Pró-Reitoria Acadêmica Escola de Educação, Tecnologia e Comunicação Comunicação Social – Publicidade e Propaganda Trabalho de Conclusão de Curso Açúcar, gordura, sal e publicidade: a indústria alimentícia e a publicidade como instrumento de mercado. Elaine Cristina Silva de Araújo Frederico Feitoza Brasília - DF 2016 UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PROJETO EXPERIMENTAL II Açúcar, gordura, sal e publicidade; a indústria alimentícia e a publicidade como instrumento de mercado Autor: Elaine Cristina Silva de Araújo Orientador: Frederico Feitoza Brasília DF – 2016 2 SUMÁRIO 1. Introdução................................................................................................. 4 2. Referencial Teórico................................................................................... 6 2.1 A indústria e a mensagem........................................................................ 6 2.2 Análise da mensagem............................................................................. 10 2.3 O papel da mensagem............................................................................ 15 3. Considerações finais..................................................................................16 4. Referências................................................................................................18 3 Açúcar, gordura, sal e publicidade: a indústria alimentícia e a publicidade como instrumento de mercado RESUMO: As mudanças da sociedade tiveram grande impacto nas transformações dos hábitos alimentares. Variedades de alimentos disponíveis no mercado, por exemplo, decorreram dessas variações. Porém na maioria das vezes esses produtos têm quantidades significativas de açúcar, gordura, sal e aditivos alimentares. É importante desestimular o consumo desses alimentos com mudanças nas práticas de industrialização, engajamento da população em políticas públicas e na regulamentação de publicidade. PALAVRAS CHAVES: alimento, publicidade, legislação. ABSTRACT: The changes in society had a big impact in transformation eating habits. The food available in the market currently have been get it for that. However, many times these products have a lot of quantity of sugar, fat, salt and food additives. For discourage the consumption it is necessary change the industrialization, engagement of population and regulation of advertising. KEYWORDS: food, advertising, legislation. 1. Introdução A alimentação é fundamental para o ser humano, pois é da comida que ele retira os nutrientes necessários para a sobrevivência. No início as refeições eram feitas de raízes e carne cruas, mas com o desenvolvimento do ato de cozinhar, se estabeleceu a diferença entre o homem e os animais (POLLAN, 2014) e deste ato foram realizadas experiências com alimentação até chegar aos dias atuais. A agricultura que antes era de subsistência, na idade moderna passou a ter valor comercial. Na contemporaneidade começou a ser consumida em grandes valores e atualmente conta com uma vasta variedade de produtos. As novidades surgem a todo instante e alternativas estão cada vez mais disponíveis. 4 Para ilustrar como exemplo, o tempo gasto com o preparo de refeições em lares nos Estados Unidos caiu pela metade desde meados dos anos 1960. A cada ano a população americana cozinha menos e compra mais refeições prontas (POLLAN, 2014). O ritmo agitado de trabalho, com menos intervalo de tempo para refeições, demandou o surgimento de alternativas nas empresas. No entanto, a indústria não prepara refeições como as pessoas. A tendência é usar uma quantidade maior de sal, açúcar e gordura, além de aditivos químicos que tem como objetivo fazer com os alimentos pareçam mais apetitosos do que são. O governo dos EUA, por exemplo, tem se esforçado no combate a alimentos processados, fazendo com que a indústria disponibilize alternativas mais conscientes aos seus consumidores. No entanto, as empresas viciadas em sal, açúcar e gordura competem por espaços nas prateleiras do supermercado e acabam alterando os produtos de forma sutil como, tamanho, embalagem, cor, sabor e investindo demasiadamente em grandes campanhas publicitárias (MOSS, 2015). A pesquisa de orçamento