UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DCJS - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CURSO DE SERVIÇO SOCIAL JALINE AMARANTE DA ROSA AS CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) “COMUNIDADE MÃE” NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS IJUÍ – RS, 2015 JALINE AMARANTE DA ROSA AS CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) “COMUNIDADE MÃE” NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ. Orientadora: Profa. Dra. Solange Santos Silva IJUÍ – RS, 2015 JALINE AMARANTE DA ROSA AS CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO DO/A ASSISTENTE SOCIAL NO CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) “COMUNIDADE MÃE” NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Serviço Social apresentado como requisito final para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Aprovado em 18 de março de 2015. BANCA EXAMINADORA: _________________________________________ Orientadora: Profa. Dra. Solange dos Santos Silva Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ _________________________________________ Convidado: Enio Waldir da Silva Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande Sul - UNIJUÍ DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a Deus e a todas as pessoas que estiveram ao meu lado me apoiando e que de alguma forma contribuíram para que eu obtivesse mais esta conquista... Principalmente a minha família que sempre esteve ao meu lado, acreditaram em mim e me incentivaram a fazer este curso, pelo qual tenho a maior admiração... Ao meu marido, companheiro, pela enorme compreensão e dedicação que teve comigo neste momento tão importante da minha vida. AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus por ter concebido mais esta oportunidade, por ter me abençoado sempre e em toda esta caminhada de realizações na minha vida, sou eternamente grata ao Senhor por chegar até aqui... A minha querida família, que sem eles não estaria aonde cheguei, pai Joel, mãe Mari e meus irmãos Jaqueline, Juliano e Jordano. Sinto-me verdadeiramente privilegiada e honrada em ter vocês perto de mim... Ao meu marido Guilherme, um grande amigo, companheiro que sempre me apoiou, pela dedicação e compreensão que teve pela minha ausência em muitos momentos por conta dos estudos. Minha gratidão e carinho por você fazer parte da minha vida... As minhas supervisoras de estágio Carine Raquel Medeiros da Costa e Alice Joaquim Terhost, que fizeram parte desta vitória, pelos momentos agradáveis e indispensáveis de conhecimentos e saberes, sou grata pelo carinho dedicado... A minha professora orientadora Solange Santos Silva, pelo esforço e comprometimento que teve no compartilhamento de seus conhecimentos comigo, pelo exemplo de profissional que é... Aos professores que tive ao longo desse processo acadêmico, pelos ensinamentos, aprendizagens e experiências que compartilhamos, e que acreditaram na minha capacidade... A toda a equipe do CRAS “Comunidade Mãe” e aos usuários que me acolheram, com grande carinho e respeito significativos, que fizeram com que concluísse os estágios com êxito. Minha enorme gratidão a vocês. “Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.” Charles Chaplin RESUMO O presente Trabalho de Conclusão de Curso de Serviço Social aborda como tema as contribuições do trabalho do assistente social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe” no munícipio de Cruz Alta. O objetivo geral é analisar as contribuições do profissional e refletir sobre a importância deste trabalho, para a efetivação dos direitos dos usuários na Política de Assistência Social. Analisando a partir do Estágio Supervisionado em Serviço Social, como o profissional se insere neste espaço socioocupacional do serviço social, suas competências, atribuições, direitos, seus limites e possibilidades de trabalho para a consolidação da profissão. Através da abordagem qualitativa, do tipo exploratório de campo e com auxílio de pesquisas bibliográficas e da documentação realizado no processo de estágio. O estudo inicia-se com a contextualização histórica da Assistência Social como um direito universal, a partir da regulamentação da Constituição de 1988, entrando em vigor a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), que consequentemente consolida a Política Nacional de Assistência Social (PNAS), no qual prevê a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) uma nova gestão às políticas sociais assistenciais. Para a materialização do SUAS, constitui-se o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), uma instituição que oferta a Proteção Social Básica, responsável pela organização e oferta dos serviços socioassistenciais. O projeto profissional do Serviço Social regulamentada e relevante nas intervenções das relações sociais, para o enfrentamento da questão social, onde prevê uma nova sociedade em prol da melhoria da qualidade de vida dos usuários. Através do Estágio Supervisionado retratam-se brevemente relatos sobre as experiências vivenciadas e, assim analisa-se que a forma de enfrentamento da categoria trabalho do assistente social na instituição em seu cotidiano, apresenta-se mais limites do que possibilidades de trabalho, desafios que muitas vezes limitam a consolidação do exercício profissional. Mas, contudo são as possibilidades de intervenção do profissional assistente social que apesar de mínimas, tem a capacidade de observação da realidade social, com ética, competência teórica e atendimento técnico para promover o bem estar dos usuários atendidos no CRAS “Comunidade Mãe”. Contribuindo através de suas ações profissionais, a garantia dos direitos dos usuários, e na regulamentação da política de assistência social. Palavras-chave: Assistência Social. Trabalho do assistente social. CRAS. Estágio Supervisionado. Serviço Social. ABSTRACT This Work of Social Work Course Conclusion addresses the theme contributions of the work of social worker in the Social Assistance Reference Center (CRAS) "Community Mother" in Cruz Alta municipality. The overall objective is to analyze the contributions of professional and reflect on the significance of this, for the realization of the rights of users in the Social Assistance Policy. Analyzing from the Supervised Internship in Social Services, as the professional is included in this socio-occupational space of social work, its powers, duties, rights, their limits and possibilities of work for the consolidation of the profession. Through qualitative approach, exploratory field and with the aid of literature searches and documentation performed on stage process. The study begins with the historical context of social assistance as a universal right, from the 1988 Constitution of the regulation will enter into force the Organic Law of Social Assistance (LOAS), which in turn consolidates the National Social Assistance Policy (PNAS ), which provides for the implementation of the Single social Assistance System (ITS) a new management assistance to social policies. For the materialization of the ITS, it constitutes the Social Assistance Reference Center (CRAS), an institution that offer the Basic Social Protection, responsible for the organization and delivery of social assistance services. Professional design of Social Work regulated and relevant interventions of social relations, for confronting social issues, where it plans a new society in order to improve the quality of life of users. Through Supervised Internship portray themselves briefly reports on the experiences and thus analyzes the way of coping with the work category of social worker at the institution in their daily lives, appears more limits than work opportunities, challenges that many often limit the consolidation of professional practice. But yet they are the possibilities of intervention of the professional social worker that although minimal, has the ability to observe the social reality, with ethics, theoretical expertise and technical assistance to promote the well being of patients seen in the CRAS "Community Mother." Contributing through their professional actions, to ensure the rights of users, and regulation of social welfare policy. Keywords: Social Assistance. Labour social worker. CRAS. Supervised Internship. Social Service. LISTA DE SIGLAS ABAS – Associação Brasileira de Assistentes Sociais ABESS – Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social CEAS - Centro de Estudos e Ação Social CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas CNSS – Conselho Nacional de Serviço Social CRAS – Centro de Referência de Assistência Social LBA – Legião Brasileira de Assistência LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social MDS – Ministério de Desenvolvimento Social MT – Ministério dos Trabalhadores NOB – Norma Operacional Básica PAS – Política de Assistência Social SENAI – Serviço Social de Aprendizagem Industrial SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial SESC – Serviço Social do Comércio SESI – Serviço Social da Indústria SUAS – Sistema Único de Assistência Social SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 11 1.1 Delimitação do tema ........................................................................................................... 12 1.2 Problema da pesquisa ......................................................................................................... 12 1.3 Objetivos............................................................................................................................. 12 1.3.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 12 1.3.2 Objetivos específicos .................................................................................................... 13 1.4 Questões norteadoras .......................................................................................................... 13 1.5 Justificativa ......................................................................................................................... 13 1.6 Metodologia ........................................................................................................................ 15 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL..........................................................................................................................19 2.1 A instituição da política como direito social no contexto capitalista ................................. 19 2.2 Uma nova base inovadora para a política de assistência social .......................................... 22 2.3 Política de Assistência Social (PAS) ................................................................................. 25 2.4 A implementação do sistema único de assistência social (suas) por uma nova gestão da PAS .......................................................................................................................................... 26 3 SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO ................................................................................. 30 3.1 Breve trajetória da consolidação do serviço social enquanto profissão ............................. 30 3.2 O trabalho do assistente social ........................................................................................... 38 4 SERVIÇO SOCIAL E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL ........................................................................................... 48 4.1 Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe” no município de Cruz Alta/RS enquanto campo de estágio para o serviço social .............................................. 48 4.2 Experiência de estágio supervisionado em serviço social III ............................................ 51 4.3 Reflexões acerca das contribuições do trabalho do assistente social no CRAS “Comunidade Mãe” enquanto estagiária do Serviço Social e análise da importância do mesmo para a efetivação dos direitos dos usuários na Política de Assistência Social .......................... 59 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 70 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 72 APÊNDICE ............................................................................................................................. 77 11 1 INTRODUÇÃO O presente Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social tem como ponto de partida a prática de Estágio Supervisionado em Serviço Social, realizado junto ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no município de Cruz Alta/RS no período de 2014, estabelecendo relação com os conteúdos e discussões que subsidiaram o processo de formação acadêmica. Sendo resultado de um processo investigativo e analítico destaca-se no presente estudo o seguinte tema: As Contribuições do Trabalho do/a Assistente Social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe” no município de Cruz Alta/RS e sua importância para a efetivação de direitos dos usuários da política de assistência social. O CRAS “Comunidade Mãe” é uma instituição pública estatal localizado em Cruz Alta/RS, a qual apresenta infraestrutura adequada e profissionais capacitados para atender à sociedade em situação de vulnerabilidade e risco social. Tem como foco a Proteção Social Básica dos usuários que recorrem aos serviços oferecidos pela instituição. O objetivo do CRAS é prevenir situações de violação de direitos e que as relações familiares e comunitárias sejam desgastadas, auxiliando na melhoria da qualidade de vida dos usuários, através de atendimentos pelos profissionais, cursos profissionalizantes para os jovens se inserirem no mercado de trabalho, grupos de culinária e artesanato como forma de geração de renda, entre outros, para assim, contribuir na efetivação dos direitos dos usuários como prevê a Política de Assistência Social. O/a assistente social se insere neste espaço contribuindo para a efetivação dos direitos legais dos usuários, realizando atendimentos, visitas domiciliares, encaminhamentos, relatórios, pareceres, entrevistas, acompanhamento de grupos, além de informá-los a respeito dos programas, projetos, serviços e benefícios, voltados para o bem estar individual e coletivo e para a integração do indivíduo na sociedade. Estas e outras atribuições e competências do assistente social estão previstas em seu Código de Ética da Profissão e na Lei de Regulamentação da Profissão. Sendo assim, no capítulo I pretende-se apresentar as etapas da pesquisa, com base no projeto de pesquisa para a elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso I, como: delimitação do tema, problema da pesquisa, objetivos, questões norteadoras, bem como justificativa e metodologia para a melhor compreensão da referida pesquisa. 12 O capítulo II discorre sobre contextualização da Política de Assistência social no Brasil, seu contexto histórico iniciando na Constituição de 1988, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), Política de Assistência Social (PAS) e em seguida a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), processo este que é um grande avanço no âmbito da assistência social constituída até os dias de hoje como um direito universal. No capítulo III, aborda-se a origem histórica do Serviço Social reconhecida como uma profissão, e uma breve contextualização da categoria trabalho, abordando como o/a assistente social se insere como trabalhador assalariado e a relevância do mesmo. Em seguida, no capítulo IV, entra em pauta a experiência de estágio supervisionado, relacionando com o Serviço Social um resgate de conceitos e referências sobre o referido campo de estágio, o CRAS “Comunidade Mãe”. Tratando-se do projeto de intervenção “Terceira Idade de Direitos” como forma contributiva no processo acadêmico e para a instituição de campo de estágio, bem como uma análise enquanto estagiária sobre as contribuições do trabalho do/a assistente social na contemporaneidade, como se articula em meio social e para a efetivação dos direitos dos usuários previstos na PAS. 1.1 A DELIMITAÇÃO DO TEMA As contribuições do trabalho do/a assistente social no Centro de Referência de Assistência social (CRAS) “Comunidade Mãe” no município de Cruz Alta/RS no período de 2014 e sua importância para a efetivação dos direitos dos usuários da Política de Assistência Social (PAS). 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA Como vem se realizando o trabalho do/a assistente social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe” no munícipio de Cruz Alta/RS e sua contribuição para a efetivação dos direitos dos usuários na Política de Assistência Social? 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo geral Analisar as contribuições do trabalho do/a assistente social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe” no município de Cruz Alta/RS e refletir sobre 13 a importância deste trabalho, enquanto profissional, para a efetivação dos direitos dos usuários na Política de Assistência Social. 1.3.2 Objetivos específicos Caracterizar os instrumentos e técnicas realizados pelo/a assistente social; Investigar as mediações que o/a profissional realiza; Contextualizar a Política de Assistência Social; Identificar e refletir sobre os limites e possibilidades do trabalho do/a assistente social no CRAS “Comunidade Mãe”. 1.4 QUESTÕES NORTEADORAS Quais as intervenções realizadas frente às demandas que perpassam na instituição? Qual a instrumentalidade utilizada no cotidiano do profissional? Quais os limites e possibilidades do trabalho do/a assistente social no CRAS “Comunidade Mãe”? Qual a importância da PNAS para a regulamentação dos direitos dos usuários? 1.5 JUSTIFICATIVA(S) A relevância desta pesquisa inicia-se a partir da disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, como exigência do curso de Serviço Social na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), realizado no 2o semestre de 2014. Estudo este, acerca das contribuições do trabalho do/a assistente social enquanto profissional inserido no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) no município de Cruz Alta/RS. O interesse pelo tema deu-se a partir das experiências vivenciadas no estágio supervisionado III no período do 1o semestre de 2014, em conhecer as dimensões éticopolítica, teórico-metodológico e técnico-operativo que o profissional articula em sua historicidade, totalidade e individualidade. Relacionando com o importante papel da Política de Assistência Social, para a efetivação dos direitos aos usuários que buscam os serviços socioassistencias no CRAS “Comunidade Mãe”. A escolha do referido tema justifica-se pela inserção, enquanto estagiária no CRAS “Comunidade Mãe” onde se realizou o Estágio Supervisionado em Serviço Social III e por 14 pesquisas bibliográficas no decorrer do processo de ensino-aprendizagem do curso. Este é um tema de suma importância, pois trata do/a profissional assistente social que atua na equipe de trabalho como um viabilizador de direitos, elucidando o acesso a estes, sempre com o intuito de contribuir na garantia de cidadania aos usuários. Durante o processo de estágio foi possível aprender, brevemente, a realidade do trabalho do/a profissional, através da observação, intervenção e acompanhamento em seu cotidiano. Questiona-se como o profissional se insere neste espaço, suas funções e a importância que esta profissão representa para a efetivação dos direitos dos usuários na Política de Assistência Social (PAS), pautados na Proteção Social Básica de assistência que se objetiva em “prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (PNAS, 2004, pg. 23). O/a assistente social se insere como profissional atuando no atendimento às demandas e necessidades sociais de seus usuários, que podem produzir resultados concretos, tanto nas dimensões materiais quanto nas dimensões sociais, políticas e culturais na vida da população (YASBEK, 2009). Viabilizando seu acesso às políticas sociais, no qual se apresenta na referida pesquisa o CRAS “Comunidade Mãe”. Diante do trabalho do/a assistente social, as dificuldades, desafios enfrentados, contribuições e importância desta profissão, se deu o interesse em aprofundar este assunto para contribuir na melhoria das condições de trabalho e a valorização do profissional na implementação da política de assistência social municipal. A temática do trabalho de conclusão de curso promove a importância do trabalho do/a assistente social em uma unidade pública responsável pela oferta de serviços de proteção social básica de assistência social às famílias, grupos e indivíduos em situação de vulnerabilidade social. Uma vez que a vulnerável realidade social necessita de políticas sociais consistentes para atendimento aos usuários suprindo suas necessidades básicas. A assistência social é reconhecida, pela primeira vez, como uma política pública, dever do Estado e direito de cidadania, partícipe da seguridade social, assentada no tripé da saúde, previdência e assistência, campo privilegiado da atuação do Serviço Social (IAMAMOTO, 2010, pg. 264). Neste sentido, espera-se que a pesquisa possa vir a contribuir com o trabalho dos profissionais da assistência social e aos demais, para uma análise crítica da realidade vivenciada hoje no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), auxiliando na melhoria das condições de trabalho de assistentes sociais para beneficiar usuários que buscam os serviços. Espera-se também que os usuários destes serviços possam usufruir deste trabalho, 15 assim contribuindo e incentivando um maior debate sobre a Política de Assistência Social, conquistando, desta forma, ainda mais progressos no âmbito da assistência social. 