Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES INFLUÊNCIA DA ESCOLA ESCOLÁSTICA NO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO Sara Freitas de Sousa1¹ Sabrina Barros Santiago2 Vanessa Pimentel Bernardes3 Taíse Severo Aozani4 Helender Ueno Seelig se Souza5 RESUMO A escolástica é a filosofia de base cristã que se desenvolveu desde o século IX, com seu apogeu no século XIII e declínio no começo do século XIV. Nesse período, observa-se a busca pela união entre razão e a fé, acreditando que não há contradição entre elas, pois ambas procediam da mesma fonte, ou seja, de Deus. Procuravam defender que a razão ajuda a aceitar a fé, e a fé ajuda a inteligência a entender a verdade das coisas, refletindo assim, na compreensão da realidade. Para isso, os escolásticos procuravam conciliar os ensinamentos da doutrina cristã com o platonismo e o aristotelismo. Visando entender a escolástica, o objetivo do trabalho é descrever sobre o desenvolvimento científico conforme a égide da escola de pensamento escolástico no período da idade média. Nessa perspectiva, foi realizado um levantamento bibliográfico, a fim de apresentar conceitos, definições, e caracterizar um período marcante para configuração das escolas em universidades. Há controvérsias de que a idade média foi apenas um período por ter como referência principal a igreja, porém nota-se nessa fase grandes avanços, como a criação de universidades, de novas filosofias, novos métodos, baseado na leitura, comentários e textos antigos, sagrados ou profanos, que períodos depois embasaram outras escolas, como a Renascentista. A escolástica trouxe em seu interior, importantes debates sobre temas como o método, a lógica e a linguagem, que, séculos depois, continuou norteando a modernidade. Palavras-chaves: período medieval, religião, razão 1 Mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected]. Contato: (28) 99999-8918 2 Mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected]. Contato: (28) 99935-6164 3 Mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected]. Contato: (93) 991255276 4 Mestranda em Ciências Florestais – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). [email protected]. Contato: (89) 8115-6907 5 Engenheiro Florestal – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). [email protected]. Contato: (93) 991977444 83 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES ABSTRACT The Scholastic is the philosophy of Christian base that has developed since the ninth century, with its peak in the thirteenth century and decline at the beginning of the fourteenth century. During this period, the search for unity between reason and faith, believing that there is no contradiction between them because both were from the same source, namely God. Sought to defend that reason helps to accept the faith, and faith help the intelligence to understand the truth of things, reflecting thus the understanding of reality. For this, the Scholastics sought to reconcile the teachings of Christian doctrine with Platonism and Aristotelianism. Aiming to understand the scholastic, the goal of the work is to describe about the scientific development as the aegis of the scholastic School of thought in the period of the middle ages. From this perspective, a literature review was conducted in order to present concepts, definitions, and featuring a remarkable period for configuration of the schools at universities. There are controversies that the Middle Ages was only a period by have as the main reference to church, however it should be noted major breakthroughs, such as the creation of universities, new philosophies, new methods, based in reading, comments and ancient texts, sacred or profane, which after based other schools such as the Renaissance. The scholastic brought inside importants debates on topics such as the method, logic and language, which, centuries later, continued guiding the modernity. Keys-words: medieval period, religion, reason. 