Nota Técnica 28 2011 - Febre do Nilo 2011 revisada _2_

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MINISTÉRIO DA SAÚDE
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE
DEPARTAMENTO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
COORDENAÇÃO-GERAL DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS
SCS, Quadra 4, Edifício Principal, 4º andar
CEP: 70.304-000 – Brasília/DF
(61) 3213-8294/8183
NOTA TÉCNICA N.º 28/2011-CGDT/DEVEP/SVS/MS
Assunto: Esclarecimentos sobre a Febre do Nilo Ocidental, a detecção de anticorpos em
animais e as recomendações para a Vigilância no Brasil – agosto de 2011.
1.
A Febre do Nilo Ocidental (FNO) é causada por um vírus do gênero Flavivirus, da
família Flaviviridae. Faz parte do complexo de vírus da encefalite japonesa, do mesmo gênero
dos vírus da dengue e da febre amarela. O vírus se mantém em ciclo entre aves silvestres e
mosquitos e, esporadicamente, pode afetar outros hospedeiros vertebrados. É um arbovírus (vírus
transmitido por artrópodes) e os principais vetores são os mosquitos do gênero Culex. Algumas
aves silvestres apresentam elevados níveis de viremia (vírus no sangue circulante), não adoecem
e, portanto, são consideradas reservatórios, enquanto outras podem adoecer e morrer, sendo
consideradas hospedeiras. A doença pode acometer o homem e os equinos, considerados
hospedeiros acidentais finais, pois apresentam níveis de viremia insuficientes para infectar
mosquitos. Evidências de infecção foram descritas em bovinos, cães, gatos, camelos e morcegos
e, embora o papel dessas espécies na epidemiologia da doença ainda não esteja claro,
possivelmente sejam hospedeiros acidentais.
2.
O vírus (vFNO) foi primeiramente identificado em uma paciente com quadro
febril em Uganda, na África, em 1937. A província, conhecida como West Nile (Nilo Ocidental),
originou o nome da doença e do agente. Inicialmente, a doença ficou restrita ao vale do Nilo, na
África, e ao Oriente Médio. Posteriormente, passou a ser registrada no oeste da Rússia, Ásia
Central, Europa e África do Sul. Na década de 1990, ocorreram surtos na Argélia (1994),
Romênia (1996-1997), República Checa (1997), República Democrática do Congo (1998),
Rússia (1999) e Israel (2000).
3.
Nas Américas, o vFNO foi detectado pela primeira vez em 1999, causando alta
mortalidade de corvos em Nova Iorque/EUA, com registro de epizootias entre equinos e aves
concomitantemente à ocorrência de surtos em humanos. A partir de então, houve transmissão
comprovada para humanos, equinos e aves no Canadá, no México, na América Central e no
Caribe. Na América do Sul, foram encontradas evidências sorológicas na Colômbia e na
Venezuela (Figura 1). Na Argentina, além da detecção de anticorpos em aves, o vírus foi isolado
a partir de amostras de cérebro de equinos mortos por encefalite. A detecção do vírus nas
Américas trouxe à tona o risco de introdução do vFNO no Brasil, e, em 2003, foram instituídas,
pelo Ministério da Saúde, atividades para a vigilância do risco de introdução do vírus da Febre do
Nilo Ocidental.
Coordenação-Geral de Doenças Transmissíveis
Folha 02 da Nota Técnica 28/2011-CGDT/DEVEP/SVS/MS, de 23 de agosto de 2011.
Figura 1. Provável sequência temporal e rotas de dispersão do vírus da Febre do Nilo Ocidental a
partir de sua origem na África.
Fonte: Scott C. Weaver and William K. Reisen, Present and Future Arboviral Threats. Antiviral Res. v. 85(2): p. 328.
February/2010.
4.
Para detectar evidências de circulação viral em território brasileiro, diversas ações
de vigilância foram intensificadas, entre elas a vigilância de epizootias de equinos e aves, além de
inquéritos sorológicos em diferentes regiões do país. Resultados recentemente obtidos a partir
dessa estratégia, assim como os de recentes comunicações científicas, demonstraram evidências
de presença de anticorpos contra o vFNO em animais e ressaltam a importância da manutenção
da vigilância da circulação do vírus no Brasil. Embora tenham sido obtidos resultados
sorológicos positivos em duas pesquisas publicadas e em algumas amostras coletadas em ações
de vigilância animal, ainda não foram registrados casos em nenhuma espécie animal, nem em
humanos no Brasil. A detecção de anticorpos, embora sugestiva da circulação viral, não permite
concluir sobre a presença do vírus no país, sendo necessário, para tal, o isolamento do vírus em
animais, vetores ou em humanos.
5.
Para que eventuais medidas de prevenção e controle sejam possíveis, a notificação
de mortes de aves e equinos, assim como a suspeita de casos em humanos, são eventos de
notificação compulsória e imediata ao Ministério da Saúde, conforme determina a Portaria nº
104/GM/MS, de 25 de janeiro de 2011.
6.
Esclarece-se que o MS tem trabalhado, nos últimos anos, com o Ministério do
Meio Ambiente e o Ministério da Agricultura (Mapa) para que seja notificada a ocorrência de
epizootias nas espécies relacionadas ao risco de introdução do vFNO e investigados esses eventos
como parte das suas ações de rotina. Em relação ao risco de ocorrência de casos em população
humana, o MS também realiza, de rotina, a vigilância da ocorrência de meningites e
meningoencefalites no território nacional, manifestações mais comuns da FNO. Em face de
qualquer alteração do padrão habitual, são realizados exames buscando-se identificar o agente
etiológico.
Coordenação-Geral de Doenças Transmissíveis
Folha 03 da Nota Técnica 28/2011-CGDT/DEVEP/SVS/MS, de 23 de agosto de 2011.
7.
Em relação às áreas onde foram identificados alguns animais com sorologia
positiva (AC, MS e MT), recomenda-se a estes estados a intensificação das ações de vigilância e
investigação de epizootias, bem como o monitoramento contínuo da ocorrência dos quadros de
meningites, de acordo com o Guia de Vigilância Epidemiológica, 7º edição, MS.
Brasília, 23 de agosto de 2011.
JOSÉ RICARDO PIO MARINS
Coordenador-Geral de Doenças Transmissíveis
Aprovo Nota Técnica.
Em 1º de setembro de 2011.
CLÁUDIO MAIEROVITCH PESSANHA HENRIQUES
Departamento de Vigilância Epidemiológica
Coordenação-Geral de Doenças Transmissíveis
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