os colegas de escola, mentir, desobedecer os pais, aparecer em casa com coisas que não lhe pertencem. Já a personalidade antissocial faz com que a pessoa não consiga se colocar no lugar do outro, sendo totalmente fria e desrespeitando os direitos humanos. Esse tipo de personalidade é associado à Psicopatia, transtorno também descrito junto à personalidade do serial killer, que padroniza seus crimes, matando de forma fria, em série, variando o intervalo de tempo entre eles. Sendo assim, objetivou-se, através de uma revisão bibliográfica, conhecer de que forma os pais poderiam contribuir na formação da personalidade do serial killer, entendendo como ocorre a influência familiar na formação dessa personalidade. Frente ao demonstrado pode-se perceber que existe realmente uma grande influência dos pais na formação da personalidade dos serial killers. Como não existe cura para o serial killer, um tratamento que envolva a família para que os pais não influenciem negativamente e cuidem mais de seus filhos, pode ser o meio mais confiável para ajudar crianças com Transtorna da Conduta, pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia em graus mais leves, para que não evoluam e acabam se tornando um serial killer. Fica claro a necessidade de mais estudos com esse tema, pois estes seriam um caminho para que os pais e a sociedade tenham mais conhecimento sobre o assunto, e para que a Psicologia possa se encarregar da regeneração e inclusão desses indivíduos na sociedade quando for possível, com o devido apoio familiar, e possa manter um tratamento que amenize os desvios comportamentais depois do diagnóstico. Palavras–chave: Serial Killer. Personalidade. Pais. 1. Introdução O serial killer tem uma personalidade que pode ser acompanhada por vários transtornos psicológicos, como por exemplo, a Psicopatia e o Transtorno da Conduta. Todavia, é sabido que a personalidade começa a ser moldada durante a infância. Assim, a personalidade ao ser construída durante o desenvolvimento dos 1 Monografia apresentada como requisito para obtenção do título de Psicóloga na Universidade de Rio Verde-GO 2 Acadêmica do Curso de Psicologia da FESURV - Universidade de Rio Verde. 3 Orientadora, Profª. Ms. do Curso de Psicologia da FESURV - Universidade de Rio Verde. 4 Co-orientador e Especialista em Psicologia Jurídica pela PUC-GO. seres humanos vai determinar como será a conduta deles durante a vida. Já aqueles que têm algum Transtorno de Personalidade, têm esses esquemas diferenciados, e a influência dos pais durante sua formação é de extrema relevância. Já que essas características podem ser notadas durante a infância, é importante que os pais estejam atentos, para que os comportamentos indesejados que estão presentes na personalidade de um serial killer não evoluam e possam ser controlados, diminuindo assim a chance de chegar a cometer crimes. Sendo assim, objetivou-se através de uma revisão bibliográfica, conhecer de que forma os pais poderiam contribuir na formação da personalidade do serial killer, entendendo como ocorre a influência familiar na formação dessa personalidade. Buscou-se ainda analisar como a família garante que essa criança na fase adulta, consiga controlar os atos que a psicopatia favorece e verificar os benefícios e malefícios que a educação familiar traz para o serial killer e seu convívio social. Portanto, viu-se a necessidade deste estudo, já que alertaria os pais, bem como a sociedade, para as características presentes nessa personalidade, reconhecendo assim quem seria o psicopata futuramente. O estudo foi realizado através de uma pesquisa bibliográfica relacionada a Transtornos de Personalidade e sua evolução na história de vida dos serial killers. 