1.6 METODOLOGIA DA PESQUISA A metodologia do projeto de pesquisa é um meio no qual se expõe detalhadamente o passo a passo da pesquisa na prática, a coleta de informações ligadas aos instrumentos e técnicas que se pretende utilizar. A metodologia não só contempla a fase de exploração de campo (escolha do espaço da pesquisa, escolha do grupo de pesquisa, estabelecimento dos critérios de amostragem e construção de estratégia para entrada em campo) como a definição de instrumentos e procedimentos para análise de dados (MINAYO, 2010, pg.43). O método para realização da pesquisa se orienta por embasamento do método dialético crítico que se apoia na concepção dinâmica da realidade, nas relações entre a unidade e totalidade, entre teoria e prática, observando o movimento que engrena os processos sociais, direcionada para a realidade social e para as ações concretas com vistas à transformação. A dialética fornece as bases para uma interpretação dinâmica e totalizante da realidade, já que estabelece que os fatos sociais não podem ser entendidos quando considerados isoladamente, abstraídos de suas influências políticas, econômicas, culturais etc. Por outro lado, como a dialética privilegia as mudanças qualitativas, opõe-se naturalmente a qualquer modo de pensar em que a ordem quantitativa se torne norma. Assim, as pesquisas fundamentadas no método dialético distinguem-se bastante das pesquisas desenvolvidas segundo a ótica positivista, que enfatiza os procedimentos quantitativos (GIL, 2008, pg. 14). A pesquisa é do tipo exploratória de campo, "cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno para a realização de uma pesquisa futura, precisa ou modificar e clarificar conceitos" (MARCONI; LAKATOS, 2007, pg. 85). Será descrita na referida pesquisa a atuação e contribuição do trabalho do/a assistente social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) "Comunidade mãe" no munícipio de Cruz Alta/RS. Optando-se pela abordagem qualitativa, buscou conhecer a realidade do trabalho do/a assistente social no âmbito da Política de Assistência Social e sua contribuição para a efetivação dos direitos dos usuários, questionando sobre as dificuldades, desafios, o enfrentamento de seu cotidiano de trabalho, sua contribuição, competências, atribuições, funções, potencialidades, opiniões, valores e anseios. A pesquisa qualitativa “trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2008, pg. 21). 16 A pesquisa descritiva contempla a “descrição”, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu funcionamento no presente (MARCONI; LAKATOS, 2007, pg. 20), que no caso da pesquisa, constituiu-se em reflexões e análise do profissional no CRAS “Comunidade Mãe”, onde se realizou o Estágio Supervisionado em Serviço Social III, permitindo observar, acompanhar e intervir através da realização do Projeto de Intervenção em Serviço Social III. Os/as assistentes sociais em seu cotidiano de trabalho na instituição têm como base as dimensões ético-politico, teórico-metodológico e técnico-operativo do seu projeto profissional. A observação é de grande importância para auxiliar no processo da pesquisa, onde se coloca como observador de uma situação social, com finalidade de realizar uma investigação científica, tendo contato direto com profissional aprimorando o contexto da pesquisa (MINAYO, 2008). Utilizaram-se para o desenvolvimento da pesquisa, documentos realizados no processo da supervisão direta de estágio. O material contempla informações relevantes, assim auxiliando a discorrer sobre o tema proposto. Fontes primárias: dados históricos, bibliográficos e estatísticos; informações, pesquisas e material cartografado; arquivos oficiais e particulares; registros em geral; documentação pessoal (diários, memórias, autobiografias); correspondência pública ou privada etc. (MARCONI; LAKATOS, 2007, pg. 26). A documentação de estágio é embasada em descrições enquanto estagiária sobre o cotidiano de trabalho do/a assistente social como: diários de campo, reconhecimento institucional, relatórios finais. Através das seguintes técnicas e instrumentos: atendimentos, visitas domiciliares e institucionais e também entrevista com roteiro de perguntas (Apêndice I) que se utilizaram no processo de desenvolvimento do projeto de intervenção “Terceira Idade e Direitos” realizado no CRAS “Comunidade Mãe” durante a supervisão de campo no período do estágio III. A supervisão direta do/a assistente social no processo de estágio é indispensável para concluí-lo com êxito, sendo que a supervisão auxilia o acadêmico para obter uma formação qualificada. A atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese na relação teoria e prática, na articulação entre pesquisa e intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico-prático, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais das esferas públicas e privadas, com vistas à formação profissional, conhecimento da realidade institucional, problematização teórico-metodológica (BRASIL, 2008, pg. s/n). Uma das atribuições específicas do profissional assistente social é de “Art. 5o. I coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e 17 projetos na área de Serviço Social; VI – treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social” (BRASIL, 1993, pg. s/n). Foram utilizadas informações e dados originais do processo de estágio supervisionado com ênfase, em dados da experiência de implementação do projeto de intervenção. Contando com a contribuição da supervisão de campo e acadêmica, que foi de forma significativa e contribuiu muito para que o projeto de intervenção fosse concluído com sucesso. Ressaltamos, ainda, o princípio que prevê a indissociabilidade entre estágio e supervisão acadêmica e de campo, em que o estágio, enquanto atividade didáticopedagógica pressupõe a supervisão acadêmica e de campo, numa ação conjunta, integrando planejamento, acompanhamento e avaliação do processo de ensino aprendizagem e do desempenho do (a) estudante, na perspectiva de desenvolvimento de sua capacidade de investigar, apreender criticamente, estabelecer proposições e intervir na realidade social (ABEPSS, 2009, pg. 13). Após o período de coleta de informações iniciou-se o processo de exploração, análise e interpretação do material coletado. Os dados foram analisados com base nas informações coletadas através da observação, acompanhamento e intervenção no período de estágio sobre o trabalho do assistente social no CRAS “Comunidade Mãe” enfatizando-se a dimensão qualitativa, na análise de interpretação, explicação e especificação (MARCONI; LAKATOS, 2007). Contando com auxílio de pesquisas e revisões bibliográficas de materiais já publicados do Serviço Social e do tema proposto, como "publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas monografias, teses, material cartográfico etc." (MARCONI; LAKATOS, 2007, pg. 71) e na documentação de Estágio Supervisionado em Serviço Social realizada. Para análise, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, considerando que é uma técnica que agrupa procedimentos sistemáticos do conteúdo manifesto nas comunicações, com a finalidade de obter a sua interpretação. Sobre as questões éticas da pesquisa, evidencia-se que os sujeitos envolvidos no estudo e no processo de estágio que contribuíram para os documentos acadêmicos realizados na instituição, não passaram por qualquer tipo de constrangimento, pois os dados coletados não foram identificados ou expostos a outros indivíduos, sendo que se mantém em sigilo e preservado de qualquer risco de exibição da identificação do usuário. Conforme o Código de Ética Profissional (1993), o assistente social tem o direito de manter sigilo profissional da vida de seus usuários o “sigilo protegerá o/a usuário/a em tudo aquilo de que o/a assistente social tome conhecimento, como decorrência do exercício da atividade profissional” (CFESS, 1993, pg. 35). 18 Os dados são utilizados para uma análise de forma geral de como vem sendo realizado o trabalho do assistente social no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe”, contribuindo assim para a relevância da pesquisa, e mantendo-os sob os cuidados da pesquisadora. Para conclusão do estudo e fins acadêmicos, primeiramente a socialização é por meio da apresentação pública do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em banca avaliadora conforme o regimento do TCC na UNIJUÍ. E para a instituição concedente do campo de estágio, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe”, aos usuários que são atendidos, equipe em geral, será em forma de exposição oral, com participação em reunião da equipe de trabalho. Por fim será entregue para cada indivíduo um relatório final, contendo um resumo das principais informações importantes que a pesquisa contempla. 19 2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL NO BRASIL No segundo capítulo abordam-se alguns aspectos da trajetória histórica da consolidação da Assistência Social no Brasil, os principais fatores que contribuíram para que a Assistência Social se regulamentasse como um direito social universal. 2.1 A INSTITUIÇÃO DA POLÍTICA COMO DIREITO SOCIAL NO CONTEXTO CAPITALISTA Inicialmente, para analisarmos a Política de Assistência Social, é essencial conhecer e contextualizar alguns aspectos da trajetória histórica da Assistência Social até os dias de hoje, reconhecida como uma política social. A Constituição de 1988 foi o ponto de partida para que a assistência social se tornasse visível e relevante para a sociedade brasileira, podendo-se dizer que foi um marco para a expansão das políticas sociais no Brasil. Políticas sociais são ações governamentais dos Estados modernos tendo em vista atenderem a redução das consequências da pobreza em diversas áreas de serviços, como educação, saúde, habitação, previdência etc. Essas ações visam equacionar, em alguns casos, ou minimizar, em outros (GENTILLI, 2007, pg. 77). A história remonta que a assistência social existiu antes da Constituição Federal de 1988. Em torno da década de 30 a assistência social era como dever moral, de forma simplificada seguindo a linha da caridade, associado à filantropia, em geral de caráter privado e confessional e da solidariedade religiosa (SOUZA; OLIVEIRA; ALMEIDA; CAVALCANTI, 2007). O Estado entra para intervir nas expressões da questão social, passa a reconhecer no sentido de reprodução da classe operária, mas com o apoio do governo. Frequentemente adstrita às atividades de plantão social, às atenções emergenciais e distribuição de auxílios ou, ainda implementada por práticas pulverizadas, descontínuas e subordinadas a interesses clientelistas, a assistência só recebeu a designação de política social do estado brasileiro tardiamente, em 1988 (SOUZA, OLIVEIRA, ALMEIDA, CAVALCANTI, 2007, pg. 19). A decorrência deste conflito social se constituiu no surgimento do capitalismo, um sistema econômico que se expande no início do século XX, onde os primeiros indícios foram a evolução do comércio, que se constitui uma nova concepção econômica. O comerciante passava a adquirir o valor de uso para o valor de troca, ou seja, as mercadorias fabricadas pelos comerciantes não passavam mais ser de uso próprio e sim de troca por moedas ou mercadoria, aumentando os lucros e capital, o que interessava era o valor de troca do capital, que se diferencia do valor de troca das mercadorias, que ingressam no processo de produção (IAMAMOTO, 2009). 20 O capitalismo foi expansão de grandes meios de produção, investimentos, capitais onde aumentavam os lucros dos burgueses através da exploração da mão de obra do proletariado (classe trabalhadora). O processo capitalista de produção expressa, portanto, uma maneira historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condições materiais da existência humana e as relações sociais através das quais levam a efeito a produção. Neste processo se reproduzem, concomitantemente, as ideias e representações que expressam estas relações e as condições materiais em que se produzem, encobrindo o antagonismo que as permeia (IAMAMOTO, 2009, pg. 30). A classe trabalhadora se submetia a condições de trabalho precário, de higiene, vestimenta, alimentação, remuneração e longas jornadas de trabalho tanto de adultos como crianças nas grandes fábricas dos burgueses da época. Reduziam-se o tempo de trabalho socialmente necessário à produção das mercadorias, ou seja, o seu valor ampliando simultaneamente o tempo de trabalho excedente ou mais-valia (IAMAMOTO 2008), desencadeando assim a questão social. A gênese da questão social na sociedade burguesa deriva do caráter coletivo da produção contraposto à apropriação privada da própria atividade humana - o trabalho -, das condições necessárias a sua realização, assim como de seus frutos. É inseparável da emergência do “trabalhador livre”, que depende da venda de sua força de trabalho como meios de satisfação de suas necessidades vitais. Assim, a questão social condensa o conjunto de desigualdades e lutas sociais, alcançando plenitude de suas expressões e matrizes em tempo de capital fetiche (IAMAMOTO, 2008, pg. 156). As lutas sociais se expandiram em meio social. A classe operária, por sua vez, reivindicava pelo reconhecimento dos direitos sociais e políticos de todos os indivíduos sociais, rompendo com o domínio privado nas relações entre capital e trabalho, extrapolando a questão social para a esfera pública (YASBEK, 2001), exigindo que o Estado intervisse no reconhecimento e deveres dos sujeitos sociais. Contudo, a classe trabalhadora iniciou uma revolta contra o governo, que na época era o de Getúlio Vargas, reivindicando pelas condições de trabalho a que eram submetidos para a sua sobrevivência. Foram lutas e movimentos sociais por melhores condições de vida. Nesta mesma década de 1930 criou-se o Ministério do Trabalho (MT). As práticas assistencialistas foram aprimoradas pelo Estado em prol de amenizar as desigualdades sociais, ou seja, questões sociais como consequências do conflito entre capital e trabalho decorrentes do capitalismo. Foi por consequência das lutas sociais dos trabalhadores que se tornou restrita a relação entre capital e trabalho, “os conflitos sociais passam a exigir a interferência do Estado no reconhecimento e na legalização de direitos e deveres dos sujeitos sociais envolvidos, consubstancialmente nas políticas e serviços sociais” (IAMAMOTO, 2008, pg. 160). 21 O Conselho Nacional de Serviço Social foi o fundador da primeira instituição, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), em 1942, que se apresenta com o principal propósito de concretizar o Serviço Social como uma profissão, com auxílio das escolas do Serviço Social existentes na época, pois necessitavam de dados, informações, documentos, trabalhos, pesquisas, suporte teórico, técnico e prático para se constituir a identidade do Serviço Social enquanto profissão importante para a proteção e amparo social. A LBA persistiu por muitos anos na política assistencial no Brasil, com intuito de “assistir, primeiramente, as famílias dos pracinhas que foram para a guerra, e logo depois estender seu trabalho à população pobre, principalmente com programas na área materno-infantil” (COUTO, 2010, pg. 103). O Governo Federal era quem prestava assistência através das instituições, e o Estado quem regulamentava a quantidade de recursos financeiros a serem repassados. Logo após, em 1943, ocorreu a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) neste mesmo governo de Getúlio Vargas. A CLT foi uma conquista de parte dos direitos trabalhistas, como a carteira de trabalho, regularização da jornada de trabalho, férias remuneradas, licenças, entre outras. Por consequência, a LBA vincula-se com o Ministério do Trabalho e Previdência Social, tendo sua estrutura ampliada e passando a contar com novos projetos e programas. Ao longo deste processo, houve grandes reivindicações por direitos sociais, lutas e movimentos sociais por melhores condições de vida e em defesa de interesses e necessidades dos trabalhadores. Houve uma reorganização, novas concepções para a área dos direitos sociais, reconhecimento da assistência social como uma política pública, uma nova maneira de organizar e gestar, desencadeando, assim, um novo mediador para a questão social: o Estado. O resultado destes movimentos reivindicatórios foi a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, com um avanço na garantia de direitos da sociedade brasileira e democratização do Estado brasileiro. Destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988, pg. s/n). Na redefinição das políticas públicas, a assistência social se insere no tripé da seguridade social: a saúde, previdência social e assistência social, que passou a ser reconhecida como política social, facilitando o acesso dos cidadãos aos serviços básicos de proteção social e buscando reduzir as expressões da questão social no Brasil. 22 Art. 203 A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (BRASIL, 1988, pg. s/n). Inclusa no Sistema de Seguridade Social, a assistência social passa a ter transformações legais e institucionais, regulamentadas em diversas legislações, e o Estado brasileiro passa a reconhecê-la como parte de um sistema mais amplo de proteção social, junto com outras políticas sociais. A assistência social, sem o demérito de outros campos de atuação profissional, pode ser apontada como a área na qual a renovação crítica do serviço social brasileiro se fez mais evidente, pois foi aí que a vanguarda da categoria, num movimento de luta articulado nacionalmente, entre os anos 80 e 90, deu substantiva contribuição nos debates e articulações políticas para a elaboração de uma lei que, pela primeira vez no país, articula a assistência aos direitos sociais e aos patamares da justiça social (SOUZA; OLIVEIRA; ALMEIDA; CAVALCANTI, 2007, pg. 19). Pode-se dizer que a Constituição de 1988 foi a primeira forma dos direitos sociais serem reconhecidos constitucionalmente. A assistência social passa a assumir um caráter de política pública, portanto é a referência inaugural para a compreensão das transformações e redefinições do perfil histórico da assistência social no país (RAICHELIS, 2000). Sendo assim, requer que a assistência social seja vista como uma política pública, regulamentada por uma lei própria, desencadeando a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) passando a operar sob uma estrutura de política pública de Estado. Isto exige que as provisões assistenciais sejam pensadas no âmbito da garantia de direitos, da universalização e do compromisso estatal em promover políticas públicas de atendimento aos que necessitarem, principalmente no âmbito da Seguridade social e da Proteção Social pública. 2.2 UMA NOVA BASE INOVADORA PARA A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL Consequentemente, através dos movimentos para se efetivar meios de garantia de direitos, veio à tona discussões e debates para que a Política de Assistência Social prevista na constituição de 1988 constituísse uma nova questão de direito. Como uma forma mais ampla para a universalização dos direitos à assistência, a universalização dos acessos e da responsabilidade do Estado, efetiva-se um processo que torne a assistência social visível como política pública e direito dos que dela necessitam independentemente de contribuição prévia. 23 A elaboração da LOAS foi o produto da mobilização de segmentos sociais que se organizaram com o objetivo de fortalecer a concepção de assistência social como função governamental e política pública, envolvendo intrincados processos de negociação e formação de consensos pactuados entre diferentes protagonistas da sociedade civil, do governo federal e da esfera parlamentar (RAICHELIS, 2000, pg. 123). Para que se concretizassem os avanços dos direitos sociais alcançados na constituição, necessitou-se a regulamentação de leis orgânicas. Para a aprovação dessas leis exigiu-se um complexo procedimento de organização dos princípios preconizados na Constituição de 1988. A referida legislação é a LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS, Lei 8742, de 07 de dezembro de 1993) que, ao regulamentar o Artigo 194 da Constituição Federal de 1988, deu início a construção da assistência como política pública de seguridade social e de seu trânsito para o campo dos direitos, da universalização do acesso e da responsabilidade estatal (SOUZA; OLIVEIRA; ALMEIDA; CAVALCANTI, 2007, pg. 19). Passadas cinco décadas desde 1988 as concepções tomam novo rumo. O governo está determinado em desfazer o tripé da seguridade social e regulamenta uma nova forma de organizar as políticas de saúde, previdência social e assistência social. Para desta forma, passa a contribuir na amenização do número elevado de demandas, das desigualdades sociais, constituindo a complexidade na área da assistência e com intuito de ampliar os direitos sociais e universalizar a proteção social. A assistência social passa a ter um novo conceito, uma nova forma de visibilidade. Conforme o Art. 1 a “assistência social, é direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que prove os mínimos sociais” (LOAS, 1993, p. s/n), onde se materializa através de atividades socioeducativas, desenvolvidas pelas políticas públicas garantindo o atendimento às necessidades básicas da sociedade. Assim, é possível afirmar que a política de seguridade social proposta tem como concepção um sistema de proteção integral, do cidadão, protegendo-o quando no exercício de sua vida laboral, na falta dela, na velhice e nos diferentes imprevistos que a vida lhe apresentar, tendo para a cobertura ações contributivas para a política previdenciária e ações não contributivas para a política de saúde e de assistência social (COUTO, 2010, pg. 159). Só em 1993 a Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) é regulamentada. Encaminhada ao Congresso Nacional, foi sancionada em 7 de dezembro de 1993, pelo presidente Itamar Franco, dando início, assim, ao processo de reorganização da assistência social no país e à necessidade de revisão dos conceitos assistencialistas que permeavam o campo da política social, distinguindo assim novos conceitos, parâmetros a serem seguidos (MENDES; PRATES; AGUINSKY, 2009). A LOAS introduziu um novo significado para a Assistência, como uma “política pública de seguridade, direito do cidadão e dever do Estado, provendo-lhe um sistema de 24 gestão descentralizado e participativo, cujo eixo é posto na criação do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)” (MESTRINER, 2001, pg. 2006). A LOAS dispõe sobre a organização da Assistência Social, representando um marco para o reconhecimento da assistência social como direito a qualquer cidadão brasileiro aos benefícios, serviços, programas e projetos socioassistenciais. Regem pelos seguintes princípios e diretrizes: Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios: I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão (BRASIL, 1993, pg. s/n). Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes diretrizes: I - descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; II - participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo (BRASIL, 1993, pg. s/n). A assistência social, conforme a LOAS, foi amplamente organizada em um sistema descentralizado pelo poder público e participativo pela sociedade civil, distribuindo poderes às unidades locais, de modo a atender toda a sociedade brasileira. Entretanto, foram consolidadas em gestão, benefícios, serviços, programas e projetos de assistência social. A lei enumera condições para que esse campo passe a ser considerado como de direito social. Indica a responsabilidade estatal e aponta a noção de solidariedade social, soldando a cadeia de atendimento á população-alvo de seus programas, embora faça isso de maneira genérica, ao citar a provisão dos mínimos sociais, sem defini-los (COUTO, 2010, pg. 173). Adquiriu-se, assim, um novo status. As desigualdades sociais deixaram de ser aquela concepção de assistencialismo e filantropismo. E sendo reconhecida como uma política pública universal e de gestão participativa que se dá origem a Política de Assistência Social (PAS). 25 2.3 POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (PAS) Após cinco anos, em 1988, se consolidou pelo Conselho Nacional em Serviço Social (CNSS) a primeira regulamentação da Política Nacional de Assistência Social. Mas apenas em 2004, após um movimento de discussão nacional entre os Estados através de conferências e conselhos, que foi aprovada uma nova Política Nacional de Assistência Social na perspectiva de implementação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS. A Política Pública de Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, considerando as desigualdades socioterritoriais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Sob essa perspectiva, objetiva: Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos, ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e especiais, em áreas urbana e rural; Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária (PNAS, 2004, pg. 27). A Política de Assistência Social era vista pelas classes dominantes como solução para combater a pobreza relativa e nela imprimem o selo do enfrentamento da desigualdade ao tempo que exercitam a sua condição de classe dirigente, onde era uma forma de amenizar a questão social decorrente de sociedade capitalista (MOTA, 2008). A LOAS em sua regulamentação cria uma nova matriz para a Política de Assistência Social, inserindo-a no sistema do bem-estar social brasileiro, concebido como campo de Seguridade Social, configurando o tripé juntamente com a saúde e a previdência social. Passa a constituir uma nova relação de Estado e sociedade civil, a forma descentralizada e participativa. A Política de Assistência Social se origina para materializar o que se prevê nos princípios e diretrizes da LOAS, fazendo parte do empenho de construir um sistema no qual exista de fato a reversão do quadro até então desenvolvido pela Política de Assistência Social (COUTO, 2010). Conforme previsto pela LOAS que, “provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas” (BRASIL, 1993, pg. s/n). Assim, a PNAS desenvolve a assistência social como um direito social de qualquer brasileiro, destinado para as classes excluídas, vulneráveis e que apresentam risco social. Através do atendimento como modo de suprir as necessidades básicas dos usuários se divide em três níveis de proteção, sendo a Proteção Social básica, que se objetiva “em prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o 26 fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (PNAS, 2004, pg. 27); Proteção Social Especial de média complexidade que oferece através de instituições “atendimentos às famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujos vínculos familiar e comunitário não foram rompidos” (PNAS, 2004, pg. 32); e Proteção Social especial de alta complexidade, que “são aqueles que garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de seu núcleo familiar e, ou, comunitário” (PNAS, 2004, pg. 32). Cada nível apresenta seus objetivos, funções, serviços, programas, projetos de atendimento a serem desenvolvidos aos usuários específicos que delas necessitarem. Contudo, a política de assistência social não vem sendo implementada conforme preconiza a legislação. O maior obstáculo à sua efetivação como um direito de cidadania vem sendo dado pela ofensiva neoliberal que, desde os anos 90 até os dias de hoje, tem promovido o desmantelamento da concepção de seguridade proposta na Constituição Federal (SOUZA; OLIVEIRA; ALMEIDA; CAVALCANTI, 2007, pg. 21). Com a estrutura dos níveis de atendimento assistencial regulamentada na PNAS, se constitui um modelo de gestão desta organização da assistência social, no campo da proteção social brasileira. Desta forma entra em vigor e implementação o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no ano de 2005, ao qual se refere ao próximo item. 2.4 A IMPLEMENTAÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS) POR UMA NOVA GESTÃO Em 2004, regulamenta-se a construção e consolidação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que se objetiva em desempenhar uma nova gestão às políticas de assistência social nos municípios e territórios de atendimento assistencial à sociedade brasileira que apresentam maiores índices de desigualdades sociais e que apresentam risco social, instituído conforme a LOAS. Em 2005, a aprovação da Norma Operacional Básica - -NOB estabeleceu os parâmetros de operacionalização da gestão da política de assistência e a normatização para a implementação do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, tendo como principais objetivos: definição das competências e responsabilidades entre as três esferas e governo (pacto federativo); estabelecimento dos níveis de gestão de cada esfera; determinação das competências das instâncias que compõe a rede de proteção social e a sua articulação (entidades governamentais e não governamentais); descrição dos principais instrumentos de gestão; definição da forma de gestão financeira: mecanismos de transferências e critérios de partilha (SOUZA; OLIVEIRA; ALMEIDA; CAVALCANTI, 2007, pg. 29). 27 O SUAS adota um regime de gestão e normatiza a gestão da PNAS, sendo que o sistema de forma “descentralizado e participativo, constitui-se na regulação e organização em todo o território nacional das ações socioassistenciais” (PNAS, 2004, pg. 32). Apresentam-se assim fatores contribuintes e indispensáveis para a existência contínua das políticas públicas assistenciais, organizadas para que se desempenhe atendimento com qualidade, serviços, avaliação e resultados. A estrutura se divide em: matricialidade sócio-Familiar; descentralização político-administrativa e territorialização; novas bases para a relação entre Estado e sociedade civil; financiamento; controle social; o desafio da participação popular/cidadão usuário; a política de recursos humanos; a informação, o monitoramento e a avaliação (PNAS, 2004), e os serviços oferecidos são organizados em vigilância social, proteção social e defesa social e institucional. Uma vez que é o SUAS que organiza esta gestão nas redes assistenciais, os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) são os responsáveis pela Proteção Social Básica e pela Proteção Social Especial de média complexidade, e os Centros de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), pela Proteção Social Especial de alta complexidade. A gestão das ações na área de assistência social fica organizada sob a forma de sistema descentralizado e participativo, denominado Sistema Único de Assistência Social (Suas), com os seguintes objetivos: I - consolidar a gestão compartilhada, o cofinanciamento e a cooperação técnica entre os entes federativos que, de modo articulado, operam a proteção social não contributiva; II - integrar a rede pública e privada de serviços, programas, projetos e benefícios de assistência social, III estabelecer as responsabilidades dos entes federativos na organização, regulação, manutenção e expansão das ações de assistência social; IV - definir os níveis de gestão, respeitadas as diversidades regionais e municipais; V - implementar a gestão do trabalho e a educação permanente na assistência social; VI - estabelecer a gestão integrada de serviços e benefícios; e VII - afiançar a vigilância socioassistencial e a garantia de direitos (LOAS, 1993, pg. s/n). No ano de 2005 é regulamentada a última versão da Norma Operacional Básica que organiza a gestão da assistência social de forma geral no Brasil. A PNAS estabelece os princípios e diretrizes para a implementação do SUAS e como base para NOB/SUAS, que institui a operacionalização da gestão da política de assistênciasocial. A NOB sanciona “os eixos estruturantes para a realização do pacto a ser efetivado entre os três entes federados e as instâncias de articulação, pactuação e deliberação, visando a implementação e consolidação do SUAS no Brasil” (BRASIL, 2005). Em 2006 se regulamenta a Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do SUAS (NOB-RH/SUAS), que constitui em uma “política de capacitação dos trabalhadores públicos e da rede prestadora de serviços, gestores e conselheiros da área, de forma sistemática, 28 continuada, sustentável, participativa, nacionalizada e descentralizada, respeitando as diversidades regionais e locais, e fundamentada na concepção da educação permanente” (BRASIL, 2009, pg. 12). A questão da organização dos trabalhadores do SUAS, constitui-se nos recursos humanos de cada nível de complexidade, tratando assim da Proteção Social Básica ofertada através dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que compõe uma equipe multiprofissional atuando no atendimento aos usuários, na prestação de serviços, programas, projetos e ações, sendo que a equipe tem que suportar o número de famílias referenciadas nas instituições assistenciais. As equipes de referência para os Centros de Referência de Assistência Social – CRAS devem contar sempre com um coordenador, devendo o mesmo, independentemente do porte do munícipio, ter o seguinte perfil profissional: ser um técnico de nível superior, concursado com experiência em trabalhos comunitários e gestão de programas, projetos, serviços e benefícios socioassistenciais (BRASIL, 2009, pg. 19). Os profissionais são responsáveis por uma nova divisão sócio-técnica do trabalho no âmbito do SUAS, “ são todos aqueles que atuam institucionalmente na política de assistência social, conforme preconizado na LOAS, na PNAS e no SUAS, inclusive quando se tratar de consórcios intermunicipais e entidades e organizações da assistência social” (BRASIL, 2009, pg. 66). Deve ser orientado por um projeto ético-político assentado no acúmulo das diferentes profissões e de suas contribuições, incorporando os conhecimentos em prol de protagonismos e qualidade nos serviços especialmente para o atendimento aos usuários. Para a implementação do SUAS e para se alcançar os objetivos previstos na PNAS/20004, é necessário tratar a gestão do trabalho como uma questão estratégica. A qualidade dos serviços socioassistenciais disponibilizados à sociedade depende da estruturação do trabalho, da qualificação e valorização dos trabalhadores atuantes no SUAS (FERREIRA, 2011, p. 15). A proteção social é a modalidade de atendimento assistencial destinada à prevenção, proteção e promoção aos indivíduos. Uma gestão promovendo o bem estar, constituída por uma equipe de referência onde “cada unidade de assistência social organiza equipes com características e objetivos adequados aos serviços que realizam, de acordo com a realidade do território em que atuam e dos recursos que dispõem” (FERREIRA, 2011, pg. 29). É avaliada e coordenada pelo poder público, tendo a participação ativa da sociedade através da organização de conselhos federais, municipais e estaduais da assistência. Seguindo para o próximo capítulo, aborda-se o Serviço Social como uma das profissões que se inserem na Política de Assistência Social, formado por profissionais 29 assistentes sociais que trabalham e fazem parte da equipe de profissionais capacitados e determinados a intervirem na Proteção Social Básica. 30 3 SERVIÇO SOCIAL E TRABALHO No terceiro capítulo apresenta-se a história do Serviço Social no Brasil e seu contexto histórico enquanto profissão, trazendo autores para enfatizar o surgimento da profissão e suas características, bem como a relação com os processos de trabalho do assistente social na área da política de assistência, no qual se inserem os assistentes sociais. 3.1 BREVE TRAJETÓRIA DA CONSOLIDAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL ENQUANTO PROFISSÃO A origem e trajetória do Serviço Social no Brasil iniciam-se em meio a esta luta de reconhecimento e importância da assistência social. Teve a participação ativa dos assistentes sociais em conselhos, congressos, conferência e organizações sociais com propósito de valorização própria. A origem do Serviço Social inicia-se em torno da década de 30, onde se associa com a origem da Assistência Social, conforme proposto no início do capítulo II. Era de forma assistencialista e filantrópica, pela ajuda prestada por damas de caridade aos desiguais da época, vinculadas assim com a igreja católica e patrocinada pela ordem burguesa. Sendo assim, deu-se o aparecimento do Serviço Social com as mazelas próprias à ordem burguesa, com as sequelas necessárias dos processos que comparecem na constituição e no envolver do capitalismo (NETTO, 2009). O Serviço Social gestado em uma sociedade capitalista na fase monopolista demandou a partir da mudança do contexto social, político e econômico. Dedicavam-se à ajuda e auxílio às pessoas que tinham condições de vida precárias, excluídos que não se inseriam no mercado de trabalho, que apresentaram falta de condições financeiras, econômicas e sociais. Historicamente a realização da prática assistencial esteve bastante distanciada das relações sociais, associando-se mais à noção da caridade (MARTINELLI, 2003). Era de forma, da troca de favores com propósito de ajuda para ambas as partes. As damas de caridade forneciam elementos de interesses aos desiguais em troca de posições políticas, assim contribuindo para que diminuísse o conflito social entre capital e trabalho. No processo de industrialização, urbanização na decorrência da expansão do capitalismo, o conflito entre capital e trabalho se agrava, principalmente a exploração da mão de obra dos trabalhadores, onde não havia direitos e a classe trabalhadora se submetia a 31 condições de vida precárias. Como consequência, desencadeava, assim, a questão social, sendo compreendidas como expressões da desigualdade social: (...) conjunto das expressões da questão social engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado. Tem sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à apropriação privada da própria atividade humana - o trabalho – das condições necessárias à sua realização, assim como de seus frutos. [...] expressa, portanto disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero, características étnicoraciais e formações regionais, colocando em causa as relações entre amplos segmentos da sociedade civil e o poder estatal (IAMAMOTO, 2008, pg. 16). Com intuito de amenizar as desigualdades que se encontravam as damas de caridade ligadas à igreja católica, eram chamadas de "agentes sociais" treinadas para atender a sociedade que necessitava de auxílio e orientações sobre a forma de higiene, trabalho e padrões normativos pela doutrina cristã junto a crianças e mulheres, de cunho social e assistencialista. Os primeiros indícios de entidades educativas, as "agentes sociais", foram em 1932 quando inaugurou o Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) que se objetivava em “promover a formação de seus membros pelo estudo da doutrina social da Igreja e fundamentar sua ação nessa formação doutrinaria e no conhecimento aprofundado dos problemas sociais” (IAMAMOTO, 2009, pg. 169), para atender às necessidades da classe trabalhadora. Desta forma os centros técnicos foram de expandindo em diversos estados brasileiros. No governo de Getúlio Vargas, em dezembro de 1935, em São Paulo, foi criada a Lei no. 2.497, que tinha por objetivo criar o Departamento de Assistência Social do Estado, com ênfase na criação de conselhos e leis em prol da classe trabalhadora. Objetivava-se nas seguintes competências: Art. 1o a) - superintender todo o serviço de assistência e proteção social; b) celebrar, para a realização do seu programa, acordo com as instituições particulares de caridade, assistência e de ensino profissional; c) - harmonizar a ação social do Estado, articulando-a com a dos particulares: d) - orientar os poderes públicos nos assuntos de assistência social: e) - receber e aplicar doações que lhe sejam feitas; f) distribuir os auxílios e subvenções fornecidas pelo poder público a instituições particulares de assistência ou serviço social; g) – orientar e desenvolver a investigação e o tratamento das causas e efeitos dos problemas individuais sociais que necessitem de assistência, organizando para tal, quando oportuno, a Escola de Serviços Sociais: h) - praticar os atos que, por lei, couberem ao Conselho de Assistência e Proteção aos Menores (BRASIL, 1935, pg. s/n). Em 1936 nascem as primeiras escolas de Serviço Social no Brasil, dando início a um novo processo teórico-prático do Serviço Social. As damas de caridade, assim chamadas na época, teriam que se aperfeiçoar tecnicamente no auxílio aos desiguais, aprendendo a orientálos sobre melhores condições de vida. 32 As grandes instituições assistenciais desenvolvem-se num momento em que o Serviço Social, como uma profissão legitimada dentro da divisão social do trabalho – entendido o Assistente Social como profissional que domina um corpo de conhecimentos, métodos e técnicas – é um projeto ainda em estado embrionário; é uma atividade profundamente marcada e ligada à sua origem católica, e a determinadas frações de classes, as quais ainda monopolizam seu ensino prático. Nesse sentido, o processo de institucionalização do Serviço Social será também o processo de profissionalização dos Assistentes Sociais formados nas Escolas especializadas (IAMAMOTO, 2009, pg. 309). O CEAS, junto ao Departamento de Assistência Social do Estado, formou a primeira escola de Serviço Social em 1936 no estado de São Paulo na (PUC-SP) e, em 1937, surge a segunda escola no Rio de Janeiro. Nestas, demandava a capacitação teórica e metodológica de assistentes sociais, pois o Estado “não entendia” a questão social, deixando de lado o assistencialismo, de cunho católico em período de desenvolvimento industrial e ampliação das desigualdades sociais com a contribuição da participação ativa da sociedade civil. A emergência da profissionalização era de espaço sócio-ocupacional para atender a demanda, ou seja, um profissional que se tornasse como um trabalhador assalariado se materializasse como profissão que tinha competência e capacidade de operacionalizar com suas técnicas e instrumentos para amenizar as desigualdades sociais. A relação das políticas sociais e o serviço social surgiram quando, na implementação destas políticas, o Estado capitalista passou a requerer a presença de variadas profissões – dentre estas o serviço social – na elaboração, viabilização e execução da intervenção estatal sobre a questão social (REZENDE, CAVALCANTI, 2009, pg. 21). Em 1938 o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS) foi regulamentado, pois necessitava de uma nova forma de responsabilidade como a de coordenar e regulamentar as funções políticas, econômicas e administrativas. Possuía o intuito de centralizar e organizar as obras assistenciais públicas e privadas que se tinha na época, sendo um mecanismo de clientelismo político e de manipulação de verbas e subvenções públicas. A organização dos conselhos de assistência social e consequência