Comunicação e socialização 3 textos

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COMUNICAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO
Você se recorda de como se fez "gente"?
se, polidez, rubor etc. A maneira de olhar ou deixar de olhar traduz sentimento de
superioridade, culpa, sinceridade, interesse ou indiferença.
Temos tanta consciência de que nos comunicamos como a de que
respiramos ou andamos e só percebemos a sua importância quando por algum motivo
perdemos a capacidade de nos comunicar. A comunicação é uma necessidade básica
da pessoa humana, do homem social.
Sua casa, seu bairro, sua escola, seu trabalho, seu lazer, seu primeiro
amor?...
O Processo de Comunicação
A comunicação foi o canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura
foram-lhe transmitidos e a forma com a qual aprendeu a ser "membro" de sua
sociedade, sua família, seu grupo de amigos, sua vizinhança, seu clube, sua nação.
A origem da palavra "comunicação" está no latim communis (comum).
Quando nos comunicamos estamos tentando compartilhar uma informação, uma idéia
ou uma atitude. Estamos tratando de estabelecer uma "comunidade", algo em comum
com alguém. Para tanto, é fundamental que exista a "sintonia" entre quem envia e
quem recebe a mensagem.
Assim é que, uma pessoa adota a sua cultura, isto é, define seus modos de
pensamento e ação, suas crenças e valores, seus costumes, hábitos e tabus.
Isto não ocorreu propositadamente, ninguém lhe ensinou como está
organizada a sociedade, e o que pensa e sente a sua cultura. Aconteceu
naturalmente, pela experiência acumulada de numerosos pequenos eventos,
insignificantes em si mesmos, através dos quais travou relação com diversas pessoas.
Tudo isto foi possível, graças a comunicação. Foi a comunicação diária
com pais, irmãos, amigos, em casa, na rua, nas lojas, na escola, nos ônibus, no jogo,
no supermercado, na igreja, que lhe transmitiram as qualidades essenciais da
sociedade e a natureza do ser social.
Você já tentou listar todos os atos de comunicação realizados desde que se
levanta pela manhã até a hora de deitar-se, no fim do dia?
A quantidade será imensa, quase inacreditável. Desde o "bom dia" , a
leitura de um jornal, identificação do número e da cor do ônibus que o leva ao
trabalho, o pagamento ao cobrador, os cumprimentos aos colegas de sua Unidade de
Saúde, sua assinatura no livro do ponto, reuniões, recepção do usuário, o choro, o
riso, o abraço, o aperto de mãos, orientações educativas, orientações pré e pós
operatórias, conversas com o filho, novelas de TV, ato amoroso, "boa noite".
A comunicação não fica apenas nas mensagens que as pessoas trocam
voluntariamente entre si. Além dessa troca feita conscientemente muitas outras são
trocadas sem querer, numa espécie de para-linguagem. O tom das palavras faladas, o
silêncio, os movimentos do corpo, a maneira de se cumprimentar, de vestir-se, sentar-
O processo de comunicação pode ser entendido como o processo pelo qual
se dá o intercâmbio de mensagens de uma pessoa para outra.
Para facilitar o entendimento, poderíamos decompor o processo de
comunicação enumerando os seus elementos:
- a realidade ou situação onde o processo de comunicação acontece, sobre
a qual tem um efeito transformador e de quem sofre influências. A realidade influi no
comunicar e o comunicar influi na realidade;
- os interlocutores: emissor (quem emite) e o receptor (quem recebe a
informação);
- a mensagem, as coisas que se desejam partilhar, o conteúdo, a idéia da
comunicação;
- os signos, usados para representação da mensagem, ou seja, a forma
que se representa as idéias e que se transmitem as emoções, caracterizando a
mensagem. Por exemplo: sons, letras, números, cores etc.
Em geral, os signos formam conjuntos organizados chamados Códigos, por
exemplo: a Língua Portuguesa, Código Morse, Conjunto de sinais de trânsito,
Sistema Braile etc.
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Existem vários recursos que os interlocutores utilizam para representar as
idéias e sentimentos. Dessa forma, o artesão utiliza o barro e suas mãos; o ator pode
usar o palco, as luzes, maquilagem e roupas especiais; um locutor emprega sua voz,
uma fita gravada etc.
