SEÇÃO B: EVIDÊNCIAS ATÉ O MOMENTO 5. Saúde e impacto ambiental de cultivos transgênicos A evidência científica referente ao impacto da engenharia genética na saúde humana e no meio-ambiente está emergindo. Neste capítulo sintetizamos o conhecimento científico atual sobre os riscos potenciais à saúde e ao meio-ambiente (Quadro 17) associados com a engenharia genética, tanto na alimentação quanto na agricultura, seguida por uma discussão do papel dos organismos internacionais proponentes de padrões (“standards”) na harmonização de procedimentos para análises de riscos destes produtos (Quadro 18). A evidência científica apresentada neste capítulo apóia-se extensivamente em relatório recente do Conselho Internacional para Ciência (ICSU, 2003 – daqui em diante designado como ICSU).4 O relatório do ICSU baseia-se em 50 avaliações científicas independentes conduzidas por grupos autorizados em diferentes partes do mundo, incluindo a Codex Alimentarius Comission da FAO/OMS, Comissão Européia, OECD e academias nacionais de ciência de diversos países, como Austrália, Brasil, China, França, Índia, Reino Unido e Estados Unidos. Além disso, este capítulo apóia-se em avaliações científicas recentes do Nuffield Council on Bioethics (2003 – daqui em diante designado como Nuffield Council),5 o United Kingdom GM Science Review Panel (2003 – daqui em diante designado como GM Science Review Panel)6 e a Royal Society (2003 – daqui em diante designado como Royal Society)7, os quais não estavam disponíveis quando o relatório do ICSU foi preparado. Dentro da comunidade científica há um substancial consenso sobre a maioria das questões referentes à segurança de produtos transgênicos. Mas os cientistas discordam em algumas questões, havendo a necessidade de avanço do conhecimento em algumas áreas. Segurança alimentar – implicações As culturas transgênicas e alimentos derivados destes atualmente disponíveis têm sido considerados seguros para a alimentação e os métodos usados para testar sua segurança têm sido apropriados. Estas conclusões representam o consenso da evidência científica avaliada pelo ICSU (2003) e elas são consistentes com os pontos de vista da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002). Estes alimentos têm sido avaliados por diversas autoridades regulatórias mundiais (Argentina, Brasil, Canadá, China, Reino Unido e os Estados Unidos) quanto ao aumento de risco à saúde humana, usando seus próprios procedimentos nacionais de segurança alimentar (ISCU). A falta de evidência de efeitos negativos, entretanto, não significa que os novos alimentos transgênicos não apresentem riscos (ICSU, GM Science Review Penal). Os cientistas reconhecem que não se sabe o suficiente sobre os efeitos de longo prazo dos alimentos transgênicos e a maioria dos alimentos tradicionais. Será difícil no futuro avaliar os efeitos de longo prazo, devido a inúmeros fatores que podem confundir as avaliações, dentre eles a variabilidade genética dos alimentos e problemas na avaliação dos impactos do alimento completo. Além do mais, recentes e mais complexos alimentos transformados geneticamente podem ser mais difíceis de serem avaliados e podem aumentar a possibilidade de efeitos não-intencionais. Novas ferramentas como “fingerprinting” podem ser úteis na avaliação de alimentos completos quanto a alterações na composição dos não-intencionais (ICSU). As principais preocupações do ponto de vista de segurança alimentar associadas aos produtos transgênicos e alimentos deles derivados relacionam-se à possibilidade de aumento de alergênicos, toxinas e outros compostos perigosos, transferência horizontal de genes, particularmente genes resistentes a antibióticos, e outros efeitos não-intencionais (FAO, OMS, 2000). Muitas destas preocupações também aplicam-se às variedades vegetais desenvolvidas com o emprego de metodologias de melhoramentos convencionais e cultivadas com práticas agrícolas tradicionais (ICSU). Em adição a estas preocupações, existem benefícios diretos e indiretos à saúde humana associados aos alimentos transgênicos que devem ser avaliados de forma mais completa. Quadro 17 A natureza do risco e a análise de risco Risco é uma parte integrante do cotidiano. Nenhuma atividade é livre de riscos. Qualquer forma de agricultura impõe riscos aos agricultores, consumidores e ao meio-ambiente. A análise de risco consiste de três etapas: avaliação do risco, manejo do risco e comunicação do risco. A primeira avalia e compara a evidência científica referente aos riscos associados com atividades alternativas. O manejo do risco – que desenvolve estratégias para prevenir e controlar riscos dentro de limites aceitáveis – baseia-se na avaliação do risco levando em consideração vários fatores, como os econômicos e sociais. A comunicação do risco envolve um diálogo contínuo entre agentes reguladores e o público sobre o risco e opções para manejá-lo, de forma que decisões apropriadas possam ser tomadas. Risco é normalmente definido como “a probabilidade de dano”. Por outro lado, perigo é qualquer coisa que possa dar errado. O perigo não constitui em si próprio um risco. Conseqüentemente, a avaliação do risco envolve as três questões a seguir: O que pode dar errado? Qual a probabilidade de que isso ocorra? Quais são as conseqüências? O risco associado a qualquer ação depende dos três elementos da equação: Risco = perigo x probabilidade x conseqüências O conceito aparentemente simples de avaliação de risco é, de fato, bastante complexo e fundamenta-se em julgamento em adição à ciência. O risco pode ser subestimado caso alguns perigos não sejam adequadamente identificados e caracterizados, caso a probabilidade de ocorrência do perigo seja maior que a esperada ou se as conseqüências sejam mais severas que a esperadas. A probabilidade associada ao perigo também depende, em parte, da estratégia de manejo usada para controlá-lo. Na vida cotidiana, o risco significa diferentes coisas para pessoas diferentes, dependendo de sua experiência social, cultural e econômica. Pessoas que sobrevivem com dificuldade podem aceitar riscos mais facilmente que pessoas que vivem confortavelmente, caso acreditem que com isso terão a chance de uma vida melhor. Por outro lado, muitos agricultores pobres escolhem apenas tecnologias de baixo risco, porque operam à margem da sobrevivência e não podem se dar ao luxo de errar. Risco também significa coisas diferentes para a mesma pessoa em tempos diferentes, dependendo do assunto e da situação. As pessoas aceitam com mais facilidade riscos associados às atividades com as quais estejam familiarizadas, mesmo que os riscos sejam grandes. Na análise de risco, as seguintes questões devem ser mantidas em mente: Quem se arrisca e quem se beneficia? Quem avalia o dano? Quem decide quais são os riscos aceitáveis? Alergênicos e toxinas A tecnologia gênica – da mesma forma que o melhoramento tradicional – pode aumentar ou diminuir os níveis de proteínas de ocorrência natural, toxinas e outros compostos perigosos dos alimentos. Os alimentos produzidos tradicionalmente geralmente não são testados quanto à presença destas substâncias, embora elas ocorram naturalmente e possam ser afetadas pelo melhoramento tradicional. O uso de genes de fontes sabidamente alergênicas em experimentos de transformação deve ser desencorajado, e caso descubrase que um produto transformado impõe risco crescente de alergenicidade, seu uso deve ser descontinuado. Os alimentos transgênicos presentes hoje no mercado têm sido testados quanto à presença de níveis crescentes de alergênicos conhecidos e toxinas, e nenhuma foi encontrada até o momento (ICSU). Os cientistas concordam que estes testes-padrão devem ser continuamente avaliados e aperfeiçoados e que se deve ter cautela na avaliação de novos alimentos, inclusive aqueles derivados de plantas transgênicas (ICSU, GM Science Review Panel). Quadro 18 Padrões internacionais para facilitação do comércio Oportunidades para o comércio agrícola têm crescido de forma significativa ao longo dos últimos anos como resultado das reformas no comércio internacional na esfera da Organização Mundial do Comércio (OMC). A maior parte destas reformas concentra-se na redução de tarifas e subsídios em vários setores. O Acordo para Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (Acordo SPS) foi também adotado na esfera da OMC em 1994, entrando em vigor em 1995. Este acordo estabelece que os países mantenham o direito de assegurar que alimentos e produtos de origem animal e vegetal importados sejam seguros, e ao mesmo tempo estabelece que os países não devem usar medidas desnecessariamente severas como barreiras disfarçadas ao comércio. O Acordo SPS preocupa-se especificamente com os seguintes pontos: a proteção da vida animal e vegetal a partir do ingresso, estabelecimento e dispersão de pragas, doenças, organismos vetores ou causadores de doenças; a proteção da vida ou saúde humana e animal de riscos associados aos aditivos, contaminantes, toxinas e organismos causadores de doenças em alimentos, bebidas e componentes empregados na alimentação animal; a proteção da vida e saúde humana de riscos advindos de doenças transmitidas por animais, plantas e produtos derivados, ou a partir do ingresso, estabelecimento e disseminação de pragas; e a prevenção ou limitação de outros prejuízos que possam ocorrer com o ingresso, estabelecimento e disseminação de pragas. Para estabelecer requerimentos para medidas sanitárias e fitossanitárias, o Acordo SPS determina que os países devem empregar padrões internacionalmente aceitos. Para atender a este objetivo, três organismos internacionais estabelecedores de padrões são identificados: o Codex Alimentarius Commission para segurança alimentar, o International Office of Epizootics (OIE)1 para saúde animal e o CPPI para saúde vegetal. Pelo uso de padrões, os países podem alcançar um nível de proteção necessário para proteger a vida ou saúde humana, animal ou vegetal. Os países podem também adotar medidas diferentes dos padrões, mas nestes casos as medidas devem ser justificadas tecnicamente e fundamentadas em análise de risco. 