desse processo mobilizador, que ampliou o debate acerca do significado da assistência social, incorporando novos parâmetros teóricos, técnicos e políticos redefinidores das concepções enraizadas neste campo (RAICHELIS, 2000, pg. 125). Em 1942, a Legião Brasileira de Assistência (LBA), instituiu, junto ao Estado, a criação bolsas de estudos para as assistentes sociais com o objetivo de ajudar e atender às famílias dos soldados enviados à Segunda Guerra Mundial, sendo o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) “com a incumbência de organizar e administrar nacionalmente escolas de aprendizagem para industriários” (IAMAMOTO, 2009, pg. 253) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Em 1943 foram criadas duas 33 instituições de assistência aos trabalhadores, o Serviço Social da Indústria (SESI) e o Serviço Social do Comércio (SESC), sendo que neste mesmo ano foi promulgada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), "esta Consolidação estatui as normas que regulam as relações individuais e coletivas de trabalho, nela previstas" (BRASIL, 1943, pg. s/n). No ano de 1945, foi significativo para os assistentes sociais. A profissão de Serviço Social tomou um novo rumo, pautada em debates e discussões acerca do progresso da profissão no continente, havendo a criação da Associação Brasileira de Escolas de Serviço Social (ABESS) e a Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS). Os assistentes sociais se capacitavam para a formação nos principais eixos: científico, técnico, moral e doutrinário. Assim, pressuponha-se que os profissionais formados nas recém-fundadas Escolas de Serviço Social (a partir de 1936) fossem atuar na mudança de comportamento das famílias e pessoas, para que melhorassem seus comportamentos e suas condições quanto à higiene, à moral e a sua inserção na ordem social. Estas são as três dimensões que articulam o objeto do Serviço Social no contexto econômico, político e cultural dos anos 30: a moral, a higiene e a ordem. Exemplos dessa articulação, na prática, podem ser vistos através das atividades das assistentes sociais subindo os morros das favelas para levar as pessoas a regularizarem suas relações de casal por uma certidão de casamento ou certidão de nascimento dos filhos e a evitar relações consideradas promíscuas ou perigosas: era ordem moral e social para harmonizar classes sociais e edificar “a boa família”, o “bom operário”, o “bom homem”, o “homem ou a mulher sadia” (FALEIROS, 1999, pg.13). Um ano após 1946 foi criada, pelo Governo Federal, a Fundação Leão XIII, em articulação com o Estado e a hierarquia católica para atuar junto a favelas, concentradas nos grandes centros urbanos. Seguindo nesta linha de iniciativas de ações sociais, o Serviço Social da Indústria (SESI) na mesma década se propôs em “estudar, planejar e executar medidas que contribuem para o bem-estar do trabalhador na indústria” (IAMAMOTO, 2009, pg. 268). O primeiro Congresso Brasileiro de Serviço Social, em São Paulo, 1947, explicou o Serviço Social como uma "atividade destinada a estabelecer, por processos científicos e técnicos, o bem-estar social da pessoa humana, individualmente ou em grupo, e constitui o recurso indispensável à solução cristã e verdadeira dos problemas sociais" (VIEIRA, 1977, pg. 143). As instituições assistenciais e sociais existentes a partir da década de 30 tiveram como objetivo controlar as problemáticas das relações sociais, conflitos sociais, equilibrando o sistema de produção, tanto econômico quanto político. Regulamenta-se pela Associação Brasileira de Assistentes Sociais (ABAS), em 1947, o primeiro Código de Ética profissional dos assistentes sociais, vinculados à igreja católica, com conceitos morais católicos. É constituído por deveres e direitos fundamentais quanto aos 34 beneficiários, instituição e equipe de trabalho, atividades. A dimensão ética da profissão, seja normativa e jurídica, de caráter conservador e assistencialista, visa a organizar o “homem desajustado” nas normas padrão de uma sociedade capitalista. Sendo que “moral ou ética pode ser conceituada como a ciência dos princípios e das normas que se devem seguir para fazer o bem e evitar o mal”. Nas décadas de 47 a 64 não apresentou mudanças significativas na trajetória do Serviço Social. Nos anos 50, com a modernidade, o Governo continuou a exercer as instituições assistencialistas como instrumento às políticas sociais, a partir do momento que o Estado passa a intervir sobre as sequelas da “questão social” através de políticas sociais. Em 13 de junho de 1953 foi regulamentada a Lei no 1.889, que se destinava ao ensino do Serviço Social e aos respectivos privilégios e vantagens inerentes à dignidade daqueles que possuem diplomas. O objetivo da lei se constituía em “I - Prover a formação do pessoal técnico habilitado para a execução e direção do Serviço Social; Il - Prover a formação do pessoal habilitado para execução e direção de órgãos do Serviço Social e desenvolvimento de seus ramos especiais”. As escolas de Serviço Social passaram a ter a lei como padrão para se apropriarem do ensino às assistentes sociais, sendo assim reconhecido o Serviço Social como uma profissão. Em 1957 foi regulamentada a primeira lei no. 3.252 de 27 de agosto, que regulamentava o exercício da profissão, substituída atualmente pela lei no. 8.742, de 7 de Dezembro de 1993. Nos anos 50 a 60, a profissão se desenvolve através do Serviço Social de Caso, Serviço Social de Grupo e Serviço Social de Comunidade, o qual exercia o trabalho no indivíduo, na família e na sociedade prestando orientações e comprometimento com as classes fragilizadas. A trajetória do Serviço Social no Brasil sofre uma significativa mudança na década de 60. Com as mudanças significativas no desenvolvimento, com a expansão e acumulação do sistema capitalista, inicia-se o movimento de reconceituação dando para a profissão um novo significado. Esta passa a rever sua fundamentação conservadora, em um movimento que pretendia reconfigurar as bases teóricas, técnicas e políticas da profissão, trazendo novas formas de trabalho profissional. Onde pautava em auxílio para a sociedade em busca de menos exploração do trabalho e desigualdades os indivíduos da sociedade, traz uma reflexão acerca de conceitos marxistas, de produção e reproduções sociais, novos conceitos e práticas sobre trabalho e seus constituintes, exploram as condições de sobrevivência do capital identificando o trabalho necessário do trabalho excedente, configurando um pano de fundo como debate acerca do trabalho do Serviço Social na sociedade capitalista. 35 O Movimento de Reconceituação se cria e se desenvolve a partir da identificação político-ideológica da profissão pelo capital e da negação de uma prática conservadora do Serviço Social, afirmando um compromisso político com a classe subalterna. (SILVA, 1995, pg. 86). Os profissionais, por sua vez, buscavam uma expansão econômica. Origina-se a ideologia desenvolvimentista que tem como proposta um crescimento econômico acelerado para atingir prosperidade, paz e ordem social, tendo como objetivo central superar o estágio transitório do subdesenvolvimento. Consiste na luta constante pela construção de uma sociedade sem exploração e dominação, e assim nas diferentes instituições da cotidianidade. O processo de renovação crítica do Serviço Social é também conhecido como o processo de ruptura com o tradicionalismo profissional. Esse processo não aconteceu de imediato, mas iniciou-se a partir de questionamentos e reflexões críticas acerca de seu conteúdo metodológico de sua prática profissional explicitando assim, os conflitos e contradições existentes, ações novas para a classe trabalhadora. A ruptura coma herança conservadora se expressa como uma procura, uma luta por alcançar novas bases de legitimidade da ação profissional do assistente social, que, reconhecendo as contradições sociais presentes nas condições do exercício profissional, busca colocar-se, objetivamente a serviço dos interesses dos usuários, isto é, dos setores dominados da sociedade (IAMAMOTO, 2000, pg. 37). Formou-se conjunto de assistentes sociais com formas diferentes de pensamento questionando e discutindo novas intervenções para a profissão no país. Lutando por um novo significado para a profissão, mudando as relações das pessoas, políticas, ideológicas e metodológicas, com uma prática historicamente articulada aos interesses dominantes e colocando a possibilidade de desenvolvimento de uma prática comprometida com os interesses populares. O movimento de reconceituação foi à reatualização do conservadorismo e da modernização. É um movimento datado, que ocorreu no âmbito latino americano e teve reflexos no Serviço Social brasileiro, se esgotando por volta da década de 75. Até os dias de hoje mantém esta renovação da profissão, a direção hegemônica da profissão se materializa no projeto ético político, assumindo a luta dos direitos, contribuindo para o progresso da profissão. “A consolidação do projeto ético-político profissional que vem sendo construído requer na contracorrente, andar no contravento, alinhando forças que impulsionem mudanças na rota dos ventos e das marés na vida em sociedade” (IAMAMOTO, 2001, pg. 141). Os projetos profissionais apresentam a auto-imagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam os seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para o exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas da sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (NETTO, 1999, pg. 4). 36 O Conselho Federal de Serviço Social (CFEES), em8 de maio de1965 consolidou um novo código de ética também vinculada com teorias católicas. Diferente do anterior, não era mais assistencial ao indivíduo próprio, e sim visava a atender sua família no âmbito social, abrangendo uma nova face ao tradicionalismo, na prevenção do bem comum, dos direitos e ordem social justa. O código de 65 busca, em alguns momentos, imprimir uma direção ética que não está presente em 1948 nem tampouco em 1975 (BARROCO, 2001). Manteve assim a profissão a sua forma conservadora e de controle social até a década de 1970. A década de70 foi marcada pela expansão das instituições educativas, com abertura de concursos para a área do Serviço Social, abrindo espaço de atuação do profissional. No ano de 75, em 30 de janeiro, é regulamentada uma nova versão do código de ética profissional, onde constitui-se em pleno período da ditadura militar, manifestações sociais, históricas na defesa dos direitos humanos e na busca de liberdade de expressão. Deste então, o Estado passa a intervir através das instituições, sendo um novo mediador do exercício profissional. A partir deste momento o Estado passa a intervir sobre as sequelas da “questão social” através de políticas sociais. O código de 75 reproduz os mesmos postulados tradicionais abstratos: o bem comum, a autodeterminação, subsidiariedade e participação à pessoa humana, a justiça social. A alteração tampouco decorre da citação de novas categorias tais como a “dialética homem sociedade”, usadas abstratamente, mas de exclusão de duas referências presentes no código de 1965: a democracia e o pluralismo (BARROCO, 2001, pg. 129). No fim dos anos 70 houve um grande progresso em termos de melhoria da qualidade de vida, por consequência de movimentos, reivindicações da classe trabalhadora, sindicatos, havendo um fortalecimento a fim de constituir um novo modelo do código de ética profissional. Substituindo o de 75, o código de ética de 86, caracteriza-se pela organização da categoria profissional em congressos, conferências, debates, assembleias e encontros em favor do compromisso político sobre o código e a garantia de direitos das necessidades dos usuários tratados em sua inserção como classe. A reflexão fortaleceu as bases para uma compreensão crítica do significado da profissão revelando sua dimensão política ideológica. A versão atual do código de ética teve sua última versão regulamentada em 1993. Esta apresenta os direitos, responsabilidades, princípios e responsabilidades quanto ao exercício da profissão, que não difere da Lei no. 8.662, que regulamenta a profissão constituída quanto a competências, atribuições, pelo Congresso Nacional, direitos e responsabilidades dos 37 profissionais assistentes sociais. Sendo assim, o Código de Ética Profissional busca superar a concepção universal abstrata dada aos conceitos de pessoa humana do bem comum. A explicitação do compromisso político visa garantir uma prática voltada às necessidades dos usuários, tratados historicamente, em sua inserção de classe, o que está de acordo com a politização que marca a intervenção da vertente da ruptura na profissão (BARROCO, 2001). O código de ética profissional vem se renovando ao longo da história do Serviço Social, conforme a modernidade e a atualidade das relações sociais e as necessidades que se encontravam, instituído pela Resolução 273/93 do CFESS. Esta Resolução define os parâmetros do exercício profissional do assistente social, garantindo qualidade dos serviços, assim representando o amadurecimento e renovação do teórico-político, ético-político da categoria profissional. O caminho da profissionalização do Serviço Social é, na verdade, o processo pelo qual seus agentes ainda que desenvolvendo uma auto-representação e um discurso centrados na autonomia dos seus valores e da sua vontade se inserem em atividades interventivas cuja dinâmica, organização, recursos e objetivos são determinados para além do seu controle (NETTO, 2001, pg. 71). Entretanto, o Serviço Social tornou-se reconhecido como uma profissão liberal, de nível universitário, gozando de decorrentes prerrogativas e defesa do que é privativo. O Serviço Social, enquanto profissão inserida na divisão social e técnica do trabalho, se desenvolve para atender à expansão de demandas desiguais de uma sociedade capitalista, intervindo assim, nas relações sociais. Enquanto profissão, o Serviço Social não dispõe de uma teoria própria, nem é uma ciência. Isto não impede, entretanto, que seus profissionais realizem pesquisas, investigações, etc., e produzam conhecimentos de natureza teórica, inseridos no âmbito das ciências sociais e humanas como modo de desenvolver atividades para entender a realidade, investigar, diagnosticar, mediar e avaliar com intuito de inclusão social e emancipar a autonomia dos indivíduos. (NETTO, 1999, pg. 102). O Serviço Social constitui-se numa profissão de natureza interventiva, cuja ação se coloca em face das demandas sociais que substanciam a sua intervenção sóciohistórica na sociedade. Tendo em vista a argumentação precedente, como todo profissional, o assistente social realiza sua prática através da rede de mediações, que ontologicamente estrutura o tecido social (PONTES, 2002, pg. 155). O Serviço Social sendo uma profissão de contradição, pois vive em uma sociedade capitalista, buscando garantir o acesso aos direitos, de forma igualitária. Ao mesmo tempo em que luta contra a exploração do trabalho, é um profissional assalariado, pertencendo ao mercado de trabalho capitalista, fazendo parte da relação de compra e venda da força de trabalho. 38 Para Iamamoto (2010. pg. 27) “o Serviço Social tem na questão social a base de sua fundação como especialização do trabalho”. A questão social é indissociável da forma de organização capitalista. [...] a gênese das desigualdades sociais, em um contexto em que a acumulação de capital não rima com equidade. Desigualdades indissociáveis da concentração de renda, de propriedade e do poder, que são o verso da violência, da pauperização e das formas de discriminação ou exclusão sociais. [...] decifrar a questão social é também demonstrar as particulares formas de luta, de resistência material e simbólica acionadas pelos indivíduos à questão social (IAMAMOTO, 2010, pg. 59). Competem ao profissional o caráter transformador, exercer seu trabalho, ações, técnicas e instrumentos nas políticas sociais e entre outros espaços ocupacionais do Serviço Social, em planejar, coordenar e executar no cotidiano das relações sociais para melhoria na qualidade de vida, o surgimento dessas instituições representa uma enorme ampliação do mercado de trabalho para a profissão, tornando o Serviço Social uma atividade institucionalizada e legitimada pelo Estado e pelo conjunto dominante (IAMAMOTO, 2011), voltado à defesa da cidadania, plenitude de direitos, democratização de bens e serviços entre outros fatores. 3.2 O TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL O Serviço Social é uma profissão que se insere no âmbito das relações sociais tendo como seu objeto de trabalho a questão social. Historicamente o trabalho do assistente social era realizado de forma assistencialista, caridosa, conservadora. Não era assalariado, não sendo, nesta época, regulamentado como um trabalho profissional ou profissão, apenas era vinculado à igreja católica que prestava auxílio e ajuda aos desiguais decorrentes da expansão do capitalismo e do conflito entre capital e trabalho. “É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção, mais além da caridade e repressão” (IAMAMOTO, 2010, pg. 77). No decorrer de várias conferências, congressos, houve progresso em termos de conquistas pela valorização do Serviço Social. A profissão é reconhecida constitucionalmente, com teorias e metodologias que se constitui como base da profissão e inserção na divisão social e técnica do trabalho. No entanto o Estado entra como um mediador, diretamente nas relações entre o empresariado e a classe trabalhadora. É uma relação de Estado e sociedade civil, estabelecendo não só uma regulamentação jurídica no mercado de trabalho, através de 39 legislação social e trabalhista especifica, mas gerindo a organização e prestação de serviços sociais, como um novo tipo de enfrentamento da questão social (IAMAMOTO, 2010). O trabalho é uma atividade humana, que representa toda a forma de desenvolver atividades e serviços a alguém que o contratou em troca de um salário, um empregado, ou seja, vender sua força de trabalho para ser assalariado, para, assim, suprir as suas necessidades e transformar o meio em que vive. Assim, o trabalho assume o importante papel de condicionador da existência humana, independentemente da sociedade que esteja sendo considerada. É ao trabalho que o homem tributa a razão de seu ser social, porque este propicia o arrancar das potencialidades naturais a seu serviço e, concomitantemente, conduz ao seu auto-desenvolvimento como espécie (PONTES, 2002, pg. 61). Considerando que o “assistente social é também um (a) trabalhador (a) assalariado (a), qualificado(a), que depende da venda de sua força de trabalho especializada para a obtenção de seus meios de vida” (IAMAMOTO, 2004, pg. ), mediante um contrato de trabalho com organismos empregadores seja privado ou público, o assistente social se insere em processos de trabalho determinados pelas instituições, orientados pelo projeto ético-político, norteando estratégias para atingir determinadas finalidades históricas, é a atividade que orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satisfazer a necessidades humanas (MARX, 1985). A ação profissional passou a serem concebidos como processo de trabalho, os assistentes sociais reconheceram-se como trabalhadores assalariados que vendem sua mão-de-obra a uma instituição que possui a necessidade de incorporar essa especialização do trabalho em seu quadro funcional (IAMAMOTO, 2005). O assistente social trabalha com seu objeto, meios de trabalho, ações, instrumentalidade, sendo que a partir das atividades desenvolvidas em meio social que as distinguem de outras profissões. Constitui-se através de seus processos de trabalho sua identidade profissional, onde se dá materialidade e relevância para a categoria profissional. Desta perspectiva, o núcleo da identidade do serviço social tem como base material o próprio processo de trabalho profissional, que se constitui no cerne de sua expressão. É ele que confere ainda sustentação à identidade através das representações expressas por seus agentes profissionais, durante o desenrolar de suas atividades (GENTILLI, 1998, pg. 22). Para Marx, o trabalho pode ser produtivo, mas não produzem mercadoria, mas, sim produzem e atuam em serviços que tem determinado significado para alguém, inseridos no campo da cidadania, ou seja, é abstrato que está vinculado com o processo de produção e reprodução das relações sociais. A recuperação da teoria do valor-trabalho de Marx, cujos supostos remetem a uma ontologia do ser social que se constitui como ser prático-crítico que projeta, opera, realiza e transforma a natureza e a si mesmo, permitiu-me demonstrar a tendência da 40 ordem capitalista em metamorfosear o processo de trabalho num conjunto de ações repetitivas, padronizadas, fragmentadas, na qual os produtos do trabalho social, coletivo perdem a chancela do seu produtor (GUERRA, 2005, pg. 16). Toda profissão tem seu objeto ou matéria de trabalho para que se torne significativo e reconhecido profissionalmente. Assim como o médico tem a doença, o professor tem a educação e o assistente social tem como seu objeto de trabalho a questão social, ou seja, as desigualdades sociais, como a fome, desemprego, violência, miséria, entre outros fatores exposto sem uma sociedade capitalista. Para Iamamoto (1999, pg. 27) a desigualdade, se rompe, pois “a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos se mantém privada, monopolizada por uma parte da sociedade”. O objeto de trabalho, aqui considerado, é