O PAPEL DO PROFESSOR EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM Carime Rossi Elias FE/UFG [email protected] Kellen Cristina Prado da Silva CIAR/UFG [email protected] Jaqueline Veloso Portela de Araújo FL/UFG [email protected] O papel do professor em ambientes colaborativos online tem se tornado objeto de várias pesquisas, no Brasil e no mundo, com o crescimento da modalidade de educação a distância. Com a introdução de sistemas de comunicação mediados pelo computador, novas práticas de ensino emergem, levando-nos a refletir sobre o papel do professor no processo de ensino-aprendizagem. Segundo pesquisas (TELES, 2009), o planejamento da disciplina pelo professor e a organização que ele realiza na sala de aula têm papel determinante no tipo de experiência de aprendizagem dos alunos pois os ambientes virtuais não são colaborativos por natureza, mas dependem do trabalho do professor para que se incentive a interação entre os alunos (TELES, 2009; MASETTO, 2000; KENSKI, 2007; GILBERTO, 2009). Dentre os estudos que avaliam o papel do professor nos ambientes virtuais de aprendizagem, destaca-se a pesquisa de Berge (1995 apud Teles, 2009) que, utilizando a metodologia de análise de transcrição, identificou quatro categorias de funções do professor online: pedagógica, gerenciamento, suporte técnico e suporte social. Partindo das categorias construídas por Berge (1995 apud Teles 2009), realizou-se uma análise inicial das postagens dos professores nos foruns e chats da disciplina de núcleo livre Experimentações Pedagógicas em Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), ministrada no segundo semestre de 2010 na UFG, no curso de Pedagogia, com carga horária presencial e virtual, mediante o uso do Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle. As questões que nortearam a investigação do papel dos professores na disciplina foram as seguintes: 1) Como se expressaram as funções pedagógica, de organização, de suporte social e de suporte técnico no ambiente em questão? 2) Quais funções mais se manifestaram no decorrer da disciplina? 3) Quais fatores promoveram atitudes colaborativas entre os alunos? Dessa forma, a análise 1 buscou identificar se o modelo utilizado pelas três professoras da disciplina se aproxima das funções descritas por Berge (1995 apud Teles 2009) e em que medida. Um pouco sobre o contexto A disciplina de núcleo livre Experimentações Pedagógicas em AVA foi realizada no ambiente moodle. O Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment) é um ambiente virtual de aprendizagem, ou seja, um software que agrega ferramentas para a criação, tutoria e gestão de atividades, cuja intenção é disponibilizar conteúdos e, principalmente, propiciar a interação entre pessoas e grupos (SILVA, 2010) A disciplina desenvolveu-se na modalidade semipresencial, ou seja, cerca de quarenta (40) horas foram ministradas presencialmente, no laboratório da Faculdade de Educação, e vinte e quatro horas (24) em atividades virtuais, principalmente com o uso da ferramenta chat, quando os alunos poderiam acessar o ambiente em qualquer espaço físico desejado, de forma síncrona, ou seja, com horários previamente definidos. As aulas presenciais, em geral, aconteceram no laboratório de informática quando os alunos eram solicitados a desenvolver atividades diferenciadas no ambiente moodle da disciplina. Muitas vezes as aulas presenciais também contavam com discussões teóricas, a partir de textos específicos, realizadas em sala de aula presencial. Deste modo, várias vezes, metade da aula era ministrada no laboratório de informática e a outra metade, na sala de aula (longe dos computadores). As discussões teóricas realizadas a partir dos textos lidos semanalmente aconteciam em ambos os ambientes. Segundo Almeida (apud Kenski, 2007), ambientes virtuais de aprendizagem São sistemas computacionais disponíveis na internet, destinados ao suporte de atividades mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. Permitem integrar múltiplas mídias, linguagens e recursos, apresentar informações de maneira organizada, desenvolver interações entre pessoas e objetos de conhecimento, elaborar e socializar produções, tendo em vista atingir determinados objetivos. As atividades se desenvolvem no tempo, ritmo de trabalho e espaço em que cada participante se localiza, de acordo com uma intencionalidade explícita e um planejamento prévio denominado de design educacional, o qual constitui a espinha dorsal das atividades a realizar, sendo revisto e reelaborado continuamente no andamento da atividade. (Almeida, apud Kenski, 2007, p.95) 2 A disciplina foi ministrada por três professorasi e matricularam-se trinta e seis (36) alunos e vinte e seis (26) permaneceram até o final. Com exceção de dois alunos, dos cursos de Licenciatura em Educação Física e Geografia, todos os outros eram oriundos do Curso de Pedagogia. Segundo relatos dos alunos, ainda que utilizassem outras tecnologias no seu dia a dia, todos manifestaram ser esta a sua primeira experiência em uma disciplina acadêmica ministrada em ambiente virtual de aprendizagem. Desta forma, nas primeiras aulas foi realizada uma oficina de utilização do moodle com o propósito de realizar os primeiros acessos ao AVA, ambientar os alunos na plataforma e explicar a utilização das ferramentas e dos recursos. Neste momento as professoras também contaram com o apoio de profissionais da informática para gerenciar problemas de usuários relacionados a senhas e cadastros. A disciplina compreendia três unidades temáticas: a) sociedade em rede; b) tecnologias da comunicação e da informação e o cenário educativo e c) tecnologia da comunicação e da informação e práticas pedagógicas. Conforme a ementa A disciplina busca uma articulação entre experimentações pedagógicas no ambiente moodle e a leitura de textos acerca de relações entre conceitos de interatividade e interação, relação professor-aluno, processos de ensino-aprendizagem em ambientes virtuais de aprendizagem (AVA). Fundamenta-se em uma proposta de construção de cenário educativo em AVA a partir da articulação entre tecnologias, conteúdos ministrados e propostas teórico-metodológicas pedagógicas. O planejamento envolveu a leitura semanal de textos acadêmicos voltados para a questão das tecnologias da informação e da comunicação e o campo educacional e discussões semanais através de chats e foruns. Os autores dos textos estudados foram Castells (1999), Santaella (2003), Masetto (2000), Gilberto (2009), Kenski (2000)ii. Além do chat e forum, ferramentas do ambiente como tarefa, glossário e wiki, foram utilizadas. Dentre outras atividades, os alunos construíram textos coletivos utilizando a ferramenta wiki e dois tipos diferenciados de textos individuais: um a partir da leitura de um texto específico, que foi postado no ambiente pela ferramenta Tarefa, e o outro, que envolvia a releitura de todos os textos estudados visando à elaboração de um mapa conceitual e de um texto explicativo-reflexivo acerca dos conceitos selecionados para composição do mapa. Este último texto individual foi realizado ao final da disciplina e postado nos blogs construídos e apresentados pelos grupos que 3 continham também diversos tipos de materiais, como vídeos, links, textos, referentes aos campos de conhecimento específicos de formação dos alunos. As funções do professor Conforme referido anteriormente, Berge (apud Teles, 2009) propõe as funções pedagógica, organizacional, suporte técnico e suporte social a serem exercidas pelo professor online. A função pedagógica, segundo Teles (op. cit), foi posteriormente subdividida por Bonk et al. (apud Teles, 2009) em dez categorias que inspiraram a análise inicial aqui realizada, considerando-se que “A função pedagógica inclui tudo o que é feito para apoiar o processo de aprendizagem do indivíduo ou grupo.” (op. cit, p.73). Uma