Risco e Retorno dos Investimentos Paulo Pereira Ferreira – Miba 507 Agenda • • • • • Risco e Retorno Esperados Linha Característica Linha do Mercado de Títulos Linha de Combinação Realidade Brasileira Risco e Retorno Esperados • Risco de um ativo – Risco sistemático ou não diversificável: inerente a todos os ativos do mercado, não pode ser reduzido pela diversificação da carteira. • Ex: Inflação, taxa de juros, PIB – Risco não-sistemático ou diversificável: identificado nas características do próprio ativo, não se alastrando aos demais ativos da carteira. Pode ser total ou parcialmente diluído pela diversificação da carteira. A correlação entre os riscos nãosistemáticos de dois ativos é zero. • Ex: descoberta de petróleo, aumento do preço do aço – Risco total = Risco sistemático + Risco não-sistemático Risco e Retorno Esperados • Risco de um ativo – Exemplo: Seja uma carteira com n ativos com mesma variância (VAR) e mesma Covariância (COV) e com o mesmo peso (1/n). – É fácil provar (anexo 1) que a variância total da carteira é igual a: (1/n)VAR + (1-1/n)COV. • Logo, quando n tende para infinito, a variância da carteira tende para COV. Ou seja, mesmo com uma diversificação total, existe o risco da carteira, chamado de risco sistemático. – Risco total (VAR) = Risco sistemático (COV) + Risco não-sistemático ou diversificável (VAR – COV). Risco e Retorno Esperados • Risco de um ativo – Se os retornos forem independentes e COV = 0, então, se tivermos a diversificação integral, ou seja, com infinitos ativos, o risco total será zero. – O que ocorre na prática é que os retornos dos títulos tendem a ser correlacionados pois são influenciados pelos mesmos riscos sistemáticos. – O problema da diversificação é o custo que ela gera com corretagem, o qual é inversamente proporcional ao valor da aplicação. Risco e Retorno Esperados • Risco de uma carteira – Dado o retorno esperado de cada ativo i (i=1,...,n) de uma carteira, o retorno esperado de toda a carteira depende da proporção investida em cada ativo (Wi) que a compõe e é calculado por: Risco e Retorno Esperados • Risco de uma carteira – A expressão geral de cálculo do risco de uma carteira contendo n ativos, com base no modelo de Markowitz, é: 2 2 σ c = ∑ Wi × σ i + 2 × ∑ Wi × W j × Cov (i, j ) i ≠ j =1 i =1 n n σ c = ∑∑ Wi × W j × ρ (i, j ) × σ i × σ j i =1 j =1 n n 1 2 1 2 Linha Característica • Carteira de mercado É a carteira que contém todo e qualquer ativo de risco do sistema econômico internacional, na proporção do seu valor de mercado em relação ao valor total dos outros ativos. Linha Característica • Suponha que estejamos interessados em analisar uma ação J e a carteira de mercado. Os retornos obtidos nos últimos 5 meses foram: Mês 1 2 3 4 5 Ação J 2% 3% 6% -4% 8% Carteira de mercado 4% -2% 8% -4% 4% Linha Característica • A reta de mínimos quadrados que relaciona os retornos de uma ação com a carteira de mercado é conhecida como linha característica. • Esta linha descreve o retorno que você espera de uma particular ação dado um retorno para a carteira de mercado. Linha Característica Linha Característica • Fator Beta – A inclinação da linha característica é conhecida como o fator beta (β) daquela ação. – Se A representa o intercepto, rJ os retornos da ação J e rM os retornos da ação de mercado, temos: Cov ( rJ , rM ) ˆ βJ = 2 σr M ˆ = r J − βˆ × r M A J J Linha Característica • Fator Beta – No caso do exemplo anterior, temos: βˆ J = 0,0017 = 0,708 0,0024 Aˆ J = 0,03 − 0,708 × 0,02 = 0,0158 – O fator beta de uma ação representa um indicador do nível com o qual a ação responde a mudanças no retorno produzido pelo mercado. É um indicador do risco da ação em relação ao risco do mercado, ou seja, é uma medida do risco sistemático da ação. Linha Característica • Fator Beta – A função básica do beta é ser um indicador de riscos. Ele pode ser classificado como agressivo (maior que 1); neutro (igual a 1) e defensivo (menor que 1). Dessa forma, o investidor pode ter uma noção de qual será a tendência de comportamento do investimento. Linha Característica • Fator Beta – Quando uma ação se comporta exatamente como o mercado, dizemos que ela tem beta igual a 