A ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM E O PROCESSO SAÚDEDOENÇA NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA THE PRESENCE OF NURSING AND THE PROCESS HEALTHDISEASE IN THE UNITY OF INTENSIVE THERAPY João Ricardo Cardoso Santos1 Josenilton dos Anjos Santos2 RESUMO O processo saúde-doença acompanha o sistema de assistência de enfermagem e a compreensão sobre os aspectos biopsicossociais do ser humano em sua gênese. O objetivo do estudo foi analisar a assistência de enfermagem no âmbito saúde-doença na UTI. Dentre os específicos foram: investigar os entendimentos empregados no cuidado de Enfermagem na UTI; averiguar as interações entre a equipe de enfermagem e o paciente no processo da saúde- doença no ambiente da UTI. A pesquisa tem cunho bibliográfico, com uma abordagem qualitativa de cunho descritivo sobre as publicações entre 2002 a 2012 sobre a assistência de enfermagem e o processo saúde-doença dentro da UTI. Percebe-se que o processo saúdedoenças e a humanização nos setores ainda não estão plenamente estabelecidos. Conjecturando que protocolos e capacitação da equipe ainda são insuficientes, bem como instrumentos que mensurem com fidegnidade o cuidado de enfermagem numa concepção biopsicossocial que ultrapasse o modelo biomédico baseado apenas na patologia.A criação de estratégias baseadas no indivíduo de forma plena deve ser a principal meta da enfermagem, desenvolvendo uma interação positiva entre o paciente e o profissional de enfermagem, desvinculando os cuidados ao paciente do modelo biomédico Palavras-Chaves: Processo Saúde-Doença; Assistência de Enfermagem; UTI. ABSTRACT The process greets disease it accompanies the system of presence of nursing and the understanding on the aspects biological, psychological and social by the human being in his origin. The objective of the study analysed the presence of nursing in the extent greet disease in the UIT. Among the specific ones they were: to investigate the to understandemployed in the care of Nursing in the UIT; to check the interactions between the team of nursing and the patient in the process of the health - disease in the environment of the unity of intensive therapy. The inquiry has bibliographical hallmark, with a qualitative approach of descriptive hallmark on the publications between 2002 to 2012 on the presence of nursing and the process greet disease inside the UIT. It is realized that the process should greet diseases and the humanization in the sectors they are still not fully established. Conjecturing which protocols and formationof the team they are still insufficient, as well as instruments that measure with loyaltythe care of nursing in a conception biological, psychological and social what exceeds the model biomedicbased only on the pathology. The creation of strategies based on the individual * Trabalho para Conclusão do Mestrado Profissional em Terapia Intensiva. 1 Enfermeiro do Hospital Obstétrico-Pediátrico Manoel Novaes Itabuna/BA, Mestrando em Terapia Intensiva pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva. 2 Coorientador, Educador Físico, Enfermeiro, Bolsista CAPES de Iniciação a Docência, Especialista em Saúde Pública. of full form must be the principal mark of the nursing, developing a positive interaction between the patient and the professional of nursing, divesting the cares to a patient of a model biomedic. Words-keys: Process Greets Disease; Presence of Nursing; UIT. INTRODUÇÃO Na perspectiva da assistência humanizada no que diz respeito à concepção de saúde e doença, reflete-se a necessidade de dialogar sobre os atuais modelos de assistência de enfermagem dentro das unidades de terapia intensiva vigentes em instituições hospitalares de cunho adulto, pediátrico, neonatal e geriátrico. A compreensão da enfermagem como pilar essencial da recuperação do paciente engloba os aspectos psicossociais que estão intrinsecamente ligados a atuação da equipe de enfermagem no reconhecimento do processo saúde e doença, juntamente com todas as implicações fisiológicas e comportamentais. Atrelado ao papel do cuidar existe diversos fenômenos sociais e culturais que influenciam na condução durante o tratamento do paciente, o qual permite uma variação da percepção da família