1 Desde então renomeado Organização Mundial para Saúde Animal, embora a acronímia OIE tenha sido mantida. Quadro 19 Melhoramento convencional de plantas – preocupações com a saúde e o meio-ambiente Antes do surgimento da engenharia genética o melhoramento de plantas não estava sujeito às questões regulatórias. Normas para certificação de sementes asseguram a pureza e a qualidade das sementes, mas pouca atenção tem sido dedicada aos possíveis impactos de novas variedades vegetais derivadas do melhoramento convencional sobre a segurança alimentar e o meio-ambiente. O melhoramento convencional de plantas difere consideravelmente da seleção natural. A seleção natural cria sistemas biológicos elásticos; a seleção natural assegura o desenvolvimento de um organismo que contém propriedades que o tornam adaptado para uma gama de condições ambientais e asseguram a continuação da espécie. A seleção artificial e o melhoramento convencional de plantas rompem precisamente com estes sistemas elásticos, criando conseqüentemente combinações genéticas que raramente sobreviveriam na natureza. O melhoramento convencional tem sido responsável por alguns poucos casos de efeitos negativos sobre a saúde humana. Em um caso, níveis elevados de toxinas de ocorrência natural foram encontrados em uma cultivar de batata e, em outro caso, uma cultivar de aipo melhorada de forma convencional para resistência a insetos causou irritação dérmica quando colhida manualmente, sem proteção. Da mesma forma, os impactos potenciais de plantas convencionalmente melhoradas sobre o meio-ambiente ou sobre as variedades tradicionalmente empregadas pelos agricultores não têm sido objeto de controle regulatório, embora algumas das preocupações associadas com lavouras geneticamente modificadas sejam também aplicáveis às lavouras convencionais. A maior parte das plantas produtoras de alimento do mundo não é oriunda das principais regiões produtoras; ao invés disso, originaramse em poucos “centros de origem” e foram transferidas para novas áreas de produção através de dispersão e comércio. Plantas altamente domesticadas são cultivadas em todo o mundo e a dispersão para fora das áreas de cultivo apenas raramente causou problemas graves. Mesmo quando cultivadas em seus centros de origem, como as batatas na América do Sul ou o milho no México, os híbridos entre espécies cultivadas e silvestres não se estabeleceram de forma permanente. Há inúmeros relatos de fluxo gênico entre plantas cultivadas e seus parentes silvestres, mas em geral isto não tem sido considerado um problema. Fonte: DANIDA, 2002. Resistência a antibióticos A transferência horizontal de genes e resistência a antibióticos é uma preocupação do ponto de vista de segurança alimentar, porque muitos cultivos transgênicos de primeira geração foram criados usando-se genes marcadores resistentes a antibióticos. Se esses genes pudessem ser transferidos, de um produto alimentar para a célula do corpo ou para bactérias do trato intestinal, poderia levar ao desenvolvimento de raças de bactérias resistentes a antibióticos, com conseqüências adversas à saúde. Apesar dos cientistas acreditarem que a probabilidade de transferência seja extremamente pequena (GM Science Review Panel), o uso de genes resistentes a antibióticos foi desestimulado por painel de cientistas da FAO e OMS (2000) e outras organizações. Pesquisadores têm desenvolvido métodos para eliminar marcadores resistentes a antibióticos de plantas geradas pela engenharia genética (Quadro 20). Quadro 20 CIMMYT: Transformação com “gene limpo” Alessandro Pellegrineschi e David Hoisington1 Desde a introdução das plantas GMs, uma parte da sociedade civil tem expressado sua preocupação quanto aos genes com resistência a antibióticos e herbicidas usados como genes marcadores no desenvolvimento de plantas transgênicas. Eles citam perigos potenciais de natureza ecológica e sobre a saúde, especificamente a evolução de “super plantas daninhas” a partir da resistência a herbicidas e maior resistência dos patógenos humanos aos antibióticos. Embora a maioria dos cientistas acredita que estas preocupações sejam infundadas e nenhum perigo tenha se materializado, o desenvolvimento de transgênicos livres de gene marcador ajudaria a diluir tais preocupações e poderia contribuir para maior aceitação das lavouras transgênicas pelo público (Zuo et al., 2002). Inúmeros métodos capazes de criar plantas transformadas desprovidas de genes marcadores têm sido relatados como, por exemplo, a cotransformação (Stahl et al., 2002), elementos transponíveis (Rommens et al., 1992), recombinação sítio-específica (Corneille et al., 2001) e recombinação intra-cromossomal (De Vetten et al., 2003). O Centro Internacional de Melhoramento do Milho e Trigo (conhecido pela sua acronímia em espanhol, CIMMYT) está engajado em propiciar aos agricultores pobres de países em desenvolvimento as melhores opções para a implementação de sistemas sustentáveis para o milho e trigo. O CIMMYT acredita que, embora as lavouras GM não resolverão todos os problemas enfrentados pelos agricultores, a tecnologia tem grande potencial e deve ser avaliada. Os cientistas do CIMMYT desenvolveram e adaptaram uma técnica de transformação de trigo e milho para a produção de plantas geneticamente modificadas desprovidas de genes marcadores. Com esta técnica, dois fragmentos de DNA, um contendo o gene marcador e o outro contendo o gene de interesse, são introduzidos e integrados separadamente ao genoma. Durante o processo de seleção, estes genes são separados um do outro, permitindo a seleção das plantas que contenham apenas o gene de interesse. Os cientistas do CIMMYT testaram esta técnica simples usando o gene marcador bar e genes Bt, Cry1Ab e Cry 1Ba, e obtiveram com sucesso plantas sem o gene marcador, mas com o gene Bt e que expressaram altos níveis da toxina Bt. Plantas transgênicas foram morfologicamente idênticas às plantas não-transformadas e o atributo introduzido mostrou-se estável nas gerações seguintes. Esforços estão sendo envidados pelo Kenya National Agricultural Institute e a Syngenta Foundation for Sustainable Agriculture no sentido de transferir estes “eventos limpos” para variedades locais de milho no Kenya, oferecendo aos agricultores pobres uma opção adicional para o controle de insetos, e da forma que os agricultores mais conhecem – as sementes empregadas no plantio. Uma abordagem semelhante está sendo usada para melhorar outros atributos importantes, como a tolerância a estresses abióticos e teores de micronutrientes. Melhoria na tolerância a estresses, como períodos de estiagem, beneficiaria diretamente os agricultores, e plantas biologicamente fortificadas poderiam ter um impacto marcante na saúde das crianças dos países em desenvolvimento. 1 Os autores são, respectivamente, biologista celular e diretor do Centro de Biotenologia Aplicada do CYMMIT, no México. Outras alterações não-intencionais Outras alterações não-intencionais na composição dos alimentos podem ocorrer durante o melhoramento convencional e/ou tecnologia gênica. Análises químicas são normalmente usadas para testar se um alimento transgênico apresenta alterações em nutrientes conhecidos e substâncias tóxicas específicas. Cientistas reconhecem que modificações genéticas mais extensivas envolvendo transgenes múltiplos podem aumentar a probabilidade de outros efeitos não-intencionais e podem requerer testes adicionais (ICSU, GM Science Review Panel). Benefícios potenciais dos alimentos transgênicos à saúde Os cientistas geralmente concordam que a engenharia genética pode oferecer benefícios diretos e indiretos à saúde dos consumidores (ICSU). Os benefícios diretos podem advir do aumento da qualidade nutricional de alimentos (como o Golden Rice – Arroz Dourado), redução da presença de componentes tóxicos (como a mandioca com menor teor de cianeto) e pela redução da presença de componentes alergênicos de certos alimentos (como amendoim e trigo). No entanto, há a necessidade de demonstrar que níveis nutricionais significativos de vitaminas e outros nutrientes são geneticamente expressos e nutricionalmente disponíveis nos novos alimentos e que não há efeitos não-intencionais (ICSU). Benefícios indiretos à saúde podem advir da menor utilização de pesticidas, menor ocorrência de micotoxinas (causado por injúrias de insetos ou patógenos), maior disponibilidade de alimentos acessíveis e remoção de compostos tóxicos do solo. Esses benefícios diretos e indiretos precisam ser mais bem documentados (ISCU, GM Science Review Panel). Padrões internacionais segurança alimentar para análise de Na 26ª sessão da Codex Alimentarius Commission, que aconteceu entre 30 de junho e 07 de julho de 2003, acordos marcantes foram adotados sobre o princípio para avaliação dos alimentos derivados da biotecnologia moderna (FAO/OMS, 2003a), e em guidelines (recomendações) para a realização de testes que visam avaliar a segurança alimentar de alimentos derivados de plantas DNA-recombinantes (FAO/OMS, 2003b) e de alimentos produzidos com a utilização de microorganismos DNA-recombinantes (FAO/OMS 2003c). Um quarto documento sobre rotulagem permanece sob discussão. Esses guidelines do Codex indicam que as avaliações de biossegurança para um alimento transgênico devem ser conduzidas por meio de comparação com sua contraparte convencional, o qual é geralmente considerado mais seguro devido ao longo histórico de uso, focando nas similaridades e diferenças. Se alguma preocupação quanto à segurança for identificada, o risco associado deve ser caracterizado para determinar sua relevância na saúde humana. Isso começa com a descrição dos hospedeiros e organismos doadores e a caracterização da modificação genética. A avaliação de segurança subseqüente deve considerar fatores como toxicidade, tendências para provocar reações alérgicas típicas (alergenicidade), efeitos da alteração na composição de nutrientes-chave (antinutrientes) e metabólitos, estabilidade do gene inserido e modificação nutricional associada à modificação genética. Se na avaliação completa destes fatores for concluído que o alimento GM em questão é tão seguro quanto a sua contraparte convencional, o alimento é