N° 01 - BVS MS - Ministério da Saúde

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Secretaria
de Vigilância
em Saúde
ANO 03, N° 01
30/05/2003
BOLETIM eletrônico
EPIDEMIOLÓGICO
Meningite Criptococócica
INVESTIGAÇÃO DE ÓBITO POR MENINGITE CRIPTOCOCÓCICA COM PROVÁVEL TRANSMISSÃO POR
FEZES DE QUIRÓPTEROS. RONDÔNIA, 2002
INTRODUÇÃO
EXPEDIENTE:
Ministro da Saúde
Humberto Costa
Secretário de Vigilância em Saúde
Jarbas Barbosa da Silva Júnior
Ministério da Saúde
Secretaria de Vigilância em Saúde
Edifício Sede - Bloco G - 1o andar
Brasília - DF
CEP: 70.058-900
fone: (0xx61) 315 3777
www.saude.gov.br/svs
Criptococose é uma zoonose oportunista, causada por uma levedura
capsulada, sendo encontrada em solo, frutos e vegetais em decomposição,
apresentando como reservatório fezes de aves, principalmente de pombos,
e raramente a de morcegos.
Apresenta distribuição cosmopolita, acometendo principalmente
pacientes imunodeprimidos, como a Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida, terapias prolongadas com corticóides, neoplasias entre outras.
O período de incubação dessa patologia é desconhecido, porém sabese que o comprometimento pulmonar pode anteceder em anos ao
comprometimento cerebral.
A infecção se dá por via aerógena, com a inalação de aerossóis que
contém a levedura. Não existe transmissão direta homem a homem, nem
de animais para o homem.
SINAIS E SINTOMAS
Por tratar-se de uma micose sistêmica profunda, seu quadro clínico
pode variar conforme o órgão acometido. Quando o fungo atinge os pulmões,
podem ocorrer três evoluções distintas: - Pode haver recuperação do
organismo sem intervenção médica; - A doença pode ficar localizada nos
pulmões; ou pode disseminar para os demais órgãos. Se o paciente estiver
imunodeprimido o fungo desenvolve-se nos pulmões, sob a forma de
nódulos, causando tosse seca, dor no peito e dispnéia. A maioria dos
pacientes não tem seu diagnóstico definido até que comecem a apresentar
os sinais da meningite criptococócica, onde os sintomas vão aparecer
gradualmente em 2 a 4
semanas. Febre e dor de cabeça
são os sintomas mais comuns.
Pode ocorrer náusea, vômito,
perda de peso e fadiga. Outros
sinais menos comuns são:
visão turva, rigidez de nuca e
aversão a luz. Pode acometer
outros órgãos, tais como, rim,
medula óssea, coração, adrenal, linfonodos, trato urinário
e pele, gerando lesões acneiformes, ulcerações ou massas
subcutâneas que simulam
tumores.
Figura 1 - Presença de morcegos não hematófagos na região
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico normalmente é clínico, baseado nos
sintomas. A confirmação é
feita a partir da visualização
das formas encapsuladas e em
gemulação do Cryptococcus
no líquor com o uso da tinta
da China (nankin). Ainda pode
Figura 2 - Presença de morcegos não hematófagos na região
■ continua
na página 2
Meningite criptococócica (continuação)
conseguir isolamento a partir de pús e urina. A sorologia, em
líquor e soro, e a histopatologia podem ser úteis.
Na residência do caso foram encontrados resíduos de fezes de
morcegos, porém em quantidade insuficiente para análise
laboratorial, já que a casa havia sido limpa anteriormente.
Segundo relato de familiares, a quantidade de fezes que caia
do forro para o interior do quarto era grande. Em maio de
2002, a paciente subiu no forro duas vezes, onde em uma das
vezes permaneceu por pelo menos quinze minutos, sem uso de
qualquer equipamento de proteção.
TRATAMENTO
Uma vez diagnosticada, o tratamento é iniciado com
anfotericina B, um fungiostático potente, geralmente dado por
via intravenosa por tempo prolongado; lembrando que os efeitos
colaterais dessa droga incluem febre, calafrio, náusea e vômito,
diarréia, cefaléia e dores musculares. Uma outra droga utilizada
como alternativa é o fluconazol, administrado oralmente.
CONCLUSÃO
Em conclusão, foi investigado um caso de criptococose
com provável transmissão por inalação de fezes de morcegos,
onde a paciente poderia estar imunodeprimida pelo uso
constante de corticosteróides.
PROGNÓSTICO
Quando não tratada, o prognóstico dessa doença é ruim,
e a mortalidade é maior em paciente imunocomprometidos,
chegando a 12%.
INVESTIGAÇÃO
No dia 23 de setembro de 2002, o Centro Nacional de
Epidemiologia (CENEPI/FUNASA/MS)(1) foi notificado pela
Secretaria Municipal de Saúde de Ouro Preto do Oeste-RO da
ocorrência de um óbito com diagnóstico de criptococose, além
de agressões de morcegos em área urbana da cidade, sendo
solicitada assessoria técnica.
Foi realizada investigação no local, com o intuito de
confirmar a etiologia do óbito, identificar a fonte de infecção
e fatores de risco para adoecimento e propor medidas de
controle e prevenção. Ainda foram capacitados 30 profissionais
de saúde para identificação e controle populacional de morcegos
e controle populacional de pombos.
Na última quinzena de junho de 2002, uma paciente do
sexo feminino, 29 anos, residente de Ouro Preto do Oeste
apresentou início de sintomas, procurando assistência médica,
queixando-se de cefaléia.
No dia 29 de julho de 2002, foi transferia e internada no
Hospital Geral de Goiás, apresentando crises convulsivas,
diminuição do estado de consciência, dificuldade em atender
(1)
As ações de competência da SVS eram desenvolvidas à época pelo CENEPI.