familiar 2008-2009 do IBGE1 diz que a prevalência global de ingestão de açúcar, gordura e sal está acima do limite recomendado pelo Ministério da Saúde e que, em resumo, o consumo alimentar no Brasil é principalmente constituído de alimentos de alto teor energético, mas pobre de nutrientes. O consumo de açúcar é excessivo referido a 61% da população, o de gordura saturada é de 82% e 70% da população consome quantidades acima do valor indicado de ingestão de sódio (IBGE, 2008). A prevalência da ingestão desses elementos reflete a baixa qualidade da dieta alimentar dos brasileiros (IBGE, 2008). Para refletir sobre esse consumo é relevante pensar em mudanças nas práticas de industrialização, regulamentação no comércio e na propaganda de alimentos densamente energéticos (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). Tendo em vista esses estudos, o artigo busca discutir o papel da mensagem publicitária na indústria alimentícia, por meio da análise do case publicitário das embalagens da linha de produtos Nestfit, da marca Nestlé. A metodologia foi baseada em revisões bibliográficas acerca das relações entre publicidade, nutrição, leis, resoluções, vídeos de entrevistas e documentários. A 1 http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv47307.pdf Acesso em: 25/05/16 5 pesquisa terá embasamento teórico na interface dos territórios da mensagem e dos códigos, ou seja, indagará como as mensagens e seus processos de significação são capazes de deflagrar possíveis efeitos de sentido. No território do contexto comunicacional da mensagem, a forma como a comunicação se apresenta no nível físico, cultural e psicossocial auxiliará no entendimento sobre como as mensagens atuam de acordo com o desenvolvimento social (SANTAELLA, 2001). 2. Referencial teórico 2.1 A indústria e as mensagens A complexidade das mudanças na sociedade atuou nas transformações dos hábitos alimentares da população. O contexto social, cultural e histórico é levado em consideração para compreender os processos paradoxais ligados à alimentação (FICHER, 2007). A transferência do trabalho dos preparos de alimentos para a indústria, por exemplo, desobrigou as mulheres da tarefa de alimentar o lar, possibilitando que trabalhassem fora e tivessem sua própria carreira. Também desencadeou mudanças nos papeis dinâmicos das famílias e aliviou outros tipos de pressão sobre o lar, proporcionando mais tempos livres para outras atividades (POLLAN, 2014). Graças a esses fenômenos a indústria de alimentos foi se automatizando. O domínio da indústria nos hábitos alimentares muitas vezes é atribuído ao ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Na verdade a situação é mais complexa e envolve outros aspectos. Por muito tempo a culinária foi considerada “tarefa de mulher” esse foi um dos motivos para que as corporações conseguissem se inserir nas esferas culinárias. Porém, os alimentos de fácil preparo, não ajudaram apenas as mulheres que saem para trabalhar, mas também as que não têm emprego. Na realidade, o esforço dos fabricantes de alimentos para nos convencer de que eles deveriam cozinhar para as pessoas, datam de antes das mulheres ingressarem no mercado de trabalho (POLLAN, 2014). Por exemplo, nos pós-guerras a indústria trabalhou arduamente para vender a população americana, em especial mulheres, os alimentos processados que eram usados para abastecer as tropas. A industrialização da culinária não é resultado das mulheres que ingressaram no mercado de trabalho, mas foi um fenômeno advindo da natureza de oferta (POLLAN, 2014). Fenômenos contemporâneos 6 contribuíram para o advento da indústria, mas a mesma se utilizou da retórica feminista para posicionar os produtos e interesses. FIGURA I – Anúncio da Epel (Vida Melhor para Mulheres) - 19472 2 http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/12/epel-vida-melhor-para-mulheres-1947.html Acessado em 02/11/16 7 FIGURA II - Campanha do mingau de aveia Quaker (poupa tempo) -1931, a praticidade de cozinhar no discurso3. 