2. Resultados e discussão O termo serial killer surgiu para nomear populações de penitenciárias, diferenciando assim, algumas pessoas que cometiam crimes de forma muito violenta, sem motivo aparente e com certa semelhança em seus atos criminosos. Sendo assim, os serial killers foram definidos como sendo indivíduos que cometem uma série de crimes caracterizados pelo ato de matar durante algum período de tempo, com pelo menos alguns dias de intervalo entre esses crimes (CASOY, 2008). Na maioria dos casos, os serial killers são homens e seus crimes são realizados através de rituais e suas vítimas são escolhidas de forma que caracterizem mais seus atos como, por exemplo, prostitutas. De acordo com o Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, o Código Penal Brasileiro, Art. 71, este é o tipo de Crime Continuado, quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro. Em relação as suas vítimas, na maioria das vezes, não as conhece, ele parece sempre ser um estranho e desconhecido da vítima e muitas vezes escolhe pessoas vulneráveis como prostitutas e andarilhos. (RAMOS, 2002) Dentro da definição geral do conceito de serial killer, existem quatro tipos de assassinos em série, variando suas características, mas que por causa dos crimes que cometem também são enquadrados nesse conceito. O primeiro tipo de serial killer é o chamado visionário que é um indivíduo que perde a razão, louco, alienado e que ouve vozes dentro de sua cabeça e, portanto, as obedece. Já o missionário socialmente não demonstra ser louco, mas em seu interior tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno e por isso escolhe certos grupos para matar, como prostitutas, homossexuais, mulheres, crianças. O emotivo mata por pura diversão, tem prazer em matar utilizando atos cruéis, obtendo prazer no próprio processo de planejamento do crime. E, por fim, o sádico é o assassino sexual. Mata por desejo. Seu prazer será diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura. A ação de torturar, mutilar e matar lhe traz prazer sexual. (CASOY, 2008) Neste momento vale ressaltar, que apenas com a exceção do serial killer visionário, os demais têm a noção dos atos que cometem, pois estão sempre conscientes das leis e regras estabelecidas pela sociedade. Para este tipo de serial killer, o encarceramento em prisão não é aplicado, mas sim uma medida de segurança que, de acordo com o Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, Código Penal Brasileiro, Art. 96, I, é a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado. Além das características citadas acima, há possibilidades de se perceber comportamentos presentes na infância. Outro fator de extrema relevância. Segundo Casoy (2008, p.29) “a grande maioria dos serial killers, cerca de 82%, sofreu abusos na infância. Esses abusos foram sexuais, físicos, emocionais ou relacionados à negligência e/ou abandono”. Por este motivo, viu-se a necessidade de buscar aspectos que influenciassem a formação da personalidade do serial killer, relacionados à família, sendo de extrema relevância entender o comportamento e os transtornos de personalidade que possam caracterizar esses indivíduos. 3. Comportamento Antissocial e Transtorno da Conduta Para começar a se identificar um serial killer, é preciso observar seu comportamento e quais os transtornos que ele pode ter. Uma criança em seu desenvolvimento normal pode apresentar comportamentos típicos de uma criança problemática, ou que venha a ter um possível transtorno de personalidade, como por exemplo, os comportamentos antissociais. Mentir para os pais para não levar uma bronca porque quebrou o vazo de flores da sala, brigar com os colegas na escola são comportamentos comuns de uma criança que não quer apanhar, ou precisa se defender. Mas o que torna isso preocupante é a frequência que esses fatos ocorrem, a maneira que esses comportamentos estão afetando as pessoas e os lugares que essas crianças frequentam e como a criança começa a usar isso a seu favor, manipulando, mentindo e até mesmo fazendo com que as consequências sejam mínimas. Esses comportamentos chamados antissociais e que fogem às regras se enquadram em alguns transtornos como o Transtorno da Conduta e o Transtorno de Personalidade Antissocial. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM-IV-TR (APA, 2002, p.120) a “característica do Transtorno da Conduta consiste num padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos individuais dos outros ou normas ou regras sociais importantes próprios da idade”. Quando o Transtorno da Conduta se inicia na infância, ele traz algumas características importantes em que, pelo menos um critério característico aparece antes mesmo dos 10 anos de idade. Os indivíduos em geral são do sexo masculino e demonstram agressividade de forma frequente e têm relacionamentos perturbados com os pais. Essas crianças, na maioria das vezes, estão mais propensas a permanecerem com o Transtorno da Conduta e desenvolverem o Transtorno de Personalidade Antissocial na idade adulta. (DSM – IV – TR, APA, 2002). O Transtorno da Personalidade Antissocial traz para o indivíduo características gerais relacionadas a desprezo e violação dos direitos dos demais e que começa na infância, ou no início da adolescência. (DSM – IV – TR, APA, 2002) Entendendo então os transtornos citados acima, cabe aos pais notar que esses comportamentos que trazem uma disfunção em casa ou na escola, estão frequentes e que a criança não se importa muito com as consequências. Essa responsabilidade é dirigida aos pais, sendo eles biológicos ou não, pois são as primeiras pessoas a fornecerem contato para criança. De fato, a família é a rede primária que referencia e totaliza a proteção e a socialização dos indivíduos, pois este é o ambiente em que toda criança deve crescer, iniciando sua história dentro da história de sua família. (PITTA; FONTOURA, 2009) Portanto, é de extrema relevância pontuar qual o papel da família e de que maneira ela influencia na formação da personalidade de um serial killer, já que a família é o primeiro contato da criança. 3.1 Influência familiar na formação da personalidade do serial killer Sabe-se que os primeiros relacionamentos da vida, são dados pela família, onde se aprenderá o que deve ou não fazer, o que é certo e o que é errado, além de construir os primeiros vínculos afetivos, mas na atualidade, é reforçado cada vez mais o individualismo como forma de sobrevivência. A existência de um vínculo familiar consistente nos primeiros anos de vida está associada a um posterior comportamento de confiança em relação a si mesmo. Essa associação revela como os relacionamentos primitivos são importantes no desenvolvimento satisfatório da personalidade. Experiências precoces de rupturas de vínculos afetivos devem ser levadas em consideração por exercerem um efeito prejudicial no desenvolvimento da personalidade, trazendo comportamentos inadequados. (ABDALLA, 2004) Esses comportamentos inadequados chamados de antissocial são muitas vezes recompensados e reforçados pelos pais, pelos professores e colegas dessas crianças, que são as pessoas mais próximas delas. (KOCH; GROSS, 2005). Por este motivo, a família pode se tornar a grande responsável por comportamentos inadequados, sentimentos de frieza e agressividade, pois essas crianças tiveram aprendizado baseado em fatores negativos. Sendo assim, os laços familiares na infância de um ser humano vão servir de mapa para todas as outras relações. (CASOY, 2008) Pessoas que possuem comportamentos antissociais apresentam na maioria dos casos negligência infantil ou abuso por parte dos pais. Devido a um desajuste, já na interação mãe-bebê, elas não atingem um sentimento de confiança que juntamente com a ausência de amor com a mãe, surgem experiências definitivas no desenvolvimento do futuro antissocial. (Garbarski; Gauer; Machado, 2009) O DSM – IV – TR (APA, 2002, p.659) traz que os filhos adotados “assemelham-se mais a seus pais biológicos do que a seus pais adotivos, mas o ambiente da família adotiva influencia o risco do desenvolvimento de um Transtorno de Personalidade”. Os pais ainda podem contribuir para que essa criança já nasça com algumas predisposições ao Transtorno da Conduta. O DSM-IV-TR (APA, 2002, p.122) relata que os fatores citados a seguir podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno: rejeição e negligência parental, práticas inconscientes de criação dos filhos com disciplina demasiado rígida, abuso físico ou sexual, falta de supervisão, institucionalização nos primeiros anos de vida, trocas freqüentes de responsáveis pela criança, família muito numerosa, histórico de tabagismo materno durante a gravidez, exposição a violência e certas espécies de psicopatologia na família (p. ex., Transtorno de Personalidade Anti-Social, Dependência ou abuso de Substância). Vários casos de serial killer no Brasil demonstram como esses lares desestruturados influenciaram suas personalidades que acabaram por fim se tornando assassinos em série que chocaram todo o país. Há um caso que aterrorizou o Brasil. Foram 42 meninos entre 6 e 15 