Figura 3 - Fezes de morcego
aos comandos verbais, sem déficit motor e resultado de
tomografia computadorizada de crânio normal.
O quadro clínico da paciente manteve-se instável. No dia
31 de julho de 2002, foi detectado Cryptococcus no líquor
através da pesquisa direta com a tinta da China, onde deu-se
início de tratamento específico com fluconazol e anfotericina
B. O quadro clínico evoluiu com lombalgia, e dispnéia. No dia
02 de agosto de 2002, a paciente necessitou de ventilação
mecânica, onde dessa data em diante seu quadro manteve-se
grave, vindo a falecer no dia 10 de agosto de 2002.
A paciente apresentava em região cervical lombar, uma
ferida de difícil cicatrização, característico da doença.
Em entrevista com familiares e revisão de prontuários,
observou-se que a paciente devido a outros agravos, frequentemente tomava medicamentos a base de corticosteróides. A
paciente ainda utilizava medicamentos para reumatismo,
diagnosticado no final de 1999. Além disso, tinha um histórico
de cólicas renais frequentes e herpes zoster.
Os exames laboratoriais da paciente demonstraram
contagem de 2.300/mm3 na pesquisa de Cryptococcus no líquor.
Apresentou ainda teste para HIV 1 e 2 negativos.
2 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003
RECOMENDAÇÕES
Foi alertado os médicos sobre a criptococose como
hipótese diagnóstica em pacientes imunodeprimidos com
quadros de meningites e das fezes de morcegos como possível
fonte de infecção.
Figura 4 - Forro da escola da região com acúmulo de fezes
Meningite criptococócica (continuação)
Ainda foi recomendado o manejo e controle de morcegos,
sempre que houver risco iminente para população, sendo todas
as solicitações da populações atendidas. Todo caso de agressão
humana por morcegos deve receber tratamento imediato e
adequado. Conscientização a população sobre os riscos de
adoecimento, alertando das situações em que possam causar
problemas para a saúde. Orientação para que pessoas
imunodeprimidas evitem áreas com grande quantidade de
fezes de morcegos e aves; sempre umidificar locais onde
houver acúmulo de fezes, evitando a formação de aerossóis.
Impedimento da moradia de morcegos e aves, evitando
deixar alimentos disponíveis e fechando portas de entrada
e locais apropriados para essas espécies. A remoção das
fezes deve ser antecedida com desinfecção de formol a 3%.
Sempre que for ter acesso a uma área com acúmulo de
fezes utilizar equipamento de proteção, tais como máscaras,
óculos e luvas.
Marcelo Yoshito Wada - SVS/MS
Mauro Rosa Elkhoury - SVS/MS
Margarita Urdaneta - SVS/MS
Douglas L. Hatch - SVS/MS
Eduardo Hage Carmo - SVS/MS
Rosely Cerqueira Oliveira - SVS/MS
Angelika Bredt - SES/DF
Maria Isabel Rao Bofill - SES/DF
Pedro Delmiro Torres - SES/RO
Joelmir Araújo de Oliveira - SMS/Ouro Preto do Oeste
PRIMEIRO INQUÉRITO SOROLÓGICO EM AVES MIGRATÓRIAS E NATIVAS DO PARQUE NACIONAL
DA LAGOA DO PEIXE/RS PARA DETECÇÃO DO VÍRUS DO NILO OCIDENTAL
INTRODUÇÃO
A Febre do Nilo Ocidental é uma encefalite viral causada
por um Flavivírus, que acomete principalmente aves e
ocasionalmente o homem e cavalos. A transmissão desta
enfermidade se dá através da picada de mosquitos hematófagos
e tem como principais disseminadores as aves.
A doença foi identificada pela primeira vez em Uganda,
em 1937. Na década de 50, verificou-se em Israel a primeira
epidemia, sendo reconhecida como o vírus do Nilo Ocidental,
o causador de uma meningoencefalite severa. Subseqüentemente
sua presença foi novamente identificada em Israel, bem como
na Índia, Egito e outros países da África. Em 1974, ocorreu na
África do Sul a maior epidemia conhecida causada por este
agente. Na década de 90 ocorreram surtos nos seguintes países:
Argélia (1994), Romênia (1996-1997), República Checa
(1997), República Democrática do Congo (1998), Rússia
(1999), Israel (2000). Nos EUA, a doença vem ocorrendo desde
1999 e, em 2002, já foram identificados 4.156 casos com 284
óbitos.
A maioria das populações de aves migratórias que fazem
do Brasil uma área de invernada são provenientes das colônias
de reprodução da costa leste norte-americana e canadense.
Chegam ao norte do país a partir de setembro e à costa do Rio
Grande do Sul, em novembro. Muitos jovens e adultos que não
irão reproduzir naquele ano, permanecem no Brasil até que
estejam aptos à reprodução.
Existem poucos relatos na literatura sobre o período de
incubação da doença nas aves, entretanto o período de viremia
nestes animais é de 1 a 4 dias, onde a partir daí a maioria
adquire imunidade.
Por serem as aves migratórias os principais reservatórios
do vírus, como parte da implantação da vigilância em aves se fez
necessário a realização de inquérito sorológico nesses animais.
A SVS, preocupada com a possibilidade da entrada do
vírus causador da febre do Nilo Ocidental, vem desde o início
do ano passado desenvolvendo as seguintes atividades para
estruturação da vigilância e controle da Febre do Nilo Ocidental
no território brasileiro.
