Secretaria de Vigilância em Saúde ANO 03, N° 01 30/05/2003 BOLETIM eletrônico EPIDEMIOLÓGICO Meningite Criptococócica INVESTIGAÇÃO DE ÓBITO POR MENINGITE CRIPTOCOCÓCICA COM PROVÁVEL TRANSMISSÃO POR FEZES DE QUIRÓPTEROS. RONDÔNIA, 2002 INTRODUÇÃO EXPEDIENTE: Ministro da Saúde Humberto Costa Secretário de Vigilância em Saúde Jarbas Barbosa da Silva Júnior Ministério da Saúde Secretaria de Vigilância em Saúde Edifício Sede - Bloco G - 1o andar Brasília - DF CEP: 70.058-900 fone: (0xx61) 315 3777 www.saude.gov.br/svs Criptococose é uma zoonose oportunista, causada por uma levedura capsulada, sendo encontrada em solo, frutos e vegetais em decomposição, apresentando como reservatório fezes de aves, principalmente de pombos, e raramente a de morcegos. Apresenta distribuição cosmopolita, acometendo principalmente pacientes imunodeprimidos, como a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, terapias prolongadas com corticóides, neoplasias entre outras. O período de incubação dessa patologia é desconhecido, porém sabese que o comprometimento pulmonar pode anteceder em anos ao comprometimento cerebral. A infecção se dá por via aerógena, com a inalação de aerossóis que contém a levedura. Não existe transmissão direta homem a homem, nem de animais para o homem. SINAIS E SINTOMAS Por tratar-se de uma micose sistêmica profunda, seu quadro clínico pode variar conforme o órgão acometido. Quando o fungo atinge os pulmões, podem ocorrer três evoluções distintas: - Pode haver recuperação do organismo sem intervenção médica; - A doença pode ficar localizada nos pulmões; ou pode disseminar para os demais órgãos. Se o paciente estiver imunodeprimido o fungo desenvolve-se nos pulmões, sob a forma de nódulos, causando tosse seca, dor no peito e dispnéia. A maioria dos pacientes não tem seu diagnóstico definido até que comecem a apresentar os sinais da meningite criptococócica, onde os sintomas vão aparecer gradualmente em 2 a 4 semanas. Febre e dor de cabeça são os sintomas mais comuns. Pode ocorrer náusea, vômito, perda de peso e fadiga. Outros sinais menos comuns são: visão turva, rigidez de nuca e aversão a luz. Pode acometer outros órgãos, tais como, rim, medula óssea, coração, adrenal, linfonodos, trato urinário e pele, gerando lesões acneiformes, ulcerações ou massas subcutâneas que simulam tumores. Figura 1 - Presença de morcegos não hematófagos na região DIAGNÓSTICO O diagnóstico normalmente é clínico, baseado nos sintomas. A confirmação é feita a partir da visualização das formas encapsuladas e em gemulação do Cryptococcus no líquor com o uso da tinta da China (nankin). Ainda pode Figura 2 - Presença de morcegos não hematófagos na região ■ continua na página 2 Meningite criptococócica (continuação) conseguir isolamento a partir de pús e urina. A sorologia, em líquor e soro, e a histopatologia podem ser úteis. Na residência do caso foram encontrados resíduos de fezes de morcegos, porém em quantidade insuficiente para análise laboratorial, já que a casa havia sido limpa anteriormente. Segundo relato de familiares, a quantidade de fezes que caia do forro para o interior do quarto era grande. Em maio de 2002, a paciente subiu no forro duas vezes, onde em uma das vezes permaneceu por pelo menos quinze minutos, sem uso de qualquer equipamento de proteção. TRATAMENTO Uma vez diagnosticada, o tratamento é iniciado com anfotericina B, um fungiostático potente, geralmente dado por via intravenosa por tempo prolongado; lembrando que os efeitos colaterais dessa droga incluem febre, calafrio, náusea e vômito, diarréia, cefaléia e dores musculares. Uma outra droga utilizada como alternativa é o fluconazol, administrado oralmente. CONCLUSÃO Em conclusão, foi investigado um caso de criptococose com provável transmissão por inalação de fezes de morcegos, onde a paciente poderia estar imunodeprimida pelo uso constante de corticosteróides. PROGNÓSTICO Quando não tratada, o prognóstico dessa doença é ruim, e a mortalidade é maior em paciente imunocomprometidos, chegando a 12%. INVESTIGAÇÃO No dia 23 de setembro de 2002, o Centro Nacional de Epidemiologia (CENEPI/FUNASA/MS)(1) foi notificado pela Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto do Oeste-RO da ocorrência de um óbito com diagnóstico de criptococose, além de agressões de morcegos em área urbana da cidade, sendo solicitada assessoria técnica. Foi realizada investigação no local, com o intuito de confirmar a etiologia do óbito, identificar a fonte de infecção e fatores de risco para adoecimento e propor medidas de controle e prevenção. Ainda foram capacitados 30 profissionais de saúde para identificação e controle populacional de morcegos e controle populacional de pombos. Na última