Museu de Topografia prof. Laureano Ibrahim Chaffe Departamento de Geodésia - UFRGS CAVALARIA MEDIEVAL Texto original: Wikipédia, la enciclopédia libre. Dezembro/2014 Ampliação e ilustrações: Iran Carlos Stalliviere Corrêa-IG/UFRGS São Jorge, escultura do Quatrocentos italiano (Donatello, 1416). Retrato de cavaleiro, pintura do Cinquecento italiano (Carpaccio, 1510). Duelo de Cavaleiros, pintura de história de época romântica (Delacroix, 1824). Tapete de Bayeux (por volta de 1070). A cavalaria medieval foi uma instituição militar, política, econômica e social de grande importância. A arma de cavalaria se deu em todas as civilizações desde a Idade Antiga, na Antiga Roma existia a classe social dos équites ("cavaleiros"), e entre os povos germânicos se dava denominações genéricas equivalentes as de armar cavaleiro e guardar armas para referir-se à cerimônia de investir em armas os jovens guerreiros. Porém, ao contrário desses precedentes, o conceito medieval de cavaleiro é de origem eclesiástica, tem como função ideológica elevar a nobreza à altura do ideal cristão (miles Christi ou "cavaleiro cristão"), e não aparece antes do século XI. Cerimônia de Investidura – Armar Cavaleiro O cavaleiro (designado na época com a palavra francesa chevalier ou do latina milites) era um guerreiro a cavalo da cristandade latina (a Europa ocidental medieval, que se havia definido em torno do Império Carolíngio) que servia ao rei ou a outro senhor feudal como contrapartida pela posse de um domínio territorial ou por dinheiro (como tropa mercenária, aos quais, nas cidades italianas se denominavam condottiero). A participação dos cavaleiros nas Cruzadas originou a criação, na Terra Santa, das denominadas ordens militares; e posteriormente, na Europa, das denominadas ordens de cavalaria. Cavalaria Medieval A trajetória vital de um cavaleiro era, em geral, a de um homem de cunho nobre que, havendo servido em sua juventude como pajé e escudeiro, era logo, cerimonialmente ascendido pelos seus superiores ao cargo de cavaleiro. Durante a cerimônia o aspirante prestava juramento de ser valente leal e cortês, assim como proteger os indefensos; o que se denominava de o código da cavalaria. Código da Cavalaria Medieval I – Crerás em tudo quanto ensina a Igreja e observarás todos os seus mandamentos II – Defenderás a Igreja III – Protegerás as viúvas, os órfãos e os fracos IV – Amarás o país em que nasceste V – Não recuarás diante do inimigo VI – Farás ao infiel guerra sem trégua e sem mercê VII – Cumprirás exatamente teus deveres feudais se não forem contrários à lei de Deus VIII – Não mentirás e serás fiel à palavra dada IX – Será generoso e farás liberalidade a todos X – Serás o defensor do direito e do bem, contra a injustiça e contra o mal. Cavaleiros Convertido em ideal cavalheiresco (ou de "cavaleiro andante"), foi um importante componente da ideologia justificativa da função da nobreza na sociedade estamental, e se expressou na denominada literatura cavalheiresca (cantos de gesta, poesias trovadorescas, romanceiro, livros de cavalarias, novela cavalheiresca) e em todos os tipos de obras de arte. Início A instituição da cavalaria medieval está ligada à história dos guerreiros a cavalo no reino da França que surge do desmembramento do Império Carolíngio (França ocidental). Ao final do século X os cavaleiros se haviam convertido no corpo militar mais importante, frente à infantaria comum, acumulando um crescente poder político. O exercício do poder pelos cavaleiros foi possível porque somente eles possuíam o treinamento militar necessário e a riqueza suficiente para manter as armas e os cavalos necessários para poder desenvolver sua forma típica de combate. A diferenciação social baseada inicialmente na habilidade e destreza dos próprios cavaleiros desenvolveu um sentido de classe cavalheiresca, orgulhosa de