Titulo: Globalização e Investimentos Diretos Estrangeiros Autor: Aline Cristina Amaro de Alencar Publicado em: Revista Eletrônica de Direito Internacional, vol. 7, 2010, pp. 01-41 Disponível em: http://www.cedin.com.br/revistaeletronica/volume7/ ISSN 1981-9439 Com o objetivo de consolidar o debate acerca das questões relativas ao Direito e as Relações Internacionais, o Centro de Direito Internacional – CEDIN - publica semestralmente a Revista Eletrônica de Direito Internacional, que conta com artigos selecionados de pesquisadores de todo o Brasil. O conteúdo dos artigos é de responsabilidade exclusiva do(s) autor (es), que cederam ao CEDIN os respectivos direitos de reprodução e/ou publicação. Não é permitida a utilização desse conteúdo para fins comerciais e/ou profissionais. Para comprar ou obter autorização de uso desse conteúdo, entre em contato, [email protected] 1 GLOBALIZAÇÃO E INVESTIMENTOS DIRETOS ESTRANGEIROS Aline Cristina Amaro de Alencar*1 RESUMO O objetivo deste artigo é fazer uma análise da evolução do processo de Globalização e seus reflexos nos Investimentos Diretos Estrangeiros recepcionados pelo Brasil após a implementação do Plano Real, contribuindo assim, para o aprofundamento do debate em torno do crescimento econômico recente brasileiro. Durante estes últimos anos, as políticas públicas tem sido direcionada para o comércio nos países em desenvolvimento, de forma a estreitar os laços comerciais entre vários países. Nos anos mais recentes, podemos observar mudanças não somente quantitativas, mas também qualitativas, de grande importância para os fluxos comerciais, inclusive na atração de Investimentos Diretos Estrangeiros. Palavras-chave: Globalização – Empresas Multinacionais - Investimentos Diretos Estrangeiros. ABSTRACT The aim of this paper is to analyze the progress of globalization and its impact on Foreign Direct Investments approved by Brazil after the Real Plan, thus contributing to deepening the debate on the recent Brazilian economic growth. In recent years, public policy has been directed to trade in developing countries, to strengthen commercial ties between different countries. In recent years, we see changes not only quantitative but also qualitative, of great importance for trade flows, including the attraction of Foreign Direct Investments. Keywords: Globalization - multinational company – Foreign Direct Investment. * Mestranda na área de Ciências Jurídico Internacionais na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Assessora Jurídica (em Portugal) e Especialista em Direito Internacional e Direito Ambiental. 2 INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo fazer uma análise da evolução do processo de globalização e seus reflexos nos Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE), recepcionados pelo Brasil após a implementação do Plano Real, contribuindo assim, para o aprofundamento do debate em torno do crescimento econômico recente brasileiro. Com um foco voltado para uma perspectiva capitalista global tentando enquadrar a economia brasileira no contexto mundial. Fazendo uma análise histórica, a economia mundial passou por uma fase de grande desordem monetária, com a prática da desvalorização cambial que imperou após a crise de 1929, onde os países industrializados adotaram medidas individualistas, fator que contribuiu para uma instabilidade do mercado. No período pós Guerra, os Estados Unidos liderarou uma conferência na cidade de Bretton Woods, com o objetivo de estabelecer uma nova ordem internacional, que fosse menos vulnerável as crises econômicas. Nesta conferência, os avanços importantes que destacam-se são: um regime de câmbio mais ajustável; a utilização do ouro como forma de reserva internacional; a livre conversibilidade entre as moedas domésticas e a criação de órgãos reguladores como o GATT, que posteriormente originou a Organização Mundial do Comércio2 com o objetivo principal de regular o comércio mundial. Desta conferência, também foi criado o Fundo Monetário Internacional, cujo objetivo era equilibrar as balanças de pagamentos; e o Banco Mundial com a finalidade de financiar as infra-estruturas internas dos países. A preocupação era a criação de um sistema financeiro mundial mais estável e desta forma evitar conflitos de interesses entre os países, além de servir como base de um desenvolvimento mais equitativo. As medidas também buscavam uma estabilidade dos preços, dentro do posicionamento de Keynes3. 2 Organização Mundial do Comércio (OMC). Disponível em http://www.wto.org. O keynesianismo é uma doutrina ativista, que preconiza a ação do Estado na promoção e sustentação do pleno emprego em economias empresariais. Ele dialoga, mas não se confunde com outras doutrinas, que se apóiam em princípios teóricos e prioridades políticas diferentes. Por outro lado, a teoria keynesiana, em parte como herança do seu próprio criador, tem como objeto o mundo real, de modo a ter bem claro que a construção de conceitos e modelos não é, de modo algum, um fim em si mesmo, mas um instrumento de pesquisa empírica e derivação de políticas de ação. Como todo instrumento, conceitos e modelos tendem a tornar-se obsoletos com o tempo, e têm de ser modernizados para que sua eficiência deva ser mantida. O 3 3 Deste acordo, surtiram efeitos imediatos e foram sentidos no cenário mundial, projetando os Estados Unidos como grande potência econômica, já que durante a I Guerra Mundial o país acumulou uma reserva significativa de ouro e no período pós II Guerra Mundial possuía a maior reserva de ouro do mundo. De forma a fazer com que o dólar fosse a única moeda a garantir a livre conversibilidade ao ouro, obrigando assim, os demais países a acumular dólar. Neste contexto do Bretton Woods, os Estados Unidos tornou-se responsável pela provisão mundial de liquidez o que levou o país a desfrutar de uma hegemonia bélica, um poderio econômico e financeiro. Com a decretação do fim paridade entre o ouro e o dólar em 1971, as flutuações tenderam a ser maiores, uma vez que ficaram dependentes do comércio mundial. A estabilidade do câmbio e dos juros vigorou no sistema Bretton Woods4, que deixou de existir definitivamente em 1970, passando a existir mais volatilidade e aumentando a instabilidade dos mercados financeiros. Atualmente, o sistema financeiro internacional desfruta de uma ampla liquidez e negociam mundialmente seus ativos, incentivando assim os investimentos privados, uma vez que estimula os detentores de capitais a manterem suas riquezas de forma mais líquida. Essas formas estão incluídas, preferencialmente, nos ativos financeiros rentáveis, que passaram a ser mais voláteis em seus preços, o que tem implicado a possibilidade de seus detentores capitalizarem grandes somas de capitais, o que faz aumentar o processo de especulação tornando o sistema financeiro internacional mais instável. O processo de globalização financeira tem se caracterizado pelo crescimento da demanda de ativos financeiros em uma taxa superior ao crescimento da economia mundial, pela razão das oportunidades amplas de auto-valorização do capital financeiro. A experiência brasileira de estabilização seguiu o padrão geral como os demais países latino-americanos, diante da política cambial fixa, mais ajustável e de forma rígida, a liberalização comercial promoveram elevados déficits nas contas correntes ampliando consideravelmente a necessidade de atrair poupança externa. Os Investimentos Diretos Estrangeiros tornaram-se um tema de grande importância para a economia mundial, porque envolve os movimentos internacionais de 4 Bretton Woods. Disponível em http://www.brettonwoods.org/. 4 capitais e as questões referentes as transnacionais5. Neste contexto, é importante a análise da inserção do Brasil na globalização financeira, durante a década de 1990, bem como avaliar a estratégia do Plano Real e suas consequências em termos vulnerabilidade externa e crescimento econômico. Através da perspectiva histórica e teórica, procura-se acentuar a tendência irreversível da integração das economias nacionais, como a brasileira, na economia mundial e a perda progressiva de autonomia do país para formular suas próprias políticas de estabilização e desenvolvimento. 2- GLOBALIZAÇÃO 2.1. Aspectos Gerais Desde que surgiu o termo "globalização", na década de 1960, na literatura popular e acadêmica para descrever um processo, uma condição, um sistema, uma forma ou uma era. Diante dos diferentes significados e da utilização de forma indiscriminada, a expressão “globalização” é utilizada como sinônimo de uma condição social, uma características de interligação e de fluxos globais a nível econômico, político, cultural e ambiental, o que tornam os limites quase que incalculável. Também pode ser definido como um conjunto de processos sociais, que se pode transformar a condição social presente em um contexto globalizado. Na essencia, é possível afirmar que a globalização alterou a forma de contacto humano. Segundo Anthony Giddens6 (1991), definiu a globalização como:“A globalização pode, assim, ser defenida como a intensificação à escala mundial, de relações sociais que ligam localidade distantes de tal forma que os acontecimentos locais são influenciados por acontecimentos que ocorrem a muitos quilômetros de distâncias e vice-versa”. A globalização econômica consiste na criação de um único mercado mundial integrado, onde os bens e capitais fluem sem barreiras, de acordo com as vantagens comparativas que cada espaço oferece e sem a interferência protecionista dos governos. 5 Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) consagrou a expressão transnacional, isto é, de empresas que atuam além e através das fronteiras estatais. É mais correto, porque o qualificativo “multinacional” podia conduzir a equívoco se fosse interpretado ao pé da letra, vez que as empresas não tem muitas nacionalidades. 6 GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP, 1991. 5 Esta expansão econômica no mundo foi interrompida pelas duas Grandes Guerras, o que dificultou o desenvolvimento. O início da Guerra Fria e a divisão do mundo em dois grandes blocos não contribuiu em nada nesse contexto, a partir de 1970, verificou-se o regresso efetivo do capitalismo liberal e globalizado. A globalização inscreve-se num processo histórico longo e complexo, as suas causas são múltiplas, de ordem política, demográfica e tecnológica, entre outras. Caracteriza-se como um desdobramento cíclico das circustâncias econômicas e sociais na história das civilizações. A primeira etapa deu-se com o expansionismo mercantilista (1450-1850), a segunda etapa é a denominada Revolução Industrial (18501950), a terceira etapa foi a financeira (1950-1980) e a mais recente iniciada após 1980 com a globalização tecnológica7. Com a abertura do comércio internacional muitos países alcançaram um desenvolvimento em grande escala, o que não aconteceria em outros momentos e outras circunstâncias. Com o processo de globalização, o cenário mundial sofreu alterações ao longo do tempo, a vida das pessoas em todo o mundo estão em constante esforço para se adaptarem as necessidades que a sociedade impõe, reduziu-se as distâncias entre as nações, a comunicação agora é instantânea, a informação hoje é acessível á grande parte da população. Tudo isso é reflexo do processo de globalização. Existem divergências de opiniões a respeito da globalização, é natural que surja, diante de tantas mudanças, algumas benéficas e outras nem tanto, é importante que tenham opiniões e até posicionamentos muitas vezes contrários. Os mais conservadores e desacreditados, argumentam que a oposição está pautado nas questões como o aumento das diferenças sociais, a pobreza extrema persistente em algumas regiões do continente africano, o protecionismo dos Estados Unidos diante das outras economias, a má divisão das riquezas obtidas, etc. Outros argumentos utilizados são baseados na enorme interdepência dos mercados, aumento do risco de uma crise sistêmica, como a do subprime, que afetou diretamente a estabilidade econômica dos países, como temos verificado nestes últimos tempos. Acusam as grandes economias como a norte-americana de medidas egoístas de benefício exclusivamente individual, como exemplo, da insistência e da pressão feita sobre países em desenvolvimento para que esses eliminassem suas próprias barreiras alfadegárias, entretanto, manteve as suas barreiras e reforçou suas limitações a 7 ARRIGHI, G. O Longo Século XX. São Paulo: Saraiva. 