Nos países católicos os homens devem tirar o chapéu para entrar em uma
igreja; já em Israel e nos templos israelitas os homens devem cobrir a cabeça para
serem admitidos. Assim, vemos que os significados não são universais, mudam de
país para país e dentro do mesmo país entre as diferentes classes e grupos sociais.
Meios de Comunicação
Em comunicação dizemos que a mensagem para ser transmitida deve
passar pelo processo de codificação que implica na seleção dos elementos que se
deseja compartilhar, no emprego de um código ou linguagem adequada, sendo esta
linguagem verbal e/ou gestual.
Para atingir um grande público, a comunicação utiliza os "meios de
comunicação de massa" como a televisão, o rádio, jornais, revistas etc. São veículos
empregados para a transmissão da mensagem.
E para que serve a comunicação?
Serve para que as pessoas se relacionem entre si, transformando-se
mutuamente e a realidade que as rodeia.
A atribuição de significados a determinados signos é precisamente a base
da comunicação em geral e da linguagem em particular. Ex: se eu digo a alguém a
palavra "boca", a pessoa fará uma imagem na sua cabeça de algo com as
características de uma boca.
Os símbolos são um tipo especial de signo, que acumulam ambiguamente
vários significados diferentes e que, ao mesmo tempo, evocam emoções e
sentimentos, impelindo os homens à ação. Por ex: um sinal rodoviário com um círculo
vermelho em fundo branco, com o número 80 sobre ele, significa para o motorista
apenas uma coisa: a velocidade limite é de 80km por hora. Por outro lado, números
podem significar uma expressão matemática ou também a designação de um
determinado dente, por exemplo: 3 significa dente canino, 23 representa o canino
superior do lado esquerdo, onde o 2 significa o número do quadrante.
A forma de uma cruz possui diferentes significados para diferentes pessoas
ou até para uma única pessoa em momentos diversos. Um símbolo evoca
sentimentos, experiências anteriores e abstração individual.
Do ponto de vista do receptor supõe a decodificação, que implica na
possibilidade de interpretação – compreensão total ou parcial da mensagem – e a
incorporação ou não da mesma. Seria impossível para uma pessoa viver no seio de
uma cultura sem aprender a usar seus códigos de comunicação. E também seria
impossível para ela não se comunicar.
Dentro de um mesmo país, os códigos lingüísticos são variados onde cada
expressão gramatical é típica de uma determinada região.
Imagine um homem do sertão nordestino conversando com um homem do
pampa gaúcho:
Gaúcho: - "Tás atucanado, bagual?"
Nordestino: "Não, tô aperreado, bichinho."
Observação:
Atucanado = aperreado, aborrecido
Bagual = bichinho, rapaz
Ocorre que as pessoas fazem parte de uma sociedade que possui uma
cultura sobre a qual o processo de comunicação se dá.
A comunicação humana tem uma origem bastante nebulosa. Realmente
não se sabe como foi que os homens primitivos começaram a se comunicar, se por
gritos ou grunhidos, como fazem os animais, ou se por gestos, ou ainda por
combinações de gritos, grunhidos e gestos.
Assim a cultura constitui-se num pano de fundo, um plano comum que
permite a ligação entre o emissor (que emite a mensagem) e o receptor (aquele que
recebe) e sobre o qual trafegam as mensagens.
E a origem da fala? Alguns afirmam que os sons utilizados para criar uma
linguagem nada mais eram que a imitação dos sons da natureza: a cachoeira, o
trovão, um som animal... Outros acham que os sons humanos vinham de
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exclamações espontâneas: "ai" de dor; "frr" de fúria; "oh" de admiração. Poder-se-ia,
também, pensar no uso das mãos e pés, além da boca, para se produzir sons, ou
ainda objetos como pedras e troncos. De qualquer forma, a história mostra que o
homem encontrou a maneira de associar determinado som ou gesto a um certo objeto
ou ação.
Não há dúvida que a primeira forma organizada de comunicação humana
foi a linguagem, acompanhada ou não de gestos.
Porém, os limites de alcance e a dificuldade de permanência levou o
homem a fixar os seus signos e modos de transmiti-los à distância.