anos, vítimas feitas por Francisco das Chagas Rodrigues Brito entre 1989 e 2004, no Maranhão e no Pará, e é considerado o pior serial killer brasileiro. Chagas escolhia meninos fisicamente parecidos, pobres de periferia que vendiam doces e perambulavam pelo local onde trabalhava ou morava. Ele puxava conversa com a criança e a convidava para pegar frutas no mato. Quando entrava na mata fechada, matava a criança por estrangulamento, a pedradas, ou com objetos cortantes. Depois as mutilava: retirava seus testículos ou órgãos genitais, decepava partes do corpo e levava com ele osso, roupas, um dedo, uma orelha ou outro pedaço amputado. Em alguns casos, estuprou a vítima e há suspeitas de que tenha comido partes de algumas. Seu caso ficou conhecido como "Os Meninos Emaculados de Altamira". (RIBEIRO, 2010) Por isso, especialistas ainda tentam entender os motivos que levaram Chagas a praticar os crimes. Chagas dizia que o motivo estava na bíblia, Isaías 14:21: "Preparai a matança para os filhos por causa da maldade de seus pais, para que não se levantem, e possuam a terra, e encham o mundo de cidades". Apesar da motivação aparentemente religiosa dos crimes, os especialistas acreditam que a chave da psicopatia de Chagas esteja na infância: criança abandonada pelos pais que apanhava da avó severa com chicote de cipó. Em 2006, ele foi condenado a 20 anos e oito meses de prisão por um dos crimes e ainda aguarda julgamento pelos demais assassinatos. (RIBEIRO, 2010) Percebe-se que a influência negativa dos pais refletem na formação da personalidade do serial killer. (MORANA, et. al., 2006) A criança então começa a apresentar comportamentos caracterizados no Transtorno da Conduta, evoluindo então ao Transtorno de Personalidade Antissocial. Este costuma ser o trajeto seguido pela experiência de vida familiar da maioria dos criminosos violentos, principalmente dos serial killers. Outro fator bastante encontrado é o fato do pai ou a mãe biológica ter características antissociais, o que reforça ainda mais o filho que apresente as mesmas características, segundo Souza (2008, p.27) “a incidência de personalidade antissocial é mais elevada em pessoas que têm o pai ou mãe biológicos com distúrbio antissocial”. Mesmo assim, acredita-se muito mais em fatores que justificam esses comportamentos antissociais que foram provocados pela influência familiar do que fatores genéticos propriamente ditos. Então, o que se pode fazer é diagnosticar esse Transtorno de Conduta na criança o mais cedo possível, para que se possa fazer um tratamento e acompanhamento em relação ao controle desses atos. Portanto, o diagnóstico é de extrema relevância para uma possível intervenção e por isso é necessário discorrer sobre esse tema para uma maior compreensão de como identificar comportamentos que se enquadrem no Transtorno da Conduta. 3.2 Diagnóstico e Tratamento do Transtorno da Conduta O diagnóstico do Transtorno da Conduta é de grande relevância para que os pais interessados possam ajudar os filhos a não manterem esses comportamentos inadequados que podem permanecer durante a vida adulta ficando mais grave e se tornando um Transtorno de Personalidade Antissocial, que está presente na personalidade do serial killer. Segundo o DSM-IV-TR (APA, 2002, p.124) para se diagnosticar este transtorno é necessário que exista: um padrão repetitivo e persistente de comportamento no qual são violados os direitos individuais dos outros ou normas e regras sociais importantes próprias da idade, manifestado pela presença de três (ou mais) dos seguintes critérios nos últimos 12 meses, com presença de pelo menos um deles nos últimos 6 meses: agressão a pessoas e animais, destruição de patrimônio, defraudação ou furto, sérias violações de regras. Mas vale ressaltar que alguns comportamentos tidos como inadequados e principalmente indesejados pelos pais, não são suficientes para fechar o diagnóstico do Transtorno da Conduta em uma criança. Sendo diagnosticado então, a família poderá buscar tratamento para o filho. É relevante ressaltar que a família também passe por um tratamento já que o contexto familiar tem grande influência na experiência da criança. Para o tratamento, a terapia precisa focar a aprendizagem de comportamentos novos e a diminuição dos desadaptativos