1996. 6 importanções e garantindo sua posição de fovorecido. Os bancos ocidentais cresceram imenso neste últimos tempos com a abertura comercial, e os mercados “emergentes” como a América Latina e a Ásia sofreram imensamente com a inconstância do mercado especulativo e com a rapidez de entrada e saída de capital enfraquencento substancialmente as moedas locais destas regiões. Contudo, outros se adaptaram e tiraram proveito econômico deste processo. As empresas multinacionais tem contribuído para este processo ao impulsionarem a circulação de produtos, capitais, serviços, pessoas e tecnologias além das suas fronteiras. A globalização tem seus pontos negativos que são inquestionáveis, contudo, os pontos positivos são infinitamente superiores e a evolução do processo de integração fez surgir blocos regionais e possibilitou que os bens, os serviços, o capital e as pessoas circulem sem barreiras artificiais, estes são apenas alguns exemplos dos reflexos benéficos deste processo. Joseph E. Stiglitz8 (2002) em sua obra expressa que: “temos um sistema que poderíamos definir como uma gestão global sem um governo global, onde algumas instituições como banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, Organização Mundial do Comércio e alguns agentes como Ministério das Finanças, do Comércio e da Indústria estritamente ligados a certos interesses comerciais e financeiros, dominam a cena (…)”. É importante pensar no caminho a seguir, nos passos a dar em relação a criação de "poderes internacionais", quais interesses por eles defendidos. Ou seja, todo o rumo da globalização deve ser mais bem elaborado de forma, que todos os países sejam ouvidos de forma igualitária, para que seja possível encontrar um caminho mais equilibrado e mais justo deste processo natural evolução humana denominada "globalização". 2.2. Globalização Econômica O processo de globalização encontra-se hoje, numa nova e complexa fase que oferece grandes oportunidades aos agentes econômicos. Após uma primeira etapa relacionada com a internacionalização da economia nos anos 20, a aposta na globalização ganhou força em Washington em 1939, quando o U.S. Council on Foreign Relations começou a reunir os profissionais de política externa 8 STIGLITZ, Joseph E. Globalização a grande desilusão. Edição 2002. 7 para debater a economia mundial no pós-guerra e no período que se seguiria. Desses encontros surgiram a recomendação para uma abertura do fluxo de pessoas, bens e serviços. Os acordos de Bretton Woods de 1944 que levaram à criação do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional que impulsionou o desenvolvimento econômico através de comércio livre. Os EUA dominou o mundo e postura idêntica tinha sido defendida um século anterior pela Grã-Bretanha, quando este país dominava a economia mundial. Em 20 de Janeiro de 1949, o presidente americano Harry Truman chamou a atenção no discurso inaugural ao Congresso para as condições em países pobres, a que chamou publicamente pela primeira vez, subdesenvolvidos. Esta posição americana foi partilhada com outros personagens de destaque no contexto social do período, estes concebiam o mundo como uma arena em que nações competem por melhor posição no ranking do PIB no mundo. Os Estados da OCDE9 realizaram reformas de liberalização econômica indispensáveis para atrair os investidores estrangeiros e para obter empréstimos e garantias de organismos financeiros internacionais. Os países em desenvolvimento que solicitaram incentivos e ajudas, acabaram por contribuir imenso, de certa forma, para o processo de globalização. O Banco Mundial esteve ativamente neste programa de ajustamento estrutural a concessão de empréstimos, juntamente com o FMI que tornaram-se essenciais no processo de globalização. Os países que aceitavam os empréstimos, tinham que fazer um conjunto de reajustamentos anti-protecionistas, como privatizar, desregulamentar, cortar barreiras alfandegárias, desvalorizar a moeda nacional, não aumentar salários. Fato que conduziu a maior internacionalização da economia a partir da década de 70. As instituições bancárias ganharam imenso neste últimos tempos, tornando-se mais difícil o controle. A compra, venda e o empréstimo de produtos monetários tornou-se um negócio em si só. Presenciou-se o fim dos últimos laços do dinheiro com o território de origem10. É neste contexto que os EUA lideraram o desafio internacional de controlar os mercados financeiros, em nome da eficiência e da equidade, exigiam que os bancos 9 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Disponível em: http://www.oecd.org/statsportal/. 10 FRANCO, Gustavo H. B. A inserção externa e o desenvolvimento. Vol. 18, n. 3, São Paulo: Revista de Economia Política, julho-setembro 1998. 8 estrangeiros recebessem o mesmo tratamento em todo o mundo. Após 1989, com o fim da Guerra Fria, libertou-se a comunidade internacional de dependências ideológicas constrangedoras referentes a globalização, a vitória do ocidente substituiu o protecionismo econômico, já desacreditado, defendido pela exURSS. Os mercados já consolidados ou emergentes da Europa, América e Ásia começaram a integrar-se, aprofundaram zonas de comércio livre como a União Europeia, NAFTA, MERCOSUL ASEAN, e APEC. Ficava de fora a China, que segundo alguns indicadores já estava a se tornar uma grande potência econômica mundial. A globalização econômica em curso, levou-se a concluir que as forças do mercado sustentariam um crescimento econômico permanente e a longa marcha da humanidade estava a atingir a certeza que a vitória seria da sociedade de consumidores. Em Junho de 1992, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), abriu com o panorama de quase cinquenta anos de história de globalização no pós-guerra. Resultou nos pedidos dos países em desenvolvimento, para que houvesse melhores transferências de tecnologia, e um maior alívio da dívida externa, além de uma ajuda multilateral11. Após sete anos de negociações no GATT12, os governos participantes cederam aos encantos aliciantes da globalização, de certa forma, as solicitações dos países em desenvolvimentono, assinando em 1995 acordos que deram origem a Organização Mundial do Comércio (OMC). A OMC surge neste contexto, com a missão de regular o papel das empresas no mercado mundial, através das normas internacionais, atuando na regularização dos problemas do comércio internacional, das políticas de competição dos investimentos internacionais, e da liberalização das trocas. O novo regime de comércio livre da Organização Mundial do Comércio (OMC), levou a criação de condições globais para transferências maciças, este processo foi acelerado por medidas sucessivas de desregulamentação e liberalização dos mercados financeiros que encorajavam a globalização. Os mercados e os sistemas mais liberais tendem a ser abertos, providenciando maior facilidade de acesso, maior transparência de preços e de informação. Mas este ambiente global, é de alguma forma, favorável ao ataque dos especuladores. 11 Organização das Nações Unidas (ONU). Disponível em: http://www.un.org/. O General Agreement on Tariffs and Trade (GATT) foi estabelecido em 1947, tendo em vista harmonizar as políticas aduaneiras dos Estados signatários. 12 9 A evolução deste processo, resultou em um grau maior de competitividade no comércio de bens e serviços mundiais e um aumento do movimento internacional de capitais. Maior disputa de Investimentos Diretos, oriundo de uma maior participação de mercados emergentes, como exemplo, a China. Assim, o dinheiro perde relação ao mundo concreto de bens e serviços nacionais e locais, o valor do dinheiro fica totalmente flutuante dependente de decisões de investidores e especuladores, podendo originar as bem conhecidas crises bolsistas. Uma vez analisados os problemas provocados pela globalização, é importante que os países inseriram-se de forma específica, atendendo necessidades próprias de cada país. Antes de tudo, é necessário que se tenha um projeto interno de desenvolvimento bem explícito, atendendo as prioridades desejadas pela sociedade, uma vez desenhado tal projeto, cuja discussão e execução devem ser encaminhadas pelo Estado, será possível preparar uma inserção na globalização mais afetiva e adequada à realidade de cada país. 3-INVESTIMENTOS DIRETOS ESTRANGEIROS O Investimento Direto Estrangeiro é um tema de grande importância na economia internacional, envolve todos os movimentos internacionais de capitais e levanta uma problemática ligada a estratégia das empresas transnacionais no aproveitamento de recursos. Segundo o Fundo Monetário Internacional- FMI13: “os investimentos diretos internacionais são os efetuados com finalidade de adquirir interesses duradouros numa empresa, na qual exerce as suas atividades no território de uma economia distinta do investidor, onde o investidor adquire poder de decisão efetivo na gestão desta empresa”. O código de liberalização dos movimentos de capitais da OCDE14, o investimento direto internacional é efetuado com o objetivo de estabelecer elos econômicos duráveis 13 Fundo Monetário Internacional (FMI). Disponível em: http://www.imf.org/external/index.htm A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional de 31 países que aceitam os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. Os membros da OCDE são economias de alta renda com um alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e são considerados países desenvolvidos. Teve origem em 1948 como a Organização para a Cooperação Económica (OECE), liderada por Robert Marjolin da França, para ajudar a administrar o Plano Marshall para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial. Disponível em: http://www.oecd.org/ 14 10 com uma empresa, tais como, investimentos que possibilitam exercer uma influência real, na gestão da empresa através da criação ou extensão, de uma filial ou sucursal, pertencente exclusivamente ao empregador de fundos, ou da aquisição integral de uma empresa já existente. Nestas perspectivas, o fluxo de investimentos internacional é igual ao saldo da balança de transações correntes, o IDE (investimentos diretos estrangeiros) de um país é a soma positiva ou negativa, revelando os recebimentos/pagamentos. Trata-se de uma noção líquida, distinguindo-se dos movimentos de capitais, que dizem respeito as entradas e saídas de capitais. Na verdade o IDE é representado pelo somatório dos haveres, bens e créditos, que os investidores de um país detêm em outro país. Tem portanto, duas características essenciais: é monetário, por se tratar de um montante de capital transferido de um país para o outro; e não há restrição quanto a destinação final do capital15. As transferências e transacções são livres, com exceção do investimento que tem caráter exclusivamente financeiro, cujo objetivo é dar ao investidor acesso direto ao mercado financeiro. A base jurídica do Investimento Direto Estrangeiro está nos instrumentos bilaterais ou multilaterais, os instrumentos bilaterais visam encorajar e proteger os investidores, já os instrumentos multilaterais tem amplitude mundial e visam equilibrar os direitos e deveres dos investidores e dos Estados de origem dos investimentos. Quando assume caráter regional, a finalidade é de promover zonas de cooperação, ou seja, de integração16. Por regras de tratamentos, as de direito interno ou de direito internacional, que definem o regime jurídico do investimento internacional, desde o momento da sua constituição até o momento da liquidação17. A área de negociação dá origem ao que chamamos de regime de investimentos, que deve comportar obrigações recíprocas, entre os países de origem e os de acolhimento, transferências tecnológicas, modo de repatriamento de dividendos e recuperação do capital investido. As regulamentações regionais de investimentos estrangeiros são normalmente 15 BRAGA, José Carlos de Souza; TAVARES, M. C. (et tal). Financeirização global - O padrão sistêmico de riqueza do capitalismo contemporâneo. Poder e Dinheiro. Uma economia política da globalização. Petrópolis: Vozes, 1997. 