Publicidade e Propaganda Trab

Propaganda
Pró-Reitoria Acadêmica
Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda
Trabalho de Conclusão de Curso
Açúcar, gordura, sal e publicidade: a indústria alimentícia e a
publicidade como instrumento de mercado.
Elaine Cristina Silva de Araújo
Frederico Feitoza
Brasília - DF
2016
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROJETO EXPERIMENTAL II
Açúcar, gordura, sal e publicidade; a indústria
alimentícia e a publicidade como instrumento de
mercado
Autor: Elaine Cristina Silva de Araújo
Orientador: Frederico Feitoza
Brasília DF – 2016
2
SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................. 4
2. Referencial Teórico................................................................................... 6
2.1 A indústria e a mensagem........................................................................ 6
2.2 Análise da mensagem............................................................................. 10
2.3 O papel da mensagem............................................................................ 15
3. Considerações finais..................................................................................16
4. Referências................................................................................................18
3
Açúcar, gordura, sal e publicidade:
a indústria alimentícia e a
publicidade como instrumento de mercado
RESUMO: As mudanças da sociedade tiveram grande impacto nas transformações dos
hábitos alimentares. Variedades de alimentos disponíveis no mercado, por exemplo,
decorreram dessas variações. Porém na maioria das vezes esses produtos têm
quantidades significativas de açúcar, gordura, sal e aditivos alimentares. É importante
desestimular o consumo desses alimentos com mudanças nas práticas de
industrialização, engajamento da população em políticas públicas e na regulamentação
de publicidade.
PALAVRAS CHAVES: alimento, publicidade, legislação.
ABSTRACT: The changes in society had a big impact in transformation eating habits.
The food available in the market currently have been get it for that. However, many
times these products have a lot of quantity of sugar, fat, salt and food additives. For
discourage the consumption it is necessary change the industrialization, engagement of
population and regulation of advertising.
KEYWORDS: food, advertising, legislation.
1. Introdução
A alimentação é fundamental para o ser humano, pois é da comida que ele retira
os nutrientes necessários para a sobrevivência. No início as refeições eram feitas de
raízes e carne cruas, mas com o desenvolvimento do ato de cozinhar, se estabeleceu a
diferença entre o homem e os animais (POLLAN, 2014) e deste ato foram realizadas
experiências com alimentação até chegar aos dias atuais.
A agricultura que antes era de subsistência, na idade moderna passou a ter valor
comercial. Na contemporaneidade começou a ser consumida em grandes valores e
atualmente conta com uma vasta variedade de produtos. As novidades surgem a todo
instante e alternativas estão cada vez mais disponíveis.
4
Para ilustrar como exemplo, o tempo gasto com o preparo de refeições em lares
nos Estados Unidos caiu pela metade desde meados dos anos 1960. A cada ano a
população americana cozinha menos e compra mais refeições prontas (POLLAN, 2014).
O ritmo agitado de trabalho, com menos intervalo de tempo para refeições,
demandou o surgimento de alternativas nas empresas. No entanto, a indústria não
prepara refeições como as pessoas. A tendência é usar uma quantidade maior de sal,
açúcar e gordura, além de aditivos químicos que tem como objetivo fazer com os
alimentos pareçam mais apetitosos do que são.
O governo dos EUA, por exemplo, tem se esforçado no combate a alimentos
processados, fazendo com que a indústria disponibilize alternativas mais conscientes
aos seus consumidores. No entanto, as empresas viciadas em sal, açúcar e gordura
competem por espaços nas prateleiras do supermercado e acabam alterando os produtos
de forma sutil como, tamanho, embalagem, cor, sabor e investindo demasiadamente em
grandes campanhas publicitárias (MOSS, 2015).
A pesquisa de orçamento familiar 2008-2009 do IBGE1 diz que a prevalência
global de ingestão de açúcar, gordura e sal está acima do limite recomendado pelo
Ministério da Saúde e que, em resumo, o consumo alimentar no Brasil é principalmente
constituído de alimentos de alto teor energético, mas pobre de nutrientes. O consumo de
açúcar é excessivo referido a 61% da população, o de gordura saturada é de 82% e 70%
da população consome quantidades acima do valor indicado de ingestão de sódio
(IBGE, 2008).
