CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA IMPLANTE COCLEAR NO SUL DO BRASIL: Realidade ou Fantasia ? CIRCE NARDON CARVALHO PORTO ALEGRE 1999 CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA AUDIOLOGIA CLÍNICA IMPLANTE COCLEAR NO SUL DO BRASIL: Realidade ou Fantasia ? Monografia de Conclusão do Curso de Especialização em Audiologia Clínica. Orientadora: Mirian Goldenberg CIRCE NARDON CARVALHO PORTO ALEGRE 1999 Resumo Este trabalho expõe num primeiro momento uma breve revisão literária sobre implante coclear, considerado hoje como recurso de última geração no tratamento de portadores de deficiência auditiva neurosensorial profunda bilateral. O dispositivo empregado é capaz de introduzir um indivíduo ao mundo sonoro e é reconhecido mundialmente por sua efetividade. Com toda a sua tecnologia, os Implantes Cocleares chegaram ao Brasil há alguns anos e diferentes profissionais estão atuando nesta área. Serão relatados alguns casos de implantes realizados no Sul do país. Há entretanto, um fato importante a ser questionado em relação a este tema. Implante Coclear no Brasil: Realidade ou Fantasia? " Dedico este trabalho aos pacientes portadores de Implante Coclear, que levam consigo hoje a realidade dos avanços tecnológicos na área da audição, a todos aqueles que tem a esperança de serem introduzidos ao mundo sonoro e aos profissionais voltados a esta área de atuação". " Agradeço à Deus por sempre estar presente, iluminar e abençoar essa minha trajetória. Ao meu namorado Rodrigo por me incentivar e apoiar, em todos os sentidos, e principalmente por acreditar no meu trabalho, valorizando meus estudos e área de atuação. À minha mãe e ao meu irmão Julio, pelo carinho e compreensão dispensados durante a organização deste trabalho. Aos profissionais: Fga. Maria Elza Dorfmann, Fga. Luciana Cigana e Dr. Pedro Cóser, que colaboram experiências com sobre seus relatos, Implante casos Coclear". e " O som de nossas como engrossa o caldo sensorial vidas auxílio comunicar e e dependemos dele para interpretar, expressar o mundo em torno de nós. O espaço sideral é silêncio, mas na Terra, quase tudo produz ruído". (Ackerman, 1992) Sumário 1.Introdução 01 2.Justificativa 03 3.Implante Coclear 05 3.1 Histórico 05 3.2 O que é Implante Coclear ? 08 3.3 Como funciona o Implante Coclear ? 09 3.4 Tipos e Componentes de Implante Coclear 12 3.5 Critérios de Seleção 17 3.6 Cirurgia do Implante Coclear 22 3.7 Etapas Pós - Cirúrgicas 25 3.8 Resultados Obtidos com Implante Coclear 28 4. Discussão Teórica: Implante Coclear no Sul do Brasil 31 5. Considerações Finais 51 6. Referências Bibliográficas 54 Anexos 57 1. Introdução A preocupação com problemas auditivos é um assunto polêmico entre os profissionais da área da saúde. Entre os variados distúrbios da comunicação existentes, a deficiência auditiva ocupa um lugar de destaque, pois causa sérias conseqüências no desenvolvimento global do indivíduo. Nem todos os pacientes portadores de perda auditiva neurossensorial profunda beneficiam-se com a utilização de Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (A.A.S.I.). O implante coclear tem sido indicado como uma opção de tratamento para pacientes, adultos e crianças, portadores de deficiência neurosensorial profunda bilateral que obtêm pouco ou nenhum benefício com A.A.S.I.. Tem sido considerado como um recurso efetivo, permitindo melhora significativa na maioria desses pacientes, sempre acompanhado de habilitação e/ou reabilitação auditiva. Implantes Cocleares são reconhecidos atualmente como a melhor forma de auxiliar pacientes com perda auditiva profunda ou total na utilização da função auditiva como fonte de informação, permitindo o restabelecimento da comunicação oral. Os avanços tecnológicos na área da audiologia vem fascinando profissionais que buscam soluções para este tema. Implante coclear é hoje um assunto polêmico que traz dúvidas, certezas e incertezas, inspirações e controvérsias. Têm como objetivo proporcionar aos portadores de deficiência auditiva o desenvolvimento das habilidades comunicativas, cognitivas e sociais. Os Implantes Cocleares são produtos dos avanços tecnológicos, dos progressos da ciência voltada para a área da saúde, considerados como avanços de última geração em todo o mundo. Implante Coclear no Sul do Brasil: Realidade ou Fantasia ? 2. Justificativa A medicina em conjunto com a engenharia descobrem, com os avanços tecnológicos, como substituir órgãos que até então pareciam ser insubstituíveis. Nos últimos anos a maneira mais viável de substituir órgãos que apresentam problemas, por outro também natural, é através dos transplantes. Porém, a dificuldade deste procedimento, está justamente em encontrar doadores de órgãos que sejam compatíveis, pois pode ocorrer risco de rejeição por parte dos portadores. A solução que parece ser mais eficaz e propicia para este tipo de problema pode estar na substituição artificial de alguns órgãos. Entre as diferentes propostas, podemos encontrar o Implante Coclear que é um dispositivo eletrônico capaz de substituir a cóclea humana que se encontra danificada. Os Implantes Cocleares podem introduzir um indivíduo portador de surdez profunda ao mundo sonoro. Esta técnica já faz parte da conduta médica adotada em alguns centros no Brasil. No Rio Grande do Sul este procedimento é utilizado desde o final da década de oitenta. Apesar de todo avanço tecnológico e eficácia constatados, há questões a serem levantadas quanto a utilização deste procedimento. Qual é o real número de pessoas beneficiadas e qual o critério que o Sistema Único de Saúde utiliza para selecionar e favorecer alguns centros que estão adotando o uso dos implantes? 3. Implante Coclear Neste capítulo iremos descrever uma técnica reconhecida na área médica, como tratamento efetivo, para neurosensorial profunda bilateral. indivíduos portadores de perda auditiva Iniciaremos com um breve relatado histórico sobre os Implantes Cocleares, o quê é e como funciona este dispositivo, modelos e componentes, os critérios de seleção de candidatos, cirurgia, etapas pós cirúrgicas e resultados obtidos com o mesmo. Com certeza, através desta revisão literária, será impossível não se deixar seduzir pelo processo do Implante Coclear, reconhecido hoje como avanço tecnológico de última geração, capaz de proporcionar ao indivíduo com surdez profunda a possibilidade fazer parte deste mundo sonoro. No próximo capítulo, abordaremos na discussão teórica, os casos de implante coclear realizados no Rio Grande do Sul e como está a prática deste procedimento no estado. 3.1 Histórico A primeira referência à estimulação do nervo acústico por um eletrodo, segundo Cooper (1991), foi realizada na França em 1957, por Djourno e por Eyriès. De acordo com Linden e colaboradores (1997), estes últimos colocaram um eletrodo ativo, ligado a uma bobina de indução sobre o nervo acústico, tendo o paciente percebido sensações auditivas com a aplicação de freqüência de 150 à 1000Hz. Kozlowski (1997) relata que ocorreram diversas experiências no homem, durante a década de sessenta, porém no início dos anos setenta essas passaram a ser realizadas em animais, em função de problemas éticos. Coloca que, de acordo com Spoedlin et. al. (1974), a primeira conferência internacional sobre Implante coclear ocorreu em São Francisco (EUA) em 1973. Albernaz (1995) relata que em 1976 o assunto foi discutido pela primeira vez no Brasil e o primeiro Implante Coclear no nosso país, foi de sua autoria, realizado em 1977. As pesquisas que levaram ao desenvolvimento dos Implantes Cocleares começaram há mais de vinte e cinco anos em todo o mundo. Vários modelos foram experimentados, incluindo sistemas mono e multi-canais. No início dos anos setenta , o profº Graeme Clark e seus colaboradores, na Universidade de Melbourne, Austrália, desenvolveram um implante multicanal com vinte eletrodos e a partir deste ponto foi que os pacientes conseguiram obter uma discriminação freqüencial. A Food and Drug Administration ( F.D.A) é uma organização sanitária, rigorosa no que diz respeito aos aparelhos ou materiais a serem utilizados no corpo humano. Esta organização considerou que os Implantes Cocleares Nucleus obedecem aos requisitos de segurança e eficácia exigidos, tendo sido aprovados em 1985 para adultos e em 1990 para crianças (02 à 17 anos). Atualmente o Implante Clarion também foi aprovado para ser utilizado em crianças pela F.D.A. e o Med-El foi aprovado pelo órgão correspondente do Mercado Comum Europeu. Bevilacqua e colaboradores (1996) relatam que após aprovação de Implantes Cocleares com 22 canais pela F.D.A. para crianças em junho/90 é que o programa foi estendido para pacientes menores de 18 anos de idade. Salientam que no Brasil, no Centro de Pesquisas Audiológicas (CPA) do Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio Palatais (HPRLLP) da Universidade de São Paulo (USP), este foi utilizado em crianças no ano de 1992. De acordo com Kozlowski (1997), existem no Brasil vários programas distribuídos em todo o país. As equipes utilizam diferentes programas e modelos de Implante Coclear, dispondo de sistemas mono e multi-eletrodos, extra ou intracocleares. 