quinzena de junho de 2002, uma paciente do sexo feminino, 29 anos, residente de Ouro Preto do Oeste apresentou início de sintomas, procurando assistência médica, queixando-se de cefaléia. No dia 29 de julho de 2002, foi transferia e internada no Hospital Geral de Goiás, apresentando crises convulsivas, diminuição do estado de consciência, dificuldade em atender (1) As ações de competência da SVS eram desenvolvidas à época pelo CENEPI. Figura 3 - Fezes de morcego aos comandos verbais, sem déficit motor e resultado de tomografia computadorizada de crânio normal. O quadro clínico da paciente manteve-se instável. No dia 31 de julho de 2002, foi detectado Cryptococcus no líquor através da pesquisa direta com a tinta da China, onde deu-se início de tratamento específico com fluconazol e anfotericina B. O quadro clínico evoluiu com lombalgia, e dispnéia. No dia 02 de agosto de 2002, a paciente necessitou de ventilação mecânica, onde dessa data em diante seu quadro manteve-se grave, vindo a falecer no dia 10 de agosto de 2002. A paciente apresentava em região cervical lombar, uma ferida de difícil cicatrização, característico da doença. Em entrevista com familiares e revisão de prontuários, observou-se que a paciente devido a outros agravos, frequentemente tomava medicamentos a base de corticosteróides. A paciente ainda utilizava medicamentos para reumatismo, diagnosticado no final de 1999. Além disso, tinha um histórico de cólicas renais frequentes e herpes zoster. Os exames laboratoriais da paciente demonstraram contagem de 2.300/mm3 na pesquisa de Cryptococcus no líquor. Apresentou ainda teste para HIV 1 e 2 negativos. 2 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003 RECOMENDAÇÕES Foi alertado os médicos sobre a criptococose como hipótese diagnóstica em pacientes imunodeprimidos com quadros de meningites e das fezes de morcegos como possível fonte de infecção. Figura 4 - Forro da escola da região com acúmulo de fezes Meningite criptococócica (continuação) Ainda foi recomendado o manejo e controle de morcegos, sempre que houver risco iminente para população, sendo todas as solicitações da populações atendidas. Todo caso de agressão humana por morcegos deve receber tratamento imediato e adequado. Conscientização a população sobre os riscos de adoecimento, alertando das situações em que possam causar problemas para a saúde. Orientação para que pessoas imunodeprimidas evitem áreas com grande quantidade de fezes de morcegos e aves; sempre umidificar locais onde houver acúmulo de fezes, evitando a formação de aerossóis. Impedimento da moradia de morcegos e aves, evitando deixar alimentos disponíveis e fechando portas de entrada e locais apropriados para essas espécies. A remoção das fezes deve ser antecedida com desinfecção de formol a 3%. Sempre que for ter acesso a uma área com acúmulo de fezes utilizar equipamento de proteção, tais como máscaras, óculos e luvas. Marcelo Yoshito Wada - SVS/MS Mauro Rosa Elkhoury - SVS/MS Margarita Urdaneta - SVS/MS Douglas L. Hatch - SVS/MS Eduardo Hage Carmo - SVS/MS Rosely Cerqueira Oliveira - SVS/MS Angelika Bredt - SES/DF Maria Isabel Rao Bofill - SES/DF Pedro Delmiro Torres - SES/RO Joelmir Araújo de Oliveira - SMS/Ouro Preto do Oeste PRIMEIRO INQUÉRITO SOROLÓGICO EM AVES MIGRATÓRIAS E NATIVAS DO PARQUE NACIONAL DA LAGOA DO PEIXE/RS PARA DETECÇÃO DO VÍRUS DO NILO OCIDENTAL INTRODUÇÃO A Febre do Nilo Ocidental é uma encefalite viral causada por um Flavivírus, que acomete principalmente aves e ocasionalmente o homem e cavalos. A transmissão desta enfermidade se dá através da picada de mosquitos hematófagos e tem como principais disseminadores as aves. A doença foi identificada pela primeira vez em Uganda, em 1937. Na década de 50, verificou-se em Israel a primeira epidemia, sendo reconhecida como o vírus do Nilo Ocidental, o causador de uma meningoencefalite severa. Subseqüentemente sua presença foi novamente identificada em Israel, bem como na Índia, Egito e outros países da África. Em 1974, ocorreu na África do Sul a maior epidemia conhecida causada por este agente. Na década de 90 ocorreram surtos nos seguintes países: Argélia (1994), Romênia (1996-1997), República Checa (1997), República Democrática do Congo (1998), Rússia (1999), Israel (2000). Nos EUA, a doença vem ocorrendo desde 1999 e, em 2002, já foram identificados 4.156 casos com 284 óbitos. A maioria das populações de aves migratórias que fazem do Brasil uma área de invernada são provenientes das colônias de reprodução da costa leste norte-americana e canadense. Chegam ao norte do país a partir de setembro e à costa do Rio Grande do Sul, em novembro. Muitos jovens e adultos que não irão reproduzir naquele ano, permanecem no Brasil até que estejam aptos à reprodução. Existem poucos relatos na literatura sobre o período de incubação da doença nas aves, entretanto o período de viremia nestes animais é de 1 a 4 dias, onde a partir daí a maioria adquire imunidade. Por serem as aves migratórias os principais reservatórios do vírus, como parte da implantação da vigilância em aves se fez necessário a realização de inquérito sorológico nesses animais. A SVS, preocupada com a possibilidade da entrada do vírus causador da febre do Nilo Ocidental, vem desde o início do ano passado desenvolvendo as seguintes atividades para estruturação da vigilância e controle da Febre do Nilo Ocidental no território brasileiro. 