depois considerado seguro à alimentação. Críticos da abordagem comparativa argumentam que métodos não direcionais para analisar o conteúdo de todo o alimento são necessários para avaliar tanto os efeitos intencionais quanto os não-intencionais (ICSU). Os cientistas normalmente concordam que os alimentos modificados devem ser avaliados caso a caso, focando em um produto particular e não no processo pelo qual o alimento foi criado. Eles também concordam que a segurança de alimentos GM deve ser avaliada antes que sejam colocados no mercado, já que o monitoramento pósliberação é provavelmente mais difícil, dispendioso e os dados colhidos podem ser inúteis devido à complexa composição das dietas e variabilidade genética nas populações (ICSU). Princípios para a análise de risco de alimentos derivados da biotecnologia moderna Os Princípios definem a biotecnologia moderna como no Protocolo de Cartagena em Biossegurança e incluem a avaliação de risco, o manejo do risco e comunicação do risco. Os Princípios reconhecem que as abordagens para análise de riscos usadas para avaliar perigos químicos de substâncias como resíduos de pesticidas, contaminantes, aditivos alimentares e substâncias adicionadas durante o processamento são de difícil aplicação para alimentos completos. Os princípios para avaliação do risco deixam claro que avaliação de risco inclui avaliação da segurança com objetivo de verificar se um perigo está presente, seja ele nutricional ou outra preocupação de segurança e, caso esteja, informação sobre sua natureza e severidade deverá ser obtida. Eles refletem o conceito de equivalência substancial por meio do qual a avaliação da segurança deve incluir, mas não deve ser substituída por, uma comparação entre o alimento derivado da biotecnologia moderna e sua contraparte convencional. A comparação deve determinar similaridades e diferenças entre os dois. Uma avaliação de segurança deve considerar: a) os efeitos intencionais e não-intencionais; b) identificar perigos novos ou alterados c) identificar alterações relevantes para a saúde humana quanto aos nutrientes-chave. A avaliação da segurança deve ser feita caso a caso. Medidas de manejo do risco devem ser proporcionais ao risco. Elas devem levar em consideração, quando pertinente, “outras medidas legítimas” de acordo com as decisões gerais dos Codex Commission e os princípios de trabalho da Codex referentes à análise de risco (FAO/OMS, 2003d). Diferentes medidas de manejo do risco podem alcançar o mesmo objetivo. Aqueles encarregados em manejar o risco devem levar em consideração as incertezas identificadas na avaliação de risco e manejar tais incertezas. As medidas de manejo de risco poderiam incluir rotulagem de alimentos, condições para aprovação comercial, monitoramento pós-comercial e desenvolvimento de métodos para detectar ou identificar alimentos derivados da biotecnologia moderna. O rastreamento do produto pode também ser útil para a sutil operação de medida de manejo de risco. Os princípios para comunicação de risco baseiam-se na premissa de que uma comunicação efetiva é essencial em todas as fases de avaliação de risco e seu manejo. Deve ser um processo interativo, que estimule a participação do público em geral. Os processos devem ser transparentes, totalmente documentados e abertos à avaliação pública ao mesmo tempo em que respeita preocupações legítimas quanto às informações comerciais confidenciais. Relatórios de avaliação de segurança e outros aspectos do processo de tomada de decisão devem estar disponíveis ao público. Processos de consulta responsiva devem ser criados. Guideline para a avaliação da segurança alimentar de alimentos derivados de plantas DNA-recombinantes O guideline para avaliação da segurança alimentar de alimentos derivados de plantas DNA-recombinantes foi também adotado na 26ª sessão (julho 2003). O guideline foi criado para dar suporte aos Princípios de análise de risco de alimentos derivados da biotecnologia moderna. Ele descreve a abordagem recomendada para a realização de testes de segurança de alimentos derivados de plantas DNA-recombinantes sempre que existe uma contraparte convencional. A contraparte convencional é definida como “uma variedade vegetal relacionada, seus componentes e/ou produtos para os quais há experiência em estabelecimento de segurança baseado no uso comum como alimento”. As técnicas descritas no guideline podem ser aplicadas para alimentos derivados de plantas que tenham sido alteradas por outras técnicas além da biotecnologia moderna. O guideline fornece uma introdução e explica o porquê dos testes de segurança alimentar de plantas DNAreombinantes, fazendo distinções com testes convencionais de avaliação de risco toxicológico para compostos individuais em estudos animais. O “objetivo da avaliação é uma conclusão se o novo alimento é tão seguro e se não é menos nutricional do que a contraparte convencional com o qual está sendo comparado”. O guideline indica que a equivalência substancial não é uma avaliação de segurança per si. Pelo contrário, ela representa o ponto de partida para estruturação da avaliação da segurança alimentar relativa à contraparte convencional. Equivalência substancial é usada para identificar similaridades e diferenças entre o novo alimento e a contraparte convencional. A avaliação da segurança depois avalia a segurança das diferenças identificadas, levando em consideração efeitos não-intencionais resultantes da modificação genética. Responsáveis pelo manejo do risco subseqüentemente julgam tal fato e estabelecem medidas apropriadas para o manejo do risco. Guideline para a avaliação da segurança alimentar de alimentos produzidos com o emprego de microrganismos DNA-recombinantes O guideline tem também o papel de prover orientação sobre os procedimentos para avaliação de segurança dos alimentos que são produzidos com o uso de microrganismos DNA-recombinante, baseado na visão de avaliação de risco mencionada anteriormente nos Princípios. O ponto interessante no caso dos microrganismos com DNA-recombinante é que a comparação é recomendada não apenas entre os microrganismos com DNA-recombinante e sua contraparte convencional (microrganismos), mas também entre os alimentos produzidos pelo uso deles e os alimentos originais. Quadro 21 Plantas geneticamente modificadas para ração animal Plantas geneticamente modificadas, produtos delas derivados e enzimas derivadas de microrganismos geneticamente modificados são largamente empregados em rações animais. O mercado global destes alimentos é estimado em aproximadamente 600 milhões de toneladas. São usados principalmente para aves, porcos e vacas leiteiras e são formulados a partir de uma gama de materiais brutos, incluindo milho e outros cereais e sementes oleaginosas como soja e canola. Atualmente, estima-se que 51 porcento da área global com soja, assim como 12 porcento de canola e 9 porcento do milho (usado como milho inteiro e sub-produtos como o glúten), sejam geneticamente modificados (James, 2002a). No Canadá, Estados Unidos e outros países, avaliações de segurança de novos alimentos para alimentação animal examinam a composição e características moleculares, toxicológicas e nutricionais, comparando-as com a contraparte convencional. As considerações incluem os efeitos sobre o animal que ingere a ração e sobre consumidores que ingerem os produtos animais derivados, segurança dos trabalhadores e outros aspectos ambientais resultantes do emprego do alimento animal. Além disso, comparações da composição nutricional e outros aspectos relacionados à saúde entre rações animais contendo componentes transgênicos e convencionais têm sido o objeto de muitos estudos. As principais preocupações quanto ao uso de produtos GM em rações animais referem-se à possibilidade do DNA modificado da planta ser transferido para a cadeia alimentar com conseqüências danosas, e se genes marcadores de resistência a antibióticos usados no processo de transformação poderiam ser transferidos para bactérias do trato digestivo animal e, posteriormente, transferidos para bactérias patogênicas ao homem. Como o processo de produção de enzimas usadas em ração animal ocorre sob condições controladas, em instalações com tanques de fermentação em ambiente fechado, e como o DNA modificado é eliminado do produto final, estes produtos não apresentam risco ao animal ou ao meio-ambiente. A enzima fitase traz benefícios específicos na alimentação de porcos e aves, incluindo acentuada redução na quantidade de fósforo liberado no meio-ambiente. Pesquisadores têm examinado os efeitos do processamento de rações sobre o DNA para verificar se o DNA modificado permanece intacto e move-se para a cadeia alimentar. Foi descoberto que o DNA não é extensamente fragmentado em material com plantas não-processadas e silagem, permanecendo parcial ou totalmente intacto. Isto significa que se os animais forem alimentados com plantas GM, estariam provavelmente ingerindo DNA modificado. Para avaliar se o DNA modificado ou proteínas derivadas consumidas por animais tem o potencial de afetar a saúde animal ou entrar na cadeia alimentar, é necessário considerar o destino destas moléculas dentro do animal. Digestão dos ácidos nucléicos (DNA e ácido ribonucléico, RNA) ocorre através da ação de nucleases presentes na boca, pâncreas e secreções intestinais. Em ruminantes, degradação adicional da ração ocorre por ação microbiana e métodos físicos. Evidências sugerem que mais de 95 porcento do DNA e RNA são completamente desintegrados pelo sistema digestivo. Adicionalmente, pesquisa conduzida sobre a digestão de proteínas transgênicas em cultura in vitro demonstrou que, na presença da enzima pepsina, digestão praticamente completa ocorreu em 5 minutos. Mais preocupante é se pode haver transferência da resistência a antibióticos dos genes marcadores usados na produção de plantas GM para microrganismos dos animais e, dali, para bactérias patogênicas ao homem. Uma revisão delegada pela FAO concluiu que este acontecimento é extremamente improvável (Chambers e Heritage, 2004). Entretanto, este trabalho concluiu que marcadores que codificam para resistência a antibióticos