3.2 O que é Implante Coclear ? Segundo Mangabeira (1995) o Implante Coclear é um método de tratamento reconhecido como a melhor forma de auxiliar os pacientes com perda auditiva profunda ou total. O Implante Coclear é um dispositivo especial que é colocado no ouvido interno e permite a pessoas, com esse tipo de perda auditiva, uma audição útil capaz de melhorar a sua comunicação. Linden (1995) define Implante Coclear como sendo um circuito eletrônico que transforma o som ambiental e a voz em impulsos elétricos, levando-os à cóclea por meio de um ou mais eletródios. Segundo Bevilacqua e Coube (1997), este tipo de recurso permite aos portadores de deficiência auditiva profunda ou total a utilização da função auditiva como fonte de informação. Bento (1997) refere que o aparelho de Implante Coclear não é um amplificador de som, trata-se de um estimulador elétrico. Coloca que o implante fará o papel de todo ouvido, incluindo desde a captação do som, a transformação do mesmo em estímulo elétrico e a estimulação do nervo auditivo. Segundo este autor , não há mais a necessidade da orelha, membrana do tímpano, ossos do ouvido e cóclea. De acordo com Kozlowski (1997), implante coclear é um dispositivo que implica na estimulação do oitavo par craniano, por intermédio de um ou mais eletrodos. Sua função é levar diretamente ao nervo auditivo a informação sonora já transformada em sinais elétricos. A cóclea já não pode mais efetuar a codificação, então é substituída por este dispositivo, estimulando diretamente as fibras do nervo auditivo pelo seu "equivalente elétrico". 3.3 Como funciona o Implante Coclear ? O Implante Coclear é hoje, mundialmente reconhecido como uma técnica válida para o tratamento da surdez neurosensorial profunda e/ou total, bilateral, em adultos e crianças. É um aparelho que permite ao deficiente auditivo comunicar-se neste mundo sonoro, desempenhando-se da melhor forma possível, nas atividades de vida diária, sociais e profissionais. No sistema auditivo normal a energia sonora chega ao ouvido externo provocando a vibração da membrana do tímpano. Esta vibração, que já é energia mecânica, é amplificada e levada pelos três ossículos do ouvido médio ao ouvido interno através da membrana da janela oval. No ouvido interno estas vibrações irão provocar a estimulação total ou parcial de aproximadamente quinze mil células da cóclea. Estas estimulações (energia elétrica) das células auditivas são conduzidas ao nervo auditivo, que passa a transmitir ao córtex auditivo, onde as informações recebidas serão codificadas. Linden (1995) coloca que a surdez profunda, geralmente é causada devido a ausência ou lesão de células ciliadas do ouvido interno, que têm como função transformar as vibrações sonoras em impulsos elétricos. Quando as células ciliadas estão ausentes ou lesadas o som não é ouvido, mesmo que esteja sendo amplificado por potentes aparelhos auditivos. Na surdez profunda o nervo da audição está presente, mas as células ciliadas estão ausentes. Com o uso do Implante Coclear, o nervo auditivo é estimulado diretamente pelos sinais elétricos. Linden e colaboradores (1997) colocam que o mecanismo de ação dos implantes, reside na criação de um campo elétrico no interior da cóclea, com a finalidade de estimular as neurofibrilas acústicas (que envolvem a base das células ciliadas do Órgão de Corti), através de impulsos sonoros previamente transformados em estímulos elétricos. Assim, fica clara a necessidade de que as fibras acústicas estejam preservadas para que se possa pensar na utilização do Implante Coclear. Na deficiência auditiva neurosensorial profunda ocorre uma considerável diminuição do número de células ciliadas, ou as mesmas encontram-se danificadas. Porém, algumas células ainda estão presentes e podem transmitir o sinal sonoro ao cérebro. Segundo Bevilacqua (1998), o ciclo da audição se completa quando o estímulo elétrico e os sinais codificados são transmitidos por rádio-freqüência para o receptor-transmissor. Este dispositivo, por meio dos eletrodos que estão implantados no interior da cóclea, estimula as terminações das fibras nervosas do nervo auditivo que envia para o cérebro os impulsos nervosos. De acordo com o Sistema Nucleus, os implantes cocleares funcionam da seguinte maneira: 1.O som entra no sistema pelo pequeno microfone retroauricular; 2.O som é enviado do microfone para o processador de fala através do fino cabo que os liga; 3.O processador de fala seleciona e codifica os elementos do som que são mais úteis para a compreensão da linguagem; 4.Estes códigos eletrônicos são reenviados pelo fino cabo para o transmissor; 5.A antena transmissora, um anel recoberto de plástico, com cerca de 33mm de diâmetro, envia os códigos através da pele para o "receptor-estimulador"; 6.O receptor-estimulador contém um circuito integrado que converte os códigos em sinais eletrônicos especiais e os envia pelo filamento de eletrodos; Os sinais eletrônicos codificados são enviados a eletrodos específicos, cada um dos quais terá sido programado separadamente para transmitir sons que variam de intensidade e freqüência. Estes eletrodos estimulam as fibras nervosas específicas que enviam mensagens ao cérebro. Este recebe os sinais e interpreta-os , experimentando-se então uma "sensação de audição". As próteses auditivas convencionais são simplesmente amplificadores capazes de melhorar a audição de deficientes auditivos parciais. Estas próteses não trazem normalmente nenhum benefício ao deficiente auditivo que possui uma perda profunda ou total da audição, pois nestes casos o ouvido interno encontra-se gravemente lesado. O Implante Coclear veio substituir essas células danificadas do ouvido interno, visando estimular diretamente o nervo auditivo para que este possa transmitir a informação acústica ao cérebro. Todo este processo ocorre em frações de segundos, sendo possível um surdo profundo, utilizando um sistema de implante coclear ouvir muitos sons quando estes surgem. Este sistema veio permitir uma audição útil aos deficientes auditivos que não se beneficiam com o uso da prótese convencional. 3.4 Tipos e Componentes de Implante Coclear Linden e colaboradores (1997) colocam a existência de uma variedade de Implantes Cocleares, os quais podem ser classificados como monocanais (um eletrodo) ou multicanais (vários eletrodos). Salientam que a aplicação dos eletrodos pode ser extracoclear (sobre o promontório) ou intracoclear. Mangabeira (1995) coloca que o eletrodo extracoclear necessita de maior quantidade de corrente e foi praticamente abandonado. Kozlowski (1997) relata que os modelos de Implantes Cocleares diferenciamse conforme o modo de estimulação, a localização dos eletrodos e o número de canais que possuem, podendo ser classificados da seguinte maneira: Número de Eletrodos ⇒ Monocanal: A cóclea é estimulada de maneira global e não seletiva. Um único eletrodo vai enviar uma forma de sinal elétrico. As informações freqüenciais são transmitidas na faixa de freqüência que abrange de 0/4Hz a 600Hz. A percepção essencial é a de duração da intensidade e do ritmo de fala. Existe sempre a necessidade de leitura labial como forma de apoio para a compreensão da fala. Multicanal: É possível colocar dentro da cóclea vários eletrodos. Pode-se utilizar de 04 à 22 eletrodos, tentando-se respeitar a tonotopia natural da cóclea. A mensagem é dividida em bandas freqüenciais aos eletrodos dispostos ao longo da