COMUNICAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO Você se recorda de como se fez "gente"? se, polidez, rubor etc. A maneira de olhar ou deixar de olhar traduz sentimento de superioridade, culpa, sinceridade, interesse ou indiferença. Temos tanta consciência de que nos comunicamos como a de que respiramos ou andamos e só percebemos a sua importância quando por algum motivo perdemos a capacidade de nos comunicar. A comunicação é uma necessidade básica da pessoa humana, do homem social. Sua casa, seu bairro, sua escola, seu trabalho, seu lazer, seu primeiro amor?... O Processo de Comunicação A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos e a forma com a qual aprendeu a ser "membro" de sua sociedade, sua família, seu grupo de amigos, sua vizinhança, seu clube, sua nação. A origem da palavra "comunicação" está no latim communis (comum). Quando nos comunicamos estamos tentando compartilhar uma informação, uma idéia ou uma atitude. Estamos tratando de estabelecer uma "comunidade", algo em comum com alguém. Para tanto, é fundamental que exista a "sintonia" entre quem envia e quem recebe a mensagem. Assim é que, uma pessoa adota a sua cultura, isto é, define seus modos de pensamento e ação, suas crenças e valores, seus costumes, hábitos e tabus. Isto não ocorreu propositadamente, ninguém lhe ensinou como está organizada a sociedade, e o que pensa e sente a sua cultura. Aconteceu naturalmente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos, insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relação com diversas pessoas. Tudo isto foi possível, graças a comunicação. Foi a comunicação diária com pais, irmãos, amigos, em casa, na rua, nas lojas, na escola, nos ônibus, no jogo, no supermercado, na igreja, que lhe transmitiram as qualidades essenciais da sociedade e a natureza do ser social. Você já tentou listar todos os atos de comunicação realizados desde que se levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia? A quantidade será imensa, quase inacreditável. Desde o "bom dia" , a leitura de um jornal, identificação do número e da cor do ônibus que o leva ao trabalho, o pagamento ao cobrador, os cumprimentos aos colegas de sua Unidade de Saúde, sua assinatura no livro do ponto, reuniões, recepção do usuário, o choro, o riso, o abraço, o aperto de mãos, orientações educativas, orientações pré e pós operatórias, conversas com o filho, novelas de TV, ato amoroso, "boa noite". A comunicação não fica apenas nas mensagens que as pessoas trocam voluntariamente entre si. Além dessa troca feita conscientemente muitas outras são trocadas sem querer, numa espécie de para-linguagem. O tom das palavras faladas, o silêncio, os movimentos do corpo, a maneira de se cumprimentar, de vestir-se, sentar- O processo de comunicação pode ser entendido como o processo pelo qual se dá o intercâmbio de mensagens de uma pessoa para outra. Para facilitar o entendimento, poderíamos decompor o processo de comunicação enumerando os seus elementos: - a realidade ou situação onde o processo de comunicação acontece, sobre a qual tem um efeito transformador e de quem sofre influências. A realidade influi no comunicar e o comunicar influi na realidade; - os interlocutores: emissor (quem emite) e o receptor (quem recebe a informação); - a mensagem, as coisas que se desejam partilhar, o conteúdo, a idéia da comunicação; - os signos, usados para representação da mensagem, ou seja, a forma que se representa as idéias e que se transmitem as emoções, caracterizando a mensagem. Por exemplo: sons, letras, números, cores etc. Em geral, os signos formam conjuntos organizados chamados Códigos, por exemplo: a Língua Portuguesa, Código Morse, Conjunto de sinais de trânsito, Sistema Braile etc. 53 Existem vários recursos que os interlocutores utilizam para representar as idéias e sentimentos. Dessa forma, o artesão utiliza o barro e suas mãos; o ator pode usar o palco, as luzes, maquilagem e roupas especiais; um locutor emprega sua voz, uma fita gravada etc. Nos países católicos os homens devem tirar o chapéu para entrar em uma igreja; já em Israel e nos templos israelitas os homens