sua conduta e valores marciais e desdenhosa a outros segmentos não armados da sociedade: os clérigos e os camponeses. Os cavaleiros nasceram da necessidade de defender os domínios feudais (nobiliários ou eclesiásticos, ambos vinculados nas mesmas famílias) contra toda classe de inimigos, incluindo os ladrões e salteadores de estradas. Desta forma, a cavalaria foi um exército coercivo. Os cavaleiros defendiam os interesses daqueles dos quais dependiam, isto é, dos senhores que os mantinham; o que entre outras coisas garantia a cobrança das cargas tributárias impostas aos camponeses. Cavaleiros defendendo seu Senhor Assim como na origem dos cavaleiros predominava o espirito guerreiro, nos primeiros relatos artúricos se dava maior ênfases ao valor militar, aos feitos de guerra e as descrições das batalhas. A igreja procurou moderar os excessos bélicos com instituições como a trégua de Deus e ocasionou o apetite de combate dos milites no sentido mais consistente com os objetivos cristãos: a luta contra as injustiças e a luta contra os infiéis. A incorporação das tradições violentas da cavalaria no seio da própria igreja permitiu que clérigos fossem célebres narradores artúricos, como é o caso de Robert de Boron, ao final do século XII. Dentro desta estrutura feudal os cavaleiros mantinham o feudo que um senhor lhes havia concedido, em troca de render-lhe homenagem e prestar-lhe serviço com as armas. Por sua vez este senhor podia ser vassalo de outro senhor mais poderoso, ou o cavaleiro ser servido por outros cavaleiros de inferior categoria. Com o passar do tempo eram muitos os milites, às vezes de baixa classe social, que queriam converter-se em cavaleiros, pelo que se impôs uma prova seletiva, que acabou por tomar a forma de um rito de iniciação, aprovado pela Igreja, chamado louvor ou palmada. Como seu nome indica, o rito consistia no golpe solene dado ao principiante pelo seu padrinho ou cavaleiro que lhe havia instruído e o introduzia na Cavalaria. O prestigio que adquiriu a citada cerimônia e o carácter sagrado que lhe conferi-o a Igreja, ocasionou que muitos nobres de nascimento se fizeram cavaleiros. Com o tempo, no século XIII, nobreza e cavalaria acabaram confundindo-se, embora em geral os nobres fossem os responsáveis de manter a paz devido a sua ascendência de autoridade real, e às vezes por um especial carisma embasado em sua descendência de heróis ou santos, enquanto que os cavaleiros eram seus auxiliares, sem uma distinguida linhagem e com pouca ou nenhuma terra. Contudo, se deve ressaltar que o título de cavaleiro não é parte da escalada feudal em si, se não que pode atribuir-se a senhores de muita distinta categoria. Exemplos deles são: Ricardo III da Inglaterra, que antes de ser rei foi duque de Gloucester e foi armado cavaleiro, ou Eduardo o príncipe Negro, que era príncipe de Gales e duque e foi armado cavaleiro após a batalha de Creçy. Ricardo III da Inglaterra Eduardo o príncipe Negro Auge O auge da cavalaria teve lugar na França, entorno dos séculos XII ou XIII, na mesma época que os relatos artúricos, porém se desenvolveu e tomou forma no contexto europeu. Nos primeiros relatos (Cantar de Roldán) a cavalaria se identifica com a ação valorosa no campo de batalha. Embora, a partir do século XII esta é entendida como um código social, moral e religioso de conduta cavalheiresca, enfatizando as virtudes da coragem, honra e serviço. Ideias cavalheirescas Valor Os cavaleiros devem suportar sacrifícios pessoais para servir os ideais e as pessoas necessitadas. Isto implica em dizer e manter a verdade a todo o custo. O valor não significa arrogância, se não de ter a vontade de fazer o correto. Estas personagens tinham um grande valor, capazes de lutar com grande coragem contra seres superiores que mantinham as pessoas dos povoados aterrorizadas. Os cavaleiros eram capazes