a questão social. É ela, em suas múltiplas manifestações que provoca a necessidade da ação profissional junto à criança e ao adolescente, ao idoso, a situações de violência contra a mulher, à luta pela terra etc. Essas expressões da questão social são a matéria-prima ou o objeto de trabalho do trabalho profissional (IAMAMOTO, 2005, pg. 62). A Assistência Social pauta sua intervenção nas relações sociais, no amparo às desigualdades sociais decorrentes em nossa sociedade como a violência, miséria, fome, desemprego, precarização da saúde, habitação, entre outros fatores com propósito em amenizá-las em prol da melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e da igualdade social. Além da prestação de serviços públicos de interesse coletivo, educação sócio-política dos indivíduos sociais em suas múltiplas relações, na dimensão da vida cotidiana, na produção e reprodução social. Na expansão do capitalismo a questão social nasce através da classe trabalhadora emergindo por direito e cidadania em meio social. Inicia-se a partir da necessidade de políticas sociais para beneficiar a classe trabalhadora que decorriam de extrema pobreza. Os profissionais assistentes sociais ao longo de sua trajetória histórica foram se capacitando para melhor compreensão do fazer profissional, para entender a realidade das desigualdades sociais, acerca de sua intervenção, da sua prática profissional com habilidade e competência teórica, ética e política. Assim, a questão social condensa o conjunto das desigualdades e lutas sociais, produzidas e reproduzidas no movimento contraditório das relações sociais, alcançando plenitude de suas expressões e matrizes em tempo de capital fetiche. As configurações assumidas pela questão social integram tanto determinantes históricos objetivos que condicionam a vida dos indivíduos sociais, quanto dimensões subjetivas, fruto da ação dos sujeitos na construção da história (IAMAMOTO, 2008, pg. 156). O trabalho se destina aos indivíduos para a plenitude de seus direitos, fazendo com que as classes fragilizadas, ou seja, os marginalizados de uma sociedade tenham consciência de 41 seus direitos legais para deles usufruírem e na prestação de serviços intersectoriais aos usuários que necessitarem. Considera a possibilidade de inclusão de diversos segmentos de cidadãos excluídos dos direitos de cidadania, nos patamares mínimos que são operados conjunturalmente (GENTILLI, 1998). O assistente social intervém nas relações sociais, mas não produz conhecimentos sobre um território específico como em outras áreas profissionais, mas que se propõe a interpretar e agir nas tramas das relações sociais, envolvendo e articulando múltiplos territórios e conhecimentos. Não detém apenas de um processo de trabalho específico, nem apenas só trabalho social, mas sim em muitas áreas embora nele participe com autonomia ética e técnica. Tendo sua finalidade transformadora, posta a serviço da plena emancipação dos sujeitos sociais, autonomia de o indivíduo administrar sua própria vida pessoal, familiar e comunitária em âmbito social e promover formas organizativas e interventivas de ter o pleno exercício da cidadania. Exige-se um profissional qualificado, que reforce e amplie a sua competência crítica; não só executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e decifra a realidade. Alimentado por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano tem ampliadas as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida da sociedade. O novo perfil que se busca construir é de um profissional afinado com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional criativo e inventivo, capaz de entender o “tempo presente, os homens presentes, a vida presente” e nela atuar, contribuindo, também, para moldar os rumos de sua história” (IAMAMOTO, 2009, pg. 49). O trabalho norteia-se com autonomia, pelas dimensões que são o projeto ético-político, teórico-metodológico e Técnico-operativo. O projeto ético-político é definido de forma geral como o posicionamento do profissional, seus valores, postura, códigos, ethus profissional, direção teleológica, propôs a defesa intransigente dos direitos conquistados; teóricometodológico é o conhecimento teórico para ter uma postura profissional; e o técnicooperativo é a operacionalização, manusear a intervenção, o uso de instrumentos e técnicas, as dimensões traduzem como esses limites e possibilidades que são apropriados, analisados e projetados pelos assistentes sociais para assim constituir no exercício profissional (IAMAMOTO, 2004, pg. 12). Nas relações sociais o profissional em seu trabalho, articula-se nas intervenções e no exercício profissional, os elementos constituintes que são a totalidade, historicidade e contradição sobre o objeto de intervenção, ou seja, a questão social. A totalidade se define como conjunto de todas as partes que formam um todo, assim coletar todas as características 42 que se têm no âmbito social para que se tenha algo concreto em determinado caso, sendo propositiva. A historicidade é um tanto investigativa da vida de um indivíduo em meio social, relativo ao tempo posterior à formação das sociedades, ao passado dos indivíduos e a contradição está na essência do Serviço Social desde sua origem, pela luta, apropriação e aprofundamento do conhecimento, pela materialização da contradição ao darmos, a partir de nossa prática, visibilidade a nossa identidade social, mas sua própria existência nos remete a contradição que vamos materializar tanto no cotidiano dos sujeitos quanto profissional. Estes são elementos de grande importância para o assistente social. É através destes que se chega a explicações de determinadas situações. Para que possa conhecer e identificar seu objeto de trabalho é fundamental conhecer a realidade, pois para impulsionar um processo de mudança, precisa apreender como a questão social em suas diferentes formas é experimentada pelos sujeitos. A reprodução das relações sociais na sociedade capitalista, a partir da teoria social crítica, é entendida como reprodução da totalidade concreta desta sociedade, em seu movimento e em suas contradições. É reprodução de um modo de vida que envolve o cotidiano da vida social: um modo de viver e de trabalhar socialmente determinado (IAMAMOTO, 2004, pg. 9). A instrumentalidade que o assistente social se apropria é o meio de trabalho, que são um conjunto de instrumentos e técnicas para intervenção no seu objeto de trabalho, ou seja, a dimensão técnico-operativa do profissional. Os meios estão ligados à formação e mediação de seu teórico-metodológico e ético-político. As mediações funcionam como condutos por onde fluem as relações entre as várias estâncias da realidade. São elas que possibilitam conceber-se a realidade como totalidade (PONTES, 2002). O assistente social em seu cotidiano de trabalho desenvolve suas técnicas como entrevistas, visitas institucionais e domiciliares, plantão social, encaminhamentos, orientações, reuniões, ações educativas, pareceres, relatórios, ofícios, bem como com grupos de convivência e de fortalecimento de vínculos e comunitários. É a partir da realidade que se encontra em seu cotidiano de trabalho que o assistente social efetiva a intervenção e os instrumentos adequados para cada situação. O instrumental teórico-técnico de intervenção constitui o corpo de conhecimentos imediatamente ligado à dimensão operativa propriamente dita da profissão. Esta dimensão da matriz comporta o conhecimento de natureza basicamente interventiva, ou seja, o instrumental técnico de que se vale a profissão para viabilizar o atendimento das demandas institucionais, além do componente técnico da ação profissional (PONTES, 2002, pg. 17). O instrumental possibilita que os profissionais objetivem sua intencionalidade em respostas profissionais. É por meio desta capacidade, adquirida no exercício profissional, que 43 “os assistentes sociais modificam, transformam, alteram as condições objetivas e subjetivas e as relações interpessoais e sociais existentes num determinado nível da realidade social: no nível do cotidiano” (GUERRA, 1994). A instrumentalidade do Serviço Social, dada pela forma na qual a profissão se insere na divisão social e técnica do trabalho e resposta pela dinâmica da realidade social, tanto vincula a profissão a outros ramos de atividade profissional quanto atribui à profissão um status peculiar, já que contempla as ações pelas quais o profissional é reconhecido e requisitado socialmente (GUERRA, 2005, pg. 159). Estas dimensões são interligadas às dimensões técnico-operativas já que na execução das atividades postas aos profissionais, estes devem se apresentar instrumentos e técnicas, mas que devem estar em consonância com seu conhecimento teórico e metodológico, como o Código de Ética e a Lei de Regulamentação da Profissão. A operacionalização da ação é concebida como estratégia da qual ela se efetiva, sendo assim uma instância de passagem que permite que se realize a trajetória que vai da concepção da ação à sua operacionalização (MARTINELLI; KOUMROUYAN, 1994). Na efetivação do trabalho do assistente social o uso de sua instrumentalidade, é conforme seja mais apropriado para intervenção com autonomia e criatividade, onde na prática o profissional é quem tem o papel de mediador das atividades que os sujeitos realizam no âmbito, “se é no cotidiano profissional do assistente social que a sua instrumentalidade se materializa, desse mesmo cotidiano emergem mediações que lhe requisitam níveis de racionalidade mais elevados” (GUERRA, 2005, pg. 181). No Brasil, o marco da expansão das políticas sociais, foi após a instituição dos processos de descentralização e municipalização trazidas pela Constituição de 1988. Logo que o Estado passou a intervir nas expressões da questão social, consequentemente desempenha seu papel através das políticas sociais na prestação de atendimento e serviços aos indivíduos que necessitarem. Contudo, deu-se a necessidade da presença de profissionais, incluindo o Serviço Social, pois um profissional se caracteriza na elaboração, viabilização e execução da intervenção estatal sobre a questão social (REZENDE, 2009). A demanda do trabalho dos assistentes sociais como a mão-de-obra contratada pelo Estado capitalista decorreu da complexidade das relações sociais capitalistas que, também, no trato da questão social, passam a exigir trabalhadores com uma dada qualificação sociotécnica exigida por uma divisão do trabalho em constante aprimoramento (REZENDE, 2009, pg. 21). O Serviço Social passa a fazer parte das várias profissões que atuam nas políticas sociais, sendo instituições assistenciais que servem como mercado de trabalho aos assistentes sociais. Possuem funções e atribuições no âmbito da elaboração, execução e avaliação de políticas sociais, bem como na coordenação de movimentos sociais e populares. 44 Pautando especificamente na assistência social, conforme se explicita em itens anteriores do estudo, os assistentes sociais desde sua origem, intervêm em meio social, na garantia de direitos, cidadania e por sua vez a política de assistência social preconizam em ações na melhoria da qualidade de vida dos usuários e no enfrentamento das desigualdades sociais. Sendo de certa forma, que ambos estabelecem uma relação, uma ligação que é proporcionar o bem estar social dos usuários. Onde uma das causas da inserção do Serviço Social na política de assistência social, é que classe trabalhadora, os operários que o Serviço Social defendia, lutava em prol de seus direitos em seus primórdios na década de 30, hoje são os usuários assegurados pela Política de Assistência Social. Considerando que “os/as assistentes sociais foram os/as primeiros/asa se mobilizar em defesa da assistência social como direito” (CFESS, 2009, pg. 33). A política de assistência social, por sua vez, comporta equipes de trabalho interprofissionais, sendo que a formação, experiência e intervenção histórica dos/as assistentes sociais nessa política social não só os habitam a compor as equipes de trabalhadores/as, como atribuem a esses/as profissionais um papel fundamental na consolidação da Assistência Social como direito de cidadania (CFESS, 2009, pg. 12). Os profissionais assistentes sociais se apropriam em estratégias para intervir nas manifestações individuais e coletivas que se desenvolvem nas relações sociais. A sua inserção na política de assistência social é vinculada nas condições e processos que se realiza o seu trabalho, através de suas competências e atribuições se inserem na gestão do trabalho, contemplando as atividades exercidas pelos profissionais, as condições materiais, estruturais, físicas, meios e instrumentalidade necessária para o seu exercício. Neste sentido o assistente social tem o compromisso contínuo de desenvolver ações profissionais que acompanhem a expansão da política de assistência social, que se comprometam com a consolidação do Estado democrático dos direitos, a universalização da seguridade social e das políticas públicas, utilizando intervenções, mediações conforme previstas na Lei de Regulamentação da Profissão e no Código de Ética profissional. Contudo, o Serviço Social é diferente da Política de Assistência Social. Embora tenha participação ativa de assistentes sociais na regulamentação de ações socioassistenciais, o profissional atua também em diferentes áreas, seja na saúde, habitação, assistência, previdência, hospitais, escolas, ONGs, políticas públicas, sociais e privadas, e consigo nas quais o profissional desenvolve sua atuação por meio da sua instrumentalidade. São 45 contratados por setores públicos, estadual ou municipal, mediante a realização de concursos ou processos seletivos. O profissional pode atuar junto a outras áreas, como psicologia, pedagogia, enfermagem, psiquiatria, tornando-se indispensável para que se tenha um bom trabalho, uma intervenção com êxito e relevância. A construção do trabalho interdisciplinar impõe aos/às profissionais a realização permanente de reuniões de planejamento e debates conjuntos, a fim de estabelecer as particularidades da intervenção profissional, bem como definir as competências e habilidades profissionais em função das demandas sociais e das especificidades do trabalho. Balizados pelos seus Códigos de Ética, Leis de Regulamentação e Diretrizes Curriculares de formação profissional, os/as profissionais podem instituir parâmetros de intervenção que se pautem pelo compartilhamento das atividades, convivência não conflituosa das diferentes abordagens teórico- metodológicas que fundamentam a análise e intervenção da realidade e estabelecimento do que é próprio e específico a cada profissional na realização de estudos socioeconômicos, visitas domiciliares, abordagens individuais, grupais e coletivas (CFESS, 2011, pg. 26). Sobre as reais competências e atribuições do assistente social nos espaços ocupacionais é necessário observar o atual momento de mudanças no plano de acumulação e regulação social, no contexto globalizado da produção dos mercados e dos bens culturais. Esta mudança vem provocando profundas alterações na produção de bens e serviços, nas formas de organização e gestão do trabalho nos organismos empregadores, com marcantes alterações nas maneiras como os diversos profissionais de serviços se articulam no interior dessas entidades (IAMAMOTO, 2002). A Lei no 8.662, de 7 de junho de 1993, prevê as atribuições e competências dos assistente sociais nas áreas de trabalho, que se realiza em seu cotidiano. Art. 4º Constituem competências do Assistente Social: I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; VIII - prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, com relação às matérias relacionadas no inciso II deste artigo; IX - prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos civis, políticos e sociais da coletividade; X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; XI - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades (BRASIL, pg. s/n). 46 Art. 5º Constituem atribuições privativas do Assistente Social: I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria a órgãos da Administração Pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; IV - realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e pareceres sobre a matéria de Serviço Social; V assumir, no magistério de Serviço Social tanto a nível de graduação como pósgraduação, disciplinas e funções que exijam conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; VII - dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de graduação e pós-graduação; VIII - dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de pesquisa em Serviço Social; IX elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social; X - coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados sobre assuntos de Serviço Social; XI fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais; XII dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas; XIII ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão financeira em órgãos e entidades representativas da categoria profissional (BRASIL, pg. s/n). Compreender o trabalho profissional requer do assistente social um exercício de reflexão contínuo e um aprimoramento teórico constante sobre as particularidades que envolvem o fazer profissional. É necessário levar em conta os condicionantes internos, aqueles que se referem ao desempenho do assistente social, os externos, que dizem respeito ao contexto social onde se efetiva o trabalho profissional. O assistente social, profissional que interfere na reprodução da força de trabalho, por meio dos serviços sociais previstos em políticas e programas, atua junto a questões que dizem respeito à sobrevivência social e material da classe trabalhadora. Na prática profissional o agir do assistente social contribui para a instalação de processos que instigam a mobilização, a sensibilização e estimulam a participação e o controle social sobre as ações públicas, favorece a instituição de formas organizativas da população, assentada essa prática na busca do acesso à habitação e o atendimento aos seus direitos como cidadão. O profissional atua e intervém nas necessidades sociais, com os sujeitos envolvidos neste processo, sendo as demandas apresentadas como individuais, coletivas e institucionais. Age interventivamente nas suas demandas criando condições de possibilitar o autodesenvolvimento e emancipação dos indivíduos. O desenvolvimento de uma profissão resulta da (re) valorização da sua função social, cuja utilidade é perpassada, necessariamente, pela criação de novos postos de trabalho, pela constituição de novas atribuições diante das novas demandas sociais (resultantes de novas necessidades sociais) e por uma valorização salarial compatível com uma atividade de nível superior (SERRA, 2000, pg. 129). 47 Na contemporaneidade de nossa sociedade continuamente nos deparamos com mudanças sociais, políticas e econômicas, novos desafios, que repercutem significativamente nas relações sociais. Como consequências os profissionais, principalmente o assistente social, tem de se atualizar e acompanhar este processo moderno para dar conta das necessidades das demandas em seu cotidiano de trabalho. Assim aumenta-se campo, áreas de atuação do profissional, necessitando-se capacitados, críticos, competentes, que tenham ética profissional para saber trabalhar com inúmeras expressões da questão social. 48 4 SERVIÇO SOCIAL E O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO PROCESSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL Neste capítulo busca-se aprofundar a experiência de estágio supervisionado, como indispensável para o processo de formação acadêmica e fonte de informações e dados para elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Inicia-se com uma breve contextualização sobre o município de Cruz Alta/RS e conceituando o CRAS “Comunidade Mãe” voltado à Proteção Social Básica da assistência social. O CRAS apresenta-se como campo de estágio, promovendo relatos sobre as experiências vivenciadas, bem como uma análise sobre os limites e possibilidades do trabalho do assistente social. 4.1 CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (CRAS) “COMUNIDADE MÃE” NO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA/RS1 ENQUANTO CAMPO DE ESTÁGIO PARA O SERVIÇO SOCIAL Com a administração municipal, desde maio de 2005 a Secretaria Municipal de Cidadania, Habitação e Promoção Social (SCHPS) por meio da Lei Municipal 1.359/05, vem utilizando a terminação Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social – SMDS que possui uma estrutura simples, mas bem organizada. Tem, junto à sua estrutura, o Núcleo de Geração Trabalho e Renda, Núcleo de Atenção ao Idoso vinculado ao Centro do Idoso, Pessoa com Deficiência, Plantão Social, Centro Profissional e Humano, Cozinha Solidária, Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) e o Centro de Referencia de Assistência Social (CRAS). A SMDS (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social) acompanha programas da esfera municipal, estadual e federal e elabora projetos baseados na Política Nacional de Assistência Social – PNAS. A política municipal de assistência é dividida através dos dois níveis de proteção, sendo eles a proteção básica executada nos CRAS e a proteção especial de ______________ 1 O município de Cruz Alta foi fundado em 18 de agosto de 1821. Sua organização inicial é marcada pela fundação da Redução Jesuítica de Santa Tereza em 1637 e posteriormente por tropeiros que passavam pela região para comercializar gado. Em 1801 a ocupação se intensificou com a concessão de sesmarias a tropeiros paranaenses e paulistas passando definitivamente o domínio do território para os portugueses. No final no século XIX chegaram à região os imigrantes italianos e em seguida, porém em menor número, os alemães que prestaram significativa colaboração à formação cultural do município. 