1 O Meio-Ambiente como Gestão Estratégica Lean Production e Reutilização de Efluentes Igor Serrante Zaninoto Discente do Curso de MBA em Gestão Empresarial do Centro Universitário de Lins – Unilins, Lins-SP, Brasil [email protected] Prof. Adm. Irso Tófoli Docente do Curso de MBA em Gestão Empresarial do Centro Universitário de Lins – Unilins, Lins-SP, Brasil [email protected] Resumo: Buscou-se, com este artigo, apresentar algumas alternativas de gerenciamento de resíduos e matérias-primas básicas, como a água, estritamente relacionadas às questões ambientais. Não se encerra, neste trabalho, as alternativas viáveis à processos produtivos mais eficientes e gestão de resíduos industriais. No entanto, procurouse, de maneira sucinta e prática, discorrer sobre algumas propostas viáveis para tornar um problema, que acaba se traduzindo em custos indiretos à produção, em soluções viáveis ou, no mínimo, reduzir as despesas secundárias (que não estão diretamente ligadas ao produto final) com resíduos industriais, pautando-se pelos princípios da produção mais limpa (P+L). Além de se evitar sanções ambientais com multas ou embargos à produção, pode-se, utilizando métodos e equipamentos específicos e ao mesmo tempo simples, arrecadar ativos para o que antes era considerado como lixo, resíduo ou subproduto inútil. Artigo desenvolvido como parte de trabalho de conclusão de curso de MBA em Gestão Empresarial, da UniLins – Centro universitário de Lins. and basic raw materials, such as water, closely related to environmental issues. It do not ends, in this work, the viable alternatives to more efficient production processes and management of industrial waste. However, concerned with this article, succinctly and practice, noting some workable proposals to make a problem, which have translated into indirect costs for the production, in viable solutions or, at least, reduce the secondary costs (which are not directly related to the final product) with industrial waste, while observing the principles of cleaner production (CP). In addition to avoid environmental penalties with fines and bans the production, it can be, using specific methods and equipment while simple, raise assets for what was once considered trash, waste or by-product useless. This article was developed as part of work on the completion of an MBA in Business Management, the UniLins University Center of Lins. Keywords: Environment. Strategic Management. Cleaner Production Palavras-Chave: Meio-ambiente. Gestão Estratégica. Produção Mais Limpa 1 Introdução Abstract: It was intended with this article, present some alternatives to waste management A partir da revolução industrial, o pensamento coorporativo voltou-se mais intensamente à produção e ao lucro quase à qualquer preço. No entanto, esta visão e 2 este modo de agir, em detrimento ao conceito de sustentabilidade, têm um custo, e alto, como se tem tido o desprazer de saborear com o desequilíbrio físico e climático do ecossistema mundial. Não é novidade as alterações climáticas e o desaparecimento de espécies e culturas por conta da voracidade da natureza em tentar se manter. Muito se lastima sobre catástrofes naturais, mas pouco se pensa que a natureza é bem maior que nossos microsistemas produtivos e que é a industrialização que está tomando conta de um espaço que não é dela. E na lei do mais forte, salve-se quem puder. O desequilíbrio ambiental mundial é visível e inegável, portanto, se o mercado financeiro e corporativo não tratar deste assunto, algum outro mecanismo será criado, artificial ou naturalmente, para que isso aconteça. Considerando-se estas reflexões, buscou-se, com este artigo, demonstrar que as questões ambientais, de nível legislativo e de produção, podem ter respostas e soluções viáveis. Assim, procurou-se delimitar e citar algumas alternativas à estas questões ambientais no tocante à gestão de resíduos e conceitos de produção mais limpa. Com isso, procurou-se responder à problematização: as questões ambientais podem ser vistas como soluções economicamente viáveis? Ou ainda, o aproveitamento dos resíduos de produção, além de evitar sanções ambientais, traz vantagens econômicas e para a imagem da empresa? A pesquisa sustenta-se em revisão bibliográfica de livros, revistas, teses, dissertações e outros artigos científicos. 