de enfrentarem pessoas com maior habilidade para lutar, sem medir consequências. Por exemplo: Na tomada de Valência, Pedro Bermúdez, Álvarez Fañez e Muñoz Guztos lutaram heroicamente contra um exército muito maior que o deles. Defesa Os cavaleiros juravam, quando eram iniciados, defender a seus senhores e senhoras, a suas famílias, a sua nação, as viúvas e aos órfãos, e a Igreja. Fé Os cavaleiros que tivessem uma grande fé em Deus lhes permitiam levar a cabo toda uma vida de sacrifícios e tentações, dandolhes força e esperança contra os males do mundo. Por exemplo: El Cid sempre antes de uma batalha, a encomendava a Deus e sabia que dele dependia seu êxito. A Fé dos Cavaleiros Medievais Humildade Os cavaleiros humildes eram os primeiros em dizer as outras pessoas quando levavam a cabo feitos de grande heroísmo, dando-lhes a honra que mereciam de seus grandes feitos. E deixavam que outros os felicitassem por seus próprios feitos e estes os oferecia a Deus. Esta é uma das características mais marcante de um cavaleiro. Por exemplo: El Cid sempre atribuía o êxito das batalhas à coragem de seus soldados e repartia proporcionalmente as riquezas obtidas. El Cid Justiça Para os cavaleiros era muito importante buscar a verdade sobre tudo, os cavaleiros não buscavam seu beneficio pessoal. A justiça sem misericórdia pode trazer penalidade, entretanto, a justiça procurada pelos cavaleiros sem se curvar à tentação, foi usado por eles. Por exemplo: El Cid poderia, muito bem, ter matado os herdeiros de Carrion, mas preferiu que uma decisão justa fosse tomada e uma punição justa fosse aplicada. Os herdeiros de Carrion Generosidade A generosidade era uma característica de um cavaleiro. Para combater a fraqueza da cobiça, os cavaleiros eram tão abundantes quanto os seus recursos permitissem. Um cavaleiro generoso pode percorrer melhor a linha entre a misericórdia e a justiça. Por exemplo: El Cid repartia os bens obtidos nas batalhas e era generoso com os inimigos derrotados como o conde Berenguer. Temperança O cavaleiro devia estar acostumado a comer e beber com moderação. Além disso, o cavaleiro devia ser moderado com suas riquezas, isto não significava abster-se delas se não, não utiliza-las em vão. Sem temperança não se podia manter a honra de uma cavalaria. O cavaleiro devia conter-se de seus apetites sexuais. Lealdade Os bons cavaleiros juravam defender fervorosamente seus ideais, a Igreja e a seus senhores, eles dariam sua vida em defendêlos. Por exemplo: El Cid bem poderia ter lutado contra o rei Alfonso e tê-lo derrotado, porém ele lhe era fiel e cumpriu suas ordem em ser exilado. Rei Alfonso Nobreza A nobreza é o principio da cortesia. Os cavaleiros deviam assim serem corteses, honrados, estimáveis, generosos e ilustres equitativos a todos enquanto desenvolviam e mantinham um carácter nobre com os ideais da cavalaria. Um cavaleiro devia ser um exemplo a seguir. Armas dos cavaleiros Galeria de armas e armaduras do Metropolitan Museum of Art. Armas e armaduras de cavaleiro e cavalo em uma gravura do século XVIII. As armas dos cavaleiros medievais correspondiam à cavalaria pesada própria de uma época anterior às armas de fogo. O equipamento de proteção, que inicialmente se limitava a um capacete ou elmo, um escudo, e no caso uma cota de malha (o uso das proteções para as pernas, próprio da época greco-romana, fora abolido), foi complicando-se com o passar do tempo, adicionando-se uma couraça as quais se articulavam peças cada vez mais numerosas, até comporem armaduras que podiam facilmente pesar mais de 25 kg, o que exigia uma grande resistência tanto dos cavaleiros como de seus cavalos (que também podiam ser encouraçados). A solidez das armaduras ocasionava dificuldades ao cavaleiro de mover-se enquanto estava montados, sendo a tática habitual proceder primeiro ao jogo para atacar algum