49 média e alta complexidade executada no CREAS, e nos Acolhimentos Institucionais. Essas ações são executadas através de programas, projetos, serviços e benefícios destinados prioritariamente à população em situação de vulnerabilidade social decorrentes da pobreza, rompimento ou fragilização de vínculos afetivos e discriminação por faixa etária, étnica, deficiência, entre outras (PNAS, 2005). De acordo com a capacidade e abrangência, o município de Cruz Alta é classificado como um município de médio porte de acordo com a NOB/SUAS e a PNAS. A partir da aprovação da nova Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da Norma Operacional Básica (NOB), o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) empreendeu esforços no sentido de implementá-la na direção da concretização do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) conforme a deliberação da IV Conferência Nacional da Assistência Social, realizada em 2003. Portanto tornou-se como diretriz as discussões da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), no que se refere também à estruturação do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) ofertando a Proteção Social básica. A proteção social básica, na sua concepção e delineação na política nacional, encontra ressonância na responsabilidade municipal. Cabe à gestão municipal responder pela efetivação da proteção social básica, estruturar a gestão do SUAS de forma que os CRAS, esses equipamentos tão importantes e estratégicos, realizem a proteção social básica, seguindo a lógica da gestão local, da participação no território, envolvendo ações promotoras de sociabilidade, de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, e a garantia da efetivação dos direitos socioassistenciais (CFESS, 2011, pg. 145). No município há 2 (dois) CRAS para o atendimento aos usuários, sendo o “Comunidade Mãe” e o “Um Lugar ao Sol”, ambos localizados em bairros com maiores índices de vulnerabilidade social, que requerem mais atenção e acompanhamento de profissionais. Concentra-se no Centro da cidade de Cruz Alta/RS a instituição pública responsável pela sua materialização, de acordo com a PNAS. O trabalho foi realizado, mais especificamente, no CRAS “Comunidade Mãe”, localizado na Rua Cândido Machado, nº 1971. Uma instituição municipal tem como objetivo o atendimento básico às famílias em situação de vulnerabilidade social, “tendo como prioritária a atenção às famílias, seus membros e indivíduos e o território como base de organização” (BRASIL, 2005, pg. 19). Localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destina-se à articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de proteção social básica às famílias. 50 O princípio da territorialização significa o reconhecimento da presença de múltiplos fatores sociais e econômicos, que levam o indivíduo e a família a uma situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social. O princípio da territorialização possibilita orientar proteção social de assistência social (BRASIL, 2005, pg. 19). O CRAS é o lugar que possibilita, em geral, o primeiro acesso das famílias aos direitos socioassistenciais e, portanto, à proteção social. “Estrutura-se assim, como porta de entrada dos usuários da política de assistência social para a rede de Proteção Básica e referência para encaminhamentos à Proteção especial” (PNAS, 2004). A Proteção Social Básica desenvolvida através dos CRAS prevê a garantia das necessidades básicas dos usuários, prestando serviços socioeducativos e de consciência aos direitos sociais. Tem como objetivo “prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários” (PNAS, 2005, pg. 33). Prevê o desenvolvimento de serviços, programas e projetos locais de acolhimento, convivência e socialização de famílias e de indivíduos, conforme identificação da situação de vulnerabilidade apresentada. Deverão incluir as pessoas com deficiência a ser organizadas em rede, de modo a inseri-las nas diversas ações ofertadas. Os benefícios, tanto de prestação continuada como os eventuais, compõem a proteção social básica, dada a natureza de sua realização (PNAS, 2005, pg. 34). Desempenha papel no território onde se localiza ao constituir a principal estrutura física local, cujo espaço físico deve ser compatível com o trabalho social realizado com as famílias que vivem no seu território de abrangência e conta com a equipe profissional. O referido CRAS “Comunidade Mãe”, constitui uma instituição pública estatal, vinculada à Prefeitura Municipal, mais precisamente à Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS). Conta hoje com 3 (três) assistentes sociais atuando 40h cada uma, 1(uma) coordenadora, 1 (uma) psicóloga de 20h, 2 (dois) administradores um com curso superior em administração e outro técnico, 1 (uma) pedagoga, 2 (dois) atendentes do Programa Bolsa Família, 1 (um) cuidador, 1 (uma) cozinheira, 1 (uma) recepcionista, 3 (três) serviços gerais de limpeza, 1 (um) motorista e 1 (um) zelador. Relacionando como que prevê a NOB-RH/SUAS, a composição da equipe para prestar serviços e execução das ações no âmbito da Proteção Social Básica deve ser de “2 (dois) técnicos de nível superior, sendo um profissional assistente social e outro preferencialmente psicólogo e 2 (dois) técnicos de nível médio ” (2006, pg.19). O CRAS “Comunidade Mãe” comporta toda essa equipe e além do previsto, porém muitas vezes não dão conta de atender todas às demandas, havendo necessidade, talvez, de rever a mudança da NOB-RH/SUAS, em termos de ampliação da equipe referenciada a cada instituição. Os profissionais trabalham em equipe e articula-se com outras políticas sociais e públicas em conexão com outros territórios, ações intersectoriais para o encaminhamento e 51 acolhimento adequado aos usuários. O CRAS desenvolve o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), o qual trabalha no atendimento e acompanhamento com os membros que compõe a família, laços estes que não foram rompidos ou fragilizados de modo à socialização, prevenção e promoção do convívio familiar e comunitário bem o desenvolvimento da autonomia do indivíduo. O plano de ação do CRAS “Comunidade Mãe” segue um conjunto de pressupostos identificado com a Política de Assistência Social (PAS), em estreita relação operacional e política com as normas estabelecidas pelo Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Programa de Atenção Integral às Famílias; Programa de inclusão produtiva de projetos de enfrentamento da pobreza; Centros de convivência para Idosos; Serviços para crianças de 0 a 6 anos, que visem o fortalecimento dos vínculos familiares, o direito de brincar, ações de socialização e de sensibilização para a defesa dos direitos das crianças; Serviços socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa etária de 6 a 24 anos, visando sua proteção, socialização e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; Centros de informação e de educação para o trabalho, voltados para jovens e adultos (PNAS, 2005, pg. 36). O atendimento no CRAS inclui também o Programa Bolsa Família, Programa Cozinha Solidária, Atendimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), Programa PROJOVEM adolescente, Cursos e oficinas de inclusão produtiva, Potencialização das entidades da rede de proteção social básica, palestras, grupos, campanhas, entre outros serviços que destinam as demandas que perpassam na instituição em favor da melhoria da qualidade de vida do usuário. O CRAS “Comunidade Mãe”, é um espaço sócio ocupacional do Serviço Social em que o assistente social faz parte da equipe de profissionais para atuar no atendimento aos usuários que buscam os serviços da instituição. Proporciona espaço para a realização do Estágio Supervisionado em Serviço Social III, essencial para o acadêmico/estagiário obter uma formação qualificada. Este tópico se apresenta contextualizado no próximo item. 4.2 EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIOSUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL III O estágio, no processo de formação profissional, constitui parte do Curso de Serviço Social como uma das disciplinas obrigatórias. Ao longo da história do Serviço Social foram regulamentas leis, resoluções e decretos sobre o estágio conforme a necessidade de capacitar os assistentes sociais no processo de formação. Esta experiência contribuiu para delimitação deste referido estudo. A partir da regulamentação da profissão, passa a existir legislação específica a respeito do estágio, com o fio de garantir as exigências mínimas para a sua 52 execução, no sentido de manter sua qualidade, a da supervisão e, consequentemente, a da prática de estágio (BURIOLLA, 2001, pg. 13). O estágio supervisionado é “uma atividade curricular obrigatória que se configura a partir da inserção do aluno no espaço sócioinstitucional, objetivando capacitá-lo para o exercício profissional, o que pressupõe supervisão sistemática” (CFESS, 2008, pg. s/n), em um espaço onde o acadêmico tem contato com a prática relacionando-a com a teoria estudada. Apresenta-se como um momento de vivenciar na prática do cotidiano de um profissional, auxiliando para melhor compreensão do trabalho do assistente social. O estágio é concebido como um espaço de treinamento, um espaço de aprendizagem do fazer concreto do Serviço Social, onde um leque de situações, de atividades de aprendizagem profissional se manifesta para o estagiário, tendo em vista a sua formação. O estágio é o locus onde a identidade profissional do aluno é gerada, construída e referida; volta-se para o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica e, por isso, deve ser planejado gradativamente e sistematicamente (BURIOLLA, 2001, pg. 13). O processo de estágio permite a supervisão direta de campo e acadêmica que proporciona a um profissional assistente social em orientar, supervisionar e avaliar, quanto às atividades, intervenções e acompanhamentos desenvolvidos no campo, visando a qualificação do aluno durante o processo de formação e aprendizagem das dimensões técnico-operativas, teórico-metodológico e ético-política da profissão (BRASIL, 2008). Considerando que a atividade de supervisão direta do estágio em Serviço Social constitui momento ímpar no processo ensino-aprendizagem, pois se configura como elemento síntese na relação teoria-prática, na articulação entre pesquisa e intervenção profissional e que se consubstancia como exercício teórico-prático, mediante a inserção do aluno nos diferentes espaços ocupacionais das esferas públicas e privadas, com vistas à formação profissional, conhecimento da realidade institucional, problematização teórico-metodológica (ABEPSS, 2008, pg. s/n). O campo de estágio fortalece o conhecimento concreto da prática do Serviço Social na área da Assistência Social, visualizando como se expressa a questão social, seu objeto de trabalho, as intervenções, mediações, condições de trabalho, suas atribuições e competência do assistente social, previstas no Código de Ética e na Lei de Regulamentação da Profissão. O estágio prático é essencial à formação do aluno de Serviço Social, enquanto lhe propicia um momento específico de sua aprendizagem, uma reflexão sobre a ação profissional, promovendo conhecimentos de forma dinâmica e crítica da realidade institucional (BURIOLLA, 2001). Dentre as atribuições privativas do assistente social inclui-se, conforme o Art. 5o “I – coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social” (BRASIL, 1993, pg. s/n). Com ênfase em uma formação qualificada, rebate-se um profissional competente e eficaz, sendo o espaço que permite 53 contato com o complexo elemento consecutivo dos processos de trabalho profissional. A supervisão de um profissional assistente social é de total relevância, pois o estagiário exerce a prática profissional, através do campo de formação, tendo o contato com a realidade social, com as várias expressões da questão social, e aprender a utilizar e exercer o instrumental de trabalho do assistente social. O papel do supervisor acadêmico consiste em acompanhar o desempenho do acadêmico de acordo com o plano de estágio estabelecido em comum de acordo com a instituição; identificar carências teórico-metodológicas e técnico operativas do acadêmico e contribuir para sua superação; estimular a curiosidade científica e a atitude investigativa no exercício profissional; contribuir para a identificação das singularidades do trabalho do Serviço Social, reconhecendo, ao mesmo tempo, os elementos particulares universais nele contidos; atualizar ao nível de bibliografia e conhecimentos necessários às atividades profissionais e à pesquisa; orientar o acadêmico na formulação de relatórios de estágio; refletir com o acadêmico sobre valores, posturas e acompanhamentos identificados no desempenho de seu trabalho como estagiário, desenvolver o espírito crítico no tratado teórico e na formação do cidadão (IAMAMOTO, 2005, pg. 285). O estágio prepara o acadêmico para enfrentar as demandas que perpassam na instituição, área de trabalho, aprende a lidar com os diferentes casos que os usuários apresentam no cotidiano, a trabalhar em equipe com profissional multidisciplinar, a planejar, orientar, executar serviços articulados com a instituição capacitando o aluno para que se torne eficaz e competente para com êxito exercer a profissão. O processo de Estágio Supervisionado em Serviço Social em seus três níveis, proporcionou-me no processo acadêmico, um amplo conhecimento do trabalho do assistente social, através de referências, bibliografias e na socialização em sala de aula das experiências de estágio e de trabalhos acadêmicos das alunas, contribuindo para melhor compreensão dos limites e possibilidades do trabalho do assistente social na contemporaneidade em diferentes áreas de atuação. Focando especificamente no Estágio Supervisionado em Serviço Social III, que se realizou no CRAS “Comunidade Mãe”, realizaram-se, através de orientações e supervisões, as seguintes documentações: diários de campo, plano de estágio, resumo expandido, fichas de frequência, questões de revisão e seminários de socialização. Promoveu-se um espaço de ensino e aprendizagem, constituído de experiências e construção de sua identidade profissional. Dessa forma incentivando na realização de trabalhos e pesquisas do Serviço Social e auxiliando no crescimento e reconhecimento da profissão. Considerando também, a experiência de estágio permitiu-me realizar o projeto de intervenção com o grupo de idosos atendidos no CRAS, onde foram propostas atividades socioeducativas aos mesmos com objetivo em conscientizá-los de seus direitos legais, de seu 54 protagonismo na melhoria da qualidade de vida. Foi muito satisfatório apresentando fatores positivos e de aprendizagem, com êxito tanto para o estagiário e a instituição quanto para os idosos, o que será detalhadamente apresentado no próximo subtítulo do referido estudo. Foi oportuno conhecer o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) “Comunidade Mãe” do município de Cruz Alta/RS através da observação, acompanhamento da assistente social nos processos de trabalho, atendimentos e visitas domiciliares e a necessidade de consolidar com o projeto ético-político profissional. Reconhecendo e aprendendo a utilizar as técnicas e instrumentos em determinadas situações e o enfrentamento das desigualdades sociais que perpassam nas demandas do Serviço Social. Proporcionou na prática, à acadêmica vivenciar o âmbito dos processos de trabalho, à inserção no espaço sócio-institucional, mas, sobretudo, capacitação do acadêmico para o exercício em sua efetivação. Contribuiu na qualificação técnica, em um contexto de desafios e conquistas na profissão. Parto do pressuposto de que o Estágio Supervisionado é parte integrante e essencial na formação do assistente social. É o locus apropriado onde o aluno estagiário treina e seu papel profissional, devendo caracterizar-se, portanto, numa dimensão de ensino-aprendizagem operacional, dinâmica, criativa, que proporcione oportunidades educativas que levam à reflexão dos modos de ação profissional e de sua intencionalidade, tornando o estagiário consciente de sua ação (BURIOLLA, 2001, pg. 11). Acredita-se que ambas as supervisões foram realizadas com êxito, através da dedicação e competência por parte das profissionais que orientaram neste percurso, permitindo ter uma diferente visão da realidade que se passa, tendo todas as orientações, atividades, estudos, trabalhos, pesquisas, estágios e as experiências necessárias, contribuindo, assim, para a formação acadêmica com ética e apta a exercer a profissão. Pautando na experiência de estágio, destaca-se a realização do Projeto de Intervenção em Serviço Social, intitulado em "Terceira Idade e Direitos". Apresenta-se como proposta inicial a partir do estágio II, tendo como o objetivo principal realizar intervenção grupal com os idosos que participam do Programa Cozinha Solidária no CRAS do município de Cruz Alta/RS, tendo em vista conscientizar de seus direitos legais, incentivar a troca de informações, o fortalecimento do convívio familiar e comunitário e o desenvolvimento de protagonismos. Assim sendo, o projeto de intervenção pautou-se pela importância que deve ser dada ao envelhecimento saudável e ativo. Para que se torne realidade “é importante a participação dos idosos em atividades sociais, culturais, educacionais e esportivas (BARROS, 1998)”, o que 55 surge para designar a prática de novas atividades de sociabilidade para a melhoria na qualidade de vida dos idosos nesta fase da velhice. O projeto de intervenção “Viver na Terceira Idade” aponta para incentivar a troca de informações, o fortalecimento do convívio familiar e comunitário, a recuperação de sua autoestima, a conscientização de seus direitos e desenvolvimento de protagonismos, fazendo com que os idosos tenham vontade de viver em meio social e sejam protagonistas de suas vidas. É importante para o idoso a (re) inserção em um meio social de convivência, onde se debatem assuntos pertinentes e de seu interesse, tornando-os desta forma sujeitos ativos da sua história e sujeitos dessa ação, o que é essencial à prática do envelhecimento ativo. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo, propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários (GONTIJO, 2005, pg. 27). Cada dia aumenta mais o número de idosos e a grande maioria, nesta fase da velhice, se depara com dificuldades para realizar certas atividades em seu cotidiano, como assimilar novas orientações, problemas de locomoção e interlocução, de interagir, esquecimento e não tem mais condições de morar sozinho, entre outros. Isto leva os idosos a perder sua autoestima, seu modo ativo de viver, deixando-os isolados e solitários. O idoso torna-se discriminado pela sua idade e falta de atividade profissional (BOTH, et, al, 2003). O aumento da população idosa repercute também na estrutura política, através da maior necessidade de realizar políticas públicas voltadas ao atendimento dos idosos, bem como na edição de legislações protetivas, que procurem efetivar e complementar o princípio da dignidade da pessoa idosa. O número de pessoas idosas contempladas com apoio ou benefício é muito pequeno, e mesmo os que têm acesso recebem benefícios exíguos e o idoso fica a mercê de programas de assistência. Os assistentes sociais encontram-se em contato direto e cotidiano com as questões da saúde pública, (...), da terceira idade, etc., acompanhando as diferentes maneiras como estas questões são experimentadas pelos sujeitos ( IAMAMOTO, 2007, pg. 41). O Estatuto do Idoso protege a pessoa idosa em suas necessidades básicas, como a “efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária” (art.3o) e ainda, como diz o art. 4o: “Nenhum idoso será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado, ação ou omissão, aos seus diretos” (BRASIL, 2003). 