1. Participação de dois técnicos do SVS(1), na oficina de trabalho em Vigilância da Febre do Nilo Ocidental realizado em Trinidad e Tobago, abril 2002. (Abril/Maio/2002) 2. Levantamento de aves mortas, sem causa definida, nos dois últimos anos, nos principais zoológicos do país.(Abril/2002) 3. Estabelecimento de Portaria Interministerial entre o Ministério da Saúde, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e Ministério do Meio Ambiente, que dispõe sobre a criação do Comitê Executivo para implantar e coordenar o Sistema de Vigilância da Febre do Nilo Ocidental. (Setembro/2002) 4. Treinamento de equipe técnica no Centro de Vigilância Ambiental do Recife/PE e na Ilha de Itamaracá/PE, para realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias do País.(Outubro/2002) 5. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias e Nativas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe/ RS para detecção do Vírus da Febre do Nilo Ocidental.(Novembro/2002) 6. Desenvolvimento do Guia de Vírus da Febre do Nilo Ocidental. (Novembro/2002) 7. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves Migratórias e Residentes de Galinhos/RN para detecção do Vírus do Nilo Ocidental e outros vírus. (Abril/maio 2003) 8. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Andorinhas (1) As ações de competência da SVS eram desenvolvidas à época pelo CENEPI. 30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 3 Febre do Nilo Ocidental (continuação) da Refinaria de Petróleo/REMAN em Manaus para detecção do Vírus do Nilo Ocidental e outros vírus. (Setembro/2003) 9. Realização de Monitoramento Sorológico em Aves Migratórias e Residentes na Coroa do Avião/PE para detecção do vírus do Nilo Ocidental e outros vírus (Influenza Aviária e Newcastle). (set/out/nov de 2003 e fev/mar/abr de 2004) Por fim uma Reunião Nacional com os Coordenadores Estaduais de Epidemiologia e Zoonoses das SES para discussão da Estruturação da Vigilância no País. LOCAL O Parque Nacional da Lagoa do Peixe, localiza-se na costa gaúcha, com limites entre os municípios de Tavares, Mostardas e São José do Norte, cerca de 240 Km de Porto Alegre/RS, entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos. (Foto 1) caminho da reprodução, no Ártico Canadense ou no sul do continente sul-americano. A quantidade de animais que migra para a área, a diversidade de espécies e a infra-estrutura do local, foram fatores importantes para a determinação do local a ser realizado o inquérito. PERÍODO • 31 de outubro a 13 de novembro de 2002 Para a escolha do período a ser realizado o inquérito, foi observado a época do ano do início da migração das aves do hemisfério norte e a fase da lua, devido a captura ser realizada no período noturno, das 22:00 ás 6:00hs e a escuridão ser um fator facilitador para a captura. PARTICIPANTES • Médicos Veterinários - Francisco Anilton Alves Araújo/SVS – Coordenador - Marcelo Yoshito Wada/SVS - EPI_SUS - Égon Vieira da Silva/Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Georges Cavalcanti e Cavalcante/Sociedade de Zoológicos do Brasil - Vivyanne Santiago Magalhães/UFRPE - Geraldo Vieira de Andrade Filho/CVA/Prefeitura do Recife • Farmacêuticos-Bioquímicos - Sueli Guerreiro Rodrigues/IEC/SVS - Lívia Caricio Martins/IEC/SVS Foto 1 - Lagoa do Peixe O Parque constitui um dos mais espetaculares refúgios de aves que migram mais de 8.000 km, concentrando-se na área por mais de quatro meses. A migração se dá com os indivíduos ainda não sexualmente imaturos, os quais permanecem no território brasileiro quase o ano inteiro; os demais ali descansam, recuperando as energias gastas na migração, realizando ciclos de mudas (trocas de penas), acumulando reservas para suas extensas jornadas de volta, à • Biólogos - Carmem Elisa Fedrizzi/UFRPE - Adriano Scherer/CEMAVE/IBAMA - Leonardo Vianna Mohr/CEMAVE/IBAMA - Marco Antônio Barreto de Almeida/Secretaria de Saúde do R. G.do Sul • Auxiliares Técnicos - Basílio Silva Buna/Instituto Evandro Chagas/SVS 4 