devem cobrir a cabeça para serem admitidos. Assim, vemos que os significados não são universais, mudam de país para país e dentro do mesmo país entre as diferentes classes e grupos sociais. Meios de Comunicação Em comunicação dizemos que a mensagem para ser transmitida deve passar pelo processo de codificação que implica na seleção dos elementos que se deseja compartilhar, no emprego de um código ou linguagem adequada, sendo esta linguagem verbal e/ou gestual. Para atingir um grande público, a comunicação utiliza os "meios de comunicação de massa" como a televisão, o rádio, jornais, revistas etc. São veículos empregados para a transmissão da mensagem. E para que serve a comunicação? Serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se mutuamente e a realidade que as rodeia. A atribuição de significados a determinados signos é precisamente a base da comunicação em geral e da linguagem em particular. Ex: se eu digo a alguém a palavra "boca", a pessoa fará uma imagem na sua cabeça de algo com as características de uma boca. Os símbolos são um tipo especial de signo, que acumulam ambiguamente vários significados diferentes e que, ao mesmo tempo, evocam emoções e sentimentos, impelindo os homens à ação. Por ex: um sinal rodoviário com um círculo vermelho em fundo branco, com o número 80 sobre ele, significa para o motorista apenas uma coisa: a velocidade limite é de 80km por hora. Por outro lado, números podem significar uma expressão matemática ou também a designação de um determinado dente, por exemplo: 3 significa dente canino, 23 representa o canino superior do lado esquerdo, onde o 2 significa o número do quadrante. A forma de uma cruz possui diferentes significados para diferentes pessoas ou até para uma única pessoa em momentos diversos. Um símbolo evoca sentimentos, experiências anteriores e abstração individual. Do ponto de vista do receptor supõe a decodificação, que implica na possibilidade de interpretação – compreensão total ou parcial da mensagem – e a incorporação ou não da mesma. Seria impossível para uma pessoa viver no seio de uma cultura sem aprender a usar seus códigos de comunicação. E também seria impossível para ela não se comunicar. Dentro de um mesmo país, os códigos lingüísticos são variados onde cada expressão gramatical é típica de uma determinada região. Imagine um homem do sertão nordestino conversando com um homem do pampa gaúcho: Gaúcho: - "Tás atucanado, bagual?" Nordestino: "Não, tô aperreado, bichinho." Observação: Atucanado = aperreado, aborrecido Bagual = bichinho, rapaz Ocorre que as pessoas fazem parte de uma sociedade que possui uma cultura sobre a qual o processo de comunicação se dá. A comunicação humana tem uma origem bastante nebulosa. Realmente não se sabe como foi que os homens primitivos começaram a se comunicar, se por gritos ou grunhidos, como fazem os animais, ou se por gestos, ou ainda por combinações de gritos, grunhidos e gestos. Assim a cultura constitui-se num pano de fundo, um plano comum que permite a ligação entre o emissor (que emite a mensagem) e o receptor (aquele que recebe) e sobre o qual trafegam as mensagens. E a origem da fala? Alguns afirmam que os sons utilizados para criar uma linguagem nada mais eram que a imitação dos sons da natureza: a cachoeira, o trovão, um som animal... Outros acham que os sons humanos vinham de 54 exclamações espontâneas: "ai" de dor; "frr" de fúria; "oh" de admiração. Poder-se-ia, também, pensar no uso das mãos e pés, além da boca, para se produzir sons, ou ainda objetos como pedras e troncos. De qualquer forma, a história mostra que o homem encontrou a maneira de associar determinado som ou gesto a um certo objeto ou ação. Não há dúvida que a primeira forma organizada de comunicação humana foi a linguagem, acompanhada ou não de gestos. Porém, os limites de alcance e a dificuldade de permanência levou o homem a fixar os seus signos e modos de transmiti-los à distância. O desenho foi a primeira forma de fixação dos signos e mais tarde a linguagem escrita. Foram encontrados desenhos primitivos pintados por homens das cavernas, entre 35.000 e 15.000 a.C. Para comunicar-se à