ponto frágil quando estavam no solo. Capacetes (Elmos) Escudos A espada era a arma pessoal e "de mão" mais comum para o combate singular, em que um cavaleiro se enfrentava a outro. Benta por um sacerdote, a espada era geralmente a arma preferida de um cavaleiro, que procurava personaliza-la (algumas inclusive recebiam nomes), e era considerada tanto arma como símbolo (a lâmina e o cabo tinha a forma de uma cruz). A espada mais comum era a denominada espada bastarda ou "de meia mão", de lâmina temperada de aço de duplo fio, reta e longa (entre 100 e 120 cm), porém pesava somente 3 a 4 libras (entre 1200 e 2000 gramos), o que permitia um manejo ágil no campo de batalha. Espadas maiores eram as denominadas espada longas (longsword), montante, mão dupla ou espadão, que podiam chegar a medir dois metros ou mais e pesar até quatro quilos; desenhadas para serem utilizadas com as duas mãos, a contundência de seus golpes provocavam terríveis danos, ainda que fossem mais dificultoso seu uso e transporte. A sofisticação e agilidade de outras modalidades de armas brancas não foi própria dos combates e torneios da cavalaria medieval, se não da esgrima da Idade Moderna (florete, sabre); porém sim se usavam todo o tipo de armas curtas (facas, punhais, adagas), sozinhas ou em combinação com as espadas. Espadas e espadões A maça medieval e o machado completavam o conjunto de armas pessoais "de mão", úteis para atacar as armaduras. A maça era uma bola pesada cravejada de pontas associada diretamente a um cabo, contava com duas versões: a do lacaio (de cabo comprido) e a do ginete (de cabo curto). Maça medieval Machado medieval A lança era a segunda arma preferida de um cavaleiro. A retitude de sua hasta simbolizava a verdade, e sua cabeça de ferro, a força. Utilizava-se geralmente para empurrar o inimigo até fazê-lo cair de seu cavalo. Tinha até 3 m de comprimento e era rematada com uma ponta de lança de forma triangular. Lanças medievais O conjunto de armas e armaduras se denominou, a partir do Renascimento, com a terminologia clássica de panóplia. Armas contra os cavaleiros O conceito da luta a distância era particularmente contraria aos valores cavalheirescos. A sangrenta derrota da nobreza francesa a cavalo assaltada pelos arqueiros ingleses plebeus na batalha de Agincourt (1415) simbolizou o fim da época dourada da cavalaria. O arco comum tinha limitações de alcance e precisão, e seu uso pelos cavaleiros era mais frequente para a caça que para a guerra. O arco longo inglês, de até dois metros de comprimento, era difícil de dominar, porém tinha um alcance efetivo de mais de cem metros. Arco longo inglês A besta era um dispositivo mecânico curto, cujo arco de aço lançava flechas pequenas (até dezenas) com grande potência. Carregala tomava um tempo que limitava sua eficácia. Proibida pela igreja, a maioria dos cavaleiros a consideravam uma arma que desonrava, porém alguns a utilizaram de todo modo. Besta medieval A pica era um arma de origem suíça que servia para oporem-se as cargas de cavalaria, cavando-as no solo ou sustentando um extremo com o pé, e colocando seu extremo armado aos cavalos, que se feriam com ela. Eram muito mais largas que as lanças: até 5 metros de comprimento, e seu uso era especialmente eficaz quando equipava as compactas unidades de infantaria. Picas medievais Referências 1. Hernández L.; Fermín, J. 1983. Órdenes militares, divisas y linajes de La Rioja. Historia de La Rioja. Edad Moderna - Edad Contemporánea. Caja de Ahorros de La Rioja. p. 52. ISBN 847231-903-2. 2. La expresión "otoño de la Edad Media" es de Johan Huizinga. Los "mandamientos" se atribuyen a L. Gaultier, La Chevalerie, 1884. Ambos citados en Jean Flori, ¿Ocaso de la caballería o reaparición de un mito?, en Caballeros y caballería en la Edad Media, Paidós, 2001, ISBN 8449310393, pg. 265. Caballería medieval