cóclea. A informação freqüencial pode estar localizada entre 0/4Hz até 6000Hz, mais ou menos determinadas pelo número de eletrodos. As performances em implantes multicanais devem ser superiores às performances dos monocanais, visto que, teoricamente, cada eletrodo pode estimular uma zona específica, permitindo uma discriminação sonora. A decisão do tipo de aparelho a implantar é necessária e obedece alguns critérios. Um implante multicanal seria sempre preferível a um monocanal, já que este permitiria uma melhor discriminação de fala. Apesar da superioridade técnica de um multicanal com relação a um monocanal, muitas equipes consideram também o número de fibras restantes e sua distribuição em cada paciente e o nível sócioeconômico-cultural antes de optar pelo tipo de implante. Localização dos Eletrodos⇒ Extracoclear: Os eletrodos ficam na superfície da cóclea, fixados tanto no promontório quanto na janela redonda. Eles ficam a uma certa distância das células ciliadas, respeitando o contingente residual das mesmas (não ocorre lesão das fibras auditivas, já que os eletrodos encontram-se na parte externa da cóclea). A estimulação consome maior energia que um intracoclear. Intracoclear: Os eletrodos são introduzidos na rampa timpânica, em uma profundidade entre 02 à 25mm. As vantagens são que os limiares de potência elétrica necessários são baixos e existe maior precisão sensorial in situ. Porém, há o risco de lesão das fibras auditivas. Intranuclear: O implante é efetuado diretamente dentro do sistema nervoso central, no nível dos núcleos cocleares ventrais. Segundo Edgerton et.al.(1982), O House Ear Institut têm realizado estes experimentos desde 1982. Polaridade dos Eletrodos⇒ Monopolar: O implante monocanal utiliza este sistema. Não existe estimulação seletiva das fibras. É um eletrodo de referência temporal, efetuando a passagem da corrente. Bipolar: A estimulação é mais seletiva, este sistema é utilizado pelos multicanais. Existem duas superfícies de contato , o eletrodo ativo e a massa, entre os quais passa a corrente. Pseudobipolar: Comporta dois eletrodos bipolares separados e ativos, mais os eletrodos de massa ligados em retorno comum. Esse sistema é encontrado em alguns multicanais. Componentes do Implante Coclear Segundo Mangabeira (1995) todos os sistemas de implantes cocleares possuem uma unidade interna implantável, uma unidade externa e uma interface, que estabelece comunicação elétrica entre as duas primeiras. A comunicação entre as unidades externa e interna pode ser feita através de um elo de indução, por transmissão de sinais, ou mesmo por contato direto através de um conector transcutâneo. A conexão percutânea é indesejável, por dar origem a freqüentes infecções, por esta razão este tipo de implante já não é fabricado. O Implante Coclear é um dispositivo implantado por meio de intervenção cirúrgica, formado por dois componentes: um interno e outro externo. O dispositivo interno consta de um receptor, que é um estimulador colocado cirurgicamente junto ao osso do crânio, atrás da orelha sob a pele; e um cabo multi-canal de eletrodos, instalado no interior do ouvido interno, na cóclea. Segundo Orozimbo e colaboradores (1996), esse dispositivo é implantado através de intervenção cirúrgica onde, no caso do Sistema Nucleus, 22 eletrodos são inseridos dentro da cóclea. Estes eletrodos ficam nos últimos 25mm distais do cabo único que é envolvido por silicone, o qual fica ligado a um receptor - estimulador, hermeticamente fechado, feito de titânio e encerrado em silicone, que mede 45mm por 24mm, colocado junto ao osso do crânio e abaixo da pele. Segundo Orozimbo (1996), o dispositivo externo contém um microfone e fios (instalado externamente junto à orelha para captar e transmitir o som, por um fio, para o processador de fala); um processador de fala (com tamanho de um aparelho de amplificação sonora convencional - tipo caixa -, que pode ficar junto à cintura ou ao peito. Este envia a informação codificada para a antena transmissora); e uma antena transmissora (fixada por ímã em um ponto da cabeça onde se encontra o receptor - estimulador do implante sob a pele). 3.5 Critérios de Seleção Segundo Kozlowski (1997) para os indivíduos que apresentam surdez pré ou pós lingual, a única maneira de serem introduzidos ou reintroduzidos em um ambiente auditivo é através do Implante Coclear. Refere que a performance de um implante depende de diferentes parâmetros, sendo um deles o levantamento das fibras nervosas auditivas. Nadol, Young e Glym (1989) citados por Kozlowski (1997) referem, após estudos, que a sobrevivência celular diminui com o tempo de surdez, ou seja, que o tempo de uma perda auditiva pode influenciar o número de células restantes. Albernaz (1995) concorda que o número de fibras nervosas aferentes preservadas é variável, dependendo da relação de tempo após estabelecimento da surdez. Quanto menor o tempo de surdez, melhor será o prognóstico do Implante Coclear, pois o tempo é uma importante variável no que se refere a performance de percepção de fala. Fraise (1985) coloca que para que haja uma discriminação de fala é necessário a existência de pelo menos dez mil células em funcionamento. Entre os pacientes candidatos a implante coclear podemos encontrar dois grupos distintos: os que perderam a audição antes de adquirirem a linguagem e aqueles que perderam a audição após aquisição da linguagem. O termo prélingual é utilizado para indivíduos que adquiriram a perda auditiva antes do desenvolvimento da linguagem e o termo pós-lingual para indivíduos que perderam a audição após o desenvolvimento da linguagem. Este fator implica diretamente sobre o ponto de vista de reabilitação do indivíduo, tanto a nível psicológico, social como comunicativo. Segundo Linden e colaboradores (1997) a indicação de pacientes a Implante Coclear pressupõe que vários critérios, incluindo-se os audiológicos, os eletrofisiológicos, os cirúrgicos, os psicológicos e os lingüísticos, sejam satisfeitos. Apesar da criteriosa seleção dos candidatos ao implante coclear, não se pode assegurar a garantia de sucesso do mesmo, existindo a possibilidade de complicações cirúrgicas. Kozlowski (1997) coloca que os critérios de realização de um implante coclear surgem da fase de seleção dos candidatos e ressalta que esta fase de seleção e preparação dos pacientes ao implante é primordial. A avaliação dos pacientes é realizada através de uma equipe interdisciplinar, composta por médicos otologistas, fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e outros exames complementares que sejam necessários. Cabe a equipe interdisciplinar decidir se o paciente é candidato ao implante, obtendo dados referentes à deficiência auditiva, observando etiologia, grau da perda auditiva e quanto tempo o paciente apresenta a mesma. Segundo Bevilacqua (1998), os pacientes são avaliados quanto à capacidade auditiva com e sem prótese auditiva, quanto ao seu estado geral, à sua organização familiar e quanto à existência de recursos para a reabilitação na cidade de origem. Bevilacqua e Coube (1997) colocam que o critério geral para o Implante Coclear é que o indivíduo apresente: deficiência auditiva profunda em ambos ouvidos, inabilidade em detectar e reconhecer a fala através do uso de A.A.S.I., ou seja, "score" inferior a 30% para reconhecimento de sentenças, e motivação para ouvir e melhorar a qualidade de vida. Bevilacqua (1998) coloca que todos os pacientes candidatos ao implante coclear passam pela etapa de avaliação que engloba os seguintes procedimentos: 1.Entrevista para histórico clínico; 2.Avaliação com médico otologista; 3.Avaliação Audiológica (Audiometria com Reforço Visual para crianças menores de 2 anos; Audiometria Tonal para maiores de 2 anos; Imitanciometria; BERA; Emissões Otoacústicas; Exame Vestibular; Testes de Percepção da Fala; Avaliação de Leitura Oro-Facial; Testes com A.A.S.I.); 4.Avaliação Fonoaudiológica; 5.Avaliação Social; 6.Avaliação Psicológica do paciente e da família; 7. Avaliação Neurológica. Quando necessárias outras avaliações, os pacientes serão encaminhados para médicos de áreas afins. Todos os candidatos que passarem para a segunda etapa de avaliação deveram passar pelos procedimentos de diagnósticos por imagem como: Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética e Raio-x do osso temporal. Após a conclusão de todos os resultados, se a indicação for favorável, os pacientes passam por rotina pré-cirúrgica que envolvem exames laboratoriais e clínicos. Kozlowski (1997) coloca que os pacientes devem ser também analisados em função da idade, duração de privação sensorial, etiologia da surdez (pré ou pós aquisição de linguagem), nível sócio-cultural e capacidade de aprendizagem. Os critérios de seleção de candidatos a Implante Coclear utilizados pelo CPA do HPRLLP / USP, segundo Bevilacqua e Moret (1997) são: Adultos: * Idade acima de 18 anos, com deficiência auditiva neurosensorial pós lingual profunda bilateral; *Não se beneficiar com uso do A.A.S.I., ou seja, "scores" inferiores a 30% em testes de reconhecimento de sentenças do dia a dia; * Ter até 10 anos de surdez ( em deficiências auditivas progressivas não há limite de tempo); * Apresentar adequação psicológica e motivação para o uso do implante coclear. Crianças: * Idade até 17 anos, com deficiência neurosensorial bilateral profunda; * Ter adquirido deficiência pré-lingual entre 2 e 4 anos; * Apresentar até 6 anos de tempo de surdez no caso de deficiência pós-lingual (em deficiências auditivas progressivas não há limite de tempo); * Realizar a adaptação prévia de A.A.S.I. e reabilitação auditiva durante 6 meses. * Apresentar incapacidade de reconhecimento de palavras em "conjunto fechado"; * Ser provenientes de famílias adequadas e motivadas para o uso de implantes cocleares; * Realizar reabilitação na cidade de origem. Segundo Northen (1986) e Garadebian (1993), os protocolos dos programas de implante coclear elegem critérios mínimos de seleção, fundamentais na decisão do implante. Acrescentam que conforme recomendações da Food and Drug Administration, há um consenso de que a idade mínima para a cirurgia de implante coclear é de dois anos. Esta idade foi imposta em função de considerar dois anos como o tempo mínimo necessário para a identificação e a confirmação do diagnóstico de surdez. Em relação a criança deficiente auditiva, Orozimbo e colaboradores (1996) colocam que nem todas tem indicação favorável à cirurgia de implante coclear. Ressaltam que os critérios estabelecidos diversificam-se entre as instituições, porém de modo geral referem-se tanto a avaliação criteriosa da criança, quanto aos fatores audiológicos, emocionais, cognitivos, fisiológicos e avaliação da família que possui papel de suma importância no processo terapêutico e educacional da criança. 3.6 Cirurgia do Implante Coclear Linden e colaboradores (1997), referem que pacientes com surdez profunda apresentam geralmente lesão a nível de células ciliadas do órgão de corti, a qual deveria seguir-se a degeneração Waleriana das fibras acústicas. Na prática, parece haver preservação ao menos parcial dessas fibras acústicas que podem ser utilizadas na condução dos impulsos gerados pelo implante. A constatação de que ao menos parte das fibras acústicas não apresenta degeneração, sugere que elas sejam mais dependentes das células de sustentação do órgão de corti do que das células ciliadas sensoriais. Chouard & MacLeod (1976) citados por Kozlowski (1997) colocam que mesmo nos casos de surdez total, em função da destruição do Órgão de Corti, observa-se uma total ou parcial preservação da função do nervo coclear. Albernaz (1995) ressalta que são as células bipolares do gânglio espiral ou gânglio de Corti os elementos receptores da estimulação elétrica. Coloca que o implante, estimulando as células gangliais preserva as mesmas, impedindo a degeneração Walleriana. Orozimbo e colaboradores (1996) colocam que a indicação cirúrgica se concretiza após um processo minucioso e criterioso de avaliação em adultos ou crianças candidatos ao Implante Coclear. Referem se tratar de uma cirurgia delicada e precisa e do sucesso da mesma vai depender todo o programa de Implante Coclear. Segundo Kozlowski (1997) para obter sucesso na cirurgia de Implante Coclear, é primordial a experiência de uma anatomia coclear por parte do cirurgião. Acrescenta que o problema da cirurgia é com relação a escolha de uma técnica que permita uma estimulação do maior número de fibras restantes e que traumatize menos possível as estruturas nervosas. A indicação e a escolha da técnica cirúrgica a ser adotada deve ser uma decisão da equipe multidisciplinar. Linden (1995) coloca que a cirurgia é realizada sob anestesia geral. O acesso cirúrgico é feito por trás do pavilhão auricular ( incisão retroauricular). O receptor-estimulador é colocado numa pequena depressão feita no osso temporal (mastóide) e um ou mais eletrodos são introduzidos na cóclea através de uma passagem feita no ouvido médio. Segundo Bento (1997) esta cirurgia não destrói as estruturas do ouvido, possibilitando trocar ou retirar o equipamento quando necessário, sem a possibilidade de prejuízos. A maioria dos autores refere que a cirurgia dura aproximadamente de duas à três horas e que o tempo de recuperação, em que o paciente encontra-se hospitalizado fica em média de três à sete dias. Linden e colaboradores (1997) colocam que a presença de obstrução coclear, ou de qualquer outra alteração anatômica, cria a possibilidade de que ocorra complicações, principalmente em relação ao procedimento cirúrgico, por isso a importância de reconhecê-las antes da cirurgia. Kozlowski (1994) ressalta que a maioria das complicações poderiam ser evitadas se houvesse um maior rigor na avaliação do pré-operatório e na seleção dos candidatos. Como em toda cirurgia de ouvido esta apresenta os mesmos riscos em relação a anestesia geral e procedimentos cirúrgicos. Pode ocorrer infecção, lesão do nervo facial, alterações no paladar, distúrbios de equilíbrio, zumbidos e outros. Linden (1995) acrescenta que a presença do implante pode causar irritação, inflamação e alterações na pele do receptor, podendo ser necessário cirurgia corretiva ou até mesmo a retirada do implante, mas refere que essas complicações são raras. 3.7 Etapas Pós - Cirúrgicas De acordo com Bevilacqua (1997), após a cirurgia, o paciente passa por um processo de ativação, mapeamento e balanceamento dos eletrodos implantados e por um intenso programa de reabilitação auditiva. Segundo Bevilacqua e Coube (1997), após a cirurgia de implantação do dispositivo interno, são marcados retornos periódicos ao paciente. O primeiro retorno, entre a quarta e sexta semana após a cirurgia, acontece com o médico otorrinolaringologista, onde o mesmo verifica as condições de cicatrização da incisão cirúrgica e outros aspectos cirúrgicos. Na mesma ocasião, ocorre a regulagem e programação do dispositivo, ou seja, a ativação dos eletrodos, onde o fonoaudiólogo e um engenheiro da equipe avaliam quais os eletrodos que possibilitam uma adequada estimulação elétrica da cóclea. O dispositivo externo deve ficar acoplado a um micro - computador tipo IBMPC para que os eletrodos possam ser mapeados e balanceados. Nestes procedimentos realiza-se então o primeiro mapeamento, no qual mede-se o limiar auditivo e o máximo de conforto auditivo de cada eletrodo implantado. Realiza-se também o balanceamento dos eletrodos, eletrodos provoquem a esperando nesta conduta que os mesma sensação de intensidade, mesmo sendo diferentes na sensação de freqüência. Kozlowski (1997) coloca que segundo Azema et.al. (1990), cada sessão de regulagem apresenta uma duração aproximada de uma hora e trinta minutos à duas horas e trinta minutos. Nos retornos são realizados exames de rotina como: imitanciometria, audiometria em campo livre e testes de reconhecimento de fala, com o objetivo de obter a maior quantidade de informações possíveis sobre o aproveitamento da prótese. Também realiza-se avaliação da leitura oro-facial, de percepção de fala e reabilitação auditiva com o paciente. Kozlowski (1997), acrescenta que sob o plano audiológico, o controle da eficácia da regulagem compreende: pesquisa dos limiares audiométricos em campo livre, dos limiares de conforto e desconforto em campo livre (mesmo se os sistemas de AGC utilizados no implante sejam bastantes eficazes), testes com listas de palavras usuais com leitura labial e testes com lista de palavras usuais sem leitura labial. Segundo kozlowski (1997), para realizar-se uma boa adaptação, é fundamental que o profissional conheça