Características de clientes com úlcera venosa Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICAS E CLÍNICAS DE CLIENTES COM ÚLCERA VENOSA DE PERNA SOCIODEMOGRAFIC AND CLINICAL CHARACTERISTICS OF CUSTOMERS WITH VENOUS LEG ULCER CARACTERÍSTICAS SOCIODEMOGRÁFICOS Y CLÍNICAS DE CLIENTES CON ÚLCERA VENOSA DE PIERNA Francisca Alexandra Araújo da SilvaI Thereza Maria Magalhães MoreiraII RESUMO: Objetivou-se caracterizar usuários com úlcera venosa, atendidos no ambulatório de estomaterapia de hospital municipal, nas unidades básicas de saúde da família e durante visitas domiciliares. Estudo transversal com análise estatística. A coleta de dados ocorreu de julho a novembro de 2008, em Maracanaú (CE). Foram examinadas 87 pessoas, das quais 55(66,3%) apresentaram úlcera venosa ativa ou cicatrizada. Os resultados evidenciaram média de idade de 66,7 anos, 28(50,9%) do sexo feminino e renda entre um a três salários mínimos. Associaram-se às úlceras a insuficiência venosa - 55(100,0%), a hipertensão - 39(70,9%) e a obesidade - 16(29,1%). A associação entre insuficiência venosa e hipertensão foi frequente em 39(70,9%), e significante estatisticamente (p<0.01) para predisposição às úlceras. Acometiam a região do maléolo lateral, 21(48,8%), com duração média de 5,5 anos e 42(76,4 %) eram recidivantes. Os resultados indicam que a úlcera venosa é doença crônica da população idosa, associada com hipertensão, de difícil cicatrização e longos períodos de existência. Palavras chaves chaves: Úlcera venosa; úlcera varicosa; programa saúde da família; enfermagem. ABSTRACT ABSTRACT:: This paper aims at characterizing users with venous ulcer, assisted on home visits as well as at stomatherapy out-patient clinic of a basic family health care unit of a municipal hospital. Transversal study with statistical analysis. Data collection was made from July to November, 2008, in Maracanaú, CE, Brazil. Eighty-seven people were examined, 55 of which (66.3%) showed active or healed venous ulcer. Results showed average age of 66.7 years, 28(50,9%) female, with an income ranging from one to three minimum wages. Together with the ulcers, venous insufficiency 55(100.0%), hypertension 39(70.9%), and obesity 16(29.1%) stood out. The association of venous insufficiency and hypertension was common (70.9%) and statistically significant (p <0.01) for predisposition to ulcers. They were found on the lateral ankle 21(48,8%), with a duration of 5.5 years, and 42(76.4%) were relapses. Results indicate that venous leg ulcers are an important long-lasting hypertension-associated and hard-healing chronic disease, affecting the elderly. Keywords Keywords: Venous ulcer; varicose ulcer; family health program; nursing. RESUMEN: Se objetivó caracterizar usuarios con úlcera venosa, atendidos en el ambulatorio de hospital municipal, en unidades básicas de salud de la familia y durante visitas domiciliarias. Estudio transversal con análisis estadico. La recolección de datos acaeció de julio a noviembre de 2008, en Macanaú-CE – Brasil. Fueron examinadas 87 personas, de las cuales 55(66,3%) presentaron úlcera venosa activa o cicatrizada. Los resultados revelaron edad media de 66,7 años, 28(50,9%) de mujeres y renta entre uno y tres salarios mínimos. Se asociaron a las úlceras la insuficiencia venosa - 55(100,0%), la hipertensión 39(70,9%) y la obesidad 16(29,1%). La asociación entre insuficiencia venosa y hipertensión fue frecuente en 39 (70,9%) y estadísticamente significativa (p <0,01) para predisposición a las úlceras. Acometían la región del maléolo lateral – 21(48,8%) con duración media de 5,5 años y 42(76,4%) eran recidivantes. Los resultados indican que la úlcera venosa es enfermedad crónica de la población anciana, asociada con hipertensión, de difícil cicatrización y largos períodos de duración. Palavras clave clave: Úlcera venosa; úlcera varicosa; programa salud de la familia; enfermería. INTRODUÇÃO As úlceras de perna são lesões relatadas desde os papiros antigos e, atualmente, ainda constituem causas frequentes entre as lesões crônicas. Entre os tipos de feri- das, as de membros inferiores constituem as mais comuns1. Os Estados Unidos têm uma prevalência estimada em 500.000 a 800.000 casos, sendo, provavelmente, subesti- Doutoranda em Saúde Coletiva. Mestre em Cuidados Clínicos em Saúde. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Membro do Grupo de Pesquisa Epidemiologia, Cuidado em Cronicidades e Enfermagem. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: [email protected]. II Doutor em Enfermagem. Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará. Professor do Doutorado em Saúde Coletiva. Bolsista de Produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Líder do Grupo de Pesquisa Epidemiologia, Cuidado em Cronicidades e Enfermagem. Fortaleza, Ceará, Brasil. E-mail: [email protected]. III Artigo proveniente de dissertação de mestrado intitulada: Hipertensão arterial sistêmica em portadores de úlcera venosa de perna: investigação como subsídio ao cuidado clínico de enfermagem. I p.468 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):468-72. Recebido em: 12/08/2010 – Aprovado em: 30/03/2011 Silva FAA, Moreira TMM Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación mados devido ao envelhecimento populacional. Na Europa e Austrália, a incidência relatada varia de 0,3% a 1% da população total, enquanto que, mundialmente, gira em torno de 2,7%. Quando as pesquisas abrangem úlceras ativas e cicatrizadas, a prevalência varia de 1% a 1,3%. Porém, em estudos brasileiros e portugueses, estes índices são mais altos1-3. O tratamento é longo e difícil devido à diversidade de etiologias e de terapêuticas4. Apesar da relevância da doença, pouco se conhece sobre sua distribuição na população brasileira, ou mesmo nas diferentes regiões do país. A presente investigação científica tem o intuito de conhecer as características da clientela com úlceras venosas que residem no município de Maracanaú-CE. Este trabalhoIII é pioneiro, pois não há dados estatísticos publicados sobre úlceras venosas, na região metropolitana de Fortaleza, que revelem tais achados sobre os usuários desse sistema, frequentemente atendidos no referido município. O estudo objetivou descrever as características sociodemográficas e clínico-epidemiológicas dos usuários com úlcera venosa (UV) em Maracanaú-CE. REFERENCIAL TEÓRICO A úlcera de perna é caracterizada por perda circunscrita ou irregular do tegumento (derme ou epiderme), podendo atingir subcutâneo e tecidos subjacentes, a qual acomete as extremidades dos membros inferiores e cuja causa está, geralmente, relacionada ao sistema vascular arterial ou venoso5. Do ponto de vista diagnóstico, a úlcera venosa faz parte do diagnóstico diferencial das úlceras crônicas dos membros inferiores, assim consideradas quando não cicatrizam dentro do período de seis semanas. As demais causas de úlceras crônicas nos membros inferiores são: a insuficiência arterial, a neuropatia, o linfedema, a artrite reumatoide, os traumas, a osteomielite crônica, a anemia falciforme, as vasculites, os tumores cutâneos1,2,6,7. Em relação ao tratamento da úlcera venosa, a compressão é a terapêutica de escolha8. Estudos atuais revelam o uso de outras terapêuticas como o uso da acupuntura como terapia coadjuvante para o tratamento da úlcera venosa9. Estudos observaram a eficácia do uso de novas coberturas produzidas através da biotecnologia no tratamento da úlcera venosa10. Além desses, o uso do ultrassom terapêutico tem sido aceito como alternativa para a cicatrização mais rápida dessas lesões11. Em nível sistêmico, a antibioticoterapia é a terapia escolhida pelos profissionais médicos. Porém, em uma revisão observou-se que não existem provas para apoiar o uso rotineiro de antibióticos no tratamento da UV12. Além das terapêuticas interventivas, é necessária a utilização de informações prognósticas para os profissionais de saúde utilizando base de dados administrativos para a socialização do tratamento do