1. Participação de dois técnicos do SVS(1), na oficina de
trabalho em Vigilância da Febre do Nilo Ocidental realizado
em Trinidad e Tobago, abril 2002. (Abril/Maio/2002)
2. Levantamento de aves mortas, sem causa definida, nos dois
últimos anos, nos principais zoológicos do país.(Abril/2002)
3. Estabelecimento de Portaria Interministerial entre o Ministério
da Saúde, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
e Ministério do Meio Ambiente, que dispõe sobre a criação do
Comitê Executivo para implantar e coordenar o Sistema de
Vigilância da Febre do Nilo Ocidental. (Setembro/2002)
4. Treinamento de equipe técnica no Centro de Vigilância
Ambiental do Recife/PE e na Ilha de Itamaracá/PE, para
realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves
Migratórias do País.(Outubro/2002)
5. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves
Migratórias e Nativas do Parque Nacional da Lagoa do Peixe/
RS para detecção do Vírus da Febre do Nilo
Ocidental.(Novembro/2002)
6. Desenvolvimento do Guia de Vírus da Febre do Nilo
Ocidental. (Novembro/2002)
7. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Aves
Migratórias e Residentes de Galinhos/RN para detecção do Vírus
do Nilo Ocidental e outros vírus. (Abril/maio 2003)
8. Realização do Primeiro Inquérito Sorológico em Andorinhas
(1)
As ações de competência da SVS eram desenvolvidas à época pelo CENEPI.
30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 3
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
da Refinaria de Petróleo/REMAN em Manaus para detecção
do Vírus do Nilo Ocidental e outros vírus. (Setembro/2003)
9. Realização de Monitoramento Sorológico em Aves Migratórias
e Residentes na Coroa do Avião/PE para detecção do vírus do
Nilo Ocidental e outros vírus (Influenza Aviária e Newcastle).
(set/out/nov de 2003 e fev/mar/abr de 2004)
Por fim uma Reunião Nacional com os Coordenadores
Estaduais de Epidemiologia e Zoonoses das SES para discussão
da Estruturação da Vigilância no País.
LOCAL
O Parque Nacional da Lagoa do Peixe, localiza-se na costa
gaúcha, com limites entre os municípios de Tavares, Mostardas
e São José do Norte, cerca de 240 Km de Porto Alegre/RS,
entre o Oceano Atlântico e a Lagoa dos Patos. (Foto 1)
caminho da reprodução, no Ártico Canadense ou no sul do
continente sul-americano.
A quantidade de animais que migra para a área, a diversidade
de espécies e a infra-estrutura do local, foram fatores importantes
para a determinação do local a ser realizado o inquérito.
PERÍODO
• 31 de outubro a 13 de novembro de 2002
Para a escolha do período a ser realizado o inquérito,
foi observado a época do ano do início da migração das aves
do hemisfério norte e a fase da lua, devido a captura ser realizada
no período noturno, das 22:00 ás 6:00hs e a escuridão ser um
fator facilitador para a captura.
PARTICIPANTES
• Médicos Veterinários
- Francisco Anilton Alves Araújo/SVS – Coordenador
- Marcelo Yoshito Wada/SVS - EPI_SUS
- Égon Vieira da Silva/Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
- Georges Cavalcanti e Cavalcante/Sociedade de
Zoológicos do Brasil
- Vivyanne Santiago Magalhães/UFRPE
- Geraldo Vieira de Andrade Filho/CVA/Prefeitura do Recife
• Farmacêuticos-Bioquímicos
- Sueli Guerreiro Rodrigues/IEC/SVS
- Lívia Caricio Martins/IEC/SVS
Foto 1 - Lagoa do Peixe
O Parque constitui um dos mais espetaculares refúgios
de aves que migram mais de 8.000 km, concentrando-se na
área por mais de quatro meses.
A migração se dá com os indivíduos ainda não sexualmente
imaturos, os quais permanecem no território brasileiro quase o
ano inteiro; os demais ali descansam, recuperando as energias
gastas na migração, realizando ciclos de mudas (trocas de penas),
acumulando reservas para suas extensas jornadas de volta, à
• Biólogos
- Carmem Elisa Fedrizzi/UFRPE
- Adriano Scherer/CEMAVE/IBAMA
- Leonardo Vianna Mohr/CEMAVE/IBAMA
- Marco Antônio Barreto de Almeida/Secretaria de
Saúde do R. G.do Sul
• Auxiliares Técnicos
- Basílio Silva Buna/Instituto Evandro Chagas/SVS
4 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003
- Luís Roberto de Oliveira Costa - Instituto Evandro
Chagas/SVS
- Shrerezino Barbosa Scherer - CEMAVE/IBAMA
- Ricardo da Silva Teixeira Vianna - SVS
PROMOÇÃO
E INSTITUIÇÕES
PARTICIPANTES
• Sevcretaria de Vigilância em Saúde
- Departamento de Vigilância Epidemiológica
- Instituto Evandro Chagas
• Fundação Nacional de Saúde
- Coordenação Regional do Rio Grande do Sul
• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
• Ministério do Meio Ambiente
• IBAMA
- Superintendência do Rio Grande do Sul
- Parque Nacional da Lagoa do Peixe
- CEMAVE
• Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul
• Sociedade de Zoológicos do Brasil
OBJETIVO
Realizar inquérito sorológico amostral em aves migratórias
e nativas da Lagoa do Peixe/RS para detecção da presença de
anticorpos para o vírus do Nilo Ocidental.
FINANCIAMENTO
• Fundação Nacional de Saúde
DESENVOLVIMENTO
DAS
ATIVIDADES
A chegada ao local se deu no dia primeiro de novembro,
quando a equipe procurou se alojar para dar início as atividades
ainda no primeiro momento.