A prevalência da ingestão desses elementos reflete a baixa qualidade da dieta
alimentar dos brasileiros (IBGE, 2008). Para refletir sobre esse consumo é relevante
pensar em mudanças nas práticas de industrialização, regulamentação no comércio e na
propaganda de alimentos densamente energéticos (GUIA ALIMENTAR PARA A
POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013).
Tendo em vista esses estudos, o artigo busca discutir o papel da mensagem
publicitária na indústria alimentícia, por meio da análise do case publicitário das
embalagens da linha de produtos Nestfit, da marca Nestlé.
A metodologia foi baseada em revisões bibliográficas acerca das relações entre
publicidade, nutrição, leis, resoluções, vídeos de entrevistas e documentários. A
1
http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv47307.pdf Acesso em: 25/05/16
5
pesquisa terá embasamento teórico na interface dos territórios da mensagem e dos
códigos, ou seja, indagará como as mensagens e seus processos de significação são
capazes de deflagrar possíveis efeitos de sentido. No território do contexto
comunicacional da mensagem, a forma como a comunicação se apresenta no nível
físico, cultural e psicossocial auxiliará no entendimento sobre como as mensagens
atuam de acordo com o desenvolvimento social (SANTAELLA, 2001).
2. Referencial teórico
2.1 A indústria e as mensagens
A complexidade das mudanças na sociedade atuou nas transformações dos
hábitos alimentares da população. O contexto social, cultural e histórico é levado em
consideração para compreender os processos paradoxais ligados à alimentação
(FICHER, 2007). A transferência do trabalho dos preparos de alimentos para a
indústria, por exemplo, desobrigou as mulheres da tarefa de alimentar o lar,
possibilitando que trabalhassem fora e tivessem sua própria carreira. Também
desencadeou mudanças nos papeis dinâmicos das famílias e aliviou outros tipos de
pressão sobre o lar, proporcionando mais tempos livres para outras atividades
(POLLAN, 2014). Graças a esses fenômenos a indústria de alimentos foi se
automatizando.
O domínio da indústria nos hábitos alimentares muitas vezes é atribuído ao
ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Na verdade a situação é mais complexa
e envolve outros aspectos. Por muito tempo a culinária foi considerada “tarefa de
mulher” esse foi um dos motivos para que as corporações conseguissem se inserir nas
esferas culinárias. Porém, os alimentos de fácil preparo, não ajudaram apenas as
mulheres que saem para trabalhar, mas também as que não têm emprego. Na realidade,
o esforço dos fabricantes de alimentos para nos convencer de que eles deveriam
cozinhar para as pessoas, datam de antes das mulheres ingressarem no mercado de
trabalho (POLLAN, 2014). Por exemplo, nos pós-guerras a indústria trabalhou
arduamente para vender a população americana, em especial mulheres, os alimentos
processados que eram usados para abastecer as tropas. A industrialização da culinária
não é resultado das mulheres que ingressaram no mercado de trabalho, mas foi um
fenômeno advindo da natureza de oferta (POLLAN, 2014). Fenômenos contemporâneos
6
contribuíram para o advento da indústria, mas a mesma se utilizou da retórica feminista
para posicionar os produtos e interesses.
FIGURA I – Anúncio da Epel (Vida Melhor para Mulheres) - 19472
2
http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/12/epel-vida-melhor-para-mulheres-1947.html
Acessado em 02/11/16
7
FIGURA II - Campanha do mingau de aveia Quaker (poupa tempo) -1931, a
praticidade de cozinhar no discurso3.
3
http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/10/mingau-quaker-poupatempo-1931.html
Mingau Quaker (Poupa tempo) – 1931, acessado em 02/11/16
8
FIGURA III - Leite Moça (soldados em guerra) – 1932. Em referência a
Revolução Constitucionalista4.
A indústria alimentícia liberou tempo, esforço e dificuldade de preparar nossa
própria refeição. (POLLAM, 2014, PÁG 183). Os alimentos antes geralmente
encontrados em mercearias e pequenos comércios. Hoje podem ser comprados nas lojas
de conveniências mais próximas. Variedades de ultraprocessados são comercializadas
em inúmeros pontos de vendas, inclusive em lugares que antes não eram encontrados,
como farmácias e postos de gasolinas. Em todos os locais a venda desses produtos é
4
http://www.propagandashistoricas.com.br/2014/01/leite-moca-soldados-em-guerra-1932.html
Acessado em 02/11/16
9
acompanhada de propagandas, cartazes, brindes e vários tipos de promoções (GUIA
ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013).