O desenho foi a primeira forma de fixação dos signos e mais tarde a
linguagem escrita. Foram encontrados desenhos primitivos pintados por homens das
cavernas, entre 35.000 e 15.000 a.C.
Para comunicar-se à distância, o homem inicialmente apelou para sinais
sonoros e visuais (tantã, berrante, gongo, fumaça), mas a solução definitiva veio com
a invenção da escrita, no século IV a.C., aproximadamente. As mensagens escritas
podem, com efeito, ser transportadas a qualquer distância.
A escrita evoluiu aos pictogramas, signos que tinham correspondência
exata entre a imagem e o objeto representado: um sol significava um sol; uma mulher
era uma mulher mesmo. Ex: os hieróglifos do antigo Egito.
Chegou um momento em que o homem sentiu-se limitado pelo fato de que
cada signo correspondesse a um objeto. Passou, então, a usar os signos para
representar idéias. Assim, para os índios americanos a figura de um pássaro voando
significava pressa, um cachimbo, a paz. Esse tipo de escrita recebeu o nome de
ideográfica.
Um grau maior de liberdade foi alcançado quando o homem percebeu que
as palavras ou nomes de objetos eram compostos por unidades menores de sons (os
fonemas) e que, então, os signos poderiam representar esses fonemas e não mais
objetos ou idéias. Surge então a escrita fonográfica, onde os signos representam os
sons de uma palavra. Nasce o conceito de letras (a, b etc.). Delas, forma-se o
Alfabeto, onde cada letra representa um determinado som. Os alfabetos deram maior
alcance a linguagem escrita. O que faltava era um meio de registro melhor que as
pedras e os pergaminhos de couro.
Evolução dos meios de comunicação
Paralelamente à evolução da linguagem, desenvolveram-se, também, os
meios de comunicação.
O papel foi inventado pelos chineses. No ano 1454, Gutenberg inventou a
tipografia e o papel foi melhorado (tornou-se mais resistente e leve), o que possibilitou
que os livros fossem impressos repetidamente em muitos exemplares.
A indústria gráfica associou-se à invenções da mecânica, da química, da
eletrônica, até chegarmos hoje às impressoras computadorizadas capazes de receber
sinais de satélites. A fotografia ampliou a comunicação visual. Possibilitou a ilustração
de livros, jornais, revistas, inspirou o cinema, culminando com as imagens pela
televisão.
O alcance das comunicações foi garantido pela invenção de meios
eletrônicos que se utilizam de vários tipos de ondas para transmitir os signos, como o
telegrafo, o telefone, o rádio, a televisão, o satélite.
Com o desenvolvimento dos aparelhos e técnicas de produção dos meios
de comunicação, aumenta imensamente a influência e o poder da comunicação na
sociedade. O impacto dos meios sobre as idéias, emoções, comportamentos, atitudes
econômicas e políticas das pessoas cresceu tanto, que hoje é um fator fundamental
de poder e domínio em todos os campos da atividade humana.
O Poder da Comunicação e a Comunicação do Poder
Será que o modo da sociedade usar a sua comunicação "social" satisfaz as
necessidades das pessoas?
Os veículos de comunicação ajudam a tomar decisões importantes? Dão
condições de expressão a todos os setores da população? Favorecem ocasiões de
diálogo e de encontro? Estimulam o crescimento de consciência crítica e a
capacidade de participação? Questionam os regimes políticos e estruturas sociais que
não respondem aos anseios de liberdade, convívio ou de satisfação das necessidades
básicas da população?
Os meios de comunicação muitas vezes, são utilizados visando o lucro, o
prestígio, o poder e domínio. Existem ainda, táticas diversionistas do governo, tirando
a atenção do povo dos problemas de base, condicionando comportamentos,
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dificultando a consciência crítica. É a política do "Pão e circo". Exemplos: alguns
programas de TV e rádio sem qualquer valor educativo e construtivo.
Contrariamente então ao que alguns pensam, a comunicação é muito mais
que os "meios de comunicação social". Estes meios são tão poderosos na nossa vida
atual, que, às vezes, esquecemos que representam uma mínima parte de nossa
comunicação total.
A sociedade civil, constatando que todo esse poder não está sendo
utilizado para a promoção de um crescimento integral de todas as classes sociais, luta
por uma sociedade participativa, igualitária. Esta transformação passa
necessariamente pela participação pessoal e coletiva e forçosamente pela
comunicação. É a serviço da construção desta sociedade que o poder da
comunicação deve ser usado.