16 Banco central do Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/. 17 European Investiment Bank. Disponível em: http://www.bei.org/. 11 orientadas de acordo com o país de acolhimento e o conteúdo jurídico varia consideravelmente de país para país. É inegável que os investimentos contribuem de forma benéfica aos países de acolhimento, benefícios financeiros onde há uma acumulação de capitais, além disso, um investimento de sucesso acaba por atrair novos investimentos. Existem formas dos Estados adotarem medidas para maior atração de investimentos estrangeiros, já que em muitos casos, encorajar o investidor é uma tarefa árdua, diante das instabilidades macroeconômicas e das diferenças culturais e variações jurídicas que existem de um país para o outro. Em muitos setores de bens e serviços a exportação destes produtos pode ser uma alternativa altamente lucrativa e viável para as empresas, sendo assim, faz-se a explicação destas dificuldades enfrentadas pelas empresas ao expandir além fronteira seus negócios, principalmente, no caso dos investimentos diretos estrangeiros, se optarem pela implementação da modernização das filiais estrangeiras e não das matrizes. As teorias macroeconômicas são diversificadas no que se refere ao tema de investimentos diretos estrangeiros. Para Elias Gannagé18 (1985), em sua obra, há cinco principais grupos de teorias explicativas: a primeira denominada teoria do comportamento oligopolístico; a segunda teoria baseada na aversão aos riscos; a terceira teoria tem como base a informação; a quarta teoria eclética de base cíclica e a última teoria é a eclética contemporânea. Para Dunning19 (1993), descreve quatro formas de explicar este processo de atração de investimentos, e separa: a primeira teoria baseada em busca de recursos, a segunda teoria na busca de mercados, a terceira na busca de eficiência e a última teoria na busca de ativos estratégicos. Apesar da identificação com a segunda corrente, com as quatros formas de atração, é importante reter que os investidores observam todos os aspectos disponíveis e vão em busca de maiores incentivos e uma maior facilidade a nível de barreiras alfandegárias, onde o lucro será maior, variando de acordo com o setor que a empresa atua. Logo, a política de atração de investimentos diretos estrangeiros buscam contemplar de forma diferentes diversos elementos que possam influenciar na escolha do 18 GANNAGÉ, Elias. Economie de I'endettement internacionais-théories et politiques, puf, pag 25 a 115. DUNNING John. American Investiment in Britsh Manufacturing Industry, new revised and Updated Edition, 1993. 19 12 investidor, inclusive, o aspecto jurídico que é de grande importância. O principal efeito é na poupança interna, onde o ambiente favorável ao investimento reforça as estruturas financeiras do país de acolhimento, por exemplo, os Estados organizam suas estruturas internas, mas normalmente, não conseguem gerir suas empresas de forma eficaz, sendo necessário um processo de privatização, como forma de recuperação destas empresas, neste aspecto a iniciativa privada possui uma gestão mais eficiente. No entanto, é necessário preencher alguns requisitos legais para que estas privatizações possam contribuir para o crescimento econômico. O Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional abordaram estas questões, como perspectiva essencial para um acesso a auxílios financeiros destas economias. O Investimento Direto Estrangeiro é um componente fundamental da nova fase da globalização, pois segundo opinião de países como os Estados Unidos da América, o crescimento gerado através de medidas como liberalizações e privatizações, juntamente com a macro estabilidade, geram fatores de atração de investimentos estrangeiros, o que ocasiona um maior crescimento econômico. As empresas estrangeiras trazem, inovações tecnológicas, acessos mais rápido ao mercado externo, melhores fontes de financiamentos que são de extrema importância para os países, além de criar novas oportunidades de emprego e fomentar a economia do país receptor. O Investimento Direto Estrangeiro, é sem margem para dúvidas, um dos protagonistas do desenvolvimento econômico da maioria dos países em desenvolvimento20. 3.1. Tipos de investimentos No que é referente a classificação, com base na decomposição das operações, recebem as seguintes denominações: 3.1.1 Investimento Privado, Iinvestimento Público ou Investimento Misto Os investimentos privados são aqueles realizados por agentes econômicos ou por uma empresa. Os Investimentos Públicos são aqueles realizados pelos Estados ou Organizações Internacionais. E o Investimento Misto, é a combinação de ambos anteriores. 20 STIGLITZ,Joseph E. Globalização a grande desilusão, , edição 2002. 13 Os Investimentos Privados podem ser divididos em investimentos comerciais e investimentos industriais, ambos tem o objetivo de penetração nos mercados internacionais. O investimento comercial está ligado a exportações com menores saídas de capitais, já o investimento industrial acarreta, normalmente em fluxos de reimportação e transferência de tecnologia. 3.1.2 Quanto à duração Admite-se o investimento curto (inferior a um ano), médio (entre 1 e 5 anos) e a longo prazo (acima de 5 anos). 3.1.3 Quanto à Forma Encontramos aqui, os donativos, que são realizados pelos Estados, e tomam forma de auxilio público ao desenvolvimento. Os investimentos de contrapartida possuem três modalidades: empréstimos (abragem toda espécie de créditos), investimentos de carteira (aquisições de ações, obrigações ou titúlos de tesouro nos mercados financeiros) e o investimento direto (implica a criação de controle de empresas). 3.1.4 Quanto ao critério do tipo Os investimentos de mercado (efetuados no mercado financeiro) e os investimentos fora de mercado, em todos os tipos de investimentos internacionais, há uma circulação de moedas que leva a poupanças nacionais em todo o mundo, apoiando empresas internacionais, facilitando trocas deficitárias em alguns países que sustentam as finanças públicas de outros, fator que contribui para a integração do mercado financeiro mundial. Há aspectos a serem considerados, que estão ligados diretamente aos Investimentos internacionais, tais como: Segurança e risco, rentabilidade (lucro), valorização (parâmetro que ultrapassa o rendimento e a segurança do investidor, para atender o fenômeno inflacionista), conversibilidade e fácil administração. 3.2. Balança de Pagamento e Balanço de Pagamento O balanço de pagamento distingue-se de Balança de pagamento, o primeiro é o 14 controle de todas as entradas e saídas de capitais de um país, neste estão contidos o balanço de transações correntes (balança comercial, transferências, etc…). Na Balança de pagamentos que são registados todos os movimentos financeiros são decorrentes das relações econômicas ocorrida entre um determinado país e o resto do mundo, nesta se inclui as exportações e as importações. Fazendo uma análise micro-econômica, estuda-se o impacto do investimento internacional como fenômeno de fato, neste caso, enquadra-se os ativos reais como equipamentos, propriedade, patentes, “stock”, etc…). Através de uma análise mais profunda, macroeconômica, equaciona projeção do investimento sobre a balança de pagamentos, aqui incluí-se os planos financeiros, com forma de análise do fluxo. Nos países de acolhimento, há uma discussão importante, uma preocupação com a existência, muitas vezes, de um nacionalismo exacerbado, como efeito imediato dos benefícios trazidos pelo aumento do rendimento nacional e pelo aumento de empregos, consequentemente maior bem-estar social. 4-PLANO REAL O Plano Real foi uma medida adotada de estabilização econômica, cujo objetivo primário era superar um problema crônico da economia brasileira, a hiperinflação. Conjugou-se condições políticas, históricas e econômicas para permitir que o governo brasileiro lançasse, ainda no final de 1993, a base deste programa. Organizado em etapas, o plano resultaria no fim de quase três décadas de inflação elevada e na substituição da antiga moeda pelo Real, a partir de primeiro de julho de 1994. Os antecedentes histórico levaram o Governo Federal, implementar um conjunto de medidas econômicas que ficariam conhecidas como Plano Real. Em 1992, somente quatro países no mundo tiveram inflação superior a 1.000 por cento: a Rússia, a Ucrânia, o Zaire e o Brasil. Neste último, o país ficou mergulhado durante anos numa dura crise econômica, cuja raiz era fiscal. A inflação crônica foi o maior obstáculo, que impedia que o Brasil voltasse a crescer de forma sustentada e pudesse, finalmente, começar a saldar a imensa dívida social que acumulou, para com seu povo durante décadas de desenvolvimento excludente e inflação alta, marcada por uma das mais brutais concentrações de renda 15 que se teve notícia no mundo contemporâneo. A causa fundamental da "doença" inflacionária brasileira era a desordem financeira e administrativa do setor público, os seus múltiplos sinais são: falta de recursos para o custo dos serviços básicos e para os investimentos do governo que são indispensáveis ao desenvolvimento do país, vazamento dos escassos recursos da República devido ao desperdício, a ineficiência, a corrupção, a sonegação e a inadimplência, o endividamento descontrolado dos Estados, Municípios e bancos estaduais, exacerbação dos conflitos distributivos a todos os níveis21. Para evitar a falta de êxito que outras políticas anti-inflacionárias tiveram, notadamente, o Plano Cruzado, fazia-se imperativo o estabelecimento de uma solução definitiva para os problemas. Neste contexto, o Programa de Estabilização Econômica ou Plano Real foi concebido e implementado em três etapas: a) o estabelecimento do equilíbrio das contas do Governo, com o objetivo de eliminar a principal causa da inflação brasileira, que era a desordem das contas públicas; b) a criação de um padrão estável de valor que denominamos Unidade Real de Valor URV; c) e a emissão desse padrão real de valor como uma nova moeda nacional de poder aquisitivo estável, o Real22. A primeira etapa, de ajuste das contas do Governo, teve início em 14 de junho de 1993, com o programa de Ação Imediata-PAI, que estabeleceu um conjunto de medidas voltadas para a redução e para maior eficiência dos gastos da União neste exercício, reorganizou a recuperação da receita tributária federal, equacionou as dívidas de Estados e dos Municípios, assim como a da União. Possibilitou-se um maior controle dos bancos estaduais, e deu-se início o saneamento dos bancos federais e aperfeiçoamento do programa de privatização. A segunda etapa do programa de estabilização foi inaugurada com a publicação da Exposição de Motivos nº 395 de 7 de dezembro de 1993, que definiu as linhas gerais do programa e teve continuidade com a edição da Medida Provisória nº 434, de 28 de fevereiro de 1994, aprovada pelo Congresso Nacional na forma de Lei nº 8.880, de 27 de maio de 1994, que criou a URV23 e previu sua posterior transformação no Real. 21 GONÇALVES, Reinaldo. O Brasil e o Comércio Internacional. Transformações e perspectivas. São Paulo: Contexto Editora, 2000 22 CARNEIRO, Ricardo. Desenvolvimento em Crise – A economia brasileira no último quarto do século. São Paulo: XX.UNESP,IE/UNICAMP, 2002. 