Alimentos classificados como ultraprocessados são aqueles que contêm número
elevado
de
aditivos
alimentares,
qualquer
tipo
de
ingrediente
adicionado
intencionalmente, sem propósito de nutrir e com o objetivo de modificar as
características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais (AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002). Sua
composição nutricional é formada por excesso de açúcar, gordura e nível elevado de
sódio, que servem para estender a duração, realçar e/ou esconder sabores. Além disso,
são pobres em fibras e minerais, geralmente produzidos em larga escala e que passam
por
diversas
técnicas
de
processamentos
(GUIA
ALIMENTAR
PARA
A
POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013).
2.2 Análise das mensagens
A publicidade tende a usar algumas operações em suas mensagens. Essas que
são dividas em três. Supressões, adições e deformação (DURANDIN, 1997).
As supressões tem objetivo de dissimular a existência de coisas reais. Como por
exemplo, a omissão que se refere a chamar mais atenção sobre vantagens de algo e
esconder outras informações.
As operações de adições fazem acreditar em algo que não existe. Usada na
publicidade para embelezar sua produção. Usando objetos, propriedades, perigos e
depoimentos inexistentes (DURANDIN, 1997).
O Conselho Federal de Nutrição (CFN), por exemplo, manifestou-se contra a
propaganda de uma multinacional que fabrica leite em pó e usa nutricionistas para
divulgar os benefícios de sua marca. O conselho encaminhou denuncias ao CRM da
profissional para averiguar irregularidades e tomar providências, e solicitou ao
CONAR5 a averiguação das mensagens contidas na campanha6.
Em julho de 2016, um grupo de profissionais de nutrição fez uma petição para a
retirada da professora Silvia Maria Franciscato Cozzolino do cargo de presidente do
Conselho Regional de Nutrição de São Paulo e Mato Grosso do Sul (CRN três)7, por
5
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária
http://www.cfn.org.br/index.php/propaganda-de-leite-em-po-com-nutricionista/ Acesso em 15/11/16
às 16h10min.
7
http://canaldocampoamesa.com.br/presidente-de-conselho-de-nutricionistas-e-alvo-de-peticao-porconflito-de-interesses/ Acesso em 15/11/16 às 16h17min
6
10
conflito de interesse. Os profissionais se uniram porque de acordo com eles a
pesquisadora recebia financiamentos da indústria de alimentos em suas pesquisas8.
Por último em relação as operações de deformação. Consiste em falar de uma
coisa que existe, mas descaracterizando-a. Na publicidade isso pode ser visto no
exagero e na minimização (DURANDIN, 1997).
Um levantamento feito pela revista Meio e Mensagem9 mostra que a categoria
de propaganda de alimentos foi a mais discutida pelo CONAR 10 no primeiro semestre
de 2015. Na maioria dos casos, as denúncias são acerca de informações técnicas que
qualificam os produtos como “melhores” e “líderes”.
Como exemplo, o IDEC11 fez um teste com 31 amostras de néctar, identificou
que 10 delas não tinham quantidade suficiente de fruta ou polpa exigida por lei. Além
disso, a maioria continha doses exageradas de açúcar. Para ser chamada de suco a
bebida deve ser composta praticamente de frutas e não pode conter substâncias
estranhas. Já o néctar pode apresentar parcela de frutas, conter açúcar e aditivos
químicos12. As bebidas a base de frutas fabricadas pela indústria são, em geral feito de
extrato de fruta com bastante adição de açúcar, concentrado de uva, maçã ou adoçantes
artificiais. Também são adicionados aromatizantes e outros aditivos (GUIA PARA A
POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013).
O Brasil é o quarto maior consumidor de açúcar no mundo13. A recomendação
da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que no máximo 10% das calorias que
venham do açúcar. No Brasil esse número chega a 16,3%. Esse açúcar é consumido em
sua maioria em produtos ultraprocessados como refrigerantes e doces. Para não exagerar
é necessário estar ciente sobre a natureza desses alimentos e ficar de olho nos rótulos
que podem mostrar o açúcar como carboidratos, mas que na lista de ingredientes
aparecem com outros nomes14.