distância, o homem inicialmente apelou para sinais sonoros e visuais (tantã, berrante, gongo, fumaça), mas a solução definitiva veio com a invenção da escrita, no século IV a.C., aproximadamente. As mensagens escritas podem, com efeito, ser transportadas a qualquer distância. A escrita evoluiu aos pictogramas, signos que tinham correspondência exata entre a imagem e o objeto representado: um sol significava um sol; uma mulher era uma mulher mesmo. Ex: os hieróglifos do antigo Egito. Chegou um momento em que o homem sentiu-se limitado pelo fato de que cada signo correspondesse a um objeto. Passou, então, a usar os signos para representar idéias. Assim, para os índios americanos a figura de um pássaro voando significava pressa, um cachimbo, a paz. Esse tipo de escrita recebeu o nome de ideográfica. Um grau maior de liberdade foi alcançado quando o homem percebeu que as palavras ou nomes de objetos eram compostos por unidades menores de sons (os fonemas) e que, então, os signos poderiam representar esses fonemas e não mais objetos ou idéias. Surge então a escrita fonográfica, onde os signos representam os sons de uma palavra. Nasce o conceito de letras (a, b etc.). Delas, forma-se o Alfabeto, onde cada letra representa um determinado som. Os alfabetos deram maior alcance a linguagem escrita. O que faltava era um meio de registro melhor que as pedras e os pergaminhos de couro. Evolução dos meios de comunicação Paralelamente à evolução da linguagem, desenvolveram-se, também, os meios de comunicação. O papel foi inventado pelos chineses. No ano 1454, Gutenberg inventou a tipografia e o papel foi melhorado (tornou-se mais resistente e leve), o que possibilitou que os livros fossem impressos repetidamente em muitos exemplares. A indústria gráfica associou-se à invenções da mecânica, da química, da eletrônica, até chegarmos hoje às impressoras computadorizadas capazes de receber sinais de satélites. A fotografia ampliou a comunicação visual. Possibilitou a ilustração de livros, jornais, revistas, inspirou o cinema, culminando com as imagens pela televisão. O alcance das comunicações foi garantido pela invenção de meios eletrônicos que se utilizam de vários tipos de ondas para transmitir os signos, como o telegrafo, o telefone, o rádio, a televisão, o satélite. Com o desenvolvimento dos aparelhos e técnicas de produção dos meios de comunicação, aumenta imensamente a influência e o poder da comunicação na sociedade. O impacto dos meios sobre as idéias, emoções, comportamentos, atitudes econômicas e políticas das pessoas cresceu tanto, que hoje é um fator fundamental de poder e domínio em todos os campos da atividade humana. O Poder da Comunicação e a Comunicação do Poder Será que o modo da sociedade usar a sua comunicação "social" satisfaz as necessidades das pessoas? Os veículos de comunicação ajudam a tomar decisões importantes? Dão condições de expressão a todos os setores da população? Favorecem ocasiões de diálogo e de encontro? Estimulam o crescimento de consciência crítica e a capacidade de participação? Questionam os regimes políticos e estruturas sociais que não respondem aos anseios de liberdade, convívio ou de satisfação das necessidades básicas da população? Os meios de comunicação muitas vezes, são utilizados visando o lucro, o prestígio, o poder e domínio. Existem ainda, táticas diversionistas do governo, tirando a atenção do povo dos problemas de base, condicionando comportamentos, 55 dificultando a consciência crítica. É a política do "Pão e circo". Exemplos: alguns programas de TV e rádio sem qualquer valor educativo e construtivo. Contrariamente então ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais que os "meios de comunicação social". Estes meios são tão poderosos na nossa vida atual, que, às vezes, esquecemos que representam uma mínima parte de nossa comunicação total. A sociedade civil, constatando que todo esse poder não está sendo utilizado para a promoção de um crescimento integral de todas as classes sociais, luta por uma sociedade participativa, igualitária. Esta transformação passa necessariamente pela participação pessoal e coletiva e forçosamente