23 Unidade Real de Valor ou URV foi a parte escritural da atual moeda corrente do Brasil, cujo curso obrigatório se iniciou em 1º de março de 1994. Foi um índice que procurou refletir a variação do poder aquisitivo da moeda, servindo apenas como unidade de conta e referência de valores. Teve início juntamente 16 Neutralizada a principal causa da inflação, que era a desordem das contas públicas, a criação do URV proporcionou aos agentes econômicos uma fase de transição para a estabilidade de preços. Padrão de valor que se integrou ao Sistema Monetário Nacional, com sua cotação fixada diariamente pelo Banco Central do Brasil com base na perda do poder aquisitivo do Cruzeiro Real, a URV veio restaurar uma das funções básicas da moeda, destruída pela inflação: a função de unidade de conta estável para denominar contratos e demais obrigações, bem como para referenciar preços e salários. A terceira fase do Programa de Estabilização Econômica, ou ainda, a entrada em vigor da nova moeda o Real, constitui um marco fundamental na direção do objetivo nacional de retomada sustentada do crescimento com estabilidade de preços. A estratégia do Plano Real consistiu basicamente na fixação da taxa de câmbio, controle dos preços, na ampla abertura financeira para facilitar o ingresso de capitais e na elevação da taxa doméstica de juros, como atrativo de novos capitais e como elemento de contenção da demanda e dos preços internos. Fazia parte da mesma estratégia, acelerar o processo de privatização, que funcionaria como novo estímulo aos investimentos externos e também como reforço fiscal do Caixa do Tesouro. A fixação do câmbio e a imediata valorização da moeda nacional face ao dólar inverteu a tendência da balança comercial, que era fortemente positiva e logo começou a apresentar elevados déficits, especialmente em decorrência do aumento das importações24. Gustavo Franco25, presidente do Banco Central no período, descartou haver uma defasagem cambial, dizendo que a mesma só poderia existir numa economia fechada, como havia sido a brasileira no passado. Além disso, um déficit inicial em conta corrente seria até benéfico, ao aportar nova poupança externa ao desenvolvimento brasileiro, pois parte das importações era constituída de bens de capital, o que reforçaria os investimentos e aumentaria a produtividade da economia. Os novos fluxos de capitais teriam também a virtude de operar uma reestruturação produtiva da economia brasileira, ao remodelar novo ciclo de investimentos e, por consequência, de desenvolvimento nacional. com o Cruzeiro Real (CR$) até o dia 1º de julho de 1994, quando foi lançada a nova base monetária nacional, 24 Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA). Disponível em: http://www.bovespa.com.br/. 25 Banco Central do Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/. 17 O novos investimentos, mais intensivos em tecnologia, fortaleceriam a produtividade, e, por consequência, a competitividade externa da economia, elevando as exportações e reduzindo as importações, ou seja, o governo parecia apostar que o ajuste espontâneo e gradual da balança comercial afastasse os riscos de crise e, com isso, permitisse a continuidade da política cambial. O programa de estabilização que foi colocado em prática em 1994, serviu como método para alcançar mais rapidamente a estabilização dos preços através da fixação do valor da moeda tanto no campo interno como no campo externo. O valor externo é definido através da relação de equivalência ou taxa de câmbio da moeda local em relação a moeda referência externa, no caso o dólar. Já a moeda doméstica é definida pelo poder de compra. É comum a utilização compulsória de uma moeda externa como referencial, para que esta substitua de imediato a moeda interna em momentos necessários, no caso brasileiro, a moeda norte-americana cumpre está função como forma de garantir o processo de estabilzação. A estabilidade pressupõe um valor nominal invariável de determinados bens representativos, conforme os preços desses bens em moeda externa, uma variação de valor externo de moeda se traduziria numa variação equivalente ao valor da moeda doméstica, isso serve como âncora cambial do processo de estabilização de um conjunto de preços de uma economia comercializável. A taxa de câmbio é uma das bases de uma economia e está diretamente relacionada com á importância da moeda externa como forma de reserva de valor, no caso brasileiro, devido a complexidade da sua economia doméstica e das relações financeiras, a taxa de câmbio foi relacionada diretamente com a taxa de juros de curto prazo, onde a inflação, ou seja, a variação do valor interno da moeda, seria explicada pelos fatores responsáveis pela instabilidade da taxa de câmbio. Os desequilíbrios dos financiamentos do setor público, acabam por gerar a perda do valor interno da moeda e por exigir um reajuste do valor externo. Do ponto de vista de Ricardo Carneiro26, em sua obra "Desenvolvimento em crise", a âncora cambial serve como artifício para deter o processo inflacionário, para que haja um impacto direto no rejuste dos preços por via dos bens comercializáveis, ou até mesmo impacto indireto indexador, mas insuficiente. As teorias ortodoxas defendem que há uma relação entre déficits e taxa de 26 Op. Cit. Pag. 16. 18 inflação, mas a versão contemporânea utiliza como base as expectativas racionais (1994), e entende que é irrelevante a forma que é feito o financiamento público por moedas ou títulos. Entretanto, a diferença entre as duas teorias, está baseada na hierarquia entre os fatores determinantes da inflação onde para a teoria ortodoxa há o reconhecimento do papel direto e indireto da taxa de câmbio na realimentação da inflação, onde as razões essenciais estão ligadas ao déficit e dívidas públicas excessivas. O ponto de visto heterodoxa é o inverso, a inflação origina-se das variações das taxas de câmbio e seus impactos diretos e indiretos nos preços, bem como os efeitos da deteriorização das contas públicas. A mudança operada na inserção externa brasileira, do ponto de vista financeiro, houve uma abertura que atraiu financiamentos externo em grande escala até 1997, fato que permitiu uma superação de escassez de divisas típicas da década anterior que demonstrava o baixo valor das reservas internacionais e a instabilidade da taxa de câmbio. Esta abertura permitiu uma ampliação no acúmulo das reservas domésticas internacionais, assegurando o valor externo da moeda. Colocados os pressupostos mais gerais da estabilização, bem como seus principais instrumentos, caberia um análise dos resultados do ponto de vista da inflação e preços relativos, bem como das principais variáveis macroeconômicas, isto é, do câmbio, dos juros e salários. Após a fase inicial de alinhamento de preços relativos, todos os preços expressos obrigatoriamente em reais a partir de Julho de 1994, ficou então caracterizada a queda permanente da inflação na nova moeda, mas já se evidenciara na unidade de conta (URV). Apesar disso, a taxa de inflação ainda continuou expressiva durante os dois anos seguintes, caindo para um dígito anual apenas no início de 199727. A morosidade na queda da taxa de inflação deveu-se, sobretudo, ao lento declínio dos preços dos bens não comercializáveis, que caíram muito mais rápido. Dado o mecanismo de alinhamento de preços estabelecido pela URV, é pouco provável que essa inflação residual tenha sido produzida por descoordenação. Foi produto da ancoragem cambial e da abertura comercial que internalizou um vetor de preços externos para os bens comercializáveis, em simultâneo com o crescimento do nível de atividades que permitiu um aumento dos preços dos bens não comercializáveis. Portanto, a mudança de preços relativos, que já vinha ocorrendo desde o início da década por conta da abertura, acelerou-se na fase da URV em razão do aquecimento do nível de 27 Ministério da Fazenda. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/. 19 atividades. A fixação da taxa de câmbio nominal permitiu, assim, que a moeda nacional recuperasse a sua função de padrão de preços, para o conjunto dos bens comercializáveis, a estabilização dos preços é imediata. Eles estão cotados internacionalmente e seus valores na moeda doméstica são estabelecidos multiplicandoos pela taxa de câmbio. Como a taxa é fixa, os preços tornam-se estáveis, excetuando-se momentos de eventuais choques quando mudam as condições no mercado internacional. O subconjunto dos bens não comercializáveis possui outra trajectória, por outro lado, cessam os mecanismos de indexação, o que detém o crescimento absoluto dos preços. Todavia, como as condições de sua determinação são preponderantemente internas, pode haver alteração desses preços como decorrência da evolução da trajetória da economia. A rapidez com a qual a estabilidade ocorre, depende, portanto, da mudança de preços relativos que acompanha os programas de estabilização. Essa mudança, por sua vez, depende essencialmente da participação dos bens comercializáveis na oferta doméstica. Considerada a questão através deste ponto de vista, percebe-se que a abertura comercial constitui outro importante instrumento de estabilização dos preços internos, de um lado aumentou a participação dos bens comercializáveis no conjunto de preços domésticos, e de outro criou-se um limite ao reajuste interno de preços em razão da concorrência potencial das importações. Como se pode observar, a relação câmbio/salários é fortemente declinante entre 1991 e 1995, estável no triénio 1996-1998 e cresce em 1999-2000 por força da desvalorização cambial. A mudança na relação câmbio/salários, resulta da fixação do primeiro num contexto de inflação residual e do aumento do salário nominal acima da inflação, que dá uma pálida idéia das mudanças de preços relativos ocorridas durante a década de 1990 e, sobretudo após o plano de estabilização. As transformações ocorridas na economia brasileira na década de 1990, mais precisamente a abertura comercial e as privatizações, foram as duas principais razões para as mudanças de preços observados no Brasil. Fatores circunstanciais ou cíclicos, como a apreciação cambial ou o breve e intenso ciclo de crescimento após o Real, foram desse ponto de vista, relevantes, mas secundários. Em consideração aos preços dos anos após o Real, sugere a existência de duas grandes modificações: o declínio dos preços de bens industrializados e o aumento dos 20 preços dos serviços públicos e privados. Eliminando-se o componente cíclico dessas mudanças pelo exame do ocorrido após a desaceleração do crescimento e desvalorização do câmbio, evidencia-se a permanência das duas primeiras tendências, ou seja, a baixa de preços dos produtos industrializados em razão da abertura, vale dizer, do aumento de importações ou compressão das margens de lucro e o encarecimento dos serviços públicos privatizados constituem a grande mudança estrutural. Os conjuntos de preços com maior declínio relativo, foi aquele referente a alimentação, essa diminuição ocorre tanto na fase de expansão da economia e apreciação cambial quanto na de depreciação do câmbio e estagnação do PIB, sugerindo assim, tratar-se de um processo de profundidade. O mesmo padrão é observado para os itens componentes de artigos de residência (móveis e utensílios de higiene pessoal), vestuário, cuidados pessoais e recreação. É indiscutível