Atenção na largada Muitos agricultores e técnicos, ao observarem plantas de soja com problemas, na lavoura, logo pensam em doenças como possíveis causas. Porém, alguns dos sintomas causados por herbicidas, por insetos e por estresses fisiológicos podem ser confundidos com danos causados por doenças, levando a erros de diagnóstico. Neste artigo, serão apresentados os problemas com sintomas similares mais comuns, que podem ser encontrados na fase inicial de desenvolvimento de soja, para facilitar a identificação das causas e a tomada de decisão para controle. Essas informações encontram-se completas e ilustradas no livro “Estresses em soja”, publicado pela Embrapa Trigo. Neste livro, são abordados problemas em soja ligados à ecofisiologia, ao manejo de solo e da cultura, aos efeitos de nutrientes, às reações fitotóxicas de defensivos químicos e aos danos causados por insetos, por ácaros, por moluscos, por fungos, por bactérias, por vírus e por nematóides, em sete capítulos escritos por especialistas em cada área. As informações relativas aos estresses de ordem fisiológica foram escritas por Norman Neumaier, por Alexandre Nepomuceno, por José Farias e por Tetsuji Oya, da Embrapa Soja. Erivelton Roman foi responsável pela descrição de estresses ocasionados por fitotoxicidade de herbicidas, e o capítulo sobre estresses ocasionados por pragas ficou a cargo de Gabriela Tonet, de Dirceu Gassen e de José Salvadori, estes da Embrapa Trigo. Principais sintomas Os principais sintomas causados por doenças, na fase inicial de desenvolvimento de soja, são os tombamentos de plântulas, que ocorrem logo após a emergência. Entre os patógenos responsáveis, destacam-se Rhizoctonia solani, Sclerotium rolfsii e Pythium spp. Há diferenças básicas entre os sintomas característicos que causam. Em todos os casos, as plântulas emergem normalmente e, após alguns dias, apresentam menor porte, as folhas escurecem e murcham e as plantas morrem. A diferença encontra-se no sistema radicular, pois a planta com Rhizoctonia desenvolve apodrecimento seco das raízes, estrangulamento do colo e lesões aprofundadas e escuras no hipocótilo, ao nível do solo. Já plantas doentes por Sclerotium e por Pythium desenvolvem apodrecimento escuro e aquoso nos tecidos das raízes e do colo, que se rompem com facilidade quando as plantas são arrancadas do solo. Sclerotium está relacionado com temperaturas altas na superfície do solo, principalmente onde não há cobertura de palhada, enquanto que Pythium ocorre em locais onde o solo é mais úmido e frio. No caso de ser necessário replantar, o tratamento de sementes pode ser útil na redução do risco de ocorrer novo tombamento, levando-se em conta que há fungicidas mais adequados para cada patógeno. Pode-se, também, manejar a cultura para se escapar de períodos ou de condições favoráveis ao aparecimento dessas doenças. Se o agente causal dos tombamentos de plântulas não for um patógeno, o problema pode ser fisiológico, como os originados por calor ou, ainda, por herbicidas como benzotiadiazinas, bipiridílios, derivados da glicina, difenil-éteres, dinitroalaninas, imidazolinonas, ftalimidas, sulfoniluréias, triazinas, triazolo pirimidina sulfoanilidas e uréias, ou serem causados por insetos, como mosca-dasemente, corós, gorgulho-do-solo, piolho-de-cobra, besouro-preto ou ligeirinho, lagarta-elasmo ou broca-do-colo, tamanduá-da-soja, percevejo-barriga-verde e cigarrinhas. O tombamento fisiológico, também conhecido como cancro de calor, caracteriza-se pelo estrangulamento do colo da planta causado por temperaturas da superfície do solo extremamente elevadas, acima de 55 ºC, logo após a emergência. Não é muito comum, mas pode ocorrer em dias ensolarados, quentes (temperatura do ar acima de 35 ºC) e sem vento, principalmente em solos sem cobertura de palhada, escuros, compactados e argilosos. Os herbicidas citados são, em sua maioria, seguros para soja, mas aplicações mal realizadas podem resultar em injúrias. Sobrepasses, misturas com outros herbicidas e com adjuvantes, condições de temperatura e de umidade relativa do ar elevada, além de acúmulo de produto na camada superficial do solo causado por falta de umidade para translocá-lo para camadas mais profundas, são fatores responsáveis por danos à cultura. Os sintomas em soja variam entre pontuações necróticas nas folhas; murcha e dessecação rápida da planta; intumescimento e rachadura do hipocótilo e pequeno desenvolvimento de raízes e de entrenós. Insetos na cultura Quanto aos insetos, grande parte de sua ocorrência está associada a condições de estresses. Os sintomas mais comuns são murcha e morte de plântulas ao acaso, resultando em falhas de estande de plantas. Quando a semeadura é realizada em condições adversas, em profundidade excessiva e em solos de baixa temperatura e com excesso de umidade, há condições para desenvolvimento da mosca-da-semente. Em períodos de deficiência hídrica, podem ocorrer lagarta-elasmo, gorgulho-dosolo, piolho-de-cobra e besouro-preto. Corós e piolhos-de-cobra ocorrem, geralmente, em manchas (reboleiras) na lavoura. O tamanduá-da-soja pode afetar grande número de plântulas ao acaso, se a soja for cultivada em área infestada na safra anterior e, no caso de rotação, o ataque inicial irá concentrar-se nas plantas da bordadura. Culturas antecessoras, como canola, nabo forrageiro, tremoço e ervilhaca, além de algumas plantas daninhas, podem hospedar gorgulho-do-solo, percevejo-barriga-verde e cigarrinhas, que migram para a soja após a dessecação, causando tombamento de plântulas. O controle desses insetos é difícil, pois somente em alguns casos o tratamento de sementes com inseticidas impede a postura e o desenvolvimento de larvas. Como pôde ser notado, os problemas iniciais da cultura de soja têm poucas causas relacionadas a doenças, sendo freqüentes os danos por herbicidas e por insetos. Técnicos e produtores devem sempre considerar o tipo de herbicida aplicado na lavoura, a presença de insetos e as condições climáticas predominantes, além da qualidade de sementes, que deve apresentar sempre padrões adequados de germinação e de vigor. Esses dados podem ser decisivos para a correta diagnose e para a solução de muitos problemas que ocorrem na fase inicial de desenvolvimento da lavoura de soja. Leila Maria Costamilan e Emídio Rizzo Bonato, Embrapa Trigo