pela comunicação. É a serviço da construção desta sociedade que o poder da comunicação deve ser usado. A comunicação pode se dar de uma forma confusa resultando em distorções que geram incertezas ou falsa compreensão. As comunicações confusas caracterizam-se por mensagens incompletas ou pouco explícitas, mensagens contraditórias, falta de esclarecimentos sobre a mensagem mesmo quando o receptor dá indícios dessa necessidade. Essa falta de compreensão gera a não comunicação. Dentro de uma sociedade competitiva como a nossa, a habilidade de comunicação é um recurso valorizado. As pessoas que não articulam suas intenções claramente, podem encontrar-se em desvantagem ante pessoas com amplo vocabulário. A ausência de comunicação empobrece os indivíduos, paralisa o crescimento interno porque rompe o processo de aprendizagem de ajuste de idéias, percepções e sentimentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORDENAVE, Juan E. Dias. O que é comunicação. São Paulo, Brasiliense. NICOLA, J. Língua, literatura, redação. Ed. Scipione, 1988. A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO TRABALHO EM SAÚDE Discutir alguns aspectos da realidade do trabalho na área de saúde, facilita a compreensão das condições em que o trabalhador dessa área atua, favorecendo o desenvolvimento da sua capacidade transformadora. Alguns aspectos dessa realidade: 1. O trabalho na área da saúde faz com que o profissional esteja constantemente lidando com o sofrimento do outro, o que pode lhe provocar uma carga psíquica intensa. 2. O resultado do trabalho na área da saúde é um serviço e não a produção de um objeto. Lidar com parafusos, sapatos etc. é, fundamentalmente, diferente de lidar com as pessoas. 3. O trabalho na área da saúde desenvolve-se dentro de uma instituição com regras, normas, regulamentos, poder e hierarquia. O trabalhador está sujeito ao mando de "cima para baixo" e ao mesmo tempo deve entender-se com o colega, na equipe. Essas pressões de poder mal distribuídas, podem fazer o trabalhador pressionar também de "cima para baixo" a população, esquecendo-se que esta tem direitos sociais adquiridos. 4. No campo da saúde bucal as atribuições de cada integrante da equipe encontram-se bem definidas. Mesmo assim, pode ocorrer, eventualmente, sobreposição de funções que repercutem na organização do trabalho. É preciso, portanto, que todos encarem o trabalho de cada um, como parte de um conjunto de tarefas realizadas com o objetivo maior de prestar serviços de boa qualidade à população. 5. Muitas vezes, é fácil misturar os problemas do trabalho com a vida particular e vice-versa, pois não somos divisíveis, estando sujeitos a emoções, problemas, necessidades, etc. A problemática fica ainda maior, pois o objeto do nosso trabalho é uma pessoa semelhante a nós, também sujeita a problemas, emoções etc. São nessas condições de trabalho que a equipe de saúde presta serviços à população. Além dessas condições, temos que levar em consideração a variedade de formas de pensar e entender saúde. A maneira de ser do indivíduo abrange um conjunto de valores, crenças e tabus que se refletem no seu comportamento. Portanto, as ações das pessoas, desde os simples atos do cotidiano até as condutas profissionais estão respaldadas em valores que as pessoas atribuem às coisas. 56 Pode-se dizer que o comportamento das pessoas é basicamente influenciado por: 1. Seu modo de perceber a realidade que o envolve - que depende das características fisiológicas como acuidade sensorial, sexo, forças físicas e outras variáveis, e também das experiências anteriores que o indivíduo, com o decorrer dos anos, vai incorporando. 2. Seu ambiente social - Podem ser considerados como fatores de ordem social, formadores de personalidade, todas as experiências vividas socialmente e incorporadas pelo indivíduo. Essa influência do meio social pode se dar de duas formas principais: pela educação formal, ou seja, aquela que é transmitida ao indivíduo, sistematicamente, através dos professores e dos livros, e pela educação informal, ou seja, aquela feita assistematicamente, através de incorporação de padrões dos grupos por onde vai passando, desde a família, até os grupos de recreação, esporte, religião e outros. 