por meio de técnicas, tais como o reforço do comportamento apropriado, como por exemplo, a criança tem o costume de interromper a mãe quando está cozinhando, então a mãe oferece um desenho para a criança colorir e a elogia por não interrompê-la na cozinha. E objetivar ainda treinamentos que incluam melhor competência e habilidades dos pais para lidar com os problemas do comportamento infantil. (KOCH; GROSS, 2005) Porém, é necessário ainda descrever o Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia, pois na personalidade do serial killer, o Transtorno da Conduta prevalece somente na infância, evoluindo então na vida adulta para o Transtorno Antissocial e a Psicopatia. 3.3 Transtorno de Personalidade Antissocial e Psicopatia Os Transtornos da Personalidade caracterizam pessoas que possuem uma maneira diferente de se comportar diante da sociedade, comparando com as outras pessoas. São personalidades anormais que atuam de maneira permanente, já que determinados traços estão completamente comprometidos, como se a pessoa fosse refém de seus próprios atos. (SILVA, 2004) O serial killer, não apresenta apenas o Transtorno da Conduta em sua personalidade perturbada. Ele traz junto com ele, como já foi citado, na maioria dos casos, o Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia que mostram na adolescência, comportamentos que caracterizam o Transtorno da Conduta, e na fase adulta permanece o padrão de comportamentos irresponsáveis e que ameaçam a sociedade. (BECK; FREEMAN; DAVIS, 2005) Segundo Abdalla (2004, p.286) o Transtorno de Personalidade Antissocial pode ser caracterizado pelos seguintes aspectos: indiferença e insensibilidade diante dos sentimentos alheios; atitude persistente de irresponsabilidade e desprezo por normas, regras e obrigações sociais estabelecidas; incapacidade de manter relacionamentos estabelecidos; baixa tolerância à frustração e baixo limiar para a deflagração de agressividade e violência; incapacidade de experimentar culpa e grande dificuldade de aprender com a experiência ou com a punição que lhe é aplicada. Para então, se fazer então o diagnóstico do Transtorno da Personalidade Antissocial, o indivíduo precisa ter idade mínima de 18 anos e ter tido um histórico de alguns sintomas do Transtorno da Conduta antes dos 15 anos. (DSM – IV – TR, APA, 2002) A Psicopatia também leva a atos criminais por trazer para a personalidade do indivíduo um distanciamento de suas emoções, pois de acordo com Tripicchio (2007, p.4) “o que mais chama a atenção nos psicopatas é a sua frieza e total descompromisso com o que narram, em detalhes milimétricos, de como mataram suas vítimas”. Apesar da semelhança entre os fatores que descrevem a Psicopatia e o Transtorno de Personalidade Antissocial, é necessário esclarecer que ambos são diferentes e que nem todo antissocial venha ser um psicopata em potencial. De acordo com Filho et al. (2009, p.341) o termo Psicopatia surgiu para “designar quadros de comportamentos antissociais extremados, usualmente associados a crimes violentos e bárbaros, em que as faculdades da razão não pareciam prejudicadas”. Portanto, a personalidade do serial killer está composta pelo Transtorno de Personalidade Antissocial seguido pela Psicopatia, pois de acordo com Vellasques (2008, p.36): pode acontecer, em muitos casos, que o serial killer tenha um Transtorno de Personalidade psicopática, porém não é necessariamente uma regra. Isso também não quer dizer que todo psicopata seja um serial killer, e que ele se tornará um assassino serial, uma vez que a psicopatia tem vários graus e que pode levá-lo a cometer outros tipos de delitos. São poucos os psicopatas que se tornam serial killers, mas são muitos os serial killers que padecem de alguma forma de Psicopatia. Sendo assim, torna-se importante conhecer o tratamento para esses serial killers, bem como orientar a sociedade e a família para que saibam reconhecer a personalidade desses indivíduos e talvez influenciá-los de maneira mais positiva. 