bem o equipamento e suas características e adapte-o melhor possível às reações do paciente. O fonoaudiólogo deve utilizar a técnica , a subjetividade e a intuição a fim de conduzir o paciente a obter um bom conforto na utilização do processador e prazer ao utilizar o mesmo. O paciente pode apresentar intolerância à estimulação elétrica, sendo de competência do profissional manipular o material com muita técnica, encontrando a regulagem mais adequada. Segundo Bevilacqua e Coube (1997), o próximo retorno ocorre no máximo em três meses após a ativação para então iniciar o "Follow-up" dos mapeamentos. Esses retornos são para verificação do balanceamento dos eletrodos durante o desenvolvimento da percepção auditiva com a prótese auditiva. No caso de crianças, o retorno deve ser mensal nos seis primeiros meses. Kozlowski (1997), coloca que esses retornos proporcionam aos pacientes, a oportunidade de se adaptarem, aprenderem e reconhecerem os novos sons que recebem através do implante. Segundo Moret e Bevilacqua (1997) o mapeamento dos eletrodos é um procedimento onde se realiza uma pesquisa do limiar auditivo (por meio da estimulação elétrica da cóclea) e do nível máximo de conforto com o uso do implante. Após o mapeamento, realiza-se o balanceamento dos eletrodos, procurando-se estabelecer a mesma sensação de intensidade nos diferentes eletrodos. De acordo com Cooper (1991), é utilizado no balanceamento o eletrodo apical como referência, e assim sucessivamente, até o último eletrodo, dando uma sensação de freqüência ao paciente. Em adultos o retorno para fazer o mapeamento e balanceamento, no primeiro ano deve ser de três em três meses, no segundo ano, de quatro em quatro meses e no terceiro ano, de seis em seis meses. Já em crianças, este período varia de acordo com a complexidade do caso, mas deve ser de aproximadamente de dois em dois meses no primeiro ano, de quatro em quatro meses no segundo e de seis em seis meses no terceiro ano (a freqüência do mapeamento pode ser modificada de acordo com a equipe ou dificuldades que a família do paciente possa apresentar). O mapeamento pode mudar nos seis primeiros meses, visto que este período é um momento de adaptação ao estímulo elétrico. Depois do sexto mês o paciente se adapta e a resposta chega ao patamar esperado, pode-se alterar a mapeamento quando o paciente se sentir seguro. 3.8 Resultados Obtidos com Implante Coclear Sabemos que o acompanhamento no pré e pós operatório, os ajustes no equipamento e os treinamentos com o paciente implantado são de suma importância para se obter sucesso no uso do Implante Coclear. Para que os pacientes portadores de um implante coclear obtenham um máximo de aproveitamento, as orientações devem objetivar uma visão realista do implante (benefícios e limitações) e deve-se estabelecer um programa de treinamento auditivo. As estratégias de treinamento auditivo são diferenciadas de acordo com o tipo de implante utilizado, o tempo de perda auditiva, se a mesma é pré ou pós lingual, a idade e motivação do paciente, a participação da família, enfim todos esses aspectos devem ser levados em consideração para se estabelecer um programa de reabilitação. Segundo Linden e colaboradores (1997), os resultados dependem da capacidade da área auditiva do sistema nervoso central do paciente implantado, de forma que alguns apresentam maior capacidade de interpretar os impulsos elétricos. Colocam que, apesar da audição não ser recuperada totalmente, muitos conseguem estabelecer uma conversação com apoio de leitura oro-facial. O sucesso com o uso do implante modifica-se de paciente para paciente, a audição que as pessoas referem após o implante não é igual a de um ouvinte normal, na verdade é uma sensação auditiva que eles percebem. Com treinamento específico eles passam a apresentar consciência sonora, a reconhecer sons ambientais e de alerta (campainha, alarme, buzinas...), ritmo de linguagem, monitorar sua própria voz, melhora na qualidade vocal , melhora na leitura orofacial e tantos outros benefícios que permitem ao paciente se sentir fazendo parte deste mundo sonoro que vivemos. Kozlowski (1997) coloca que os implantes multi-eletrodos apresentam melhor resultado a nível de discriminação dos traços acústicos, na identificação de palavras e frases com ou sem leitura labial e, entre tantas outras vantagens, alguns pacientes conseguem fazer uso de telefone. Os resultados dos implantes monoeletrodos são similares aos dispositivos multieletrodos, quando se trata da identificação dos pares mínimos, facilitando a diferenciação das sósias - labiais com o apoio de leitura labial, porém quanto a produção de fala os multieletrodos demonstram superioridade. Quayount et.al. (1993) citado por Kozlowski (1997) refere que o sucesso do resultado do implante coclear depende da adequação entre as capacidades residuais do nervo auditivo em transmitir as informações elétricas, da capacidade de aprendizagem do paciente e do nível de informação de fala escolhido para a decodificação elétrica. Segundo Braz (1990), "a melhora no desempenho auditivo, da fala, voz e comunicação dos pacientes pós implante está diretamente relacionada ao nível e a etapa de desenvolvimento da linguagem em que estes pacientes encontravam-se antes do uso do Implante Coclear". Indivíduos portadores de implante coclear com surdez pré-lingual apresentam um menor desempenho na discriminação dos sons de fala em relação aos que apresentam surdez pós-lingual. Os resultados obtidos com Implante Coclear , apesar das limitações de cada tipo de diferentes dispositivo empregado, de cada programa de reabilitação enfatizar parâmetros, e de cada paciente ter sua própria história, são surpreendentes, visto que este aparelho é capaz de favorecer a comunicação e, principalmente, devolver a sensação de que fazem parte de um mundo sonoro. 4. Discussão Teórica: Implante Coclear no Sul do Brasil Com toda sua tecnologia os Implantes Cocleares chegaram ao Brasil há alguns anos. Este dispositivo, reconhecido mundialmente por sua efetividade é capaz de introduzir um indivíduo deficiente auditivo profundo ao mundo sonoro. O Implante Coclear pode fornecer uma audição média de 55 à 65dB, com a qual os pacientes passam a escutar sons ambientais, aprendem a ouvir, distinguir e identificar os mesmos. A relação existente entre ganho acústico e reconhecimento de fala é importante para o desempenho comunicativo e social de um indivíduo. É sobre essa relação, incluindo a análise dos sons ambientais e de fala versus os resultados obtidos com implantes cocleares realizados no Rio Grande do Sul, que iremos abordar a seguir. Segundo Russo & Behlau (1993) e Gama (1994), para que a transmissão de uma mensagem torne-se efetiva, é necessário existir uma redundância de pistas acústicas que o indivíduo possa aproveitar. Para que ocorra a compreensão de fala, o ouvinte depende de processos supra-liminares (como por exemplo: aumento na duração da última sílaba tônica, queda na freqüência fundamental e pausas no discurso), relacionados a fatores como: atenção à mensagem falada, intensidade do ruído, tipo de material de fala, coarticulação e fatores supra - segmentais, sensação de freqüência, sensação de intensidade, fatores temporais, ritmo e velocidade, qualidade vocal do falante, articulação e pronúncia. A influência dos sons de fala é um dos pontos chaves na comunicação. As vogais e consoantes de uma língua são consideradas como sons distintos do código lingüístico. A diferença entre as vogais e consoantes é universal. Russo & Behlau (1993) colocam que os sons do português brasileiro distribuem-se numa faixa de freqüência de 400 à 8000Hz, considerando-se vogais e consoantes. As vogais são mais intensas que as consoantes e sua faixa de freqüência encontra-se na melhor região da curva de audibilidade humana. A inteligibilidade da mensagem falada depende mais dos sons consonantais, onde freqüências superiores a a distribuição de energia é pequena, alcançando 2000Hz. A energia de fala concentrada nestas freqüências é em torno de até 35dB mais fraca do que a energia concentrada em 500Hz, onde localiza-se uma maior concentração de vogais. Segundo Fletcher (1953) citado por Russo & Behlau (1993), as freqüências localizadas abaixo de 500Hz apresentam uma energia acústica de 60%, porém a