2 Revisão Teórica 2.1 Gestão Estratégica Empresarial Não é somente a conservação ambiental que viabiliza a aplicação de recursos e esforços na área de gestão ambiental. O mais importante, visto pelo prisma das empresas, é a redução de custos por meio da cultura de produção mais limpa, otimizando a utilização de matéria prima, gerando menos resíduos e, consequentemente, menos perdas. 2.2 Gestão Ambiental Felizmente, a cultura corporativa vem mudando mais intensamente nestes últimos vinte anos, seja por pressão da sociedade civil, seja por força de Lei. A gestão de recursos naturais e do meioambiente, sempre foi visto como um entrave às relações comerciais e produtivas, onde se procurou ao máximo usufruir de recursos aparentemente inesgotáveis, tendo-se uma preocupação em preservá-los, somente quando se perdia dinheiro com a escassez de matéria-prima local – tendo-se que pagar mais pelo frete de matéria-prima – ou com altas multas aplicadas por descumprimento da legislação ambiental. 2.3 Mudanças Comportamentais Acordos Internacionais e Neste ínterim, a legislação ambiental brasileira tornou-se muito mais restritiva e rigorosa, seguindo modelos mundiais de preocupação com o meioambiente. Desta preocupação é que nasceu, no final dos anos 90, o conhecido protocolo de Kyoto, determinando que os países signatários reduzissem suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 5,2%, em média, relativas ao ano de 1990, entre 2008 e 2012. Esse período é também conhecido como primeiro período de compromisso. A partir da legislação mais restritiva e de ações que dariam incentivos à quem cooperasse com o ecossistema é que a sustentabilidade começou a ser encarada como possibilidade de receita e não apenas como custos. Há casos, inclusive no Brasil, de empresas que se especializaram na preparação de outras empresas para, além de cumprirem a legislação e não serem 3 penalizados com multas altíssimas, também auditam os processos produtivos buscando a diminuição ou extinção de desperdícios e o reuso ou comercialização de alguns resíduos, através de tratamentos específicos. É o caso da Ecoaqua, empresa 100% brasileira que acumula renome e crescimentos na árdua tarefa de preparar outras empresas para a sustentabilidade (OLIVEIRA, 2005). Conforme Oliveira (2005), um dos trabalhos que está sendo realizado pela empresa em uma indústria do setor alimentício é como os efluentes serão tratados e transformados em água novamente, podendo retornar ao processo produtivo. O lodo gerado no tratamento do esgoto industrial também será convertido em fertilizante e os resíduos orgânicos da produção de alimentos virarão biomassa para a criação de energia. Além disso, o gás metano, um efluente geralmente descartado sem tratamento, passará a alimentar caldeiras, evitando a queima de óleo e outros combustíveis como a lenha. Evitando essa queima de óleo, segundo as leis ambientais, a cliente ganhará créditos de carbono, os quais poderão ser negociados no mercado internacional. Ao fazer as contas, chegouse à conclusão que e a empresa poderá ganhar US$ 40 mil por mês em créditos de carbono. 2.4 Aplicações Estratégicas 2.4.1 Créditos de Carbono O mercado de créditos de carbono foi criado, a partir do Protocolo de Kyoto, para não comprometer as economias dos países signatários, estabelecendo que parte da redução dos GEE poderia ser feita através de negociação com nações através dos mecanismos de flexibilização. Um dos mecanismos de flexibilização é o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). O crédito de carbono do MDL é denominado Redução Certificada de Emissão (RCE) - ou em inglês, Certified Emission Reductions (CERs). Uma RCE corresponde a uma tonelada de dióxido de carbono (CO2) equivalente. O CO2 equivalente é o resultado da multiplicação das toneladas emitidas do GEE pelo seu potencial de aquecimento global (WIKIPEDIA, 2009). Ainda, conforme Wikipedia (2009) o potencial de aquecimento global do CO2 foi estipulado como 1. O potencial de aquecimento global do gás metano é 21 vezes maior do que o potencial do CO2, portanto o CO2 equivalente do metano é igual a 21. Portanto, uma tonelada de metano reduzida corresponde a 21 créditos de carbono. A idéia inicial seria de que as nações mais poluidoras reduzissem suas emissões de GGE, o que acarretaria em diminuição da produção e conseqüentemente prejuízos. No entanto, os países poluidores podem financiar ações ou empresas não poluidoras em outros países, mais comumente nos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, como