3. Sua necessidade imediata ou motivação - As pessoas não fazem as mesmas coisas pelas mesmas razões. O motivo que gera as ações humanas, varia de pessoa a pessoa, o que determina uma significativa diferença individual de comportamento. Todos temos as mesmas necessidades básicas, porém o momento que elas emergem depende do seu grau de satisfação. São as necessidades que geram os nossos comportamentos e nos motivam para fazer ou alcançar determinadas coisas. Por exemplo: todos precisam comer, dormir, ser amado, pertencer a um grupo, ser reconhecido socialmente, etc. Porém, não temos fome na mesma hora e nem gostamos todos da mesma comida. Ao conviver com as pessoas sente-se que seus objetivos são diferentes entre si. Há aquelas que se motivam por recompensas salariais, outras buscam aceitação do grupo no qual trabalham e outras ainda o reconhecimento de sua capacidade profissional. são desiguais) e mesmo pela recusa sistemática do universo do usuário, que teremos maiores chances de conseguir sua confiança para estreitar vínculos com a equipe de saúde e chegar a objetivos que são comuns e não opostos: melhorar a saúde individual e coletiva. O Trabalho na Saúde Quando o paciente procura um serviço de saúde geralmente está inseguro, pois está enfrentando uma situação desconhecida ou mesmo fora do seu controle. Isto gera medo e modificações nas suas emoções. A maneira de expressar esta insegurança varia segundo idade, sexo, situação sócio-econômica, experiências anteriores, maneira como é atendido nos serviços de saúde etc. Com freqüência apresenta sinais de ansiedade, como por exemplo: - mudança freqüente da posição do corpo; deambulação constante; insônia; inapetência ou apetite exagerado; tremores; gagueira momentânea; roer unhas; choro ou riso sem motivo; hipertensão; diarréia; vômito; sudorese. Por isso, encontramos diferentes modos de se comportar e pensar e, consequentemente, diferentes conceitos de saúde, não só por parte do indivíduo, como também dos próprios grupos profissionais ou da população. Apesar de o usuário/paciente/cliente ser uma pessoa igual a nós, semelhante a qualquer membro da equipe, encontra-se em situação especial quando precisa de serviços de saúde. Por existir esta diferença de conceitos é necessário estarmos atentos à forma de resolução de problemas de saúde de uma pessoa pois esta seguirá a orientação na qual acreditar. Ela acreditará numa orientação dada na medida em que tenha confiança em quem lhe está prestando orientação. Quando nos vemos como pessoa humana e percebemos o indivíduo a que estamos atendendo como outra pessoa humana, devemos estar atentos para alguns aspectos de grande importância na forma de nos comunicarmos. Eles nos auxiliam a estabelecer um relacionamento adequado aos nossos objetivos: É através de um relacionamento humano, caracterizado por relações de cooperação e solidariedade e não de antagonismo, diferenças, medição de força (que 57 Saber ouvir A maioria de nós tende a falar demais e ouvir de menos. Para conseguir ouvir os outros é necessário que, além de saber fazer uso do silêncio, não julguemos antecipadamente o que nos falam. É muito importante também darmos indicação à pessoa que estamos prestando atenção ao que ela nos diz. Estar disponível Quando estamos fazendo um atendimento é importante que o indivíduo atendido sinta que, naquele momento, estamos com ele. O fato de sentar junto, ou mesmo estar por perto cria oportunidades para que o outro se dirija a nós. Compreensão objetos e adornos e mesmo o momento em que as coisas são ditas, influem decisivamente na comunicação. Outros fatores dificultam a comunicação. Por exemplo: a. A projeção: leva-nos a emprestar a outro, intenções que ele nunca teve, mas que teríamos no lugar dele; b. A transferência inconsciente: sentimentos que tínhamos em relação a uma pessoa parecida com o interlocutor, nos leva a uma predisposição favorável ou desfavorável; c. A frustração: impede a pessoa sujeita a ela de ouvir e entender o que está sendo dito; d. A competição: nos leva a fazermos uma