clinicamente importantes, críticos para o tratamento de doenças infecciosas em humanos, não devem ser usados no desenvolvimento de plantas transgênicas. MacKenzie e McLean (2002) revisaram 15 estudos, publicados entre 1995 e 2001, sobre alimentação de gado leiteiro, gado para produção de carne, suínos e aves. As rações estudadas foram soja e milho, resistentes a insetos e/ou herbicidas. Estes animais foram alimentados com produtos transgênicos ou convencionais por períodos que variaram de 35 dias para aves a até dois anos para gado para produção de carne. Nenhum destes estudos encontrou efeitos adversos nos animais alimentados com produtos transgênicos, para nenhum dos parâmetros avaliados, que incluíram composição nutricional, peso vivo, ingestão alimentar, conversão alimentar, produção de leite, composição do leite, fermentação no rúmen, taxa de crescimento ou características da carcaça. Em dois destes estudos observou-se ligeira melhoria na taxa de conversão alimentar para animais alimentados com milho resistente a insetos, possivelmente devido às menores concentrações de aflatoxinas, que são anti-nutrintes resultantes do ataque de insetos. Em resumo, pode-se concluir que são negligenciáveis os riscos à saúde humana e animal advindo do uso na alimentação animal de plantas GM e enzimas derivadas de microrganismos geneticamente modificados. Entretanto, alguns países requerem a rotulagem indicativa da presença de material GM em importados e produtos derivados desta tecnologia. O texto do Codex em discussão referente à rotulagem de alimentos geneticamente modificados Em adição aos princípios e guidelines acima, o Rascunho do guideline para rotulagem de alimentos obtidos por meio de certas técnicas de modificação genética / engenharia genética (FAO/OMS, 2003e) ainda está na fase inicial de discussão e em muitos trechos do documento não houve consenso para o texto. O guideline está sendo proposto para aplicação na rotulagem de alimentos e ingredientes de alimentos em três situações: (1) diferença significativa da contraparte convencional; (2) composto de ou que contenha organismos GM/GE ou que contenha proteína ou DNA resultante da tecnologia gênica e, (3) quando são produzidos a partir de organismos GM/GE, mas não contenham organismos, proteína ou DNA advindo da tecnologia gênica. De acordo com o ICSU, cientistas não concordam plenamente sobre o papel apropriado da rotulagem. Apesar da rotulagem obrigatória ser tradicionalmente empregada para auxiliar os consumidores a identificar os alimentos que possam conter alergênicos ou outras substâncias potencialmente prejudiciais, os rótulos são também usados para ajudar consumidores que queiram selecionar certos alimentos com base no modo de produção, no meioambiente (como os orgânicos), na ética (como o comércio justo) ou na religião (como os alimentos Kosher). Os países divergem em relação às informações que devam ser obrigatórias ou permitidas nos rótulos. De acordo com o ICSU, “a rotulagem dos alimentos como GM ou não-GM possibilita a escolha do consumidor em relação ao processo pelo qual os alimentos são produzidos, mas não apresenta qualquer informação sobre o conteúdo dos alimentos e se estes apresentam ou não algum risco e/ou benefícios”. O ICSU sugere que informação adicional na rotulagem dos alimentos, que expliquem o tipo de transformação e informe qualquer mudança na composição, poderia ajudar os consumidores a julgar os riscos e benefícios de alimentos específicos (o capítulo 6 contém uma discussão mais completa sobre rotulagem). Implicações ambientais Qualquer tipo de agricultura – subsistência, orgânica ou intensiva – afeta o meio-ambiente, portanto é natural que se espere que o uso de novas técnicas genéticas na agricultura irá também afetar o meio-ambiente. O ICSU, o GM Science Review Panel e o Nuffield Council on Bioethics, dentre outros, concordam que o impacto ambiental de plantas geneticamente transformadas pode ser positivo ou negativo, dependendo de como e onde elas são usadas. A engenharia genética pode acelerar os efeitos prejudiciais da agricultura ou contribuir para práticas agrícolas mais sustentáveis e para a conservação dos recursos naturais, incluindo biodiversidade. As preocupações ambientais associadas ao cultivo de transgênicos são sintetizadas abaixo, junto com o conhecimento científico atual sobre o assunto. A liberação de plantas transgênicas no meio-ambiente pode trazer efeitos diretos, dentre eles: transferência de genes para parentes selvagens ou plantas convencionais, capacidade de ação como planta daninha, efeitos negativos em espécies não-alvo, e outros efeitos não-intencionais. Esses riscos são similares para transgênicos e culturas obtidas por melhoramento convencional (ISCU). Apesar dos cientistas divergirem quanto aos riscos, eles concordam que os impactos ambientais precisam ser avaliados caso a caso e recomendam monitoramento ecológico pós-liberação para detectar qualquer ocorrência inesperada (ISCU, Nuffield Council, GM Science Review Panel). Culturas transgênicas podem também gerar efeitos positivos ou negativos indiretos no meio-ambiente por meio das mudanças nas práticas agrícolas, tais como o uso de pesticidas ou herbicidas e sistemas de cultivo. Árvores transgênicas envolvem preocupação ambiental similar, embora existam preocupações adicionais devido ao seu longo ciclo de vida. Os microrganismos transgênicos usados no processamento alimentar são normalmente usados sob condições controladas e, geralmente, considera-se que não impõem riscos ao meio-ambiente. Alguns microrganismos podem ser usados no meioambiente como agentes de controle biológico ou na bioremediação de danos ambientais (como os vazamentos de óleo), e seus efeitos ambientais devem ser avaliados antes da liberação. As preocupações ambientais relacionadas aos peixes transgênicos focam principalmente em seu potencial de cruzamento com parentes silvestres e a capacidade de tornarem-se mais competitivos que estes (ISCU). Animais transgênicos de fazenda seriam provavelmente usados em condições de confinamento intenso, de forma que apresentariam pequeno risco de dano ambiental (NRC 2002) (Quadro 22). Quadro 22 Preocupações ambientais com relação aos animais geneticamente modificados Nenhum animal GM está sendo atualmente utilizado comercialmente em qualquer parte do mundo (Capítulo 2), mas muitas espécies domesticadas e aquáticas estão sendo estudadas para inúmeros atributos transgênicos. Estudos a respeito das preocupações potenciais com o meio-ambiente associadas aos animais GM foram recentemente conduzidos pelo United States National Research Council (NRC, 2002), o United Kingdom Agriculture and Environment Biotechnology Commission (AEBC, 2002) e o Pew Initiative on Food and Biotechnology (Pew Initiative, 2003). Estes estudos concluíram que animais GM podem ter efeitos positivos ou negativos no meio-ambiente, dependendo do animal em consideração, atributo e ambiente de produção no qual seriam introduzidos. As principais preocupações ambientais associados com os animais envolvem: (a) a possibilidade que animais transgênicos escapem, causando efeitos negativos nos parentes silvestres ou ecossistema, e (b) alterações potenciais nas práticas de produção que possam levar a graus variáveis de estresse ambiental. Estes relatórios recomendam que animais GM devem ser avaliados em relação às contrapartes convencionais. Os três estudos concordam que animais transgênicos devem ser avaliados quanto à habilidade de escape e estabelecimento em diferentes ambientes. O NRC e o AEBC concordam que os impactos ambientais adversos são menos prováveis para raças domesticados do que para peixes, porque a maioria das espécies animais das fazendas não tem parentes silvestres, e a reprodução dos mesmos é confinada aos rebanhos manejados. O perigo de tornar selvagem é baixo para gado, ovelhas e galinhas domésticas, que são menos móveis e altamente domesticados, porém maior para cavalos, camelos, coelhos, cachorros e animais de laboratório (ratos e camundongos). São conhecidos casos de cabras, porcos e gatos nãotransgênicos que se tornaram selvagens, causando danos extensivos às comunidades ecológicas (NRC, 2002). Animais transgênicos domesticados seriam particularmente valiosos e, conseqüentemente, seriam cuidadosamente mantidos em ambientes controlados. Por outro lado, peixes mantidos em cativeiros são naturalmente móveis e cruzam facilmente com espécies silvestres. O relatório da AEBC recomenda que os peixes transgênicos não deveriam ser criados em cativeiros a pequena distância de cursos d’água devido à elevada probabilidade de fuga. O estudo do Pew Initiative chama atenção para o fato de que o impacto da fuga de peixes de cativeiro, tanto melhorados por transgenia quanto por meio convencional, depende da “adaptabilidade líquida” comparada com espécies silvestres. O relatório argumenta que atributos transgênicos poderiam aumentar ou diminuir a adaptabilidade líquida de espécies, e recomenda que os peixes transgênicos sejam cuidadosamente avaliados e regulados de forma integrada e transparente. Animais transgênicos também poderiam levar a impactos ambientais através de alterações nos próprios animais ou nas práticas de manejo associadas a estes. Modificações transgênicas poderiam reduzir a quantidade de esterco e emissões de metano produzidas por animais domesticados e espécies aquáticas mantidas pelo homem (AEBC, 2002; Pew Initiative, 2003), ou aumentar a resistência destes às doenças (levando a menor uso de antibióticos). Por outro lado, algumas modificações genéticas poderiam resultar em uma produção mais intensiva de animais, levando ao aumento de poluentes ambientais. Por conseguinte, a questão de dano ao meio-ambiente é menos uma questão da tecnologia propriamente dita do que da capacidade de manejá-la. Um fator adicional a ser considerado na biotecnologia animal é o possível efeito sobre o bem estar destes. Os efeitos podem ser positivos ou negativos, e devem ser avaliados através de comparações com práticas convencionais de manejo das criações. No presente, a produção de animais transgênicos e clonados é extremamente ineficiente, com