o Brasil. Assim, aqueles países ou indústrias que não conseguem atingir as metas de reduções de emissões, tornam-se compradores de créditos de carbono. Por outro lado, aquelas indústrias que conseguiram diminuir suas emissões abaixo das cotas determinadas, podem vender o excedente de "redução de emissão" ou "permissão de emissão" no mercado nacional ou internacional. Alguns especialistas entendem que os créditos de carbono acabam favorecendo mais ao mercado do que ao ambiente, defendendo a idéia de que os certificados conferem aos países desenvolvidos o direito de poluir (EL KHALILI, 2003). No entanto, cada país tem uma cota máxima de créditos de carbono que pode comprar para cumprir as metas do Protocolo de Kyoto; portanto, o assim chamado "direito de poluir" é limitado. Ainda assim, para que as tecnologias reclamadas, pelas nações interessadas, gerem créditos de carbono negociáveis, estas devem passar por uma analise técnica 4 para que fique provado, matematicamente, o que foi ou não lançado na atmosfera. Há que se analisar, no entanto, a diferença entre as RCE´s e as commodities ambientais. Conforme Khalili (2003), as trading emissions (compra e venda de créditos de carbono) são títulos comercializáveis em mercados de balcão, os chamados “contratos de gaveta”, ou em mercados organizados, como a Bolsa de Valores. Já as commodities ambientais são frutos de projetos que além de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa, está também gerando uma commodity como energia (biomassa), madeira, biodiversidade, água, minério, reciclagem. Além disso, o modelo deverá promover a geração de emprego e renda e financiar educação, saúde, pesquisa e preservação de áreas protegidas. Nesse sentido, um projeto de reflorestamento com pinus e eucalipto não pode invadir ou substituir uma área como Amazônia, ainda que a comunidade científica prove com todos os meios que pinus e eucaliptos captam mais carbono do que uma floresta nativa. Portanto, ao contrário do que se pensava no início da conscientização ambiental das empresas, a sustentabilidade mais do que não perder dinheiro, seja com multas ou desperdícios, está sendo visto como angariar receita. Neste cenário, a posição do Brasil é estratégica, pois existe uma gama enorme de projetos ambientais e operações de engenharia financeira que podem ser desenvolvidos no Brasil, proprietário das sete matrizes ambientais: água, energia, biodiversidade, madeira, minério, reciclagem e controle de emissão de poluentes - água, solo e ar. Conforme Matsuura; Paschoali (2007), o Brasil está em quarto lugar entre os países mais procurados para a instalação de projetos de geração de créditos de carbono. Mais de 220 projetos brasileiros estão registrados no Conselho Executivo da ONU para que sejam aprovados e comecem a gerar os ativos, mesmo sem regulamentação nacional. Segundo Matsuura e Paschoali,(2007), diretor da Evolve Gestão, empresa especializada em prestação de serviços de gestão empresarial, administradores de fundos de investimentos em Certificados de Crédito Carbono estão desembarcando no Brasil, desesperados, à procura de projetos nas áreas de proteção ao meio ambiente tais como eliminação de aterros sanitários, de queimadas, tratamento de esgoto, de resíduos químicos, recuperação de mananciais aqüíferos, de florestas, produção de energia limpa. Matsuura e Paschoali (2007) ainda ressaltam que não vai faltar dinheiro para a implementação dos projetos. Para a advogada Maria Cristina Corrêa de Toledo, do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, o mercado já está bem aquecido no país, com todos esses projetos em andamento. Mas vai ficar melhor quando houver legislação específica para regulamentá-lo. A comercialização de créditos de carbono gera rendas extraordinárias, que o diga é a prefeitura de São Paulo, que arrecadou R$ 34 milhões com os certificados que produziu com a implementação de um mecanismo de desenvolvimento limpo em um aterro, dando destino adequado à um grande volume de lixo gerado diariamente. Além da destinação correta dos resíduos, a Prefeitura Municipal de São Paulo, através do Aterro Bandeirantes, em Perus, Zona Norte da capital, conseguiu também a extração do gás metano, um dos principais gases do efeito estufa e o segundo mais importante no processo de aquecimento global, depois do dióxido de carbono (CO2) (MATSUURA, 2007) Ainda, conforme Matsuura