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003 - Luís Roberto de Oliveira Costa - Instituto Evandro Chagas/SVS - Shrerezino Barbosa Scherer - CEMAVE/IBAMA - Ricardo da Silva Teixeira Vianna - SVS PROMOÇÃO E INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES • Sevcretaria de Vigilância em Saúde - Departamento de Vigilância Epidemiológica - Instituto Evandro Chagas • Fundação Nacional de Saúde - Coordenação Regional do Rio Grande do Sul • Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento • Ministério do Meio Ambiente • IBAMA - Superintendência do Rio Grande do Sul - Parque Nacional da Lagoa do Peixe - CEMAVE • Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul • Sociedade de Zoológicos do Brasil OBJETIVO Realizar inquérito sorológico amostral em aves migratórias e nativas da Lagoa do Peixe/RS para detecção da presença de anticorpos para o vírus do Nilo Ocidental. FINANCIAMENTO • Fundação Nacional de Saúde DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES A chegada ao local se deu no dia primeiro de novembro, quando a equipe procurou se alojar para dar início as atividades ainda no primeiro momento. Devido a distância da cidade mais próxima ser de cerca de 40 km que deveriam ser percorridos na praia, e as atividades serem desenvolvidas no período da noite se fez necessário improvisar como alojamento uma escola e uma pequena cabana como laboratório. (Foto 2 e Foto 3) Febre do Nilo Ocidental (continuação) Foto 2 - Laboratório Foto 4 - Colocação das redes Foto 6 - Ave apreendida – batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus) Foto 3 - Alojamento Foto 5 - Redes colocadas Foto 7 - Retirada da ave - maçarico-branco (Calidris alba) COLOCAÇÃO DE REDES Foram colocadas 32 redes ornitológicas de captura de aves, em dois locais de pouso e alimentação das aves, perfazendo uma área de 320 metros em linha reta. Estas redes eram abertas durante a noite e fechadas durante o dia. (Foto 4 e Foto 5) RETIRADA DE ANIMAIS DAS REDES O uso de redes e a retirada dos animais presos nelas pressupõe uma certa habilidade dos técnicos para não causar danos nas aves. A quantidade de aves que ela permite capturar é bastante grande e os técnicos necessitam de um grande conhecimento ornitológico. (Foto 6 e Foto 7) A cada duas horas eram feitas vistorias nas redes onde os animais eram retirados e levados para o laboratório para serem processados (identificação, biometria e coleta de sangue). TRIAGEM No momento da retirada dos animais das redes eles eram colocados em caixas, separados por espécie, para 30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 5 Febre do Nilo Ocidental (continuação) • A coleta de sangue foi realizada utilizando seringa de insulina heparinizada, e feita preferencialmente na veia jugular ou na veia basílica (alar). • O sangue foi colocado em flaconetes etiquetados, centrifugado e congelados em nitrogênio líquido para envio ao laboratório de diagnóstico (Instituto Evandro Chagas). • A etiqueta possuía um número que correspondia a anilha colocada ou já existente na perna do animal. evitar que as mais agressivas não viessem a ferir as outras. (Foto 8) Foto 9 - Medição da asa Foto 8 - Separação das aves BIOMETRIA Para realização da biometria foi utilizada uma ficha específica (Anexo 1), preparada em conjunto pelos técnicos que participaram do inquérito. A ficha possuía dados biológicos referentes a: espécie, status (ave nova, recapturada, recuperada e anilha destruída), idade, sexo, plumagem, número da anilha, muda, medidas (asa, tarso, cauda, cúlmen total e narina ponta), peso e quantidade de sangue coletada. Todas as aves capturadas foram anilhadas conforme normas internacionais, entretanto aquelas já anilhadas eram anotadas na ficha o número das anilhas e observadas a procedência. A coleta de dados tem como objetivo principal conhecer as espécies capturadas e a procedência dos animais anilhados em outras partes do mundo, auxiliar na determinação da quantidade de sangue a ser coletada além de definir em que fase de desenvolvimento estes animais se encontram. Toda a responsabilidade da biometria ficou a cargo dos biólogos da equipe. (Foto 9 e Foto 10) Foto 11 – Punção da jugular - maçarico-de-bico-virado (Limosa haemastica) Foto 10 - Medição da narina ponta - piru-piru (Haematopus palliatus) COLETA DE SANGUE Este procedimento foi realizado pelos médicos veterinários da equipe, devidamente treinados. (Foto 11 e Foto 12) • A quantidade de sangue a ser coletado, dependia do peso corporal da ave, isto é, foi padronizado a quantidade máxima de sangue, como 1% do peso do animal. 