paciente13. Também observa-se a ocorrência de estudos sobre as escalas Recebido em: 12/08/2010 – Aprovado em: 30/03/2011 para a taxa de cicatrização em úlceras venosas, o que tem sido objeto de pesquisa de artigos internacionais, fato este que demonstra a importância da problemática14. Em pesquisa realizada com pacientes em um ambulatório de estomaterapia, a úlcera venosa de perna foi considerada a lesão mais prevalente e com maior tempo de tratamento em ambulatório de estomaterapia15. Em estudo de revisão com abordagem qualitativa foi observado que os estudos relacionados à enfermagem e à úlcera venosa observam, principalmente, as tecnologias para o tratamento, o custo do tratamento e a qualidade de vida desses pacientes16. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa descritiva, transversal, com análise estatística. Foi realizada em Maracanaú, cidade localizada na região metropolitana de Fortaleza, com população de 201.693 habitantes17. Situa-se em uma região urbana, com grande quantidade de indústrias, constitui a segunda maior receita do Ceará. Sua atenção à saúde se dá, principalmente, pela estratégia saúde da família (ESF), com cobertura de 94%, e hospital municipal. A ESF de Maracanaú é composta por 25 unidades básicas de saúde da família (UBASF), que abrangem 51 equipes de saúde da família, sendo seus usuários o universo do presente estudo. A população foi compreendida por todas as pessoas identificadas com úlcera venosa ativa ou cicatrizada pelos agentes comunitários de saúde, equipe saúde da família e enfermeiras estomaterapeutas do ambulatório de feridas do hospital municipal, de julho a novembro de 2008. A presente pesquisa foi desenvolvida de junho de 2007 a fevereiro de 2009. Os agentes comunitários de saúde e os enfermeiros da estratégia saúde da família receberam educação permanente em saúde para identificação dos usuários. Foram identificados 104 portadores de lesões de membros inferiores, sendo que somente 87 fizeram parte do estudo, o restante não foi avaliado devido aos seguintes motivos: mudança de endereço, não estava no domicílio durante a visita, não compareceu à unidade de saúde para participar da pesquisa, foi a óbito, estava internado ou não aderiu ao do estudo. Elaborou-se o calendário de visitas às unidades de saúde da família (USF), aos domicílios e ao ambulatório de estomaterapia. Nestes referidos ambientes, realizaram-se as entrevistas, as observações das trocas de curativos e as avaliações clínicas dos portadores de UV. O diagnóstico diferencial das úlceras foi estabelecido com base nos critérios clínicos: anamnese, exame físico e avaliação da úlcera realizada pela mestranda, especialista em estomaterapia. Foi aplicado formulário em 55 participantes da pesquisa identificados como portadores de úlcera venosa ativa ou cicatrizada, com as seguintes variáveis: unidade regional de saúde, dados pessoais (idade, sexo, cor), Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):468-72. • p.469 Características de clientes com úlcera venosa composição e renda familiar, doenças associadas e uso de medicamentos. Além disso, foi verificada a pressão arterial sistêmica e foi realizado o exame da úlcera de perna nos que apresentavam úlcera ativa, (tipo, localização, área, sinais e sintomas associados, tempo de existência e história de recidivas). Os dados foram agrupados pela frequência, sendo realizados testes para investigar associação estatística, para o que foi convocada a assessoria de um profissional em estatística. Foram excluídos os usuários que não apresentaram condições físicas ou cognitivas para responder ao referido instrumento de pesquisa. Os aspectos éticos foram seguidos. Todas as pessoas que participaram do estudo foram informadas quanto aos objetivos do mesmo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, com o número de protocolo 07534069/2008. RESULTADOS Foram avaliados 87 portadores de feridas crônicas de membros inferiores, sendo 55(66,3%) os portadores de úlcera venosa/insuficiência venosa