8
http://file.scirp.org/pdf/FNS_2016042515440933.pdf Acesso em 15/11/16 às 16:28
http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2015/07/29/alimentos-foi-a-categoria-maisdiscutida-no-conar.html acesso em 09/10/2015 16:40
10
Conselho Nacional de Auto-regulamentação publicitária
11
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
12
http://www.idec.org.br/uploads/revistas_materias/pdfs/184-capa-suco1.pdf Acesso em: 09/10/2015
13
O açúcar que você não vê... http://www.idec.org.br/especial/o-acucar-que-voce-nao-ve Acesso em
09/10/2015
14
O açúcar que você não vê... http://www.idec.org.br/especial/o-acucar-que-voce-nao-ve Acesso em
09/10/2015
9
11
FIGURA IV – IDEC – O AÇÚCAR QUE VOCÊ NÃO VÊ15
A legislação brasileira através dos órgãos competentes estabelece normas
referentes à rotulagem, à publicidade enganosa e aos direitos do consumidor. A tabela
de informação nutricional visa disponibilizar informações sobre os produtos; são
obrigatórias e estão regulamentadas através de órgãos como o Ministério da saúde,
ANVISA16 e Ministério da agricultura. O CONAR propõe impedir que a publicidade
enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor. O código de Defesa do
Consumidor apresenta os direitos básicos. Como a informação adequada e clara sobre
os diferentes produtos e serviços, especificações corretas de quantidade, características,
composição, qualidade e preço, bem como os riscos que apresentam (CDC Art. 6).
Os rótulos dos alimentos não podem: apresentar informações falsas; efeitos ou
propriedades que não possuam; ausência de componentes que sejam adicionadas como
ingredientes; ressaltar qualidades ou indicar que o alimento possui propriedades
medicinais ou terapêuticas; aconselhar seu consumo como estimulante, para melhorar a
saúde, para prevenir doenças ou com ação curativa. As denominações geográficas não
podem ser usadas de alimentos fabricados em outros lugares. É o exemplo do queijo de
Minas, que se fabricado em outras localidades deve ser denominado “tipo minas”.
O tamanho das letras e números da rotulagem obrigatória, exceto a indicação de
conteúdos líquidos, não podem ser inferiores a um milímetro. A rotulagem deve ser
feita exclusivamente nos estabelecimentos, onde ocorre sua elaboração. A informação
deve está escrita na língua oficial. Os ingredientes devem ser descritos em ordem
decrescente, da respectiva proporção. Os aditivos alimentares devem estar declarados na
15
16
http://www.idec.org.br/especial/o-acucar-que-voce-nao-ve Acesso em 15/11/16 às 19h02min
Agência Nacional de Vigilância Sanitária
12
lista de ingredientes imediatamente ao final
(AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002).
FIGURA V – EMBALAGEM DA AVEIA INSTANTANEA NESFIT17
A Nesfit promete praticidade com o mingau de aveia instantânea18. Lançada pela
Nestlé a linha já participa do segmento de aveias, cerais matinais, barra de cereais e
biscoitos. O produto pode ser consumido como bebida e com frutas. Basta acrescentar
leite.
Analisando a lista de ingredientes podemos observar que o primeiro ingrediente
é aveia em flocos (que é o que tem maior quantidade), após farinha de trigo enriquecida
com ferro e ácido fólico (da qual 53% é farinha integral), açúcar, maltrodextrina e
inulina (que também são açúcares, porém com outros nomes). Por último, como de
acordo com a legislação, estão os aditivos alimentares que podem classificar o produto
como ultraprocessado (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA,
2013).
Na tabela nutricional a informação será expressa como zero ou 0 ou “não
contém” quando o alimento apresentar quantidades menores ou iguais as estabelecidas
pela legislação como não significativas (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002).