das funções do professor online definidas por Bonk et al. (apud Teles, 2009) consiste em “realizar perguntas diretas” aos alunos. Na disciplina Experimentações Pedagógicas em AVA encontramos esta ação do professoriii , por exemplo, no Fórum 7 de discussão teórica, dirigindo-se ao grupo de alunos: P2 - 30 setembro 2010, 21:05: Pessoal, nesse espaço vamos discutir o texto da Vani Kenski. Como desafio, segue uma pergunta inicial: segundo a autora, tecnologias servem para fazer educação? por que? Bom trabalho a todos nós! As perguntas diretas também foram realizadas pelos professores em relação a um aluno específico, e não ao grupo de alunos, principalmente nos fóruns semanais de discussão. Ou seja, a partir da leitura, pelo professor, de registros postados pelo aluno, questionamentos individuais foram realizados conforme é possível observar a seguir, no mesmo Fórum mas referindo-se a outro texto da mesma autora, conforme pode ser observado nas mensagens que seguem, de uma aluna e de uma das professoras, respectivamente: LI - 14 outubro 2010, 16:42 Olá P1, a autora se refere a mudanças nas maneiras de ensinar e de aprender. Já temos um grande avanço no que se refere ao uso das novas tecnologias em sala de aula, pois muitos professores e alunos têm contato diário com as mais diversas mídias tais como: filmes, programas de rádio e televisão, atividades em computadores, na internet e outras, adquirindo assim, uma aprendizagem mais ampla. Até mais! 4 P1 - 18 outubro 2010, 09:29 LI, que mudanças, efetivamente, a autora Kenski menciona em relação aos novos modos de ensinar e de aprender? por exemplo, no texto 1, ela fala de pesquisas que estão sendo realizadas e que revelam outros modos de aprender de jovens que nasceram no mundo das TICs. O que ela fala sobre isso? o que as pesquisas têm mostrado? abraço Perguntas específicas, dirigidas para um determinado aluno, também puderam ser encontradas nos chats, de participação síncrona, como por exemplo, no Chat 3: 18:59 - EL: o texto consegue refletir sobre como a tecnologia pode ser utilizada na educação tanto presencial quanto a distancia 19:00 – P3: Mas como essa tecnologia é apresentada pelo autor EL? Um segundo tipo de intervenção realizada pelo professor online, segundo Bonk et al. (apud Teles, 2009), é “sugerir que os estudantes expliquem ou elaborem melhor suas idéias”, o que pode ser encontrado, por exemplo, no Fórum 3, conforme enunciado a seguir: AR - terça, 31 agosto 2010, 19:10 Ao contrário do que acreditava McLuhan, mensagem e meio não são a mesma coisa. É possível fazer a separação dos dois. Os meios são meros canais que não teriam sentido sem as mensagens que neles se configuram. P1 - 31 agosto 2010, 20:00 Oi AR, quem faz esta afirmação? o que entendeste dela? o que pensas? abraço P1 Outro tipo de intervenção realizada pelos professores e também citada por Bonk et al. (apud Teles, 2009) visava guiar o aluno na busca de outras fontes de informação, conforme o registro a seguir realizado no Fórum 7: NA - 7 outubro 2010, 15:09 Oi P1, acho de fundamental importância questionar para quem vamos ensinar, ou seja, quem é o foco de nosso trabalho. Devemos analisar quem são os alunos inseridos nesse processo e como eles vão atuar nele. Não podendo então desconsiderar o contexto social e tentar sempre conectar escola, aluno, relações sociais e realidade. P1 – 18 outubro 2010, 09:55 Bom dia NA, sim, concordo contigo. Vários autores têm pesquisado sobre as novas infâncias e, dentre elas, o que chamam de "cyber-infância". Uma dessas autoras é a profa. Leni Vieira Dornelles. Ela escreveu um livro chamado "Infâncias que nos escapam: da criança de rua à criança cyber" (Petrópolis, RJ: Vozes, 2008). (...) Então, quem seriam nossos alunos? como conhecê-los? A "cyber-infância" me parece uma questão interessante para uma investigação sobre os "novos alunos". O que pensas? Abraço P1 5 Intervenções visando “promover auto-reflexão