crônica com úlceras ativas e/ou cicatrizadas. Estes responderam a um formulário e foram avaliados clinicamente. Os integrantes do estudo apresentaram média de idade de 66,7 anos, mediana de 68 anos, com desvio padrão de 13,14 anos, a idade variou de 37 a 92 anos. Quanto ao sexo, o masculino contou com 27(49,1%) contra 28(50,9%) do feminino. Quanto à situação conjugal, 29(52,7%) viviam com companheiros. Entre os entrevistados, 25(45,45%) faziam acompanhamento no ambulatório de estomaterapia municipal, 10(18,18%) nas unidades básicas de saúde e 20(36,36%) foram identificados durante visita domiciliar. Dos participantes, 50(90,9%) informaram a renda familiar, tendo havido predominância da faixa de um a três salários mínimos, correspondente a 38(69,1%) sujeitos. O salário mínimo vigente, à época da pesquisa, era de R$ 415,00. Em relação à história clínica do usuário, foram investigadas as doenças frequentemente associadas à úlcera venosa, como insuficiência venosa (presente em 100,0%), hipertensão arterial sistêmica - 39(70,9%), obesidade - 16(29,09%) e diabetes mellitus - 9(16,36%). A associação da insuficiência venosa crônica com hipertensão arterial sistêmica ocorreu em 39(70,9%), sendo estatisticamente significante na predisposição às úlceras venosas (p<0.01, Teste de Fisher). Quanto ao uso de medicamentos, foi constatado que 41(74,54%) dos participantes faziam uso de alguma droga, como antidiabéticos orais (geralmente glibenclamida ou metformina) e/ou anti-hipertensivos (geralmente inibidores da enzima conversora de angio- p.470 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):468-72. Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación tensina, metildopa, furosemida e hidroclorotiazida) para controle de doenças crônicas, como hipertensão arterial sistêmica e/ou diabetes mellitus, além do tratamento da úlcera venosa. A pressão arterial dos pesquisados, aferida durante a consulta inicial, apresentou média de 143,3mmHg para a sistólica e de 82,7mmHg para a diastólica. Foram avaliados os sinais e sintomas locais associados à úlcera venosa. A maioria dos pacientes, 28(80%), apresentou uma única lesão isolada e em apenas um dos membros inferiores. Em 6(17,15%) ocorreram duas úlceras; três lesões, somente em 1(2,85%) indivíduo. Se for considerada a multiplicidade de lesões, foram avaliadas 43 úlceras, entre os 55 pacientes com úlceras ativas ou cicatrizadas. Pode-se observar características dos membros inferiores de usuários com UV: presença edema em 46(83,6%), de hiperpigmentação em 43(78,2%) e varizes em 42(76,4%), predominantemente no membro inferior direito das pessoas avaliadas, conforme a Tabela 1. TABELA 1: Sinais e sintomas associados à úlcera venosa. Maracanaú- CE, 2008. Sinal/ Sintoma f M I D (*) % f M I E (**) % Edema Sim Não To t a l 46 9 55 83,6 16,4 100 38 17 55 69,1 30,9 100 Hiperpigmentação Sim Não To t a l 43 12 55 78,2 21,8 100 28 27 55 50,9 49,1 100 Va r i z e s Sim Não 42 13 76,4 23,6 28 27 50,9 49,1 To t a l 55 100 55 100 (*) Membro inferior direito (**) membro inferior esquerdo. Quanto à localização, o membro inferior foi dividido em maléolo medial, maléolo lateral e outros. Quanto à face do membro acometida pelas úlceras, foi constatado que, das 43 lesões avaliadas, 39(90,7%) localizavam-se nas pernas, sendo 21(49%) na face lateral e 18(42%) na face medial. Todas as úlceras que acometiam o pé localizavam-se em sua região dorsal. Observou-se que, em 42(76,36%) dos participantes, se tratava de recidiva da úlcera venosa, enquanto os outros conviviam com a doença ininterruptamente. Em relação ao tempo de existência da úlcera de perna, quatro pacientes não souberam responder, e, quanto ao restante, a média de tempo foi de 5,5 anos e a mediana, de 3 anos. Devido à variedade do tempo de duração das úlceras, optou-se por apresentar as informações em períodos, como mostra a Tabela 2. Recebido em: 12/08/2010 – Aprovado em: 30/03/2011 Silva FAA, Moreira TMM Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación TABELA 2: Intervalos de tempo de existência das úlceras de perna dos usuários. Maracanaú-CE, 2008. Intervalo de tempo (anos) ≤ 1 ANO 1-5 ANOS 5-10 ANOS 10-35 ANOS NSR (**) f % 13 15 16 7 4 23,64 27,27 29,1 12,72 7,27 To t a l 55 100 (*) Teste de Fisher-Freeman-Halton Média Mediana (anos) (anos) 5,5 (**) 3 P 0,429 (*) Não souberam responder. DISCUSSÃO Os participantes estudados apresentaram média de idade de 66,7 anos, com predomínio da população maior de 60 anos 37(67%). Esses resultados corroboram a média encontrada em outros estudos, nos quais 85% dos participantes tinham mais de 64 anos, com médias de 76 anos para as mulheres e 78 para os homens18. Os idosos constituem uma população comumente portadora de úlcera venosa crônica19. Após os 65 anos, a possibilidade de desenvolvimento deste tipo de lesão aumenta, sendo as idades médias incluídas numa escala de 62-79 anos20. A taxa de prevalência varia de 0.6 a 1.6 por 1000 para a população total adulta e aumenta entre 10-30/1000 na população acima de 85 anos. Além das condições naturais do envelhecimento, como o aumento de depósitos de gordura e alteração no calibre dos vasos, o perfil de pessoas acima de 60 anos tende a ser marcado pelo maior número de condições crônicas degenerativas21. A proporção entre homens e mulheres foi de 1:1, diferente dos achados de estudo que refere a predominância do sexo feminino22. Esse achado pode estar ligado ao fato de a coleta de dados ter sido realizada com os usuários identificados pelos agentes comunitários de saúde e nas unidades básicas do Programa Saúde da Família, possibilitando que os usuários do sexo masculino, que normalmente não procuram o serviço de saúde, pudessem ser identificados. Contudo, um estudo que avaliou a qualidade de vida em dependentes químicos portadores de úlceras venosas, denotou 72% de população masculina23. Em concordância com os dados relacionados ao estado civil de presente estudo, outros autores encontraram que a presença de um companheiro, seja esposo ou em união estável, atingiu mais de 60%, em contrapartida dos viúvos e solteiros, com menos de 35%. A prevalência foi quatro vezes mais frequente nas mulheres que nos homens viúvos24. Uma pesquisa sobre úlceras de perna mostrou que a maioria dos avaliados reside com o cônjuge ou com outro membro familiar7. Tanto as condições da ferida quanto a idade geram dificuldades no desenvolvimento das atividades de vida diária. Assim, o companheiro ou familiar pode ser um auxílio para atender às possíveis Recebido em: 12/08/2010 – Aprovado em: 30/03/2011 necessidades, sobretudo no envelhecimento não sadio. Porém, em grande parte, é importante o indivíduo desenvolver seu cuidado de forma independente. Observou-se também que a maioria dos doentes tem baixa renda mensal, variando de um a três salários mínimos. Outro achado importante foi a associação entre insuficiência venosa crônica e hipertensão arterial sistêmica (em 70,9% dos casos, com p<0.01), constituindo-se em associação estatística importante. Tal associação ressalta a importância do controle e/ou tratamento da insuficiência venosa crônica, além da necessidade de tratamento da hipertensão arterial. Alguns usuários avaliados faziam curativos comunitários (em casa ou na unidade básica de saúde) caracteristicamente não resolutivos. A classificação das úlceras foi baseada essencialmente nos parâmetros clínicos, não utilizando exames mais sofisticados, como fotopletismografia, dúplex-scan e a flebografia, que melhorariam a avaliação do território vascular dos membros, fato que poderia influenciar nas frequências das úlceras venosas e arteriais. Os sinais e sintomas encontrados em associação com as úlceras confirmaram a classificação, pois tiveram frequência relevante em um ou em ambos os membros, sendo todos relacionados à síndrome da insuficiência venosa crônica25. As úlceras venosas localizam-se, principalmente, na face medial da perna e no tornozelo, seguindo o trajeto da veia safena magna26. No presente estudo, a localização