que esses produtos, originados na sua quase totalidade do setor privado empresarial e industrial, foram objeto de mudanças significativas durante a década, tenham estas sido originadas da concorrência das importações, da modernidade tecnológica ou organizacional. No outro pólo, entre os preços com aumento superior à média, indicando seu encarecimento, e de forma permanente, independentemente dos fatores circunstanciais, estão aqueles referentes aos chamados serviços públicos, com destaque para energia elétrica, transporte público e comunicações e telefone. Todos esses serviços têm em comum, o fato de serem fornecidos por empresas privadas, em substituição às antigas empresas estatais, a mudança de propriedade determinou, num primeiro momento, a substancial elevação de preços e tarifas em termos reais e, posteriormente, a indexação pelo índice geral de preços, como tentativa de manter seus valores em dólares. Um dos impactos mais negativos do programa de estabilização, foi a apreciação do câmbio visível na evolução da relação câmbio/salários e na taxa de câmbio, essa valorização cambial já vinha na fase da URV. A aceleração da inflação decorrente da introdução dessa última, implicava uma defasagem entre os índices de preços usados para corrigir a URV e a inflação real, ou seja, o poder de compra de uma URV, medido por uma cesta de bens, reduziu. Como o câmbio estava colado na URV, pode-se deduzir que o seu poder de compra também diminuiu, ou ainda, houve uma desvalorização do dólar no período. No mês imediatamente posterior ao plano, houve uma apreciação adicional da nova moeda por conta da queda nominal da cotação do dólar. A continuidade da entrada de recursos externos e a saída momentânea do Banco Central do mercado, produziram 21 um excesso de ofertas de divisas e a queda de cotação. O objetivo implícito dos gestores de política econômica era obter uma queda mais rápida da taxa de inflação. A rigidez nominal da taxa de câmbio, uma vez alcançado o piso, significava que a taxa real se apreciaria em razão do ritmo de crescimento dos preços domésticos, esse regime cambial prevaleceu até Março de 1996, quando, pressionado pela crise do México, o Banco Central definiu um novo regime de bandas de flutuação, que consistiu na prática na indexação do câmbio à inflação corrente após uma mini-desvalorização de 5%. De acordo com cálculos do DIESP, desde o início do plano até a mudança, houve uma apreciação do real da ordem de 20% perante o dólar e de 16% diante da cesta de moedas. Do ponto de vista dos salários, a estabilidade de preços e o aquecimento da economia foram, sem dúvida, os agentes principais da mudança da taxa de salários na economia. O rendimento real deflacionado pelo INPC (índice nacional de preços ao consumidor), ou seja, o seu poder aquisitivo medido diante de uma cesta ampla de bens, aumentou 32% entre 1993 e 1998. Durante os primeiros meses de estabilização a manutenção de altas taxas de juros nominais serviu a um duplo propósito, e um lado garantiu, em razão das incertezas sobre a trajetória da taxa de inflação, a manutenção das taxas reais internas num patamar elevado, evitando o crescimento excessivo da demanda agregada e a fuga para ativos reais. De outro, proporcionou, conjuntamente com a apreciação cambial em curso, um cupom cambial bem maior do que a taxa interna, garantindo assim, o influxo de capitais e a sustentação de taxas de juros muito altas durante um período muito longo, sobretudo após o declínio da inflação, está relacionada à apreciação do câmbio. Para lidar com a questão dos juros, é necessário trabalhar com três taxas distintas: para aplicações domésticas, a taxa medida em dólar (cupom cambial) e a taxa medida em real (taxa interna); para as aplicações externas, a taxa diretamente em dólar. No caso das aplicações internas, a primeira define a remuneração do investidor externo e a segunda, a do investidor interno. O cupom cambial (c) resulta da taxa nominal de juros (r) depois de descontada a desvalorização cambial (v). Logo, c=r/v, onde conclui-se que a remuneração do investidor estrangeiro é diretamente proporcional à taxa nominal de juros e inversamente proporcional ao ritmo de desvalorização cambial. Já a taxa real de juros interna (i) resulta da taxa nominal (r) depois de descontada a inflação doméstica (p). Logo, 22 i=r/p. Por fim, a taxa interna é formada pela taxa americana mais o risco-Brasil28. Assim, o que diferencia a remuneração do investidor externo da remuneração do investidor doméstico é a relação entre a taxa de inflação e a desvalorização do câmbio, há de fato, uma interdependência entre as duas taxas, mas numa economia aberta que depende de fluxos de capitais externos existe a necessidade de assegurar um determinado valor para o cupom cambial constitui a restrição a ser observada em última instância na fixação da taxa de juros. Essa remuneração dos capitais externos em moeda doméstica, o cupom cambial, tem como piso a taxa externa. Portanto, os dados oficiais mostram que houve razões de natureza interna para a manutenção das taxas de juros elevadas, acima do patamar definido pelos mercados globais, esses motivos prenderam-se num primeiro momento, à constituição de reservas internacionais expressivas e, num segundo momento, a sustentação de uma taxa de câmbio apreciada num contento restritivo do financiamento externo. Após Março de 1995, em decorrência da crise do México, a mudança da política cambial, com a introdução da indexação da taxa de câmbio à inflação, combinou-se com a necessidade de realizar uma política doméstica restritiva, para definir patamares elevados para a taxa interna e para o cupom. Essa política durou até o primeiro trimestre de 1996, quando as condições de financiamento melhoraram rapidamente. Mesmo assim, não foi possível diminuir com maior velocidade as taxas nominais internas, porque a valorização prévia que a taxa cambial fazia que os investidores externos embutissem na desvalorização esperada uma taxa superior à da inflação corrente, para cumprir eventual perda decorrente da aceleração das desvalorizações. Esse prémio adicional só poderia ser coberto pela manutenção da taxa de juros nominal em nível elevado. Ao final de 1997, com deterioração das condições internacionais em razão da crise asiática, as taxas de juros voltaram a subir, impulsionadas basicamente pela necessidade de garantir um cupom cambial mais alto. Esse último cresceu por razões externas, ou seja, o contágio da crise asiática que determinou o crescimento do riscopaís, e por razões internas, especialmente o atraso cambial cada vez mais percebido. Assim, as taxas internas só voltaram a cair após a valorização cambial do início de 1999 e, posteriormente, pela melhoria moderada das condições do mercado internacional após os meados desse ano. A sua permanência em patamares elevados, mesmo após a absorção do impacto inflacionário da desvalorização, constitui a melhor evidência da 28 GITMAN, Lawrence J. – Princípios de Administração Financeira – Editora Harbra – 7 edição – 1997. 23 importância dos limites externos à fixação dos juros internos. Como pode ser observado, a implementação do Plano Real resultou em profundas mudanças na economia brasileira, facilmente percebidas pelo impacto na inflação e preços relativos, bem como das principais variáveis macro-econômicas, isto é, do câmbio, dos juros e salários. A reformulação estrutural interna promovida por este plano de estabilização, acarretou numa maior abertura comercial, privatizações, desregulamentação e uma maior recepção de fluxo de investimentos diretos estrangeiros, entre outros aspectos. Dentro de um contexto mundial de transformação econômica, este plano foi crucial para integrar o Brasil à esfera internacional e fazer com que o país passasse a interagir com o resto do mundo, dentro da dinâmica do processo de globalização. 5-IMPACTO ATUAL DO FLUXO DE INVESTIMENTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA No Brasil o capital estrangeiro é regido pela Lei 4.131/62 e Lei 4.390/64 e regulada pelo Decreto-lei 55.762 com suas alterações29. Segundo a referida Lei de Capital Estrangeiro, os investidores que tiverem interesse em investir no Brasil estará sujeito a tratamento jurídico idêntico ao concedido ao capital de origem nacional, em igualdade de condições, sendo proibida qualquer tipo de discriminação. É considerado capital estrangeiro para efeitos legais os bens, as máquinas e os equipamentos, os que tenham entrado no país sem custo inicial nas divisas, destinados a produção de bens e serviços, bem como os recursos financeiros e monetários injetados no Brasil, para aplicação da atividade econômica desde que em ambas situações sejam pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede no exterior. O registo do capital estrangeiro que entra no país, seja sob forma de investimentos direto ou através de empréstimos, quer em moedas ou em bens, é feito através do Módulo RDE (Registo Declaratório Eletrónico), pela Superintendência de Moedas e de Créditos (SUMOC), que posteriormente, foi substituído pelo Banco Central do Brasil30. 29 Lei 4.131 de 3/09/62 (Lei de Capitais Estrangeiros) e Lei 4.390 de 29.08.1964, regulada pelo Decreto-Lei 55.762 de 17.02.1965. 30 Banco Central do Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/. 24 É considerado Investimento Direto Estrangeiro, para fins de Registro, aqueles no qual as participações tenham o objetivo, ou seja o ânimo, de permanecer em território nacional, feita por investidor residente no exterior (pessoa física ou jurídica). O Banco Central não realiza nenhuma análise prévia e nem um registo das operações realizadas pelo investidor (Circular 2.997/00), pois esta função fica a cargo da empresa receptora, ou o representante do investidor. Entretanto, é necessário haver um registo no momento da operação ou após o prazo de 30 dias para que seja possível a posterior remessa ao país de origem do investidor. Para subscrever o capital ou adquirir uma participação em uma empresa já existente no Brasil, não é necessário nenhuma autorização prévia do governo, é o que chamamos de investimento em moedas, para que esta operação seja possível, o investidor deve proceder através de uma instituição bancária devidamente autorizada a operar em câmbio. Contudo, no final do negócio o investidor e a empresa receptora irá necessitar do seu registo no Banco Central para finalizar a operação. Os investimentos por via de conversão de créditos externos, que não sujeitam-se ao registo do sistema de RDE, com base nos recursos, necessitam de uma autorização prévia do DECI (Departamento de combate a ilícito Financeiros e Supervisão de Câmbio e de Capitais Internacionais). Investimentos por via de conversão de créditos externos são transformados em investimentos diretos externos que são aqueles, segundo artigo 8º do anexo da Circular 2.997/00, são utilizados pelo credor não residente para aquisição ou integração de participação de capital social em empresa no país de destino de recursos31. Os investimentos oriundos de importação de bens, sem que haja cobertura cambial realizada, com o intuito de integralização ao capital social podem ser realizado sem aprovação prévia do Banco Central, desde que se trate de um bem tangível. Os bens intangíveis faz-se necessário sujeita-se a prévia autorização do DECIC. A empresa brasileira que importar bens usado, não é permitido que haja similar em território nacional, onde esses bens devem ter aplicações dirigida a projetos que tenham como base o desenvolvimento nacional econômico. As empresas nacionais que importarem bens tangíveis nestas condições, têm 90 dias após o desembaraço da mercadoria para registar o investimento no Banco Central. Já os investimentos destinados ao mercado de capitais, são regidos desde o ano 2000 pela Resolução 2.689 de 26 de Janeiro, onde estipula que qualquer pessoa física ou 31 Ministério da Fazenda, Brasil. Disponível em: http://www.fazenda.gov.br/. 