Devido a distância da cidade mais próxima ser de cerca
de 40 km que deveriam ser percorridos na praia, e as atividades
serem desenvolvidas no período da noite se fez necessário
improvisar como alojamento uma escola e uma pequena cabana
como laboratório. (Foto 2 e Foto 3)
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
Foto 2 - Laboratório
Foto 4 - Colocação das redes
Foto 6 - Ave apreendida – batuíra-de-bando (Charadrius semipalmatus)
Foto 3 - Alojamento
Foto 5 - Redes colocadas
Foto 7 - Retirada da ave - maçarico-branco (Calidris alba)
COLOCAÇÃO DE REDES
Foram colocadas 32 redes ornitológicas de captura de
aves, em dois locais de pouso e alimentação das aves,
perfazendo uma área de 320 metros em linha reta. Estas redes
eram abertas durante a noite e fechadas durante o dia. (Foto 4
e Foto 5)
RETIRADA DE ANIMAIS DAS REDES
O uso de redes e a retirada dos animais presos nelas
pressupõe uma certa habilidade dos técnicos para não causar
danos nas aves. A quantidade de aves que ela permite capturar
é bastante grande e os técnicos necessitam de um grande
conhecimento ornitológico. (Foto 6 e Foto 7)
A cada duas horas eram feitas vistorias nas redes onde os
animais eram retirados e levados para o laboratório para serem
processados (identificação, biometria e coleta de sangue).
TRIAGEM
No momento da retirada dos animais das redes eles
eram colocados em caixas, separados por espécie, para
30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 5
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
• A coleta de sangue foi realizada utilizando seringa de insulina
heparinizada, e feita preferencialmente na veia jugular ou
na veia basílica (alar).
• O sangue foi colocado em flaconetes etiquetados, centrifugado e congelados em nitrogênio líquido para envio ao
laboratório de diagnóstico (Instituto Evandro Chagas).
• A etiqueta possuía um número que correspondia a anilha
colocada ou já existente na perna do animal.
evitar que as mais agressivas não viessem a ferir as outras.
(Foto 8)
Foto 9 - Medição da asa
Foto 8 - Separação das aves
BIOMETRIA
Para realização da biometria foi utilizada uma ficha
específica (Anexo 1), preparada em conjunto pelos técnicos
que participaram do inquérito. A ficha possuía dados biológicos
referentes a: espécie, status (ave nova, recapturada, recuperada
e anilha destruída), idade, sexo, plumagem, número da anilha,
muda, medidas (asa, tarso, cauda, cúlmen total e narina ponta),
peso e quantidade de sangue coletada.
Todas as aves capturadas foram anilhadas conforme
normas internacionais, entretanto aquelas já anilhadas eram
anotadas na ficha o número das anilhas e observadas a
procedência.
A coleta de dados tem como objetivo principal conhecer
as espécies capturadas e a procedência dos animais anilhados
em outras partes do mundo, auxiliar na determinação da
quantidade de sangue a ser coletada além de definir em que
fase de desenvolvimento estes animais se encontram.
Toda a responsabilidade da biometria ficou a cargo dos
biólogos da equipe. (Foto 9 e Foto 10)
Foto 11 – Punção da jugular - maçarico-de-bico-virado (Limosa haemastica)
Foto 10 - Medição da narina ponta - piru-piru (Haematopus palliatus)
COLETA DE SANGUE
Este procedimento foi realizado pelos médicos veterinários
da equipe, devidamente treinados. (Foto 11 e Foto 12)
• A quantidade de sangue a ser coletado, dependia do peso
corporal da ave, isto é, foi padronizado a quantidade máxima
de sangue, como 1% do peso do animal.
6 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003
Foto 12 - Punção da veia basílica
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
RESULTADOS OBTIDOS
QUADRO 1- NOME
1. AVES APREENDIDAS
Foram apreendidas 556 aves, de 19 espécies diferentes,
das quais, foi coletado sangue de 522 (93,9%) animais. Destas
espécies, vale considerar que já foram isolados vírus nos EEUU,
segundo OPAS (http://www.paho.org/Portuguese/HCP/HCT/VBD/
wnv-guidelines.htm) em 3 delas; Calidris alba, Arenaria
interpres e Rynchops niger. (Foto 13)
AVES CAPTURADAS
CIENTÍFICO E POPULAR, STATUS E QUANTIDADE DE
NOME CIENTÍFICO
Arenaria interpres
Calidris alba
Calidris canutus
Calidris fuscicollis
Calidris pusilla
Charadrius semipalmatus
Haematopus palliatus
Limosa haemastica
Pluvialis squatarola
Progne chalybea
Rhinchops niger
Sterna eurygnatha
Sterna hirundinacea
Sterna hirundo
Sterna maxima
Sterna nilotica
Sterna superciliaris
Sterna trudeaui
Tringa flavipes
NOME VULGAR
S TATUS
QUANTIDADE
N
N
N
N
N
VN
R
N
N
M
R
M
M
N
M
N
R
R
N
28
1
51
11
4
1
6
17
1
1
8
7
7
342
1
1
8
56
5
vira-pedra
maçarico-branco
maçarico-de-papo-amarelo
maçarico-de-sobre-branco
maçarico-rasteirinho
batuíra-de bando
piru-piru
maçarico-de-bico-virado
Batuiruçu
andorinha-doméstica-grande
talha-mar
trinta-réis-de-bico-amarelo
trinta-réis-de-bico-vermelho
trinta-réis-boreal
trinta-réis-real
trinta-réis-do-bico-preto
trinta-réis-anão
trinta-réis-de-coroa-vermelha
maçarico-perna-amarela
556
TOTAL
Legenda:
M = Migrante, residente do verão,
S = Migrante, visitante do Cone Sul
PN = Visitante Pelágico vindo do Hemisfério Norte
V = Vagante
N = Migrante, visitante do Hemisfério Norte
P = Pelágico
R = Residente
Foto 15 - Contenção da ave - trinta-réis-de-bico-amarelo (Sterna eurygnatha)
2. AVES RECAPTURADAS
Foram considerados recapturados os animais previamente
capturados e anilhados pelo grupo durante a viagem. Considerando
as 556 aves trabalhadas, 13 delas foram recapturadas (2,3%) do
total. Sendo, oito Sterna hirundo, duas Sterna trudeaui, uma Sterna
nilotica, uma Arenaria interpres e um Calidris canutus. (Foto 16)
Foto 13 - Contenção da ave - talha-mar (Rynchops niger)
Considerando o projeto inicial, onde a perspectiva de
captura era de pelo menos 14 espécies diferentes de aves
migratórias e residentes com uma amostra de 704 animais,
além de 100 amostras de espécies não relacionadas
inicialmente, não houve considerável mudança nas espécies
propostas inicialmente, coincidindo com 42,1% da proposta
inicial. Entretanto, a meta inicial do número de aves a serem
apreendidas por espécie foi cumprida nas Calidris canutus,
Sterna hirundo (Foto 14) e Sterna trudeaui e a Limosa
haemastica em 34%, fato que deve ser considerado que a
queda destes animais nas redes ocorre de uma forma aleatória.