predominante da úlcera foi a face lateral do membro, o que pode estar relacionado com o alto índice da associação insuficiência venosa crônica e hipertensão arterial sistêmica (70,9%) entre os pesquisados. Quanto à presença de insuficiência venosa crônica e úlceras, o tempo médio de existência da enfermidade entre os sujeitos foi de 5,5 anos, sendo que 38(69%) dos participantes apresentavam insuficiência venosa crônica com úlceras ativas ou cicatrizadas e recidivas frequentes há mais de ano. Entre estes existiam os que conviviam com a doença há 35 anos. Assim, pode-se observar que o tratamento das úlceras de perna requer curativos por período longo, proporcionando transtornos clínico-funcionais e estéticos na qualidade de vida desses usuários, além de representar custo operacional alto, individual e coletivo. O constrangimento e a vergonha se configuram como sentimentos presentes na vida desses indivíduos e tais sentimentos, por sua vez, determinam o isolamento social27. CONCLUSÃO Ao final da pesquisa, foi possível conhecer as carac- terísticas sociodemográficas e clínico-epidemiológicas dos pacientes portadores de úlceras venosas de perna. Os resultados evidenciaram média de idade de 66,7 anos, pessoas do sexo feminino, com renda de um a três salários mínimos. Associaram-se às úlceras a insuficiência veno- Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):468-72. • p.471 Características de clientes com úlcera venosa Artigo de Pesquisa Original Research Artículo de Investigación tado em 16 nov 2010] 2. Disponível em: http://www.updatesa, a hipertensão e a obesidade. Ao conhecer a situação das software.com. pessoas com úlcera venosa de perna, seus aspectos físicos e 13. Shanu K, Kurd MHS, Ole J, Hoffstad MA, Warren B, Bilker, clínicos e as repercussões nas dimensões psicossociais, o Margolis DJ. Evaluation of the use of prognostic information enfermeiro deve elaborar um planejamento adequado às for the care of individuals with venous leg ulcers or diabetic necessidades de cuidados da clientela visando à melhoria neuropathic foot ulcers. Wound Repair Regen. [Pubmed de suas condições de saúde. REFERÊNCIAS 1.Yamada BFA. Úlceras venosas. In: Jorge AS, Dantas SRPE, organizadoras. Abordagem multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu; 2003. p. 247-59. 2.Bergonse FN, Rivitti EA. Avaliação da circulação arterial pela medida do índice tornozelo/braço em doentes de úlcera venosa crônica. An Bras Dermatol. [Scielo-Scientific Eletronic Library Online] 2006 [citado em 15 nov 2010]. 81:131-5. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php. 3.Abdalla S, Dadalti P. Uso da sulfadiazina de prata associada ao nitrato de cério em úlceras venosas: relato de dois casos. An Bras Dermatol. [Scielo-Scientific Eletronic Library Online] 2003 [citado em 15 nov 2010]. 78:227-33. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php. 4.Frade MAC, Cursi IB, Andrade FF, Soares SC, Ribeiro WS, Santos SV, et al. Úlcera de perna: um estudo de caso em juiz de fora -MG (Brasil) e região. An Bras Dermatol. 2005; 80:35-40. 5.Irion G. Feridas: novas abordagens, manejo clínico e atlas em cores. Tradução João Clemente Dantas do Rego Barros. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2005. 6.Abbade LPF, Lastória S. Abordagem de pacientes com úlcera da perna de etiologia venosa. An Bras Dermatol. [ScieloScientific Electronic Library Online] 2006 [citado em 15 nov 2010]. 81:509-22. Disponível em: http://www.scielo.br/ scielo.php. 7.Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. São Paulo: Atheneu Editora; 2008. 8.Nelson EA, Mani Raj, Vowden K. Intermittent pneumatic compression for treating venous leg ulcers. Cochrane Database of Systematic Reviews [The Cochrane Library] 2010 [citado em 15 nov 2010]. 