inteligibilidade de fala é de apenas 5%. Nas freqüências de 500 à 1000Hz tanto a energia quanto a inteligibilidade situam-se em 35% e acima de 1000Hz, há apenas 5% de energia acústica, mas a inteligibilidade encontra-se em torno de 60%. Tabela: Relação entre energia e inteligibilidade de fala ( Fletcher, 1953) Faixa de Freqüência Hz 62-125 125-250 250-500 500-1000 1000-2000 2000-4000 4000-8000 Energia de Fala % 5 13 60% 42 %% 35 3 5% 1 1 Inteligibilidade % 1 1 5% 3 %% 35 35 60% 13 %% 12 A representação dos sons de fala do português brasileiro, organizado por Russo & Behlau (1993) e dos sons ambientais, segundo Northen & Downs (1989), serão expostos em um audiograma, para que se possa visualizar os valores médios de freqüência e intensidade desses sons. Audiograma dos sons do português brasileiro (Russo & Behlau ,1993) e sons ambientais (Northen & Downs,1989) Apesar do exame de audiometria tonal limiar fornecer dados sobre o funcionamento do sistema auditivo, não fornece informações precisas sobre a habilidade do indivíduo em reconhecer a fala. Nos casos de implantes cocleares realizados, podemos observar que a maioria dos pacientes apresenta um ótimo ganho com este dispositivo empregado. Porém, devemos levar em consideração, tanto nos casos de modelos monocanais e multicanais, como nos casos de surdez pré ou pós linguais, os aspectos subjetivos e qualitativos, pois estes nos proporcionam observar a relação do paciente quanto ao seu desempenho social e comunicativo. Se compararmos o ganho adquirido com o uso do implante coclear em relação a faixa de freqüência e intensidade dos sons de fala do português brasileiro e sons ambientais apresentados no gráfico, poderemos ter uma falsa idéia de que o paciente pode não perceber alguns sons. Porém, não podemos esquecer três fatores importantes: primeiro, o reconhecimento de fala dependerá do modelo de implante coclear utilizado e das condições anatômicas do ouvido; segundo, que as consoantes distribuem-se numa ampla faixa de freqüência (responsáveis pela inteligibilidade de fala), não só como a distribuída no gráfico; e como terceiro aspecto, devemos observar a importante presença das pistas acústicas (já citadas) que interferem na discriminação, inteligibilidade e compreensão das informações. Como pode-se constatar, a relação entre ganho acústico e reconhecimento de fala é uma relação que se encontra interligada, mas nem sempre essa relação dependerá da outra. Um bom reconhecimento de fala e/ou de sons ambientais depende também da sensação subjetiva do paciente e dos aspectos qualitativos que podemos observar nas respostas de retorno. Foram realizadas em torno de doze cirurgias de implantes cocleares no Rio Grande do Sul, todas em pacientes adultos, com perdas auditivas pós-linguais, de diferentes etiologias. As informações expostas serão sobre dez casos de implantes realizados . Os dispositivos implantados nestes pacientes foram os modelos 3M, um aparelho elaborado pela equipe de engenharia bio-médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), ambos monocanais e o modelo MED-EL (8 eletrodos). Como podemos observar nos dez casos relatados a seguir e depoimentos em anexo, apesar dos diferentes tipos de dispositivos utilizados, a maioria dos pacientes refere uma sensação auditiva. Relato dos casos de Implante Coclear realizados no Rio Grande do Sul: Caso nº 01 Sexo: Feminino Data de Nascimento:28/07/46 Modelo Implante Coclear: 3M-Monocanal Data da cirurgia:12/88 Etiologia: Otosclerose Paciente, dona de casa, refere não ouvir no ouvido direito desde criança. Fez uso de aparelho de amplificação sonora desde 1972, mas houve piora da audição no ouvido esquerdo, devido a perda auditiva causada pela otosclerose. Realizou a cirurgia de implante em 05/12/1988. Refere que após a cirurgia começou a discriminar sons de carro, moto, cachorro, telefone, apito da leiteira, que passou a reconhecer melhor os sons ambientais e distinguir diferentes ritmos de batidas, conseguiu dançar no ritmo do baile que freqüenta, perceber quando é chamada e comunicar-se melhor, com apoio de leitura labial. Em dezembro/1990 continuava usando o implante coclear. Resultado da última audiometria: Freqüência Limiar 250 30 500 55 1000 45 2000 40 3000 4000 50 Caso nº 02 Sexo: Feminino Data de Nascimento:30/10/63 Modelo Implante Coclear: H.P.C.A. Data da cirurgia:06/01/91 Etiologia: Meningite Paciente apresentou quadro de meningite, adquirindo perda total de audição em ambos ouvidos. Após cirurgia no ouvido esquerdo, passou a apresentar uma audição moderada até 4000Hz. Hoje ainda exerce função de bibliotecária. Paciente refere melhora na comunicação, no início usava o aparelho no trabalho, agora usa somente para assistir televisão e quando acha necessário ouvir melhor. Em janeiro/93 estava aprendendo a dirigir (refere que passou a ouvir o motor do carro). Resultado dos exames realizados em 1994: Freqüência Limiar 250 45 500 55 1000 55 2000 55 3000 55 4000 70 Caso nº03 Sexo: Masculino Data de Nascimento:17/11/68 Modelo Implante Coclear: H.C.P.A. Data da cirurgia:12/12/91 Etiologia: Traumatismo Craniano e Meningite Paciente sofreu uma acidente de moto em 1990, ficou hospitalizado e durante a internação apresentou quadro de meningite, resultando em perda total de audição em ambos ouvidos. Realizou a cirurgia de implante em dezembro/1991. Após a cirurgia prestou vestibular para biologia, casou-se, cursou a faculdade, e já está formado. Refere que durante as aulas teve um resultado muito bom com implante, mas quando havia ruído o mesmo atrapalhava. Coloca sentir falta do implante quando não está com o mesmo. Resultado do exame realizado após cirurgia: Freqüência Limiar 250 500 1000 60 2000 65 3000 4000 75 2000 60 3000 70 4000 80 Resultado do exame realizado em 1994: Freqüência Limiar 250 40 500 50 1000 55 Caso nº 04 Sexo: Feminino Data de Nascimento:18/12/55 Modelo Implante Coclear: H.C.P.A Data da cirurgia:27/01/92 Etiologia: Medicação Ototóxica Paciente trabalhava como professora antes de perder a audição devido medicamento ototóxico em função de infecção renal. Casou-se após apresentar quadro de deficiência auditiva. A cirurgia de implante foi realizada no ouvido direito, em janeiro/1992. Após cirurgia a paciente refere estar satisfeita com o resultado, pois com o uso do implante consegue monitorar a própria voz, cuidar dos filhos (percebe quando chamam, gritam ou choram), reconhece as vozes dos familiares (adultos) sem olhar, atende à palmas e batidas na porta. Coloca que distingue batidas diferentes, ritmo de músicas (lento e rápido), percebe vozes de uma peça da casa para outra, sons de chuva e vento. Familiares e profissionais da equipe referem que houve mudança positiva no aspecto físico e psíquico da paciente. Resultado da audiometria realizado antes da cirurgia: Freqüência Limiar 250 500 100 1000 105 2000 120 3000 4000 115 3000 55 4000 60 Resultado da audiometria realizado após cirurgia (12/96): Freqüência Limiar 250 50 500 65 1000 70 2000 55 Caso nº 05 Sexo: Masculino Data de Nascimento:05/09/68 Modelo Implante Coclear: H.C.P.A Data da cirurgia: 07/93 Etiologia: Meningite Paciente com quadro de meningite, apresentou perda de audição após a mesma. Fez uso de aparelho auditivo durante 3 anos antes da cirurgia. O implante foi realizado, no ouvido esquerdo, em julho/93 e retirado em março/96. O paciente precisou de acompanhamento psicológico durante o processo, necessitando ser internado na psiquiatria. Em outubro de 1994 o paciente referiu não ouvir mais, o setor de engenharia fez revisão no aparelho e o mesmo estava funcionando. Resultado da audiometria em 1994: Freqüência Limiar Caso nº 06 250 65 500 60 1000 60 2000 80 3000 4000 Sexo: Feminino Data de Nascimento:18/10/59 Modelo Implante Coclear: H.C.P.A Data da cirurgia: 07/93 Etiologia: Meningite Paciente apresentou quadro de meningite no ano de 1987, adquirindo após esta data perda auditiva em ambos ouvidos. Fez uso de aparelho auditivo durante algum tempo, mas não obteve ganho com o mesmo. A cirurgia de implante foi realizada em julho/1993, no ouvido esquerdo. Paciente refere bom desempenho com o dispositivo e apresenta excelente leitura labial como apoio. Usa o dispositivo em função da neta que fica aos seus cuidados. No ano de 1997 veio para revisão e apresentou um quadro psíquico de