56 A efetivação de políticas sociais públicas que permitem um envelhecimento saudável com dignidade para os sujeitos é uma grande conquista da sociedade na contemporaneidade. A partir da Constituição de 1988, o Serviço Social, através de políticas públicas de prevenção, com as ações da proteção social básica, pôde orientar e direcionar atividades que propiciem maior qualidade de vida ao idoso. Notou-se que, no CRAS, a maior parte das demandas era dos idosos que necessitavam mais de "atenção" por terem dificuldades de se expressar, compreender e de assimilar certos assuntos. Na instituição a assistente social não dava conta das demandas que perpassavam, não havia "tempo" de atender os idosos com o devido encaminhamento, pausadamente, ouvindo suas angústias, dificuldades e condições que estavam vivenciando. Muitas vezes os idosos saíram da instituição sem o profissional tomar as devidas providências a respeito das situações vividas por eles, considerando que havia falta de profissionais assistentes sociais, o que sobrecarregava o trabalho da supervisora de campo. Por estes motivos e por ter realizado anteriormente trabalhos acadêmicos sobre a autoestima e a qualidade de vida do idoso e por possuir conhecimentos e embasamentos de referenciais teóricos sobre o referido tema, influenciando no desenvolvimento do projeto de intervenção. Num grupo social permite-se a troca de experiências de vida, informações, desilusões e conquistas, atualizar-se, manter e construir relacionamentos afetivos, enfim, percebe-se como um cidadão atuante e não mero expectador da vida (MAIA, TERRA, DIOGO, 2003, pg. 271). Partindo da indignação pessoal sobre a falta de convivência do idoso nos grupos sociais não ser de sua preferência e, com isso, se mantêm isolados do convívio social, tendo assim comprometido a sua qualidade de vida, cabe destacar que segundo o art. 4o da lei no 8.842, é diretriz da Política Nacional do Idoso: I - viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso, que proporcionem sua integração a demais gerações; II - participação do idoso, através de suas organizações representativas, na formulação, implementação e avaliação das políticas, plano, programas e projetos a serem desenvolvidos (BRASIL, 1994, pg. s/n). Os objetivos que se esperava alcançar neste processo eram: promover acesso aos serviços intersetoriais contribuindo para a efetivação dos direitos dos idosos; proporcionar trocas culturais e de vivências entre os idosos, bem como incentivar a convivência familiar e comunitária; e resgatar a autoestima e a capacidade do idoso de interferir de forma ativa e construtiva no contexto social. Os objetivos foram atingidos durante o processo de estágio, com esforço e comprometimento com os usuários que participaram do projeto de intervenção. 57 Também foram alcançadas as metas de constituir um grupo enquanto espaço onde se possam realizar trocas culturais e vivências entre os idosos; expressar suas opiniões e sentimentos sobre as temáticas abordadas; estimular o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e conscientizar os idosos dos seus direitos sociais. Os participantes se integraram com as atividades desenvolvidas nos atendimentos individuais que lhes foram oferecidos, necessitando a interferência e auxilio da supervisora de campo em determinadas situações. Salienta-se que apenas alguns usuários ficaram com receio de expor para a estagiária sobre sua vida pessoal. Na metodologia, optou-se pela forma qualitativa. Serviram de base para a fundamentação teórica vários autores, destacando-se entre eles, Marilda Vilela Iamamoto, Maria Cecília de Souza e Antônio Carlos Gil. Os dados do projeto de intervenção foram embasados por material bibliográfico, objetivando definir conceitos sobre os idosos, as políticas sociais, vinculando a temática abordada e o objeto de intervenção. O campo de observação e acompanhamento permitiu ver de perto os idosos, conviver e conhecer suas perspectivas de vida. Referente às técnicas e instrumentos, foram utilizados 2 (dois) seminários, intitulados " Direitos dos Idosos" e "Protagonismo do Idoso", seguido de apresentação de slides sobre: o Estatuto do Idoso; Política Nacional do Idoso; A importância do convívio familiar e comunitário; participação dos idosos em atividades culturais, artesanais, oficinas, cursos, esportes, dança fazendo com que se sintam úteis e que isso possa ajudá-los a conhecer outras pessoas para beneficio na percepção da própria imagem e ainda favorece o convívio com diversas pessoas. Ambos tiveram como objetivo proporcionar trocas culturais e de vivências entre os idosos, bem como incentivar a convivência familiar e comunitária. A contribuição, enquanto estagiária, foi de levá-los a refletir sobre seus direitos e seus papéis enquanto cidadãos, reconhecer os direitos já conquistados e de mobilização pela defesa destes. Foram realizadas visitas domiciliares proporcionando trocas de informações com o objetivo de conscientizar os idosos sobre a implementação de medidas que visem à melhoria da qualidade de vida deles e da família. Salientou-se alguns direitos que lhes cabem, como o BPC (Beneficio de Prestação Continuada), Passe Livre, Aposentadoria, Bolsa Família, Carteira do Idoso, entre outros. Através de uma entrevista contendo um roteiro de perguntas para registro da atividade, coletaram-se informações capazes de suprir um dos objetivos que era o de promover acesso aos serviços intersetoriais, contribuindo, assim, para a efetivação dos direitos dos idosos. Atingindo, desta forma, uma das premissas do Serviço Social, que é preservar pela qualidade de vida dos usuários. 58 Foram propostos atendimentos individuais aos usuários, com registro das informações no dossiê de cada um. Os usuários foram informados que seria realizada uma atividade de acolhimento para quem se interessasse, com presença da assistente social caso ocorressem situações de encaminhamentos, atendimentos contínuos, entre outros. O objetivo destes atendimentos individuais era promover um espaço de acolhimento e atenção prioritária para o idoso que quisesse compartilhar situações de transtorno que estivesse vivenciando. Também foram apresentadas imagens, vídeos, dinâmicas de grupo, avaliação e confraternização. Para análise dos dados realizou-se relatório final ao término de todas as atividades realizadas, constituído por pontos positivos e negativos que ocorreram no decorrer da atividade. O público alvo foi, conforme já posto um grupo com 11 idosos que participavam do Programa Cozinha Solidários, ofertados pelo CRAS “Comunidade Mãe”, sendo que a instituição “deve prestar serviço, potencializando as mudanças significativas para a população, com vistas a mudar suas condições efetivas e torná-la sujeito de sua própria vida (BRAGA, 2011, pg. 148)” e com o acompanhamento da supervisora de campo e acadêmica. A realização do Projeto de Intervenção em Serviço Social III permitiu sentir como uma profissional, tendo uma visão diferente da realidade do trabalho do assistente social no enfrentamento das demandas expostas. Além de aprender a ter cuidados éticos com os usuários, a estar preparada para enfrentar os desafios que surgirem em seu cotidiano, mas de modo geral, ficou claro que as atividades desenvolvidas foram bem aceitas pelos idosos. O Serviço Social contribui para a efetivação dos direitos dos usuários, pois durante as intervenções eles interagiram e relataram que gostaram muito pela contribuição na melhoria da qualidade de vida, fazendo com que tivessem acesso a seus direitos legais que por motivos alheios, nem sabiam que existiam. Concluem, relatando que aprendendo e compartilhando seus conhecimentos, opiniões, anseios, dificuldades, desafios de suas vidas, sentiram-se acolhidos, não só pela acadêmica e pela supervisora de campo que estava presente nas atividades realizando as mediações, mas pela equipe em geral que contribuiu para que o projeto se tornasse agradável e transformador. Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade (BRASIL, 2003, pg. s/n). De certa forma, também contribuiu para a instituição de campo, favorecendo para a compreensão das necessidades dos idosos, demostrando a necessidade também de 59 implementar políticas sociais de atendimentos aos idosos ou na ampliação das ações das políticas já existentes no município, podendo ser útil para colaborar com futuras atividades desta coordenação no CRAS. Enquanto estagiária, foi uma descoberta significativa e relevante não saber a necessidade de atendimento que os idosos tinham, de ter contato com as várias expressões da questão, do quanto são fragilizados em termos de atendimento e de regulamentações que assegurem seus direitos. 4.3 REFLEXÕES ACERCA DAS CONTRIBUIÇÕES DO TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL NO CRAS “COMUNIDADE MÃE” ENQUANTO ESTAGIÁRIA DO SERVIÇO SOCIAL E ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA DO MESMO PARA A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS DOS USUÁRIOS NA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL No período do processo de estágio supervisionado, foi possível acompanhar a ampliação do trabalho do assistente social em seus vários segmentos, principalmente no âmbito do SUAS, materializado no CRAS “Comunidade Mãe” no município de Cruz Alta/RS, espaço sócio-ocupacional que foi escolhido para o referido estudo. Nele o assistente social se insere e faz parte da Política de Assistência Social, pautando-se no exercício profissional, nos limites e possibilidades de atuação. O trabalho do assistente social é prestado através de políticas sociais como forma de intervir em seu objeto de trabalho. Para planejar sua metodologia de ação e sua estratégia de trabalho é de suma importância levar em consideração as expressões da questão social com intuito de transformar para melhorar a qualidade de vida do usuário, com funções de coordenar, elaborar e executar as políticas sociais, sendo crítico e questionador para desvendar a realidade social dos usuários. Processo de trabalho do assistente social está permeado por um conjunto de valores, intenções e posicionamentos ideológicos, sua intencionalidade. Esse conjunto intencional dá significado e sentido ao movimento da instrumentalidade escolhido pelo profissional (FERNANDES, 2005, pg. 10). O processo de estágio supervisionado no CRAS “Comunidade Mãe” em Cruz Alta/RS, permitiu acompanhar o trabalho do assistente social na instituição quanto aos processos de trabalho em seu cotidiano, quanto sua articulação com as redes de atendimento ao usuário, com a equipe multiprofissional, contradições, dificuldades e autonomia, permitindo à acadêmica utilizar algumas das instrumentalidades utilizadas pelo profissional em seu cotidiano, como as que seguem: 60 a) Visitas domiciliares e institucionais: apresenta uma forma investigativa de estar mais próximo à realidade social, observar e ter contato com usuários, de modo que auxilia para obter conclusões significativas a cada demanda, prestando informação e articulação do CRAS com as redes de atendimento intersectorial. [...] Prestar uma assistência educativa e assistencial no âmbito do domicílio. É através dela que fazemos um levantamento e avaliação das condições socioeconômicas em que vive o indivíduo e seus familiares, elaborando assim uma assistência específica a cada caso (KAWAMOTO, 1995, pg. 35). No decorrer do processo de estagiário, percebe-se que as visitas domiciliares e institucionais são importantes para os profissionais que atuam no CRAS “Comunidade Mãe”, principalmente aos assistentes sociais e estagiários do Serviço Social que se apropriam dessa técnica para potencializar as condições de conhecimento do cotidiano dos sujeitos, onde os profissionais que realizavam eram capacitados para intervir, apenas quando necessário e cabível para a situação social. b) Entrevistas: realiza-se para ter maiores informações a cada caso do usuário, “uma atividade profissional com objetivos a serem alcançados, que coloca frente a frente uma ou mais pessoas que estabelecem uma relação profissional, através de suas histórias” (LEWGOY, 2007, pg. 3). As entrevistas na instituição foram realizadas pelos profissionais como um meio de obter informações relevantes de cada caso. Foram feitas através de diálogos com os usuários, bem como de estagiários com suas supervisoras. A visita domiciliar visa prestar uma assistência educativa e assistencial no âmbito do domicílio. “É através dela que fazemos um levantamento e avaliação das condições socioeconômicas em que vive o indivíduo e seus familiares, elaborando assim uma assistência específica a cada caso” (KAWAMOTO, 1995, pg. 35). As entrevistas foram utilizadas com os beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC), os quais preencheram o questionário BPC escola, o Programa Bolsa Família e benefícios eventuais e por estagiários, para a realização e desenvolvimento do projeto de intervenção (apêndice I). Acredita-se que esta técnica deveria ser mais utilizada, pois teve momentos que necessitava dela para a intervenção e esta não havia sido realizada, muitas vezes devido ao trabalho do assistente social ser sobrecarregado. c) Atendimentos: Efetuam-se as demandas que perpassam no CRAS, com intuito de suprir as necessidades dos usuários que procuram os serviços que a instituição presta, conforme consta na lei que regulamenta a profissão que diz que o profissional tem a competência de “orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e fazer 61 uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos” (BRASIL, 1993, pg. s/n). Os atendimentos realizados com os usuários ou qualquer indivíduo que buscava os serviços da instituição sempre foram com ética e comprometimento por parte dos profissionais. Os assistentes sociais se orientavam por suas atribuições e competências constituídas pela Lei de Regulamentação da Profissão. d) Acompanhamento social: Destina-se aos usuários que necessitam de um profissional que os acompanhem ou daqueles que estejam em observação, dependendo de cada caso, podendo ser por tempo indeterminado. Como os profissionais do CRAS “Comunidade Mãe” atendia também aos usuários da Proteção Social Especial, o CREAS, pela falta de profissionais e instituições para dar conta do número elevado de demandas, os usuários eram muito prejudicados por não ter o acompanhamento devido. Geralmente o acompanhamento social realizado pela Proteção Social Básica eram demandas que apresentavam risco social, abuso sexual e crianças em processo de institucionalização. Esta técnica era utilizada, quando detectado em entrevistas a necessidade de se fazer encaminhamentos. e) Ficha de Encaminhamento: é um instrumento que o assistente social utiliza para encaminhar os usuários às outras políticas sociais do município de que necessitam, obtendo relevância no atendimento ao usuário. O assistente social tem o dever de “encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população” (BRASIL, 1993, pg. s/n). As fichas de encaminhamentos eram utilizadas pelos assistentes sociais do CRAS “Comunidade Mãe” quando os usuários necessitavam de serviços da habitação, saúde, CREAS entres outras redes de atendimento. Dessa forma eram encaminhados diretamente para os profissionais adequados ao atendimento para sua situação. f) Reuniões: são consideradas significativas para planejar e discutir os processos de trabalho da equipe multiprofissional da instituição sobre o andamento dos serviços e ações prestadas. Para o assistente social é dever intervir nas relações sociais, pois muitas vezes é preciso tomar decisões nos casos dos usuários, onde “planejar, organizar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais” (BRASIL. 1993. pg. s/n). As reuniões de equipe no CRAS ”Comunidade Mãe” eram bem frequentes, uma 62 questão positiva, pois era o momento de discutir as situações dos usuários. As reuniões aconteciam muitas vezes com profissionais de outras instituições, onde coletivamente, cada profissional auxiliava conforme competia a sua profissão. Estes momentos eram utilizados para discutir ideias, definir projetos, serviços, ações e programas, problemas sociais e também determinar soluções. Também foram realizadas fichas de cadastro, ficha de procedimento, relatório social, atas de reuniões, livros de registros e pareceres sociais, dando assim materialidade à ação profissional, documentos de registros de informações, observações, pesquisas, investigações, fatos que variam de acordo com o assunto e as finalidades de cada demanda. Estes registros são guardados, onde apenas os assistentes sociais têm acesso com a devida privacidade e sigilo profissional. A documentação pode ser considerada como um elemento constitutivo da ação profissional, uma vez que lhe dá materialidade ao comprovar a realização da ação, realizada de diferentes formas, ou seja, em fichas, prontuários, relatórios de atendimentos (individuais, familiares, ou de reuniões e de assembleias) realizadas em instituição ou em domicílios, dentre outros (LIMA; MIOTO; DAL PRÀ, 2007, pg. 3). Embora os procedimentos de trabalho do assistente social aparecem recorrentes em seu cotidiano, é determinante a forma como se efetiva no processo de consolidação da PNAS, pois rebate objetiva ou subjetivamente no fazer profissional. Onde as técnicas e instrumentos que foram citadas e expostas no processo de estágio, é uma das várias formas de contribuição do trabalho do assistente social no CRAS “Comunidade Mãe” e consequentemente na efetivação dos direitos dos usuários. Hoje, o assistente social se depara com inúmeros desafios relacionados com a perspectiva de gestão. Pautando-se nos meios de trabalho do profissional no CRAS, os recursos materiais e de infraestrutura são adequadas ao atendimento dos usuários, as dependências físicas comportam acolhimento e com a devida privacidade e sigilo profissional. O assistente social comprova a necessidade de realizar projetos apresentando as demandas e os materiais necessários, mas muitas vezes os recursos não são suficientes, tornando o trabalho socioeducativo precário. Nesta restrição da capacidade de atendimento, o assistente social vê-se, institucionalmente, cada vez mais compelido a exercer a função de um administrador rigoroso da pobreza, com uma aparente cultura do arbítrio e do favor. O código de ética nos indica um rumo ético-político, um horizonte para o exercício profissional. O desafio é a materialização dos princípios éticos na cotidianidade do trabalho, evitando que se transformem em indicativos abstratos, descolados do processo social. Afirma, como um valor ético central, o compromisso com a nossa parceira inseparável, a liberdade. Implica a autonomia, emancipação e a plena expansão dos indivíduos sociais, o que tem repercussões efetivas nas formas de 63 realização do trabalho profissional e nos rumos a ele impressos (IAMAMOTO, 2010, pg. 77). A falta de transporte para deslocar os assistentes sociais a visitas domiciliares e institucionais interfere na articulação com a rede e com os usuários, “porém é essa realidade de precariedade dos serviços públicos que enfrentamos e da qual temos de partir no cotidiano profissional, não podendo deixar que ela nos asfixie” (IAMAMOTO, 2010, pg. 161). Cabe ao profissional mediar a melhor forma de administrar os mínimos de recursos que o Estado repassa ao CRAS. Isto impõe a responsabilidade ao profissional, que deve prestar assistência a todas as necessidades dos usuários atendidos na instituição. Nessa perspectiva, a realidade torna-se o obstáculo, visto como o que impossibilita o trabalho (IAMAMOTO, 2010). Existem projetos que dependem de recursos para serem executados, mas para isso precisa-se de tempo e da equipe adequada para planejamento e realização com êxito. As demandas chegam ao CRAS através de buscas espontâneas, busca ativa, encaminhamentos das redes socioassistenciais referenciadas e por encaminhamentos das demais políticas públicas e sistemas de garantia de direitos. Apresentam-se elementos decisivos para a organização e condução do trabalho do assistente social, não se constitui em uma matéria palpável. Ainda que dispondo de relativa autonomia na efetivação de seu trabalho, o assistente social depende, na organização da atividade, do Estado, da empresa, entidades nãogovernamentais que viabilizam aos usuários o acesso a seus serviços, forneçam meios e recursos para sua realização, estabelecem prioridades a serem cumpridas, interferem na definição de papéis, e funções que compõem o cotidiano do trabalho institucional. Ora, se assim é, a instituição não é um condicionante a mais do trabalho do assistente social. Ela organiza o trabalho do qual ele participa (IAMAMOTO, 2005, pg. 63). O profissional consolida na sua prática, autonomia relativa, consequentemente, ocupa o espaço de resistência para realizar seu projeto Ético Político profissional. O Serviço Social como profissão é eminentemente interventivo, faz da realidade a partir da ótica do sujeito e sua subjetividade deve ser apreendida através dos fundamentos da profissão já que a mesma se constitui pela manifestação das identidades sociais dos sujeitos em diferentes espaços sociais. Analisando o trabalho do assistente social, este se articula de forma a mediar com as redes de atendimentos especializados, é um trabalho social de atenção em relação aos vínculos familiares e comunitários que sustentam os usuários. Precisa ser feito um trabalho além, de serem respeitadas as prerrogativas profissionais, onde atua de forma conjunta, em debates e reflexão sobre cada caso de atendimento em seu projeto ético-político, com o sigilo 64 profissional e ética profissional buscando o melhor resultado na superação de práticas fragmentadas e tradicionais e a consideração da problemática dos usuários. Exige-se um profissional qualificado, que oferece e amplie a sua competência crítica; não só executivo, mas que pensa, analisa, pesquisa e decifre a realidade. Alimentando por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano tem ampliadas as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho nesse momento de profundas alterações na vida em sociedade. O novo perfil que se busca construir é de um profissional afinado com a análise dos processos sociais, tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional criativo e inventivo, capaz de entender o “tempo presente, os homens presentes, a vida presente” e nela atuar, contribuindo, também, para moldar os rumos de sua história (IAMAMOTO, 2010, pg. 49). Um fator importante que desafia os assistentes sociais é a falta de informação a respeito da profissão pela sociedade no que se refere ao processo de profissionalização do Serviço Social. Há inexistência de um campo de conhecimento específico, teórico, prático, sobre a importância do profissional assistente social, principalmente na defesa da igualdade e direitos. Esta questão é muito pouco