no estudante”, conforme previsto por Bonk et al. (op. cit), também puderam ser encontradas, por exemplo, no Forum 5. Neste caso, a auto-reflexão buscava uma articulação entre conceitos importantes do texto, “interaprendizagem” e “autoaprendizagem” e vivências dos próprios alunos na disciplina: P1 - 19 setembro 2010, 20:50 Oi RU e pessoal, consideram que estamos conseguindo viver alguns processos de “interaprendizagem” e “auto-aprendizagem” nesta disciplina? já pensaram sobre esta questão? ou seja, se estão efetivamente aprendendo algo aqui ou não? como isto está acontecendo? se acham que não estão aprendendo, o que estaria faltando? se acham que estão aprendendo, por que consideram isso? só para complicar mais um pouquinho.... abraços, P1 Também puderam ser encontradas intervenções realizadas por professores que ofereciam “feedback e congratulações pelas contribuições nas discussões online”, conforme descrito por Bonk et al. (op. cit), como, por exemplo, no Fórum 3: P1 – 1 setembro 2010, 19:00 Boa questão, KA, ela precisa começar a ser pensada sem preconceitos... nenhuma tecnologia é boa ou má em si mesma. E as tecnologias digitais não fogem à regra. Muitos professores ministraram aulas não muito boas com o apagador, visto como tecnologia, no entanto, outros ministraram aulas ótimas! Nossos próximos textos discutirão especificamente o campo educacional. Já estás entrando no "clima"! abraço, P1 Outros tipos de intervenção docente foram definidas pelos autores, segundo Teles (2009) como: dar instrução direta; fazer referência a modelos ou exemplos; dar conselhos ou oferecer sugestões; atuar como suporte na estruturação das tarefas cognitivas e “costurar” comentários com objetivo de criar resumo e redirecionar a discussão para eixos centrais do tema. Neste momento de análise inicial, somente algumas das funções foram mencionadas. A função de organização refere-se, segundo Berge (apud Teles, 2009) a todas as atividades que contribuam para o bom andamento do curso do ponto de vista “administrativo”. Algumas categorias definidas pelo autor caracterizam essa função, como, por exemplo, o controle das ações dos estudantes, atendimento aos prazos para entrega de trabalhos, a definição da composição dos grupos e organização dos papéis, esclarecimento de regras e expectativas do curso, dentre outras. A função de organização se evidenciou principalmente nas mensagens, enviadas pelas professoras, 6 com o objetivo de esclarecer sobre atividades, chamar a atenção dos alunos para a freqüência e realização de atividades, pelo Forum de Dúvidas, no qual os alunos postavam dúvidas sobre qualquer aspecto do curso, e pelas orientações inseridas no início de cada tópico semanal, na sala virtual, conforme exemplos a seguir: P1 – Fórum de Dúvidas - 31 agosto 2010 Pessoal, as contribuições no ambiente estão “fraquinhas”! Olhem o forum de notícias, o forum 1 da primeira semana, o forum Santaella! Vamos lá, coragem! Abraços P1 – 12 outubro 2010 Olá NI Lembramos que já estás no limite das faltas possíveis na disciplina de Núcleo Livre Experimentações Pedagógicas em AVA e que só realizaste cerca da metade das atividades propostas na disciplina. Portanto, se tiveres interesse em continuar, precisas realizar as próximas atividades. RA – Fórum de Dúvidas - 20 agosto 2010, 08:52 Professoras, Tentei inserir uma foto no meu perfil, mas não consegui. Como é esse procedimento? P3 – Tópico da semana 7 - de 01/10 a 07/10/2010 Olá turma! Lembramos que hoje, dia 07/10/2010, não teremos aula presencial, porém faremos um chat, das 19:00 às 20:00h sobre o texto de Vani Kenski “Tecnologias também servem para fazer educação?”