depressão, que logo foi resolvido. Resultados obtidos após cirurgia: Freqüência Limiar 250 45 500 60 1000 60 2000 65 3000 70 4000 80 Caso nº 07 Sexo: Masculino Data de Nascimento:10/04/57 Modelo Implante Coclear: H.C.P.A. Data da cirurgia: 12/93 Etiologia: Meningite Paciente teve meningite, apresentando perda total de audição em ambos ouvidos. É eletro-técnico de uma firma de elevadores e continua trabalhando. Usa mais o dispositivo em casa, no trabalho somente quando não há muito barulho. Resultado obtido após cirurgia: Freqüência Limiar 250 65 500 70 1000 70 2000 65 3000 70 4000 80 Caso nº 08 Sexo: Masculino Data de Nascimento: 01/01/50 Modelo Implante Coclear: MED-EL(8 eletrodos) Data da cirurgia: 06/95 Paciente apresentou quadro de meningite e surdez súbita. Fez uso de aparelho auditivo durante alguns anos e mesmo apresentando dificuldades cursou a faculdade de medicina. Com o passar dos anos a perda auditiva apresentou piora. Antes da realização da cirurgia de implante necessitava do apoio de leitura labial para compreender a fala, refere que nos últimos seis anos antes da cirurgia a discriminação, mesmo com uso de aparelho, era difícil. Logo após o primeiro mês da ativação do dispositivo, o paciente referiu conseguir compreender melhor a fala e a voz não mais apresentava som metálico. Coloca que possui um cachorro de porte pequeno e consegue ouvir o som de suas patas no assoalho. Refere também que faz uso de telefone sem dificuldades. Hoje faz uso do implante no ouvido direito e prótese no ouvido esquerdo, apresentando uma ótima discriminação. Resultado da audiometria sem implante coclear: Freqüência Limiar OD Limiar OE 250 100 500 110 120 1000 90 AUS 2000 120 AUS 3000 AUS AUS 4000 AUS AUS 2000 AUS 3000 AUS 4000 AUS Resultado em Campo Livre sem prótese: Freqüência Limiar 250 70 500 95 1000 100 Resultado em Campo Livre com Implante Coclear em Setembro/95: Freqüência Limiar 250 65 500 60 1000 45 2000 45 3000 40 4000 40 Resultado em Campo Livre com Implante Coclear em Dezembro/95: Freqüência 250 500 1000 2000 3000 4000 Limiar 40 45 40 35 30 30 3000 20 4000 20 Audiometria Vocal: Frases e Trissílabos: 100% a 55dB Dissílabos: 96% a 55dB Resultado em Campo Livre com Implante Coclear em Maio/96: Freqüência Limiar 250 20 500 20 1000 30 2000 30 Resultado em Campo Livre com Implante Coclear em Agosto/96: Freqüência Limiar 250 15 500 30 1000 30 2000 25 3000 Audiometria Vocal : Frases e trissílabos 100% a 40dB Caso nº 09 Sexo: Feminino Data de Nascimento:03/10/79 Modelo Implante Coclear: H.P.C.A. Data da cirurgia:11/96 Etiologia: Meningite 4000 10 Paciente adquiriu meningite, apresentando perda total da audição. Refere após a cirurgia, no ouvido esquerdo, realizada em novembro/96 escutar rádio, buzina do caminhão de gás, martelo, apito, máquinas, cachorro latindo, vento e chuva. Na última avaliação, refere dor de cabeça muito forte, sendo encaminhada para o serviço de ambulatório da dor do hospital para tratamento. Paciente referiu dor mesmo sem colocar a unidade externa. Não se descobriu o porquê da dor , paciente foi encaminhada para psicoterapia. A menina coloca que prefere não usar o implante do que sentir dor. Implante foi retirado em janeiro/1999, em março deste ano refere não sentir mais dor. Voltou a usar prótese no ouvido direito, apesar de não apresentar resultado satisfatório com a mesma. Resultado da audiometria após cirurgia: Freqüência Limiar 250 70 500 70 1000 75 2000 60 3000 55 4000 55 Caso nº10 Sexo:Masculino Data de Nascimento:14/05/1971 Modelo Implante Coclear: MED-EL(8 eletrodos) Data cirurgia:06/1998 Etiologia: Traumatismo ( fratura bilateral dos ossos temporais) Paciente trabalhava como cozinheiro em uma lanchonete até um acidente de motocicleta em setembro de 1996, quando teve fratura bilateral dos ossos temporais e perdeu totalmente a audição em ambos os lados. Fez a cirurgia de implante coclear em junho/1998 e teve seu implante ativado em 02/07/1998. O implante utilizado foi da marca MED-EL (austríaco) do tipo “curto” com 8 canais. Hoje, março/99, passados 8 meses do início do uso do implante, o paciente refere que na maior parte do tempo “não lembra de que tem uma deficiência auditiva”, pois fala com qualquer pessoa em tom normal de conversação, mesmo com quem não saiba nada de sobre o seu problema. Fala ao telefone normalmente e apenas apresenta alguma dificuldade em aparelhos celulares. Refere lembrar que tem o problema quando escuta rádio ou assiste televisão e ao ouvir músicas ( nestas situações tem muita dificuldade e diz que as músicas que já conhecia antes de perder a audição consegue entender as letras, porém as novas músicas não entende quase nada). Neste período de pós operatório, fez um curso de mecânico de automóveis e atualmente esta é a sua profissão. Paciente comparece a cada 2 à 3 meses para verificar a calibração dos eletrodos e não tem feito uma terapia formal com fonoaudióloga porque acha desnecessário. Resultados dos exames realizados em março/99: Freqüência Limiar 250 35 500 40 1000 35 2000 35 3000 45 4000 50 6000 50 Teste realizado sem pista visual, open-set: IRF- Monossílabos:60% a 65dB Frases:80% a 65dB Como podemos observar nos casos relatados, esta sensação auditiva referida pelos pacientes, proporciona o reconhecimento e até mesmo a compreensão de fala com o apoio de leitura oro-facial nos casos de implante monocanais, e também o uso de telefone no caso de implantes multicanais com apenas 8 eletrodos. Mesmo nos casos de implante monocanal podemos observar que o indivíduo consegue obter um bom resultado com apoio de leitura labial e pistas acústicas. Sem dúvida, um implante multicanal é capaz de oferecer melhores resultados, mas é importante salientar, como já foi citado anteriormente, que a escolha de um implante, apesar da superioridade de um multicanal quanto a discriminação, em alguns casos dependerá das informações levantadas pela equipe de profissionais antes de optar pelo dispositivo. A maioria dos depoimentos refere que o implante faz parte do dia a dia desses indivíduos, que através deste dispositivo os pacientes adquiriram um novo sentido de vida. Embora a audição não seja recuperada totalmente, muitos dos pacientes implantados apresentaram ótimos resultados. Muitos indivíduos portadores de deficiência auditiva profunda, não tinham como solucionar este déficit, pois não existiam recursos para isso. Atualmente, com o surgimento dos implantes cocleares, há possibilidade de submeterem-se a um procedimento que pode restaurar parte da audição e transformar decisivamente as suas vidas. Mas, infelizmente, parte desta esperança foi retirada, sem nem mesmo ter se tornado concreta. Os implantes cocleares já fazem parte dos procedimentos adotados como rotina nos grandes países, mas no Brasil como está sendo utilizado este dispositivo? Quais são os recursos que os profissionais voltados para esta área de atuação possuem para trabalhar? Implante Coclear no Brasil: realidade ou fantasia? Responder essa pergunta torna-se um pouco difícil. Em São Paulo, mais especificamente na cidade de Bauru, desde que o programa foi adotado, já foram realizadas mais de cem cirurgias de implante coclear. Não é possível acreditar que o Sistema Único de Saúde (SUS), possa optar na escolha de uma ou duas instituições que exerçam esse "poder" de terminar com a privação sensorial desses indivíduos, de proporcionar vida nova aos portadores de perda auditiva. Não é justo que a maioria dos pacientes aqui no Brasil, que necessitem de implante coclear precisem ser encaminhados para São Paulo. Muitas vezes, os pacientes e seus familiares e/ou acompanhante, não tem condições de pagar passagem e hospedagem em cidade distante e muito menos de abandonar a família e emprego durante este processo de cirurgia, adaptação e ajustes necessários. É claro que poder introduzir ou reintroduzir um indivíduo com deficiência auditiva ao mundo sonoro vale qualquer sacrifício, pois acabar com a privação sensorial, sem dúvida é maravilhoso e gratificante. Infelizmente o Sistema Único de Saúde (SUS) vem favorecendo alguns centros específicos na realização desta técnica. Há profissionais de outros estados que estão aptos à efetuar este procedimento, mas não possuem recursos para execução dos mesmos. Desde que a portaria número 211 foi emitida no diário oficial