(Foto 15)
Foto 14 - Bando de trinta-réis-boreal (Sterna hirundo)
Foto 16 - Contenção e localização da anilha - maçarico-de-papo-amarelo
(Calidris canuttus)
30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 7
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
3. AVES RECUPERADAS
Foram consideradas como recuperadas as aves apeendidas
em outros locais e apreendidos durante o trabalho. Das 57
aves recuperadas, 55 (96,5%) são provenientes do leste dos
EEUU e duas (3,5%) de Portugal. Vale considerar que a anilha
de uma das aves recuperadas encontrava-se semi-destruída,
dificultando assim a identificação precisa do local de origem
da numeração da mesma. (Foto 17)
Foto 17 - Contenção da ave - trinta-réis-boreal (Sterna hirundo)
4. AVES OBSERVADAS
Além do trabalho de rotina de captura, apreensão, biometria,
necropsia, coleta de material dos animais domésticos, coleta de
mosquitos e ectoparasitos, foi realizado um trabalho de observação
das aves, utilizando binóculos, com um objetivo de subsidiar o
inquérito sorológico tendo em vista que muitas das espécies de
aves observadas não foram capturadas e que existe a possibilidade
das mesmas serem provenientes de áreas com circulação do vírus
do Nilo Ocidental. (Foto 18 e Foto 19)
Foto 18 - Carcará (Carcara plancus)
Chama a atenção que 10,3% do total de animais
capturados já haviam sido anilhados em outros países,
confirmando a migração a partir das áreas onde o vírus do Nilo
Ocidental tem circulado.
QUADRO 2- AVES
RECUPERADAS SEGUNDO ESPÉCIE, NOME POPULAR E
PROCEDÊNCIA
E SPÉCIE
Sterna hirundo
Sterna hirundo
Total
NOME POPULAR
trinta-réis-boreal
trinta-réis-boreal
QUANTIDADE
PROCEDÊNCIA
55
2
EEUU
Portugal
57
Foto 19 - Garça-moura (Ardea cocoi)
8 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003
Neste sentido, o Quadro 3 mostra 81 espécies de aves
observadas na área do Parque, 10 das quais, o vírus do Nilo Ocidental
já foi isolado nos EEUU, com objetivo de relacionar que espécies
seriam mais importantes de serem monitoradas no país.
QUADRO 3 - LISTA DE AVES OBSERVADAS, SEGUNDO ESPÉCIE, NOME POPULAR,
STATUS E ISOLAMENTO DO VÍRUS DO NILO OCIDENTAL NOS EEUU
NOME CIENTÍFICO
FAMÍLIA SPHENISCIDAE
Spheniscus magellanicus
FAMÍLIA TINAMIDAE
Nothura maculosa
FAMÍLIA PROCELLARIIDAE
Puffinus puffinus
FAMÍLIA PHALACROCORACIDAE
Phalacrocorax brasilianus
FAMÍLIA ARDEIDAE
Ardea cocoi
Casmerodius albus
Egretta thula
Bubulcus ibis
Syrigma sibilatix
Nycticorax nycticorax
FAMÍLIA CICONIDAE
Mycteria americana
Euxenura maguari
FAMÍLIA THRESKIORNITHIDAE
Phimosus infuscatus
Plegadis chihi
Platalea ajaja
FAMÍLIA PHOENICOPTERIDAE
Phoenicopterus chilensis
FAMÍLA CATHARTIDAE
Coragyps atratus
FAMÍLIA ACCIPITRIDAE
Rostrhamus sociabilis
Buteo magnirostris
FAMÍLIA FALCONIDAE
Carcara plancus
Milvago chimachima
Milvago chimango
Falco peregrinus
Falco sparverius
FAMÍLIA ANATIDAE
Coscoroba coscoroba
Cygnus melanocoryphus
NOME POPULAR
STATUS
DE
OCORRÊNCIA
VÍRUS
pingüim-de-magalhães
Ac
perdiz
R
pardella-boreal
P
biguá
R
garça-moura
garça-branca-grande
garça-branca-pequena
garça-vaqueira
maria-faceira
savacu
R
R
R
R
R
R
cabeça-seca
joão-grande
M
R
maçarico-de-cara-pelada
maçarico-preto
colhereiro
R
R
R
flamingo
S
+
urubu-cabeça-preta
R
+
gavião-caramujeiro
gavião-carijó
R
R
carcará
carrapateiro
chimango
falcão-peregrino
quiriquiri
R
R
R
N
R
capororoca
cisne-do-pescoço-preto
R
R
+
+
+
continua
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
continuação
NOME CIENTÍFICO
Anas flavirostris
Anas georgica
Anas versicolor
Anas platalea
Amazonetta brasiliensis
FAMÍLIA RALLIDAE
Aramides saracura
FAMÍLIA JACANIDAE
Jacana jacana
FAMÍLIA HAEMATODIDAE
Haematopus palliatus
FAMÍLIA RECURVIROSTRIDAE
Himantopus himantopus
FAMÍLIA CHARADRIIDAE
Vanellus chilensis
Pluvialis dominica
Pluvialis squatarola
Charadrius semipalmatus
Charadrius collaris