A comunicação pode se dar de uma forma confusa resultando em
distorções que geram incertezas ou falsa compreensão. As comunicações confusas
caracterizam-se por mensagens incompletas ou pouco explícitas, mensagens
contraditórias, falta de esclarecimentos sobre a mensagem mesmo quando o receptor
dá indícios dessa necessidade. Essa falta de compreensão gera a não comunicação.
Dentro de uma sociedade competitiva como a nossa, a habilidade de
comunicação é um recurso valorizado. As pessoas que não articulam suas intenções
claramente, podem encontrar-se em desvantagem ante pessoas com amplo
vocabulário.
A ausência de comunicação empobrece os indivíduos, paralisa o
crescimento interno porque rompe o processo de aprendizagem de ajuste de idéias,
percepções e sentimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORDENAVE, Juan E. Dias. O que é comunicação. São
Paulo, Brasiliense.
NICOLA, J. Língua, literatura, redação. Ed. Scipione, 1988.
A IMPORTÂNCIA DA COMUNICAÇÃO NO
TRABALHO EM SAÚDE
Discutir alguns aspectos da realidade do trabalho na área de saúde, facilita
a compreensão das condições em que o trabalhador dessa área atua, favorecendo o
desenvolvimento da sua capacidade transformadora.
Alguns aspectos dessa realidade:
1. O trabalho na área da saúde faz com que o profissional esteja
constantemente lidando com o sofrimento do outro, o que pode lhe provocar uma
carga psíquica intensa.
2. O resultado do trabalho na área da saúde é um serviço e não a produção
de um objeto. Lidar com parafusos, sapatos etc. é, fundamentalmente, diferente de
lidar com as pessoas.
3. O trabalho na área da saúde desenvolve-se dentro de uma instituição
com regras, normas, regulamentos, poder e hierarquia. O trabalhador está sujeito ao
mando de "cima para baixo" e ao mesmo tempo deve entender-se com o colega, na
equipe. Essas pressões de poder mal distribuídas, podem fazer o trabalhador
pressionar também de "cima para baixo" a população, esquecendo-se que esta tem
direitos sociais adquiridos.
4. No campo da saúde bucal as atribuições de cada integrante da equipe
encontram-se bem definidas. Mesmo assim, pode ocorrer, eventualmente,
sobreposição de funções que repercutem na organização do trabalho. É preciso,
portanto, que todos encarem o trabalho de cada um, como parte de um conjunto de
tarefas realizadas com o objetivo maior de prestar serviços de boa qualidade à
população.
5. Muitas vezes, é fácil misturar os problemas do trabalho com a vida
particular e vice-versa, pois não somos divisíveis, estando sujeitos a emoções,
problemas, necessidades, etc. A problemática fica ainda maior, pois o objeto do nosso
trabalho é uma pessoa semelhante a nós, também sujeita a problemas, emoções etc.
São nessas condições de trabalho que a equipe de saúde presta serviços à
população.
Além dessas condições, temos que levar em consideração a variedade de
formas de pensar e entender saúde. A maneira de ser do indivíduo abrange um
conjunto de valores, crenças e tabus que se refletem no seu comportamento.
Portanto, as ações das pessoas, desde os simples atos do cotidiano até as condutas
profissionais estão respaldadas em valores que as pessoas atribuem às coisas.
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Pode-se dizer que o comportamento das pessoas é basicamente
influenciado por:
1. Seu modo de perceber a realidade que o envolve - que depende das
características fisiológicas como acuidade sensorial, sexo, forças físicas e outras
variáveis, e também das experiências anteriores que o indivíduo, com o decorrer dos
anos, vai incorporando.
2. Seu ambiente social - Podem ser considerados como fatores de ordem
social, formadores de personalidade, todas as experiências vividas socialmente e
incorporadas pelo indivíduo. Essa influência do meio social pode se dar de duas
formas principais: pela educação formal, ou seja, aquela que é transmitida ao
indivíduo, sistematicamente, através dos professores e dos livros, e pela educação
informal, ou seja, aquela feita assistematicamente, através de incorporação de
padrões dos grupos por onde vai passando, desde a família, até os grupos de
recreação, esporte, religião e outros.