3 http://www.propagandashistoricas.com.br/2015/10/mingau-quaker-poupatempo-1931.html Mingau Quaker (Poupa tempo) – 1931, acessado em 02/11/16 8 FIGURA III - Leite Moça (soldados em guerra) – 1932. Em referência a Revolução Constitucionalista4. A indústria alimentícia liberou tempo, esforço e dificuldade de preparar nossa própria refeição. (POLLAM, 2014, PÁG 183). Os alimentos antes geralmente encontrados em mercearias e pequenos comércios. Hoje podem ser comprados nas lojas de conveniências mais próximas. Variedades de ultraprocessados são comercializadas em inúmeros pontos de vendas, inclusive em lugares que antes não eram encontrados, como farmácias e postos de gasolinas. Em todos os locais a venda desses produtos é 4 http://www.propagandashistoricas.com.br/2014/01/leite-moca-soldados-em-guerra-1932.html Acessado em 02/11/16 9 acompanhada de propagandas, cartazes, brindes e vários tipos de promoções (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). Alimentos classificados como ultraprocessados são aqueles que contêm número elevado de aditivos alimentares, qualquer tipo de ingrediente adicionado intencionalmente, sem propósito de nutrir e com o objetivo de modificar as características físicas, químicas, biológicas ou sensoriais (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002). Sua composição nutricional é formada por excesso de açúcar, gordura e nível elevado de sódio, que servem para estender a duração, realçar e/ou esconder sabores. Além disso, são pobres em fibras e minerais, geralmente produzidos em larga escala e que passam por diversas técnicas de processamentos (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). 2.2 Análise das mensagens A publicidade tende a usar algumas operações em suas mensagens. Essas que são dividas em três. Supressões, adições e deformação (DURANDIN, 1997). As supressões tem objetivo de dissimular a existência de coisas reais. Como por exemplo, a omissão que se refere a chamar mais atenção sobre vantagens de algo e esconder outras informações. As operações de adições fazem acreditar em algo que não existe. Usada na publicidade para embelezar sua produção. Usando objetos, propriedades, perigos e depoimentos inexistentes (DURANDIN, 1997). O Conselho Federal de Nutrição (CFN), por exemplo, manifestou-se contra a propaganda de uma multinacional que fabrica leite em pó e usa nutricionistas para divulgar os benefícios de sua marca. O conselho encaminhou denuncias ao CRM da profissional para averiguar irregularidades e tomar providências, e solicitou ao CONAR5 a averiguação das mensagens contidas na campanha6. Em julho de 2016, um grupo de profissionais de nutrição fez uma petição para a retirada da professora Silvia Maria Franciscato Cozzolino do cargo de presidente do Conselho Regional de Nutrição de São Paulo e Mato Grosso do Sul (CRN três)7, por 5 Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária http://www.cfn.org.br/index.php/propaganda-de-leite-em-po-com-nutricionista/ Acesso em 15/11/16 às 16h10min. 7 http://canaldocampoamesa.com.br/presidente-de-conselho-de-nutricionistas-e-alvo-de-peticao-porconflito-de-interesses/ Acesso em 15/11/16 às 16h17min 6 10 conflito de interesse. Os profissionais se uniram porque de acordo com eles a pesquisadora recebia financiamentos da indústria de alimentos em suas pesquisas8. Por último em relação as operações de deformação. Consiste em falar de uma coisa que existe, mas descaracterizando-a. Na publicidade isso pode ser visto no exagero e na minimização (DURANDIN, 1997). Um levantamento feito pela revista Meio e Mensagem9 mostra que a categoria de propaganda de alimentos foi a mais discutida pelo CONAR 10 no primeiro semestre de 2015. Na maioria dos casos, as denúncias são acerca de informações técnicas que qualificam os produtos como “melhores” e “líderes”. Como exemplo, o IDEC11 fez um teste com 31 amostras de néctar, identificou que 10 delas não tinham quantidade suficiente de fruta ou polpa exigida por lei. Além disso, a maioria continha doses exageradas de açúcar. Para ser chamada de suco a bebida deve ser composta praticamente de frutas e não pode conter substâncias estranhas. Já o néctar pode apresentar parcela de frutas, conter açúcar e aditivos químicos12. As bebidas a base de frutas fabricadas pela indústria são, em geral feito de extrato de fruta com bastante adição de açúcar, concentrado de uva, maçã