FAMÍLIA SCOLOPACIDAE
Limosa haemastica
Tringa melanoleuca
Tringa flavipes
Arenaria interpres
Gallinago paraguaiae
Calidris canutus
Calidris alba
Calidris fuscicollis
Calidris pusilla
FAMILIA LARIDAE
Larus dominicanus
Larus maculipennis
Sterna hirundinacea
Sterna hirundo
Sterna trudeaui
Sterna superciliaris
Sterna maxima
FAMÍLIA RYNCHOPIDAE
Rynchops niger
FAMÍLIA COLUMBIDAE
Zenaida auriculata
Leptotila rufixilla
FAMÍLIA PSITTACIDAE
Myiopsitta monachus
FAMÍLIA STRIGIDAE
Speotytro cunicularia
continuação
NOME POPULAR
STATUS
DE
OCORRÊNCIA
marreca-pardinha
marreca-parda
marreca-cri-cri
marreca-colhereira
marreca-pé-vermelho
R
R
R
S
R
saracura-do-brejo
R
jaçanã
R
piru-piru
R
pernilongo
R
quero-quero
batuiruçu
batuiruçu-de-axila-preta
batuíra-norteamericana
batuíra-de-coleira
R
N
N
N
R
maçarico-de-bico-virado
maçarico-grande-de-perna-amarela
maçarico-de-perna-amarela
vira-pedra
narceja
maçarico-de-papo-vermelho
maçarico-branco
maçarico-de-sobre-branco
Maçarico-miúdo
N
N
N
N
R
N
N
N
N
gaivotão
gaivota-maria-velha
trinta-réis-de-bico-vermelho
trinta-réis-boreal
trinta-réis-de-coroa-branca
trinta-réis-anão
trinta-réis-real
R
R
S
N
R
R
R
talha-mar
R
pomba-de-bando
juriti-gemedeira
R
R
caturrita
R
coruja-do-campo
R
VÍRUS
+
+
+
+
continua
NOME CIENTÍFICO
FAMÍLIA ALCEDINIDAE
Chloroceryle americana
FAMÍLIA PICIDAE
Colaptes campestris
FAMÍLIA FURNARIIDAE
Geositta cunicularia
Furnarius rufus
Synallaxis spixi
FAMÍLIA TYRANNIDAE
Xolmis irupero
Machetornis rixosus
Tyrannus melancholicus
Tyrannus savana
Pitangus sulphuratus
FAMÍLIA HIRUNDINIDAE
Tachycineta meyeni
Progne chalybea
Notiochelidon cyanoleuca
FAMÍLIA MIMIDAE
Mimus saturninus
FAMÍLIA MUSCICAPIDAE
Turdus rufiventris
Turdus amaurochalinus
FAMÍLIA EMBEREZIDAE
Zonotrichia capensis
Sicalis flaveola
FAMÍLIA PARULIDAE
Parula pitiayumi
Geothlypis aequinoctialis
FAMÍLIA ICTERIDAE
Agelaius ruficapillus
Sturnela superciliaris
Pseudoleistes virescens
Molothrus bonariensis
FAMÍLIA PASSERIDAE
Passer domesticus
STATUS
NOME POPULAR
DE
OCORRÊNCIA
martim-pescador-pequeno
R
pica-pau-do-campo
R
curriqueiro
joão-de-barro
jão-teneném
R
R
R
noivinha
suiriri-cavaleiro
suiriri
tesourinha
bem-te-vi
R
R
M
M
R
andorinha-chilena
andorinha-domestica-grande
andorinha-pequena-de-casas
S
M
R
sabiá-do-campo
R
sabiá-laranjeira
sabiá-poca
R
R
tico-tico
canário-da-terra-verdadeiro
R
R
mariquita
pia-cobra
R
R
garibaldi
policia-inglesa
dagrão
vira-bosta
R
R
R
R
pardal
R
VÍRUS
pardela-boreal (Puffinus puffinus), três tartarugas, três toninhas
e um lobo marinho. Fato considerado, normal, nesta época do
ano, pelos pesquisadores do IBAMA.
Houve a tentativa de realização de necropsia de alguns
destes animais (pingüins), entretanto devido ao avançado estado
de decomposição que eles se encontravam só foi possível nas
pardela-boreal (Puffinus puffinus). (Foto 20)
Foto 20 - Pardela-boreal (Puffinus puffinus) encontrada morta
+
STATUS DE OCORRÊNCIA:
Ac = Acidental; R = Residente Anual; M = Residente de primavera/verão migratório; nidifica no RS;
S = Visitante migratório vindo do Cone Sul do continente; N = Visitante migratório vindo do Hemisfério
Norte; P = Visitante pelágico vindo do Hemisfério Sul; PN = Visitante pelágico vindo do Hemisfério Norte.
5. ANIMAIS MORTOS OBSERVADOS
Durante o período de desenvolvimento das atividades
foram encontrados centenas de pingüins (Sphenicus
magellanicus) mortos na praia, além de cinco aves do tipo
6. NECROPSIAS REALIZADAS
Foram realizadas necropsias em 16 aves e coletado
fragmentos de cérebro, coração, fígado, baço e rim. O material
foi devidamente conservado em nitrogênio líquido e
encaminhado para o Instituto Evandro Chagas/FUNASA para
tentativa de isolamento do vírus. Além disto, o objetivo da
coleta de material de animais mortos é correlacionar os
resultados laboratoriais com os resultados da sorologia.