elevada mortalidade durante os estágios embrionários iniciais, e a taxa de sucesso tem sido de apenas 1 a 3 porcento. Dentre os animais transgêncios que chegam a nascer, os genes inseridos podem funcionar diferentemente do esperado, resultando normalmente em anormalidades anatômicas, fisiológicas e comportamentais (NRC, 2002). Bovinos produzidos por métodos de clonagem tendem a apresentar períodos de gestação mais longos e pesos de nascimento mais elevados, resultando em taxas mais altas de partos através de Cesarianas (NRC, 2002; AEBC, 2002). Tais problemas também podem ocorrer com animais produzidos através de inseminação artificial, devendo as avaliações ser conduzidas no contexto de outras tecnologias reprodutivas usadas na produção de animais (AEBC, 2002). No que se refere aos efeitos potenciais sobre o bem estar dos animais, o relatório da AEBC recomenda que todas as tecnologias usadas na pecuária devem ser comparadas através de considerações econômicas e ambientais. Fluxo gênico Os cientistas concordam que o fluxo gênico a partir de lavouras GM é possível por meio do pólen de variedades de polinização aberta, fecundando plantas locais ou parentes selvagens. Uma vez que o fluxo gênico acontece há milênios entre raças de ocorrência natural e plantas convencionalmente melhoradas, é razoável esperar que o mesmo possa acontecer com plantas transgênicas. Os cultivos variam em sua tendência de cruzamento, e a habilidade de cruzamento depende da presença de parentes selvagens ou plantas cultivadas sexualmente compatíveis, condição esta que varia de acordo com a localização (Quadro 23) (ICSU, GM Science Review Panel). Os cientistas não concordam plenamente quanto à relevância do fato de poder haver fluxo gênico entre lavouras transgênicas e parentes selvagens (ISCU, GM Science Review Panel). Se o híbrido formado pelo cruzamento entre transgênico/selvagem tivesse alguma vantagem competitiva sobre a população selvagem, ele poderia persistir no meio-ambiente e potencialmente desequilibrar o ecossistema. De acordo com o GM Science Review Panel, na hibridização entre plantas transgênicos e parentes selvagens parece “altamente provável que haja a transferência de genes que sejam vantajosos no ambiente agrícola, mas que não prosperarão no ambiente selvagem... Além do mais, jamais nenhum híbrido entre qualquer planta cultivada e qualquer parente selvagem tornou-se invasor no meio selvagem do Reino Unido” (GM Science Review Panel, 2003: 19). É passível de debate se o fluxo de transgenes para raças de ocorrência natural ou outras variedades convencionais constituiria por si só um problema ambiental, porque plantas convencionais há muito interagem desta forma com raças de ocorrência natural (ICSU). É preciso pesquisas para avaliações mais precisas das conseqüências do fluxo gênico, particularmente a longo prazo, e para entender melhor o fluxo gênico entre as principais plantas cultivadas e raças de ocorrência natural em centros de diversidade (ISCU, GM Science Review Panel). Há situações em que uma planta cultivada ou seu híbrido estabelece-se como uma planta daninha em outras lavouras ou como espécie invasora em outros habitats. Os cientistas concordam que há apenas um diminuto risco de plantas domésticas tornarem-se daninhas porque os atributos que fazem delas desejáveis como plantas cultivadas geralmente as fazem menos aptas para a sobrevivência e reprodução na vida selvagem (ICSU, GM Science Review Panel). Plantas daninhas que hibridizam com plantas resistentes a herbicidas têm o potencial de adquirir o atributo de tolerância a herbicidas, apesar de que tal fato proveria uma vantagem apenas na presença de herbicidas (ICSU, GM Science Review Panel). De acordo com o GM Science Review Panel, “ensaios de campo detalhados com diversas lavouras GM em diferentes ambientes têm demonstrado que os atributos transgênicos investigados – tolerância a herbicidas e resistência a insetos – não aumentam significativamente a adequação destas plantas em habitats semi-naturais (GM Science Review Panel, 2003: 19). Alguns atributos transgênicos, tais como resistência a insetos ou doenças, poderiam fornecer uma vantagem adaptativa, mas há pouca evidência até o momento que isso aconteça ou que tenha conseqüências ambientais negativas (ICSU, GM Science Review Panel). Mais evidências são necessárias quanto ao efeito de atributos que aumentam a adaptabilidade no que tange à capacidade de invasão (GM Science Review Panel). Estratégias de manejo e métodos genéticos estão sendo desenvolvidas para minimizar a possibilidade de fluxo gênico. O isolamento completo de plantas cultivadas em escala comercial, seja GM ou não-GM, atualmente não é prático apesar do fluxo gênico poder ser minimizado, como atualmente tem ocorrido entre variedades de canola cultivadas para alimentação humana, alimentação animal ou óleos industriais (GM Science Review Panel). Estratégias de manejo incluem evitar o plantio de plantas transgênicas em seus centros de biodiversidade ou onde parentes selvagens estejam presentes, ou emprego de zonas tampão para isolar variedades transgênicas das variedades convencionais ou orgânicas. A engenharia genética pode ser usada para alterar períodos de florescimento com o objetivo de prevenir polinização cruzada, para garantir que os transgenes não sejam incorporados ao pólen, e através do desenvolvimento de variedades transgênicas estéreis (ICSU e Nuffield Council). O GM Science Review Panel e outros organismos especializados recomendam que lavouras GM que produzam substâncias de interesse médico ou industrial sejam projetadas e desenvolvidas de modo que evitem o fluxo gênico para plantas produtoras de alimentos (GM Science Review Panel). Quadro 23 A visão de um ecologista a respeito do fluxo gênico de lavouras transgênicas Allison A. Snow1 A maior parte dos cientistas em ecologia concorda que o fluxo gênico não é um problema ambiental, a menos que resulte em conseqüências indesejáveis. No curto prazo, a difusão de resistência transgênica a herbicidas por meio de fluxo gênico pode criar problemas logísticos e/ou econômicos aos agricultores. No longo prazo, transgenes que conferem resistência a pragas e estresse ambiental e/ou levem a maior produção de sementes têm a maior probabilidade de auxiliar espécies daninhas ou afetar espécies não-alvo. Entretanto, estas ocorrências parecem improváveis para a maioria das plantas transgênicas atualmente cultivadas. Muitos atributos transgênicos são provavelmente inócuos do ponto de vista ambiental, e alguns poderiam resultar em práticas agrícolas mais sustentáveis. Com o objetivo de documentar vários riscos e benefícios, é necessário que pesquisadores e outros envolvam-se no estudo de plantas transgênicas. Da mesma forma, é crucial que biólogos moleculares, melhoristas de plantas e o setor industrial melhorem a sua compreensão acerca das questões ecológicas e evolucionárias referentes à segurança de novas gerações de plantas transgênicas. A presença de parentes selvagens e parentes com potencial daninho varia entre países e regiões. O quadro mostra exemplos de grandes culturas agrupadas pela habilidade de dispersão de pólen e ocorrência de parentes daninhos na porção continental dos Estados Unidos. Esta simples matriz 2 x 2 pode ser útil na identificação de casos onde o fluxo gênico de uma lavoura transgênica para um parente selvagem é provável. Para culturas em que parentes selvagens ou daninhos não crescem nas proximidades – como é o caso de soja, algodão e milho, aqui marcados de verde – o fluxo gênico para a meio selvagem não ocorreria. Arroz, sorgo e trigo têm parentes silvestres nos Estados Unidos e uma baixa tendência de cruzamento, o que poderia permitir a dispersão de transgenes para populações selvagens. As culturas que apresentam elevada tendência de cruzamento e têm parentes silvestres nos Estados Unidos estão marcados com a cor vermelha. Há um grande potencial para o fluxo gênico entre estas culturas e os seus parentes silvestres, de forma que cuidados deveriam ser tomados quando do cultivo de variedades transgênicas que pudessem conferir vantagem competitiva aos híbridos gerados. 1 Dr Snow é professor do Departamneto de Evolução, Ecologia e Biologia de Organismos da Ohio State University, Estados Unidos. Efeitos do atributo sobre espécies não-alvo Alguns atributos transgênicos - como as toxinas com ação inseticida expressas por genes Bt - podem afetar espécies não-alvo além das pragas que se deseja controlar (ICSU). Os cientistas concordam que isto poderia ocorrer, mas eles descordam sobre o quão provável o seria (ICSU, GM Science Review Panel). A controvérsia em torno da borboleta Monarca (Quadro 24) demonstrou que é difícil extrapolar estudos de laboratório para condições de campo. Ensaios de campo têm demonstrado diferenças na estrutura da comunidade microbiana do solo entre plantas Bt e não-Bt, mas as diferenças estão dentro da faixa normal de variação encontrada entre cultivares da mesma planta e não fornecem evidência convincente que lavouras Bt poderiam ser, a longo prazo, prejudiciais à saúde do solo (GM Science Review Panel). Embora até o momento efeitos adversos significativos sobre organismos silvestres não-alvo ou sobre a saúde do solo não tenham sido observados sob condições de campo, os cientistas estão em desacordo no que diz respeito ao volume de evidências necessário para demonstrar que o cultivo de lavouras Bt é sustentável no longo prazo (GM Science Review Panel). Os cientistas concordam que os possíveis impactos sobre espécies não-alvo devem ser monitorados e comparados com os efeitos de outras práticas agrícolas, como o emprego de pesticidas (GM Science Review Panel). Eles reconhecem que precisam aperfeiçoar métodos para estudos ecológicos sob condições de campo, incluindo o levantamento de dados básicos com os quais devem ser comparadas as novas plantas (ICSU). Quadro 24 O milho Bt mata a borboleta Monarca? John Losey, um entomologista da universidade Cornell, publicou um artigo científico na revista Nature, que parecia provar que o pólen de milho Bt matava lagartas da borboleta Monarca (Losey, Rayor e Carter, 1999). Losey