17
https://www.proteste.org.br/alimentacao/alimento-industrializado/noticia/aveia-instantanea-nesfit
Acessado em 15/11/16 às 18h50min
18
https://www.proteste.org.br/alimentacao/alimento-industrializado/noticia/aveia-instantanea-nesfit
Acessado em 15/11/16 às 18h55min
13
Por exemplo, quando os valores forem menores ou iguais a 0,2 para gordura
trans. e saturadas na porção, fica facultado utilizar a expressão “não contém quantidades
significativas de...”. Ou seja, se você consome um alimento que diz que tem 0 de
gordura trans., você não está necessariamente consumindo algo que não contém esse
ingrediente, significa apenas que a quantidade é menor que do que a legislação obriga,
não havendo necessidade de informar sua presença (AGÊNCIA NACIONAL DE
VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002).
FIGURA VI – VERSO DA EMBALAGEM DO BISCOITO DE LEITE E MEL
DA NESFIT.
É possível na tabela que não contém quantidade significativa de gordura trans no
produto, de acordo com a legislação. Na terceira coluna está escrito os símbolos **. Em
baixo da tabela está escrito que ** é VD não estabelecido. Ou seja, a legislação diz que
se a quantidade de gordura trans for menor ou igual a 0,2g não é necessário especificar
na embalagem, é possível apenas colocar “VD não estabelecido”.
Ao analisar os valores na tabela de informação nutricional, é possível observar
que este se refere a cada cinco biscoitos (30 g). Porém se a embalagem contém 200g o
produto possui 34 biscoitos. Se multiplicarmos, o percentual de gordura será maior que
o que a legislação diz não ser um valor significativo.
Os brasileiros são cotidianamente expostos a várias estratégias utilizadas pela
indústria na divulgação de seus produtos. Mais de dois terços de produtos divulgados na
14
televisão se referem a produtos ultraprocessados. (GUIA PARA A POPULAÇÃO
BRASILEIRA, 2013, PÁG 119).
A publicidade não pode ser vista como fonte de informação ou educação
alimentar e, sim, de venda dos produtos (GUIA PARA A POPULAÇÃO
BRASILEIRA, 2013). Porém a função do discurso publicitário tem outros sentidos além
de vender, aumentar o consumo e abrir mercado.
Os anúncios Comercializam estilos de vida, sensações, emoções, visões de
mundo relações humanas entre outros (ROCHA, 1990, PÁG 27). Muitas vezes os
homens tem sede de algo mais solícito e de consideração. Com sua linguagem de êxito,
a publicidade promete ao consumidor liberta-lo. Ela explora seus gostos, vaidades e
absorve-os de suas culpas (KENDE, 1974, PÁG. 65).
2.3 O papel das mensagens
A respeito do conhecimento de mercado, as mensagens trazem informações que
não tem intenção de serem objetivas e nem completas, sendo seletivas e orientadas
(KENDE, 1974). Antes de serem divulgadas, tem como objetivo desempenhar uma
estratégia de venda, tudo isso vem salientado pela forma criativa dos discursos com o
poder persuasivo que tem outros interesses além de informar. Não há muita
transparência por parte dos produtores para informar ao público e a publicidade
comercial pode não garantir total veridicidade. (KENDE, 1947). Ou seja, a mensagem
comercial traz alguns elementos de informação, mas a maioria chega sem pretensão de
ser necessariamente objetiva ou completa. Antes de penetrar no público ela é uma
informação subjetiva que desempenha uma estratégia de venda. (KENDE, 1974, PÁG,
65). De uma forma geral tudo depende da ideia do anunciante como sendo de seu
interesse comercial.
As mensagens publicitárias vistas de uma perspectiva de venda são fáceis de
serem assimiladas, se distinguindo de outras “fontes de informação” que muitas vezes
são árduas de entendimento. A publicidade não pede um esforço de compreensão, pois
trabalha com uma linguagem simples e sedutora. Isso pode levar os consumidores a
estarem mais atentos ao discurso do que as fontes de informação. A leitura das imagens
publicitárias é uma maneira fácil de informar sobre as novidades e levar informações ao
leitor sem despesas. (KENDE, 1974, PÁG. 77).