(Quadro 4)
30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 9
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
QUADRO 4 - AVES NECROPSIADAS SEGUNDO, NOME CIENTÍFICO, NOME
POPULAR E QUANTIDADE
E SPÉCIES
Calidris fuscicollis
Calidris canutus
Puffinus puffinus
Sterna hirundo
Sterna trudeaui
NOME POPULAR
maçarico-de-sobre-branco
maçarico-de-papo-amarelo
Pardella-boreal
Trinta-réis-boreal
trinta-réis-de-coroa-vermelha
Total
QUANTIDADE
realizado e solicitar o apoio no sentido de permitir a realização
de coleta de sangue dos animais domésticos da comunidade.
(Foto 22 e Foto 23)
QUADRO 5 - ANIMAIS
E SPÉCIES
Cachorro
Cavalo
Porco
Galinha
Pato
2
3
5
4
2
COLETADOS SEGUNDO ESPÉCIE E QUANTIDADE
DE INDIVÍDUOS
Total
QUANTIDADE
7
4
2
7
4
24
16
8. MOSQUITOS CAPTURADOs
Pelo fato da transmissão da doença ocorrer através da
picada de mosquito, considerou-se importante a captura destes
animais na área. Vale ressaltar que não foi feito levantamento
entomológico, e sim capturas esporádicas diurnas e noturnas
no intuito de conhecer a fauna presente no momento e local
da captura das aves. Estes insetos foram encaminhados ao
Instituto Evandro Chagas/FUNASA para identificação e tentativa
de isolamento do vírus. (Foto 24)
Vale considerar que nada fora do normal foi observado
macroscopicamente nos animais necropsiados. Cinco animais
necropsiados foram encontrados mortos na praia e o restante foram
a óbito em decorrencia da captura, tendo portanto sido encontrados
mortos na praia e os outros foram a óbito. É importante considerar
que não houve nenhuma morte de ave devido o manuseio indevido,
stress, biometria ou coleta de sangue. (Foto 21)
Foto 22 - Punção da jugular de um eqüino
Foto 21 - Necropsia
7. COLETA DE SANGUE DE ANIMAIS DOMÉSTICOS
A Diretora do Parque visitou o líder da comunidade de
pescadores para informar sobre o trabalho que estava sendo
Foto 23 - Punção da veia basílica (alar) do pato
10 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003
Foto 24 - Material para capturas dos mosquitos
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
Foram capturados 445 mosquitos, de dois gêneros
diferentes, sendo 416 (93,5%) Aedes albifasciatus e 29 (6,5%)
Culex spp. O Culex spp, destes mosquitos, não foi possível a
identificação até espécie, devido os mesmos terem chegado ao
laboratório em condições inadequadas. (Quadro 6)
QUADRO 6 - LOTES
DE MOSQUITOS PREPARADOS PARA TENTATIVAS DE
MODALIDADES/
E SPÉCIES
PERIDOMICILIAR
DOMICILIAR
MOSQUITO
GRUPO
MOSQUITO
GRUPO
Aedes (Och.) albifasciatus
Culex (Cux.) spp
381
6
14
1
34
6
1
6
Total de culicídeos
387
15
40
2
* GRUPO: pool separados para isolamento
Aedes albifasciatus é uma espécie zoofílica comum
encontrada no sul do continente americano, apresentando
importância por atacar animais e o homem, principalmente
no verão chuvoso, época em que se reproduz. Sua criação é
dada em locais planos onde hajam depressões temporárias.
Pode ser encontrado em áreas peridomiciliares e domiciliares.
9. ECTOPARASITOS CAPTURADOS
Considerando o alto grau de infestação por ectoparasitos
de algumas aves capturadas e levando em conta a possibilidade
destes animais também serem vetores do vírus do Nilo Ocidental
e de outras enfermidades exóticas em nosso meio, foram coletados
26 espécimes a partir de 10 aves, os quais estão sendo
identificados para determinar se são piolhos hematófagos ou
mastigadores (alimentam de penas e escamas) na Universidade
Federal Rural de Pernambuco pelas técnicas Jackeline Biankue
de Oliveira (médica veterinária), Magnólia da Conceição Nunes
Botelho (bióloga) e Mirian Dowell de Brito (bióloga).
10. RESULTADOS LABORATORIAIS
O material coletado foi encaminhado para o Instituto
Evandro Chagas/SVS, laboratório de referência para arbovírus,
para realização do teste de inibição da hemaglutinação e
tentativa de isolamento do vírus. Nem o vírus do Nilo Ocidental
ou outro vírus foi isolado dos espécimes inoculados. Entretanto,
o teste de inibição da hemaglutinação detectou a presença de
anticorpos IH para os vírus Mayaro, Oropouche, Encefalite
Eqüina do Leste (E.E.E), Cacicaporé, Rocio, Tacaiúma, Dengue 1 e Encefalite St.
Louis. Ressalta-se que os
ISOLAMENTO VIRAL
soros foram também
NOTURNA
TOTAL
testados e mostraram
resultados negativos
MOSQUITO
GRUPO
MOSQUITO GRUPO*
para os seguintes arbo1
1
416
16
17
1
29
3
vírus: Encefalite, Eqüina
18
2
445
19
do Oeste, Mucambo,
Guaroa, Turlock, Maguari, Catu, Caraparu,
Bussuquara e Ilhéus.
O maior percentual de detecção foi de anticorpos foi para
o antígeno do vírus Mayaro, em 68 aves, ou seja 13% da amostra,
sendo em 12 espécies de aves migratórias diferentes e três
espécies de aves residentes e duas galinhas.
Além deste, foram detectados anticorpos para os seguintes vírus:
• Oropouche: em quatro aves, sendo de três residentes no
país Haematopus palliatus e uma migratória Rynchops
Niger.
• Cacicaporé: em duas aves migratórias, Sterna hirundo.