e seus colegas encontraram que, em laboratório, lagartas da borboleta morriam quando alimentadas com pólens de uma variedade comercial de milho Bt, quando espalhados sobre folhas da planta conhecida como milkweed. Seis equipes independentes de pesquisadores conduziram estudos posteriores a respeito dos efeitos do pólen de milho Bt sobre lagartas da borboleta Monarca, cujos resultados foram publicados em 2001 no Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. Embora estes estudos concordassem que o pólen usado no estudo original era tóxico em elevadas doses, eles encontraram que o risco oferecido pelo pólen do milho Bt às lagartas da borboleta Monarca é negligenciável sob condições de campo. Eles pautaram suas conclusões em quatro fatos: (a) a toxina Bt é expressa em doses muito baixas no pólen da maioria das variedades comerciais de milho Bt, (b) milho e milkweed (o alimento usual de lagartas da borboleta Monarca) normalmente não são encontrados juntos no campo, (c) sob condições de campo há uma limitada sobreposição entre o período de liberação de pólen pelas plantas de milho e o período de atividade das lagartas e (d) sob condições de campo, a quantidade de pólen provavelmente consumida pelas lagartas não é tóxica. Os estudos concluíram que o risco de dano imposto às lagartas da borboleta monarca pelo pólen de milho Bt é muito baixo, particularmente quando comparado com outras ameaças, como os pesticidas convencionais e períodos de estiagem (Conner, Glare e Nap, 2003). Muitos cientistas estão frustrados pela forma como a controvérsia envolvendo a borboleta Monarca e outros assuntos relacionados à biotecnologia foram explorados pela mídia. Embora o estudo original tenha recebido atenção da mídia em todo o mundo, os estudos seguintes que o refutaram não receberam a mesma cobertura. Como resultado, muitas pessoas não estão cientes que o milho Bt apresenta risco muito baixo à borboleta Monarca (Pew Initiative, 2002a). Efeitos ambientais indiretos Cultivos transgênicos podem ter efeitos ambientais indiretos como resultado das mudanças nas práticas agrícolas ou ambientais associadas com essas novas variedades. Esses efeitos indiretos podem ser benéficos ou danosos, dependendo da natureza das mudanças envolvidas (ICSU, GM Science Review Panel). Os cientistas concordam que o uso de pesticidas e herbicidas convencionais tem danificado habitats de pássaros, plantas silvestres e insetos, e tem reduzido seus números de forma intensa (ICSU, GM Science Review Panel, Royal Society). Cultivos transgênicos estão mudando as práticas relacionadas aos químicos, padrões de uso de terra e cultivo, mas os cientistas não concordam plenamente se o efeito líquido dessas mudanças seria positivo ou negativo para o meio-ambiente (ICSU). Cientistas reconhecem que são necessárias mais análises comparativas das novas tecnologias e atuais práticas agrícolas. Uso de pesticidas O consenso científico é de que o uso de cultivos Bt resistentes a insetos está reduzindo o volume e a freqüência de uso de inseticidas em milho, algodão e soja (ICSU). Esses resultados têm sido especialmente significantes para algodão na Austrália, China, México África do Sul e Estados Unidos (Capítulo 4). Os benefícios ambientais incluem menos contaminação de fontes de água e menos danos aos insetos não-alvo (ICSU). O menor emprego de inseticidas sugere que plantas Bt seriam geralmente benéficas para a biodiversidade presente nas lavouras, em comparação com lavouras convencionais que recebem aplicações regulares de pesticidas de amplo espectro, embora esses benefícios possam ser reduzidos se aplicações suplementares de inseticidas fizerem-se necessárias (GM Science Review Panel). Como resultado do menor número de pulverizações de químicos em algodão, benefícios palpáveis em termos de saúde dos trabalhadores das propriedades rurais têm sido documentados na China (Pray et al., 2002) e África do Sul (Bennett, Morse e Ismael, 2003). Uso de herbicidas O uso de herbicidas está mudando como resultado da rápida adoção dos cultivos TH - tolerantes a herbicidas (ICSU). Tem havido uma marcante mudança no sentido de substituição de herbicidas mais tóxicos por produtos menos tóxicos, mas o uso total de herbicidas tem aumentado (Traxler, 2004). Os cientistas concordam que cultivos TH estão encorajando a adoção de cultivos com menos perturbação do solo, resultando em benefícios para a conservação do mesmo (ICSU). Pode haver benefícios potenciais para a biodiversidade se mudanças no uso de herbicidas possibilitarem a emergência e maior permanência das plantas daninhas nas lavouras, fornecendo habitats para pássaros e outras espécies, embora esses benefícios sejam especulativos e até o momento não têm sido demonstrados de forma irrefutável nos ensaios de campo (GM Science Review Panel). Contudo, há a preocupação que o maior uso de herbicidas – mesmo que produtos menos tóxicos – de alguma forma prejudique os habitats dos pássaros e outras espécies (ICSU). A Royal Society publicou os resultados de extensivas avaliações, realizadas no Reino Unido em escala de campo, dos impactos de milho transgênico TH, canola e beterraba açucareira sobre a biodiversidade. Esses estudos mostraram que o principal efeito desses cultivos transgênicos comparados com práticas convencionais de cultivo foi na vegetação de plantas daninhas, com conseqüente efeitos sobre herbívoros, polinizadores e outras populações que nelas se alimentam. Esses grupos foram afetados negativamente no caso de beterraba açucareira TH, positivamente afetados no caso do milho e não houve efeitos na canola. Eles concluíram que a comercialização desses cultivos teria uma faixa de impactos na biodiversidade das lavouras, dependendo da eficácia relativa do transgênico e regime de herbicidas convencionais e do poder de tamponamento fornecido pelos campos ao redor (Royal Society, 2003:1912). Os cientistas reconhecem que as evidências são insuficientes para prever os impactos de longo prazo que cultivos TH teria sobre populações de plantas daninhas e sobre a biodiversidade associada às plantas daninhas no contexto das lavouras (GM Science Review Panel). Resistência de pragas e plantas daninhas Os cientistas concordam que o uso extensivo ao longo do tempo de cultivos Bt, e de glifosato e glufosinato, os herbicidas associados com cultivos TH, podem promover o desenvolvimento de insetos e plantas daninhas resistentes (ICSU, GM Science review Panel). Problemas similares têm rotineiramente ocorrido com cultivos e pesticidas convencionais e, embora a proteção conferida por genes Bt pareça ser particularmente robusta, não há razões para assumir que pragas resistentes não se desenvolverão (GM Science Review Panel). Em todo o mundo, mais de 120 espécies de plantas daninhas desenvolveram resistência aos herbicidas predominantemente usados com cultivos TH, embora a resistência não esteja necessariamente associada às variedades transgênicas (ICSU, GM Science review Panel). Devido ao provável desenvolvimento de pragas e plantas daninhas resistentes caso o Bt, glifosato e glufosinato sejam excessivamente utilizados, os cientistas aconselham que estratégias de manejo de resistência sejam usadas quando plantas transgênicos são cultivadas (ICSU). Com relação às estratégias de manejo de resistência, os cientistas discordam quanto à forma eficiente como seriam utilizadas, particularmente nos países em desenvolvimento (ICSU). A extensão e a possível severidade de impactos de pragas ou plantas daninhas resistentes no ambiente são assuntos de debate (GM Science Review Panel). Tolerância aos estresses abióticos Como visto no Capítulo 2, novas plantas transgênicas tolerantes a vários estresses abióticos (como sal, seca, alumínio) estão sendo desenvolvidas visando permitir que agricultores cultivem solos previamente inaptos para a prática agrícola. Cientistas concordam que esses cultivos podem ser benéficos para o ambiente ou deletérios, dependendo do cultivo em particular, atributo e ambiente (ICSU). Avaliação do impacto ambiental Há um forte consenso de que os impactos ambientais dos transgênicos e outros organismos vivos modificados (ex. sementes transgênicas) devem ser avaliados através de procedimentos de avaliação de risco com base científica, caso a caso, dependendo da espécie, atributo e agroecossistema. Os cientistas também concordam que liberações no meio-ambiente de organismos transgênicos devem ser comparadas com outras práticas agrícolas e opções tecnológicas (ICSU e Nuffield Council). Conforme visto anteriormente, procedimentos para avaliação da segurança alimentar estão bem desenvolvidos, e a FAO/OMS Codex Alimentarius Comission fornece um fórum internacional para o desenvolvimento de regras de segurança alimentar para alimentos transgênicos. Em contraste, não há regras internacionalmente aceitas e padrões para avaliação do impacto ambiental de organismos transgênicos (ICSU). Os cientistas concordam que são necessárias metodologias regional e internacionalmente harmonizadas e padrões para avaliação ambiental em diferentes ecossistemas (ICSU; FAO, 2004). O papel dos organismos internacionais regulamentadores em promover diretrizes para análises de risco é descrito abaixo. De acordo com o ICSU, órgãos reguladores de diferentes países necessitam de tipos similares de dados para avaliações de impacto ambiental, mas eles diferem na interpretação desses dados e naquilo que constituiria um risco ou dano ambiental. Os cientistas também diferem sobre qual deve ser a base de comparação apropriada: sistemas agrícolas atuais e/ou dados ecológicos (ICSU). Uma consulta aos especialistas pela FAO (2004) mostrou que os impactos da agricultura no meio-ambiente foram muito maiores do que os impactos mensuráveis de uma mudança de cultivos convencionais para transgênicos, reforçando o fato de que a base de comparação é importante. Os cientistas também discordam sobre o valor de testes realizados em laboratório ou em pequenas áreas, e sobre a extrapolação dos efeitos para grandes áreas, e ainda não está claro se abordagens baseadas em modelagem que incorporam dados de sistemas de informações geográficas podem ser úteis