ou adoçantes artificiais. Também são adicionados aromatizantes e outros aditivos (GUIA PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). O Brasil é o quarto maior consumidor de açúcar no mundo13. A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é que no máximo 10% das calorias que venham do açúcar. No Brasil esse número chega a 16,3%. Esse açúcar é consumido em sua maioria em produtos ultraprocessados como refrigerantes e doces. Para não exagerar é necessário estar ciente sobre a natureza desses alimentos e ficar de olho nos rótulos que podem mostrar o açúcar como carboidratos, mas que na lista de ingredientes aparecem com outros nomes14. 8 http://file.scirp.org/pdf/FNS_2016042515440933.pdf Acesso em 15/11/16 às 16:28 http://www.meioemensagem.com.br/home/comunicacao/2015/07/29/alimentos-foi-a-categoria-maisdiscutida-no-conar.html acesso em 09/10/2015 16:40 10 Conselho Nacional de Auto-regulamentação publicitária 11 Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor 12 http://www.idec.org.br/uploads/revistas_materias/pdfs/184-capa-suco1.pdf Acesso em: 09/10/2015 13 O açúcar que você não vê... http://www.idec.org.br/especial/o-acucar-que-voce-nao-ve Acesso em 09/10/2015 14 O açúcar que você não vê... http://www.idec.org.br/especial/o-acucar-que-voce-nao-ve Acesso em 09/10/2015 9 11 FIGURA IV – IDEC – O AÇÚCAR QUE VOCÊ NÃO VÊ15 A legislação brasileira através dos órgãos competentes estabelece normas referentes à rotulagem, à publicidade enganosa e aos direitos do consumidor. A tabela de informação nutricional visa disponibilizar informações sobre os produtos; são obrigatórias e estão regulamentadas através de órgãos como o Ministério da saúde, ANVISA16 e Ministério da agricultura. O CONAR propõe impedir que a publicidade enganosa ou abusiva cause constrangimento ao consumidor. O código de Defesa do Consumidor apresenta os direitos básicos. Como a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, especificações corretas de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como os riscos que apresentam (CDC Art. 6). Os rótulos dos alimentos não podem: apresentar informações falsas; efeitos ou propriedades que não possuam; ausência de componentes que sejam adicionadas como ingredientes; ressaltar qualidades ou indicar que o alimento possui propriedades medicinais ou terapêuticas; aconselhar seu consumo como estimulante, para melhorar a saúde, para prevenir doenças ou com ação curativa. As denominações geográficas não podem ser usadas de alimentos fabricados em outros lugares. É o exemplo do queijo de Minas, que se fabricado em outras localidades deve ser denominado “tipo minas”. O tamanho das letras e números da rotulagem obrigatória, exceto a indicação de conteúdos líquidos, não podem ser inferiores a um milímetro. A rotulagem deve ser feita exclusivamente nos estabelecimentos, onde ocorre sua elaboração. A informação deve está escrita na língua oficial. Os ingredientes devem ser descritos em ordem decrescente, da respectiva proporção. Os aditivos alimentares devem estar declarados na 15 16 http://www.idec.org.br/especial/o-acucar-que-voce-nao-ve Acesso em 15/11/16 às 19h02min Agência Nacional de Vigilância Sanitária 12 lista de ingredientes imediatamente ao final (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002). FIGURA V – EMBALAGEM DA AVEIA INSTANTANEA NESFIT17 A Nesfit promete praticidade com o mingau de aveia instantânea18. Lançada pela Nestlé a linha já participa do segmento de aveias, cerais matinais, barra de cereais e biscoitos. O produto pode ser consumido como bebida e com frutas. Basta acrescentar leite. Analisando a lista de ingredientes podemos observar que o primeiro ingrediente é aveia em flocos (que é o que tem maior quantidade), após farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico (da qual 53% é farinha integral), açúcar, maltrodextrina e inulina (que também são açúcares, porém com outros nomes). Por último, como de acordo com a legislação, estão os aditivos alimentares que podem classificar o produto como ultraprocessado (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). Na tabela nutricional a informação será expressa como zero ou 0 ou “não contém” quando o alimento apresentar quantidades menores ou iguais as estabelecidas pela legislação como não significativas (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002). 