6 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003 Foto 12 - Punção da veia basílica Febre do Nilo Ocidental (continuação) RESULTADOS OBTIDOS QUADRO 1- NOME 1. AVES APREENDIDAS Foram apreendidas 556 aves, de 19 espécies diferentes, das quais, foi coletado sangue de 522 (93,9%) animais. Destas espécies, vale considerar que já foram isolados vírus nos EEUU, segundo OPAS (http://www.paho.org/Portuguese/HCP/HCT/VBD/ wnv-guidelines.htm) em 3 delas; Calidris alba, Arenaria interpres e Rynchops niger. (Foto 13) AVES CAPTURADAS CIENTÍFICO E POPULAR, STATUS E QUANTIDADE DE NOME CIENTÍFICO Arenaria interpres Calidris alba Calidris canutus Calidris fuscicollis Calidris pusilla Charadrius semipalmatus Haematopus palliatus Limosa haemastica Pluvialis squatarola Progne chalybea Rhinchops niger Sterna eurygnatha Sterna hirundinacea Sterna hirundo Sterna maxima Sterna nilotica Sterna superciliaris Sterna trudeaui Tringa flavipes NOME VULGAR S TATUS QUANTIDADE N N N N N VN R N N M R M M N M N R R N 28 1 51 11 4 1 6 17 1 1 8 7 7 342 1 1 8 56 5 vira-pedra maçarico-branco maçarico-de-papo-amarelo maçarico-de-sobre-branco maçarico-rasteirinho batuíra-de bando piru-piru maçarico-de-bico-virado Batuiruçu andorinha-doméstica-grande talha-mar trinta-réis-de-bico-amarelo trinta-réis-de-bico-vermelho trinta-réis-boreal trinta-réis-real trinta-réis-do-bico-preto trinta-réis-anão trinta-réis-de-coroa-vermelha maçarico-perna-amarela 556 TOTAL Legenda: M = Migrante, residente do verão, S = Migrante, visitante do Cone Sul PN = Visitante Pelágico vindo do Hemisfério Norte V = Vagante N = Migrante, visitante do Hemisfério Norte P = Pelágico R = Residente Foto 15 - Contenção da ave - trinta-réis-de-bico-amarelo (Sterna eurygnatha) 2. AVES RECAPTURADAS Foram considerados recapturados os animais previamente capturados e anilhados pelo grupo durante a viagem. Considerando as 556 aves trabalhadas, 13 delas foram recapturadas (2,3%) do total. Sendo, oito Sterna hirundo, duas Sterna trudeaui, uma Sterna nilotica, uma Arenaria interpres e um Calidris canutus. (Foto 16) Foto 13 - Contenção da ave - talha-mar (Rynchops niger) Considerando o projeto inicial, onde a perspectiva de captura era de pelo menos 14 espécies diferentes de aves migratórias e residentes com uma amostra de 704 animais, além de 100 amostras de espécies não relacionadas inicialmente, não houve considerável mudança nas espécies propostas inicialmente, coincidindo com 42,1% da proposta inicial. Entretanto, a meta inicial do número de aves a serem apreendidas por espécie foi cumprida nas Calidris canutus, Sterna hirundo (Foto 14) e Sterna trudeaui e a Limosa haemastica em 34%, fato que deve ser considerado que a queda destes animais nas redes ocorre de uma forma aleatória. (Foto 15) Foto 14 - Bando de trinta-réis-boreal (Sterna hirundo) Foto 16 - Contenção e localização da anilha - maçarico-de-papo-amarelo (Calidris canuttus) 30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 7 Febre do Nilo Ocidental (continuação) 3. AVES RECUPERADAS Foram consideradas como recuperadas as aves apeendidas em outros locais e apreendidos durante o trabalho. Das 57 aves recuperadas, 55 (96,5%) são provenientes do leste dos EEUU e duas (3,5%) de Portugal. Vale considerar que a anilha de uma das aves recuperadas encontrava-se semi-destruída, dificultando assim a identificação precisa do local de origem da numeração da mesma. (Foto 17) Foto 17 - Contenção da ave - trinta-réis-boreal (Sterna hirundo) 4. AVES OBSERVADAS Além do trabalho de rotina de captura, apreensão, biometria, necropsia, coleta de material dos animais domésticos, coleta de mosquitos e ectoparasitos, foi realizado um trabalho de observação das aves, utilizando binóculos, com um objetivo de subsidiar o inquérito sorológico tendo em vista que muitas das espécies de aves observadas não foram capturadas e que existe a possibilidade das mesmas serem provenientes de áreas com circulação do vírus do Nilo Ocidental. (Foto 18 e Foto 19) Foto 18 - Carcará (Carcara plancus) Chama a atenção que 10,3% do total de animais capturados já haviam sido anilhados em outros países, confirmando a migração a partir das áreas onde o vírus do Nilo Ocidental tem circulado. QUADRO 2- AVES RECUPERADAS SEGUNDO ESPÉCIE, NOME POPULAR E PROCEDÊNCIA E SPÉCIE Sterna hirundo Sterna hirundo Total NOME POPULAR trinta-réis-boreal trinta-réis-boreal QUANTIDADE PROCEDÊNCIA 55 2 EEUU Portugal 57 Foto 19 - Garça-moura (Ardea cocoi) 8 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003 Neste sentido, o Quadro 3 mostra 81 espécies de aves observadas na área do Parque, 10 das quais, o vírus do Nilo Ocidental já foi isolado nos EEUU, com objetivo de relacionar que espécies seriam mais importantes de serem monitoradas no país. QUADRO 3 - LISTA DE AVES OBSERVADAS, SEGUNDO ESPÉCIE, NOME POPULAR, STATUS E ISOLAMENTO DO VÍRUS DO NILO