exposta e discutida e frequente no CRAS “Comunidade Mãe”, onde se percebe que os usuários não tinham conhecimento do que o profissional fazia ou o que é o Serviço Social, falta de qualidade e qualificação específica da profissão, o que interfere no reconhecimento e na valorização da profissão. Os recursos humanos no CRAS comportam uma equipe multiprofissional de assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, mas que é pouco para um número bastante expressivo de famílias e demandas que a instituição abrange, sobrecarregando principalmente o assistente social. Desta forma não realiza atendimentos aos usuários com seu devido acompanhamento, que deveria ser contínuo e com tempo adequado, há incompatibilidade entre o dimensionamento das equipes de profissionais, onde quem sai prejudicado são os usuários. Sendo assim, duas questões respondem a esta situação. Uma delas é a carga horária que o profissional desenvolve no excessivo e contínuo cotidiano de atendimentos, onde os usuários acabam não tendo adequados e necessários atendimentos, visitas domiciliares entre outros. E a outra é a baixa remuneração dos profissionais, que acabam se deslocando para atuar em municípios vizinhos, submetendo-se a trabalhar em dois ou três espaços ou cidades diferentes, “a gestão tem que se haver com essa realidade e se responsabilizar com os fatores que impactam no processo de trabalho, em razão da precarização, dos baixos salários” (CFESS, 2011, pg. 151). Isso acontece por consequência da falta de profissionais, fazendo com que se sintam inseguros no mercado de trabalho. Há anos que não são realizados concursos públicos no município. A maioria dos profissionais se insere nas vagas por meio de contratos 65 emergenciais, sendo profissionais incapacitados ou que não têm conhecimento suficiente da profissão para atuar. Desta forma, acabam elevando a situação de precariedade do trabalho do assistente social principalmente na área da assistência social. No entanto, as condições objetivas dos processos de trabalho passam a representar um aspecto imprescindível na análise da qualidade, em questão da eficácia e eficiência das ações propostas pela política, relacionadas aos seus objetivos. Temos, por um lado, o crescimento da pressão na demanda por serviços, cada vez maior, por parte da população usuária mediante o aumento de sua pauperização. Esta se choca com a já crônica – e agora agravada – falta de verbas e recursos das instituições prestadoras de serviços sociais públicos, expressão da redução de gastos sociais recomendada pela política econômica governamental, que erige o mercado com a “mão invisível” que guia a economia. Verifica-se a inviabilização de programas de trabalho, a falência dos serviços públicos nos campos da saúde, educação, habitação etc. (IAMAMOTO, 2010, pg. 160). Assim como tem seus limites de trabalho, também se apresenta as possibilidades, ou seja, as contribuições que esse trabalho rebate na vida dos usuários. Um profissional que interfere na reprodução da força de trabalho, por meio dos serviços sociais previstos em políticas e programas, atua junto a questões que dizem respeito à sobrevivência social e material da classe trabalhadora. Na prática profissional o trabalho do assistente social contribui para a instalação de processos que instigam a mobilização, a sensibilização e estimulam a participação e o controle social sobre as ações públicas, favorece a instituição de formas organizativas da população, assentada essa prática na busca do acesso à habitação e o atendimento aos seus direitos como cidadão. Cada profissional dispõe sua particularidade e especificidade de trabalho, técnica e instrumental. Mediar e intervir nas demandas postas pela instituição de trabalho auxilia na ação do profissional assistente social. Assim sendo, a assistência social é “direito do cidadão e dever do Estado”, a possibilidade de atuação do profissional assistente social é detectar e priorizar as necessidades e formas de atendimento aos usuários, em encaminhamentos nas áreas da à saúde, educação, habitação, lazer, e saneamento básico entre outras. Estimula a participação da comunidade por meio da implementação das ações, programas de geração de renda, auxílios e benefícios com parcerias das redes de atendimento em favor da organização da população, na redução e prevenção do impacto das atribulações sociais e naturais ao ciclo da vida, à dignidade humana e à família como núcleo básico de sustentação afetiva, biológica e relacional, garantindo a proteção social básica. O assistente social contribui para amenizar as dificuldades encontradas em seu cotidiano. Assim, potencializando o seu trabalho, usa como meios para atuar nas necessidades 66 sociais e como prioridade as ações educativas e preventivas no âmbito institucional e social. O trabalho em equipe entre os próprios assistentes sociais no que diz respeito ao planejamento é muito frequente no CRAS “Comunidade Mãe”. Realizando ações do Serviço Social que integrem o cotidiano social, intervêm na promoção do acesso aos serviços socioassistenciais pela sociedade que se encontra em situação de risco social, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos usuários. Há possibilidade de o profissional assistente social trabalhar em diferentes áreas, como em fóruns, hospitais, escolas, ONGs, previdência social, assistência social, saúde, habitação; enfim, âmbitos que requerem a atuação dos assistentes sociais na coordenação, gerenciamento, elaboração ou implementação de projetos, programas de prevenção de riscos sociais. A “elaboração, execução e avaliação de políticas públicas, como também na assessoria a movimentos sociais e populares” (CFESS, 2009, pg. 9) estão entre as atribuições e competências do profissional. As possibilidades do trabalho do assistente social baseiam-se na Lei que Regulamenta a profissão e no Código de ética da profissão, os quais contribuem indispensavelmente para os direcionamentos da profissão. Sendo encontrados nestes, princípios e direitos fundamentais que norteiam as práticas destes profissionais para conquistar sua importância e valorização. Os profissionais apropriando-se dessas capacidades estão aptos a desenvolvê-las e transformálas em projetos e frentes de trabalho. Complementando esta linha teórica da contribuição profissional do assistente social para o CRAS “Comunidade Mãe”, podemos relacionar com o projeto de intervenção que se realizou na instituição durante o processo de estágio. Apresenta-se como exemplo a classe dos usuários idosos, uma das várias demandas que o assistente social atende e através de sua ação profissional mostra a relevância e a importância que tem para o bem estar do indivíduo e em meio social. O Projeto “Terceira Idade e Direitos” é uma temática considerada importante para o Serviço Social, enquanto ser social de direitos, fazendo nexo com a prática do Serviço Social enquanto profissão, numa visão transformadora e crítica da realidade social e a compreensão do fenômeno do envelhecimento em função do aumento acentuado da expectativa de vida da população como um todo. Considera-se um avanço para o reconhecimento do importante papel do assistente social na Política Nacional do Idoso, apresentando contribuição para consolidação desta política através da ética profissional do Serviço Social e de seu Projeto Ético Político Profissional. Considerando que seu objeto de trabalho são as expressões da questão social, “a 67 insistência na questão social está em que ela conforma a matéria prima do trabalho profissional, sendo a prática profissional compreendida como uma especialização do trabalho, partícipe de um processo de trabalho” (IAMAMOTO, 2010, pg. 59), intervindo nas desigualdades sociais que se apresentam com intuito de que seus usuários tenham plenitude de seus direitos, entre eles os direitos dos idosos que é uma das intervenções do profissional. Acredita-se que os objetivos e metas alcançadas mostraram a eficácia do mesmo e a contribuição do Serviço Social para melhoria da qualidade de vida dos usuários da política de assistência social. Os resultados foram positivos, pois os usuários não tinham conhecimento dos seus direitos, de sua contribuição no contexto social e de seu protagonismo, demostrando curiosidade e alegria de aprender com as atividades realizadas no projeto, por terem participação ativa e comprometimento. Os resultados que se esperava supriram os objetivos, que eram de proporcionar acesso aos serviços intersectoriais, incentivar a convivência familiar e comunitária e a capacidade interventiva do idoso em âmbito social. As metas foram concluídas com êxito, sendo que foi constituído grupo de convivência, que teve a participação de 100% dos idosos, propondo comunicação entre os componentes e relevantes informações sobre os seus direitos legais, atingindo as metas e estimulando através das atividades possíveis melhoras na qualidade de vida dos usuários. Um dos desafios encontrados, era fazer os idosos assimilarem os temas dos seminários - como o Estatuto do Idoso - por não saber do que se tratava, tomando mais tempo e estudo para obter informações claras e práticas para compreenderem melhor. O desenvolvimento do projeto proporcionou à acadêmica uma experiência única e relevante para uma formação qualificada. Realizar o primeiro projeto de intervenção com êxito, aprendendo ao mesmo tempo os procedimentos para a realização e planejamento de um projeto, trouxe enorme satisfação a futura profissional. Os resultados positivos que se constituíram no decorrer deste processo acadêmico, acompanhando a realidade do trabalho do assistente social, a contribuição e a importância deste profissional através de sua ação para o progresso da sociedade vulnerável, é uma questão que leva à reflexão do quão importante é a experiência de estágio para assim formar um profissional qualificado e capacitado. No processo metodológico, nas atividades desenvolvidas um dos desafios era de enfrentamento às expressões da questão social, “assim, apreender a questão social é também captar as múltiplas formas de pressão social, de invenção e de re-invenção da vida constituídas no cotidiano” (IAMAMOTO, 2010, pg. 28), ou seja a classe idosa em situação de vulnerabilidade que perde sua autoestima, sua “vontade de viver”, pela difícil e precária 68 condição de vida, é forma de aprender a trabalhar com o usuário fragilizado que tem uma recorrente história de conflitos. Exatamente por isso, decifrar as novas mediações por meio das quais se expressa a questão social, hoje é, de fundamental importância para o Serviço Social em uma dupla perspectiva: para que se possa tanto aprender as várias expressões que assumem, na atualidade, as desigualdades sociais – quanto projetar e forjar formas de resistência e de defesa da vida. Formas de resistência já presentes, por vezes de forma parcialmente ocultas, no cotidiano dos segmentos majoritários da população que dependem do trabalho para a sua sobrevivência (IAMAMOTO, 2010, pg. 28). Para que haja consolidação com êxito no trabalho do assistente social, sabe-se que não depende apenas das ações deste, mas como de um todo. As redes de atendimentos, recursos financeiros e humanos, infraestrutura, serviços intersectoriais, usuários, demandas, entre outros fatores apoiam e contribuem para exercício adequado e possíveis progressos na área da assistência. Assim apresentando, os processos de trabalho que o assistente social se insere, suas ações, objeto, instrumentalidade, intervenção, são fatores que orientam a profissão em prol do bem estar dos usuários, para a efetivação dos direitos regulamentados na PNAS, voltados para a organização e mobilização dos sujeitos sociais, informação e comprometimento a potencialidade e participação dos usuários em relação a sua cidadania. Pela sua formação e experiência, os/as assistentes sociais têm uma função estratégica na análise crítica da realidade, no sentido de fomentar o debate sobre o reconhecimento e defesa do papel da assistência social e das políticas sociais na garantia dos direitos e melhoria das condições de vida; isso sem superestimar seu enfrentamento das desigualdades sociais, gestadas e cimentadas nas determinações macroeconômicas que impedem a criação de emprego, redistribuição de renda e ampliação dos direitos (CFESS, 2009, pg. 26). O Serviço Social contribuiu para a efetivação da Política de Assistência Social e é de grande importância, pois se apresenta o mesmo objeto de trabalho, estrutural e histórico que é a desigualdade social. Foi pela participação ativa dos assistentes sociais que hoje temos a regulamentação da Política de Assistência Social, onde estão assegurados os direitos dos usuários. A expansão da política de assistência social vem demandando cada vez mais a inserção de assistentes sociais comprometidos com a consolidação do Estado democrático dos direitos, a universalização da seguridade social e das políticas públicas e o fortalecimento dos espaços de controle social democrático (CFESS, 2009, pg. 28). Diante da contextualização, o desenvolvimento de princípios éticos previstos ao profissional de Serviço Social e do projeto ético político da profissão, são assim, importantes para consolidação dos direitos dos usuários junto ao grupo de trabalhadores da assistência social, o compromisso com o cidadão. Onde se percebe que a profissão se expande e cada vez 69 mais sendo exigida pela importância e relevância que rebate em termos positivos nas relações sociais. Assim, conclui-se que a Política de Assistência Social tem muito que progredir juntamente com a atualidade das relações sociais, tendo a aparência de que está se solidificando com a participação de profissionais, Estado, usuários e por parte também dos profissionais assistentes sociais, os quais deveriam ter responsabilidade e comprometimento com a política. 70 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo abrange a contextualização sobre a Política de Assistência Social, assim como as regulamentações que se constituíram ao longo desta trajetória. O que antes era da caridade e do favor passa a ser um dever do Estado e direito do cidadão, consequências das conquistas que se teve da profissão do Serviço Social em meio à participação ativa dos assistentes sociais e autores sociais que constituíram as várias consolidações, regulamentações e leis que hoje temos. O Serviço Social na contemporaneidade se apropria na divisão sócio técnica do trabalho. À medida que as necessidades sociais se modificam, transformam-se os modos e as políticas de atendê-las, e aí que se abre um leque de possibilidades de análise e intervenção do assistente social. No entanto, percebe-se que as dimensões que orientam o profissional, envolve desde as particularidades, o espaço de atuação do Serviço Social até a prática visando compreender os fenômenos que fazem parte de sua intervenção. Ao se defrontar com os problemas sociais de maneira fragmentada, o assistente social deve reconhecer as determinações sociais das expressões da questão social e traduzi-las em estratégias de ação. O trabalho do assistente social na política de assistência social é um tema de profícuo debate. Considerando a ampla relevância e a contribuição para a sociedade que esta profissão a presenta, algumas citadas neste estudo, remete-se a quanto a profissão tem de progredir e ser valorizada pelos autores sociais em termos teórico e prático. Com ênfase na experiência de estágio supervisionado no CRAS “Comunidade Mãe” percebe-se que o exercício do profissional vem sendo cada vez mais restrito pelas condições de trabalho precárias que são postas aos profissionais. Hoje o desafio é atualizar sua prática, visando à questão social na atualidade, aprender a lidar com as contradições da realidade, e, para isso, é necessário que se dediquem mais em um continuado investimento na qualificação, cursos de aperfeiçoamento, especialização e capacitando-se em suas práticas específicas. Os limites para a atuação profissional dos assistentes sociais são variados, de diferentes formas e bastante elevados, e as possibilidades restritas. Com isso, a necessidade de os profissionais se capacitarem cada vez mais é iminente, desenvolvendo atividades socioeducativas de informações e diálogos aos usuários e à sociedade, reforçando o que é e a importância da profissão para a melhoria da qualidade de vida de cada indivíduo. As contribuições dos assistentes sociais no CRAS “Comunidade Mãe” são muitas. Devido à escassez de recursos e outros fatores que auxiliam em seu trabalho, contribui na 71 ação de serviços, através das suas dimensões que os orientam e mostram a transformação e relevância que impacta nas relações sociais. No entanto, faz-se necessário mostrar a contradição da existência de uma constituição que garanta os direitos dos usuários e, ao mesmo tempo, necessidade de implementar instituições com as equipes necessárias, recursos, infraestruturas que compõem a sociedade referenciada, não deixando os usuários à mercê de seus direitos legais. O profissional assistente social contribui para que os direitos dos usuários sejam garantidos, mas muitas vezes devido às condições precárias de trabalho do profissional nas instituições impossibilita esta consolidação. Através da inserção do estágio na instituição de campo, proporcionou-se visualizar a capacidade de envolvimento do acadêmico entre o conhecimento teórico e a prática necessária ao cotidiano profissional, aprofundando o conhecimento da realidade do assistente social, sua instrumentalidade, atribuições, competências, dificuldades, atividades, enfrentamento às demandas e à questão social. A oportunidade de conhecer e intervir na instituição enquanto espaço sócio-ocupacional do Serviço Social revelou ser uma experiência significativa e de contribuição para a qualificação acadêmica e futuramente como profissional. É fundamental dialogar coletivamente sobre os dilemas do Serviço Social, rever estratégias, avaliar resultados das ações profissionais dos assistentes sociais e repensar a sua inserção no âmbito da assistência. Para isso, é preciso fomentar o debate entre os trabalhadores do Serviço Social na sua totalidade, superando as contradições que muitas vezes impedem o trabalho do profissional. A política de Assistência Social foi regulamentada através de muita luta e participação da sociedade civil, para que hoje se tornasse um direto aos usuários que dela necessitarem, em prol da melhoria da qualidade de vida, garantia dos mínimos sociais, universalização dos direitos, enfrentamento as desigualdades sociais, juntamente às demais políticas setoriais promovendo o bem estar social. É importante perceber o significado da Política de Assistência Social na sua atual conjuntura, que absorve as demandas tanto da população no que diz respeito às condições de vida e trabalho, como também as demandas do Estado no sentido do atendimento das necessidades sociais imediatas da população através de políticas públicas. As regulamentações da Política de Assistência Social e Sistema Único de Assistência Social têm muito que prosseguir na consolidação dos direitos dos usuários, com a participação cada vez mais ativa, principalmente de assistentes sociais. 72 REFERÊNCIAS ABEPSS. Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Politica Nacional de Estágio. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <www.abepss.org.br.>. Acesso em: 19.11.2014. BARROCO. Maria Lucia Silva. Ética e Serviço Social: fundamentos ontológicos. São Paulo: Cortez, 2001. BARROS, Myrian Moraes. Velhice ou Terceira Idade? Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1998. BOTH, Agostinho; BARBOSA, Márcia; BENINCÁ, Ciomara. Envelhecimento Humano: múltiplos olhares. Passo Fundo: UPF, 2003. BRAGA, Léa Lúcia Cecílio. O Trabalho do Assistente Social no CRAS. In: O Trabalho do Assistente Social no SUAS: seminário nacional. Brasília: CFESS, 2011. BRASIL. Lei No. 2. 497, de 24 de dezembro de 1935. 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Quais? _____________________________________________________________________ O trabalho do assistente social no CRAS “Comunidade Mãe” 1- Em seu cotidiano de trabalho o que você realiza na instituição?____________________ ____________________________________________________________________ 2- Como você percebe o objeto de trabalho nesta instituição?_______________________ _____________________________________________________________________ 3- Quais as principais demandas do Serviço Social atendidas na instituição?___________ ____________________________________________________________________ 4- Comente sobre as principais intervenções e mediações realizadas em seu cotidiano?___ ______________________________________________________________________ 5- Sobre seu instrumental de trabalho, quais as técnicas e instrumentos que utiliza? Como elas contribuem nos processos de trabalho? _____________________________________ _______________________________________________________________________ 6- Apresente as principais dificuldades encontradas na realização de seu trabalho? _______ _______________________________________________________________________ 78 7- Comente brevemente sua percepção sobre a Política Nacional de Assistência Social (PNAS). ___________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 8- Em sua opinião, o trabalho do assistente social contribui para a efetivação dos direitos dos usuários da assistência social?_______________________________________________ _________________________________________________________________________