pelo Ministério da Saúde em novembro/96, o SUS credenciou apenas o Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio Palatais, o Hospital de Clínicas de São Paulo (ligado a Faculdade de Medicina) e o Hospital São Paulo. Nesta mesma portaria, há uma norma específica para credenciamento de centros e núcleos clínicos e/ou hospitais, colocando as condições mínimas que esses deveriam dispor para realização deste procedimento. Já passaram-se quase três anos, algumas normas quanto a seleção e procedimentos foram modificadas por uma equipe de profissionais que atuam nesta área de atuação, porém essa emenda ainda não foi avaliada pelo Ministério da Saúde. Realmente, Implante Coclear é de fato real, é uma técnica extraordinária que proporciona benefícios significativos, podemos observar isso nos casos relatados, mas é preciso torná-lo concreto e acessível em todo país. 5. Considerações Finais A surdez, independente de sua etiologia, é uma alteração severamente incapacitante, principalmente se levarmos em conta as limitações ocasinadas nas relações e na vida desses indivíduos que perderam a audição. Os implantes cocleares surgiram com o objetivo de favorecer os portadores de deficiência auditiva profunda que não se beneficiam com aparelhos de amplificação sonora. Durante este trabalho, foi realizada uma breve exposição sobre implantes cocleares, a fim de relembrar informações sobre este dispositivo que é considerado hoje um recurso efetivo e um avanço tecnológico de última geração no tratamento de surdez. A engenharia eletroacústica no processamento de sinais vem superando as expectativas com sua evolução tecnológica. Kozlowski (1997), coloca que há um novo procedimento em experiência atualmente no House Ear Institut de Los Angeles, tratando-se do implante de um eletrodo nos núcleos cocleares do tronco cerebral. A tecnologia voltada para área médica está muito avançada e cada vez mais complexa, daqui alguns anos este dispositivo implantado na cóclea estará ultrapassado e este novo procedimento que está sendo testado será o mais eficaz. No Brasil a técnica de implante coclear já é utilizada há alguns anos. Porém, um número pequeno de indivíduos portadores de deficiência auditiva profunda tem se beneficiado com este recurso. Poucos profissionais tem a oportunidade de trabalhar nesta área de atuação. E por que isso vem ocorrendo? Por que no Brasil esse procedimento está sendo realizado com freqüência em apenas algumas instituições? No Rio Grande do Sul, existem ótimos profissionais, que estão qualificados e possuem experiência nesta área de atuação, mas em função da falta de recursos financeiros não conseguem desenvolver este trabalho. O SUS não inclui no seu credenciamento, para a realização deste procedimento, considerado como de alta complexidade, nenhum hospital deste estado. As poucas cirurgias de Implante Coclear realizadas no Rio Grande do Sul, foram financiadas como projeto de pesquisa dentro dos hospitais-escola. Mesmo não sendo utilizado um modelo de implante multicanal com mais de oito eletrodos, os pacientes implantados neste estado adquiriram um ótimo ganho frente ao esperado. Na época em que fizeram a cirurgia, se os pacientes tivessem sido financiados pelo SUS, talvez conseguissem adquirir um dispositivo multicanal e, sem dúvida, uma melhor qualidade de vida. Desde que a portaria nº211 foi emitida pelo Ministério da Saúde e publicada no Diário Oficial em novembro/96, alguns hospitais do Rio Grande do Sul solicitaram credenciamento junto ao SUS. Infelizmente, quase três anos se passaram, os hospitais continuam apresentando as condições mínimas necessárias para a realização deste procedimento, mas nenhuma solicitação de credenciamento foi aprovada para este estado. O que fazer para solucionar esta situação? Será uma questão política? Será que em todas as situações neste país é preciso ter alguém influente, que manipule as regras? Quando a saúde será considerada como pré -requisito? Poderíamos levantar uma série de questões e mesmo assim, acredito que não conseguiríamos obter respostas sobre todas elas e, talvez se tivéssemos, não seriam favoráveis à Saúde. Como diria o poeta Cazuza: " Brasil mostra a tua cara"! 6. Referências Bibliográficas ?ALBERNAZ, P.L.M. - Implantes Cocleares Parte 1. Revista Brasileira de Atualização em Otorrinolaringologia - Volume 2 nº6: 415(6),418,420, 422-3, 1995. ?_________________ - Implantes Cocleares Parte 2. Revista Brasileira de Atualização em Otorrinolaringologia - Volume 3 n º2:119-22, 1996. ?BENTO, R.F.; SANCHEZ, T.G.; BRITO NETO, R.V. - Critérios de Indicação de Implante Coclear. Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia - Vol.1 nº 2: 66(7), 1997. ?BENTO, R.F.; SANCHEZ, T.G.; BRITO NETO, R.V. - O Implante Coclear Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo: Técnica Cirúrgica. Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia Vol.1 nº3: 80-83,1997. ?BENTO, R. F.- Informe-se sobre Implante Coclear (Faculdade de Medicina USP - Disciplina de Oorrinolarigologia) http ://www.hcnet.usp.br/otorrino/ ?BALLANTYNE,J.;MARTIN,M.C.;MARTIN,A.- Surdez Tradução Sandra Costa Editora Artes Médicas Sul, 5ª Edição, Porto Alegre, 1995. 312p. ?BEVILACQUA, M.C.; COUBE, C. Z.V. - O Papel do Fonoaudiólogo na Equipe de Implante Coclear no Centro de Pesquisas Audiológicas do Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio Palatais - USP. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. - Ano 1 nº1: 14-5-6, 1997. ?BEVILACQUA, M. C.; COSTA FILHO, O. A. - Programa de Implante Coclear no Centro de Pesquisas Audiológicas do Hospital de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Lábio Palatais - USP. http://www.usp.br/hprllp/i.c. ?BEVILACQUA, M. C.; MORET, A. L. M. - Reabilitação e Implante Coclear in: Lopes Filho, O. de C. Tratado de Fonoaudiologia, Editora Rocca S.P.:401-14,1997. ?BRAZ, M.S.; CHIARI, B.M.; ALBERNAZ, P.L.M. - Algumas considerações sobre o desempenho de pacientes com utilização de implante coclear do tipo monocanal na fase inicial de terapia. ACTA AWHO Vol.9 nº2: 75-80, 1990. ?COOPER, H. - Practical Aspects of Audiology. Cochlear Implants. A Practical Guide. London, 1991. ?COSTA FILHO, O. A.; BEVILACQUA, M. C.; MORET, A. L. M. - Critérios de Seleção de Crianças Candidatas ao Implante Coclear do de Pesquisas e Revista Reabilitação Brasileira de de Lesões Otorrinolaringologia - Hospital Lábio Palatais - USP. Vol.62 nº4:306,308- 9,312-3, 1996. ?GAMA,M.R. - Percepção de Fala : uma proposta de avaliação qualitativa. Pancast, 1994. 99p. ?GOFFI, M.V.S. - Programa de Reabilitação Fonoaudiológica no Projeto Implante Coclear FMUSP-1.Arquivos da Fundação Otorrinolaringologia Vol.1 nº4:134-36(7), 1997. ?KOZLOWSKI, L.- Implantes Cocleares Carapicuiba, SP: Pró-Fono,1997.103p. ?LINDEN, A. - A Surdez e os Implantes Cocleares Ética Impressora Ltda,1995. ?LINDEN, A.; CAMPANI, R.M.; D'AVILA, C - Cirurgia da Surdez Profunda : riscos do Implante Coclear. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia Vol. 63 nº6: 559-65 , 1997. ?NORTHEN, J.L. & DOWNS,M.P.- Audição em Crianças. 3ª Edição Manoele Ltda,1989.421p. ?NUCLEUS- Como Você escuta com o Implante Coclear. Folheto da Cochlear Co. ?NUCLEUS - A Eletricidade Estática e os Implantes Cocleares. Folheto da Cochlear Co. ?NUCLEUS - Sistema de Implante Coclear: Perguntas e Respostas. Folheto da Cochlear Co. ?RUSSO, I.C.P; BEHLAU,M.- Percepção da Fala: análise do português brasileiro. São Paulo:Louvise,1993.57p. ANEXOS Depoimentos de alguns familiares e pacientes portadores de implante coclear: " Quando a gente é surdo a gente fica muito só, a gente se retrai e as pessoas tem medo de conversar". "Com o implante e com a colocação do aparelho externo eu voltei a ouvir de novo". " No diálogo a minha voz não fica mais alta, reconheço diferentes sons, acompanho a leitura labial melhor". " Implante foi muito bom, antes não ouvia minha própria voz, não conseguia me comunicar bem, agora sim". " Consigo saber mais o que acontece a minha volta, consigo participar melhor das coisas...". " Na maior parte do tempo não lembro de ter deficiência auditiva". "Consigo ouvir o som das patinhas do meu cachorro no assoalho". "Ajuda muito a perceber os sons , de onde vem, ajuda na leitura labial". " Ela capta melhor as palavras, entende melhor com ajuda da leitura labial".