17 https://www.proteste.org.br/alimentacao/alimento-industrializado/noticia/aveia-instantanea-nesfit Acessado em 15/11/16 às 18h50min 18 https://www.proteste.org.br/alimentacao/alimento-industrializado/noticia/aveia-instantanea-nesfit Acessado em 15/11/16 às 18h55min 13 Por exemplo, quando os valores forem menores ou iguais a 0,2 para gordura trans. e saturadas na porção, fica facultado utilizar a expressão “não contém quantidades significativas de...”. Ou seja, se você consome um alimento que diz que tem 0 de gordura trans., você não está necessariamente consumindo algo que não contém esse ingrediente, significa apenas que a quantidade é menor que do que a legislação obriga, não havendo necessidade de informar sua presença (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002). FIGURA VI – VERSO DA EMBALAGEM DO BISCOITO DE LEITE E MEL DA NESFIT. É possível na tabela que não contém quantidade significativa de gordura trans no produto, de acordo com a legislação. Na terceira coluna está escrito os símbolos **. Em baixo da tabela está escrito que ** é VD não estabelecido. Ou seja, a legislação diz que se a quantidade de gordura trans for menor ou igual a 0,2g não é necessário especificar na embalagem, é possível apenas colocar “VD não estabelecido”. Ao analisar os valores na tabela de informação nutricional, é possível observar que este se refere a cada cinco biscoitos (30 g). Porém se a embalagem contém 200g o produto possui 34 biscoitos. Se multiplicarmos, o percentual de gordura será maior que o que a legislação diz não ser um valor significativo. Os brasileiros são cotidianamente expostos a várias estratégias utilizadas pela indústria na divulgação de seus produtos. Mais de dois terços de produtos divulgados na 14 televisão se referem a produtos ultraprocessados. (GUIA PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013, PÁG 119). A publicidade não pode ser vista como fonte de informação ou educação alimentar e, sim, de venda dos produtos (GUIA PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). Porém a função do discurso publicitário tem outros sentidos além de vender, aumentar o consumo e abrir mercado. Os anúncios Comercializam estilos de vida, sensações, emoções, visões de mundo relações humanas entre outros (ROCHA, 1990, PÁG 27). Muitas vezes os homens tem sede de algo mais solícito e de consideração. Com sua linguagem de êxito, a publicidade promete ao consumidor liberta-lo. Ela explora seus gostos, vaidades e absorve-os de suas culpas (KENDE, 1974, PÁG. 65). 2.3 O papel das mensagens A respeito do conhecimento de mercado, as mensagens trazem informações que não tem intenção de serem objetivas e nem completas, sendo seletivas e orientadas (KENDE, 1974). Antes de serem divulgadas, tem como objetivo desempenhar uma estratégia de venda, tudo isso vem salientado pela forma criativa dos discursos com o poder persuasivo que tem outros interesses além de informar. Não há muita transparência por parte dos produtores para informar ao público e a publicidade comercial pode não garantir total veridicidade. (KENDE, 1947). Ou seja, a mensagem comercial traz alguns elementos de informação, mas a maioria chega sem pretensão de ser necessariamente objetiva ou completa. Antes de penetrar no público ela é uma informação subjetiva que desempenha uma estratégia de venda. (KENDE, 1974, PÁG, 65). De uma forma geral tudo depende da ideia do anunciante como sendo de seu interesse comercial. As mensagens publicitárias vistas de uma perspectiva de venda são fáceis de serem assimiladas, se distinguindo de outras “fontes de informação” que muitas vezes são árduas de entendimento. A publicidade não pede um esforço de compreensão, pois trabalha com uma linguagem simples e sedutora. Isso pode levar os consumidores a estarem mais atentos ao discurso do que as fontes de informação. A leitura das imagens publicitárias é uma maneira fácil de informar sobre as novidades e levar informações ao leitor sem despesas. (KENDE, 1974, PÁG. 77). A publicidade é uma das ferramentas da