Módulo 9 Manifestações Neurológicas no Doente HIV+ Introdução ao Módulo 9 O Sistema Nervoso (SN), juntamente com o sistema endócrino, desempenha a maioria das funções de controlo do corpo. O SN divide-se em duas partes: 1. Sistema Nervoso Central (SNC), que compreende o encéfalo e a medula espinhal. 2. Sistema Nervoso Periférico (SNP), que compreende os nervos cranianos e nervos espinhais. • O encéfalo subdivide-se em cérebro e cerebelo. O cérebro é responsável por numerosas actividades sensitivas e motoras, bem como pela memória, inteligência, consciência, organização do pensamento, linguagem, pelo comportamento, entre outras. • A medula espinhal localiza-se dentro do canal vertebral e é responsável por várias funções motoras, sensitivas e autónomas. • O SNC é envolvido por membranas chamadas meninges, em cujo interior circula o líquido cefalorraquidiano (LCR). • Os nervos são responsáveis pela transmissão das actividades motoras e sensitivas e pela enervação da pele do corpo. É através dos nervos que se transmitem as sensações como a dor, o frio, o calor, a posição do corpo, o tacto, a pressão, os movimentos articulares e a contracção muscular. Existe uma grande variedade de infecções oportunistas que ocorrem no SN (SNC, SNP) que estão relacionadas com a infecção pelo HIV. A vulnerabilidade dos doentes seropositivos a estas infecções tem relação com o grau de imunossupressão e, portanto, com a contagem de CD4, sobretudo quando os valores estão abaixo de 100 cels/mm3. Este módulo está dividido em duas unidades que serão apresentadas a seguir: 9.1 Problemas do SNC e a cefaleia 9.2 Neuropatia periférica Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 243 Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 244 Unidade 9.1 – Problemas do SNC e Cefaleia Introdução O doente seropositivo pode ter diversas manifestações neurológicas que se expressam através de problemas do sistema nervoso central, incluindo mudanças do nível de consciência e da função cognitiva, cefaleia e depressão. Na presente unidade, vai-se abordar a manifestação e a gestão dos problemas do SNC e cefaleia no doente HIV+. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • • • • Definições: consciência, diminuição do nível de consciência, função cognitiva Categorias das causas importantes das alterações do nível de consciência e/ou da função cognitiva no doente HIV+ Alterações do nível de consciência e/ou da função cognitiva e condições do estadio IV de SIDA Outras condições (não do estadio IV) que podem causar alterações do nível de consciência ou da função cognitiva Cefaleia e diagnóstico diferencial no doente HIV+ Depressão, classificação e abordagem Uso do algoritmo para avaliar e tratar o doente seropositivo com alterações do nível de consciência e/ou da função cognitiva Alterações do Nível de Consciência e/ou da Função Cognitiva - Definições: Consciência Designação do grau de vigília do indivíduo, ou seja, a capacidade que o indivíduo tem de responder ou de apreciar os estímulos recebidos pelos órgãos dos sentidos 1. Diminuição do nível de consciência: A diminuição do nível de consciência é um estado no qual o indivíduo apresenta-se com sonolência ou coma, podendo ser progressivo ou flutuante. Outras alterações neurológicas: Alterações comportamentais: humor, confusão, comportamentos impróprios ou estranhos; Alterações na memória ou atenção: esquecimento, incapacidade para se concentrar; Outras alterações cognitivas: alucinações, psicose, mudanças de personalidade. Categorias das Causas Importantes das Alterações do Nível de Consciência e/ou da Função Cognitiva no Doente HIV+ 1. Causadas pelo Próprio HIV Demência por HIV (estadio IV) 2. Causadas pelas Infecções Oportunistas Meningite criptocócica (estadio IV) Toxoplasmose cerebral (estadio IV) Meningite tuberculosa (estadio IV) Outras 1 Freitas e Costa, Dicionário de Termos Médicos, Porto Editora, Portugal Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 245 3. Doenças Oportunistas Associadas a Infecções Leucoencefalopatia multi-focal Progressiva (estadio IV) Linfoma primário do SNC (estadio IV) 4. Complicações da Terapia Farmacológica Reacções Adversas aos Fármacos SIR 5. Outras Doenças: Malária (qualquer estadio) Meningite bacteriana (estadio III) Derrame cerebral (qualquer estadio) Hipertensão arterial (crise hipertensiva) Depressão, ansiedade (qualquer estadio) Eclampsia (qualquer estadio) Abuso de álcool (alcoolismo) (qualquer estadio) Deficiência nutricional/vitamínica (pelagra, etc.) (qualquer estadio) Neurossífilis (qualquer estadio) Neurocisticercose (qualquer estadio) Trauma cerebral (qualquer estadio) Tripanosomiase (doença de sono) (qualquer estadio) Anomalias endócrinas/metabólicas (por exemplo, as relacionadas com as diabetes, doenças do fígado, dos rins, da tiróide, intoxicação) (qualquer estadio). Nem todas as causas acima mencionadas serão abordadas nesta unidade; algumas serão tratadas na unidade sobre reacções adversas a medicamentos e outras não serão estudadas por transporem os objectivos desta formação. Alteração do Nível de Consciência ou da Função Cognitiva e Condições do Estadio IV de SIDA Infecções oportunistas do estadio IV: No estádio IV, são várias as condições ou infecções oportunistas associadas a mudanças do nível de consciência ou da função cognitiva, com ou sem cefaleia e/ou meningismo. Nesta unidade serão apresentadas em detalhe as seguintes condições: Meningite criptococócica, Toxoplasmose cerebral e Meningite tuberculosa, por serem tratáveis no país. Todas são condições difíceis de diagnosticar, porque o diagnóstico específico precisa de punção lombar com testes especiais de LCR ou outros exames que não estão disponíveis em nenhuma Unidade Sanitária Nacional. A avaliação clínica não é suficiente para identificar nenhuma das três doenças nem para diferenciá-las com precisão de outras patologias que se apresentam com alteração do nível de consciência ou da função cognitiva (por exemplo: meningite bacteriana, neurossífilis, ou malária cerebral). Na Tabela 1 estão descritos os sinais e sintomas mais comuns destas doenças. Além das mudanças do nível de consciência ou da função cognitiva, a criptococose meníngea, toxoplasmose cerebral e meningite tuberculosa podem também manifestar-se com outros sinais ou sintomas, nomeadamente: Cefaleia Meningismo (rigidez no pescoço) Febre Défices neurológicos focais (hemiparesia, paralisias dos nervos cranianos, etc.) Outros O clínico deve suspeitar as infecções do SNC no doente com alterações do nível de consciência (confusão, sonolência, coma), défices neurológicos focais ou mudanças de comportamento ou função Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 246 cognitiva, com ou sem febre ou outros sinais de meningite, especialmente no doente com CD4 baixo (inferior a 200 cels/mm3). Estas infecções também podem aparecer como SIR, depois de iniciar o TARV. Seguidamente, serão descritas as três doenças neurológicas do estadio IV que afectam o doente HIV+ : Meningite criptocócica (MC), Toxoplasmose e TB meníngea. Meningite Criptocócica (MC) É uma infecção causada pelo fungus Cryptococcus neoformans (var neoformans e outras). Começa frequentemente no pulmão e dissemina-se para o sistema nervoso e pele. Estudos realizados sobre a incidência e prevalência da doença Em outros países da África, a sua incidência e/ou prevalência já foi estudada: a. Num estudo realizado com 215 doentes HIV+ com diagnóstico de meningite em Bangui, República Centro Africana, constatou-se que 39,1% tinham meningite criptocócica. (Bekondi et al, 2006). b. Num estudo realizado com 230 doentes HIV+ com meningite criptocócica em Lusaka, Zâmbia, 215 (91%) apresentavam meningite criptocócica como a sua primeira doença do estadio IV do SIDA. c. Num estudo conduzido com 406 doentes HIV+ com meningite em Harare, Zimbábue, 21% tinham confirmação do diagnóstico de meningite criptocócica. Destes, 88% tinham meningite criptocócica como a sua primeira doença do estadio IV do SIDA. (Heyderman et al, 1998) Testes laboratoriais: Para a confirmação diagnóstica, é indicada a punção lombar com Tinta da China, ou teste para antigénio criptocócico (AgCr) do LCR ou do sangue. Tratamento: • A meningite criptocócica é fatal caso não seja tratada. • Tratamento: Fluconazol em dose alta. Todos os doentes com meningite criptocócica estão no estadio IV da OMS e são candidatos para o TARV e para a profilaxia com Cotrimoxazol. • Adiar o início do TARV até que as etapas iniciais da terapia sejam concluídas. • No caso de aparecer ou piorar nas primeiras semanas ou meses de tratamento com ARV: o clínico deverá suspeitar SIR e consultar o médico. Prevenção Actualmente em Moçambique não se faz a profilaxia primária para a meningite criptocócica. O Cotrimoxazol e a INH não são eficazes na prevenção de meningite criptocócica. O Fluconazol pode ser activo na prevenção primária no doente com CD4 muito baixo, mas actualmente não é recomendado no país. Toxoplasmose Cerebral • É causada pela parasita Toxoplasma gondii • A exposição ao T.gondii acontece frequentemente através de animais domésticos (cabras/ovelhas) ou de estimação (gatos) infectados com o parasita. A maioria das pessoas expostas à toxoplasmose tem infecção latente, e nunca desenvolvem toxoplasmose cerebral, com excepção das crianças expostas a toxoplasmose no útero (transmissão vertical), e dos adultos com imunodepressão causada pelo HIV. • É uma doença do estadio IV do SIDA e ocorre com maior frequência nos indivíduos com CD4<200 cels/mm3, e frequentemente com CD4<100 cels/mm3. Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 247 Estudos realizados Um estudo realizado no Hospital Central de Maputo mostrou que >75% dos doentes internados com diagnóstico de uveíte (processo inflamatório infeccioso ocular que pode ser produzido pelo toxoplasma) tinham serologia positiva para toxoplasma. Este dado evidencia que a maioria destes doentes tinha antecedente de exposição ao toxoplasma 2. Diagnóstico O CLINICO deve suspeitar toxoplasmose cerebral num paciente seropositivo que apresenta um quadro clínico de défices focais ou convulsões, sem sinais de meningite e que tem uma contagem de CD4<200 cels/mm3. Se o paciente está recebendo profilaxia com Cotrimoxazol, o diagnóstico de toxoplasmose cerebral é muito menos provável, já que o Cotrimoxazol protege contra esta infecção. Testes laboratoriais: Não existe um teste laboratorial para o diagnóstico de toxoplasmose cerebral. Onde há tomografia computarizada do cérebro, a presença de lesões em massa sugere o diagnóstico, entretanto, a tomografia não está disponível na maioria das Unidades Sanitárias do país. Tratamento: A toxoplasmose cerebral pode ser tratada com Pirimetamina+Sulfadiazine, ou com doses altas de Cotrimoxazol 3 Prevenção: A profilaxia com Cotrimoxazol funciona perfeitamente na prevenção da toxoplasmose cerebral. A doença tem sido menos frequente desde a introdução da profilaxia com Cotrimoxazol e do TARV. Meningite Tuberculosa • Causada pelo Mycobacterium tuberculosis • É uma forma extrapulmonar de tuberculose do estadio IV da OMS (enquanto que a TB pulmonar é uma doença do estadio III da OMS). • Muitos doentes podem não apresentar evidências de infecção activa por TB noutros locais, mas muitos têm evidência de TB pulmonar. • A meningite tuberculosa pode ser consequência de uma infecção por TB latente (reactivação) ou de uma nova infecção com propagação para o SNC (especialmente comum nas crianças). • A tuberculose é endémica em Moçambique, no entanto, desconhece-se a incidência da meningite tuberculosa nos doentes HIV+. Estudos realizados sobre a incidência e prevalência da meningite tuberculosa Num estudo realizado no Soweto, África do Sul, em 284 adultos (37,3% HIV+), a causa mais comum da meningite era TB (25,4%). Neste mesmo estudo, a meningite bacteriana aguda foi detectada em 22,5% e a meningite criptocócica em 13%. 4 Diagnóstico • Em todos os casos onde predominam a cefaleia, febre +/- meningismo deve-se fazer a punção lombar e solicitar BK do LCR. • Se houver suspeita de meningite tuberculosa, deve-se procurar a TB em outras localizações, principalmente no pulmão (em muitos casos a meningite tuberculosa está associada à TB pulmonar) Tratamento: Segundo o esquema do PNCTL (Programa Nacional de Controle de TB e Lepra). 2 Chagunda M et al, Estudo dos agentes etiológicos da uveite endógena em doentes com e sem infecção pelo vírus de imunodeficiência humana (HIV) internados no serviço de oftalmologia do hospital central de Maputo; oral presentation at MISAU/INS Dia Aberto de Pesquisa em Saúde, Maputo, 23 Maio 2008 3 Dedicoat M, Livesley N. Management of Toxoplasmic Encephalitis in HIV-Infected Adults (with an Emphasis on ResourcePoor settings) [Review]. The Cochrane Library 2006, issue 4 (www.thecochranelibary.com). 4 Bergemann, A. and A. S. Karstaedt (1996). "The Spectrum of Meningitis in a Population with High Prevalence of HIV Disease." Qjm 89(7): 499-504. Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 248 Diferenças clínicas mais importantes entre meningite criptocócica, toxoplasmose cerebral, meningite tuberculosa, meningite bacteriana e malária cerebral (veja tabela 3 em anexo nesta unidade): Não é possível confirmar nenhum dos diagnósticos só com avaliação clínica. É preciso fazer anamnese, exame físico e testes laboratoriais. O diagnóstico diferencial dos quadros neurológicos no paciente HIV+ deve ter em conta os seguintes aspectos: • Segundo a Evolução: Se a apresentação clínica da doença for aguda (evolução de poucos dias), nestes casos, a malária cerebral e a meningite bacteriana são mais comuns. Se a apresentação da doença for subaguda (evolução de semanas), a criptococose, a tuberculose e a toxoplasmose são mais comuns. • Segundo CD4: Se o CD4 > 200 cels/mm3, a ocorrência da malária cerebral, da meningite tuberculosa e da meningite bacteriana é mais provável. Se o CD4> 200 cels/mm3, a ocorrência da toxoplasmose e da criptococose é pouco provável. • Segundo a presença de défices neurológicos focais: Se houver défices neurológicos focais (hemiparesia, paralisia dos nervos cranianos), a toxoplasmose e a meningite tuberculosa são mais prováveis. • Segundo a presença de outros sinais e sintomas associados à doença neurológica: Se o quadro neurológico estiver associado a um quadro respiratório, é mais provável que a causa seja a criptococose, a tuberculose ou malária severa. • Testes laboratoriais: Se a Tinta da China de LCR for positiva, o diagnóstico da criptococcose fica confirmado. (Mas se a Tinta da China for negativa, e os testes não confirmam a presença de outra doença, é provável que a criptococose esteja presente). Se a BK do LCR for positiva, confirma o diagnóstico da TB. (Mas, se a BK for negativa, não descarte a TB). Se a tintura de Gram de LCR for positiva, o diagnóstico de meningite bacteriana fica confirmado. O hematozoário, se for positivo, indica a presença da malária. A malária assintomática pode existir em simultâneo com outra doença neurológica sintomática. Não há nenhum teste laboratorial que confirme a presença da toxoplasmose. Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 249 Tabela 1: Diagnóstico Diferencial da Meningite Criptocócica, Toxoplamose Cerebral e da Meningite Tuberculosa no Doente HIV+ Meningite Criptocócica Toxoplasmose Cerebral Meningite Tuberculosa Características gerais Lesão cerebral em massa Começa frequentemente no pulmão e dissemina-se para o sistema nervoso e pele. Evolução temporal Doença em evolução ao longo de uma semana ou semanas Sub-aguda no aparecimento Evolução crónica. Pode ser a dos sintomas (evolução <2 consequência de uma infecção por TB semanas); latente (reactivação) ou de uma nova infecção com propagação para o SNC (especialmente comum nas crianças) Sinais e sintomas comuns Febre e cefaleia intensa e persistente História médica de cefaleia com Pode apresentar-se com uma gama de febre +/- défices neurológicos sinais ou sintomas clínicos, tornando o focais diagnóstico difícil: Cefaleia com sinais meníngeos de vários dias de duração (vómitos, fotofobia, rigidez de pescoço) associado à FESTA Grande deterioração neurológica: História médica de convulsões Cefaleia constante alterações do estado mental, sonolência, alterações da memória, da fala, etc Confusão/ Sonolência/ Delírio/ Meningismo Coma É importante notar que o Febre toxoplasma cerebral pode Anorexia também estar presente com défices neurológicos focais Vómitos (fraqueza nos braços ou Fotofobia pernas, decaimento facial, convulsões, etc.) por si só, sem Confusão outros sinais de perigo. Coma As convulsões são mais comuns nas crianças (50%) do que nos adultos (5%) A demora do tratamento pode fazer um Tuberculoma com: a. Qualquer paralisia dos nervos cranianos b. Hemiparesia Procurar Evidências de doença pulmonar. Doenças da pele Profilaxia com Cotrimoxazol Sinais Focais Sinais e sintomas de Tuberculose Activa devem ser identificados, apesar de nem sempre estarem presentes na meningite tuberculosa A profilaxia com Cotrimoxazol e INH não A profilaxia com Cotrimoxazol é A profilaxia com Cotrimoxazol e INH é eficaz na prevenção de meningite eficaz na prevenção da (sempre que não tivesse TB activa) é criptocócica Toxoplasmose cerebral eficaz na prevenção de meningite tuberculosa Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 250 Outras Condições de Estadio IV: Além da criptococose, toxoplasmose, e da meningite tuberculosa, existem outras condições do estadio IV que podem causar alterações do sistema nervoso cerebral. Linfoma Primário do Sistema Nervoso Central É um tumor do SNC, de difícil diagnóstico e tratamento em Moçambique. O linfoma primário do SNC apresenta-se com alteração do estado mental (confusão, coma, perda da memória) e/ou focalidade neurológica (clinicamente semelhante a toxoplasmose cerebral). No geral, o linfoma do SNC não se associa a febre ou ao meningismo. Demência pelo HIV A demência pelo HIV é um quadro subagudo (meses de evolução) que se apresenta com perda progressiva das capacidades intelectuais (pensamento lento, perda da memória, dificuldade na fala, apatia). Mais tarde o doente pode apresentar dificuldade para caminhar, perda de controlo de esfíncteres e convulsões. Pensa-se que esteja associada a efeitos directos ou indirectos da infecção cerebral pelo HIV. A demência pelo HIV nas crianças é chamada encefalopatia pelo HIV. A diferença entre crianças e adultos é que as primeiras estão a desenvolver o cérebro e nos adultos o desenvolvimento cerebral já está completo. As perturbações a seguir mencionadas estão também relacionadas com a demência: • Problemas da memória; • Alteração na capacidade de julgamento e processamento de informações básicas; • Alteração do comportamento emocional, pelo menos um dos seguintes: labilidade emocional, irritabilidade, apatia e rudeza no comportamento social; • Perturbação de consciência. 5; A demência causada pelo HIV pode melhorar com o TARV. Leucoencefalopatia Multifocal Progressiva A leucoencefalopatia multifocal progressiva é uma doença do SNC. É fatal e progressiva e afecta doentes com imunodepressão grave. • As anomalias cognitivas são semelhantes as da demência pelo HIV: Défice neurológico focal progressivo; Dificuldades na fala e no andar; Fraqueza; Distúrbios visuais. • O sinal físico mais comum é a fraqueza dos membros. • Os distúrbios cognitivos e motores são comuns. • A diplopia (visão dupla) afecta alguns doentes. Outras Condições que Afectam o Sistema Nervoso Central (Não do Estadio IV) Reacções adversas a medicamentos Serão tratadas com mais detalhe na unidade sobre reacções adversas, contudo há de destacar o Efavirenz que pode desencadear os seguintes sintomas: • • Tonturas, problemas de memória, insónia e sonhos anormais (pesadelos) e por vezes assustadores, que normalmente começam poucos dias após o início do tratamento; Pode produzir ansiedade, depressão e psicose. No geral, estes efeitos desaparecem espontaneamente depois de duas a quatro semanas de tratamento e são menos frequentes no doente que toma o EFV à noite e em jejum. Se o técnico suspeitar uma reacção adversa de grau III ou IV, deve consultar o médico. 5 Módulo de IO. Guia dos participantes II. MISAU/Direcção Nacional de Saúde. Programa Nacional de Controlo de ITS/HIV/SIDA. Fevereiro 2005 Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 251 Outras Patologias: Neurosífilis • As manifestações neurológicas da sífilis são do estadio tardio (terciário) da infecção pelo Treponema pallidum. A presença de neurossífilis não é razão para mudar o estadio do doente conforme define a OMS. Os sintomas da neurossífilis incluem: Alterações da personalidade (incluindo perda cognitiva e/ou comportamental); Ataxia (falta de coordenação de movimentos); Sintomas urinários (ex.: incontinência urinária); Tontura; Demência, mania ou paranóia. Todos os doentes suspeitos de apresentar neurossífilis requerem RPR (ou VDRL) e a avaliação pelo médico. Pode ser necessária a punção lombar para confirmar o diagnóstico. O tratamento para neurossífilis é muito mais intensivo que o tratamento para sífilis usual e não deve ser iniciado sem consultar o médico. Outras Causas De entre as outras causas dos problemas do SNC, a malária cerebral (pode ocorrer em qualquer estadio de HIV/SIDA), a meningite bacteriana (estadio III, por ser infecção bacteriana severa) e o derrame cerebral são as mais importantes no diagnóstico diferencial. Geralmente, o diagnóstico e o tratamento das outras causas (das mencionadas acima) é igual para o doente seropositivo como para o seronegativo. Cefaleia no Doente HIV+ A cefaleia ou dor de cabeça é uma queixa frequente nos doentes seropositivos e pode representar sinal de diversas doenças neurológicas graves do HIV. Por isso, é importante diferenciar a cefaleia de natureza vulgar daquela que é sinal de doença mais grave. A cefaleia agravada por mudanças do nível de consciência ou da função cognitiva nunca deve ser subestimada no doente HIV+. Etiologia da Cefaleia Existem poucos dados que descrevem detalhadamente a incidência e a prevalência da cefaleia nos doentes com HIV. Muitos relatórios sugerem que a cefaleia é queixa muito frequente nos doentes com HIV, que pode ser causada por: • Maior frequência de infecções/doenças oportunistas que afectam o sistema nervoso dos doentes HIV+ em relação à população geral. • Maior frequência da depressão e ansiedade nos doentes com HIV, que frequentemente é acompanhada por cefaleias pouco específicas. • A cefaleia pode aparecer como uma reacção adversa às diferentes medicações usadas para tratar o HIV. A cefaleia pode ser uma queixa acompanhada por sinais de perigo, tais como: Febre alta, Rigidez do pescoço, Convulsões, Mudanças importantes do grau de vigília ou de comportamento, Nova paresia ou fraqueza localizada (por exemplo, fraqueza de um só lado da face, ou de um só braço), Tensão arterial muito alta, Sinais e/ou sintomas de TB, Cefaleia moderada/severa na gravidez. Ou pode ser uma queixa pouco importante quando: • Não é acompanhada por sinais de perigo; • É ligeira ou moderada e consistente com cefaleia de tensão; Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 252 • O doente com história clínica de enxaquecas apresenta as mesmas características anormais (tais como distúrbios visuais, sensoriais ou motores) que as crises anteriores (perguntar se o episódio actual é consistente com os episódios anteriores). Diagnóstico Diferencial da Cefaleia Em muitos casos, as cefaleias podem ser benignas, mas nos doentes com imunodepressão grave (CD4 baixo, estadio III ou IV), as cefaleias muitas vezes são o primeiro sintoma aparente de uma condição grave e até fatal, caso não sejam diagnosticadas e geridas atempadamente. As cefaleias também podem ocorrer associadas a outras doenças presentes na população em geral, tais como a malária ou a sinusite. Para avaliar cuidadosamente uma queixa neurológica é importante determinar a extensão e a gravidade do problema, bem como compreender que os sintomas e sinais da doença neurológica aparecem muitas vezes sobrepostos. No diagnóstico diferencial, é necessário considerar as causas graves ou preocupantes da cefaleia, como: • Infecções e Doenças Oportunistas, por exemplo: • Meningite criptocócica • Toxoplasmose cerebral • Meningite tuberculosa • Linfoma primário do SNC • Complicações da Terapia Farmacológica: • Reacções adversas aos fármacos • Síndrome de Imuno-Reconstituição (SIR) • Outras Doenças: • Malária cerebral • Neurossífilis • Meningite bacteriana • Neurocisticercose • Hipertensão arterial (crise hipertensiva) Todas as condições desta lista podem manifestar-se com alterações do nível de consciência e/ou da função cognitiva, e/ou com défices neurológicos focais, mas às vezes o primeiro sintoma é só cefaleia. Por isso, todas as vezes que um doente seropositivo apresentar-se com cefaleia, é preciso procurar outros sinais ou sintomas de condições graves do SNC. Na secção a seguir, vai-se tratar principalmente da cefaleia não acompanhada por sinais nem sintomas de doença severa do sistema nervoso central. Cefaleia como Reacção Adversa ao Tratamento • Pode ser difícil atribuir a cefaleia somente ao TARV ou a outras medicações. Ver tabelas sobre reacções adversas na respectiva unidade. • Perante suspeita de uma reacção adversa de classe III ou IV, o clínico deverá encaminhar o doente ao médico e este decidir pelo tratamento. • Vários medicamentos podem causar cefaleia, algumas vezes só no início do tratamento, mas também pode ser persistente. Entre os medicamentos que podem causar a cefaleia encontramse: Zidovudina Efavirenz Tenofovir Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 253 Gestão da Cefaleia como Reacção Adversa • Identificar a medicação como a única causa da RAM neurológica • Classificar a RAM de grau 1-4 • Terapia com base nos sintomas: • Cefaleia ligeira: paracetamol e reavaliar. • Cefaleia moderada a severa: procurar outros sinais e sintomas de doença oportunista severa. Referir ao médico se suspeita de uma IO ou se precisa considerar a retirada ou substituição da medicação. Outras Possíveis Causas da Cefaleia no Doente HIV+: o Malária: risco elevado no doente HIV+ que não está a tomar Cotrimoxazol ou a usar rede mosquiteira o Meningite bacteriana o Neurossífilis o Pré-eclampsia ou eclampsia (na grávida) o Hipertensão arterial (crise hipertensiva) o Sinusite (lembre-se que sinusite repetida pode ser uma razão para reestadiar) o Infecção respiratória simples (resfriado) o Enxaqueca o Ansiedade, depressão o Trauma o Outras Depressão no Doente HIV+ Depressão: Estado mental caracterizado por diminuição do tónus neuropsíquico e que se manifesta com lassidão, fadiga, pessimismo e, por vezes, ansiedade 6 O doente seropositivo pode ter ansiedade ou depressão além de uma complicação do estadio IV. Para verificar a presença de algum problema mental e ou de comportamento são recomendados os passos seguintes: 7 Verificar o estado emocional do doente (veja a lista de sintomas de depressão abaixo). Tem pensamentos ou comportamentos estranhos? (possível psicose) Verificar se o doente está tenso ou ansioso (ansiedade) Perguntas que devem ser feitas ao doente: • Está a consumir álcool ou alguma droga? Os doentes que estejam a tomar alguma droga ou consumir álcool podem ter alteração no seu comportamento. • Está a receber algum tratamento? Caso responda que SIM, peça-lhe que indique o(s) nome(s) do(s) medicamento(s) e desde quando está a tomá-los. Depressão: Avaliação, Classificação e Tratamento Avalie os sintomas de depressão: • Tem falta ou aumento de apetite? • Alteração do sono: dorme mal à noite ou tem problemas para acordar nas manhãs. • Sente-se irritado e agita-se facilmente? • Tem falta de energia todos os dias? 6 Freitas e Costa, Dicionário de Termos Médicos, Porto Editora, Portugal Módulo de IO. Guia dos Participantes II. MISAU/Direcção Nacional de Saúde. Programa Nacional de Controlo de ITS/HIV/SIDA. Fevereiro 2005 7 Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 254 • • • • • • Diminuiu o desejo sexual? Tem problemas para se concentrar? Perdeu a autoconfiança ou estima? Perdeu as esperanças para o futuro? Tem algum sentimento de culpa? Tem pensado no suicídio ou muito sobre a morte? Caso o doente tenha pensamentos suicidas, avalie se: O doente tem algum plano? A família tem conhecimento? Tem os meios para materializar o plano? Houve alguma tentativa? Classificação e Gestão da Depressão: Episódio depressivo grave: risco de suicídio • Caso o doente tenha pensamentos suicidas: Se teve algum plano de suicídio ou teve alguma tentativa, deverá ser transferido, se for possível, urgentemente para o hospital. Caso contrário, mobilize os familiares para não o deixarem sozinho; Retirar os objectos nocivos; Orientar e aconselhar os familiares; Fazer visitas de seguimento. Episódio depressivo moderado: • Cinco ou mais sintomas de depressão e duas semanas ou mais de duração; • Tratamento: Depois de identificadas as causas (excluir efeitos secundários do TARV), dar apoio psicossocial e Diazepam (se for ansiedade, evite Diazepam no doente que toma álcool) e transferir para consulta especializada para um profissional de saúde mental. Dar Amitriptilina (ou outro medicamento para depressão, se disponível). Orientar o doente e seus familiares sobre a medicação. Episódio depressivo leve: Caso o doente apresente menos de cinco sintomas de depressão: • Dar apoio psicossocial. Caso existirem dúvidas, transferir o doente para o técnico de saúde mental; • Considerar o uso de Amitriptilina em doses pequenas. Uso do Algoritmo para Abordagem do Doente HIV+ com Alterações do Nível de Consciência e/ou da Função Cognitiva Passo 1: Identificar sinais de perigo: Coma, fraqueza unilateral, ausência de reflexos, obstrução das vias aéreas, sinais de irritação meníngea , movimentos anormais dos olhos, pupilas anormais (anisocoria) e outros sinais de isquemia cerebral. Se presentes, internar ou encaminhar. Enquanto espera pela transferência, dê dextrose, fluidos endovenosos, diazepam (caso tenha convulsões), antimaláricos e antibióticos. Se se tratar de mulher grávida, deve-se encaminhar à maternidade; Se não houver sinais de perigo e o quadro clínico não for agudo, por exemplo, se a família refere que o doente apresenta os sintomas há semanas ou meses, é aconselhável fazer uma avaliação mais completa; Se as mudanças forem agudas (tiverem começado no mesmo dia ou nos últimos dias), e houver suspeita de meningite ou de malária cerebral, é preciso iniciar o tratamento de imediato. Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 255 Passo 2: Avaliar e tratar ou referir O técnico deve fazer uma avaliação completa: • Perguntar pela evolução dos sinais ou sintomas (Repentina? Progressiva? Relacionada com o início de algum medicamento?) • Observar a maneira de falar, caminhar e de pensar. Pedir testes de malária, glicose, transaminases, creatinina, ureia e sífilis. Verificar se o doente: • Toma o Efavirenz? Se sim e se os sintomas começaram rapidamente depois de iniciar o EFV, pode ser reacção adversa. (Consulte o médico se houver evidência de reacção adversa de Grau III ou IV; Se for Grau I ou II, o doente deve tomar Efavirenz à noite e deve ser reavaliado para confirmar se os sintomas estão a desaparecer antes do fim do primeiro mês de tratamento com EFV) • • Se não estiver a tomar Efavirenz, ou se estiver a tomá-lo mas os sintomas começaram semanas ou meses depois de iniciá-lo, ver o resultado da avaliação clínica e dos testes de laboratório: o Tem o teste de RPR+? Se sim, pode ser neurossíflis. Consulte o médico para possível punção lombar. o Tem o CD4 baixo? Se sim, suspeite IOs (com ou sem SIR) ou outras condições de estadio IV. Consulte o médico para possível punção lombar e para estabilizar; consulte o médico antes de iniciar o TARV ou mudar de linha.) Se os testes de laboratório forem anormais, ou se a avaliação clínica identificar outro problema, tratar o problema identificado e reavaliar. Se não melhora com o tratamento ou se não foi identificado nada de anormal nos testes laboratoriais e na avaliação clínica, o doente deverá ser encaminhado ao médico. O CLINICO que não consegue identificar ou tratar a causa da alteração do nível de consciência deve encaminhar o doente. Uso do Algoritmo para Abordagem do Paciente com Cefaleia Passo 1: • Identificar os doentes com sinais de perigo: cefaleia com febre alta, rigidez de pescoço, convulsões, mudanças importantes do grau de vigília, ou de comportamento, nova paresia ou fraqueza localizada (por exemplo, fraqueza de um só lado da face, ou de um só braço) Se presentes: Estabilizar com: Glucosa/dextrosa, se houver mudanças no nível de consciência; Diazepam, se houver convulsões; Antibióticos endovenosos e antimaláricos, se houver malária severa; Encaminhar ou internar o doente. Passo 2: • Fazer avaliação neurológica do doente e fazer teste de malária se houver suspeita. Se o resultado for positivo, tratar. Passo 3: • Casa não haja malária, procure evidência de outras doenças comuns que produzem cefaleia (enxaqueca recorrente, sinusite, resfriado, etc.). Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 256 Passo 4: • Se não houver malária nem doença comum, pergunte por medicamentos que podem causar cefaleia (sobretudo Zidovudina, Efavirenz; veja tabelas de reacções adversas a medicamentos, na unidade sobre RAM). Passo 5: • Se ainda não consegue identificar a causa da cefaleia: Cefaleia leve: Prescrever Paracetamol, reavaliar após dois ou três dias; Cefaleia moderada/severa ou cefaleia que não responde a Paracetamol, ou acompanhada por outros sinais e sintomas de meningite ou outra doença do SNC ou doença avançada de SIDA (estadios III e IV): Consultar o médico e/ou referir. Pontos-Chave • As doenças oportunistas que causam alteração do nível de consciência ou da função cognitiva são no geral condições graves do estadio IV da SIDA. • Não é possível fazer um diagnóstico diferencial a partir do exame físico e anamnese, por isso o CLINICO deve avaliar e encaminhar os doentes para provas específicas. • Os cuidados-padrão nestas situações (fluidos endovenosos, dextrose, antimaláricos, antibióticos) devem ser administrados durante o tempo de espera do doente até a sua transferência ou chegada do médico. Uma demora no tratamento das infecções do sistema nervoso central será fatal. • É preciso distinguir as cefaleias que podem ser tratadas em regime ambulatório das condições graves que requerem encaminhamento ou internamento. Anexos Em anexo a esta unidade encontram-se os seguintes documentos: • Tabela 2 relativa aos patógenos (possíveis causas) que provocam clínica neurológica e a sua abordagem. • Tabela 3 relativa aos diagnósticos diferenciais entre criptococose, toxoplasmose, meningite tuberculosa, malária cerebral e meningite meningococica. • Algoritmo de alteração do nível de consciência • Algoritmo guião para cefaleia Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 257 Tabela2. Possíveis causas de doenças importantes do SNC no paciente HIV+ Patogenia ou outra causa Doença ou sindroma Sinais e sintomas Estadio e/ou CD4 Criptococos neoformans Meningite criptocócica Veja tabelas já apresentada Estadio IV na página 263 Diagnóstico e tratamento Se suspeita, consulte o médico ou encaminhe; pode precisar de punção lombar. Tratamento: fluconazol, dose alta. CD4 < 100cels/mm3 Toxoplasma gondii Toxoplasmose cerebral Veja tabelas já apresentada Estadio IV, na página 263 Se suspeita, consulte o médico ou encaminhar; pode precisar de punção lombar. Tratamento: cotrimoxazol dose alta, ou sulfadiazina+pirimetamina. CD4 < 100 cels/mm3 Mycobacterium tuberculose Meningite tuberculosa Veja tabelas já apresentada Qualquer (+frequente com CD4 Se suspeita, consulte o médico ou na página 263 baixo) encaminhe; pode precisar de punção lombar. Tratamento: para TB extrapulmonar. Plasmódio falciparum Malária cerebral Alteração do nivel de consciencia, cefalea, convulsões Qualquer (+frequente com CD4 Teste rápido baixo) Plasmódio. e/ou lâmina para Quinino+dextrose ou artesunato+outro anti-malárico (SP, AQ, doxiciclina, clindamicina)+dextrose Bactérias várias Meningite bacteriana (principalmente Streptococcus pneumoniae, hemophilus influenzae, Neisseria meningitidis) Cefaleia, sinais meningeos, Qualquer (+frequente com CD4 Se suspeita, consultar o médico ou baixo) encaminhar; Alteração do nivel de consciencia, convulsões Treponema pallidum Neurossífilis Mudanças de comportamento, alterações cognitivas, etc Qualquer RPR ou VDRL; Se suspeita, consulte o médico ou encaminhar; pode precisar de punção lombar para confirmar. Importante lembrar que o tratamento usual para sífilis não é suficiente para tratar neurossífilis. Alta pressão do sangue Derrame cerebral Fraqueza unilateral da cara Qualquer ou membros que aparece repentinamente no paciente com T/A alto Diagnóstico clínico; pode ser difícil diferenciar derrame cerebral e toxoplasmose ou linfoma cerebral. Controle de T/A. Complicações da gravidez Eclâmpsia ou pré-eclâmpsia (só Convulsões (se eclâmpsia), Qualquer cefaleia, hipertensão arterial na grávida) na gravidez Diagnóstico clínico (mas é sempre importante procurar evidência de malária cerebral). Se suspeita, encaminhe à maternidade. Sulfato de magnésio +/- diazepam (se convulsões) +/antihipertensivos; cesariana (na mulher grávida seropositiva, não é aconselhável induzir o parto com oxitocina) Trypanosoma Rhodesiense fadiga, Qualquer Tripanossomías (doença de sono) Sonolência, dificuldade para caminhar, ataxia, Se suspeita, consulte ou encaminhe ao médico Taenia solium Neurocisticercos Se suspeita, refira ao médico. JC vírus Leucoencefalopatia progressiva HIV Demência HIV Tratamento: Antibióticos EV/IM Convulsões, cefaleia Qualquer multifocal Défice neurológico focal Estadio IV, progressivo , Dificuldades na cels/mm3 fala e andar, fraqueza, distúrbios visuais, convulsões Demência progressiva CD4 < 100 Se suspeita, refira ao médico Estadio IV, CD4 < 50 cels/mm3 Diagnóstico: Se suspeita, referir ao médico Tratamento: domiciliários Reacções adversas Efeitos adversos de efavirenz Mudanças Qualquer neuropsiquiátricas, começando pouco depois de iniciar EFV (pode ser no mesmo dia) Deficiências nutricionais Pelagra (deficiência de niacina e Diarreia, dermatite (afecta a Qualquer triptofan) pele exposta ao sol), e demência Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ ARV, cuidados Diagnóstico: Clínico. Procurar outras ! Tratamento: Esperar (se leve), dar EFV na noite (em jejum), consultar o médico se suspeita reacção moderada/severa Reabilitação nutricional, niacina, multivitaminas 258 Tabela 3. Doença Patogenia Meningite Criptocócica Toxoplasmose Cerebral Meningite Tuberculosa Cryptococcus neoformans (fungus) Toxoplasma gondii (parasita) Mycobacterium (mycobacteria) CD4 (veja quadro de Baixo (< 200 céls/mm3, muitas Holmes et al, em vezes < 50 céls/mm3) baixo) Normalmente < 100 céls/mm3 (Bartlett) Evolução temporal < 2 semanas (Bartlett); >=30 dias (Volberding)[ii] 7-21 dias (Hakim)[iii] Meningite Bacteriana Malária Cerebral tuberculosis Vários, incluindo: Plasmodium falciparum Streptococcus pneumoniae; (parasita) Baixo (< 200 céls/mm3, muitas vezes < 50 céls/mm3) Qualquer Normalmente < 100 cel/mm3 (Bartlett)[i] Mais comum com CD4 < 350 céls/mm3 (Bartlett) < 2 semanas (Bartlett); 5 – 21 d (Hakim) Neisseria meningitidis; Hemophilus influenzae (bactérias) qualquer qualquer 4 – 14 dias (Hakim) 36%: evolução >7 dias (Grimwade)[iv] As vezes, 1-2 dias (HATIP As vezes, evolução <1 dia (Warrell)[v] 98) Sintomas e sinais mais comuns: É preciso reconhecer que a maioria dos sinais e sintomas em baixo podem ocorrer em qualquer das 5 doencas. a confirmação laboratorial do diagnóstico sempre é importante . Sinais e sintomas de meningite Cefaleia 78% (McCarthy 2006)[vi] 97.1% (Hakim) 17 dias (Vidal) 50-70% (Sanford)[viii] 71.4% (Hakim) 71.4% (Hakim) 53.3% (Hakim) 54.5% (Hakim) Comum 73% Vidal)[ix] 46% (French)[vii] Febre 56% (Volberding) 46% (Vidal) 37.7% (Hakim) 84% (French) Meningismo (rigidez < 1/3 (Volberding) no pescoço) 69% (McCarthy), 69.0% (Hakim) 18% (French) 25% (Sanford) Sinais neurológicos focais Convulsões 9% (McCarthy) Comum 98% com febre ou história de febre (Idro)[x] 55% (McCarthy), 7% (Vidal) 73.7% (Hakim) 91.7% (Hakim) Não (Warrell) 30% (Bartlett) 0% (Hakim) 21.7% (Hakim) 3% (Grimwade) 13.2% (Hakim) 1% (French) Mudanças do nível 20-30% (Volberding) 31% de consciência (McCarthy) (sonolência, Confusão 6% (French) confusão, delírio, etc) Nivel de consciência reduzida 7% (French) Deficit focal (veja 7.0% (Hakim) também hemiparesia e deficits dos nervos cranianos, em baixo) 9% (French) 30% (Sanford) 26% (Vidal) 70% mudanças do nível de consciência (Sanford) 51% confusão, 46% mudanças do nível de consciência, (Vidal) Hemiparesia 73% (Vidal) 60% (Sanford) 12.1% (Idro) 20-50% (Warrell) 7% confusão (Grimwade) Confusão (10-30%) 13.6% alterações do nível de consciência (Idro) 5.3% (Hakim) 0% (Hakim) Reflexos anormais 18.2% (Idro) 80% (Bartlett); Hemiparesia ( 10-20%) Paresias ou outro envolvimento do nervo craniano Envolvimento do nervo craniano - 20% (Vidal) >5% Paresia do nervo VI 1% (McCarth )visuais>30% Distúrbios 15% (Vidal) Qualquer paralisia dos nervos cranianos (30-50%) Coma 3% (McCarthy) (30-60%) 16% (Grimwade) Anorexia (60-80%) Vómitos (30-60%) 62.1% (Idro) Outros sinais e sintomas Náuseas e/ou Náuseas e vómitos 41% Náuseas, vómitos (5%, Vidal) vómitos (McCarthy) Sinais/sintomas Erupção cutânea (semelhante a dermatológicas Molluscum) – 3 – 10% (Volberding) Sinais/sintomas Sintomas respiratórios 16% respiratórios (French) Se meningococco – púrpura 50% tem TB pulmonar Edema pulmonar 4% (Grimwade) TB pulmonar activo 24% (M C th ) de pneumociste 4% Pneumonia Associação com profilaxia com CTZ e/ou INH Dispneia 15.2% (Idro) (McCarthy) Doenca pulmonar 20-30% (Volberding) Meningite Criptocócica Toxoplasmose Cerebral Meningite Tuberculosa Meningite Bacteriana Malária Cerebral Nem a profilaxia com CTZ nem a profilaxia com INH são eficazes na prevenção de meningite criptocócica A profilaxia com CTZ é eficaz na prevenção da Toxoplasmoscerebral. A profilaxia com INH não é eficaz. A profilaxia com INH (sempre que não tivesse TB activa) é eficaz na prevenção de meningite tuberculosa. A profilaxia com CTZ não é eficaz A profilaxia com CTZ ajuda na prevenção de meningite bacteriana, mas não da protecção completa A profilaxia com CTZl é eficaz na prevenção da malária. N/A – normalmente não se apresenta com meningismo 12.4% (Hakim) 14.7% (Hakim) N/A – normalmente não se apresenta com meningismo Prevalência em 26% (Malawi) pacientes HIV+ com meningite confirmada ou 31% Central African Republic sintomas de meningite 45% Zimbabwe 0 (Checkley) (de: Jarvis JN 2007) 47.1% (Hakim) 81% (French) 14.0% (Checkley)[xi] Incidência em 1.5/100 pessoa-anos de observação pacientes HIV+ (Van Oosterhout)[xii] Veja também o quadro de Holmes em baixo Possivelmente útil Tinta china do LCR positivo (ou para diferenciar? CrAg) Veja também o quadro de Holmes em baixo Se está a tomar cotrimoxazol cada dia (com adesão confirmada), é menos provável que seja toxoplasmose. É preciso fazer punção lombar Se deficits neurológicas focais (veja estudo de Checkley se sem meningismo, é mais provável confusão clínica) a toxoplasmose. Se CD4 alto, pouco provável Se febre ou meningismo, é preciso a punção lombar Se CD4 alto, é pouco provável Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 5% (French) 5% (French) 18% em África do Sul (Sanford) 10.5% (Checkley) 25-50% de pacientes HIV+ em Africa (Sanford) 75.6% (Checkley) 0.9/100 pessoa-anos de observação (Van Oosterhout) 0.6/100 pessoa-anos de observação (Van Oosterhout) BK de LCR positivo. Tinção Gram de LCR positivo, resposta a antibióticos Teste rápido ou hematozoário positivo É preciso fazer punção lombar (Veja estudo de Checkley se confusão clínica) É preciso fazer punção lombar Se negativo, é preciso fazer punção lombar 259 Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 260 Manual de Referência do Clínico Manifestações Neurológicas do SNC no Doente HIV+ 261 Unidade 9.2 – Polineuropatia Periférica no Doente HIV+ Introdução A neuropatia periférica pode afectar pessoas seronegativas (por exemplo, pessoas com diabetes ou malnutrição), porém é mais frequente nas pessoas seropositivas. A neuropatia periférica pode ser causada pelo próprio HIV, e pode ser resultado de uma reacção adversa comum nos doentes que estão a tomar anti-retrovirais (d4T, ddI e outros), medicamentos para tuberculose (isoniazida), entre outros. Sem diagnóstico e tratamento oportuno, ela pode causar incapacidade física irreversível. O doente seropositivo pode ter outras doenças com sinais e sintomas duma neuropatia periférica, mas que precisam de um manejo diferente (exemplo: tuberculose vertebral). Portanto, é importante que o clínico conheça esta complicação de SIDA e o seu respectivo tratamento. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • Definição e características da neuropatia periférica • Causas dos distúrbios sensoriais periféricos no doente com HIV/SIDA • Neuropatia periférica no doente com HIV: Princípios de avaliação e manejo • Outras condições no doente HIV+ que podem provocar sinais e sintomas duma neuropatia periférica: TB da coluna vertebral: Doença de Pott, lepra e neuralgia pós-herpética Definição e Características da Neuropatia Periférica A neuropatia é uma doença que afecta a um ou a vários nervos, pode causar dor e deficiências motoras ou sensitivas. A neuropatia periférica é aquela que afecta os nervos periféricos. A neuropatia periférica associada ao HIV ou a reacções adversas a medicamentos é tipicamente uma neuropatia distal simétrica predominantemente sensorial. Os sintomas mais comuns são: • Dor, dormência, formigueiro e ardor constante e progressivo; • Começa em ambos os pés (e simétrica) e logo ascende às pernas (ascendente); • Em casos graves, pode subir até aos joelhos e coxas. Ainda que menos comum, as mãos podem ficar afectadas; • A força muscular mantém-se. Os sinais de neuropatia periférica são: • Ao tocar o pé ou a perna afectado provoca dor ou ardor (parestesia); • Em casos mais avançados, há falta de sensibilidade (anestesia); • Em casos mais graves, os reflexos osteo-tendinosos (começando com o reflexo do tornozelo) podem desaparecer e pode aparecer a dificuldade para caminhar (descoordenação). Tanto a neuropatia pelo HIV como a neuropatia causada pelo TARV ou outros fármacos são comuns nos países africanos. A doença avançada e a terapia ARV aumentam a incidência de distúrbios sensoriais periféricos. As dietas deficientes em nutrientes contribuem para aumentar a incidência desta doença. Causas dos Distúrbios Sensoriais Periféricos É importante reconhecer que pode existir em simultâneo mais de uma causa da neuropatia. Por exemplo, a neuropatia associada ao TARV (d4T e ddI) também pode ocorrer em simultâneo com a neuropatia pelo HIV ou pelas deficiências nutricionais (dietas pobres) previamente existente, agravando o quadro clínico do doente. Só algumas das causas apresentadas abaixo correspondem à neuropatia periférica. Outras podem também estar presentes no doente com HIV, mas resultam de uma doença diferente. Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 262 A. Principais causas da neuropatia periférica no doente HIV+ • Neuropatia pelo HIV • Neuropatia tóxica por fármacos: alguns ARVs (incluindo d4T/estavudina), tratamento para TB (principalmente isoniazida), vincristina, dapsona, tratamentos longos com metronidazol, etc • Deficiências nutricionais (vitamina B12, B6) B. Causas menos comuns da neuropatia periférica no doente HIV+ • Outras doenças (diabetes, insuficiência renal, alcoolismo) C. Outras condições no doente HIV+ que se podem confundir com a neuropatia periférica • Doença de Pott (tuberculose vertebral) • Neurossífilis • Demência pelo HIV (antecedida às vezes por uma lesão da medula espinhal) • Lepra • Neuralgia pós-herpética • Outras D. Factores de risco para neuropatia periférica no doente HIV+ Os factores de risco mais importantes são: • Imunodepressão avançada (CD4 < 200 cels/mm3); • Uso de medicamentos associados à neuropatia periférica (d4T/ddI, isoniazida, outros); o risco é mais elevado no doente que leva mais tempo tomando o medicamento; • Malnutrição; • Idade avançada (risco acrescentado se a pessoa tiver mais de 40 anos). Neuropatia Periférica no Doente com HIV: Princípios de Avaliação e Manejo As principais tarefas do CLINICO são: • Detectar sinais e sintomas da neuropatia periférica • Reconhecer os sinais de perigo e tratar ou encaminhar • Diferenciar a neuropatia periférica causada pelo HIV ou medicamentos ou malnutrição de outras condições neurológicas • Se presente a neuropatia periférica, determinar a causa mais provável (infecção pelo HIV, reacção adversa a fármacos, ou outro) e tratar. Na avaliação de possível neuropatia periférica, é muito importante estabelecer a relação temporal entre os sinais e sintomas da neuropatia e o uso de qualquer medicamento e também procurar activamente a existência de quaisquer sintomas de neuropatia na avaliação inicial dos doentes com HIV antes do início do TARV ou do tratamento para TB. Sinais de Perigo As seguintes situações normalmente não são causadas por neuropatia periférica simples, e são indicações para internar ou referir o doente ao médico: Indicações para internar ou encaminhar o doente urgentemente: Mudanças de comportamento, mudanças do nível de consciência (ou outros sinais/sintomas dos problemas importantes do sistema nervoso central) Paresias ou fraqueza muscular importante Incontinência de urina ou de fezes Suspeitas de TB espinhal Outras indicações para consultar ou encaminhar o doente que não tem sinais e sintomas que requerem avaliação e/ou tratamento urgente: Sinais e sintomas unilaterais ou assimétricos (que só ou principalmente afectam o lado esquerdo, ou o lado direito) Sinais e sintomas que afectam as mãos sem afectar os pés Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 263 Anamnese Durante a avaliação inicial do doente, e nas consultas de seguimento, se o doente estiver a tomar d4T ou isoniazida, o clínico deve perguntar especificamente pelos sintomas de neuropatia. 1. Há formigueiro, dormência, ardor ou dor nos pés ou nas mãos? • Se sim: É unilateral ou bilateral? É importante frisar que a neuropatia causada pelo HIV e a neuropatia tóxica sempre estão presente bilateralmente. Se a apresentação for unilateral (só um pé), a explicação é outra. • Se sim: Afecta mais aos membros inferiores? São geralmente os membros inferiores que são afectados primeiro e não os membros superiores. Se a doença começa pelas mãos, provavelmente não é neuropatia pelo HIV, e nem de reacção adversa aos medicamentos, e a explicação é outra. 2. Há paresia ou fraqueza muscular importante? • Se sim: A neuropatia pode apresentar-se com ligeira diminuição da força muscular, mas em geral predomina a alteração sensitiva. A alteração motora não é uma característica predominante da neuropatia pelo HIV; na presença de paresia ou fraqueza muscular importante, a causa provavelmente não é neuropatia periférica simples. 3. Há incontinência de urina ou fezes? • Se sim, não é neuropatia periférica associada ao HIV ou ao tratamento. 4. Há mudança de comportamento ou na forma de pensar? • Se sim, não é neuropatia periférica associada ao HIV ou ao tratamento. (Veja capítulo sobre problemas do sistema nervoso central) 5. Está a tomar algum medicamento que pode causar neuropatia periférica? • Se sim: Os sinais ou sintomas começaram antes ou depois de iniciar o tratamento? Estão a melhorar ou a agravar? (Veja o capítulo de reacções adversas a medicamentos). • Se estiver a fazer qualquer TARV, especialmente d4T ou ddI. O risco de neuropatia periférica no doente que está a tomar d4T é baixo nos primeiros meses de tratamento, mas aumenta em cada mês de TARV. • Isoniazida (INH) (profilaxia, ou tratamento para a TB) Etambutol, ou Dapsona? Se estiver a tomar INH, pergunte se está a tomar Piridoxina. A INH induz à deficiência da vitamina B6 e, portanto, o uso da Piridoxina tem como objectivo combater estes efeitos. 6. Nível de restrição das actividades: Pergunte se pode caminhar? Trabalhar? 7. Pergunte se tem dores de coluna a qualquer nível? • Se sim: Pergunte especificamente sobre dores nas costas e se começam nas costas com irradiação até aos membros inferiores (dor tipo radicular), e pelos sinais e sintomas de TB extrapulmonar. A tuberculose espinhal, por exemplo, pode causar danos graves nas vértebras, assim como danos na medula óssea ou raiz do nervo e dormência e/ou ardor ou dor nas extremidades. Exame Físico Lembre-se: A neuropatia periférica causada pelo HIV ou tratamento tende a ser bilateral, começando normalmente pelos pés. 1. Toque ambos os pés e pernas para ver se o toque provoca dor, ardor, formigueiro ou detecta dormência e até que nível anatómico isto acontece. Na neuropatia periférica, normalmente há diminuição ou alteração da sensibilidade simétrica abaixo dos joelhos. a. Se as alterações são unilaterais ou não apareceram de forma ascendente (de baixo para cima), provavelmente não é neuropatia periférica relacionada com o HIV; b. Lembre-se da lepra, que pode causar mudanças de sensibilidade localizadas. Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 264 2. Examine a força muscular das pernas e dos tornozelos: a. Na neuropatia periférica sensorial, pode haver ligeira fraqueza distal, mas não deve causar paresia ou fraqueza importante; b. Métodos para testar a força muscular dos pés: Se o doente consegue ficar de pé, peça para que fique com a ponta dos pés e com os calcanhares. Se o doente estiver acamado, peça para que empurre a mão do clínico com os pés. 3. Examine os reflexos dos tornozelos e dos joelhos: a. Na neuropatia periférica, os reflexos dos tornozelos (reflexos aquileios) podem ser reduzidos (hiporeflexia) ou ausentes. b. Verifique as costas para verificar a inexistência de problemas lombares graves, caso estejam presentes (com ou sem deformidade óssea e/ou sintomas de TB), exclua a fractura vertebral devido ao trauma, ou a TB vertebral (Doença de Pott). 4. Verifique se não há mudança de comportamento, mudança na forma de pensar (demência, etc.), ataxia (alterações de equilíbrio na marcha e descoordenação e falta de ajuste dos movimentos) ou outra evidência de problema do sistema nervoso central. 5. Verifique se não há lesões da pele associadas à: • Dor causada por neuralgia pós-herpética geralmente é associada à cicatriz de Herpes Zóster • Mudanças de sensibilidade causadas pela lepra podem estar associadas à hipopigmentação local (perda da cor normal da pele). 6. Há caquexia visível? Qual é o IMC? A presença de caquexia visível ou IMC baixo pode ser associada à neuropatia periférica causada por deficiência nutricional (de Vitamina B12, B6 e ácido fólico). 7. A doença da tiróide pode causar neuropatia; examine o pescoço para procurar o bócio. Exames complementares Não existem testes específicos disponíveis para diagnosticar a neuropatia periférica, mas alguns testes laboratoriais podem indicar a causa provável, a saber: • • • Bioquímica: Pode ser usada para excluir diabetes (glucosa), falência renal (ureia, creatinina) RPR ou teste rápido para sífilis: A sífilis pode causar neuropatia CD4: Se estiver alto, é menos provável que seja neuropatia pelo HIV Tratamento da Neuropatia Periférica A. Neuropatia periférica causada pelo HIV (com ou sem deficiência nutricional) • Suplementos vitamínicos (complexo B) em caso de suspeita de deficiência nutricional (caquexia, uso de Isoniazida sem Piridoxina) • O TARV pode melhorar os sintomas. Caso esteja no estadio III/IV da OMS ou CD4 <350cel/mm3, será candidato ao TARV: Geralmente pode-se observar alguma melhoria da neuropatia HIV grave depois do início do TARV; Evite ou retire o uso de fármacos neurotóxicos, tais como: d4T ou ddI; Às vezes, para aliviar os sintomas, o médico pode prescrever outro fármaco do grupo dos psicotrópicos, para além do TARV. A neuropatia pelo HIV não é critério definitório de nenhum estadio, mas os doentes que apresentam este problema têm geralmente doença avançada, e o clínico deve procurar outras indicações para o TARV (CD4 baixos, condições clínicas que podem definir o estadio III ou IV). Nos doentes com neuropatia periférica causada pelo HIV e que iniciam o TARV, ela melhora com o tratamento. Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 265 B. Neuropatia causada por medicamentos A neuropatia pode ser uma complicação do TARV com d4T até 30% dos doentes. A neuropatia periférica causada pelo TARV pode aparecer poucas semanas ou meses após o início, mas é mais comum no doente que faz o TARV há meses ou anos, isto é, quanto mais tempo o doente levar com o tratamento, maior é o risco de adquirir a neuropatia. É um diagnóstico clínico, onde é importante excluir a presença da neuropatia antes do início da terapia com d4T ou ddI (a neuropatia periférica que existia antes de iniciar o TARV e está a melhorar com o TARV não é reacção adversa). Em casos de existirem sinais ou sintomas de neuropatia antes de iniciar o TARV, nunca deve ser indicado o tratamento com d4T. Uma vez confirmada a suspeita da neuropatia periférica causada pela reacção adversa aos fármacos, o CLINICO deve ter em conta o seguinte: • • • • Nas tabelas de reacções adversas estão os fármacos que podem produzir neuropatia periférica. Quando estes fármacos são tomados em simultâneo (por exemplo, ARV com d4T e o tratamento para TB que inclui Isoniazida), a possibilidade de se desenvolver neuropatia é maior. Qualquer medicação suspeita como causa provável deverá ser retirada e substituída por outra. No caso de se tratar de uma reacção adversa à Estavudina (d4T), esta deve ser mudada para Zidovudina (AZT). Em geral, a neuropatia periférica causada pelo TARV ou outros fármacos requer a avaliação pelo médico. Nos casos de neuropatia periférica causada por Isoniazida, o técnico deve prescrever Pirodoxina e consultar o médico. Nos casos em que o doente apresenta algum sinal de malnutrição associada, o clínico pode receitar complexo vitamínico. Outras Condições no Doente HIV+ que Podem Parecer Neuropatia Periférica Tuberculose da Coluna Vertebral: Doença de Pott • A TB extrapulmonar pode ocorrer na coluna vertebral e manifesta-se como fraqueza e/ou dor radicular dos membros inferiores, resultantes do colapso vertebral e da compressão dos nervos espinais. • O doente pode ter sintomas constitucionais de TB (febres, suores nocturnos e perda de peso). • Como em todas as apresentações da TB extrapulmonar, a TB espinal é uma doença que define o Estadio IV do SIDA, de acordo com a OMS História Clínica • A presença da fraqueza progressiva dos membros inferiores, parestesias, sintomas urinários e intestinais, dores torácicas, lombares, ou do cóccix (com ou sem dor radicular) deveriam sempre incluir a TB espinal no diagnóstico diferencial. • Sempre procure sinais e sintomas de TB pulmonar ou extrapulmonar: febre, perda de peso, suores nocturnos, com ou sem tosse. Exame Físico • Deve ser conduzido um exame neurológico completo, evidenciando a presença de dor na coluna vertebral e/ou sinais de afecção vertebral (deformidade da coluna). No exame neurológico podese encontrar afecção motora, sensitiva e incontinência de esfíncteres. Investigações e Tratamento • Os doentes suspeitos de terem doença da espinha ou compressão espinal devem efectuar uma radiografia dorsolombar para confirmar a doença vertebral. • Todos os doentes suspeitos de estarem infectados pela TB deveriam ser solicitados exames para despiste da TB pulmonar activa. • Todos os casos de suspeita de TB da coluna vertebral devem ser encaminhados ao médico. Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 266 Neuralgia Pós-Herpética A infecção pelo herpes Zóster é um quadro frequente nos doentes seropositivos. Às vezes, após um episódio de herpes Zóster, o doente manifesta uma dor intensa e crónica ao nível da região onde apareceu a lesão. Esta dor é chamada neuralgia pós-herpética por se tratar de uma dor neuropática de difícil tratamento. A única prevenção para esta dor é o início de aciclovir atempado. Quanto maior for o tempo entre o início de herpes e o seu tratamento, maior será a possibilidade da aparição da neuralgia pós-herpética. Lembre-se: Herpes Zóster normalmente só afecta um lado do corpo, e a dor de neuralgia pós-herpética será também unilateral. Uma vez confirmada a presença da neuralgia pós-herpética no doente, o clínico deve encaminhá-lo ao médico. O médico pode tratar o doente com fármacos psicotropos (amitriptilina, carbamazepina). Lepra A lepra também pode causar problemas de sensibilidade, mas o padrão é diferente do apresentado pela neuropatia periférica. O diagnóstico e o tratamento da lepra são iguais para os doentes HIV+ e para os HIV-. Sífilis A sífilis (na fase tardia) também pode causar neuropatia periférica. É preciso avaliar o RPR se ainda não foi feito. Demência pelo HIV É uma condição do estadio IV (veja informação detalhada na unidade sobre Alterações do SNC, com complicações neurológicas do doente com HIV). Pontos-Chave • • • • A neuropatia periférica é uma complicação frequente causada pela infecção pelo HIV, do TARV, e do tratamento para Tuberculose. A neuropatia periférica causada pelo HIV e/ou medicamentos ou malnutrição apresenta-se com sinais e sintomas característicos que permitem diferenciá-la de outras doenças também presentes nos doentes com HIV. O manejo da neuropatia periférica depende da sua causa: Quando é pelo HIV, pode melhorar com o TARV; Quando é pelo TARV, requer mudança de tratamento; Quando é causada por Isoniazida e/ou malnutrição, pode melhorar com Piridoxina e/ou complexo B. Os doentes que apresentam distúrbios sensoriais acompanhados de outras manifestações neurológicas (por exemplo: mudanças do comportamento, incontinência de esfíncteres) devem ser encaminhados ao médico. Anexos Em anexo a esta unidade encontra-se o seguinte documento: • Algoritmo da neuropatia periférica Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 267 Manual de Referência do Clínico Neuropatia Periférica no Doente HIV+ 268 Módulo 10 Tratamento do Doente HIV+ Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 270 Introdução ao Módulo 10 O tratamento do HIV/SIDA não pode consistir unicamente da administração dos anti-retrovirais. Por se tratar de uma doença complexa e crónica, na qual os doentes apresentam progressão através de diferentes estadios clínicos, o seu seguimento é muito importante, e as necessidades de tratamento vão variar ao longo do tempo: • Inicialmente, os doentes podem estar assintomáticos (estadio I) e, nesses casos, o seguimento clínico e o apoio psicológico são geralmente suficientes. • À medida que a doença avança, alguns sinais ou sintomas clínicos podem aparecer (estadio II) e pode ser necessário um tratamento particular (por exemplo, sintomático para o prurido, tratamento com antibiótico para infecções respiratórias ou cutâneas menores). • A aparição de condições que definem os estadios mais avançados (estadios III e IV) requer o manejo das condições chamadas oportunistas (por exemplo, tuberculose pulmonar ou extrapulmonar, infecções bacterianas severas, diarreia crónica) e a avaliação do doente para iniciar o TARV e o CTZ. • Na ausência de qualquer sinal ou sintoma de doença, os doentes podem apresentar outros critérios para iniciar o TARV, chamados critérios imunológicos, que estão relacionados com a contagem de linfócitos CD4. Em cada uma destas fases, o doente vai precisar de informações relativas à doença, apoio psicológico e aconselhamento. Este módulo está dividido em 7 unidades, que serão apresentadas a seguir: • • • • • • • 10.1 Prevenção das IOs e Profilaxia com Cotrimoxazol (CTZ) 10.2 Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 10.3 Início do TARV 10.4 Seguimento do TARV e Falência Terapêutica 10.5 Reacções Adversas aos Medicamentos 10.6 Síndrome de Imuno-Restauração (SIR) 10.7 Profilaxia Pós-Exposição Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 271 Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 272 Unidade 10.1- Prevenção das IOs e Profilaxia com Cotrimoxazol (CTZ) Introdução Esta unidade irá abordar a importância da prevenção das Infecções Oportunistas (IOs). As Infecções Oportunistas (IOs) são responsáveis pela maioria das complicações dos doentes HIV+. O tratamento profilático com Cotrimoxazol (CTZ) muitas vezes pode evitar essas doenças, daí a pertinência da sua abordagem. Nesta unidade, dar-se-á enfoque aos seguintes aspectos: como e quando essa profilaxia é recomendada. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • • • Definição da profilaxia com Cotrimoxazol Possíveis benefícios e riscos do Cotrimoxazol Indicações para a profilaxia com Cotrimoxazol e passos a seguir Iniciação e monitoria da profilaxia com Cotrimoxazol Quando suspender a profilaxia primária com Cotrimoxazol Quando reiniciar a profilaxia primária com Cotrimoxazol depois de a suspender Definição da Profilaxia com Cotrimoxazol A profilaxia com CTZ significa tomar CTZ em doses recomendadas diariamente durante meses ou anos para prevenir infecções oportunistas. A importância da profilaxia com CTZ em doentes seropositivos: Redução da carga de infecções oportunistas Redução da carga de infecções comuns Redução da taxa de mortalidade Possíveis Benefícios e Riscos da Profilaxia com Cotrimoxazol Redução da incidência das infecções nos doentes HIV+, tanto as oportunistas como as infecções comuns/correntes, nomeadamente: • • • • • • Malária Diarreias causadas por IOs do estadio IV Infecção por algumas espécies de Salmonella (sintomas gastrointestinais e febre) Pneumonia por Pneumocistis jirovecii (PPC) Pneumonia por S. pneumoniae Toxoplasmasmose cerebral Possíveis Riscos do Cotrimoxazol 1. Reacções Adversas da Profilaxia com CTZ: • Reacções cutâneas: o Reacção fixa ao fármaco (manchas hiperpigmentadas que sempre aparecem no mesmo lugar do corpo quando se toma o fármaco) o Erupção cutânea generalizada o Síndrome de Stevens-Johnson • Outras reacções: o Insuficiência medular (anemia, leucopenia, trombocitopenia) Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 273 o Insuficiência hepática Existe um esquema da OMS para avaliar as reacções adversas ao Cotrimoxazol. Este tema vai ser tratado com profundidade na unidade sobre a Profilaxia com CTZ neste Manual. Em relação às reacções adversas aos medicamentos utilizados para o tratamento dos doentes HIV, incluindo o Cotrimoxazol, verifica-se o seguinte: • • • • • • Algumas reacções adversas são leves (grau I ou II), por vezes desaparecem sem nenhum tratamento e não é preciso suspender o medicamento; Outras reacções (grau III ou IV) são graves e perigosas, e é preciso suspender a medicação; É preciso determinar o grau de toxicidade provocado por um medicamento antes de decidir se é preciso suspendê-lo; Alguns anti-retrovirais podem causar reacções adversas muito parecidas às causadas pelo CTZ. Por exemplo: Nevirapina e CTZ podem causar hepatite; Zidovudina e CTZ podem causar anemia; No doente que está a tomar dois ou mais medicamentos que podem causar a mesma reacção, às vezes é difícil identificar o medicamento que está a causar a reacção; Quando aparece uma reacção adversa ao CTZ, e esta não é severa, deve-se tentar um tratamento de dessensibilização para que o CTZ possa ser bem tolerado. 2. Infecções Bacterianas Resistentes ao Medicamento As pessoas que tomam o CTZ diariamente podem ter infecções bacterianas resistentes ao medicamento. • Na África do Sul, por exemplo, (Madhi et al) 1, das 146 crianças infectadas pelo HIV e também com infecções severas causadas por Streptoccus pneumoniae (pneumonia, sépsis, etc), 39/69 (56,5%) das crianças que tomavam o Cotrimoxazol diariamente tiveram S. pneumoniae resistente ao Cotrimoxazol e 26/77 (33,8%) das crianças que não tomavam Cotrimoxazol tiveram S. pneumoniae resistente 3. Malária Resistente à Fansidar As pessoas que tomam CTZ diariamente podem ter malária resistente à Fansidar. • • O Cotrimoxazol e a Sulfadoxina-pirimetamina pertencem à mesma família de fármacos. Até agora, em nenhum dos estudos realizado em África foi observado que os doentes com malária provocada por P. falciparum e que tomavam Cotrimoxazol diariamente tiveram uma resistência elevada à Fansidar. Apesar de não haver dados que demonstrem essa resistência à Fansidar em doentes que tomavam o CTZ, não é recomendável usar em simultâneo o Fansidar e o Cotrimoxazol se um outro antimalárico eficaz estiver disponível. 1 Fonte: Madhi S, Petersen K, Madhi A, Wasas A, Klugman K. Impact of Human Immunodeficiency Virus 1 on the Disease Spectrum of Streptococcus pneumoniae in South African Children. Pediatr Infect Dis J 2000;19:1141-7 Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 274 Alergia ao CTZ: Alternativas e Dessensibilização Em doentes que tiveram uma reacção não severa ao CTZ, é possível tentar uma dessensibilização ao medicamento e iniciar a profilaxia se tiver sucesso. O CLINICO deve consultar o médico se achar que é Importante: conveniente uma dessensibilização ao CTZ, tendo em conta o seguinte: • • Saiba que o CTZ não trata o SIDA, mas é muito importante para prevenir IOs. A dessensibilização nuncaas deve ser feita em doentes com história de reacção severa (grau 4) ao Sempre que possível, evite o uso de CTZ e sulfamidas (ex. CTZ ou a uma outra sulfamida. Se há dúvidade sobre o grau debacterianas reacção, a dessensibilização não deve Fansidar) para o tratamento infecções e malária doente estiver tomar o CTZ ao profiláctico. ser feita, se eoo doente deve recebera uma alternativa CTZ (por exemplo, a Dapsona); É recomendável começar com um anti-histamínico no dia anterior e iniciar o regime de dessensibilização e continuar diariamente até completar o protocolo; • Se ocorrer uma reacção severa, suspender; • Se ocorrer uma reacção menor, repetir a mesma dosagem por mais um dia; • Se a reacção desaparecer, continuar com o passo seguinte; • Se a reacção piorar, parar a dessensibilização. “Sempre que for preciso fazer dessensibilização, ela deverá ser feita em coordenação com o médico” Indicações e Passos a Seguir na Profilaxia com Cotrimoxazol Passos a seguir na profilaxia com Cotrimoxazol: 1. Confirmar o diagnóstico de HIV 2. Avaliar contra-indicações e indicações 3. Aconselhamento 4. Iniciação do CTZ no doente com indicações e sem contra-indicações 1º Passo - Confirmar o Diagnóstico de HIV Primeiro, é preciso confirmar o resultado do teste HIV. A pessoa que não é seropositiva não deve fazer a profilaxia com CTZ. • O doente já fez o teste para HIV? O resultado foi positivo? (Os dois testes rápidos foram positivos?) Se há dúvidas, é preciso repetir o teste, e fazer o aconselhamento. 2º Passo – Avaliar Indicações e Contra-indicações Indicações: Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 275 Em contextos onde a contagem de CD4 está disponível, o critério imunológico será o critério preferente e devera iniciar profilaxia com CTZ aqueles doentes com valores de: • • CD4≤ 350 cels/mm3; Doente com queda de CD4 que suspendeu o CTZ Onde não e possível realizar a análise de CD4, o critério será clínico e deverá fazer profilaxia com CTZ: • Adultos HIV+ em estadios II, III ou IV Independentemente do valor de Cd4 e/ou do estadio clínico: • • Mulheres grávidas em qualquer idade gestacional Doentes HIV+ com Tuberculose É importante que o doente com tuberculose, inicie o CTZ independentemente do valor do Cd4 Contra-indicações: • • • Alergia às sulfamidas (por exemplo, Fansidar); Anemia (Hb <8.0) ou neutropenia (neutrófilos <1500 cels/mm3); Doente que tomou Fansidar há menos de 30 dias; 3º Passo – Aconselhamento Se o doente for elegível para profilaxia com CTZ, explique: • • • • Os benefícios e os riscos do CTZ; A diferença entre “profilaxia” (de infecções oportunistas e comuns) e “tratamento” (de SIDA e de outras infecções); A importância de tomar uma dose diária até que os níveis de CD4 aumentem e a profilaxia possa ser suspensa; A importância de se apresentar à Unidade Sanitária para reportar qualquer sintoma de efeito adverso, incluindo erupção cutânea, náuseas, vómitos, dor abdominal e febre. 4º Passo – Iniciação do CTZ no Doente com Indicação e sem Contra-indicações • • • • • • No doente que tem indicações e não tem contra-indicações, iniciar o CTZ. Dose para adultos: 400+80mg; 2 comprimidos/dia, dose única, diariamente durante meses ou anos, para prevenir complicações do HIV/SIDA. Depois de iniciar o CTZ, espere duas semanas ou mais antes de iniciar o TARV. Não iniciar o CTZ e o TARV no mesmo dia nem na mesma semana. Iniciar primeiro o CTZ antes do TARV. O efeito secundário mais comum do CTZ e do TARV (especialmente NVP e EFV) é um “rash” (erupção cutânea). Portanto, o doente com uma reacção severa que pode ser causada pela NVP e/ou pelo CTZ teria de suspender ambos. A maioria das erupções cutâneas causadas por CTZ ocorre nas primeiras semanas da profilaxia. Portanto, iniciando primeiramente com o CTZ, pode-se confirmar que o doente não tem reacção adversa ao CTZ. O doente deve apresentar-se à Unidade Sanitária para informar qualquer sintoma de efeito adverso, incluindo erupção cutânea, náuseas, vómitos, dor abdominal e febre. Iniciação e Monitoria da Profilaxia com Cotrimoxazol No doente que tem indicações e não tem contra-indicações, e que aceita a profilaxia depois do aconselhamento, proceda da seguinte maneira: • • • Prescreva uma quantidade de CTZ suficiente para um mês; Registe o início da profilaxia no processo dos Serviços TARV e/ou no registo do programa de tuberculose; Programe o próximo encontro para quatro semanas depois de iniciar a profilaxia (com uma consulta de urgência antes, em caso de reacções adversas). Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 276 Em cada consulta, pergunte por sinais e sintomas de reacção adversa ao CTZ (febre, erupção cutânea, náuseas, vómitos, dor abdominal). • • • Se o doente tiver sinais e sintomas de reacção adversa, veja algoritmo para reacções adversas. Se o doente não tiver sinais ou sintomas de reacção adversa, veja os resultados dos testes laboratoriais. Se tiver anemia, leucopenia, ou elevação das transaminases, veja algoritmo para reacções adversas. Se não tiver resultados anormais do hemograma ou da bioquímica, veja o resultado de CD4, e decida se o doente deverá continuar ou suspender a profilaxia. Quando Suspender a Profilaxia Primária com Cotrimoxazol É necessário suspender a profilaxia quando: • • • A contagem de CD4+ for superior a 350 cels/mm³ durante pelo menos 6 meses consecutivos (duas contagens separadas por >=6 meses); Em caso de reacção adversa severa; Depois do início de TARV, o doente que estiver a fazer a profilaxia com CTZ deverá seguir tomando o CTZ e fazendo o TARV até a reconstituição imunológica (CD4 superior a 350 cels/mm³ durante pelo menos 6 meses consecutivos). Importante: O início do TARV NÃO é uma razão para suspender a profilaxia com CTZ. Quando Reiniciar a Profilaxia Primária com Cotrimozaxol Depois de a Suspender • • Se o CD4 for ≤350 cels/mm³ mais uma vez, é preciso reiniciar o CTZ. Se o doente tiver pneumonia causada por Pneumocistis jirovecii, ou meningite causada por toxoplasma, depois de suspender Cotrimoxazol, é preciso reiniciá-lo num intervalo menor ou igual a 6 meses. Pontos-Chave • • • • Antes de iniciar a profilaxia com CTZ, é importante determinar a elegibilidade do doente. As indicações e contra-indicações do doente devem ser avaliadas para se prescrever correctamente o CTZ profiláctico. É necessário monitorar o doente que faz a profilaxia com CTZ. O clínico deve ficar atento aos casos que indicam que a profilaxia com CTZ deve ser suspensa. Anexos Em anexo a esta unidade encontram-se os seguintes documentos: • • • • • Algoritmo de elegibilidade para o CTZ Algoritmo de seguimento para o CTZ Tabela da experiência com Cotrimoxazol em outros países africanos Tabela dos efeitos secundários da profilaxia com o CTZ Tabela da frequência de reacções adversas ao Cotrimoxazol, em relação à contagem das CD4 Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 277 Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 278 Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 279 Anexo 2. Experiência com Cotrimoxazol em Outros Países Africanos País onde foi realizado o estudo Redução da mortalidade ou morbilidade com a introdução do CTZ: Sucessos destacáveis Costa do Marfim Mortalidade: redução de 46% Internamento: redução de 53% Zâmbia Mortalidade: redução de 33% Internamento: redução de 21% África do Sul Mortalidade: redução de 45% Uganda Mortalidade: redução de 23% Uganda (2) Mortalidade: redução de 46% Diarreia: redução de 35% Malária: redução de 72% Fonte: Guidelines on Cotrimoxazole Prophylaxis for HIV-related Infections Among Children, Adolescents and Adults in Resource-Limited Settings, 2006 Anexo 3. Efeitos Secundários da Profilaxia com CTZ País (Origem:OMS) % Doentes com reacções adversas à profilaxia com CTZ Cote d’Ivoire 0,6% Cote d’Ivoire <1% Senegal 6% Zâmbia 0,3% Zâmbia 6% Uganda 3,8% Uganda 2% Fonte: Moore R, Fortgang I, Keruly J, Chaisson R. Adverse Events from Drug Therapy for Human Immunodeficiency Virus Disease. Am J Med 1996;101:34-40. Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 280 Anexo 4. Frequência de Reacções Adversas ao Cotrimoxazol, em relação à contagem das CD4 CD4 Reacções adversas/100 anos de uso <=100 31,0 101-200 18,0 >200 14,7 Fonte: Moore R, Fortgang I, Keruly J, Chaisson R. Adverse Events from Drug Therapy for Human Immunodeficiency Virus Disease. Am J Med 1996;101:34-40. Manual de Referência do Clínico Tratamento do Doente HIV+ 281 Unidade 10.2 - Introdução ao Tratamento Anti-Retroviral Introdução O tratamento dos doentes infectados pelo HIV não consiste somente da administração de antiretrovirais. A infecção pelo HIV é uma doença crónica e, portanto, os doentes que sofrem desta infecção devem ser avaliados e o seu seguimento deve ser realizado de forma rotineira, à procura de problemas de saúde e sinais de progressão da doença. Ainda que muito importante, o TARV é só uma parte deste tratamento, já que permite prolongar a sobrevivência dos doentes e melhorar a sua qualidade de vida. Alguns aspectos que se destacam do tratamento com anti-retrovirais são: As pessoas no geral usam diversas formas para se referirem aos anti-retrovirais; O TARV implica uma combinação de medicamentos anti-retrovirais; O TARV não cura o SIDA. Enquanto estiver em TARV, a pessoa infectada pelo HIV ainda tem a capacidade de transmitir o HIV para outras pessoas; Uma vez iniciado o TARV, este deve ser mantido ao longo de toda a vida; Os medicamentos anti-retrovirais são dados apenas às pessoas elegíveis para o TARV e não a todas as pessoas infectadas pelo HIV. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • • Definição do TARV Objectivos do TARV Benefícios do TARV TARV: Mecanismo de acção e grupos de fármacos Prescrição do TARV: Processo administrativo Definição do TARV 1 O HIV é um retrovírus e, segundo o seu ciclo de vida, ele depende da célula hospedeira para a sua replicação. São várias as células hospedeiras do corpo humano que acomodam o vírus, mas ele tem preferência pelas células do sistema imune, particularmente os linfócitos CD4. Uma vez no organismo, o vírus começa a fabricar cópias de si mesmo. Quando o número de cópias (carga viral) é elevado, as células de defesa do corpo têm dificuldades para controlar a infecção, e o seu número (especialmente o número de linfócitos CD4) começa a diminuir. Para tratar um retrovírus, utilizam-se os anti-retrovirais. Estes medicamentos actuam no controlo da multiplicação do vírus no sangue. O Tratamento Anti-retroviral (TARV) requer a prescrição correcta dos medicamentos anti-retrovirais (MARV), que deve ser combinada com as medidas que permitam assegurar que haja uma boa adesão ao tratamento e uma vigilância da evolução do doente. Quando o TARV é efectivo, os vírus originais não conseguem mais se replicar. Os danos ao sistema imunológico diminuem (sistema imunológico) e o indivíduo fica menos propenso a desenvolver complicações associadas ao HIV e menos susceptível às infecções oportunistas e outras doenças e, consequentemente, existe melhoria na qualidade de vida dos doentes com HIV/SIDA. Objectivos do TARV Os principais objectivos do tratamento anti-retroviral são: • • Reduzir a carga viral ao máximo possível e por um período de tempo mais longo possível. Restaurar tanto quanto possível o sistema imunológico do doente, ao manter a contagem de células CD4+ dentro dos parâmetros normais. 1 TARV; Treinamento para Técnicos de Medicina. MISAU. 2006 Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 282 • Reduzir o aparecimento de infecções e outras doenças oportunistas e melhorar assim o prognóstico, a qualidade de vida dos doentes e aumentar o seu tempo de vida. Benefícios do TARV Pela sua capacidade de controlar o HIV, os ARVs beneficiam não apenas as pessoas com SIDA mas também a família, a comunidade e o país em geral. Tabela 1: Principais Benefícios do TARV Benefícios do TARV Prolonga a vida e melhora a qualidade de vida das PVHS Família Comunidade Nação PVHS Reduz a transmissão vertical (de mãe para o filho) Contribui para manter unido os agregados familiares através da redução das doenças e da morte dos seus membros Aumenta o número de pessoas que aceitam o teste de HIV e o aconselhamento Aumenta a consciencialização sobre HIV e SIDA ao nível da comunidade na medida em que mais pessoas passam a usar os serviços de aconselhamento e testagem para o HIV Mantém a capacidade produtiva das populações economicamente activa e infectadas pelo HIV Reduz carga de doente nas Unidades Sanitárias Reduz o estigma associado ao HIV ao converter o HIV numa condição crónica e manejável em vez de uma sentença de morte Reduz os custos em dinheiro e o tempo dedicados ao tratamento das doenças/infecções oportunistas Diminui o número de crianças órfãs devido ao HIV e SIDA Contribui na prevenção da infecção pelo HIV, aumenta o acesso a informação sobre o HIV e aos meios de protecção/prevenção. Aumenta o número de pessoas dispostas a conhecerem o seu estado serológico e as possibilidades de tratamento. Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 283 Gráfico 1: Beneficiários do TARV Nação PVHS Família Comunidade Alguns Aspectos Importantes a Ter em Conta Antes de Iniciar o TARV Preparar o doente para o início do TARV é um passo extremamente importante no quadro dos cuidados e tratamento dos doentes com SIDA. É importante recordar que não é apenas a condição físico-clínica do doente que determina se deve começar ou não com o TARV, mas também garantir que o doente esteja preparado e capaz de assumir compromissos para cumprir devidamente com as exigências do tratamento. Os doentes devem entender o significado do TARV e de que modo o TARV vai afectar as suas vidas. Qualquer dúvida que o doente tenha antes de iniciar o TARV deve merecer toda a atenção do trabalhador de saúde. Uma vez iniciado o TARV, os medicamentos devem ser tomados conforme a decisão que o doente tenha acordado com o clínico, todos os dias e nos horários recomendados para o resto da sua vida. Por recomendação do clínico, os doentes vão ter que evitar certos alimentos ou certas bebidas em determinados momentos enquanto estiverem a tomar os anti-retrovirais. É importante que os doentes revelem a sua condição a pelo menos uma pessoa antes de iniciarem o tratamento, porque essa pessoa possa apoiá-lo. Se, em algum momento, os doentes não estiverem a tomar os medicamentos, isso vai dar lugar ao recomeço da replicação do HIV e as recaídas das infecções oportunistas. Os doentes devem entender a importância de ir regularmente às consultas. TARV: Mecanismo de Acção e Grupos de Fármacos O HIV tem uma grande capacidade de replicação, de tal forma que pode fabricar milhões de cópias dele próprio muito rapidamente. Neste processo, as novas cópias do vírus que são fabricadas apresentam pequenas diferenças em relação ao vírus original. Este processo chama-se mutação. Como já foi referido, os medicamentos anti-retrovirais são usados para controlar o retrovírus (o caso do HIV). Estes fármacos actuam de diferentes formas, dificultando a replicação do vírus dentro do organismo. Quando o vírus não consegue replicar-se devido ao tratamento, não se produzem as mutações. O tratamento anti-retroviral (TARV) consiste numa combinação de três fármacos que actuam bloqueando a capacidade do vírus se replicar. Cada um destes medicamentos consegue bloquear a replicação num ponto diferente, de tal forma que para o vírus se torna difícil reproduzir-se em presença dos três fármacos. Quando os doentes recebem só um fármaco, o vírus é capaz de desenvolver mutações rapidamente. Estas mutações permitem-lhe sobreviver e replicar ainda na presença do fármaco, pelo que o tratamento deixa de ter efeito. O objectivo de combinar os três fármacos é justamente para evitar que o vírus experimente mutações e adquira assim resistência ao tratamento. Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 284 Quando um doente não adere bem ao tratamento, acontece o mesmo fenómeno, de tal forma que o vírus desenvolve resistências e o tratamento deixa de ser eficaz. A combinação dos fármacos anti-retrovirais aumenta a eficiência do tratamento, pois cada medicamento ataca o vírus de forma diferente. A terapia tripla é o padrão mundial para o tratamento da infecção pelo HIV, bem como o esquema do TARV adoptado em Moçambique, cujo objectivo principal é retardar a replicação do HIV no sangue. Embora não seja uma cura para a infecção pelo HIV, o resultado é normalmente uma supressão quase total da replicação do HIV. O tratamento tem de ser para toda a vida. Como veremos ainda neste módulo, para controlar o HIV, é necessário utilizar pelo menos duas classes diferentes de medicamentos. Tabela 2: Fármacos ARV Disponíveis em Moçambique Classificação dos medicamentos Nome e abreviatura do Forma de apresentação para o por mecanismos de acção medicamento tratamento de adultos Abacavir (ABC) Comprimidos 300 mg Solução 200 mg/ml Didanosina (DDI) Comprimidos: 100 mg/ 150 mg/200 mg Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa Lamivudina (3TC) (INTR) Inidbidores não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (INNTR) Inibidores da proteasa (IP) Estavudina (D4T) Comprimidos: 150 mg Solução 100 mg/ml Cápsulas 30 mg Zidovudina (AZT, ZDV) Cápsulas 300 mg Tenofovir (TDF) Comprimidos 300 mg Efavirenz (EFV) Cápsulas 50 mg Cápsulas 200 mg Cápsulas 600 mg Nevirapina (NVP) Comprimidos 200 mg Ritonavir (RTV) Cápsulas 100 mg Lopinavir/ritonavir (LPN/RTV) Comprimidos 200/50 mg Solução 400/100 mg/5 ml Indinavir (IDV) Cápsulas 200 e 400 mg Saquinavir Cápsula 200 mg Cápsulas 500 mg Inibidores Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (INTR) Actuam na enzima transcriptase reversa do HIV, incorporando-se à cadeia de DNA que o vírus cria. A cadeia torna-se defeituosa e, como consequência, impede que o vírus penetre no núcleo da célula infectada e crie novos vírus. Os INTR usados na primeira linha são Estavudina, Lamivudina, Zidovudina, Abacavir, Tenofovir. Inibidores Não Nucleosídeos da Transcriptase Reversa (INNTR) Estes fármacos bloqueiam igualmente a transcriptase reversa, através de um processo diferente dos INTR: impedem a conversão do RNA em DNA e, consequentemente, interrompem o processo da replicação viral. Os INNTR são o Efavirenz e a Nevirapina. Inibidores da Protease (IP) • Actuam no último estágio do ciclo de replicação do vírus. Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 285 • • Impedem a montagem e o processamento da síntese proteica viral e a sua liberação na célula infectada, ou seja, a produção de novas cópias de células infectadas pelo HIV. Os inibidores da protéase são fármacos de segunda linha e, portanto, só podem ser prescritos pelo médico. Prescrição de TARV: Processo Administrativo A prescrição do TARV não é um processo simples, como pode acontecer com outras prescrições. Os MARVs (medicamentos anti-retrovirais) são medicamentos caros e os Serviços TARV devem garantir a existência de stocks suficientes nas Unidades Sanitárias para evitar a interrupção do tratamento pelos doentes. O Clinico deve conhecer o processo de preenchimento dos formulários e os livros de registo usados na prescrição de MARVs. O correcto registo dos dados relativos a prescrição de MARVs depende, em grande medida, do bom funcionamento do Serviço TARV. A recolha de informação é mensal e faz-se através do sistema chamado MMIA (Mapa Mensal de Informação ARVs). O MMIA é um documento de resumo do movimento de ARVs, de controlo de stock, das linhas terapêuticas utilizadas e do tipo de doentes em tratamento, durante o período mensal definido. Porém, é também um instrumento que substitui a Requisição de Medicamentos. Portanto, este documento usa-se para a comunicação entre a Unidade Sanitária e o Depósito Provincial de Medicamentos. Quando um doente inicia o TARV, a equipa clínica preenche uma série de documentos. O fluxo de informações, desde a consulta médica até ao nível provincial e nacional, é o seguinte: a. Cartão do utente: Onde refere para farmácia (data). b. Processo clínico do doente: Nele deve constar a data de início do tratamento. c. Formulário de solicitação de medicamentos anti-retrovirais: Só se preenche a primeira vez que o doente levanta medicamentos anti-retrovirais. d. Receita médica: O clínico copia a prescrição numa receita, como forma de fazê-la chegar à farmácia. e. Ficha Individual de Levantamento de Anti-retrovirais (FILA): Esta folha é preenchida na farmácia pelo técnico de farmácia. As folhas devem ficar guardadas na farmácia. Os dados da prescrição do clínico são copiados nesta folha. f. Livro de registo diário de anti-retrovirais (LRDA): Diariamente, o técnico de farmácia deve lançar os dados da dispensa dos medicamentos nesta folha. Nela constam o nome de cada doente, o número e classe de comprimidos que leva. g. Mapa mensal de informação de ARV (MMIA): A partir dos registos diários, os dados são lançados nesta folha. Nela aparece a informação sobre consumo de ARVs na US e o motivo (novo tratamentos, manutenção, PTV, PPE, transferidos). Também contém informação sobre o número de doentes em cada esquema terapêutico ou linha de tratamento. Esta folha é enviada à província (geralmente ao depósito provincial de medicamentos). h. MMIA provincial: A província deve fazer um resumo mensal com os dados dos diferentes distritos para serem enviados à Maputo (CMAM). A notificação incompleta ou errada impede a reposição dos ARVs de forma correcta nas Unidades Sanitárias e pode originar problemas de abastecimento. A notificação correcta ao nível central (DPS, MISAU) permite saber quais são as necessidades no país e antecipar as respostas. Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 286 Pontos-Chave • • • • • • O tratamento do doente com HIV/SIDA não é só o tratamento anti-retroviral; exige uma monitoria clínica contínua, tratamento e prevenção das infecções oportunistas e do próprio tratamento antiretroviral. Nem todos os doentes com infecção pelo HIV se beneficiam do TARV. Os critérios para iniciar o TARV num doente estão bem definidos nos protocolos nacionais. O tratamento anti-retroviral é uma combinação de três fármacos que, uma vez iniciados, devem ser tomados durante toda a vida. Os MARV actuam bloqueando a replicação do vírus, permitindo assim a recuperação do sistema imune. O TARV permite prolongar a sobrevivência dos doentes e melhorar a qualidade de vida. Os efeitos do TARV têm repercussão em toda a família e na comunidade. Anexos Em anexo a esta unidade encontram-se os seguintes documentos: • Formulário de solicitação de medicamentos anti-retrovirais • Receita médica • Ficha Individual de Levantamento de ARVs (FILA) • Livro de Registo Diário de Anti-retrovirais (LRDA) • Mapa Mensal de Informação de ARV (MMIA) Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 287 Documento 1: Formulário de Solicitação de Medicamentos Anti-retrovirais Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 288 Documento 2: Receita Médica Documento 3: Ficha Individual de Levantamento de Anti-retovirais (FILA) Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 289 Documento 4: Livro de Registo Diário de Medicamentos Anti-retrovirais (MRDMA) Documento 5: Mapa Mensal de Informação de ARV (MMIA) Manual de Referência do Clínico Introdução ao Tratamento Anti-retroviral 290 Unidade 10.3- Início do TARV Introdução O tratamento anti-retroviral (TARV) é uma mistura de três ou mais medicamentos que devem ser tomados diariamente durante o resto da vida do doente para prevenir as complicações do SIDA. O momento em que este tratamento deve ser indicado está bem definido nos protocolos nacionais. Por se tratar de um tratamento crónico que pode ter riscos, o clínico deve conhecer bem as indicações e contra-indicações para o seu início. O tratamento anti-retroviral não cura o SIDA, não remove o vírus do organismo da pessoa infectada. Pode controlar a doença, mas o doente ainda pode infectar outras pessoas. O tratamento anti-retroviral tem como finalidade a: • • • Redução da mortalidade e morbilidade causada pelo HIV/SIDA (redução da ocorrência de doenças oportunistas); Redução da transmissão (vertical, sexual, etc.); Melhoria do funcionamento e qualidade de vida dos doentes HIV positivos. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • • • • Importância da identificação correcta dos doentes que precisam de tratamento Requisitos para o início do TARV Indicações clínicas do TARV Contra-indicações clínicas do TARV Linhas de TARV Preparar o doente para o início do TARV Iniciar o TARV Importância da Identificação Correcta dos Doentes que Precisam de Tratamento Riscos de Iniciar o TARV sem uma Correcta Avaliação Cada doente deve iniciar o TARV no momento certo, nem cedo nem tarde demais. Os erros na identificação dos doentes são de dois tipos: A. Não iniciar o TARV num doente que precisa (risco de morte por progressão da infecção e doenças oportunistas); B. Iniciar o TARV num doente que ainda não precisa ou não está preparado: • Ainda tem boa situação clínico-imunológica (estadio I ou II, CD4 ainda elevado), não reúne critérios para iniciar o TARV. Neste caso, o doente não se beneficiará do tratamento (risco desnecessário de RAM, resistência ao tratamento); • Não foi bem avaliado e estabilizado das IOs (risco de SIR); • Não foi bem preparado para adesão (risco de má adesão e falência do tratamento). Requisitos para o Início do TARV As normas nacionais em Moçambique exigem que todo doente que inicia o TARV seja avaliado para cada um dos seguintes passos: • Confirmar o resultado do teste HIV e verificar se consta no processo clínico; • Certificar-se que o doente reúne critérios clínicos e/ou imunológicos (estadio, CD4, etc.); • Comprovar se o doente já iniciou o CTZ há pelo menos duas semanas e não teve problemas; • Efectuar a verificação das infecções oportunistas (IO) para saber se já foram tratadas e estabilizadas; • Verificar se os exames de laboratório necessários foram feitos e são normais (hemograma, bioquímica); • Verificar se o doente está preparado para o tratamento (se tem informações correctas e suficientes sobre o tratamento); Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 291 • • Conferir se os medicamentos ARVs são fornecidos de forma contínua e completa na US; Confirmar se o caso foi apresentado ao Comité TARV e se foi aprovado. O seguimento destes passos permite evitar os erros de início de TARV e as respectivas consequências. Indicações Clínicas e Imunológicas para Iniciar o TARV Todos os seguintes casos são elegíveis para iniciar o TARV: • Doentes nos estadios III e IV da OMS, independentemente do valor do CD4; • Todos os doentes HIV+ com CD4 ≤ 350 cels/mm3, • Todos os pacientes com co-infecção VHB (Virus da Hepatite B)-HIV e HTLV( Virus Linfotrópico para Células T Humanas) -HIV • Todas as mulheres grávidas HIV+ • Todos os pacientes com cancro invasivo (qualquer) e HIV Os doentes que apresentam uma das condições acima mencionadas devem ser avaliados para contraindicações e preparados para iniciar o tratamento. Estadio Clinico da OMS I CD4 não disponível Não tratar II III Não tratar Tratar CD4 disponível Tratar se CD4 ≤350 cel/mm3 Tratar independentemente da contage m de CD4 IV Tratar Todos os pacientes com co-infecção VHB-HIV e HTLV-HIV devem iniciar TARV com independência do estadio clínico e da contagem de CD4 Todas as mulheres grávidas HIV+ devem iniciar TARV com independência do estadio clínico e da contagem de CD4 Todos os pacientes com cancro invas ivo (qualquer) e HIV devem iniciar TARV com independência de qualquer outra condição E APÓS PREPARAÇAO DO DOENTE PARA GARANTIR ADESÃO ADEQUADA AO TARV Contra-indicações Clínicas para Iniciar o TARV Existem situações clínicas que devem levar ao clínico a adiar o início do TARV: • Doença hepática ou renal grave (anormalidades importantes de ALT, AST, ureia e/ou creatinina, com ou sem sintomas): Nestes casos, o técnico deve referir o doente ao médico. • Início da profilaxia CTZ há menos de duas semanas: O TARV e o CTZ não devem ser iniciados ao mesmo tempo para evitar possíveis efeitos secundários. O ideal seria esperar quatro semanas. • Infecções oportunistas não tratadas ou não estabilizadas: Isto pode originar uma forte reacção, agravando repentinamente os sintomas da infecção oportunista, e podendo inclusivamente levar à morte do doente (Síndrome de Imuno-restauração). Lembre-se que o início do TARV nunca é uma urgência. • Sempre que possível, o tratamento da tuberculose, criptococose, infecção micobacteriana atípica, pneumonia por Pneumociste jirovecii, toxoplasmose, herpes, leishmaniase, deve ser iniciado e o doente deve ser estabilizado antes de iniciar o TARV. Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 292 • Nos doentes co-infectados TB/HIV, o TARV deve ser introduzido pelo menos 2 semanas após o início do tratamento para tuberculose, independentemente do valor da contagem de CD4. Tabela 2: Contra-indicações clínicas para iniciar o TARV Contra-indicação Explicação Conduta Doença hepática ou renal Pode ser preciso reduzir a dose do anti- Referir ao médico para avaliação retroviral ou mudar para 2ª linha para evitar reacções adversas. Início de Cotrimoxazol há menos de As reacções adversas ao Cotrimoxazol são Esperar duas a quatro semanas depois de parecidas às reacções adversas a iniciar Cotrimoxazol antes de iniciar o duas semanas Nevirapina e Efavirenz. Se iniciamos o TARV. TARV e Cotrimoxazol em simultâneo,corremos o risco de não poder identificar o fármaco que provocou a reacção (Foi o CTZ, ou foi a Nevirapina?) Infecção oportunista (ou sinais ou O doente que inicia o TARV antes de Investigar qualquer sinal e sintoma de IO sintomas de infecção oportunista) ainda estabilizar uma infecção oportunista (ou TB) antes de iniciar o TARV. importante (por exemplo, tuberculose) pode Iniciar o tratamento para IO ou TB antes de não tratada ou estabilizada piorar e/ou morrer por causa do síndrome iniciar o TARV. de imuno-reconstituição (SIR – veja unidade Estabilizar o doente com IO antes de iniciar de SIR). o TARV (por exemplo, esperar até o fim da fase intensiva de tratamento para TB; (veja unidade TB/HIV) Linhas de TARV: Primeira Linha e Primeira Linha Alternativa A Primeira Linha de TARV É a que utiliza-se nos doentes que iniciam TARV pela primeira vez. Em Moçambique e desde 2013 coexistem 2 primeiras linhas: A. Tenofovir 300 mg (TDF)+ Lamivudina 150 mg (3TC)+Efavirenz 600 mg (EFZ) B. Zidovudina 300 mg(AZT)+Lamivudina 150 mg (3TC)+Nevirapina 200 mg (NVP) A nova primeira linha (A) será introduzida no país de forma faseada, começando pelos locais que já estão a fazer TARV e que tem acesso a bioquímica. Nos restantes locais, mantem-se a actual primeira linha (B), até que as condições estejam criadas para sua substituição progressiva Alternativas à primeira linha de TARV: A. Alternativa à primeira linha de TARV com TDF+3TC+EFV Os cenários nos quais não deve ser usada esta primeira linha são: • • • Insuficiência renal: definida como Creatinina sérica ≥ 110 mmol/l ou ≥ 1.2 mg/dl Hipertensão arterial: definida como PA ˃ 145/95 mmHg comprovada no mínimo em 3 medições Diabetes mellitus: definida como Glicémia em jejum ≥ 7.7 mmol/l ou ≥ 140 mg/dl Nestas situações o Tenofovir esta contra-indicado, pelo que deverá ser substituído por outro fármaco (AZT, d4T ou ABC) • Antecedentes psiquiátricos: considera-se para este caso as mudanças severas do humor, a psicose e as alucinações Nesta situação, o Efavirenz é o medicamento contra-indicado e deverá ser substituído, geralmente por Nevirapina, sempre que não exista contra-indicação. Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 293 B. Alternativas á primeira linha de TARV com AZT+3TC+NVP Os cenários nos quais não deve ser usada esta primeira linha são: • • • • Anemia com Hb ≤ 8 g/dl: neste caso o anti-retroviral contra-indicado é o AZT e deverá ser mudado por outro Intolerância grau 3 ou 4 à NVP: Neste caso não deverá ser introduzida de novo a NVP e também não poderá ser usado o EFV, pelo risco de reação cruzada. Estes pacientes deverão fazer TARV com um inibidor da protesase. Sendo este medicamento um fármaco de segunda linha, estes pacientes deverão ser referidos para avaliação pelo médico Gravidez: A gravidez não é uma contra-indicação para esta linha, mas a partir de 2013 todas as grávidas em Moçambique deverão iniciar TARV, independentemente do valor de CD4 ou do estadio clínico (Opção B+). Por este motivo, é contra-indicado o uso de NVP neste grupo, devido ao elevado risco de hepatotoxicidade nos pacientes que iniciam TARV com NVP e contagens de CD4 elevadas. Para mais informações pode ver o capítulo específico. Se co-infecção com TB: os pacientes tomando rifampicina não devem receber NVP, devido à existência de interação medicamentosa entre estes medicamentos. Para mais informações pode ver o capítulo específico Caso haja contra-indicações para a 1ª linha ou reacção alérgica ou intolerância a um componente da 1ª linha, prescreve-se a 1ª linha alternativa de TARV. Algumas das combinações da primeira linha alternativa também podem ser prescritas pelo CLINICO, uma vez que este conhece bem as recomendações. Efeitos Secundários aos Fármacos da Primeira Linha Os doentes que tiveram alguma reacção adversa à fármacos da primeira linha devem ser mudados para a primeira linha alternativa. (Ver detalhes na unidade sobre reacções adversas). Nos casos em que o doente apresenta mais de uma das contra-indicações anteriores, o clínico deve referir o doente para ser avaliado pelo médico. Tabela 3: Indicações mais comuns para alterar a 1ª linha ou 1ª linha alternativa Condição Evitar Substituir Comentário O TDF pode causar insuficiencia renal, Insuficiência renal (Creatinina Tenofovir Zidovudina, sérica ≥ 110 mmol/l ou ≥ 1.2 Estavudina ou especialmente em pacientes com outros factores de risco (diabetes, HTA). Por este mg/dl) Abacavir motivo deve ser evitado nos pacientes com função renal alterada antes do início do tratamento HTA (PA ˃ 145/95 mmHg Zidovudina, Nos pacientes diabéticos e/ou hipertensos, Tenofovir comprovada no mínimo em 3 Estavudina ou o Tenofovir pode produzir dano renal com maior probabilidade. Por este motivo deve medições), Diabetes Mellitus Abacavir ser evitado o TDF nestes pacientes (Glicémia em jejum ≥ 7.7 mmol/l ou ≥ 140 mg/dl) Alterações Psiquiátricas o EFV pode favorecer o desenvolvimento de problemas psiquiátricos nos indivíduos com predisposição. Por este motivo deve ser evitado nos casos de antecedentes psiquiáticos conhecidos. Anemia (Hb inferior a 8 g/dl) Zidovudina Estavudina, A pessoa com hemoglobina < 8 g/dL não Tenofovir ou deve iniciar AZT. A Zidovudina pode causar anemia. Abacavir Tuberculose Nevirapina Efavirenz A pessoa que toma Rifampicina não deve tomar Nevirapina, porque há interacção medicamentosa que resulta na perda do efeito da Nevirapina Neuropatia periferica Estavudina Zidovudina ou A Estavudina pode produzir neuropatia periferica ou agravar uma neuropatia já Tenofovir existente. m Na presença de contra-indicações combinadas, o Clínico deve consultar o médico. Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV Efavirenz Nevirapina, 294 TARV de Segunda Linha Quando o doente não responde à primeira linha de tratamento (normalmente porque tem um vírus resistente), ou quando não tolera nem a primeira linha nem a primeira linha alternativa, tem que passar para a segunda linha. A segunda linha não pode ser prescrita pelo clínico. Em caso de falência terapêutica, ou de intolerância à primeira linha ou primeira linha alternativa, o clínico deve encaminhar o doente ao médico. Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 295 Consulta: - Identificação do doente HIV+ - Acolhimento e início da avaliação 1. Estadiamento OMS/Rastreio TB, ITS e SK 2. Teste de CD4, hemograma e bioquímica 3. Aconselhamento para adesão 4 CTZ filá i Reunir alguns dos requisitos: 1. Elegibilidade ao TARV (OMS, CD4, Outros) – ver quadro 11 2. Em profilaxia com CTZ por 2-4 semanas SIM NÃO Questionário de avaliação psicossocial SIM Avaliação da aceitação das condições de início do TARV e avaliação se o doente está preparado para iniciar o TARV SIM - Continuidade nas consultas de seguimento para o HIV/SIDA (Pré-TARV) NÃO - Aconselhamento para prevenção e adesão aos outros cuidados e tratamentos Visita ao prescriptor do TARV 1. Explicação do TARV e prescrição 2. Apresentação do formulário de Visita à farmácia Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV INÍCIO DO TARV 296 Preparar o Doente para o Início do TARV 1. Confirmar se o doente é seropositivo (testes Determine e Unigold positivos). 2. Confirmar se reúne critérios (de CD4, e/ou estadio clínico). 3. Fazer exames de laboratório de base: hemograma, bioquímica (transaminases, creatinina), RPR, Urina II, serologia de hepatite B (quando disponíveis). Analisar os resultados e confirmar se são normais. 4. Fazer avaliação clínica completa do doente. Procurar sinais e sintomas de infecção oportunista (destacando a tuberculose); tratar (ou iniciar o tratamento e estabilizar) as IOs antes de iniciar o TARV. 5. Iniciar o CTZ; esperar duas semanas ou mais e confirmar se não há reacção adversa ao CTZ. O ideal seria esperar quatro semanas depois de iniciar o CTZ. 6. Avaliar a elegibilidade para Isoniazida preventiva e se for indicado iniciar (na ausência da TB activa). 7. Preparar o doente para a adesão. O aconselhamento deve abordar os seguintes aspectos: a. Aceitar ser HIV+ b. Processo de decisão. O doente tem mais possibilidade de aderir ao tratamento a longo prazo quando: Compreende as informações dadas sobre o tratamento; Aceita a sua condição; Avalia as vantagens e desvantagens do tratamento; Compreende os benefícios do tratamento; Antecipa os constrangimentos e desafios que podem ocorrer durante o tratamento; Prevê possíveis mudanças; Percebe que não está sozinho e que pode contar com o apoio da equipa de saúde c. A reorganização da vida diária (permanentemente) d. Aspectos nutricionais e. Aspecto afectivo e sexual f. O desejo de ter filhos g. Lidar com efeitos secundários As informações completas sobre o aconselhamento podem ser encontradas na Unidade sobre o aconselhamento neste Manual. 8. Preencher o Formulário de Avaliação do Conselho de Preparação do Candidato ao TARV (ou confirmar se o conselheiro tem preenchido). Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 297 Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 298 Iniciar o TARV Uma vez preparado o doente para o início do TARV, o clínico procede com os passos seguintes: A. Para o início com a nova primeira linha de TARV (TDF+3TC+EFV) 1. Preencher o Formulário de Solicitação de Medicamentos Anti-retrovirais com a seguinte prescrição: Tenofovir (TDF) 300 mg 1x/dia Lamivudina (3TC) 150 mg 1x/dia Efavirenz (EFV) 600 mg 1x/dia B. Para o início com a nova primeira linha de TARV (AZT+3TC+NVP) 1. Preencher o Formulário de Solicitação de Medicamentos Anti-retrovirais com a seguinte prescrição: Zidovudina (ZDV) (300mg, de 12h em 12h), Lamivudina (3TC) (150mg, de 12h em 12h), Dose reduzida de Nevirapina (NVP) (200mg 1x/dia durante 14 dias, chamada “a dose de indução”). • Pela manhã: ZDV+3TC+NVP (Duovir-N); • Pela noite: ZDV+3TC (Duovir). Importância de Iniciar Nevirapina (NVP) em Dose Reduzida ou de Indução: A iniciação de Nevirapina em dose reduzida (só 200mg 1x/dia) ajuda a prevenir as reacções adversas à Nevirapina. Quando os doentes iniciam a NVP tomando dose completa, correm maior risco de desenvolver reacções adversas, especialmente hepatite ou reacções cutâneas. Por isso os doentes iniciam o tratamento com a metade da dose de Nevirapina por um período de duas semanas. A primeira linha com TDF+3TC+EFV será introduzida de forma faseada, iniciando nas US que reúnam condições laboratoriais para a avaliação da função renal. Os grupos prioritários que irão receber esta nova primeira linha são: • • • • • Novos inícios, incluindo as grávidas Pacientes em TARV há menos de 6 meses com outra primeira linha Co-infeçção TB-HIV em paciente naíve para TARV e/ou pacientes que desenvolvem TB nos primeiros 6 meses de TARV Co-infecção HIV-VHB Casos de intolerância ao esquema actual 1ª Linha Alternativa: • Substituir Zidovudina (ZDV) por Estavudina (d4T) 30mg de 12h em 12h (no doente com Hb < 8g/dl); • Substituir NVP por Efavirenz 600mg na hora de se deitar (no doente com TB). • Substituir Tenofovir (TDF) por Zidovudina (AZT) 300 mg de 12 em 12h (nos doentes com antecedentes de insuficiência renal, HTA ou Diabetes mellitus comprovadas) 2. O doente que está a tomar CTZ deve continuar com a profilaxia. 3. O doente que está a tomar Isoniazida (INH) preventiva deve continuar com a profilaxia. 4. Depois de duas semanas, o doente deve ter uma primeira consulta de controlo para verificar se tem efeitos adversos aos anti-retrovirais. Nesta consulta, o clínico deve fazer uma avaliação tendo em conta os seguintes pontos: a. Pergunte por: Erupção cutânea? Dor abdominal? Cansaço? Náusea? Outro sintoma? Pergunte também pelos seguintes sintomas ao doente que estiver a tomar o Efavirenz: Tem insónia? Depressão? Problemas de concentração? Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 299 b. Exame físico: Erupção cutânea? Icterícia? Hepatomegalia? Dor abdominal? c. Estudos de laboratório: É preciso repetir os testes de transaminases um mês após o início de Nevirapina. Há elevação das transaminases? (compare aos estudos de base) É preciso repetir a hemoglobina um mês após o início da Zidovudina: Há evidência de anemia? Há queda da hemoglobina? (compare aos estudos de base). d. Avalie reacções adversas: Se a história médica, o exame físico, ou os resultados dos testes laboratoriais mostrem evidência de alguma reacção adversa à Nevirapina (ou outro antiretroviral), deve-se determinar o grau da reacção e tratar conforme o grau. (Veja recomendações na unidade sobre reacções adversas). e. Se não houver reacção adversa, duplique a dose de Nevirapina, isto é, passe de 200mg diário para 400mg diário (isto é, 200mg de 12h/12h). f. Avalie a adesão: A data da consulta marcada no cartão ou na folha FILA corresponde à data de hoje? O doente tomou todas as doses do medicamento durante os últimos 7 dias? O doente consegue explicar ou demonstrar como toma os medicamentos? g. Defina o calendário para as consultas de rotina; ou seja, o plano de seguimento. O plano de seguimento do doente em TARV é uma responsabilidade multidisciplinar que envolve: Laboratório Atendimento clínico Aconselhamento Farmácia Família Comunidade Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 300 Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 301 Pontos-Chave Em relação ao tratamento anti-retroviral, o clínico deve: • Reconhecer a importância da identificação correcta dos doentes que precisam do tratamento. • Conhecer quais são os requisitos para o início do TARV (condições necessárias) • Conhecer as indicações clínicas para o início do TARV (critérios clínicos e imunológicos). • Conhecer as contra-indicações clínicas para iniciar o TARV (condições que requerem seu manejo antes de iniciar o tratamento). • Conhecer quais as Linhas de TARV que pode gerir. • Compreender a importância da preparação do doente para iniciar o TARV (condições necessárias para o início de TARV). • Ser capaz de fazer a selecção correcta dos fármacos ARVs (Linhas de TARV) Anexos Em anexo a esta unidade está o seguinte documento: • Formulário de Solicitação de Medicamentos Anti-retrovirais Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 302 Manual de Referência do Clínico Iniciação do TARV 303 Unidade 10.4 – Seguimento do Doente em TARV e Falência Terapêutica Introdução Durante a avaliação nacional da qualidade dos cuidados relativos ao HIV/SIDA realizada de Outubro a Dezembro de 2007, com frequência foram observados erros no seguimento dos doentes seropositivos, especialmente na gestão do TARV. Os erros foram associados à ausência de uma abordagem sistemática para detectar e manejar sinais e sintomas de progressão da doença, as reacções adversas aos medicamentos, falência terapêutica e outras complicações da terapia anti-retroviral. Esta unidade visa esclarecer a abordagem de rotina dos doentes que se apresentam nas consultas de seguimento, em particular os doentes em TARV. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • Introdução ao seguimento do doente seropositivo em TARV Seguimento: calendário de consultas e controlo laboratorial Passos para a avaliação do doente que faz o TARV - Algoritmo de seguimento do doente em TARV Falência terapêutica Introdução ao Seguimento do Doente Seropositivo em TARV O tratamento anti-retroviral efectivo precisa de um comprometimento do doente para toda a vida e necessita de uma estreita parceria entre o pessoal de saúde e o doente para assegurar o seu sucesso. Dificuldades significativas tais como efeitos secundários com risco de morte, síndrome de imunoreconstituição (SIR), falta de adesão e falência do regime terapêutico, ou desenvolvimento de novas contra-indicações para a primeira linha de TARV, podem aparecer nos primeiros momentos do tratamento, ou mais tarde ao longo do decurso da terapia. Seguimento do Doente em TARV Uma vez introduzido o tratamento, o doente submete-se a várias consultas, seguindo o calendário visualizado na tabela abaixo: Tabela 1: Calendário de Consultas para os Doentes em TARV. Consultas para os pacientes em TARV Consulta clínica Laboratório Farmácia (mensal) Aconselhamento 0 0,5 1,5 X X X X X X X X X X X 2 3 X 4 X 5 6 9 12 X 6/6 meses X X X X X X X X X X X trimestralmente sempre que X necessário Onde for possível, encaminhar o doente para o aconselhamento em cada visita à Unidade Sanitária. Sempre que possível, as consultas laboratoriais devem ser marcadas alguns dias antes de cada consulta clínica, para que os resultados estejam disponíveis para uma avaliação clínica completa do doente. Os diferentes exames laboratoriais que devem ser realizados dependendo da linha de tratamento anti-retroviral que o doente recebe encontram-se resumidos na tabela abaixo. Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 304 Tabela 2: Calendário de Exames Laboratoriais nos Doentes em TARV em Relação ao Regime de TARV Meses Exame 0 Hemograma X ALT X Contagem CD4 0,5 1.5 1,5 2 3 4 6 6/6 M 12/12 M X X X X X X X X X Amilase X2 X2 X2 Colesterol X1 X1 Trigliceridios X1 X1 Glicemia X1 X1 X1 Creatinina X X X Urina II X X X Ureia X X X Legenda: 1 nos esquemas com IPs; 2 nos esquemas com com d4T ou ddI; Passos para a Avaliação do Doente que Faz o TARV-Algoritmo de Seguimento do Doente em TARV Ao longo do processo de seguimento do doente em TARV, e em qualquer situação, o clínico deve avaliar activamente o doente para procurar sinais de perigo. Sempre que o doente mostrar algum sinal de perigo, o clínico deve estabilizar, internar ou referir o doente (Caixa 4 do algoritmo). A avaliação passiva (isto é, avaliação dos sinais ou sintomas que o doente descreve espontaneamente) não é suficiente. Se houver qualquer condição clínica grave, por exemplo, uma insuficiência respiratória, deve-se atender a urgência. Se o doente voltar à consulta depois de um mês de tratamento e não mostrar nenhum sinal de gravidade, os passos que os clínicos devem seguir são: A. Avaliar a Adesão (Caixa 5) Fazer as perguntas abaixo para avaliar o grau de adesão ao tratamento: • Tem alguma dificuldade em tomar os medicamentos ARV? • Como é que toma os medicamentos? • Esqueceu de tomar algum medicamento na última semana? • Se sim, quantas doses esqueceu de tomar? • Como faz para se lembrar de tomar os medicamentos? • Reveja com o utente a dosagem e horário de cada comprimido. O clínico deve confirmar se o doente chegou na data indicada para a consulta de seguimento, e se o número de comprimidos que ainda tem é o número esperado. (Por exemplo, se recebeu 60 comprimidos de Duovir-N há 30 dias, já deve ter terminado). Para confirmar se o doente chegou à consulta na data indicada, o clínico deve solicitar o seu cartão). Também poderá aproximar à farmácia e consultara folha FILA. Se o doente também estiver a receber terapia preventiva com INH ou CTZ, pergunte sobre a forma da toma da medicação. Toda a informação deve ser conferida pelo confidente. Se o clínico detectar qualquer problema de adesão, deve aconselhar pessoalmente o doente e coordenar e apoiar a adesão através dos seguintes intervenientes: conselheiro, farmacêutico, família, activistas, comunidade, entre outros. (Caixa 7) Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 305 B. Verificar Activamente se o Doente Não Tem Efeitos Adversos aos Medicamentos ARV ou Nova Infecção Oportunista. (Caixa 8) A avaliação dos efeitos adversos do TARV vai permitir a sua detecção atempada, evitando casos de toxicidade grave. As reacções adversas não detectadas são uma das importantes causas de fraca adesão ao tratamento. B1. Anamnese O clínico deve perguntar se o doente tem os seguintes sintomas: • Fadiga, mal-estar, fraqueza? • Erupção cutânea, feridas na boca? • Dor abdominal, diarreia, náusea? • Dispneia, cansaço? • Insónia, cefaleia? • Dor ou formigueiro dos pés? • Perguntas de rastreio de tuberculose (tosse, febre, suores nocturnos, emagrecimento)? • Outro sintoma? B2. Exame Físico Uma vez feita a anamnese, o clínico deve examinar o doente, procurando sinais de reacções adversas ou novas infecções oportunistas: • Palidez; • Taquipneia ou desconforto respiratório; • Linfadenopatia; • Erupção cutânea; • Icterícia, hepatomegalia, dor abdominal; • Perda da sensibilidade ou dos reflexos das pernas • Existência de edemas. O clínico deve investigar sinais ou sintomas de reacção adversa ou alguma infecção oportunista nova. Perante um caso de reacção adversa, o clínico deve classificar segundo o grau e tomar uma conduta conforme as normas nacionais (Caixa 10) B3. Avaliar a Evolução de Qualquer Problema Previamente Apresentado pelo Doente (Caixa 8) Por exemplo, se o doente iniciou um tratamento com sulfato ferroso e ácido fólico na última consulta, o clínico deve verificar se a hemoglobina está a subir. Se o doente iniciou o tratamento para TB, o clínico deve avaliar a adesão ao tratamento e confirmar se a tosse, febre, e/ou perda de peso já está a melhorar. Se o doente recebeu tratamento para herpes Zóster, o clínico deve avaliar a evolução. C. Rever os Resultados dos Estudos de Laboratório (Caixa 11) O clínico deve rever os resultados dos estudos (hemograma, bioquímica e/ou CD4), e qualquer outro estudo pendente (por exemplo, BK). Se não tiver nenhum resultado novo, veja o calendário de estudos de monitoria e peça as análises indicadas. Se aparecerem resultados alterados (no hemograma ou bioquímica), o clínico deve considerar a possibilidade de reacção adversa ou então de nova IO. Se, ao longo do seguimento do doente, o nível de CD4 não aumenta nem diminui, o clínico deve ser capaz de suspeitar falência terapêutica (Caixa 15). D. Avaliar a Resposta ao TARV O doente que está a responder satisfactoriamente ao TARV deve apresentar as seguintes características: aumento de peso, aumento de CD4, redução na frequência de infecções oportunistas e aumento da capacidade de realizar trabalho. O doente geralmente deve sentir-se melhor. (Caixa 16) Fazer Hipóteses de Diagnóstico e Tomar Decisão A maioria dos doentes vai ficar enquadrada numa destas categorias: a. Boa resposta ao tratamento, estável e sem complicações; b. Problemas que o técnico pode investigar ou solucionar sem internar ou encaminhar o doente; Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 306 c. Problemas que o clínico não possa solucionar sem ajuda. A. Se o doente estiver estável e tiver uma boa resposta ao tratamento, deve continuar com o tratamento sem mudanças. As condições que caracterizam um doente com boa resposta ao tratamento são: Sem sintomas nem sinais de nova infecção oportunista Sem sintomas nem sinais de reacção adversa Aumento de peso Aumento de CD4 Neste caso, o clínico deve marcar a data da próxima consulta de seguimento. B. Doente com algum problema ou complicação que o técnico pode gerir Continuar o tratamento sem mudanças e iniciar outras investigações ou tratamentos se aparece novo quadro clínico com as seguintes características: • Sinais e sintomas de infecção oportunista ou outra doença que possam ser investigados e tratados sem mudar a linha de TARV, por exemplo, herpes zóster, diarreia simples. • Sinais e sintomas de reacção adversa ligeira, ou seja, reacção que pode ser controlada só com o tratamento sintomático, por exemplo, cefaleia, que pode ser controlada com Paracetamol, ou erupção cutânea, que pode ser vigiada de perto e tratada com Clorfeniramina. • Doente que está na primeira linha de TARV mas agora precisa de uma mudança simples de TARV porque tem uma nova contra-indicação para a primeira linha. Exemplos: Doente que inicia o tratamento para tuberculose, o técnico pode trocar Nevirapina por Efavirenz; Doente que está na primeira linha de TARV mas agora está grávida, o técnico pode trocar Estavudina por Zidovudina. C. Doente com algum problema ou complicação que o técnico não pode gerir. Nesses casos, deverá encaminhar ao médico ou internar se: • • • • • Aparece nova infecção oportunista do estadio IV; Aparece nova contra-indicação a primeira linha de TARV que o técnico não pode gerir, exemplo: novo caso de TB na grávida, neuropatia periférica no doente com anemia; Há reacção adversa de grau III ou IV (exemplo: hepatite causada por Nevirapina); Há síndrome de imuno-restauração com sintomas moderados/severos; Há suspeita de falência terapêutica, nomeadamente queda ou diminuição do CD4, perda de peso, o doente piora ou não melhora, sem explicação. Em outras unidades vai ser explicado o conteúdo relativo às reacções adversas e síndrome de imunorestauração. Falência do Tratamento Anti-retroviral Define-se falência terapêutica ou falência do tratamento anti-retroviral como a incapacidade do tratamento em atingir as suas metas de supressão da replicação viral, de recuperação da contagem de linfócitos CD4 e da melhoria do estado clínico do doente. Quando há falência terapêutica, a quantidade de células CD4 não aumenta e o doente não melhora depois de iniciar o TARV. O sucesso do TARV é definido pelas seguintes condições: 1. O doente tolera bem o regime TARV e tem um elevado nível de adesão ao tratamento. Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 307 2. A carga viral (se disponível) foi reduzida a níveis não detectáveis e permanece baixa/indetectável. 3. A contagem CD4 aumentou e continua a aumentar. 4. O estado clínico melhorou: a. Aumento de peso b. Resolução de sintomas c. Ocorreu a melhoria das doenças que definem o SIDA no ponto inicial da doença. 5. A resposta ao tratamento ARV (ou a falência do mesmo) só pode ser reconhecida após 6 meses de tratamento. O clínico deve saber que a resposta ao tratamento é diferente em cada doente, e em geral é mais lenta quando a situação do doente no momento de início do TARV é grave. 6. De referir que a carga viral é um teste caro e em geral não disponível em Moçambique. Portanto, no nosso contexto, define-se sucesso de tratamento pelo aumento adequado da contagem CD4 e a melhoria clínica do doente. 7. Existem duas categorias importantes de falência terapêutica: falência imunológica e falência clínica. A falência virológica ainda não é uma categoria útil em Moçambique, já que a maioria dos doentes não tem acesso a ela. Falência Virológica A falência virológica é a incapacidade do TARV para suprimir a replicação do vírus no sangue do doente, depois de um período em que o tratamento conseguiu atingir este objectivo. Nem todos os casos de carga viral detectável são considerados falência virológica. Nos casos em que a carga viral esteja disponível e o resultado da mesma seja positivo (ou seja, a carga viral seja detectável), o CLINICO deve examinar o caso com o médico. Falência Imunológica A falência imunológica é a incapacidade de o TARV para recuperar a imuno-supressão causada pelo HIV. A determinação da falência imunológica perante os regimes de TARV deve ser efectuada com cautela. A contagem de CD4 em série é imprescindível para a avaliação da falência imunológica: • As contagens CD4 de base são essenciais para a avaliação da falência imunológica. • Reduções de mais de 25% na contagem máxima atingida pelo doente após o início do TARV são consistentes com a falência imunológica. • Uma redução constante na contagem de base ou nenhum aumento na contagem de CD4 também é considerada falência imunológica. A falência imunológica nunca deve ser determinada por menos de três exames de CD4, já que as quedas na contagem de CD4 podem acontecer de forma temporária por vários motivos (por exemplo, episódio de malária que origina a redução da contagem de CD4 e aumento da carga viral durante a infecção, com posterior recuperação). Atenção: O CD4 pode baixar temporariamente durante uma infecção aguda (oportunista ou não), logo voltar a subir quando a infecção é tratada. Por exemplo, o CD4 pode baixar durante um episódio de malária aguda. Se o CD4 estiver a baixar num doente que tem ou teve recentemente uma nova infecção, é preciso repetir o CD4 depois de tratar a infecção antes de diagnosticar falência terapêutica. Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 308 Falência Clínica Num doente que tenha tido boa adesão ao TARV por mais de 6 meses, a falência clínica se define como: Aparecimento de uma nova doença do Estadio III ou IV; Não ganho de peso ou continuação de perda de peso. Outras causas médicas que provocam a perda de peso devem ser identificadas e tratadas (ou seja, infecções parasitológicas, diarreia crónica, diabetes mellitus, efeitos secundários do TARV, como a acidose láctica, falta de alimentos devido à pobreza extrema) antes de fazer o diagnóstico de falência clínica. A falência clínica poderá ser difícil de determinar, especialmente nos doentes com doença muito avançada no momento do início do TARV. As doenças intercorrentes não associadas ao HIV (malária, infecções virais) podem ser erradamente interpretadas como falência clínica e, portanto, deverão ser conduzidas avaliações completas. O Síndrome de Imuno-Restauração (SIR) pode aparecer mais tarde durante o curso do TARV (especialmente TB ou meningite criptocócica) e pode ser mal interpretado com uma nova infecção oportunista. Este tema vai ser aprofundado na unidade sobre SIR. Combinação de Informações: Falência Clínica e Imunológica Ao considerar a falência clínica, a informação sobre a contagem CD4 é muito útil. É lógico pensar que, quando um doente apresenta novos sinais de doença depois do início do TARV e ao mesmo tempo os seus CD4 descem, este doente apresenta falência do tratamento. Outras vezes vamos encontrar doentes que apresentam nova clínica mas que os seus CD4 estão a melhorar. Nesses casos o clínico deve suspeitar o síndrome de imuno-restauração. Todos os casos em que houver suspeita de falência clínica e/ou imunológica devem ser encaminhados ao médico para exames específicos. No futuro, o incremento da disponibilidade do exame de carga viral irá facilitar o diagnóstico de falência terapêutica. Se o médico confirmar a suspeita de falência terapêutica, deve propor a mudança para a segunda linha de tratamento e submeter o historial a uma avaliação em Maputo. A Segunda Linha de TARV A decisão de mudar o TARV da primeira para segunda linha é uma decisão muito séria. Os medicamentos da segunda linha são mais caros e às vezes provocam mais efeitos colaterais (efeitos adversos ou de toxicidade). São mais difíceis de tomar porque o doente tem que tomar comprimidos múltiplos. O doente com falência terapêutica para primeira linha, mas que não tolera ou não tem boa adesão para a 2ª linha, pode ficar com poucas opções de tratamento (a terceira linha vai ser introduzida no país mas sua disponibilidade poderá ser limitada). Toda mudança da primeira linha para a segunda linha de TARV tem de ser aprovada a nível central. É preciso apoiar o doente para uma boa adesão para evitar a necessidade de mudar para a 2ª linha. Pontos-Chave • • A adesão ao tratamento é crucial para obter uma boa resposta ao mesmo. Há uma necessidade de parceria entre a equipa clínica e o doente. O cumprimento do calendário de seguimento (consultas clínicas, farmácia, testes de laboratório) e a avaliação sistemática e activa do doente durante as consultas permite a detecção atempada de problemas e sua resolução. Os problemas podem ser: • Reacções adversas; • Novas infecções oportunistas; • Síndrome de imuno-restauração (SIR); • Falência do tratamento. Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 309 Literatura adicional da Unidade: • • Tratamento Anti-retroviral e Infecções Oportunistas em Adultos e Adolescentes. Guia de Bolso. MISAU, Moçambique. Formação em Aconselhamento TARV e Adesão. Ministério de Saúde. Programa Nacional de Combate às ITS/HIV/SIDA, Departamento de Assistência Médica. Moçambique. 2007 Anexos Em anexo a esta unidade encontra-se o seguinte documento: • Algoritmo de seguimento do paciente Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 310 Manual de Referência do Clínico Seguimento do Doentes em TARV e Falência Terapêutica 311 Unidade 10.5 – Reacções Adversas a Medicamentos Introdução A primeira linha da terapia anti-retroviral usada em Moçambique contém medicamentos que podem causar toxicidade severa, como a Nevirapina, que pode causar o Síndrome de Stevens-Johnson ou falência hepática; a Zidovudina (AZT) que pode causar anemia; o Tenofovir (TDF) que pode causar toxicidade renal; e o Efavirenz (EFV) que, em certos casos, causa problemas neuropsiquiátricos. Os medicamentos da primeira linha alternativa também podem ser tóxicos; é o caso da Estavudina (d4T) que pode causar neuropatia periférica ou acidose lácticaPara além dos anti-retrovirais, existem outros medicamentos frequentemente usados no tratamento das pessoas seropositivas que podem produzir reacções adversas. Os mais implicados provavelmente sejam o Cotrimoxazol e os medicamentos usados para tratar a tuberculose. Os principais desafios do clínico são: poder diferenciar as reacções adversas das infecções oportunistas e outras complicações do SIDA, e saber quando suspender um medicamento em caso de reacção adversa severa. Esta unidade ajudará o técnico no seguimento do doente em TARV e no manejo das reacções adversas, assim como incentivará a prática de fazer a avaliação completa do doente em TARV, mesmo quando ele não demonstra nenhuma dificuldade em relação à adesão ao tratamento. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • • • Definição da reacção adversa Diagnóstico diferencial: Como reconhecer as reacções adversas Reacções adversas mais frequentes aos ARVs, Cotrimoxazol e tratamento para TB Classificação do grau ou da gravidade das reacções adversas Manejo das reacções adversas: Conduta de acordo com o grau ou gravidade Quando e como suspender o TARV Definição da Reacção Adversa Quando os doentes iniciam o TARV ou outros medicamentos, pode ocorrer algum desconforto que resulta da reacção dos medicamentos que estão sendo tomados e que se manifesta através de sinais e sintomas ou alterações dos resultados laboratoriais. Esta situação chama-se efeito adverso ou efeito secundário. Para algumas pessoas, apesar de ser em número muito reduzido, os efeitos adversos podem ser muito sérios ou severos e, noutros casos, eles são leves a moderados. Características das Reacções Adversas A reacção adversa é: • Um sinal ou sintoma que começa depois de iniciar um medicamento (CTZ, ARV, medicamento para TB, etc); • A relação entre o medicamento e o sinal ou sintoma é conhecida (o medicamento que pode causar o problema é conhecido) • Não há outra causa mais provável para o sinal ou sintoma (não pode ser explicado por IO, SIR, a não ser pelos fármacos tomados pelo doente). As reacções adversas ao TARV são um fenómeno relativamente frequente, que muitas vezes não é grave, mas têm um impacto negativo na adesão e no sucesso do tratamento. A detecção atempada das reacções adversas e a pesquisa dos efeitos secundários menos relevantes pode evitar casos graves e ajudar na sua resolução, melhorando a adesão ao tratamento bem como o risco de falência terapêutica. O diagnóstico diferencial das reacções adversas precisa de uma combinação entre conhecimentos teóricos e raciocínio clínico. Sempre que forem graves ou caso haja dúvida em relação ao seu diagnóstico, as reacções adversas ao TARV devem ser avaliadas pelo médico. Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 312 Diagnóstico Diferencial: Como Reconhecer as Reacções Adversas Por vezes pode ser difícil diferenciar entre as complicações da doença provocadas pelo HIV e as reacções adversas causadas pelos ARVs. Antes de diagnosticar toxicidade, deve-se ter em conta as outras possibilidades, tais como: • Doença infecciosa, seja oportunista ou não. • Reacções a medicamentos que não sejam os ARVs: existem certos medicamentos como a Amoxicilina, Cotrimoxazol ou Pirimetamina que podem produzir alterações cutâneas idênticas às reacções dos ARVs. Os medicamentos usados para tratar a tuberculose podem produzir neuropatia periférica e hepatite, ambas idênticas às reacções causadas pelos fármacos ARVs. • Síndrome de imuno-reconstituição (SIR): é um quadro clínico que consiste na reaparição de infecções oportunistas já tratadas ou algumas não diagnosticadas previamente nos doentes que iniciam o tratamento anti-retroviral, uma vez que a resposta ao tratamento é favorável. • Outras doenças não relacionadas com o HIV (por exemplo insuficiência cardíaca ou renal, ou infecções como a Schistosomíase). Lembre-se que os doentes podem ter HIV junto com outras doenças. Às vezes pode ser difícil reconhecer que se está perante um efeito adverso ao medicamento. O clínico deve fazer uma avaliação sistemática na qual precisa conhecer o doente, os medicamentos e o desenrolar dos acontecimentos. Em anexo a esta unidade propõe-se o uso das Tabelas de Reacções Adversas Mais Frequentes para os Fármacos ARVs, Cotrimoxazol e Fármacos para o Tratamento da TB, como instrumento para ajudar o técnico a conhecer e a reconhecer as reacções adversas. Conhecer o Doente. Definir Adequadamente os Sinais e Sintomas • Sintomas: Fazer uma história completa dos sintomas presentes: o que o doente está a sentir ou (se o próprio doente não poder descrever os seus sintomas) desde quando é que a família apercebeu-se do problema. • Sinais: Para além de fazer o exame físico à procura de sinais físicos de reacção adversa, é preciso avaliar os testes laboratoriais (de rotina, ou pedidos para investigar a doença actual), incluindo o CD4, a hemograma e a bioquímica. Esta avaliação deve ser activa: Nas consultas de seguimento, o Clinico deve procurar activamente os sinais e sintomas mais comuns de reacção adversa aos medicamentos presentes actualmente no doente. Uma vez identificados, o clínico deve consultar a Tabela 1: Sinais e Sintomas de Possível Reacção Adversa e os Medicamentos que Podem Estar Implicados em anexo a esta unidade. Se a Tabela 1 não menciona que o medicamento que o doente está a tomar pode causar determinados sinais e sintomas, é provável que o medicamento não seja a causa da doença. Nestes casos, o Clinico deve procurar outra explicação e/ou encaminhar o doente. Conhecer os Medicamentos Procurar saber se houve quaisquer mudanças recentes de medicamentos ou se o doente recebeu algum medicamento extra (por exemplo, algum antibiótico). O clínico deve ter a certeza da linha de TARV que o doente faz e deve conhecer os efeitos secundários mais frequentes de cada anti-retroviral. É também importante saber se o doente toma mais algum medicamento (por exemplo, cotrimoxazol, isoniazida para a profilaxia da tuberculose ou para a fase de manutenção da TB) e conhecer as possíveis reacções adversas destes fármacos (consultar a Tabela 2: Fármacos Usados nos Doentes HIV+, seus Efeitos Adversos mais Frequentes e Manejo dos Mesmos em anexo a esta unidade). Às vezes, o doente poderá ter sinais ou sintomas que podem ser causados por mais de um dos medicamentos que está a tomar. Estas situações são mais difíceis de gerir e o clínico provavelmente precisará da ajuda do médico. Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 313 Conhecer o Desenrolar dos Acontecimentos Cada fármaco tem os seus próprios efeitos secundários e, normalmente, estes aparecem nos prazos previstos. Algumas reacções adversas aparecem logo após o início de um determinado medicamento, outras são tardias. Por exemplo, o Síndrome de Stevens-Johnson causado por Nevirapina geralmente aparece nas primeiras semanas ou meses de tratamento. Os problemas neuropsiquiátricos provocados por Efavirenz podem aparecer no primeiro dia de tratamento. O risco destas reacções diminui após os primeiros meses de tratamento. Ao contrário, a neuropatia periférica e a acidose láctica provocadas por d4T ou ddI normalmente demoram meses ou anos para aparecer após o início do tratamento. O risco destas reacções adversas aumenta a cada mês de tratamento. O clínico deve fazer as seguintes perguntas ao doente: • Quando é que começou a fazer o TARV, ou o tratamento para a TB, ou a profilaxia de CTZ? • Quando é que o doente começou a tomar outros medicamentos ou a fazer outras terapias? • Qual foi a altura exacta do surgimento dos sintomas ou dos resultados anormais dos exames laboratoriais? (Compare os resultados anteriores existentes no processo clínico com os resultados actuais). • Está a melhorar ou a piorar? Se o sinal ou sintoma estiver a melhorar no doente que ainda está a tomar o medicamento, é pouco provável que seja uma reacção adversa, e o técnico deve procurar outra causa para o problema. Se o sinal ou sintoma não tem relação conhecida com os medicamentos tomados pelo doente, é pouco provável que seja uma reacção adversa, e o técnico deve procurar outra causa para o problema. Mas, a Tabela 1 só descreve reacções comuns e/ou graves. Se o técnico suspeitar de alguma reacção que não aparece na tabela, deve consultar o médico para além de procurar outra causa. Uma vez identificado o sinal ou sintoma presente no doente e relacionado com algum fármaco concreto do TARV, do tratamento de tuberculose ou o cotrimoxazol, e sendo aceitável esta relação entre o sinal/sintoma e o fármaco (primeiro iniciou o tratamento e depois apareceu o efeito), o técnico deve avaliar o grau ou a gravidade da reacção. Reacções Adversas mais Frequentes aos ARV, CTZ e ao Tratamento para Tuberculose 1. Hepatite A Nevirapina é o ARV mais usado em África, e as reacções adversas à ela são frequentes. A hepatite causada por Nevirapina tem especial interesse, já que, se não for detectada a tempo, pode ser muito grave e levar à morte do doente. O clínico deve ser capaz de reconhecer esta reacção e o seu manejo. Nos casos de hepatite grave, toda a medicação ARV deve ser retirada e o técnico deverá encaminhar o doente ao médico. Outros medicamentos que podem produzir hepatite são Efavirenz, Cotrimoxazol, Fansidar. Risco de Hepatite Causada por Nevirapina O risco de desenvolver a hepatite devido à Nevirapina é elevado nas primeiras semanas e meses de tratamento, mas pode ocorrer anos após o início do TARV. O risco é mais elevado nos seguintes casos: Nas mulheres CD4 elevados: a reacção a Nevirapina é mais provável nos homens com CD4 superior a 400 cel/mm3 e nas mulheres com CD4 superior a 250 cel/mm3 Transaminases elevadas antes de começar o TARV Hepatite B crónica Tratamento simultâneo para TB Os sinais e sintomas podem incluir febre, dor abdominal, dor muscular, náuseas, vómitos, cansaço, icterícia, ou erupção cutânea (esta pode ser leve ou grave, como nos casos do Síndrome de StevensJohnson). A hepatite por vezes só se apresenta com elevação das transamínases, sem sintomas ou sinais. Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 314 É preciso medir as transamínases do doente que começa o tratamento com Nevirapina conforme o calendário de MISAU. Tratamento de Hepatite Causada por Nevirapina No doente com pequenas elevações das transaminases (Grau 1 ou 2), sem sintomas de hepatite e sem erupção cutânea, o técnico deve continuar a administrar o ARV, observar, repetir as transaminases após duas semanas de tratamento e reavaliar. O doente com hepatite sintomática, com ou sem erupção cutânea, e grandes elevações das transaminases (Grau 3 ou 4) precisa de ser avaliado pelo médico. Nestes casos, vai ser necessário suspeder a Nevirapina. Como Suspender a Nevirapina Para evitar a resistência aos anti-retrovirais, todos os fármacos devem ser suspensos. Perante um caso de hepatite por Nevirapina, esta deve ser suspensa primeiro, e os outros dois fármacos (geralmente ZDV/d4T e 3TC) devem ser mantidos mais uma semana e serem retirados posteriormente. Hepatite Causada por Outros Fármacos (para Além da NVP) Às vezes, a hepatite pode ser causada por medicamentos usados para o tratamento da tuberculose ou por CTZ, ou por EFV ou por outros medicamentos. Se um doente estiver a tomar medicamentos para a tuberculose e tiver hepatite sintomática, o clínico deve consultar o médico ou referir o doente. Muitas vezes é preciso suspender todos os medicamentos usados para o tratamento da TB e, a seguir, reiniciar um de cada vez para identificar o medicamento que causou a toxicidade hepática. 2. Reacções Cutâneas: Síndrome de Stevens-Johnson As reacções cutâneas são reacções do tipo alérgico que aparecem nas primeiras semanas após o início do tratamento. No caso de ser originada por Nevirapina, pode estar associada à hepatite. O Síndrome de Stevens-Johnson é uma reacção cutânea grave, que pode aparecer nos doentes que iniciam o tratamento com fármacos como a Nevirapina, Cotrimoxazol, Fansidar ou Efavirenz. Tratamento das Reacções Cutâneas • Formas leves (prurido ou rash sem febre, sem lesões nas mucosas, sem vesículas): continuar com o TARV. Controlo clínico de perto. Solicite transaminases. • Formas graves (erupção associada à febre, vesículas, lesões nas mucosas, síndrome de StevensJohnson): Suspender o TARV. Internar o doente e manejar como se fosse um caso de queimaduras. Consultar o médico. Lembre-se: o doente que teve uma reacção cutânea grave (Síndrome de Stevens-Johnson) não deve voltar a tomar nunca o medicamento. 3. Citopenias (Anemia, Leucopenia, Plaquetopenia) Os fármacos que podem produzir citopenias com frequência são a Zidovudina (AZT) e o Cotrimoxazol. No caso de provocar anemia, os sinais e sintomas são palidez, sinais de insuficiência cardíaca ou respiratória (dispneia, taquicardia e cansaço significativo). O técnico deve realizar controlo com hemograma nos doentes em TARV com Zidovudina (segundo o protocolo nacional). A leucopenia também é um possível efeito secundário da Zidovudina (AZT) e do Cotrimoxazol. A leucopenia provoca a redução de todas as classes de células brancas. Às vezes, só um tipo de células brancas poderá estar afectado, por exemplo o neutrófilo. Nesses casos, fala-se de neutropenia. A redução da contagem de leucócitos pode favorecer ao aparecimento de infecções, principalmente as bacterianas. Nesses casos, o doente pode apresentar-se com um quadro clínico de infecção respiratória, cutânea ou de qualquer tipo. A plaquetopenia é a redução da contagem das plaquetas no sangue. A plaquetopenia pode-se manifestar como sangramento de qualquer tipo (metrorragias, sangramentos da pele ou mucosas). No quadro X em anexo (anomalias biológicas nos efeitos adversos nos adolescentes e adultos), pode-se observar a classificação em graus das citopenias. O manejo vai depender do grau da reacção. Nos casos graves, pode ser necessário a suspensão do tratamento. Os controlos de rotina marcados no calendário são a forma mais segura de evitar reacções graves. Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 315 4. Insuficiência renal A insuficiência renal é a afectação do funcionamento dos rins. Este efeito secundário é pouco frequente e pode aparecer com o uso de Tenofovir. O principal problema da insuficiência renal é que pode não causar nenhum sintoma inicial, e só se manifestar clinicamente quando o quadro já esta estabelecido e é irreversível. Por este motivo é necessário poder avaliar a função dos rins antes de introduzir Tenofovir e nos pacientes que iniciam TARV com este medicamento, é necessário o controlo da função renal através da medição da creatinina no soro (bioquímica). Quando se manifesta clinicamente, a insuficiência renal pode levar ao aparecimento de edemas nos membros inferiores e na face, elevação da pressão arterial, anemia e astenia intensa. Os pacientes com maior risco de sofrer problemas renais por Tenofovir são os pacientes idosos, com antecedentes de HTA, diabetes mellitus e aqueles que apresentam alterações da função renal prévia à introdução do tratamento. Nestes casos o Tenofovir está contra-indicado e deve ser escolhido outro fármaco. 5. Polineuropatia Periférica A neuropatia periférica é a afectação dos nervos, principalmente das pernas e dos pés. A neuropatia periférica pode também afectar as mãos, mas é menos frequente. Os fármacos que frequentemente podem produzir neuropatia são a Estavudina e a Isoniazida. Os sinais e sintomas são dormência, dor, ardor ou formigueiro em ambos os pés. A força muscular é mantida ou pouco afectada. Esta é uma reacção subaguda que pode demorar a aparecer, levando semanas ou meses. A probabilidade de desenvolver a neuropatia é maior quando o doente recebe tratamento para a TB e o TARV com Estavudina. Este tema vai ser abordado com mais detalhe na unidade sobre Neuropatia periférica no doente com HIV. O gráfico abaixo mostra a percentagem de doentes que foram diagnosticados com neuropatia periférica causada por d4T em relação ao número de meses de TARV 1 numa pesquisa realizada na Uganda. % Pacientes com Neuropatia Periférica (adaptada de Forna et al) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0 3 6 9 12 15 18 meses sob TARV com d4T % Pacientes com Neuropatia Periférica (adaptada de Forna et al) 1 Forna F et al. Clinical Toxicity of Highly Active Antiretroviral Therapy in a Home-Based AIDS Care Program in Rural Uganda. J Acquir Immune Defic Synd 2007;44:456-62 Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 316 6. Acidose Láctica É uma reacção adversa de difícil diagnóstico. Alguns ARVs, especialmente os INTR (na ordem decrescente seria: Didanosina + Estavudina, Estavudina, Didanosina, Zidovudina e, raramente, Lamivudina, Tenofovir, Abacavir 2). Os sinais e sintomas são cansaço, anorexia, dor abdominal, dor muscular, perda de peso e dispneia. A acidose láctica é uma reacção subaguda que raramente surge antes de três ou quatro meses após o início do TARV. Apesar do diagnóstico da acidose láctica ser difícil e não haver exames complementares que apoiam o diagnóstico, se o clínico suspeitar de acidose láctica, deve solicitar sempre a avaliação pelo médico. O tratamento deve ser suspenso e substituído por outro. 7. Reacções de Hipersensibilidade É uma forma de reacção alérgica que acontece nos primeiros dias ou semanas após o início do fármaco. O Abacavir é o fármaco frequentemente implicado. Os sinais e sintomas são os seguintes: febre, erupção cutânea, mal-estar, fadiga, dor abdominal, sintomas gastrointestinais, dispneia e shock (casos graves). A reacção de hipersensibilidade é frequente com Abacavir (cerca de 5% dos doentes que tomam Abacavir podem apresentar alergia). Caso haja suspeita de reacção de hipersensiblidade, o fármaco deve ser suspenso e o caso deve ser examinado pelo médico. 8. Pancreatite A pancreatite é a inflamação do pâncreas. O fármaco frequentemente implicado é a Estavudina (d4T). Os sinais ou sintomas de pancreatite são a dor intensa na região do epigástrio e vómitos. Pode provocar febre e icterícia. No caso de suspeitar pancreatite, o clínico deve solicitar testes de amilase ou lípase. Na pancreatite, o resultado destes testes pode ser muito elevado. A pancreatite é sempre um quadro grave que requer a suspensão do tratamento e o encaminhamento do doente ao médico. 9. Alterações Neuropsiquiátricas É um conjunto de sinais e sintomas que afectam o SNC, caracterizados por insónia, sonhos vívidos ou pesadelos, problemas de concentração, depressão, memória, alucinações. O fármaco que pode produzir estes quadros é o Efavirenz. Geralmente os sinais e sintomas começam quase imediatamente após o início do EFV, muitas vezes no primeiro dia de tratamento. Para a maioria dos doentes, os sintomas são leves e desaparecem após as primeiras semanas de tratamento. O Clinico deve avaliar estes sinais e sintomas e confortar os doentes, explicando que o quadro vai melhorar nas semanas seguintes. Em alguns casos, estas alterações podem ser graves e podem requerer consulta especializada ou suspensão do tratamento. 10. Cefaleia A cefaleia é um sintoma muito frequente e quase todos os fármacos podem produzi-la. Contudo, alguns ARVs a produzem com mais frequência é o caso da Zidovudina (ZDV), do Efavirenz (EFV) ou do Tenofovir (da segunda linha). Em geral, é um efeito adverso pouco relevante, que melhora com o tratamento sintomático (Paracetamol ou Diclofenac) e que desaparece umas semanas após o início do TARV. Caso a cefaleia seja muito aguda ou não melhore com o tramento sintomático, o clínico deve consultar o médico, porque pode-se tratar de outra causa de cefaleia (por exemplo, SIR relacionado com criptococose), ou pode ser necessário mudar o tratamento. 2 Bartlett, Gallant, Medical Management of HIV Infection, 2006 Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 317 Classificação do Grau ou da Gravidade da Reacção Adversa Reacções Adversas a Anti-retrovirais Uma vez diagnosticada a reacção adversa, o clínico deve definir qual é a gravidade da mesma para poder fazer decisões sobre a continuidade do tratamento ou a suspensão do mesmo. É importante classificar o grau de gravidade usando as tabelas dos efeitos colaterais da OMS. Existem quatro níveis ou categorias de efeitos secundários em função da gravidade da reacção. Para classificar a gravidade da reacção, o clínico deve basear-se no seguinte: Numa boa história clínica (anamnese e exame físico completos); Nas investigações laboratoriais necessárias em função do tipo de reacção e do fármaco, e sempre que estes estiverem disponíveis. Para classificar a gravidade das reacções adversas aos anti-retrovirais (tanto dos sinais como das alterações dos parâmetros de laboratório), o clínico deve consultar os quadros de sinais e sintomas dos efeitos adversos no adolescente e adulto; Anomalias biológicas nos efeitos adversos dos adolescentes e adultos em anexo a esta unidade. A classificação da gravidade dos efeitos adversos aos ARVs é a seguinte: • • • • Efeitos ligeiros (grau 1): mal-estar ligeiro ou transitório sem limitação da actividade. Efeitos moderados (grau 2): limitação ligeira a moderada na actividade. Alguma assistência médica pode ser necessária. Efeitos graves (grau 3): importante limitação na actividade. A assistência é habitualmente necessária. Requer tratamento médico e possível hospitalização. Efeitos graves, que representam risco de vida (grau 4): extrema limitação da actividade. Requer assistência importante. Requer cuidados médicos sob hospitalização. Reacções Adversas à Cotrimoxazol A Tabela 3 em anexo a esta unidade descreve os graus de reacções adversas a Cotrimoxazol. Reacções Adversas a Medicamentos Usados para o Tratamento da Tuberculose As reacções adversas a medicamentos usadas para tratar ou prevenir a tuberculose são classificadas pelo PNCTL como “minor” e “major” 3. Quando há reacção “minor”, normalmente não é preciso suspender o tratamento. Quando há reacção “major”, é preciso suspender ou modificar o tratamento para TB. Às vezes, é preciso suspender todos os medicamentos para TB e de seguida reintroduzi-los gradualmente. O Clinico deve aplicar o sistema usado pelo PNCT para identificar a gravidade de uma reacção a medicamentos usados para o tratamento da TB e, posteriormente, deve encaminhar o caso para o médico. Manejo das Reacções Adversas: Conduta de Acordo com o Grau ou Gravidade ARVs e/ou Cotrimoxazol: Efeitos ligeiros (grau 1): Continuar a terapia, explicando ao doente Tratamento sintomático, por exemplo clorfeniramina para prurido ligeiro Avaliar como a adesão poderá ser afectada, dar apoio e conforto ao doente Efeitos moderados (grau 2): Poderá exigir a substituição de algum medicamento Muitas vezes, é recomendável seguir com o tratamento e reavaliar em uma ou duas semanas Efeitos graves (grau 3) Exige substituição de algum medicamento O técnico deve consultar o médico Efeitos graves, que representam risco de vida (grau 4): Interrupção de todos os medicamentos ARV Terapia de apoio adequada: internar/referir ao médico 33 MISAU – PNCTL. Manual Clinico de Tuberculose, 2006. Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 318 Substituição dos medicamentos provavelmente responsáveis logo que o doente estiver estabilizado (não devem ser introduzidos os mesmos fármacos) O técnico deve consultar o médico As reacções adversas devem ser reportadas ao MISAU usando a Ficha de Notificação de Reacções Adversas aos Medicamentos (em anexo a esta unidade). Quando e Como Suspender o TARV De acordo com o que foi abordado, podem ser identificados critérios clínicos e outros de laboratório na hora de tomar a decisão para suspender o tratamento anti-retroviral de um doente. Sempre que for possível, é melhor consultar o médico ainda que o técnico possa tratar as reacções menos graves, que não precisam de retirada do tratamento (por exemplo, o rash por Nevirapina quando é de grau 1 ou 2). Se o médico não estiver disponível e o técnico suspeitar toxicidade que possa ser grave (grau 3 ou 4), deve encaminhar o doente para a Unidade Sanitária de referência (este processo não deve demorar). Na Tabela 4 anexa a esta unidade encontramos as mudanças de um único fármaco para os casos de toxicidade bem identificada que requerem mudança de fármaco. Lembre-se: O número de anti-retrovirais disponíveis para tratar o SIDA em Moçambique não é suficiente. O doente que não tolera a primeira linha nem a primeira linha alternativa ficará sem muitas opções. É importante não suspender anti-retrovirais sem investigar outras causas possíveis dos sinais e sintomas do doente. Mas, também é importante suspender um anti-retroviral imediatamente se houver evidência de uma reacção que ameaça a vida do doente. O técnico tem que usar sempre um bom raciocínio clínico na tomada destas decisões, e consultar o médico quando indicado. As reacções adversas aos medicamentos devem ser reportadas ao MISAU usando os formulários específicos. Pontos-Chave • • • • • • As reacções adversas aos anti-retrovirais e outros medicamentos usados nos cuidados do doente de HIV são frequentes. Podem ser confundidas com outros problemas, por exemplo, novas infecções. Causam morbilidade e às vezes mortalidade. Tem impacto na adesão. A detecção atempada pode evitar casos graves. Caso sejam importantes, devem sempre ser avaliadas pelo médico. Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 319 Anexos Em anexo a esta unidade estão os seguintes documentos: • • • • • • • • • • Quadro X. Anomalias biológicas nos efeitos adversos nos adolescentes e adultos (Grau das reacções adversas) Quadro XI. Sinais e sintomas dos efeitos adversos no adolescente e adulto (Grau das reacções adversas) Tabela 1. Sinais e Sintomas de Possíveis Reacções Adversas e os Medicamentos que Podem Estar Implicados Tabela 2: Fármacos usados nos doentes HIV+, seus efeitos adversos mais frequentes e manejo dos mesmos Tabela 3. Reacções Adversas ao Cotrimoxazol Tabela 4. Reacções Adversas Moderadas a Graves Substituição de um Único Fármaco Anti-retrovirais: Primeira linha Alternativa Medicamentos para TB Reacções Adversas aos Fármacos para profilaxia de IO (Cotrimoxazol e Dapsona) Formulários para a notificação de Reacções Adversas a Medicamentos. CIMED. MISAU Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 320 Quadros X e XI: Grau das Reacções Adversas (Sinais e Sintomas e Alterações Laboratoriais) Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 321 Tabela 1 Sinais e Sintomas de Possível Reacção Adversa e os Medicamentos que Podem Estar Implicados Sistema Tabela 1. Sinais e Sintomas de Possível Reacção Adversa, e os Medicamentos que Podem estar Implicados Medicamentos associados Medicamentos Cotrimoxazol Sinal ou Sintoma para tratar Anti-retrovirais Outros tuberculose ou Dapsona Nevirapina Geral, constitucional Febre Cotrimoxazol Efavirenz Abacavir Erupção cutânea severa: Sindrome Stevens Johnson Dermatológico Nevirapina Cotrimoxazol Efavirenz Nevirapina Outra erupção cutânea Efavirenz Cotrimoxazol Rifampicina Dapsona Sulfadoxinapirimetamina (Fansidar) Sulfadoxinapirimetamina (Fansidar) Abacavir Hepatite (febre, astenia, anorexia, nauseas, icterícia, dor abdominal, ascite) Nevirapina Efavirenz Isoniazida Rifampicina Cotrimoxazol Dapsona Pirazinamida Dor abdominal (veja também “hepatite”) Nevirapina Isoniazida Cotrimoxazol Efavirenz Rifampicina Dapsona Estavudina Abacavir Pirazinamida Abacavir Gastrointestinal Estavudina Diarreia Tenofovir Lopinavir/ritonavir Nelfinavir Abacavir Náusea Estavudina Zidovudina Tenofovir Neuropatia periférica (dor, dormência ou formigueiro nos pés/pernas) Estavudina Isoniazida Zidovudina Cefaleia Abacavir Estavudina Neurológico, psiquiátrico Insónia Zidovudina Efavirenz Problemas neuropsiquiátricos: Dificuldades para pensar, confusão, problemas de concentração, depressão, psicose Problemas visuais Efavirenz Etambutol Abacavir Respiratório Dispneia Musculoesquelético Artralgias Hematológico Anemia, leucopenia, trombopenia (citopenia) Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação Estavudina Abacavir Pirazinamida Zidovudina Rifampicina Cotrimoxazol Dapsona 322 Tabela 2: Fármacos Anti-retrovirais Usados nos Doentes HIV, seus Efeitos Adversos Mais Frequentes e Manejo dos Mesmos Medicamentos Usados nos Regimes de Primeira Linha e Alternativas Medicamento Reacções adversas comuns e/ou importantes História médica: perguntas Nevirapina (NVP) Geralmente acontecem nas primeiras 18 semanas de tratamento Erupção cutânea. Leve (erupção maculopapular limitada e seca) Erupção cutânea. Exame físico, exames laboratoriais Temperatura Examine pele, boca, olhos; procure erupção cutânea (com ou sem vesículas e/ou lesões da mucosa). Lab: Peca transanminases, bilirrubina Grave (síndrome Stevens-Johnson). Pode-se associar a toxicidade hepática. Hepatotoxicidade: -Leve (elevação pequena e assintomática das transamínases) - Grave (falencia hepatica fatal) Zidovudina (AZT, ZDV) Citopenias: Anemia, neutropenia, trombocitopenia (normalmente nas primeiras semanas ou meses de terapia) Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, Exame físico: fadiga, mal-estar, dor abdominal, icterícia, Procure icterícia. Examine febre, confusão (se grave). abdómen; procure dor e hepatomegalia. Lab: Peca transaminases, bilirrubina Fadiga, dispneia com exercício (clinica de Citpenias: Procure palidez, anemia) dispneia, taquicardia, petéquia Sangramentos (plaquetopenia) Lab: solicite hemograma Hepatotoxicidade: Grau 1 e 2; Controlar Grau 3 e 4: suspender Nevirapina Anemia, neutropenia, ou trombocitopenia (depende do grau): veja tabela de reaccoes adversas de laboratorio. Nauseas, vomitos: tratamento sintomatico (metoclopramida). Se persistente pode requerir mudanca por AZT (Consultar com o medico) Neurológico: cefaleia, mal-estar, insónia ( normalmente nas primeiras semanas de terapia, melhorando espontaneamente) Dor abdominal, fadiga, dor muscular, náuseas, vómitos, diarreias, perda de peso, e/ou dispneia. Lamivudina (3TC) Os efeitos adversos são pouco comuns Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação Erupção cutânea: Leve: Se prurido ou erupção cutânea sem febre, sem lesões da mucosa, sem vesículas (sem lesões húmidas): Continuar anti-retrovirais, tratar prurido com anti-histamínicos, re-avaliar na próxima consulta. Grave: Se erupção associada com febre, vesículas (lesões húmidas), lesões da mucosa, ou síndrome Stevens-Johnson, suspender todos os antiretrovirais e consultar medico. Gastrointestinal: Náuseas, vómitos (normalmente nas primeiras semanas de terapia, melhorando espontaneamente) Outro: Acidose lactica (pouco comum) Tratamento, outros comentários 323 Se cefaleia: exame neurológico completo Cefaleia: Se nenhuma outra causa da cefaleia e identificado, trate sintomas com paracetamol. Se a cefaleia não pode ser controlado com paracetamol, suspender AZT e trocar por d4T (ou outro ARV); Consultar com o medico Se suspeita acidose lactica peca amílase ou lípase, transamínases. Se disponível, peca teste de acido láctico. Acidose láctica: Consulte MD se suspeita acidose láctica. Se o paciente é grave e suspeita-se acidose láctica mas não há medico disponível, suspender TODOS os anti-retrovirais e transferir. Medicamentos Usados nos Regimes de Primeira Linha e Alternativas (continuação) Medicamento Reacções adversas comuns e/ou importantes História médica: perguntas Exame físico, exames laboratoriais Tratamento, outros comentários Estavudina (d4T) A neuropatia e a acidose lactica são efeitos tardios (geralmente começam depois de meses de tratamento) A pancreatite é um efeito adverso agudo Neuropatia periférica Dormência, dor, ardor, ou formigueiro em ambos os pés. Exame fisico: Se sintomas de neuropatia periférica: procure dormência ou formigueiro nos pés e tornozelos, avalie reflexos no tornozelo (podem ser diminuídos ou ausentes) Suspender D4t. Sustituir por AZT. Associar multivitaminas ou complexo B Pancreatite Dor abdominal (muitas vezes dor epigástrico com radiação as costas, nauseas, e vomitos) Lab: Peça amilase ou lipase Pancreatite: Se sintomático, suspender d4T e substituir ZDV ou outro (consulte MD). Se elevação assintomática de amílase ou lípase, suspender d4T (e substituir outro anti-retroviral) se >= 2x ALN. Acidose láctica com ou sem hepatotoxicidade. Dor abdominal, fadiga, dor muscular, náuseas, vómitos, diarreias, perda de peso, e/ou dispneia. Dor abdominal: Peca amílase ou lípase, Acidose láctica: Consulte MD se suspeita acidose láctica. transamínases. Se disponível, peca teste Se o paciente é grave e suspeita-se acidose láctica mas não de acido láctico. há medico disponível, suspender TODOS os antiretrovirais e transferir. Erupção cutânea e/ou prurido. Pode ser leve (por exemplo, erupção maculopapular limitada e seca) ou grave (por exemplo, síndrome Stevens-Johnson). Pode ocorrer com ou sem complicações hepáticas. Erupção cutânea, prurido Examine pele, boca, olhos; procure vesículas e/ou lesões da mucosa e icterícia. Lab: Peça transaminases (em caso de erupcao cutanea e ou sinais ou sintomas de doenca hepatica Sintomas neuropsiquiátricas: insónia, depressão, confusão, problemas de concentração e/ou memoria (normalmente nas primeiras semanas de tratamento, com resolução espontânea). Tambem alucinações ou psicose. Pergunte pelo seguintes problemas: Dificuldades neuropsiquiátricas: Exame Dificuldades para pensar, confusão, problemas neurológico completo. de concentração, depressão, alucinacoes (avalie com a familia) Sintomas neuropsiquiátricos: Se leves, aconselhar paciente, re-avaliar em 1 ou 2 semanas, esperar resolução espontânea. Se graves, suspender EFV e substituir NVP ou outro ARV (consulte MD). Hepatite/elevações de transaminases Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, fadiga, mal-estar, dor abdominal, icterícia, febre, confusão (se grave). Examine abdómen; procure dor e hepatomegalia. Procure ictericia Lab: Peça transaminases Hepatotoxicidade: - Grau 1 e 2; Controlar - Grau 3 e 4: suspender Nevirapina Abacavir (ABC) Reacção de hipersensibilidade: Pode começar durante os primeiros 14 dias de terapia (a maioria nas primeiras 6 semanas). Sintomas podem piorar com cada dose do medicamento. Febre, erupção cutânea, mal-estar, fadiga, náuseas, vómitos, diarreia, Dor abdominal, artralgias, tosse, e/ou dispneia. Se grave (ou avançado), hipotensão, colapso circulatório e respiratório (pode ser fatal). Exame fisico completo Laboratório: Não há exame laboratorial que confirma o diagnostico de reacção de hipersensibilidade Se suspeita reacção de hipersensibilidade a abacavir, consultar MD imediatamente; suspender todos antiretrovirais. Normalmente, o paciente com reaccao de hipersensibilidade começa a melhorar nas primeiras 48 horas depois de suspender TARV. Depois de uma reacção de hipersensibilidade a abacavir, o paciente NUNCA deveria voltar a tomar ABC (uma segunda reacção pode ser fatal). Tenofovir (TDF) Insuficiencia renal: Elevação das cifras de creatinina no sangue, mais comum em indivídos idosos, hipertensos, diabéticos ou com problemas renais prévios. Geralmentese apresenta 1-12 meses após o início do fármaco A infuciência renal é muitas vezes assintomática. Os pacientes podem apresentar em ocasiões elevação da pressão arterial e sintomas derivados (cefaleia, dor torácica). Podem tambem apresentar edemas, anemia Avaliação da PA de forma regular nas consultas clíncias Avaliação da função renal através da determinação de Creatinina no sangue Sempre que houver sinais de nefrotoxicidade após a introdução do TDF, este deve ser suspenso imediatamente, pois a toxicidade relacionada com o TDF não é reversível Efavirenz (EFV) Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 324 Se prurido ou erupção sem febre, sem lesões da mucosa, sem lesões húmidas: Continuar anti-retrovirais, dar antihistaminicos para controlar prurido, re-avaliar na próxima visita. Se erupção associada com febre, vesículas (lesões húmidas), lesões da mucosa, ou síndrome StevensJohnson, suspender todos os anti-retrovirais e consultar medico. Tabela 3: Fármacos anti-tuberculose e seus efeitos adversos mais comuns Medicamentos para TB Exemplos História médica Exame fisico, Exames laboratoriais Tratamento Hepatite Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, fadiga, mal- Examine abdómen; procure dor e estar, dor abdominal, icterícia, febre, confusão (se hepatomegalia. Procure ictericia grave). Lab: Peça transaminases , bilirrubina Hepatotoxicidade: Grau 1 e 2; Controlar Grau 3 e 4: suspender e consultar médico Neuropatia periferica Dormência, dor, ardor, ou formigueiro em ambos os pés. Assocíe piridoxina (complexo B). Consulte o médico Hepatite Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, fadiga, mal- Examine abdómen; procure dor e estar, dor abdominal, icterícia, febre, confusão (se hepatomegalia. Procure ictericia grave). Lab: Peça transaminases, bilirrubina Hepatotoxicidade: Grau 1 e 2; Controlar Grau 3 e 4: suspender e consultar médico Erupção cutânea Erupção cutânea Erupção cutânea: Exame dermatológico e da boca Erupção cutânea: Se prurigo, anti-histaminicos. Se a erupção não desaparece espontaneamente, consulte o médico Trombocitopenia Petéquia Procure petequias Lab: solicite hemograma Depende do grau: veja tabela de reacções adversas de laboratório. Pirazinamida (fase intensiva) Hepatite Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, fadiga, mal- Examine abdómen; procure dor e hepatomegalia. Procure ictericia estar, dor abdominal, icterícia, febre, confusão (se Lab: Peça transaminases, bilirrubina grave). Hepatotoxicidade: Grau 1 e 2; Controlar Grau 3 e 4: suspender e consultar médico Etambutol (fase intensiva) Problemas oculares Perda da vista, perda da capacidade para identificar cores Consulte o médico Isoniazida (Fase intensiva, fase de manutenção) Rifampicina (Fase intensiva, fase de manutenção) Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação Exame fisico: Se sintomas de neuropatia periférica: procure dormência ou formigueiro nos pés e tornozelos, avalie reflexos no tornozelo (podem ser diminuídos ou ausentes) Avaliação da acuidade visual e capacidade de diferenciar as cores verde e vermelho 325 Tabela 4: Reaccões adversas aos fármacos para profilaxia de IO (Cotrimoxazol e Dapsona) Reaccoes adversas aos farmacos para profilaxia de IO (Cotrimoxazol e Dapsona) Farmaco Cotrimoxazol Reacções adversas comuns e/ou História médica: perguntas importantes Erupcao cutanea Prurido, erupcao cutanea Leve (erupção maculopapular limitada e seca) Exame físico, exames laboratoriais Tratamento, outros comentários Temperatura Examine pele, boca, olhos; procure erupção cutânea (com ou sem vesículas e/ou lesões da mucosa). Se prurido ou erupção cutânea sem febre, sem lesões da mucosa, sem vesículas (sem lesões húmidas): Continuar tratamento, tratar prurido com anti-histamínicos, re-avaliar na próxima consulta. Grave (síndrome StevensJohnson). Pode-se associar a toxicidade hepática. Citopenias Dapsona Se erupção associada com febre, vesículas (lesões húmidas), lesões da mucosa, ou síndrome StevensJohnson, suspender todos os antiretrovirais e consultar medico. Fadiga, dispneia com exercício (clinica de anemia) Procure palidez, dispneia, taquicardia. Anemia, neutropenia (depende do Lab: solicite hemograma grau): veja tabela de reaccoes adversas de laboratorio. Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, Hepatotoxicidade: fadiga, mal-estar, dor abdominal, icterícia, -Leve (elevação pequena e assintomática das transamínases) febre, confusão (se grave). - Grave (falencia hepatica fatal) Exame físico: Procure icterícia. Examine abdómen; procure dor e hepatomegalia. Lab: transaminases Hepatotoxicidade: Grau 1 e 2; Controlar Grau 3 e 4: suspender Nevirapina Sintomas gastrointestinais (vomitos, nauseas) Lab: solicitar transaminases (poderia ser hepatite) Nauseas, vomitos: tratamento sintomatico (metoclopramida). Se persistente pode requerir retirada (Consultar com o medico) Temperatura Examine pele, boca, olhos; procure erupção cutânea (com ou sem vesículas e/ou lesões da mucosa). Se prurido ou erupção cutânea sem febre, sem lesões da mucosa, sem vesículas (sem lesões húmidas): Continuar tratamento, tratar prurido com anti-histamínicos, re-avaliar na próxima consulta. Erupção cutânea, prurido Erupção cutânea, prurido Se erupção associada com febre, vesículas (lesões húmidas), lesões da mucosa, ou síndrome StevensJohnson, suspender todos os antiretrovirais e consultar medico. Anemia hemolitica, neutropenia Fadiga, dispneia com exercício (clinica de anemia) Citpenias: Procure palidez, dispneia, taquicardia, petéquia Lab: solicite hemograma, bilirrubina Hepatite, elevacao de transaminases (pouco comun) Sintomas de hepatite: náuseas, vómitos, Exame físico: fadiga, mal-estar, dor abdominal, icterícia, Procure icterícia. Examine abdómen; febre, confusão (se grave). procure dor e hepatomegalia. Lab: transaminases Anemia, neutropenia (depende do grau): veja tabela de reaccoes adversas de laboratorio. Hepatotoxicidade: Grau 1 e 2; Controlar Grau 3 e 4: suspender Nevirapina Tabela 5: Reacções Adversas ao Cotrimoxazol Tabela 3. Reacções adversas a cotrimoxazol (recomendações OMS) Sinal (ou resultado do teste laboratorial) ou sintoma Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4 Hematologia Hemoglobina (g/dL) 10.0 – 10.9 7.0 – 7.9 <7.0 Insuficiência cardíaca causado por anemia Contagem de neutrófilos (células/mm3) 750-1200 400-749 250-399 <250 Plaquetas (células/mm3) 70,000 - 100,000 50,000 - 69,999 25,000 – 49,999 <25,000, ou sangramento Bilirrubina 1.1 – 1.9x ALN 2.0 – 2.9x ALN 3.0 – 7.5x ALN >7.5x ALN ALT, AST 1.1 – 4.9x ALN 5.0 – 9.9x ALN 10.0 – 15.0x ALN >15x ALN Náuseas Leve Diminuição moderada de quantidade ingerida Severa; pouca comida ingerida Leva mais de 24 horas sem beber ném comer Vómitos < 1 vez/dia 1 – 3 vezes por dia, ou vómitos por mais de >3 vezes por dia, ou vómitos por mais de 7 Vómitos intratáveis 3 dias dias Alergia Prurido sem erupção cutânea Prurido com erupção cutânea Urticária leve Urticária severa, ou angioedema, ou anafilaxia Febre 37.6- 38.4 C 38.5 – 40 C > 40 C > 40 C por mais de 5 dias Dermatologia Eritema, prurido Erupção maculopapular, descamação seca Vesículas, ulceras Síndrome Stevens-Johnson, eritema multiforme, descamação húmida, Gastroenterologia Alergia ou dermatologia Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 326 Tabela 6. Reacções Adversas Moderadas a Graves: Substituições de um Único Fármaco FÁRMACO ARV ABC AZT D4T TDF EFV NVP TOXICIDADE ASSOCIADA COMUM Reacção de hipersensibilidade Anemia grave ou neutropenia Intolerancia gastrointestinal grave ou persistente Acidose láctica Lipodistrofia Neuropatia periférica Lipodistrofia Acidose láctica Toxicidade renal Toxicidade pesistente e grave no SNC Hepatite grave Reacção cutânea grave Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação SUBSTITUTO SUGERIDO TDF/AZT/D4T TDF/D4T/ABC TDF/ABC TDF/AZT/ABC TDF/ABC AZT/D4T/ABC NVP OU LPV+RTV LPV+RITONAVIR LPV+RITONAVIR 327 Anexo 1: Formulário para a notificação de Reacções Adversas a Medicamentos. CIMED. MISAU MINISTÉRIO DA SAÚDE CENTRO DE INFORMAÇÃO SOBRE MEDICAMENTOS UNIDADE DE FARMACOVIGILÂNCIA MOÇAMBIQUE FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE REACÇÕES ADVERSAS AOS MEDICAMENTOS X Informação inicial Informação complementar Localidade Serviço Serviço de Urgência e Reanimação Maputo Unidade Sanitária H C Maputo Idade Iniciais do doente 42 anos/meses/dias AM Breve descrição da reacção adversa Sexo XF M Peso (kg) 57 Kg Gestante? Sim X Não Dor abdominal localizada no epigastro, náuseas e fezes escuras Data de início 06/07/2004 Duração: 9 dias/horas Insira o (s) medicamento (s) por ordem de suspeita: Nome comercial/genérico Apresentação Dose diária Via Início Acido acetilsalicilico Oral 01/07/04 Comp.500mg 1500 mg Diclofenac Comp. 50mg Resultado da reacção adversa X Risco de vida X Motivou hospitalização Prolongou hospitalização X Evento médico importante Malformação congénita 150mg Oral Término Indicação 10/07/04 Entorse do tornozelo 04/07/04 10/07/04 Entorse do tornozelo Tratamento da reacção X Suspendeu o medicamento Reduziu a dose Tratou a reacção com: Transfusão de sangue (1 UI), hidróxido de alumínio e magnésio, omeprazol, sal ferroso e acido fólico. A reacção adversa desapareceu ou diminuiu após a A reacção adversa reapareceu após a reintrodução do suspensão ou redução da dose do medicamento? medicamento? X Sim Não Não se aplica Sim Não X Não se aplica Comentários (dados relevantes de anamnese, laboratório, alergias ou outro) A doente não possui antecedentes de doença gástrica ou intestinal (gastrite, úlcera), não está a tomar outra medicação e nega tratamento com medicação tradicional. A endoscopia revelou gastrite erosiva com sangramento Nome do Notificador Dr. Manuel Matola E-mail: mm123 hotmail.com X Recuperou sem sequelas Recuperou com sequelas Não recuperou ainda Morte Desconhecido Categoria profissional Medico de Clínica geral Telefone/Fax 087 000 098 Data da notificação 15 / 07/ 2004 ESTA INFORMAÇÃO É CONFIDENCIAL Centro de Informação sobre Medicamentos (CIMed) Unidade de Farmacovigilância. Faculdade de Medicina-UEM Av. Salvador Allende nº 702, R/c, Maputo. Moçambique Email: [email protected] [email protected] Tel. 21 32 52 27/ 32 42 10 Fax: 21 32 52 55 Cel: 82 988 4930 Manual de Referência para o Clínico Reacções Adversas à Medicação 328 Unidade 10.6 – Síndrome de Imuno-Reconstituição (SIR) Introdução Em Moçambique, não existem informações sobre a incidência do Síndrome de Imuno-Reconstituição (SIR), mas é provável que o SIR apareça como uma complicação provocada pelo início do TARV associado a uma série de motivos: 1. A TB é endémica em Moçambique e é a forma mais predominante da manifestação da infecção pelo HIV. O tratamento simultâneo da TB e do HIV facilmente pode resultar numa reconstituição imune sintomática. 2. A TB pulmonar ou extrapulmonar e outras doenças ou infecções oportunistas (por exemplo, criptococose) podem estar presentes, mas são subclínicas ou pouco sintomáticas no momento de iniciar o TARV. Estas doenças só se manifestam quando acontece a recuperação imunológica. Numa avaliação nacional da qualidade de atenção a pessoas seropositivas (2007), o SIR foi suspeito em 13% dos doentes observados 1. Nesta unidade temática serão abordadas diversas situações clínicas que sugerem a presença do SIR, bem como o diagnóstico diferencial do SIR ao longo dos diferentes algoritmos e documentos de apoio. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • • • • • • Definição do SIR Incidência do SIR Factores de risco que levam ao aparecimento do SIR Diagnóstico diferencial do SIR Tratamento do SIR Prevenção do SIR Definição do SIR O Síndrome de Imuno-Reconstituição (SIR) é um quadro clínico que pode acontecer semanas ou meses após o início do TARV, geralmente nas primeiras semanas (2ª a 12ª semana), e pode ser leve ou grave, chegando a ser fatal. Não se trata de um efeito secundário do TARV nem de falência terapêutica. Muitas vezes, o SIR é consequência da resposta do sistema imune perante uma infecção ou doença oportunista. Esta resposta só se manifesta no momento em que o sistema imune inicia a sua recuperação, e pode ser tão forte que pode causar sinais e sintomas de doença grave. O SIR tem duas apresentações clínicas: • Agravamento de uma doença previamente diagnosticada e tratada (já concluído o seu tratamento ou ainda em tratamento) antes do início do TARV; • Novos sinais e sintomas de uma infecção que não foi diagnosticada antes do início do TARV. Incidência do SIR Os doentes com TB activa ou criptococose podem desenvolver o SIR ao iniciar o tratamento antiretroviral. As doenças oportunistas frequentemente associadas ao SIR em países com recursos limitados são causadas por: Mycobacterium tuberculosis (pulmonar ou extrapulmonar) Mycobacterium avium complex Cryptococcus neoformans 1 Avaliação TARV. Novembro 2007. I-TECH, MISAU Manual de Referência para o Clínico Síndrome de Imuno-reconstituição (SIR) 329 O SIR também pode ser associado ao sarcoma de Kaposi, herpes e outras doenças ou infecções oportunistas. Factores de Risco para Desenvolver SIR Qualquer doente que inicia o TARV pode desenvolver o SIR, mas é comum nos seguintes casos: • • • • Nos doentes que iniciam o TARV pela primeira vez; Quando se inicia o TARV antes de detectar e estabilizar qualquer doença ou infecção oportunista; Quando se inicia o TARV pouco depois do início do tratamento para infecção oportunista (por exemplo, no início de tratamento para TB e início do TARV no mês seguinte); Quando o doente apresenta imunodepressão avançada no momento de iniciar o TARV (quanto menor for a contagem de CD4 no início do tratamento, maior é a probabilidade de desenvolver o SIR). a. SIR relacionada à TB: • Numa pesquisa realizada na África do Sul (Lawn et al), 12% dos 160 doentes que começaram o TARV durante o tratamento para TB tiveram SIR. b. SIR relacionada à criptococose: • Nos doentes com criptococose que começaram o tratamento antiretroviral, 30-33% tiveram SIR (Singh et al). Diagnóstico Diferencial do SIR Uma vez iniciado o TARV, o doente pode ter boa resposta ao mesmo, com melhoria clínica consistente, com recuperação de peso e desaparição dos sinais e sintomas que apresentava. Também pode apresentar um quadro clínico caracterizado pela aparição de novos sinais ou sintomas ou agravamento dos que já apresentava antes de iniciar o TARV. Este novo quadro clínico pode ser devido a qualquer das seguintes situações: Reacção adversa ao TARV; Reacção adversa a outras medicações (por exemplo, ao tratamento para TB); Aparição de uma infecção oportunista não diagnosticada antes do início do TARV (SIR); Agravamento de uma infecção oportunista já diagnosticada antes do início do TARV (SIR); Falência terapêutica, com agravamento clínico e imunológico progressivo por resistência ao regime de TARV ou frequentemente causada por má adesão. A diferenciação de novas infecções oportunistas, da falência do TARV, das reacções adversas aos medicamentos e das infecções que se repetem ou agravam por causa do SIR pode ser difícil. O quadro clínico com que um doente se apresenta em todas estas situações pode ser muito similar. O SIR é a consequência da resposta inflamatória que aparece perante uma infecção ou doença oportunista. O caso típico é a TB de qualquer localização previamente existente e que se manifesta com o agravamento dos sintomas da mesma. Por exemplo: SIR associado a TB pode apresentar-se com sintomas respiratórios e linfadenopatias; SIR associado ao sarcoma de Kaposi pode apresentar-se com o crescimento rápido de lesões de Kaposi na pele, boca ou víscera; SIR associado a herpes pode apresentar-se com zona severa. Devemos suspeitar do SIR num doente que inicia o TARV e que desenvolve sinais e sintomas de alguma doença oportunista nova ou agravamento de uma já diagnosticada (por exemplo: TB, herpes Manual de Referência para o Clínico Síndrome de Imuno-reconstituição (SIR) 330 zóster, lesões de sarcoma de Kaposi) e que também apresenta uma melhoria na contagem de CD4 (ou pelo menos não mostra diminuição desta contagem). Devemos suspeitar nova infecção oportunista ou falência do tratamento ARV quando o doente apresenta o mesmo quadro clínico e o seu CD4 abaixa. Princípios de Tratamento do SIR Trate a infecção oportunista detectada. Se se tratar de uma reconstituição imune por tuberculose, deve ser iniciado ou continuado o tratamento da TB. O TARV deve ser continuado sempre que for possível (dependendo da gravidade da IO, a suspensão temporária do TARV poderá ser aconselhável enquanto se trata a IO). Qualquer dúvida neste sentido, deve ser consultado o médico. Indicações para Internar, Consultar ou Encaminhar: • • O doente que está a fazer o TARV e tratamento para IO, mas que, entretanto, está a piorar clinicamente; Presença de linfadenopatia grave que precisa de intervenção cirúrgica para drenar. Prevenção do SIR Num estudo realizado com doentes que iniciam o TARV e que também têm outros diagnósticos como tuberculose, micobacteriose atípica ou criptococose, observou-se que o atraso no início do TARV de 4-8 semanas após o início do tratamento específico para uma determinada infecção oportunista reduz o risco do SIR. Lembre-se que: A avaliação completa do doente, com diagnóstico e tratamento ou estabilização das Infecções Oportunistas é imprescindível antes da iniciação do TARV. Não inicie o TARV e o tratamento da TB em simultâneo. Pontos-Chave • • • • • • O Síndrome de Imuno-Reconstituição (SIR) é um quadro clínico que pode aparecer após o início do TARV como consequência da melhoria da imunidade no doente que apresenta uma infecção ou condição oportunista não diagnosticada ou não tratada correctamente. A sua frequência é desconhecida, mas pensa-se que pode ser a causa de má evolução e/ou morte nos primeiros momentos após o início do TARV. A infecção que frequentemente a produz o SIR é a TB. Durante o tratamento do SIR, para além do tratamento da própria infecção/doença oportunista, o TARV deve ser mantido, ainda que nos casos graves seja necessária a suspensão temporária. A prevenção do SIR passa por uma avaliação completa do doente e a estabilização de infecções oportunistas antes do início do TARV. O clínico deve ser capaz de reconhecer a presença do SIR e referir para o médico os casos mais complexos. Anexos Em anexo a esta unidade encontra-se o seguinte documento: • Algoritmo do SIR Manual de Referência para o Clínico Síndrome de Imuno-reconstituição (SIR) 331 Manual de Referência para o Clínico Síndrome de Imuno-reconstituição (SIR) 332 Unidade 10.7 – Profilaxia Pós-Exposição Introdução A Profilaxia Pós-Exposição (PPE) ao HIV é um tratamento de curta duração com medicamentos antiretrovirais (ARVs) cujo objetivo é reduzir o risco de infecção pelo HIV após uma exposição ocupacional, bem como para a prevenção do contágio pós-violação sexual. A PPE deve ser parte de um programa mais abrangente de segurança no ambiente de trabalho ao nível da saúde ocupacional. A Profilaxia Pós-Exposição tem como finalidade: • Reduzir o risco de infecção depois de uma exposição ocupacional ao HIV (tem uma eficácia de aproximadamente 81% se implementada correctamente); • Aumentar a motivação ou confiança dos Trabalhadores de Saúde (TS) para tratar das pessoas infectadas pelo HIV, especialmente em países como Moçambique, onde mais da metade dos doentes internados são HIV positivos ou têm SIDA; • Ajudar a retenção dos TS; • Reduzir o risco de infecção após a exposição por violação ou agressão sexual. Nesta unidade serão abordados os seguintes conteúdos: • Definição da Profilaxia Pós-Exposição (PPE) para o HIV em Moçambique • Objectivos da PPE • Elementos da PPE para o HIV em Moçambique • Prevenção das exposições ocupacionais • Manejo da exposição • Tratamento profilático • Implementação da PPE nas Unidades Sanitárias (US) • Categorias das US • Capacidades e responsabilidades de acordo com a categoria da US Importância da Profilaxia Pós-Exposição • • • • Actualmente, mais de 40 milhões de pessoas estão infectadas pelo HIV em todo o mundo (estimativas da UNAIDS/OMS). A prevalência do HIV em adultos em Moçambique é cerca de 11,5% (2009) 1. Em países com uma prevalência elevada de HIV, como é o caso de Moçambique e outros países da África Sub-Sahariana, os doentes HIV positivos ocupam mais da metade das camasnos hospitais. O risco médio de transmissão ocupacional pós-exposição a uma fonte infectada é de aproximadamente: – HIV – 0,3% – VHC – 1,8% – VHB – 23% a 37% Definição da “Exposição ocupacional ao HIV” É aquela que acontece quando as lesões percutâneas (por exemplo, picadas de agulha, corte com objectos perfurantes/cortantes, etc.) ou as membranas mucosas ou pele não intacta (por exemplo, feridas, queimaduras, eczemas, dermatites, etc), entram em contacto com o sangue, tecidos ou outros fluidos corporais potencialmente infectados. O risco médio de transmissão pode ser maior ou menor: 1 Inquérito Nacional de Prevalência, Riscos Comportamentais e Informação sobre o HIV e Sida em Moçambique. INSIDA 2009 Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 333 • • Risco mais alto: Exposição ao sangue de um paciente seropositivo com carga viral muito elevada (exemplo: paciente em estadio IV sem TARV); exposição a uma quantidade grande de sangue contaminado (exemplo: injecção acidental de 2 cc de sangue HIV+) Risco mais baixo: Exposição ao sangue de um paciente seropositivo com carga viral muito baixa (exemplo: paciente com 6 meses em adesão perfeita ao TARV); exposição a quantidades muito pequenas de sangue (ou outro fluido). Anualmente, dois milhões de Trabalhadores de Saúde (TS) reportam picadas com agulhas; a maior parte desta informação provém de países desenvolvidos. Segundo a OMS, de entre os 35 milhões de TS em todo o mundo, aproximadamente 3 milhões sofrem acidentes ocupacionais com exposição a agentes patogénicos sanguíneos, sendo: Exposição 2 milhões ao VHB 900.000 ao VHC 170.000 ao HIV Infecção 70.000 15.000 500 Mais de 90% destas infecções ocorrem em países em vias de desenvolvimento. Em geral, 2,5% das infecções pelo HIV e 40% das infecções pelo VHB e VHC entre os TS são atribuídas exposições ocupacionais. O risco de contrair uma infecção pelo VHB entre os TS é 10 vezes superior ao da população geral. O VHB pode sobreviver durante pelo menos 7 dias no sangue seco, à temperatura ambiente, em superfícies. Por esta razão, de forma completar ao PPE para o HIV, propõese implementar a vacinação preventiva contra a Hepatite B como precaução básica para os TS devido ao alto risco ocupacional. Elementos da PPE para o HIV em Moçambique A Profilaxia Pós-Exposição em Moçambique inclui: • Prevenção das exposições ocupacionais • Prevenção do contágio pós-violação sexual • Manejo da exposição • Tratamento (se indicado) Prevenção das Exposições Ocupacionais • Orientação e educação dos TS: Conjunto de actividades educativas para prevenir os risos de exposição • Uso de precauções básicas: Garantir a implementação de práticas seguras para o manejo e descarte de objectos perfurantes/cortantes Orientação e Educação dos TS As actividades educativas para a orientação e educação dos TS deverão incluir os tipos de riscos de infecções ocupacionais e formas de preveni-los: • Uso das precauções básicas; • Uso de Equipamento de Protecção Individual (EPI) e práticas seguras; • Vacinação contra a HB; • O que fazer e para onde se dirigir em caso de uma exposição ocupacional; • Aplicar a Profilaxia pós-exposição. Uso de Precauções Básicas Para prevenir a exposição nas Unidades Sanitárias (US), deve-se garantir a implementação de práticas seguras para o manejo e descarte de objectos perfurantes/cortantes, inclusive: • Não voltar a tapar as agulhas, ou fazê-lo empregando a técnica apropriada, utilizando apenas uma mão; • Uso de cuvetes ou outros recipientes para passar os instrumentos perfurantes/cortantes durante os procedimentos cirúrgicos; • Uso de caixas incineradoras para o descarte de agulhas e seringas e outros objectos perfurantes/cortantes; Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 334 • Fornecer e promover o uso de EPI como luvas, máscaras, óculos e sapatos fechados aos TS nos diversos sectores da US, de acordo com o tipo de actividade desempenhada pelo TS. Manejo da Exposição Exposição Ocupacional Depois de ocorrida uma exposição ocupacional ao HIV, deve-se combater imediatamente a situação actuando da seguinte forma: • Tratar imediatamente a ferida • Avaliar o risco de infecção bem como a necessidade ou não da PPE • Registar e notificar o acidente • Reduzir o risco de futuros acidentes Tratamento Imediato da Ferida Tabela 1: Manejo da Ferida ou Mucosa Se for uma exposição percutânea Se for uma exposição mucosa Limpar a ferida imediatamente depois do acidente com água e sabão Fazer a lavagem prolongada da mucosa com soro fisiológico ou água Não há evidência dos benefícios da aplicação de antissépticos ou desinfectantes na ferida, nem de espremer o sítio da picada ou ferida. Deve-se evitar aplicar na pele ou em membranas mucosas as soluções contendo hipoclorito de sódio, ou outros agentes cáusticos. Avaliação do Risco de Infecção A decisão do início da PPE deverá ser tomada com base na avaliação da ferida, no resultado do teste de HIV e na história clínica do doente “fonte” e do TS que sofreu a exposição. A testagem rápida para o HIV (do Trabalhador de Saúde ou do doente “fonte”) deverá seguir o protocolo do MISAU com aconselhamento e confidencialidade, bem como a aplicação dos dois tipos de testes para o HIV: • • Teste de rastreio: Determine Teste confirmatório: UniGold Se o Trabalhador de Saúde for HIV+ ou recusa ser testado, não se inicia a PPE, trata-se apenas a ferida e regista-se o acidente. Se o teste não estiver disponível, inicia-se a PPE conforme a tabela abaixo e transfere-se o caso para a Unidade Sanitária de referência para posterior avaliação. Neste caso, o TS deve levar consigo uma amostra de sangue e um relatório clínico completo do doente “fonte.” Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 335 Tabela 2: Manejo da Exposição Tipo e severidade da exposição: definida através da avaliação da ferida Condição do doente “fonte”: através da história clínica, sintomas e/ou testagem Exposição elevada: picada profunda, dispositivo intravascular, agulha perfurada de grande calibre, produto de laboratório concentrado Seropositivo com SIDA Exposição intermediária: corte com um bisturi através das luvas, picada superficial com agulha em bisel Seropositivo com SIDA Exposição mínima: simples erupção epidérmica com agulha de sutura ou de pequeno calibre Seropositivo sem SIDA ou desconhecido Seropositivo sem SIDA ou desconhecido Seropositivo com ou sem SIDA ou desconhecido Recomendação Iniciar PPE com regime triplo Iniciar PPE com regime duplo Iniciar PPE com regime triplo Iniciar PPE com regime duplo Não se recomenda o início da PPE Registo e Notificação do Acidente É recomendado registar e notificar o acidente às autoridades pertinentes. A ficha de registo deve conter pelo menos as seguintes informações: • Identificação do Trabalhador de Saúde • Data e hora da exposição • Data e hora da avaliação da ferida • Detalhes do acidente: o que, onde, como, com que instrumento • Detalhes da exposição: tipo e severidade da exposição • Informação sobre o doente “fonte” e a pessoa exposta: estado serológico e/ou clínico • Detalhes do manejo da exposição Ver o modelo da ficha de notificação do MISAU em Anexo 1. Redução do Risco de Futuros Acidentes Recomenda-se que a pessoa responsável pela PPE na Unidade Sanitária analise as circunstâncias (falta de EPI, falta de conhecimento do TS, falta de materiais de PCI, etc.) na qual a exposição ocorreu para identificar formas para prevenir acidentes semelhantes no futuro. Agressão Sexual Ver no Anexo 2 o protocolo para o manejo da exposição pós-agressão sexual no algoritmo “Violação Sexual e ITS”. Início do Tratamento (se indicado) A Profilaxia Pós-Exposição deve ser indicada após avaliação do risco da exposição, e consiste na prescrição de um regime duplo ou triplo de medicamentos anti-retrovirais com base na tabela e informação apresentadas anteriormente (Tabela 2: Manejo da Exposição). O tratamento profilático deve ser iniciado o mais rápido possível depois do acidente, de preferência dentro das primeiras quatro horas, mas podendo ser iniciado até 72 horas depois de ter acontecido. Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 336 O regime duplo, embora seja menos eficaz que o regime triplo, oferece uma associação de medicamentos úteis para prevenir a transmissão do HIV, sobretudo nos casos em que o risco não é muito elevado, e assim facilita o cumprimento do tratamento e é menos tóxico que o triplo. Pauta Terapêutica do Regime Duplo: AZT 300mg + 3TC 150mg 1 comprimido de manhã e outro à noite, tomado juntamente com as refeições durante quatro semanas. O regime triplo é recomendado nos casos em que o risco de transmissão do HIV é elevado. Pauta Terapêutica do Regime Triplo: AZT 300mg + 3TC 150mg 1 comprimido de manhã e outro à noite, tomado juntamente com as refeições durante quatro semanas + Lopinavir/r 200mg/50mg; 2 comprimidos de 12 em 12 horas durante quatro semanas. No caso da falta de Lopinavir/r, pode-se utilizar o Efavirenz 600mg1: 1 comprimido à noite. Recomendações para o Início do Tratamento Profilático: • • • • Orientar o TS sobre o risco de adquirir o HIV numa exposição ocupacional. Verificar as contra-indicações aos ARVs e possíveis interacções medicamentosas. Manejar os casos de interacções medicamentosas. Conversar com o TS sobre outras necessidades associadas a esta situação, como a necessidade de contracepção e/ou uso de preservativo durante 6 meses. Suspender o aleitamento materno durante o tratamento. Explicar detalhadamente como tomar os medicamentos. Explicar possíveis efeitos secundários e manejo dos mesmos. Explicar a importância da adesão ao tratamento e o risco de resistências. Explicar como será o seguimento do tratamento. Garantir que o Trabalhador de Saúde compreenda a informação e queira iniciar a profilaxia. Explicar onde ir em caso de dúvidas ou complicações. Completar a ficha de registo para a PPE. • • • • • • • • Se a pessoa exposta for seropositiva e já estiver a fazer o TARV, não precisa de mais TARV, porque a mistura de dois regimes de TARV pode ser tóxica. Seguimento do Tratamento Profilático Para pessoas que iniciam PPE: • • • • Depois da serologia inicial, repetir a serologia para o HIV na 6ª semana, e no 3º e 6º mês; Hemograma completo e transaminases ao dia 0, 2ª e 4ª semana de tratamento; Serologia das hepatites iniciais e segundo o risco ao 1º, 3º, 6º e 9º mês; Aconselhamento adicional conforme a necessidade. Para as pessoas que não iniciam PPE e que são seronegativas no momento do acidente: • • • Depois da serologia inicial, repetir a serologia para o HIV na 6ª semana, e no 3º e 6º mês Serologia das hepatites iniciais e segundo o risco ao 1º, 3º, 6º e 9º mês Aconselhamento adicional conforme a necessidade. Implementação da PPE nas Unidades Sanitárias de Moçambique A rede pública de serviços de saúde de Moçambique vai-se expandir até 2015 de maneira a assegurar que 80% das pessoas diagnosticadas HIV(+) sejam inscritas em cuidados e tratamento e atingir uma expansão da cobertura de US com TARV no Pais de 294 em 2012 a 707 em 2015. Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 337 Dos lugares de atendimento actuais 45 são hospitais, incluindo três hospitais centrais, sete hospitais provinciais e 35 hospitais gerais e rurais; Supõe-se que o maior risco de exposição ocupacional ao HIV encontra-se nos hospitais e centros de saúde com internamento e maternidade (tipos I e II), pois estes têm maior número de trabalhadores e com um tipo e volume de procedimentos mais complexos e variados. O MISAU propõe uma implementação do programa da PPE que considera as condições e capacidades das unidades sanitárias. De acordo com estes critérios, as Unidades Sanitárias (US) podem ser classificadas da seguinte forma: A. US com testagem, kit de medicamentos profiláticos e “equipa de PPE referência” (médico e enfermeiro formados em PPE, incluindo testagem, avaliação, início e seguimento) B. US com testagem, com kit de medicamentos para o início do tratamento e pessoa de referência C. US sem testagem mas com kit de medicamentos para o início do tratamento, e pessoa de referência Categoria A As US desta categoria são capazes de implementar todos os componentes do programa de PPE e servir como unidade de referência a qualquer uma das outras categorias. Quando receber transferências de TS das US de outras categorias sem acesso à testagem, o TS e o sangue do doente “fonte” devem ser testados ao chegar: • Se o teste do TS for positivo: interromper a PPE; • Se o teste do doente “fonte” for negativo: interromper a PPE; • Se a PPE é recomendada: entregar medicação para as quatro semanas de tratamento. O regime para a PPE será avaliado pelo médico de referência e as mudanças pertinentes devem ser implementadas. Tabela 3. Fluxograma para a PPE US - Categoria A Trabalhador acidentado Pessoa de referência Tratamento imediato da ferida Avaliação da ferida e do risco Aconselhamento e teste (fonte e TS) Decisão sobre a necessidade da PPE Início da PPE se recomendado Registo Testes adicionais Calendarização do seguimento Orientações necessárias Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 338 Categoria B Estas US serão capazes de implementar as seguintes componentes da PPE: • • Prevenção Manejo da exposição: o Tratamento imediato da ferida; o Avaliação do risco de infecção para a tomada de decisão sobre a necessidade da PPE, incluindo a testagem; o Registo e notificação do acidente; o Redução de risco posterior de acidentes; o Início do tratamento profilático com o kit de início do tratamento; o Referência do TS com a documentação necessária para uma US de categoria A para a continuação e seguimento do mesmo. Tabela 4. Fluxograma para a PPE, US - Categoria B Trabalhador acidentado Pessoa de referência Tratamento imediato da ferida Avaliação da ferida e do risco Aconselhamento e teste (fonte e TS) Decisão sobre a necessidade da PPE Início da PPE se recomendado Registo Referência para US de categoria A Orientações necessárias Categoria C As unidades desta categoria serão capazes de implementar as seguintes componentes do programa da PPE: • • Prevenção Manejo da exposição: o Tratamento imediato da ferida; o Avaliação do risco de infecção para a tomada de decisão sobre a necessidade da PPE, sem a testagem; o Registo e notificação do acidente; o Redução do risco futuro de acidentes; o Início do tratamento profilático com o kit de início (apenas regime duplo); o Referência do Trabalhador de Saúde com a documentação necessária para uma US de categoria A. Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 339 Tabela 5. Fluxograma para a PPE US - Categoria C Trabalhador acidentado Pessoa de referência Tratamento imediato da ferida Avaliação da ferida e do risco Decisão sobre a necessidade da PPE Início da PPE se recomendado Registo Referência para US de categoria A Orientações necessárias Pontos-Chave • • Qualquer pessoa exposta ao contágio pelo HIV é considerada pessoa em risco e deve ser avaliada para iniciar a PPE. Conforme a sua categoria, cada Unidade Sanitária deve garantir a implementação do programa da Profilaxia Pós-Exposição para todas as pessoas expostas. Anexos Em anexo a esta unidade encontram-se os seguintes documentos: • Modelo de ficha de notificação, avaliação, tratamento e seguimento para a PPE ao HIV (Anexo 1) • Protocolo da PPE em caso de agressão sexual (Anexo 2) Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 340 Anexo 1: Modelo de Ficha de Notificação, Avaliação, Tratamento e Seguimento para a PPE ao HIV Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 341 Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 342 Anexo 2: Protocolo da PPE em Caso de Agressão Sexual Manual de Referência do Clínico Profilaxia Pós-Exposição 343 Módulo 11 Infecção pelo HIV na Mulher Grávida Unidade 11 – Infecção pelo HIV na Mulher Grávida Introdução Nesta unidade serão abordadas as particularidades da infecção pelo HIV na mulher grávida. A gravidez não parece ter um efeito negativo na progressão para SIDA, mas as doentes com HIV/SIDA têm maior probabilidade de sofrer de complicações relacionadas com a gravidez. O tratamento anti-retroviral e outros cuidados pré-natais na mulher grávida têm os seguintes objectivos: Tratar a infecção na própria mãe como em qualquer outro adulto; Prevenir a transmissão da infecção para a criança; Prevenir outras complicações na criança como infecções oportunistas ou baixo peso ao nascer. Nesta unidade serão apresentados os seguintes conteúdos: • Epidemiologia da infecção pelo HIV na mulher grávida em Moçambique • Possíveis consequências da infecção pelo HIV para mãe e para o filho • O programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV) • Vantagens do TARV Universal para Mulher Grávida • O tratamento anti-retroviral na mulher grávida: particularidades • Malária e gravidez na doente seropositiva • Outras intervenções pré-natais com relevância nos cuidados de HIV/SIDA • Coordenação de serviços: Consultas Pré-natais, Maternidade, Consulta Criança em Risco e Serviço TARV. Epidemiologia da Infecção pelo HIV na Mulher Grávida em Moçambique Desde o início da epidemia do SIDA em Moçambique, à semelhança de outros países também afectados pela mesma doença, reconheceu-se a necessidade de avaliar periodicamente a situação da prevalência do HIV. Esse tipo de avaliação periódica fornece dados essenciais para a definição de acções de prevenção e controle da doença, bem como para avaliar o seu impacto demográfico. Assim, foi estabelecida uma rotina de realização de Rondas de Vigilância Epidemiológica de modo a permitir a avaliação da prevalência do HIV na população adulta. A vigilância epidemiológica consiste na testagem periódica de mulheres grávidas em relação ao HIV em Unidades Sanitárias seleccionadas como Postos Sentinelas. As mulheres grávidas são consideradas uma parte representativa da população geral, e por isso estimase que a prevalência de HIV neste grupo pode ser um bom indicador da prevalência no total da população entre os 15 e os 49 anos (idade reprodutiva). Na Ronda de Vigilância Epidemiológica de 2007, um total de 10.757 mulheres grávidas foram incluídas no estudo. Os dados obtidos neste estudo foram os seguintes: Região Sul Centro Norte Nacional Taxa de Prevalência 21% 18% 9% 16% Em 2009, os dados do INSIDA dão uma prevalência nacional de 11,5%. De este total, 13,1% corresponde a mulheres de 15 a 49 anos (9,2% para homens) Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 344 Possíveis Consequências da Infecção pelo HIV para Mãe e para o Filho A infecção pelo HIV na mulher grávida traz diferentes consequências negativas tanto para a mãe e como para o filho. As complicações para a mãe podem incluir: a. Infecções e outras doenças oportunistas b. Estigma c. Desenvolvimento de resistência aos medicamentos anti-retrovirais d. Risco elevado de complicações próprias da gravidez: endometrite, anemia, mortalidade materna As complicações para o filho podem incluir: a. Transmissão vertical (da mãe para o filho) do HIV b. Exposição a infecções oportunistas c. Baixo peso ao nascer d. Morte fetal intra-uterina Risco Elevado de Complicações da Gravidez para a Mãe Para além do risco de infecções oportunistas, reacções adversas a medicamentos, outras complicações do SIDA e do próprio tratamento (iguais as que os outros doentes HIV positivos adultos podem apresentar), as grávidas seropositivas correm mais risco de sofrer de outras complicações na gravidez, tais como: a. Morbilidade materna pós-parto: As complicações pós-partos são aproximadamente cinco vezes mais frequentes na mulher seropositiva na fase pós-parto do que na mulher seronegativa e incluem: febre, anemia, endometrite, peritonite, e pneumonia 1. As complicações infecciosas mais comuns são algumas vezes associadas às intervenções cirúrgicas (episiotomia, por exemplo). b. Mortalidade materna: A infecção pelo HIV é também associada à mortalidade materna. Num estudo realizado no hospital central de Maputo sobre os óbitos maternos, verificou-se que o SIDA causou mais de um óbito em cada 8 mortes maternas (mais mortes do que as causadas pela malária). Risco Elevado de Complicações para o Filho A. Transmissão de HIV de Mãe para Filho: Riscos Em Moçambique registam-se em cada ano cerca de 150.000 mulheres grávidas seropositivas 2; 30% a 35% dos bebés nascidos destas mulheres, sem prevenção da transmissão vertical, estarão infectados pelo HIV. 3 Este número de crianças infectadas distribui-se em função da circunstância em que adquirem a infecção. Por exemplo: Impacto da Transmissão Vertical/Riscos: • Em cada 100 crianças que nascem de mães seropositivas sem receber tratamento com ARVs, destas 10 a 25 serão infectadas durante a gravidez no período pré-natal das 14-36 semanas. Os factores que favorecem a infecção precoce dependem da mãe. Em resumo, pode-se referir o seguinte: a. Mãe com infecção avançada pelo HIV: estadio III ou IV da OMS, carga viral alta e o nível de CD4 baixo. b. Mãe com alguma infecção (por exemplo, malária, tuberculose ou sífilis) que pode contribuir para elevar a carga viral e pode favorecer a transmissão do HIV para o filho. • Em cada 100 crianças nascidas de mães seropositivas sem receber tratamento com ARVs, destas 25-50 serão infectadas durante o período pré-natal tardio (>36 semanas) e no parto, 1 European HIV in Obstetrics Group. Higher Rates of Post-Partum Complications in HIV-Infected than in Uninfected Women Irrespective of Mode of Delivery. AIDS 2004;18:933-938. 2 Impacto Demográfico do HIV/SIDA em Moçambique, MISAU, Maio 2004 3 Antriretroviral Drugs for Treating Pregnant Women and Preventing HIV Infection in Infants in Resource-Limited Settings, WHO 2006, p.5 Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 345 no momento da passagem através do canal vaginal, por contacto da criança com fluidos maternos infectados. Todas aquelas práticas que contribuem para o sangramento da mãe (por exemplo, a episiotomia,) ou da criança (o parto instrumentado com fórceps, ventosa, etc.), ou aquelas que fazem com que a criança esteja exposta durante mais tempo (rotura prematura de membranas, partos muito prolongados) aumentam o risco de transmissão. As mães seropositivas devem ser manipuladas o menos possível durante o trabalho de parto e a cesariana deve ser indicada perante qualquer complicação, de modo a evitar práticas mais agressivas, que possam favorecer a transmissão. • Em cada 100 crianças nascidas de mães seropositivas sem receber tratamento com ARVs, destas 35-40 serão infectadas através do aleitamento materno. À semelhança do que acontece com qualquer fluido corporal de uma pessoa infectada, o leite da mãe contém o vírus. Alguns factores que favorecem a transmissão são: a. Prematuridade: as crianças prematuras têm menor capacidade de defesa, por isso o vírus do HIV atravessa com maior facilidade as mucosas do aparelho digestivo. b. Alimentação mista (mistura de leite materno com outros alimentos líquidos ou sólidos): também facilita a infecção. Os alimentos sólidos podem provocar pequenas feridas nas mucosas digestivas das crianças (por exemplo, na boca), facilitando a entrada do vírus através delas. c. Processos infecciosos: as feridas nos mamilos, a mastite, dermatites ou abcessos no peito da mãe favorecem a transmissão do vírus de HIV de mãe para filho. d. Lesões nas mucosas do bebé (por exemplo, através duma candidíase oral que provoca feridas e favorece o sangramento): também facilitam a transmissão do HIV durante o aleitamento. Portanto, se a mãe não recebe anti-retrovirais: Durante a gravidez existe 10-25% de risco de transmissão. Durante o trabalho de parto existe 25-50% de risco de transmissão. Durante a amamentação existe 35-40% de risco de transmissão. Momentos da TV do HIV Pré Natal Medio 14-36 sem Gravidez 10-25% Pré Natal Tardío >36 sem + parto Parto 25-50% Proporção Substancial de Infecções acontecem durante Amamentação Postpartum Postpartum Precoce Tardío 0-1 1-6 mes. 6-24 mes. Amamentação 35-40% B. Exposição a Infecções Oportunistas e Outras O filho de uma mãe com tuberculose ou outra infecção associada ao SIDA pode apanhar a infecção da mãe. As infecções associadas ao SIDA que podem infectar mãe e filho incluem: • Tuberculose (infecção pós-parto); • Toxoplasmose (infecção antes de nascer); • Sífilis (infecção antes de nascer); • Herpes (infecção antes de nascer). Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 346 C. Baixo Peso ao Nascer O filho de uma mãe seropositiva corre maior risco de nascer com baixo peso (peso <2500 g) 4. Os bebés que têm baixo peso ao nascer correm maior risco de morrer. O baixo peso no bebé pode ser causado por malnutrição materna, por malária ou outra infecção materna ou por prematuridade. D. Óbitos ao Nascer (nados mortos, morte fetal prematura) O risco de morrer antes ou durante o parto é mais elevado para o filho de uma mãe seropositiva. Condições que Favorecem a Transmissão Vertical Tabela 1: Condições que Favorecem a Transmissão Vertical Durante o Parto Durante o Aleitamento • Infecção pelo HIV aguda durante a gravidez: uma mulher grávida deve-se proteger mais por causa do risco de transmissão do HIV ao bebé. Durante a Gravidez • Modo do parto: o parto vaginal está associado com as taxas mais altas de transmissão do que a cesariana electiva. • Condições do peito (mastite, abcessos no peito, fissuras nos mamilos) • HIV avançado (baixo CD4, estadio III ou IV da OMS). • A hemorragia intra-parto está associada ao aumento da transmissão do HIV ao bebé. • Padrão da alimentação do bebé (aleitamento materno não exclusivo ou alimentação mista) • A malária torna a placenta mais permeável ao HIV. • Os procedimentos obstétricos • Infecções do bebé como rotura prematura das membranas, (candidíase oral, gastrite) rotinas de episiotomias, parto com ventosa ou fórceps estão associados ao aumento da transmissão. • Prematuridade • As ITS podem aumentar o número de vírus nas secreções vaginais. • A TB pode diminuir a contagem de CD4 e aumentar a carga viral. • Parto prolongado (rotura prolongada das membranas por mais de 4 horas) Tabela 2: Conduta para Reduzir a Transmissão Vertical Durante a Gravidez Durante o T rabalho de Parto Após o Parto: • Oferecer aconselhamento de rotina, testagem para o HIV e apoio psicossocial (opcional). • Aplicar o protocolo de PTV com anti-retrovirais durante o parto (Nevirapina+Duovir). • Evitar a sucção nasal mecânica a menos que seja para salvar a vida. Limpar o recém-nascido imediatamente de todas as secreções de sangue. • Estadiar a mãe e tratar imediatamente a malária, ITSs e IOs. • Faça apenas exames vaginais mínimos durante todo o trabalho de parto. Começar a profilaxia anti-retroviral no recém-nascido o mais rápido possível • Iniciar a terapia preventiva com Cotrimoxazol (quando elegivel) • Reduzir o uso de assistência ao parto com fórceps ou ventosa • Apoie a opção de alimentação do bebé escolhida pela mãe. • Iniciar o TARV ou protocolo de PTV com fármacos antiretrovirais • Não fazer episiotomia de rotina. • Se o aleitamento de peito for escolhido como uma opção, encoraje a amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida. • Dar assistência pré-natal como a qualquer mãe incluindo suplementação de ferro e multivitaminas, apoio nutricional (ex PMA), vacina contra tétano, medicamentos para parasitas, tratamento para sífilis. Nota: A cesariana electiva é uma forma eficaz para reduzir a transmissão vertical contudo, existe um risco elevado de complicações pós-operatórias (p.e., infecção) que acontecem com mais frequência nas mães seropositivas. • Aconselhe o uso de substitutos do leite materno quando as condições económicas da mãe forem favoráveis. • Se a alimentação de substituição for escolhida, garanta a segurança e apoie a mãe na preparação, higiene, seguimento. 4 Ekouevi DK, Tonwe-Gold B, Becquet R, et al. Low Birth Weight with Nevirapine-Based Antiretroviral Therapy in Abidjan Côte d’Ivoire. The ANRS Ditrame Plus Cohort and MTCT-Plus Initiative 2001-2007. CROI Abstract #641. Manual de Referência do Clínico 347 Infecção pelo HIV na Mulher Grávida Outras intervenções para reduzir a transmissão vertical Segundo o descrito na Tabela 1: Condições que Favorecem a Transmissão Vertical, os riscos de transmissão do HIV de mãe para filho são variáveis, e dependem de várias situações e condições que podem surgir durante a gravidez, parto e aleitamento. O Programa de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV) Conhecendo os riscos de transmissão que as crianças têm, as estratégias para reduzir a transmissão vertical que podem ser: • A prevenção primária do HIV nos adultos (potenciais pais e mães); • A prevenção da gravidez em mulheres seropositivas (planeamento familiar); • A redução da transmissão do HIV de uma mulher infectada para a sua criança, tanto durante a gravidez como durante o parto e o aleitamento. O programa de prevenção da transmissão vertical (PTV) é a estratégia nacional destinada a reduzir o impacto da transmissão de mães para filhos com vista a garantir que as mães tenham acesso aos recursos disponíveis para reduzir os riscos de transmissão do HIV. As intervenções para a prevenção da transmissão vertical devem ser implementadas precocemente de modo a • A mulher grávida deve chegar o mais cedo possível para a primeira consulta pré-natal (CPN) • A toda mulher grávida deve ser oferecido o aconselhamento e testagem para o HIV na primeira consulta de CPN • Testagem familiar (parceiros e filhos) Toda mulher grávida testada positiva para o HIV deve receber as intervenções do PTV no mesmo dia do diagnóstico para prevenir a transmissão do HIV ao bebé. O seguimento da mulher grávida permite que ela receba informações sobre as diferentes possibilidades para a alimentação da criança e obtenha conhecimento sobre os possíveis riscos. A partir destas informações e segundo as possibilidades socioeconómicas da mãe, o pessoal da saúde deve recomendar a forma de alimentação que tenha menor risco possível de infecção para a criança. Opções de PTV Disponíveis em Moçambique (2013) Em Novembro de 2012 o Comité Terapêutico Nacional aprovou a implementação do TARV Universal para todas as mulheres grávidas HIV positivas. Esta norma será implementada em conjunto com a estratégia da Paragem Única, que consiste na integração dos serviços de HIV no sector da Saúde Materno-infantil (SMI) e a delegação de tarefas, com a autorização das enfermeiras de SMI (ESMI) a prescreverem TARV. O TARV Universal para mulheres grávidas HIV positivas será oferecido em todas as US que estão a oferecer TARV e PTV, e a sua expansão deverá seguir a expansão dos serviços de TARV. Em Moçambique duas opções de profilaxia estarão a ser oferecidas concomitantemente: • TARV universal para Eliminação da Transmissão Vertical (ETV) nas US que oferecem TARV e PTV (Opção B+) • Profilaxia com a Opção A nas US que ainda não oferecem TARV Os detalhes sobre os regimes de PTV existentes e oferecidos nos dois tipos de serviços, podem ser vistos na tabela 3: As Vantagens do TARV Universal para a mulher grávida são: • Redução da transmissão vertical (TV); Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 348 • • • • • • • • • Simplificação do início do TARV para as mulheres grávidas e lactantes (não dependência de resultado de CD4) ; A TV reduz até menos 2% nas mulheres em TARV por longo prazo; Protecção contra TV em gravidezes futuras; Prevenção da TV durante a amamentação; Redução da mortalidade materna. Cerca de 18% das mortes maternas em Moçambique são atribuídas ao HIV e o TARV pode prevenir 90% destas mortes). Redução do número de órfãos devido ao HIV; 5 Redução da transmissão sexual. Estudos internacionais demonstraram 96% de redução na transmissão entre casais sero discordantes ao iniciar o TARV para o parceiro seropositivo independente do seu estado imunológico e/ou clínico. Isto daria consequentemente, uma redução da transmissão na comunidade; Prevenir a exposição transitória ao TARV. Taxa de fecundidade em Moçambique 5.7 e portanto com o risco de resistência, e ma-adesão com continuas interrupções e reinícios; Mensagem única para comunidade: “TARV é para toda a vida” Tabela 3: Opções de PTV disponíveis em Moçambique: Opção A Opção B+ “TARV para ETV ou TARV universal” Mãe CD4 >350 cel/mm3 AZT – 14 sem. Idade Gestacional (IG) NVPdu – entregue as 14sem IG para tomar no inicio do trabalho de parto AZT +3TC-trabalho de parto, ate 7 dias após o parto TARV inicio assim que diagnosticada HIV + durante a gravidez, continuar para toda a vida Independente do valor de CD4 CD4 <350 cel/mm3 TARV independentemente da idade gestacional (assim que diagnosticada HIV+), continuar para toda a vida Criança Mãe em profilaxia ARV • Se aleitamento materno: NVP diária (2mg/kg/dia) desde o nascimento até 1 semana após ter terminado toda e qualquer exposição ao leite materno • Se aleitamento materno: – AZT 2x/dia do nascimento até 6 semanas de vida • Se aleitamento artificial: – AZT 2x/dia do nascimento até 6 semanas de vida • Se aleitamento artificial: NVP diária (2mg/kg/dia) desde o nascimento até 6 semanas de vida Mãe em TARV Mãe em TARV independente do tipo de aleitamento da criança - NVP 2mg/kg de peso diário do nascimento e durante 6 semanas 5 (Mozambique National Institute of Statistics, U.S. Census Bureau, MEASURE Evaluation, U.S. Centers for Disease Control and Prevention. 2012. Mortality in Mozambique: Results from a 2006–2007 Post-Census Mortality Survey. Chapel Hill, USA Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 349 1. US COM TARV E PTV TARV UNIVERSAL para todas as Mulheres Grávidas HIV positivas (Opção B+). Todas as mulheres grávidas testadas positivas na Consulta Pré-natal deverão iniciar TARV para toda a vida independente do seu estadio clínico ou valor de CD4. Onde será implementado? • Em todas as US com PTV e TARV • As US com PTV e TARV irão implementar a Paragem Única na SMI, com a integração dos cuidados de HIV na SMI e o TARV a ser prescrito pelas ESMI • A expansão para periferias devera seguir a expansão do TARV O aconselhamento pré-TARV deverá ocorrer no mesmo dia do diagnóstico. Sempre que possível, deverá ser iniciado o TARV na segunda visita, O aconselhamento para adesão deverá acompanhar todas consultas seguintes. 