3.4 Tratamento para a Psicopatia e para o Transtorno de Personalidade Antissocial e orientação aos pais e sociedade Após ter relatado e caracterizado o Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia, e enfatizado como a família, principalmente a figura dos pais, pode influenciar de forma categórica a existência desses transtornos em uma criança, evoluindo então para o agravamento na fase adulta, o que são aspectos básicos da personalidade do serial killer, é necessário que discorra sobre o tratamento para esses indivíduos, bem como orientar a família e a sociedade. Primeiramente, é necessário saber como se constituí o serial killer e de que forma poderia se identificar essa personalidade que aparentemente é normal e por isso se mistura às outras pessoas com muita facilidade. Inicialmente a criança apresenta comportamentos inadequados como brigar com irmão ou com colegas na escola e quebrar brinquedos, se assim os pais estão ausentes e não acompanham o crescimento dos filhos ensinando-os e educando-os com amor, a criança repete os mesmos comportamentos e acrescenta novos comportamentos inadequados configurando então os comportamentos antissociais que, quando não tratados, evoluem para o Transtorno da Conduta. Mais uma vez os pais ausentes e negligentes não observam os filhos e não dão atenção aos seus comportamentos que evoluem durante a infância e a adolescência chegando à fase adulta com o então chamado Transtorno de Personalidade Antissocial. Com todo esse histórico de comportamentos inadequados e uma personalidade antissocial já formada, surge então o psicopata que pode cometer crimes. Se esses crimes forem dois ou mais homicídios semelhantes, surge então o serial killer. (BRAZ, 2010) Portanto, a maneira mais efetiva seria intervir ainda na infância quando a personalidade não está completamente estruturada. Essa intervenção não deve ser limitada apenas à criança, mas é muito importante que seja dirigida também aos pais para que estes possam encontrar meios de resgatar o vínculo afetivo com seus filhos, isto porque, a privação da presença dos pais e as frustrações daí decorrentes são decisivas para a configuração da personalidade antissocial (GARBARSKI, et. al., 2009). Sendo assim, os pais como influenciadores da formação da personalidade do serial killer, o foco deste estudo é um dos principais fatores para a causa dos transtornos relatados na personalidade dos filhos, precisam buscar maneiras para se aproximar dos filhos e então criá-los com afeto, carinho, atenção, proporcionando o aprendizado dos sentimentos e dos vínculos que devem se formar ao longo da vida. Mas, as pessoas que são diagnosticadas com o Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia, e matam de forma seriada, não têm sucesso em tratamentos. De acordo com Silva (2008, p.169): os serial killers, além de acharem que não têm problemas, não esboçam nenhum desejo de mudanças para se ajustarem a um padrão socialmente aceito. Julgam-se autossuficientes, são egocêntricos e suas ações predatórias são absolutamente satisfatórias e recompensadoras para eles mesmos, então não há necessidade de mudança. Sendo assim, fica fácil entender o porquê do insucesso relatado nas experiências de tratamento com assassinos em série, apenas aqueles que estão em medida de segurança que segundo o Decreto - Lei nº 2.848 de 7 de dezembro de 1940, Art. 96 do Código Penal Brasileiro é que têm por ordem judicial um acompanhamento psicoterápico e também o uso de medicamentos. Por isso, não é nada fácil o tratamento psicoterápico, uma vez que o serial killer é um mentiroso contumaz. Não existe profissional de saúde mental que não tenha sido enganado por um psicopata. Em geral têm uma boa apresentação, falam bem e são muito convincentes. Para ajudar a diminuir a enganação que esses indivíduos tentam causar, o psicólogo com sua atuação, deve dispor de informações provenientes de familiares, amigos, registros hospitalares ou fornecidos por autoridades, confrontar o paciente com suas mentiras, às vezes abrindo as portas para o início de uma relação terapêutica com um mínimo de sinceridade e às vezes deixando o paciente furioso e nada propenso a voltar à terapia. (SOUZA, 2008) Portanto, para o serial killer não há saída, pois apresenta Transtornos de Personalidade e não alterações comportamentais momentâneas. Porém, é preciso ter sempre em mente que tais transtornos apresentam formas e graus diversos de se manifestar e que somente os casos mais graves apresentam barreiras de convivência intransponíveis (SILVA, 2008). Por