A publicidade é uma das ferramentas da indústria para criar atração, e às vezes o
único meio pelo qual as empresas conseguem se distinguir de seus concorrentes
15
(MOSS, 2015). A publicidade enganosa, segundo o Código de Defesa do Consumidor, é
qualquer modalidade de informação inteira ou parcialmente falsa, que induza o
consumidor ao erro. A dissimulação, ocultação, mensagens subliminares também
consistem no emprego de propaganda enganosa (FILHO, 1999, PÁG 108). Ela é um
objeto de regulamentação rigorosa, porém muitas vezes as normas não são seguidas,
colocando em prática representações errôneas dos produtos, indústria, comércio e
motivos de compras. (DURANDIN, 1997, PÁG 210).
A mensagem depende das relações entre os desejos da população e as
propriedades dos objetos apresentados para persuadir a compra de determinado produto,
pois as decisões são tomadas por dois tipos de fatores: o desejo e a informação que
dispomos para realizá-los (DURANDIN, 1997). Se as pessoas não tivessem desejo e
não atribuíssem valor a nada, não se interessariam pelas informações fornecidas. A
publicidade usa os valores das pessoas para seus procedimentos. Ela tenta apresentar
seus produtos não seguindo suas características, mas em função da imagem que a
população tem como alvo. A fantasia publicitária traz para o consumidor por meio do
produto simbólico, o reflexo de seu estilo de vida. (DURANDIN, 1997).
3. Considerações finais
O consumo demasiado de alimentos ultraprocessados trazem malefícios a saúde
da população. Os índios xavantes, por exemplo, estão sucumbindo diante da diabetes,
pois a dieta tradicionalmente feita de folhas e frutos, foi substituída por banquetes
industrializados19. Os hábitos alimentares não saudáveis são cada vez mais crescentes
no país, dos vinte alimentos mais consumidos por adolescentes, estão na lista dos cinco
primeiros os refrigerantes e doces20.
Para ampliar o conhecimento e exigir o cumprimento da legislação é
fundamental ter acesso à informação confiável e consistente. A adoção de hábitos
saudáveis resulta em uma série de fatores. Por isso, é necessário o conjunto de políticas
públicas que apoiem e fortaleça melhores escolhas em relação à alimentação. Não é algo
simples. É necessário que as pessoas como indivíduos e cidadãos se organizem e
avaliem junto ao governo a importância de uma alimentação saudável.
19
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/08/1666360-xavantes-trocam-dieta-tradicional-porrefrigerante-e-pao-de-forma-no-mt.shtml Acesso em 15/11/16 às 19h32min
20
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/07/1789416-adolescente-come-pouca-fruta-enao-larga-doces-e-refrigerante-diz-pesquisa.shtml Acesso em 15/11/16 às 20h20min
16
Há avanços na legislação, como o acordo que o Ministério da Saúde firmou com
a Associação Brasileira de Indústria de Alimentos (Abia) para diminuir doenças
associadas ao alto consumo de sal. Fazendo com que o país reduzisse esse ingrediente
nos alimentos processados.21 A população também tem se movimentado, há vários
debates de acessibilidade do consumidor a uma melhor informação. Como por exemplo,
o movimento “põe o rótulo”, que pressionou a ANVISA, obrigar a inclusão de alerta de
ingredientes alergênicos nos rótulos, e existem outras propostas que visam discutir
como deixar os teores de açúcares, sódio e gordura mais visíveis22.
É importante saber que os órgãos competentes do poder público, como
PROCON, Ministério Público, Defensoria Pública, Ministério da Justiça e da educação,
devem ser mobilizados para que as precauções e providências legais sejam acionadas
sempre quando houver abuso e descumprimentos da legislação. (GUIA ALIMENTAR
PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). Para melhorar a situação é necessário
que o cidadão discuta o papel e capacite a população sobre a função da publicidade.
Engaje a sociedade civil para lutar por regulamentações mais exigentes; manifeste aos
representantes no congresso a opinião sobre a necessidade de projetos de lei que
protejam a população de regulamentações não cumpridas; conheça a legislação
brasileira para poder cobrar as devidas proteções dos órgãos capacitados.
21
http://www1.folha.uol. com.br/equilibrioesaude/2016/06/1786850-brasil-reduz-sodio-em-alimentosmas-ainda-esta-longe-da-meta.shtml Acessado em 15/11/16 às 21h35min
22
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/11/1828576-quase-metade-dos-brasileirosnao-le-rotulos-de-alimentos.shtml Acessado em 15/11/16 em 21h47min
17
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