10. Disponível em: http://www.cochrane.br/php 9.Vas J, Modesto M, Mendez C, Perea-Milla E, Aguilar I, Carrasco-Lozano JM, et al. Effectiveness of acupuncture, special dressings and simple, low-adherence dressings for healing venous leg ulcers in primary healthcare: study protocol for a cluster-randomized open-labeled trial. BMC Complementary and Alternative Medicine [Pubmed Library] 2008 [citado em 16 nov 2010] 8:29. Disponível em: www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/1854741. 10. Langer A, Rogowski W. Systematic review of economic evaluations of human cell-derived wound care products for the treatment of venous leg and diabetic foot ulcers. BMC Health Services Research [Pubmed Library] 2009 [citado em 16 nov 2010]. 9:115. Disponível em http://www.biomed central.com/1472-6963/9/115. 11. Al-Kurdi D, Bell-Syer SEM, Flemming K. Ultrasonido terapéutico para la úlcera venosa de pierna (Revisión Cochrane traducida). [La Biblioteca Cochrane Plus] 2008 [citado em 16 nov 2010]. 2. Disponível em: http://www .update-software.com. 12. O’Meara S, Al-Kurdi D, Ovington LG. Antibióticos y antisépticos para las úlceras venosas de la pierna (Revisión Cochrane traducida). [La Biblioteca Cochrane Plus] 2008[ci- p.472 • Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2011 jul/set; 19(3):468-72. Library] 2009 [citado em 16 nov 2010] 17:318-25. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/ PMC2724840. 14. Cardinal M, Phillips T, Eisenbud DE, Harding K, Mansbridge J, Armstrong DG. Nonlinear modeling of venous leg ulcer healing rates. BMC Dermatolog. [Pubmed Library] 2009 [citado em 16 nov 2010] 9:2 Disponível em: http://www. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19335882. 15. Silva FAA, Moreira TMM. Retrato epidemiológico do serviço de estomaterapia localizado em Maracanaú –CE. Nursing (São Paulo). 2006; 9:728-33. 16. Silva FAA, Moreira TMM, Jorge MSB, Freitas CHA, Alcântara MCMA. Enfermagem em estomaterapia: cuidados clínicos ao portador de úlcera venosa. Rev Bras Enferm. [Scielo-Scientific Electronic Library Online]. 2009 [citado em 16 nov 2010]. 6:889-93. Disponível em: http:// www. scielo.br/prc. 17. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico 2009: resultados do universo. [citado em: 20 out 2009]. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. 18. Oien RF, Hakasson A, Ovhed I, Hansen BU. Wound management for 287 patients with chronic leg ulcers demands 12 full-time nurses: leg ulcer epidemiology and care in a well-defined population in southern Sweden. Scand J Prim Health Care. 2000; 18:220-5. 19. Friedberg EH, Harrison MB, Graham D. Current home care expenditures for persons with leg ulcers. J. Wound Ostomy Continence Nurs. 2002; 29:186-92. 20. Vogeley CL, Coeling H. Prevention of venous ulceration by use of compression after deep vein thrombosis. J Vasc Nurs. 2000; 28:123-7. 21. Sampaio FAA. Caracterização do estado de saúde referente à integridade tissular e perfusão tissular em usuários com ulceras venosas segundo a NOC [dissertação de mestrado]. Fortaleza (CE): Universidade Federal do Ceará; 2008. 22. Pieper B, Szczepzniak K, Templin, T. Psychosocial adjustment, coping, and quality of life in persons with venous ulcers and a history of intravenous drug use. J Wound Ostomy Continence Nurs. 2000; 27:227-37. 23. Mastroeni MF, Erzinger GS, Mastroeni SSBS, Silva NN, Marucci MFN. Perfil demográfico de idosos da cidade de Joinville, Santa Catarina: estudo de base domiciliar. Rev Bras Epidemiol. 2007; 10:190-201. 24. Sousa MKB, Matos IAT. Percepção do portador de ferida crônica sobre sua sexualidade. Rev enferm UERJ. [Lilacs] 2010 [citado em 10 out 2010]. 18:19-24. Disponível em: http://www.bases.bireme.br. 25. Maffei FHA, Magaldi C, Pinho SZ. Varicose veins and chronic venous insufficiency in Brasil: prevalence among 1755 inhabitants of a country town. J Epidemiol. 1986; 15:210-7. 26. Moffat CJ, Franks PJ, Martin R, Blewett R, Ross F. Prevalency of leg ulceration of London Population. QJ Med. 2004; 97:341-7. 27. Lorimer KR, Harrison MB, Graham ID, Friedberg E, Davies B. Venous leg ulcer care:how evidence-based is nursing practice? J. Wound Ostomy Continence Nursing. 2003; 30:132-42. Recebido em: 12/08/2010 – Aprovado em: 30/03/2011