84 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES 1. Esse processo histórico que brota desta INTRODUÇÃO Nos séculos III e IV o império romano vida cotidiana será pensado, como sistema do Ocidente entra em crise e em 450, os filosófico, por Santo Agostinho ou Aurélio romanos têm a sua queda concretizada com a Agostinho, bispo de Hipona (354-430), e por invasão da Europa por povos bárbaros e a São Tomás de Aquino (1225-1274) durante a emergência do modo feudal de produção. Os Idade Média, fundamentados na busca de uma ganhos e a riqueza são reduzidos nesta fase do compreensão racional para a fé (LIMA, império, criando as condições econômicas, 2006). Em sociais e políticas que contribuíram para a decorrência do processo de destruição do modo de produção escravista e degeneração do mundo medieval feudal, as a emergência histórica do método medieval reestruturações econômicas, políticas, sociais, ou escolástico, sob a égide do modo de culturais e intelectuais rumo ao mundo produção feudal (ROSA, 2012). moderno A elevação do sistema filosófico medieval surge desse processo de decadência da própria vida cotidiana no final do império romano, que favoreceu a emergência de uma nova concepção filosófica que considera necessária esta situação e que associa a decadência do império com a decadência do próprio mundo (LIMA, 2006). Este processo é fundamental para a consolidação do método escolástico formulado a partir de uma sociedade onde o homem não tem razão de viver e que é explicada pelos desígnios de Deus que assim quer, uma razão absoluta em uma concepção teológica e, ao mesmo tempo, teleológica da história com um início e um final prédeterminados (GUIMARÃES; OLIVEIRA, 2009). 85 capitalista, desencadearão reestruturações educacionais e pedagógicas para se atender às novas necessidades de formação e de consolidação do novo modo de produção que surgia, isto é, modo de produção capitalista. Assim, surgem várias universidades e corporações de ofício, que se tornaram os grandes centros de formação profissional, responsáveis por uma educação que ia se tornando progressivamente racionalizada, paulatina, cada especializada porém, vez mais e técnica (BATISTA, 2005). Dessa forma, a escolástica terá papel decisivo em todo esse processo, já que prepara uma releitura da educação que envolverá de modo radical e inovador tanto os processos de aprendizagem. universidades formação A deram quanto estes uma os de últimos, as contribuição Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES fundamental com a sua organização de estudos e com os mestres que elaboraram técnicas de trabalho intelectual, mas os Relatar os fatores que contribuíram para o surgimento das universidades. Estabelecer um paralelo entre a modelos de formação que devem guiar o influência do pensamento escolástico no trabalho educativo foram enfrentados pelos início da sua implantação até a atualidade. grandes intelectuais da escolástica, com metodologias derivadas da grande disputa sobre razão e fé que atravessa o florescimento está Com a queda do Império Romano do caracterizado, sob o enfoque da análise Ocidente, houve a organização da sociedade a imanente, por um conjunto de três elementos partir da igreja. Esse fator é fundamental para ou etapas: a fé, a razão e a interpretação. entender e compreender a escolástica, uma Sendo que a fé está acima da razão e as escola que surgiu na idade média como explicações dos fenômenos estão relacionadas método à existência de Deus e a doutrina cristã e não OLIVEIRA, 2009). buscam método conclusões escolástico REVISÃO DE LITERATURA Escola escolástica da filosofia escolástica (BATISTA, 2010). O 3. puramente de ensino (GUIMARÃES; racionais (LIMA, 2006). No meio das escolas na idade medieval, surge a escolástica. Considerada como fruto 2. OBJETIVOS de conventos, das catedrais e posteriormente, de universidades medievais (desenvolvimento Geral: de várias doutrinas, opiniões e métodos). Essa Realizar abordagem bibliográfica sobre o escola se propunha a responder as principais desenvolvimento científico na égide da escola questões da época, logo, foi uma forma de pensamento escolástico. encontrada pela sociedade medieval para produzir o saber, tanto da divindade, como Específicos: das questões naturais e humanas (OLIVEIRA, 2008). Várias são as definições para a Apresentar conceitos, definições e escolásticas: caracterizar o período escolástico. Investigar a contribuição da igreja para o ensino no período da idade média (séculos XII a XV). 