3. Sua necessidade imediata ou motivação - As pessoas não fazem as
mesmas coisas pelas mesmas razões. O motivo que gera as ações humanas, varia de
pessoa a pessoa, o que determina uma significativa diferença individual de
comportamento. Todos temos as mesmas necessidades básicas, porém o momento
que elas emergem depende do seu grau de satisfação. São as necessidades que
geram os nossos comportamentos e nos motivam para fazer ou alcançar
determinadas coisas. Por exemplo: todos precisam comer, dormir, ser amado,
pertencer a um grupo, ser reconhecido socialmente, etc. Porém, não temos fome na
mesma hora e nem gostamos todos da mesma comida.
Ao conviver com as pessoas sente-se que seus objetivos são diferentes
entre si. Há aquelas que se motivam por recompensas salariais, outras buscam
aceitação do grupo no qual trabalham e outras ainda o reconhecimento de sua
capacidade profissional.
são desiguais) e mesmo pela recusa sistemática do universo do usuário, que teremos
maiores chances de conseguir sua confiança para estreitar vínculos com a equipe de
saúde e chegar a objetivos que são comuns e não opostos: melhorar a saúde
individual e coletiva.
O Trabalho na Saúde
Quando o paciente procura um serviço de saúde geralmente está inseguro,
pois está enfrentando uma situação desconhecida ou mesmo fora do seu controle.
Isto gera medo e modificações nas suas emoções. A maneira de expressar esta
insegurança varia segundo idade, sexo, situação sócio-econômica, experiências
anteriores, maneira como é atendido nos serviços de saúde etc. Com freqüência
apresenta sinais de ansiedade, como por exemplo:
-
mudança freqüente da posição do corpo;
deambulação constante;
insônia;
inapetência ou apetite exagerado;
tremores;
gagueira momentânea;
roer unhas;
choro ou riso sem motivo;
hipertensão;
diarréia;
vômito;
sudorese.
Por isso, encontramos diferentes modos de se comportar e pensar e,
consequentemente, diferentes conceitos de saúde, não só por parte do indivíduo,
como também dos próprios grupos profissionais ou da população.
Apesar de o usuário/paciente/cliente ser uma pessoa igual a nós,
semelhante a qualquer membro da equipe, encontra-se em situação especial quando
precisa de serviços de saúde.
Por existir esta diferença de conceitos é necessário estarmos atentos à
forma de resolução de problemas de saúde de uma pessoa pois esta seguirá a
orientação na qual acreditar. Ela acreditará numa orientação dada na medida em que
tenha confiança em quem lhe está prestando orientação.
Quando nos vemos como pessoa humana e percebemos o indivíduo a que
estamos atendendo como outra pessoa humana, devemos estar atentos para alguns
aspectos de grande importância na forma de nos comunicarmos. Eles nos auxiliam a
estabelecer um relacionamento adequado aos nossos objetivos:
É através de um relacionamento humano, caracterizado por relações de
cooperação e solidariedade e não de antagonismo, diferenças, medição de força (que
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Saber ouvir
A maioria de nós tende a falar demais e ouvir de menos. Para conseguir
ouvir os outros é necessário que, além de saber fazer uso do silêncio, não julguemos
antecipadamente o que nos falam. É muito importante também darmos indicação à
pessoa que estamos prestando atenção ao que ela nos diz.
Estar disponível
Quando estamos fazendo um atendimento é importante que o indivíduo
atendido sinta que, naquele momento, estamos com ele. O fato de sentar junto, ou
mesmo estar por perto cria oportunidades para que o outro se dirija a nós.
Compreensão
objetos e adornos e mesmo o momento em que as coisas são ditas, influem
decisivamente na comunicação.