espécie de "monólogo coletivo" ou "diálogo de surdos". Cada um corta a palavra do outro sem ao menos ouvir o que está sendo dito. Ninguém ouve ninguém; É a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, tentando perceber suas angústias e preocupações e, ao mesmo tempo procurando manter uma posição profissional frente ao fato. e. A percepção: o outro é visto sob influencia de preconceitos e discriminações decorrentes de trajes, aspectos físicos etc. Os termos branco, negro, judeu, viúvo, pobre, operário, mulato, chinês, gordo, tem cada um uma conotação que nos predispõe a ouvir com atenção ou não; Respeito f. O egocentrismo: dificulta a aceitação do ponto de vista de quem nos fala. Somos compelidos a rebater tudo o que o outro diz, sem ao menos ouvir o que ele realmente quer dizer; O profissional deve se comunicar com o paciente respeitando suas características físicas, culturais, socioeconômicas, idade etc. Exemplo: sabendo que um paciente tem dificuldade de audição, devemos falar num tom mais alto, mais devagar, olhando para ele, pois a leitura labial facilita a compreensão. Tom de voz Ao falar, qualquer que seja a circunstância, o profissional deve manter um tom de voz que expresse tranqüilidade e controle da situação, demonstrando firmeza e segurança. O profissional seguro transmite tranqüilidade que é captada pelo paciente. g. A inibição: do receptor em relação ao emissor e vice-versa; h. A seleção: leva-nos a escolher as mensagens com as quais estamos de acordo. Esta seleção pode alterar e mesmo inverter o sentido do que está sendo comunicado. Outro aspecto a ser considerado é o fato de que a pessoa atendida pode ter restrições para se comunicar: desde uma deficiência física até a dificuldade em compreender o significado de nossas palavras e vice-versa, por diferenças na linguagem utilizada. A comunicação verbal não é a única forma de nos comunicarmos. Mesmo quando falamos, existe a comunicação não verbal. Somada com a verbal, ela reflete a mensagem real do que está sendo transmitido. Assim, a entonação da voz, as expressões faciais, a postura corporal, o toque, o espaço entre os comunicadores, os 58 COMO PREPARAR UMA ENTREVISTA (*) f. não fazer perguntas que influenciem as respostas; Como fazer uma entrevista? g. fornecer as informações necessárias procurando ater-se ao objeto da entrevista; Antes de fazê-la é necessário sua preparação levando em consideração os objetivos e quem vai ser entrevistado. h. ajudar o entrevistado a encontrar soluço para o seu problema, sempre que for possível; O que é importante na realização da entrevista? i. não dar ordens; Antes de tudo é importante planejar um roteiro, considerando alguns itens: a. apresentar-se ao entrevistado, dando nome e função que exerce; j. terminar a entrevista agradecendo a atenção e deixando a possibilidade para contatos posteriores. b. esclarecimento dos objetivos da entrevista; O que observar na entrevista? c. ouvir atentamente o que o entrevistado quer dizer; A entrevista supõe uma relação pessoal, entre entrevistador e entrevistado. Para que a mesma atinja seu objetivo é importante que aconteça num ambiente tranqüilo e de forma agradável, facilitando o contato entre as pessoas. d. facilitar e auxiliar quando este tiver dificuldade na comunicação e na compreensão das perguntas; e. ser gentil e não agir com superioridade; _____________________________ (*) Texto reproduzido do Manual de Formação - Unidade 1 do Atendente de Consultório Dentário, do Centro de Formação dos Trabalhadores da Saúde (CEFOR), da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, publicado em 1991. O leitor deve levar em conta que trata-se de material de formação de pessoal de saúde de nível elementar. É necessário que o entrevistador saiba ouvir, mostrando-se atento e interessado em tudo que disser o entrevistado. Manter o assunto da entrevista dando ao entrevistado o direito de perguntar ou questionar. É importante também observar a aparência, atitudes, expressões, silêncios e contradições do entrevistado, que ajudarão a entender e complementar os dados que muitas vezes não são respondidos claramente na entrevista. 59