86 [...] a escolástica é a expressão pedagógica do saber adquirido e completo. Ainda se dialoga, mas entre mestre e discípulo, ou entre concorrentes e adversários. Sua forma perfeita é o tratado, ou a suma, em que tudo se explica a partir de princípios firmes. O diálogo, que Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES está sempre aberto a perguntas, que não fecha a continuidade do pensamento, e está numa relação de insegurança permanente perante o saber, passa para segundo plano, mas não desaparece (LUPI, 2013, p. 6). elas, pois ambas eram provenientes de Deus. A Escolástica vai além da idade média, Média, seria pela primeira vez, defrontada por formando-se em uma longo percurso da uma filosofia racional e lógica, e sem apelo à filosofia. Grabmann (1949) considera a manifestação soberana e à fé. O pensamento escolástica pregado por Tomás não era aceito por muitos como pensamento uma confluência greco-romano e do patrística, Assim, a doutrina cristã que era orientada pela síntese agostiniana durante toda a Idade teólogos da época, que embora esteja presente desde os primeiros interessantes momentos da idade medieval. pensamentos aristotélicos (mortalidade da Essa escola possui um caráter discrepâncias procuravam entre os alma, mundo incriado) e o preceito da Igreja doutrinário que, primordialmente, de forma (ROSA, 2012). inanimada Base e evolução do pensamento escolástico e posterior de modo mais sistemático, foi elaborada em centros de estudo, pela dedicação em escrever e ensinar, A sociedade do século XII começava a se principalmente homens criativos e favorecido ressentir de uma justificativa para o controle em e exercido pela Igreja. Afinal, já estavam entendimento lógico (REALE; ANTISERI, distantes os séculos subsequentes à queda do 2005). Império possuir capacidade de crítica Romano, marcados pela O principal representante desta escola desorganização social e a qual a igreja impôs foi São Tomás, e sua filosofia era considerada regras e ordem (GUIMARÃES; OLIVEIRA, como preparação para a fé, e tem uma função 2009). apologética, ou seja, defesa da fé, isso permite Nesse mesmo século, surgi um discutir com quem não segue nenhum credo. progresso bastante notável não só na teologia, Esse filósofo elaborou uma técnica de saber mas também nas ciências e na filosofia. único e de transparência lógica, possuindo Floresceram assim, um caráter mais aristotélico do que notáveis escolas, pois a teologia especulativa platônico-agostiniana (REALE; ANTISERI, e mística adquiriu o seu caráter específico 2005). (SANTOS, 2013). os estudos científicos em A base de Tomás de Aquino para a Dessa forma, a elevação do sistema escola seria a conciliação da razão e fé, e filosófico medieval surge de um processo de acreditava que não havia contradição entre decadência da própria vida cotidiana no final 87 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES do império romano. Este processo vai ser da escola da abadia de Saint - Victor em Paris pensado como sistema filosófico por Santo (JUNGES; CULLETON, 2010). Agostinho ou Aurélio Agostinho, bispo de O séc. XIV caracteriza-se pela Hipona (354-430), e por São Tomás de separação definitiva entre a filosofia e a Aquino (1225-1274) durante a Idade Média, teologia. A teologia mantém-se em vigor na fundamentados na busca de uma compreensão escola franciscana, representada por Duns racional para a fé (LIMA, 2006). Escoto e G. de Occam, e a filosofia instala-se A Escolástica é geralmente dividida no empírico, no particular e no sensível. A em três períodos: escolástica medieval, escolástica segunda escolástica e florescimento a neo-escolástica (JUNGES; CULLETON, 2010). período um Espanha e notável Portugal, Jesuítas, orientadas para a nova interpretação que se fez da teoria de S. Tomás na Itália. O Ocorre do século IX ao XV, trata-se um em então dinamizado pelas ordens dominicanas e dos Escolástica medieval de conhece de formação e dominicano F. de Vitoria fundou a escola de de Salamanca em que se formaram notáveis desenvolvimento dos grandes temas e teses da teólogos tomistas, os quais, juntamente com escolástica (SANTOS, 2013), e ainda, um os jesuítas de Coimbra e F. Suárez, em período marcado pela influência dominante polémica com o escotismo e o nominalismo, do Platonismo filosóficas ou Neoplatonismo, defenderam