OCIDENTAL NOS EEUU NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA SPHENISCIDAE Spheniscus magellanicus FAMÍLIA TINAMIDAE Nothura maculosa FAMÍLIA PROCELLARIIDAE Puffinus puffinus FAMÍLIA PHALACROCORACIDAE Phalacrocorax brasilianus FAMÍLIA ARDEIDAE Ardea cocoi Casmerodius albus Egretta thula Bubulcus ibis Syrigma sibilatix Nycticorax nycticorax FAMÍLIA CICONIDAE Mycteria americana Euxenura maguari FAMÍLIA THRESKIORNITHIDAE Phimosus infuscatus Plegadis chihi Platalea ajaja FAMÍLIA PHOENICOPTERIDAE Phoenicopterus chilensis FAMÍLA CATHARTIDAE Coragyps atratus FAMÍLIA ACCIPITRIDAE Rostrhamus sociabilis Buteo magnirostris FAMÍLIA FALCONIDAE Carcara plancus Milvago chimachima Milvago chimango Falco peregrinus Falco sparverius FAMÍLIA ANATIDAE Coscoroba coscoroba Cygnus melanocoryphus NOME POPULAR STATUS DE OCORRÊNCIA VÍRUS pingüim-de-magalhães Ac perdiz R pardella-boreal P biguá R garça-moura garça-branca-grande garça-branca-pequena garça-vaqueira maria-faceira savacu R R R R R R cabeça-seca joão-grande M R maçarico-de-cara-pelada maçarico-preto colhereiro R R R flamingo S + urubu-cabeça-preta R + gavião-caramujeiro gavião-carijó R R carcará carrapateiro chimango falcão-peregrino quiriquiri R R R N R capororoca cisne-do-pescoço-preto R R + + + continua Febre do Nilo Ocidental (continuação) continuação NOME CIENTÍFICO Anas flavirostris Anas georgica Anas versicolor Anas platalea Amazonetta brasiliensis FAMÍLIA RALLIDAE Aramides saracura FAMÍLIA JACANIDAE Jacana jacana FAMÍLIA HAEMATODIDAE Haematopus palliatus FAMÍLIA RECURVIROSTRIDAE Himantopus himantopus FAMÍLIA CHARADRIIDAE Vanellus chilensis Pluvialis dominica Pluvialis squatarola Charadrius semipalmatus Charadrius collaris FAMÍLIA SCOLOPACIDAE Limosa haemastica Tringa melanoleuca Tringa flavipes Arenaria interpres Gallinago paraguaiae Calidris canutus Calidris alba Calidris fuscicollis Calidris pusilla FAMILIA LARIDAE Larus dominicanus Larus maculipennis Sterna hirundinacea Sterna hirundo Sterna trudeaui Sterna superciliaris Sterna maxima FAMÍLIA RYNCHOPIDAE Rynchops niger FAMÍLIA COLUMBIDAE Zenaida auriculata Leptotila rufixilla FAMÍLIA PSITTACIDAE Myiopsitta monachus FAMÍLIA STRIGIDAE Speotytro cunicularia continuação NOME POPULAR STATUS DE OCORRÊNCIA marreca-pardinha marreca-parda marreca-cri-cri marreca-colhereira marreca-pé-vermelho R R R S R saracura-do-brejo R jaçanã R piru-piru R pernilongo R quero-quero batuiruçu batuiruçu-de-axila-preta batuíra-norteamericana batuíra-de-coleira R N N N R maçarico-de-bico-virado maçarico-grande-de-perna-amarela maçarico-de-perna-amarela vira-pedra narceja maçarico-de-papo-vermelho maçarico-branco maçarico-de-sobre-branco Maçarico-miúdo N N N N R N N N N gaivotão gaivota-maria-velha trinta-réis-de-bico-vermelho trinta-réis-boreal trinta-réis-de-coroa-branca trinta-réis-anão trinta-réis-real R R S N R R R talha-mar R pomba-de-bando juriti-gemedeira R R caturrita R coruja-do-campo R VÍRUS + + + + continua NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA ALCEDINIDAE Chloroceryle americana FAMÍLIA PICIDAE Colaptes campestris FAMÍLIA FURNARIIDAE Geositta cunicularia Furnarius rufus Synallaxis spixi FAMÍLIA TYRANNIDAE Xolmis irupero Machetornis rixosus Tyrannus melancholicus Tyrannus savana Pitangus sulphuratus FAMÍLIA HIRUNDINIDAE Tachycineta meyeni Progne chalybea Notiochelidon cyanoleuca FAMÍLIA MIMIDAE Mimus saturninus FAMÍLIA MUSCICAPIDAE Turdus rufiventris Turdus amaurochalinus FAMÍLIA EMBEREZIDAE Zonotrichia capensis Sicalis flaveola FAMÍLIA PARULIDAE Parula pitiayumi Geothlypis aequinoctialis FAMÍLIA ICTERIDAE Agelaius ruficapillus Sturnela superciliaris Pseudoleistes virescens Molothrus bonariensis FAMÍLIA PASSERIDAE Passer domesticus STATUS NOME POPULAR DE OCORRÊNCIA martim-pescador-pequeno R pica-pau-do-campo R curriqueiro joão-de-barro jão-teneném R R R noivinha suiriri-cavaleiro suiriri tesourinha bem-te-vi R R M M R andorinha-chilena andorinha-domestica-grande andorinha-pequena-de-casas S M R sabiá-do-campo R sabiá-laranjeira sabiá-poca R R tico-tico canário-da-terra-verdadeiro R R mariquita pia-cobra R R garibaldi policia-inglesa dagrão vira-bosta R R R R pardal R VÍRUS pardela-boreal (Puffinus puffinus), três tartarugas, três toninhas e um lobo marinho. Fato considerado, normal, nesta época do ano, pelos pesquisadores do IBAMA. Houve a tentativa de realização de necropsia de alguns destes animais (pingüins), entretanto devido ao avançado estado de decomposição que eles se encontravam só foi possível nas pardela-boreal (Puffinus puffinus). (Foto 20) Foto 20 - Pardela-boreal (Puffinus puffinus) encontrada morta + STATUS DE OCORRÊNCIA: Ac = Acidental; R = Residente Anual; M = Residente de primavera/verão migratório; nidifica no RS; S = Visitante migratório vindo do Cone Sul do continente; N = Visitante migratório vindo do Hemisfério Norte; P = Visitante pelágico vindo do Hemisfério Sul; PN = Visitante pelágico vindo do Hemisfério Norte. 