e Paschoali (2007), desde o início de 2004, em parceria com a empresa Biogás Energia Ambiental, a prefeitura passou a fazer a captação, queima e aproveitamento do gás para produção de energia. No Aterro 5 Bandeirantes (Anexo I), 80% do biogás é queimado de forma a gerar energia. Os 20% restantes são queimados pelos sistemas de flare, transformando-se exclusivamente em gás carbônico. A prefeitura tem direito a 50% de todo o volume certificado pela ONU. A outra metade fica com a Biogás, por ter investido no projeto. Em um leilão de créditos de carbono em bolsa de valores regulada, neste caso a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), mundialmente inédito (pois até então, a comercialização era feita por bancos no mercado de balcão, sem a atuação de órgão regulador), conseguiu-se comercializar todos os 800 mil certificados somente para um comprador, o banco holandês Fortis. (MATSUURA,; PASCHOALI, 2007) O leilão que aconteceu em 26 de setembro de 2007, cada certificado foi negociado a 16,20 euros, sendo que o lance mínimo foi de 12 euros; um bom negócio para todos pois, na época, cada certificado era negociado a 19 euros. Ganha o comprador, o vendedor – considerando que o Brasil é um jovem participante nesse mercado – e o meio-ambiente, pois o valor arrecadado pela prefeitura será utilizado na melhora ambiental na região do aterro, além de já prever, pelo sucesso do projeto, que o mesmo sistema está implantado no Aterro Sanitário São João, na Zona Leste, criando-se assim, um círculo virtuoso. (MATSUURA, PASCHOALI, 2007) O leilão foi um marco para o mercado brasileiro e abre muitas perspectivas para o setor. A partir dele, o país será muito mais procurado para a instalação de novos projetos e vende de certificados. Mas a comercialização de créditos de carbono é somente uma das várias facetas, muitas delas ainda inexploradas, do mercado da sustentabilidade. 2.4.2 Reuso de água A reutilização da água dos processos industriais é outra forma de ganhar, ou melhor, economizar dinheiro com o que antes era jogado fora. Além de elevar a conscientização para o não desperdício, empresas por si só ou através de consultorias especializadas, estão tratando os efluentes gerados em seus processos com o intuito de reutilizar a água em outras atividades, por exemplo, em descargas sanitárias, lavagem de pátios, resfriamento de equipamentos, entre outros, reduzindo em 40% o consumo de água potável (VIALLI; FRASÃO, 2008) Existem diversas formas de reutilização de recursos hídricos, como o tratamento dos efluentes ou até mesmo a reutilização em cascata, que consiste em reutilizar a água de um processo diretamente em outro, sem qualquer tratamento. No entanto deve-se fazer análises químicas na efluente para se determinar a possibilidade desta reutilização no processo seguinte. O desperdício é tanto que em certas empresas a água excedente do tratamento é vendida para indústrias vizinhas, a um preço menor que da concessionária oficial. É importante enfatizar que as opções de reuso só devem ser consideradas após a implantação das opções de redução do consumo de água. Assim, a idéia de reuso de água, ou recursos hídricos, está mais intimamente ligada à economia ou não-desperdício, do que obter receita com a comercialização da água “reciclada”. Apesar de existirem as sanções financeiras para as empresas que desobedecem à legislação têm valores considerados pouco significativos pelos especialistas, principalmente aquelas estabelecidas por órgãos estaduais. Portanto, a decisão das indústrias em investir no reuso de recursos hídricos não decorrem do temor das multas, mas da pressão do mercado consumidor de seus produtos e, principalmente, dos custos (ou a redução deles) da água como insumo industrial. 6 Esta prática de reuso traz benefícios ambientais consideráveis, permitindo que um volume maior de água permaneça disponível para outros processos, reduzindo a poluição hídrica por meio da minimização de descargas de efluentes nos corpos hídricos (rios, córregos, etc.). Consequentemente, existem benefícios econômicos, uma vez que a indústria tem redução tanto de consumo da matéria-prima “água” e seus custos relativos à sua utilização, quanto do processo de tratamento do efluente gerado pela passagem desta água pelo processo industrial. Para melhor promover o uso racional da água nas indústrias, pode ser utilizada uma importante ferramenta de gestão deste