25 jurídica, pode ser investidor nos mercados financeiros ou de capitais no Brasil. O investidor não residente, passa assim a poder com o mesmo registro operar nos mercados de renda fixa e variável quanto migrar para outras aplicações. No registo do investidor não residente deve conter no local apropriado do contrato de câmbio todas as operações realizadas. Em relação aos lucros gerados pelas operações dos investidores no Brasil, desde o ano de 1996, estão isentas de imposto de renda na fonte, não havendo nenhuma restrição em relação a remessa ao país de origem do investimento. Contudo, faz-se necessário o registo da destinação dos lucros no Módulo RDE, observando a participação nas quotas que compõem o capital social integralizado da empresa receptora32. O repatriamento ao país de origem do capital investido registado no Banco Central pode ser a qualquer momento realizado, sem que seja necessário nenhuma autorização prévia. Existe a possibilidade do Banco Central intervir e negar o repatriamento do capital, como exemplo, quando ocorre a diluição do investimento, que é verificado através da análise feita no patrimônio líquido da empresa receptora com base no seu balanço patrimonial. Os órgãos governamentais podem intervir vedando ou restringindo os investimentos diretos internacionais realizados no país em algumas situações específicas, como exemplo, temos: os investimentos em setores como o da energia nuclear, serviços de saúde, serviços dos correios e telégrafos e nas industrias aeroespaciais. Podem ser adotadas medidas restritivas, tais quais: a aquisição, arrendamento ou explorar terras rurais localizadas nas regiões fronteiriças utilizando o argumento que são essenciais para o Estados, e os estrangeiros estão condicionados nestes casos por lei e dependem de aprovação do Congresso Nacional. Há também restrições para acesso a capitais estrangeiros em instituições financeiras, esta questão é regulada por Lei Complementar, já que a restrição pode ser afastada por interesse nacional33. Contudo, vale mencionar a questão do sistema cambial brasileiro, sofreu alterações e reformulações recentemente, como exemplo, a implementação do sistema eletrônico de registro de operações de câmbio através da Resolução CMN n° 3. 265 de FURTADO, Celso. A Nova dependência – dívida externa e monetarismo. São Paulo: Paz e Terra Editora, 1982. 32 33 BELLUZZO, L. G; COUTINHO, L. Desenvolvimento e estabilização sob finanças globalizadas. Campinas: Economia e Sociedade. Dezembro,1996. 26 Março de 2005, alterando o mercado de câmbio de taxas livres, o de taxas flutuantes e de transferências internacionais de reais (TIR) a compreender um mercado único que abrange operações de câmbio, TIR e ouro-instrumento cambial. Neste mercado de câmbio unificado, são feitas todas as operações que viabilizem o comércio exterior do país (importações e exportações), além das transferências oriundas das entradas e saídas de recursos possíveis de registo no BACEN . Os órgãos responsáveis pela fiscalização que regula as atividades das instituições financeiras, bolsas de valores, mercado de balcão organizado, companhia de capital aberto, atividades dos corretores e dos intermediários, fundos de investimentos e companhias, carteira de investimentos, consultores e analistas de mercado é o Conselho de Valores Mobiliário onde as bolsas de valores e o mercado de balcão organizado atuam como instituições acessórias. O Banco Central cuida das políticas monetárias, controle de câmbio, controles dos investimentos estrangeiros dentre outras funções em respeito a Lei nº 4. 595/64. O processo iniciado de privatizações nacionais, deu um imenso impulso para o desenvolvimento econômico nacional nestes últimos tempos e as principais atividades que estão no perfil deste programa de privatização são a de energia elétrica, telecomunicações, instituições financeiras, mineração e metalúrgica, transportes, petroquímicas, estradas, aeroportos, saneamento, tratamento de água, esgotos e despejos industriais34. A partir da entrada em vigor da Lei n° 8.031/90, iniciou-se o processo de privatizações nacionais, onde o governo angariou cerca de 100 bilhões de dólares em recursos com a venda de centenas de empresas. Os resultados recente do mercado financeiro internacional, neste últimos tempos, tem apresentado uma acentuação no índice dos riscos relativo a estabilidade, problemas de origem no mercado de financiamento hipotecário (subprime) norte-americano que desde do final do ano de 2007 que repercurtiu no mercado internacional35. 34 CANDEAS, W. Relações Brasil-Argentina: uma análise de avanço e recuos. Revista Brasileira de Politica Internacional, vol 48, 2005. 35 O relatório anual do Fórum Econômico Mundial elaborado em colaboração com o Citigroup, Marsh and McLennan, Swiss Re e o Wharton School Risk Center – realçava que 15 dos principais 23 riscos mundiais aumentaram em 2006. Em jeito de avaliação, o documento salientava igualmente que, a par do agravamento dos “grandes riscos” que pesam sobre a economia mundial (onde se incluíam, entre outros, os associados ao défice norte-americano, ao mercado imobiliário e ao sobre endividamento das famílias), a capacidade para responder a estes riscos tinha progredido de forma concomitante, o que aumentava a susceptibilidade de perturbações sistêmicas acentuadas. Já há algum tempo receava-se crise do subprime norte-americana acabou por se fazer sentir. O primeiro sinal chegou em Março 2007, com o anúncio de falência iminente da New 27 Os países desenvolvidos como Ásia, Oceânia e Europa também sentiram os reflexos desta crise do mercado de crédito dos Estados Unidos e nenhuma outra economia a dimensão e a dinâmica dos acontecimentos tem consubstanciado riscos para estabilidade dos mercados, do sistema financeiro, assim como, para evolução do PIB (produto interno bruto) como na economia norte-americana. As economias emergentes não sofreram muito esta má influência do mercado, devido ao elevado nível de reservas internacionais e fundamentos macro-econômicos de grande valia, permanecendo mais vulneráveis os países com grande dependência do mercado externo norte-americano e europeu. Os indicadores do mercado financeiro brasileiro tem demonstrado grande eficiência e estabilidade diante da turbulência externa, o que representa a consolidação das conquistas macro-econômicas e o compromisso com a fiscalidade e com o sistema de metas para inflação, permitiu que os investidores enxergasse o potencial e a diferença do Brasil em relação aos demais países emergentes, já que seus índices continuam constantes, pelo menos até os últimos tempos. Diferente do que ocorria anteriormente no cenário internacional, a moeda brasileira apreciou-se em relação ao dólar norte-americano na medida que esta se desvalorizava também perante outras moedas. Diante do influxo cambial, o Banco Central do Brasil intensificou a política adotada de recomposição de reservas internacionais, o que contribuiu para o resultado positivo em colocar o país em condição de credor externo líquido ao final de 200736. Century Financial – banco americano especialista em crédito imobiliário ao segmento “subprime” e um dos maiores do setor – e o consequente despedimento de mais de três mil pessoas. De fato, este florescente segmento de setor – assente em empréstimos concedidos a clientes de “alto risco”, financeiramente mais frágeis e/ou de duvidoso historial creditício – duplicou nos últimos cinco anos nos EUA. Manifesta em Julho último, esta crise hipotecária norte-americana acabou por contagiar o sistema financeiro mundial, em particular o europeu e o japonês. E, a semelhança do que aconteceu com a Reserva Federal Americana (FED), quer na Europa quer no Japão os Bancos Centrais procuraram imediatamente acalmar os mercados, introduzindo grandes somas de liquidez. Na Europa à excepção do Banco de Inglaterra que, curiosamente, se absteve de injetar liquidez no seu sistema financeiro), o Banco Central Europeu (BCE) viu-se obrigado a intervir, assim como no Japão o fez o Banco do Japão (BoJ), embora de forma mais modesta, uma vez que a economia japonesa se encontra muito menos exposta à crise do “subprime”. Contudo, esta ação não evitou um clima de desconfiança generalizada no setor financeiro. A verdade é que a crise arrebatou a banca europeia: as quinze maiores entidades bancárias europeias perderam mais de 100 mil milhões de euros e chega a noticiarse que a banca europeia perde entre 9,5% e 10% do seu valor em Bolsa. O Fundo Monetário Internacional já fez saber que entende que a forte volatilidade dos mercados financeiros mundiais não colocará em causa a estabilidade do sistema, e que as consequências sistêmicas da reapreciação em curso do risco de crédito são geríveis em ambiente de forte crescimento mundial. Não obstante, e preocupados com o futuro, muitos investidores aguardam, com redobrada expectativa, dois importantes 36 Guia Legal do Investidor Estrangeiro no Brasil, 2006. Disponível em: http://www.investimentos.sp.gov.br 28 5.1. Transnacionais (ou Multinacionais) As empresas transnacionais são importantíssimas no processo de globalização econômica, estão implementadas em todo o mundo, mas sediadas num pequeno número de países da OCDE, em particular no grupo G-8(Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá e a Rússia), possuindo orçamentos muitas vezes, superiores ao da grande maioria dos Estados. Realizam operações globais, no que se refere a produção, escoamento de produtos, aprovisionamento, financiamento, promoção dos produtos e política salarial e de emprego. As transnacionais são denominadas pela UNCTAD como: “aquelas empresas que tem como características a lógica de expansão e de acumulação depende de uma estratégia de crescente internacionalização, e que pertencem em grande parte aos países desenvolvido, para onde fazem convergir fundos de investimento. Alcançaram ao longo deste tempo, um grande poder de influência nos processos econômicos, nos mercados financeiros, na nova burocracia do comércio global”37. O processo de aquisições de empresas e de fusões é um fenômeno internacional crescente no mundo, diante das novas necessidades das empresas de transformações, que são muitas vezes necessárias, isso tem impulsionado este processo de globalização. No aspecto microeconômico, numa análise da expansão do campo de atuação das empresas transnacionais ou multinacionais, representam um grande fator de impulsão dos Investimentos Diretos Internacionais e do comércio internacional. Com uma participação acionária igual ou superior a dez por cento das ações comuns ou do poder de voto de uma empresa já é considerada uma empresa transnacional, já a filial estrangeira é uma empresa onde o investidor estrangeiro é proprietário de uma parcela acionária. Já as empresas subsidiárias, coligadas ou filiais são as chamadas filiadas ou filiadas estrangeiras. No contexto internacional prevalece, um ambiente de incertezas em virtude destas transformações, tanto no âmbito conjuntural como o estrutural. Durante estes anos de intensificação da assimetria da globalização, tanto nos países pobres como nos ricos, até mesmo nas economias consideradas de grande potência como a norte-americana e o Japão encontramos um cenário de indecisão com a mudança do paradigma vigente. 37 UNCTAD. Disponível em: http://www.unctad.org/. 