. Procure seu grupo e esteja preparado(a)! Uma das tarefas do professor online é tentar criar um ambiente de convivência agradável, um espaço de interação no qual o aluno se sinta à vontade para expressar suas opiniões, se sinta integrado ao grupo e que seja atendido pelo professor. Essa é a função social, na qual o professor deve buscar um equilíbrio entre o excesso de pessoalidade e a impessoalidade, segundo Teles (2009), pois ambos podem levar a uma redução do interesse do aluno. Segundo o mesmo autor (op. cit.), o reconhecimento e valorização dos comentários dos alunos são fundamentais para criar a motivação necessária para sua participação no curso. Assim, observamos, em vários momentos, a iniciativa das professoras em valorizar a presença do aluno, bem como a criação de um espaço de “descontração”, de livre expressão de alunos e professoras, denominado Fórum Chimarrão, com vistas a fortalecer as interações e o interesse em participar dos fóruns. No Fórum Chimarrão os alunos também puderam expressar seus receios em 7 relação à disciplina realizada em AVA, ao uso da tecnologia e das ferramentas e registrar opiniões sobre a experiência na disciplina. FJ – 19 agosto 2010, 19:19 Olá boa noite, Achei diferente comunicar o que penso no fórum, porque às vezes a gente quer demonstrar certos tipos de expressões que só o professor entende, e a preocupação de escrever algo errado também é delicada, pois os outros coleguinhas podem estar lendo e dando sua opinião sobre o que escrevemos. IG – 19 agosto 2010, 19:23 A primeira experiência no forum foi um pouco tensa, na verdade, para fazer parte do forum, ingressar na discussão, opinar. Realmente fica o medo no primeiro momento de expressar opiniões, porém me parece mais fácil, depois da primeira mensagem enviada, participar ativamente. Depois é só relaxar... Foi legal ler as opiniões dos colegas, com calma, pensar e coisa e tal. acho que foi isso... TN – 26 agosto de 2010, 20:47 Fiquei assustada justamente por ser um núcleo livre bem diferenciado dos demais e pensei que talvez não desse conta de realizá-lo, de seguir o que vocês professoras tinham e tem como proposta para essa disciplina mas vejo que será uma ótima experiência e aprenderei muito no decorrer das aulas. É uma boa proposta de ensino planejada por vocês. Abraço. TN Outra função mencionada por Berge (apud Teles, 2009) é o suporte técnico que tem a característica de propiciar as condições para que os alunos se tornem usuários competentes (TELES, 2009) e possam atender aos objetivos específicos de aprendizagem na disciplina. Essa função foi exercida, na maioria das vezes, por uma das professoras que se encarregou da customização da sala virtual no moodle, de conduzir a oficina com os alunos e abrir as semanas de atividades com as instruções. Segundo Berge (apud TELES, 2009), o ideal é tornar a tecnologia “transparente”, ou seja, tornar os usuários confortáveis no uso da tecnologia para que o foco seja a interação, e também para que não ocorra diminuição na motivação dos alunos por dificuldades técnicas. No decorrer do curso e nas aulas presenciais as dificuldades relacionadas ao ambiente virtual foram minimizadas, embora alguns alunos tivessem problemas relacionados à falta de conhecimentos básicos de informática. Considerações As análises demonstram que a função pedagógica foi a mais evidenciada no decorrer do trabalho. Atribui-se este fato à própria natureza acadêmica, de estudos 8 teóricos, da disciplina e também à proposta pedagógica do grupo de professoras que visava à construção de um ambiente de aprendizagem colaborativo. No entanto, todas as outras funções foram fundamentais para que a disciplina ocorresse e igualmente para manter o grupo de alunos motivado a interagir. As funções de suporte técnico e de suporte social possibilitaram que o temor dos alunos diante do “desconhecido” (o AVA) não os impedisse de tentar, de experimentar as possibilidades apresentadas pelas professoras, bem como para que o uso das ferramentas do moodle estivesse direcionado para a interação aluno/aluno e professor/aluno. Em relação às interações no ambiente, observou-se que a função de organização manteve uma ênfase maior na interação aluno/professor, em