e da equipe de enfermagem sobre o acometimento da doença e a recuperação do paciente. Nesse escopo, as discussões sobre a saúde deve conter como ponto principal a noção de bem estar e qualidade de vida, permitindo ao paciente usufruir do seu direito social. Deve-se perceber o serviço de enfermagem na unidade de terapia intensiva como uma nova dimensão, sendo os cuidados prestados para atender as necessidades do individuonas esferas técnica, cientifica e social. A questão norteadora da pesquisa foi saber como acontece à assistência de enfermagem e sua relação com o processo saúde-doença na Unidade de Terapia Intensiva. O objetivo geral consistiu em analisar a assistência de enfermagem no âmbito saúde-doença na UTI. Dentre os específicos foram: investigar os entendimentosempregados no cuidado de Enfermagem na UTI; averiguar as interações entre a equipe de enfermagem e o paciente no processo da saúdedoença no ambiente da UTI; O tema relaciona-se com os paradigmas encontrados e na atuação da equipe de enfermagem sobre a concepção do processo saúde-doença empacientes na Unidade de Terapia Intensiva, por meio das publicações presentes na área da enfermagem e saúde. A UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA O serviço oferecido pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é considerado de alta complexidade por permitir chance de sobrevida aos pacientes em estado grave devido a traumas ou outras patologias. A incorporação de tecnologia advinda da informática tem permitido o desenvolvimento e a modernização de vários equipamentos de monitorização dos diversos sistemas fisiológicos do organismo humano, desde ventiladores mecânicos com a incorporação de vários modos de assistência respiratória completa ou parcial, até bombas de infusão com o controle mais exato da dosagem dos medicamentos e de seus diluentes (PEREIRA JÚNIOR, 1999, p. 419). Com os avanços tecnológicos no âmbito da saúde, a unidade de terapia intensiva desenvolveu maior suporte a vida para paciente críticos com as mais diversas patologias, além de contar com o desenvolvimento dos cuidados intensivos. [...] com a criação de equipamentos mais sofisticados, passou-se a cuidar também de pacientes portadores de insuficiência respiratória, insuficiência renal aguda, hemorragia digestiva alta, em estado de coma, estado de choque, e diversas outras situações igualmente graves (OLIVEIRA, 2002, p. 01). De acordo com Pupulim e Sawada (2002) o enfermeiro é o profissional em constante contato com o doente durante a hospitalização, é imprescindível circunstanciar sobre a conduta da enfermagem no sentido de resguardar os direitos do paciente, caracterizando a função de proteção como um gesto humanitário e de respeito. A humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI (VILA;ROSSI, 2002, p. 138). A condução do cuidado pelo enfermeiro deve abranger a complexidade do ser humano em sua magnitude, contornando como o mesmo enfrenta sua situação e o modo como a família interage com os cuidados intensivos. O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA A reflexão sobre saúde e a doença é uma temática histórica que tange os questionamentos humanos durante o longo do seu desenvolvimento. Podese inferir que os modelos que buscam explicar o processo saúde e doença é reformulado para melhorar as estratégias de promoção, prevenção e tratamento do ser humano. A doença, no entanto, sempre esteve presente no desenvolvimento da humanidade. Estudos de paleoepidemiologia relatam a ocorrência, há mais de três mil anos, de diversas doenças que até hoje afligem a humanidade. Esquistossomose, varíola, tuberculose foram encontradas em múmias, restos de esqueletos e retratadas em pinturas tanto no Egito como entre os índios pré-colombianos. Também podem ser encontrados relatos de epidemias na Ilíada e no Velho Testamento (BATISTELA, 2007, p.45). Com o aumento da população diversas doenças começaram a afligir as pessoas provocando as epidemias, as quais por falta de tratamento acabaram culminando com a morte de diversos indivíduos. O desenvolvimento técnico das últimas décadas possibilitou suporte a órgãos humanos e funções vitais. Na UTI, precisamente, aliadas à luta pela “imortalidade”, estão às possibilidades de progresso