indústria para criar atração, e às vezes o único meio pelo qual as empresas conseguem se distinguir de seus concorrentes 15 (MOSS, 2015). A publicidade enganosa, segundo o Código de Defesa do Consumidor, é qualquer modalidade de informação inteira ou parcialmente falsa, que induza o consumidor ao erro. A dissimulação, ocultação, mensagens subliminares também consistem no emprego de propaganda enganosa (FILHO, 1999, PÁG 108). Ela é um objeto de regulamentação rigorosa, porém muitas vezes as normas não são seguidas, colocando em prática representações errôneas dos produtos, indústria, comércio e motivos de compras. (DURANDIN, 1997, PÁG 210). A mensagem depende das relações entre os desejos da população e as propriedades dos objetos apresentados para persuadir a compra de determinado produto, pois as decisões são tomadas por dois tipos de fatores: o desejo e a informação que dispomos para realizá-los (DURANDIN, 1997). Se as pessoas não tivessem desejo e não atribuíssem valor a nada, não se interessariam pelas informações fornecidas. A publicidade usa os valores das pessoas para seus procedimentos. Ela tenta apresentar seus produtos não seguindo suas características, mas em função da imagem que a população tem como alvo. A fantasia publicitária traz para o consumidor por meio do produto simbólico, o reflexo de seu estilo de vida. (DURANDIN, 1997). 3. Considerações finais O consumo demasiado de alimentos ultraprocessados trazem malefícios a saúde da população. Os índios xavantes, por exemplo, estão sucumbindo diante da diabetes, pois a dieta tradicionalmente feita de folhas e frutos, foi substituída por banquetes industrializados19. Os hábitos alimentares não saudáveis são cada vez mais crescentes no país, dos vinte alimentos mais consumidos por adolescentes, estão na lista dos cinco primeiros os refrigerantes e doces20. Para ampliar o conhecimento e exigir o cumprimento da legislação é fundamental ter acesso à informação confiável e consistente. A adoção de hábitos saudáveis resulta em uma série de fatores. Por isso, é necessário o conjunto de políticas públicas que apoiem e fortaleça melhores escolhas em relação à alimentação. Não é algo simples. É necessário que as pessoas como indivíduos e cidadãos se organizem e avaliem junto ao governo a importância de uma alimentação saudável. 19 http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/08/1666360-xavantes-trocam-dieta-tradicional-porrefrigerante-e-pao-de-forma-no-mt.shtml Acesso em 15/11/16 às 19h32min 20 http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/07/1789416-adolescente-come-pouca-fruta-enao-larga-doces-e-refrigerante-diz-pesquisa.shtml Acesso em 15/11/16 às 20h20min 16 Há avanços na legislação, como o acordo que o Ministério da Saúde firmou com a Associação Brasileira de Indústria de Alimentos (Abia) para diminuir doenças associadas ao alto consumo de sal. Fazendo com que o país reduzisse esse ingrediente nos alimentos processados.21 A população também tem se movimentado, há vários debates de acessibilidade do consumidor a uma melhor informação. Como por exemplo, o movimento “põe o rótulo”, que pressionou a ANVISA, obrigar a inclusão de alerta de ingredientes alergênicos nos rótulos, e existem outras propostas que visam discutir como deixar os teores de açúcares, sódio e gordura mais visíveis22. É importante saber que os órgãos competentes do poder público, como PROCON, Ministério Público, Defensoria Pública, Ministério da Justiça e da educação, devem ser mobilizados para que as precauções e providências legais sejam acionadas sempre quando houver abuso e descumprimentos da legislação. (GUIA ALIMENTAR PARA A POPULAÇÃO BRASILEIRA, 2013). Para melhorar a situação é necessário que o cidadão discuta o papel e capacite a população sobre a função da publicidade. Engaje a sociedade civil para lutar por regulamentações mais exigentes; manifeste aos representantes no congresso a opinião sobre a necessidade de projetos de lei que protejam a população de regulamentações não cumpridas; conheça a legislação brasileira para poder cobrar as devidas proteções dos órgãos capacitados. 