para prever os efeitos dos organismos vivos modificados (LMOs) em diferentes ecossistemas (ICSU). A comunidade científica recomenda que mais pesquisa é necessária sobre os efeitos pós-liberação dos cultivos transgênicos. Também há a necessidade de um monitoramento pós-liberação mais direcionado e melhores metodologias para monitoramento (ICSU; FAO, 2004). Acordos internacionais na área ambiental e instituições Vários acordos internacionais e instituições são relevantes para aspectos ambientais de certos produtos transgênicos, entre eles a Convenção da Diversidade Biológica, Protocolo de Cartagena em Biossegurança e Convenção Internacional de Proteção de Plantas. Os papéis e disposições desses organismos são descritas abaixo. A Convenção da Diversidade Biológica e o Protocolo de Cartagena em Biossegurança. A maior parte das medidas da Convenção da Diversidade Biológica (CDB) (Secretariat of the Convention on Biological Diversity, 1992) focam na conservação dos ecossistemas; entretanto, dois aspectos relativos à conservação da diversidade biológica são relevantes para a biossegurança – o manejo dos riscos associados aos LMOs resultantes da biotecnologia e o manejo de riscos associado às espécies exóticas. No contexto de medidas de conservação in-situ, a Convenção requer das partes contratantes “...regular, manejar ou controlar riscos associados com o uso e liberação de organismos vivos modificados resultantes da biotecnologia que provavelmente apresentarão impactos ambientais adversos que poderiam afetar a conservação e o uso sustentado da diversidade biológica....” Essa disposição vai além do escopo geral da Convenção à medida que também requer que os riscos para a saúde humana sejam levados em consideração. A Convenção estabelece que as partes contratantes têm a obrigação de prevenir a introdução de espécies exóticas e controlar ou erradicar aquelas espécies exóticas que põem em risco os ecossistemas, habitats ou espécies. Espécies exóticas invasoras são consideradas como espécies introduzidas deliberadamente ou não intencionalmente fora de seu habitat natural onde têm a habilidade de se estabelecer por si mesmas, invadir, substituir espécies nativas e colonizar o novo ambiente. O Protocolo de Cartagena em Biossegurança (Secretariat of the Convention on Biological Diversity, 1992) foi adotado pela CDB em setembro de 2000 e ganhou força em setembro de 2003. O objetivo do Protocolo é proteger a diversidade biológica dos riscos potenciais impostos pela transferência segura, manipulação e uso de LMOs resultantes da moderna biotecnologia. Riscos à saúde humana também são considerados. O protocolo é aplicável a todos os LMOs, exceto farmacêuticos para uso humano, que são abordados por outros acordos internacionais ou organizações. O Protocolo estabelece um procedimento denominado Acordo Avançado Informado (AIA) para LMOs para os quais planeja-se introdução intencional no ambiente e que podem ter efeitos adversos na conservação e no uso sustentado da biodiversidade. O procedimento requer da parte importadora, antes da primeira introdução intencional no ambiente: • • • notificação da parte exportadora contendo certas informações; aviso do seu recebimento; e consentimento por escrito da parte importadora. Quatro categorias de LMO são exceções do AIA: LMOs em trânsito, LMOs para uso em contenção, LMOs identificados na decisão da Conferência das Partes como prováveis de não apresentarem efeitos adversos sobre a conservação e o uso sustentado da biodiversidade, e LMOs para uso direto como alimento, ração animal ou para processamento. Para LMOs que possam estar sujeitos a movimentos entre fronteiras para uso direto como alimento, ração, ou para processamento, o Artigo 11 prevê que a parte que toma a decisão final para o uso doméstico, incluindo colocação no mercado, deve notificar a “Clearing-House” de Biossegurança estabelecido no Protocolo. A notificação deve conter informações mínimas requeridas no Anexo II. Uma parte contratante pode tomar uma importante decisão de acordo com suas regras regulatórias domésticas, desde que seja consistente com o Protocolo. Um país em desenvolvimento que seja a parte contratante, ou uma parte com economia em transição que necessita de regras regulatórias domésticas, pode declarar através da “Clearing-House” de Biossegurança que sua decisão sobre uma primeira importação de um LMO para uso direto como alimento, ração ou para processamento será em consonância com a avaliação de risco. Em ambos os casos a falta de certeza científica devido a insuficientes informações científicas relevantes e reconhecimento da extensão dos efeitos adversos potenciais não devem impedir a parte contratante importadora de tomar uma decisão como apropriada, com objetivo de evitar ou minimizar efeitos adversos. Avaliação de risco e manejo do risco são requerimentos para ambos os casos, AIA e Artigo 11. A avaliação de risco deve ser consistente com critérios enumerados em um anexo. A princípio, a avaliação de risco deve ser conduzida pelas autoridades nacionais competentes. O exportador pode ser requerido a conduzir tal avaliação. A parte importadora pode requerer o notificador a pagar pela avaliação de risco. O Protocolo especifica medidas gerais e critérios para o manejo do risco. Qualquer medida baseada na avaliação de risco deve ser proporcional aos riscos identificados. Medidas para minimizar a probabilidade de movimento nãointencional entre fronteiras de LMOs devem ser tomadas. Estados afetados ou potencialmente afetados devem ser notificados quando a ocorrência puder resultar em movimento não-intencional entre fronteiras. O Protocolo também contém disposições sobre manipulação de LMOs, embalagem e transporte (Artigo 18). Em particular, cada parte contratante deve tomar medidas para: a. LMOs destinados para uso direto como alimento, ração, ou processamento, identificar claramente que eles “podem conter” LMOs e “não são para introdução intencional no ambiente”, e um ponto de contato para informações adicionais; b. LMOs destinados para uso em contenção, identificá-los claramente como LMOs e especificar quaisquer requerimentos para manipulação segura, armazenamento, transporte e uso, e um ponto de contato e consignatário; c. LMOs destinados à introdução intencional no ambiente da parte importadora, identificá-los claramente como LMOs e especificar na identidade e atributos/características, quaisquer requerimentos para manipulação segura, armazenagem, transporte e uso, e um ponto de contato, o nome/endereço do importador/exportador e uma declaração de que o movimento está em conformidade com requerimentos do Protocolo aplicáveis ao exportador. A troca de informações é considerada no Protocolo através do estabelecimento da “Clearing-House” de Biossegurança. A “Clearing-House” de Biossegurança tem a intenção de facilitar a troca de informações e a experiência com LMOs e auxiliar as partes na implementação do Protocolo. Em conformidade com o Artigo 20, parágrafo 2, ela também deve prover acesso a outros sistemas de troca de informações em biossegurança internacionais. As informações que as partes devem fornecer à “ClearingHouse” incluem leis existentes, regulamentações e regras para a implementação do Protocolo; informações requeridas pela AIA; quaisquer acordos bilaterais, regionais ou multilaterais dentro do contexto do Protocolo; resumos de avaliação de risco e decisões finais. A participação pública é especificamente abordada no Artigo 23. As pares contratantes devem: a. promover e facilitar o conhecimento público, educação e participação referente à transferência segura, manipulação e uso de LMOs; b. esforçar para garantir o conhecimento público e educação abrangendo acesso às informações sobre LMOs identificados pelo Protocolo e que podem ser importados; c. consultar o público no processo de tomada de decisões relativo a LMOs e tornar disponível ao público as decisões tomadas de acordo com leis nacionais e regulamentações. Informações confidenciais deverão ser respeitadas nessas atividades. Considerações sócio-econômicas são permitidas nas tomadas de decisão. Partes contratantes podem considerar fatores sócio-econômicas decorrentes do impacto de LMOs sobre a conservação e uso sustentado da biodiversidade, especialmente com relação ao valor da biodiversidade para comunidades locais e indígenas. As partes são encorajadas a cooperar em pesquisa e troca de informações sobre quaisquer impactos sócio-econômicos de LMOs. Um processo para estabelecer responsabilidades e corrigir danos resultantes de movimentos entre fronteiras de LMOs deverá ser estabelecido pelo primeiro encontro das partes dentro do Protocolo. A CIPP e organismos vivos modificados O propósito da Convenção Internacional de Proteção de Plantas (CIPP) é assegurar ações comuns e efetivas para prevenir a disseminação e introdução de pragas que atacam plantas e produtos vegetais, e promover medidas para o seu controle. Embora a CIPP elabore disposições para o comércio de plantas e seus produtos, ela não é limitada a esse respeito. Especificamente, o escopo do CIPP estende-se à proteção da flora selvagem em adição à flora cultivada, e abrange os danos diretos e indiretos causados por pragas, incluindo plantas daninhas. A CIPP exerce um importante papel na conservação da biodiversidade de plantas e na proteção dos recursos naturais. Portanto, padrões desenvolvidos pela CIPP são também aplicáveis a elementos-chave da CDB, incluindo a prevenção e mitigação dos impactos de espécies exóticas invasoras, e ao Protocolo de Cartagena em Biossegurança. Como conseqüência, a CDB, FAO e CIPP estabeleceram uma forte relação de colaboração. Tal fato resultou, em particular, na inclusão das preocupações da CDB no desenvolvimento de novos padrões internacionais para medidas fitosanitárias (ISPMs). ISPMs desenvolvidos sob os auspícios do CIPP fornecem aos países orientações internacionalmente acordadas sobre medidas para proteger a vida ou saúde das plantas pela introdução e dispersão de pragas e doenças. Um dos mais importantes padrões conceituais desenvolvidos pela CIPP é o ISPM nº 11, Análise de risco de pragas para pragas