particularmente no que se refletiu na obra de tradicional com as novas tendências de Santo Agostinho (LIMA, 2006). pensamento da época (LIMA, 2006). uma síntese de escolástica Nesse período Agostinho formulou a máxima "Entender de modo que você pode acreditar, acreditar que você pode entender", Segunda Escolástica uma abordagem que está no coração da Também conhecido como escolástica escolástica, e pediu o uso da dialética em moderna, escolástica barroca ou escolástica examinar a doutrina cristã. Seus princípios tardia, trata-se de um período entendido a foram aplicados com rigor por tais precoce partir do pensamento desenvolvido segundo a escolásticos como João Escoto Erígena, metodologia escolástica durante o século XVI Anselmo Santos, Abelardo Pedro, Alan de e início do século XVII, e nessa mesma época Lille, e inúmeros professores em escolas da esta forma de pensamento alcança um elevado catedral de Laon, Chartres, Paris, Poitiers, e nível intelectual (SANTOS, 2013). 88 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES A Reforma Protestante no século XVI estimulou um reavivamento da teologia por um retorno à linguagem da Bíblia, os Padres da Igreja, e os grandes escolásticos do século Kant e Hegel e pelo Iluminismo (SANTOS, 2013). Neo-Escolástica XIII. Esta segunda escolástica foi ajudada Na segunda metade do século XIX pela fundação (1540) da Companhia de Jesus surgi a Neo-Escolástica na Itália, Espanha e (Jesuítas) por Santo Inácio de Loyola, com a França, restrita aos centros e instituições de aprovação do Papa Paulo III. Os escolásticos ensino jesuítas deste período foram São Roberto circunstância foi funesta para a Filosofia Belarmino, Francisco Suarez, e Gabriel Medieval, pois por necessidade de currículos Vazquez (JUNGES; CULLETON, 2010). e de método pedagógico a filosofia medieval ligadas à Igreja Católica, essa Devido em grande parte à revolução foi reduzida à simplificação de alguns autores, científica do século XVII (a começar com o escondendo a riqueza da sua real produção e Galileo), a busca da originalidade filosófica criação, e dando razão efetiva aos seus (começando com Rene Descartes), a ascensão desafetos (LUPI, 2013). Esse do nacionalismo e da colonização, e o período se consolida pela desmoronamento das religiões protestantes, a publicação da encíclica Aeterni Patris, do segunda Papa Leão XIII, no dia 4 de agosto de 1879. escolástica diminuiu. Algumas formas de livro didático escolástica, no Essa entanto, permaneceram por um tempo em quantidade de estudos sobre a escolástica e, países católicos, em particular Espanha e por consequência, a criação de universidades, América Latina (JUNGES; CULLETON, centros de estudos e de cultura voltados para 2010). o conhecimento e pesquisas de temas Por volta do século XVIII há uma publicação relacionados a trouxe forma uma de grande pensamento decadência da Escolástica, chegando a receber escolástico. Dessa forma, a escolástica deve críticas ser compreendida como uma escola de ou hostilidade mesmo de um alguns sentimento pensadores. de Essa pensamento presente na sociedade decadência esteve relacionada com o início do contemporânea e não como uma escola presa interesse por outros pensamentos filosóficos, a Idade Média, pois até hoje notamos suas destacando-se a filosofia de Descartes, os contribuições novos sistemas filosóficos desenvolvidos por universidades, organização e divisão das 89 como o ensino nas Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES diferentes áreas de estudos (trivium e o futuro de tudo. O homem não discute a sua quadrivium) (JUNGES; CULLETON, 2010). crença, apenas crê. Essa mentalidade, considerada uma variante do pensamento Características da escola escolástica religioso, se caracteriza como aquela em que O interesse da escolástica é, sobretudo, a presença de Deus é total e rege especulativo, e a sua glória é a elaboração da completamente todo o pensamento, que tudo filosofia cristã. Entende-se por escolástica a vem de Deus e tudo é causado pela vontade filosofia e a teologia ensinada nas escolas divina. Tudo que é mau é considerado como medievais, buscando a relação entre estas e obra do diabo (LUPI, 2013). assim estimulando a discussão (REALE; ANTISERI, 2005). A filosofia escolástica