• Vírus da E.E.E.: em oito aves, sendo seis migratórias: Calidris
canutus (1), Arenaria interpres (2), Sterna hirundo (3),
Tringa flavipes (1) e uma residente, a Sterna trudeaui.
• Vírus Rocio em duas aves migratórias, S. hirundo (2) e
uma residente S. trudeaui (1).
• Vírus Tacaiúma: em uma ave migratória da espécie A.
interpres.
• Vírus da Encefalite de St. Louis: em um cão e uma galinha.
• Vírus Dengue 1: em um cão e em uma S. superciliares,
sugerindo uma reação cruzada com outros vírus e que deverá
ser esclarecida através do teste de soroneutralização.
QUADRO 7 - NÚMERO DE AVES CAPTURADAS COM SOROLOGIA POSITIVA
SEGUNDO ESPÉCIE E TIPO DE VÍRUS
MAY
A. interpres
8/28
7/51
C. canutus
C. fuscicollis
1/11
1/6
H. palliatus
L. haemastica
5/17
R. niger
1/7
S. eurygnatha
S. hirundo
23/342
1/1
S. maxima
S. nilotica
1/1
2/8
S. superciliares
S. trudeaui
12/56
4/5
T. flavipes
Galinha
Cão
2/7
Total
ORO
EEE
CPC
ROC
TCM
SLE DEN1
3/6
1/8
-
2/28
1/51
3/342
1/56
1/5
-
2/342
-
2/342
1/56
-
1/28
-
1/7
1/7
68/540 4/14 8/482
1/8
1/7
2/342 3/398 1/28 2/14 2/15
Legenda: MAY: Mayaro; ORO: Oropouche; EEE: Encefalite Eqüina do Leste; CPC: Cacicaporé; TCM: Tacaiúma;
SLE: Encefalite de St. Louis; DEN1: Dengue 1.
11. CONCLUSÕES
Após análise dos resultados sorológicos pode-se concluir
que é possível que estes animais tenham tido contato com os
referidos arbovírus ou vírus relacionados, se infectaram e
criaram anticorpos, não existindo risco de transmissão atual
dos mesmos à população. No entanto, devem ser tomadas
medidas para estruturação da vigilância, prevenção e controle
destas enfermidades, tais como, controle do vetor, e práticas
do uso de repelentes, proteção das casas pela utilização de tela
nas portas e janelas para evitar a entrada de mosquitos, tendo
em vista que foi detectada presença de anticorpos nas espécies
de aves residentes no país do tipo Haematopus palliatus,
Limosa haemastica, Rynchops niger, Sterna superciliares e
Sterna trudeaui sugerindo que os vírus podem ter circulado
na área de residência dessas aves.
A detecção de anticorpos em aves e animais residentes
mostrou a necessidade de realização de outros inquéritos na
mesma área. O primeiro foi o “Inquérito entomológico na área
30/05/2003 - ANO 03 - N° 01 - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - SVS - 11
Febre do Nilo Ocidental (continuação)
do Parque Nacional da Lagoa do Peixe/RS” com o objetivo de
conhecer a fauna entomológica local e a realização de testes
laboratoriais na tentativa de isolamento viral nos mosquitos
capturados. (Abril de 2003)
O segundo foi o “Inquérito sorológico em humanos para
arbovírus em população da área do Parque da Lagoa do Peixe”
com o objetivo de estabelecer a existência ou não de contato
com os arbovírus detectados entre aves e animais domésticos
da região (Junho de 2003). Os resultados de ambos os inquéritos
estão sendo processados no Instituto Evandro Chagas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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identification guide to the wanders of the world”. Foreword
by Roger Tory Perterson. Croom Helm. London & Sydney
Peter Harrison. “Seabirds. An identification guide”. Foreworld by
Roger Tory Peterson. Houghton Miffin Company
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Vector-borne Infectious Diseases. www.cdc.gov/ncidod/dvbid/
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BENCKE, G. A. 2001. ”Lista de Referência das Aves do Rio Grande
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Nascimento, I.L.S. “As Aves do Parque Nacional da Lagoa do
Peixe”. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis, 1995. Brasília.
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Vianna, M.S.R. “A transmissão das arboviroses e encefalites”. SMSRio de Janeiro. Outubro 2000.
Michel L. Bunning, Richard A. Bowen, C. Bruce Cropp, Kevin G. Sullivan,
Brent S. Davis, Nicholas Komar, Marvin S. Godsey, Dale Baker,
Danielle L. Hettler, Derek A. Holmes, Brad J. Biggerstaff e Carl J.
Mitchell. “Experimental Infection of horses with West Nile
Virus”. Emerging infectious Disease. Vol. 8, n. 4. Abril, 2002
12 - SVS - Boletim eletrônico EPIDEMIOLÓGICO - ANO 03 - N° 01 - 30/05/2003
Francisco Anilton Alves Araújo - SVS/MS
Marcelo Yoshito Wada - SVS/MS
Égon Vieira da Silva - Min. da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Georges Cavalcanti e Cavalcante - Soc. Zoológicos do Brasil
Vivyanne Santiago Magalhães - UFRPE
Geraldo Vieira de Andrade Filho - CVA/Prefeitura de Recife
Sueli Guerreiro Rodrigues - IEC/SVS/MS
Livia Carício Martins - IEC/SVS/MS
Carmem Elisa Fedrizzi - UFRPE
Adriano Scherer - CEMAVE/IBAMA
Leonardo Vianna Mohr - CEMAVE/IBAMA
Marco Antonio Barreto de Almeida - SES/RS
Basílio Silva Buna - IEC/SVS/MS
Luís Roberto de Oliveira Csota - IEC/SVS/MS
Sherezino Barbosa Scherer - CEMAVE/IBAMA
Ricardo da Silva Vianna - SVS/MS
Vera Lúcia Gattas - SVS/MS
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