quarenteárias (FAO, 2001b), adotado pela Comissão Interina de Medidas Fitossanitárias (CIMF) em sua terceira seção em 2001. Em adição, a CIMF, em sua quinta seção em 2003, adotou um suplemento para a ISPM nº 11 voltada para riscos ao meio-ambiente levando em conta as preocupações da CDB, especialmente em relação às espécies exóticas invasoras. Mais recentemente, a CIPP esboçou outro suplemento para a ISPM nº 11 que aborda análises de riscos de pragas para LMOs. 8 Esse esboço de padrão foi submetido a extensivas discussões e consultas técnicas ao longo do seu desenvolvimento. A pedido da CIMF, um grupo de trabalho aberto de especialistas reuniu-se em setembro de 2001, e contou com a participação de especialistas nomeados por governos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, além de especialistas com preocupações tanto sobre proteção de plantas quanto ambientais. O propósito desse encontro foi discutir o desenvolvimento desse padrão e a necessidade de fornecer orientação detalhada sobre a condução de análise de riscos para avaliação dos potenciais efeitos de LMOs à saúde das plantas, com atenção particular para as necessidades dos países em desenvolvimento. O grupo de trabalho considerou que os riscos fitossanitários potenciais de LMOs que podem ser considerados na análise de riscos de pragas incluem (FAO, 2002b): ● Mudanças em características adaptativas que possam incrementar o potencial de invasão incluindo, por exemplo: tolerância de plantas à estiagem; tolerância de plantas a herbicidas; alterações na biologia reprodutiva; habilidade de dispersão de pragas; resistência a pragas; e resistência a pesticidas. ● Fluxo gênico incluindo, por exemplo: transferência de genes de tolerância a herbicidas para espécies compatíveis; e o potencial de superar barreiras reprodutivas e de recombinação existentes. ● Potencial para afetar negativamente organismos não-alvo incluindo, por exemplo: mudanças na faixa de hospedeiros de agentes de controle biológico ou organismos tidos como benéficos; e efeitos sobre outros organismos tais como agentes de controle biológico, organismos benéficos e microflora do solo que resultam em um impacto fitossanitário (efeitos indiretos). ● Possibilidade de propriedades fitopatogênicas incluindo, por exemplo: riscos fitossanitários apresentados por novos atributos em organismos que normalmente não são considerados como apresentanto risco fitossanitário; vírus com maior capacidade de recombinação, trans-encapsidação e eventos de sinergia relacionados à presença de seqüências de vírus; e riscos fitossanitários associados com seqüências de ácidos nucléicos (marcadores, promotores, terminadores, etc) presentes no inserto. Subseqüentemente, um pequeno grupo de trabalho, incluindo especialistas em CDB/Protocolo de Cartagena e proteção de plantas, reuniu-se para preparar um esboço de padrão que forneceria orientação geral na condução de análises de risco de pragas com respeito aos riscos fitossanitários potenciais acima considerados. No processo de esboço do padrão, o grupo de trabalho notou vários aspectos importantes relacionados ao escopo do CIPP e riscos fitossanitários potenciais de LMOs. Em particular, o grupo de trabalho observou que enquanto alguns tipos de LMOs requereriam análises de risco de pragas porque poderiam apresentar riscos fitossanitários, muitas outras categorias de LMOs, como aqueles com características modificadas tais como tempo de amadurecimento ou tempo de estocagem, não apresentam riscos fitossanitários. De maneira similar, notou-se que a análise de riscos de pragas aborda apenas os riscos fitossanitários de LMOs, mas que outros riscos potenciais também deveriam ser considerados (como preocupações sobre a saúde humana para produtos alimentares). Também foi reconhecido que o potencial de riscos fitossanitários identificados acima poderia também estar associado aos organismos não LMOs, ou plantas melhoradas de forma convencional. Os procedimentos de análises de riscos do CIPP estão geralmente preocupados com características fenotípicas ao invés de características genotípicas, mas foi observado que estas últimas deverão ser consideradas quando das avaliações de riscos fitossanitários de LMOs. Quando da publicação do presente documento, o esboço do padrão havia sido revisado por Comitê de Padrões e distribuído para todos os membros para revisão e comentários. Comentários sobre o esboço do padrão recebidos dos países foram revisados pelo Comitê de Padrões em novembro de 2003. O esboço do padrão será modificado levando-se em conta os comentários recebidos, e deverá ser submetido ao CIMF para aprovação na sexta seção em abril de 2004. Conclusões Até o presente, nos países onde lavouras transgênicas estão sendo cultivadas não tem havido relatos comprovando que tenham causado qualquer dano significativo à saúde ou ao meio-ambiente. Borboletas Monarca não foram exterminadas. Pragas não desenvolveram resistência ao Bt. Surgiram algumas evidências de plantas daninhas tolerantes aos herbicidas, mas “super plantas daninhas” não invadiram ecossistemas agrícolas ou naturais. Pelo contrário, benefícios sociais e ambientais importantes estão sendo relatados. Os agricultores estão usando menos pesticidas e substituindo químicos tóxicos por outros menos prejudiciais. Como resultado, trabalhadores rurais e suprimentos de água estão protegidos de envenenamentos, e insetos benéficos e pássaros estão retornando para os campos cultivados. Enquanto isso, a ciência está avançando rapidamente. Algumas das preocupações associadas com a primeira geração de plantas transgênicas têm soluções técnicas. Novas técnicas de transformação genética estão eliminando os genes marcadores que conferem resistência a antibióticos, além dos genes promotores que são preocupantes para alguns. Variedades com dois genes Bt distintos estão reduzindo a probabilidade de desenvolvimento de resistência de pragas. Estratégias de manejo e técnicas genéticas estão progredindo para prevenir o fluxo de genes. Entretanto, a falta de efeitos negativos observados até o momento não significa que eles não podem ocorrer, e os cientistas concordam que nosso conhecimento sobre os processos ecológicos e de segurança de alimentos é incompleto. Muito permanece desconhecido. Segurança completa nunca poderá ser assegurada, e os sistemas regulatórios e as pessoas que os gerenciam não são perfeitos. Como nós devemos proceder dada a falta de certeza científica? O “GM Science Review Panel” (pág. 25) argumenta que: Há uma clara necessidade da comunidade científica realizar mais pesquisas em diversas áreas, para que as empresas façam boas escolhas no que diz respeito aos projetos de transgenes e plantas hospedeiras, e para que desenvolvam produtos que atendam desejos sociais mais amplos. Finalmente, o sistema regulatório .... deve continuar operando de forma a ser sensível ao grau de risco e incerteza, reconhecendo as características que distinguem os GM, as perspectivas científicas divergentes e as lacunas referentes ao conhecimento, bem como levando em consideração o contexto e as bases de comparação do melhoramento convencional. O Nuffiel Council (pág. 44) recomenda que “as mesmas normas devem ser aplicadas para avaliação de risco de plantas e alimentos GM e não-GM, e que aos riscos de inércia seja dada a mesma análise cuidadosa dada aos riscos de ação...” Em seguida conclui (pág. 45): Nós não adotamos o entendimento de que haja evidência suficiente de dano atual ou potencial que justifique, neste estágio, uma moratória na pesquisa, ensaios de campo ou liberação controlada de plantas GM no ambiente. Consequentemente, nós recomendamos que as pesquisas com plantios GM tenham continuidade, governadas pela aplicação razoável do princípio da precaução. A declaração da FAO sobre Biotecnologia (FAO, 2000b) concorda: A FAO apóia um sistema de avaliação baseado em critérios científicos que, de forma objetiva, seja capaz de determinar os benefícios e riscos de cada OGM individualmente. Tal posição requer uma abordagem cautelosa caso a caso que examine preocupações legítimas sobre a biossegurança de cada produto ou processo, anterior à sua liberação. Os possíveis efeitos sobre a biodiversidade, meio-ambiente e a segurança alimentar devem ser avaliados, e da mesma forma a extensão em que os benefícios dos produtos ou processos compensem seus riscos. O processo de avaliação deve também levar em consideração a experiência obtida por autoridades regulatórias nacionais. Cuidadoso monitoramento de efeitos pós-liberação desses produtos e processos é igualmente essencial para garantir sua segurança contínua aos seres humanos, animais e meioambiente. A ciência não pode declarar qualquer tecnologia como completamente livre de risco. Plantas geneticamente modificadas podem reduzir alguns riscos ambientais associados à agricultura convencional, mas introduzirão novos desafios que devem ser abordados. A sociedade terá que decidir quando e onde a engenharia genética é suficientemente segura. 4 O Conselho Internacional para Ciência (ICSU) é uma organização nãogovernamental representante da comunidade científica internacional. Os membros incluem academias nacionais de ciência (101 membros) e grupos científicos internacionais (27 membros). Como o ICSU está em contato com centenas de milhares de cientistas em todo o mundo, ele é geralmente chamado para representar a comunidade científica mundial. 5 O Nuffield Council on Bioethics é uma organização britânica sem fins lucrativos fundada pelo Conselho de Pesquisa Médica, a Nuffield Foundation e a Welcome Trus. 6 O GM Science Review Panel é um grupo estabelecido pelo governo do Reino Unido para conduzir uma completa e imparcial revisão de evidências científicas relacionadas às plantas GM. 7 A Royal Society é a academia científica independente do Reino Unido, dedicada à promoção da excelência na área científica. 8 O Protocolo de Cartagena em Biossegurança define organismo vivo modificado (LMO) como “qualquer organismo vivo que possui uma nova combinação de material genético obtida pelo uso da biotecnologia moderna” (Secretariat of the Convention on Biological Diversity, 2000: 4).