colocou a especulação filosófica de acordo com a fé, e A escolástica dá fundamentação filosófica nada que seja contra alguma doutrina imposta à fé. Por meio da dialética que ela propõe é pela igreja, seja ensinado como certo. A possível refletir e compreender o assunto doutrina exposto, e as pessoas envolvidas ampliam seu constituída pelas doutrinas que os filósofos ponto de vista. escolásticos Ela sugere respostas, cria da filosofia concordavam. escolástica Sua ética era é questionamentos e promove debates que normativa e dependente da religião cristã e se contribuem para o bem da sociedade, sendo define responsável pelo método de ensino que (OLIVEIRA, 2008). caracterizou as universidades por seu conteúdo doutrinal medievais Fatores (GUIMARÃES; OLIVEIRA, 2009). O pensamento desta época é norteado pela que contribuíram para o desenvolvimento da escolástica tradição religiosa, onde a igreja protege o A sociedade medieval, de acordo com pensamento contra os erros e tem autoridade Le Goff (1995) entre os séculos V e XI, era quanto a este princípio, inserindo também monopolizada pelos chefes da igreja, por uma doutrina filosófica que é instrumento conseguinte, os notáveis da educação, dotados desta investigação intelectual (OLIVEIRA, de poderes, definiam os caminhos a serem 2008). seguidos, os quais eram obedecidos pela Este período é caracterizado por ter pensamento medieval, onde o escolástico acredita que Deus homem criou o Universo e é Ele quem controla e é a origem e 90 maioria, seja no âmbito político, econômico ou espiritual. Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES [...] a sociedade reduz-se ao confronto entre dois grupos; os clérigos e os leigos numa perspectiva, os poderosos e os fracos, ou os grandes e os pequenos, ou ainda os ricos e os pobres quando apenas se considera a sociedade laica, e os livres e os não livres quando se está no plano jurídico. [...] Uma minoria monopoliza as funções de direção – direção espiritual, direção política, direção econômica; a massa, sujeita-se (LE GOFF, 1995, p. 12). seus desenvolvimentos, representa toda a era medieval. O binômio fé e razão embasa essa escola, porém predominantemente a razão em é função posta da fé (OLIVEIRA, 2008). Assim, a base era não apenas crer, mas seria também preciso Nessa perspectiva, a ocupação da igreja preenchera o espaço que outrora compreender. Reale e Antiseri (2005) analisa este período da seguinte forma: pertencera ao estado romano, no qual as escrituras se tornara padrão de conduta e valores a serem adotados, ocorrendo desta forma a expansão do seu modelo de comando e organização existentes no ambiente clérigo com aplicação no âmbito político (GUIMARÃES; OLIVEIRA, 2009). A escolástica no período medieval proporcionou importantes debates [...] mais do que um conjunto de doutrinas, entendemos por escolástica a filosofia e a teologia que eram ensinadas nas escolas medievais. Essa é urna caracterização de certa forma extrínseca, mas significativa e útil: útil, porque nos liberta da tarefa de precisar logo o corpo doutrinário que se pode chamar "escolástico", significativa, porque nos transporta para o ambiente em que tais doutrinas foram elaboradas, pensadas e aprofundadas a partir da primeira reorganização medieval das escolas (REALE; ANTISERI, 2005, p. 121). sobre Essa temas que, séculos depois, orientaram a modernidade, dos quais destacam-se a linguagem, o método e a lógica. No que tange ao desenvolvimento da história das ideias, a escolástica trouxe grandes contribuições com destaque de Tomás de Aquino como uns dos principais pensadores (SANTOS, 2013). escola contribuiu significativamente para a filosofia, em virtude da sua considerável rigidez metodológica e dialética. Os acadêmicos das universidades da época se destacavam por possuir boa oralidade e argumentos, isso se deve ao uso da lógica formal e intermediada por um mestre. Porém, algumas dificuldades nessa A escolástica como filosofia e método de época foram encontradas: ensino Muitos estudiosos já se dedicaram a entender as bases do pensamento da filosofia escolástica, na qual as escolas medievais edificaram seus princípios teóricos. Pode-se dizer que a escolástica, na sua gênese e nos 91 [...] as autoridades eclesiásticas resistiriam à intrusão de filósofos pagãos, temendo a violação da verdade cristã, proibindo, de início, mas sem sucesso, o ensino de algumas obras de Aristóteles (Física, em 1211, Metafísica e Filosofia Natural em 1215) (ROSA, 2012, p. 345). Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES Nos textos escolásticos predominavam inúmeras citações de autores, a que intelectuais (studium) que se apoiava nos poderes tradicionais do regnum e do denominam de autoridades, com os quais sacerdotium (camadas sociais muito definidas concordam ou discordam, acompanhando da idade média). Em plano secundário, foi sempre a mesma técnica de argumentação, em possível ajudar na superação das diferenças busca da definição de várias verdades ou de de classes sociais, ou seja, um novo tipo de uma única verdade, o que hoje é denominado nobreza que era dependente da cultura de objetividade ou de ciência. O ensino adquirida (ARANHA; MARTINS, 1986). universitário escolástico era realizado por O ensinamento do pensamento antigo intermédio de disputas e questionamentos nas escolas, nos mosteiros e nas (sistematizado em diálogos – forma oral e universidades, foi transpassado pelos escritos redigidos) (ALMEIDA, 2005). sagrados por meio dos mestres escolásticos, e As primeiras universidades nasceram demonstravam o modo como os posteriores em Bolonha e em Paris, entre os séculos XII- monges, ou seja, os futuros líderes dos XIII sob a forma de fusão corporativa de poderes eclesiásticos e laicos precisavam mestres e acadêmico. Porém, com o passar proceder e pensar. Embora o conhecimento dos anos novos acontecimentos e surgimentos tenha alcançado também até os mais carentes foram registrados. por meio da religiosidade, esses poderes eram concedidos [...] A partir do século XI surgem as universidades (de Paris, Bologna, Oxford etc.), que, espalhadas por toda a Europa, tornam-se locais de fecunda reflexão filosófica. Já no século XII, aparecem traduções de obras de Arquimedes, Hero de Alexandria, Euclides, Aristóteles e Ptolomeu. Muitas vezes o pensamento desses autores chegava deformado à Europa, pois era traduzido do grego para o sírio, do sírio para o árabe, do árabe para o hebraico e do hebraico para o latim medieval. Por isso, a Igreja condenou de início o pensamento aristotélico, que na tradução árabe adquirira contornos panteístas (ARANHA; MARTINS, 1986, p.151). Esses surgimentos de universidades refletiram na sociedade, trazendo também contribuições que foram notáveis. Primeiramente, essa contribuição foi no âmbito de formação de uma classe de 92 apenas a filhos de nobres (OLIVEIRA, 2008). [...] Em relação ao mundo material, não podemos esquecer que as ações dos homens no medievo, em geral, foram delineadas por suas crenças e estas definiam os seus atos. Essa influência atingia, de forma mais acentuada, àqueles que tinham acesso ao ensino nas escolas, pois construíam uma interpretação do mundo pautado na religiosidade, do mesmo modo que os humildes, mas ao mesmo tempo, formavam-se no conhecimento antigo sobre as ciências da natureza (OLIVEIRA, 2008, p. 6) Na idade média foi retomada a tradição grega, sendo observado pela valorização do conhecimento teórico em função das atividades práticas. E assim, a ciência continua voltada para a discussão racional e Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES separada da técnica e da pesquisa empírica responsáveis por essa organização, fundou (ARANHA; MARTINS, 1986). escolas e estruturou o sistema de ensino do A lógica e a metodologia escolástica eram bastante suas (1949, p. 32), Alcuíno distribuiu as disciplinas deficiências. Sobretudo no aspecto dedutivo, a que compunham o currículo em duas partes, o lógica grego-medieval é muito valorizada trivium e o quadrivium “[...] as artes liberais, pelos historiadores da lógica. No entanto, no das sete disciplinas livres do Trivium tocante ao uso da intuição, como muitas vezes (Gramática, Lógica ou Dialética e Retórica) e foi demonstrado, é um tanto ingênua. o Inclusive, nesse período histórico, conhecia- Astronomia e Música)”. se o aceitáveis, método apesar hipotético de império carolíngio. Conforme Grabmann - Quadrivium (Geometria, Aritmética, dedutivo No método escolástico debatiam-se desenvolvido por Grosseteste, Rogerio Bacon questões