recurso, o chamado PLANO DE CONSERVAÇÃO E REUSO DE ÁGUA (PCRA), o qual considera aspectos legais, institucionais, técnicos e econômicos. As principais etapas para o desenvolvimento deste plano estão apresentadas no diagrama apresentado no Anexo II. A metodologia utiliza ações para caracterizar as atividades e processos que têm um volume de consumo de água e geração de efluentes mais significativos. Os investimentos necessários para a implantação dos sistemas de reuso comercialmente disponíveis – fotoeletroquímico, desinfecção por radiação ultravioleta, anaeróbios, oxidação química avançada – têm prazo de retorno curto: menos de um ano. Pode-se ocorrer deste prazo ser ainda menor, às vezes cair até pela metade, visto que o custo da água no Brasil tem um valor alto e que pode ser ainda mais agravado pelo sistema de cobrança que pune os grandes consumidores, pagando mais pelo metro cúbico de água, e também pela cobrança na captação da água em corpos hídricos direto pela indústria. A cobrança na captação começou em 2002 e está se alastrando rapidamente por todas as bacias hidrográficas (BERTAZZOLI, et al., 2002). Todos estes custos explicam o rápido retorno do investimento e a grande economia gerada pelo reuso. Todos os custos dos sistemas de tratamento e reuso de água podem variar dependendo do tipo de indústria e da carga poluidora, no entanto, estes valores giram em torno de R$ 200 mil à R$ 1,5 milhão. Tendo-se o custo médio da água em São Paulo, onde se concentram a maioria das indústrias, que é de R$ 10,00 o metro cúbico, pode-se estimar que o custo cairá para menos de R$ 1,00 por metro cúbico com a adoção dos sistemas de reuso. Estes sistemas têm uma vida útil média de vinte anos, viabilizando plenamente o investimento. O prazo para implantação dos sistemas também podem variar dependendo da complexidade do sistema, mas que pode ser considerado em torno de dois meses, desde que a indústria já tenha feito o cadastramento e a caracterização dos efluentes. Caso contrário, o prazo poderá aumentar para quatro a seis meses. (BERTAZZOLI, et al., 2002). 2.4.3 Utilização Fertiirrigação de Lodo na Dificilmente um processo industrial não terá nenhum resíduo a ser descartado na sua produção. Isso seria o ideal de uma indústria ou de qualquer outro processo, onde se entre com 100% de matéria-prima e se utilize tudo no processo e na produção do produto, gerando 0% de resíduo. Portanto, as indústrias e prefeituras (sob o ponto de vista do tratamento sanitário) devem buscar alternativas para diminuir ao máximo o volume de resíduo – princípio da consciência PML (produção mais limpa) – e ao mesmo tempo, procurar destinos legais e, se possível, rentáveis para os resíduos gerados. Uma destes destinos é a utilização do lodo dos tratamentos de efluentes na fertiirrigação, ou seja, fertilização de áreas rurais (ZAPAROLLI, 2007). Recentes publicações de resoluções do CONAMA (Resolução 375/06) e do 7 Ministério da Agricultura (Instruções Normativas números 23, 27 e 35), estabelecem critérios para a destinação na agricultura do lodo resultante de tratamentos de efluentes. Hoje, a maioria do lodo gerado pelos tratamentos é destinada a poucos aterros sanitários habilitados para receber este resíduo. Além de serem poucos aterros, eles começam a ficar saturados. Outro problema é que não existem mais áreas próximas aos grandes centros que comportem esta atividade, pois, para se tornar viável, os aterros sanitários não podem estar muito afastados da fonte geradora de resíduos. Um exemplo ocorre na cidade de São Paulo, onde os dois aterros públicos, o Bandeirantes e o São João, se encontram saturados e a prefeitura enfrenta dificuldade de obter novos terrenos para suprir a gigantesca demanda, (ZAPAROLLI, 2007). Geralmente no Brasil, o processo de tratamento é interrompido logo após o deságue, realizado principalmente por centrífugas e filtros-prensa. Desta etapa, a torta de lodo sai com uma quantidade de sólidos secos que varia entre 15% e 30%, o restante é líquido (ZAPAROLLI, 2007). É um resíduo que gera muito chorume e é muito volumoso que, também por falta de espaço, estão sendo recusados pelos administradores dos aterros públicos. Já os aterros privados – classificados como Classe II A – que podem receber produtos não perigosos e não inertes, são poucos, apenas 36 em todo o país. A destinação de lodo para aterros sanitários é uma alternativa cara. Conforme Zaparolli (2007) estima-se que em grandes centros, a tonelada do resíduo depositado em aterros custe em média R$ 80,00 a R$ 120,00. Já em cidades menores, como a cidade de Franca, no interior de São Paulo, a tonelada custa um pouco mais barata, cerca de R$ 60,00. Assim, a disposição do lodo pode representar até 60% dos custos de uma estação de tratamento de efluentes. Para se ter uma idéia, há casos em que, mesmo que a destinação do lodo esteja a 100 km de distância, ainda compensa deposita-lo em fertilização, do que pagar pelo aterro sanitário. A somatória de custos altos e de pouca disponibilidade de aterros sanitários que possam receber o lodo forçou a busca por alternativas mais baratas para a destinação dos resíduos, sendo que a mais comum e a aplicação do lodo como fertilizante agrícola ou como condicionador do solo. É claro que, no caso de resíduos industriais, o lodo dever ser analisado antes da destinação para fertilização, mas habitualmente o resíduo pode ser utilizado por esta alternativa sem maiores problemas. Nos Estados Unidos, Europa e Canadá, esta técnica já é utilizada há mais de sessenta anos. Predominantemente o lodo é rico nitrogênio, fósforo, carbono e potássio, sendo a utilização na agricultura, uma interessante alternativa de disposição pois pode promover melhorias nos atributos químicos, físicos e biológicos do solo, aumentando a produtividade agrícola. Esta utilização geralmente representa cerca de 80% do volume de lodo gerado em estações de tratamento de efluentes (ZAPAROLLI, 2007). No entanto, a má notícia é que a resolução do CONAMA classifica o lodo em tipo A e B, dependendo dos índices bacteriológicos e patogênicos. Assim, somente os resíduos classificados com tipo A, com índices de contaminantes mais baixos, podem ser amplamente empregado no plantio. Esta notícia não foi bem recebida pelos gestores, pois, a maioria das estações de tratamento de efluentes no Brasil, produz o lodo classificado como tipo B, tendo que melhorar a qualidade do resíduo se quiser aplicá-lo como fertilizante agrícola. A resolução, mais restritiva, exigente e complexa que a norteamericana, pode inviabilizar o processo. Para que continue sendo viável, deverá ser reduzido o volume do lodo, secando-o, e aumentar o grau de esterilização. Para isto, será necessário implantar mais uma etapa 8 ao processo, a qual tem custos bastante variáveis. Uma boa alternativa é a compostagem. É um processo biológico no qual o lodo é misturado com materiais ricos em ligninas e celuloses, como palhas, bagaços e podas de árvore. A massa passa por revolvimento mecânico e, por meio da atividade dos microrganismos, atinge a temperatura de até 70ºC, promovendo a higienização do material, com a eliminação dos patógenos, em um prazo de até 60 dias. No fim, o material humidificado apresenta um teor de água de 40%. A grande vantagem é que o material final é passível de comercialização. Exige um investimento de R$ 1 milhão e apresenta um custo equivalente (investimento + custo mensal) próximo de R$ 60,00 a tonelada de lodo. (ZAPAROLLI, 2007) Alternativas também podem ser viáveis, ainda que mais caras. No entanto, os gestores de estações de tratamento devem encarar o lodo não mais como um resíduo, mas sim como um subproduto, rico em nutrientes que, processado adequadamente, pode até ser vendido para os agricultores, como acontece na Europa. 3 Considerações Finais A consciência de se preservar o meioambiente, dos recursos naturais e do planeta é bastante louvável e merece especial atenção e dedicação de instituições públicas e privadas. No entanto, existem estudiosos que afirmam que este não é um problema tão grande como se pensa. Em recente entrevista à Revista Época, o zoólogo alemão Joseph Reichholf (2009) diz que a preocupação com as mudanças climáticas não faz sentido, pois os humanos vieram dos trópicos africanos e que, de qualquer forma o mundo estará diferente até 2100. Ele se baseia na idéia de que o mundo vem mudando desde a era do Gelo e que, foi durante a era glacial que a floresta amazônica se fragmentou. Nos períodos interglaciais, mais quentes e úmidos é que ela se expandiu, tendo o calor, seu lado positivo. Prova disso é que, neste inverno, a chuva aumentou no Deserto da Namíbia, deixando algumas dunas verdes. Nos últimos dez anos, o deserto do Saara está encolhendo, e a Caatinga brasileira ficou mais seca nas eras de clima frio (MANSUR; REICHHOLF, 