1.1. Esquemas Terapêuticos para a Mulher Grávida: I. TDF+3TC+EFV a. A implementação deste regime terapêutico será feita gradualmente em todo o país. No ano de 2013, apenas 101 US estarão a oferecer este regime, até 2015 todas as US com TARV estarão a oferecer regime com TDF. b. O uso deste regime de TARV apresenta várias vantagens, nomeadamente: i. Ao não incluir Nevirapina, pode ser usado em pacientes com qualquer contagem de CD4, sem o problema do risco elevado de hepatite que apresentam os pacientes quando a Nevirapina é administrada com contagens de CD4 elevadas. Por este motivo é preferível para a implementação do TARV Universal (todas as mulheres grávidas com independência do valor de CD4) ii. Ao não incluir AZT não apresenta o problema do risco de anemia, num grupo de população (mulheres grávidas) que com muita frequência já apresenta anemia. iii. A combinação de TDF+3TC+EFV apresenta-se em dose fixa combinada, e sua administração é 1 vez por dia, pelo que simplifica o tratamento anterior. iv. Harmonização entre diferentes grupos (grávidas, adultos, co-infectados com TB e/ou Hepatite B). c. A implementação faseada desta linha é devida à necessidade de avaliar a função dos rins, através da avaliação da creatinina no sangue. Este teste de bioquímica ainda não está disponível em todas as US do país. II. Esquemas alternativos: a. AZT+3TC+EFV i. Este regime terapêutico será implementado nas restantes US a oferecerem TARV, que não possuem o esquema de TDF+3TC+EFV e deverá ser gradualmente substituído pelo esquema com TDF quando estiver disponível. ii. Este regime deve ser oferecido no caso de contra-indicação ao uso de TDF (Rever a tabela 3 na Unidade 10.3 sobre Início de TARV) b. D4T+3TC+EFV i. Nas US que não têm acesso a esquema com TDF, no caso de anemia que contra-indique o uso de AZT, as mulheres grávidas devem iniciar TARV com este esquema terapêutico. c. TDF+3TC+LPV/r i. No caso de pacientes psiquiátricos não deve-se utilizar o EFV, Este fármaco deve ser substituído por LPV/r. O EFV deverá ser suspenso e substituído por LPV/r nas pacientes que desenvolvem alterações de comportamento com o uso de EFV. Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 350 IMPORTANTE: Estudos internacionais não demonstram aumento do risco de teratogenicidade para mulheres grávidas recebendo EFV no 1º trimestre. A prevalência de teratogenicidade para mulheres expostas a EFV no 1º trimestre é similar as mulheres expostas a linhas terapêuticas sem EFV e na população em geral (2%, 2.9% e 6% respectivamente). A incidência de defeitos do tubo neural se manteve baixa (0.07%). A OMS tem publicado recentemente (Junho 2012) uma revisão dos dados existentes até agora. Esta revisão mostra que os benefícios do uso de EFV são maiores que os riscos. Alem disso, esta revisão também destaca que os esquemas contendo EFV apresentam uma eficácia maior que esquemas contendo NVP e um menor risco de reacções adversas graves (hepatite e reacções cutâneas) 1.2. Profilaxia ARV para a crianças expostas: Todas as crianças nascidas de mães seropositivas em US a oferecer TARV Universal deverão receber como profilaxia o AZT xarope por 6 semanas independente do tipo de aleitamento. 2. US COM PTV, SEM TARV Nas unidades sanitárias onde ainda não é possível prescrever TARV, todas as mulheres testadas positivas para HIV devem ser avaliadas para elegibilidade para o TARV em todas as consultas através do estadiamento clínico e do resultado de CD4, de acordo com os critérios na tabela abaixo (Opção A de PTV) .Tabela 4 : Início TARV nas mulheres grávidas Estadio Clinico da OMS CD4 não disponível CD4 disponível I Não iniciar TARV Iniciar TARV se CD4 ≤ 350cel/mm3 II Não iniciar TARV III Iniciar TARV IV Iniciar TARV Iniciar TARV independentemente da contagem de CD4 As mulheres grávidas HIV+ não elegíveis para receberem o TARV deverão receber a profilaxia com ARV como forma de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV). O AZT é o fármaco de eleição neste caso. Portanto, a profilaxia com AZT está indicada para mulheres grávidas, a partir da 14ª semana de gestação, ou o mais cedo possível no caso da mulher grávida se apresentar com idade gestacional mais avançada, no trabalho de parto ou no parto 2.1. Tratamento ARV para a Mulher Grávida Elegível A mulher grávida identificada como elegível, deverá ser referida para a US de referência mais próxima que ofereça TARV. O esquema terapêutico que será oferecido a esta mulher grávida deverá ser aquele disponível na US e de acordo com o explicado no apartado 1.1 desta unidade. 2.2. Profilaxia ARV para a Mulher Grávida não elegível ao TARV • Oferecer AZT cp 12/12h diário a partir da 14ª semana gestacional; • Oferecer NVP dose única para ser tomada no momento do início do parto (deve ser entregue à mulher grávida na mesma consulta em que se entrega pela primeira vez o AZT). • Oferecer AZT+3TC 12/12h durante o trabalho de parto e manter até 7 dias após o parto • Se a grávida tomou o comprimido de NVP, mas chega à maternidade e não se encontra de Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 351 • 2.3. - facto em trabalho de parto, ela deve ser entregue uma nova dose de Nevirapina e ser orientada para tomá-la quando o trabalho de parto ocorrer de facto e SOMENTE SE TIVEREM PASSADO 72 HORAS APÓS A PRIMEIRA DOSE. Durante o trabalho de parto, o AZT+3TC e a NVP dose única devem ser administrados no início do trabalho de parto vaginal e, pelo menos, 4 horas antes no caso de cesariana electiva Profilaxia ARV para crianças expostas: Se mãe em TARV: O bebé deverá receber NVP por 6 semanas independentemente do tipo de aleitamento Mãe não em TARV: Bebé em aleitamento artificial, deverá receber NVP por 6 semanas Bebé em aleitamento materno, deverá receber NVP até uma semana após o desmame Tabela 3: Protocolos para a Redução da Transmissão Vertical CD4 ≤ 350 > 350 ESTADIO 1 TARV PROFILAXIA ARV ESTADIO CLÍNICO ESTADIO 2 ESTADIO 3 TARV TARV PROFILAXIA TARV ARV ESTADIO 4 TARV TARV Malária, Gravidez e HIV A gravidez supõe um aumento do risco de contrair malária para a mulher. Quando a malária acontece durante a gravidez, esta pode ter uma série de complicações: • Malária severa na mãe, com risco de óbito materno • Anemia materna • Nado com baixo peso ao nascer • Elevado risco de aborto ou de nado-morto como consequência da anemia O risco de malária é ainda mais elevado durante a gravidez numa mulher com infecção pelo HIV. Além do risco elevado de sofrer de malária, a malária está associada à transmissão vertical. A malária provoca um aumento da carga viral nos doentes, o que favorece a transmissão do vírus da mãe para o filho. A terapia profiláctica intermitente (TPI) com Fansidar tenta reduzir o risco de malária nas mulheres grávidas. No caso das mulheres seropositivas, o tratamento que devem receber para prevenir a malária é o Cotrimoxazol, que deve ser tomado diariamente (2 comprimidos por dia). O Cotrimoxazol tem demonstrado ser efectivo na prevenção da malária e também de algumas infecções oportunistas. O uso da rede mosquiteira é recomendado a todas as mulheres grávidas devido ao risco elevado de contrair a malária durante a gravidez e as consequências para a futura criança. Nas mães seropositivas, a recomendação é a mesma. Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 352 Outras Intervenções Pré-Natais na Mulher Seropositiva As mulheres grávidas seropositivas devem receber vacinas para o tétano, testagem e tratamento para sífilis, e suplementos de ferro e sulfato ferroso, segundo os mesmos protocolos usados para as grávidas sem HIV. Também devem receber Mebendazol em dose única a partir do segundo trimestre (o Albendazol é contra-indicado na gravidez). Para apoiar o bom crescimento do feto, a mãe seropositiva terá de se alimentar melhor do que a mulher seronegativa. Deve fazer avaliação e aconselhamento nutricional em todas as cosultas (veja o capítulo sobre nutrição). Coordenação dos Serviços: Consultas Pré-Natais, Maternidade, Consulta Pós Parto, Consulta Criança em Risco e Serviços TARV A estratégia de paragem única tem como objectivo simplificar o atendimento à mulher grávida seropositiva e ao seu filho exposto ao HIV. A simplificação deste atendimento pretende aumentar a cobertura de TARV nas mulheres grávidas, fazendo com que elas e seus filhos sejam avaliados na mesma consulta. Apos o parto, a mulher grávida em TARV irá fazer seguimento junto com a crianças exposta e o sector responsável por este atendimento será o da Saúde Materno-infantil. Uma vez que a infecção na criança seja excluída, esta receberá alta da CCR e a mãe deverá ser referida para o Serviço de TARV, para continuar com seu seguimento e tratamento nesse lugar. Se apesar dos esforços o resultado final é que a criança fica infectada, ambos (mãe e criança) deverão ser referidos para o serviço TARV (a mãe para continuar o tratamento e a criança para iniciá-lo sem demora). Pontos-Chave • • • • • • • • • Na mulher grávida, o tratamento anti-retroviral pode ter mais de um objectivo: pode ser o tratamento da doença da própria mãe, e também permite reduzir os riscos de infecção para a futura criança. O clínico deve conhecer as diferentes componentes do programa nacional de Prevenção da Transmissão Vertical (PTV) e apoiar na sua implementação na US. O clínico deve conhecer as particularidades do TARV para a mulher grávida (Opção B+ ou TARV Universal). Terapia tripla é superior para ETV (eliminação da transmissão vertical); Tratamento para toda a vida previne a exposição transitória ao TARV em países de alta taxa de fecundidade; TARV traz benefícios para saúde materna; TARV traz benefícios para a prevenção da infeção no parceiro sero-negativo; Adesão e retenção são aspectos críticos. As interacções entre a malária e a gravidez são ainda mais complicadas no caso das grávidas seropositivas. O clínico deve conhecê-las bem como a profilaxia para malária e IOs para a grávida seropositiva. Manual de Referência do Clínico Infecção pelo HIV na Mulher Grávida 353 Bibliografia • • • • • • • • • • • • • Guia para o tratamento das infecções oportunistas no adulto infectado por HIV e profilaxia das infecções oportunistas 2004 Aaron L, Saadoun D, Calatroni I, Launay O, Memain N, Vincent V, Marchal G, Dupont B, Bouchaud O, Valere D, Lortholary O. Tuberculosis in HIV-infected patients: a comprehensive review. Clin Microbiol Infect 2004;10:388-398. Abordando os desafios do aconselhamento com pacientes que estão a receber TARV. Ministério de Moçambique, Programa Nacional de Combate as DTS/HIV/SIDA. Sector dos Gabinetes de Aconselhamento e Testagem Voluntária (GATV). Março 2004. Acute Care. Integrated Management of Adolescents and Adults Illness (IMAI). Interim Guidelines for First-Level Facility Health Workers. World Health Organization. January 2004. Agnes Soete et Barbara Laumont. Introductión au counselling SIDA. Département medical. MSF – Centre Operacionnel de Bruxelles. Mars 2004. Anglaret X, Dakoury-Dogbo N, Bonard D, Toure S, Combe P, Ouassa T, Menan H, N’Dri-Yoman T, Dabis F, Salamon R. Causes and empirical treatment of fever in HIV-infected adult outpatients, Abidjan, Cote d’Ivoire. AIDS 2002;16:909-918. Antriretroviral Drugs for Treating Pregnant Women and Preventing HIV Infection in Infants in Resource-Limited Settings, WHO 2006, p.5 Archibald L, McDonald C, Nwanyanwu O, Kazembe P, Dobbie H, Tokars J, Reller L, Jarvis W. A hospital-based prevalence survey of bloodstream infections in febrile patients in Malawi: implications for diagnosis and therapy. J Infect Dis 2000;181:1414-20. Badri M, Ehrlich R, Wood R, Pulerwitz T, Maartens G. Association between tuberculosis and HIV disease progression in a high tuberculosis prevalence área. Int J Tuberc Lung Dis 2001;5:225-232. Balcells M, Thomas S, Godfrey-Faussett P, Grant A. Isoniazid preventive therapy and risk for resistant tuberculosis. Emerging Infectious Diseases 2006;12:746-751. (www.cdc.gov/eid) Batungwanayo, J. et al. Pulmonary disease associated with the human immunodeficiency virus in Kigali, Rwanda. A fiberoptic bronchoscopic study of 111 cases of undetermined etiology. Am J Respir Crit Care Med 149, 1591-6 (1994). Belperio P, Rhew D. Prevalence and outcomes of anemia in individuals with human immunodeficiency virus: a systematic review of the literature. Am J Med 2004;116:27S-43S. Blomberg B, Manji K, Urassa W, Tamim B, Mwakagile D, Jureen R, Msangi V, Tellevik M, Holberg-Peterson M, Harthug S, Maselle S, Langeland N. Antimicrobial resistance predicts death in Tanzanian children with bloodstream infections: a prospective cohort study. BMC Infect Dis 2007; 7:43. Manual de Referência do Clínico Bibliografia 354 • • • • • • • • • • • • • • • • Brahmbhatt H, Sullivan D, Kigozi G, et al. Association of HIV and malaria with mother-to-child transmission, birth outcomes, and child mortality. J Acquir Immune Defic Synd 2008;47(4):472-6. . Breen, R.A. et al. Paradoxical reactions during tuberculosis treatment in patients with and without HIV co-infection. Thorax 59, 704-7 (2004). Brentlinger P and Behrens C: Chapter on malaria and HIV in forthcoming book from Elizabeth Glaser foundation (should be available in June 2008). Brentlinger PE, Montoya P, Blanco Rojas AJ, Correia MA, Dgedge M, Saute F, Gimbel-Sherr K, Mercer MA, Gloyd S. Prevalence and predictors of maternal peripheral malaria parasitemia in central Mozambique. Am J Trop Med Hyg 2007;77:228-234. Briefing package. HIV/AIDS Programme. Strengthening health services to fight HIV/AIDS. Integrated approach to HIV Prevention, Care and Treatment: IMAI and IMCI tools. WHO, revised draft, July 2006. Brink A-K, Mahe C, Watera C, Lugada E, Gilks C, Whitworth J, French N. Diarrhoea, CD4 counts, and enteric infections in a community-based cohort of HIV-infected adults in Uganda. J Infection 2002;45:99-106. Care (ISTC). The Hague: Tuberculosis Coalition for Technical Assistance, 2006. Caulfield L et al. Undernutrition as an underlying cause of child deaths associated with diarrhea, pneumonia, malaria, and measles. Am J Clin Nutr 2004;80:193-8. Chakaya, J.M. et al. Pneumocystis carinii pneumonia in HIV/AIDS patients at an urban district hospital in Kenya. East Afr Med J 80, 30-5 (2003). Chimzizi R, Gausi F, Bwanali A, Mbalume D, Teck R, Gomani P, Zachariah R, Zuza W, Malombe R, Salaniponi F, Harries A. Voluntary counselling, HIV testing and adjunctive Co-trimoxazol are associated with improved TB treatment outcomes under routine conditions in Thyolo District, Malawi. Int J Tuberc Lung Dis 2004; 8:579-85. Cook G, Zumla A, eds. Manson’s Tropical Diseases. 21st edition. London: WB Saunders, 2003. Currier J, Havlir D. Complications of HIV disease and therapy. Topics in HIV Medicine 2007; 15:40-47. Del Amo J, Malin A, Pozniak A, De Cock K. Does tuberculosis accelerate the progression of HIV disease? Evidence from basic science and epidemiology. AIDS 1999; 13:1151-1158. Dellitt T. Case 1. Abacavir hypersensitivity reaction. HIV Web Study. Available from: http://depts.washington.edu/hivaids/arvae/case1/index.html. Accessed 19 June 2007. Dolin R, Masur H, Saag M. AIDS Therapy. 2nd edition. New York: Churchill Livingstone, 2003. Facilitator`s Guide for the WHO Basic ART Aid Training Course. Based on the IMAI Chronic HIV Care with ARV Therapy guidelines module. WHO, February 2006 draft. Manual de Referência do Clínico Bibliografia 355 • • • • • • • • • • • • • • • • Farmer P, Robin S, Ramilus St. L, Kim J. Tuberculosis, poverty, and “compliance”: lessons from rural Haiti. Semin Resp Infect 1991;6:254-60. Fee M, Oo M, Gabayan A, Radin D, Barnes P. Abdominal tuberculosis in patients infected with the human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis 1995;20:938-44. Fisk, D.T., Meshnick, S. & Kazanjian, P.H. Pneumocystis carinii pneumonia in patients in the developing world who have acquired immunodeficiency syndrome. Clin Infect Dis 36, 70-8 (2003). French N, Nakiyingi J, Lugada E, Watera C, Whitworth JA, Gilks CF. Increasing rates of malarial fever with deteriorating immune status in HIV-1-infected Ugandan adults. AIDS 2001;15:899-906. French, M.A. et al. Immune restoration disease after the treatment of immunodeficient HIV-infected patients with highly active Anti-retroviral therapy. HIV Med 1, 107-15 (2000). Getahun H, Harrington M, O’Brien R, Nunn P. Diagnosis of smear-negative pulmonary tuberculosis in people with HIV infection or AIDS in resourceconstrained settings: informing urgent policy changes. Lancet 2007;369:2042-9. Godfrey-Faussett, Peter, MAHER, Dermot, MUKADI, Ya Diul et al. How human immunodeficiency virus voluntary testing can contribute to tuberculosis control. Bull World Health Organ, 2002, vol.80, no.12, p.939-945. ISSN 0042-9686. Grimwade K et al. HIV infection as a cofactor for severe falciparum malaria in adults living in a region of unstable malaria transmission in South Africa. AIDS 2004;18:547-554. Guia tratamento Anti-retroviral e infecções oportunistas adulto e adolescente, Ministério de Saúde Mocambique.2009 Guidelines on Co-trimoxazole prophylaxis for HIV-related infections among children, adolescents and adults. Recommendations for a public health approach. Coordinated by Charles Gilks and Marco Vitoria, Department of HIV/AIDS, World Health Organization. Geneva, 2006. Handbook on Pediatric AIDS in Africa, ANECCA 2004 Hargreaves, N.J. et al. Pneumocystis carinii pneumonia in patients being registered for smear-negative pulmonary tuberculosis in Malawi. Trans R Soc Trop Med Hyg 95, 402-8 (2001). Hoffman C, Thio C. Clinical implications of HIV and Hepatitis B co-infection in Asia and Africa. Lancet Infect Dis 2007; 7:402-9. Hoffmann C, Charalambous S, Thio C, Martin D, Pemba L, Fielding K, Churchyard G, Chaisson R, Grant A. Hepatotoxicity in an African antiretroviral therapy cohort: the effect of tuberculosis and hepatitis B. AIDS 2007;21:13011308. Hopewell PC, Chaisson RE. Tuberculosis and human immunodeficiency virus infection. In: Reichman LB, Hershfield ES, eds. Tuberculosis: a comprehensive international approach. 2nd ed. New York: Marcel Dekker, 2000:525–52. IMAI. Chronic HIV Care with ARV Therapy and Prevention. Interim guidelines for Health Workers at Health Centre or District Hospital Outpatient Clinic. WHO, July 2006. Manual de Referência do Clínico Bibliografia 356 • • • • • • • • • • • • • • Ismael C, Khan S, Thompson R, van Steirtighem V, assante A, Meershoek S. Deficiência de Vitamina A e anemia em crianças e respectivas mães: resultados dum estudo nacional em Moçambique. XII Jornadas de Saúde, Maputo, 2005, pôster P55. Jacobson, Mark, Clinical Implications of Immune Reconstitutions in AIDS, HIV InSite Knowledge Base Chapters, January, 2006 (website) Jamisse L, Balkus J, Hitti J, Gloyd S, Manuel R, Osman N, Dgedge M, Farquhar C. Anti-retroviral-associated toxicity among HIV-1-seropositive pregnant women in Mozambique receiving nevirapine-based regimens. J Acquir Immune Defic Syndrome 2007; published electronically…… Jones B, Young S, Antoniskis D et al. Relationship of the manifestations of tuberculosis to CD4 counts in patients with human immunodeficiency virus infection. Am Rev Respir Dis 1993;148:1292, Kalter H, Burnham G, Kolstad P, Hossain M, Schillinger J, Khan N, Saha S, de Wit V, Kenya-Mugisha N, Schwartz B, Black R. Evaluation of clinical signs to diagnose anemia in Uganda and Bangladesh, in areas with and without malaria. Bulletin of the World Health Organization 1997(Suppl 1):103-111. Karakousis P, Moore R, Chaisson R. Mycobacterium avium complex in patients with HIV infection in the era of highly active antiretroviral therapy. Lancet Infectious Diseases 2004; 4:557-65. Koenig S, Leandre F, Farmer P. Scaling-up HIV treatment programmes in resource-limited settings: the rural Haiti experience. AIDS 2004;18 (suppl 3):S21-S25. Kosel B, Spach D. Case 2. Nevirapine-induced hepatotoxicity. HIV Web study. Available at http://depts.washington.edu/hivaids/arvae/case2/index.html. Accessed 19 June 2007. Krown, S.E. Highly active Anti-retroviral therapy in AIDS-associated Kaposi's sarcoma: implications for the design of therapeutic trials in patients with advanced, symptomatic Kaposi's sarcoma. J Clin Oncol 22, 399-402 (2004). Kublin J et al. Effect of Plasmodium falciparum malaria on concentration of HIV1-RNA in the blood of adults in rural Malawi: a prospective cohort study. Lancet 2005;365:233-40. Laufer M, van Oosterhout J, Perez M, Kanyanganlika J, Taylor T, Plowe C, Graham S. Observational cohort study of HIV-infected African children. Pediatr Infect Dis J 2006;623-7. Laufer M, van Oosterhout J, Thesing P, Thumba F, Zijlstra E, Graham S, Taylor T, Plowe P. Impact of HIV-associated immunosuppression on malaria infection and disease in Malawi. J Infect Dis 2006;193:872-8. Lawn S, Myer L, Bekker L-G, Wood R. Tuberculosis-associated immune reconstitution disease: incidence, risk factors and impact in an Anti-retroviral treatment service in South Africa. AIDS 2007;21:335-341. Lewis D, Whitty C, Epino H, Letsky E, Mukiibi J, van den Broek N. Interpreting tests for iron deficiency among adults in a high HIV prevalence African setting: routine tests may lead to misdiagnosis. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 2007; 101:613-617. Manual de Referência do Clínico Bibliografia 357 • • • • • • • • • • • • • • • Lewis D, Whitty C, Walsh A, Epino H, van den Broek N, Letsky E, Munthali C, Mukiibi J, Boeree M. Treatable factors associated with severe anaemia in adults admitted to medical wards in Blantyre, Malawi, an area of high HIV seroprevalence. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 2005; 99:561-567. Lipman, M. & Breen, R. Immune reconstitution inflammatory syndrome in HIV. Curr Opin Infect Dis 19, 20-5 (2006). Madec Y, Laureillard D, Pinoges L, Fernandez M, Prak N, Ngeth C, Moeung S, Song, S, Balkan S, Ferradini L, Quillet C, Fontanet A. Response to highly active Anti-retroviral therapy among severely immuno-compromised HIV-infected patients in Cambodia. AIDS 2007; 21:351-9. Malin, A.S. et al. Pneumocystis carinii pneumonia in Zimbabwe. Lancet 346, 1258-61 (1995). Mañas E, Pulido F, Peña J, Rubio R, Gonzales-Garcia J, Costa R, PerezRodriquez E, Del Palacio A. Impact of tuberculosis on the course of HIVinfected patients with a high initial CD4 lymphocyte count. Int J Tuberc Lung Dis 2004;8:451-7. Miotti. P. G., Morbidity among HIV-1-infected and uninfected African children. Pediatrics 2000; 106: E77. Moore D, Liechty C, Ekwaru P, Were W, Mwima G, Solberg P, Rutherford G, Mermin J. Prevalence, incidence and mortality associated with tuberculosis in HIV-infected patients initiating Anti-retroviral therapy in Uganda. AIDS 2007;21:713-719. Muhangi L, Woodburn P, Omara M, Omoding N, Kizito D, Mpairwe H, Nabulime J, Ameke C, Morison L, Elliott A. Associations between mild-to-moderate anaemia in pregnancy and helminth, malaria and HIV infection in Entebbe, Uganda. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 2007, doi:10.1016/j.trsmth.2007.03.017. Mwachari C, Meier A, Muyodi J, Gatei W, Waiyaki P, Cohen C. Chronic diarrhoea in HIV-1-infected adults in Nairobi, Kenya: evaluation of risk factors and the WHO treatment algorithm. AIDS 2003;17 (14):2124-6. Mwachari C, Shepherd B, Cleopa O, Odhiambo J, Cohen C. Mortality and burden of disease in a cohort of HIV-seropositive adults in Nairobi, Kenya. Int J STD & AIDS 2004;15:120-6. Nadia AIT-Khaled and Donald A. Enarson Tuberculosis A Manual for Medical Students World Health Organization 2003 Ndekha M et al. Home-based therapy with ready-to-use therapeutic food is of benefit to malnourished, HIV-infected Malawian children. Acta Paediatrica 2005;94: 222-225. O’Keefe E, Wood R, Van Zyl A, Cariem A. Human immunodeficiency vírusrelated abdominal pain in South Africa. Scand J Gastroenterol 1998;33:212217. OMS Guia de Estadiamento, 2006 OMS, Abordagem do diagnóstico de HIV em crianças, AIDI 2008. Manual de Referência do Clínico Bibliografia 358 • • • • • • • • • • • • • • • Orlovic, D., Kularatne, R., Ferraz, V. & Smego, R.A., Jr. Dual pulmonary infection with Mycobacterium tuberculosis and Pneumocystis carinii in patients infected with human immunodeficiency virus. Clin Infect Dis 32, 289-94 (2001). Parente F, Cernuschi M, Antorini S, Lazzarin A, Moroni M, Fasan M, Rizzardini G, Rovati V, Morandi E, Molteni P, Biancho Porro G. Severe abdominal pain in patients with AIDS: Frequency, clinial aspects, causes, and outcome. Scand J Gastroenterol 1994;29:511-515. Parente F, Cernuschi M, Orlando G, Rizzardini G, Lazzarin A, Bianchi Porro G. Kaposi’s sarcoma and AIDS: frequency of gastrointestinal involvement and its effect on survival. Scand J Gastroenterol 1991;26:1007-1012. Peters R, Zijlstra E, Schijffelen M, Walsh A, Joaki G, Kumwenda J, Kublin J, Molyneux M, Lewis D. A prospective study of bloodstream infections as a cause of fever in Malawi: clinical predictors and implications for management. Trop Med Int Health 2004;9:928-934. Price, P. et al. Immune dysfunction and immune restoration disease in HIV patients given highly active Anti-retroviral therapy. J Clin Virol 22, 279-87 (2001). Pulmonary + mortality comment: This is controversial; see stebbings article : Stebbing, J. et al. A prognostic index for AIDS-associated Kaposi's sarcoma in the era of highly active Anti-retroviral therapy. Lancet 367, 1495-502 (2006). Quigley M, Mwinga A, Hosp M, Lisse I, Fuchs D, Porter J, Godfrey-Faucett P. Long-term effect of preventive therapy for tuberculosis in a cohort of HIVinfected Zambian adults. AIDS 2001;15:215-222. Republica de Moçambique. Instituto Nacional de Estatística. Inquérito Demográfico e de Saúde. Relatório Preliminar. Maputo: 2003. Robertson, J., Meier, M., Wall, J., Ying, J. & Fichtenbaum, C.J. Immune reconstitution syndrome in HIV: validating a case definition and identifying clinical predictors in persons initiating Anti-retroviral therapy. Clin Infect Dis 42, 1639-46 (2006). Roley J. Micronutrient Initiative Project – Pilot Project 2. Community-based Iron+Folic Acid Supplementation and Nutrition Education for Pregnant Women. Manica Province. Maputo: Helen Keller International, 2003. Rosengart T, Coppa G. Abdominal mycobacterial infections in immunocompromised patients. Am J Surg 1990;159:125-130. Sande M, Eliopoulos G, Moellering R, Gilbert D. The Sanford Guide to HIV/AIDS Therapy, 2006-2007. 15th edition. Sperryville, Virginia: Antimicrobial Therapy, Inc., 2006. Scrimshaw N. Historical concepts of interactions, synergism and antagonism between nutrition and infection. J Nutr 2003;133:316S-321S. Shelburne, S.A. et al. Incidence and risk factors for immune reconstitution inflammatory syndrome during highly active Anti-retroviral therapy. Aids 19, 399-406 (2005). Singh N, Perfect J. Immune reconstitution syndrome associated with opportunistic mycoses. Lancet Infect Dis 2007;7:395-401 Manual de Referência do Clínico Bibliografia 359 • • • • • • • • • • • • • • Spach D. Case 5: Antiretroviral medications and lactic acidemia. HIV Web Study. Available from: http://depts.washington.edu/hivaids/arvae/case5/index.html. Accessed 19 June 2007. Stebbing et al Age at Dx; immune status; comorbidity; whether KS was the initial AIDS defining illness. Pulmonary and gastic involvement here did not figure into increased mortality ( by this index) in multivariate analysis ( but did in univariate analysis----) Stoltzfus R, Edward-Raj A, Dreyfuss M, Albonico M, Montresor A, Thapa M, West K, Chwaya H, Savioli L, Tielsch J. Clinical pallor is useful to detect severe anemia in populations where anemia is prevalent and severe. J Nutr 1999;129:1675-1681. Stringer J, Zulu I, Levy J, Stringer E, Mwango A, Chi B, Mtonga V, Reid S, Cantrell R, Bulterys M, Saag M, Marlink R, Mwinga A, Ellerbrock T, Sinkala M. Rapid scale-up of Anti-retroviral therapy at primary care sites in Zambia. JAMA 2006; 296:782-793. TB/HIV A CLINICAL MANUAL 2nd Edition, World Health Organization 2004 Ter Kuile F et al. The burden of co-infection with human immunodeficiency virus type 1 and malaria in pregnant women in sub-Saharan Africa. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 2004;71(Supplement 2): 41-54. The PIH Guide to the Community-Based Treatment of HIV in Resource-Poor Settings Second Edition • 2006 Toure S, Gabillard G, Inwoley A, Seyler C, Gourvellec G, Anglaret X. Incidence of neutropenia in HIV-infected African adults receiving co-trimoxazole prophylaxis: a 6=year cohort study in Abidjan, Côte d’Ivoire. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 2006;100:785-790. 1 Jamisse L et al 2007 Tuberculosis Coalition for Technical Assistance. International Standards for Tuberculosis Tuberculosis Infection Control In the era of expanding HIV care and treatment Addendum to WHO Guidelines for the Prevention of Tuberculosis in Health Care Facilities in Resource-Limited Settings Van der Sande M, van der Loeff M, Aveika A, Sabally S, Togun T, Sarge-Njie R, Alabi A, Jaye A, Corrah T, Whittle H. Body mass index at time of HIV diagnosis. A strong and independent predictor of survival. J Acquir Immune Defic Syndrome 2004;37:1288-1294. Van Geertruyden J-P et al. CD4 T-cell count and HIV-1 infection in adults with uncomplicated malaria. Journal of Acquired Immune Deficiency Syndrome 2006;43:363-367. Van Lettow M, Harries A, Kumwenda J, Zijlstra E, Clark T, Taha T, Semba R. Micronutrient malnutrition and wasting in adults with pulmonary tuberculosis with and without HIV co-infection in Malawi. BMC Infectious Diseases 2004;4:61. MISAU, Impacto Demográfico do HIV/SIDA em Moçambique, Maio 2004, p.80 Manual de Referência do Clínico Bibliografia 360 • • • • • • • • • • MISAU, Repartição de Nutrição, Guião de Orientação Nutricional para Pessoas vivendo com o HIV/SIDA: dirigido aos gestores de programas, Maputo, 2003 MISAU. Manual de Tratamento e Reabilitação Nutricional Volume II, . Maputo 2011 Venkatesh P, Bosch R, McIntosh K, Mugusi F, Msamanga G, Fawzi W. Predictors of incident tuberculosis among HIV-1-infected women in Tanzania. Int J Tuberc Lung Dis 2005;9:1105-11. Whalen C, Johnson J, Okwera A, Hom D, Huebner R, Mugyenyi P, Mugerwa R, Ellner J. A trial of 3 regimens to prevent tuberculosis in Ugandan adults infected with the human immunodeficiency virus. New Engl J Med 1997;337:801-8 World Health Organization. Anti-retroviral Therapy for HIV Infection in Adults and Adolescents in Resource-Limited Settings: Toward Universal Access. Recommendations for a Public Health Approach. Geneva: World Health Organization, 2006 (Gives criteria for grading ARV toxicity.) World Health Organization. Improving the diagnosis and treatment of smearnegative pulmonary and extrapulmonary tuberculosis among adults and adolescents. Recommendations for HIV-prevalent and resource-constrained settings. Geneva: World Health Organization, 2006. World Health Organization. WHO Case Definitions of HIV for Surveillance and Revised Clinical Staging and Immunological Classification of HIV-Related Disease in Adults and Children. Geneva: World Health Organization, 2006. Worodria, W., Okot-Nwang, M., Yoo, S.D. & Aisu, T. Causes of lower respiratory infection in HIV-infected Ugandan adults who are sputum AFB smear-negative. Int J Tuberc Lung Dis 7, 117-23 (2003). Zachariah R, Fitzgerald M, Massaquoi M, Pasulani O, Arnould L, Makombe S, Harries A. Risk factors for early mortality in patients on Anti-retroviral treatment in a rural district of Malawi. AIDS 2006;20:2355-2360. Zulu I, Veitch A, Sianong S, McPhail G, Feakins R, Farthing M, Kelly P. Albendazole chemotherapy for AIDS-related diarrhea in Zambia – clinical, parasitological and mucosal responses. Aliment Pharmacol Ther 2002;16:595601. Manual de Referência do Clínico Bibliografia 361