5. ANIMAIS MORTOS OBSERVADOS Durante o período de desenvolvimento das atividades foram encontrados centenas de pingüins (Sphenicus magellanicus) mortos na praia, além de cinco aves do tipo 6. NECROPSIAS REALIZADAS Foram realizadas necropsias em 16 aves e coletado fragmentos de cérebro, coração, fígado, baço e rim. O material foi devidamente conservado em nitrogênio líquido e encaminhado para o Instituto Evandro Chagas/FUNASA para tentativa de isolamento do vírus. Além disto, o objetivo da coleta de material de animais mortos é correlacionar os resultados laboratoriais com os resultados da sorologia. (Quadro 4) 30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 9 Febre do Nilo Ocidental (continuação) QUADRO 4 - AVES NECROPSIADAS SEGUNDO, NOME CIENTÍFICO, NOME POPULAR E QUANTIDADE E SPÉCIES Calidris fuscicollis Calidris canutus Puffinus puffinus Sterna hirundo Sterna trudeaui NOME POPULAR maçarico-de-sobre-branco maçarico-de-papo-amarelo Pardella-boreal Trinta-réis-boreal trinta-réis-de-coroa-vermelha Total QUANTIDADE realizado e solicitar o apoio no sentido de permitir a realização de coleta de sangue dos animais domésticos da comunidade. (Foto 22 e Foto 23) QUADRO 5 - ANIMAIS E SPÉCIES Cachorro Cavalo Porco Galinha Pato 2 3 5 4 2 COLETADOS SEGUNDO ESPÉCIE E QUANTIDADE DE INDIVÍDUOS Total QUANTIDADE 7 4 2 7 4 24 16 8. MOSQUITOS CAPTURADOs Pelo fato da transmissão da doença ocorrer através da picada de mosquito, considerou-se importante a captura destes animais na área. Vale ressaltar que não foi feito levantamento entomológico, e sim capturas esporádicas diurnas e noturnas no intuito de conhecer a fauna presente no momento e local da captura das aves. Estes insetos foram encaminhados ao Instituto Evandro Chagas/FUNASA para identificação e tentativa de isolamento do vírus. (Foto 24) Vale considerar que nada fora do normal foi observado macroscopicamente nos animais necropsiados. Cinco animais necropsiados foram encontrados mortos na praia e o restante foram a óbito em decorrencia da captura, tendo portanto sido encontrados mortos na praia e os outros foram a óbito. É importante considerar que não houve nenhuma morte de ave devido o manuseio indevido, stress, biometria ou coleta de sangue. (Foto 21) Foto 22 - Punção da jugular de um eqüino Foto 21 - Necropsia 7. COLETA DE SANGUE DE ANIMAIS DOMÉSTICOS A Diretora do Parque visitou o líder da comunidade de pescadores para informar sobre o trabalho que estava sendo Foto 23 - Punção da veia basílica (alar) do pato 10 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003 Foto 24 - Material para capturas dos mosquitos Febre do Nilo Ocidental (continuação) Foram capturados 445 mosquitos, de dois gêneros diferentes, sendo 416 (93,5%) Aedes albifasciatus e 29 (6,5%) Culex spp. O Culex spp, destes mosquitos, não foi possível a identificação até espécie, devido os mesmos terem chegado ao laboratório em condições inadequadas. (Quadro 6) QUADRO 6 - LOTES DE MOSQUITOS PREPARADOS PARA TENTATIVAS DE MODALIDADES/ E SPÉCIES PERIDOMICILIAR DOMICILIAR MOSQUITO GRUPO MOSQUITO GRUPO Aedes (Och.) albifasciatus Culex (Cux.) spp 381 6 14 1 34 6 1 6 Total de culicídeos 387 15 40 2 * GRUPO: pool separados para isolamento Aedes albifasciatus é uma espécie zoofílica comum encontrada no sul do continente americano, apresentando importância por atacar animais e o homem, principalmente no verão chuvoso, época em que se reproduz. Sua criação é dada em locais planos onde hajam depressões temporárias. Pode ser encontrado em áreas peridomiciliares e domiciliares. 9. ECTOPARASITOS CAPTURADOS Considerando o alto grau de infestação por ectoparasitos de algumas aves capturadas e levando em conta a possibilidade destes animais também serem vetores do vírus do Nilo Ocidental e de outras enfermidades exóticas em nosso meio, foram coletados 26 espécimes a partir de 10 aves, os quais estão sendo identificados para determinar se são piolhos hematófagos ou mastigadores (alimentam de penas e escamas) na Universidade Federal Rural de Pernambuco pelas técnicas Jackeline Biankue de Oliveira (médica veterinária), Magnólia da Conceição Nunes Botelho (bióloga) e Mirian Dowell de Brito (bióloga). 