detrimento das relações aluno/aluno. Uma das hipóteses a serem levantadas para esta tendência é a própria compreensão do processo de ensinoaprendizagem dos alunos que tradicionalmente valoriza a relação professor-aluno e/ou professor-alunos. Masetto (2000), referindo-se às transformações do lugar de aluno exigidas pelas interações de ensino-aprendizagem em ambientes virtuais de aprendizagem, afirma que Olhar o professor como parceiro idôneo de aprendizagem será mais fácil, porque está mais próximo do tradicional. Enxergar seus colegas como colaboradores para seu crescimento, isto já significa uma mudança importante e fundamental de mentalidade no processo de aprendizagem, Estas interações (aluno-professor-alunos) conferem um pleno sentido à co-responsabilidade no processo de aprendizagem. (MASETTO, 2000, p. 141) Deste modo, também neste ambiente de aprendizagem, houve uma certa necessidade freqüente de uma das professoras, que acompanhava mais sistematicamente a realização das tarefas, de intervir, via mensagem, e muitas vezes presencialmente, para que os alunos participassem dos foruns no decorrer da semana. Inicialmente, a pouca participação era justificada pelos alunos como timidez em expor suas opiniões no ambiente virtual, e o controle constante das professoras acarretou participações mais dirigidas a atender às solicitações do que a discutir com os colegas as questões propostas. Uma das experiências de interação aluno-aluno foi observada nos chats em que era escolhido, previamente, um mediador. Nestes momentos, o comportamento dos alunos em pesquisar, buscar informações e participar das atividades foi evidenciado, pois o grupo participante auxiliava nas discussões como apoio ao aluno mediador e este, por sua vez, se preparava previamente para dirigir a discussão, apresentando questões 9 pertinentes e elaborando sínteses do texto estudado. Pode-se dizer que o objetivo de construir um ambiente colaborativo, no qual os alunos aprendessem mediante interações com o coletivo, foi atingido em alguns momentos do curso e, neste sentido, talvez fosse mais adequado falar de “experiências colaborativas” entre os alunos. Mas a continuidade da discussão sobre o papel do professor em ambientes virtuais, que está longe de se esgotar nestas reflexões, ainda é fundamental para se alcançar experiências formativas que promovam maior autonomia do aluno. REFERÊNCIAS CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. 6ª. ed. BEHRENS, M. A.. Projetos de Aprendizagem Colaborativa num Paradigma Emergente. In: MASETTO, M.; MORAN, J.M.; BEHRENS, M.A.. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000. GILBERTO, I. J.L. Educando para o imprevisível: as tecnologias no mundo. In: Revista Inter-Ação. Revista da Faculdade de Educação, UFG, v. 34, n.1, jan/jul./2009. KENSKI, V.M. Educação e Tecnologias – O ritmo da informação. São Paulo: Papirus, 2007. MASETTO, Marcos T. Mediação Pedagógica e o uso da Tecnologia. In: MASETTO, M.; MORAN, J.M.; BEHRENS, M.A.. Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. Campinas, São Paulo: Papirus, 2000. SANTAELLA, Lúcia. Da cultura das mídias à cibercultura: o advento do pós-humano. In: Revista FAMECOS. Porto Alegre: n. 22, dez. de 2003. http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/viewFile/3229/24 93 (aceso em maio de 2010) SILVA, Robson Santos da. Moodle para autores e tutores. São Paulo: Novatec, 2010. TELES, Lucio. Aprendizagem por e-learning. In: LITTO, Frederic M. & FORMIGA, Manuel M. M. (orgs). Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. i Uma professora adjunta da Faculdade de Educação, uma professora assistente da Faculdade de Letras e uma professora coordenadora pedagógica do Centro Integrado de Aprendizagem em Rede (CIAR), todas da UFG. ii Dois artigos de Kenski (2000) foram lidos e discutidos. iii As siglas P1, P2 e P3 referem-se aos professores. Os alunos são representados por duas letras maiúsculas. 10