2009). Portanto, o aquecimento global pode aumentar o regime de chuvas nestas regiões. Em termos de Gestão Estratégica, com um cenário de leis ambientais cada vez mais restritivas, competição por matéria-prima e mercado, exigências para exportações e zelo pela imagem ambiental da empresa, o que vale mesmo é a consciência de uma produção mais limpa. Com a aplicação de estratégias ambientais preventivas e integradas à logística de produção, aplicada à processos, produtos e serviços, aumenta-se a eficiência dos processos, para que se tente utilizar, senão toda, pelo menos a maioria da matéria-prima que entra nas indústrias para gerar os produtos, com o mínimo de resíduos possíveis pois, resíduo é tudo sobra do processo que não vai para o produto, ou seja, desperdício ou procedimentos ineficientes. Esta consciência é simples e consiste em pensar que se paga pela matéria-prima e ainda se paga para destinar o que o processo ineficiente não mandou para o produto, ou seja, se paga duas vezes pela matéria-prima. Além disso, a produção mais limpa e as ações ambientais como gestão estratégia podem refletir em áreas cada vez mais distintas, como até a diminuição dos valores dos prêmios de seguros industriais e a facilitação na aquisição de créditos e financiamentos, além de evitar mais desperdícios com o pagamento de multas por danos ambientais. Da questão apresentada, infere-se uma questão de maior interesse aos investidores e empresários, do que somente contribuir para conter a degradação do planeta e salvaguardar os recursos naturais. Esta questão de maior interesse atinge o ponto mais sensível dos empresários e 9 investidores: o bolso. Utilizar-se técnicas e manobras para conter o desperdício de recursos e primar por processos industriais mais limpos e eficientes, influenciará, de uma forma ou de outra, nas atividades industriais, sejam por sanções administrativas dos órgãos ambientais (multas), seja por diminuição da utilização de matérias-primas básicas, como a água, nos processos. Ou seja, diminuir resíduos com o melhoramento dos processos é jogar menos matéria-prima fora. Também, reaproveitar ou transformar resíduos aliviará os custos com a disposição destes in natura. Portanto, conclui-se que existem diversas alternativas aos passivos ambientais e que se pode reverter as questões ambientais, como em muitos casos apresentados neste artigo, de problema ou débito à solução ou receita. Assim, as questões ambientais podem serem vistas como soluções economicamente viáveis. Referências BERTAZZOLI, R. et al. Reuso reduz custos e poluição ambiental. Site Nei. Seção Artigos Técnicos. Disponível em: <http://www.nei.com.br/artigos/artigo.aspx ?i=9>. Acesso em: Agosto 2009. EL KHALILI, A. O que são créditos de carbono? Ambiente Brasil. Seção Notícias. Disponível em: <http://www.ambientebrasil.com.br/compo ser.php3?base=./noticias/ index.php3&conteudo=./noticias/amyra/cre ditos.html>. Acesso em: Junho, 2009. FIRJAN. Manual de Conservação e Reúso de Água na Indústria. Rio de Janeiro: DIM, 2006. OLIVEIRA, D. O. Na água. IstoÉ Dinheiro Nº. 428, set. 2005. Seção Negócios. Disponível em: <http://www.terra.com.br/istoedinheiro/42 8/negocios/ olavo_agua.htm>. Acesso em Março 2009. MANSUR, A. REICHHOLF, J. O aquecimento global vai ser bom. Época, Rio de Janeiro, Nº. 590, set. 2009 MATSUURA, L.; PASCHOALI, R. São Paulo fatura R$ 34 milhões em leilão de créditos de carbono. Consultor Jurídico, set. 2007. Seção Notícias. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2007-set26/leilao_creditos_carbono_rende_34_mil hoes>. Acesso em: junho 2009. VIALLI, A.; FRASÃO, L. Indústria reduz custo com reuso. Estadão São Paulo, Março 2009. Seção Vida e Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ noticias/vidae,industria-reduz-custos-comreuso,342625,0.htm>. Acesso em: Agosto 2009 ZAPAROLLI, D. Ampliação do saneamento básico e novas normas devem ampliar o uso de lodo de esgoto como fertilizante. Revista Química e Derivados On line. QD 461. Disponível em: <http://www.quimica.com.br/revista/qd461 /ambiente1.htm>. Acesso em: Novembro 2009 WIKIPEDIA. Créditos de Carbono. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ Créditos_de_carbono>. Acesso em: Junho 2009. 10 ANEXO I: Aterro Bandeirantes – São Paulo / SP Fonte: www.canalbioenergia.com.br ANEXO II: Diagrama para desenvolvimento do PCRA Fonte: Manual de Conservação e Reúso de água na Indústria. – FIRJAN (2006)