1. Se variar mais que o mercado mas no mesmo sentido, terá beta maior que 1. Se variar menos, mantendo o mesmo sentido, o beta será menor que 1. Uma ação com beta muito maior do que 1, por exemplo, tende a subir mais que o mercado quando este está em alta. Em compensação, tende a cair mais quando há baixa na bolsa. Linha do Mercado de Títulos • Serve para verificar como o risco é remunerado no mercado. • Um ativo livre de risco possui beta igual a zero. • Seja uma carteira formada pelo ativo livre de risco, cujo taxa de retorno (taxa livre de risco) é de 8%, e pelo ativo A, que tem um retorno esperado de 20% e um beta de 1,6. Suponha ainda que 25% do capital foi investido no ativo A. Linha do Mercado de Títulos • O retorno esperado e o beta da carteira serão: E ( Rc ) = 0,25 × 0,20 + (1 − 0,25) × 0,08 = 11% β c = 0,25 × β A + (1 − 0,25) × 0 = 0,4 • Outras alocações fornecem o seguinte quadro: % do ativo A E(Rc) βc 0 8 0,0 25 11 0,4 50 14 0,8 75 17 1,2 100 20 1,6 125 23 2,0 150 26 2,4 Linha do Mercado de Títulos Retornos esperados e betas de carteiras contendo o ativo A 30 Retorno esperado da carteira 25 1,6 20 15 10 5 0 0,0 0,5 1,0 1,5 Beta da carteira 2,0 2,5 3,0 Linha do Mercado de Títulos • Note que todas as combinações situam-se sobre uma linha reta. • A inclinação dessa linha é dada por: E ( RA ) − R f βA = 0,2 − 0,08 = 7,5% 1,6 • Isso nos diz que o ativo A oferece um quociente recompensa/risco (índice de Treynor) de 7,5%. Ou seja, o ativo A tem um prêmio por risco de 7,5% por unidade de risco sistemático. Linha do Mercado de Títulos • Considere agora um ativo B, que possua beta igual a 1,2 e um retorno esperado de 16%. • Qual investimento escolher A ou B? • Para decidir, utilizaremos o mesmo procedimento realizado para o ativo A. Linha do Mercado de Títulos Assim, para diferentes alocações para o ativo B e o ativo livre de risco, temos: % do ativo B E(Rc) βc 0 8 0,0 25 10 0,3 50 12 0,6 75 14 0,9 100 16 1,2 125 18 1,5 150 20 1,8 Linha do Mercado de Títulos Linha do Mercado de Títulos • A linha que descreve as combinações para o ativo A é mais alta do que a linha correspondente para o ativo B. • Isto significa que, para qualquer dado nível de risco sistemático, sempre há alguma combinação entre o ativo A e o ativo livre de risco que oferece retorno mais alto. • Logo, o ativo A deve ser preferido em relação ao ativo B. Linha do Mercado de Títulos • Em um mercado eficiente, esta situação não pode perdurar por muito tempo. • Os investidores seriam atraídos para o ativo A e se afastariam de B. Em consequência, o preço de A subiria e o de B cairia. • Como os preços e as taxas de retorno variam em direções opostas, o retorno esperado de A cairia e o de B se elevaria num processo que prosseguiria até que os dois estivessem na mesma linha. – Logo: O quociente entre recompensa e risco deve ser o mesmo para todos os ativos no mercado. Assim, todos os ativos devem estar situados na mesma linha, que é conhecida como linha de mercado de títulos (SML – Security Market Line). Linha de Combinação • É a reta que relaciona o valor esperado do retorno de uma carteira para as diferentes combinações de alocação de dois ativos a seus respectivos desvios-padrão. • Logo, a linha de combinação nos diz o quanto o retorno esperado e o risco de uma carteira de dois ativos muda quando mudamos a alocação (pesos) dos ativos na carteira. Linha de Combinação – Exemplo 1 Considere uma carteira composta por 2 ativos, X e Y, e calcule o seu risco e o seu retorno, dados: Estado da natureza Probabilidade Retorno do ativo X Retorno do ativo Y Recessão 0,10 -5% 2% Médio 0,35 10% 10% Bom 0,45 25% 15% Excelente 0,10 50% 20% Linha de Combinação – Exemplo 1 • Considere diversas composições possíveis de carteiras e calcule o retorno esperado e o risco para estas diferentes composições. • Faça um gráfico com a relação risco-retorno para todo o conjunto possível de combinações (linha de combinação). • Deduza a expressão da alocação do ativo X para o ponto que representa a carteira de ativos que apresenta o menor risco possível (carteira de variância mínima). • Calcule este valor para o exemplo. Linha de Combinação – Exemplo 1 Probabilidade 0,1 