21 http://www1.folha.uol. com.br/equilibrioesaude/2016/06/1786850-brasil-reduz-sodio-em-alimentosmas-ainda-esta-longe-da-meta.shtml Acessado em 15/11/16 às 21h35min 22 http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2016/11/1828576-quase-metade-dos-brasileirosnao-le-rotulos-de-alimentos.shtml Acessado em 15/11/16 em 21h47min 17 4. Referência bibliográfica ALMEIDA, Sebastião de Sousa; NASCIMENTO, Paula Carolina BDand QUAIOTI, Teresa Cristina Bolzan. Quantidade e qualidade de produtos alimentícios anunciados na televisão brasileira. Rev. Saúde Pública [online]. 2002, vol.36, n.3, pp.353-355. ISSN 1518-8787. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102002000300016. BITTMAN, Mark, What's wrong with the way we eat. Disponível em <https://www.ted.com/talks/mark_bittman_on_what_s_wrong_with_what_we_eat?lang uage=pt-br> Acesso em, 29/05/16. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira : Promovendo a alimentação saudável /Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Coordenação-Geral da Política de Alimentação e Nutrição – Brasília: Ministério da Saúde, 2005.236p. Disponível em: Departamento de nutrição da faculdade de ciências da saúde da universidade de Brasília a área técnica de alimentação e nutrição do departamento de atenção básica da secretaria de política de saúde do ministério da saúde (DAB/SPS/MS). Alimentação e cultura. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/alimentacao_cultura.pdf Acesso em 02/10/16 às 20h38min. DURANDIN, Guy, As mentiras na propaganda e na publicidade/ Guy Durandin ; São Paulo : JSN Editora, 1997 FICHER, C, A “MCDonaldização” dos costumes. IN: Flandrin, J, L,;Montanari, M. História da alimentação. Estação Liberdade, São Paulo, 2007. food industry. Nutrire:rev. Soc. Bras. Alim. Nutr.= J. Brazilian Soc. Food Nutr., GIACOMINI FILHO, Gino. Consumidor versus propaganda – São Pàulo : Summus, 1991. Hacker, 2001. HENRIQUES, Patrícia; SALLY, Enilce Oliveira; BURLANDY, Lucieneand BEILER, Renata Mondino. Regulamentação da propaganda de alimentos infantis como estratégia para a promoção da saúde. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2012, vol.17, 18 n.2, pp.481-490. ISSN 1413-8123. http://dx.doi.org/10.1590/S1413- 81232012000200021. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_alimentar_populacao_brasileira_2ed.pd f> Acesso em 28/05/2106 MONTEIRO, Carlos Augusto; MONDINI, Lenise e Costa, Renata BL. Mudanças na Composição e adequação nutricional da dieta nas familiares Áreas Metropolitanas do Brasil (1988-1996). Rev. Saúde Pública [online]. 2000, vol.34, n.3, pp.251-258. ISSN 1518-8787. http://dx.doi.org/10.1590/S0034-89102000000300007. MOSS, Michael, Sal, açúcar, gordura: Como a indústria alimentícia nos fisgou – 1 ed. – Rio de Janeiros>Intrínseca, 2015. 512 p. ; 23 cm. KENDE, Pierre – A publicidade e a informação do Consumidor in Marcus-Steiff, Jachim e outros – Os mitos da publicidade - tradução de Hilton Ferreira Japiassú. Petrópolis, Vozes, 1974. Pesquisa de orçamentos familiares, 2008 – 2009 aquisição alimentar domiciliar per capita, Brasil e Grandes Regiões. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE POLLAN, Michael. Cozinhar: Uma história Natural da transformação – 1 ed. – Rio de Janeiro: Intríseca, 2014. 448 p. ROCHA, E. Magia e Capitalismo: um estudo antropológico da publicidade. São Paulo: Brasiliense, 2010. Rotulagem nutricional obrigatória: manual de orientação às indústrias de Alimentos - 2º Versão / Agência Nacional de Vigilância Sanitária– Universidade de Brasília – Brasília : Ministério da Saúde, AgênciaNacional de Vigilância Sanitária / Universidade de Brasília, 2005.44p SANTAELLA, Lucia. Comunicação e pesquisa: projetos para mestrado e doutorado. São Paulo: São Paulo, SP, v. 30, p. 79-95, dez. 2005. SCAGLIUSI, F.B.; MACHADO, F.M.S.; TORRES, E.A.F.S. Marketing applied to 19 Brasil. Ministério da Saúde. Desmistificando dúvidas sobre alimentação e nutrição : material de apoio para profissionais de saúde / Ministério da Saúde, Universidade Federal de Minas Gerais. – Brasília : Ministério da Saúde, 2016. http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/desmistificando_duvidas_aliment acao.pdf Acesso em 15/11/16 às 18h30min POLLAN, Michael. O dilema do Onívoro – Rio de Janeiro: Intríseca, 2007. 20 21