29 A iniciativa privada é o motor do crescimento econômico, todos os governos sejam grandes potências ou pequenos economias, oferecem compromissos e garantias políticas a fim de atrair mais capitais estrangeiros para as seus países. Fica a critério do país de acolhimento as regulamentações fiscais, jurídicas, e normalmente utilizam baixas tarifas como forma de atrair mais investimentos. As ambições estatais são alteradas pela de disputas no campo da produção para uma melhor política de atração de capitais estrangeiros. As zonas francas, criadas na década de 70, com intuito de atrair investimentos estrangeiros e como uma forma de incentivar a internacionalização comercial. A supremacia norte-americana impôs a sua vontade e interesses, principalmente no setor tecnológico com base em três pilares:econômico e financeiro, na moeda e no político-militar. Após o ano de 2000 houve uma mudança significativa no cenário global, em virtude de uma série de acontecimentos como o desaquecimento econômico norteamericano, com a crise acionária, posteriormente o 11 de Setembro e os grandes escândalos envolvendo fraudes no Balanço de grandes empresas. Esses fatores ocasionaram uma queda nos fluxos de capitais e de comércio nos dois anos que se seguiriam. Cada dia, circula no mundo uma soma estrondosa de capitais, numa velocidade impressionante, as transações ocorrem a todo momento e os instrumentos tecnológicos facilitam esta troca de informações e de capitais. Todo o avanço deste processo de internacionalização fez com que as economias se tornasse cada vez mais interligadas e interdependentes, as agências de informação estão ganhando um espaço considerável em todo processo, já que são que estão incumbidas de promover as informações. O papel crescente das empresas transnacionais tem implicado na mudança de posicionamentos no contexto global das entidades econômicas, cada vez mais aparecem novos protagonistas e com interesses diversos. Segundo a UNCTAD, Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (2005), estima-se que no mundo há 70.000 empresas multinacionais com um total de 690.000 filiais, que são detentoras de um estoque de capital, fora do seus países de origem, na ordem de 9 trilhões de dólares. O montante acumulado de investimentos realizados por estas empresas no ano de 2004 representava 22% do PIB global, bem a cima do índice apresentado no ano de 1980 que possuim apenas 5%. Esses números demonstram o crescimento global destas 30 coorporações e a representatividade na esfera econômica. Estas empresas transnacionais, ainda que realizem 1/3 do comércio mundial, normalmente, pertencem ao mesmo grupo e muitas utilizam mecanismos de integração regional para repartir suas atividades entre países do mesmo bloco econômico, como exemplo desta atividade, temos o setor automobilístico e a indústria química que atuam nos países do MERCOSUL. As empresas que aparecem no ranking das transnacionais globais, que ocupam o topo são a GM, Vodafone e Ford, proveniente respectivamente dos Estados Unidos e Inglaterra. Importante a ressalva, que dentre as 100 maiores empresas do mundo 25 pertencem aos Estados Unidos. O Brasil se posiciona neste contexto, o país captou no ano de 2004 cerca de 2,8% dos fluxos de Investimentos Diretos Estrangeiros global, que significou 27% do total investido no continente sul-amaricano. O país vem se tornando um importante recetor de investimento direto estrangeiro realizados pelas trasnacionais, ao fazer uma análise destes investimentos direcionado a países em desenvolvimento, na década de 90, o único país que recepcionou investimentos mais que o Brasil foi a China. 5.2 Investimento estrangeiro no Brasil O período posterior ao Plano Real, o Brasil vivenciou o terceiro "boom" de investimentos das multinacionais da sua história. Três processos explicam a nova realidade: a abertura econômica, estabilização com expectativa de crescimento econômico e as privatizações. De uma outra forma, nos períodos anteriores, o governo exerceria um papel ativo na atração de capitais externos, desta vez, ao aprovar emendas constitucionais, que quebrariam o monopólio público em setores como telecomunicações, petróleo e gás, removeriam a diferenciação entre "empresas brasileira de capital nacional e de capital internacional. Dentre as maiores empresas globais no mundo, muitas possuem operações no Brasil, o que demonstra a dimensão e o potencial do mercado brasileiro38. O Sistema jurídico que rege os Investimentos Diretos Estrangeiros, é centrado na 38 CARDOSO, F. H.; FALETTO, E. Dependência e Desenvolvimento na América Latina. Ensaio de Interpretação Sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1979. 31 Constituição Federal Brasileira, que estabelece que o sistema fiscal do país seja regido pelas esferas nacionais (Estados, União Federal e os Municípios), que são competentes para cobranças dos tributos devidos. No caso de rendimentos ou ganhos de capital auferido no Brasil ou no exterior por pessoas jurídicas, incidem impostos de renda, há também impostos (Imposto sobre Operações Financeiras-IOF) que incidem sobre operações de créditos, câmbios e seguros ou relativas a títulos e valores mobiliários, cuja alíquota, varia em função da operação realizada. O investidor estrangeiro pessoa física pode obter visto de permanência se comprovar rendimento mínimo de US$ 50.000,00 (cinquenta mil dólares norte-americano) em uma empresa brasileira em constituição ou já constituída. O Brasil permite aquisições de ações por investidor estrangeiro em Fundos de Investimentos Imobiliários, que foram criados para incentivar o desenvolvimento de empreendimentos imobiliários para uma posterior venda ou locação. Este tipo de investimento tem sido muito utilizado para construções de centros comerciais em todo o país, pessoas físicas e jurídicas podem adquirir essas ações39. As privatizações, concessões e parcerias com a Administração Pública que tem ocorrido no país, também são uma forma de entrada de capital estrangeiro, já que através deste mecanismo, é permitido a transferência para o setor privado do controle de ações em empresas estatais. Na concessão transmite-se ao setor privado o exercício de um serviço público que o exerce em nome do Poder Público. O Programa Nacional de Desestatização instituído pela Lei n° 8.031 de Abril de 1990 (Regulada pela Lei 9.491 de 23. 09.1997 e pelo Decreto Lei n° 2.594 de 15.05.1998), na qual previa a alienações de empresas, até mesmo instituições financeiras que eram controladas direta ou indiretamente pela União, bem como a transferência para o setor privado a exploração deste setor40. Para os analistas, não houve grandes alterações em relação ao tratamento dado pelo Governo atual aos Investimentos Diretos Estrangeiros dos demais governo, com exceção do fato que, neste governo tenha ocorrido um maior empenho nesta política externa voltada para atração de investimentos, nesta política adotada, foram afastados os maiores fatores de "repulsão" dos investimentos. O Banco Central do Brasil tem divulgado, nos últimos anos, pesquisas sobre o 39 40 BAUMANN, Renato (org.). O Brasil e a economia global. Rio de Janeiro: Campus,1996. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/. 32 desenvolvimento de capitais estrangeiros introduzidos no Brasil, com forma de análisar esta experiência brasileira com o Plano Real41. 5.3. Investimentos brasileiros no exterior A PETROBRAS, a Vale do Rio Doce e Gerdau são as três empresas brasileiras que aparecem no ranking das 50 maiores empresas multinacionais que pertencem aos países em desenvolvimento, segundo Relatório da UNCTAD. Verifica-se uma tendência a internacionalização da economia brasileira, e os setores que mais tem se destacado são os de recursos naturais e industriais, mas há também empresas de grandes destaque que aparecem com grandes faturamentos como a AmBev, Embraer, Norberto Odebrecht, Votarantim Cimentos, Klabin, WEG, Marcopolo. Os investimentos brasileiros estão concentrados segundo a UNCTAD, na NAFTA (30,4%), Europa (21,6%), Mercosul/Chile (15,5%), ou seja, seguindo a tendência dos fluxos do comércio mundial. 5.4. Resultados das estabilidades financeiras do Brasil O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 5,4% em 2007, segundo as Contas Nacionais Trimestrais do do produto atingiu 5,7%. Considerando positivo do PIB refletiu, mais uma vez, expansões generalizadas em seus componentes, registando crescimento de 14,1% da safra de grãos; de 4,9% na atividade industrial, com ênfase na expansão de 5,1% da produção da indústria de transformação; e de 4,7% no setor de serviços, registrando-se expansão generalizada em seus subsetores. Considerada a ótica da demanda, a formação bruta de capital fixo (FBCF) aumentou 13,4% em 2007, seguindo-se as expansões do consumo das famílias, 6,5%, e do governo, 3,1%, proporcionando contribuição da demanda interna para o crescimento anual do PIB. Em sentido inverso, o setor externo contribuiu negativamente, com 1,4, resultado de crescimentos de 6,6% das exportações de bens e serviços e de 20,7% das importações, relevantes tanto ao aparelhamento do parque industrial quanto ao equilíbrio 41 Banco Central do Brasil (BCB). Disponível em: http://www.bcb.gov.br/. 33 entre a demanda e a oferta de bens de consumo. A análise na margem, ratificando a evolução de indicadores antecedentes e coincidentes, indica que o PIB aumentou 1,6% no quarto trimestre do ano, em relação ao período anterior, considerados dados dessazonalizados, constituindo-se no resultado positivo, em sequência, nesse tipo de análise. Segundo o IBGE42, a produção da indústria cresceu 0,1% no trimestre encerrado em janeiro de 2008, em relação ao finalizado pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF). Em sentido oposto, assinalem-se os recuos registrados nas atividades edição, reprodução e impressão, 7%; madeira, 5,5%; calçados, 4,8%; e veículos automotores, 2,5%. Considerada a mesma base de comparação, as produções físicas das categorias de bens de capital, de bens intermediários e de bens de consumo semiduráveis e não duráveis cresceram 2,9%, 1,6% e 0,1%, respectivamente, enquanto a referente a bens de consumo duráveis recuou 0,3%. Registaram-se, nesse período, aumentos nas vendas em todos os segmentos, atingindo 4,6% em equipamentos e materiais para escritório, 4,2% em outros artigos de uso pessoal e doméstico, e 4,1% em tecidos, vestuário e calçados. As vendas de automóveis, motocicletas, partes e peças recuaram 0,5%, no trimestre, enquanto as relativas a materiais de construção, impulsionadas pelas condições favoráveis nos mercados de crédito e de trabalho, cresceram 0,4%, décimo segundo resultado positivo nesse tipo de comparação, resultando em expansão de 1,5% nas vendas do comércio varejista ampliado. O crescente dinamismo da atividade econômica segue proporcionando desdobramentos positivos, em termos quantitativos e qualitativos, sobre as condições do mercado de trabalho. De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE, a taxa de desemprego, nas seis principais regiões metropolitanas do país, atingiu 8% em Janeiro, menor percentual registado no período desde o início da série, em Março de 2002. A taxa de ocupação aumentou 3,4% no trimestre terminado em janeiro, em relação ao período correspondente de 2007, correspondendo à criação de 743 mil postos de trabalho na área de abrangência da PME. Esse resultado, ao incorporar 726 mil empregos com carteira assinada, ratifica a continuidade do processo de crescente formalização do mercado de trabalho registado em períodos recentes. No mesmo período, o número de empregados sem carteira recuou 2,5% e o relativo a trabalhadores 42 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/. 