Outros fatores dificultam a comunicação. Por exemplo:
a. A projeção: leva-nos a emprestar a outro, intenções que ele nunca teve,
mas que teríamos no lugar dele;
b. A transferência inconsciente: sentimentos que tínhamos em relação a
uma pessoa parecida com o interlocutor, nos leva a uma predisposição favorável ou
desfavorável;
c. A frustração: impede a pessoa sujeita a ela de ouvir e entender o que
está sendo dito;
d. A competição: nos leva a fazermos uma espécie de "monólogo coletivo"
ou "diálogo de surdos". Cada um corta a palavra do outro sem ao menos ouvir o que
está sendo dito. Ninguém ouve ninguém;
É a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, tentando perceber
suas angústias e preocupações e, ao mesmo tempo procurando manter uma posição
profissional frente ao fato.
e. A percepção: o outro é visto sob influencia de preconceitos e
discriminações decorrentes de trajes, aspectos físicos etc. Os termos branco, negro,
judeu, viúvo, pobre, operário, mulato, chinês, gordo, tem cada um uma conotação que
nos predispõe a ouvir com atenção ou não;
Respeito
f. O egocentrismo: dificulta a aceitação do ponto de vista de quem nos fala.
Somos compelidos a rebater tudo o que o outro diz, sem ao menos ouvir o que ele
realmente quer dizer;
O profissional deve se comunicar com o paciente respeitando suas
características físicas, culturais, socioeconômicas, idade etc. Exemplo: sabendo que
um paciente tem dificuldade de audição, devemos falar num tom mais alto, mais
devagar, olhando para ele, pois a leitura labial facilita a compreensão.
Tom de voz
Ao falar, qualquer que seja a circunstância, o profissional deve manter um
tom de voz que expresse tranqüilidade e controle da situação, demonstrando firmeza
e segurança. O profissional seguro transmite tranqüilidade que é captada pelo
paciente.
g. A inibição: do receptor em relação ao emissor e vice-versa;
h. A seleção: leva-nos a escolher as mensagens com as quais estamos de
acordo. Esta seleção pode alterar e mesmo inverter o sentido do que está sendo
comunicado.
Outro aspecto a ser considerado é o fato de que a pessoa atendida pode
ter restrições para se comunicar: desde uma deficiência física até a dificuldade em
compreender o significado de nossas palavras e vice-versa, por diferenças na
linguagem utilizada.
A comunicação verbal não é a única forma de nos comunicarmos. Mesmo
quando falamos, existe a comunicação não verbal. Somada com a verbal, ela reflete a
mensagem real do que está sendo transmitido. Assim, a entonação da voz, as
expressões faciais, a postura corporal, o toque, o espaço entre os comunicadores, os
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COMO PREPARAR UMA ENTREVISTA
(*)
f. não fazer perguntas que influenciem as respostas;
Como fazer uma entrevista?
g. fornecer as informações necessárias procurando ater-se ao objeto da
entrevista;
Antes de fazê-la é necessário sua preparação levando em consideração os
objetivos e quem vai ser entrevistado.
h. ajudar o entrevistado a encontrar soluço para o seu problema, sempre
que for possível;
O que é importante na realização da entrevista?
i. não dar ordens;
Antes de tudo é importante planejar um roteiro, considerando alguns itens:
a. apresentar-se ao entrevistado, dando nome e função que exerce;
j. terminar a entrevista agradecendo a atenção e deixando a possibilidade
para contatos posteriores.
b. esclarecimento dos objetivos da entrevista;
O que observar na entrevista?
c. ouvir atentamente o que o entrevistado quer dizer;
A entrevista supõe uma relação pessoal, entre entrevistador e entrevistado.
Para que a mesma atinja seu objetivo é importante que aconteça num ambiente
tranqüilo e de forma agradável, facilitando o contato entre as pessoas.
d. facilitar e auxiliar quando este tiver dificuldade na comunicação e na
compreensão das perguntas;
e. ser gentil e não agir com superioridade;
_____________________________
(*) Texto reproduzido do Manual de Formação - Unidade 1 do Atendente de
Consultório Dentário, do Centro de Formação dos Trabalhadores da
Saúde (CEFOR), da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo,
publicado em 1991. O leitor deve levar em conta que trata-se de material
de formação de pessoal de saúde de nível elementar.
É necessário que o entrevistador saiba ouvir, mostrando-se atento e
interessado em tudo que disser o entrevistado. Manter o assunto da entrevista dando
ao entrevistado o direito de perguntar ou questionar.
É importante também observar a aparência, atitudes, expressões, silêncios
e contradições do entrevistado, que ajudarão a entender e complementar os dados
que muitas vezes não são respondidos claramente na entrevista.
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