do conjunto da ciência e da técnica, que não se dissociam das possibilidades de “mutação” do homem em todos os seus níveis de vida: biológico, físico, psíquico, social, político, etc. (OLIVEIRA, 2002, p. 31) Considera-se o processo saúde-doença como um componente multifatorial, o qual tem como determinantes o estado de saúde de uma pessoa em sua complexidade de fatores biopsicossociais. [...] o processo saúde-doença tem caráter histórico em si mesmo e não apenas porque está socialmente determinado, permite-nos afirmar que o vínculo entre o processo social e o processo biológico saúde-doença é dado por processos particulares, que são ao mesmo tempo sociais e biológicos (LAURELL, 1982, p.15). O papel da equipe de enfermagem compreende a superação da dicotomia biomédica em relação à doença e saúde, visando o cuidado integral das necessidades básicas do individuo. [...]o objeto do processo de trabalho da enfermagem é o ser humano enfermo que busca a tarefa profissional, isto é, a execução do cuidado terapêutico pela equipe de enfermagem, a qual conta com ferramentas ou instrumental de trabalho que consistem em meios que visam o alcance da satisfação das necessidades humanas (AMESTOY;SCHWARTZ;THOFEHRN, 2006, p. 445) Silva, Silva e Christoffel (2009) coloca que a atuação da enfermagem frente à saúde e a doença é relevante, pois nos põe em contato com as representações que temos sobre esses fenômenos. Já que trata-se de uma construção multifacetada também baseada no sistema pessoal e familiar de valores, da nossa cultura e sociedade, da própria história de vida, bem com das trocas e experiências adquiridas nas relações diárias que estabelecemos com o mundo e com as pessoas. METODOLOGIA O desenvolvimento desta pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa definida por Oliveira (2001, p. 41) como capaz de apresentar contribuições no processo de mudanças, criação ou formatação de opiniões de determinado grupo e permitir, em maior grau de profundidade a interpretação das particularidades dos comportamentos ou atitudes dos indivíduos. Sendo de cunho exploratório, esta pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses (GIL, 2007). A pesquisa foi realizada por via eletrônica, utilizou como fontes as teses, dissertações, e artigos científicos nacionais, que abordassem a temática do problema de pesquisa, publicados no período compreendido entre 2002 a 2012. As fontes foram selecionadas por meio de uma busca eletrônica nas seguintes bases de dados: Scielo, Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Lilacs. Ao buscar os artigos relacionados com o tema, optou-se pela definição de limites de busca utilizando as seguintes palavras chaves: saúde doença, assistência de enfermagem na UTI, enfermagem e o processo saúde-doença, humanização na UTI. RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo analisou 30 publicações com base nos descritores, base de dados consultada e distribuição cronológica, sendo selecionados 11 artigos para confecção da tabela correlacionando segundo: autor, metodologia, objetivos e resultados. AUTORES TIPO DE ESTUDO/METODO OBJETIVOS RESULTADOS COSTA;FIGUEIREDO;SCHAU RI (2009) Trata-se de estudo descritivo de abordagem qualitativa, com 18 participantes. A coleta dos dados ocorreu por meio de entrevistaestruturad a Compreender como os profissionais da enfermagem (enfermeiros e técnicos) percebem a política de humanização no cenário de uma UTI e sua importância nesse processo. OLIVEIRA;MARUYAMA (2009) Estudo qualitativo embasado na abordagem compreensiva, por meio de técnica compreender como o princípio da integralidade é percebido na Entende-se, como fundamental, que o enfermeiro reconheça como é importante no processo de humanização por parte da equipe de enfermagem, uma vez que são estes profissionais que desenvolvem os cuidados diretos, bem como são eles que acompanham os usuários durante tempo integral. Assim, é importante que eles se sintam comprometidos, pois, provavelmente, o cenário da UTI seja o mais complexo para se fazer-valer a política de humanização devido à supremacia do modelo biomédico hierarquizante, da fragmentação do ser humano e dos processos de cuidado e da lógica técnico-burocrática existente. As relações saberpoder, embasadas na hegemonia da ciência médica da observação participante das práticas profissionais na UTI assistência aos usuários de uma UTI pública SILVA;SILVA; CHRISTOFFEL (2009) Fundamentação Teórica Refletir acerca da tecnologia e da humanização do cuidado ao recém-nascido, tendo como preceito teórico o processo saúde-doença. ALCANTARA ET AL (2008) Fundamentação teórica Refletir sobre o processo saúde-doença e suas concepções na unidade de terapia intensiva PINHO;SANTOS (2008) desvelar contradições no cuidado humanizado do enfermeiro na UTI. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de orientação dialética, realizada com sete enfermeiros, quatro familiares. As estratégias de constituem uma normalidade entre os profissionais de saúde e suas práticas neste espaço, uma vez que estas revelam mecanismos de dominação e de disputas entre esses atores, levando a relações assimétricas que perpassam, inclusive, as relações com os usuários. Reconhecer as dimensões singulares na forma em que cada pessoa vivencia a saúde e a doença é uma ação potencialmente transformadora para repensar a prática. É neste contexto que a enfermagem desempenha importante papel na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias criativas voltadas para as relações humanas e a saúde, de forma integrada. Neste momento de realização do cuidado, introduzir os elementos, tais como sensibilidade, respeito e emoção, possibilita romper com modelos mecanicistas/tarefist as e processos reducionistas que ainda caracterizam este cenário. Ao que parece, o saber cuidar tem dado vazão ao estreitamento dos vínculos interpessoais para minimizar as condições de sofrimento físico/mental, ao mesmo tempo em PINHO;SANTOS (2007) Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de orientação dialética. Sendo entrevistados 7 enfermeiros e 5 familiares. CAETANO ET AL (2007) Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado na Unidade de Terapia Intensiva de uma instituição filantrópica de Sobral - CE. Os sujeitos deste estudo foram dezessete profissionais de saúde que trabalhavam na UTI durante o segundo semestre de 2004, assim especificados: oito médicos, seis enfermeiras, três fisioterapeutas SALICIO;GAIVA (2006) Trata-se de um estudo descritivo numa perspectiva qualitativa, sendo entrevistados um grupo de oito (8) coleta de dados utilizadas para este estudo foram a observação participativa e as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos sujeitos Conhecer a lógica da produção de saúde na UTI, com base no discurso defendido pelo enfermeiro e na prática profissional que efetivamente é reconhecida pelos familiares acompanhante s. conhecer o significado da assistência humanizada prestada a pacientes em tratamento intensivo sob a ótica de dezessete profissionais de saúde que trabalhavam na Unidade de Terapia Intensiva de um hospital filantrópico situado na região metropolitana da cidade de Sobral - CE, Brasil. compreender o significado da humanização da assistência para um grupo de oito (8) enfermeiros que o fazer cuidar os distancia, por meio das estratégias implementadas pelos enfermeiros dentro de uma lógica de produção de saúde parcelar e rotinizada na UTI. As práticas multiprofissionalizad as são apontadas como sendo uma estratégia privilegiada de aprimoramento do cuidado e de qualidade do atendimento. Urge buscar alternativas para melhorar a assistência ao cliente, fundamentada não apenas na técnica, mas também em valores pessoais, apreendendo ainda a compreensão do verdadeiro significado e abrangência do cuidado humano. É necessário direcionar a assistência ao conforto físico associado à prestação de cuidados que visam amenizar a dor e o sofrimento. No discurso dos entrevistados aparece claro o que é humanização, e por outro lado, a realidade do cotidiano das UTIs enfermeiros que atuam em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade de CuiabáMT. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas que atuam em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade de Cuiabá-MT. NASCIMENTO;TRENTINI (2004) Fundamentação teórica Oferecer subsídios que proporcionem reflexões sobre a possibilidade de as práticas de saúde, nas Unidades de Terapia Intensiva PAULI; BOUSSO (2003) conhecer as crenças das enfermeiras, em relação à assistência humanizada na Unidade de Terapia Intensiva pediátrica A coleta de dados foi realizada com entrevistas abertas com cinco enfermeiras, depois gravadas e transcritas em sua íntegra. O conteúdo foi analisado, está longe de oferecer uma assistência humanizada, tendo entre os principais elementos dificultadores a ausência de um filosofia assistencial nas instituições e falta de comprometimento da equipe de saúde . A Enfermagem em UTI estará alicerçada pelo paradigma da simultaneidade se não seguir planos de cuidados preestabelecidos, baseados somente em problemas gerais, comuns. Os planos deverão, sim, ser individuais, mutuamente estabelecidos, para que possam ajudar o ser cuidado a desvelar o significado da experiência e melhorar sua qualidade de vida para o alcance do bem-estar e estar melhor. Será considerado um modo dialogal de ser, em uma situação intersubjetiva, se tanto o ser cuidador quanto o ser cuidado forem percebidos entre si como seres singulares. as crenças da enfermeira em relação à humanização da assistência na UTI modificam-se durante sua experiência profissional, na medida em que convivem com o familiar. Destacamos, aqui, tendo, como referencial teórico, o interacionismo simbólico e, como referencial metodológico, a Teoria Fundamentada em Dados. VILA; ROSSI (2002) Estudo etnográfico, com 12 informantes, sendo que, destes, seis eram enfermeiros e seis, auxiliares e técnicos de enfermagem. Quadro 1 – Dados da Pesquisa, 2012 compreender o significado cultural do cuidado humanizado, na perspectiva da equipe de enfermagem que atua na Unidade de Terapia Intensiva crenças relacionadas ao ambiente da UTIp, ao paciente terminal e à permanência da família dentro da UTIp. Essas crenças exercem influência no relacionamento com a família e na forma de proporcionar a humanização da assistência. A organização do trabalho baseada na execução da tarefa e o distanciamento entre equipe, pacientes e familiares, justificados como mecanismo de defesa, em função do estresse pela sobrecarga de trabalho, são referidos pelos informantes como o real, o vivido na UTI. Os informantes referem que o cuidar é tecnicista e mecânico, desprovid o de sentimento. Executar a técnica, limpar, manter a ordem na unidade são procedimentos que estão fortemente enraizados nesse cenário cultural, esquecendo-se, muitas vezes, dos sentimentos do paciente, família e até mesmo de seus próprios sentimentos, enquanto profissionais que, diariamente, lidam com o estresse. O processo saúde-doença no ambiente da UTI é tido como fonte incessante de estudos para viabilizar a melhora nas metodologias empregadas visando o processo de humanização e a percepção do paciente como um ser humano holístico. Nos estudos de Oliveira e Maruyama (2009), Costa;Figueiredo e Schauri (2009) demonstram que o modelo biomédico permanece hegemônico no que diz respeito as estratégias do cuidado prestado dentro da UTI, tornando o cuidado fragmentado e baseado apenas na doença. O olhar fragmentado do ser humano dentro da UTI é uma condição predominante, refletindo o foco do tratamento e dos cuidados de enfermagem apenas para doença do indivíduo, esquecendo muitas vezes do ser biopsicossocial existente dentro do ambiente de cuidados intensivos. Pinho e Santos (2007) apontam que as práticas multiprofissionalizadas são uma estratégia privilegiada de aprimoramento do cuidado e de qualidade do atendimento. Percebe-se que a concepção do dialogo entre as diversas áreas que atuam na UTI é essencial para formulação do cuidado com base nas necessidades básicas do ser humano, permitindo a valorização da ótica da saúde como bem estar do indivíduo. Alcântara et al (2009) compreende que elementos como sensibilidade, respeito e emoção, possibilita romper com modelos mecanicistas/tarefistas e processos reducionistas que ainda caracterizam este cenário. A superação do processo reducionista deve ser encarada como principal meta para que a UTI possa oferecer um serviço baseado em princípios humanistas e romper a dicotomia saúde/doença. Vila e Rossi (2002) acrescenta que a organização do trabalho baseada na execução da tarefa e o distanciamento entre equipe, pacientes e familiares, justificados como mecanismo de defesa, em