0,35 0,45 0,1 Retorno Médio Risco (desvio padrão) Retorno X Retorno Y -0,05 0,1 0,25 0,5 19,25% 12,45% 14,08% 4,65% Covariância Correlação 0,006309 0,963166 Alocação em X -44,25% Risco da Carteira 0,02 0,1 0,15 0,2 1,82% %X %Y Retorno C Risco C -0,5 -0,44 0 0,1 0,2 0,3 0,4 1,5 1,44 1 0,9 0,8 0,7 0,6 9,05% 9,46% 12,45% 13,13% 13,81% 14,49% 15,17% 1,90% 1,82% 4,65% 5,56% 6,48% 7,41% 8,35% 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 -0,1 -0,2 15,85% 16,53% 17,21% 17,89% 18,57% 19,25% 19,93% 20,61% 9,30% 10,25% 11,21% 12,16% 13,12% 14,08% 15,04% 16,00% Linha de Combinações dos Ativos X e Y 20% 18% 16% 14% Retorno 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% -1% 1% 3% 5% 7% Risco 9% 11% 13% 15% Linha de Combinação – Exemplo 2 Considere uma nova carteira composta por 2 ativos, X e Y, e calcule o fator de alocação para o ativo X que minimiza o risco da carteira, dados: Estado da natureza Probabilidade Retorno do ativo X Retorno do ativo Y Recessão 0,10 45% 2% Médio 0,35 35% 10% Bom 0,45 -0,5% 15% Excelente 0,10 10% 20% Linha de Combinação – Exemplo 2 Probabilidade Retorno X Retorno Y 0,1 0,35 0,45 0,1 Retorno Médio Risco (desvio padrão) Covariância Correlação Alocação em X Risco da 0,45 0,35 -0,05 -0,1 0,02 0,1 0,15 0,2 13,50% 12,45% 21,69% 4,65% -0,009033 -0,895240 16,65% %X %Y Retorno C -0,5 0 0,1 0,1665 0,2 0,3 0,4 1,5 1 0,9 0,8335 0,8 0,7 0,6 11,93% 12,45% 12,56% 12,62% 12,66% 12,77% 12,87% 17,37% 4,65% 2,45% 1,73% 1,94% 3,87% 6,30% 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 1,1 1,2 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 -0,1 -0,2 12,98% 13,08% 13,19% 13,29% 13,40% 13,50% 13,61% 13,71% 8,82% 11,38% 13,94% 16,52% 19,10% 21,69% 24,27% 26,86% Risco C Linha de Combinação – Exemplo 2 • Veja que com a correlação negativa, não precisa ter uma participação negativa do ativo X, mesmo este tendo um risco muito maior do que Y. • O efeito da diversificação foi forte neste exemplo, principalmente pela correlação negativa entre os ativos. • A correlação negativa ajuda tanto na diversificação que é melhor ter 16,65% no ativo de maior risco para obtermos o risco mínimo. Realidade Brasileira • A queda nas taxas de juros tem levado alguns agentes a procurarem investimentos de maior risco. • Seguradoras continuam assumindo pouquíssimo risco. • No Brasil a lógica de maior risco, maior retorno não tem sido observada nos últimos 20 anos com taxas reais de juros recordistas mundiais. – Vários países com taxas reais de juros negativas. • As condições econômicas e políticas não devem favorecer investimentos de risco no curto prazo. – Governo incentiva consumo e aumenta gastos públicos em um cenário de inflação elevada e com Banco Central executando aperto monetário Taxas de juros provavelmente terão que aumentar no futuro. Realidade Brasileira • Limite de 70% para aplicação em renda variável das Fundações é mais uma aberração que só acontece no Brasil. – Os demais riscos das Fundações já são muito elevados. • O Beta das empresas brasileiras é muito elevado, o que reduz o valor em uma negociação. • A volatilidade dos ativos brasileiros é muito alta. – A gestão dos ativos casada com a gestão dos passivos tornou-se ainda mais importante nesse cenário de volatilidades. – Estudos da Susep mostram que a necessidade de Capital no risco de Mercado é enorme, podendo dobrar o Capital atual. • Nós atuários precisamos evoluir muito na análise do risco financeiro. Anexo 1 - Demonstração n n n n 1 1 VTOTAL = ∑∑ wi w j COVij = ∑∑ × × COVij n i =1 j =1 i =1 j =1 n Para i = j temos cov ij = VAR Para i ≠ j temos cov ij = COV 1 1 1 1 Logo, VTOTAL = ( n × n − n ) × × × COV + n × × × VAR n n n n 1 1 VTOTAL = (1 − ) × COV + × VAR n n Anexo 2 - Demonstração Seja σ c2 a variância total da carteira σ c2 = wA2σ A2 + (1 − wA ) 2 σ B2 + 2 wA (1 − wA )COV σ = w σ + σ − 2 wAσ + w σ + 2 wACOV − 2 w COV 2 c 2 A 2 A 2 B 2 B 2 A 2 B 2 A dσ c2 Para termos o risco mínimo, então wA é tal que: =0 dwA Anexo 2 - Demonstração Logo, 2 wAσ A2 − 2σ B2 + 2 wAσ B2 + 2COV − 4 wACOV = 0 wAσ A2 − σ B2 + wAσ B2 + COV − 2 wACOV = 0 σ B2 − COV → wA = 2 σ A + σ B2 − 2COV Se A e B forem independentes → COV = 0 σ B2 → wA = 2 σ A + σ B2