este motivo, é que a convivência com os pais deve ser levada em consideração quando a personalidade está ainda sendo formada durante a infância, pois nessa relação existem fatores que influenciam negativamente suas personalidades. Na literatura existem vários tipos de tratamento, fornecendo ainda intervenções junto à família e à escola como, por exemplo, psicoterapia familiar e individual, orientação de pais, comunidades terapêuticas e treinamento de pais e professores em técnicas comportamentais, e quanto mais cedo se buscar ajuda, e quanto mais jovem o paciente, os resultados podem ser melhores. (BORDIM; OFFORD, 2000) Diante a resistência a mudança que os serial killers têm, tanto o terapeuta, quanto os pais e a sociedade devem ter um cuidado especial com os psicopatas já que sua resistência para mudança é maior e mesmo a possibilidade de utilização de recursos à sua disposição, essa mudança pode se tornar uma aprendizagem para que sejam mais hábeis na vitimização de seus alvos. (GONÇALVES, 2007) Para os pais que são os mais influentes na formação da personalidade do serial killer, existem duas maneiras de ajudar esses indivíduos ainda na infância para que não se tornem assassinos em série. Primeiramente, os pais precisam deixar de influenciar negativamente, construindo um lar mais estruturado, mais afetivo para que as crianças possam crescer e formar suas personalidades. Em segundo lugar, os pais precisam então cuidar mais, olhar mais para esses filhos, ou seja, prevenir que esses comportamentos inadequados evoluam até se formar os serial killers. (BRAZ, 2010) 4. Conclusão Com base no estudo bibliográfico realizado pôde-se perceber que os pais que não dão atenção aos filhos, que têm comportamentos inadequados e ainda os influencia negativamente, permitem que seus filhos evoluam esses comportamentos chegando ao Transtorno da Conduta que mais uma vez se não tratado precocemente passa ao Transtorno de Personalidade Antissocial, a Psicopatia e por fim, forma-se o serial killer. Chegou-se também à conclusão que o Transtorno de Personalidade Antissocial e a Psicopatia não têm “cura”, já que as maneiras existentes de tratamento não trazem mudanças significativas que vão extinguir a maldade e a frieza presente nas personalidades. Por isso, os serial killers não conseguem se recuperar, pois apresentam Transtornos de Personalidade e não alterações comportamentais momentâneas, e que se diagnosticado esses transtornos relatados, de forma precoce, como dito anteriormente, os pais podem assim buscar ajuda no tratamento psicoterápico, e se necessário o uso de algum medicamento, para que os comportamentos antissociais não se estabeleçam, evoluindo para um Transtorno de Personalidade. Mesmo assim, a perspectiva de cura é devidamente pequena e por isso não há muito que fazer com os serial killers, até o momento o encarceramento desses indivíduos é a maneira mais eficaz de proteger a sociedade. Mas, se é feito um trabalho junto à família, é possível melhorar a convivência social dessas crianças, evitando que elas acabem entrando no mundo do crime prejudicando todo processo familiar, e evitando o surgimento de mais serial killers na sociedade. No entanto, é preciso mais realizações de estudos que relacionem os Transtornos da Conduta e de Personalidade Antissocial, bem como a Psicopatia relacionada à influência dos pais na formação dessas personalidades, já que na maioria dos casos não existe possibilidade de cura, principalmente para os serial killers. Estes estudos seriam um caminho para que os pais e a sociedade tenham mais conhecimento sobre o assunto, e para que a Psicologia possa se encarregar da regeneração e inclusão desses indivíduos na sociedade quando possível, com o devido apoio familiar, e favorecer tratamentos que amenizem os desvios comportamentais depois do diagnóstico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABDALLA, E. F. Transtorno da Personalidade. In: Taborda, J, G. V.; Chalub, M.; Abdalla, E. F. (Coords.), Psiquiatria Forense. Porto Alegre: Artmed, 2004. p.281296. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-IV-TR, Diagnostic and statistical manual of mental disorder. 4.ed.rev., Porto Alegre: Artemed, 2002, 880p. BECK, A. 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