34 por conta-própria cresceu 2%. As exportações totalizaram US$ 26,1 bilhões e as importações, US$24,3 bilhões, no bimestre encerrado em Fevereiro, proporcionando superávit de US$1,8 bilhão, ante US$5,4 bilhões no período correspondente de 2007. Essa redução evidenciou o dinamismo das importações que, consideradas as médias diárias, elevaram 50,7% no período, enquanto as exportações cresceram 20,5%. De acordo com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior, a elevação de 23,5% das exportações no primeiro bimestre de 2008, em relação ao período de 2007, refletiu crescimentos de 21,2% nos preços e de 2% na quantidade exportada, enquanto o aumento de 54,5% das importações evidenciou elevações de 18,1% nos preços e de 30,7% no quantum importado43. O superávit em transações correntes atingiu US$1,5 bilhão, 0,11% do PIB, em 2007. Esse resultado, embora represente o quinto superávit anual consecutivo, seguiu em trajetória declinante, constituindo-se no menor valor acumulado em doze meses desde Junho de 2003. A redução de US$12 bilhões em relação ao superávit registado em 2006, evidenciou tanto a ampliação das remessas líquidas nas contas de serviços e rendas, que passaram de US$37,1 bilhões para US$42,6 bilhões, quanto o desempenho da balança comercial, consistente com o aquecimento da demanda interna. Em fevereiro, as transações correntes registaram déficit de US$2,1 bilhões, comparado ao superávit de US$376 milhões no mesmo mês de 2007. O saldo comercial totalizou US$882 milhões, com redução de 69,6% no período. Adicionalmente, contribuíram para esse resultado as despesas líquidas da conta de rendas, US$1,9 bilhões, e as remessas líquidas na conta de serviços, US$1,4 bilhão, com ampliação de 69% neste último. As transferências unilaterais atingiram US$321 milhões, o que representou elevação de 10,5% na mesma base de comparação. O resultado em transações correntes foi deficitário em US$4,9 bilhões quando considerados doze meses encerrados em Fevereiro, com as despesas líquidas da conta de rendas totalizando US$30,9 bilhões e as remessas líquidas na conta de serviços, US$14,4 bilhões, 14,5% e 41,2%, respectivamente, superiores às assinaladas no período correspondente de 2007. O superávit comercial e as transferências unilaterais, que somaram, na ordem, US$36,4 bilhões e US$4,1 bilhões, recuaram 21,2% e 6,6%, na mesma base de comparação. 43 Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior. Disponível em: http://www.funcex.com.br/. 35 A conta capital e financeira do balanço de pagamentos acumulou ingressos líquidos de US$84,9 bilhões em doze meses finalizados em fevereiro, ante US$28,9 bilhões no período correspondente de 2007. Esse crescimento vigoroso refletiu ingressos líquidos relativos a investimentos em carteira da ordem de US$43,6 bilhões, seguindo-se os referentes a investimentos diretos, US$23,8 bilhões, e a outros investimentos, US$17,5 bilhões. Ressalte-se que os fluxos ao exterior, evidenciando a significativa ampliação do processo de expansão de empresas brasileiras em direção a mercados externos, somaram US$12,7 bilhões no período de doze meses encerrado em Fevereiro, enquanto os ingressos líquidos de Investimentos Estrangeiros Diretos (IED), refletindo ingressos líquidos em participação no capital da ordem de US$27,1 bilhões, totalizaram US$36,5 bilhões. Em Fevereiro, a conta financeira do balanço de pagamentos apresentou ingressos líquidos de US$4 bilhões, ante US$9,6 bilhões no período correspondente de 2007. Política Monetária no quarto trimestre de 2007 apresenta os saldos da base monetária restrita, base monetária ampliada e dos meios de pagamentos, mantiveram-se nos intervalos estabelecidos pela Programação Monetária para o quarto trimestre de 2007. A base monetária restrita, considerada a média dos saldos diários, atingiu R$143,6 bilhões em dezembro, com alta de 12,8% no mês e de 21,4% em doze meses. O papelmoeda emitido somou R$98,6 bilhões, resultando em elevação de 14,5% no mês e de 19% em relação a dezembro do ano anterior. Política monetária no bimestre janeiro-fevereiro de 2008, a base monetária restrita, mensurada pela média dos saldos diários, situou-se em R$132,5 bilhões em fevereiro, com redução de 6,6% em relação a janeiro e expansão de 18,4% em doze meses. Consideradas as mesmas bases de comparação, as reservas bancárias recuaram 11,4% no mês e aumentaram 23,6% na base anualizada, situando-se em R$41,4 bilhões, enquanto o saldo de papel-moeda emitido diminuiu 4,2% no mês e aumentou 16,2% em doze meses, atingindo R$91,2 bilhões. A base monetária ampliada totalizou R$1,66 trilhão em fevereiro, com aumentos de 0,4% no mês e de 19,3% em doze meses. O resultado anual refletiu crescimentos de 22,7% nos saldos de depósitos compulsórios em espécie, de 20,2% na base restrita e de 19% no saldo de títulos públicos federais. A perspectiva é de fortalecimento da demanda interna como propulsor do dinamismo da economia brasileira. Esse fortalecimento, ao ampliar a resistência da 36 economia do país aos movimentos registrados no cenário externo, cria as condições para a manutenção da expansão dos investimentos ainda que o cenário de desaceleração moderada no crescimento de economias maduras se materialize. O país possui muitas possibilidades para sustentar o crescimento por vários anos. Além disso, outros setores como a saúde e educação estão melhorando. A expectativa de vida tem aumentado em 5 anos e a média de escolaridade da força de trabalho aumentou em 4 anos. Foram conquistas significantes. Ainda assim, as taxas reais de juros diminuíram consideravelmente, assim como a dívida líquida do setor público e o déficit nominal. O desafio é explorar o bom período atual para criar a base fiscal para uma aceleração sustentável do crescimento. O desafio político é criar um Estado viável, essa meta não deve ser subestimada, nem os benefícios econômicos, sociais e políticos gerados por essa linha de ação, tendo em vista a recompensa relativamente rápida em termos de crescimento. A análise da evolução da demanda interna evidencia o crescimento expressivo da FBCF44 em relação ao desempenho do consumo das famílias, sugerindo o início de um ciclo de crescimento mais intenso e de longo prazo, perspectiva fortalecida pelo optimismo dos empresários registrado em distintas sondagens conjunturais. Ressalte-se que o consumo das famílias segue apresentando expansão relevante, trajetória consistente com a expansão do mercado de crédito e as melhores condições no mercado de trabalho, e que deverá prosseguir no atual cenário de sustentabilidade do crescimento da economia. A projeção relativa à continuidade da trajetória expansionista dos investimentos em 2008, envolve uma conjunção de fatores. Nesse sentido, o cenário de fortalecimento dos fundamentos da economia brasileira concorre para a manutenção do risco-país em patamar reduzido, estimulando o ingresso de investimentos externos no país. Adicionalmente, a apreciação do Real favorece a intensificação das importações de bens de capital, relevantes para o aparelhamento do parque industrial, que vem operando com alto nível de utilização da capacidade instalada. No mesmo sentido, deverão contribuir os desembolsos relativos às obras de infra-estrutura previstas no cronograma do PAC. O cenário favorável registrado em relação ao mercado de trabalho, assim como a manutenção, em patamar elevado, das expectativas dos consumidores em relação à manutenção do emprego e à evolução da economia, seguem estimulando decisões relativas ao comprometimento da renda futura, com desdobramentos sobre a demanda 44 Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). 37 por crédito para a compra de bens duráveis. A condução da política fiscal segue garantindo a manutenção da trajetória descendente da razão DLSP/PIB, objetivando assegurar a continuidade dessa trajetória foram introduzidas alterações na estrutura tributária que favorecessem a minimização da perda de arrecadação decorrente da extinção da contribuição provisória sobre movimentação financeira (CPMF) e garantissem o lance das metas de superávit fiscal definidas anteriormente. Ressalte-se que o maior dinamismo da economia segue impulsionando o crescimento da arrecadação de impostos e contribuições, com desdobramentos favoráveis quanto ao cumprimento das metas fiscais estipuladas para 2008. Paralelamente, registra-se menor vulnerabilidade do endividamento público, traduzida em elevação dos prazos de maturação da dívida, redução do custo financeiro e menor exposição aos riscos externos. As perspectivas relativas à evolução da economia mundial seguem indefinidas, com as incertezas do ambiente internacional podendo impactar os cenários projetados para os preços das commodities, os fluxos de capitais e as taxas de crescimento das exportações e do produto mundiais. Ainda assim, as perspectivas para os próximos anos incorporam a permanência das condições favoráveis de financiamento do balanço de pagamentos, expectativa fundamentada, em parte, pela experiência vivenciada pela economia brasileira na segunda metade de 2007, quando a volatilidade nos mercados financeiros internacionais, decorrente da inadimplência no mercado subprime, exerceu impacto residual sobre a economia do país. A expressiva acumulação de reservas segue reduzindo a exposição do país a riscos associados a choques de origem externa. Nesse contexto, é razoável concluir que, mantida a consistência das políticas macro-econômicas, traduzida no fortalecimento da demanda interna, mesmo em cenário de crise externa a economia brasileira reúne os requisitos para a manutenção do ciclo expansivo iniciado em 200445. 45 Fonte: Programação Monetária 2008, Diretoria Colegiada Departamento Económico –DEPEC/Banco Central do Brasil. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/htms/Mercosul/. 38 6- CONSIDERAÇÕES FINAIS Finalmente, no que envolve aspectos básicos, conclui-se que, de um lado, a globalização e todas suas fases refletem no cenário mundial algumas vezes de forma extremamente positiva e outras vezes nem tanto, de outro lado, o impacto do processo de globalização nos fluxos de Investimentos Diretos Estrangeiros é inegável, uma vez que é notável a grande influência no momento atual da economia brasileira. Constitui uma utopia na linha do pensamento liberal, desde Adam Smith, pensar que seja eficaz uma auto-regulação das atividades econômicas, no caso da globalização financeira, esta ilusão consiste em pensar que a mesma possa constituir-se como ordem financeira de caráter privado na esfera internacional. Contudo, a ação direta do Estado e a regulação dos mercados foi um fator essencial para o desenvolvimento nacional no setor econômico e social. Da mesma forma que, no plano internacional, a estabilidade e o desenvolvimento somente foi possível no contexto de alguma “ordem pública”, garantida por governos e organismos internacionais. A partir das experiências dos capitalismos nacionais, desde suas origens, podemos afirmar que a globalização financeira, enquanto expressão das forças e dos interesses privados, poderá ou não se firmar como ordem internacional. Ao olhar por um outro ângulo, é difícil imaginar que a globalização seja reversível, ou seja, que o capital financeiro privado internacional seja controlável, e que as taxas de câmbio sejam fixadas ou estabilizadas pelos bancos centrais dos Estados ou mesmo pelos organismos internacionais existentes. Conclui-se que, como um processo cíclico que é a globalização, possui inúmeros fatores positivos, como exemplo, o aspecto tecnólogico, a maior facilidade na comunicação etc...Entretanto, buscar um equilíbrio entre os interesses das grandes potências econômicas e as demais economias, seria o mais aconselhável, talvez desta forma, poderá ser possível num futuro próximo, que o caminho traçado pelo processo de globalização seja um avanço verdadeiramente positivo para toda a humanidade, e não apenas para alguns. 39 7-BIBLIOGRAFIA ARRIGHI, G. O Longo Século XX. São Paulo: Saraiva Editora. 1996. BAUMANN, Renato (org.). O Brasil e a economia global. Rio de Janeiro: Campus,1996. BELLUZZO, L. 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