e opiniões, fundamentando-as com a e São Alberto Magno, o mestre de São razão. Os escolásticos procuravam conciliar Tomás. Nesse mesmo período, também se fez os ensinamentos da doutrina cristã com o uso do aparato matemático, mesmo que de platonismo e o aristotelismo. Esse termo não forma incipiente, como é o caso dos significa exclusivamente filosofia medieval matemáticos de Oxford (BEUCHOT, 2010). nem religiosa. É um método de produção de conhecimento A igreja e o ensino da alta idade média O surgimento da escolástica fundado na disputa, no confronto de perspectivas visando respostas foi sustentadas na razão (SANTOS, 2013). primordial para a igreja (ZILLES, 1996). Pois A idade média é conhecida como um com o declínio do império romano, tornou-se período intermédio necessária a formação mais aperfeiçoada dos somente manteve padres. lentamente filósofos antigos e a tradição dos primeiros constituíram-se os seminários para preparação padres da Igreja. Tratar-se-ia, portanto, de do clero, com professores e alunos fixos e uma recopilação do já visto e criado. Embora cursos regulares, a fim de oferecer melhor a Escolástica busque na antiguidade e nos orientação aos fiéis (SANTOS, 2013). padres da Igreja a fonte de informação, Em virtude disto, O ensino do período escolástico ocorria nas escolas palatinas (nos palácios), abaciais (nas abadias) e episcopais (junto às catedrais). O monge beneditino de York, dentre os 93 porque o nada criou, conhecimento dos observa-se que sua base teórica de explicação do mundo está baseada em uma instituição, por essência Inicialmente, medieval, as escolas as escolas. monásticas, Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES especialmente na alta idade média, depois nas caracterizada por intensa religiosidade, onde a escolas palacianas, nas citadinas e laicas do igreja influenciava de forma significativa no século XII e, por fim na universidade pensar, na psicologia e no comportamento do (OLIVEIRA, 2013). homem medieval. E foi principalmente no A escolástica buscava por meio da lógica interior de conventos e catedrais que surgiu aristotélica, conciliar a razão e a fé, com uma filosofia (pensamento escolástico) que intenção de que ambas não se contrariassem, posteriormente, alcançou as universidades pois procediam da mesma fonte. Neste medievais, sentido, se a razão ajuda a aceitar a fé, a fé opiniões e métodos, e alcançou proporções de ajuda a inteligência a entender a verdade das vir a conduzir a sociedade à modernidade. e influenciou nas doutrinas, coisas. Isto implicaria na compreensão da O período medieval contribuiu muito para realidade por meio da razão, pois os sentidos o desenvolvimento dos vários setores da somente dão um conhecimento da aparência sociedade humana e representou bem o seu das coisas, e a razão pode, contudo, conduzir papel de colaborar para o progresso. A maior o raciocínio errado (ROSA, 2012). parte desta contribuição foi devido a filosofia, 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS sobretudo a escolástica. A escolástica trás, por meio do diálogo, Com a queda do império romano a igreja uma visão mais ampla sobre assuntos assumiu o papel de organização da sociedade. expostos, tendo a religião e a fé como sua Neste contexto histórico, surge a escolástica base de ensino. É, portanto, a filosofia cristã, que foi fundamental para o aprimoramento do na qual a igreja impõe a doutrina que é saber. Dentre os temas mais polêmicos ensinada, tendo ela grande soberania sobre a abordados na época destacam-se a razão e a educação. fé, que nas escolas escolásticas buscavam a compreensão racional, sem que houvesse REFERÊNCIAS contradição entre ambas. A escolástica foi responsável pelo método de ensino, que caracterizou as universidades medievais e baseou-se substancialmente na leitura e nos comentários dos textos antigos, sagrados ou ALMEIDA, M. J. O triunfo da escolástica, a glória da educação. Educação & Sociedade, [S.I.], v. 26, n. 90, p. 17-39, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v26n90/a02v269 0.pdf>. Acesso: 20 maio 2015. profanos. Verifica-se que a idade média foi um período 94 complexo de ser entendido, ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 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