CRISE ECONÔMICA, SOCIAL E ECOLÓGICA: BRASIL Jorge Luiz Lima da Silva 1 RAÍZES E MUDANÇAS Injustiça social ligada aos privilégios hereditários e uma base rural marcam historicamente nosso país. Quando se fala em mudanças em relação à mentalidade sobre meio ambiente remete-se às formas de apropriação social e exploração econômica da natureza de forma a relacionar o passado com o presente. Atual geração é onerada quanto às perdas socioculturais e ambientais empregadas pelos portugueses. Tal fator é importante, pois quando se destrói o ambiente destoem-se também as diversas formas de se interagir com ele. Profundas mudanças no âmbito político, social e econômico são necessárias, pois as condições ecológicas não podem ser reduzidas a problemas ambientais e demográficos ficando fora do foco teórico e político os custos ecológicos e sociais que o meio ambiente e, conseqüentemente, nós mesmos “pagamos” devido a nossa geração ter se apoderado dos recursos naturais de forma tão possessiva e destruidora visando o lucro. Há necessidade de se criar uma ética ecológica com solidariedade sincrônica e diacrônica com as gerações e a participação popular ativa. Sejam moradores de regiões ribeirinhas, seringueiros, indígenas ou qualquer outro grupo social que tentem subsistir do uso sustentável dos elementos bióticos e abióticos naturais, conforme afirma a agenda 21. São necessárias mudanças em nosso padrão de consumo de energia, transporte e eliminação dos resíduos a fim de reduzir a pressão sobre nossos recursos, isso através de tecnologia limpa e de acesso comum. 2 O OLHAR MULTIDISCIPLINAR Para que um planejamento de tamanha grandiosidade e mudança de mentalidade se dê, será preciso uma atuação dos aspectos políticos, econômicos, legais e sociais visando integrar os excluídos, redistribuição de renda e adoção de tecnologia adequada para o desenvolvimento sustentável, respeitando à legislação ambiental e uma profunda atuação da educação interdisciplinar neste sentido, favorecendo o ecologismo e economia ecológica. O primeiro visa modificar as condutas políticas de acordo com o que o meio ambiente suporta, o segundo visa uma economia dos bens da natureza de forma que esta dê para se recuperar enquanto se planeja explorar mais. Mas não se esquece a idéia de exploração econômica dos recursos. A mudança é interdisciplinar (econômico-social-político-cultural e humano) e um aspecto muito relevante é a cultura, pois é a mediadora entre a sociedade e a natureza, um conjunto de valores ligados a exigências éticas que ditam o estilo de vida conforme afirma Sachs (2000). Este último sofre influência direta da globalização que, desde o fim da guerra fria, impõe uma única cultura, única organização política e econômica (neoliberalismo). Tal fator assentou-se eficazmente no Brasil, pois nesta terra de raízes agrárias sempre houve uma idéia de se crescer de “fora pra dentro”; já que os grandes fazendeiros só vinham as cidades para festividades embasando-se nas palavras de Holanda (1984). Assim como, houve no início da república uma tentativa de libertação dos laços com colonizadores os quais contribuíram para a nosso individualismo e passividade diante do mal que cresce em relação à agricultura mecanizada ― em um país de desempregados ― com direito a erosão genética e consumo desenfreado dos recursos renováveis e não renováveis, à ignorância frente ao conhecimento popular de quem lida com a natureza (saber ambiental tradicional), à destruição da biodiversidade...tudo para atender a um mercado que subvalora os bens naturais causam externalidades negativas, destrói nossa diversidades culturais e causa o caos social e demográfico. 3 A INFLUÊNCIA DA GLOBALIZAÇÃO A impressão de temos com a nossa moeda valendo menos da metade que a moeda utilizada mundialmente (dólar) é de que os recursos naturais exportados, assim como nossa mão-de-obra assalariada não valem quase nada. Os bens naturais são oferecidos a um preço baixo, contaminamos nosso ambiente e ainda oneramos as gerações futuras, pois não pensamos no futuro, a não ser aquele futuro próximo. A própria mídia e a moda ditam padrões de consumo cada vez mais influenciados pela globalização e quem paga é a natureza. As soluções para um pais rural estaria em voltar em suas raízes, favorecer o pequeno agronegócio e com isso desinchar os grandes centros, pois um pais com proporções continentais não pode viver nos grandes centros sem planejamento urbano. Não são seguidos os princípios da entropia, no que diz respeito aos recursos, nem o de que a diversidade traz o equilíbrio, fruto do consumo exossomático sem determinação genética conforme diz Alier (1998). A economia está dentro da sociedade e a política atende aos interesses econômicos, tudo isto compõe um ecossistema, mas ninguém percebe, ou não dá atenção. A biodiversidade seleção natural e os princípios da evolução são esquecidos. 4 POSSÍVEL DISCUSSÃO DIALÓGICA PARTICIPATIVA A humanidade não se sente e percebe como seres vivos inseridos no ambiente e julga-se superior a todos os outros. Daí a importância de uma mudança de paradigma sobre a visão do mundo natural-social, uma reapropriação subjetiva da realidade ecológica. Muito difícil em um país acomodado e desleixado com poucas ações planejadas devido à inércia do povo diante da política, da cidadania dos direitos humanos. É necessário planejar um crescimento social razoável, econômico eficiente e ecológico prudente, afirma Sachs (2000). O problema é interdisciplinar e tenta vencer a distância entre as ciências naturais e sociais, pois o ideal seria uma transdiciplinaridade (um circuito dialógico entre tempos e saberes) para entender nossos problemas sócio-ambientais. Da mesma forma afirma-se que o desenvolvimento sustentável deve almejar a um emancipável. Os processos sociais estão sujeitos a múltiplas variações no tempo espaço e culturas, daí a necessidade dos vínculos socioculturais ambientais e demográfico. No Brasil, há um desafio muito grande em relação a estes processos, pois é historicamente marcado por massacre de cultura indígenas, devastação de florestas, esgotamento do solo, usurpação de riquezas naturais, hábitos perdulários e política voltada para privilegiar os mais ricos. Com isso chega-se ao patamar dos projetos-ação, tecnologia e pesquisas bem como parcerias voltadas para o desenvolvimento sustentável. Mas de forma participativa integrando o saber popular e com os múltiplos olhares de diversos profissionais, pois daí surgem idéias e soluções. REFERÊNCIAS ALIER, J.M. Da Economia Ecológica ao Ecologismo Popular. Blumenau: EDIFURB, 1998. HOLLANDA, S. B.Raízes do Brasil. 17 ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1984. RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza. 3ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1993. SACHS, I. Sociedade, cultura e meio ambiente.Mundo e Vida, 2000. v 2, n 1. p.7-13. UNCED – Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Agenda 21. 2 ed. Brasília: Senado Federal, 1997.