10. RESULTADOS LABORATORIAIS O material coletado foi encaminhado para o Instituto Evandro Chagas/SVS, laboratório de referência para arbovírus, para realização do teste de inibição da hemaglutinação e tentativa de isolamento do vírus. Nem o vírus do Nilo Ocidental ou outro vírus foi isolado dos espécimes inoculados. Entretanto, o teste de inibição da hemaglutinação detectou a presença de anticorpos IH para os vírus Mayaro, Oropouche, Encefalite Eqüina do Leste (E.E.E), Cacicaporé, Rocio, Tacaiúma, Dengue 1 e Encefalite St. Louis. Ressalta-se que os ISOLAMENTO VIRAL soros foram também NOTURNA TOTAL testados e mostraram resultados negativos MOSQUITO GRUPO MOSQUITO GRUPO* para os seguintes arbo1 1 416 16 17 1 29 3 vírus: Encefalite, Eqüina 18 2 445 19 do Oeste, Mucambo, Guaroa, Turlock, Maguari, Catu, Caraparu, Bussuquara e Ilhéus. O maior percentual de detecção foi de anticorpos foi para o antígeno do vírus Mayaro, em 68 aves, ou seja 13% da amostra, sendo em 12 espécies de aves migratórias diferentes e três espécies de aves residentes e duas galinhas. Além deste, foram detectados anticorpos para os seguintes vírus: • Oropouche: em quatro aves, sendo de três residentes no país Haematopus palliatus e uma migratória Rynchops Niger. • Cacicaporé: em duas aves migratórias, Sterna hirundo. • Vírus da E.E.E.: em oito aves, sendo seis migratórias: Calidris canutus (1), Arenaria interpres (2), Sterna hirundo (3), Tringa flavipes (1) e uma residente, a Sterna trudeaui. • Vírus Rocio em duas aves migratórias, S. hirundo (2) e uma residente S. trudeaui (1). • Vírus Tacaiúma: em uma ave migratória da espécie A. interpres. • Vírus da Encefalite de St. Louis: em um cão e uma galinha. • Vírus Dengue 1: em um cão e em uma S. superciliares, sugerindo uma reação cruzada com outros vírus e que deverá ser esclarecida através do teste de soroneutralização. QUADRO 7 - NÚMERO DE AVES CAPTURADAS COM SOROLOGIA POSITIVA SEGUNDO ESPÉCIE E TIPO DE VÍRUS MAY A. interpres 8/28 7/51 C. canutus C. fuscicollis 1/11 1/6 H. palliatus L. haemastica 5/17 R. niger 1/7 S. eurygnatha S. hirundo 23/342 1/1 S. maxima S. nilotica 1/1 2/8 S. superciliares S. trudeaui 12/56 4/5 T. flavipes Galinha Cão 2/7 Total ORO EEE CPC ROC TCM SLE DEN1 3/6 1/8 - 2/28 1/51 3/342 1/56 1/5 - 2/342 - 2/342 1/56 - 1/28 - 1/7 1/7 68/540 4/14 8/482 1/8 1/7 2/342 3/398 1/28 2/14 2/15 Legenda: MAY: Mayaro; ORO: Oropouche; EEE: Encefalite Eqüina do Leste; CPC: Cacicaporé; TCM: Tacaiúma; SLE: Encefalite de St. Louis; DEN1: Dengue 1. 11. CONCLUSÕES Após análise dos resultados sorológicos pode-se concluir que é possível que estes animais tenham tido contato com os referidos arbovírus ou vírus relacionados, se infectaram e criaram anticorpos, não existindo risco de transmissão atual dos mesmos à população. No entanto, devem ser tomadas medidas para estruturação da vigilância, prevenção e controle destas enfermidades, tais como, controle do vetor, e práticas do uso de repelentes, proteção das casas pela utilização de tela nas portas e janelas para evitar a entrada de mosquitos, tendo em vista que foi detectada presença de anticorpos nas espécies de aves residentes no país do tipo Haematopus palliatus, Limosa haemastica, Rynchops niger, Sterna superciliares e Sterna trudeaui sugerindo que os vírus podem ter circulado na área de residência dessas aves. A detecção de anticorpos em aves e animais residentes mostrou a necessidade de realização de outros inquéritos na mesma área. O primeiro foi o “Inquérito entomológico na área 30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 11 Febre do Nilo Ocidental (continuação) do Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS” com o objetivo de conhecer a fauna entomológica local e a realização de testes laboratoriais na tentativa de isolamento viral nos mosquitos capturados. (Abril de 2003) O segundo foi o “Inquérito sorológico em humanos para arbovírus em população da área do Parque da Lagoa do Peixe” com o objetivo de estabelecer a existência ou não de contato com os arbovírus detectados entre aves e animais domésticos da região (Junho de 2003). Os resultados de ambos os inquéritos estão sendo processados no Instituto Evandro Chagas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Peter Hayman, John Marchant and Tony Prater. “Shorebirds. An identification guide to the wanders of the world”. Foreword by Roger Tory Perterson. Croom Helm. London & Sydney Peter Harrison. “Seabirds. An identification guide”. 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Zoológicos do Brasil Vivyanne Santiago Magalhães - UFRPE Geraldo Vieira de Andrade Filho - CVA/Prefeitura de Recife Sueli Guerreiro Rodrigues - IEC/SVS/MS Livia Carício Martins - IEC/SVS/MS Carmem Elisa Fedrizzi - UFRPE Adriano Scherer - CEMAVE/IBAMA Leonardo Vianna Mohr - CEMAVE/IBAMA Marco Antonio Barreto de Almeida - SES/RS Basílio Silva Buna - IEC/SVS/MS Luís Roberto de Oliveira Csota - IEC/SVS/MS Sherezino Barbosa Scherer - CEMAVE/IBAMA Ricardo da Silva Vianna - SVS/MS Vera Lúcia Gattas - SVS/MS