função do estresse pela sobrecarga de trabalho, são referidos pelos informantes como o real, o vivido na UTI. Nascimento e Trentini (2004) que os planos deverão ser individuais, mutuamente estabelecidos, para que possam ajudar o ser cuidado a desvelar o significado da experiência e melhorar sua qualidade de vida para o alcance do bem-estar e estar melhor. Será considerado um modo dialogal de ser, em uma situação intersubjetiva, se tanto o ser cuidador quanto o ser cuidado forem percebidos entre si como seres singulares. Paulli e Bousso (2003) colocam que as crenças da enfermeira em relação à humanização da assistência na UTI modificam-se durante sua experiência profissional, na medida em que convivem com o familiar. Acrescenta-se as crenças, o processo de construção da assistência de enfermagem dentro da UTI baseado no modelo hegemônico médico que acaba imobilizando o processo de humanização, na qual com o decorrer do tempo poderá conseguir inserir a visão da humanização dentro do ambiente de cuidados intensivos, bem como perder o foco para desenvolver o processo de humanização dentro da UTI. Pinho e Santos (2008) diz que o saber cuidar tem dado vazão ao estreitamento dos vínculos interpessoais para minimizar as condições de sofrimento físico/mental, ao mesmo tempo em que o fazer cuidar os distancia, por meio das estratégias implementadas pelos enfermeiros dentro de uma lógica de produção de saúde parcelar e rotinizada na UTI. Assistência de enfermagem é baseada na produção e das funções rotineiras da UTI, as quais interferem diretamente no refletir sobre a saúde do individuo e o processo da doença impedindo que o profissional compreenda que por trás do processo patológico está um ser humano. Caetano et al (2009) e Silva, Silva e Christoffel (2009) comentam que devem-se buscar alternativas para melhorar a assistência ao cliente, fundamentada não apenas na técnica, mas também em valores pessoais, apreendendo ainda a compreensão do verdadeiro significado e abrangência do cuidado humano. Pensar na assistência de enfermagem na UTI equivale a sobrepujar os estigmas e compreender que a dinâmica do processo saúde-doença equivale a prestar um cuidado que reestabeleça também os aspectos psicológicos e sociais do paciente. No estudo de Salicio e Gaiva (2009) o discurso dos entrevistados aparece claro o que é humanização, e por outro lado, a realidade do cotidiano das UTIs está longe de oferecer uma assistência humanizada, tendo entre os principais elementos dificultadores a ausência de um filosofia assistencial nas instituições e falta de comprometimento da equipe de saúde. Assim, percebemos que o processo saúde-doenças e a humanização nos setores ainda não estão plenamente estabelecidos. Conjecturando que protocolos e capacitação da equipe ainda são insuficientes, bem como instrumentos que mensurem com fidegnidade o cuidado de enfermagem numa concepção biopsicossocial que ultrapasse o modelo biomédico baseado apenas na patologia. CONSIDERAÇÕES FINAIS O cuidado de enfermagem ainda está envolto na mecanização proposta pelo modelo hegemônico biomédico ainda vigente dentro das unidades de terapia intensiva, corroborando para uma assistência baseada na rotina e nos cuidados centrados na doença. A criação de estratégias baseadas no indivíduo de forma plena deve ser a principal meta da enfermagem, desenvolvendo uma interação positiva entre o paciente e o profissional de enfermagem, desvinculando os cuidados ao paciente do modelo biomédico. A instituição hospitalar também deve incitar a constante reflexão os valores implícitos na assistência integral do paciente, organizando e observando a aplicabilidade dos cuidados voltados para a valorização do ser humano em sua essência. São poucos os estudos encontrados sobre a assistência de enfermagem e o processo saúde-doença na unidade de terapia intensiva. Em virtude disso, é necessário que sejam feitas novas investigações a respeito das estratégias e do processo saúde-doença e os cuidados intensivos ao paciente crítico. REFERENCIAS 1. ALCANTARA, L.M. et al. Rompendo Paradigmas: o cuidado de enfermagem na UTI e sua elação com o processo saúde-doença. Rev. Edu. Meio Amb. e Saúde; 3(1):41-50, 2008. 2. 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